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CABEçALHO JANEIRO / FEVEREIRO / MARÇO | 2009 1 SANEAS Ano X - Nº 32 - Janeiro/Fevereiro/Março 2009 x Impressa em papel reciclado ENTREVISTA O Prof. Pacheco Jordão, da UFRJ, destaca a importância do reaproveitamento do lodo com uso benéfico. E MUITO MAIS... PROF. PACHECO JORDãO Artigos técnicos sobre o universo > dos Lodos Homenagem a um ícone da Sabesp > “Causos” conta a 2ª parte dos > “Pássaros Perdidos” FENASAN 2009: expositores reafirmam o evento como a maior Feira de Saneamento na AL !

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Cabeçalho

Janeiro / fevereiro / Março | 2009 1SaneaS

Ano X - Nº 32 - Janeiro/Fevereiro/Março 2009 x Impressa em papel reciclado

entrevista

o Prof. Pacheco Jordão, da UFrJ, destaca

a importância do reaproveitamento do

lodo com uso benéfico.

e mUito mais...

ProF. PaCheCo Jordão artigos técnicos sobre o universo >

dos lodoshomenagem a um ícone da sabesp >

“Causos” conta a 2ª parte dos >

“Pássaros Perdidos”

Fenasan 2009: expositores reafirmam o evento como a maior Feira de saneamento na aL !

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2 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

Cabeçalho

12, 13 e 14 de agosto de 2009Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, São Paulo, SP

caminho para universalização

do saneamento ambiental

Sustentabilidade

Participe do maior evento de saneamentoe meio ambiente da América Latina.

A FENASAN 2009 e o XX Encontro Técnico AESABESP, promovidos pela AESABESP, confirmam o sucesso de 20 anos de existência. Em sua 20a edição, o evento contará

com mais de 150 empresas expositoras, um público visitante altamente especializado estimado em 12.000 profissionais, 3.200 congressistas e palestrantes renomados.

Faça parte deste grande evento. Participe!

Fone / Fax: 11 3871 3626 - [email protected]

Informações

www.fenasan.com.br Fenasan: 13h às 20hEncontro Técnico AESABESP: 9h às 17h

APoio

Temário do XX Encontro Técnico AESABESPÁgua e reuso•Águas subterrâneas•Aplicações de softwares no saneamento e meio ambiente•Automação de sistemas de saneamento•Desenvolvimento de produtos e materiais•Eficiência energética•Gestão ambiental•Gestão de perdas•inovações tecnológicas•

Legislação do setor de saneamento•Manutenção e energia•Meio ambiente•Mudanças climáticas•Recursos hídricos•Resíduos sólidos•Saúde pública•Sistemas de abastecimento de água•Sistemas de coleta e tratamento de efluentes•

PAtRocínio

AESABESPAssociação dos Engenheiros da Sabesp

REALizAção oRGAnizAçãoLocAL

Seção São Paulo

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 3SaneaS

editorial

Uma atenção especiaL para o Lodo de etas e etes

O principal tema desta edição aborda aspectos muito discutíveis dentro do setor de saneamento: a geração, o tratamento e as implicações da disposição final dos lodos de Estações de Tratamento de Águas (ETA’s) e Estações de Tratamento de Esgotos (ETE’s), gerados no processo de tratamento de água e esgoto.

Por um lado estes resíduos são considerados fon-tes pontuais de poluição, mas por outro, podem ser meios alternativos para a otimização de processos nos setores agrícolas, da construção civil, entre outros. To-davia, desde 2006, existe uma Resolução do Governo Federal, por meio do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que apresenta uma série de exigên-cias para a utilização do lodo gerado nas Estações de Tratamento; aliás, muito difíceis de serem cumpridas pelas pequenas Estações, em função do pouco vo-lume gerado. E este parecer é avaliado por uma das maiores autoridades no assunto, o professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Pedro Além Sobrinho, na sessão “Ponto de Vista”.

Outra questão polêmica é o surgimento no mer-cado de vários produtos biológicos para tratamento de efluentes, experiência que, apesar de não ser uma novidade, ainda apresentam resultados duvidosos em sua concepção final. Em nossa sessão “Visão de Mercado”, ela é defendida como uma grande evolu-

ção para a indústria e saneamento básico, pela bió-loga Mara Salvador.

E como Tratamento de Lodo de ETAs e ETEs é so-bretudo uma questão ambiental, o próprio superin-tendente de Meio Ambiente da Sabesp, Eng. Wander-ley Paganini, que também é docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, discorre sobre como esse processo é desenvolvido dentro da Companhia Estadual de Saneamento Básico do Esta-do de São Paulo.

Para completar o quadro de ilustres conhecedores desse tema, o nosso entrevistado é o Prof. Dr. Eduardo Pacheco Jordão, da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro, que foi um dos palestrantes no nosso Seminário “Ano Internacional do Saneamento e a Macrometró-pole ” , evento realizado no ano de 2008 em conjunto com o Instituto de Engenharia. Aproveitamos a opor-tunidade para distribuir , dentro da Revista Sâneas, o encarte do “Seminário Nacional Sobre Tratamento, Disposição e Usos Benéficos de Lodos de Estações de Tratamento de Água”, que foi coordenado pela Eng. Prof. Dra. Dione Mari Morita, da Escola Politécnica da USP e vice-diretora do Departamento de Engenharia Civil do Instituto de Engenharia de São Paulo.

O aspecto cotidiano e humanizado do setor tam-bém está reforçado nesta Revista pelas duas sessões detentoras de muito sucesso entre os nossos leitores: a “Causos do Saneamento”, que conta a segunda e última parte de uma adoção de passarinhos numa unidade da Sabesp, e a “Palavra de Amigo”, que ho-menageia um dos colegas mais prestigiados dentro do saneamento paulista, o “meu irmão” Mario Pero Tinoco.

Tenho certeza que todos os leitores integrados ao setor encontrarão uma leitura útil e agradável nesta edição.

Um grande abraço,

Eng. Luiz narimatsuPrEsidEntE da aEsabEsP

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4 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

exPediente

Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp

dirEtOria EXECutiVaPresidente - Luiz Yukishigue NarimatsuVice-Presidente - Pérsio Faulim de Menezes1º Secretário - Nizar Qbar2º Secretário - Ivo Nicolielo Antunes Junior1º Tesoureiro - Luciomar Santos Werneck2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile

dirEtOria adJuntaDiretor de Marketing - Carlos Alberto de CarvalhoDiretor Cultural - Olavo Alberto Prates SachsDiretor de Esportes - Gilberto Margarido BonifácioDiretor de Pólos - José Carlos VilelaDiretora Social - Cecília Takahashi VottaDiretor Técnico - Choji Ohara

COnsELHO dELibEratiVOAram Kemechian, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, José Carlos Vilela, Ivan Norberto Borghi, Luis Américo Magri, Marcos Clébio de Paula, Nélson César Menetti, Olavo Alberto Prates Sachs, Ovanir Marchenta Filho, Sérgio Eduardo Nadur e Valter Katsume Hiraichi

COnsELHO FisCaLJosé Marcio Carioca, Gilberto Alves Martins e PauloEugênio de Carvalho Corrêa

Pólos da região metropolitana de são Paulo - rmsPCoordenador - Aram KemechianCosta Carvalho e Centro - Maria Aparecida S.P. dos SantosLeste - Luis Eduardo Pires RegadasNorte - Robson Fontes da CostaOeste - Evandro Nunes de OliveiraPonte Pequena - Mercedino Carneiro FilhoSul - Paulo Ivan Morelli Fransceschi

Pólos aEsabEsP regionaisCoordenador - Helieder Rosa ZanelliBaixada Santista - Ovanir Marchenta FilhoBotucatu - Osvaldo Ribeiro JúniorFranca - Marcos Marcelino de Andrade CasonItapetininga - Rubens Calazans FilhoLins - Marco Aurélio Saraiva ChakurPresidente Prudente - Robinson José de Oliveira PatricioVale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho

COnsELHO EditOriaL - Jornal aEsabespSonia Regina Rodrigues (Coordenadora)

FundO EditOriaLSilvana de Almeida Nogueira (Coordenadora)Antonio Soares Pereto, Dione Mari Morita, Luiz Narimatsu, Maria Lúcia da Silva Andrade, Milton Tsutiya, Miriam Moreira Bocchiglieri

Coordenador do site: Luis Américo Magri

JOrnaLista rEsPOnsÁVELMaria Lúcia da Silva Andrade - MTb.16081

assistente de redação: Walter PrandiFoto de Capa: Odair Faria

PrOJEtO VisuaL grÁFiCO E diagramaÇÃONeopix [email protected] www.neopixdesign.com.br

associação dos Engenheiros da sabespRua 13 de maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SPFone: (11) 3284 6420 - 3263 0484Fax: (11) 3141 [email protected]

ÍndiCe

08 matéria tema

lodos de etes eetas

entrevistaEduardo Pacheco Jordão

ponto de vistaImpactos na Resolução 375 do Conama sobre pequenas ETEs

matéria sabespAlternativas para a disposição final de Lodos de ETAs e ETEs

visão de mercadoProdutos biológicos em tratamentos de efluentes: solução econômica e amiga do ambiente

artigo técnicoUso de biossólidos na produção de mudas para reflorestamento de áreas degradadasCompostagem através de leiras revolvidas da ETE Limoeiro/Presidente Prudente como alternativa de tratamento do lodoReciclagem de lodo de estação de tratamento de água para remoção de fósforo de efluente de sistema de lodos ativados

Fenasan 2009XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009

“caUsos” do saneamentoO caso do Quero-Quero II: “O Sequestro”

paLavra de amigoAo grande amigo Mário Tinoco

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entrevista

para o proF. Jordão da UFrJ:Uso benéFico do Lodo traria ganhos ambientais

saneas: Em sua vasta experiência no setor, o senhor poderia nos descrever como era a visão dos engenheiros que atuavam na área de sane-amento com relação aos resíduos gerados nas estações de tratamento de água e de esgoto? Eduardo Pacheco Jordão: Antigamente a ques-tão do destino final do lodo não era preocupa-ção primordial dos projetistas e operadores de estações de tratamento. Os lodos de ETAs eram devolvidos diretamente aos rios, e os lodos de ETEs levados a aterros sanitários, em geral após passarem por leitos de secagem, sem um maior estudo econômico e ambiental. saneas: Qual a sua opinião sobre a resolu-ção COnama no 375, de 29 de agosto de 2006, que define critérios e procedimentos

para o uso agrícola de lodos de estações de tratamento de esgoto?Eduardo Pacheco Jordão: Creio que a Resolu-ção é muito exigente em vários pontos, e pode chegar a inviabilizar a ótima solução de aprovei-tamento agrícola dos biosólidos. saneas: Em linhas gerais, o que está sendo feito, atualmente, com os lodos de Etas e EtEs em outros países? Eduardo Pacheco Jordão: Em países adiantados existem duas preocupações: o reaproveitamento do lodo com uso benéfico, e a redução do vo-lume do lodo, empregando nesse caso sistemas industriais de evaporação da água, como os se-cadores de lodo, ou sistemas industriais de quei-ma do lodo, como incineradores. São sistemas

Eduardo Pacheco Jordão

é Doutor em Engenharia,

Professor Associado da

POLI-UFRJ (Universidade

Federal do Rio de Janeiro), autor

do livro clássico “Tratamento

de Esgotos Domésticos” (com 10 mil

cópias vendidas) e consultor de

grandes projetos de estações

de tratamento na América

Latina, de planos diretores de

esgoto e de lodo, e de empresas de

saneamento.

edUardo PaCheCo Jordão

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6 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

entrevista

industriais, de custo elevado, e seu emprego deve ser feito após criterioso estudo econômico. Existem ainda vários outros processos em pesquisa ou estudo para atender de forma adequada esta importante questão da redução de volume e destino final do lodo. saneas: Quais as soluções que o senhor sugere para os lodos de EtEs e Etas gerados na região metropolitana de são Paulo?Eduardo Pacheco Jordão: É difícil sugerir sem ter dados reais do volume produzido, locais de disposi-ção final e possibilidades de uso benéfico, como em agricultura, na construção civil como agregados le-ves de concreto, aproveitamento em áreas de reflo-restamento, etc. Há cerca de 30 anos atrás a própria Sabesp realizou um importante estudo de produção de agregado leve para construção civil, construindo e operando uma unidade piloto de demonstração, que na época mostrou-se de custo muito elevado. Talvez hoje esta situação tenha se modificado.O lodo gerado na RMSP deverá certamente ter seu volume reduzido para economia de transporte, e as possibilidades de aproveitamento ou de simples lan-çamento final deverão ser estudadas sob uma ótica de melhor rendimento econômico e proteção ambiental. Há muitas vezes possibilidades de destino final que vem a ser simples, e por isto mesmo deixam de ser estudadas com maior aprofundamento: seria o caso de se verificar a possibilidade de recuperação de áreas degradadas, o uso em áreas florestais onde o manejo econômico se mostra importante, etc.

Eu diria que para uma Região Metropolitana tão grande como é o caso de São Paulo, todas as possibi-lidades devem ser avaliadas, inclusive as tecnologias emergentes que dentro de alguns anos estarão sendo plenamente aplicadas e poderão vir a ser de interesse para nossa economia de escala.

saneas: Há uma tendência internacional à redução da geração e ao uso benéfico de lodos. no brasil, quais são os obstáculos a este uso benéfico?Eduardo Pacheco Jordão: Não diria que há uma tendência internacional à redução da geração de lo-dos, mas um receio muito grande em relação ao seu aproveitamento em agricultura. No Brasil, como ainda fazemos muito pouco aproveitamento agrícola, não creio que exista este receio. Mas já é tempo de se mostrar à populaçao que podemos aproveitar o lodo como um rico biosólido, transformando um resíduo do tratamento em matéria que irá trazer benefícios e redução de custos, além dos ganhos ambientais. Nes-se sentido é necessário uma campanha na mídia sobre os benefícios desse aproveitamento de biosólidos. saneas: Qual é o destino comum do lodos de Etas e EtEs no território brasileiro?Eduardo Pacheco Jordão: Tipicamente os lodos de ETAS vinham sendo devolvidos aos rios, e em muitos casos ainda tem sido prática. Os lodos de ETEs são em maior parte lançados em aterros sanitários, o que é uma pena, pois podem ser aproveitados com vanta-gem como biosólidos.

“para Uma região metropoLitana tão

grande como é o caso de são paULo, todas as

possibiLidades devem ser avaLiadas, incLUsive as

tecnoLogias emergentes qUe dentro de aLgUns

anos estarão sendo pLenamente apLicadas.”

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impactos na resoLUção 375 do conama sobre peqUenas etes

Ponto de vista

O Conama (Conselho Nacional do Meio Am-biente) instituiu a Resolução nº 375, de 29 de agosto de 2006, que define critérios e procedi-mentos para o uso agrícola de lodos de esgotos, gerados em Estações de Tratamento de Esgoto Sanitário. Todavia, mesmo sendo um instru-mento importante para disciplinar a reciclagem agrícola de lodos no país, as exigências nela contidas, se não chegam a inviabilizar o fun-cionamento de pequenas estações, que tratam somente esgoto doméstico, dificultam bastante a sua operacionalização, uma vez que os custos envolvidos na caracterização e no monitora-mento são muito elevados.

Segundo a norma, cada lote de lodo deve ser caracterizado de acordo com aspectos de po-tencial agronômico; de substâncias inorgânicas e orgânicas potencialmente tóxicas; de indica-dores bacteriológicos e agentes patogênicos e de estabilidade. O número total de parâmetros a serem determinados é de 62, incluindo os teores de dioxinas e furanos e vírus entéricos. No Brasil, há poucos laboratórios que possuem capacidade para realizar estas determinações dentro dos li-mites recomendados pela norma e com grau de incerteza aceitável. Além da caracterização, de-ve-se fazer o monitoramento do lodo e do solo onde ele foi aplicado, resultando na obrigação de realização de mais algumas análises.

Quanto à patogenicidade, a norma classifica o lodo em A ou B. A primeira classe é bem mais restritiva com relação aos limites para coliformes termotolerantes e helmintos e inclui restrições para vírus entéricos e ausência de Salmonella em dez gramas de sólidos totais. A norma menciona também no parágrafo 1º do artigo 11: “Decorri-dos 5 anos a partir da data de publicação desta Resolução, somente será permitida a aplicação

de lodo de esgoto ou produto derivado classe A, exceto sejam propostos novos critérios ou limites baseados em estudos de avaliação de risco e da-dos epidemiológicos nacionais, que demonstrem a segurança do uso do lodo de esgoto Classe B” e no parágrafo 2º deste mesmo artigo: “As UGLs - Unidades Geradoras de Lodo - terão, após a data de publicação desta Resolução, 18 meses para se adequarem a esta Resolução”. Nesta questão, é interessante observar que embora a norma in-dique a calagem como um processo necessário para obtenção de lodo tipo B, resultados preli-minares de estudos usando a secagem em estufa agrícola de lodo com cal têm indicado que ele pode alcançar a classe A. No entanto, estas pes-quisas ainda precisam ser aprofundadas.

Outra tecnologia de remoção de patógenos para obtenção de lodo classe A é a secagem tér-mica, mas, nas pequenas estações de tratamen-to, ela não é praticável economicamente.

Pedro Alem Sobrinho é

engenheiro civil pela Escola de

Engenharia de São Carlos/USP, mestre em

Public Health Engineering pela Universidade de Newcastle Upon Tyne (Inglaterra), mestre em Saúde Pública e doutor

em Engenharia Hidráulica e

Sanitária pela Universidade de

São Paulo. Atualmente, é

Professor Titular da Universidade

de São Paulo. Possui vários

trabalhos publicados

sobre o tema “Tratamento de

esgoto sanitário”, em periódicos

nacionais e internacionais.

Pedro alem sobrinho

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Janeiro / fevereiro / Março | 20098 SaneaS

matéria tema

Lodoum ponto de

alerta no universo do saneamento.

se por um lado, o processo de crescimento econômico do brasil demandou a implantação de políticas governamentais para

o setor de saneamento básico, propiciando uma infra-estrutura que melhorou a vida da população; por outro, os

próprios processos de tratamento de água e esgotos são considerados fontes pontuais de poluição, por gerarem

lodo.

O tratamento e a disposição final dos lodos formam um quadro preocupante, face ao grande volume

gerado, à dificuldade em se encontrar locais de disposição, aos crescentes custos de transporte

e disposição e aos impactos ambientais.

Portanto, qualquer decisão sobre o destino final mais apropriado para estes

resíduos depende de sua caracterização, avaliação e minimização dos riscos de

contaminação ao meio ambiente e ao homem.

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 9SaneaS

matéria tema

Para entender a importância da destinação do lodo, vamos partir para uma visão bem ampla: a do Planeta Terra. Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), sua área total é de aproximada-mente 510 milhões de quilômetros quadrados, sendo que 149 milhões de km2 são de terra e 361 milhões de km2 são de água.

Desse total de água, apenas 2,5% é doce. Os rios, lagos e reservatórios de onde a humanidade retira o que consome só correspondem a 0,26% desse per-centual. De acordo com as estimativas mundiais, 10% da utilização da água vão para o abastecimento pú-blico, 23% para a indústria e 67% para a agricultura.

No Brasil, de acordo com a divisão adotada pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, são oito as suas grandes bacias hidrográ-ficas: a do rio Amazonas, a do rio Tocantins, as do Atlântico Sul, trechos Norte e Nordeste, a do rio São Francisco, as do Atlântico Sul, tre-cho Leste, a do rio Paraná, a do rio Paraguai, e as do Atlântico Sul, trecho Sudeste.

Temos a maior reserva de água doce da Terra, equiva-lente a 12% do total mundial. Porém, principalmente nas regiões mais pobres, os recursos hídricos são li-mitados e explorados de forma predatória, gerando despejo da alta carga de poluentes.

A degradação dos rios que atravessam as grandes cidades do País é apontada como um dos maiores problemas ambientais brasileiros. Tanto que soluções para recuperação de leitos, que obtiveram êxitos em outros países, ganham cada vez mais espaço na mídia, como apresentação de alternativas para a minimiza-ção dessa problemática. Mas para se conseguir solu-ções de recuperação, o procedimento mais indicado é a coleta e tratamento de esgotos, que geralmente são lançados in natura nos rios. Tal procedimento ameniza a deterioração dos mananciais, posto que reduz a sua carga de poluentes e gera, como pro-duto final, um resíduo rico em matéria orgânica e

nutrientes, denominado lodo, mas que também necessita de

tratamento uma adequada dis-

posição fi-nal.

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Janeiro / fevereiro / Março | 200910 SaneaS

matéria tema

o Lado útiL do LodoA definição mais básica do lodo de esgoto é que se

trata de um resíduo semi-sólido, predominantemente orgânico, com teores variáveis de componentes inor-gânicos, provenientes do tratamento de águas resi-duárias domiciliares ou industriais. A sua composição variada é devido à origem e ao tipo de tratamento que está sendo utilizado. De acordo com Camargo & Bettiol (2000), as formas mais utilizadas para o apro-veitamento ou disposição final do lodo são: disposição em aterro sanitário; reúso industrial, como produção de agregado leve, fabricação de tijolos e cerâmica e produção de cimento; conversão em óleo combus-tível; recuperação de solos em áreas degradadas e de mineração e pode ter como fim o uso agrícola e florestal através da aplicação direta no solo, compos-tagem e solo sintético. Todavia, a utilização para fim agrícola e florestal apresenta-se como uma das mais convenientes, pois, como o lodo é rico em matéria or-gânica e em macro e micronutrientes para as plantas, é amplamente recomendado como condicionador de solo. Entre os nutrientes advindos do lodo, destacam-se como os mais relevantes o nitrogênio e o fósforo.

FósFOrO (P) Devido a sua reatividade, o fósforo não é encontrado nativo na natureza, porém for-ma parte de numerosos minerais. O ácido fosfórico concentrado é importante para a agricultura, já que forma os fosfatos em-pregados para a produção de fertilizantes. Os fosfatos também são usados para a fabricação de fogos, bombas, cristais, lâm-padas e na produção de aço e bronze. A sua projeção no lodo geralmente vem dos dejetos domésticos, detergentes que uti-lizam fosfatos como aditivos e efluentes industriais.

nitrOgêniO (n) O Nitrogênio (N) é o componente principal da atmosfera terrestre (78,1% em volume). O elemento está presente na composição de substâncias excretadas pelos animais, usu-almente na forma de uréia e ácido úrico; nos dejetos presentes no esgoto e em al-guns efluentes industriais, tais como mata-douros, curtumes, indústrias farmacêuticas, etc. É encontrado nas formas inorgânicas, como nitritos, nitratos e nitrogênio amo-niacal e orgânicas, constituindo proteínas, aminoácidos, aminoaçúcares, amidos, etc. Daí o fato de seu alto valor econômico, como elemento proveniente do lodo.

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 11SaneaS

matéria tema

De acordo com Lake (1987), “quando o teor de um determinado metal num resíduo é menor ou igual ao teor do mesmo metal no solo, pode-se inferir que o resíduo não apresente potencial de contaminação. Entretanto, o autor ressalta que, quando se trata de resíduos orgânicos, a mineralização da matéria orgâ-nica, que poderá ocorrer após a disposição no solo, tenderá a aumentar os riscos de contaminação”. Dessa forma, constatada a presença de nutrientes e metais pesados na composição do lodo de esgoto, o seu emprego como condicionador de solo pode trazer vantagens, por promover a reciclagem de nutrientes e melhoria da fertilidade do solo; mas também pode se traduzir em prejuízos, se houver formação de nitratos e acúmulo de metais pesados em plantas.

Outra questão peculiar no tratamento de lodo é a presença de patógenos, cuja origem geralmente se dá em razão do material fecal contido no esgoto. Portan-to, as características epidemiológicas da população local e dos efluentes lançados na rede coletora defi-nem os tipos de vírus, fungos, bactérias e parasitas.

O Governo Federal, por meio do Conama - Con-selho Nacional do Meio Ambiente - criou a resolução

de nº 375, de 29 de agosto de 2006, a qual dispõe de parâmetros para a utilização do lodo de esgoto. Para a caracterização do lodo e monitoramento de sua qualidade durante a aplicação agrícola, devem ser determinados parâmetros agronômicos, inorgânicos e orgânicos, além da deteminação da concentração de patógenos, sendo estes últimos importantes para classificação do lodo em A ou B.

A partir da data que essa Resolução foi institu-ída, as estações de tratamento têm um prazo de 5 anos, portanto até 29 de agosto de 2011, para de-monstrar que o lodo classe B pode ser utilizado para a agricultura. Caso contrário, deverão cumprir todas as exigências para a classe A, o que será bastante difícil para pequenas ETEs, pois exigirão a instalação equi-pamentos tais como secadores térmicos, pasteuriza-dores, etc para atender a norma. Mas, de qualquer forma, uma análise séria e compatível com os nossos recursos é um instrumento constantemente necessá-rio à disposição final do lodo, para que este resíduo seja mais do que uma preocupação ou um alerta: uma solução e uma alternativa de otimização dos recursos ambientais.

qUando se trata de resídUos orgânicos,

a mineraLização da matéria orgânica, qUe

poderá ocorrer após a disposição

no soLo, tenderá a aUmentar os

riscos de contaminação.

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Janeiro / fevereiro / Março | 200912 SaneaS

matéria tema

Lodo de estações de tratamento de ágUa

Richter (2001) considera que lodo de estação de tratamento de água é o resíduo constituído de água e sólidos em suspensão originalmente contidos na fon-te de abastecimento, acrescidos de produtos resultan-tes dos reagentes aplicados à água nos processos de tratamento, bem como suas impurezas.

Os lodos formados por hidróxidos de alumínio e ferro são de difícil adensamento e desaguamento, sendo necessário o seu pré-condicionamento, antes de serem submetidos a esses processos. Por isso, uma prática comum nestas ETAs é o uso de polímeros, se-jam eles catiônicos, aniônicos ou não iônicos.

os descartes de resídUos de etas

Também provenientes das Estações de Tratamento de Água (ETAs), os descartes de resíduos nos rios têm contribuído para deterioração da qualidade das águas dos mananciais, principalmente em regiões onde há escassez dos recursos hídricos.

Embora não seja um problema recente, o efeito da disposição inadequada dos resíduos sólidos gerados

em ETAs no meio ambiente tem-se mostrado extre-mamente danoso, especialmente nos grandes centros urbanos, seja pelo aumento da quantidade de sólidos e da turbidez em corpos d’água, ou seja pelo aumento da sua toxicidade que, por sua vez, pode comprome-ter a estabilidade da vida aquática.

Nos processos convencionais de tratamento de água, os resíduos são gerados basicamente nos de-cantadores ou, eventualmente, em flotadores e nas operações de lavagem dos filtros. Cada linha geradora de resíduos apresenta características distintas em ter-mos de vazão e concentração de sólidos, razões pelas quais diferentes concepções de tratamento devem ser consideradas.

Experiências em países do 1º mundo atestam que o lançamento destes resíduos nos corpos d’água não vem sendo realizado e tem-se incentivado a minimi-zação, o reúso e a reciclagem, em virtude de legisla-ções mais rigorosas de controle da poluição e desper-dício, inclusive com relação ao descarte de 2 a 6% do volume de água produzido numa Estação de Trata-mento de Água em atividades de lavagem dos filtros e descargas dos decantadores.

Fontes de consulta: ETEC-Diadema, Fundação Oswaldo Cruz, IFET – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Gestão Ambiental), Portal do Ministério do Meio Ambiente, Wikipédia.

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 13SaneaS

matéria sabesP

aLternativas para a disposição FinaL de Lodos de estações de tratamento de ágUa e estações de tratamento de esgotos

Wanderley Paganini

gEraÇÃO E dEstinaÇÃO dOs rEsíduOs gEradOs PELa atiVidadE Humana

A população mundial hoje ultrapassa 6 bilhões de pessoas. Com os elevados índices de crescimento populacional esperados para os próximos 90 anos, estima-se que ultrapassaremos a casa dos 10 bilhões de habitantes no planeta.

A atividade humana e industrial, a intensa explo-ração dos recursos naturais e a quantidade de resídu-os a serem gerados, certamente atingirá proporções gigantescas se não houver uma radical mudança nos hábitos de consumo das pessoas, na utilização racio-nal dos recursos e no uso benéfico dos resíduos.

Em relação aos impactos ao meio ambiente, a des-tinação final desses resíduos é objeto de muita preo-cupação, merecendo especial atenção o lodo gerado pelos serviços de saneamento, que sem dúvida alguma será um dos grandes problemas ambientais a serem enfrentados nos próximos anos. Porém, adotando-se uma visão bem realista, constata-se que em relação à disposição final de lodos, o amanhã já chegou!

a uniVErsaLizaÇÃO dOs sErViÇOs dE sanEamEntO nO brasiL E as dEmandas ambiEntais

A prestação dos serviços de saneamento no Brasil ainda é bastante deficitária. A população atendida com abastecimento de água é de 91,9%, conforme os da-dos do IBGE, 2007¹. Em relação aos serviços de esgotos, 68,7% da população têm seus esgotos coletados (IBGE, 2007)¹ e apenas 34,3% da população é contemplada com tratamento de esgotos (SNIS, 2007)².

O Governo Federal, em 2007, anunciou o Progra-ma de Aceleração do Crescimento (PAC), prevendo in-vestimentos de R$ 40 bilhões em saneamento básico

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14 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

matéria sabesP

até 2010. Desse montante, até julho de 2008 foram contratados R$ 19 bilhões para iniciativas nas moda-lidades abastecimento de água, esgotamento sanitá-rio, saneamento integrado, manejo de águas pluviais, manejo de resíduos sólidos, dentre outros³. O Ministé-rio das Cidades declarou que o déficit de saneamento no País necessita de investimentos de R$ 9 bilhões anuais, em 20 anos, para que a universalização dos serviços seja concluída4.

Temos um longo caminho a percorrer. Não é acei-tável que haja morte por diarréia no País nos níveis hoje verificados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 6% de todas as doenças são causadas por con-sumo de água inadequada, falta de coleta de esgoto e de higiene5. De acordo com dados do IBGE, 2006, a taxa nacional de mortalidade infantil sofreu uma queda de 44,9% em 16 anos. O Caderno Brasil 2008 da UNICEF “Situação Mundial da Infância” atribui esse fator a uma série de melhorias nas condições de vida e na atenção à saúde da criança, em relação a questões como segurança alimentar e nutricional, saneamento básico, vacinação e outros6.

Esses dados são alguns indicadores da real ne-cessidade de se investir em saneamento, tendo como foco a universalização do atendimento.

A prestação dos serviços de saneamento requer uma progressividade, conceito já consagrado, deri-vado de uma tendência observada nos países desen-volvidos, que considera necessário ter-se sempre em conta uma escala de prioridades.

Fornecer água, a prioridade zero. Depois coletar os esgotos, ação sanitária de âmbito local, com com-provada eficácia em termos de melhoria da saúde pú-blica. Só então, tratar e dispor os esgotos, uma ação ambiental, de âmbito regional.

Ainda que a universalização do atendimento obe-deça a uma escala de prioridades, não é possível isolar a questão da destinação dos lodos gerados. Tratar a água e os esgotos e dispor o lodo gerado adequada-mente são parte integrante desse processo.

A universalização trará ao Brasil problemas ainda mais representativos quanto à destinação final dos lodos, se não forem buscadas soluções adequadas.

múLtiPLas sOLuÇõEs Para disPOsiÇÃO FinaL dO LOdO: QuEstÃO dE sEguranÇa OPEraCiOnaL E tECnOLógiCa

A busca de alternativas para viabilizar a disposição final dos lodos gerados em estações de tratamento de água - ETAs e estações de tratamento de esgotos - ETEs, tem sido foco de inúmeras pesquisas desen-volvidas das mais variadas formas: em bancadas, em pilotos e em escala real.

Esses resíduos são produzidos em grande volume, e ainda assim, a maioria das plantas de tratamento em operação no país não contempla adequadamente o destino final do lodo. A disposição final desses resí-duos requer cuidados específicos de modo a garantir a proteção ao meio ambiente e à saúde pública.

Devolver aos mananciais o lodo resultante do tra-tamento de água é procedimento inadequado do pon-to de vista ambiental, operacional e legal. Da mesma forma, o lodo das estações de tratamento de esgotos não pode ser disposto no ambiente sem a realização de estudos prévios, buscando a destinação final mais apropriada, reduzindo os possíveis impactos ambien-tais decorrentes de uma disposição final inadequada.

O que não falta ao homem é criatividade e ca-pacidade para o desenvolvimento de tecnologias. As possibilidades para a destinação de lodos são muitas. E todas elas devem ser avaliadas e consideradas.

Essas múltiplas alternativas para destinação final de lodo são justificadas pelo fato de que é necessário evitar situações de dependência tecnológica, estra-tégica ou logística, fator de alto risco em qualquer atividade, especialmente na prestação de serviços públicos de saneamento, onde a geração de lodo é diária e elevada. Deste modo, a operação segura dos sistemas de abastecimento de água e de esgotamen-to sanitário requer alternativas múltiplas disponíveis para a destinação dos lodos gerados. A dependência de um único setor ou de uma única alternativa é um risco indesejável.

Para ilustrar essa afirmação pode-se fazer um pa-ralelo com situação ocorrida em relação à adição de fluor nas águas de abastecimento público. Estudos desenvolvidos apontaram que o ácido fluossilícico, um subproduto resultante do processo de fabricação de ácido fluorídrico (usado na produção de sais fluo-rados, gases refrigerantes, defensivos agrícolas, deter-gentes, teflon, etc), era uma substância que atendia às necessidades para o processo de fluoretação da água. Não foi preciso muito tempo para que a indústria mu-dasse de postura, passando a considerar esse “rejeito” como “produto”, aumentando os preços, gerando inú-

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Wanderley da Silva Paganini junto ao presidente da AESabesp, Luiz Narimatsu, no lançamento do seu livro na Fenasan 2008 “A IDENTIDADE DE uM rIO DE CONTrASTES: o Tietê e seus múltiplos usos.”

meras inseguranças quanto ao seu fornecimento para o saneamento.

A tendência atual aponta para os chamados “usos benéficos do lodo”. A própria denominação já é por si um atrativo. Nada pode ser melhor do que possibilitar o uso benéfico de um resíduo, seja ele qual for. Não resta dúvida. Mas não é admissível deixar que essa destinação de resíduos se torne um monopólio, espe-cialmente nos casos em que prioritariamente o obje-tivo é o de gerar lucro financeiro.

disPOsiÇÃO FinaL dO LOdO dE EtaEstudos recentemente desenvolvidos apontam

que no Estado de São Paulo o processamento dos lo-dos de estações de tratamento de água na indústria cerâmica consiste num cenário promissor para a sua destinação, seja pela viabilidade técnica e ambiental, seja pela capacidade de absorção do lodo gerado pe-las cerâmicas. Merece atenção. Não é alternativa a ser desprezada, mas não pode ser considerada como a única opção para esta disposição final.

Outras destinações de lodo de ETA estão em estu-do e algumas têm se mostrado igualmente adequa-das, como o seu emprego para fechamento de valas e para a recuperação de áreas degradadas. Quando resolvidas e implantadas essas múltiplas alternativas,

então estará em equacionamento a questão da dispo-sição final desses resíduos.

Ainda em relação ao lodo de ETA, o seu tratamen-to em ETEs é assunto que gera polêmica. Discute-se que as novas ETAs devam possuir unidades específicas para o processamento do lodo. Por se tratar de um material predominantemente inorgânico, não é de-gradado na ETE, o que confere a esse procedimento a característica de transferência e não de disposição final do resíduo. Questiona-se o fato de que o lodo é concentrado na ETA, diluído no sistema de coleta e in-terceptação e novamente concentrado na ETE7. É fato. Mas num cenário como o da Região Metropolitana de São Paulo – RMSP e nos grandes centros, ainda que com os possíveis inconvenientes mencionados, essa prática pode ser a melhor alternativa apresentada. A condição teórica ideal seria o lançamento direto na fase sólida das ETEs, mas não há estrutura disponi-bilizada para o transporte exclusivo do lodo até esse ponto (lododuto). A execução de obras desse porte também pode causar impactos ambientais de grandes proporções.

Caso típico de grande parte das ETAs em opera-ção em áreas fortemente urbanizadas é a limitação para a realização do tratamento do lodo na própria planta, em função da ausência de espaço físico e de

Wanderley da Silva Paganini é engenheiro civil pela UNESP de Bauru/SP, engenheiro sani-tarista, mestre e doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP, livre-docente em Sanea-mento Básico e Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Funcionário da SABESP desde Janeiro de 1980, atuou como Assistente Executivo da Diretoria do Interior e da Diretoria de Sistemas Regionais da SABESP, foi Superin-tendente Regional da Unidade de Negócio do Médio Tietê e atualmente é o Superintendente de Gestão Ambiental da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da SABESP e Professor Associado do Departamento de Saú-de Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP. É autor de diversos artigos científicos publicados no Brasil e no exterior nas revistas especializadas. É autor dos livros “A identidade de um rio de contrastes: o Tietê e seus múltiplos usos” e “Disposição de Esgotos no Solo”.

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sua localização geográfica, muitas vezes desfavorável à circulação de caminhões para transporte de lodo no entorno da estação.

Ressalta-se também que o recebimento de lodo de ETA em ETE é comumente realizado em todo o mun-do, principalmente nos Estados Unidos e na Europa (Tsutiya, 2001)8, com resultados bastante satisfató-rios e promissores.

Vários estudos realizados pela Sabesp também apontam que o recebimento de lodo de ETA em ETE, do ponto de vista técnico e operacional, é plenamente viável, configurando-se numa boa opção a ser consi-derada para a disposição desses lodos.

A comunidade técnico-científica recomenda a avaliação dessa prática, de maneira isolada e crite-riosa, caso-a-caso, ressaltando que para o processo de lodos ativados, a principal limitação se refere à di-gestão do lodo.

Ensaios de bancada desenvolvidos na RMSP para avaliar a atividade metanogênica do lodo, simulando o recebimento de lodo de ETA em digestores de ETE, mostraram que não houve indícios de inibição dos processos anaeróbios para as condições avaliadas.

Outros experimentos já apontaram para um efe-tivo aumento na eficiência de remoção de Fósforo Total, o que pode representar um ganho ambiental significativo, em decorrência dessa prática.

Outros aspectos favoráveis a se considerar nos processos de disposição do lodo de ETA em ETE se re-ferem à possibilidade de:

Redução de consumo de materiais de tratamento ■

para o desaguamento do lodo Aumento na remoção de matéria orgânica no de- ■

cantador primário, aumentando a capacidade da ETE na fase secundária Minimização de investimentos e custos operacionais ■

Aproveitamento da mão de obra especializada da ■

operação da ETE.Ressalta-se que a Lei Estadual nº 12.3009 de 16

de março de 2006 em seu Artigo 6º, inciso II, classifica os lodos gerados em ETEs e ETAs como resíduos sóli-dos, não permitindo o seu lançamento em “sistemas de redes de drenagem de águas pluviais, de esgotos, de eletricidade, de telecomunicações e assemelhados” (Artigo 14, inciso V). O texto da lei pode gerar inter-pretações diversas.

A Sabesp também está estudando em conjunto

com a Prefeitura Municipal de São Paulo, a possibi-lidade de mistura do lodo de ETA com resíduo sólido inerte, oriundo da construção civil, para recuperação de áreas degradadas, erosões e cavas de mineração.

disPOsiÇÃO FinaL dO LOdO dE EtEUm dos grandes problemas ambientais verificado

nos grandes centros e em cidades de médio porte se refere à disposição final do lodo gerado pelos sistemas de tratamento de esgotos. Seja qual for a alternativa adotada para o tratamento, todos os processos co-nhecidos geram lodo, seja em regime constante, seja em batelada, ainda que se trate de uma “batelada de 20 anos”, como é o caso do tratamento por lagoas de estabilização, tecnologia que digere e armazena o lodo por períodos de aproximadamente 20 anos, mas que também demanda destinação final.

Quanto maior o sistema de tratamento, maior é a dificuldade para dispor o lodo gerado. A disposição dos resíduos em aterros é uma solução que pode se esgotar em função do tempo, do porte da ETE e das características locais.

A co-disposição de lodos em aterros, também é al-ternativa frágil. Recentemente foi noticiado que 1 em cada 3 aterros sanitários de cidades do Estado de São Paulo com mais de 100 mil habitantes está com a vida útil “esgotada”. (Jornal O Estado de São Paulo, 2009)10

Várias alternativas de disposição estão em estudo e em operação. Dentre elas podemos mencionar:

Disposição de lodo no solo para fins agrícolas ■

Compostagem ■

Condicionadores de solo ■

Co-incineração com resíduos sólidos domésticos ■

Co-processamento em indústria de cimento ■

Aterros exclusivos ■

LEgisLaÇÃO E nOrmatizaÇÃO Para a utiLizaÇÃO agríCOLa dO LOdO dE EtE

O lodo de ETE é bastante indicado para disposi-ção no solo, sendo uma substância rica em matéria orgânica e nitrogênio, além de outros elementos que podem ser considerados micro-nutrientes para as plantas, como é o caso de alguns metais.

A disposição do lodo no solo tem sido objeto de vários estudos. Acumulamos também alguma expe-riência em escala real, e o lodo gerado em sistemas de tratamento de esgotos sanitários já foi classificado como produto e obteve a certificação do Ministério

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da Agricultura, possibilitando sua utilização agrícola como condicionador de solo.

A legislação específica, no entanto, é bastante res-tritiva. A Resolução Conama 375/0611 define critérios e procedimentos para o uso do lodo na agricultura. A referida Resolução estabelece que para essa prática, é imprescindível o processamento do lodo em Unidades de Gerenciamento de Lodo - UGLs, que deverão re-ceber, processar, caracterizar, transportar, destinar e monitorar os efeitos ambientais, agronômicos e sani-tários de sua aplicação em área agrícola.

Atualmente, no âmbito estadual, encontra-se em fase de discussão junto ao órgão ambiental, o proce-dimento para a obtenção do licenciamento de UGLs. Esse processo de licenciamento não poderá se tornar outro agente limitante da disposição do lodo na agri-cultura, que já é pouco utilizada em virtude das eleva-das exigências de qualidade requeridas, ressaltando-se que a própria UGL já é por si mesma, uma exigência bastante restritiva.

Não é aceitável que, sob a ótica do controle da poluição, a utilização agrícola do lodo se torne uma

alternativa remota de disposição final. É preciso tra-balhar no sentido de viabilizar o aproveitamento dos benefícios advindos dessa prática, largamente uti-lizada desde tempos remotos, e que nos dias atuais é sustentada por estudos e critérios que introduzem segurança a esse procedimento.

gEstÃO PúbLiCa intEgrada dOs rEsíduOs

A disposição do lodo em aterros sanitários é alter-nativa que também gera inúmeras discussões. Para as prestadoras de serviços de saneamento, ter dentre as opções de destinação final do lodo um aterro sanitá-rio em condições de recebimento, confere segurança ao processo operacional, uma vez que esses aterros são unidades projetadas para minimizar os impactos ambientais, utilizando os princípios da engenharia em sua concepção.

A redução da utilização de aterros para destinação de resíduos e a busca por alternativas ambientalmen-te adequadas e sustentáveis para o seu tratamento e destinação final, configuram-se como uma tendên-

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cia mundial. Porém, existe um importante fator a ser considerado no caso do saneamento, que se refere à produção de chorume pelos aterros e de lodo pelas ETEs, e à necessidade de se dar o tratamento adequa-do a esses resíduos.

Uma alternativa oportuna é a modalidade de troca de “chorume por lodo” entre as estações de tratamen-to de esgotos e os aterros sanitários. Essa prática pode representar ganhos operacionais, ambientais, econômi-cos e operacionais significativos, desde que praticados a partir de critérios técnicos e legais específicos.

A co-disposição de lodo com o lixo urbano é atual-mente a principal destinação dada ao lodo gerado na Região Metropolitana de São Paulo. O chorume gerado nos aterros é encaminhado para as estações da Sabesp.

O sistema público de tratamento possui uma boa flexibilidade no tratamento em virtude da grande diluição do chorume pelos esgotos sanitários. Desta forma, há um grau para o qual o chorume afluente pode ser admitido sem perturbar o processo de tra-tamento de esgotos em andamento. Vários autores têm determinado experimentalmente a proporção de

chorume que pode ser tolerada numa ETE sem causar a deterioração da qualidade do efluente da ETE.

Em vista disso, considera-se recomendável a re-alização de estudos de viabilidade de “troca de cho-rume por lodo”, considerando as cargas provenientes do chorume nos projetos de estações de tratamento de esgotos e contemplando o recebimento dos lodos das ETEs na concepção dos aterros. Esta também deve ser uma das múltiplas soluções a serem consideradas.

Esses estudos irão possibilitar que se tenha uma visão abrangente e integrada do saneamento, trans-formando efetivamente o chamado “ciclo do sanea-mento” em um “ciclo virtuoso”.

EVOLuÇÃO tECnOLógiCa, POLítiCa ambiEntaL E PLanEJamEntO urbanO

Para o equacionamento da disposição final de lo-dos ainda temos muito a aprender. As universidades e institutos de pesquisa precisam desenvolver estu-dos de bancada, buscando a evolução tecnológica. Também precisam estimular as operadoras e agências

Filtro Prensa

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ambientais à pesquisa operacional, voltada para a adoção de tecnologias diversificadas e adequadas aos diversos ambientes que compõem o estado e o país.

Não existe solução única para o destino final dos lodos de ETAs e ETEs, já é uma lição aprendida! O que se deve buscar, sem dúvida alguma, são soluções múl-tiplas que suportem em conjunto e com longevida-de a destinação final e os usos benéficos dos lodos. Trata-se de mudança de postura e de posicionamento técnico e até jurídico-legal.

Ainda que os aterros sanitários se configurem numa alternativa de disposição final ambientalmen-te segura, é ilusão acreditar que eles sejam a solução única e definitiva para o problema.

As soluções diversificadas e múltiplas nos levarão a condições de independência tecnológica e princi-palmente de versatilidade e flexibilidade operacional. Uma lição antiga que já deveríamos ter aprendido com o dito popular: ”não se deve carregar todos os ovos em um único cesto”!

A Política de Meio Ambiente vigente na Sabesp está voltada para direcionar a atuação da Empresa considerando o meio ambiente de forma sistêmica, a partir da adoção de uma série de novas condutas, visando a utilização sustentável dos insumos naturais e energéticos.

Porém, não é o bastante. O encaminhamento da questão ambiental só irá atingir patamares mais ele-vados a partir da articulação entre os vários setores de desenvolvimento urbano, e a destinação dos resíduos gerados pela atividade humana é um fator chave para o planejamento ambiental e a gestão das cidades.

Essa integração é fundamental para a promoção gradativa de melhorias ambientais, de saúde e de quali-dade de vida, contribuindo também para a responsável, eficiente e eficaz prestação de serviços públicos.

rEFErênCias COnsuLtadasBRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e 1. Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Síntese de Indicadores Sociais. Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira. Rio de Janeiro, 2008.[Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007].BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional 2. de Saneamento AMBIENTAL. Programa de Moderni-zação do Setor Saneamento – PMSS. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2007. Parte 1. Texto.

Visão Geral da Prestação de Serviços. Brasília, 2009.BRASIL. PNUD. Entrevista. “Falta de regras prejudica 3. o Brasil”. Disponível em <http://www.pnud.org.br>. Acesso em 2009, abr.PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Wiki. Comitê de Organi-4. zação da Informação. Disponível em: <http://wikicoi.planalto.gov.br/coi/Acesso_Direto/EmDestaque/Te-mas/Saneamento_set08.pdf>. Acesso em: abr, 2009.Um planeta em busca de água potável. O Estado de 5. São Paulo. São Paulo, 2008 mar 20. Caderno Espe-cial, p. H1.BRASIL UNICEF. Fundo das Nações Unidas para a In-6. fância. Situação Mundial da Infância 2008. Caderno Brasil. Brasil (DF), janeiro de 2008. Disponível em <http://www.unicef.org/brazil/pt/cadernobrasil2008.pdf>. Acesso em: abr, 2009.INSTITUTO DE ENGENHARIA. Relatório de conclusões. 7. Lodos de estações de tratamento de água. Morita, D.M. (red.). São Paulo, 2008TSUTIYA,M.T. Seminário sobre disposição de lodos. 8. Transporte de Lodo de ETA em Coletores de Esgo-to de Franca. Sabesp, dezembro, 2006. [Documento Interno].SÃO PAULO (Estado). Lei Estadual nº 12.300 de 16 de 9. março de 2006 Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e define princípios e diretrizes. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, 17.mar.06. TOMAZELA. J.M. 1 em cada 3 aterros sanitários do inte-10. rior de São Paulo está esgotado. O Estado de São Paulo. São Paulo, 2009 mar 15. Cidades – Metrópole, p. C4.BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CO-11. NAMA nº375 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambien-tais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasí-lia, DF, 18 mar. 2005.

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Celso sChneider & mara salvador

prodUtos bioLógicos em tratamentos de eFLUentes: soLUção econômica e amiga do ambienteindústrias dE VÁriOs sEgmEntOs POdEm sE bEnEFiCiar dE PrOdutOs dE QuaLidadE, aPLiCadOs dE manEira COrrEta E CustOmizada

Os produtos biológicos para tratamento de efluentes representam uma grande evolu-ção para a indústria e saneamento básico. Eles evoluíram e a forma de aplicá-los também. Nos últimos cinco anos, houve avanços expressivos na concentração de microorganismos existen-tes nestes produtos - nos melhores do mercado, a concentração é superior a 3 bilhões de UFCs por grama. É relevante também a quantidade de microorganismos que entra em atividade com o desenvolvimento dos micronutrientes - praticamente a totalidade da concentração de bactérias fica ativa, garantindo uma ação mais eficaz nos sistemas.

A confiabilidade na aplicação aumenta por-que avança a previsibilidade de crescimento dos microorganismos puros, assim como a atuação dos mesmos, o que eleva a eficiência e reduz custos das estações de tratamento. Os produtos, com atuação pontual e contínua, possibilitam reduções significativas do lodo descartado pelas ETEs. A quantidade de lodo pode cair em 50%, reduzindo os custos de descarte do lodo. A apli-cação dos produtos, também chamados de re-mediadores, aumenta a capacidade de operação em cerca de 30%, pelo crescimento da atividade biológica proporcionada pela melhor qualidade da biota. Além destas vantagens, o uso dos pro-

Celso Schneider é Diretor Técnico

da SuperBac, com atuação nos setores

de desenvolvimen-to dos produtos e novas aplicações e de análise dos tratamentos. Há

mais de 16 anos na área, já atuou como consultor de trata-mentos de efluente na America do Sul, America Central e

Ásia. E-mail: celso@super-

bac.com.br

Mara Eliza Pereira Salvador é gerente ambiental da Lequip, bióloga

especialista em Poluição Ambien-tal, pela Universi-

dade de São Paulo (USP). Atuou por

20 anos na Cetesb, onde “desenvolveu

e implementou ferramentas para

avaliação da quali-dade das águas

do Estado de São Paulo, tornando-se

uma das autoras do Índice de Pre-servação da Vida

Aquática (IVA)”. E-mail: mara.eliza@

lequip.com.br

visão de merCado

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visão de merCado

dutos biológicos pode ainda reduzir a necessidade de energia elétrica, eliminar camadas de gorduras e óleos e melhorar atividade e queimas de gás em bioreatores, solucionando diversos problemas das plantas de tra-tamento ou efluentes de difícil degradação.

O aumento na eficiência de redução de carga or-gânica está sempre presente, porém em ETEs que já tenham uma grande eficiência neste item o uso dos produtos tem maior vantagem na redução de outros parâmetros e custos.

O cuidado na escolha, porém, é fundamental, uma vez que nem todos os produtos existentes no mercado têm qualidade. É preciso ter laudos comprobatórios de concentrações de microorganismos, de ausência de patogenias e toxicidade, além do suporte técnico oferecido pela empresa fornecedora, aliás a aplicação correta é uma das chaves do sucesso na aplicação dos remediadores biológicos, e somente técnicos capaci-tados podem prover a melhor maneira de utilização destes produtos. Produtos e profissionais confiáveis produzem resultados esperados e positivos.

A questão do custo deve ser objeto de atenção: se o produto não funcionar de maneira otimizada e ade-quada, ele já terá custado caro. A solução do produto biológico é vantajosa desde que resolva efetivamente o problema. Desta forma, então, a questão não é com-parar o custo por quilo, mas considerar o aumento de competitividade que os produtos gerarão no processo como um todo. Outro fator fundamental é que os pro-dutos específicos, produzidos para cada tipo de efluente e solução, conferem períodos mais curtos de adaptação aos sistemas, assim como menores tempos de resposta às necessidades e alterações das condições.

Pode-se concluir que os produtos biológicos alcançaram um estágio de muita importância nos sistemas de tratamentos de efluentes, possibilitan-do correções, reduções de parâmetros e economia. Porém é preciso ter cuidado na escolha e utilização, para que a tecnologia traga apenas vantagens aos tratamentos e ao meio ambiente.

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artigo téCniCo

Uso de biossóLidos na prodUção de mUdas para reFLorestamento de áreas degradadas

OLaVO aLbErtO PratEs saCHsEngenheiro Sanitarista pela Faculdade de Ciências Tecnológicas da PUC – Campinas (1985). Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela FAAP (1990). MBA pelo Instituto de Tecnologia MAUA (2003). Mestre em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT (2005). Professor do curso de Engenharia e Segurança do Trabalho da UNICAMP, desde 1992. Engenheiro especialista da SA-BESP desde 1986, com experiência nas áreas de planejamento, projeto, operação, administrativa e manuten-ção, trabalhando atualmente na Divisão de Operação de Água Oeste – MOEG e Diretor Cultural da AESabesp nas gestões 2005/2007 e 2007/2009.

O presente trabalho é um resumo da disserta-ção de mestrado apresentada por mim no curso de Tecnologia Ambiental do IPT cujo tema foi “Uso de biossólidos na produção de Cytharexyllum myrian-thum Cham. (pau-viola) e foi formulado a partir da necessidade de elaboração de estudos no Brasil com alto grau de confiabilidade, que apresentem soluções para a utilização de lodo provenientes de Estações de Tratamento de Esgoto - ETE.

Por intermédio de consultas a revisões bibliográ-ficas, foram pesquisados artigos sobre a utilização do biossólido como substrato ou condicionador de solo para as mais variadas culturas. Vale ressaltar que para realização deste trabalho foi imprescindível a cola-boração do biólogo Mauricio Alexandre Mennella da MA, responsável pelo viveiro de mudas utilizado, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, localizado na Reserva Florestal (RF) do Morro Grande, pertencente ao município de Cotia, na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, onde foram feitos estudos dos efeitos do uso de biossólidos na cultura de Cytharexyllum myrianthum ou pau-viola, com 252 amostras distribuídas em 6 tratamen-tos com diferentes porcentagens de biossólido (0%, 25%, 50% e 75%), na composição volumétrica do solo utilizado, mais tratamentos com nutrientes e hú-

mus, sendo as evoluções dos ensaios acompanhadas ao longo de um determinado tempo por intermédio de medidas e pesagens executadas nas plantas, além de análises de parâmetros físico-químicos dos solos, húmus e biossólidos que forneceram subsídios para analisar os resultados.

Os otimos resultados obtidos com o uso de biossó-lido para esta espécie de planta, nas concentrações de (25%,50% e 75%), levam a acreditar que esta é uma alternativa viável a disposição final de lodos, desde que sejam tomadas as medidas legais exigidas.

1. usO agríCOLa dO biOssóLidOComo todo assunto polêmico, a seguir, o estudo

apresentará sínteses de artigos a favor e contra a prá-tica do uso agrícola do lodo de esgoto ou biossólido como alternativa de disposição final deste resíduo desde que tomados seus devidos cuidados, em subs-tituição aos aterros sanitários, que está se tornando um assunto que tem gerado inúmeros experimentos, e estes alimentados vários livros, teses, dissertações, artigos em sites, revistas técnicas que serão sintetiza-dos neste item.

“A disposição do biossólido em aterros sanitários, de forma contínua e em grande quantidade, diminuiu rapidamente a vida útil destes locais... atualmente

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existe uma tendência mundial em se priorizar alter-nativas que promovam a reciclagem do lodo” (RO-CHA, GONÇALVES, MOURA, 2004, p.624).

Exemplos em São Paulo e no Paraná apontam para a viabilidade do uso agrícola do biossólido, como con-dicionador físico e químico de solos usados em culti-vos agrícolas e florestais.

“O biossólido é usado em cultivos florestais em vários países, principalmente em regiões temperadas. Em países tropicais, seu uso ainda é restrito e pouco estudado. No Estado de São Paulo, vastas áreas desti-nadas às florestas poderiam absorver grande parte do biossólodo produzido nas ETE’s.” (ROCHA, GONÇAL-VES, MOURA, 2004, p.624).

Poggiani (2003) coordena estudos junto a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ – USP, que utilizaram lodos de ETE na forma de torta proveniente da ETE – Barueri (BAR) e pellets da ETE – São Miguel (SM) que estão sendo testados na Esta-ção Experimental de Itatinga – SP, em plantações de Pinus e Eucalyptus, com ótimos resultados.

Bettiol (2000) comenta que o biossólido de esgoto é um resíduo obtido na estação de tratamento de esgo-to e devido a isto devemos tomar um cuidado especial com o uso indiscriminado deste lodo como adubo para a lavoura, pois como o próprio autor comentou no Se-minário Gestão, Impacto e Usos de Resíduos no CREA-SP (2003), “a agricultura não é a latrina do mundo”.

Melo et al. (2005) fez estudos em culturas de café e milho utilizando biossólido oriundo da ETE – Barueri, mais Latossolo Vermelho-Escuro e Latossolo Roxo, du-rante o período de 1997 a 2004, obtendo resultados pro-missores mesmo em solos mais pobres em nutrientes.

Também segundo Marchioni Junior (1998), as do-ses de lodo de esgoto proporcionaram aumento na produção de colmos de cana-de-açucar e a produção mais alta foi observada quando se aplicou 160 Mg ha-

1. A redução da adubação mineral em 50% provocou aumento de produção de colmos, em relação à adu-bação mineral completa. Já a aplicação de 80 Mg ha-1 de lodo de esgoto teve efeito semelhante à adubação mineral completa.

A pesquisa com a utilização de lodo de ETEs, se-gundo Costa (2001), em mamoeiro é uma abordagem inédita, principalmente por se tratar de uma cultura

comercial de grande expressão no Espírito Santo, e que esta sendo cultivada em solos de tabuleiros que são, em sua maioria, arenosos, com baixos teores de matéria orgânica e pobres em nutrientes. A diferença visual na coloração das folhas (mais verdes), devido ao nitrogênio presente no lodo de esgoto, e o cresci-mento das plantas em relação às outras testemunhas que não receberam concentrações variáveis de bios-sólidos foi significativo.

Berton et al. (2005) elaborou projetos do uso de biossólido em bananicultura no Vale do Ribeira e em plantações de pupunha no litoral norte do Estado de São Paulo no período de 2001 a 2004 e para ambas as culturas mesmo com doses elevadas de biossólido, não foram observados fatores negativos nem na qualidade nem no crescimento e desenvolvimento das plantas.

Bettiol (2002) afirma que o lodo de esgoto é utili-zado como fertilizante em culturas de cana de açúcar, milho, feijão, sorgo, soja, arroz, girassol e eucalipto. Por ser rico em matéria orgânica, reduz a quantidade de fungos causadores de pragas. Porém, o lodo não deve ser usado em hortaliças e tubérculos, pois as culturas teriam contato direto com o material aplicado.

Comparini (2005), apresentou o “case” do biossó-lido chamado SABESFERTIL, produzido na ETE – Franca e que obteve registro no Ministério da Agricultura e do Abastecimento sob o nº SP – 09599 00001 – 0, em 29 de outubro de 1999, como condicionador de solo. Toda a atual produção do SABESFERTIL é utilizada em culturas de café (92%), milho e citrus nas cidades de Franca, Pedregulho, Ribeirão Corrente, Patrocínio Paulista, Restinga, Cristais Paulista, Jeriquara, Itirapuã e São João da Boa Vista.

Também temos informações de que o lodo de-sidratado na ETE de Jundiaí esta sendo utilizado em plantações de cana de açúcar na região de Capivari/SP, com muito sucesso, pois como sabemos o mesmo é rico em nitrogênio e fósforo, elementos essências para um bom desenvolvimento das plantações.

McCann (2002) revela que outros países além dos Estados Unidos e Europa estão preocupados com o que eles chamam de “Sludge: a global concern”, ou seja, lodo de esgoto uma preocupação global, visando sua utilização, relegando a um segundo plano os de-vidos cuidados legais na utilização dos mesmos.

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O artigo apresenta exemplos bem sucedidos no Bra-sil, Egito, Yemen, Taiwan e Turquia, no que diz respeito à utilização deste produto em culturas agrícolas, mas aler-ta para a necessidade do controle dos metais pesados.

Análises das amostras devem ser constantemen-te coletadas para determinarmos macronutrientes e principalmente evitar que metais pesados como Arsê-nio, Cádmio, Chumbo, Mercúrio, Níquel, Selênio, Cro-mo e Zinco, tenham parâmetros superiores aos limites de concentração de lodo permitidos para aplicação por mg/kg segundo a Standars for the Use and Dispo-sal of Sewage Sludge e NSSS – Pesquisa Nacional de Lodos de ETE nos EUA.

O CONAMA através de suas resoluções 380 de 31 de outubro de 2006 que retifica a resolução CONAMA nº375/06 – Define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e da outras providências.

2. EsCOLHa das mudasEntre as espécies de mudas florestais nativas

existentes no viveiro, foi escolhida a de pau-viola ou Cytharexyllum myrianthum (Foto 1), da família ver-

benácea, que é uma espécie pioneira de pleno sol e crescimento rápido, que possibilitou um ensaio em curto espaço de tempo.

A Cytharexyllum myrianthum, também conhecida, segundo Lorenzi (2002), como pau-viola, tucaneiro (SC), pau-de-viola (SP), tucaneira, jacareúba, baga-de-tucano, pombeiro, tarumã e tarumã-branco.

3. dEsEnVOLVimEntO dO EnsaiO EsEus substratOs

3.1. biOssóLidOsA proposta deste projeto baseia-se em um sub-

produto do lodo obtido por intermédio de um proces-so de secagem térmica, produzido no secador térmico existente dentro da Estação de Tratamento de Esgoto de São Miguel - SM que transforma a torta de lodo proveniente da Estação de Tratamento de Esgoto de Barueri – BAR, com aproximadamente 30% de mate-rial sólido (MS), em pellets, (Foto 2) com circunferên-cia média de 4 a 6 mm e MS em torno de 95%.

A capacidade atual de produção de pellets da ETE-SM é da ordem de 20 t/dia.

Foto 1 -Mudas de Cytharexyllum myrianthum ( pau-viola). Fonte: Próprio autor, (2004).

Foto 2 - Detalhe dos pellets de biossólido com diâmetro de 4 a 6 mm. Fonte: Próprio autor, (2005).

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3.2 tErra dE subsOLOTerra de subsolo também chamada de terra de bar-

ranco, muito utilizada nos viveiros de mudas da compa-

nhia, proveniente da região de Atibaia/SP cujas análises

das características físicas e químicas foram executadas

3.3 Húmus dE minHOCaHúmus de minhoca, rico em micronutrientes é

conhecido como um dos mais antigos adubos de

origem orgânica, utilizado na agricultura para me-

lhorar as características do solo para o desenvolvi-

mento das plantas.

3.4 dadOs mEtEOrOLógiCOsSegundo Minami (1995) as condições ambien-

tais afetam as funções fisiológicas até a formação

folhas e podem inibir ou reduzir o pleno funciona-

mento das mesmas.

Dados levantados das médias mensais das tem-

peraturas do ar, referentes ao ano de 2004, período

do experimento, foram obtidos junto a Estação Me-

teorológica da Universidade de São Paulo, no Ins-

tituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmos-

féricas, Seção Técnica de Serviços Meteorológicos,

localizada no bairro Água Funda na zona sul de São

Paulo, ponto este o mais próximo do local do ensaio

em situado em Cotia.

3.5 tratOs CuLturais das mudasAs mudas foram dispostas aleatoriamente nos

canteiros a pleno sol e irrigadas através de micro-

aspersores diariamente, até atingir a capacidade de

campo. As plantas daninhas foram eliminadas manu-

almente, através da monda e eliminação das folhas

basais senescentes (toalete) a cada 2 meses. As pra-

gas foram controladas através da aplicação em pul-

verização de defensivos agrícolas. Para evitar danos

às mudas numa eventual geada, tomou-se o cuida-

dos de cobrir os canteiros com filmes transparentes

de polietileno, nas noites de maior probabilidade de

ocorrência do fenômeno.

3.6 COmPOsiÇÃO dOs substratOsForam formulados seis substratos considerando

o uso do biossólido, terra de subsolo – TS e húmus

de minhoca, sendo, que se constituíram nos seguin-

tes tratamentos:

Tratamento 1 (T1) composto por 97,5% de terra

Foto 3 - Vista dos trata-mentos de 1 a 6.Fonte: Próprio autor, (2004).

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de subsolo (TS), 2,5% de húmus de minhoca, corre-ção do pH e adubação.

Obs: Segundo a formulação de Raij et al. (1997), fez-se a correção de pH do substrato do T1 com apli-cação de 110 g de calcário dolomítico com PRNT de 100% e incorporação de 35 g de cloreto de potás-sio e 77 g de superfosfato simples para cada 0,2 m3 terra de subsolo.

Tratamento 2 (T2), 25% de biossólido – BIO, (em forma de pellets, a 95% de material sólido – MS) e 75% de TS;

Tratamento 3 (T3), 50% de BIO e 50% de TS;Tratamento 4 (T4), 75% de BIO e 25% de TS;Tratamento 5 (T5), só utilizando TS; eTratamento 6 – T6, 50% de húmus e 50% TS.Em cada tratamento foram utilizadas mudas de

pau-viola, provenientes da estufa nº 1, existente no viveiro, onde foram semeadas em bandejas de polies-tireno com 128 células piramidais, contento o subs-trato comercial marca Plantmax Florestal.

O experimento teve início em 14/05/2003, com mudas de aproximadamente 5 meses de idade. Foram

Figura 4. Médias observadas em função do tempo para as variáveis (comprimento raiz, diâmetro caule, altura da planta, massa seca da raiz, massa seca da folha, massa seca do caule, massa seca da parte aérea da planta e massa seca total), para cada tratamento, na espécie Cythare-xyllum myrianthum, IPT, São Paulo, SP.Sendo:T1- composto por 97,5% de terra de subsolo (TS), 2,5% de húmus de minhoca, correção do pH e adubação.T2 -, 25% de biossólido – BIO, (em forma de pellets, a 95% de material sólido – MS) e 75% de TS;T3 -, 50% de BIO e 50% de TS;T4 - 75% de BIO e 25% de TS;T5 – terra de subsolo (TS); eT6 - 50% de húmus e 50% TS.

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transplantadas em saquinhos plásticos de polietileno de cor preta com dimensões de 20 cm de altura e 12 cm de diâmetro e capacidade de 1 L.

Estes recipientes foram distribuídos em um can-teiro, composto de 40 mudas de pau-vióla, Cythare-xyllum myrianthum.

A seguir as plantas foram separadas em 6 tra-tamentos enfileirados com os seguintes cuidados quanto à manutenção:

canteiros posicionados a pleno sol; ■irrigação diária; ■controle manual de plantas daninhas (monda); ■aplicação de defensivos adequados para controle ■de pragas;dança das plantas e “toalete” a cada 2 meses; e ■quando necessário, cobertura das plantas com te- ■lado para prevenir danos contra geada.

4.disCussõEs FinaisEmbora neste trabalho não tenha sido executado

um ensaio da viabilidade econômica do produto, Tri-gueiro e Guerrini (2003), no seu estudo comentam que quando comparando as quantidades de adubo utiliza-das nos tratamentos com biossólidos e com o substra-to comercial Multiplant para a produção das mudas, obteve-se uma economia de fertilizantes da ordem de 64% para o eucalipto e 12,5% para o pinus quando as mudas foram produzidas com biossolidos. Sugere-se maiores estudos sobre a disponibilização dos nutrientes contidos no biossólido, de forma a se atender as reais necessidades das plantas durante sua fase de viveiro, para que, assim, possam ser estabelecidos índices ainda maiores de economia de fertilizantes. Este, talvez, seja o maior atrativo ao usar biossólido como componente em substratos para produção de mudas, sem considerar o enorme benefício ambiental.

Segundo Dias (1998), o uso de biossólido na agri-cultura brasileira requer uma regulamentação para seu uso, de maneira similar como é feito, nos Estados Unidos e Comunidade Européia. Como esses produtos são fertilizantes orgânicos excelentes, a regulamenta-ção visando proteção ambiental, não precisa abordar os biossólidos sob esse prisma, visto que tais produ-tos, submetem a legislação específica do Ministério da Agricultura. Por outro lado resta a questão dos metais pesados, patógenos, transporte e outras questões es-pecífica ao assunto. A melhor alternativa parece ser a consulta a modelos de regulamentação adotada em países desenvolvidos, que tem décadas de experiência, complementada pela experiência brasileira.

Segundo Mantovi, Baldoni e Toberi (2004), os efei-tos dos usos de esgoto a longo prazo em comparação com o fertilizante mineral, comprova que o biossólio-do traz maiores benefícios mas pode causar efeitos negativos na qualidade da água devido as grandes quantidades de P e na constituição do solo com a acumulação de Zn.

Por sua vez o trabalho de Oliver; McLaughin e Mer-rington (2004), trazem os estudos comparativos dos elementos presentes nos biossólidos utilizados ao re-dor das grandes cidades australianas, durante dezoito anos de 1983 a 2001, que apresentaram melhoras sig-nificativas nas concentrações de metais pesados, com reduções de até 60% devido a melhora na qualidade dos efluentes das industrias, graças a uma política de indústrias mais limpas que poluem menos.

5. COnCLusõEs E rECOmEndaÇõEsDe acordo com as observações experimentais e as

análises dos resultados obtidos, podem ser apresenta-das as seguintes conclusões e recomendações:

O lodo de esgoto ou biossólido (BIO), de acordo com ■os resultados de campo e laboratoriais, finalizados com os ensaios de massa seca, dos tratamentos T3 (50% BIO + 50% TS) e T4 (75% BIO + 25% TS), que mostrou um potencial positivo e promissor como a melhor alternativa a substituição dos fertilizan-tes comerciais, agrícolas/florestais para a espécie Cytharexyllum myrianthum. O uso de biossólido em viveiros de mudas e áreas ■de reflorestamento é uma alternativa viável a dis-posição final de lodos, desde que sejam tomadas todas as medidas legais exigidas.São recomendáveis a elaboração de novos estudos, ■com outras espécies de plantas nativas, para confir-mar a total eficácia do substrato em questão. Além de uma ampla divulgação dos seus resultados peran-te a sociedade científica, governo e a comunidade, disseminando o uso do biossólido, um resíduo sólido que se tornou uma matéria prima de alta qualidade, um fertilizante ecologicamente correto. Os substratos com as menores produções em todas ■as variáveis consideradas foram aqueles formula-dos somente com subsolo (T5) e subsolo com cor-reção e adubação (T1).Os substratos que apresentaram os melhores resul- ■tados, foram aqueles formulados com biossólidos nas proporções de 25% de biossólido com 75% de terra de subsolo, 50% de biossólido com 50% de terra de subsolo e o com 75% de biossólido com 25% de terra de subsolo.

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intrOduÇÃOA ETE Limoeiro, localizada no município de Presi-

dente Prudente, foi inaugurada em 2004 e desde en-tão vem buscando soluções relativas ao lodo.

A questão do tratamento e disposição final do lodo não foi devidamente equacionada. O atual tra-tamento do lodo através de estabilização com cal re-sulta num produto muito fluido e de difícil manipula-ção. Para que o lodo seja manipulável, são necessárias novas extensões de área para realizar esta secagem adicional e que não foram previstas em projeto.

Devido a esta falha na técnica com a calagem, vários esforços vêm sendo realizados de forma a se estudar a compostagem como alternativa de trata-mento do lodo para disposição final agrícola.

Este estudo veio somar estes esforços de forma a aprofundar na questão de parâmetros operacionais e de projeto, de forma a subsidiar o processo de escolha de alternativas de tratamento de lodo.

1 ObJEtiVOAvaliar a compostagem como alternativa de tra-

tamento do lodo da ETE Limoeiro, tomando como pa-râmetro de comparação o método atual de calagem.

Esta avaliação foi feita com base em resultados de ensaios piloto com o lodo da ETE Limoeiro em campo experimental.

2 aLtErnatiVas dE disPOsiÇÃO FinaL dO LOdO dE EtE

A disposição final do lodo de ETE é uma tarefa fre-qüentemente desprezada na etapa de planejamento e a sua devida adequação só é feita na etapa opera-ção propriamente dita, levando a muitas dificuldades logísticas. Antigamente na etapa de projeto de uma ETE, a solução de disposição final do lodo limitava-se a uma flecha e um caminhão.

Sabe-se hoje que a fase sólida de uma ETE é res-ponsável por 40% dos custos de investimento, 50% dos custos operacionais e 90% dos problemas operacionais, conforme VESILIND (1980) apud SPELLMAN (1997).

A dificuldade da definição da disposição final esbarra também na dificuldade de se prever a qualidade do lodo e a inexistência de caracterização deste lodo, não sendo possível checar a possibilidade de disposição agrícola.

Desta forma, a primeira opção a ser levada em con-ta na etapa de projeto para disposição final do lodo deveria ser a utilização de aterro sanitário. Sabe-se, no

compostagem através de Leiras revoLvidas da ete Limoeiro/presidente prUdente como aLternativa de tratamento do Lodo

marCELO KEnJi miKi (1)Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP/EPUSP e Mestre em Engenharia Hidráulica pela e Sanitária pela EPUSP. Engenheiro do Departamento de Controle Sanitário Ambiental/ROA da Diretoria de Sistemas Regionais - R.JúLiO CHizzOLini JúniOr Engenheiro civil do Setor de Produção de Água e Tratamento de Esgotos de Presidente Prudente/RBRP9, res-ponsável pela operação da ETE Limoeiro em Presidente Prudente.FErnandO CarVaLHO OLiVEiraEngenheiro agrônomo, Mestre e Doutor pela ESALQ/USP.JOnas JaCOb CHiaradiaEngenheiro agrônomo, Mestre pela Universidade Federal de Lavras/UFLA e Doutor pela ESALQ/USP.

Endereço(1): Av. do Estado, nº 561, Unidade ROA, Prédio 3 - Bairro Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP: 01107-900 - Brasil - Tel: +55 (11) 3388-7497 - Fax: +55 (11) 3388-7477 - e-mail: [email protected]

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entanto, que muitos municípios do Estado de São Paulo não possuem aterros sanitários, o que inviabilizaria esta alternativa. Caberia desta maneira a adoção de aterros exclusivos para resolver a solução do problema de lodos na fase inicial de operação da ETE. Em segunda etapa, buscar-se-iam soluções que privilegiassem a reutiliza-ção, como por exemplo, o uso agrícola.

Para o problema de lodo da ETE Limoeiro, a etapa de curto prazo escolhida foi a implantação do aterro exclusivo de lodo. Em paralelo, estuda-se a viabilidade técnica e econômica de utilização agrícola do lodo. Para realizar este uso agrícola, o lodo deve sofrer um processo de tratamento, que pode ser tanto a com-postagem como a estabilização química com cal.

Tanto um tipo de tratamento como outro depen-dem ainda de estudos mais aprofundados para torná-lo operacional.

Este estudo procurou aprofundar mais especifi-camente a compostagem como alternativa de trata-mento do lodo para a ETE Limoeiro.

3.1 gEnEraLidadEs sObrE a COmPOstagEm

De acordo com GOLUEKE (1977) apud SPINOSA; VE-SILIND (2001) a compostagem é um método controlado de decomposição biológica dos componentes orgânicos do lodo em determinadas condições e cujo produto final pode ser manipulado, estocado e/ou aplicado ao solo sem afetar de forma adversa o meio ambiente.

De acordo com WEF (1996), os principais objetivos da compostagem são:

Conversão biológica da matéria orgânica putrescí- ■

vel numa forma estabilizada;Destruição de patógenos. O calor gerado durante ■

a compostagem resulta numa desinfecção (e não esterilização) do produto final.Redução da massa total de lodo através da remo- ■

ção de água e sólidos voláteis (embora a introdu-ção de um agente estruturante feita para facilitar o processo de compostagem possa resultar num volume maior que o original de lodo);Produção de produto final utilizável. ■

KROGMANN (2001), autor do capítulo de compos-tagem de SPINOSA; VESILIND (2001), cita as vanta-gens e desvantagens deste processo, conforme tabela 3.1. A maior vantagem da compostagem é a obtenção de um produto final de uso imediato, ou, após esto-

cagem, ser utilizado como condicionador de solo, ou como substrato de planta.

Tabela 3.1: Vantagens e desvantagens do processo de com-postagem em relação a outros tratamentos de lodo

vantagens desvantagens

Produto final estocável necessita de um teor de sólidos do

lodo entre 18 a 30%

Produto final com potencial

para venda

necessita agentes estruturantes

Pode ser combinado com

outros processos

Pode necessitar de grandes áreas

baixos custos comparados

com a incineração

altos custos em comparação com a

aplicação direta no solo

Potencial geração de bioaerosóis

Potencial geração de maus odores

Cabe em primeiro lugar definir certos conceitos utilizados na agronomia, de modo possibilitar uma visão mais clara do processo aos profissionais perten-centes a engenharia sanitária.

Os produtos derivados de lodo de ETE (como por exemplo, lodo compostado e lodo estabilizado com cal) são categorizados como fertilizantes, de acordo com a Instrução Normativa/IN nº 23, 31/08/2005, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

No artigo 1º, do Anexo I, da IN 23, tem-se a se-guinte definição:

fertilizante orgânico: produto de natureza funda- ■

mentalmente orgânica, obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias-primas de ori-gem industrial, urbana ou rural, vegetal ou ani-mal, enriquecido ou não de nutrientes minerais; E mais adiante no inciso d:lodo de esgoto: fertilizante orgânico composto, ■

proveniente do sistema de tratamento de esgotos sanitários, que resulte em produto de utilização segura na agricultura, atendendo aos limites esta-belecidos para contaminantes;No artigo 2º, do Anexo I, da IN 23, cita-se que os

fertilizantes orgânicos são classificados de acordo com as matérias primas utilizadas. E no inciso IV temos:

Classe “D”: fertilizante orgânico que, em sua produção, ■

utiliza qualquer quantidade de matéria-prima oriun-da do tratamento de despejos sanitários, resultando em produto de utilização segura na agricultura.

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Antes destas definições, o lodo de esgoto recaía na definição de corretivo, como foi o caso do registro do biossólido de Franca, realizado em 1999 e documenta-do em TSUTIYA (2001). A definição atual de fertilizante pode dar a falsa idéia de que o lodo de esgoto possui todos os nutrientes necessários para o desenvolvimen-to das plantas, erro este que não ocorria quando o lodo era categorizado como condicionador de solo.

Ainda segundo KROGMANN (2001), os custos de investimento e de operação podem ser maiores ou menores que outras formas de tratamento e disposi-ção final. As maiores desvantagens da compostagem de lodo são o possível aumento de volume devido ao acréscimo de agentes estruturantes e emissões de maus odores e bioaerosóis (partículas com bac-térias, fungos ou vírus). Devido à adição de agentes estruturantes, o volume do composto final pode ser o mesmo ou mesmo maior que o volume original de lodo. Agentes estruturantes, como o cavaco de ma-deira, são misturados com o lodo de forma a ajustar as propriedades da mistura. A adição de um agente estruturante pode ser cara caso não haja outros resí-duos disponíveis, como por exemplo, podas de árvore. Outra desvantagem da compostagem é a necessidade de grandes áreas para a sua implantação.

3.2 PrOCEssO dE COmPOstagEmNa compostagem, adiciona-se ao lodo um mate-

rial, conhecido com o nome de agente estruturante. Na realidade este termo não exprime completamente a sua função, pois além de proporcionar uma estrutu-ra à mistura com o lodo, este material tem a função de adicionar carbono para ajustar o balanço de ener-gia e a relação carbono/nitrogênio (C/N).

De acordo com KROGMANN (2001), a composta-gem pode processar todos os tipos de lodo. No en-tanto, a compostagem de um lodo não digerido tem maiores chances de desprender maus odores do que a compostagem de um lodo digerido e aproximada-mente 40% a mais de área de pátio de processo. Por outro lado, um lodo não digerido irá produzir muito mais calor e conseqüentemente um teor de sólidos final mais alto. Durante o processo de compostagem, os microorganismos degradam a matéria orgânica do lodo e, numa menor proporção, do agente estrutu-rante. Os produtos finais da degradação aeróbica são em sua maioria água, dióxido de carbono, biomassa (microrganismos) e o composto estabilizado.

De acordo com METCALF & EDDY (2003), aproxi-madamente 20 a 30% dos sólidos voláteis são con-vertidos em dióxido de carbono e água. À medida que a matéria orgânica no lodo se decompõe, o composto atinge temperaturas na faixa de pasteurização (50 a 70ºC) e conseqüentemente destruindo os organis-mos patogênicos. Na compostagem, a destruição de matéria orgânica em conjunto com a produção de ácido húmico produz o composto final estabilizado. Os microorganismos envolvidos recaem em três cate-gorias: bactérias, actinomicetos (particular grupo de bactérias) e fungos. Embora a inter-relação destas po-pulações microbiológicas não seja totalmente enten-dida, a atividade bacteriana aparenta ser responsável pela decomposição de proteínas, lipídios e gorduras a temperaturas termofílicas, assim como também pela maior parte do calor gerado. Os fungos e acti-nomicetos estão também presentes nas fases meso-fílica (abaixo de 40ºC) e termofílica (acima de 40ºC) da compostagem e aparentemente são responsáveis pela destruição de compostos orgânicos complexos e a celulose fornecida na forma de agente estruturante. Durante o processo de compostagem, são observados 3 estágios de atividade a associado à temperatura: mesofílica, termofílica e maturação conforme ilus-trado na figura 3.1. No estágio inicial mesofílico, a temperatura na pilha de compostagem sobe da tem-peratura ambiente a aproximadamente 40ºC com o surgimento de fungos e bactérias produtoras de áci-dos. A medida que a temperatura da massa de com-posto sobe para a região termofílica de 40 a 70 ºC, estes microrganismos dão lugar às bactérias termofí-licas, actinomicetos e fungos termofílicos. É na faixa termofílica de temperatura que ocorre a máxima de-gradação e estabilização de matéria orgânica. A fase de maturação caracteriza-se pela redução da ativida-de microbiana e a troca dos organismos termofílicos pelos fungos e bactérias mesofílicas. Durante a fase de maturação, ocorrerá uma evaporação adicional de água do composto, assim como o pH se estabilizará e se completará a formação de ácido húmico.

A descrição do processo de compostagem a seguir também foi retirada de METCALF & EDDY (2003).

A maior parte das operações de compostagem se-gue as seguintes etapas: 1) pré-processamento através da mistura do lodo desidratado com agente estrutu-rante; 2) decomposição a alta taxa através da aeração da pilha de composto tanto por adição de ar como por

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revolvimento mecânico; 3) recuperação de agente es-truturante (no final da decomposição de alta taxa ou na fase de maturação, se praticável); 4) maturação e estocagem, que permite uma maior estabilização e uma diminuição da temperatura do composto; 5) pós-processamento através de gradeamento para remoção de material não degradável como metais e plásticos ou ainda trituração para redução de tamanho e 6) disposi-ção final. Algumas vezes, uma porção do produto final retorna para a etapa de pré-processamento para con-dicionar a mistura do composto.

O estágio de decomposição a alta taxa vêm so-frendo melhorias de engenharia e de controle de processo devido à necessidade de redução de odores, suprimento de maiores taxas de aeração e manuten-ção de controle de processo. O processo de maturação sofre menor atenção da engenharia, menor controle e também pequena consideração nos projetos. De acor-do com HAUG (1993) apud METCALF & EDDY (2003), a maturação é parte integrante de um projeto de com-postagem e da operação, e a produção de um com-posto bem maturado depende destas considerações.

Os principais métodos de compostagem nos EUA são classificados como agitado ou estático. No método agitado, o material a ser compostado é agitado perio-dicamente para a introdução de oxigênio, para o con-trole de temperatura e para misturar o material e obter

um produto uniforme. No método estático, o material a ser compostado permanece parado e o ar é succionado através dele. A leira revolvida é o método mais comum do tipo agitado, enquanto a pilha estática é o método mais comum do tipo estático. Também há compostagem em reatores fechados com registro de propriedade.

De acordo com VESILIND (2003), o termo matu-ração refere-se à conversão dos componentes rapi-damente biodegradáveis do lodo e do agente estru-turante em substâncias similares ao húmus do solo que se decompõe de forma devagar. Um composto sem a adequada maturação irá se reaquecer e gerar odores na estocagem sob nova adição de água. Tam-bém pode inibir a germinação de sementes através da geração de ácidos orgânicos e inibir o crescimento de plantas através da remoção de nitrogênio a medida que se decompõe.

De acordo com PEREIRA NETO (2000), cita que a prática do uso de composto não maturado a partir de lixo doméstico tem levado a compostagem a gran-de descrédito, pois acreditam, erroneamente, ser este um problema associado ao uso de composto orgâ-nico proveniente da fração orgânica do lixo urbano. Na verdade, qualquer composto não maturado leva à produção de toxinas no solo, o que inibe a germinação de sementes e atrofia as plântulas, leva à liberação de amônia (que é tóxica aos vegetais) e pode provocar

Figura 3.1: Fases durante a compostagem relatadas em função da respiração de dióxido de carbono e temperatura

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artigo téCniCo

uma redução bioquímica do nitrogênio do solo, etc. Ou seja, o composto não maturado só trará malefícios aos solos e plantas.

3.3 ParÂmEtrOs dE PrOJEtO dE COmPOstagEm COm LEiras rEVOLVidas

Dentre os sistemas existentes de compostagem, damos destaque para o sistema de leiras revolvidas devido à maior experiência prática no Brasil. Foram realizados alguns testes de leira estática com o lodo de São José dos Campos, mas os testes não se mos-traram promissores devido a grande quantidade de agente estruturante a ser incorporado.

De acordo com METCALF & EDDY (2003), neste mé-todo as leiras são revolvidas e misturadas durante o período de compostagem. Sob condições típicas opera-cionais, a leira é revolvida no mínimo 5 vezes enquan-to a temperatura é mantida em temperatura igual ou maior a 55ºC. Numa leira de compostagem, as condi-ções aeróbicas são difíceis de serem mantidas ao longo da seção da leira. Desta forma, a atividade microbiana dentro da pilha pode ser aeróbia, facultativa, anaeróbia, ou várias combinações, dependendo da freqüência de revolvimento da leira. O revolvimento da leira normal-mente é acompanhado do desprendimento de odores. O desprendimento de maus odores ocorre tipicamente quando são desenvolvidas condições predominante-mente anaeróbias dentro da leira. Para realizar a mistu-ra do lodo com o agente estruturante são necessários equipamentos especialmente desenvolvidos para esta função. Em alguns casos, as operações de leira revolvi-das são feitas de forma coberta.

Os parâmetros de projeto e de operação para leira revolvida são apresentados a seguir.

Leiras de 1 a 2 m de altura e 2 a 4,5 m de largura de base;*

Tempo de detenção de 21 a 28 dias;*Tempo de cura: 30 dias**,Revolvimento mínimo de 5 vezes;*Temperatura acima de 55 º C,*Teor de sólidos inicial da mistura: 40 a 45%;*** Fonte: Wastewater engineering, Metcalf and Eddy, 2003.

** Fonte: Wastewater treatment plant design, Vesilind,

WEF, IWA, 2003.

De acordo com WEF (1998) o teor de sólidos inicial da mistura de lodo com o agente estruturante numa faixa de 40 a 45%.

3.4 VariÁVEis OPEraCiOnais As principais variáveis operacionais de um proces-

so de compostagem por leira revolvida são: umidade resultante, aeração da pilha, temperatura, relação C/N e pH (faixa ótima entre 7 e 8).

De acordo com KROGMANN (2001), a umidade é essencial para o processo de decomposição, pois a maior parte da atividade microbiana ocorre nas finas camadas de líquido situada sobre a superfície das partículas. Os microrganismos absorvem os nutrien-tes dissolvidos oriundo do substrato do composto. Durante o processo de compostagem, o conteúdo mínimo de umidade depende das demandas dos mi-croorganismos pela água, onde a máxima umidade para compostagem é determinada pela competição entre ar e água nos poros (suprimento de O2). A fai-xa mínima de umidade requerida para a degradação microbiológica ocorrer situa-se entre 12 a 25%. De acordo com a WEF (1995), a umidade inicial da mis-tura de lodo com agente estruturante deve se situar entre 55 a 60%.

De acordo com KROGMANN (2001), a aeração, além de fornecer oxigênio, tem a função de secar o composto e controlar a temperatura, que pode ser prejudicial aos microrganismos, caso não for con-trolada. No começo do processo de compostagem, a alta taxa de degradação resulta numa alta demanda de oxigênio comparada com a demanda média. Uma maior oxigenação pode ser obtida através uma fre-qüência maior de revolvimento da leira.

De acordo com KROGMANN (2001), a maior parte dos experimentos concluiu que a temperatura ótima de compostagem na fase de alta degradação é de aproximadamente 55ºC. Em temperaturas acima de 60ºC, a diversidade de microrganismos é extrema-mente reduzida. A 70ºC a atividade microbiológica total é aproximadamente de 10 -15% da atividade a 60ºC. Já entre 75 a 80ºC, não há atividade biológica significativa. Durante a maturação, a temperatura é baixa. Por exemplo, a temperatura ótima para nitrifi-cação ocorre em aproximadamente 30 ºC.

De acordo com KROGMANN (2001), a quantidade de nutrientes necessários para a compostagem depen-de da composição química dos microorganismos de-compositores e doa elementos adicionais que são en-volvidos no metabolismo. Com exceção do nitrogênio, os resíduos normalmente contém macro-nutrientes o suficiente incluindo carbono, compostos sulfurosos,

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artigo téCniCo

teor de sólidos do lodo desidratado (%)

teor de sólidos do agente estrUtUrante (%)

ProPorção volUmétriCa de agente estrU-tUrante / lodo desidratado

Função do teor de sólidos do lodo desidratado

16 55 3,3

18 55 3,02

20 55 2,75

22 55 2,47

24 55 2,2

26 55 1,92

Função do teor de sólidos do agente estruturante

20 45 8,33

20 50 4,17

20 55 2,75

20 60 2,08

Tabela 3.1: Cálculo da proporção de agente estruturante e lodo desidratadoPremissas:Teor de sólidos da mistura: 40%Massa específica da mistura: 978,95 kg/m3Massa específica do agente estruturante: 474,64 kg/m3Esta tabela aplica-se para uma pilha estática utilizando-se cavacos de madeira. A extrapolação para maiores teores de sólidos pode levar a uma insuficiência de material agregante de forma a proporcionar porosidade.Fonte: WEF (1998)

resÍdUo

estrUtUrante

Ph % ágUa sF/st (%) P % n % C % C/n

resíduos de

podas de árvore

6,9 30 9 0,09 1,1 51 46

bagaço de cana

de açúcar

3,7 20-40 3 0,1 0,20 47 235

serragem de

madeira

8,0 30 2 0,50 0,10 49 490

sabugo de

milho

7,5 10 7 0,30 0,40 46 115

Palha de trigo 7,5 6 5 0,50 0,50 43 86

Cascas de café 5,1 10 5 0,08 1,20 46 38

Tabela 3.2: Características de alguns resíduos vegetais utilizados como agentes estruturantes na compostagem do lodoFonte: PrOSAB (1999) apud Silva et Fernandes, 1998; Fernandes et Soares, 1992; Fernandes et al, 1988

Parâmetro baixo médio alto

altura (m) 0,9 1,4 2,1

base (m) 3,7 4,3 7,0

volume por comprimento (m3/m) 2,3 3,1 8,8

relação superfície/volume (m3/m2) 2,6 1,6 0,8

Tabela 3.3: Comparação entre dimensões das leiras e áreas necessárias para a compostagem, pelo sistema de leira reviradasFonte: PrOSAB (1999) apud Hay et al, 1985.

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enxofre, fósforo, potássio, magnésio, cálcio, e micro-nutrientes para manter o processo de compostagem. No começo do processo de compostagem a relação de C/N deve se situar entre 20:1 a 30:1. Muitas vezes a relação C/N é negligenciada. Uma relação C/N muito alta diminui a velocidade de degradação microbiana e uma relação C/N muito baixa resulta no despren-dimento de amônia. O método mais importante de controle desta relação é através da variação da com-posição de agente estruturante e lodo.

4 EnsaiOs utiLizadOsPara checar os valores citados na literatura, foi

realizado um teste piloto de forma a obter dados operacionais e assim confrontá-los com os de lite-ratura de forma a poder se estabelecer parâmetros específicos de projeto para o caso da ETE Limoeiro de Presidente Prudente.

4.1 LOdOO lodo utilizado foi gerado na ETE Limoeiro do mu-

nicípio de Presidente Prudente e cujo fluxograma está apresentado na figura 4.1. O lodo é do tipo secundário, gerado no tanque de aeração de um sistema de lodos ativados. No sistema existente não há decantador pri-mário e nem digestor anaeróbio de lodo. De forma a tornar o lodo menos agressivo, a ETE está operando com uma idade de lodo mais alta que a proposta origi-nalmente em projeto, em torno de 18 dias.

Para efeitos de dimensionamento, a produção de lodo adotada será de 9,2 t em base seca por dia. Este horizonte refere-se à ampliação de recebimento de vazão da ETE Limoeiro de 478 L/s prevista para chegar

neste ano de 2008. Foi adotado como regime opera-cional a idade de lodo de 12 dias.

Adotando-se um teor de sólidos da torta de 16% e massa específica de 1,1 t/m3, teremos uma produção de lodo de 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia.

4.2 bagaÇO dE CanaO bagaço de cana utilizado possuía as seguintes

características:Massa específica: 0,2 t/m3

Teor de sólidos: 70%;

4.3 tEstE PiLOtO Em Jundiaí dE sistEma dE LEiras rEVOLVidas

A metodologia operacional adotada para a reali-zação do teste de compostagem foi a seguinte.

Estabeleceu-se uma proporção inicial de volumétri-ca de bagaço/lodo. A proporção inicial adota foi próxi-ma de 1:1, o que levou a anaerobiose após 2 horas.

A segunda proporção volumétrica estabelecida foi de 2:1 e iniciou-se o acompanhamento e monitoramento.

No dia da mistura de lodo com bagaço de cana, foi revolvida a pilha duas vezes por período (manhã e tarde).

No 2º dia, a mistura foi revolvida por duas vezes, uma de manhã e outra no período final da tarde.

Do 3º dia até o 5º dia o composto foi revolvido apenas uma vez ao dia.

A partir do 6º dia até o 11º dia, o revolvimento foi feito uma vez por dia em dias alternados.

A partir do 12º dia em seguida, o revolvimento ocorreu uma vez por semana para deixar maturar.

Figura 4.1: fluxograma da ETE Limoeiro

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artigo téCniCo

4.3.1 dadOs iniCiaisa) Caracterização do lodo

Parâmetro Unidade (1) valor

ph 6,9

Umidade, a 60 - 65ºC % (m/m) 83,9

sólidos totais % (m/m) 16,1

sólidos voláteis % (m/m) 65,8

Carbono orgânico g de C/kg 386

nitrogênio Kjeldahl g de n/kg 48,5

nitrogênio, amoniacal mg de n/kg 313

nitrogênio, nitrato-nitrito mg de n /kg 11,9

alumínio mg de al/kg 9240

arsênio mg de as/kg <0,5(2)

bário mg de ba/kg 461

boro mg de b/kg 10,3

Cádmio mg de Cd/kg <0,5(2)

Cálcio g de Ca/kg 5,2

Chumbo mg de Pb/kg 4,7

Cobre mg de Cu/kg 194

Cromo mg de Cr/kg 572

enxofre g de s/kg 9,0

Ferro mg de Fe/kg 12720

Fósforo g de P/kg 10,0

magnésio g de mg/kg 2,3

manganês mg de mn/kg 78,8

mercúrio mg de hg/kg <0,5(2)

molibdênio mg de mo/kg 0,8

níquel mg de ni/kg 29,6

Potássio mg de K/kg 3350

selênio mg de se/kg <0,5(2)

sódio mg de na/kg 817

Zinco mg de Zn/kg 534

b) Lodo massa inicial: 15,5 t; ■

volume inicial: 14,1 m ■ 3

teor de sólidos: 16%; ■

SF/ST: 34,2%; ■

massa específica: 1,1 kg/L; ■

massa seca inicial: 2,5 t; ■

c) Bagaço de CanaCaracterísticas:

massa específica: 0,2 kg/L; ■

teor de sólidos: 70% ■

Para proporção aproximada de 1:1massa total: 3,2 t; ■

volume: 16 m ■ 3;

massa seca inicial: 2,2 t; ■

Para esta proporção o teste não deu prosseguimento.Para proporção aproximada de 1: 2

massa total: 5,2 t; ■

volume: 26 m ■ 3;massa seca inicial: 3,6 t; ■

Proporção volumétrica: 26/14,10 = 1,8 bagaço/ ■

lodo;Proporção em massa: 3 lodo/bagaço; ■

Proporção em massa seca: 1,4 bagaço/lodo ■

Leira Resultante de 1,1 de altura com 3,0 m de base, ■

largura do topo superior de 0,8 m e comprimento de 16 m, conforme ilustrado na figura 3.2.

4.3.2 dadOs Finaistempo de processamento: 30 dias ■

massa resultante final de composto: 6,576 tonela- ■

das (base úmida);teor de sólidos final: 70%; ■

massa específica do composto: 0,5 t/m ■ 3;volume final de composto: 13,2 m ■ 3;

De forma resumida, apresentamos a seguir a tabela 4.2 com os volumes e massas envolvidas no teste piloto.

Figura 4.2: Seção da leira inicial formada- Volume da Leira de Composto (Lodo + Bagaço)(3,0 + 0,8) x (1,10/2) x 16 = 33,4 m3

- Cálculo da massa específica resultante da mistura inicial de lodo mais bagaço:Massa total: 15,5 + 5,2 = 20,7 tMassa específica da mistura inicial: 20,7/33,4 = 0,6 t / m3

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artigo téCniCo

item massa esPe-CÍFiCa (t/m3)

teor de sólidos (%)

volUme (m3)

massa (t)

massa

seCa (t)

lodo origi-nal

1,1 16% 14,1 15,5 2,5

baga-ço d e cana

0,2 70% 26 5,2 3,6

Com-posto inicial

0,6 30% 33,4 20,7 6,1

Com-posto final

0,5 70% 13,2 6,6 4,6

Tabela 4.2: Quadro resumo de massas e volumes envolvidos

na compostagem

4.3.3 dadOs dE mOnitOramEntO dE tEmPEratura

O monitoramento da temperatura da leira foi feito em três seções e em cada seção em três pontos. Os dados monitorados estão apresentados na Tabela 4.3.

5 anÁLisE dOs rEsuLtadOs

5.1 atEndimEntO aOs CritÉriOs dE rEduÇÃO dE atratiVidadE dE VEtOrEs E rEduÇÃO adiCiOnaL dE PatógEnOs

A Resolução CONAMA nº 375 (29/08/2006) e sua respectiva alteração, CONAMA nº 380 (31/10/2006) estabelecem as condições aceitas de redução adicio-nal de patógenos (necessários para a obtenção de lo-dos de esgoto ou produto derivado tipo A) e redução da atratividade de vetores.

Tabela 4.3: Monitoramento de temperatura na leira

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artigo téCniCo

Para compostagem por leiras revolvidas têm-se condições específicas estabelecidas nestas resoluções.

Para a redução de atratividade de vetores, tem-se a seguinte condição:

“critério 5 - relacionado à compostagem ou outro processo aeróbio: durante o processo, a temperatura deve ser mantida acima de 40º C por pelo menos 14 dias. A temperatura média durante este período deve ser maior que 45°C”.

Para a redução adicional de patógenos, tem-se a seguinte condição:

“compostagem confinada ou em leiras aeradas (3 dias a 55ºC no mínimo) ou com revolvimento das leiras (15 dias a 55ºC no mínimo, com revolvimento mecânico da leira durante pelo menos 5 dias ao longo dos 15 do processo);

O critério de redução de atratividade de vetores foi atendido através da constatação de uma tempe-ratura média na leira acima de 45ºC do 2º ao 26º dia durante 25 dias.

O critério de redução de adicional de patógenos foi atendido através da constatação de uma tempe-ratura média na leira acima de 45ºC do 3º ao 22º dia durante 20 dias.

A fase mesofílica (acima de 40 ºC) foi extremamen-te rápida, ocorrendo em menos de 12 horas da monta-gem da leira. Até o fim do experimento a temperatura permaneceu na fase termofílica (acima de 40ºC).

Desta forma, o processo adotado atendeu aos cri-térios estabelecidos pela Resolução CONAMA.

Um aspecto que merece ser levantado refere-se à ênfase dada a questão de higienização do composto pela Resolução nº 375 (29/08/2006) e a total ausência de requisito operacional na questão de maturação do composto. Se for levada em conta apenas a etapa de higienização, a demanda de área será menor em re-lação à demanda conjunta de higienização e matura-ção. No entanto esta demanda não chega a ser o do-bro da área, conforme vai ser calculado mais a frente. Na fase de maturação, parte da matéria orgânica já terá sido convertida em gás carbônico, diminuindo-se o volume e as pilhas podem ser feitas com alturas bem maiores que as da fase de higienização.

5.2 CHECagEm da PrOPOrÇÃO C/nA relação C/N deve ficar entre 20 a 30%. A che-

cagem foi feita tanto para a proporção volumétrica (lodo/bagaço) inicial de 1: 1 como de 1: 2.

a) proporção volumétrica aproximada de 1: 1Lodo: C = 38,60%; N = 4,85%Bagaço de Cana: C = 45,30%; N = 0,30%;Massa seca de lodo (t) = 16% x 15,5 t = 2,5 tMassa seca de bagaço de cana (t) = 70% x 3,2 = 2,2 tC/N = (2,5 x 38,60% + 2,2 x 45,30%) / (2,5 x 4,85%

+ 2,2 x 0,30%) = 15Ou seja, a proporção de 1:1 não atendeu ao cri-

tério C/N.b) proporção volumétrica aproximada de 1 (lodo):2

(bagaço)Massa seca de lodo (t) = 16% x 15,5 t = 2,5 tMassa seca de bagaço de cana (t) = 70% x 5,2 = 3,6 tC/N = (2,5x 38,60% + 3,6 x 45,30%) / (2,5 x 4,85%

+ 3,6 x 0,30%) = 20O valor de C/N de 20% foi bem no limite inferior

da faixa recomendável. Podemos considerar aceito, pois a operação foi satisfatória com relação à tempe-ratura atingida na leira.

Outra questão interessante a ser abordada é a influência do teor de sólidos na proporção C/N, para uma mesma proporção volumétrica de bagaço/lodo.

Caso a fase de desidratação de lodo apresentasse valores maiores ou menores que o desempenho atu-al de 16% de teor de sólidos da centrífuga, podemos calcular, para uma mesma proporção volumétrica de bagaço/lodo, os diferentes valores de C/N.

Podemos observar que a relação C/N fica prejudica-da quanto maior for o teor de sólidos do lodo original. Ou seja, quanto maior o teor de sólidos do lodo original, maior será a dosagem de bagaço de cana em proporção volumétrica, de modo a preservar a relação C/N.

Por outro deve-se ressaltar que há um limite ope-racional do baixo teor de sólidos do lodo de forma a resultar numa pilha com aeração. Para o teor de sólidos de 16% foi ainda possível montar uma pilha aerada.

5.3 CHECagEm dO tEOr dE sóLidOs da mistura iniCiaL dE LOdO dEsidratadO + agEntE EstruturantE

O teor de sólidos da mistura resultante deve ser entre 55 e 65%. A checagem também foi feita tanto para a proporção volumétrica (lodo/bagaço) inicial de 1: 1 como de 1: 2.a) proporção volumétrica aproximada de 1: 1massa inicial de lodo: 15,5 tmassa seca de lodo: 2,5 t

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artigo téCniCo

teor de sólidos do lodo: 16%massa de bagaço: 3,2 tmassa seca de bagaço: 2,2 tteor de sólidos do bagaço: 70%massa total de lodo e bagaço: 18,7 tmassa seca de lodo e bagaço: 4,7 tteor de sólidos da mistura de lodo e bagaço: 4,7/18,7 = 25%Não atendeu ao critério de teor de sólidos entre 45 a 40.b) proporção volumétrica aproximada de 1: 2massa inicial de lodo: 15,5 tmassa seca de lodo: 2,5 tteor de sólidos do lodo: 16%massa de bagaço: 5,2 tmassa seca de bagaço: 3,6 tteor de sólidos do bagaço: 70%massa total de lodo e bagaço: 15,5 + 5,2 = 20,7 tmassa seca de lodo e bagaço: 2,5 + 3,6 = 6,1 tteor de sólidos da mistura de lodo e bagaço: 6,1/20,7 = 29%

De acordo com o critério de umidade, o teor de sólidos da mistura de 29% não atendeu a faixa re-comendada de teor de sólidos entre 45 a 40%. No entanto, este teor de sólidos baixo não prejudicou o processo de compostagem e possibilitou uma estru-tura na pilha com a criação de poros suficientes para permitir a aeração. Isto foi devido ao tipo de agente estruturante utilizado (bagaço de cana), bem como do adequado ajuste da máquina de revolvimento de leira e sua adequada operação.

Podemos considerar, para este caso, que a relação C/N seria o fator mais limitante que a o teor de sólidos da mistura inicial resultante.

5.4 aumEntO Ou diminuiÇÃO dO VOLumE E da massa na COmPOstagEm

Desconsiderando a ocorrência de mudanças sig-nificativas de massa e volume na fase de maturação, podemos analisar os dados somente nesta fase de hi-gienização a favor da segurança.

O processo de compostagem apesar de incorpo-rar uma significativa parcela de sólidos secos ao lodo, não leva necessariamente a um aumento de volume ou de massa no produto final. Durante o processo de compostagem, ocorrem simultaneamente a perda de água (ou umidade) e de sólidos através da digestão da matéria orgânica com geração de gás carbônico.

Cabe observar que este balanço de massa foi es-pecífico para o lodo da ETE Limoeiro, que é um lodo do tipo secundário e digerido de forma precária. Este tipo de lodo é um dos mais difíceis de manipulação de processo. A alta proporção de SV/ST do lodo da ETE Limoeiro de 65,8% tem como conseqüência uma desidratação de lodo menos eficiente devido a alta proporção de água intra-celular. Esta estabilização deficiente também gera problemas de alta atração de vetores e odores, levando à necessidade de uma esta-bilização deste lodo.

Por outro lado esta mesma deficiência de estabi-lização favoreceu a alta reatividade do lodo com o bagaço de cana, levando-se a atingir altas temperatu-ras num curto espaço de tempo, significativa perda de massa em base seca e grande perda de umidade.

6 aVaLiaÇÃO dE CustOs OPEraCiOnais E dE inVEstimEntO

Neste item iremos avaliar os custos operacionais e de investimento para a alternativa de compostagem e de estabilização com cal.

6.1 inVEstimEntOs nECEssÁriOs Para COmPOstagEm

Para a leira inicial admitiremos as mesmas dimen-sões obtidas no teste piloto, ou seja, altura de 1,10 m, base de 3,0 m e topo com largura de 0,8 m. Admitire-mos que cada leira terá 200 m. - Comprimento da leira: 200 m;- Volume total de 1 leira: (3,0 + 0,8)/2 * 1,10 * 200 = 418 m3 por leira; - áreas de borda: 10 m cabeceira;- teor de sólidos do lodo: 16%;- produção de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;- Proporção volumétrica de bagaço de cana por lodo desidratado: 2;- teor de umidade do bagaço de cana: 30% (ou 70% de teor de sólidos);- massa específica do bagaço de cana: 200 kg/m3;- tempo de compostagem/higienização: 28 dias;- Bagaço de cana: C = 45,30%; N = 0,30%;- Lodo: C = 38,60%; N = 4,85%;- tempo de maturação: 28 dias; - Produção semanal de lodo: 7 x 52,3 m3/dia = 366,1 m3/semana x 1,1 t/m3 = 402,71 t/semana;- Necessidade semanal de bagaço de cana: 2 x 366,1 m3 = 732,2 m3/semana;

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artigo téCniCo

- Massa semanal de bagaço: 732,2 m3 x 0,2 t/m3 = 146,4 t/semana;- Adotando-se a massa específica da mistura inicial igual a 0,6 t/m3, tem-se:Massa total inicial de lodo e bagaço por semana: 402,71 + 146,4 = 549,11 t por semanaVolume total inicial de lodo mais bagaço por semana: 549,11/ 0,6 = 915,18 m3

915,18/418 = 2,2 leiras por semana ou aproximada-mente 2 leiras por semana

Área Coberta para etapa de higienização da compostagemComprimento: 200 m; Largura: 8*3,0m + 7*0,5 = 27,5 mÁrea total: 200 x 27,5 = 5500 m2;

Como as coberturas são modulares, escolheremos um tipo de módulo de forma a determinar a quanti-dade de módulos.Módulo (200 m)Módulos de: 12,8 m de largura x 5,2 m altura livre e 200 m de comprimento;Para a compostagem adotaremos inicialmente 4 mó-dulos de 200 m de comprimento.Módulos de: 12,8 m de largura x 5,2 m altura livre e 200 m de comprimento;Largura total do pátio: 4 x 12,8 m = 51,2 mLargura necessária para etapa de higienização: 8 pi-lhas x 3,0 m por pilha + 7 entre pilhas x 0,5 m entre pilhas = 27,5 m

Durante o processo de compostagem ao longo de 28 dias, irá ocorrer a transformação da matéria orgâ-nica do lodo em gás carbônico e água. Assumindo que ocorrerá uma redução de volume igual ao que ocor-reu no experimento piloto, teremos um novo volume final para maturação:- Volume inicial de lodo + bagaço de cana por sema-na: 798,7 m3

- Redução de 40% em volume;- Volume final de lodo + bagaço de cana por semana: 319,5 m3

- Volume final de lodo + bagaço de cana em 4 sema-nas: 1278 m3

Considerando uma pilha de maturação com base de 12m, base menor de 3,2 m, altura de 4,4 m e 200 m de comprimento teremos:- volume da pilha de maturação: (12+3,2) x (4,4/2) x 200 = 6688 m3;

- volume final do composto calculado de 1278 m3;- como há um volume sobrando devido a incorporação de mais 1 módulo, podemos utilizar esta área excedente para aumentar o período de maturação ou ainda utilizar esta área para estocar agente estruturante.

Para 4 módulos a largura total é de:L = 12,8m x 4 unidades = 51,2 m;L1 = largura necessária para higienização = 8 x 3 + 7 x 0,5 = 27,5 m;L2 = largura necessária para maturação = 12 m;Espaço entre L1 e L2 = 0,5 m;Borda Lateral = 51,2 -27,5 – 12 – 0,5 = 11,2 m ou 5,6m de cada lado;Cobertura do pátio de compostagem: R$ 67 / m2

Área útil de m2 = 200 x 4 x 12,8 = 10.240 m2

Custo de cobertura: 10.240 m2 x R$67/m2 = R$ 686.080

Para a operação das máquinas e dos caminhões, necessita-se uma borda lateral. Para as extremidades superior e inferior, recomenda-se uma borda de 10,0 m e para as faixas laterais uma borda de 7,0 m.

Também se necessita prever uma área de estoca-gem para o bagaço de cana, o que pode ser uma faixa lateral de 200 m por 15 m, totalizando 2500 mm2.

6.2 CustOs dE agEntE EstruturantE E dE transPOrtE FinaL Para COmPOstagEmProdução diária de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;Necessidade diária de bagaço de cana: 2 x 52,3 = 104,6 m3/dia ou 21 t/dia;Adotando-se uma redução aproximada de 15% em relação ao volume original de lodo temos:Volume de composto: 0,85 x 52,3 = 44,5 m3/dia x 30 = 1335 m3/mêsMassa específica do composto = 0,5 t/m3;Massa de composto: 667,5 t/mêsConforme levantamentos preliminares na região de Presidente Prudente, o preço do bagaço de cana é de R$ 15/m3.O custo diário de bagaço de cana será de:Custo diário de bagaço de cana: 104,6 m3 x R$ 15/m3 = R$ 1569/diaCusto mensal de bagaço de cana =R$ 47.070/mês

Foi feito um levantamento do custo de transporte do composto para uma propriedade localizada a 60 km da ETE. O preço de mercado para o transporte de

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composto com uma massa específica de 0,5 t/m3 é de R$ 0,20/km.m3. Para uma distância de 60 km resulta em R$ 12/m3 de composto.

O custo diário de transporte de composto será de:Custo diário de transporte de composto: 1335 m3/

mês x R$12/ m3 = R$ 16.020/mês.

6.3 CustO dE dOsagEm E transPOrtE FinaL da EstabiLizaÇÃO COm CaLProdução diária de lodo: 57,5 t/dia ou 52,3 m3/dia;Produção diária de lodo em massa seca: 16% x 57,5 t/dia = 9,2 t/diaDosagem de 40% de cal;Pureza da cal: 90%Preço da cal: R$ 0,37/kgTeor de sólidos final após 60 dias: 50% Massa específica após 60 dias: 1,2 t/m3

Massa diária de cal utilizada: 9,2 t x 40% = 3,7 t de cal pura = 4,1 t de cal/dia Massa seca total inicial: 9,2 t + 4,1 t = 13,3 t/diaCusto diário da cal: 4,1 t/dia x R$370/t = R$ 1517 por dia = R$ 45.510 por mês Transporte diário de lodo + cal Massa final após 60 dias a 20%, conforme PEGORINI ET AL( 2006): 13,3/0,20 = 66,5 toneladas por dia ou 1995 t/mês ou 1813 m3/mês

O custo de transporte de lodo até uma proprie-dade agrícola é de R$ 0,42/m3 km, conforme último contrato estabelecido na ETE Limoeiro. Para uma pro-priedade localizada a uma distância de 60 km, tere-mos um preço de R$ 25,20/m3.

Custo do transporte por mês:= 1813 m3/mês x R$25,20/m3 = R$ 45.687,60

por mês

6.4 inVEstimEntO Para rEVOLVimEntO dO LOdO COm CaL

Para tornar o lodo manipulável necessita-se dis-por este lodo em estufa e provocar periodicamente um revolvimento.

Foi feito uma tentativa de revolver o lodo com cal através do equipamento enleirador. Ao se dispor o lodo no pátio, o lodo apresentou uma consistên-cia muito fluida e com extrema dificuldade de formar pilhas. A lâmina de lodo formada foi extremamente baixa, demandando muita área para manipulação.

Uma possível explicação para a ocorrência deste lodo extremamente fluido pode ser dada à reação de um material extremamente úmido com uma grande quantidade de cal, o que poderia levar à incorporação de uma grande quantidade de gases devido a reação exotérmica. Ou seja, a fluidez do lodo calado seria ini-cialmente devido a quantidade de gases dissolvidos na massa de lodo mais cal.

Esta fluidez excessiva dificulta a manipulação deste lodo da ETE Limoeiro. Há a necessidade de se pesquisar novas formas de tornar este lodo mais manipulável.

Uma alternativa de curto prazo para o pós-tra-tamento do lodo com cal é a disposição temporária no aterro exclusivo de resíduos da ETE Limoeiro (em forma de lagoas), de forma a permitir a um aumento no teor de sólidos e torná-lo mais manipulável.

Apesar de, na prática, não se conseguir realizar este revolvimento com o equipamento enleirador, ire-mos adotar uma espessura de lodo no pátio de 30 cm para efeitos comparativos. O tempo de detenção a ser adotado será de 60 dias.

De acordo com o IAP a área necessária para esto-cagem de lodo deve ser dimensionada em função da capacidade de empilhamento do material. Podem ser utilizados como parâmetros de projeto:

Para biossólidos que tenham “comportamento se- ■

melhante ao de sólidos” (teor de ST igual ou supe-rior a 40%): 1,50 a 0,80 m3 de biossólidos/m2 de área de armazenagem;Para biossólidos na forma pastosa (teor de ST su- ■

perior a 10% e inferior a 30%) recomenda-se 0,80 a 0,40 m3 de biossólidos / m2 de pátio;Para os “biossólidos mais líquidos” (teor de ST < ■

10%) o projeto deverá definir especificamente a forma de armazenagem a ser adotada.Desta forma a área necessária será de:

- teor de sólidos inicial da mistura lodo + cal: = (13,3)/(57,5+4,1) = 21,5%;- Massa inicial de lodo + cal: (57,5 + 4,1) = 61,6 t/dia;- Volume inicial de lodo + cal: (61,6/1,1) = 56 m3/dia;- área necessária: (56 m3/dia) x 60 dias/0,30 m = 11.200 m2;

Custo estimativo do pátio de calagem:. 11.200 m2 x R$ 67 / m2 = R$750.400;

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6.5 CustOs OPEraCiOnais dOs EQuiPamEntOs

Não foi possível a obtenção dos custos operacio-nais de equipamentos para as operações de revolvi-mento do lodo para compostagem e para a calagem.

A operação dos equipamentos para compostagem está bem dominada quanto à questão operacional, devido à realização dos testes piloto. Já o revolvimen-to do lodo com cal, ainda permanecem sérias dúvidas quanto a sua operação devido à falta de dados práti-cos e confiáveis.

A hipótese que iremos adotar é de que ambos os custos estejam na mesma ordem de grandeza, não prevalecendo nem uma nem outra solução.

Para efeitos de estimativa iremos adotar um preço de R$ 30.000/mês para o enleirador e o revolvedor do lodo com cal.

Este preço é aproximadamente uma vez e meia o preço de aluguel de um trator com pá carregadeira, que hoje está em R$ 20.000/mês.

6.6 CustOs OPEraCiOnais dE transPOrtE intErnO

Para calcular os custos operacionais de transporte interno, devemos retornar aos volumes originais de lodo produzido na desidratação e o lodo imediatamen-te estabilizado com cal. O transporte interno refere-se ao transporte do lodo gerado na desidratação até o pátio de compostagem ou de secagem adicional. No caso da estabilização com cal, há uma incorporação de massa logo após a desidratação neste local.

O transporte do local de desidratação até o pátio coberto deverá ser feito com os caminhões do tipo toco, que possuem uma capacidade volumétrica de m3.

Para a compostagem o volume a ser considerado no transporte interno será o próprio volume original de lodo produzido. Ou seja, o volume será de 52,3 m3/dia ou 1569 m3/mês.

Na Sabesp, o preço de transporte interno está em R$1,43/m3 para uma distância de 150 m e de R$ 5,11/m3 para uma distância de 1500 m. A distância aproxi-mada entre a desidratação de lodo e o pátio de mane-jo de lodo para compostagem ou secagem adicional é de 500 m.

Fazendo-se uma interpolação chegamos no preço de R$ 2,38/m3. Para efeitos de cálculo iremos conside-rar um preço de R$ 2,50/m3.

Custo total do transporte interno para composta-gem = R$ 2,50/m3 x 1569 m3/mês = R$3922,50 /mês

Para a estabilização com cal, o volume a ser consi-derado será o do lodo original produzido mais a dosa-gem de cal. Para efeitos de cálculo, iremos adotar que o teor de sólidos após a dosagem de cal irá passar de 16% para 21,5 % e não haverá alteração significativa de massa específica.Dosagem de 40% de cal;Pureza da cal: 90%Teor de sólidos imediatamente após a dosagem: 21,5% Massa específica após dosagem: 1,1 t/m3Massa diária de cal utilizada: 9,2 t x 40% = 3,68 t de cal pura = 4,1 t de cal/dia Massa inicial de lodo + cal: (57,5 + 4,1) = 61,6 t/dia;Produção diária de lodo: 56 m3/dia ou 1680 m3/mês;Custo total do transporte interno para calagem = R$ 2,50/m3 x 1680 m3/mês = R$4200/mês

6.7 CustOs dE mOnitOramEntOProdução mensal de composto: 667,5 t/mêsTeor de sólidos do composto de 70%Produção de composto em base seca: 467,25 t/mês ou 5607 t/anoProdução mensal de lodo estabilizado com cal: 1995 t/mês ou 1813 m3/mêsTeor de sólidos do lodo estabilizado com cal de 20%Produção de lodo estabilizado com cal em base seca: 399 t/mês ou 4788 t/ano

Tanto para um caso como para outro, a produção de lodo de esgoto ou produto derivado se situará na faixa de monitoramento bimestral estabelecida no Art. 10 da Resolução CONAMA nº 375 (29/08/2006).

O monitoramento do lodo deve incluir os seguin-tes aspectos:- potencial agronômico;- substâncias inorgânicas e orgânicas potencialmente tóxicas;- indicadores bacteriológicos e agentes patogênicos;- estabilidade.

Para o monitoramento do solo, para a produção estimada da ETE Limoeiro prevemos uma quantidade aproximada de 10 amostras por ano, o que totalizaria um custo de R$37.550/ano.

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6.7 rEsumO dE CustOsPara o horizonte de projeto de Q = 478 L/s

(2008), temos:- produção original de lodo: 57,5 t/dia ou 53,5 m3/dia, com 16% de teor de sólidos;

Na tabela 6.8 a seguir apresentamos um resumo dos custos para posterior discussão.

7 disCussÃO dOs rEsuLtadOs Para o caso da ETE Limoeiro de Presidente Pruden-

te, a compostagem apresentou vantagens econômi-cas em relação à estabilização com cal.

Para a cobertura do pátio, não houve uma dife-rença significativa de praticamente o dobro do preço de investimento da alternativa da estabilização da cal sobre a compostagem. Há ainda o problema de não se saber se esta cobertura seria o suficiente para realizar a secagem adicional do lodo com cal, devido à falta de parâmetros de projeto confiáveis.

Tendo em conta uma possível deficiência de argu-mentação devido a falta de uma informação técnica, podemos comparar os outros custos de forma a bus-car outros embasamentos.

Com relação aos transportes do produto final, quer seja interno como externo, a compostagem também apresentou vantagens. O custo de transporte total (interno e externo) para compostagem resultou em R$ 19.942,50 por mês e para a estabilização com cal resultou em R$ 49.887,6 por mês, ou seja, o transpor-te de lodo com cal representou 2,5 vezes o transporte de composto.

Já em relação ao custo de agentes adicionados (cal e bagaço de cana), não houve diferença significativa.

Os outros custos foram iguais, como monitora-mento de lodo, solo, e aluguel de equipamentos.

Esta vantagem da compostagem sobre a calagem para o caso da ETE Limoeiro foi influenciada pela ques-tão geográfica favorável, próximo a centros produtores de bagaço de cana e centros receptadores do composto e também devido ao tipo de lodo produzido. O lodo do tipo secundário resulta numa desidratação com alta umidade e uma proporção alta de SV/ST, favorecendo que se alcance altas temperaturas por um longo perío-do e conseqüentemente significativa perda de massa.

A metodologia adotada para dimensionamento do pátio de compostagem baseou-se nos resultados prá-ticos obtidos em escala piloto e devidamente otimiza-dos, com o menor consumo de agente estruturante.

Há outros fatores de difícil estimativa, mas que merecem ser citados de forma a embasar a solução adotada de compostagem para a ETE Limoeiro.

A compostagem descrita para a ETE Limoeiro ainda é passível de uma otimização operacional. Por exemplo, na questão do transporte do composto até a proprie-dade agrícola, pode-se vislumbrar uma possível eli-minação deste custo, a exemplo do que ocorreu com o emblemático caso de Franca, aonde os agricultores vinham até a ETE para buscar o lodo para as plantações de café. Como o composto possui um valor agregado maior, esta é uma possibilidade bem factível.

Ainda em relação ao transporte, a própria carreta que leva o bagaço de cana poderia ser aproveitada para levar o composto já produzido para a propriedade agrícola. Pelo menos em 50% das viagens de bagaço de cana até a ETE, estaria aberta esta possibilidade de aproveitamento de viagens, pois a proporção de bagaço de cana para lodo original é de 2:1. Nas estimativas de cálculo, por segurança não se considerou este cenário, devido à necessidade de um acerto logístico.

Em relação à aplicação agrícola há várias impli-cações logísticas a seguir listadas entre a adoção do composto versus o lodo estabilizado com cal. O com-posto apresenta uma condição bem mais favorável de manipulação, sendo perfeitamente assimilado pelos implementos agrícolas disponíveis. Já o lodo estabi-lizado com cal esta utilização ainda é incerta, sendo necessário o desenvolvimento de implementos agrí-colas. Na ETE Belém do Paraná, a companhia de sa-neamento foi obrigada a comprar equipamentos para se fazer a disposição agrícola do lodo estabilizado com cal. Esta facilidade de manipulação do composto favorece ainda mais a atratividade deste produto, de forma a potencializar que o agricultor venha a buscar o composto na própria ETE.

A utilização de um lodo estabilizado com cal tam-bém poderia limitar a aplicação numa determinada área agrícola devido à maciça contribuição de cálcio no solo. Isto poderia levar a ampliar as extensões de terra para disposição final em relação à compostagem.

8 rECOmEndaÇõEs E COnCLusõEs Para a realização de um projeto de compostagem

recomenda-se, sempre que possível, a realização de ensaios piloto com o lodo existente ou similar ao que vai ser produzido na ETE conjuntamente com o agen-te estruturante da região. Isto possibilitará a execução

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de um projeto com dados mais próximos da realidade e evitará potenciais ociosidades ou limitações.

Deve-se observar que na fase de maturação al-guns aspectos levam a um dimensionamento do pátio diferente na fase de higienização, dos quais podemos citar: menor volume de composto nesta fase devido à conversão da matéria orgânica em gás carbônico e água; teor de sólidos do composto mais alto devido ao aumento da temperatura no interior da pilhar; alturas maiores da pilha de maturação devido às proprieda-des do composto mais seco. Optou-se por incluir ex-plicitamente a fase de maturação de forma a garantir a viabilidade até a disposição final no solo propria-mente dita. Caso o dimensionamento do processo de compostagem se limitasse tão somente ao aten-dimento da legislação, a fase de maturação poderia ser descartada, pois a ênfase presente na lei refere-se à higienização do composto. Cabe recomendar ainda qual seria o tempo mínimo de maturação adequado de forma a não prejudicar o solo devido a liberação de substâncias deletérias e conseqüentemente diminuir o tamanho do galpão e custos operacionais.

A montagem inicial da leira mostrou-se crítica no processo, pois a partir daí que se criam condições para o desenvolvimento dos microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica. Para que isto ocorra é necessário que se criem condições de porosi-dade suficiente na leira de modo a torná-la predomi-nantemente aeróbia. Uma umidade excessiva da mis-tura de lodo e agente estruturante pode inviabilizar estas condições aeróbias. Outros fatores operacionais que influenciam este desenvolvimento aeróbio inicial são referentes ao equipamento enleirador. Para o caso do teste piloto realizado, o equipamento enleirador utilizado foi objeto de vários ajustes e possibilitou a execução de uma leira adequada. Outra consideração importante nesta fase inicial refere-se a um maior número de revolvimentos do equipamento enleirador na mistura inicial, propiciando uma estrutura devida-mente porosa que permitiu a sua aeração.

O processo de compostagem apesar de incorpo-rar uma significativa parcela de sólidos secos ao lodo, não leva necessariamente a um aumento de volume ou de massa no produto final. Para o estudo realizado houve uma redução de 58% de massa em relação a quantidade original de lodo.

Uma das maiores críticas em relação à compos-tagem refere-se à geração de maus odores, ocasio-

nados principalmente devido a falhas operacionais. PEREIRA NETO (2000), relatou que um dos principais entraves na operação de usinas de compostagem de lixo no país é a falta de mão de obra capacitada e raramente encontra-se coordenando uma usina de compostagem, pessoas especializadas ou treinadas para tal função. Recomenda-se que a operação de compostagem seja devidamente coordenada por um profissional treinado e capacitado, caso este tipo de tratamento seja o escolhido para a ETE Limoeiro.

O agente estruturante escolhido para a compos-tagem do lodo da ETE Limoeiro foi o bagaço de cana. Este material ainda é considerado resíduo em muitas regiões, no entanto, há indícios de que algumas usinas vêm desenvolvendo tecnologias de reaproveitamento deste bagaço de cana para geração de energia elétrica. Recomenda-se sempre a busca permanente de outros agentes estruturantes de forma a tornar a solução de-pendente de uma única matéria prima. Pode-se reco-mendar, por exemplo, a utilização de podas de árvores oriundas do trabalho das prefeituras municipais como agente estruturante. Para isto tornar-se operacional, deve-se disponibilizar uma máquina trituradora para tornar as podas de árvores em agente estruturante.

Os agentes estruturantes utilizados em composta-gem são gerados de forma sazonal. Por outro lado a produção de lodo é contínua e dificilmente pode ser acumulada por muitos meses. É muito difícil estimar a compatibilização entre a demanda e a oferta, devido a esta sazonalidade e também devido a possibilidade de se trabalhar com diferentes agentes estruturantes. Esta sazonalidade pode levar a custos operacionais flutuantes. A prática desta compostagem poderá for-necer subsídios locais para checar se esta viabilidade econômica se sustentará.

As características do lodo da ETE Limoeiro de alta umidade e de alta proporção de SV/ST tornaram a compostagem uma alternativa interessante de trata-mento do lodo. Uma recomendação que pode ser de-rivada das observações deste trabalho é checar num sistema de lodos ativados convencional (decantador primário, tanque de aeração, decantador secundário e digestor anaeróbio de lodo), a influência de “by-pass” do lodo secundário nos digestores. Este lodo secundário seria então misturado ao lodo primário (que permaneceria um tempo maior de degradação no digestor anaeróbio de lodo) e seguiria daí para a desidratação. Acredita-se que estes sólidos voláteis do

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lodo secundário favoreceriam o desenvolvimento de bactérias termofílicas na compostagem e conseqüen-temente favorecendo a destruição de organismos pa-togênicos. No entanto, deveria se fazer a checagem das dosagens de agente estruturante em função do teor de sólidos da torta resultante da mistura de um lodo secundário com o lodo primário digerido. E partir daí fazer o balanço econômico de uma possível van-tagem econômica.

Independente de a solução ser de estabilização com cal ou compostagem é necessário a instalação de um galpão de processamento de lodo. Para o caso da ETE Limoeiro, o galpão de compostagem resultou numa menor área, sendo a opção adotada para o tratamento do lodo.

Apesar da compostagem para ETE Limoeiro ser mais atraente, recomenda-se um desenvolvimento técnico em escala real para tornar o lodo estabilizado com cal mais manipulável. Uma alternativa de curto prazo para o pós-tratamento do lodo com cal é a dis-posição temporária no aterro exclusivo de resíduos da ETE Limoeiro (em forma de lagoas), de forma a permi-

tir a um aumento no teor de sólidos e torná-lo mais manipulável. Recomenda-se realizar este tipo de pós-tratamento de lodo com cal e checar as condições de secagem adicional, bem como estudar formas de se retirar o lodo destas lagoas de forma a não compro-meter a integridade física das lagoas, principalmente o fundo com impermeabilização. Desta forma haveria uma flexibilidade operacional de se trabalhar com um material ou outro, e não se criar uma dependência para uma única solução.

A solução de tratamento de lodo através da com-postagem possui o atrativo ambiental de se dar um destino adequado para 2 tipos de resíduos (lodo e agente estruturante). Já a estabilização de lodo com cal, utiliza-se um material nobre para realizar o tratamento do resíduo/lodo. Deste ponto de vista, a estabilização com cal é menos atrativa do que a compostagem. Na compostagem, o processo de mistura de 2 resíduos leva necessariamente a uma diminuição na massa final. Já na estabilização com cal, o que ocorre de fato é um aumento na massa final de resíduos.

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recicLagem de Lodo de estação de tratamento de ágUa para remoção de FósForo de eFLUente de sistema de Lodos ativados

iara rEgina sOarEs CHaOEndereço: Rua Costa Carvalho, 300-São Paulo, SP – Brasil, Telefone: (11) 3388-9422 e-mail: [email protected] Civil, especialista em controle de poluição pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Mestre em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP. Engenheira do Departamento de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica - TOD da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo – SABESP diOnE mari mOritaEngenheira Civil, doutora em engenharia hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, docente do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -USP.

tHadEu HirOsHi FErrazGraduando em Engenharia Ambiental pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -USP

O presente trabalho foi desenvolvido com o objeti-vo de avaliar a possibilidade e a eficiência de remoção de fósforo do efluente de um sistema convencional de lodos ativados (Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri) pelo lodo de uma estação de tratamento de água, que utiliza sulfato de alumínio como coagu-lante (Estação de Tratamento de Água do Alto Cotia). Para o desenvolvimento prático da pesquisa, foram realizados testes de bancada, variando o tempo de permanência do lodo nos decantadores, a dosagem de lodo, o pH da mistura, o tempo de contato e o tempo de sedimentação. Os ensaios foram realizados com lodo sem e com polímero. Obteve-se até 100% de remoção de fósforo solúvel (concentração inicial de 2,9 mg P/L), em pH de 4,5 a 6,5 com dosagem de 37 mg lodo/L, tempo de mistura de 15 minutos a 40 s-1

de gradiente, tempo de sedimentação de 30 minutos, tempo de permanência do lodo no decantador de 80 dias, sem polímero. Nestas condições, a concentração de fósforo do efluente tratado foi de 0,01mg P/L. Os resultados obtidos no presente trabalho sinalizam uma alternativa tecnológica, que pode vir a ser uti-lizada em projetos sustentáveis, em que as estações de tratamento de esgotos e estações de tratamento de água sejam planejadas de forma integrada, con-

siderando o reaproveitamento e encaminhamento do lodo de ETA como insumo a ser utilizado no fim do processo de tratamento de esgotos para remoção de fósforo do efluente final, em consonância com os conceitos de produção mais limpa.

1. intrOduÇÃOA importância da remoção de nutrientes no tra-

tamento de esgotos fundamenta-se na proteção à qualidade das águas de rios e reservatórios e por conseqüência, à biota delas dependente. Os nutrien-tes, principalmente nitrogênio e fósforo, por consti-tuírem-se em complemento nutricional usado pelos organismos aquáticos, são capazes de desencadear o fenômeno da eutrofização, caracterizado pelo cresci-mento excessivo de plantas aquáticas e proliferação de organismos com predominância de grupos algais, que causam graves conseqüências para o meio am-biente e à saúde pública.

O fósforo é considerado como o nutriente de maior importância nos fenômenos de eutrofização e têm sido o foco de atenções para a melhoria da qualidade dos corpos d’água, pois este elemento é considerado fator limitante ao desencadeamento das florações de algas, uma vez que, sendo fornecido por fontes iden-

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tificáveis, naturais ou principalmente artificiais, pode melhor ser controlado, enquanto que o nitrogênio, como pode ser metabolizado por algumas espécies de algas a partir do ar atmosférico, é de difícil controle (THOMANN; MUELLER, 1987, CARMICAEL et al 2001; CHORUS & BARTRAM,1999; HOSPER, 1998; MAAS-DAM, et al 1998; MOSS, 1998; REEDERS et al, 1998; VAN DUI et al,1998; WHO, 2003).

As conseqüências da eutrofização, para as empre-sas de saneamento básico, resultam em elevados cus-tos operacionais, tanto para a adequação da água de abastecimento como para a resolução de problemas nas estações de tratamento de água (ETAs), decorren-tes das florações de algas.

Alguns problemas operacionais detectados na operação de tratamento de águas de mananciais eu-trofizados referem-se à maior ocorrência de entupi-mento dos filtros e a conseqüente necessidade de au-mento de lavagens e de utilização de carvão ativado para remoção de gosto e odor; pré-cloração devido às maiores concentrações de matéria orgânica, o que leva à formação de compostos precursores de triha-lometanos - uma séria ameaça à saúde pública, por suas características carcinogênicas (MAASDAM, et al 1998; MOSS, 1998; HOSPER, 1998; REEDERS et al, 1998; VAN DUI et al,1998; TUNDISI, 2005).

Segundo Agujaro (2002), os problemas desenca-deados com a eutrofização dos corpos hídricos pelo lançamento de nutrientes, levam à proliferação e pre-dominância de grupos algais tóxicos, como o das cia-nobactérias. Apresenta-se na Figura 1 uma foto ilus-trativa de um trecho da represa Billings eutrofizado.

O problema torna-se especialmente preocupante, em face da potencialidade de produção e liberação de substâncias tóxicas destes organismos ao meio, com graves conseqüências para o meio ambiente e à saúde pública.

Algumas destas cianotoxinas ocasionam a morte de mamíferos por parada respiratória após poucos minutos de exposição, e têm sido identificadas como alcalóides ou organofosforados neurotóxicos. Outras atuam com menor velocidade e são identificadas como peptídeos ou alcalóides hepatotóxicos (CRUZ et al, 2002). Estas toxinas são de difícil remoção e por sua característica de persistência, podem estar pre-sentes na água mesmo após tratamento, o que pode agravar seus efeitos crônicos, reduzindo a qualidade e as possibilidades de usos (MORITA, 2004).

Com base nesses conceitos, a remoção de fósforo de efluentes de estações de tratamento de esgotos deve ser avaliada à luz de soluções tecnológicas e economicamente viáveis para o enfrentamento dos problemas ambientais, tanto em relação à disposição do lodo de estação de tratamento de água (ETA) como do lançamento de esgotos tratados.

O meio científico reconhece as vantagens da re-moção biológica de fósforo em relação ao tratamen-to físico-químico (EKAMA, G.A.et al 1984; WENTZEL, M.C et al 1990, 1991; EL-BESTAWY, E et al 2005; VAN HANDEL ; MARAIS 1999). No entanto, se por um lado, o primeiro é considerado o melhor método em rela-ção aos custos/benefícios, por outro lado, no descarte de lodo de estações de tratamento de água ETA são desprezadas toneladas de produtos químicos, que po-deriam ser recicladas e utilizadas como insumo para remoção de fósforo por tratamento físico-químico, com vantagens econômicas, já que os lodos gerados em ETAS têm elevado potencial para remoção de fós-foro por adsorção, próprio de sua composição quími-ca baseada em óxidos e hidróxidos de ferro e alumí-nio e de sua estrutura amorfa, uma característica que aumenta a área superficial dos sais de alumínio em comparação com a forma cristalina. De modo geral, os pesquisadores têm considerado que os processos de retenção de fósforo englobam os mecanismos de adsorção e precipitação, sendo os óxidos e hidróxidos de alumínio e de ferro os principais responsáveis por esses processos. (STUM, 1992; BASTA, 1996; GALLI-MORE et al., 1999; ELLIOT et al 2002; REIS, 2002).

Dessa forma, essa pesquisa teve por objetivo ava-liar a possibilidade técnica de utilização de lodo de ETA para remover fósforo do efluente final de esta-ções de tratamento de esgoto (ETE), e apresentar uma contribuição que possa vir a ser utilizada em projetos Figura 1 – Foto Aérea da represa Billings - Braço do rio Grande

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 47SaneaS

artigo téCniCo

futuros, de forma que esse subproduto das ETAs entre na ETE no fim do processo secundário, como insumo para remoção de fósforo do efluente final, em conso-nância com os conceitos de produção mais limpa.

2 – ObJEtiVOsA presente pesquisa foi desenvolvida tendo por

objetivo avaliar a possibilidade de remoção de fósforo do efluente de um sistema de tratamento biológico de esgotos convencional por lodos ativados pelo lodo de uma estação de tratamento de água, que utiliza sulfato de alumínio como coagulante;

3 – matEriais E mÉtOdOsPara o desenvolvimento prático da pesquisa, em-

pregou-se o lodo da Estação de Tratamento Conven-cional de Água do Alto Cotia, que utiliza sulfato de alumínio como coagulante, e o efluente da ETE Ba-rueri, sistema convencional de lodos ativados, ambas localizadas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), Brasil.

O lodo da ETA foi caracterizado segundo os se-guintes parâmetros: pH, fósforo solúvel e total, sólidos totais, alumínio, cádmio, chumbo, cobre, mercúrio e zinco. A coleta com amostrador de fundo, a preserva-ção das amostras e as técnicas analíticas empregadas foram as preconizadas no APHA; AWWA; WEF (2002). Além das análises físico-químicas, foram realizados ensaios de difratometria e fluorescência de raios-X no Laboratório de Caracterização Mineralógica do Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

No primeiro ensaio, a amostra de lodo, seca a 103 ± 2oC até peso constante, foi quarteada para obten-ção de uma fração de aproximadamente 20 g. Em se-guida, foi reduzida granulometricamente para aproxi-madamente mesh 200 (74 m) e uma alíquota entre 1 a 3 g foi compactada em uma cavidade de 27 mm de diâmetro por 2,5 mm de profundidade de um suporte metálico. Posteriormente, foi introduzida no difratô-metro marca Philips, modelo MPD 1.880. A identifica-ção das fases cristalinas foi feita por comparação do difratograma da amostra com o banco de dados do ICDD – International Centre for Diffraction Data.

A metodologia do ensaio de fluorescência de raios-X incluiu as etapas de secagem e quarteamento da amostra para obtenção de uma fração de aproxi-madamente 50 g; redução granulométrica para apro-ximadamente mesh 400 (37 m); compactação do pó em prensa de 20 t e introdução da amostra compac-tada no equipamento de fluorescência de raios-X.

Para a caracterização do efluente da ETE, foram

realizadas análises para a determinação dos seguintes parâmetros: DBO, fósforo total e solúvel, cádmio, chum-bo, cobre, cromo, ferro total e solúvel, manganês total, mercúrio, zinco, série nitrogenada, sulfato e sulfeto.

As amostras foram compostas de 24 horas e co-letadas com amostrador automático, preservadas e analisadas seguindo os procedimentos do APHA; AWWA; WEF (2002). Após a caracterização do lodo e do efluente, foram realizados testes de jarros para avaliação da remoção de fósforo. Para estes ensaios, foram adicionadas dosagens variadas de lodo nos jar-ros de dois litros de volume útil (figura 2), ajustados os valores de pH, misturados os conteúdos a 40 s-1 de gradiente durante diferentes tempos de mistura e deixados em repouso para sedimentação. Decorridos os tempos pré-estabelecidos de sedimentação, foram coletadas amostras dos sobrenadantes e determi-nadas as concentrações de fósforo solúvel, através do método do ácido ascórbico, constante no APHA; AWWA; WEF (2002)

As condições operacionais avaliadas foram:

· Dosagens de lodo: 27, 29, 37, 39, 40, 52, 63, 65, 73, 80, 91, 100, 103, 109, 180, 213 mg/L;

· pH: 4,0 a 7,0;· tempo de permanência do lodo no decantador

da ETA: 7, 14, 21, 30, 40, 44, 80, 94 dias;· tempo de mistura: 15, 30, 240 minutos;· tempo de sedimentação: 15, 30, 60, 240 minutos.· Gradiente de velocidade: a 40 s-1

Os testes foram feitos com lodo com e sem polímero.

Figura 2 – Fotografia do equipamento do jar test utilizado nos ensaios de remoção de fósforo com lodo de ETA

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48 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

artigo téCniCo

4. rEsuLtadOs

4.1 CaraCtErístiCas dO LOdO da Eta dO aLtO COtia

Os resultados obtidos na caracterização das amos-tras de lodo dos decantadores da ETA do Alto Cotia são mostrados na tabela 4-1. Estes foram comparados com as características dos lodos de outras estações de tratamento de água brasileiras, que utilizam o sulfato de alumínio como coagulante.

Dos resultados mostrados na tabela 4-1, veri-fica-se que há uma ampla faixa de variação para cada parâmetro.

Segundo AWWA (1990), esta característica está relacionada à operação da ETA e às características da água bruta, que variam sazonalmente, tendo sido verificados que nos períodos de chuvas, os parâme-tros de controle de qualidade de água, como turbi-dez, apresentam elevados valores, relacionados com o escoamento superficial. Em conseqüência, são uti-lizadas maiores dosagens de sulfato de alumínio, que repercute em elevadas faixas de valores para vários parâmetros, sobressaindo-se o alumínio e os sólidos. Nesses períodos de chuva, é acrescentado ao trata-mento, polímero aniônico como auxiliar de flocula-ção, que também contribui para diferenças nas ca-racterísticas do lodo. Durante o período de estiagem,

a qualidade da água, em relação à turbidez, melhora significativamente e, em conseqüência, são utilizadas menores dosagens de produtos químicos.

Em relação ao fósforo, as grandes variações podem ser decorrentes do tempo de permanência do lodo no decantador na época da amostragem, a exemplo das concentrações de fósforo total encontradas no lodo de 2 a 20 mg/L, que correspondem a lodos com idades de 45 e 150 dias, respectivamente.

A difração de raios X mostrou que os minerais pre-sentes no lodo da ETA são: a caulinita, o quartzo e a gibbsita. A fluorescência indicou a predominância de Al2O3, Fe2O3 e SiO2. Estas características influenciam na absorção do fósforo no lodo.

4.2 – CaraCtErístiCas dO EFLuEntE FinaL da EtE baruEri

Na Tabela 4-2, são mostrados os valores médios dos diversos parâmetros determinados no efluente final da ETE Barueri no período da investigação experimental.De acordo com a tabela 4 -2, nitratos, nitritos, sulfa-tos e sulfetos, presentes no efluente da ETE Barueri, poderiam competir com o fósforo solúvel pelos sítios ativos do lodo da ETA, conforme mencionado por Stumm (1992). Entretanto, Urano; Tachikawa (1991) concluíram que esta influência só acontece em eleva-das concentrações de sulfato e nitrato.

Parâmetros Unidade eta alto Cotia(1) (2005) dados de literatura(2)

ph U ph 5,8 a 6,1 5,8 a 7,6

sólidos totais mg/l 1.114 a 25.826 1.100 a 81.575

alumínio mgal/kg 40.000 a 63.689 1.700 a 171.769

Cádmio mgCd/l 0,01 a 0,02 0,01 a 0,14

Chumbo mgPb/l <0,01 0,50 a 2,66

Cobre mgCu/l 0,1 a 0,7 0,06 a 2,06

mercúrio (µghg/l) 0,6 a 1,3 0,10 a 1,30

Zinco mgZn/l 0,1 a 0,9 0,10 a 4,25

Fósforo total mgP/l 2 a 20 2 a 34

Fósforo solúvel mgP/l 0,01 a 6,0 0,01 a 6,0

(1) Média das análises realizadas em 2005(2) Cordeiro (1993); Andrade (2005).

tabela 4-1Características físico-químicas do lodo da Eta alto Cotia e comparação com os valores encontrados na revisão bibliográfica.

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 49SaneaS

artigo téCniCo

tabela 4-3 – resultados dos ensaios de remoção de fósforo solúvel do efluente da EtE barueri, com diferentes dosagens de lodo de Eta e diversas condições operacionais

dosagem de lodo (mg/l)

tempo de perma-nência do lodo no decantador (dias)

tempo de mistura(minutos)

tempo de sedimentação(minutos)

Presença de polímero no lodo

melhores valores de ph obtidos por batelada de ensaios

máxima % de remoção de fósforo

27 40 15 30 sim 5,0 17

29 94 30 30 sim 6,0; 7,0 21

37 80 15 15 não 4,5; 5,0; 5,5 99

37 80 15 30 não 4,5; 5,0; 5,5; 6,5 100

37 80 15 60 não 4,5; 5,0; 5,5; 6,5 100

37 80 15 240 não 4,5; 5,0; 5,5; 6,5 100

37 80 30 15 não 4,5; 6,5 71

37 80 30 30 não 4,5; 5,0; 5,5; 6,0 69

37 80 30 60 não 5,0 70

37 80 30 240 não 5,0 72

40 40 15 30 sim 4,0 15

39 94 30 30 sim 4,0; 5,0; 6,0 16

52 94 15 30 não 6,0 56

52 94 30 30 sim 7,0 29

52 40 15 30 sim 7,0 23

63 94 30 30 sim 7,0 45

65 40 15 30 sim 5,0 85

73 94 30 30 sim 7,0 46

80 40 15 30 sim 6,0 57

91 40 15 30 sim 6,0 77

100 7 30 30 não 4,0 19

100 14 30 30 não 4,0 24

100 21 30 30 não 4,0 26

100 30 30 30 não 4,0 46

100 44 30 30 não 4,0 66

100 44 240 30 não 4,0 100

103 40 15 30 sim 7,0 56

109 94 30 30 sim 7,0 44

180 94 30 30 sim 6,0; 7,0 51

213 94 30 30 sim 5,0; 6,0;7,0 78

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50 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

artigo téCniCo

4.3 – rEmOÇÃO dE FósFOrO dO EFLuEntE da EtE PELO LOdO da Eta

Foram realizados 180 testes, visando otimizar as condições operacionais de forma a se obter as melho-res eficiências de remoção de fósforo. Na Tabela 4-3 são mostrados os resultados obtidos nos vários ensaios.

A tabela 4-3 indica que o lodo da ETA Alto Cotia remove fósforo do efluente da ETE Barueri. Mostra, ainda, que a máxima remoção foi obtida com 37 mg/L de lodo, 15 minutos de mistura, pH de 4,5 a 6,5, tem-po de sedimentação de 30 minutos, a 40 s-1 de gra-diente, lodo sem polímero e tempo de permanência do lodo no decantador de 80 dias. Esta alta remoção se justifica pelo fato do fósforo estar predominante-mente na forma solúvel no efluente da ETE.

Os resultados obtidos no presente trabalho corro-boram com os encontrados pelos seguintes autores:

Cornwell et al (1987) verificaram reduções de 43% na concentração de fósforo em uma ETE após o lançamento de lodo de ETA, que utilizava sulfato de alumínio como coagulante primário. Neste expe-rimento, realizado em escala real, o lodo foi lançado diretamente na entrada de uma ETE, onde o fósfo-ro está presente tanto na forma solúvel quanto na forma orgânica. Os pesquisadores observaram que a concentração de fósforo total diminuiu de 7 para 4 mgP/L. Provavelmente, esta redução se deve à parcela solúvel e não à orgânica.

Segundo Galarneau e Gehr (1999), no Canadá, a maioria das estações de tratamento de esgotos remove fósforo por tratamento físico químico com sulfato de alumínio e cloreto férrico. Devido ao fato de que várias ETEs no Quebec recebem lodo de ETA para tratamento conjunto com os esgotos domésticos e industriais, têm sido verificado, em algumas destas estações, que os pa-drões de lançamento para fósforo têm sido atendidos, sem adição de produtos químicos ou melhoria no tra-tamento biológico para remoção de fósforo.

Harri et al (2003), em experimento realizado em ETEs na Suécia, observaram aumento dos níveis de reduções de fósforo de 47 % para 57%, após recebi-mento de lodo de ETA na ETE, apesar de não ter ficado totalmente esclarecido se esse aumento na remoção era devido exclusivamente ao lodo de ETA ou a efeitos remanescentes de uma aplicação anterior de sulfato férrico em dosagens elevadas.

5. COnCLusõEsAs conclusões obtidas nesta pesquisa, para as con-

dições operacionais estudadas, foram:1. No descarte de lodo de estações de tratamento

de água – ETAs, que utilizam sulfato de alumínio, são desprezadas toneladas de produtos químicos, que po-deriam ser recicladas e utilizadas como insumo para remoção de fósforo de efluentes de estações de trata-mento de esgotos (ETEs);

2. Entre as 180 diferentes condições operacionais estudadas na presente pesquisa, a melhor eficiência de remoção de fósforo do efluente da ETE Barueri foi de 100% (concentração de fósforo inicial de 2,9 mg/L), com tempo de permanência do lodo no decantador da ETA do Alto Cotia de 80 dias, valores de pH entre 4,5 a 6,5, tempo de mistura de 15 minutos, tempo de sedimentação de 30 minutos a 40 s-1 de gradiente e sem a utilização de polímero na coagulação/flocula-ção da água bruta.

Parâmetro afluente efluente

dbo 298 53

Fósforo total 7 3

Cádmio (µg Cd/l) 6 4

Chumbo (µg Pb/l) 20 10

Cobre total (µg Cu/l) 166 39

Cromo6+ (µg Cr6+/l) 5 2

Ferro total (mg Fe/l) 4,4 0,6

Ferro solúvel (µg Fe/l) 450 120

manganês total (µg mn/l) 103 60

mercúrio (µg hg/l) 2 1

Zinco (µg Zn/l) 470 112

ntK (mg n/l) 59 20

nitrogênio amoniacal(mg n-nh3/l)

45 18

nitrato (µg n-no3-/l) 32 5740

nitrito (µg n-no2 -/l) 29 2300

sulfato (mg so42-/l) 66 56

sulfeto (mg s2-/l) 5 2

tabela 4-2Características do esgoto bruto e efluente tratado da EtE barueri no período estudado

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 51SaneaS

Fenasan 2009

XX encontro técnico aesabesp e Fenasan 2009EXPOsitOrEs JÁ LOtam a ÁrEa dE tOdO O PaViLHÃO amarELO dO EXPO CEntEr nOrtE

Promovidos há 20 anos pela Associação dos Enge-nheiros da Sabesp, o XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009 (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente), considerada a maior exposição técnica-mercadológica do setor na América Latina, serão rea-lizados em 12, 13 e 14 de agosto.

O espaço de exposição do amplo Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, em São Paulo – SP, está pratica-mente lotado, com um grande número de expositores, geralmente empresas fabricantes de equipamentos para o setor, criadoras de programas de desenvolvimento da área, prestadoras de serviços e de demais segmentos complementares à esfera do saneamento.

O clima é de otimismo, apesar do quadro econô-mico recessivo, uma vez que o saneamento é um setor que resiste à crise e conta com altos investimentos para atender a demanda de mercado: um aporte de R$ 7 bilhões, até 2010, para se manter a universalização no fornecimento de água tratada e chegar a 84% na coleta e esgoto, nos 367 municípios atendidos pela Sabesp.

Além da área da Feira, os Auditórios do Pavilhão serão permanentemente ocupados pela realização do XX Encontro Técnico da AESabesp, que já conta com mais de 100 trabalhos inscritos, de autorias de docentes de universidades, de técnicos de Compa-nhias de Saneamento de todo o País e de empresas fornecedores de peças, equipamentos e serviços de saneamento e meio ambiente, que abordarão como principais assuntos: regulação do setor, eficiência operacional, recuperação de áreas degradadas e no-vas tecnologias.

Ainda estão previstas palestras institucionais e cinco mesas redondas, com abordagem sobre os te-mas: “Equilíbrio entre o capitalismo e sustentabilida-de numa empresa - cases bem sucedidos”; “Sustenta-bilidade nas contratações de projetos, equipamentos e obras”; “Estratégias para implementação das metas

do milênio e do consumo de água”; “ A Parceria Públi-ca Privada (PPP) como alternativa para a universali-zação do saneamento básico no Brasil - apresentação de cases” e “Regulação do setor de saneamento na atualidade”.

Estima-se a presença de 13.000 visitantes na Feira, cuja entrada é gratuita, e 3.000 participantes no En-contro Técnico, cujos valores para a freqüência são:

O XX Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2009 ainda contam com os apoios institucionais das res-pectivas entidades integradas ao setor: AAPS, ABAR, ABAS, ABES, ABESCO, ABEE, ABETRE, ABCON, ABGE, ABIMAQ, ABIQUIM, ABMACO, ABNT, ABPE, ABRAMPA, ABRATT, AECESP, AIDIS, AEAARP,ANA, ASEC, CREA, CRQ-IV, FIESP, SINAENCO, SEESP e Saneamento Bá-sico, o Site.

caminho para universalização

do saneamento ambiental

Sustentabilidade

Informações

www.fenasan.com.br

Valores de inscrição do XX Encontro Técnico

Categoria Até 30/06A partir de

01/07

Associados e autores de trabalho

95,00 110,00

Congressistas 300,00 350,00

Estudantes 150,00 170,00

Obs.: associado AESABESP autor de trabalho é isento. Limitado a uma isenção por trabalho inscrito.

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52 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

Presenças confirmadas na Fenasan 2009

HIDRANTE

HIDRANTE

Planta da Fenasan - 14/11/08

Telefones

WC. Masc.WC. Fem.

Saída de emergência

WC. Masc.

WC. Fem.

H

H

Tele

fon

es

Ext.

WC

. M

asc.

WC

. F

em

.

Telefones

Obs. Contatar a organização do evento para detalhes do pavilhão (colunas,etc.).

Saída de emergência

H

H

SaídaH

En

trad

a

H

Saíd

a

WC

. Fem

.

WC

. M

asc.

Ace

sso

aos

audi

tório

s

Encontro Técnico

AESABESPLobby

Saíd

a de

em

ergê

ncia

Sala VIP

WC

Dep

ósito

Apo

io

Auditório 3

Áre

a E

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na

Auditório 4

Auditório 5

Foyer

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xter

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Auditório 2

Auditório 1

Re

serv

a t

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03

Rese

rva

técn

ica 0

2R

ese

rva

cn

ica

01

Acesso ao MezaninoRestaurante

Projeto: getulio tamada - 15.04.08atualização 9: 05.11.08 ( monique / getulio)

Projeto & Montagem

Promoção

SECRETARIA DESANEAMENTO E ENERGIA

Apoio Organização

Acesso ao MezaninoRestaurante

20 m²20 m²

28m²

Praça deConvivência

20 m²

24m²

15m²

20m²

20m²

16m²

16m²

16m²

16m² 16m² 48m²

16m²

16m² 16m²

16m²

32m²

32m² 16m²

32m²

16m²

16m² 16m² 16m² 16m² 16m² 16m²

20m² 20m²

12m²12m² 12m² 12m² 12m² 12m² 12m² 12m² 12m² 12m² 12m² 12m²

20m²

12m²12m²12m²12m²12m²

16m²

16m²

24m²

24m²

16m² 16m²

18m²

18m²

18m²

18m²

49m²

24m²

24m²

16m²

16m²

16m²

18m²

Rua 200

Rua 300

Rua 400

Rua 500R

ua

10

0

Rua 1000

Rua 1100

Rua 1200

Rua

130

0

Rua 800

201 203 205 207 209 211 213 215 217 219 221 223

202 204 206 214 216 218

303/305 313/315/317

302/304 306 314 316 318

401/403 407/409/411405 413 415/417

402 414

416

418

513107

502/601 506

510

512 514/516/518

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704 706 708710

712 714

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619 621

109

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1203

1201

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1105

1002/1101

1001

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902 904

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11071109

1005 1007

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Ru

a 1

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Ru

a 1

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a 1

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Rua 500

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508

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404 406

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41,25m² 41,25m²

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Rua 800

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12m²12m²

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Rua 900

3m

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3m

3m

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16m²

16m²

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3m

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H

HH

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18m²

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18m²

1110

18m²90518m²

903

34m²

18m²

911

18m²

913

18m²

915

28m²

515a

48m²

SABESP

156m²

12 a 14 de agosto de 2009 - Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte - São Paulo - SPRua 300

Estandes Vendidos

Estandes Reservados

Estandes DisponíveisLEGENDA:

Estandes Vendidos

Estandes Reservados

Estandes DisponíveisLEGENDA:

806

21m²

ABS

AgSolve

GlassAmitech

Analyser

GetesiBrasbom

Bugatti60m²

Caetano Tubos

C.R.I.Bombas

Danfoss

48m²

1009/1011

Digitrol

DositecBombas

1006/1008Ebara32m²

EmecEnmac

ESA

FGS Brasil

Guarujá

Helmut Mauell

Hid

rosu

l

Invel

ITT Water

Allonda

Kanaflex

Kemwater

KSB

Bom

bas

LamonProdutos

MarteBalanças

Nivetec

Plastimax

Poly Easy

48m²

1010/1012Prominas

Restor

Sampla

Amanco

SVS Selos

ChoiceVika Controls

Inte

rlab

802/901

Higra

34m²

GE Fanuc

Sondeq

1103

1004

20m²15m²

CEB

Emicol

Flui

d Fe

eder

16m²

16m²

20m²

111

113

115

Tigre

Saint-Gobain

12m²

1314

12m²

1312

36m²

301

20m²

Agrosystem

Proacqua

Exatta

DinatécnicaEb

ro-S

tafs

jo

16m²

15m²

12m²

12m²

12m²

11161213

1310

1306

12021204

1206

18m²

111418m²

1112

16m²

1211

74m²

3m

3m

2m

2m

Rua 600

Rua 700

De Nora

AVK

Hidr

oduc

til

Hidroductil

Ritmo S.p.A.

502 504 506 510 512 514/516/518508

ITT WaterGetesiSamplaAgSolve

546m²

Ilha Sindesam

Nun

es O

livei

ra

Mas

ters

erv

16m² 16m² 16m² 16m² 16m² 16m² 48m²

80,50m²

AESABESP

Ilha Sindesam

810/909

Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de ao Paulo•Abimaq – Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e •Equipamento, com a Ilha Sindesan (Sindicado Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico), formada por um “pool” de empresas que atendem o setor de saneamento. ABS Indústria de Bombas Centrífugas•Acquasan Equipamentos para Tratamento de Água e Efluentes•Aerzen do Brasil•Ag Solve Monitoramento Ambiental•Albrecht Equipamentos Industriais•Allonda Comercial de Geossintéticos Ambientais•Amanco Brasil•Amitech Brasil Tubos•Aquamec Equipamentos•Aquablue Produtos para Tratamento de Águas•Acquasan Equipamentos para Tratamento de Água e Efluentes•AVK Válvulas do Brasil•BBL Engenharia Construção e Comércio Ltda.•B&F Dias Indústria e Comércio •Bermad Brasil Importação e Exportação•Bombas Leão•Brasbom Comercial Importação e Exportação•Bugatti Brasil Válvulas•Caravela Ambiental Comércio de Equipamentos•Centroprojekt do Brasil•CMR4 Engenharia e Comércio Ltda. - Caetano Tubos•Coester Automação•Comercial Marwil•Conexões Especiais do Brasil •Continuum Chemical Latin América•C.R.I. Bombas Hidráulicas•Danfoss do Brasil Indústria e Comércio•De Nora do Brasil•Degrémont Tratamento de Águas•Digitrol Indústria e Comércio•Dinatécnica Indústria e Comércio•Dositec Bombas Equipamentos e Acessórios•Ebara Indústrias e Comércio•Ebro Stafsjö do Brasil Importação e Exportação de Válvulas•Ecosan Equipamentos para Saneamento•Edra Saneamento Básico Indústria e Comércio•Eletrônica Santerno Indústria e Comércio•Emec Brasil Sist. Tratamento de Água•Emicol Eletro Eletrônica•Enmac Engenharia de Materiais Compostos•Environquip Engenharia de Sistemas Ambientais Ltda.•ESA Eletrotécnica Santo Amaro•Exatta Precisão em Dosagem•Famac Indústria de Máquinas•Fernco do Brasil•FGS Brasil Indústria e Comércio•Fluid Feeder Indústria e Comércio•GE Fanuc do Brasil•GEA Sistemas de Resfriamento•Getesi Indústria de Equipamentos Eletrônicos e Sistemas•Glass Ind. e Com. de Bombas Centrífugas e Equipamentos•Gratt Indústria de Máquinas•Guarujá Equipamentos para Saneamento•Helmut Mauell do Brasil•Hidroductil Tubos e Conexões•Hidrosul -Máquinas Hidráulicas Hidrosul•Hidro Solo Indústria e Comércio•

Higra Industrial•Huesker•Imbil - Indústria e Manutenção de Bombas ITA•Imefer Industrial e Mercantil de Ferragens•Imperveg Poliuretano Vegetal•Interativa Indústria, Comércio e Representações•Interlab Distribuidora de Produtos Científicos•Invel Comércio Indústria e Participações•ITT Brasil Equipamentos para Bombeamento e Tratamento de Água e •EfluentesKaeser Compressores do Brasil•Kanaflex Indústria de Plásticos•Kemwater Brasil•KSB Bombas Hidráulicas•Krieger Metalúrgica Ind. e Comércio•Lamon Produtos•Máquinas Agrícolas Jacto•Mark Grundfos•Marte Balanças e Aparelhos de Precisão•Masterserv - Controle de Erosão e Comércio•Mission Ruber do Brasil•Multi Conexões Indústria e Comércio•N. Mello Comércio de Máquinas Hidráulicas •Netzsch do Brasil Indústria e Comércio•Niagara Comercial•Nivetec Instrumentação e Controle•Nunes Oliveira Máquinas e Ferramentas•Parkson do Brasil•Planthae Consultoria em Normas Técnicas•Perenne Equipamentos e Sistemas de Água•Tentcamom do Brasil•Pieralisi do Brasil•Plastimax Indústria e Comércio•Planthae Consultoria em Normas Técnicas•Poly Easy do Brasil Indústria e Comércio•Proacqua Processos de Saneamento de Efluentes e Comércio•Prominas Brasil Equipamentos•Restor Comércio e Manutenção de Equipamentos Eletromecânicos•Robuschi Pumps and Blowers•Saint - Gobain Canalização•Sampla do Brasil Indústria e Comércio de Correias•Sanemais Ind. e Com. de Tubos e Conexões•Schneider Eletric Brasil•Sondamar Poços Artesianos•Stocktotal Telecomunicações•SMV Válvulas Industriais•Sondamar Poços Artesianos•Sondeq Indústria de Sondas e Equipamentos•Soft Brasil Automação•Sparsol Indústria e Comércio de Equipamentos Industriais•SVS Selos Mecânicos•Tecniplás Tubos e Conexões•Tecnomedição Sistemas de Medição•Tigre Tubos e Conexões•Uziseal Comércio Reparos de Peças Industriais•Vibropac Indústria e Comércio de Equipamentos•Vika Controls Comércio de Instrumentos e Sistemas•Wam do Brasil Equipamentos Industriais•Wasserlink Comercial•Wastec Brasil Comércio de Produtos Químicos•Weatherford Indústria e Comércio•Weir do Brasil•

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Janeiro / fevereiro / Março | 2009 53SaneaS

“CaUsos” do saneamento

o caso do qUero-qUero ii: “o seqUestro”POr EdsOn santana bOrgEs

Quem leu meu artigo na edição anterior, sabe que contei a história do quero-quero, um pássaro que escolheu como residência o centro do tão disputado campo de futebol que ficava na regional da Mooca, sobre um reservatório, em 1991.

Desculpe-me o leitor, mas vou continuar falando daquele tempo.

Imagine na Sabesp de hoje as equipes operacio-nais indo para a rua, no seu dia a dia, com o uniforme rasgado, viaturas velhas quebrando a todo momento, sem ferramentas nem equipamentos, contratos ter-ceirizados sendo cancelados, almoxarifados vazios, treinamento zero, e o pior, aliás consequência de tudo, desmotivação geral dos funcionários.

Pesadelo? Não. Era um pouco de nossa realidade no início da década de 90. Por inconformismo, resol-vemos agir.

Com intenso trabalho do Engº Joaquim Hornink Filho, começamos a pesquisar ferramentas e equi-pamentos para o saneamento, aqui e em outros paí-ses, que devagar fomos introduzindo no dia a dia da antiga Regional Mooca, com a participação integral dos funcionários daquela unidade. Na verdade, eles tiveram total participação na implantação de tudo. Os resultados foram fantásticos!

Diante disso, elaboramos um plano de trabalho para propagar as inovações às outras unidades da RMSP, agora, já com apoio da nova Diretoria Metro-politana (M). Então, sobre o reservatório da Mooca, foi erguida uma grande tenda. As empresas que partici-param do desenvolvimento das ferramentas e equipa-mentos, ali montaram seus estandes, ao mesmo tem-po em que funcionários das outras unidades faziam visitas e recebiam treinamentos para utilização dessas novidades. Foi a primeira “Feira Técnica” realizada na Sabesp por uma unidade operacional!

Enquanto o evento transcorria, os filhotes de quero-quero passeavam sobre o gramado do campo de futebol.

Um funcionário de uma das empresas expositoras também se encantou com os bichinhos, só que fez a

grande bobagem de querer levar um deles para casa. Cuidadosamente, preparou uma caixa e, em um final de tarde, sem que ninguém visse, embalou o filhote.

Coitado! Não sabia de uma coisa – assim como os funcionários da Mooca brigavam para mudar a situ-ação em que a regional se encontrava, com grande demonstração de amor ao que faziam, os pais Quero-Quero também sabem brigar por seus filhotes. Isso tudo, sem contar do apego dos funcionários da área aos verdadeiros “Mascotinhos” da Regional.

Os pais passaram a dar “rasantes” sobre a lona da tenda, exatamente onde o filhote se encontrava, e a fazer um escândalo tão grande que era impossível, a todos os presentes não perceberem que alguma coisa de errado estava acontecendo.

Em minutos, funcionários da Mooca vasculhavam o estande indicado pelos pais zelosos. Lá estava ele.

Uma boa reprimenda no autor do sequestro, que desapareceu da área, e a volta do filhote para o con-vívio dos pais. Alegria geral!

E foi assim que o autor do sequestro aprendeu que ninguém mexe com aquilo, ou aquele, que os outros amam e fica impune.

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54 SaneaS Janeiro / fevereiro / Março | 2009

Palavra de amigo

ao grande amigo mário tinocoPOr rEnatO trabaLLi VEnEziani

Nesses vinte e sete anos de Sabesp e nessa atual fase de despedidas, na qual alguns dos nossos gran-des e velhos amigos estão entrando em um processo de retirada, eu não poderia deixar de falar de um pro-fissional, do qual tenho a honra de estar ao seu lado no dia a dia. Trata-se do Eng. Mário Pero Tinoco, que há mais de vinte anos entrou na empresa, aqui em São José dos Campos, onde conquistou vários cargos até chegar a Diretor de Planejamento. É bom ressaltar que, dentro de toda história da Sabesp, o Mário foi o único funcionário que continuou sua vida profissional dentro da Companhia após ter ocupado um cargo de diretoria. Hoje, ele é Engenheiro na área de Manuten-ção do Vale do Paraíba.

Este nosso grande amigo, seja no seu tamanho fí-sico ou no seu coração de ouro, diariamente nos traz uma lição de vida e de amizade. Para muitos que o ro-deiam na Sabesp, ele é um orientador, um articulador e principalmente um conselheiro, sempre pronto para nos dar apoio em nossos momentos de conflitos pro-fissionais e principalmente pessoais, com a habilidade ímpar de nos conduzir a uma nova visão, dentro de um horizonte maior e com mais felicidade.

Além disso tudo que ele representa aqui para os amigos do Vale do Paraíba, Mário hoje é Delegado Sindical, Diretor do Sindicato dos Engenheiros, mem-bro da Diretoria da subseção ABES do Vale do Paraíba, Conselheiro do CREA e representante da Sabesp no comitê de Bacia do Rio Paraíba do Sul. Ele é tão poli-valente, que ainda tenho certeza que me esqueci de algo, mas posso afirmar que é extremamente atuante em todas as representações citadas, sempre defen-dendo os interesses da nossa categoria e jamais o seu interesse pessoal.

Agora é hora de falar um pouco do seu “ombro amigo”, espaço onde compartilhamos nossos momen-tos de angústia, tristezas, alegrias e geralmente procu-ramos ajuda, uma palavra de carinho e, sobretudo uma orientação, coisas preciosas que nunca são negadas.

Vocês podem perceber que eu me refiro ao Mário

não só como meu amigo, mas sim como amigo de to-dos, algumas vezes até como o nosso Pai, pois é assim que sinto na convivência diária com este ser ilumi-nado, na qual não há segredos... Imaginem vocês que não temos segredos pessoais e profissionais. Bonito né? Coisa de Deus...

Também quero falar um pouco do vovô Mário, por saber o quanto os valores familiares são importantes para ele, que é um alucinado pelos seus filhos e netos, principalmente pelo netinho Breno, que está fazendo com que ele se aposente da Sabesp e de nós. Mas ele também tem um carinho especial pelo seu outro neto, Isaías, bem como pela sua amada Carminha, compa-nheira de longo tempo, que junto com ele se dedicam de corpo e alma para o bem estar da sua família.

Então, é isso, meu grande amigo! O pouco que escrevo é de coração e feito com muita emoção, na certeza de que a sua ausência na convivência diá-ria nos fará uma enorme falta. Contudo, desejo-lhe muita felicidade nesta nova etapa da sua vida. Com nós, ficarão registrados os seus grandes ensinamen-tos, que jamais serão esquecidos. Garanto que serei um batalhador para que nunca morra essa amizade, harmonia e a cumplicidade, implantada por você, que é um homem de grande valor para mim e acredito que para todos que te conheceram na Sabesp.

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A Revista saneas é uma publicação da:

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