são paulo underground – registros do graffiti de zezão
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artigo Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Referencia acadêmica e BibliografiasTRANSCRIPT
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 So Paulo Underground registros do graffiti de Zezo.1 Fernanda Romero MOREIRA2 Centro Universitrio Senac RESUMO: Este artigo pretende discutir o trabalho de graffiti realizado pelo paulista Jos Augusto Amaro Capela (Zezo) intitulado So Paulo Underground. Neste projeto Zezo procura por lugares sujos e abandonados e desce ao esgoto da cidade para grafitar. Apresenta seu graffiti como uma potica urbana e atravs da comunicao visual que expe sua crtica ao descaso da sociedade. Seu trabalho exige do espectador comum um esforo diferenciado j que oferece a busca pelo submundo. Outra forma seria apreci-lo pelas fotografias, onde na maior parte das vezes, este trabalho visto. Este artigo prope uma discusso entre a relao destas linguagens, o elo entre o graffiti na rua e sua representao fotogrfica, outra visualidade. PALAVRAS-CHAVE: Graffiti; Fotografia; Linguagem; Cidade. INTRODUO: Este artigo tem como principal objetivo a anlise de um trabalho de graffiti3 feito pelo grafiteiro Zezo. O trabalho pesquisado foi realizado nos esgotos de So Paulo e acessvel ao grande pblico apenas atravs das imagens fotogrficas. O projeto no qual este texto se apoiara se intitula So Paulo Underground. Este tem uma caracterstica muito especial por ser realizado em lugares sujos e de pouco acesso - o esgoto de So Paulo -, sendo assim, necessrio um elo entre a arte grafitada e a fotogrfica. Partindo da constatao que existe uma inteno, por parte deste grafiteiro, entre a forma de apresentao deste graffiti na rua e sua propagao atravs do suporte fotogrfico, pretende-se verificar onde e como este trabalho visto. Para isto, optamos por usar alguns endereos de acesso Internet como fotolog, flickr, Myspace e sites 1 Trabalho apresentado no GP Fotografia, IX Encontro dos Grupos/Ncleos de Pesquisas em Comunicao, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao. 2 Mestranda do Curso de Design do Centro Universitrio Senac/SP, email: [email protected] 3 Adotamos para uso neste artigo o termo graffiti (de origem italiana). Em portugus: Grafite s.f 1. Grafita. 2. Lpis pronto para desenhar. 3. (it graffiti) s.f inscrio, figura ou risco, geralmente de carter informativo, contestatrio ou jocoso, traado em monumentos ou muros. (LAROUSSE, 2004) 1
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 pessoais deste grafiteiro para a pesquisa iconogrfica. Consideram-se assim, as fotografias destes graffitis objeto deste trabalho. O graffiti comea a aparecer no Brasil em meio ditadura militar. J no final da dcada de 1970, incio de 1980, alguns nomes hoje conhecidos dentro desta histria comeam a marcar presena em So Paulo. Alex Vallauri, Carlos Matuck, John Howard e Waldemar Zaidler so pioneiros no uso do spray para desenhar e, atravs de seus trabalhos, fizeram o gosto por esta atividade aflorar. J naquela poca podamos perceber a grande combinao entre as linguagens aqui discutidas. Levou um certo tempo para que esses artistas conseguissem uma produo de rua e seus respectivos registros fotogrficos e, ento, o graffiti de qualidade pudesse conquistar o espao que tem conquistado e se tornado histria. (GITAHY, 1999: 33) FIG 1 -esse lugar muito foda... .eu curti mais a foto do que a minha pintura...srsrrsrs Zezo 4 O graffiti visto em meio ao caos visual da metrpole, pode agir como uma manifestao social, um protesto, e ao mesmo tempo como uma reao artstica sociedade5. Um discurso visual urbano. So Paulo, em meio ao crescimento desenfreado e desordenado torna-se palco das intervenes. Grafiteiros e pichadores6 aproveitam-se do abandono e do descaso a urbe para suas prticas. O graffiti esta diretamente ligado s relaes culturais e sociais do pas podendo tornar-se crtico e ao mesmo tempo artstico. Uma prtica em busca a um estilo individual e diferenciado. Uma busca pela legitimidade (PEREIRA, 2007:244). a 4 Todos os depoimentos que acompanham as imagens fotogrficas neste ensaio so do prprio grafiteiro Zezo e foram coletados em seu Fotolog e Flickr (http://www.fotolog.com/vicio_z/ e http://www.flickr.com/photos/zezao/) 5 MANCO, Tristam; NEELON, Caleb e Lost Art. A Graffiti Brasil. London: Thames & Hudson, 2005. Pg 10. 6 Podemos pontuar uma diferena entre graffiti e pichao onde o primeiro vem das artes plsticas (imagem), enquanto o segundo, da escrita (texto). (GITANY, 1999: 19) 2
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 constante procura pela forma em se destacar em meio ao caos urbano e nesta sobrecarga imagtica a que somos submetidos diariamente. UMA BREVE APRESENTAO Nascido em So Paulo em 1972 Zezo o maior divulgador de seus trabalhos. Quando comea a grafitar em 1995 no imagina a dimenso que sua arte tomaria. Desenhos orgnicos e formas fluidas so caractersticas de seus traos, o seu suporte vai alm dos muros da cidade. As imagens fotogrficas, usadas por ele prprio (com a inteno de registro e documentao do seu trabalho), dialogam com sua discusso sobre a superfcie e condies da cidade em que foi explorada. Sem a fotografia no seria possvel conhecer parte do trabalho deste grafiteiro, que desce a rede subterrnea da cidade para realizar suas intervenes. O projeto So Paulo Underground surge em 1998. Nele Zezo explora os esgotos da cidade, o qual considera sua prpria galeria de arte. O graffiti proposto neste trabalho denominado flop, do ingls, fracasso, fiasco, decepo. Estes desenhos so formas que lembram o fluir da gua, ou mesmo encanamentos entrelaados, variam entre tons lmpidos de azul claro e escuro. Ao descer pelos bueiros da cidade questiona a ocupao e desumanizao da cidade ao propor ao espectador comum uma visita imaginria ao esgoto de So Paulo. Sua interveno no para um observador comum, mas, ao mesmo tempo, sempre documentada fotograficamente, vista e revista (ver Fig 2). Atravs do olhar fotogrfico (na maioria das vezes do prprio grafiteiro), expe sua crtica e divulga seu trabalho. Fotolog, flickr, videolog, sites, marcam a existncia destes desenhos fluidos. O graffiti aqui a arte efmera, enquanto a fotografia, em sua concepo, duradoura. FIG 2 Muro ruim de pintar, mas a foto eu gostei... O ltimo de um role, feito com o restinho da tinta que sobrou e um ltimo click antes de anoitecer... Zezo 3
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 FIG 3 Galeria do Lixo Em So Paulo Underground, Zezo grafita para a cidade, exibe seu trabalho aos menos favorecidos, Superfcies aos esquecidas, locais inspitos. desconhecidas aos olhares corriqueiros da cidade. (FIG 3). Chanbelly Estrella7, diz em artigo sobre o grafiteiro Zezo que O artista no quer espectadores banais, sua obra uma recusa banalidade. Ao contrrio, uma metfora da profundidade (POATO, 2006: 106). Partindo ainda de sua reflexo, percebe-se que atravs desta linguagem (o graffiti) busca-se por uma nova visualidade. Olhar para lugares no vistos, parar frente ao frenesi da metrpole. O graffiti cria relevos visuais, constri territrios artsticos, invade superfcies esquecidas, superfcies essas abandonadas pelo olhar dos homens que habitam e transitam pela cidade que o graffiti capaz de transmutar para uma nova visualidade. (ESTRELLA, 2006:107) Hoje Zezo divulga grande parte de seus trabalhos atravs da Internet. Sempre como uma troca de contedo, como uma forma de expresso. Estou aqui. Suas principais atividades so concentradas em participaes de eventos no exterior, montagens de instalaes, produes de vdeos, decorao e publicidade. Mantm o dilogo com a cidade no abrindo mo ao deixar sempre uma nova marca nos muros. Publica quase que diariamente um dirio fotogrfico em seus sites pessoais. O ato de grafitar na cidade uma estratgia potica para manter o dilogo constante com a origem. A cidade concreta a essncia da imaginao do grafiteiro. (ESTRELLA, 2006:14) 7 ESTRELLA, Chanbelly. A visualidade de So Paulo e o vocabulrio popular do graffiti A potica dos Gmeos (pg 12) e Subterrneos urbanos novos territrios artsticos. A visualidade visceral e delicada do graffiti de Zezo. (pg 106). In: BOATO, Srgio (org). O graffiti na cidade de So Paulo e sua vertente no Brasil: estticas e estilo. So Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, Coleo Imaginrio, 2006. 4
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 (Da esquerda para direita) FIG 4 - Exposio Fnac Paulista, 2007. Foto Zezo ... A Fnac esta expondo trinta fotos minhas dos registros que fiz pela minha convivncia da rua onde mostro meu trabalho de fotografia dos lugares onde fao meu graffiti... FIG 5- Paris, 2008. Foto Eduardo Shin UM MERGULHO NA CIDADE A invisibilidade proposta pelas formas fluidas do tom azul claro contornado por azul escuro so hoje marcas conhecidas deste grafiteiro. Prope um mergulho s vsceras da cidade a procura de um lugar mais humano.Humano porque o esgoto iguala a cidade. No h melhor nem pior. s esgoto. (POATO, 2006: 106) Andar pela cidade um convite ao imprevisto, ao acaso. Sendo assim, consideramos a paisagem urbana, ao mesmo tempo, o meio de comunicao e a mensagem e ao observar a multiplicidade de suas formas e perceber de que maneira elas se misturam, atribumos ento novos significados (LYNCH, 1997: 131). Partimos de uma interveno urbana acessvel ao olhar do espectador cotidiano, passageiro, propondo assim, em So Paulo Underground um elo entre as linguagens: graffiti e fotografia. Atravs do olhar fotogrfico, uma nova visualidade se apresenta. A experincia da percepo da cidade narrativa visual fotogrfica. A natureza que fala cmera no a mesma que fala ao olhar, outra, especialmente porque substitui a um espao trabalhado conscientemente pelo homem, um espao que ele percorre inconscientemente (BENJAMIM, 1994: 94). 5
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 FIG 7 e FIG 8 Fotos: Joo Wainer. Galeria Subterrnea da Vila Madalena, 2005. Os desenhos de Zezo chamam a ateno pela luminosidade, pela fluidez, pela delicadeza das curvas. como se o artista reinventasse aquele espao, como se desse uma chance cidade de ser outra coisa. (POATO, 2006:109) Mergulhar na cidade explorar suas superfcies. Estrella diz que o graffiti de Zezo invade as superfcies esquecidas, aquelas abandonadas pelo olhar daqueles que habitam a cidade. Percebe a capacidade do trabalho So Paulo Underground de transmutar para uma nova visualidade. A relao sujeito-cidade deve ser impregnada por cada um com seus prprios significados. A partir dos pensamentos de Lynch, podemos tambm constatar: Uma vez que o desenvolvimento da imagem um processo interativo entre observador e coisa observada, possvel reforar a imagem tanto atravs de artifcios simblicos e do reaprendizado de quem a percebe como atravs da reformulao do seu entorno. (LYNCH, 1997: 12). A interatividade entre o homem e a cidade extravasa os relacionamentos e a atitude comportamental imposta pela metrpole. A corriqueira vida metropolitana nos torna, de certa maneira, incapazes de acompanhar o movimento contnuo das cidades. Somos bombardeados por imagens a todo instante, e assim, adquirimos uma viso seletiva. No documentrio Janela da Alma8 percebemos esta discusso quando algumas pessoas com problema de viso so entrevistadas. possvel conferir, principalmente no depoimento do cineasta americano Wim Wenders, quando relata sobre sua experincia de olhar. Em sua fala sobre o uso ou no dos culos, alega que a moldura que lhe imposta 8 JANELA da alma. Direo de Walter Carvalho e Joo Jardim. (Documentrio). Brasil: Europa Filmes, 2002. 1 DVD (73 min), son., color. 6
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 pela armao lhe possibilita uma escolha do que olhar, sem a moldura dos culos alega ver demais. O trabalho So Paulo Underground discute, de forma potica, e ao mesmo tempo, instigante, algumas incertezas da metrpole da atualidade. A contradio entre a modernidade e suas conseqncias, uma sociedade excludente, muitas vezes violenta e comprometida ambientalmente. Zezo invade os esgotos, aplica seus desenhos, registra e divulga estas inquietaes. Torna o trabalho acessvel atravs das fotografias e da internet - a qualquer um, mesmo aos que no queiram ver demais. DA SUPERFCIE DA CIDADE SUPERFCIE FOTOGRFICA Uma inquietao se faz presente no decorrer deste artigo. Uma anlise, um olhar ao nosso objeto de estudo. Pretende-se daqui a diante uma leitura de imagens prselecionadas da Internet (Flickr http://www.flickr.com/photos/zezao9). Visa-se uma leitura formal, um olhar tcnico10 na composio, uma discusso frente s linguagens 9 Este endereo eletrnico do prprio artista Zezo. Podemos acompanhar quase que diariamente uma narrativa (escrita e imagtica) de seus roles (gria que significa sair, andar a toa, um passeio). 10 LEITE, Enio. Glossrio Fotogrfico. So Paulo: Escola Focus de Fotografia. Disponvel http://www.focusfoto.com.br/glossario.fotografico.htm- Acesso em 04/06/08 - 11h52 em: Glossrio Fotogrfico: ngulo de viso: Amplitude que pode ser registrada por determinada objetiva; em funo de sua distncia focal. Quanto maior for essa distncia, menor ser o ngulo visual, e maior ser o seu poder de aproximao. Composio: o arranjo dos elementos de uma fotografia. Assunto principal, primeiro plano, fundo e motivos secundrios. Exposio: Tempo durante o qual a luz deve incidir sobre a emulso fotogrfica para formar sua respectiva imagem. A exposio controlada pela velocidade do obturador e pela abertura do diafragma selecionada. Flash Automtico: Tipo ou modo de "flash" eletrnico com sensor fotossensvel que determina a distncia do "flash" para exposio ideal atravs da medida do retorno da luz refletida pelo objeto. Obturador: Uma cortina, lminas ou outro tipo de cobertura mvel, para controlar o tempo da incidncia da luz sobre o filme/CCD. Dispositivo de velocidade Perspectiva: Iluso da imagem bi-dimensional de um espao tridimensional sugerida primeiramente por linhas convergentes e pela diminuio de tamanho dos objetos distantes do ponto de vista da cmera. Profundidade de Campo: Diferena entre os pontos mais prximos e mais distantes presentes num foco aceitavelmente ntido na fotografia. A profundidade de campo varia em funo da abertura do diafragma, da distncia focal da objetiva empregada e com a distncia entre a cmera e o objeto a ser fotografado. Retngulo ureo: Espiral logartmica, tpica da expanso da concha. Estgios sucessivos so marcados por "quadrados rodopiantes" e retngulos ureos expandindo-se em progresso harmnico a partir do centro 0. Assim podemos aplicar uma regra de composio e enquadramento chamada Regra dos Teros. Tal regra consiste em dividir um retngulo ureo em duas linhas verticais e duas linhas horizontais. 7
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 estudadas. Perceber at que ponto h um dilogo entre o grafiteiro e seu graffiti na rua e a divulgao de seu trabalho atravs do olhar fotogrfico. Dentro de uma estrutura de composio onde a cidade o suporte e os limites sero dados pelo olhar do espectador transeunte, em um segundo momento surge o grafiteiro-fotgrafo, que recorta seu fragmento urbano para divulgar seu outro olhar. A relao entre estas superfcies se dar a partir das anlises, uma proposta de nova visualidade do graffiti na metrpole hoje. Esta, que ocupada de forma confusa e ao mesmo tempo, saturada. Combatendo a poluio visual, somos, a todo instante, seletivos. Peixoto (2004) afirma que a metrpole o paradigma da saturao, onde contempl-la nos levaria a cegueira.Viso sem olhar, ttil, ocupada com os materiais, debatendo-se com o peso e a inrcia das coisas. Olhos que no vem. (PEIXOTO, 2004:175) Seguindo ainda a reflexo de Nelson Brissac Peixoto, podemos considerar a fora do olhar fotogrfico frente superfcie, ao relevo, a textura que se quer conquistar. E como transformar o objeto pensado para uma superfcie tridimensional ao bidimensional? Implica-se ao distanciamento das sensaes que nos foram impostas, rever o temporal, subverter a ordem. Conceber uma nova visualidade, organicamente entrelaada. O trabalho aqui analisado nos questiona sua forma de apresentao e divulgao. Considerando seu local de atuao (no caso os esgotos), percebemos quo seletivas so as escolhas de seus espectadores. No se pede um passeio ao esgoto de So Paulo, mas uma reflexo da presena humana frente sujeira da metrpole. Considerar o ser humano (no caso, Zezo) mergulhado no lixo, produzido por ns, em meio a sujeira escondida e armazenada nos encanamentos da cidade. FIG 8 - Zezo, Cabuu de Baixo, 2008. Na figura 8, percebemos que a velocidade baixa do obturador causa ao mesmo tempo um leve desfoque e um desenho contnuo traado pela gua que desgua da boca do esgoto. A luz do flash contorna a gua que jorra. As linhas da estrutura conduzem o olhar pela parede. Existe um ponto de fuga (quadrado luminoso no canto direito) que conduzido atravs das linhas do encontro das paredes. O graffiti, localizado centralizado a imagem, se mistura textura da parede, deteriorada. A fotografia composta por formas geomtricas: dividida por 3 tringulos (formados pelo teto, parede e gua), crculo (boca do bueiro) e quadrado (luz forte ao fim do tnel). Percebese a textura da parede descascada (plasticidade) 8 e linhas (perspectiva),
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 FIG 09- Zezo, Galeria subterrnea Vila Madalena, 2005. Na figura 09 percebemos uma forte presena da luz do sol, amarelada. H um equilbrio das linhas da estrutura. A imagem dividida em trs partes, o cano do esgoto, a parede central (onde est o flop), o reflexo dos raios solares desenhado na parte inferior com gua. A bica dgua traa uma linha central na imagem, dividindo-a verticalmente. O azul claro e escuro do desenho, em contraste ao amarelo solar. O olhar conduzido pelo movimento da gua que cai, ao mesmo tempo, o desenho na parede indica uma continuidade, um corredor invisvel. Na figura 10 percebem-se a presena dos tons verdes em contraponto as linhas organicamente pensadas do flop azul. Divide-se ao meio, o seco e o molhado, quase uma bandeira. Uma imagem limpa, sem muitos elementos. Um reflexo do graffiti timidamente aparece desenhado na gua. Uma singela vegetao ainda resta no canto esquerdo (superior e central) da fotografia. O flop est localizado no ponto ureo da imagem fotogrfica. Segue-se a composio dos teros. Formas geomtricas definidas: retngulo da gua, quadrado onde foi inserido o flop, e outro, escuro, cortado ao meio por um cano, no canto superior esquerdo. FIG 10- Zezo, Galeria Rio Tiet, 2004. 9
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 FIG 11 - Zezo, Sada da Galeria Cabo sul de baixo. Na figura 11 observa-se o angulo de viso de cima para baixo. A diviso da imagem se d por linhas que conduzem o olhar do espectador ao desenho na parede. Percebe-se o cu azul refletido na gua na parte inferior esquerda da fotografia. Uma tipografia timidamente aparece no canto superior direito, quase um descaso do autor. Luz natural, velocidade mdia, fotometria correta, muita profundidade de campo. Leve inclinao da cena. O flop posicionado no ponto ureo. FIG 12 - Zezo, Sada da Galeria crrego Cabo sul de baixo. Na figura 12 fica evidente a cena visitada. O lixo em contraposio ao desenho grafitado. Formas triangulares na composio se originam a partir da montanha de restos acumulados. Formas orgnicas compem a fotografia, assemelha-se a uma montagem. Percebe-se um movimento na imagem pelas peas de roupas penduradas no degrau superior. A tonalidade de azul (roupas, flop, gua) e alaranjados (paredes) predominam na cena. Luz natural, sem flash, velocidade alta do obturador. 10
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 Junto s composies criteriosas, deu-se duplamente: graffiti e fotografia. Entrelaados em um nico suporte, uma nica superfcie. A imagem fotogrfica, harmonicamente composta, apresenta-se aqui como um recorte do meio urbano. Toma-se Kossoy como referncia e finalizao desta linha de pensamento. Pensar o graffiti como uma arte efmera, e a fotografia, um registro durvel. ... o fato efmero, sua memria, contudo, permanece pela fotografia. So os documentos fotogrficos que agora prevalecem; neles vemos algo que fisicamente no tangvel; a dimenso da representao: uma experincia ambgua que envolve os receptores, pois, dependendo do objeto retratado, desliza entre a informao e a emoo. (KOSSOY, 2007: 42) As novas formas de apropriao da cidade, neste contexto, incluem o olhar fotogrfico. Imagens narrativas e espontneas. Gratuitas e agora, conservadas. Pretende-se, a partir da prtica fotogrfica mesmo que muitas vezes como mera recordao do graffiti que poder ser removido na manh seguinte - uma documentao histrica da interveno urbana em So Paulo. Pensar a preservao da memria visual do graffiti tambm no deixa de ser uma forma de manter o dilogo com sua origem. 11
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 RELAO DAS IMAGENS Fig01 Autoria: Zezo Publicada em 19 de Maro de 2008 Origem: Flickr - disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/2346550124/ Acesso em 30/05/08 23h17 Fig02 Autoria: Zezo Publicado em 28 de Setembro de 2007. Origem: Fotolog - disponvel em: http://www.fotolog.com/vicio_z/15136047 - Acesso em 31/05/08 - 14h02 Fig03 Autoria: Zezo Publicado em 08 de Setembro de 2006. Origem: Flickr - disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/237937079/- Acesso em 26/06/08 - 12h35 Fig04 Autoria: Zezo Publicado em 31 de Novembro de 2007. Origem: Fotolog - disponvel em: http://www.fotolog.com/vicio_z/16099748. Acesso em 31/05/08 - 15h Fig05 Autoria: Eduardo Shin Publicado em 20 de Abril de 2008. Origem: Fotolog - disponvel em: http://www.fotolog.com/vicio_z/18409911. Acesso em 31/05/08 - 15h30 Fig06 Autoria: Joo Wainer Publicado em 25 de Maio de 2005. Origem: Flickr - disponvel em: http://www.fotolog.com/vicio_z/18409911. Acesso em 31/05/08 - 15h30 Fig07 Autoria: Joo Wainer Publicado em 25 de Maio de 2005. Origem: Flickr - disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/15724316/. Acesso em 28/06/08 18h25 Fig08 Autoria: Zezo Publicado em 25 de Fevereiro de 2008. Origem: Flickr - Disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/2291959235/in/set-380135/ Acesso em 01/06/06 17h14 Fig09 Autoria: Zezo Publicado em 25 de Maio de 2005. Origem: Flickr - Disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/15724285/in/set-380135/ Acesso em 01/06/08 16h36 Fig10 Autoria: Zezo Publicado em 25 de Maio de 2005. 12
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 Origem: Flickr - Disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/15727209/in/set-380135/ Acesso em 01/06/08 16h39 Fig11 Autoria: Zezo Publicado em 29 de Maio de 2005. Origem: Flickr - Disponvel em: http://www.flickr.com/photos/zezao/16307266/in/set-380135/ Acesso em 01/06/08 18h15 Fig12 Autoria: Zezo Publicado em 29 de Maio de 2005. Origem: Flickr - http://www.flickr.com/photos/zezao/16307159/in/set-380135/ Acesso em 01/06/08 18h17 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS FONSECA, Cristina. A poesia do acaso (na transversal da cidade). So Paulo: T.A.Queiroz, 1981. GITAHY, Celso. O que graffiti. So Paulo: Brasiliense, 1999. (Coleo primeiros passos: 312) KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efmero e o perptuo. So Paulo: Ateli Editorial, 2007. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. So Paulo: Martins Fontes, 1997. MANCO, Tristam; NEELON, Caleb e Lost Art. Graffiti Brasil. London: Thames & Hudson, 2005. MENDES, Camila Faccioni. Paisagem Urbana: uma mdia redescoberta. So Paulo: Ed. Senac SP, 2006. PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens urbanas. 3. ed - So Paulo: Ed. Senac So Paulo, 2004. PEREIRA, Alexandre B. Pichando a cidade: apropriaes imprprias do espao urbano. In: MAGNANI, Jos Guilherme; SOUZA, Bruna (org). Jovens na Metrpole: etnografias de circuitos de lazer, encontro e sociabilidade. So Paulo: Ed Terceiro Nome, 2007. 13
- Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Curitiba, PR 4 a 7 de setembro de 2009 POATO, Srgio (org). O graffiti na cidade de So Paulo e suas vertentes no Brasil: estticas e estilos. So Paulo: NIME/LABI-USP, 2006. (Coleo Imaginrio). Filmografia: JANELA da alma. Direo de Walter Carvalho e Joo Jardim. (Documentrio). Brasil: Europa Filmes, 2002. 1 DVD (73 min), son., color. Fontes de pesquisa na Internet: -Vdeo: Disponvel em: http://www.bombit-themovie.com/zezao.mov - Acesso em 27/05/08 -Fotolog: http://www.fotolog.com/vicio_z. Acesso em 28/05/2008 - 20h05 -Flickr: http://www.flickr.com/photos/zezao/- Acesso em 28/05/2008 21h26 -Site: Disponvel em:http://www.artesubterranea.com/ - Acesso em 06/06/08 12h47 -Site: Disponvel em: http://www.lost.art.br/index.php - Acesso em 06/06/08 12h50 14