saopaulo reciclagem
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saopaulo reciclagemTRANSCRIPT
IMÓVEISSuperprédiono Itaimtemabertura adiada
EDUCAÇÃODicaspara estudar
foranas férias de julho
58 RESTAURANTES 52 FILMES24 SHOWS E CONCERTOS
21 EXPOSIÇÕES 32 PEÇAS
Parteintegranteda
Folhade
S.Paulo.Nº
99.Não
pode
servendida
separadamente.FotoMariado
Carmo/Folhapress
Falta de investimento da prefeitura e baixa adesão da população estão entre osmotivosPORQUERECICLAMOSTÃOPOUCO?
Apenas 1% do lixo paulistano é reciclado
27 de maio a 2 de junho de 2012
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Funcionários caminham sobremanta que cobre camadasde lixo e terra do aterro deCaieiras, omaior do Estado
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Mesmocomaterros cheios, cidadesó recicla1,2%eestá longedeatingirmetanacionalde6%até2015;entendaondeestãoosgargalos
1alexandre aragão e elvis pereira. Fotos lucas lima/Folhapress
lixo embaixodo tapete.atéquando?
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A coleta dematerial reciclável narua João JoséPacheco,naVilaMaria-na, na zona sul, está marcada paraocorrer toda quarta-feira, às 10h20.Mas até o meio-dia do último dia 16não havia nem sinal do caminhãocontratado pela prefeitura. Nesseintervalo, uma Kombi particularrecolheu plástico, papel e latinhasseparados pelos moradores e levoutudo para um galpão no Jabaquara.
Odescumprimentodohorárioésóumdos gargalos do processo de reci-clagem na capital. Um dos menores,diga-se. A coleta formal é limitada, aconstruçãodecentraisdetriagemestáatrasadaeaseparaçãodelixoemcasaainda não é umhábito.
Hoje, das 18 mil toneladas deresíduos geradas pelos paulistanosdiariamente, 1,2% é recolhido parareaproveitamentoporprefeituraecon-cessionárias Ecourbis e Loga. Nãohánúmerossobreareciclageminformal,feita, por exemplo, por catadores.
Consideradoirrisório,esseíndiceéreflexodacombinaçãodeumasériedefatores, queenvolvempoderpúblico,empresas e população.
“Ninguém trabalha com a barrigavazia, essa que é a verdade”, dispa-ra o diretor-presidente da Loga, LuizGonzagaAlvesPereira.Eleserefereaoreajustedovalordo contrato firmadoem 2004 entre a prefeitura e as duasconcessionárias.Àépoca,concordou-secomopagamentodeR$9,8bilhõesàsduasempresasaolongode20anos.A cada cinco, o valor precisa seradequado à realidade econômica.
Aprimeira revisão estava previstapara 2009.Mas, na semana passada,seguia emanálise. “Isso reestabeleceas condições financeiras epossibilitaàsduasconcessionáriasvoltarainves-tir”, justifica Alves Pereira.
“A administração está avaliandoum primeiro estudo”, respondeMár-cio Matheus, presidente da Amlurb(Autoridade Municipal de LimpezaUrbana),órgãoquegerenciaoserviçode limpeza pública na cidade.
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Nas três fotos, cenas dacooperativa Sem Fronteiras,na zona norte, uma das 20cadastradas pela prefeiturapara recebermaterial reciclável
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1,2%0,4%-1,1%-0,2%0,8%0,4%2,0%1,9%0,4%0,2%4,8%0,6%2,0%0,5%-0,8%0,9%2,2%0,6%-0,9%--1,6%--0,5%--
Números em toneladas 3,6milhões3,7milhões3,8milhões
200920102011
Domiciliar
97mil105mil90mil
Varrição Saúde
33mil34mil32mil
Inerte*
863mil901mil1,7milhão
ColetaSeletiva
43mil56mil78mil
quando considerado só o lixo domiciliar,o percentual de reciclagem sobe para 2%
Diversos**
400mil551mil1,2milhão
*Inerte: entulho (resíduos de construção civil). **Diversos: poda, resto de feira e grandes objetos
Volume recolhido na capital no anopassado
191,2183,9183,3170,6165,5165,4165,2160,2158,5156,2145,3143,9142,6137,3135,1130,2126118,9118,5108,3106,9101,710095,392,376,268,966,243,241,234,2
Total coletado,emmilharesde toneladas*
1,20,80,80,80,80,91,01,20,91,40,70,91,10,91,20,80,81,01,01,20,90,71,00,60,80,90,70,80,50,70,6
Média diáriade quilo porhabitante**
*Não inclui a coleta de resíduos de serviços de saúde, entulho e limpeza pública, como varrição. **Em relação à população residente. Não inclui população flutuante.***Não há coleta seletiva nas subprefeituras indicadas com o hífen. Fontes: concessionárias Loga e Ecourbis e Secretaria Municipal de Serviços
Porcentagemdematerial coletadopara reciclagem***
lixo domiciliar
lixo coletadona capital
SubPrefeITura
SéCampo LimpoCapela do SocorroVila PrudenteM'boiMirimPenhabutantãMoocaIpirangaPinheirosItaqueraPirituba / JaraguáVilaMarianaCidade ademarLapafreguesia doÓ / brasilândiaSãoMateusVl. Maria / Vl. GuilhermeSantana / TucuruviSanto amaroCasa Verde / CachoeirinhaSãoMiguelaricanduva / formosa / CarrãoItaimPaulistaJaçanã / TremembéJabaquaraGuaianasesermelinoMatarazzoCidade TiradentesPerusParelheiros
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Pontos de coletamecanizadainstalados nos Jardins; elesainda não estão operando
“Não estou dizendoque a culpa é dascooperativas. Maselas dão conta de 5milhões de toneladasproduzidas? Hoje, não”Luiz GonzaGa aLves Pereira,diretor-presidente da concessionária Loga
CooperativasAlém da arrastada discussão sobreo reajuste, as 20 cooperativas quemantêm convênios com a prefeiturapara separar e vender os resíduosrecicláveisnãodãocontadademanda.
Omesmocontrato firmadoentreaprefeitura e as duas concessionáriasprevia 13 centrais de triagem a partirde 2007. Cinco anos depois, elas nãoestão nemperto de sair do papel.
A principal dificuldade nessecaso,segundoMatheus,daAmlurb,éencontrar terrenosegalpõesdisponí-veis.“Estamoscomseteáreasquesãoobjetodedesapropriaçãoparainstalarcentrais. Talvez consigamos instalaruma até o final domês, na Lapa.”
A falta de pontos para receber olixo atrapalha a expansão da coletaseletiva. O serviço abrange hoje ruaseavenidasde21das31subprefeituras.
AlvesPereira,daLoga,ressaltaquenão há como expandir a coleta sem
antes criar mais pontos de triageme aperfeiçoar os já existentes. “Nãoestou dizendo que a culpa é das coo-perativas.Maselasdãocontade lidarcom 5milhões de toneladas produzi-das?Hoje,nãodão”,afirma.“Épreci-somelhorar todo o sistema.”
Procurada pela reportagem, a ou-traconcessionáriaqueatuanacapital,a Ecourbis, não concedeu entrevista.
Três vezesmais caroOutro gargalo que limita a recicla-
geméopreçodacoletaporta aporta.Recolheredestinarosmateriaiscustapelo menos o triplo na comparaçãocomo lixo comum. Os valores gastosemSãoPaulosãomantidosemsigilo.
SegundoestudodoCempre (Com-promisso Empresarial para Recicla-gem) de 2010, o custo médio portoneladaemgrandescidadesbrasilei-raseradeR$85pararesíduoscomunse de R$ 367 para recicláveis.
O reciclável perde para o comumporcontadousodeaterrossanitários.“É o mais barato, simples”, diz LuizGirard, diretor regional da Essencis,empresa que possui, em Caieiras, naregiãometropolitana,omaiorespaçopara armazenar lixo no Estado.
Somentedacapitaloaterrorecebe6.000 toneladas todo dia. Metade ématerial orgânico, como alimentos.O restante varia de fraldas a sofás.
FALTADE INVESTIMENTOAlém de 13 novas centraisde triagem não terem saídodo papel, os contratos daprefeitura com as duasempresas concessionáriasestão defasados. Assim,elas não investemmaisem coleta seletiva
BAIXAADESÃOMesmo onde há coletaseletiva, a adesão não éalta. O paulistano não estáacostumado a separar o lixo,o que influencia nos custos doprocessamento—quantomaismal separado, mais difícil deo lixo ser reciclado
DESORGANIZAÇÃOApós serem entregues àscooperativas, os resíduos nãosofremmais nenhum controlepor parte da prefeitura. Porparte das concessionárias,os horários de coleta nemsempre são cumpridos, oque dámargem à ação decoletores não-cadastrados
FALTADEDEMANDACom exceção das latinhas dealumínio, os demais materiaisrecicláveis ainda nãoganharam omercado e nãose tornaram economicamenteatrativos. Às vezes, usar amatéria-prima nova pode sairmais em conta
SEMMECANIZAÇÃOOmodelo de cooperativasprivilegia a utilização demão de obra, deixando amecanização em segundoplano. Se a triagem fosse feitapor máquinas, mais materialpoderia ser aproveitado
Veja os cincoprincipaismotivos
por quereciclamostão pouco?
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Fontes: Claudia Ruberg, Ecourbis,prefeitura, Loga, Marco-Aurelio de Paoli
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Umaformadebaratearoprocessoé criar pontos de coleta mecanizada,processo no qual o próprio cidadãoleva seu lixo reciclável. Dois deles es-tãoinstaladosnosJardinsenoParqueNovoMundo,naszonasoesteenorte.Nasduasáreas,300moradores foramcadastrados e receberão cartões paradepositar os resíduos em estruturasmetalizadas. Ambos estão prontos,mas não têmdata de inauguração.
“Esse tipodecoletaevitaocontatodos trabalhadores com os resíduos eé uma forma mais segura e eficien-te”,dizCláudiaEchevenguáTeixeira,pesquisadora do Centro de Tecnolo-gias Ambientais e Energéticas do IPT(InstitutodePesquisasTecnológicas).
Gasta-semuito para recolher e re-ciclar e, na outra ponta, há poucosinteressados em usar material rea-proveitado. Para as empresas, nãohá vantagens financeiras.
“O plástico reciclado paga o mes-mo IPI [Imposto sobre Produtos In-dustrializados] que o novo. Fica di-fícil de concorrer no mercado”, dizo professor Marco-Aurelio de Paoli,do Instituto deQuímica daUnicamp.
“As empresas fazemmais por po-sicionamento:évantajososersusten-tável”, diz Carlos Silva Filho, diretor-executivo da Abrelpe (AssociaçãoBrasileira de Empresas de LimpezaPública e Resíduos Especiais). “Be-nefício concreto não tem, está maisrelacionado à imagem.”
Questão nacionalAsdificuldadesvistasemSãoPau-
lo são as mesmas no resto do país.“O índicedereciclagemébaixíssimo.Temos algo em torno de 1%”, diz ogerente de projetos Ronaldo Soares,doMinistério doMeio Ambiente.
O dado do governo federal é de2008.“Nãotemosinformaçãodecomoestáareciclagemnopaís.”Eleexplica:“Isso temavercomotempoque leva-mos para ter ummarco regulatório”,diz, em referência ao Plano Nacionalde Resíduos Sólidos, sancionado em2010. “Estamos 21 anos atrasados.”
O CAMINHODO LIXO
LIXOCOMUM LIXORECICLÁVEL
transbordo
3
2
12
3Elas funcionam como centraisde triagem e recebem lixoreciclável tanto da coletaseletiva quanto dos ecopontos.Elas separam e vendem omaterial. A prefeitura nãoparticipa desse processo
coleta1O lixo comum e o reciclávelsão recolhidos, em caminhõesdiferentes, pelas duasconcessionárias contratadaspela prefeitura. A coletaseletiva é feita em bairrosde 21 das 31 subprefeituras
Carregados, oscaminhões seguempara um dos trêstransbordos
O lixo domiciliar é descarregado,pesado e vai para dois aterros:CTL (Central de Tratamento de
Resíduos Leste), da prefeitura, eo de Caieiras, particular
Omaterial é pesado e vai paraas 20 cooperativas cadastradaspela prefeitura
PontePequena
Vergueiro
Santo Amaro
cooperativas
Oprocesso de reciclagemna capital desde a coleta
ecopontoOs paulistanos tambémpodem descartar lixoreciclável (além deentulho, móveis velhosetc.) nos 55 ecopontosda cidade. Cada pessoapode levar até 1m³ de lixo
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Fonte: Ecourbis, Prefeitura de São Paulo e Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)
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GUARULHOS
ITAQUAQUECETUBA
SerradaCantareira
Jabaquara
Grajaú
Brasilândia
Itaquera
Sé
Perus
CidadeTiradentes
OSASCO
seis aterros atendem a capital
lixo inerteo que não é biodegradável,combustível e solúvel. Porexemplo: entulho de obras
lixonão inertebiodegradáveis, combustíveise solúveis. Por exemplo:restos de comida
leGenDA
aterros
ecopontos
cooperativas
transbordos
Ctl leSteLixo domiciliar.Último aterroinaugurado na cidade,abriu em 2011
CDrPeDreirARecebe varriçãode ruas e podas deárvores. Situadono Tremembé, foiaberto em 2001
CAieirASParticular, recebe lixo domiciliar. A prefeituraestuda sete terrenos nas zonas norte e oestepara deixar de usá-lo
riUMARecebe entulho da construçãocivil. O espaço no Jaraguáfunciona desde 2005
itAQUAreiARecebe entulhoda construção civil
Ponte Pequena
Vergueiro
Santo Amaro
Estáocupadoem 15%
Estáocupadoem 66%
lUMinARecebe entulhoda construçãocivil. Situado emParelheiros, operadesde 2008
Estáocupadoem 90%
Estáocupadoem 76%
Está ocupado em 50%
Está ocupado em 77%
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O plano estabelece como metaa reciclagem de 6% do total de lixogeradonascidadesaté2015.“Massóareciclagemdoresíduosólidoseconãoresolve”, alerta ele. “Se ela for muitobem-sucedida,acabacomoproblemade 30%dos resíduos.”
Com o restante, discute-se se amelhor opção é incinerar ou enviarpara usinas de compostagem, pois,de2014emdiante,aterrospoderãore-ceber apenasoquede fatonãopuderser reaproveitado. “Não tem soluçãopronta. O desafio é enorme.”
Outra parte importante é a cons-cientização à população. “O pessoalfala muito em sacolinha, mas isso é0,002%doquechegaaqui.Faz-seumburburinhotremendoporalgoínfimo,quenãotemrepercussão.Émuitooba-oba”,dizLuizGirard,diretor regionalda Essencis, do aterro de Caieiras.
O artista plástico Eduardo Srur,que instalou neste mês uma obra noparqueIbirapuera feitadeplásticore-ciclável,achaqueopaulistanosecom-portamal. “Douumsentidodiferenteaofardodelixo,quedepoisvoltaaserlixo.” A seu ver, os habitantes con-someme produzem lixo em excesso.
Emmédia, cada paulistano gerou340 kg de lixo domiciliar no ano pas-sado inteiro. “Cabe ao cidadão incor-porarnovoshábitose reduzir aquan-tidade de resíduos que ele descarta”,defendeAndré Vilhena, da Abrelpe.
Professora da UniversidadeFederal de Sergipe, a arquitetaClaudia Ruberg estudou em seudoutorado, na USP, alternativaspara os problemas com lixo emSão Paulo. Como principal solu-ção, ela elege a compostagem e aincineração de rejeitos.
Porqueaincineraçãonãoéusada?A experiência brasileira foi ruim.Tínhamos equipamentos obsoletos,altamentepoluentes, comcapacida-de pequena. Até omomento, não te-mos grandes incineradores. Temosequipamentos demenor porte, pararesíduos de serviço de saúde, comoutras características. O panoramahoje em dia é diferente do das dé-cadas de 1940 e 50, há tecnologiaquegaranteumaproteçãoambiental.
Porqueacidadereciclatãopouco?A característica do nosso resíduo éessencialmenteorgânica.Omaterialpode ser compostado e virar adu-bo.Mas, para que isso aconteça, eledeve chegar previamente separado.Comoagente temcoletaportaapor-
‘SPé refémdeaterros’Arquitetapropõe compostageme incineraçãode lixocomomelhores alternativasparao casopaulistano
ta,esseprocessotorna-semaiscomple-xo.Nãoháagarantia dequeomaterialserá bem separado.
Acoletaportaaporta tambéméumempecilhonocasodos recicláveis?Comesse tipode coleta, devehaver es-truturas separadas de transporte, umadas partes mais caras. Aumentar o sis-tema em número de veículos coletoresvaiencareceralgoquejáécaro.Aalter-nativaseriaadotaraentregavoluntária.
Porqueomodeloatualnãoé ideal?Porserumamegacidade,SãoPaulopro-duz uma grande quantidade de resídu-os.Émuitocomplexoecustosoequacio-nartodososelementos.Asáreasdeater-ros são grandes e, muitas vezes, ficamem outros municípios porque não háespaços adequados na própria cidade.
Quais as implicações de os aterrosficarem emoutrosmunicípios?Faz comque a cidade produtora se tor-ne refém. Se o município que recebe olixo se recusar a recebê-lo, o problemaserádequemproduz.Assim, asdistân-cias aumentam cada vezmais.
Funcionária da cooperativaSem Fronteiras separa lixorecém-chegado da coleta