seara dos mediuns

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1 SEARA DOS MÉDIUNS FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER DITADO PELO ESPÍRITO EMMANUEL

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seara dos mediuns

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    SEARA DOS MDIUNS FRANCISCO CNDIDO XAVIER

    DITADO PELO ESPRITO EMMANUEL

  • 2

    NDICE Seara dos Mdiuns CAPTULO 1 = Num sculo de Espiritismo CAPTULO 2 = Carto de visita CAPTULO 3 = Ensino esprita CAPTULO 4 = Ante a mediunidade CAPTULO 5 = Curiosidade CAPTULO 6 = O argumento CAPTULO 7 = Companheiros CAPTULO 8 = Conhecimento superior CAPTULO 9 = No campo doutrinrio CAPTULO 10 = Em tarefa esprita CAPTULO 11 = Fome e ignorncia CAPTULO 12 = Na mediunidade CAPTULO 13 = Em servio medinico CAPTULO 14 = Orao e cura CAPTULO 15 = Trs atitudes CAPTULO 16 = Fora medinica CAPTULO 17 = Na glria do Cristo CAPTULO 18 = Obsesso e Jesus CAPTULO 19 = Espritos da Luz CAPTULO 20 = Eles tambm CAPTULO 21 = Pequeninos, mas teis CAPTULO 22 = Muito desejo CAPTULO 23 = Obsessores CAPTULO 24 = Alegas CAPTULO 25 = Imperfeies CAPTULO 26 = Fenmenos e livros CAPTULO 27 = Palavra CAPTULO 28 = Trabalhemos CAPTULO 29 = Aviso, chegada e entendimento CAPTULO 30 = Essas outras mediunidades CAPTULO 31 = Mediunidade e privilgios CAPTULO 32 = Mdium inesquecvel CAPTULO 33 = Incrdulos CAPTULO 34 = Desertores CAPTULO 35 = Caridade e tolerncia CAPTULO 36 = Tua parte CAPTULO 37 = Dever esprita CAPTULO 38 = Faixas CAPTULO 39 = Interpretao CAPTULO 40 = Verbo e atitude CAPTULO 41 = Formao medinica CAPTULO 42 = Mediunidade e imperfeio CAPTULO 43 = Mediunidade e alienao mental CAPTULO 44 = Ser mdium CAPTULO 45 = Imagina CAPTULO 46 = Unio

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    CAPTULO 47 = Clarividncia CAPTULO 48 = Faculdades medinicas CAPTULO 49 = Tesouros ocultos CAPTULO 50 = Irmos problemas CAPTULO 51 = Bons Espritos CAPTULO 52 = Pedidos CAPTULO 53 = A escola do corao CAPTULO 54 = Aptido e experincia CAPTULO 55 = Espritos perturbados CAPTULO 56 = O lado fraco CAPTULO 57 = Futuro CAPTULO 58 = Equipe medinica CAPTULO 59 = Revelaes e preconceitos CAPTULO 60 = Problema contigo CAPTULO 61 = Sintonia medinica CAPTULO 62 = Discernimento CAPTULO 63 = Jesus e livre-arbtrio CAPTULO 64 = Livre-arbtrio e obsesso CAPTULO 65 = Obrigao primeiramente CAPTULO 66 = Obsesso e Evangelho CAPTULO 67 = Mediunidade e doentes CAPTULO 68 = Sabes CAPTULO 69 = Atualidade esprita CAPTULO 70 = Mediunidade e dvida CAPTULO 71 = Inspirao CAPTULO 72 = Obsesso e cura CAPTULO 73 = Aliana esprita CAPTULO 74 = Eles sabem CAPTULO 75 = Expliquemos CAPTULO 76 = Im CAPTULO 77 = Mdiuns transviados CAPTULO 78 = Fenmenos CAPTULO 79 = Intuio CAPTULO 80 = Em louvor da esperana CAPTULO 81 = Ondas CAPTULO 82 = Sobrevivncia CAPTULO 83 = Obreiros e instrumentos CAPTULO 84 = Abenoa tambm CAPTULO 85 = Diante dos outros CAPTULO 86 = Pediste CAPTULO 87 = Enfermagem do Esprito CAPTULO 88 = Mediunidade e trabalho CAPTULO 89 = Reforma ntima CAPTULO 90 = Benfeitores desencarnados

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    Seara dos Mdiuns Amigo leitor:

    A Doutrina Esprita, em seu primeiro sculo, assemelha-se, de algum modo, rvore robusta espalhando ramaria, flores, frutos e essncias, em todas as direes.

    Que princpios afins se lhe instalem nos movimentos, maneira de aves tecendo ninhos transitrios nos galhos de tronco generoso, inevitvel; contudo, que os lavradores do campo lhe devem fidelidade e carinho, para que as suas razes se mantenham puras e vigorosas, outra proposio que no sofre dvida.

    Assim pensando, prosseguimos em nossos comentrios humildes (1) da Codificao Kardequiana, apresentando, neste volume, o desataviado cometimento que nos foi permitido atender, no decurso das 90 reunies pbli-cas, nas noites de segundas e sextas-feiras, que tivemos a (1) Religio dos Espiritos o livro em que o autor espiritual comentou O Livro dos Espritos, de Allan Kardec, nas reunies pblicas de Comunho Esprita Crist, em Uberaba, Minas Gerais. (Nota da Editora) alegria de partilhar junto dos irmos uberabenses, em 1960, na sede da Comunho Esprita Crist. Dessa feita, "O Livro dos Mdiuns", que justamente agora, em 1961, est celebrando o primeiro centenrio, foi objeto de nossa especial ateno. Os textos em exame foram escolhidos pelos companheiros encarnados, em cada reunio, e, depois dos apontamentos verbais de cada um deles, articulamos as consideraes aqui expressas que, em vrios casos, fomos com pelidos a deslocar do tema proposto, face de acontecimentos eventuais, surgidos nas assemblias. Algumas das pginas, que ora reunimos, foram publicadas em "Reformador", o respeitado mensrio da Federao Esprita Brasileira, e no jornal "A Flama Esprita", da cidade de Uberaba. Esclarecemos, porm, que, situando aqui as nossas apreciaes simples, na feio integral, com a ordem cronolgica em que foram escritas e na relao das questes e respectivos pargra fos que "O Livro dos Mdiuns" nos apresentava, efetuamos, pessoalmente, a total reviso de todas elas para o trabalho natural do conjunto. Mais uma vez, asseguramos de pblico que o nico mvel a inspirar-nos, no servio a que nos empenhamos, apenas o de encarecer o impositivo crescente do estudo sistematizado da obra de Allan Kardec - construo basilar da Doutrina Esprita, a que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo oferece cobertura perfeita -, a fim de que mantenhamos o ensinamento esprita indene da superstio e do fanatismo que aparecem, fatalmente, em todas as fecundaes de exotismo e fantasia. Esperando, pois, que outros seareiros venham lide remediar-nos a imperfeio com interpretaes e contribuies mais claras e mais eficientes em torno da palavra imperecvel do grande Codificador, de vez que os campos da Cincia e da Filosofia, nos domnios doutrinrios do Espiritismo, so continentes de trabalho a se perderem de vista, aqui ficamos em nossa tarefa de apagado expositor da Religio Esprita, que a Religio do Evangelho do Cristo, para sublimao da inteligncia e aprimoramento do corao.

  • 5

    EMMANUEL

    Uberaba, 1 de janeiro de 1961.

    1 Num sculo de Espiritismo

    Reunio pblica de 4/1/60

    Questo n 1 Num sculo inteiro de atividades, temos visto a Cincia procurando apaixonadamente as realidades do Esprito. Provas indiscutveis no lhe foram regateadas. E tantas foram elas que Richet conseguiu articular, com xito, as bases clssicas da Metapsquica, usando recursos to demonstrativos e convincentes quanto aqueles empregados na exposio de qualquer problema de patologia ou botnica. Sbios distintos, entre os quais Wallace e Zllner, Crookes e Lombroso, Myers e Lodge, mobilizando mdiuns notveis, efetuaram experincias de valor inconteste. Entretanto, se nos vinte lustros passados a mediunidade serviu para atender aos misteres brilhantes da observao cientfica, projetando inquiries do homem para a Esfera Espiritual, justo satisfaa agora s necessidades morais da Terra, carreando avisos da Esfera Espiritual para o homem.

    Se o primeiro sculo de Doutrina Esprita viu realizaes admirveis, desde os clculos profundos da fsica nuclear aos rudimentos da astronutica, surpreendeu, igualmente, calamidades terrveis, como sejam: as guerras de conquista e rapinagem, nas quais os campos de prisioneiros foram teatro para os mais hediondos espetculos de barbrie e degradao, em nome do direito; a tcnica na destruio de cidades em massa; as inquisies polticas, feio das antigas inquisies religiosas, amordaando a liberdade de conscincia; a proliferao das indstrias do aborto, s vezes com o amparo de autoridades respeitveis; a onda crescente dos suicdios; o delrio dos entorpecentes; o abuso da hipnose; o lenocnio transformado em costume elegante da vida moderna; o aumento dos chamados crimes perfeitos, com manifesta perverso da inteligncia, e a percentagem assustadora das molstias mentais com alicerces na obsesso.

    Desse modo, no nos basta apenas um espiritismo cientfico que despenda indefinida quota de tempo averiguando a sobrevivncia do ser, alm do sepulcro.

    Embora a elevao de propsitos dos pesquisadores eminentes, que tateiam os domnios da alma, no podemos esquecer a edificao do sentimento.

    assim que, repetindo as lies do Cristo para o mundo atormentado, no nos achamos simplesmente diante de um espiritismo social, mas em pleno movimento de recuperao da dignidade humana, porqanto, em verdade, perante o materialismo irresponsvel, a sombrear universidades e gabinetes, administraes e conselhos, laboratrios e templos, cenculos e multides, o Evangelho de Jesus, para esclarecimento do povo, tem regime de urgncia.

  • 6

    2 Carto de visita

    Reunio pblica de 8/1/60

    Questo n 7

    Em qualquer estudo da mediunidade, no podemos esquecer que o pensamento vige na base de todos os fenmenos de sintonia na esfera da alma.

    Analisando-o, palidamente, tomemos a imagem da vela acesa, apesar de imprpria para as nossas anotaes.

    A vela acesa arroja de si fotons ou fora luminosa. O crebro exterioriza princpios inteligentes ou energia mental. Na primeira, temos a chama. No segundo, Identificamos a idia. Uma e outro possuem campos caractersticos de atuao, que tanto mais

    vigorosa quanto mais se mostre perto do fulcro emissor. No fundo, os agentes a que nos referimos so neutros em si. Imaginemos, no entanto, o lume conduzido. Tanto pode revelar o caminho

    de um santurio, quanto a trilha de um pntano. Tanto ajuda os braos do malfeitor na execuo de um crime, quanto

    auxilia as mos do benfeitor no levantamento das boas obras. Verificamos, no smile, que a energia mental, inelutavelmente ligada

    conscincia que a produz, obedece vontade. E, compreendendo-se no pensamento a primeira estao de abordagem

    magntica, em nossas relaes uns com os outros, sej a qual for a mediunidade de algum, na vida ntima que palpita a conduo de todo o re-curso psquico.

    Observa, pois, os prprios impulsos. Desejando, sentes. Sentindo, pensas. Pensando, realizas. Realizando, atrais. Atraindo, refletes. E, refletindo, estendes a prpria influncia, acrescida dos fatores de

    induo do grupo com que te afinas. O pensamento , portanto, nosso carto de visita. Com ele, representamos ao p dos outros, conforme nossos prprios

    desejos, a harmonia ou a perturbao, a sade ou a doena, a intolerncia ou o entendimento, a luz dos construtores do bem ou a sombra dos carregadores do mal.

  • 7

    3 Ensino esprita

    Reunio pblica de 11/1/60

    Questo n 3

    Se abraaste na Doutrina Esprita o roteiro da prpria renovao, em toda parte s naturalmente chamado a fixar-lhe os ensinos.

    Administrador, no te limitars ao controle de patrimnios fsicos, porque sabers aplic-los no bem de todos.

    Legislador, no te guardars na galeria dos privilgios, porque humanizars os estatutos do povo.

    Juiz, no te enquistars na autoridade de conveno, porque sers em ti mesmo a garantia do Direito correto.

    Mdico, no estars circunscrito ao rgo enfermo, porque auscultars, igualmente, a alma que sofre.

    Professor, no ters nos discpulos meros associados no estudo dos nmeros e das letras, mas verdadeiros filhos do corao.

    Negociante, no fars do comrcio a feira dos interesses inferiores, mas a escola da fraternidade e do auxlio.

    Operrio, no furtars o tempo, no exerccio da rebeldia, mas vigiars, satisfeito, o desempenho das prprias obrigaes.

    Lavrador, no sers sanguessuga insacivel da terra, mas recolher-lhe-s os produtos, ajudando-a, nobremente, a reverdecer e florir.

    Seja qual for a profisso em que te situes, vives convidado a enobrec-la com o selo de tua f, moldada nos valores humanos, porqanto, na responsabilidade esprita, toda ao no bem precisa ultrapassar o dever para que o ato de servir se converta em amor.

    Hoje e agora, onde estivermos, segundo os nossos princpios, somos constantemente induzidos a lecionar disciplinas de entendimento e conduta.

    Aqui a solidariedade, ali a fidelidade aos compromissos, adiante a compreenso, mais alm, a renncia...

    Aqui o devotamento ao trabalho, ali a pacincia, adiante o perdo incondicional, mais alm o esprito de sacrifcio...

    Doutrina Esprita, na essncia, universidade de redeno. E cada um de seus profitentes ou alunos, por fora da obrigao no

    burilamento interior, obrigado a educar-se para educar. por isso que, se lhe esposaste as tarefas, sej a esse ou aquele o setor de

    tuas atividades, estars, cada dia, ensinando o caminho da elevao, na cadeira do exemplo.

  • 8

    4 Ante a mediunidade

    Reunio pblica de 15/1/60

    Questo n 30

    No trato da mediunidade, no andemos cata de louros terrestres, nem mesmo esperemos pelo entendimento imediato das criaturas.

    Age e serve, ajuda e socorre sem recompensa. Recordemos Jesus e os fenmenos do esprito. Ainda criana, ele se submete, no Templo, ao exame de homens doutos

    que lhe ouvem o verbo com imensa admirao, mas a atitude dos sbios no passa de xtase improdutivo.

    Joo Batista, o amigo eleito para organizar-lhe os caminhos, depois de v-lo nimbado de luz, em plena consagrao messinica, ante as vozes diretas do Plano Superior, envia mensageiros para lhe verificarem a idoneidade.

    Dos nazarenos que lhe desfrutam a convivncia, apenas recebe zombaria e desprezo.

    Dos enfermos que lhe ouvem o sermo do monte, buscando toc-lo, ansiosos, na expectativa da prpria cura, no se destaca um s para segui-lo at cruz.

    Dos setenta discpulos designados para misteres santificantes, no h lembrana de qualquer deles, na lealdade maior.

    Dos seguidores que comeram os pes multiplicados, ningum surge perguntando pelo burilamento da alma.

    Dos numerosos doentes por ele reerguidos bno da sade, nenhum aparece, nos instantes amargos, para testemunhar-lhe agradecimento.

    Nicodemos, que podia assimilar-lhe os princpios, procura-lhe a palavra, na sombra noturna, sem coragem de liberar-se dos preconceitos.

    Dos admiradores que o sadam em regozijo, na entrada triunfal em Jerusalm, no emerge uma voz para defend-lo das falsas acusaes, perante a justia.

    Judas, que lhe conhece a intimidade, no hesita em comprometer-lhe a obra, diante dos interesses inferiores.

    Somente aqueles que modificaram as prprias vidas foram capazes de refleti-lo, na glria do apostolado.

    Pedro, fraco, fez-se forte na f, e, esquecendo a si mesmo, busca servi-lo at morte.

    Maria de Magdala, tresmalhada na obsesso, recupera o prprio equilbrio e, apagando-se na humildade, converte-se em mensageira de esperana e ressurreio.

    Joana de Cusa, amolecida no conforto domstico, olvida as convenincias humanas e acompanha-lhe os passos, sem vacilar no martrio.

    Paulo de Tarso, o perseguidor, aceita-lhe a palavra amorosa e estende-lhe a Boa-Nova em suprema renncia.

    No detenhas, assim, qualquer iluso frente dos fenmenos medianmicos. Encontrars sempre, e por toda parte, muitas pessoas beneficiadas e crentes, como testemunhas convencidas e deslumbradas diante deles; mas, apenas aquelas que transfiguram a si mesmas, aperfeioando-se em bases de

  • 9

    sacrifcio pela felicidade dos outros, conseguem aproveit-los no servio constante em louvor do bem.

  • 10

    5 Curiosidade

    Reunio pblica de 18/1/60

    Questo n 31 A curiosidade, quando respeitvel, princpio da cincia, mas somente princpio. Sem trabalho perseverante, assemelhar-se-ia, decerto, ao primeiro passo de uma longa excurso, interrompida no limiar. E observando-se que o progresso obra de todos, preciso que o seareiro da ao palmilhe a senda dos precursores para realizar o servio que lhe compete. Colombo descobre as terras do Novo Mundo, depois de anotar os apontamentos de Perestrelo. Plant articula os acumuladores de eletricidade, sob a forma de energia qumica, mas toma por base a pilha de Volta. Marconi, para alcanar o telgrafo sem fios, utiliza as experincias de Branly. Pasteur demonstra definitivamente a origem microblana das doenas infecciosas, precedido, porm, por Davaine e outros.

    Para tudo isso, no entanto, no se imobilizam em poltronas de sonho, nem param frente de esboos.

    Lutam e sofrem, gastando fsforo e tempo.

    *

    Por outro lado, imprescindvel reconhecer que a curiosidade, ante o deslumbramento, qual semente de rvore destinada a bons frutos, conservada, porm, sob uma campnula de vidro.

    Imaginemos um ndio, habituado aos sons da inbia e do bor, que aspirasse a conhecer melodias mais elevadas.

    Apresentar-lhe, s por isso, uma partitura de Beethoven seria o mesmo que propor a filosofia de Spinosa a uma criana de bero.

    Antecedendo a conquista, imperioso que a educao lhe administre o solfejo na iniciao musical.

    *

    No esperes, assim, que os Espritos Anglicos venham ferir-nos o aprendizado.

    Quaisquer recursos demasiado transcendentes, que nos trouxessem, serviriam apenas como fatores de encantamento intil, maneira de fogos de artifcio, tumultuando a emoo dos meninos necessitados da escola.

    Da pedra ao micrbio, do micrbio ao verme, do verme ao homem e do homem estrela, o Universo todo um conjunto de soberbos fenmenos, desafiando-nos o conhecimento e a interpretao.

    Tambm, na mediunidade, no aguardes concesses de pechincha. H, nos reinos do esprito, leis e princpios, novas revelaes e novos

    mundos a conquistar. Isso, entretanto, exige, antes de tudo, pacincia e trabalho,

  • 11

    responsabilidade e entendimento, ateno e suor.

  • 12

    6 O argumento

    Reunio pblica de 22/1/60

    Questo n 29 Ante os amados que te no compreendem, estimarias que todos cressem conforme crs. Alguns jazem desesperados nas trevas do pessimismo. Outros caem, pouco a pouco, no abismo da negao. H muitos que te lanam insulto em rosto, como se a tua convico fosse passo loucura. E surpreendes, em cada canto, aqueles que te falam pelo diapaso da ironia. Mergulhas-te, muitas vezes, no oceano revolto das palavras veementes que os opositores, de Imediato, no podem admitir; em outras ocasies, desejas acontecimentos inusitados, que lhes alterem o modo de pensar e de ser.

    * Entretanto, recordemos o Cristo. Ningum, quanto ele, deixou na retaguarda tantas demonstraes de poder celeste. Deu nova estrutura forma dos elementos. Apaziguou as energias desvairadas da Natureza. Reaqueceu corpos que a morte imobilizava. Restituiu a viso aos cegos. Restaurou paralticos. Limpou feridentos. Curou alienados mentais.

    Operou maravilhas, somente atribuveis cincia divina. Contudo, no foi pelos deslumbramentos produzidos que se converteu em

    mentor excelso da Humanidade. Jesus agiganta-se, na esteira dos sculos, pela fora do exemplo. Anjo caminhou entre os homens. Senhor do mundo no reteve uma pedra para repousar a cabea. Sbio foi simples.

    Grande alinhou-se entre os pequenos. Juiz dos juizes espalhou a misericrdia. Caluniado lanou bnos. Trado no reclamou. Acusado humilhou a si mesmo. Ferido esqueceu toda ofensa. Injuriado silenciou.

    Crucificado pediu perdo para os prprios ver-dugos. Abandonado voltou para auxiliar.

    *

  • 13

    Ao voz que fala razo. Se aspiras, assim, a convencer os que te rodeiam, quanto verdade, no

    olvides que, acima de todos os fenmenos passageiros e discutveis, o nico argumento edificante de que dispes o de tua prpria conduta, no livro da prpria vida.

  • 14

    7 Companheiros

    Reunio pblica de 25/1/60

    Questo n 28 - Pargrafos 1, 2 e 3

    H muitos companheiros realmente assim... Declaram-se espiritas. Proclamam-se convencidos, quanto sobrevivncia. Relacionam casos maravilhosos. Exibem apontamentos inatacveis. Referem-se, freqentemente, aos sbios que pesquisaram as foras

    psquicas. Andam de experincia em experincia. Fitam mdiuns como se vissem animais raros. No alimentam dvidas quanto aos fatos inabituais no seio da prpria

    famlia, mas desconfiam das observaes nascidas no lar de outrem. Conversadores primorosos. Anedotistas notveis. Mas no mostram mudana alguma. So na convico o que eram na negao.

    Nobres expoentes de cultura intelectual, no estendem migalha de conhecimento superior a quem quer que seja.

    Detentores de vantagens humanas, no se dignam ajudar a ningum. *

    Felizmente, contudo, temos os companheiros da luta incessante. Afirmam-se tambm espiritas. Mas compreendem que o fenmeno, diante da verdade, pode ser

    considerado feio de casca no fruto. Tm os mdiuns como pessoas comuns, necessitadas de entendimento e

    de auxlio. Sabem que a existncia na Terra como estgio na escola. E, por isso, no perdem tempo. Moram no trabalho constante. Indulgentes para com todos e severos para consigo mesmos. Aceitam a justia perfeita, atravs da reencarnao, e acolhem no

    sofrimento o curso preciso ao burillamento da prpria alma. Verificam que o erro dos outros podia ser deles prprios e, em razo disso,

    no perdem a pacincia. Reconhecendo-se imperfeitos, perdoam, sem vacilar, as imperfeies

    alheias. E vivem a caridade como simples dever, aprendendo e servindo sempre. So esses que Allan Kardec, em sua palavra esclarecida, define como

    sendo os espiritas verdadeiros ou, melhor, os espritas-cristos.

  • 15

    8 Conhecimento superior

    Reunio pblica de 29/1/60

    Questo n 28 - Pargrafo 4 Na aquisio do conhecimento superior, no acredites que o deslumbramento substitua o trabalho. Nem julgues que o benfeitor espiritual, por mais azulgo, possa efetuar a obra que te compete. O professor esclarece. O aluno, porm, deve eqacionar os problemas da escola. O mdico auxilia. O doente, contudo, deve atender-lhe as indicaes. Toda realizao pede esforo. Toda construo pede tempo.

    * Repara a rvore educada que se fez preciosa. um monumento de beleza e vitalidade. Grandes razes garantem-lhe a existncia. Tronco robusto resiste fora do vento.

    Galhos crescem, enormes, ajudando a quem passa. Flores surgem, desafiando gemetras e pintores. Frutos aparecem, ricos de suco nutritivo. Fibras e folhas, seiva e perfume completam-lhe a respeitabilidade e a

    grandeza. Lembremo-nos, no entanto, de que o prodgio, atingindo, s vezes,

    centenas ou milhares de quilos, estava contido, em essncia, na semente pequenina de apenas alguns gramas.

    Entretanto, se algum no houvesse cultivado a semente minscula, consagrando-lhe ateno e trabalho no curso dos dias, a rvore magnificente no se teria consolidado, afirmando-se em madureza e cooperao.

    *

    Agradece, pois, o carinho dos Espritos generosos, encarnados ou desencarnados, que te amparam a experincia, aplicando-te s lies de que so mensageiros.

    No admitas, contudo, que a presena deles te baste ao aprimoramento individual.

    Recorda que nem os companheiros da glria do Cristo escaparam ao impositivo do servio constante.

    Os apstolos que lhe respiraram a convivncia no repousam ante as flamas do Pentecostes, mas seguem, luta diante, de renncia em renncia, adquirindo, pouco a pouco, a grande libertao, e Saulo de Tarso, visitado pelo prprio Mestre, em pessoa, no pra sob o jorro solar da senda de Damasco, mas avana, de suplcio em suplcio, assimilando, a preo de sofrimento, o dom da Divina Luz.

  • 16

    9 No campo doutrinrio

    Reunio pblica de 1/2/60

    Questo n 25

    Encontrars no caminho os companheiros que no conseguiram guardar o talento medinico na altura que a responsabilidade lhes conferiu.

    A maneira dos que no sabem viver retamente, quando chamados mordomia do ouro ou ao cetro do poder, desequilibram-se mentalmente, criando para si prprios o labirinto em que se desvairam.

    Comeam abandonando a disciplina profissional, que julgam vexatria. Debandam de pequeninos deveres familiares que, naturalmente cumpridos,

    formam o alicerce das tarefas maiores. E transformam-se em joguete da fascinao que os inutiliza. Julgam-se, ento, mensageiros especiais. Ausentam-se deliberadamente do estudo. Abraam exotismos contundentes. Acreditam-se na condio de intrpretes das mais altas personalidades da

    Histria. No admitem advertncias. Supem dominar o passado e o futuro. Profetizam. Pontificam. Mas, detendo exagerada conceituao de si mesmos, no percebem que

    se fazem marginais, cristalizados em longos processos obsessivos, aos quais atraem amigos invigilantes para deslumbr-los, a principio, e arroj-los, depois, desiluso.

    *

    Em verdade, no podemos evitar que irmos nossos se prendam a

    semelhantes situaes perigosas e lastimveis. Se outras formaes religiosas vivem juguladas pela autoridade terrestre

    que lhes frena os impulsos, encontramos na Doutrina Esprita o pensamento claro e espontneo da f viva, favorecendo sementeiras e searas preciosas do livre-arbtrio.

    Diante, pois, dos amigos que no souberam situar os compromissos medianmicos em lugar justo, observemos quo duro ser, para ns, desertar do servio constante no burilamento interior, aprendendo, ao mesmo tempo, nos desajustes que mostram, tudo aquilo que nos cabe evitar.

    Em seguida, se possvel, ajudemo-los com a palavra evanglica; entretanto, se essa medida no pode ser posta em prtica, face das circunstncias que nos obrigam a emudecer, lembremo-nos de que nossa obrigao trabalhar sempre mais, na expanso de nossos princpios, para que se faa luz nos coraes e nas conscincias.

    E caminhemos adiante, no esforo de tudo melhorar cada dia, com a certeza de que, segundo o Cristo, cada criatura, hoje e sempre, onde estiver, receber, invariavelmente, de acordo com as suas obras.

  • 17

    10 Em tarefa esprita

    Reunio pblica de 5/2/60

    Questo n 30

    Abraando na Doutrina Esprita o clima da prpria f, lembra-te de Jesus, frente do povo a que se propunha servir.

    No se localiza o Divino Mestre em tribuna garantida por assessores plenamente identificados com os seus princpios.

    Ele algum que caminha diante da multido. Chama aoitada pela ventania das circunstncias adversas... rvore sublime batida pelas varas da exigncia incessante... Ningum o v rodeado de colaboradores completos, mas de problemas a

    resolver. E, renteando com os doentes e aflitos que lhe solicitam apoio, todas as

    personalidades que lhe cruzam a senda representam atitudes diversas, reclamando-lhe pacincia.

    Joo Batista duvida. Natanael questiona. Nicodemos indaga. Zaqueu observa. Caifs conspira. Judas deserta. Pedro nega. Pilatos finge. Antipas escarnece. Tom desconfia. Apesar de tudo, Ele passa, sozinho e imperturbvel, como sendo o amor

    no-amado, ensinando e ajudando sempre. *

    Assim tambm, na instituio em que transitas, encontrars em quase todos

    os companheiros oportunidades de aprender ou de auxiliar. A cada passo, encontrars os que te pedem amparo... Os que te rogam alvio... Os que te suplicam consolo... Os que esperam entendimento... No te faltaro, contudo, igualmente, os que te desafiam a calma... Os que te zombem dos ideais... Os que te complicam as horas... Os que te criam dificuldades... Os que te ferem o corao... Entretanto, se conheces o caminho exato, preciso ajudes aos que se

    transviam; se te equilibras, preciso socorras os que se perturbam; se te mantns firme, preciso sustentar os que caem, e, se j entesouraste leve mi-galha de luz, preciso auxilies os que se debatem nas trevas.

    Desse modo, no te faas distrado quanto orientao que nos comum, porqanto o esprita verdadeiro, diante do mal, invariavelmente chamado a

  • 18

    fazer o bem.

    11 Fome e ignorncia

    Reunio pblica de 8/2/60

    Questo n 32

    Atentos ao Impositivo do estudo, a fim de que a luz do entendimento nos ensine a caminhar com segurana e a viver proveitosamente, estabeleamos alguns confrontos entre a fome e a Ignorncia dois dos grandes flagelos da Humanidade.

    A fome ameniza o corpo. A Ignorncia obscurece a alma.

    A fome atormenta. A ignorncia anestesia.

    A fome protesta. A ignorncia ilude.

    A fome cria aflies imediatas. A Ignorncia cria calamidades remotas.

    A fome crise gritante. A ignorncia problema enquistado.

    *

    Em todos os lugares, vemos o faminto e o Ignorante em atitudes diversas.

    O faminto trabalha afanosamente na conquista do po. O Ignorante indiferente posse da luz.

    O faminto reconhece a prpria carncia. O ignorante no se define.

    O faminto aparece. O ignorante oculta-se.

    O faminto anuncia a prpria necessidade. O ignorante engana a si mesmo.

    *

    Qualquer pessoa pode atender fome. Raras criaturas, porm, conseguem socorrer a ignorncia. Para sanar a fome, basta estender po. Para extinguir a ignorncia, indispensvel fazer luz. Nesse sentido, mentalizemos o Provedor Divino.

  • 19

    Todos sabemos que o po entregue pelos discpulos a Jesus, a fim de ser multiplicado em favor dos famintos, , aproximadamente, o mesmo de hoje que podemos amassar com facilidade; mas a luz entregue pelo Senhor aos discpulos, para ser multiplicada em favor dos ignorantes, exige perseverana incansvel, no servio do bem aos outros, com espirito de amor puro e sacrifcio integral.

    Valendo-nos, pois, da conceituao que a fome e a ignorncia nos sugerem, conclumos que, na Doutrina Esprita, no nos bastam aqueles amigos que nos mostrem mdiuns e fenmenos, para dissipar-nos a Inquietao da fome de ver, mas, acima de tudo, precisamos dos companheiros valorosos, com atitude e exemplo, que nos arranquem ao comodismo da ignorncia, para ajudar-nos a discernir.

  • 20

    12 Na mediunidade

    Reunio pblica de 12/2/60

    Questo n 226 - Pargrafo 1

    No a mediunidade que te distingue. aquilo que fazes dela. A ao do Instrumento varia conforme a atitude do servidor. A produo revela o operrio. A pena mostra a alma de quem escreve. O patrimnio caminha no rumo que o mordomo dirige.

    * O lavrador tem a enxada, entretanto... Se preguioso, cede asilo ferrugem. Se delinqente, empresta-lhe o corte sugesto do crime. Se prestativo e diligente, ergue, ditoso, o bero de flor e po. O legislador guarda o poder; contudo, atravs dele... Se irresponsvel, estimula a desordem.

    Se desonesto, incentiva a pilhagem. Se consciente e abnegado, fundamento vivo cultura e ao progresso. O artista dispe de mais amplos recursos da Inteligncia; todavia, com

    eles... Se desequilibrado, favorece a loucura. Se corrompido, estende a viciao. Se enobrecido e generoso, surgir sempre como esteio , virtude. Urge reconhecer, no entanto, que acerca das qualidades e possibilidades

    do lavrador, do legislador e do artista, na concesso do mandato que lhes confiado, apenas Lei Divina realmente cabe julgar.

    Todos ns, porm, de imediato, conseguimos classificar-lhes a influncia pelos males ou bens que espalhem.

    * Assim tambm na mediunidade.

    Seja qual for o talento que te enriquece, busca primeiro o bem, na convico de que o bem, a favor do prximo, o bem irrepreensvel que podemos fazer.

    Desse modo, ainda mesmo te sintas imperfeito e desajustado, infeliz ou doente, utiliza a fora medianmica de que a vida te envolve, ajudando e educando, amparando e servindo, no auxilio aos semelhantes, porque o bem que fizeres retornar dos outros ao teu prprio caminho, como bno de Deus a brilhar sobre ti.

  • 21

    13 Em servio medinico

    Reunio pblica de 15/2/60

    Questo n 228

    Assim tambm na mediunidade. Seja qual for o talento que te enriquece, busca primeiro o bem, na

    convico de que o bem, a favor do prximo, o bem irrepreensvel que podemos fazer.

    Desse modo, ainda mesmo te sintas imperfeito e desajustado, infeliz ou doente, utiliza a fora medianmica de que a vida te envolve, ajudando e educando, amparando e servindo, no auxilio aos semelhantes, porque o bem que fizeres retornar dos outros ao teu prprio caminho, como bno de Deus a brilhar sobre ti.

    Se abraaste a mediunidade, previne-te contra o orgulho como quem se acautela contra um parasita destruidor.

    Agente sutil, assume formas diversas na constituio espiritual. A principio, tem o carter avassalante de uma infestao, como a sarna. a requisio pruriginosa do personalismo insensato. As vtimas identificam apenas a si mesmas. No vem o mrito dos outros. No reconhecem o direito dos outros. No observam a aspirao dos outros. No admitem a necessidade dos outros. Fascinadas pelos adjetivos pomposos, caminham enceguecidas da razo,

    como alienados mentais.

    *

    A fase aguda, porm, cede lugar a profundo abatimento. Sem qualquer recurso para receberem o remdio moral da ponderao e

    muito menos o ataque da crtica, os doentes dessa espcie caem na armadilha da dvida ou na sombra da queixa.

    Descrendo sistematicamente da utilidade daqueles que os cercam, acabam descrendo da utilidade que lhes prpria.

    Dizem-se, ento, perseguidos e desanimados. Proclamam-se vacilantes e infelizes. E fogem do servio, como quem corre de perigo iminente, descansando, por fim, no museu das promessas frustradas.

    *

    No exerccio medinico, aceitemos o ato de servir por lio das mais altas na escola do mundo.

    E lembremo-nos de que assim como a vida possui trabalhadores para todos os misteres, h mdiuns, na obra do bem, para a execuo de tarefas de todos os feitios.

    Nenhum existe maior que o outro. Nenhum est livre do erro. Todos, no entanto, guardam consigo a bendita possibilidade de auxiliar.

  • 22

    Esse tem a palavra que educa, aquele a mo que alivia e aquele outro a pena que consola.

    Esse traz a orao que enleva, aquele transporta a mensagem que reanima e aquele outro mostra a fora de restaurar.

    Usa, pois, tuas faculdades medianmicas como emprstimo da Bondade Infinita, para que o orgulho te no assalte.

    E recorda que Jesus, o Medianeiro Divino, em circunstncia alguma reqestou a admirao dos maiorais de seu tempo, e sim passou entre os homens, amparando e compreendendo, ajudando e servindo...

    E se houve um dom de Deus em que se empenhou de preferncia aos demais, foi aquele de praticar o culto vivo do Evangelho no corao do povo, visitando em pessoa os casebres da angstia e alimentando a turba faminta, ofertando amor puro aos enfermos sem-nome e estendendo esperana aos que viviam sem lar.

  • 23

    14 Orao e cura

    Reunio pblica de 19/2/60

    Questo n 176 - Pargrafo 8 Recorres orao, junto desse ou daquele enfermo, e sofres, quando a restaurao parece tardia. Entretanto, reflete na Lei Divina a que todos, obrigatoriamente, nos entrosamos. Isso no quer dizer devamos ignorar o martrio silencioso dos companheiros em calamidade do campo fsico. Para tanto, seria preciso no haver sentimento. Sabemos, sim, quanto di seguir, noite a noite, a provao dos familiares, em molstias Irreversveis; conhecemos, de perto, a angstia dos pais que recolhem no corao o suplcio dos filhinhos torturados no bero; partilhamos a dor dos que gemem nos hospitais como sentenciados pena ltima, e assinalamos o tormento recndito dos que fitam, inquietos, em doentes amados, os olhos que se embaciam...

    *

    Observa, porm, o quadro escuro das transgresses humanas que nos rodeiam.

    Pensa nos crimes perfeitos que injuriam a Terra; na insubmisso dos que se rendem s sugestes do suicdio, prejudicando os planos da Eterna Sabedoria e criando aflitivas expiaes para si mesmos; nos processos incon-fessveis dos que usam a inteligncia para agravar as necessidades dos semelhantes e na ingratido dos que convertem o prprio lar em reduto do desespero e da morte...

    Medita nos torvos compromissos dos que se acumpliciam agora com os domnios do mal, e percebers que a enfermidade quase sempre o bem exprimindo reajuste, sustando-nos a queda em delitos maiores.

    *

    Organizemos, assim, o socorro da orao, junto de todos os que padecem no corpo dilacerado, mas, se a cura demora, jamais nos aflijamos.

    Seja o leito de linho, de seda, palha ou pedra, a dor sempre a mesma e a prece, em toda parte, bno, reconforto, amparo, luz e vida.

    Lembremo-nos, no entanto, de que leses e chagas, frustraes e defeitos, em nossa forma externa, so remedios da alma que ns mesmos pedimos farmcia de Deus.

  • 24

    15 Trs atitudes

    Reunio pblica de 22/2/60

    Questo n 226 - Pargrafo 11 Organizemos, assim, o socorro da orao, junto de todos os que padecem

    no corpo dilacerado, mas, se a cura demora, jamais nos aflijamos. Seja o leito de linho, de seda, palha ou pedra, a dor sempre a mesma e a

    prece, em toda parte, bno, reconforto, amparo, luz e vida. Lembremo-nos, no entanto, de que leses e chagas, frustraes e defeitos,

    em nossa forma externa, so remedios da alma que ns mesmos pedimos farmcia de Deus.

    Entendendo-se que o egosmo e o orgulho so qualldades negativas na personalidade medinica, obscurecendo a palavra da Esfera Superior, e compreendendo-se que o bem a condio inalienvel para que a mensagem edificante seja transmitida sem mescla, examinemos essas trs atitudes, em alguns dos quadros e circunstncias da vida.

    Na sociedade: O egosmo faz o que quer. O orgulho faz como quer. O bem faz quanto pode, acima das prprias obrigaes. No trabalho: O egosmo explora o que acha. O orgulho oprime o que v. O bem produz incessantemente.

    Na equipe: O egosmo atrai para si. O orgulho pensa em si. O bem serve a todos.

    Na amizade: O egosmo utiliza as situaes. O orgulho clama por privilgios. O bem renuncia ao bem prprio.

    Na f:

    O egosmo aparenta. O orgulho reclama. O bem ouve.

    Na responsabilidade: O egosmo foge. O orgulho tiraniza. O bem colabora.

  • 25

    Na dor alheia: O egosmo esquece. O orgulho condena. O bem ampara.

    No estudo: O egosmo finge que sabe. O orgulho no busca saber. O bem aprende sempre, para realizar o melhor.

    *

    Mdiuns, a orientao da Doutrina Esprita sempre clara. O egosmo e o orgulho so dois corredores sombrios, inclinando-nos, em

    toda parte, ao vcio e delinqncia, em angustiantes processos obsessivos, e s o bem capaz de filtrar com lealdade a Inspirao Divina, mas, para isso, indispensvel no apenas admir-lo e divulg-lo; acima de tudo, preciso quer-lo e pratic-lo com todas as foras do corao.

  • 26

    16 Fora medinica

    Reunio pblica de 26/2/60

    Questo n 226 - Pargrafo 2 Considerando-se a fora medinica como recurso inerente personalidade humana, de vez que, dentro de grau menor ou maior, transparece de todas as criaturas, comparemo-la viso comum. Efetuado o confronto, reconheceremos que, em essncia, os olhos de um analfabeto, de um preguioso, de um malfeitor e de um missionrio do bem no exibem qualquer diferena na histologia da retina. Em todos eles, a mesma estrutura e a mesma destinao. Imaginemos fosse concedida, aos quatro, determinada mquina com vistas produo de certos benefcios, acompanhada da respectiva carta de Instrues para o necessrio aproveitamento. O analfabeto teria, debalde, o aparelho, por desconhecer como deletrear o processo de utilizao. O preguioso conheceria o engenho, mas deix-lo-ia na poeira da inrcia.

    O malfeitor aproveit-lo-ia para explorar os semelhantes ou perpetrar algum crime.

    O missionrio do bem, contudo, guard-lo-ia sob a sua responsabilidade, orientando-lhe o funcionamento na utilidade geral.

    *

    Fora medianimica, desse modo, quanto acontece capacidade visual, dom que a vida outorga a todos.

    O que difere, em cada pessoa, o problema de rumo. Nisso reside a razo pela qual os Mensageiros Divinos Insistiro, ainda por muito tempo, pela sublimao das energias psquicas, a fim de que os frutos do bem se multipliquem por toda a Terra.

    No valem mdiuns que apenas produzam fenmenos. No valem fenmenos que apenas estabeleam convices.

    No valem convices que criem apenas palavras. No valem palavras que apenas articulem pensamentos vazios. A vida e o tempo exigem trabalho e melhoria, progresso e aprimoramento. Mediunidade, assim, tanto quanto a viso fsica, representa, do ponto de

    vista moral, fora neutra em si prpria. A importncia e a significao que possa adquirir dependem da orientao

    que se lhe d. Por isso mesmo, os amigos desencarnados, sempre que responsveis e

    conscientes dos prprios deveres diante das Leis Divinas, estaro entre os homens exortando-os bondade e ao servio, ao estudo e ao discernimento, porqanto a fora medinica, em verdade, no ajuda e nem edifica quando esteja distante da caridade e ausente da educao.

  • 27

    17 Na glria do Cristo

    Reunio pblica de 29/2/60

    Questo n 46 - Pargrafo 7

    Se entre as vidas magnificentes da Terra uma existe, na qual a mediunidade comparece com todas as caractersticas, essa foi a vida gloriosa do Cristo.

    Surge o Evangelho do contacto entre dois mundos. Zacarias, o sacerdote, faz-se clarividente de um instante para outro e v um mensageiro espiritual que se identifica pelo nome de Gabriel, anunciando-lhe o nascimento de Joo Batista.

    O mesmo Gabriel, na condio de embaixador celestial, visita Maria de Nazar e sada-lhe o corao lirial, notificando-lhe a maternidade sublime.

    Nasce, ento, Jesus sob luzes e vozes dos Espritos Superiores. Usando o magnetismo divino que lhe prprio, o Excelso Benfeitor

    transforma a gua em vinho, nas bodas de Can. Intervm nos fenmenos obsessivos de variada espcie, nos quais as

    entidades inferiores provocam desajustes diversos, seja na alienao mental do obsidiado de Gadara ou na exaltao febril da sogra de Pedro.

    Levanta corpos cadaverizados e regenera as foras vitais dos enfermos de todas as procedncias.

    Apazigua elementos desordenados da Natureza e multiplica alimentos para as necessidades do povo.

    Sonda os ideais mais ntimos da filha de Magdala, quanto l na samaritana os pensamentos ocultos.

    Conversa, ele mesmo, com desencarnados ilustres, no cimo do Tabor, ante os discpulos espantados.

    Avisa a Pedro que Espritos infelizes procuraro Induzi-lo queda moral, e faz sentir a Judas que no desconhece a trama de sombras de que o apstolo desditoso est sendo vtima.

    Ora no horto, antes da crucificao, assinalando a presena de enviados divinos.

    E, depois da morte, volta a confabular com os amigos, fornecendo-lhes instrues quanto ao destino da Boa-Nova.

    Reaparece, plenamente materializado, diante dos aprendizes, no caminho de Emas, e, mais tarde, em Esprito, procura Saulo de Tarso, nas vizinhanas de Damasco, para confiar-lhe elevada misso entre os homens.

    E porque o jovem perseguidor do Evangelho nascente se mostre traumatizado, ante o encontro imprevisto, busca ele prprio a cooperao de Ananias para socorrer o novo companheiro dominado de assombro.

    Intil, assim, que cristos distintos, nesse ou naquele setor da f, se renam para confundir respeitosamente a mediunidade em nome da metapsquica ou da parapsicologia que mais se assemelham a requintados processos de dvida e negao , porque ningum consegue empanar os fatos medinicos da vida de Jesus, que, diante de todas as religies da Terra, permanece por Sol indiscutvel, a brilhar para sempre.

  • 28

    18 Obsesso e Jesus

    Reunio pblica de 4/3/60

    Questo n 237

    Cristos eminentes, em variadas escolas do Evangelho, asseveram na atualidade que o problema da obsesso teria nascido no culto da mediunidade, luz da Doutrina Esprita, quando a Doutrina Esprita o recurso para a supresso do flagelo.

    Malham mdiuns, fazem sarcasmo, condenam a psicoterapia em favor dos desencarnados sofredores e, por vezes, atingem o disparate de afirmar que a prtica medianmica estabelece a loucura.

    Esquecem-se, no entanto, de que a vida de Jesus, na Terra, foi uma batalha constante e silenciosa contra obsesses, obsidiados e obsessores.

    O combate comea no alvorecer do apostolado divino. Depois da resplendente consagrao na manjedoura,

    o Mestre encontra o primeiro grande obsidiado na pessoa de Herodes, que decreta a matana de pequeninos, com o objetivo de aniquil-lo.

    Mais tarde, Joo BatIsta, o companheiro de eleio que vem ao mundo secundar-lhe a obra sublime, sucumbe degolado, em plena conspirao de agentes da sombra.

    Obsessores cruis no vacilam em procur-lo, nas oraes do deserto, verificando-lhe os valores do sentimento.

    A cada passo, surpreende Espritos infelizes senhoreando mdiuns desnorteados.

    O testemunho dos apstolos sobej amente inequvoco. Relata Mateus que os obsidiados gerasenos chegavam a ser ferozes;

    refere-se Marcos ao obsidiado de Cafarnaum, de quem desventurado obsessor se retira clamando contra o Senhor em grandes vozes; narra Lucas o episdio em que Jesus realiza a cura de um jovem luntico, do qual se afasta o perseguidor invisvel, logo aps arrojar o doente ao cho, em convulses epileptides; e reporta-se Joo a israelitas positivamente obsidiados, que ape-drej am o Cristo, sem motivo, na chamada Festa da Dedicao.

    Entre os que lhe comungam a estrada, surgem obsesses e psicoses diversas.

    Maria de Magdala, que se faria a mensageira da ressurreio, fora vitima de entidades perversas.

    Pedro sofria de obsesso peridica. Judas era enceguecido em obsesso fulminante. Caifs mostrava-se paranico. Pilatos tinha crises de medo. No dia da crucificao, vemos o Senhor rodeado por obsesses de todos os

    tipos, a ponto de ser considerado, pela multido, inferior a Barrabs, malfeitor e obsesso vulgar. E, por ltimo, como se quisesse deliberadamente legar-nos preciosa lio de caridade para com os alienados mentais, declarados ou no, que enxameiam no mundo, o Divino Amigo prefere partir da Terra na intimidade de dois ladres, que a Cincia de hoje classificaria por cleptomanacos pertinazes.

  • 29

    A vista disso, ante os escarnecedores de todos os tempos, eduquemos a mediunidade na Doutrina Esprita, porque s a Doutrina Esprita luz bastante forte, em nome do Senhor, para clarear a razo, quando a mente se trans-via, desgovernada, sob o fascnio das trevas.

    19 Espritos da Luz

    Reunio pblica de 7/3/60

    Questo n 267 - Pargrafo 10 Parafraseando a luminosa definio do apstolo Paulo, em torno da caridade, no captulo treze da primeira epstola aos corintios, ousaremos aplicar os mesmos conceitos aos Espritos benevolentes e sbios que nos tu-telam a evoluo. Ainda que falssemos a linguagem das trevas e no possussemos leve raio de entendimento, no passaramos para eles de pobres irmos necessitados de luz. Ainda que nos demorssemos na vocao do crime, caindo em todas as faltas e retendo todos os vcios, a ponto de arrojar-nos, por tempo indeterminado, nos ltimos despenhadeiros do mal, para nosso prprio infort-nio, no seramos para eles seno criaturas Infelizes, carecentes de amor. Ainda que dissipssemos todas as nossas foras no terreno da culpa e dedicssemos a vida ao exerccio da crueldade, sem a mnima noo do prprio dever, Isso seria para eles to-somente motivo a maior compaixo.

    Os Espritos da Luz so pacientes. Em todas as manifestaes so benignos. No invejam. No se orgulham. No mostram leviandade. No se ensoberbecem. No se portam de maneira inconveniente. No se irritam. No so interesseiros. No guardam desconfiana. No folgam com a injustia, mas rejubilam-se com a verdade. Tudo suportam. Tudo crem. Tudo esperam. Tudo sofrem. A caridade deles nunca falha, enquanto que para ns, um dia, as

    revelaes gradativas tero fim, os fenmenos cessaro e as provas terminaro, por desnecessrias.

    Por agora, de ns mesmos, conhecemos em parte e em parte imaginamos; entretanto, eles, os emissrios do Eterno Bem, acompanham-nos com devotamento perfeito, sabendo que, em matria de espiritualidade superior, quase sempre ainda somos crianas, falamos como crianas, pensamos quais crianas e ajuizamos infantilmente.

    Esto certos, porm, de que mais tarde, quando nos despojarmos das deficincias humanas, abandonaremos, ento, tudo o que vem a ser pueril.

    Verificaremos, assim, a grandeza deles, como a vssemos retratada em

  • 30

    espelho, confrontando a estreiteza de nosso egosmo com a imensurabilidade do amor com que nos assistem.

    Conforte-nos, pois, reconhecer que, se ainda demonstramos f vacilante, esperana imperfeita e caridade caprichosa, temos, junto de ns, a caridade dos mensageiros do Senhor, que sempre maior, por no esmorecer em tempo algum.

  • 31

    20 Eles tambm

    Reunio pblica de 11/3/60

    Questo n 217 Compadece-te dos mdiuns de todas as procedncias, mas, notadamente, daqueles que abraam no servio a estrada do aprimoramento e da redeno. Sabes que a existncia te pede o exato desempenho das prprias obrigaes. Eles tambm. Compreendes que preciso disciplinar o tempo, a fim de que no caias no descrdito de ti mesmo. Eles tambm. No estimarias explorar a bolsa alheia, quando podes e deves viver custa do prprio esforo. Eles tambm. No ignoras que tentarias, debalde, ensinar a outrem o acesso virtude sem base no bom exemplo, comeando na tua prpria casa. Eles tambm. Sofrerias, decerto, se algum te exilasse do trabalho digno, lanando-te zombaria e ao desapreo.

    Eles tambm. No podes dar o tempo todo ao Ideal, porqanto no te encontras livre de

    compromissos ante as rotas humanas. Eles tambm. Vives num corpo, suscetvel de queda na enfermidade, muita vez carecente

    de remdio e socorro e sempre necessitado de higiene e alimentao. Eles tambm. Percebendo que no podes satisfazer irrestritamente e reconhecendo que a

    construo do bem sementeira e seara de todos, agradeces, feliz, a desculpa espontnea do prximo, diante de tuas faltas Involuntrias.

    Eles tambm.

    *

    Ajudemos aos companheiros da mediunidade em nossos templos de confraternizao e de amor.

    Qual nos acontece, eles tambm trazem consigo as razes profundas do pretrito sombrio, afrontados por enigmas do sentimento a lhes desafiarem a f.

    Eles tambm so seres humanos, em conflito consigo mesmos. Tambm lutam. Tambm choram. Tambm erram. Tambm sofrem. Como ns mesmos, no precisam de elogios e homenagens, mas sim de

    apoio e compreenso para que venham a caminhar entre sombras menores, j que todos ns, encarnados e desencarnados, em atividade na Terra, respi-ramos ainda muito distantes da Grande Luz.

  • 32

    Auxiliemo-los, assim, na execuo dos prprios deveres, dentro dos moldes da disciplina e da ordem, do trabalho correto e do respeito conscincia tranqila, que desejamos para ns mesmos, porque o fruto perfeito no obra sublime apenas da vigilncia e da obedincia da rvore, mas tambm do carinho e da pacincia que brilham nas mos do cultivador.

  • 33

    21 Pequeninos, mas teis

    Reunio pblica de 14/3/60

    Questo n 227 Educa-te, e assimilars a Influncia das foras espirituais que iluminam. Serve, e atrairs as foras espirituais que abenoam. Diante da grandeza do Universo e perante a extenso de nossos prprios erros no passado culposo, todos somos pequeninos, mas podemos ser teIs. Com vistas, assim, ao trabalho do bem, recorramos a imagens simples da vida para compreendermos, sem qualquer dvida, a obrigao de servir.

    * A restaurao do enfermo est dependendo de exame decisivo. O diagnstico est feito. Os sintomas so evidentes.

    Mas necessrio que esse ou aquele aparelho de anlise, muitas vezes aparentemente de pouca monta, estabelea a prova conclusiva para a assistncia segura.

    Para isso, no entanto, Indispensvel que o recurso Instrumental esteja em perfeitas condies.

    *

    O salo, noite, est lotado por assemblia numerosa, reunida com o objetivo de estudar importantes problemas de enorme comunidade.

    O ternrio est pronto. Os planos so precisos. Mas antes foi necessrio se valesse algum de humilde tomada eltrica, a

    fim de que a luz se fizesse. Para isso, no entanto, foi indispensvel que a instalao satisfizesse s

    exigncias de sintonia.

    *

    O comboio est repleto de personalidades respeitveis para Importante excurso.

    O programa correto. O horrio est previsto. Mas necessrio que a pequena alavanca de controle seja acionada para

    que a locomotiva se ponha em movimento. Para Isso, no entanto, indispensvel que a engrenagem permanea na

    harmonia ideal.

    * Ningum perder tempo perguntando se a pipeta do laboratrio pertenceu a algum malfeitor, se os fios da eletricidade, alguma vez, passaram

  • 34

    inadvertidamente pelo cano de esgoto, ou se o ferro da mquina ter servido, algum dia, em conflitos de sangue e dio. Vale saber que, devidamente transformados, se mostram em disciplina para ajudar.

    * Desse modo, sabendo que todos somos instrumentos chamados execuo do melhor, e cientes de que a mediunidade, nesse ou naquele grau, patrimnio comum a todos, ponhamo-nos a cooperar na obra do Cristo, Nosso Divino Mestre e Senhor. Ningum despreze a bno das horas, cultivando tristezas inconseqentes ou sombras imaginrias, porque, muito acima dessa ou daquela deficincia que tenha perdurado conosco at ontem, importa hoje a nossa renovao para atender ao bem no lugar exato e no instante certo, porqanto, somente nas atividades do bem para o bem dos outros que ns garantiremos a vida e a continuidade de nosso prprio bem.

  • 35

    22 Muito desejo

    Reunio pblica de 18/3/60

    Questo n 220 - Pargrafo 15 Mdium quer dizer Intermedirio. Intermedirio define a posio daquele que se pe de permeio. E muitos amigos encarnados, aspirando ao contacto com as Esferas Superiores, costumam dizer que sentem muito desejo de ser mdiuns. H inmeros que se propem instruir e escrever, falar e materializar, aliviar e consolar, em nome dos Mensageiros da Luz; entretanto, no passam da regio do muito desejo. Mentalizemos, contudo, alguns quadros comuns em que a pessoa descansa nesse impulso de inicio.

    * Existe o lavrador que tem muito desejo de semear; entretanto, passa a existncia discutindo teorias da agricultura, ou comentando algo em torno das pragas diversas que flagelam a lavoura, e espera indefinidamente o Instante de plantar, como se a terra devesse deslocar-se para colher-lhe as sementes das mos.

    *

    Encontramos o oleiro que mostra muito desejo de fabricar um vaso de eleio, mas consome o tempo falando nas dificuldades da cermica ou nos perigos do forno quente, e aguarda em constante expectativa a hora de modelar, como se a argila estivesse na obrigao de buscar-lhe os dedos.

    *

    Imaginemos o trabalhador que enunciasse muito desejo de cooperar em

    determinada oficina, e que, a admitido, simplesmente vivesse a policiar a atitude e o movimento dos chefes e companheiros, qual se pudesse cumprir o prprio dever custa da observao inoperante que ningum lhe pediu.

    *

    Pensemos no aluno que chegasse escola com muito desejo de aprender

    e que no manuseasse, sequer, um livro, qual se o professor pudesse pregar-lhe a lio na cabea, como quem dependura um cartaz no poste.

    *

    Se aspiras a colaborar na obra dos Espritos Benevolentes e Sbios, colocando-te entre eles e os irmos encarnados, possvel no possas, de imediato, partilhar a sinfonia dos grandes feitos humanos, mas podes brilhar na tarefa mais alta de todas, a expressar-se no concerto do bem puro, consolando

  • 36

    e construindo, amparando e esclarecendo, educando e amando... Para isso, porm, no basta o muito desejo... preciso reverenciar o servio, buscar o servio, disputar o servio e

    abraar o servio com esprito de renncia em favor do prximo. Muitos dizem que faro isso amanh. Realmente, amanh o tempo glorioso de nome por-vir, destinado a marcar

    o coroamento e a vitria, a colheita e a alegria... Entretanto, segundo velho rifo, em muitos casos amanh o caminho que

    vai dar no deserto chamado nunca.

  • 37

    23 Obsessores

    Reunio pblica de 21/3/60

    Questo n 249 Obsessor, em sinonmia correta, quer dizer aquele que importuna. E aquele que importuna , quase sempre, algum que nos participou a convivncia profunda, no caminho do erro, a voltar-se contra ns, quando estej amos procurando a retificao necessria. No procedimento de semelhante criatura, a antipatia com que nos segue semelhante ao vinho do aplauso convertido no vinagre da critica. Da, a necessidade de pacincia constante para que se lhe regenerem as atitudes.

    * Considerando, desse modo, que o presente continua o pretrito, encontramos obsessores reencarnados, na experincia mais ntima.

    Muitas vezes, esto rotulados com belos nomes. Vestem roupa carnal e chamam-se pai ou me, esposo ou esposa, filhos ou

    companheiros familiares na lareira domstica. Em algumas ocasies, surgem para os outros na apresentao de santos,

    sendo para ns benemerentes verdugos. Sorriem e ajudam na presena de estranhos e, a ss conosco, dilaceram e

    pisam, atendendo, sem perceberem, ao nosso burilamento. E, na mesma pauta, surpreendemos desafetos desencarnados que nos

    partilham a faixa mental, induzindo-nos criminalidade em que ainda persistem.

    Espreitam-nos a estrada, feio de cmplices do mal, inconformados com o nosso anseio de reajuste, recompondo, de mil modos diferentes, as ciladas de sombra em que venhamos a cair, para reabsorver-lhes a iluso ou a loucura.

    *

    Recebe, pois, os irmos do desalinho moral de ontem com esprito de paz e de entendimento.

    Acus-los, seria o mesmo que alargar-lhes a ulcerao com novos golpes. Criv-los de reprimendas, expressaria induo lamentvel a que se

    desmeream ainda mais. Revidar-lhes a crueldade, significaria comprometer-nos em culpas maiores. Conden-los, o mesmo que amaldioar a ns mesmos, de vez que nos

    acompanham os passos, atraidos pelas nossas imperfeies. Aceita-lhes Injria e remoque, violncia e desprezo, de nimo sereno,

    silenciando e servindo. Nem brasa de censura, nem fel de reprovao. Obsessores visveis e invisveis so nossas prprias obras, espinheiros

    plantados por nossas mos. Enderea-lhes, assim, a boa palavra ou o bom pensamento, sempre que

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    preciso, mas no lhes negues pacincia e trabalho, amor e sacrifcio, porque s a fora do exemplo nobre levanta e reedifica, ante o Sol do futuro.

  • 39

    24 Alegas

    Reunio pblica de 25/3/60

    Questo n 220 - Pargrafo 16 Alegas descrena da vida celestial por ausncia da comprovao que supes adequada, e viajas, ante a glria do firmamento, num gigantesco engenho csmico de nome Terra, a girar sobre si mesmo, com imensa velocidade, em torno do Sol, e no pensas nisso. Alegas que no compreendes como possam surgir irradiaes do Esprito, e te equilibras, cada dia, sob a luz solar que se expande na imensido do Espao, a trezentos mil quilmetros por segundo, sem que lhe abordes a es-trutura mais ntima. Alegas que no ouves a voz das Inteligncias desencarnadas, e moras num reino de ondas, de que as maiores estaes emissoras dosam apenas nfima poro, transformando em sons articulados o que te parece solido e si-lncio. Alegas que ningum te explica por que processo se alimentam as almas, com os fluidos sutis, e vives no oceano areo, nutrindo-te em maior grau dos recursos imponderveis da Natureza.

    Alegas que a existncia humana, fora da matria fsica, inaceitvel por tornar-se invisvel; entretanto, quanta coisa invisvel consideras real!

    Alegas a impossibilidade da materializao transitria dos amigos que j transpuseram as fronteiras do tmulo, e, apesar das notveis observaes da gentica, desconheces como nasceste entre as formas carnais, tanto quanto ignoras os processos por que te desenvolves.

    *

    No te lamentes, porm, quanto falta de elementos medinicos para o levantamento das boas obras.

    No te condiciones a informes alheios para ajudar. Todos possumos vasta proviso de sementes e luzes do Conhecimento

    Superior e estamos convictos de que fomos chamados para servir. O que Jesus ensinou, h quase dois milnios, tem fora de verdade para

    todos os sculos, e a mensagem desse ou daquele arauto do Evangelho, aos ouvidos de algum, lio para todos ns.

    Importa, acima de tudo, estender o bem, entendendo-se que o bem verdadeiro ser sempre o bem que faamos aos outros.

    Toma alguns gros de trigo, achados na rua, a esmo... No sabes de onde vieram; no entanto, se resolves plant-los, inda hoje,

    com respeito e carinho, em breve as leis de Deus, sem que as vejas agindo, deles faro no solo, em teu prprio favor, vasto e belo trigal.

  • 40

    25 Imperfeies

    Reunio pblica de 28/3/60

    Questo n 226 - Pargrafo 9

    Ante o servio a fazer, evitemos a escurido das horas frustradas. Ns que alongamos os braos, a cada instante, para recolher sustento e

    proteo, consolo e carinho, saibamos estender igualmente as mos para auxiliar.

    Declaras-te inabilitado a servir. Entretanto, buscando servir que te promoves galeria da confiana. Afirmas-te em padro muito baixo para a feitura das boas obras. Entretanto, nas boas obras que fulge o caminho da elevao. Asseveras-te esprito devedor e, por esse motivo, desertas do culto

    fraternidade. Entretanto, no culto fraternidade que encontramos recursos ao resgate

    dos prprios dbitos. Acusas-te entediado e, por isso, renuncias s lutas edificantes. Entretanto, nas lutas edificantes que recuperars a tua alegria.

    *

    Haja o que houver, no te proclames intil. H muita gente que se lastima da falta de virtude, para fugir-lhe ao

    ensinamento, olvidando que, se j fssemos conscincias aprimoradas, ningum recorreria na Terra ao merecimento da escola.

    O vaso simples, se necessrio, mandado ao conserto. O carro em desajuste recupera-se na oficina. O mvel quebrado encontra refazimento. A roupa manchada alimpa-se na gua pura. impossvel, desse modo, que a Divina Sabedoria no dispusesse de

    meios, a fim de reabilitar-nos. E, a fim de reabilitar-nos, deu-nos a cada um a possibilidade de auxlio aos

    outros. Todos temos, portanto, no trabalho do bem, nosso grande remdio. Se caste, surgir ele como apoio em que te levantes. Se amargurado, ser-te- reconforto. Se erraste, dar-te- corrigenda. Se ignoras, abenoar-te- por lio. Deus sabe que todos ns, encarnados e desencarnados em servio na

    Terra, somos ainda espritos imperfeitos, mas concedeu-nos o trabalho do bem, que podemos desenvolver e sublimar, segundo a nossa vontade, para que a nossa vida se aperfeioe.

  • 41

    26 Fenmenos e livros

    Reunio pblica de 15/4/60

    Questo n 178

    Fenmenos medinicos existem na gnese de todas as religies, mas desaparecem, maneira de fogo-ftuo, no raio circunscrito da hora em que se exprimem. Contudo, os livros que nascem deles permanecem, por tempo inde-terminado, nos horizontes do esprito.

    H quem sorria ironicamente, diante da narrativa hindu, na qual Arjuna, espantado, observa as sublimes manifestaes de Crisna; entretanto, nos poemas do Bagavat-Git palpitam cnticos imperecveis das mais altas virtudes.

    H quem descreia da Histria, quando afirma que Zoroastro recolheu ensinamentos de Ormuzd (Esprito), nas eminncias do Albordjeh; no entanto, as pginas do Zend-Avesta gravam com mestria a luta do bem contra o mal. ...H quem discuta a impossibilidade de haver Moiss revelado tantos poderes, frente dos egpcios assombrados, mas o cdigo de mandamentos por ele recebido de Jeov, no cimo do monte, seguro alicerce aos preceitos essenciais da justia.

    H quem veja loucura na deciso de Sidarta, ao abandonar o palcio paterno, sob a inspirao da Esfera Superior, a fim de consagrar-se aos infelizes; todavia, as lies guardadas por seus discpulos formam o venervel caminho budista do pensamento reto.

    H quem duvide dos fatos admirveis que cercaram, na Terra, a presena do Cristo, relacionando acontecimentos medianmicos cuja legitimidade desafia todas as exigncias da metapsquica e da parapsicologia contemporneas; entretanto, o Evangelho continua sendo o Livro Divino da Humanidade.

    E, ainda hoje, h quem Lance sarcasmo sobre os mdiuns da atualidade, mas os livros basilares de Allan Kardec prosseguem como slidos fundamentos da Doutrina Esprita, que atualiza agora as revelaes do Mestre dos mestres.

    Como fcil observar, os fenmenos medinicos representam a ostreira das Interrogaes e dos experimentos humanos, O livro edificante, contudo, a prola que passa a guarnecer o tesouro crescente da sabedoria que nunca morre.

    Eduquemos, assim, a mediunidade, entre ns, para que ela possa surpreender e fixar a emoo e a idia, a palavra e o trabalho dos mensageiros que supervisionam e conduzem o aperfeioamento terrestre, porque, em ver-dade, nesse ou naquele documentrio, o livro o comando mgico das multides e s o livro nobre, que esclarece a inteligncia e ilumina a razo, ser capaz de vencer as trevas do mundo.

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    27 Palavra

    Reunio pblica de 18/4/60

    Questo n 166

    Quando te detenhas na apreciao da mediunidade falante, pensa na maravilha do verbo, recordando que todos somos mdiuns da palavra.

    A glote vocal pode ser comparada a harpa viva em cujas cordas a alma exprime todos os cambiantes do pensamento. E sendo o pensamento onda criadora a integrar-se com outras ondas de pensamento com as quais se harmoniza, a fala, de modo invarivel, reflete o grupo moral a que pertencemos.

    Veculo magntico, a palavra, dessa maneira, sempre fator indutivo, na origem de toda realizao.

    Com ela, propagamos as boas obras, acendemos a esperana, fortalecemos a f, sustentamos a paz, alimentamos o vicio ou nutrimos a delinqncia. E isso acontece, porque, em verdade, nunca falamos sozinhos, mas sempre retratamos as influncias da sombra ou da luz que nos circulam no mbito mental.

    Toda vez que ensinamos ou conversamos, nossa boca assemelha-se a um alto-falante, em conexo com o emissor da memria, projetando na direo dos outros no apenas a resultante de nossas leituras ou de nossos co-nhecimentos, mas igualmente as idias e sugestes que nos so desfechadas pelas criaturas encarnadas ou desencarnadas com as quais estejamos em sintonia.

    No menosprezes, portanto, o dom de falar que nos facilita a comunho com os outros seres.

    Guarda-o na luz do respeito e da justia, da bondade e do entendimento, sem olvidar que atitude alavanca invisvel de ligao.

    Atravs de nossos conceitos orais, o pessimismo porta aberta ao desnimo, o sarcasmo corredor rasgado para a invaso do descrdito, a clera gatilho violncia, o azedume clima da enfermidade e a irritao fermento loucura.

    Desse modo, ainda que trevas e espinheiros se alonguem junto de ti, governa a prpria emoo, e pronuncia a palavra que instrua ou console, ajude ou santifique. Mesmo que a provocao do mal te instigue desordem, compelindo-te a condenar ou ferir, abenoa a vida, onde estiveres.

    A palavra vibra no alicerce de todos os males e de todos os bens do mundo. Falando, o professor ala a mente dos aprendizes s culminncias da

    educao, e, falando, o malfeitor arroja os companheiros para o fojo do crime. Scrates falou e a viso filosfica foi alterada. Jesus falou e o Evangelho surgiu. O verbo plasma da Inteligncia, fio da inspirao, leo do trabalho e base

    da escritura. Todos somos medianeiros daqueles que admiramos e daqueles que

    ouvimos. Aprendamos, assim, a calar toda frase que malsine ou destrua, porque,

    conforme a Lei do Bem promulgada por Deus, toda palavra que obscurea ou enodoe moeda falsa no tesouro do corao.

  • 43

    28 Trabalhemos

    Reunio pblica de 22/4/60

    Questo n 223 - Pargrafos 7 e 8 Perguntas, muitas vezes, se podes colaborar junto bandeira de amor e luz que a Espiritualidade Maior vem desfraldando na Terra. Estimarias movimentar poderes medinicos incontestes, materializando foras sutis, distribuindo consolaes, traando diretrizes, enunciando a verdade ou pronunciando o verbo revelador. No necessitas, no entanto, recorrer a esse ou quele luminar da sabedoria para a obteno da resposta. Basta breve consulta ao livro da Natureza. Sabes que a semente suscetvel de fazer florir o deserto, desde que lhe ofereas base adequada no solo, e que a fonte capaz de dessedentar-te na intimidade domstica, se lhe ds conduo no canal preciso. A semente, contudo, morre sem remisso se relegada de todo cova de areia quente, e a fonte, por mais generosa, no te alcana o reduto familiar quando se lhe entrava o caminho.

    Toda realizao pede esforo. Todo merecimento real Inclui sacrifcio. Muitos, porm, almejam auxiliar, exigindo que a evoluo se transforme

    numa avenida asfaltada em que possam deslizar de patins. Desejam fazer claridade na hora do meio-dia, melhorar o prato feito, subir em elevadores rpidos para emitirem exortaes de sacadas tranqilas ou ditar bons conselhos cabea dos anjos.

    Entretanto, embora imperfeitos, indispensvel empreendamos a cura de nossas prprias imperfeies.

    Se aspiras ao bem para sanar os males da Terra, natural que a Esfera Superior se esmere em proclam-lo por teu intermdio.

    Se procuras o Senhor, buscando ajudar a vida, o Senhor tambm te procura a fim de ajud-la.

    Desse modo, o Mestre Divino espera-te, na luta, por Instrumento que possa atender-lhe obra.

    Purifiquemos a emoo, a fim de senti-lo. Sublimemos o pensamento, para entend-lo. Eduquemos a palavra, de modo a enunciar-lhe o verbo. Aprimoremos a ao, para exprimir-lhe a presena. Aperfeioemos a ns mesmos, cada dia, quanto seja possvel, porqanto,

    para sermos intermedirios fiis, entre ele e o Mundo, s existe uma soluo trabalhar.

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    29 Aviso, chegada e entendimento

    Reunio pblica de 25/4/60

    Questo n 160

    A interveno franca do Plano Espiritual, no Plano Fsico, pode ser admitida no conceito popular como embaixada portadora de metas decisivas, a definir-se em trs perodos essenciais: aviso, chegada e entendimento.

    De Swedenborg a Andrew Jackson Davis, surpreendemos a mediunidade ativa, sob as ordens da Esfera Superior, no aviso da renovao necessria.

    E se pequenas disparidades so registradas no verbo dos obreiros em servio, justo lembrar que na interpretao da realidade, quanto na interpretao da msica, a expresso isolada varia, conforme as peculiaridades do instrumento.

    Em 1848, no vilarejo de Hydesville, inicia-se publicamente a chegada dos comandos da sobrevivncia.

    Os emissrios desencarnados, quais familiares h muito tempo ausentes da prpria casa, alcanam a moradia terrestre, batendo freneticamente porta.

    Na residncia dos Fox, no faltam nem mesmo as palmas de quem chega e de quem recepciona, entre a menina Kate e o Esprito Charles Rosna, baseando-se em pancadas os rudimentos da linguagem primitiva entre os dois planos.

    Desde ento, embora as dificuldades morais de muitos dos trabalhadores humanos, reencarnados no circulo terrestre, comeam a operar diversas comisses medinicas, chamando pacificamente a ateno da Terra.

    Os fenmenos fsicos por Daniel Dunglas Home e pelos irmos Davenport, por Florence Cook e por Euspia, tanto quanto atravs de outros medianeiros, falam aristocracia do poder e da inteligncia, em palcios e laboratrios, agitando os sales de lazer e as preocupaes da imprensa.

    Aos rudos da visitao invisvel, misturam-se os ruidos da opinio. Ouvem-se batidas surpreendentes aqui e ali, mos luminosas acenam por

    toda a parte, vozes ressoam entre lbios selados, mensagens rpidas so transmitidas, de maneira direta, e entidades materializam-se ante os ex-perimentadores, tomados de assombro.

    Entretanto, a obra do entendimento encetada com Allan Kardec, que esclarece a posio da doutrina e do fenmeno, como quem separa o trigo da vestimenta de palha, estabelecendo rumos, criando obrigaes e definindo responsabilidades.

    Mas, como toda edificao espiritual obedece cronologia da mente, ainda hoje encontramos milhares de pessoas na fase do aviso e milhares de outras na fase da chegada, entre a esperana e a convico. Quanto a ns, que nos achamos na fase do entendimento, saibamos concretizar os princpios da fraternidade e esparzir o socorro moral, em beneficio das conscincias, estendendo a luz ao corao do povo, porqanto o Plano Espiritual atinge o Plano Fsico, em cumprimento das promessas do Cristo, de modo a reunir todas as criaturas na lei do bem e habilit-las, convenientemente, para a continuidade do servio de hoje, no grande futuro ou no grande alm, ante a Vida Maior.

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    30 Essas outras mediunidades

    Reunio pblica de 29/4/60

    Questo n 185 Na expanso dos recursos medianmicos que te enriquecem a experincia, sob as diretrizes dos benfeitores desencarnados, no te despreocupes das faculdades edificantes, suscetveis de te vincularem elevao e melhoria dos companheiros na Terra.

    * Pronuncias a palavra preciosa que os emissrios da cultura e da inteligncia te levam boca, Impressionando auditrios atentos. Mas no negues o verbo da tolerncia aos que te reclamam indulgncia e carinho dentro de casa.

    * Doutrinas eficientemente os Espritos transviados nas sombras da viciao e do crime, transmitindo conselhos e avisos da Esfera Superior.

    No recuses, porm, a conversao amorosa e paciente aos familiares ainda confinados ignorncia e perturbao.

    *

    Escreves a frase escorreita, para entendimento do pblico, sob a influncia

    de instrutores domiciliados no Plano Maior. Grava, entretanto, no prprio caminho, a sinalizao do bom exemplo,

    induzindo os semelhantes a que nobilitem a prpria existncia.

    *

    Contemplas quadros prodigiosos, atravs da clarividncia, caindo em xtase ante as alegrias sublimes que observas, por antecipao, na Glria Espiritual.

    No olvides, contudo, fitar as chagas dos que padecem, estendendo at eles migalha do teu conforto, por mensagem de auxilio.

    *

    Escutas vozes comovedoras do Grande Alm, delas fazendo narrativas

    surpreendentes para os que te admiram as incurses no pas do inabitual. Busca, no entanto, ouvir as aflies dos irmos sofredores, aprendendo a

    ser til.

    *

    Estendes mos fraternas, no passe balsamizante, em favor dos que te

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    procuram, sedentos de alvio. No furtes, porm, os braos prestimosos ao trabalho de cooperao espontnea junto daqueles que o Senhor te confiou na intimidade domstica.

    * Atende s faculdades mltiplas pelas quais se evidencie a bondade dos mensageiros divinos, mas no desdenhes essas outras mediunidades, tanta vez esquecidas, da renncia e da pacincia, da humildade e do servio, da prudncia e da lealdade, do devotamento e da correo, em que possas mostrar os teus prstimos diante daqueles que te partilham a luta, porque somente assim sers suporte firme da luz e chama da prpria luz.

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    31 Mediunidade e privilgios

    Reunio pblica de 2/5/60

    Questo n 306 Todos estamos concordes em que a Doutrina Esprita revive agora o Cristianismo puro; no entanto, h muita gente que lhe estranha a organizao, sem os chamados valores nobilirquicos que assinalam a maioria das insti-tuies terrestres. A fora de se iludirem com a idolatria, que sempre nos custa caro, muitos companheiros, menos vigilantes, desejariam condecorar trabalhadores da Nova Revelao, criando galerias para o relevo pessoal. E se pudessem determinar o rumo das coisas, no consenso opinativo, decerto que h muito estaramos mobilizando doutrinadores-chefes e mdiuns-titulares, com as nossas casas de servio perdendo tempo em mesuras e rapaps. Entretanto, no h uma s frase na Codificao Kardequiana em que se recomende tratamento especial a esse ou quele mdium porque fale com mestria ou materializa desencarnados, porque transmita fora curativa ou psicografe livros renovadores.

    A preocupao fundamental dos emissrios divinoS, na formao de nossos princpios, foi, alis, edificar moralmente a instrumentao medinica em bases de simplicidade e desinteresse, para que ela corresponda s vistas da Providncia.

    No existem, desse modo, mdiuns maiores ou mdiuns menores, favorecendo, entre ns, a constituio de prerrogativas e castas.

    Tanto na mensagem do Evangelho, quanto na mensagem do Espiritismo, o que prevalece, acima de tudo, a responsabilidade para cada um de ns.

    Responsabilidade de sentir e pensar, de falar e fazer. No temos o direito de enfeitar os outros com os brases da excessiva confiana, para que realizem o trabalho que nos compete.

    Por essa razo, todos os operrios da construo esprita so respeitveis. Os doutrinadores que se esmeram em socorrer um irmo obsidiado, atravs

    de entendimento particular, esto fazendo obra idntica aos que usam brilhantemente a palavra, arrebatando multides, e os mdiuns que grafam compndios santificantes no so superiores queles outros que se consagram restaurao dos enfermos.

    Sustentar a idia esprita, indene de qualquer imaginria fidalguia para aqueles que a servem, dever para todos ns.

    Na formao crist no sobraram privilgios para ningum. O prprio Cristo, que se revelou pelo que fez e pelo que deixou de fazer,

    no se furtou ao sacrifcio e humilhao. Algum tempo depois dele, Tiago, filho de Zebedeu, foi assassinado,

    Estvo caiu sob injrias e pedras, Simo Pedro foi conduzido ao martrio extremo e Paulo de Tarso tombou, sob golpes de espada, por estarem, todos eles, ensinando a verdade e praticando o bem.

    Hoje, no podemos precisar de que modo desencarnaro os mdiuns espritas ocupados em tarefa libertadora das conscincias, mas importante que vivam atendendo aos prprios deveres, para que recebam corretamente a morte, quando no seja na palma do herosmo, pelo menos na dignidade do

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    trabalho edificante.

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    32 Mdium inesquecvel

    Reunio pblica de 6/5/60

    Questo n 231 - Pargrafo 1 Estudando mediunidade e ambiente, recordemos um dos mdiuns inesquecveis dos dias apostlicos: Paulo de Tarso. Em torno dele, tudo era contra a luz do Evangelho. A sombra do fanatismo e da crueldade no se instalara apenas no Sindrio, onde se lhe situava a corte dos mentores e amigos, mas tambm nele prprio, transformando-o em perigoso instrumento da perseguio e da morte. Feria, humilhava e injuriava a todos os que no pensassem pelos princpios que lhe norteavam a ao. Mas, desabrocha-lhe a mediunidade inesperadamente. V Jesus redivivo e escuta-lhe a voz. Aterrado, reconhece os enganos em que vivera. Entretanto, no perde tempo em lamentaes inteis. No sucumbe desesperado. No se confia volpia da autocondenao. No foge luta pela renovao intima.

    Percebe que no pode recolher, de pronto, a simpatia da famlia espiritual de Jesus, mas no se sente fracassado por isso.

    Observa a extenso dos prprios erros, mas no se entrega ao remorso vazio.

    Empreende, com sacrifcio, a viagem da prpria renovao. Para tanto, no reclama a cooperao alheia, mas dispe-se, ele mesmo, a

    colaborar com os outros. Encontra imensas dificuldades para a iluminao da alma; no entanto, no

    esmorece na luta. Segundo a palavra fiel do Novo Testamento, aoitado e preso, vrias

    vezes, pelo amor com que ensinava a verdade, mas, em contraposio, na Licania e na Macednia, foi tido como sendo Mercrio encarnado e Servo do Pai Altssimo.

    No se sente, todavia, esmagado pela flagelao ou confundido pelo xito. Tolera assaltos e elogios como o pagador correto, interessado no resgate

    das prprias contas. Diz ainda a Boa-Nova que Deus operava maravilhas pelas mos dele;

    entretanto, ele prprio declara trazer consigo um espinho na carne, que o obriga a viver em provao permanente.

    E enquanto o corpo lhe permite, d testemunho da realidade espiritual, combatendo ignorncia e superstio, maldade e orgulho, tentao e vaidade.

    Nem ouro fcil. Nem privilgios. Nem cidadela social. Nem apoio poltico. Ele e o tear que o ajudava a sustentar-se ficaram, atravs dos sculos,

    como smbolo perfeito de influncia pessoal e meio adverso, ensinando-nos a todos, principalmente a ns outros, encarnados e desencarnados de todos os tempos, que podemos pedir orientao falar em orientao, examinar os

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    sistemas de orientao mas que, acima de tudo, precisamos ser a prpria orientao em ns mesmos.

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    33 Incrdulos

    Reunio pblica de 9/5/60 Captulo 31 - Dissertao 6

    Regozijar-se-iam, sim, com a verdade que nos enriquece de otimismo e consolo! Se pudessem, acalentariam a claridade da f, com a emoo dos cegos que recobrassem repentinamente a viso, diante da alvorada, deslumbrados de jbilo... Se pudessem, estariam erguidos confiana como rvores generosas levantadas para o cu. Contudo, transitam na Terra feio de alienados mentais que a Cincia no v. Terrenos devastados pelo incndio das paixes, acabaram dominados pelos vermes do materialismo que lhes corroem os ltimos embries de esperana, muitas vezes em festins de sarcasmo. Quereriam vibrar ao calor da convico na sobrevivncia, mas trazem o corao enregelado pela nvoa da morte. So legisladores e no procuram as leis profundas que regem a vida, so professores e no conhecem a essncia das lies que transmitem, so mdicos e no auscultam os princpios sutis que organizam as formas, so juizes e no estudam as reaes do destino nas vitimas do mal que lhes so dadas a exame, so advogados e no Identificam a santidade do direito, so artistas e no buscam a glria oculta da arte, so operrios e no percebem a substncia divina do trabalho, so pais e mes e no pressentem a sabedoria com que se lhes estrutura o alicerce do lar.

    Incrdulos, tateiam na sombra que lhes verte do crebro mergulhado na incompreenso.

    No lhes agraves os padecimentos com palavras amargas! Injuriando-lhes as opinies, mais abriremos as feridas que lhes sangram no

    peito. O azedume estabelece, para os espritos viciados na irritao, seis

    modalidades de tributos calamitosos: a perda do trabalho, a perda do auxilio, a perda do equilbrio, a perda da afeio, a perda da oportunidade e a perda de tempo. Diante deles, nossos Irmos que se tresmalharam na Irresponsabilidade e no desespero, desdobremos a abnegao, a tolerncia e a caridade, multiplicando as obras da educao e os valores espontneos do bem, porque toda criatura que nega a paternidade de Deus e recusa admitir a existncia da prpria alma est carecendo de socorro no hospital da orao e no abrigo do bom exemplo.

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    34 Desertores

    Reunio pblica de 13/5/60

    Questo n 220 - Pargrafos 1, 2 e 3

    Mdiuns desertores no so apenas aqueles que deixam de transmitir com fidelidade sinais e palavras, avisos e observaes da Esfera Espiritual para a Esfera Fsica.

    De criatura a criatura flui a corrente da vida e todos ns, encarnados e desencarnados de qualquer condio, estamos conclamados a lutar pela vitria do Bem Eterno.

    Desertores so igualmente: Os que armazenam o po, sem proveito justo, convertendo cereais em

    cifres vazios; Os que pregam virtudes religiosas e sociais, acolhendo-se em trincheiras

    de usura; Os que fecham escolas, escancarando prises; Os que transformam as chaves da Cincia em gazuas douradas; Os que levantam casas de socorro, desviando recursos que deveriam ser

    aplicados para sanar as dores do prximo; Os que exterminam crianas em formao, garantindo a Impunidade, no

    silncio das prprias vitimas; As mes que, sem motivo, emudecem as trompas da vida no santurio do

    prprio corpo, embriagando-se de prazeres que vo estuar na loucura; Os que aviltam a inteligncia, vendendo emoes na feira do vcio; Os que se afogam lentamente no lcool; Os que matam o tempo para que o tempo no lhes d responsabilidade; Os que passam as horas censurando atitudes de outrem, olvidando os

    deveres que lhes competem; Os que andam no mundo com todos os desejos satisfeitos; Os que no sentem necessidade de trabalhar; Os que clamam contra a ingratido sem examinar os problemas dos

    supostos Ingratos; Os que julgam comprar o cu, entregando um vintm ao servio da

    caridade e reservando milhes para enlouquecer os prprios descendentes, nos inventrios de sangue e dio;

    Os que condenam e amaldioam, ao invs de compreender e abenoar; Os que perderam a simplicidade e precisam de uma torre de marfim para

    viver; Os que se fazem peso morto, dificultando o curso das boas obras... Desero! Desero! Se trazemos semelhante chaga, corrigenda para

    ns!... E se a vemos nos outros, compaixo para eles!...

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    35 Caridade e tolerncia

    Reunio pblica de 16/5/60

    Captulo XXXI - Dissertao XIII Milhares de criaturas esperavam-no coroado de louros, numa carruagem de

    glria. Ele, o Grande renovador, deveria surgir numa apoteose de exaltao

    individual. O trono dourado. O cetro imponente. O laurel dos triunfadores. A tnica solar. Os olhos injetados de orgulho. O verbo supremo. A exibio de riquezas. Os espetculos de poder. A escolta anglica. As sentenas Inapelveis.

    *

    Jesus, porm, caminha entre os homens, maneira de servidor vulgar, de vilarejo em vilarejo. Veste-se conforme as usanas dos que o cercam. Apostoliza em lares e barcos emprestados. Ouve atenciosamente mulheres consideradas desprezveis.

    Atende a homens conhecidos por malfeitores. Serve-se mesa de pessoas classificadas como indignas. Abraa crianas desamparadas. Socorre doentes annimos. Acolhe a todos por amigos, a ponto de aceitar como discipulo aquele que

    desertaria, dominado pela ambio. Recebe remoques e injrias de quantos lhe exigem sinais do esprito. E parte do mundo, banido, entre ladres, sob violncia e sarcasmo; no

    entanto, em circunstncia alguma condena ou amaldioa, mas sim suporta e ajuda sempre, respeitando nos seus ofensores filhos de Deus que o tempo renovara.

    *

    Tambm na Doutrina Esprita, indene de todo crcere dogmtico, a indagao campeia livremente.

    Cristianismo redivivo, qual acontecia na poca da presena direta do Senhor, junto dela hoje enxameiam, de mistura com os coraes generosos que amam e auxiliam, as antigas legies dos desesperados, dos escame-cedores, dos indecisos, dos investigadores contumazes, dos inquisidores da opinio, dos perseguidores gratuitos, dos gnios estreis, dos cpticos frios e dos ignorantes sequiosos de privilgios, por doentes da alma...

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    Entretanto, se Jesus, que foi o Embaixador Divino, para manter-se ligado Esfera Superior exerceu a caridade e a tolerncia em todos os graus, como fugir delas, ns, espritos endividados perante a Lei, necessitados do perdo e do amparo uns dos outros? por Isso que, em nossas atividades, precisamos todos de obrigao cumprida e atitude exata, humildade vigilante e f operosa, com a caridade e a tolerncia infatigveis para com todos, sem desprezar a ningum.

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    36 Tua parte

    Reunio pblica de 20/5/60

    Questo n 233 Toda produo medianmica a soma do mensageiro espiritual com o mdium e as influncias do meio. Partilhando a equipe de intercmbio, a parcela de teu concurso inevitvel na equao. Em cada setor de trabalho, a obra d sempre o troco do que lhe damos. A vida conta em ti mesmo o que lhe fazes. O campo d noticias do lavrador.

    * Por mais respeitvel seja o mdium a quem recorras, no exijas que ele fornea, sozinho, a soluo de tuas necessidades, porque o Criador fez a Criao de tal modo que todas as criaturas se interdependam em qualquer construo, por mais simples que seja. Se entre os ingredientes de um bolo for adicionada pequena colher de cinza a dezenas de colheres outras de material puro e nobre, o elemento estranho deturpar toda a pea, ainda mesmo quando preparado num vaso de ouro.

    Paganini tocava numa corda s, mas a cravelha e o brao, o cavalete e o tampo harmnico do violino sustentavam a melodia.

    Ticiano pintava admiravelmente aos noventa e nove anos de Idade; contudo, no dispensava paletas e pincis, telas e tintas na condio adequada.

    Um tcnico de eletricidade far luz, banindo as trevas de qualquer parte; no entanto, necessitar de recursos com que possa captar, dinamizar, distribuir e reter a fora.

    *

    E no digas que apenas a m-f provoca o desastre quando o desastre

    aparece. Desleixo crueldade em mscara diferente. Se um malfeitor col