saÚde - observatorioclima.madeira.gov.pt · 10 saÚde as doenças que oferecem uma maior...
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SAÚDE
saúde
impactos, vulnerabilidades e adaptação às alterações climáticas
Índice7 IMPACTOS E VULNERABILIDADES ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
13 1. INTRODUÇÃO
14 1.1. CaraterizaçãodoEstadodaSaúdenaMadeira16 1.2. Identificaçãodepossíveisimpactesnasaúde
19 2. METODOLOGIA
23 3. RESULTADOS
23 3.1. Impactesrelacionadoscomocalor26 3.2. Impactesassociadosàqualidadedoar28 3.2.1. Partículas(PM10)
28 3.2.2. Ozonotroposférico
30 3.2.3. Pólenes
35 3.3. Doençastransmitidasporvetores36 3.3.1. Doençastransmitidaspormosquitos
37 3.3.1.1. Aedesaegypti
40 3.3.1.2. Culexpipiens
43 3.3.2. Doençastransmitidasporcarraças
44 3.3.2.1. Ixodesricinus
49 4. CONCLUSÃO
55 5. REFERÊNCIAS
63 ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
67 1. INTRODUÇÃO
67 1.1. Identificaçãodepossíveisimpactesnasaúde
71 2. METODOLOGIA
72 2.1. LimitaçõesdaAvaliação
75 3. RESULTADOS & DISCUSSÃO
75 3.1. Impactesrelacionadoscomocalor82 3.2. Impactesassociadosàqualidadedoar82 3.2.1. Partículas(PM10)
88 3.2.2. Ozonotroposférico
89 3.2.3. Pólenes
92 3.3. Doençastransmitidasporvetores
93 3.3.1. Doençastransmitidaspormosquitos
111 3.3.2. Doençastransmitidasporcarraças
121 4. CONCLUSÃO
125 5. REFERÊNCIAS
impactos e vulnerabilidades às alterações climáticas
SAÚDE
AUTORES
Elsa Casimiro
José M. Calheiros
Carla Selada
SAÚDE 9
SUMÁRIOEsteestudoprocedeàavaliaçãodosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdehumanadosresidentesnailhadaMadeira,comvistaareduzirasuavulnerabilidadeadoençasassociadasàsalteraçõesclimáticas.Nesterelatóriodescrevem-seospossíveisimpactesenquantoqueasmedidasdeadaptaçãoparareduzirosimpactese,consequentemente,reduziravulnerabilidadedapopulaçãoaessesimpactesserãodiscutidasnumrelatóriosubsequente.
Nopresenteestudoforamusadososseguintescenáriostemporaisfuturos:umcenárioacurtoprazo(A2:2010_2039),doiscenáriosamédioprazo(A2:2040_2069eB2:2040_2069)edoiscenáriosalongoprazo(A2:2070_2099eB2:2070_2099).Osresultadosobtidosmostramque,relativamenteaocenáriodereferência(1970-1999),emtodososcenáriosfuturosatemperaturaaumenta,enquantoaprecipitaçãodecresce.
Combasenainformaçãoedadosdisponíveisforamavaliadososimpactesnasaúdeassociadosàsondasdecalor,àqualidadedoar(partículasinaláveis–PM10,ozonotroposférico,epólenes)eàsdoençastransmitidasporvetores(mosquitosecarraças).
TendoporbaseadefiniçãodeondadecalordaOrganizaçãoMeteorológicaMundial,concluímosque,atualmente,oimpactenasaúderesultantedeepisódiosdeondadecalorémuitobaixo(vulnerabilidadeatualneutro).Noscenáriosfuturoséexpectávelqueosepisódiosdeondadecalorpossamviraaumentar,commaiorsignificâncianocenáriodelongoprazo.
OsimpactesassociadosàqualidadedoarapenasforamavaliadosparaoFunchal.Emrelaçãoàcon-centraçãodepartículasinaláveis–PM10–verificámosqueestepoluentetem,atualmente,umimpactenegativoparaasaúde(vulnerabilidadeatualmuitonegativo)sendoexpectáveloagravamentodestasituaçãonofuturo.EmcontrastecomasPM10,asconcentraçõesdeozonoatuaisnãotêmtidoumim-pactesignificativonasaúde(vulnerabilidadeatualneutro).Éprovávelquenofuturovenhaaverificar-seumaumentogradualdosimpactesnasaúde,associadoscomasconcentraçõesmaiselevadasdePM10 etambémozono,commaiorníveldepreocupaçãoalongoprazoparaambososcenários.Osimpactesnasaúdeassociadosaospólenestambémdeverãoviraserumamaiorpreocupaçãonofuturoemboraassociadosaumadistribuiçãosazonaldiferentedaatual(vulnerabilidadeatualnegativo).
SAÚDE10
Asdoençasqueoferecemumamaiorpreocupaçãonumaperspetivadesaúdepúblicasãoastransmitidaspelasespéciesdemosquitos-Aedes aegyptieCulex pipiensecarraças-Ixodes ricinus. ÉexpectávelquenofuturoaMadeira,estejaespecialmentevulnerávelaestesimpactesdevidoaoseuclimaameno,àsuaricafloraefaunaeàsualocalizaçãogeográfica.
OmosquitoAedes aegypti,foidetetadopelaprimeiraveznaMadeiraem2005,actualmentenãoseencontrandoinfetadocomnenhumdosvírusconsideradoscomopreocupaçãodesaúdepública(dengue,febre-amarela,chikungunya).Contudo,encontroucondiçõesfavoráveisàsuaproliferaçãoeviriaaseroresponsávelpelosurtodefebrededenguede2012/2013.Nesteestudoprocedemosapenasàavaliaçãodoriscodetransmissãoparaadengueassumindoqueosriscosdetransmissãosãoidênticosparaasdoençasanteriormentemencionadaspoisosvírussãotransmitidospelomesmovetor.Nocenáriodereferênciaassumindoqueapopulaçãodemosquitosestáinfetada,oriscoestimadodetransmissãodadenguefoibaixo(vulnerabili-dadeatualnegativo).Oriscodetransmissãoaumentaparabaixo-médio(cenáriodecurtoprazo),riscomédio(cenáriosdemédioprazo)ealto(cenárioclimáticoA2delongoprazo).
Atualmente,omosquitoCulex pipiens,osestudosdisponíveisrevelam,nãoestáinfetadocomovírusdoOestedoNiloe,consequentemente,oriscoatualdestadoençaéinsignificante.SeapopulaçãodeCulex pipiensficarinfetada,entãooriscodetransmissãodafebredoOestedoNiloconsiderou-semédioparaoperíododereferência(vulnerabilidadeatualnegativo)enocenáriodecurtoprazo,passandoparaumnívelderiscomédio-altonoscenáriosdemédioprazoeparaumriscoaltonoscenáriosdelongoprazo.
AcarraçaIxodes ricinusestáatualmenteinfetadacomváriosagentespatogénicosincluindoaBorrelia lusitaniae,abactériaresponsávelpeladoençadeLyme(ouBorreliose).OriscoatualdetransmissãodadoençadeLymefoiavaliadocomomédio(vulnerabilidadeatualmuitonegativo).Nofuturooriscodetransmissãodestadoençaéprovávelquesemantenhamédio,podendoasalteraçõesclimáticasviraalterarosperíodossazonaisfavoráveisparaatransmissãodadoença.
SAÚDE 13
1. INTRODUÇÃO Asalteraçõesclimáticasrepresentamriscosreaisparaasaúdehumanaafetandoamesmaportrêsviasbásicas(Figura1):
• Impactesdiretos,queserelacionamprincipalmentecomalteraçõesnafrequênciadeeven-tosextremosincluindocalor,secaechuvasintensas,
• Efeitosmediadosatravésdossistemasnaturais,porexemplo,doençastransmitidasporvetores,doençastransmitidaspelaáguaepoluiçãoatmosférica,
• Efeitosmediadosporsistemashumanos,porexemplo,impactesocupacionais,subnutrição,alteraçõesnossistemasdeinfraestruturassanitáriasbásicasedeprestaçãodecuidadosdesaúde.
Estábemdocumentadoque,asalteraçõesclimáticasnãosão,muitasvezes,aúnicacausadoaumentodosimpactosnasaúdesensíveisaoclima,masinteragemcomoutrosproblemasdesaúdepública.
Comaextensãoeritmocrescentesdosfenómenosassociadosàsalteraçõesclimáticas,éprevisívelqueseseconstituamcomoumdosmaisrelevantesproblemadesaúdepúblicanaspróximasdécadas(Smithetal.,2014).Umavezqueestesefeitosrefletemascondiçõesambien-taisesociaisdaspopulações,estasconsequênciassobreasaúdevariam,obviamente,entrepaíseseregiões.
Nestecapítulosãoapresentadososresultadosdaavaliaçãodosimpactesdasalteraçõesclimáti-casnaSaúdedosresidentesdailhadaMadeira,indicandoosentidopotencialdamudança.
SAÚDE SAÚDE14 15
Funchaléde1469habitantes/km2,correspondendoaoconcelhocommaiordensidadepopula-cionaldaRAM(DREM,2014).
253 925
256 316
258 628
261 079
263 446 265 138
266 715
267 965
264 236 263 091
261 313
245 000
250 000
255 000
260 000
265 000
270 000
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Popu
laçã
o re
side
nte
(n.º)
População Residente na RAM
4%
13%
41% 8% 3% 1%
5%
17%
3%
2% 2%
% População Residente em 2013 Calheta Câmara de Lobos Funchal Machico Ponta do Sol Porto Moniz Ribeira Brava Santa Cruz Santana São Vicente Porto Santo
Figura 2 – População residente na RAM entre os anos de 2003 a 2013
Ataxadenatalidade,naRAM,em2013,foide7,0nadosvivospor1000habitantes,ataxademortalidadegeralfoide9,3óbitosem1000habitantes.Ambasforaminferioresàstaxasnacio-nais,com7,9e9,3,respetivamente.Ataxademortalidadeinfantilfoide2,7óbitospor1 000nadosvivos.OíndicedeenvelhecimentonaRAMfoide95,0pessoasidosasporcada100jovens,inferioraonacionalde138,9.Aesperançadevida(2011-2013)naRAMéde77,49anos,inferioràesperançadevidaemPortugalcontinental(80anos).
Quantoàsprincipaiscausasdemorte,verifica-sequeaprimeiragrandecausasãoasdoençasdoaparelhocirculatório,responsáveispor27%dosóbitos,seguidadamortalidadeportumoresmalignos,com23%epelasdoençasdoaparelhorespiratório,com19%(DREM,2013).
Alterações climáticas globais
Mitigação e desenvolvimento sustentável
IMPACTE NA SAÚDE
Sistemas de saúde
Prevenção e adaptação
Condições ambientais
Exposições directas (eventos extremos)
Perturbações económicas e sociais
Exposições indirectas (através de alterações da ecologia dos vrectores, disponibilidade de
alimentos, etc.)
Condições socioeconómicas
Ondas de calor/frio
Poluição do ar
Doenças transmiti-das por vectores
Doenças transmi-tidas por água e
alimentos
Insegurança alimentar
Refugiados/Migração
Alterações climáticas regionais
Alterações a longo prazo no clima
(temp. etc.)
Variabilidade climática
Eventos extremos
Figura 1 – Relações entre as alterações climáticas globais e os impactes na saúde.
1.1. Caraterização do Estado da Saúde na Madeira
Osdadosdisponíveisreportam-seàRAMenãoseencontramdesagregadosparaailhadaMadeira,objetodesteestudo.
Em31dedezembrode2013,apopulaçãoresidentenaRAMfoiestimadaem261313habitantes,emque47%sãohomense53%sãomulheres.DototaldapopulaçãoresidentenaRAM,16%têmidadeinferiorouiguala14anos,69%têmentre15e64anose15%têmidadesuperiorouiguala65anos(INE,2014).
ApopulaçãoresidentenaRAMtemvindoadecrescerdesde2011comoseilustranaFigura2.Paraestavariaçãopopulacionalcontribuiuosaldomigratórionegativo(-1181indivíduos)eosaldonaturalnegativo(-597pessoas).OconcelhocommaispopulaçãoéoFunchal,com41%dapopulaçãodaRAM,seguidodeSantaCruz,com17%edeCâmaradeLobos,com13%.AdensidadepopulacionaldoArquipélagodaMadeiraéde334habitantes/km2enoconcelhodo
SAÚDE SAÚDE16 17
Tabela 1 – Potenciais impactes das alterações climáticas sobre a saúde na ilha da Madeira.
IMPACTE SOBRE A SAÚDE ASSOCIADO A
Aumentododesconforto,morbilidadeemortali-dadeassociadosaocalor
Temperaturasmaiselevadascompossíveis“OndasdeCalor”maisfrequenteseintensas
Diminuiçãododesconforto,morbilidadeemortali-dadeassociadosaofrio
Invernosmaismoderados
Aumentodaprevalênciadeafeçõesrespiratóriasecardiovasculares
Deterioraçãodaqualidadedoar
Aumentodamortalidadeemorbilidadegeraldevidoaalteraçõesdesaúdemental
Inundações,tempestades,secas,efogos
Aumentodaincidênciadedoençastransmitidaspelaáguaealimentos
Inundações,secas,temperaturasmaiselevadas,subidadoníveldomar
Mudançasnadistribuiçãoefrequênciadasdoençastransmitidasporvetoreseroedores
Temperaturasmaiselevadas,secas,inundações, ealteraçõesdahumidade
Onúmerodeóbitosvariouaolongodosmesesdoano,comosvaloresmaiselevadosaregista-rem-seemdezembro(265óbitos)ejaneiro(264óbitos),comovalormaisbaixoaocorrernomêsdejunho(163óbitos)(DREM,2014).Estarealidademostraumpadrãodemortalidadesazonal,emqueomaiornúmerodemortesocorrenoinvernoeomenornúmerodemortesocorrenoverão,semelhanteaoqueseverificanocontinente.
Osindicadoresdascondiçõeshigiénico-sanitáriasnaMadeirasãomuitobons:99%dapopu-laçãoresidenteéservidaporsistemadeabastecimentodeágua(públicoeprivado)e96%damesmapopulaçãoéservidaporsistemasdedrenagemdeáguasresiduais(INE,2012).
OserviçodesaúdedaRAMéconstituídopor7hospitais,sendo1públicoe6privados.OnúmerodeCentrosdeSaúdeéde49.Em2012,existiam28médicose82enfermeirosporcada10 000habitantes.Nomesmoanoalotaçãomédiapraticadaemrelaçãoacamasdeinternamentoemhospitaisfoide1 860,oquecorrespondeuaumráciode7,1camaspor1 000habitantes(DREM,2014).AtaxadeocupaçãodecamasnosestabelecimentosdesaúdenaRAM,em2012,foide80%(INE,2012).
1.2. Identificação de possíveis impactes na saúde
AolongodaúltimadécadatemsidoelaboradoumnúmerocrescentedeestudosanalisandoospossíveisimpactesdasalteraçõesclimáticasemPortugal.OrelatóriodoSIAMIconstituioprimeiroestudonacionaldeumpaísdosuldaEuropaemquefoiavaliadaarelaçãoentreasalte-raçõesclimáticaseoseuimpactonasaúdehumana.NesteestudoosimpactesforamavaliadosparaPortugalcontinental(Casimiro&Calheiros2002).Subsequentemente,estesimpactesforamavaliadosaumnívelregionalparaPortugalcontinentalnoprojetoSIAMII(Calheiros&Casimiro2006),assimcomo,paraaRegiãoAutónomadaMadeira(RAM)noprojetoCLIMAATII(Casimiroetal.,2006).Reconhecendoanecessidadededispordeinformaçãosobreospotenciaisimpactesaumnívellocal,váriosmunicípiostêmpromovidoarealizaçãodeestudossobreosimpactesnasaúdedecorrentesdasalteraçõesclimáticasaonívelmunicipal.Umexemploéoestudointegradono“PlanoEstratégicodoConcelhodeCascaisfaceàsAlteraçõesClimáticas”(Casimiroetal.,2010).
NoestudoCLIMAATIIosimpactesforamavaliadosaumnívelregional,separadamente,paraailhadaMadeiraeparaailhadePortoSanto.Nopresenteestudoprocede-seaumaavaliaçãodetalhadadospotenciaisimpactessobreasaúderesultantesdasalteraçõesclimáticasemcadaumdos10concelhosdailhadaMadeira.
Natabela1apresentam-seospotenciaisimpactessobreasaúdedosresidentesdailhadaMadeirainvestigados,considerandoumaperspetivalocaltalcomoseprocedeunaavaliaçãodoprojetoCLIMAATII.
Nesteestudo,algunsdosreferidosimpactesforamavaliadoscommaiordetalhevisandocontribuirparareduzir/evitaravulnerabilidadedapopulaçãoedosturistasaodesconfortoeadoençasassociadascomasalteraçõesclimáticasnaMadeira.
SAÚDE 19
2. METODOLOGIANesteestudoosimpactesforamavaliadosporconcelhodaRegiãoAutónomadaMadeira(Figura3).OsdadosdeclimaparaoperíododereferênciaeparaoscenáriosfuturosforamobtidosatravésdosresultadosobtidosnoCLIMAATII.ForamextraídososdadosparacadaparâmetroclimáticoemfunçãodalatitudeelongitudedecadaconcelhodailhadaMadeira ereunidosnumúnicoconjuntodedadosrepresentativosdoclimaparaesseconcelho.
Calheta
Ponta doSol Ribeira
Brava
FunchalCâmara deLobos
Santana
Porto Santo
Machico
Santa Cruz
Porto Moniz São
Vicente
Figura 3 – Concelhos da Região Autónoma da Madeira
Nopresenteestudoforamusadostrêscenáriostemporaisfuturos:umcenárioacurtoprazo(A2:2010_2039),doiscenáriosamédioprazo(A2:2040_2069eB2:2040_2069),edoiscenáriosalongoprazo(A2:2070_2099eB2:2070_2099).
AFigura4sumarizaamudançaclimáticaemcadaconcelhorelativamenteaocenáriodereferên-cia(1970-1999).Estesresultadosmostramqueemtodososcenáriosatemperaturaaumenta,enquantoaprecipitaçãodecresce.Estastendênciasverificam-seemtodososdezconcelhos.
SAÚDE SAÚDE20 21
Duranteaavaliaçãodecadaresultadonasaúde,foramconsideradososseguintespontos:
• Constituioimpactoestudadoumproblemaatualdesaúdenaregião?
• Existemregistoshistóricosqueindiquemqueoimpactoeraumproblemadesaúdenopassado?
• Qualarelaçãoclima-saúdeparaoimpacto?
• Supondoqueasrelaçõesclima-saúdeacimaindicadassãoválidasparatodososcenáriosdealteraçãoclimática,quemudançasnasaúdepodemosesperarqueocorram?
Segue-seumadescriçãodetalhadadecadaimpacteavaliado.
1 – IDENTIFICAÇÃO DOS EFEITOS NA SAÚDE SENSÍVEIS AO CLIMA
A–Estadoactualdasaúde dapopulaçãonaregião
B–Julgamentodeperitos nacionaiseinternacionais
C–Disponibilidadede dadosparaavaliação
2 – AVALIAÇÃO DOS IMPACTES NA SAÚDE
A–Passado/Presente B–Relaçãosaúde-climaC–Impactesdas
alteraçõesclimáticas
3 – SUGESTÃO DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO
4 – IDENTIFICAÇÃO DE LACUNAS DE INFORMAÇÃO
Figura 5 – Metodologia de avaliação dos impactes das alterações climáticas na saúde
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
Calheta Camara dos
Lobos
Funchal Machico Ponta do Sol
Porto Moniz
Ribeira Brava
Santa Cruz
Santana São Vicente
Ilha Madeira
Temp(oC)
Temperatura Média
A2: 2010_2039 A2:2040_2069 B2:2040_2069 A2:2070_2099 B2:2070_2099
-1,80
-1,30
-0,80
-0,30
0,20 Calheta
Camara dos
Lobos Funchal Machico Ponta do
Sol Porto Moniz
Ribeira Brava
Santa Cruz Santana
São Vicente
Ilha Madeira
mm
/dia
Precipitação
A2: 2010_2039 A2:2040_2069 B2:2040_2069 A2:2070_2099 B2:2070_2099
Figura 4 – Mudança climática em cada concelho relativamente ao cenário de referência
Combasenainformaçãoenosdadosdisponíveis,avaliaram-seemmaiordetalheosseguintesimpactes:
1 ) Mortalidadeassociadaàsondasdecalor;
2 ) Mortalidadeemorbilidadeassociadaàqualidadedoar(ozonotroposféricoepólenes);
3 ) Doençastransmitidasporvetores.
Osmétodosutilizadosparaavaliarosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdeforamseme-lhantesaosdescritosporCasimiroecolaboradores(2006).AFigura5demonstraosprincipaispassosdametodologiaaplicada.
SAÚDE 23
3. RESULTADOS
3.1. Impactes relacionados com o calor
DeacordocomoúltimorelatóriodoPainelIntergovernamentalparaasAlteraçõesClimáticas(IPCC),amédiadatemperaturaàsuperfícieterrestreeoceânicaanívelglobalsofreuumaqueci-mentode0,85°C,noperíodoentre1880e2012.Ainda,segundoesterelatório,émuitoprovávelqueastemperaturascontinuemaaumentarnoséculoXXIemtodaaEuropaeregiãoMediterrâ-nica,assimcomoaduração,frequênciae/ouintensidadedeepisódiosdecalorouondasdecaloremtodaaregião(IPCC,2013).
ARegiãoAutónomadaMadeira,àsemelhançadeoutrasregiõesepaíses,apresentaumcomportamentosazonaldamortalidadediáriafunçãodediversasvariáveisambientais,espe-cialmenteatemperatura,comodiversosestudosilustram(Montero,1997;Alberdi,1998;Keating,2000)talcomoemPortugalcontinental(Almeidaetal.,2010).
Emváriosdestesestudos,foiencontradaumacurvaemformadeJ,UouVnaanálisedaasso-ciaçãoentremortalidadeetemperatura,sendoobservadaamortalidademaiselevadanosextremosdetemperaturaemortalidademaisbaixaparatemperaturasmoderadas(Curriero,2002;Kunst,1993;Huynen,2001;Larsen,1990,Almeidaetal.,2010).
Contudo,apopulaçãohumanaestánormalmenteaclimatizadaaoseuclimalocal,emtermosfisiológicosecomportamentaissendoasuacapacidadedeseadaptaradiferentesambientes eclimasconsiderável.(Kovats,2007)
Diversosestudossugeremqueaspessoascomdoençascardiovasculareserespiratóriaspré--existentestêmumriscoaumentadodemorteassociadoàexposiçãoaocalorequeoriscoémaiorparaalgunsgruposdapopulação,incluindoosidosos,ascrianças,aspessoasdebaixoestatutosocioeconómico(Basu,2002Michelozzietal.,2007,Reyetal.,2007)easpessoasaca-madasemedicadascomcertosfármacoscapazesdemodificaracapacidadetermoreguladora(McGeehineMirabelli,2001)comofenotiazinasebarbitúricos(WHO,2004).
SAÚDE SAÚDE24 25
Éderealçar,noentanto,queestadefiniçãoestámaisrelacionadacomoestudoeaanálisedavariabilidadeclimáticadoquecomosimpactesnasaúdepública.
Nestascircunstânciasosprocedimentosseguidosforamosseguintes:
• Passo1:determinaramédiadatemperaturamáximaparacadamêsdoperíododereferên-cia(1970-1999),porconcelho.
• Passo2:paracadacenárioclimático,determinámosonúmerodediasdestressporcaloremcadamês.Osdiasdestressprovocadopelocalorforamidentificadoscomosendoaquelescomovalordamédiadatemperaturamáximasuperiorem5°Crelativamenteaocenáriodereferência.
Estaanálisefocou-senosmesesmaisquentes(deabrilaoutubro).
Osresultadosobtidosrevelam(Tabela2)queduranteoperíododereferênciamuitopoucosepisódiosdeondadecalorsãoreveladosparaailhadaMadeira.OsconcelhoscommaiorprobabilidadedesofreremosimpactesdeumaondadecalorforamMachicoePontadoSol.Globalmente,oimpactenasaúderesultantedeumaondadecalorfoimuitobaixo(vulnerabili-dadeatualneutro).
Nocenáriodecurtoprazo(2010-2039),éprevisívelumligeiroaumentodonúmerodediasdestressporcalor,comumamaiorprobabilidadedeocorreremepisódiosdeondadecalornosconcelhosdeMachico,PontadoSol,RibeiraBravaeCalheta.Omêscommaiorimpacteserájunho,seguidodeoutubroeabril.Oimpactenasaúdeéexpetávelquesejanegativo.
Nomédioprazo(2040-2069),onúmerodeepisódiosdeondadecaloréprovávelqueduplique.OsresultadosparaoscenáriosA2eB2indicamqueosconcelhosmaisafetadosserãoMachicoePontadoSolseguidosporCâmaradeLobos,RibeiraBrava,SãoVicente,Calheta,SantanaePortoMoniz.Abrilseráomêscommaiorimpacteseguidodeoutubro,setembro,maioejunho.OimpactenasaúdeéexpetávelquesejamuitonegativotantoparaocenárioA2comoparaoB2.
Alongoprazo(2070-2099),umaumentosignificativodeepisódiosdeondadecaloréesperado.ApesardoaumentosermaisevidentenocenárioA2,opadrãoglobalésimilarparaambososcenáriosavaliados.Éprovávelqueocorramepisódiosdeondadecaloremtodososconcelhos,mascommaiorsignificânciaemPontadoSoleRibeiraBrava,seguidosdeCalhetaeFunchal.Abrilemaioserãoosmesesmaisafetados,enquantojulhoeagostoserãoosmenosafetados.OimpactenasaúdeéexpetávelquesejamuitonegativoparaocenárioB2,admitindo-sequepossamocorrerníveiscríticosparaocenárioA2.
ATabela2mostraonúmerodepossíveisepisódiosdeondadecalorexpetáveisdeocorrernoperíodoentreabrileoutubro,porconcelhonoperíododereferência,acurtoprazo,amédioprazoealongoprazoeparacadaumdoscenáriosavaliados.
Poroutrolado,ascondiçõesmeteorológicasqueocorremduranteperíodosdecalorintenso/ondasdecalorfavorecemoagravamentodapoluiçãoatmosférica,nomeadamenteoaumentodosteoresdepoluentescomooozonotroposféricoeaspartículas.Umavezque,namaioriadasvezes,astemperaturaselevadaseapoluiçãodoarcoincidem,é,emregra,difícilisolarosefeitosnasaúderesultantedestasduasexposições(Euroheat,2009).
Osefeitosdastemperaturaselevadasedasondasdecalordependemdoníveldeexposição(frequência,gravidadeeduração),dadimensãodapopulaçãoexpostaedevulnerabilidadedapopulação.Outrosfatoresquecontribuemparaoimpactedocalorintensoincluemaalturadoanoemqueocorreaondadecalor,ocomportamentodapopulaçãoduranteesteeventoearespostadosserviçosdesaúde.Algunsestudosindicamqueaocorrênciadetemperaturasextremasnoiníciodaépocaestival,estáhabitualmenteassociadaaummaiornúmerodemor-tesquandocomparadacomocorrênciasmaistardias.Destaforma,nãoésurpreendentequearelaçãoentreatemperaturaeosseusefeitosnasaúderevelealgumaheterogeneidadeentrepopulaçõeseemfunçãodasualocalizaçãogeográfica(Koppe,2003).
Aexposiçãoprolongada,principalmenteduranteváriosdiasconsecutivos,podeprovocarefeitosnegativosnasaúdehumana,manifestando-sesobretudoatravésdoagravamentodedoençascrónicas(principalmenteascardio-respiratórias)ededoençasrelacionadascomocalor:cãibras,esgotamentoe,nassituaçõesmaisgraves,ogolpedecalor.
Atualmente,muitospaíseseuropeus,incluindoPortugal,têmimplementadosistemasdevigilân-ciaealerta,dosquaisconstamaçõesemedidasdeprevençãoparafazerfaceaosriscosparaasaúde,associadosafenómenosmeteorológicosextremos.Taissistemasconstituemimportan-tesmedidasdeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticas,quetêmcomoobjetivomelhoraraatuaçãodosserviçosdesaúdeederespostasocialemperíodosdemaiorrisco,contribuindoassimparaaumentararesiliênciadapopulação(PCTEA,2014).
DeacordocomaOrganizaçãoMundialdeSaúde,osepisódiosdeondadecalordevemserdefinidospelascondiçõesmeteorológicaslocais,assimcomo,aavaliaçãodosimpactesprovo-cadospelocalorintensonasaúdedaspopulaçõeslocais.Umestudodeumasérietemporalrelacionandoestesdoisparâmetrospermiteidentificarumlimiarmeteorológicoacimadoqualosefeitosnasaúdesetornamsignificativos.Quandoascondiçõesmeteorológicasexcedemestelimiarconsideramosestarperanteuma“ondadecalor”.
Nopresenteestudonãofoipossíveldeterminarumarelaçãodesériestemporaispornãoestaremdisponíveisosdadosnecessários(i.e.mortalidadediária,dadosdequalidadedoarambienteedadosmeteorológicosparaosváriosconcelhos).Portanto,paraafinalidadedesteestudoutilizámosadefiniçãoclimatológicadeíndicededuraçãodeondadecalor(HWDI–HeatWaveDurationIndex)daOrganizaçãoMeteorológicaMundial(WCDMP-No.47,WMO-TDNo.1071),naqualseconsideraqueocorreumaondadecalorquando,numintervalodepelomenosseisdiasconsecutivos,astemperaturasmáximasdoarsão5°Csuperioresàmédiadastempera-turasmáximasnoperíododereferência(1971-2000)(IPMA).
SAÚDE SAÚDE26 27
Tabela 2 – Número de possíveis episódios de onda de calor prováveis de ocorrer entre abril e outubro
1970_1999 2010_2039A2
2040-2069B2
2040-2069A2
2070-2099B2
2070-2099
Calheta 0 1 2 1 32 5
CâmaradeLobos 0 0 6 3 15 5
Funchal 0 0 1 0 33 4
Machico 2 4 10 4 7 5
PontadoSol 1 2 8 6 48 15
PortoMoniz 0 0 1 0 7 1
RibeiraBrava 0 2 2 2 49 10
SantaCruz 0 0 0 0 14 1
Santana 0 0 1 1 11 1
SãoVicente 0 0 2 2 16 4
AFigura6apresentaadistribuiçãomensaldopossívelnúmerodeeventosdeondadecalorparacadaconcelho,noperíododereferênciaeparacadaumdoscenáriosavaliados.
3.2. Impactes associados à qualidade do ar
Osdiversosestudosqueanalisaramasalteraçõesclimáticasglobaiseosefeitosnasaúderelacionadoscomapoluiçãodoarindicamqueosimpactosmaispreocupantessão,sobretudo,osqueestãoassociadosàexposiçãoaoozonotroposférico(O3)eaosagentesaerobiológicos(pólenesentreoutros)(Smithetal.,2014).Devidoàsualocalizaçãogeográfica,aRAMétambémvulnerávelafenómenosdeintrusãodemassasdearprovenientesdedesertosafricanosquetransportempartículas,contribuindodestaformaparaelevarasconcentraçõesdepartículas(PM10)noarambiente.
Apresençadepoluentesatmosféricoscomoodióxidodeazoto(NO2),partículas(PM10)eozonotêmumefeitosinergísticodealergiarespiratóriacomospólenes.Aspessoasquevivememáreasurbanassãomaisafetadasporestetipodealergiasrespiratóriasdoqueaspessoasquevivememáreasrurais(D’Amatoetal.2007).
NaRAM,osdadossobreaconcentraçãoatmosféricadeO3ePM10sãoapenasmonitorizadosnacidadenoFunchal.AconcentraçãodeO3émedidaemduasestações(QuintaMagnóliaeSãoGonçalo).AsPM10sãomedidasnasmesmasestações,assimcomo,numaterceiraestação(SãoJoão).Apesardeosdadosdemonitorizaçãoestaremdisponíveisdesde2003,existem,com
1970–1999
A2 2040–2069
A2 2070–2099
2010–2039
B2 2040–2069
B2 2070–2099
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
OSAJJMA0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
OSAJJMA
0
1
2
3
4
5
OSAJJMA0
1
2
3
4
5
OSAJJMA
0
2
4
6
8
10
12
14
16
OSAJJMA0
2
4
6
8
10
12
14
16
OSAJJMA
CalhetaCâmaradeLobos
FunchalMachico
PontadoSolPortoMoniz
RibeiraBravaSantaCruz
SantanaSãoVicente
Figura 6 - Distribuição mensal do número possível de eventos de onda de calor para cada concelho
SAÚDE SAÚDE28 29
Osimpactesnasaúdeacurtoprazodeumaexposiçãoaoozonoincluem:
• Irritaçãodosistemarespiratório,provocandotosse,irritaçãonagargantaedesconfortonopeito;
• Inflamaçãoedestruiçãodascélulasdamucosabrônquica;
• Aumentodonúmerodeadmissõesnoshospitaiscausadaspordoençascardio-respiratórias;
• Agravamentodaasmaedeoutrasdoençasrespiratóriascrónicas,comoadoençapulmonarobstrutivacrónica,enfisemaebronquite,potencialmentefatais.
OsgruposdapopulaçãomaisvulneráveisàsexposiçõesdoO3são:ascrianças,osadultosquepraticamexercíciooutrabalhamaoarlivreeaspessoascomdoençasrespiratóriastaiscomoasma,enfisemaebronquite.
OsníveisdeozononaRAMsãogeralmentemaisbaixosdoqueemPortugalcontinental.Duranteoperíodoentre2006a2009,amédiaanualdebaseocto-horáriadoO3(8horas)paraoFunchalfoi42.13ug/m3.EmcontrastecomasmediçõesdePM10,2009foioanocomosmaiores(níveisdeozonoe2004oanocommenoresconcentrações.Nãoobstante,amédiaanual8hr/valoresduranteesteperíododeavaliaçãofoisempreinferioraosvaloresdereferênciadaOMS(100ug/m3).Assume-sequeoimpactenasaúdedosníveisdeozonoatuaisnoFunchalsãodepoucapreocupaçãoparaasaúdepública(vulnerabilidadeatualneutro).
Oozonotroposféricoéformadoatravésdereaçõesfotoquímicasqueenvolvemóxidosdenitro-génio(NOx),monóxidodecarbono(CO),metano(CH4)ecompostosorgânicosvoláteis(COVs)napresençadeluzsolar.Principalmentenosmesesdeverão,verificam-secondiçõespropíciasàsuaformação,nomeadamente,diasdeinsolaçãointensaeconstante,temperaturaselevadaseventofraco.Portanto,seatemperaturasubir,éexpectávelumaumentodaproduçãodeozonoespecialmentenasáreasurbanasenaszonasenvolventes(Smithetal.,2014).
Apesardenãofazerpartedoâmbitodesteestudodeterminaraconcentraçãodosprecurso-resdeozonosoboscenáriosdasalteraçõesclimáticas,érazoávelassumirqueoaumentodaurbanização,ousodecombustíveisdebiomassaeodesenvolvimentoindustrialcomausênciadecontrolodeemissões,conduzirãocertamenteaumaumentodosprecursoresquímicosdoozono.ComomostraaFigura4,todososcenáriosclimáticosusadosnesteestudoapontamparatemperaturasmaisaltas.ConsequentementeémuitoprovávelqueosníveisdeozononoFunchalaumentem,assimcomo,osimpactesrespiratóriosassociados.Esteimpacteéprovávelqueaumenteàmedidaqueatemperaturaaumenta,estimando-sequenumcenárioclimáticodecurtoprazopossaresultarumimpactenegativonasaúde,quemuitoprovavel-mentesetransformaránumclaroimpactenegativoamédioprazo(paraoscenáriosA2eB2)eatinjaníveiscríticosdepreocupaçãoparaasaúdealongoprazoparaambososcenáriosclimáticos.
frequência,períodoscomfaltadedados.DeacordocomaOMS,paraavaliaroimpactenasaúde,apenasosdadosdasestaçõesdemonitorizaçãocom90%deeficáciadevemserusados,peloquelimitámosanossainvestigaçãoaoperíodoentre2006e2010.Duranteesteperíodo,osníveisdeO3nãoexcederamoslimiaresquerequeremaemissãodeavisosdesaúdepública.Noentanto,osvaloresdeconcentraçãodePM10estabelecidosporleiparaproteçãodasaúdeforamexcedidosfrequentemente.
3.2.1. Partículas (PM10)
Aspartículasinaláveis–PM10–constituemumdospoluentesatmosféricoscommaiorimpactenasaúdepública.Aexposiçãoaestaspartículaspodeconduzirasituaçõescomoirritaçãonosolhos,narizegargantaetosse,eaoaparecimentodedoençaspulmonarescrónicas.
Duranteoperíododeestudo(2006-2010),aconcentraçãoanualmédiadePM10foide26,9ug/m3.
Oanode2009foioanocommenoresníveisdePM10(concentraçãoanualmédiade21.6ug/m3),enquanto2004foioanocomosníveisdePM10maiselevados(concentraçãoannualmédiade30.4ug/m3).EstesvaloresanuaisdePM10encontram-seacimadosvaloresdereferênciadaOMS(<20ug/m3),oquepoderáacarretarumclaroimpactenegativonasaúdedapopulação(vulnera-bilidadeatualmuitonegativo).
AsconcentraçõesdePM2.5noFunchalsãotambémmedidaspelomesmosistemadarededequalidadedoar.ArelaçãoPM2.5/PM10éfrequentementeinferiora0,5indicandoqueamaioriadaspartículasquecompõeafraçãodePM10édeorigemnatural(poeirasdodeserto,incêndiosflorestais,etc.)enãoprovenientedasatividadeshumanaslocaiscomootráfegoautomóvel.Estassãoasquesãoinfluenciadaspelossistemasdetransportedelongocurso.
AsconcentraçõesfuturasdePM10dependemdoclimaedasemissõesfuturas.ComoaavaliaçãodasemissõesfuturasdePM10nãofazpartedoâmbitodesteestudo,procedeu-seàavaliaçãodosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasconcentraçõesfuturasdePM10,assumindoqueosníveisatuaisdeemissõesantropogénicasseirãomanter.Numclimamaissecoequente,émuitoprovávelqueoriscodeincêndiosflorestais/silvestresaumente,aumentandoassimasemissõesdePM10,especialmentenosmesesmaisquentes.Geralmente,apósumeventodeprecipitação,osníveisdePM10decrescem,umavezqueaspartículassãodepositadasnosolo.Assim,numclimafuturocommenosdiasdeprecipitação,éprovávelqueaconcentraçãodePM10aumente.Emconclusão,assumindoosníveisatuaisdeemissõesantropogénicasnumclimamaissecoequente,éprovávelqueaconcentraçãodePM10aumenteemrelaçãoaopresente,econsequentementeomesmoaconteçacomosimpactesnasaúderespiratóriaecardiovascularassociadosaníveismaiselevadosdePM10.Oimpactenegativonasaúdeéprovávelqueaumentegradualmenteduranteopróximoséculoatingindoníveiscríticosàmedidaquenosaproximarmosdofinaldoséculo.
3.2.2. Ozono troposférico
Osimpactesnasaúderelacionadoscomaexposiçãoaoozonotroposféricoresultamdofactodoozonoserumpoderosooxidante,capazdedanificarostecidosdoaparelhorespiratórioedospulmões.Oozonoétambémconhecidoporcausardanosnavegetaçãoenosecossistemas.
SAÚDE SAÚDE30 31
transportadopeloar.Osresultadosdestaavaliaçãoencontram-seresumidosnaTabela4.Geral-mente,oestudoindicaqueosmaioresníveisdepólenestransportadospeloventoocorrememdiascomhumidaderelativaentre50e60%eníveisbaixosdeprecipitaçãoedevelocidadedovento.Apesardaamplitudetérmicaparaailhasermuitopequena,paraalgunstiposdepólenes(incluindopólenesdeUrticaceaeeAsteraceae),asmaiorescontagensverificam-sequandoastemperaturassãomaiselevadas.
Tabela 3 – Período de polinização, níveis de alergenicidade e efeitos na saúde para as três espécies/famílias de plantas com pólenes predominantes na atmosfera do Funchal
ESPÉCIE PERÍODO DE POLINIZAÇÃO ALERGENICIDADE EFEITOS NA SAÚDE
AlfavacadeCobra/ErvaParietária(Urticaceae)
Longoperíododepolinizaçãocomfrequênciasmáximasemabrilemaio MuitoElevada
Induzcomfrequênciapolinose,asmaeconjuntiviteemindivíduossensibilizados
Gramíneas(Poaceae) Quasetodooano,preferencial-mentedejaneiroajulho Elevada Desencadeiaexacerbaçõesdeasma
brônquica
Losna/Absinto/Artemísia(Asteraceae)
Todooano,compicosmaisacentua-dosentremaioejulho Elevada
Induzcomfrequênciapolinose,asmaeconjuntiviteemindivíduossensibilizados
Outrosestudosdisponibilizamevidênciasdequequantomaisquenteestiveroclimamaiorseráaproduçãodepólenes.AexposiçãodasplantasaconcentraçõesmaiselevadasdeCO2 tambémfavoreceoaumentodaproduçãodepólen(Burge&Rogers2000).
DosdadosresumidosnaTabela4,estimámosquecercade65%daconcentraçãototaldepólentransportadopeloarnoFunchalsãosensíveisaoclima.Ostrêstiposdepólenessensíveisaoclimaetambémconhecidosporteremumelevadopotencialalérgicoforamidentificados:Urti-caceae,PoaceaeeAsteraceae.Éimportanteassinalarqueestessãotambémostiposdepólenresponsáveispelamaioriadasensibilizaçãorelacionadacompólenesempacientescomrinite(Câmaraetal,2001).
Osistemademonitorizaçãodepólenestransportadospeloaratual(RedePortuguesadeAerobiologiapromovidapelaSociedadePortuguesadeAlergologiaeImunologiaClínica)temdadosparaospólenesdasduasfamíliasdeplantasmaisabundantesnaatmosferadoFunchal(UrticaceaeePoaceae).AFigura7mostraomapapolínicoparaestesdoistiposdepólen,comainformaçãodeoutubrode2008adezembrode2013.
Daanálisedestesmapaspodemosconstatarqueosmaioresníveisdepólenesocorremnosmesesdeabrilajulhoparaambosostiposdepólenes.Nãosurpreendentemente,estessãoosmesesemqueocorremmaisalergiasrelacionadascompólenes.
3.2.3. Pólenes
Opólenéumdospoluentesresponsáveisporprovocaralergias.Aformaçãodegrandeseconcentradasfontesdeemissãodepólenesestádiretamenteligadaàbaixadiversidadedeespéciesutilizadasemespaçosverdeseviaspúblicasurbanas(D’Amato,2007;Cariñanos,2011).Aspessoasquevivememáreasurbanastêm20%maisprobabilidadedesofrerdealergiasaopólendoqueaspessoasquevivememáreasrurais(D’Amato,2007;Ogren,2002).
AprincipalcausadealergiaporpólenesoupolinoseemPortugalassimcomoemoutrospaísesdaEuropanaregiãoMediterrâneasãoasGramíneas(“fenos”),seguidadaErvaParietária(“ervasdaninhas”)eentreasárvoresopólendaOliveiraéoprincipalresponsávelpelasalergias(SPAIC).
OsdadosdemonitorizaçãodepólenesindicamdiferençasnotificáveisnoespectrodepólenesatmosféricosentrePortugalcontinentaleoFunchal.NoFunchalpredominamasespéciesPoa-ceaeeUrticaceae,plantasornamentais(Asteraceae,Boraginaceae,Cupressaceae)easdacostanortedacidade(Ericaceae,MyrtaceaeePinaceae).Aprimaveraeoiníciodoverãosãoosmesescomumamaiordiversidadeeconcentraçãodepólenes(Camaraetal.,2009).
Aconcentraçãodepólenexistentenaatmosferadependedoperíododepolinizaçãoespecíficoparacadaespécieedainfluênciadasvariáveismeteorológicas(temperatura,precipitaçãoevento).Osciclospolínicosvariamderegiãopararegiãoedeanoparaano.
Asalergiasdesenvolvem-seapartirdaexposiçãorepetidaecontinuadaporumlongoperíododetempoadeterminadaconcentraçãodealergénios(substânciasquecausamreaçõesalérgi-cas)existentesnopólendasplantas(Ogren,2000),queaoentraremcontactocomasmucosasdonariz,olhosebrônquios,semanifestamporinúmerossintomasalérgicos,comoafebredosfenos,aasma,arinite,aconjuntiviteealgumasalergiascutâneas.
SegundooInternationalStudyofAsthmaandAllergiesinChildhood,aMadeiraéaregiãodePortugalqueapresentaumaprevalênciaegravidadedaasmamaiselevadas(Almeida&Pinto,1999).Constata-seaindaque,noFunchalexistemíndicesdemaiorgravidadedeasmabrônquicadoquenorestanteterritórioportuguês(Almeidaetal,2001).
AsensibilizaçãoaospólenesmaisfrequentesnaatmosferadoFunchalatingeos61,3%.UmestudosobreosníveisdesensibilizaçãoaospacientescomriniteadmitidosnoHospitalCentraldoFunchalmostraquemaisde60%doscasoseramsensíveisaopólen.Asfamíliasdepólenesqueseencon-travamassociadasaomaiornúmerodecasosdepolisensibilizaçãoforam:Urticaceae,Poaceae,eAsteraceae(Câmaraetal,2001).ATabela3mostraoperíododepolinizaçãoeosprincipaisefeitosnasaúdeparaastrêsespéciesdeplantascompólenesmaisfrequentesnoFunchal.
NotrabalhoelaboradoporIreneCamacho(2007)nasuatesededoutoramento,comdadospolínicosparaosanosde2002a2004,foramidentificadasasfamíliasdeplantascujospólenesestãopresentesnaatmosferadoFunchal.Nesteestudofoiefetuadaumaanáliseestatís-ticaparaavaliaroimpactedascondiçõesmeteorológicasnosníveisdecadatipodepólen
SAÚDE SAÚDE32 33
PÓLEN ANO J F M A M J J A S O N D
Alfavaca de Cobra/Erva Parietária (Urticaceae)
2008 - - - - - - - - -
2009
2010
2011
2012
2013
PÓLEN ANO J F M A M J J A S O N D
Gramíneas(Poaceae)
2008 - - - - - - - - -
2009
2010
2011
2012
2013
Níveis concentração de pólenes na atmosfera do FunchalElevados(>60grão/m3) Moderados(30-60grão/m3) Baixos(1-30grão/m3) Sem(0grão/m3)
Figura 7 – Mapa polínico para os pólenes de Urticaceae e Poaceae. A informação apresentada nos mapas polínicos foi expressa em grãos por m3 de ar (informação extraída dos Boletins Polínicos da Rede Portuguesa de Alergologia)
Oimpactedasalteraçõesclimáticasnosníveisdepólennosseusdoistiposmaisrelevantesparaasaúde(UrticaceaeePoaceae)noFunchalforaminvestigadostendoemconsideraçãoque:
1 ) Umclimamaisquenteéprovávelqueacarreteumaumentodaproduçãodepólen
2 ) NíveismaiselevadosdeCO2sãoexpectáveisefavorecemaproduçãodepólen
3 ) Abaixaprecipitaçãoeafracavelocidadedoventosãoexpectáveisdefavorecerosníveisdepólentransportadospeloar.
Tabela 4 – Níveis de alergenicidade, influência das variáveis meteorológicas e concentração de pólenes transportados pelo ar das diferentes famílias de plantas entre 2002 e 2004 (resumo de Camacho, 2005)
FAMÍLIA ALERGENICIDADEINFLUÊNCIA
DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS
CONCENTRAÇÃO (%) DE PÓLENES TRANSPORTADOS
PELO AR
Urticaceae MuitoElevadaTemperatura,Precipitação,
Humidade26.14
Poaceae Elevada Precipitação 14.02
Corylaceae Média - 8.65
Myrtaceae Baixa - 8.11
Pinaceae Baixa Temperatura 6.25
Ericaceae Média Precipitação 6.06
Cupressaceae Média Temperatura 5.28
Chenopodiaceae--Amaranthaceae
Média - 3.66
Papilonaceae Média Vento 3.27
Asteraceae Elevada Temperatura 2.83
Myricaceae Baixa - 1.32
Euphorbiaceae Média - 1.27
Plantaginaceae Média Precipitação 1.22
Boraginaceae Baixa - 1.17
Polygonaceae Baixa - 1.03
Fabaceae Média - 0.98
Solanaceae Baixa - 0.98
Gingkoaceae Baixa Temperatura 0.88
Nyctaginaceae Baixa - 0.68
Platanaceae Elevada Vento 0.68
SAÚDE SAÚDE34 35
NaFigura8comparámoscadacenárioclimático(%dediaspormês)comcondiçõesdefracapreci-pitação(<2mm/dia)evelocidadedoventofraca(<5Km/hora)relativamenteaoclimadereferência.Alteraçõesnamédiamensaldastemperaturasforamtambémcomparadas.Apresenta-setambémoimpacteglobalprovávelnosníveisdepólenconsiderandoestastrêsvariáveisclimáticas.
Osresultadossugeremquenocenáriodecurtoprazo(2010-2039)oimpactedaconcentraçãodepólenesnoFunchaltendeadiminuirnoverãoeaumentarnaprimavera.Apesarestasituaçãopoderresultarnodesenvolvimentodealergiasmaiscedonoano,éprovávelqueofimdoperíododealergiassazonaisrelacionadascomopólencheguetambémmaiscedo,oquelevaaqueoimpacteanualglobalprovavelmentepermaneçasimilaraocenáriodereferência(Vulnerabilidadeatualnegativo).
Emrelaçãoaoscenáriosdemédioprazo(2040-2069),paraambososcenáriosA2eB2,oimpactetendeadiminuirnoverãoeaaumentarnosmesesmaisfrios.NocenárioB2asitua-çãoémaisgravosacomoaumentodoimpactedaconcentraçãodepólenesaverificar-seempraticamenteemtodososmesesdoano,comexceçãodejunhoejulho.Consequentementeéprovávelqueoimpactenasaúderelacionadocomestasalteraçõesdosníveisdepólensigaamesmatendência:aumentodasalergiasrelacionadascompólenesmaiscedonoanoeumligeiroprolongamentodoperíodosazonaldealergias.Emgeral,conclui-sequeumaumentodosimpactesnegativosnasaúdeassociadosaexposiçõesaopólenpodeserexpectávelduranteesteperíodoquandocomparadocomoperíododereferência.
Alongoprazo(2070-2099)asituaçãoparaambososcenáriosésemelhantecomoimpacteadiminuirnoverãoeaaumentarnosmesesmaisfrios.
3.3. Doenças transmitidas por vetores
Asdoençastransmitidasporvetoressãodoençasinfeciosastransmitidasaossereshumanoseaoutrosvertebrados,porinvertebrados(vetores)comoosmosquitoseascarraças,infetadosporagentespatogénicos.Estasdoençasapresentam,frequentemente,padrõessazonaisdistintosquesugeremumaclaradependênciadoclima.Estassãoalgumasdasdoençasassociadasàsalteraçõesclimáticasmaisbemestudadas,devidoàsuaocorrênciageneralizadaesensibilidadeaosfatoresclimáticos(Smithetal.,2014).
Atransmissãodestasdoençassãoinfluenciadaspelacopresençadereservatóriosadequadosepelaexistênciadepopulaçõesdevetoresedeagentespatogénicosemnúmerosuficienteparamanteratransmissão.Atransmissãoaossereshumanosrequercontacto(exposição)comovetorquetransportaoagenteinfecioso.Estaexposiçãoéinfluenciadaporumagrandevarie-dadedefatoresincluindoocomportamentohumano,circunstânciassocioeconómicas,práticasdegestãoambientaletiposequalidadedecuidadosdesaúde.Atransmissãodadoençaocorremaioritariamentequandotodososfatoresacimaindicadossãofavoráveis,sendoqueumclimaapropriadoétambémnecessárioapesardenãoser,contudo,umacondiçãosuficiente,paraatransmissãodestetipodedoençasaossereshumanos.
CURTO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D
A22010–2039
Temperatura
Ventofraco
Precipitaçãofraca
Impacte
MÉDIO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D
A22040–2069
Temperatura
Ventofraco
Precipitaçãofraca
Impacte
MÉDIO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D
B22040–2069
Temperatura
Ventofraco
Precipitaçãofraca
Impacte
LONGO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D
A22070–2099
Temperatura
Ventofraco
Precipitaçãofraca
Impacte
LONGO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D
B22070–2099
Temperatura
Ventofraco
Precipitaçãofraca
Impacte
Figura 8 – comparação da média da temperatura mensal, dias com velocidade do vento baixa e dias com precipi-tação fraca para diferentes cenários climáticos relativamente ao cenário de referência para o Funchal. O impacte da possível alteração climática nos níveis de pólen é apresentado para cada mês. As setas vermelhas indicam um aumento global no número de dias por mês, enquanto as setas verdes indicam um decréscimo global. O sinal de igual sugere alterações mínimas em relação ao cenário de referência.
SAÚDE SAÚDE36 37
3.3.1.1. Aedes aegypti
Em2005,omosquitoAedes aegyptifoidetetadonafreguesiadeSantaLuzia,Funchal.Apesardasmedidasdecombate,comrecursoadesinfestações,adotadaspelasautoridadesdesdeOutubrode2005,omosquitoestabeleceu-senailhaeéhojeuma“praga”noconcelhodoFunchaleCâmaradeLobos.AabundânciarelativadeAedes aegypti,determinadanailhadaMadeiranoestudoREVIVE2013,foide39%paramosquitosadultose88%paramosquitosimaturos(REVIVE2014).
EstemosquitofoiovetorresponsávelpelosurtodeDenguenaMadeiraqueocorreuem2012/2013.OAedes aegyptitambéméovetorquetransmiteovírusdefebre-amarela,febrechikungunyaassimcomomuitosoutrosvírus.
OimpactepotencialdasalteraçõesclimáticasnatransmissãodedenguenaMadeirafoiavaliadoemdetalhecomodescritoemCasimiroetal.,2015.Nesteestudooriscopotencialdetransmis-sãodadenguenaMadeirafoiavaliadoparadiferentescenáriosclimáticostendoemconside-raçãoosjámencionadosfatoreschavedetransmissãodadoençarelacionadoscomoclima:adensidadedomosquito,areplicaçãodovírusdadengueeocontacto“mosquito–serhumano”.
NaFigura9apresentamosascondiçõesdetemperaturamaisadequadasparaatransmissãodadengueemcadaconcelhoparatodososcenáriosclimáticos.
Osresultadosmostramqueparaoperíododereferência(baseline)avaliadocombasenastemperaturasambiente,ostrêsconcelhoscompotencialriscodetransmissãodadenguemaiselevadoforamRibeiraBrava,MachicoeFunchal.Contudo,considerandoquenamaioriadosmeses,apercentagemdediasadequadosparaatransmissãodadoençafoiinferiora25%,considerou-sebaixooriscoglobaldetransmissãodadengue(vulnerabilidadeatualnegativo).Setembrofoiomêsemqueoriscodetransmissãofoisuperiorseguidodosmesesdeoutubroeagosto.ApenasnaRibeiraBravaseobservarammesescommaisde25%dosdiasfavoráveisàtransmissão.
Osresultadosdeavaliaçãoparaocenáriodecurtoprazoindicamqueonúmerodedias(numano)adequadosparaatransmissãoduplicaquandocomparadoscomocenáriodereferência.AFigura9mostraqueapercentagemdediaspormêsadequadaparaatransmissãoaumentaemtodososmesesconsiderados.Agostoesetembrotêmamaiorpercentagemdediasadequa-dosparaatransmissão,seguidosdosmesesdeoutubroejulho.Machicopermanececomooconcelhocomoriscodetransmissãomaiselevado,maisnotórionomêsdesetembrocom60%dosdiasfavoráveisparatransmissão.RibeiraBrava,MachicoeFunchalsãoosúnicosconcelhosareportarmesescommaisde25%dosdiasdentrodastemperaturasadequadasparatransmis-sãodadoença.Duranteesteperíodo,oriscoglobaldetransmissãodadengueéavaliadocomobaixo-médio.
Ambososcenáriosclimáticosdemédioprazomostramumaumentonoriscodetransmissãodadengue,resultandonumaumentodonúmerodediasadequadosparaatransmissãodadoença.
Osefeitosdasalteraçõesclimáticasnapropagaçãodedoençastransmitidasporvetoresestábemdocumentado(Smithetal.,2014).ConsiderouquePortugalpoderiaserparticularmenteafetadoporestefenómeno,umavezqueéumdospaíseslocalizadosmaisaSulnocontinenteEuropeueéumaponteidealparaocontinenteAfricanoeAméricadoSul.ARAMéespecial-mentevulnerávelaestefenómenodadoterumclimaameno,umamarinaeumaeroportoativos,osquaissão,frequentemente,locaisfavoráveisparaapropagaçãodesurtosdedoençastransmitidasporvetores.
Considerandoquemuitoprovavelmenteasalteraçõesclimáticasemcursoirãoprovocarumaumentodetemperatura,discute-senopresentecapítulooseupossívelimpactosobreasdoençastransmitidasporvetoresnaIlhadaMadeira.
AsdoençastransmitidasporvetoresconsideradasmaispreocupantesparaaMadeiraforamidentificadascombaseemevidênciacientíficadisponível.Asdoençasqueoferecemumamaiorpreocupaçãoemsaúdepúblicasãoastransmitidaspormosquitosecarraças,sendoportalmotivoobjetodeumaavaliaçãomaisaprofundada.
3.3.1. Doenças transmitidas por mosquitos
Globalmente,osmosquitosvetoressãoresponsáveisporalgumasdasmaiorespreocupaçõesdesaúdepública.Consequentemente,diversospaísestêmimplementadossistemasdevigilânciaecontrolodestesvetores.ATabela5apresentaalistadasespéciesavaliadaseidentificadasnosestudosdevigilânciamaisrecentesrealizadosparaailhadaMadeira(REVIVE,2014).Combasenestainformação,focámosestaavaliaçãonasdoençastransmitidaspelosmosquitosCulex pipienseAedes aegypti,vistoseremasduasespéciesdemosquitosatualmentepresentesnailhaquerepresentampreocupaçõesdesaúdepública.
Tabela 5 – Mosquitos avaliados e identificados na Madeira (REVIVE, 2014)
MOSQUITOPRESENÇA NA MADEIRA
PREOCUPAÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA
Culex (Culex) pipiens Sim Sim,vetordoVírusdoOestedoNilo
Ochlerotatus (Ochlerotatus) caspius Não Sim,vetordoVírusTahyna&VírusdoOestedoNilo
Culex (Culex) theileri Não Sim,vetordoVírusdoOestedoNilo
Culiseta (Allotheobaldia) longiareolata Sim Não
Culex (Culex) perexiguus Não Sim,vetordoVírusdoOestedoNilo
Culex (Barraudius) modestus modestus Não Sim,vetordoVírusTahyna&VírusdoOestedoNilo
Anopheles (Anopheles) maculipennis Não Sim,vetordaMalaria&doVírusdoOestedoNilo
Aedes (Stegomyia) aegypti Sim Sim,vetordaDengue&Febre-Amarela
SAÚDE SAÚDE38 39
Machico J F M A M J J A S O N D
Baseline 1% 0% 0% 0% 1% 1% 3% 13% 21% 17% 7% 2%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 1% 0% 1% 1% 1% 2% 7% 33% 60% 43% 10% 4%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 1% 1% 1% 1% 1% 4% 18% 56% 69% 52% 16% 6%
B2 2% 1% 1% 1% 1% 2% 20% 47% 59% 44% 21% 6%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 7% 5% 2% 3% 5% 22% 73% 94% 97% 88% 54% 22%
B2 4% 1% 2% 2% 2% 8% 39% 75% 85% 64% 25% 8%
Ribeira Brava J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 29% 26% 3% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 9% 52% 35% 4% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 2% 26% 65% 45% 10% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 1% 31% 51% 40% 8% 0% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 1% 22% 76% 86% 72% 34% 7% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 6% 51% 72% 62% 17% 1% 0%
Santa Cruz J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0% 0%
CurtoPrazo(2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 4% 6% 1% 0% 0%
MédioPrazo(2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 14% 21% 4% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 10% 10% 2% 0% 0%
LongoPrazo(2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 5% 42% 62% 59% 19% 2% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 1% 10% 28% 32% 6% 0% 0%
Porto Moniz J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 3% 2% 1% 1%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 1% 0%
Santana J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Funchal J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 5% 8% 1% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 32% 23% 2% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 14% 49% 37% 6% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 15% 34% 29% 4% 0% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 12% 69% 85% 73% 30% 3% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 2% 36% 61% 56% 10% 0% 0%
Ponta do Sol J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 5% 8% 3% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 12% 16% 5% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 28% 25% 8% 1% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 18% 20% 8% 1% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 1% 7% 45% 65% 56% 25% 8% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 1% 16% 38% 40% 13% 2% 0%
Calheta J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 2% 1% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 6% 3% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 8% 12% 4% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 5% 8% 4% 1% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 2% 22% 42% 39% 16% 6% 1%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 16% 24% 6% 1% 0%
C. de Lobos J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 3% 4% 2% 2%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 2% 0%
São Vicente J F M A M J J A S O N D
Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0%
B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Figura 9 - Evolução dos períodos favoráveis do risco de transmissão da dengue na Madeira para diferentes cenários climáticos
SAÚDE SAÚDE40 41
OFlavivírusOestedoNiloéoagentepatogénicoresponsávelpelafebrecomomesmonome,caracterizadaporumasíndromafebril,tipogripalecujasmanifestaçõesmaisgravestomamaformadeencefalitequepodeserfatal.OsreservatóriosdovírusdoOestedoNilonanaturezaincluemváriostiposdeaves,quenãosucumbemaovírus,mantendo-oemcirculaçãootemposuficienteparaqueosmosquitosseinfetemaopicá-lasedepoisospossamtransmitiraohomemeaocavaloquepode,igualmente,serfatalmenteafetado.Atransmissãoviraléaindamaiscom-plexaquandocomparadacomovírusdodengue,tornandoasmedidasdecontrolomaisdifíceis.
Comoamaioriadosartrópodes,atemperaturaéumdosfatoresabióticosmaisimportantesqueafetaodesenvolvimentoesobrevivênciadoCulex pipiensemtodasasfasesdoseuciclodevida.AsobrevivênciadeumindivíduoCulexadultoépossívelqueocorraentreos15°Ceos28°C(Spielman2001&Gazaveetal.2001).Masointervaloidealdesobrevivênciaparatodasasfasesdedesenvolvimentoocorreentre20-30°C.Atemperaturaótimarondaos25°C,onde76%daslarvasatingeafaseadulta(Loettietal.,2011).
Atransmissãodadoençaétambéminfluenciadaporumperíodoextrínsecodeincubação(PEI).OPEIcomeçacomomosquitoafazerumarefeiçãodesangueinfetadodeumhospedeirovirémico.OvírusdoOestedoNilopresentenosangueentranointestinomédiodomosquito,replica-see,eventualmente,dissemina-seportodoomosquito,quesetornainfeciosoapartirdomomentoemqueatingeasglândulassalivares,alturaemqueomosquitosetornainfe-ciosocompletandooPEI.TemperaturasambienteselevadasfavorecemumacurtareplicaçãoviralresultandoemPEImaiscurtos.UmPEIinferiora30diasfoicalculadoparatemperaturasambientesentre22-30°C(Reisenetal.,2006).
AtemperaturaambientepodeterimpacteemdoisfatoreschavedatransmissãodadoençadoOestedoNilo:adensidadedomosquito(indicadordodesenvolvimentoesobrevivênciadomosquito)comcondiçõesdetemperaturafavoráveisentre20-30°C,enquantoqueumatemperaturaentre22-30°Csemostraadequadaparaataxadereplicaçãoviral.Umavezqueestesdoisintervalosdetemperaturasãomuitosimilares,nesteestudoutilizámosointervalodetemperaturaentre20e30°CcomoindicadordascondiçõesclimáticasadequadasparaoriscodetransmissãodovírusdoOesteDoNilo.
AinformaçãoacercadapresençadovírusdoOestedoNilonaregiãoéescassa.NãoexistematualmentecasosdovírusdoOestedoNiloendémicosreportadosnaRAMedeacordocomonossoconhecimentonãoexistenenhumapopulaçãolocaldeavesinfetada.Seovírusnãoestiverpresentenaregião,oriscodetransmissãodadoençaéinsignificanteparatodososcenáriosclimáticos.
Contudo,considerandoqueomosquitoestápresentenailhaeestaézonafrequentadaporavesmigratórias,paraasquaisconstituiumverdadeirosantuário,existeumriscorealdovírusserintroduzidonaregiãoporavesmigratórias,portadorasdevírusprovenientesdezonasendé-micas.Destaforma,avaliámosoriscopotencialdetransmissãodafebredoOestedoNiloparadiferentescondiçõesclimáticas.Estaavaliaçãoassumeapresençadovírusnaregião.
Agostoesetembropermanecemcomoosmesescomummaiornúmerodediasfavoráveisseguidodosmesesdeoutubro,julhoenovembro.NocenárioA2existemquatroconcelhos(Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol)commesesareportarmaisde25%dias/mêsfavoráveisàtransmissãodadoença.NocenárioB2,estecritériodetransmissãodadoençaveri-fica-seemMachico,RibeiraBravaeFunchal.Oriscodetransmissãodadoençaparaesteperíodoavaliadoestima-sequesejamédioparaambososcenários.
Nocenáriodelongoprazo,observamosnovamenteumaumentosignificativononúmerodediasadequadosparatransmissãodadengue.Ambososcenários(A2eB2)reportamcincoconce-lhoscommesesateremmaisde25%dosdiasdentrodointervaloadequadodetemperaturaparaatransmissãodadoença.Istorepresentametadedosconcelhosavaliados.OsresultadosmostramquenoMachicooriscodetransmissãodadenguepodeviraserpossívelaolongodetodooano.NocenárioA2oriscodetransmissãodadoençaémaiselevadoemjulho,agostoesetembro,mastambémsignificativoemoutubroenovembro.NocenárioB2oriscodetransmis-sãodadengueémaisaltoemagostoesetembro,mastambémsignificativoemjulhoeoutubro.Oriscodetransmissãodadenguenoperíodoavaliadoestima-sequesejamédioparaocenárioB2ealtoparaocenárioA2.
OriscodetransmissãodadenguediscutidonestasecçãoassumequeovírusdadengueestavapresentenaMadeira.Seovírusnãoestiverpresente,entãoosriscosdetransmissãodadoençaparatodososcenáriosserãoinsignificantes(vulnerabilidadeneutro).
Estemosquitoétambémconhecidoporserovetordedoençascomoafebre-amarelaeafebrechikungunya.Atualmentenãoexistemcasosconhecidosdetransmissãolocaleassume-sequeapopulaçãodeAedes aegyptinaMadeiranãoestáinfetadacomestesvírus,oquetornaoriscodetransmissãodestasdoençasinsignificante.Comoambasasdoençassãoinfeçõesviraistransmi-tidaspelomesmovetorquetransmiteovírusdadengue,érazoávelassumirqueseapopulaçãolocaldomosquitoficarinfetadacomumdosreferidosvírus,oimpactedoriscodetransmissãodadoençarespetivaserásimilaraoriscodetransmissãodadengue(discutidoacima).Estasituaçãoéválidaparatodososcenários.
3.3.1.2. Culex pipiens
Culex pipienséummosquitocomumemPortugal,estandoabundantementedistribuídoportodasasregiõesincluídonaRAM(REVIVE2014).Éumaespécieconsideradaprimariamenteorni-tofílica,emboraestejademonstradoquesealimentedeoutrosvertebradosdesanguequente,incluindohumanos.Picamaisfrequentementeduranteanoite,aocontráriodoAedes aegypti quepica duranteodia.
Estemosquitoestáenvolvidonacirculaçãodeváriosarbovírusnanatureza,nomeadamenteoFlavivírusOestedoNilo,ovírusresponsávelpelafebredoOestedoNiloemsereshumanos.OmosquitoestátambémenvolvidonacirculaçãodeprotozoárioscomimportâncianaveterináriatalcomoDirofilaria immitis.NopresenterelatórioavaliamosoimpactedasalteraçõesclimáticasnatransmissãodovírusdoOestedoNilo.
SAÚDE SAÚDE42 43
NaFigura10apresentamosascondiçõesdetemperaturamaisadequadasparaatransmissãodafebredoOestedoNiloemcadaconcelhodailhadaMadeiraparatodososcenáriosclimáticos.
Duranteoperíododereferência(1970-1999)quatroconcelhos(Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol)tiveramtemperaturasambientefavoráveisparaatransmissãodadoençaemváriosmeses.Osmesesondeoriscodetransmissãofoimaiorforamagostoesetembro.Seconsiderarmosquequatroconcelhostiverammaisde50%dosdiasfavoráveisparaatransmis-são,concluímosqueoriscoglobaldetransmissãodadoençaduranteesteperíodofoimédio(vulnerabilidadeatualnegativo).
Nocenárioclimáticodecurtoprazo,osconcelhoscommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoençaaumentouparaseis,incluindoSantaCruzeCalheta.Agostoesetembropermanecemcomoosmesescommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoença.OriscodetransmissãodafebredoOestedoNiloduranteestecenárioclimáticoestima-sequesejamédio.
Quandoconsideramosascondiçõesclimáticasparaoscenáriosdemédioprazo,notamosumclaroaumentononúmerodediasfavoráveisparatransmissãodadoença.Oriscodetransmis-sãopermanecemaisaltonosconcelhosdeMachico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruzeCalheta.Apesardeagostoesetembroseremosmesescommaisdiasfavoráveisparaatransmissão,existetambémumaumentosignificativodediasfavoráveisemjulhoeoutubro.Concluímosqueoriscoglobaldetransmissãoserámédio-alto.
Oclimamuitomaisquenteesperadoparaambososcenáriosdelongoprazo,resultaránumaumentosignificativononúmerodediasfavoráveisparaatransmissãodovírusdoOestedoNilo.OaumentoémaispercetívelnocenárioA2ondeonúmerodeconcelhoscomamaioriadosdiasfavoráveisparaoriscodetransmissãodadoençapassaparasete,acrescentandoPortoMoniz.Namaioriadosconcelhososmesesdejunhoanovembroterãoamaioriadosdiasfavoráveisparatransmissãodadoença,consequentementeconcluímosqueoriscoglobaldetransmissãodafebredoOestedoNiloéalto.
3.3.2. Doenças transmitidas por carraças
Asdoençastransmitidasporcarraçastêmvindoaaumentarglobalmenteesãoatualmenteumapreocupaçãosignificativadesaúdepúblicanamaioriadospaíseseuropeus(Randolph,2004).
Adinâmicadetransmissãodosagentesimplicadosemdoençastransmitidasporcarraçascaracterizaseporumsistemacomplexoquerequerapresençadoorganismopatogénico,deumvetorcompetenteeoseucontactocomoHomem,bemcomodehospedeirosreservatórios.Estesfatoressãoporsuavezinfluenciadosporumadiversidadedecondicionantesnasquaisseincluemvariáveisecológicas,demográficas,socioeconómicaseclimáticas.
Ascarraçaspassamporquatrofasesduranteoseuciclodevida:ovo,larva,ninfaeadulto.Elastêmquefazerumarefeiçãodesanguedeformaamudarparaapróximafasedevidaeproduzirovos.Duranteasduasúltimasfases,ascarraçaspodemmorderossereshumanosetransmitir
CalhetaCâmaradeLobos
FunchalMachico
PontadoSolPortoMoniz
RibeiraBravaSantaCruz
SantanaSãoVicente
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
J F M A M J J A S O N D
% d
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ráve
is p
or m
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1970_1999
0
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0,4
0,6
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1
J F M A M J J A S O N D
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ráve
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2010_2039
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B2_2040_2069
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A2_2070_2099
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ês
B2_2070_2099
Figura 10 – Evolução dos períodos favoráveis do risco de transmissão da febre do Nilo Ocidental na Madeira para diferentes cenários climáticos
SAÚDE SAÚDE44 45
Borrelia sp.eétransmitidaaossereshumanospelapicadadecarraçasinfetadas.Ossintomastípicosincluemfebre,dordecabeça,fadigaeumaerupçãocutâneacaracterísticadenominadaeritemamigrans.Estaerupçãoocorreemaproximadamente60-80%daspessoasinfetadasecomeçacercade3-30diasapósapicadanolocaldamesma.Umacaracterísticadistintivadestaerupçãoéofactodeseexpandirgradualmentecentrifugamenteaolongodeváriosdias.Sedeixadasemtratamento,ainfeçãopodeafetarasarticulações,ocoraçãoeosistemanervoso.AmaioriadoscasosdeBorreliosepodesertratadacomsucessoatravésdousoadequadodeantibióticos.
AdoençadeLymeéumadoençadedeclaraçãoobrigatória(DDO)emPortugal.EmPortugalcontinentaloscasosclínicossãoreportadosanualmente,muitasvezesassociadoscomBorre-lia lusitaniae. Contudo,naMadeiranãotêmsidoreportadoscasosclínicosdedoençadeLyme(DGS,2014).
OimpactedasalteraçõesclimáticasnatransmissãodadoençadeLymefoiavaliadanesteestudoconsiderandooslimiaresdetemperaturaehumidaderelativaquefavorecemasmaioresdensidadesdeninfascomodescritoacima.NaFigura11apresentamosopotencialriscomensaldetransmissãodadoençadeLymeparatodososconcelhosetodososcenáriosclimáticos.Osvaloresindicadosnestafigurasãoapercentagemdediaspormêsemqueatemperaturaeahumidaderelativafavorecemadensidadedasninfas.AsuadensidadeéusadacomoindicadordatransmissãopotencialdadoençadeLyme.Seasninfasestiverempresentes(mesmoemdensidadeselevadas)masnãoestivereminfetadascomBorrelia sp.,entãooriscodetransmissãodadoençaéinsignificante.Estasituaçãoverifica-separatodososcenáriosclimáticos.
Noentanto,sabemosqueapopulaçãodeIxodes ricinusnaMadeiraestádefactoinfetadacomBorrelia sp.,equeexistemmuitosanimaisquepodemserutilizadoscomoreservatórios(ratos,aves,gado,cães,etc.)equeestãoinfetados.Portanto,atualmente,oriscodetransmissãodadoençaémédio(vulnerabilidadeatualmuitonegativo).Ocenáriodereferência/baselinemostraqueosconcelhosdeFunchal,RibeiraBrava,PontadoSoleCalhetativeramcondiçõesclimáticasmaisfavoráveisparaatransmissãodadoençadeLyme.Osnossosresultadosindicamqueosmesesdefevereiroajunhoforamaquelesemqueasdensidadesdeninfasforamsuperiores(econsequentementeoriscodetransmissãodadoença).Apresenteavaliaçãoestádeacordocomosresultadosdeestudosdecampoquemostraramqueasmaioresdensidadesdeninfasocorriamnaprimavera(Lopesetal.,2011).
Àmedidaqueasalteraçõesclimáticasprogridemeatemperatureseelevaemtodososcon-celhos,osresultadosobtidosrevelamumareduçãodascondiçõesclimáticasadequadasparatransmissãodadoençaduranteosmesesmaisquentes,aomesmotempoqueseverificaumaumentofavorávelparatransmissãodadoençanosmesesmaisfrios.Estatendênciaéobser-vadaemtodososconcelhos.Assimprevê-sequeoriscoglobaldetransmissãodadoençasemantenhamédiomascommudançanopicosazonal.
adoença.Oagenteinfetadoétransmitidoaossereshumanosquandoascarraçasinfetadascomopatogénicofazemumarefeiçãodesangue.Emboraatransmissãopossaocorrerdurantequalquerumadasfasesdociclodevida,afasedeninfaéconsideradaafasemaisimportantedatransmissãodadoençaaossereshumanos.Istoocorreporqueaprevalênciadainfeçãonasninfaségeralmentemaiselevadadoquenaslarvaseasninfassãomaisabundantesepequenas(menospercetíveis)doqueascarraçasnafaseadulta.
AMadeirapossuicondiçõesclimáticaseumafloraefaunafavoráveisàexistênciadediferentesespéciesdeixodídeos(carraças),comcapacidadeparatransmitirdiferentesagentespatogénicosaossereshumanos.
3.3.2.1. Ixodes ricinus
OsresultadosdeumrecenteestudodecampoconduzidonoprojetoClimaTickmostraramque95%detodasascarraçasrecolhidasnaMadeiraeramdaespécieIxodes ricinus.OutrascarraçascapturadasincluiramHaemaphysalis punctate, Rhipicephalus sanguineus, Haemaphysalis sulcataeRhipicephalus bursa(BernandesC.,etal.,2010).Nopresenteestudofocámosanossaavaliaçãonacarraça,Ixodes ricinusporestaseracarraçamaisabundante,eestarenvolvidanatransmis-sãodeumagrandevariedadedeagentespatogénicosdeimportânciamédicaeveterinária.
OsresultadosdoprojectoClimaTickrevelaramqueascarraças(Ixodoes ricinus)seencontramativasdurantetodooanonailhadaMadeira.Asdistribuiçõesmensaisdascarraçassãomuitodiferentesdependendodafasedociclodevidaemqueseencontra.Asninfastêmdensidadesmaiselevadasduranteaprimaveraenquantoaslarvastêmdensidadesmaioresnoverão.Adensidadedascarraçasnafaseadultaparecesermaiornosmesesmaisfrios.Nesteprojecto(ClimaTick)arelaçãoentreoclimaeadensidadedascarraçasfoiavaliadaemdetalhe.Osresul-tadosapresentaramumaclararelaçãonãolinearentreadensidadedascarraçaseasvariáveisclimáticas.Omelhormodeloparaadensidadedasninfasindicoumaioresdensidadescomtemperaturasambienteentreos8-20°Cehumidaderelativaentre50-83%(Lopesetal,2011).
NaMadeiraésabidodesdehámaisde15anosqueaIxodes ricinusseencontraminfetadascomoagenteinfeciosoBorrelia sp.(Matuschkaetal.,1998).InvestigaçõesmaisrecentesidentificaramqueIxodes ricinusnaMadeiraestáatualmenteinfetadacomBorrelia lusitaniae,váriasestirpesdeRickettsia sp.eAnaplasma phagocytophilum.Tambémnãofoiincomumencontraramesmacar-raçainfectadacommaisdoqueumdestesagentesinfeciosos(LopesdeCarvalho,etal.,2008).Estestrêsagentesinfeciosossãoumapreocupaçãodesaúdepública.
Nasubsecçãoqueseseguefocamo-nosnoimpactepotencialdasalteraçõesclimáticasnaMadeiranoriscodetransmissãodadoençadeLyme.Noentanto,umavezqueéamesmacarraçaqueseencontraenvolvidanatransmissãodeBorrelia sp.,Rickettsia sp.eAnaplasma phagocytophilum érazoávelassumirqueoriscodetransmissãodetodasestasdoençasésimilar.
Impacte das Alterações Climáticas na Transmissão da Doença de Lyme
ABorreliose,tambémconhecidacomodoençadeLyme,écausadaporváriasestirpesde
SAÚDE SAÚDE46 47
Ribeira Brava J F M A M J J A S O N D
Baseline 52% 57% 63% 75% 84% 78% 33% 15% 25% 47% 50% 39%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 52% 58% 63% 75% 83% 75% 20% 8% 18% 44% 49% 40%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 59% 65% 65% 76% 82% 54% 15% 2% 15% 38% 54% 47%
B2 53% 59% 65% 82% 82% 61% 14% 5% 15% 37% 51% 45%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 51% 56% 74% 75% 57% 21% 3% 2% 6% 20% 39% 49%
B2 53% 59% 61% 75% 76% 43% 7% 3% 9% 32% 47% 49%
Funchal J F M A M J J A S O N D
Baseline 42% 47% 57% 73% 83% 87% 60% 29% 31% 54% 48% 31%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 43% 48% 57% 73% 83% 82% 30% 10% 19% 45% 47% 33%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 48% 54% 60% 75% 84% 62% 18% 2% 15% 39% 51% 40%
B2 44% 49% 61% 79% 86% 71% 20% 5% 15% 39% 47% 37%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 46% 50% 70% 76% 66% 24% 3% 2% 5% 20% 39% 41%
B2 45% 50% 56% 75% 81% 51% 9% 3% 9% 34% 46% 43%
Ponta do Sol J F M A M J J A S O N D
Baseline 43% 48% 51% 57% 68% 73% 66% 37% 33% 46% 38% 31%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 44% 49% 51% 57% 67% 70% 43% 17% 25% 41% 38% 32%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 50% 55% 52% 59% 70% 60% 29% 9% 22% 34% 43% 37%
B2 46% 51% 51% 65% 72% 66% 30% 15% 21% 37% 39% 38%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 42% 46% 59% 60% 57% 37% 8% 3% 10% 22% 34% 40%
B2 45% 50% 50% 58% 69% 54% 18% 8% 13% 33% 38% 39%
Santa Cruz J F M A M J J A S O N D
Baseline 39% 43% 37% 48% 40% 24% 10% 7% 12% 28% 38% 35%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 37% 41% 39% 48% 37% 25% 7% 3% 7% 25% 38% 35%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 31% 34% 40% 48% 32% 18% 5% 1% 4% 19% 35% 34%
B2 32% 35% 44% 42% 29% 18% 4% 2% 4% 20% 33% 31%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 33% 38% 33% 37% 19% 8% 1% 0% 1% 7% 20% 30%
B2 34% 38% 39% 46% 28% 15% 2% 1% 2% 16% 31% 35%
São Vicente J F M A M J J A S O N D
Baseline 50% 55% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 22% 47% 63%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 50% 55% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 22% 47% 62%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 42% 47% 35% 24% 11% 6% 2% 1% 8% 20% 36% 53%
B2 49% 54% 35% 18% 11% 5% 2% 1% 8% 19% 38% 56%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 48% 54% 24% 17% 7% 3% 2% 3% 5% 14% 26% 42%
B2 47% 52% 39% 24% 11% 6% 1% 2% 4% 14% 35% 49%
Santana J F M A M J J A S O N D
Baseline 46% 50% 35% 24% 15% 7% 3% 4% 9% 20% 42% 54%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 45% 49% 35% 24% 15% 7% 3% 4% 9% 19% 42% 53%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 34% 38% 33% 24% 11% 6% 2% 1% 7% 18% 31% 47%
B2 40% 45% 32% 17% 11% 5% 2% 1% 7% 18% 34% 48%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 41% 47% 22% 16% 7% 3% 2% 2% 4% 12% 23% 34%
B2 41% 45% 36% 23% 11% 6% 1% 2% 4% 13% 31% 44%
Calheta J F M A M J J A S O N D
Baseline 41% 46% 45% 42% 37% 23% 9% 11% 15% 36% 35% 29%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 43% 48% 45% 46% 44% 21% 6% 6% 9% 28% 39% 31%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 46% 51% 44% 44% 37% 15% 4% 2% 7% 23% 38% 33%
B2 44% 48% 43% 50% 38% 16% 4% 3% 7% 25% 35% 37%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 41% 44% 48% 44% 26% 9% 0% 0% 2% 12% 30% 37%
B2 42% 46% 42% 43% 32% 10% 2% 1% 4% 22% 34% 36%
Machico J F M A M J J A S O N D
Baseline 47% 56% 43% 45% 38% 25% 5% 0% 1% 9% 31% 45%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 51% 60% 42% 45% 40% 19% 1% 0% 0% 2% 21% 41%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 48% 57% 45% 46% 35% 9% 1% 0% 0% 0% 14% 31%
B2 48% 56% 43% 43% 30% 13% 0% 0% 0% 1% 12% 34%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 28% 39% 39% 33% 12% 1% 0% 0% 0% 0% 1% 12%
B2 40% 51% 40% 42% 25% 5% 0% 0% 0% 0% 7% 27%
C. de Lobos J F M A M J J A S O N D
Baseline 51% 56% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 20% 44% 60%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 49% 55% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 19% 42% 58%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 39% 45% 33% 24% 11% 6% 2% 1% 7% 17% 30% 44%
B2 47% 53% 36% 18% 11% 4% 2% 1% 7% 17% 33% 49%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 41% 49% 23% 17% 7% 3% 1% 2% 3% 12% 23% 36%
B2 43% 50% 38% 24% 11% 6% 1% 2% 4% 13% 30% 42%
Porto Moniz J F M A M J J A S O N D
Baseline 21% 23% 12% 6% 2% 1% 0% 1% 2% 7% 20% 30%
Curto Prazo (2010_2039)
A2 20% 22% 12% 7% 2% 1% 0% 0% 1% 6% 17% 28%
Médio Prazo (2040_2069)
A2 20% 22% 8% 4% 1% 0% 0% 0% 1% 3% 13% 21%
B2 23% 26% 11% 5% 1% 0% 0% 0% 1% 4% 15% 24%
Longo Prazo (2070_2099)
A2 22% 25% 8% 3% 1% 0% 0% 0% 0% 4% 8% 19%
B2 18% 20% 9% 3% 2% 0% 0% 0% 1% 2% 13% 20%
Figura 11 – Evolução dos períodos favoráveis do risco de transmissão da doença de Lyme na Madeira para diferentes cenários climáticos
SAÚDE 49
4. CONCLUSÃOOimpactedasalteraçõesclimáticasnasaúdehumanapodesersignificativoemváriosníveis.Temperaturasextremamenteelevadaspodemcontribuirdiretamenteparaumaumentodedoençascardiovasculareserespiratórias.Períodosmaisquentesintervêmnosníveisdepólenestransportadospeloar,assimcomo,noaumentodosníveisdeozonoeoutrospoluentesatmosféricos,comimpactediretosobreasdoençasanteriormentemencionadas.Poroutrolado,estasvariaçõesclimáticastambémpodeminfluenciarapropagaçãodedoençastransmitidasporvetores,nomeadamente,pormosquitosecarraças.
Éexpectávelquetantoatemperaturacomoaprecipitaçãosoframalteraçõessignificativasnaspróximasdécadasemtodasasregiõesdoglobo.Opresenteestudoprevêumaumentodatem-peraturaeumdecréscimodaprecipitaçãonaIlhadaMadeira,emtodososcenáriosclimáticosdosváriosperíodostemporaisrelativamenteaocenáriodereferência.
DeacordocomoúltimorelatóriodoIPCC,tem-severificadoumaumentodatemperaturadamédiaàsuperfícieterrestreeoceânicasendomuitoprovávelqueastemperaturascontinuemaaumentarnoséculoXXIemtodaaEuropaeregiãoMediterrânica,comumagrandeprobabilidadedeocorrênciadeepisódiosdecalorouondasdecalormaisfrequentesecommaiorintensidadeeduração.
TendoporbaseadefiniçãodeondadecalordaOrganizaçãoMeteorológicaMundial,concluímosquenaMadeiraatualmenteoimpactenasaúderesultantedeepisódiosdeondadecalorémuitobaixo(vulnerabilidadeatualneutro),sendoosconcelhosdeMachicoePontadoSolosmaisafetadospelocalor(graudeconfiançamédia).
Éexpectávelquenoscenáriosclimáticosfuturososepisódiosdeondadecalorpossamviraterumimpactenasaúdenegativo,commaisconcelhosaseremafetados.NocenárioamédioprazoéprovávelqueosepisódiosdeondadecalordupliquemcomumimpactenasaúdemuitonegativoparaoscenáriosA2eB2.Alongoprazoespera-seumaumentoaindamaissignificativodonúmerodeepisódiosdeondadecalor,comumimpactenasaúdemuitonegativo,atingindoníveismaiscríticosnocenárioA2(graudeconfiançamédia).
SAÚDE SAÚDE50 51
Assumindoastemperaturasverificadasnocenáriodereferênciaeconsiderandoqueapopu-laçãodemosquitosestavainfetadacomovírusdadengue,estimamosoriscodetransmissãodestadoençaassociadoaoreferidocenáriocomobaixo(graudeconfiançaalta,vulnerabilidadeatualnegativo).Nocenárioclimáticodecurtoprazo,oriscodetransmissãodadengueestima-sequesejabaixo-médio,oriscoaumentaparamédio,noscenáriosdemédioprazoeparaumriscoaltoquandoconsideramosocenárioclimáticoA2delongoprazo(graudeconfiançaalta).
OmosquitoCulex pipienstambémestápresenteemabundâncianailha.EstemosquitonãoéatualmenteconhecidoporestarinfetadocomovírusdoOestedoNilo,econsequentementeoriscoatualdetransmissãodovírusdoOestedoNiloéinsignificante(graudeconfiançaalta,vulnerabilidadeatualnegativo).ContudoaRAMévisitadapormuitasavesmigratórias,frequen-tementeenvolvidasnaintroduçãodovírusdoOestedoNilo,havendoumriscorealdeintrodu-çãodestevírusnailha.
AnossaavaliaçãoconcluiuqueseapopulaçãodeCulex pipiensnailhaficarinfetada,entãooriscodetransmissãodafebredoOestedoNiloserámédioparaoperíododereferênciaeocenáriodecurtoprazo,passandoparaumníveldevulnerabilidademédio-altonoscenáriosdemédioprazo,eparaumavulnerabilidadealtanoscenáriosdelongoprazo(graudeconfiançaalta).
Considerandooimpactesignificativoqueestasdoençastransmitidaspormosquitospodemternasaúdepúblicaéfundamentalqueasmedidasdecontrolodomosquito,assimcomoosprogramasdevigilânciadosmosquitosedoshospedeirossejamreforçadoseavaliadosperiodicamente.
OclimaamenodaMadeiraeasuaricafloraefaunafazemdailhaalocalizaçãoidealparaascar-raçassobreviverem.Dasmuitasespéciesdecarraçasquehabitamailha,aIxodes ricinuséamaisabundante.EstacarraçaestáatualmenteinfetadacomváriosagentespatogénicosincluindoaBorrelia lusitaniae,abactériaresponsávelpeladoençadeLyme(ouBorreliose).AvulnerabilidadeatualdetransmissãodadoençadeLymefoiavaliadacomomédio(graudeconfiançaalta,vulne-rabilidadeatualmuitonegativo).Asalteraçõesclimáticaspoderãomudarosperíodossazonaisfavoráveisparaatransmissãodadoençafavorecendooinvernoeaprimaveramasreduzindoorisconoverãoenooutono.Noglobal,oriscodetransmissãodadoençaéprovávelquesemantenhamédio(graudeconfiançaalta).
NãoestádisponívelatualmentenenhumavacinacontraaBorrelioseecomotalestaratentoàpresençadascarraças,ousodevestuárioapropriadonasáreasinfestadascomcarraçasearemoçãoprecocedascarraçaspermanecemcomoasprincipaismedidasdeprevenção.
Seráigualmentedesejávelasseguraracontinuidadedosprogramasdevigilânciaepidemiológicaedosvetores(carraças)oqualnãointegra,atualmente,oprogramaREVIVE.
Apesardoclimaserofatorchavenadinâmicadetransmissãodestasdoençaspelosvetores
Emrelaçãoàconcentraçãodepartículasinaláveis–PM10–concluímosqueosvaloresanuaisdestepoluentenoFunchalsão,atualmente,superioresaosvaloresdereferênciadaOMS,oquesetraduznumimpactenegativoparaasaúde(graudeconfiançamédia,vulnerabilidadeatualmuitonegativo).Poroutrolado,verificámosqueamaioriadaspartículasquecompõemafraçãodePM10édeorigemnatural.Nofuturo,assumindoidênticosníveis(locais)deemissõesantropo-génicaseumclimamaisquenteecommenorprecipitaçãoéexpectávelqueasconcentraçõesdePM10aumentem,assimcomoosimpactesnasaúdeassociadoscomestepoluente(graudeconfiançamédia).
EmcontrastecomasmediçõesdePM10,asmediçõesatuaisdeozonoforamsempreinferioresaosvaloresdereferênciadaOMS,sendooimpactenasaúdepoucopreocupante(vulnerabili-dadeatualneutro).Emfunçãodoaumentodatemperaturaexpectávelparatodososcenáriosclimáticosfuturos,éprovávelqueosníveisdeozononoFunchaltambémaumentem.Conse-quentemente,éprovávelquevenhaaverificar-seumaumentogradualdosimpactesnasaúde,associadosasexposiçõesdeozono,commaiorníveldepreocupaçãoalongoprazoparaambososcenários–A2eB2(graudeconfiançamédia).
ConsiderandoqueaMadeiratematualmenteumaaltaprevalênciadeasmaequemaisde60%dospacientescomrinitesãosensíveisàmaioriadostiposdepólenesinvestigados,concluímosqueoníveldeimpacteatualnasaúdeassociadoàsconcentraçõesdepólennoFunchalénega-tivo(graudeconfiançaalta).ExisteumagrandeprobabilidadedequeasalteraçõesclimáticaspossamalteraradistribuiçãosazonaldasconsequênciassobreasaúdeassociadasàexposiçãoaopólennoFunchal.Estasituaçãopodeverificar-separatodososcenáriosclimáticosfuturosavaliados.Noentanto,oimpacteglobalanualnasaúdeéprovávelquepermaneçaomesmonocenárioacurtoprazomascomtendênciaaaumentarnoscenáriosclimáticosdemédioelongoprazo.Sãoexpectáveisimpactesmuitonegativosnasaúdeparaestesperíodosmasmaispronunciadosnocenáriodelongoprazo(graudeconfiançamédia).
AsalteraçõesclimáticasnaMadeiravirãomuitoprovavelmenteaaumentaroriscodetrans-missãodasdoençastransmitidaspormosquitosemtodososconcelhos.AsduasespéciesdemosquitosqueoferecemumamaiorpreocupaçãodesaúdepúblicanailhadaMadeirasãoAedes aegyptieCulex pipiens.
OmosquitoAedes aegyptiestáatualmentepresentenaMadeira.Contudo,deacordocomainformaçãomaisrecentedisponível,nãoseencontrainfetadocomnenhumdosvírusconsidera-dosumapreocupaçãodesaúdepública(dengue,febre-amarela,chikungunya).Seainfeçãodovetornãoseverificar,oriscodetransmissãodequalquerumadestasdoençaséinsignificante.Noentanto,tendoemcontaoelevadonúmerodepessoasquevisitaailhaeointercâmbiodebens,tendoemcontaaindoqueomosquitovetorcontínuapresentenailha,érazoávelassumirqueexisteumriscorealdeintroduçãodestesvírusnaMadeiraeasuapropagaçãonospróximosanos.Comojáreferimos,umavezqueestesvírussãotransmitidospelomesmovetorassumi-mosqueosriscosdetransmissãodasdoençasserãoidênticosparatodas.
SAÚDE52
éimportanterelembrarqueoutrosfatorescomoacopresençadealimentos/hospedeirosadequadosparaovetoreosagentespatogénicosinfeciosostambémtêmumpapelsignificativo.Atransmissãodedoençasparaossereshumanosrequerumcontactohumano(exposição)comovetorparasitainfetado.Estaexposiçãoéinfluenciadaporumavariedadedefatores,incluindoocomportamentohumano,ascondiçõessocioeconómicas,aspráticasdegestãoambientaleaspráticasassociadasaoscuidadosdesaúdeprimários.Alémdisso,fatoresintrínsecostaiscomoaimunidadeafetamagravidadedadoença.Atransmissãodadoençaocorreapenassetodosestesfatoresforemfavoráveisparaatransmissão.
SAÚDE 55
5. REFERÊNCIAS › Alberdi,J.C.,Díaz,J.,Montero,J.C.,Mirón,I.J.(1998),Daily Mortality in Madrid Community (Spain)
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SAÚDE SAÚDE60 61
Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por mosquitos
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Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
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TransmissãodadengueeFebredoNiloOcidental(semovíruspresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito
Neutro(0)
Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Replicaçãoviral
Precipitação Contacto:mosquito-humano
Transmissãodadengue(comovíruspresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito
Negativo(-1)
Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade Replicaçãoviral
Precipitação Contacto:mosquito-humano
TransmissãoFebredoNiloOcidental(comovíruspresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito,Replicaçãoviral
Negativo(-1)
Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade
Precipitação
Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por carraças
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
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TransmissãodadoençadeLyme(semoagentepatogénicopresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça
Neutro(0)
Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Presençade
hospedeiros
Precipitação Contacto:caraça-humano
TransmissãodadoençadeLyme(comoagentepatogénicopresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça Muito
Negativo(-2)
Alta -2 -2 -2 -2 -2 AltaHumidade Presençade
hospedeiros
Precipitação Contacto:caraça-humano
Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados às ondas de calorIm
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
Mortalidadeassociadaàsondasdecalor
Temperatura Estadogeraldasaúde Neutro
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interior
Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar (exterior)
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaPM10
Temperatura Estadogeraldasaúde
MuitoNegativo
(-2)Média -2 -2 -2 -3 -3 MédiaPrecipitação Fonte(s)de
poluição
Vento
Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaO3
Temperatura Estadogeraldasaúde
Neutro(0)
Média -1 -2 -2 -3 -3 MédiaVento
Fonte(s)depoluiçãodosprecursoresdeozono
Morbilidadeasso-ciadaàexposiçãoaoPólen
Temperatura Estadogeraldasaúde
Negativo(-1)
Alta -1 -2 -2 -2 -2 MédiaPrecipitação Tipodeplanta/pólen
Vento
adaptação às alterações climáticas
SAÚDE
AUTORES
Elsa Casimiro
José M. Calheiros
Carla Selada
MARÇO 2015
SAÚDE 65
SUMÁRIOOpresenterelatórioenumeraumasériedemedidasdeadaptaçãoquepodemsertomadasparafazerfaceaosimpactesnasaúdehumanaassociadosàsalteraçõesclimáticasnaRAM,nomeadamente,emrelaçãoaosimpactesrelacionadoscomocalor,qualidadedoaredoençastransmitidasporvetores(mosquitosecarraças).
Asmedidasapresentadassãosuscetíveisdetrazerbenefíciosparaasaúdedapopulação,mesmonaausênciadealteraçõesclimáticas.Sãotambémdescritasasmedidasdeadaptaçãoatualmenteemcursoesãodiscutidasasdificuldadesencontradasnaimplementaçãodasmedidas.Estadiscussãoenvolveuaparticipaçãodeváriosperitosassimcomoparceiroslocais(stakeholders).
Atualmente,jáexistemalgunssistemasdeavisoealertarelativamenteaoimpactedocaloredaexposiçãoàpoluiçãoatmosférica,assimcomo,diversasmedidasdemonitorizaçãoecontrolodemosquitos(muitodevidoaosurtodedenguequeocorreunailhaem2012-2013).
Globalmente,asmedidasdeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticasnosetordasaúdehumanatêmvindoadesenvolver-senosúltimosanos,associadasaalgunsdosrecenteseventosclimáticosextremos(ondasdecalor,ciclones,inundações,etc.).Umadasprincipaismedidasdeadaptação,queospaísestêmimplementado,sãoossistemasdeavisoealertaparaprevenirosimpactesnegativosnasaúde,alertandoasautoridadesdesaúdecompetenteseapopulaçãoemgeralparaosriscosrelacionadoscomasalteraçõesclimáticas.
Outrasmedidaspassamporfortaleceroscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençascardiorrespiratóriase/outransmitidasporvetores,promovercampanhasdesensibi-lizaçãoparaosprofissionaisdesaúde,populaçãoemgeralecomunicaçãosocialsobreosriscosassociadosàsalteraçõesclimáticas,ouainda,tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais:(ex.Televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc).
SAÚDE 67
1. INTRODUÇÃO Asalteraçõesclimáticasenvolvemumagrandevariedadederiscosparaasaúdepública.Amaioriadospotenciaisimpactesnasaúdeassociadosaestasalteraçõesdoclimapode,noentanto,serevitadaoureduzidaatravésdeumacombinaçãoentrefortalecerasfunçõeschavedossistemasdesaúdeeumamelhorgestãodosriscosapresentadosporumclimaemmudança.
Asautoridadeseoutrosparceirosinteressadosprecisamdeperceberosimpactesatuaiseprojetadosdasalteraçõesclimáticaseassuasimplicaçõesnasaúdedeformaapreparareimplementarumconjuntoderespostasparagarantirumnívelmáximodeadaptação.Exemplosdestetipoderespostasincluemsistemasdeavisoealerta,planosdegestãodeemergênciasefortalecimentodossistemasdesaúde;outrasmedidaspreventivasincluemhabitaçõesmaisseguras,proteçãocontracheias,controlodevetoresemelhoriadavigilância.Paraassegurarquesãotomadasmedidasdeadaptaçãooportunaseeficazes,osdecisoresdevemapresentarcoerênciaentresetoreseníveisdegovernação.
1.1. Identificação de possíveis impactes na saúde
Asalteraçõesclimáticasprojetadasindicamefeitosadversossubstanciaisnasaúdehumanaqueserãodistribuídosdeformadesigualdentroeentreaspopulações.OsresultadosdeumestudorecentedaOrganizaçãoMundialdeSaúdeestimamque,entre2030e2050,ocorramaproxima-damente250 000mortesadicionaisporanodevidoàsalteraçõesclimáticas.Em2030,projeta--sequeaÁfricasubsaarianavenhaasofreromaiorpesodosimpactesdamortalidadeassociadaàsalteraçõesclimáticasequeem2050,osuldaÁsiasejaaregiãomaisafetadapelosefeitosnasaúderesultantesdasalteraçõesclimáticas.Esteestudotambémconcluiuqueamaioriadasmortesrelacionadascomasalteraçõesclimáticasnospaísesdesenvolvidosestaráassociadaaostressporcaloremidosos.NaEuropaOcidental,estima-sequeostressprovocadoporcalornapopulaçãoidosaestejaassociadoa2625e5573mortesadicionaisatribuíveisàalteraçãoclimáticaem2030e2050,respetivamente(Halesetal.,2014).
AolongodaúltimadécadatemsidoelaboradoumnúmerocrescentedeestudosanalisandoospossíveisimpactesdasalteraçõesclimáticasemPortugal.OrelatóriodoSIAMIconstituio
SAÚDE68
primeiroestudonacionaldeumpaísdosuldaEuropaemquefoiavaliadaarelaçãoentreasalte-raçõesclimáticaseoseuimpactonasaúdehumana.NesteestudoosimpactesforamavaliadosparaPortugalcontinental(Casimiro&Calheiros,2002).Subsequentemente,estesimpactesforamavaliadosaumnívelregionalparaPortugalcontinentalnoprojetoSIAMII(Calheiros&Casimiro,2006),assimcomo,paraaRegiãoAutónomadaMadeira(RAM)noprojetoCLIMAATII(Casimiroetal.,2006).Reconhecendoanecessidadededispordeinformaçãosobreospoten-ciaisimpactesaumnívellocal,váriosmunicípiostêmpromovidoarealizaçãodeestudossobreosimpactesnasaúdedecorrentesdasalteraçõesclimáticasaonívelmunicipal.Umexemploéoestudointegradono“PlanoEstratégicodoConcelhodeCascaisfaceàsAlteraçõesClimáticas”(Casimiroetal.,2010).
NoestudoCLIMAATIIosimpactesforamavaliadosaumnívelregional,separadamente,paraailhadaMadeiraeparaailhadePortoSanto.
Nopresenteestudoprocede-seaumaavaliaçãodetalhadadospotenciaisimpactessobreasaúderesultantesdasalteraçõesclimáticasemcadaumdos10concelhosdailhadaMadeira.Combasenainformaçãoedadosdisponíveisforamavaliadososimpactesnasaúdeassociadosàsondasdecalor,àqualidadedoar(partículasinaláveis—PM10,ozonotroposférico,epólenes)eàsdoençastransmitidasporvetores(mosquitosecarraças)naRAM(Casimiroetal.,2015).Aavaliaçãoconstituiumavançorelativamenteaestudosanteriores,masqueaindacontinualimitadapelaescassainformaçãoquantitativaeconhecimentodosmecanismoscausaisquerelacionamoclimacomosimpactesnasaúdeaumaescalalocal.
SAÚDE 71
2. METODOLOGIAOsriscosdasalteraçõesclimáticassãosistémicosealongoprazonanatureza,oquerequerumaabordagemdiferenteparaaavaliaçãoemcomparaçãocomoutrosriscosparaasaúdepública.Conduzirumaavaliaçãodevulnerabilidadeeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticaséumprocessosimilarparatodasasnaçõeseregiões:oobjetivocontinuaaserpercebermelhorcomoavariabilidadeclimáticaeasalteraçõesclimáticaspodemafetarasaúdeatualmenteenofuturo,deformaaapoiarodesenvolvimentodepolíticaseprogramasquepodemprotegerasaúdepública.Noentanto,ocontexto,aestruturaeoconteúdodaavaliaçãopodemvariar,depen-dendodecircunstânciaslocais,condiçõessocioeconómicas,quadroslegaiseregulamentaresentreoutrosfatoresquerefletemasnecessidadesdedecisãolocal.
Nopresenteestudoametodologiaconsistiuemduastarefasprincipais:primeiroforamavaliadososimpactesnasaúderelacionadoscomasalteraçõesclimáticaslocais,seguidodeumarevisãodemedidasdeadaptaçãoquepodemreduzirestesimpactes.OsimpactesnasaúdedecorrentesdasalteraçõesclimáticassãoreportadosnorelatóriodeCasimiroetal.,2015,enquantoopresenterelatórioéfocadonasmedidasdeadaptação.
Calheta
Ponta doSol Ribeira
Brava
FunchalCâmara deLobos
Santana
Porto Santo
Machico
Santa Cruz
Porto Moniz São
Vicente
Figura 1 – Concelhos da Região Autónoma da Madeira
SAÚDE72
OsimpactesforamavaliadosporconcelhodaRegiãoAutónomadaMadeira(Figura1),usandoumcenáriodereferência(1970-1999)etrêscenáriostemporaisfuturos:umcenárioacurtoprazo(A2:2010_2039),doiscenáriosamédioprazo(A2:2040_2069eB2:2040_2069),edoiscenáriosalongoprazo(A2:2070_2099eB2:2070_2099).OsmétodosutilizadosparaavaliarosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdeforamsemelhantesaosdescritosporCasimiroecolaboradores(2006).
Aavaliaçãodaadaptaçãoapresentadanesterelatóriofocou-seem:
• DescrevermedidasdeadaptaçãoatualmenteimplementadasnaRAM,quedesignamoscomocapacidadeadaptativaatual.
• Discussãodelacunasdedados/informaçãoquepossamcontribuirparamelhorarasmedidasdeadaptação.Estadiscussãoenvolveuaparticipaçãodeváriosperitosassimcomoparceiroslocais(stakeholders).
• Finalmente,éapresentadaumalistademedidasdeadaptaçãosugeridas.Estasmedidasdeadaptaçãosãomedidas“win-win”,ouseja,medidassuscetíveisdetrazerbenefíciosparaasaúdedapopulação,mesmonaausênciadealteraçõesclimáticas.
2.1. Limitações da Avaliação
Estaavaliaçãoutilizoucenáriosclimáticosparaestimaroefeitodasalteraçõesclimáticassobredeterminadosaspetosdesaúde.Aquantificaçãodosefeitosnasaúdeporcausaespecíficanãofoipossíveldevidoadoispontos-chave:
• Nãofoipossívelestabelecerarelação/modeloquantitativosdoclimalocalversusdoençamaioritariamentedevidoalimitaçõesdedados,e;
• NãoestavamdisponíveisparaaRAMcenáriospopulacionais(correspondentesaoscenáriosclimáticosusados).
Osimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdetambémvãodependerdoestadodesaúdedaspopulaçõesafetadas,queporsuavezdependemdascondiçõessocioeconómicasfuturasedeoutrosfatoresimportantes,comoumacoberturadesaúdeuniversaleregulamentaçãoambien-tal.OscenáriosfuturosparaestesparâmetrosnãoestãodisponíveisparaaRAM.
SAÚDE 75
3. RESULTADOS & DISCUSSÃO3.1. Impactes relacionados com o calor
Aexposiçãoprolongadaatemperaturaselevadas,principalmenteduranteváriosdiasconsecu-tivos,podeprovocarefeitosnegativosnasaúdehumana,manifestando-sesobretudoatravésdoagravamentodedoençascrónicas(principalmenteascardiorrespiratórias)ededoençasrelacionadascomocalor:cãibras,esgotamentoe,nassituaçõesmaisgraves,ogolpedecalor.
Noestudodeavaliaçãodeimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdehumanarelacionadoscomocalorfoiutilizadaadefiniçãoclimatológicadeíndicededuraçãodeondadecalor(HWDI
– Heat Wave Duration Index)daOrganizaçãoMeteorológicaMundial(WCDMP-No.47,WMO-TDNo. 1071),naqualseconsideraqueocorreumaondadecalorquando,numintervalodepelomenosseisdiasconsecutivos,astemperaturasmáximasdoarsão5°Csuperioresàmédiadastemperaturasmáximasnoperíododereferência(1971-2000)(IPMA).
Deseguidasãoapresentadososresultadosdosimpactesnasaúdeassociadosàsondasdecalorparaosdiferentescenáriosanalisados,representandoaTabela1–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàsondasdecalorarespetivamatrizdevulnerabilidade.
Cenário de referência (1970-1999):
• Poucosepisódiosdeondadecalor;
• MachicoePontadoSol—concelhoscommaiorprobabilidadedesofreremosimpactesdeumaondadecalor;
• Impactenasaúderesultantedeumaondadecalorfoimuitobaixo—vulnerabilidade atual neutra.
Cenário de curto prazo (2010-2039):
• Previsívelumligeiroaumentodonúmerodediasdestressporcalor;
• Machico,PontadoSol,RibeiraBravaeCalheta—concelhoscomumamaiorprobabilidadedeocorrerumaondadecalor;
SAÚDE SAÚDE76 77
Capacidade adaptativa
Atualmente,paraailhadaMadeiraexisteumsistemadeavisosmeteorológicosparaapopula-çãoeautoridadesdeproteçãocivil.Estesistemaéutilizadocomoumaformaderespostanoquerespeitaaosimpactesdocalornasaúdehumana.
Sistema de avisos meteorológicos
OInstitutoPortuguêsdoMaredaAtmosfera(IPMA)asseguraavigilânciameteorológicaeemiteavisosmeteorológicosparaPortugalcontinental,ArquipélagodosAçoreseArquipélagodaMadeira.Osavisossãoemitidosquandoestãoprevistosouseobservamfenómenosmeteorológicosadver-sosquerepresentemumriscoadiferentesníveisparaapopulação,paraas24horasseguintes.
Osavisosseguemumaescaladecoresquerefleteograudeintensidadedofenómeno(verFigura 2),ounocasodeseremitidoumavisoparadoisoumaisparâmetrosmeteorológicos,acorreferenteaoparâmetroquetemoriscomaiselevadoemconjuntocomorespetivopictograma. Ainformaçãoreferenteao(s)outro(s)parâmetrosédisponibilizadaatravésdeummapainterativo.
CONSIDERAÇÕES CONSOANTE A COR DO AVISO
Cinzento Informaçãoemactualização.
Verde Nãoseprevênenhumasituaçãometeorológicaderisco.
AmareloSituaçãoderiscoparadeterminadasatividadesdependentesdasituaçãometeorológica.Acompanharaevoluçãodascondiçõesmeteorológicas.
LaranjaSituaçãometeorológicaderiscomoderadoaelevado.Manter-seaocorrentedaevoluçãodascondiçõesmeteorológicaseseguirasorientaçõesdaANPC.
VermelhoSituaçãometeorológicaderiscoextremo.Manter-seregularmenteaocorrentedaevoluçãodascondiçõesmeteorológicaseseguirasorientaçõesdaANPC.
Figura 2 – Escala de cores associada aos avisos meteorológicos emitidos pelo IPMA
NocasodaRAMsãoemitidosavisosparaquatroregiões(CostaNorte,RegiõesMontanhosas,CostaSulePortoSanto),paraasseguintessituaçõesmeteorológicas:ventoforte,precipitaçãoforte,quedadeneve,trovoada,frio,calor,nevoeiropersistenteeagitaçãomarítima,deacordocomoscritériosdeemissãodescritosnaFigura3.
• Junho,outubroeabril—mesescomprovávelmaiorimpacte;
• Impactenasaúderesultantedeumaondadecaloréexpetávelquesejanegativo—vulne-rabilidade curto prazo negativa
Cenário de médio prazo (2040-2069):
• Númerodeepisódiosdeondadecaloréprovávelqueduplique;
• Machico,PontadoSol,RibeiraBrava,Calheta,CâmaradeLobos,SãoVicente,SantanaePortoMoniz—concelhosmaisafetadosnoscenáriosA2eB2;
• Abril,outubro,setembro,maioejunho—mesescommaiorimpacte;
• ImpactenasaúderesultantedeumaondadecaloréexpetávelquesejamuitonegativotantoparaocenárioA2comoparaoB2—vulnerabilidade médio prazo muito negativa
Cenário de longo prazo (2070-2099):
• Esperadoumaumentosignificativodeepisódiosdeondadecalor,maisevidentenocenárioA2,comumpadrãoglobalsimilarparaambososcenáriosavaliados;
• Todososconcelhoscomprováveisondasdecalor.PontadoSol,RibeiraBrava,CalhetaeFunchal—concelhoscomondadecalormaiorsignificância;
• Abrilemaio—mesesmaisafetados;julhoeagosto—mesesmenosafetados;
• ImpactenasaúderesultantedeumaondadecaloréexpetávelquesejamuitonegativoparaocenárioB2,admitindo-seníveiscríticosparaocenárioA2—vulnerabilidade longo prazo muito negativa (cenário B2)/crítica (cenário A2).
Tabela 1 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados às ondas de calor
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Vulnerabilidade Futura
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
Mortalidadeassociadaàsondasdecalor
Temperatura Estadogeraldasaúde Neutro
(0) Média -1 -2 -2 -3 -2 MédiaHumidade Temperaturadoar
interior
Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico
SAÚDE SAÚDE78 79
Foiobservadoumaumentodamortalidadeagudaassociadaàsaltastemperaturasemquasetodaapopulaçãoemquefoiestudadaestarelação.Arelaçãoentreatemperaturaeamorta-lidadeéusualmentedescritaporumacurvaemJ-ouV-,comataxademortalidademaisbaixaobservadaatemperaturasmoderadaseaumentandoprogressivamentecomoaumentodatemperatura.Oconhecimentodestacurvadose-respostaparaapopulaçãoéimportantepor-quepermitesaberdequeformaapopulaçãoreageeposteriormentediminuir/reduzirosriscosassociadosaostresstérmico.Aspopulaçõeshumanasestãoadaptadasaosseusclimaslocaiscomoindicadopelovalordolimiaracimadoqualoriscodemortalidadecomeçaaaumentar(Halesetal.,2014).
ExistemmuitopoucosestudosconduzidosnaRAMrelacionandootempolocalaosimpactesnasaúde.Amaioriadestesestudosutilizaapenasparâmetrosmeteorológicoslocaissemestabele-cerumarelaçãoquantitativaentresaúdehumanaetempo(i.e.stressporcalor).Osestudosquesefocamapenasnosaspetosmeteorológicossãobonsparafinsderastreio,masparaquantifi-caravulnerabilidadelocaldapopulaçãoaostressporcaloréimportantequesejaestabelecidaumarelaçãoquantitativalocalentreascondiçõesmeteorológicaslocaiseosefeitosnasaúdedapopulaçãolocal(i.e.mortalidade).
Arelaçãodose-respostadeveserestabelecidaaoníveldacidadebaseadaemanálisesdesériestemporais.Paraestetipodeestudoéprecisoumabasededadosdeboaqualidadedepelomenos5anosconsecutivos,contendodadosdemortalidadediária,parâmetrosmeteorológicosdiáriosedadosdepossíveisparâmetrosconfundidorescomoéocasodapoluiçãodoar.
Quandoseestabelecearelaçãodose-respostaparaumacidadeespecífica,podemserusadosdoisparâmetroschavecomobasedeumsistemadeavisoealertaparaostressprovocadopelocalor.Oparâmetro“heat threshold”(limiardecalor)representaovalordetemperaturaacimadoqualoefeitodocaloréobservado.Oparâmetro“heat slope”(declivedecalor)representaapercentagemdeaumentonoriscodemorreracimado“threshold”estimado.
Nopresenteestudonãofoipossívelestudarestarelaçãodose-respostapoisosdadosdesaúdeadequadosnãoestavamacessíveisparaosmesmosanosdosdadosmeteorológicosdiáriosedosdadosdepoluiçãodoar.Alémdisso,aspolíticasdeprivacidadededadosemPortugalproí-bemoacessodiárioadadosdemortalidadediáriaporsexo,gruposetáriosetiposdedoenças.Assim,nãofoiestabelecidaumarelaçãodose-respostaquantitativaparaaRAM.
Medidas de adaptação
Umaimportantemedidadeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticas,atualmenteimplementadaemmuitospaíseseuropeus,incluindoPortugal,sãoossistemasdevigilânciaealerta,dosquaisconstamaçõesemedidasdeprevençãoparafazerfaceaosriscosparaasaúderesultantesdocalorintenso.Estessistemastêmcomoobjetivomelhoraraatuaçãodosserviçosdesaúdeederespostasocialemperíodosdemaiorrisco,contribuindoassimparaaumentararesiliênciadapopulação(PCTEA,2014).
PARA O ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA
Aviso Parâmetro Amarelo Laranja Vermelho Unidade Notas
VentoRajadaMáximadoVento
70a90 91a130 >130 km/h
90a110 111a130 >130 km/h Nasterrasaltas
PrecipitaçãoChuva/Aguaceiros
10a20 21a40 >40 mm/1h Milímetrosnumahora
30a40 41a60 >60 mm/6h Milímetrosem6horas
Neve QuedadeNeve5a10 11a100 >100 cm Cota(altitude>1000m)1a5 6a30 >30 cm Cota(altitude<1000m)
TrovoadaDescargasEléctricas
a) b) c)
a)FrequenteseDispersas.b)FrequenteseConcentradas.c)MuitoFrequenteseexcessivamenteconcentradas.
Nevoeiro Visibilidade *≥48h *≥72h *≥96h *-duração
TempoQuente
TemperaturaMáxima
#a#* #a#* >#* °C *-duração≥48horas
TempoFrioTemperaturaMínima
#a#* #a#* <#* °C *-duração≥48horas
AgitaçãoMarítima
AlturaSignifica-tivadasOndas
4a5 5a7 >7 m
# - Valores para cada região apresentados na tabela seguinte.
TEMPERATURA MÍNIMA TEMPERATURA MÁXIMA
REGIÃO Amarelo Laranja Vermelho Amarelo Laranja Vermelho
CostaNorte 7a8 5a6 <5 24a26 27a30 >30
RegiõesMontanhosas -2a-1 -4a-2 <-4 25a27 28a29 >29
CostaSul 10a11 8a9 <8 27a29 30a35 >35
PortoSanto 10a11 8a9 <8 26a27 28a31 >31
Figura 3 – Critérios de emissão de avisos meteorológicos para a RAM
AdivulgaçãodosavisoséfeitaatravésdosítiodainternetdoIPMA(www.ipma.pt)comointuitodeavisarasautoridadesdeProteçãoCivileapopulaçãoemgeral.
Lacunas de conhecimento
Umaumentodamortalidadefuturarelacionadacomocalorévistocomoumdosimpactesmaisprováveisdasalteraçõesclimáticasantropogénicasfuturas(Smithetal.,2014).
SAÚDE SAÚDE80 81
1 ) Identificaremonitorizaroslocaisegruposdapopulaçãomaisvulneráveisaocalorintenso
2 ) Desenvolveríndicesdeconfortobioclimático
• Aspopulaçõesaclimatizam-seeadaptam-seatemperaturaselevadaseclimasemaqueci-mento.Existe,contudo,poucaevidênciaemrelaçãoàtaxaouextensãodaadaptação.
Tecnologia
• Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais:(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.);
• Desenvolversistemasdeinformaçãocomosuporteàimplementaçãodeplanosdeatuaçãocalor/saúde.Deveserdesenvolvidoparaaspopulaçõeslocais,assimcomo,paraosturistas;
• Criarmapasdevulnerabilidadeslocaiscomatemperaturaambientequeindiquemquaisaszonasurbanasquemaisprecisamdearrefecimento.
Governança
• Planeamentoeimplementaçãodeplanosdeatuaçãocalor/saúdeparafazerfrenteaosefeitosdocalorintensonasaúdehumana;
• Planeamentoeimplementaçãodecorredoresverdescomoobjetivodediminuiroefeitodeilhadecalorurbanoaumentandooconfortotérmico;
• Melhoriasnahabitaçãoenosespaçosexterioresconstruídos,comooaumentodeespaçosverdeseutilizaçãodealbedo(telhadoscompinturabranca);
• Fortalecimentodosistemadecuidadosdesaúdeprimáriosparafazerfrenteaoprovávelaumentodedoençascardiorrespiratóriasassociadasaocalorintenso;
• Assegurarqueosistemadefornecimentodeenergianãovaificarcomprometidoduranteepisódiosdeondadecalor.
Socio economia
• Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;
• Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosefeitosnefastosnocalorintensonasaúde;
• Melhoriadavigilânciaecontrolodasdoençassensíveisaosefeitosdocalor;
Aadaptaçãopodepassarnofuturopelamelhoria/fortalecimentodosistemadecuidadosdesaúdeprimáriosparafazerfrenteaoprovávelaumentodedoençascardiorrespiratóriasassociadasaocalorintenso,queocorremprincipalmentenapopulaçãoidosa.SendoestegrupodapopulaçãoumdosmaisvulneráveisaosefeitosdocalorintensoevistoqueaesperançamédiadevidaeaidadedapopulaçãonaEuropaestãoaaumentar,éexpectávelqueonúmerodepessoasvulneráveisaosefei-tosdocalorintensotambémvenhaaaumentar(Koppe,2004).Aclimatizaçãodosserviçosdesaúdeedoslocaisdeacolhimentodeidososantesdaépocadeverãotambémdeveserumaprioridade.
Outramedidarelevanteconsistenasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúde,quedevemestarinformadossobreosriscosparticularesdaexposiçãoaocaloremfunçãodascondiçõesdesaúdedosdoentes.Estesprofissionaisdevemestarpreparadosparaesclarecerospacientesnaformadeadaptarosseusestilosdevidaecomoajustaramedicaçãoduranteperíodosdecalorintenso(OMS,2011).
Apopulaçãoemgeraldeveterumacessofácilatodaainformaçãorelacionadacomosimpactesdocalornasaúde,devendoserdisponibilizadasinformaçõesespecíficasparagruposdapopula-çãomaisvulneráveisaosefeitosdocalorintenso:idosos,crianças,pessoascomdoençascróni-cas,entreoutros.Noentanto,aeficáciadossistemasdealertadependedocomportamentodapopulaçãoquedeveseguirasrecomendaçõesdasautoridadesdesaúdeaquandodaocorrênciadeperíodosdecalorintenso,nomeadamente,reduzindoasuaexposiçãoaocalor,ajustandoovestuário,alimentaçãoeosníveisdeatividadefísica.
Em2003,umaondadecaloratingiutodaaEuropaduranteoverão.Oimpacteestimado,em2005,paraesteepisódiodecalorresultounumexcessodemortalidadedecercade50 000óbi-tos,alémdoesperado(Brucker,2005).Posteriormente,em2009,estaestimativafoiestabelecidaem70 000óbitosacimadoesperado(Robineetal.,2008).EmPortugal,foiestimadoumexcessodemortalidadede1953óbitos,apóscorreçãoparaaidadedosindivíduos(Caladoetal.,2004).
NumestudorealizadoparaaFrança(Finketal.,2004)apósaondadecalorde2003indicaqueoscustosestimadosemsaúdeassociadosaesteevento,incluindoaperdadevidashumanasterãosidosuperioresa500milhõesdeeuros.Considerandoqueapreparaçãodeumsistemadealertacalor-saúdeem2005foicalculadaem287 000 €,comumcustooperativoentre1dejunhoe31deagostocalculadoem454 000 €,acrescidodoscustosde741 000 €porseroprimeiroano,estaintervençãofoirelativamentepequenacomparandocomoscustosestimadosemsaúdeapósaondadecalor.
Seguidamenteapresentam-seasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesnasaúdehumanaresultantesdeepisódiosdeondadecalor:
Conhecimento
• Estabelecerumarelaçãodose-respostaparaaRAM,paraquepossaserimplementadoumsistemadeavisoealertalocalbaseadonasensibilidadedapopulaçãolocalaostressporcalor.Estarelaçãodeveconseguir:
SAÚDE SAÚDE82 83
Tabela 2 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar – partículas PM10
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaPM10
Temperatura Estadogeraldasaúde
MuitoNegativo
(-2)Média -2 -2 -2 -3 -3 MédiaPrecipitação Fonte(s)de
poluição
Vento
Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico
Capacidade adaptativa
NaRegiãoAutónomadaMadeiraexisteumarededemonitorizaçãodaqualidadedoar,quemedediariamenteasconcentraçõesdeváriospoluentes,incluindo,partículasPM10eozono.Estáaindadisponívelummodelodeprevisãodetransportedepartículasnaturaisquepermiteadivulgaçãodeinformaçãosemprequeseprevejaaintrodução,emPortugal,departículasprovenientesdezonasáridascompossibilidadedeafetaraqualidadedoar.Estessistemassãoutilizadoscomoumaformaderespostaexistentenoquerespeitaaosimpactesrelacionadoscomaexposiçãoapartículaseozononasaúdehumana.
Impactes relacionados com a qualidade do ar (PM10
e ozono)
1 ) RededemonitorizaçãodaqualidadedoardaregiãoautónomadaMadeira:
ARededeMonitorizaçãodaQualidadedoArnaRAMsurgiucomorespostaàcrescentepreo-cupaçãodosefeitosdapoluiçãoatmosféricanasaúdehumanaenoambienteprovocadosporpoluentesdeorigemantropogénicaoudeorigemnatural.
NoFunchalexistemtrêsestaçõesdemedição,queregistamasconcentraçõesdiáriasehoráriasparaospoluentesPM2,5,PM10,ozono,dióxidodeenxofreedióxidodeazoto.AsestaçõesdaQuintaMagnóliaedeSãoGonçaloquesãoestaçõesurbanasdefundo,maisabrangentesemtermosdeáreademonitorizaçãoeaestaçãodeSãoJoão,queéumaestaçãourbanadetráfego,indicadaparaaavaliaçãodaqualidadedoaremfunçãodotráfegoautomóvel(Figura4).
Paraprevenirosefeitosnocivosdospoluentesatmosféricosnasaúdehumanaenoambiente,aRededeMonitorizaçãodaQualidadedoArdaRAMtemcomoobjetivos:
• Avaliaçãodaqualidadedoar,combaseemmétodosecritériosdemediçãocomunsatodooterritórionacional;
• Melhoriadascondiçõesdeclimatizaçãoemlaresecentrosdediaparaidosos,escolasecreches,unidadesprestadorasdecuidadosdesaúde,etc.;
• Desenharnovosedifíciosereabilitarosantigosparaminimizarasnecessidadesdearrefeci-mento,assegurandoque,casosejanecessárioessearrefecimento,sãoutilizadosmétodosbaixo-carbonoeenergeticamenteeficientes.
Natureza
• Utilização,noscorredoresverdes,deespéciesdiversificadas,resistentesaumclimamaisquenteesecoecommenorpotencialalérgico.
3.2. Impactes associados à qualidade do ar
Osdiversosestudosqueanalisaramasalteraçõesclimáticasglobaiseosefeitosnasaúderelacio-nadoscomapoluiçãodoarindicamqueosimpactosmaispreocupantessão,sobretudo,osqueestãoassociadosàexposiçãoaoozonotroposférico(O3)eaosagentesaerobiológicos(pólenesentreoutros)(Smithetal.,2014).Devidoàsualocalizaçãogeográfica,aRAMétambémvulnerávelafenómenosdeintrusãodemassasdearprovenientesdedesertosafricanosquetransportempar-tículas,contribuindodestaformaparaelevarasconcentraçõesdepartículas(PM10)noarambiente.
Apresençadepoluentesatmosféricoscomoodióxidodeazoto(NO2),partículas(PM10)eozonotêmumefeitosinergísticodealergiarespiratóriacomospólenes.
Foramavaliadososimpactesnasaúdeassociadosàqualidadedoar,nomeadamente,partícu-lasinaláveis—PM10,ozonotroposféricoepólenes.EstaavaliaçãofoiapenasefetuadaparaoFunchal,porserolocalondeéfeitaasuamonitorização.
3.2.1. Partículas (PM10
)
Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdeassociadosàexposiçãoapartícu-las(PM10):
• Concentraçãoanualmédiade26,9ug/m3(período2006-2010),superioraosvaloresdereferênciadaOMS(<20ug/m3),comimpactenegativoparaasaúde—vulnerabilidade atual muito negativa;
• Assumindoamanutençãodosníveisatuaisdeemissõesantropogénicas,umclimamaissecoequenteecommenosdiasdeprecipitação,éprovávelqueaconcentraçãodePM10aumente.Oimpactenegativonasaúdeéprovávelqueaumentegradualmente,atingindoníveiscríticosnocenáriodelongoprazo—vulnerabilidade futura muito negativa (curto e médio prazo) e crítica (longo prazo).
ATabela2–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàqualidadedoar–partículasPM10mostraamatrizdevulnerabilidadedosimpactesassociadosàspartículas(PM10).
SAÚDE SAÚDE84 85
2 ) Modelodeprevisãodetransportedepartículasnaturais:
Duranteosmesesdeprimaveraedeverão,podeverificar-secommaiorfrequênciaemPortugal(continenteeRegiõesAutónomas),apresençadepartículasnaatmosferaprovenientesdaszonasáridasdoNortedeÁfrica,nomeadamentedosdesertosdoSaharaeSahel.EstaspartículassãomaioritariamentedeorigemnaturalecontribuemparaoaumentodaconcentraçãodePM10.
Astemperaturaselevadaseaaltainsolaçãonasregiõesmaisáridasoriginamfortesventossuperficiaiseprocessosdeconvecção.Aaçãoerosivadoventosobreossoloslibertapartículasmineraisquesãotransportadasalongasdistânciaspelacirculaçãoatmosférica.
Emparticular,abaciadoMediterrâneoéhabitualmenteatingidaporestesepisódiosdepartícu-lasnaturais.DeacordocomoestudodePeyetal.(2013),estefenómenoémaisfrequentenasregiõesdosuldoMediterrâneodoquenospaísesdonorte,apesardepoderproduzirimpactesemzonasdistantescomoasCaraíbaseosEstadosUnidosdaAmérica(Peyetal.,2013).
Osmodelosdeprevisãodepartículasprovenientesdodesertosãoessenciaisparacomplemen-tarasobservaçõesrelacionadascomaspartículas,compreenderoseuprocessodetransporteepreveroimpactedestaspartículasnasconcentraçõesdosníveisdepartículasàsuperfície.AsprevisõesdestetipodeeventossãoobtidasrecorrendoaosmodelosDream(BarcelonaSuper-computingCenter)eSkiron(UniversityofAthens).
AAgênciaPortuguesadoAmbienteemparceriacomaFaculdadedeCiênciaseTecnologiadaUniversidadeNovadeLisboaacompanhadiariamenteaocorrênciadesteseventos,divulgandoinformaçãosemprequeseprevejaaintroduçãodepartículasprovenientesdezonasáridasemPortugal(eventosnaturais)compossibilidadedeafetaraqualidadedoar(verFigura5).
Lacunas de conhecimento
Oimpactenasaúderesultantedaexposiçãoaoarambienteéinfluenciadopelosníveisdeconcentraçãodepoluentesatmosféricos,assimcomo,doestadodesaúdegeraldaspessoas.Ambososfatoresdiferemderegiãopararegião,razãopelaqualéimportanteconduzirestudosepidemiológicosaonívellocal,paraqueosriscosassociadosàqualidadedoarnumalocalizaçãoespecíficapossamserquantificadoseidentificadososgruposmaisvulneráveisdapopulação.NaMadeiranãoforamencontradosestudosquantitativossobreosimpactesnasaúderelacionadoscomaqualidadedoarambiente.Oacessolimitadoadadosdesaúdediárioseabasededadosadequadasdeconcentraçõesdepoluentesdequalidadedoarnãopermitiuestabelecerumarelaçãodose-respostaparaaRAM.Destaforma,apresenteavaliaçãonãoquantificouosriscosdesaúdeassociadosaexposiçõesaoarambientenaRAM.
• Obtençãodeinformaçãoadequada;
• Disponibilizaçãodainformaçãoàsautoridadesdaáreadoambienteeaopúblicoemgeral,sobreaconcentraçãodospoluentesatmosféricoseinfluênciadosfluxosdepoluiçãotransfronteiriça.
Urbana de Fundo
Tráfego
Figura 4 – Rede de Monitorização da Qualidade do ar na RAM
Paraqueopúblicotenhaumacessomaisrápidoecompreensíveldainformaçãorelativaàqua-lidadedoarfoiestabelecidoumíndicedequalidadedoar.Esteíndiceécalculadoapartirdosvaloresmédiosdaconcentraçãodecincopoluentes:dióxidodeazoto(NO2),dióxidodeenxofre(SO2),monóxidodecarbono(CO),ozono(O3)epartículasinaláveis(PM10).
Oíndicedequalidadedoaréassociadoaumaescaladecoresevariaentre“MuitoBom”e“Mau”paracadapoluente,sendoqueoíndicedefinidoéocorrespondenteaopoluentecomapiorclassificação.
AAgênciaPortuguesadoAmbiente(APA)disponibilizaumabasededadoson-linesobreaquali-dadedoar(http://qualar.apambiente.pt/ ),comosdadosfornecidospelasComissõesdeCoorde-naçãoeDesenvolvimentoRegional(paraocontinente),pelaDireçãoRegionaldoAmbienteeOrdenamentodoTerritóriodosAçoresepelaDireçãoRegionaldoAmbienteeOrdenamentodoTerritóriodaMadeira.AinformaçãorelativaàsexcedênciasdePM10,PM2,5eozonosãodivulgadasnosítiodaAPAenosítiodaDireçãoRegionaldoAmbienteeOrdenamentodoTerritóriodaMadeira(http://www.sra.pt/index.php).
SAÚDE SAÚDE86 87
Medidas de adaptação
Apresentam-sedeseguidaasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimizarosimpactesresultantesdaexposiçãoapartículasPM10nasaúdehumana:
Conhecimento
• Assegurarqueosregistosdasestaçõesdemonitorizaçãodaqualidadedoarnãotêmumagrandefaltadedados.Existem,comfrequência,períodoscomfaltadedadosapesardosregistosdedadosdemonitorizaçãoestaremdisponíveisdesde2003;
• Melhorarealargararededemonitorizaçãodaqualidadedoarassegurandoasuaboamanutenção;
• Estabelecerummodelodeprevisãodapoluiçãoatmosféricaquepermitaquesejaestabele-cidoumsistemadeavisoealertaqueinformeapopulaçãodaprevisãoprováveldapoluiçãodoarpelomenoscomumdiadeantecedência.Éimportantequeosníveisdeconcentraçãosejamconhecidosantesdeocorreremparaqueosgruposdepopulaçãomaisvulneráveispossamlimitarasuaexposiçãonosdiasemqueestejamprevistosníveisdepoluiçãoatmos-féricaelevados.
Tecnologia
• Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).
Governança
• Prepararoscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençasrespiratórias;
• Planeamentoeimplementaçãodecorredoresverdescomoobjetivodemelhoraraquali-dadedoar.
Socio economia
• Promovercampanhasdesensibilizaçãoparaprevençãodedoençasrespiratóriascrónicas;
• Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;
• Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosefeitosnefastosdepartículasinaláveisnasaúde.
Figura 5 – Exemplo do boletim de previsão de transporte de partículas naturais em Portugal
http://www.apambiente.pt/_zdata/DAR/Ar/Eventos/PREVISAO_EN_2014_10_26.pdf
SAÚDE SAÚDE88 89
3.2.3. Pólenes
Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdeassociadosàexposiçãoapólenes:
• Cercade65%daconcentraçãototaldepólenestransportadospeloarnoFunchalsãosensí-veisaoclima.Foramidentificadostrêstiposdepólenessensíveisaoclimatambémconheci-dosporteremumelevadopotencialalérgico:Urticaceae,PoaceaeeAsteraceae;
• Abril,maio,junhoejulhosãoosmesescommaioresníveisdepólenes(UrticaceaeePoaceae)correspondendoàquelesemqueocorremmaisalergias;
• Maisde60%dospacientescomrinitesãosensíveisàmaioriadostiposdepólenesinvestiga-dos—vulnerabilidade atual negativa;
• OimpactedaconcentraçãodepólenesnoFunchaltendeadiminuirnoverãoeaumentarnaprimavera,comumperíododealergiassazonaisrelacionadascomopólenacomeçareaterminarmaiscedonoano—vulnerabilidade negativa (curto prazo);
• Oimpactetendeadiminuirnoverãoeaaumentarnosmesesmaisfrios.CenárioB2(maisgravoso)—aumentodoimpactedaconcentraçãodepólenespraticamenteemtodososmesesdoano,comexceçãodejunhoejulho.Éprovávelqueoimpactenasaúdesereflitanumaumentodasalergiasrelacionadascompólenesmaiscedonoanoeumligeiroprolonga-mentodoperíodosazonaldealergias—vulnerabilidade muito negativa (médio prazo);
• Situaçãosemelhanteparaambososcenárioscomoimpacteadiminuirnoverãoeaaumen-tarnosmesesmaisfrios—vulnerabilidade muito negativa (longo prazo).
ATabela4–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàqualidadedoar–pólenesmostraamatrizdevulnerabilidadedosimpactesassociadosaospólenes.
Tabela 4 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar – pólenes
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Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
Morbilidadeasso-ciadaàexposiçãoaoPólen
Temperatura Estadogeraldasaúde
Negativo(-1)
Alta -1 -2 -2 -2 -2 MédiaPrecipitação Tipodeplanta/pólen
Vento
Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico
3.2.2. Ozono troposférico
Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdeassociadosàexposiçãoaoozonotroposférico:
• Concentraçãoanualmédiadebaseocto-horáriadoO3(8horas)paraoFunchalde42,13ug/m3(período2006-2009),inferioraosvaloresdereferênciadaOMS(100ug/m3),nãotemtidoumimpactesignificativonasaúde—vulnerabilidade atual neutra;
• ComoaumentodatemperaturaedaurbanizaçãoémuitoprovávelqueosníveisdeozononoFunchalaumentem,assimcomo,osimpactesrespiratóriosassociados—vulnerabili-dade futura negativa (curto prazo), muito negativa (médio prazo — cenários A2 e B2) e crítica (longo prazo para ambos os cenários climáticos).
ATabela3–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàqualidadedoar–ozonotroposfé-ricomostraamatrizdevulnerabilidadedosimpactesassociadosaoozonotroposférico.
Tabela 3 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar – ozono troposférico
Impa
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Vuln
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A
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Vulnerabilidade Futura
Confi
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Vu
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dade
Fu
tura
Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaO3
Temperatura Estadogeraldasaúde
Neutro(0)
Média -1 -2 -2 -3 -3 MédiaVento
Fonte(s)depoluiçãodosprecursoresdeozono
Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico
Capacidade adaptativa
Versecção3.2.1.
Lacunas de conhecimento
Versecção3.2.1.
Medidas de adaptação
Versecção3.2.1.
SAÚDE SAÚDE90 91
Medidas de adaptação
Ainformaçãosobreapresençadepólenesnaatmosferanumadadaregiãoconstitui-sedeextremaimportânciapelofactodoconhecimentodasépocasemqueocorremcommaisfrequênciapólenesnoarajudaràinterpretaçãodoaparecimentodesintomatologiaalérgicaeàadoçãodemedidasterapêuticasmaisadequadas(Spieksmaetal.,1990;D’Amatoetal.,1992;Sánchezetal.,2002).
Aprevisãodoiníciodaestaçãoemquesãolibertadosparaaatmosferagrãosdepólenpermitequeaspessoasalérgicasaumdeterminadotipopolínicosejaminformadosatempadamentedemodoaajustaremassuasatividadesdiárias,evitandoosalergéniosdemaneiraefetiva(Peterneletal.,2004).Destaforma,arealizaçãodeestudosaerobiológicosqueforneçamdadosparaaelaboraçãodeumcalendáriopolínicoparaaregião,queincluamadefiniçãodepadrõesdesazonalidade,trarábenefíciosparaosdoentescompatologiasalérgicase/ourespiratórias.
Aimplementaçãodeprogramasnacionais/regionaisparaalergiasrespiratóriaséimportantecomomedidadeadaptaçãonosentidoemquepermitereduzircustosassociadosaotratamentodadoençaemelhorarodiagnósticoeotratamentodospacientes.Estesprogramasdevemenvolveraparticipaçãodasautoridadesdesaúde,dosprofissionaisdesaúde,dasociedadecientíficaedeoutrasentidadesrelevantesnestaárea.
Existempoucasestatísticasnacionaisdisponíveissobreocustorelacionadocomalergiasres-piratórias,particularmentedarinitealérgica.Apesardaescassezdedados,existemevidênciasquequantomaisgravesforemossintomasdaasmabrônquica,maioressãooscustosassocia-dos.Aprevençãoeocontroloadequadodadoençapodemreduzirconsideravelmenteoscustos(Haahtela,2006).
UmestudodeBugalhodeAlmeida(2009),realizadoentre2000e2007,revelaqueemPortugalexistemmaisde600 000asmáticosequeocustomédiopordoentetratadofoide1 180,18€.CombasenovalormédioanualapresentadoenoconhecimentodoscustostotaisdasdoençasrespiratóriasnaEuropa,oestudoestimouumcustoanualdaasmaemPortugaldecercade117,5milhõesdeeuros.
NaEuropa,Accordini(2012)concluiuqueocustomédiototalporpacientevariouentre509€,paraumaasmacontroladaeos2 281€paraumaasmanãocontrolada.Deacordocomesteestudo,areduçãodecustospodeserconseguidaatravésdagestãoapropriadadadoençanospacientesadultos.
Apresentam-seseguidamenteasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesresultantesdospólenestransmitidospeloarnasaúdehumana:
Capacidade adaptativa
ARegiãoAutónomadaMadeiraestáintegradanaRedePortuguesadeAerobiologia.Estesistemaéutilizadocomoumaformaderespostaaosimpactesrelacionadoscomaexposiçãoapólenestransmitidospeloarnasaúdehumana.
Impactes relacionados com pólenes transmitidos pelo ar
1 ) RedePortuguesadeAerobiologia:
ARedePortuguesadeAerobiologia(RPA)foicriadaem2002eépromovidapelaSociedadePor-tuguesadeAlergologiaeImunologiaClínica(SPAIC).Éconstituídapornoveestaçõesoucentrosdemonitorização,setedasquaisnocontinente,umaemPontaDelgada(nailhadeSãoMiguel,Açores)eumanoFunchal(nailhadaMadeira).Estasestaçõesdemonitorizaçãofazemumarecolhacontínuadospólenesexistentesnoaratmosféricodaregiãoemqueseencontram.
ARPAestáintegradanumaredeeuropeia,denominadaEuropean Aeroallergen Network(EAN),transferindomensalmentedorespetivocentrodecoordenaçãoumapartedosdadospolíni-cosdasváriasestaçõesparaoBancodeDadosdePólenEuropeu(European Pollen Data Bank)sediadonaUniversidadedeViena,Áustria(Caeiroetal.,2007).
OsobjetivosdaRPAsãosemelhantesaosdasoutrasredesnacionaiseinternacionais,eincluem:
• Monitorizar,anívelnacionaledeumaformacontínua,osníveispolínicosedeesporosfúngicosdiáriosdosprincipaistiposmorfológicoscomrelevânciaalergológica,eprocederàsuaprevisão;
• Criarumabasededadoscomainformaçãoaerobiológicanacionalquesirvadesuporteàinvestigaçãoaerobiológicaealergológica;
• Divulgar,anívellocalenacional,ainformaçãosobreosalergéniospolínicosmaiscomuns,atravésdosórgãosdecomunicação.
AinformaçãopolínicaédivulgadapelaRedePortuguesadeAerobiologianosítiodainternetdaSPAIC(www.spaic.pt)ouem(http://www.rpaerobiologia.com/?iml=PT&first=1).Desdeoutubrode2008queaSPAICdivulgaoBoletimPolínicoparaailhadaMadeiracomasprevisõessemanaisrelativamenteaostiposdepólenespredominantesnaatmosferaerespetivosníveisdeconcen-traçãopolínica.Naprimavera,quandoasconcentraçõespolínicassãomaiselevadas,oBoletimPolínicoéaindadifundidopelosmeiosdecomunicaçãosocial(rádios,televisãoejornais).Estainformaçãoéaindadisponibilizadaemhttp://iasaude.sras.gov-madeira.pt/.
Lacunas de conhecimento
Versecção3.2.1.
SAÚDE SAÚDE92 93
3.3.1. Doenças transmitidas por mosquitos
Osmosquitossãovetoresresponsáveisporalgumasdasmaiorespreocupaçõesdesaúdepública.Combasenainformaçãodasespéciesavaliadaseidentificadasemestudosdevigilância(REVIVE,2014),estaavaliaçãofocou-senasdoençastransmitidaspelosmosquitosCulex pipiens eAedes aegypti,porseremasduasespéciesdemosquitosatualmentepresentesnaMadeiraquerepresentampreocupaçõesdesaúdepública.
Ambasasespéciessãoconhecidasporseremsensíveisaoclima.Apesardarelaçãoentreoclimaeadensidadeesobrevivênciadomosquitosercomplexa,existemevidênciassignificativasdequeoclimapodeterimpactesnostrêseventosbaseparaatransmissãodadoença:adensidadedomosquito,areplicaçãodovíruseocontacto“mosquito-serhumano”.
Comoatemperaturaéoparâmetroclimáticochavecomimpactenostrêsfatoreschavereferi-dos,avaliámosascondiçõesdetemperaturamaisadequadasparaatransmissãodaDengueedaFebredoNiloOcidentalemcadaconcelhoparatodososcenáriosclimáticos.
Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdededoençastransmitidaspormosquitos(DengueeFebredoNiloOcidental)assumindoqueovírusestápresentenailha.Seovírusdequalquerumadestasdoençasnãoestiverpresentenailha,entãooriscodetransmis-sãodadoençaéinsignificante.
Mosquito Aedes aegypti — responsável pela transmissão da DengueCenáriodereferência(1970-1999):
• RibeiraBrava,MachicoeFunchal—concelhoscompotencialriscodetransmissãodadenguemaiselevado;
• Setembro,outubroeagosto—mesesemqueoriscodetransmissãofoisuperior;
• Riscoglobaldetransmissãodadenguebaixo(mesescommenosde25%dosdiasadequa-dosparatransmissãodadengue,excetoRibeiraBrava)—vulnerabilidade atual negativa.
Cenáriodecurtoprazo(2010-2039):
• Onúmerodedias(numano)adequadosparaatransmissãoduplicaquandocomparadoscomocenáriodereferência;
• Machico—concelhocomoriscodetransmissãomaiselevado(maisnotórioemsetembrocom60%dosdiasfavoráveisparatransmissão);
• RibeiraBrava,MachicoeFunchal—concelhosareportarmesescommaisde25%dosdiasdentrodastemperaturasadequadasparatransmissãodadoença;
Conhecimento
• DesenvolvermapaspolínicosparaasprincipaisespéciesidentificadasnailhadaMadeiracomelevadopotencialalérgico,definindoumcalendáriopolínicocompadrõesdesazonalidade;
• DesenvolverumamelhorcompreensãosobreosalergéniospresentesnaatmosferadailhadaMadeiraeosseusefeitosnasaúde.
Tecnologia
• Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).
Governança
• Prepararoscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençasalérgicaserespiratórias;
• Desenvolverlinhasorientadorasaquandodeprojetosdeespaçosverdesurbanoscomimpactealérgicobaixo;
• Implementarumprogramanacional/regionalparaalergiasrespiratórias.
Socio economia
• Promovercampanhasdesensibilizaçãoparaprevençãodedoençaspulmonaresrespiratórias;
• Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;
• Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosefeitosnefastosdosalergéniosnasaúde.
Natureza
• Aumentodabiodiversidadedeespéciesintroduzidasemzonasurbanas/florestais;
• Introdução/reintroduçãodeespéciescompotencialalérgicoreduzido.
3.3. Doenças transmitidas por vetores
Comotivemosoportunidadedeassinalarnoutracomponentedesteestudo,asdoençasqueoferecemumamaiorpreocupaçãonumaperspetivadesaúdepúblicasãoastransmitidaspelasespéciesdemosquitos—Aedes aegyptieCulex pipiensepelascarraças—Ixodes ricinus.Éexpec-távelquenofuturoaMadeira,estejaespecialmentevulnerávelaestesimpactesdevidoaoseuclimaameno,àsuaricafloraefaunaeàsualocalizaçãogeográfica.
SAÚDE SAÚDE94 95
Omosquito Aedes aegyptiétambémconhecidoporserovetordedoençascomoafebre-amarelaeafebrechikungunya.Oriscodetransmissãodeumadasreferidasdoençasseráidênticoaoriscodetransmissãodadengue,casoapopulaçãolocaldomosquitofiqueinfetadacomumdosreferidosvírus,umavezqueosvírussãotransmitidospelomesmovetor.
Mosquito Culex pipiens — responsável pela transmissão da Febre do Nilo OcidentalCenáriodereferência(1970-1999):
• Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol—concelhoscompotencialriscodetransmis-sãodadenguemaiselevado;
• Agostoesetembro—mesesemqueoriscodetransmissãofoisuperior;
• RiscoglobaldetransmissãodaFebredoNiloOcidentalmédio(mesescommaisde50%dosdiasadequadosparatransmissãodadoença)—vulnerabilidade atual negativa.
Cenáriodecurtoprazo(2010-2039):
• Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruzeCalheta—concelhoscommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoença;
• Agostoesetembro—mesescomamaiorpercentagemdediasadequadosparaatransmissão;
• Riscoglobaldetransmissãodadenguemédio—vulnerabilidade curto prazo negativa.
Cenáriodemédioprazo(2040-2069):
• Ambososcenáriosclimáticos(A2eB2)mostramumclaroaumentononúmerodediasfavoráveisparatransmissãodaFebredoNiloOcidental;
• Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruzeMachico—concelhoscomriscodetransmissãodadoençamaisalto;
• Agosto,setembro,julhoeoutubro—mesescommaiornúmerodediasfavoráveisàtrans-missãodadoença;
• Riscodetransmissãodadoençamédio-altoparaambososcenários—vulnerabilidade médio prazo muito negativa.
Cenáriodelongoprazo(2070-2099):
• AumentosignificativononúmerodediasfavoráveisparaatransmissãodovírusdoOestedoNilo;
• Agosto,setembro,outubroejulho—mesescomamaiorpercentagemdediasadequadosparaatransmissão;
• Riscoglobaldetransmissãodadenguebaixo-médio—vulnerabilidade curto prazo negativa.
Cenáriodemédioprazo(2040-2069):
• Ambososcenáriosclimáticos(A2eB2)mostramumaumentonoriscodetransmissãodadengueeconsequenteaumentodonúmerodediasadequadosparaatransmissãodadoença;
• Agosto,setembro,outubro,julhoenovembro—mesescommaiornúmerodediasfavorá-veisàtransmissãodadoença;
• Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol(nocenárioA2)—concelhosareportarmaisde25%dias/mêsfavoráveisàtransmissãodadoença;
• Machico,RibeiraBravaeFunchal(nocenárioB2)—concelhosareportarmaisde25%dias/mêsfavoráveisàtransmissãodadoença;
• Riscodetransmissãodadoençamédioparaambososcenários—vulnerabilidade médio prazo muito negativa.
Cenáriodelongoprazo(2070-2099):
• Aumentosignificativononúmerodediasadequadosparatransmissãodadengue;
• Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSoleSantaCruz—concelhoscommesescommaisde25%dosdiasdentrodointervaloadequadodetemperaturaparaatransmissãodadoença;
• Machico—riscodetransmissãodadenguepodeviraserpossívelaolongodetodooano;
• Julho,agosto,setembro,outubroenovembro(cenárioA2)—mesesemqueoriscodetrans-missãodadoençaémaiselevado;
• Agosto,setembro,julhoeoutubro(cenárioB2)—mesesemqueoriscodetransmissãodadengueémaisalto;
• RiscodetransmissãodadenguemédioparaocenárioB2ealtoparaocenárioA2—vulne-rabilidade longo prazo muito negativa (cenário B2)/crítica (cenário A2).
SAÚDE SAÚDE96 97
Atualmente,osestudosdisponíveisrevelam,queomosquitoCulex pipiens não está infetado com o vírus do Oeste do Nilo e, consequentemente, o risco atual desta doença na RAM é insignificante.
ATabela5–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesdasdoençastransmitidaspormosquitosapre-sentaamatrizdevulnerabilidadeassociadaàsdoençastransmitidaspormosquitosdestacandoaFebredaDengueeaFebredoNiloOcidental,assumindoapresença/ausênciadovírusnailha.
Capacidade adaptativa
AcapacidadeadaptativaatualfoitestadanodecursodosurtodeFebredeDengue(2012-2013)eavaliadapeloEuropeanCentreforDiseasePreventionandControl(ECDC).Assinale-sequearespostadadafoiinequivocamenteadequadaàsituação,aqualeratambémexpectávelfaceaoconhecimentodaexistênciaedistribuiçãodovetor.FoipossívelconstatarevercorroboradaspeloECDCospontosfortesdestacapacidadeadaptativaqueraoníveldavigilânciaepidemioló-gica,daorganizaçãoerespostadosserviçosdesaúde,darespostadacomponentelaboratorialedavigilânciadosprodutosdesangue,assimcomonavigilânciadasatividadesdecontrolodovetor.Umaanálisedetalhadaaestamedidaderespostaserádiscutidanodecorrerdestasecção.
OrecentesurtodeFebredeDengue(2012-2013)verificadonailhadaMadeiraveioilustraraimportânciadasmedidasexistentesedaexistênciadeestratégiasde(bio)preparação(”prepared-ness” ),permitindoanalisarostrêsníveisdeadaptaçãoconsiderados.
Anteriormenteaosurtopodemosafirmarqueaatividadedevigilânciaepidemiológicaeapresta-çãodecuidadosdesaúdeseguiamnaRAMopadrãonacionalhabitual.
ApósoregistodapresençadomosquitonailhadaMadeiraem2005foiimplementadoumprogramadecontroloconstituídoporaçõesdesensibilizaçãojuntodapopulaçãoparareduçãodoscriadouros,recorrendo-senomeadamenteaosmeiosdecomunicaçãoeàaplicaçãodeinseticidas.Todaainformaçãosobremedidasadotadasencontra-sedisponibilizadanosítiodainternetdaSecretariaRegionaldosAssuntosSociaisdoInstitutodeAdministraçãodaSaúdeeAssuntosSociais,IPRAMemhttp://iasaude.sras.gov-madeira.pt/mosquitos/.
Desdeentãoforamdesenvolvidasasatividadesdescritasdeseguidacomoumaformaderes-postaexistentenoquerespeitaaosimpactesnasaúdehumanarelacionadoscomasdoençastransmitidaspormosquitos.
Utilização de Inseticidas e repelentes
ElaboraçãodedocumentosparacontroloquímicodomosquitoAedes aegypticombaseemrecomendaçõesdaOrganizaçãoMundialdeSaúdeenasorientaçõestécnicasdaDireção-GeraldaSaúde.
• Utilizaçãodepesticidasdeusodoméstico(11-10-2012)
• Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruz,MachicoePortoMoniz—con-celhoscomamaioriadosdiasfavoráveisparaatransmissãodadoença(maisnotórionocenárioA2);
• Mesesdejunhoanovembro—mesescommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoença;
• RiscodetransmissãodaFebredoOestedoNiloalto—vulnerabilidade longo prazo muito negativa (cenário B2)/crítica (cenário A2).
Culex pipienséummosquitocomumemPortugal,estandoabundantementedistribuídoportodasasregiõesincluídonaRAM(REVIVE,2014).Éumaespécieconsideradaprimariamenteorni-tofílica,emboraestejademonstradoquesealimentedeoutrosvertebradosdesanguequente,incluindohumanos.Picamaisfrequentementeduranteanoite,aocontráriodoAedes aegyptiquepicaduranteodia.
Tabela 5 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por mosquitos
Impa
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Vulnerabilidade Futura
Confi
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
TransmissãodadengueeFebredoNiloOcidental(semovíruspresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito
Neutro(0)
Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Replicaçãoviral
Precipitação Contacto:mosquito-humano
Transmissãodadengue(comovíruspresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito
Negativo(-1)
Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade Replicaçãoviral
Precipitação Contacto:mosquito-humano
TransmissãoFebredoNiloOcidental(comovíruspresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito,Replicaçãoviral
Negativo(-1)
Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade
Precipitação
Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico
SAÚDE SAÚDE98 99
• Aintroduçãodedadospelapopulaçãoreferindoalocalizaçãodoavistamentodosmosquitos;
• Visualizarnomapaaatividadedosmosquitosdeclarados(leve,moderada,intensa);
• Visualizarnomapaasarmadilhaseapresença/ausênciademosquitos(semdados,ausênciademosquitos,presençademosquitos);
• Visualizarnomapaasescolasaderentes/nãoaderentesaoprojeto.
Projeto “Dengue no Arquipélago da Madeira. Avaliação do risco de emergência de arboviro-
ses transmitidas por Aedes aegypti e ferramentas para o controlo vetorial”
ProjetofinanciadopelaFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia(FCT/MCTES)comreferênciaPTDC/SAL-EPI/115853/2009,emparceriacomoInstitutodeHigieneeMedicinaTropicaldeLisboa(IHMT).
Nosmesesdesetembroeoutubrode2011:
• Colocadas275ovitrapsduranteduassemanascomoobjetivodeavaliaradistribuiçãoeabundânciadeAedes aegyptinasilhasdaMadeiraePortoSanto.
AdecorrerdesdeFevereirode2012:
• ColheitasdemosquitosadultoscomarmadilhasBG-Sentinel:consistenacapturademos-quitosadultosutilizandoas15armadilhasBG-SentinelcomiscosBGqueforamdistribuídas,13noconcelhodoFunchale2nafreguesiadeCâmaradeLobos.Ascolheitasdemosqui-tosadultossãoefetuadasquinzenalmenteeasarmadilhasfuncionamdurantedoisdiasseguidos;
• Recolhadafitadaovitrap:consistenacolheitadeovosdemosquitocomumaovitrapouarmadilhadeoviposição.Aarmadilhaconstadeumrecipientedeplástico(balde)contendoáguaeumaréguadeplásticode30centímetrospresanabordadobaldeporumclip.Afacedaréguavoltadaparaaparteinternadobaldeérevestidacomumafitadeveludovermelho.Osmosquitosdepositamosseusovosdiretamentenasuperfíciedaáguaenasuperfícierugosadafitadeveludo.As15ovitrapsforamcolocadasnosmesmoslocaisdasarmadilhasBG.Semanalmentesãorecolhidasasfitascomousemovoseaslarvasqueestãonasovitraps;
• Colheitassobreiscohumano:consistenacapturademosquitosadultossobreiscohumanoquernoexteriorounointerior,emdoislocaisdecolheitaselecionados:PousadadaJuven-tudeeAPEL.Estaatividadetemumaperiodicidadequinzenal,eérealizadadurantedoisdiasseguidos,aoentardecer,trêshoraspordia.Ohoráriodacolheitamudaaolongodoanodeacordocomahoradopôr-do-sol;
• ControloquímicodoAedes aegypti(18-10-2012)
• Inseticidasdeusodoméstico(22-11-2012)
Educação para a saúde (cartazes, folhetos, artigos, pop ups, TV e rádio)
Elaboraçãodecartazesefolhetos:
• Flyer“Saibadistinguirsintomasdeumagripesazonaledadengue”;
• Desdobrável“EliminaromosquitoAedes aegyptiecontrolaradenguedependedetodos”;
• CartazDengue;
• Cartaz“EliminaromosquitoAedes aegyptiecontrolaradenguedependedetodos”;
• CartazAedes aegypti;
• DesdobrávelAedes aegypti.
Participaçãoemprogramasderádio,televisãoepassagemdespotstelevisivos.
ElaboraçãodeartigossobreomosquitoAedes aegypti,sinaisesintomasdadengueeprevençãodedoençastransmitidaspormosquitos.
Coleçãodepop ups“ComoevitaracriaçãodomosquitoAedes aegypti”.
Recomendações para Viajantes
Elaboraçãoderecomendaçõesaviajantesem6línguas(português,inglês,francês,italiano,espanholealemão)referentesa“Recomendaçãoaviajantes:duranteaestadiaeaté21diasapósterregressadoacasa”e“Recomendaçõesaviajantes:noregressoacasapresteatenção”.
Informação intersectorial (turismo, construção civil, educação, segurança e saúde no trabalho)
Elaboraçãodeinformaçãosobreadengueerecomendaçõesparaáreasdeatividadedistintas:turismo,construçãocivil,educaçãoesegurançaesaúdenotrabalho.
Informação para profissionais de saúde
DivulgaçãodaOrientaçãodaDGSsobregestãoclínicadecasosdadengueedasorientaçõesdaOrganizaçãoMundialdeSaúdesobrediagnósticolaboratorialetestesdediagnóstico.
Declare!
Criaçãodaplataformadeparticipaçãodapopulaçãoquandoédetetadaapresençadosmos-quitos.Acessívelapartirdolinkhttp://iasaude.sras.gov-madeira.pt/naomosquito/.Estaplataformapermite:
SAÚDE SAÚDE100 101
• Avigilânciadaatividadedosmosquitosvetores,dacaracterizaçãodasespéciesedaocor-rênciasazonalemlocaisselecionados,assimcomoadeteçãoatempadadeintroduçãodemosquitosexóticos,nomeadamenteoAedes albopictuseAedes aegypti;
• Aemissãodealertasparaadequaçãodasmedidasdecontrolo,emfunçãodadensidadedevetoresidentificada.
OProgramaincluiumaparceriaentreaDireção-GeraldaSaúde,asAdministraçõesRegionaisdeSaúde,oInstitutodaAdministraçãodaSaúdeeAssuntosSociais,IP-RAMeoCentrodeEstudosdeVetoreseDoençasInfeciosasDoutorFranciscoCambournacdoInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge.
ApesardoREVIVEserumprogramanacional,aRAMapenasfoiintegradanoprogramaem2009-10.Nãoobstante,aRAMnãoparticipa,atualmente,noprogramadevigilânciadeixodídeos(“carraças”)assuntoaoqualvoltaremosmaisàfrente.
Análise do surto de dengue (2012/2013) e das medidas de adaptação atuais
apedidodaDireção-GeraldaSaúde,oECDC(2013)realizouumaanáliseSWOTparaosváriossectorescríticosdoprocessodecontrolointegradodosurto,naqualforamanalisadas,emdetalhe,osdomíniosqueaseguirseindicamequeirãoseranalisadossubsequentemente:
a ) Vigilânciaepidemiológica;
b ) Serviçosdesaúdeesuaorganização;
c ) Serviçoslaboratoriaisederivadosdosangue;
d ) Vigilânciadevetores;
e ) Atividadesdecontrolodosvetores.
Atravésdestaanáliseépossívelidentificarnãosóospontosforteseoportunidades,mastam-bémospontosfracoseameaçasosquaisirãoserconsideradosnasmedidasdeadaptaçãoparaosdiversoscenáriosconsiderados.
DaanáliseefetuadapeloECDC,aqualéparticularmenterelevanteparaaanálisedocenáriodereferência,destacamososseguintesaspetos:
a ) Vigilância epidemiológica
Pontos fortes• Cooperaçãoentreasdiversasautoridadesdesaúderegionais(IASAÚDE),nacionais(DGS,INSA)eEuropeias(ECDC)norápidodesenvolvimentodeumsistemadevigilânciaautomáticobaseadonosdadosdoserviçodesaúdedaRAM.
• ColheitaIndoor Resting(IR):consisteemcapturarfêmeascomsangueemrepouso,quinzenal-mente,nosegundodiadecolheitasdasBGenofinaldosegundodiadascolheitassobreiscohumano,emquatrolocais.
NOTA:Todoomaterialbiológicorecolhido(fitasdasovitrapscolocadasemsacosdeplástico,tuboscomlarvasconservadasemálcool,recipientescomadultoscongelados)estáaserenviadoparaoIHMT,deacordocomasdisponibilidades.
Monitorização do Mosquito Aedes aegypticonsisteemcontrolarquinzenalmenteapresençadeovos,numconjuntodeovitrapsestrategicamentecolocadas,emdiversoslocais,comotermi-naismarítimoseaéreoseoutrosespaçospúblicos.
Presentementeestãodistribuídas14ovitraps:1noconcelhodoFunchal(GareMarítima),3nocon-celhodeSantaCruz(Aeroporto,CentroSaúdeSantaCruz,CentroSaúdeCaniço),3noconcelhodeMachico(PortodoCaniçal,CentroSaúdeMachico,ParqueDesportivoÁguadePena),3noConcelhodaRibeiraBrava(CemitériodaTabua,BardoBujiga,EscolaBásicadoCampanário),2noconcelhodePontadoSol(HabitaçãodoSr.ManuelPitanoLugardeBaixo,LagoadoLugardeBaixo),2noconcelhodePortoMoniz(BarBatistaeBarNegrinho,ambosnafreguesiadaRibeiradaJanela).
Controlo e Prevenção do vetor Aedes aegypti—desde4desetembrode2012quetécnicosdesaúdeambientalencontram-seaatuarjuntodosdomicílios,informandoosseusmoradoressobreoagentetransmissoremedidasdeprevençãoapoiandoainformaçãocomadistribuiçãodeumfolhetoinformativoeuminquéritoentomológico.
Asáreasabrangidasnestaaçãosão:concelhodoFunchal(freguesiasdeS.Pedro,SantaLuzia,Sé,SantaMariaMaior),concelhodeSantaCruz(freguesiasdeCaniçoeSantaCruz),freguesiasdeCâmaradeLoboseconcelhodePontadoSol.
Programa Nacional de Vigilância de Vetores Culicídeos
REVIVE–ProgramaNacionaldeVigilânciadeVetoresCulicídeos
AcriaçãodoREVIVEdeveu-seànecessidadedemelhoraroconhecimentosobreasespéciesdevetorespresentesnopaís,asuadistribuiçãoedensidade,esclareceroseupapelcomovetoresdeagentesdedoençasedetetaratempadamenteaintroduçãodeespéciesinvasorascoimpor-tânciaemsaúdepública.
OREVIVEfoicriadoem2007,tendocomoobjetivosparaoperíodoentre2008e2010:
• Acriaçãodeformasdecampanhasdeeducação,informaçãoàpopulaçãoecomunidademédica;
• Acriaçãodecondiçõesparaqueascolheitasperiódicasouesporádicas,devetoresculicí-deossejamrealizadaspelasrespetivasAdministraçõesRegionaisdeSaúde;
SAÚDE SAÚDE102 103
• Aexperiênciaexistentecomdesastresnaturais.
• Ainclusãododenguenoplanodecontingênciadosserviçosdeemergênciadohospitalar.
• Aabordagemmultissectorialeoapoiodosmunicípios.
Oportunidades• Oapoioexternoeoapoioexternoàrevisãodoprogramadecontingência.
• Aexperiênciarecolhida.
Pontos fracos• Nestaanálisesalienta-seaausênciadeumcenárioparaumsurto.
• Oslimitadosrecursostécnicos.
• Anecessidadedeosresultadoslaboratoriaisseremintegradosnosistemadeinformação.
• Olocaldetrabalhonãoestarincluídonosistemaderegisto.
• Aausênciadeexercíciosdesimulação.
Ameaças• Areemergênciadovírus.
• Areintroduçãodovírus.
• ImunidadeparcialdapopulaçãoparaoDENV-1eapossibilidadedeocorrênciadeumsurtoporoutroserotipo.
c ) Serviços de saúde e sua organização
Pontos fortes• Oelevadousodosectorpúblicodasaúdeesuaboaorganização.
• Aexperiênciaexistentecomdesastresnaturais.
• Ainclusãododenguenoplanodecontingênciadosserviçosdeemergênciadohospitalar.
• Aabordagemmultissectorialeoapoiodosmunicípios.
Oportunidades• Oapoioexternoeoapoioexternoàrevisãodoprogramadecontingência.
• Desenvolvimentodeumadefiniçãoepidemiológicadecasoepreparaçãodeumquestioná-rio“online”;ajustamentodosistemadevigilâncialocaldemodoaserproduzidoduasvezesporsemanaumsumáriodasituaçãoepidemiológicaeUMboletimepidemiológicoinfor-mandodaevoluçãodosurto.
• OsistemamuitobeneficiadofactodeoscuidadosdesaúdeprestadosàvastamaioriadoscidadãosdaRAMserefetuadopelosserviçosdesaúdepúblicos.
• Asautoridadeslocaisnecessitamdestainformaçãoparaprepararoreferidoboletimedesenvolverasaçõesdecampo.Assimascaracterísticasdodoenteeaatualizaçãocons-tantedacurvaepidemiológica,associadasàgeo-localização(endereçododoente)epossívellocaldeexposiçãosãoinformaçõesessenciaisquepermitemaostécnicosnoterrenodesen-volvermedidasdecontrolodosvetoresnaproximidadedopossívellocaldeexposição.
• Osesforçosdesenvolvidosduranteosurtovisaramdesenvolveracapacidadelocalereforçaroempenhodasautoridadeslocaisaomesmotempoquepromovemapartilhadecompetênciaserecursosdeoutrossectoresadministrativosnomeadamentenodomíniodossistemasdeinformaçãogeográfica.
• Esteaumentodacapacidadeconstitui,certamente,umcréditorelevanteparaaRAMeparaoPaísnaeventualidadedeviraocorreroutrosurtodedoençaassociadaavetores.
Oportunidades• Destedocumentoassinalamos-seaimportânciadacooperaçãocomperitosexternos,daaquisiçãodeconhecimentointegradosobreosurtoeodesenvolvimentodeplanosdecontingênciaeaexperiênciaobtidaquepoderáviraserútilaoutrosestadosmembroseemprogramasdeformação.
Pontos fracos• Nestaanálisesalienta-seanecessidadedeosresultadoslaboratoriaisseremintegradosnosistemadeinformação,aausênciadecapacidadeparadesenvolvercompetênciasparaaanáliseepidemiológicaassimcomoanecessidadedemelhorarocircuitodeinformaçãocomosectorprivadoatravésderecordatórios,folhasinformativas.
Ameaças• Aameaçaidentificadadizrespeitoàcomunicaçãosugerindo-seautilidadedepromover,comregularidade,exercíciosdesimulaçãoenvolvendodiversossectoresparatestaraquelacapacidade.
b ) Serviços de saúde e sua organização
Pontos fortes• Oelevadousodosectorpúblicodasaúdeesuaboaorganização.
SAÚDE SAÚDE104 105
• IdentificaçãodosserotiposedesenvolvimentodeumprogramacomoINSA.
• Desenvolvimentodeumprotocoloparaumbiobancoearmazenamentodeamostras.
Ameaças• Custosadicionaisassociadosaatividadesderastreio(segurançadosderivadosdosangue).
e ) Vigilância de vetores
Pontos fortes• Oprogramadevigilânciainiciou-seantesdosurto.
• Desde2009quesãocolocadasarmadilhaspermitindoanálisedetendências.
• Possibilidadedeseremdefinidasnovaslocalizações.
• Informaçãosegura.
• Envolvimentoativodapopulaçãoeautoridades.
• Boacolaboraçãointersectorialaoníveloperacional.
• Algumacompetêncialocaldisponível.
Oportunidades• ColaboraçãocomaDGSeperitos.
• ParaaRAM-Recrutamentodecoordenadorcomexperiêncianavigilânciadadengue.
• ParaaEuropa–oportunidadedebeneficiardasituaçãonaRAMnoâmbitodavigilânciadeespéciesinvasivasdemosquitos.
• ParaoECDC–Desenvolvimentodediretrizesparaavigilânciadevetoresinvasivos.
Pontos fracos• Recursoshumanosreduzidos.
• Ausênciadefinanciamentoespecífico.
• Vigilânciadevetoresnãoéidentificadacomoumatarefaespecífica.
• Inexistênciadecoordenaçãoentreavigilânciadevetoreseacompetêncialocal.
• Estruturadapopulaçãodevetores(possibilidadedeocorreremmúltiplasintroduçõesdovetor).
• Aexperiênciarecolhida.
Pontos fracos• Nestaanálisesalienta-seaausênciadeumcenárioparaumsurto.
• Oslimitadosrecursostécnicos.
• Anecessidadedeosresultadoslaboratoriaisseremintegradosnosistemadeinformação.
• Olocaldetrabalhonãoestarincluídonosistemaderegisto.
• Aausênciadeexercíciosdesimulação.
Ameaças• Areemergênciadovírus.
• Areintroduçãodovírus.
• ImunidadeparcialdapopulaçãoparaoDENV-1eapossibilidadedeocorrênciadeumsurtoporoutroserotipo.
d ) Laboratório e derivados do sangue
Pontos fortes• Elevadacapacidadedeadaptação.
• Rápidarespostaaemergências.
• Infraestruturalocalad hoc.
Oportunidades• ColaboraçãocomoINSAeoECDC.
• Possibilidadedeanáliseretrospetivadosresultadoslaboratoriais.
• Desenvolvimentodeumestudodeimunidadeemcolaboraçãocomparceirosexternos.
Pontos fracos• Necessidadededesenvolvimentodeumprogramadeavaliaçãoexternadaqualidade.
• Anecessidadededesenvolvimentodeumprotocololaboratorialdeinterpretaçãodosresultados.
• Planeamentode“stocks”.
SAÚDE SAÚDE106 107
Ameaças• Ausênciadevontadepolíticaerecursoshumanoseeconómicosinsuficientes.
• Faltadesustentabilidade(emergênciadeoutrasprioridades/perdadeinteressenofuturo).
• OcorrênciadeoutrasdoençastransmitidaspeloAe.Aegypti.
• Complexidadedoprocessolegalparaacontrataçãopúblicacomcompanhiasprivadas.
• Ausênciadeorientaçãolegaldasautoridadesrelativamenteaoacessoahabitaçõesabando-nadasnoâmbitodeumaemergênciadesaúdepública.
Lacunas de conhecimento
Ainformaçãodisponívelrelativaàsdoençastransmitidasporvetoresencontra-secompiladanosdocumentosdaDireção-GeraldaSaúde(DGS)referentesàsdoençasdedeclaraçãoobrigatória(DDOs).
Estainformaçãosugereque,comoocorrenorestantepaís,ograudenotificaçãotemsidomanifes-tamentereduzidopeloqueapresenteinformaçãodeveráseranalisadacomadevidaprudência.
ComaentradaemvigordosistemaSINAVE(http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/sinave.aspx?v=b5ef3dfe-6f5f-4ce3-8e86-fabad33830bf )eaatualizaçãodalistadasDDOsprevê-sequetaislimitaçõespossamvirasersignificativamenteminimizadas.Estalistaincluiasdoençasemapreçonesterelatório,designadamente—DoençadeLyme,FebredaDengue,FebredoNiloOcidentaleoutrasigualmenterelevantescomoéocasodaFebreEscaro-Nodular,aLeishma-niosevisceraleaLeptospirose.
Mosquito Aedes aegyptiAsprincipaislacunasdeconhecimentonoquerespeitaaestemosquitoedocênciasassociadassão:
• Quaisosfatoresassociadosàpossibilidadede(re)emergênciadosvírusousuaeventual(re)introdução;
• OconhecimentolimitadosobreaimunidadedapopulaçãoparaoDENV-1eapossibilidadedeocorrênciadeumsurtoporoutroserotipo;
• PossibilidadedeocorrênciadeoutrasdoençastransmitidaspeloAe. Aegypti;
• Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosdiversosinseticidas;
• Limitadacompreensãodainteraçãotemperatura,humidadeeprecipitaçãoeodesenvolvi-mento,sobrevivênciadomosquito,replicaçãoviralecontacto“mosquito-serhumano”.
Ameaças• Faltadesustentabilidade(emergênciadeoutrasprioridadesouperdadeinteressenofuturo).
• Númeroreduzidodequeixasdapopulação.
• RiscodeimportaçãodenovasestirpesdeAe. Aegypti.
• RiscodeexportaçãodeAe. AegyptiparaaEuropa.
f ) Atividades de controlo dos vetores
Pontos fortes• Agentesprivadosexperientes.
• Forteenvolvimento.
• Algumaexperiênciaespecíficalocal.
Oportunidades• Apoiooperacionalecientífico(DGS,peritos,etc.).
• ParaaRAM-Recrutamentodecoordenadorcomexperiêncianocontrolodadengue.
• ParaaEuropa–oportunidadedebeneficiardasituaçãonaRAMnoâmbitodocontrolodeespéciesinvasivasdemosquitos.
• RealizarnaMadeiraum“workshop”comperitosnocontrolodemosquitos.
Pontos fracos• Inexistênciadeequipamentodeserviçopúblicoparaocontrolodevetores.
• OsectordaSaúdePúblicanãotinhaexperiênciaprévianocontrolodevetoresdurantesurtos.
• Inexistênciadeumaunidadedecontrolodemosquitos.
• Inexistênciadecoordenaçãodasatividadesdecontrolodevetores.
• Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosinseticidas.
• Inexistênciadeorganismosdedicadosàavaliaçãodasatividadesdecontrolodevetores(avaliaçãoexterna).
SAÚDE SAÚDE108 109
• DesenvolverosmecanismosdereconhecimentoprecocedoriscodeimportaçãodenovasestirpesdeAe. Aegypti edoriscodeexportação paraaEuropa;
• PromoveroconhecimentodaimunidadedapopulaçãoparaoDENV-1;
• Estudaraestruturadapopulaçãodevetoresfaceàpossibilidadedeocorreremmúltiplasintroduçõesdomesmovetor;
• Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosinseticidas;
• PromoverprogramaseducacionaiscontínuosparaassegurarqueosprofissionaisdesaúdepúblicanaRAMsãobeminformadossobreaidentificaçãoetratamentodasdoençastrans-mitidaspormosquitos.Aparteimportantedanotificaçãodestasdoençasdevetambémserabordadacomestesprogramas.
Tecnologia
• Promoveramelhoriadosrecursostécnicos;
• Promoveraintegraçãodosresultadoslaboratoriaisnosistemadeinformação;
• Desenvolverumprotocololaboratorialdeinterpretaçãodosresultados;
• Desenvolvercompetênciasemepidemiologia;
• Desenvolvereintegrarumprogramadeavaliaçãoexternadaqualidade;
• PromoveraidentificaçãodosserotiposedesenvolverprogramacomoINSA;
• Desenvolverprotocoloparaumbiobancoearmazenamentodeamostras;
• Vacinaçãocomométododeprevençãodedoençastransmitidaspormosquitos;
• Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).
Governação
• Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;
• Estabelecerfinanciamentoespecífico;
• Tornaravigilânciadevetoresumatarefaespecífica;
• Promoveracoordenaçãoentreavigilânciadevetoreseacompetêncialocal;
Faltadeestudoe/dados
• Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosinseticidas;
• Necessidadededesenvolverestudosquelevemàproduçãodevacinasefetivas;
• Melhoriadosistemadeinformaçãoeregisto,cominclusãodolocaldetrabalhoeintegraçãodosresultadoslaboratoriais.
Mosquito Culex pipiensAsprincipaislacunasdeconhecimentonoquerespeitaàFebredoNiloOcidentalsão:
• Desconhece-sequalaprobabilidadedeapopulaçãodeCulexpipiensviraficarinfetada;
• OsreservatóriosdovírusdoOestedoNilonanaturezaincluemváriostiposdeaves,quenãosucumbemaovírus,mantendo-oemcirculaçãootemposuficienteparaqueosmosquitosseinfetemaopicá-lasedepoisospossamtransmitiraohomemeaocavaloquepode,igual-mente,serfatalmenteafetado.Existeanecessidadedepartilharcomosprofissionaisdesaúdepúblicadeinformaçãorelacionadacomainfeçãodestesanimaisreservatórios;
• Atransmissãoviralésubstancialmentemaiscomplexaquandocomparadacomovírusdodengue,tornandoasmedidasdecontrolomaisdifíceisoqueconstituiumalacunasignifica-
tivanoconhecimento.
Medidas de adaptação
Apresentam-seseguidamenteasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesdasdoençastransmitidaspormosquitosnasaúdehumana:
Conhecimento
• Avaliarseadensidadedomosquitoeosmodelosdoriscodetransmissãodadoençadesen-volvidosemoutrasregiõessãoaplicáveisaoambienteecondiçõessociaisdaRAM.SeestesmodelosprovaremserbonspreditoresparaaRAMentãopodemserusadoscomopartedeumsistemadeavisoealertaparapreverperíodosdepossíveisepidemiasdestasdoenças;
• PromoveramelhoriadacapacidadedosetordaSaúdePúblicanocontrolodesurtosevetores;
• Promoveroestudodaestruturadapopulaçãodevetores(possibilidadedeocorreremmúltiplasintroduçõesdovetorousua(re)emergência);
• DesenvolverosmecanismosdereconhecimentoprecocedapossibilidadedeocorrênciadeoutrasdoençastransmitidaspeloAe. Aegypti;
SAÚDE SAÚDE110 111
• Disponibilizarrecursosadicionaisparaatividadesderastreio(segurançadosderivadosdosangue);
• Sensibilizaçãocontínua(nãoapenassazonal)dapopulaçãoeturistassobredoençastransmi-tidasporvetores;
• Direcionaresforçosparasensibilizaraspopulaçõesmaisvulneráveis;
• Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;
• Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosmosquitosvetoreseosimpactesdasdoençasporelestransmitidasnasaúde.
Natureza
• Utilizaçãodeespéciespredadorasparacontrolarapopulaçãodevetores;
• Utilizaçãoderepelentesnaturais(tendoemcontraalegislaçãoatualdeusodeprodutosbiocidas);
• Procederàlimpezadelocaisdereproduçãodemosquitos.
3.3.2. Doenças transmitidas por carraças
Adinâmicadetransmissãodosagentesimplicadosemdoençastransmitidasporcarraçascaracterizaseporumsistemacomplexoquerequerapresençadoorganismopatogénico,deumvetorcompetenteeoseucontactocomoHomem,bemcomodehospedeirosreservatórios(gado,aves,cão,gato).
NaMadeiraésabidodesdehámaisde15anosqueacarraçaIxodes ricinusseencontraminfeta-dascomoagenteinfeciosoBorrelia sp.(Matuschkaetal.,1998).Investigaçõesmaisrecentesiden-tificaramqueIxodes ricinusnaMadeiraestáatualmenteinfetadacomBorrelia lusitaniae,váriasestirpesdeRickettsia sp.eAnaplasma phagocytophilum.Tambémnãofoiincomumencontraramesmacarraçainfetadacommaisdoqueumdestesagentesinfeciosos(LopesdeCarvalhoetal.,2008).Estestrêsagentesinfeciosossãoumapreocupaçãodesaúdepública.Poroutrolado,estamesmacarraçaencontra-seenvolvidanatransmissãodostrêsagentesmencionadospeloqueérazoávelassumirqueoriscodetransmissãodetodasestasdoençasésimilar.
OimpactedasalteraçõesclimáticasnatransmissãodadoençadeLyme(agenteinfeciosoBorre-lia sp.)foiavaliadonesteestudoconsiderandooslimiaresdetemperaturaehumidaderelativaquefavorecemasmaioresdensidadesdeninfas(percentagemdediaspormês).AdensidadeéusadacomoindicadordatransmissãopotencialdadoençadeLyme.
• Criarumaunidadedecontrolodemosquitos;
• Desenvolverumsistemaadequadodecoordenaçãodasatividadesdecontrolodevetores;
• Criarcenáriosparaumeventualsurto;
• Melhorarocircuitodeinformaçãocomosectorprivadoatravésderecordatórios,folhasinformativas;
• Melhoraroplaneamentode“stocks”paraemergênciasdesaúdepública.
• Melhorarosatuaisníveisdecomunicaçãosugerindo-seautilidadedepromover,comregula-ridade,exercíciosdesimulaçãoenvolvendodiversossectoresparatestarestacapacidade;
• Promoveraavaliaçãoexternadosprogramaseorganismosdedicadosàavaliaçãodasatividadesdecontrolodevetores;
• Estimularavontadepolíticaealocarrecursoshumanoseeconómicosadequados;
• Simplificaroprocessolegalvigentereferenteàcontrataçãopúblicadecompanhiasprivadas;
• Estabelecerorientaçãolegalquepossibiliteoacessoahabitaçõesabandonadasnoâmbitodeumaemergênciadesaúdepública;
• Prepararoscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençasinfeciosastransmitidaspormosquitos;
• Controlosdesaúdemaisseverosnaentradanopaísdeviajantesvindosderegiõesondeasdoençassãoendémicas;
• ControloedesinfestaçãodeprodutosimportadosparaaIlha.
Socioeconomia
• Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;
• Criarequipamentosdeserviçopúblicoparaocontrolodevetores;
• Definireatribuirfinanciamentoespecífico;
• Promoverasustentabilidadedosprogramasfaceàemergênciadeoutrasprioridadesouàperdadeinteressenofuturo;
SAÚDE SAÚDE112 113
Tabela 6 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por carraças
Impa
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Vulnerabilidade Futura
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Curto (2020-2039)
Médio (2040-2069)
Longo (2070-2099)
A2 A2 B2 A2 B2
TransmissãodadoençadeLyme(semoagentepatogénicopresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça
Neutro(0)
Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Presençade
hospedeiros
Precipitação Contacto:caraça-humano
TransmissãodadoençadeLyme(comoagentepatogénicopresente)
TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça Muito
Negativo(-2)
Alta -2 -2 -2 -2 -2 AltaHumidade Presençade
hospedeiros
Precipitação Contacto:caraça-humano
Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico
Capacidade adaptativa
NoquerespeitaaDoençadeLyme,deacordocomLindgreneJaeson(2006),osfatoresambien-taiseclimáticosqueinfluenciamoriscodedoençaagrupam-seemtrêscategorias:
• Fatoresqueinfluenciamaabundânciadovetoredosreservatóriosanimais
• Fatoresqueinfluenciamocontactovetor—“serhumano”
• Fatoresqueafetamacapacidadedeadaptaçãodasociedadeàmudança
Nãoobstante,osautoresassinalamqueasatuaismedidasdeadaptaçãosãoodiagnósticoprecocecorretoenautilizaçãoadequadadeterapêuticaantibiótica.Atualmente,questiona-seautilidadedeumavacinacusto-efetivaemzonasdebaixaincidênciaumavezqueadoençaéemregracurável.ARAMéumazonademuitobaixoincidênciaajulgarpelosdadosoficiaisdisponíveis.
Considerandoqueatualmente,ascarraçassãoosvetoresqueconstituemummaiorriscoparaaSaúdePública,emPortugalenaEuropa,foramdesenvolvidosalgunsprogramasparaoestudodeixodídeos(carraças).OprojetoClimaTickeoprogramaREVIVEsãoexemplosdeformasderespostaexistentenoquerespeitaaosimpactesnasaúdehumanarelacionadoscomasdoen-çastransmitidasporcarraças.
Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdedasdoençastransmitidasporcarraças(doençadeLyme)assumindoqueovírusestápresentenailha:
Carraça Ixodes ricinus — responsável pela transmissão da doença de LymeCenáriodereferência(1970-1999):
• Funchal,RibeiraBrava,PontadoSoleCalheta—concelhosquetiveramcondiçõesclimáticasmaisfavoráveisparaatransmissãodadoençadeLyme;
• Mesesdefevereiroajunho—mesesemqueasdensidadesdeninfasforamsuperiores(econsequentementeoriscodetransmissãodadoença);
• Riscoglobaldetransmissãodadoençamédio—vulnerabilidade atual muito negativa.
Cenáriosdecurto,médioelongoprazo:
• Reduçãodascondiçõesclimáticasadequadasparatransmissãodadoençaduranteosmesesmaisquentes;
• Aumentofavorávelparatransmissãodadoençanosmesesmaisfrios;
• Tendênciasdosdoispontosanterioressãoverificadasparatodososconcelhos;
• RiscoglobaldetransmissãodadoençadeLymemédio—vulnerabilidade curto, médio e longo prazo muito negativa.
ATabela6–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesdasdoençastransmitidasporcarraçasapre-sentaamatrizdevulnerabilidadeassociadaàsdoençastransmitidasporcarraças,dasquaisa“Ixodes ricinus”estáatualmenteinfetadacomváriosagentespatogénicosincluindoasbactériasdosgénerosRickettsia(responsávelpelaFebreEscaro-Nodular)eBorrelia(responsávelpeladoençadeLymeouBorreliosedeLyme).
SAÚDE SAÚDE114 115
• Formaçãointegradadostécnicosdesaúdeedeambientenestedomínio.
Medidas de adaptação
Paraminimizaroriscodasdoençastransmitidasporcarraçasamedidamaiseficazconsistenaprevençãodapicadaatravésdeutilizaçãodemétodosfísicos,químicosebiológicosquevãointervirnareduçãodadensidadedecarraças.
Ixodesricinussãosensíveisaambientescomhumidadesendoqueemlocaissecosraramentesãoumproblema.Umagestãoadequadadoslocaishúmidosdaregiãoéumaboaopçãodecontrolodascarraças.Usartécnicaspaisagísticasparacriarzonaslivresdecarraçasemtornodeescolas,emjardinspúblicos,emcaminhoserotasdelazercomaeliminaçãodegrandesquantidadesdeherbáceasouacolocaçãodemadeirasoucascalhocomoseparaçãodeespaçosarbóreosdeáreasdelazer.
Ocontroloquímicocomaaplicaçãodeacaricidasnoambienteounosanimaisdomésticoséométodomaisutilizadomasqueacarretacustos,riscosparaasaúdeeparaoambientealémdasresistênciasqueascarraçasvãoadquirindoaosprodutosquímicos.
Ocontrolobiológicopodeserumaformacomplementardecontrolodecarraçasutilizandopredadoresnaturaisvertebrados(ratos,aves)einvertebrados(formigas,aranhas),fungosouplantascompoderacaricidapodeconstituir-secomocomplementoaosmétodosquímicostradicionais.
Aprevençãoimplicatambémacontinuaçãodoprogramadevigilânciaemonitorizaçãoimple-mentadopeloREVIVE,vistoqueavigilânciapermitedetetaratempadamentequalqueralteraçãonaabundância,nadiversidadeepapeldevetor,levandoaqueasautoridadespossamdefinirmedidasdeproteçãodasaúdepública.
Asensibilizaçãodapopulaçãoeadivulgaçãodeinformaçãosobreascarraçaseosriscosassociadosàsuapresençanoambientedevetambémrealizar-sequandosepretendecontrolarapresençadecarraçaseatransmissãodedoenças.
Apresentam-seseguidamenteasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesdasdoençastransmitidasporcarraçasnasaúdehumana:
Conhecimento
• PromoveramelhoriadacapacidadedosectordaSaúdePúblicanocontrolodesurtosevetores;
• Promoveroestudodaestruturadapopulaçãodevetores;
• Desenvolverosmecanismosdediagnósticoetratamentoprecoces;
Projeto “ClimaTick - Parâmetros ambientais na alteração da dinâmica dos sistemas europeus
das doenças associadas a ixodídeos”
ProjetodesenvolvidopeloCentrodeEstudosdeVetoreseDoençasInfeciosas,InstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge(CEVDI/INSARJ),foifinanciadopelaFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia(FCT),tendo-seiniciadonodecursodoanode2008ecomtérminoem2010.
OprincipalobjetivodesteestudofoiodemelhoraroconhecimentosobreaepidemiologiadasdoençastransmitidasporcarraçasemPortugalatravésdacombinaçãodedadosclimáticoscomdadosdaecologiadovetor.ComasinformaçõescoletadasfoipossívelcriarummodelopreditivoparaocorrênciadestasdoençasemPortugal,incluídoaRAM.
Programa Nacional de Vigilância de Vetores Culicídeos e Ixodídeos
REVIVE–ProgramaNacionaldeVigilânciadeVetoresCulicídeoseIxodídeos
Desde2011,queavigilânciadevetoresfoialargadaaoestudodeoutrosartrópodeshematófa-gos—carraças—sendopesquisadososagentespatogénicostransmitidosporestesvetores,nomeadamenterickettsias(agentesdaFebreEscaro-Nodularelinfangite)eborrélias(agentesdadoençadeLymeouborreliose).Contudo,aRAMnãoestáincluídanesteprogramademonitori-zaçãodecarraças.
Lacunas de conhecimento
AsprincipaislacunasdeconhecimentonoquerespeitaàdoençadeLymesão:
• DadoqueascarraçasinfetadassãocomunsnaRAM,éurgenteperceberqualacausadenãoexistiremcasosclínicosreportados(DDO)dadoençadeLymenaRAM;
• Quaisosfatoresqueinfluenciamocontactovetor—“serhumano”nocontextodaRAM,comidentificaçãodasáreasderisco,atividadesderecreio,usosderecursosnaturaiseaaplicaçãodasmedidaspreventivas(autoproteção)recomendadas;
• Quaisosfatoresqueafetamacapacidadedeadaptaçãodasociedadeàmudança,incluindoacapacidadedevigilânciaemonitorização;
• Qualacapacidadedascomunidadeseserviçosdesaúdeatuarememsituaçõesdesurto;
• Quaisasestratégiasdecontrolodosvetoreserespetivosresultados.
Faltadeestudoe/dados
• Melhoriadosistemadeinformaçãoeregistodasdoençastransmitidasporixodídeoscominclusãodolocaldetrabalhoeintegraçãodosresultadoslaboratoriais;
• ParticipaçãoativanoprogramaREVIVEixodídeoseintegraçãodainformaçãonareferidarede;
SAÚDE SAÚDE116 117
• Melhoraroplaneamentode“stocks”paraemergênciasdesaúdepública;
• Melhorarosatuaisníveisdecomunicaçãosugerindo-seautilidadedepromover,comregula-ridade,exercíciosdesimulaçãoenvolvendodiversossectoresparatestarestacapacidade;
• Promoveraavaliaçãoexternadosprogramaseorganismosdedicadosàavaliaçãodasatividadesdecontrolodevetores;
• Estimularavontadepolíticaealocarrecursoshumanoseeconómicosadequados;
• Medidasoficiaisdelimpeza,controloevigilânciadeespaçosprivadosabandonados.
Socioeconomia
• Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;
• Criarequipamentosdeserviçopúblicoparaocontrolodevetores;
• Definireatribuirfinanciamentoespecífico;
• Promoverasustentabilidadedosprogramasfaceàemergênciadeoutrasprioridadesouàperdadeinteressenofuturo;
• Sensibilizaçãocontínuadapopulaçãoeturistassobredoençastransmitidasporcarraças;
• Direcionaresforçosparasensibilizaraspopulaçõesmaisvulneráveis;
• Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulação,nomeadamentecrianças,sobrecarraçaseosimpactesdasdoençasporelestransmitidasnasaúde;
• Açõesdedivulgaçãosobreociclobiológicodascarraçasedemétodospreventivos paraevitaraproliferaçãodecarraçasempropriedadesprivadas;
• Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde.
Natureza
• Promoveroestudodosdiversosreservatórios;
• Promoveroestudoaprofundadodatransmissãoeestabelecerasmedidasdecontroloadequadas;
• Eliminaçãodegrandesquantidadesdeherbáceasemtornodeescolas,emjardinspúblicos,emcaminhoserotasdelazer;
• Estudaraestruturadapopulaçãodevetoreseasuadinâmica;
• Promoverarecolhasistemáticadebaseepidemiológicaesero-epidemiológicaparaasdoençastransmitidasporixodídeos;
• ProduzirmaisinformaçãosobreadoençadeLyme.
Tecnologia
• Promoveramelhoriadosrecursostécnicos;
• Promoveraintegraçãodosresultadoslaboratoriaisnosistemadeinformação;
• Desenvolverumprotocololaboratorialdeinterpretaçãodosresultados;
• Desenvolvercompetênciasemepidemiologia;
• Desenvolvereintegrarumprogramadeavaliaçãoexternadaqualidade;
• Promoveraidentificaçãodosserotipos;
• Desenvolverprotocoloparaumbiobancoearmazenamentodeamostras;
• Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).
Governação
• Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;
• Estabelecerfinanciamentoespecífico;
• Tornaravigilânciadevetoresumatarefaespecífica;
• Promoveracoordenaçãoentreavigilânciadevetoreseacompetêncialocal;
• Criarumaunidadedecontrolodecarraças(eventualmenteintegradacomadosmosquitos);
• Desenvolverumsistemaadequadodecoordenaçãodasatividadesdecontrolodevetores;
• Criarcenáriosparaumeventualsurto;
• Melhorarocircuitodeinformaçãocomosetorprivadoatravésderecordatórios,folhasinformativas;
SAÚDE118
• Colocaçãodemadeiraoucascalhoemáreasarborizadaspararestringiramigraçãodecarraçasparaaszonasdelazer;
• Utilizaçãodeespéciespredadorasparacontrolarapopulaçãodevetores;
• Utilizaçãodefungosouplantascompoderacaricida.
SAÚDE 121
4. CONCLUSÃODevidoàinérciainerenteaosistemaclimáticoeaoperíododetemponecessárioparaodióxidodecarbonoentraremequilíbrionaatmosfera,omundoestácomprometidoemtrêsacincodécadasdealteraçõesclimáticas,nãoimportandooquãorapidamenteasemissõesdegasesdeefeitodeestufasãoreduzidas.OsresultadosdestaavaliaçãoindicamqueasalteraçõesclimáticasnaRAMirãomuitoprovavelmenteaumentarosimpactesnasaúdequesãosensíveisaoclima,taiscomoosresultantesdostressporcalor,dapoluiçãodoarambienteededoençastransmitidasporvetores.Amaioriadospotenciaisimpactesnasaúdeassociadosaestasaltera-çõesdoclimapode,noentanto,serevitadaoureduzidaatravésdeumacombinaçãoentrefor-talecerasfunçõeschavedossistemasdesaúdeeumamelhorgestãodosriscosapresentadosporumclimaemmudança.AsmedidasdeadaptaçãorecomendadasparaaRAMparareduzirospossíveisimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdesãoresumidasdeseguida.
Atualmente,paraailhadaMadeiraexisteumsistemadeavisosmeteorológicosparaapopu-laçãoeautoridadesdeproteçãocivil.Estesistemautilizaapenasparâmetrosmeteorológicoslocaissemestabelecerumarelaçãoquantitativaentresaúdehumanaetempo(i.e.stressporcalor).Destaforma,sãonecessáriosnaRAMsistemasdeavisoealertabaseadosemlimiaresmeteorológicosqueconsideremasrespostasdesaúdedapopulaçãolocal.Paraqueestesis-temasejaeficaz,éimportantequeosistemadesaúdelocalestejapreparadoparaumpotencialaumentodonúmerodepacientesemperíodosdealerta.Damesmaforma,éimperativoqueopúblicoemgeralsejainformadodoquedevefazerparaseprotegereaosfamiliaresduranteestesepisódios.
Desde2003queaRAMmonitorizaaqualidadedoarnoFunchal.OsresultadosdestesistemademonitorizaçãoindicampreocupaçõesatuaisdesaúdeassociadasaosníveisdePM10.ComasalteraçõesclimáticaséprovávelqueosníveisnoambientedePM10edeozononaRAMaumen-temeconsequentementeosefeitosadversosnasaúdeassociadosaestespoluentestambémaumentem.Éassimrecomendávelestabelecerummodelodeprevisãodapoluiçãoatmosféricaquepermitaquesejaestabelecidoumsistemadeavisoealertaqueinformeapopulaçãodaprevisãoprováveldapoluiçãodoarpelomenoscomumdiadeantecedência.Éimportantequeosníveisdeconcentraçãosejamestimadoscomantecedênciaparaqueosgruposdepopulação
SAÚDE122
maisvulneráveispossamlimitarasuaexposiçãonosdiasemqueestejamprevistosníveisdepoluiçãoatmosféricaelevados.
OsníveisdepólenestransportadospeloarsãomonitorizadosnaRAMpelaRedePortuguesadeAerobiologia.ApesardestesníveisnaRAMseremgeralmentemaisbaixosdoqueemPortugalcontinental,aindasãoumapreocupaçãoemtermosdesaúdeparaindivíduossensíveis.Éprová-velqueasalteraçõesclimáticasalteremadistribuiçãosazonaldospicosdepólenesnaatmos-fera,sendoimportantequeainformaçãosobreosníveispolínicosatinjaapopulaçãoemgeraleosprofissionaisdesaúdecom,pelomenos,umdiadeantecedênciaparaqueaspopulaçõesmaissensíveisestejamaptasareduzirasuaexposiçãoambienteomaispossível.Recomenda--setambémquesejamfeitosesforçosparaasseguraramínimautilizaçãodeplantascomumelevadopotencialalérgicodentrodasáreasurbanas.
ÉexpectávelquenofuturoaMadeira,estejaespecialmentevulneráveladoençastransmitidasporvetores.OrecentesurtodeFebredeDengue(2012-2013)verificadonailhadaMadeiraveioilustraraimportânciadasmedidasexistentesedaexistênciadeestratégiasde(bio)prepara-ção(”preparedness”).Atualmente,estãoimplementadasnaRAMváriasexcelentesmedidasdecontroloemonitorizaçãodoAedes aegypti(omosquitoquetransmiteaDengue).Contudo,estasmedidasnãobeneficiamdefinanciamentocontínuo,oquetornaasuasustentabilidadeques-tionáveleumconsequenteproblemadesaúdepública.Emcontraste,nãoexisteatualmente,naRAM,nenhumsistemadecontroloemonitorizaçãodecarraças,apesardeserbemconhecidoqueapopulaçãodecarraçasnaRAMestáinfetadacomagentespatogénicoscomrelevânciaparaasaúdepública.ÀmedidaqueascondiçõesambientaisnaRAMsetornamfavoráveisàtransmissãodedoençastransmitidasporvetoreséimportantequesejamdesenvolvidos,naRAM,sistemasdeavisoealertaparaestasdoenças.
SAÚDE 125
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