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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - UENP

CAMPUS DE JACAREZINHO

MARIZA CONCEIÇÃO LOPES VIEIRA

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

UNIDADE DIDÁTICA

A MÚSICA COMO FONTE HISTÓRICA E RECURSO DIDÁTICO

IBAITI 2011

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MARIZA CONCEICAO LOPES VIEIRA

A MÚSICA COMO FONTE HISTÓRICA E RECURSO DIDÁTICO

Produção Didático-Pedagógica, prevista no Projeto de Intervenção Pedagógica, como estratégia de ação a ser utilizada durante a implementação do Projeto na Escola, como requisito parcial apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, sob orientação do Professor Mestre Flávio M. Martins Ruckstadter.

IBAITI 2011

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SUMÁRIO

1 – APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 03

2 – PROCEDIMENTOS ......................................................................................... 04

3 – CONTEÚDOS DE ESTUDO ............................................................................ 06

4 – ORIENTAÇÕES DO USO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA ......... 14

5 – PROPOSTAS DE AVALIAÇÃO ........................................................................ 14

6 – REFERÊNCIAS ............................................................................................... 16

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1 - APRESENTAÇÃO

A presente Produção Didático-Pedagógica trata-se de uma Unidade

Didática, cujo tema é: A música como fonte histórica e recurso didático, prevista

no Projeto de Intervenção Pedagógica, como uma das estratégias de ação a ser

utilizada pela Professora PDE durante a implementação do projeto na escola, no

terceiro período do programa, quando do retorno às aulas, no segundo semestre de

2011.

Este material didático tem como objetivo, sugerir e orientar o

desenvolvimento de um dos conteúdos propostos no projeto, a fim de verificar sua

viabilidade pedagógica, com fundamentação teórica para professores e alunos,

atividades relacionadas à música e o ensino de História, destinado a um público de

8ª série/9º ano do Ensino Fundamental.

As Diretrizes Curriculares de História do Estado do Paraná sugerem que o

ensino de História tenha uma metodologia, voltada à pesquisa e a investigação de

diferentes fontes históricas, como por exemplo, a música, objeto de estudo deste

trabalho.

Esta proposta metodológica surgiu da experiência docente, quando

verificamos que grande parte dos alunos apresentam certa resistência em relação à

disciplina, devido a dificuldade de interpretação dos fatos históricos, pois estes,

quase sempre, são apresentados em forma de longos textos narrativos, falando de

um tempo que para eles é muito distante e fora de sua realidade. Por isso, a

intervenção do professor é de suma importância.

O presente material didático, não tem a pretensão de dar receitas prontas

para o uso da música em sala de aula, mas apenas levantar algumas reflexões

sobre este valioso recurso metodológico, ou seja, aproveitar uma linguagem

conhecida e bem aceita no meio estudantil, com sugestões de análise da produção

musical durante os anos da Ditadura Militar e da redemocratização do Brasil, nas

décadas de 1960 a 1990, priorizando as músicas de protesto ao regime político

então vigente, as que convocavam a população a tomada de atitudes e aquelas que

faziam críticas ao cidadão brasileiro pacato e conformado, que certamente os alunos

poderão conferir, em suas pesquisas.

Ao investigar a música como fonte histórica, pretende-se com esta produção,

apresentar uma alternativa prazerosa para o aluno de aprender História e contribuir

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com a prática docente, de como a música pode ser trabalhada em sala de aula.

Alertamos que, por ser amplo o recorte histórico deste trabalho, e não ser possível

fazer um estudo de toda a produção musical da época, será feita a análise de uma

composição de cada período, em destaque (1964-1968; 1968-1974; 1974-1985;

1985-1992), não se esgotando aqui as possibilidades de muitas outras músicas e

estratégias de ações, que poderão ser realizadas para auxiliar o aluno na

compreensão do contexto histórico e que igualmente, seja motivação para entender

que costumes e hábitos do cotidiano vividos no presente, podem ser explicados

historicamente.

Esperamos realizar um bom trabalho de pesquisa, estudo, reflexão e

produção e que os professores, na medida do possível apliquem em suas turmas,

para depois socializar os resultados.

2- PROCEDIMENTOS

Este trabalho, pretende responder às novas linguagens que a metodologia

da História atual propõe, utilizando a música como fonte histórica e recurso didático.

Para isso, é necessário que o docente conheça os limites e possibilidades de seu

uso, buscando com seus alunos as respostas para as problematizações

apresentadas.

Conforme afirma Circe Bittencourt, pensar a linguagem musical de

determinado período da História, não é tarefa simples; “no processo de

transformação da música para ser ouvida em música para ser compreendida, é

importante acompanhar a produção historiográfica sobre a música e entender como

os historiadores a pensam”. Desse modo, somente a investigação e a pesquisa

histórica, permitirão a análise do contexto em que viviam compositores e cantores da

época e o esclarecimento dos fatos abordados nas composições. Circe acrescenta

ainda que é importante que “o professor conheça a história da música, se possível,

especialmente a história da música no Brasil.” (BITTENCOURT, 2008, p. 380).

Ao docente compete relacionar o conteúdo à realidade social do aluno, a fim

de que ele faça a correspondência entre passado e presente, entenda as

transformações, mudanças e permanências no decorrer da História e seja

estimulado a construir seu próprio conhecimento histórico, como afirmam as

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historiadoras Helenice Ciampi e Conceição Cabrini: “o ensino de História deve

organizar-se no sentido do entendimento da realidade do aluno, contribuindo para

que ele se exercite no ato de pensar e de se expressar” (CIAMPI, 2005, p.14).

Nesse sentido, a música é uma possibilidade de superar a apatia e

desinteresse pelo saber, devido muitas vezes, à vivência de uma realidade

desalentadora que impede o aluno de se perceber como sujeito histórico.

Selecionar as músicas das décadas de 1960 a 1990 pode tornar-se uma

grande dificuldade, devido a produção musical ser muito rica, no sentido de refletir o

contexto histórico da época e por ter sido bem aceita e divulgada pelo povo, o qual

entendeu o recado dos artistas que apontavam para os problemas sociais no país e

pelos quais eram também vítimas do regime militar. Porém, como já foi dito, trata-se

de um exemplo apenas, que poderá ser feito com outras composições, a critério

do(a) docente e do mesmo modo realizar outras atividades relacionadas ao tema,

como sugere Alexandre Fiúza:

“As canções podem se traduzir em outras manifestações artísticas em sala de aula: pinturas, charges, teatralizações, produção textual, paródias, composições musicais que, por sua vez, podem também fazer parte do material a ser utilizado em sala, ser pensados como documentos, como novas formas de problematização dos temas propostos.”( FIÚZA, 2005, p. 96).

Para este trabalho, fizemos a seguinte seleção: período de 1964 a 1968, a

música de Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei das flores”; de 1968 a 1974,

a música de Chico Buarque “Apesar de você”; de 1974 a 1985, a música de João

Bosco e Aldir Blanc “O bêbado e a equilibrista”; de 1985 a 1992, a música de

Cazuza, Nilo Romero e George Israel “Brasil”

As letras e vídeos destas e demais canções são encontrados nos seguintes

sites:

http://www.letras.terra.com.br

http://www.latinoamericano.jor.br/musica_brasil_mpb_ditadura.html

http://franklinmartins.com.br

http://www.youtube.com/watch

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3 – CONTEÚDOS DE ESTUDO

As grandes agitações político-sociais dos anos 60 nasceram no meio

universitário, com a juventude engajada das chamadas lutas estudantis. Países

como França, Inglaterra, Tchecoslováquia, Estados Unidos, México, Brasil, entre

outros, se revoltaram contra seus governos pouco democráticos. Diante de sistemas

governamentais como estes, os jovens fizeram história. Passaram a questionar as

velhas estruturas que sustentavam a sociedade e a exigir uma tomada de posição

quanto às injustiças e misérias humanas. Na América e na Europa, os jovens

protestaram contra as guerras, a corrida armamentista, o poder imperialista, o

racismo, o preconceito, a discriminação de minorias étnicas, o consumismo e os

modelos de educação até então baseados na repressão cultural e sexual.

Esses movimentos de contestação atingiram seu clímax em 1968, quando

vários países do mundo, foram tomados por revoltas de grandes dimensões na

forma de protesto de massa contra a ordem dominante. O capitalismo era visto como

um sistema desumano e explorador e o comunismo era criticado pela falta de

liberdades democráticas.

O historiador Boris Fausto, afirma que:

1968 não foi um ano qualquer. Em vários países, os jovens se rebelaram, embalados pelo sonho de um mundo novo. Nos Estados Unidos, houve grandes manifestações contra a Guerra do Vietnã; na França, a luta inicial pela transformação do sistema educativo assumiu tal amplitude que chegou a ameaçar o governo De Gaulle. Buscava-se revolucionar todas as áreas do comportamento, em busca da libertação sexual e da afirmação da mulher. As formas políticas tradicionais eram vistas como velharias e esperava-se colocar “a imaginação no poder”. Esse clima, que no Brasil teve efeitos visíveis no plano da cultura em geral e da arte, especialmente da música popular, deu também impulso à mobilização social. ( FAUSTO, 2007, P. 477)

É nesse contexto e panorama mundial que despontaram as canções de

protesto. A música serviu como canal de expressão para a juventude refletir sobre os

problemas internos e externos de seus países. No Brasil, os estudantes se

organizaram em torno da União Nacional dos Estudantes (UNE) e questionaram um

regime ditatorial que nasceu reprimindo a participação política e as manifestações

que demonstrassem perigo à nova ordem estabelecida.

Os estudantes que tinham tido um papel de relevo no período Goulart foram especialmente visados pela repressão. Logo a 1º de abril, a sede da UNE

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no Rio de Janeiro foi invadida e incendiada. Após sua dissolução passou a atuar na clandestinidade. A Universidade de Brasília, criada com propósitos renovadores e considerada subversiva pelos militares, sofreu também invasão um dia após o golpe. ( FAUSTO, 2007,p.467)

O Regime Militar que passou a vigorar no Brasil, a partir de 1964 foi

implantado em nome da restauração da ordem e da defesa da democracia. Os

militares tomaram o poder e alteraram completamente as regras da vida política

brasileira, que passou a ser comandada por Atos Institucionais (AIs), os quais

conferiam ao presidente poderes excepcionais, suspendendo os direitos e garantias

estabelecidos na Constituição.

O primeiro episódio da confrontação que marcou o ano de 1968 no Brasil,

aconteceu no mês de março. O restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, era

parcialmente financiado pelo governo para fornecer alimentação barata aos

estudantes, e passou a ser visto como foco de agitações, nas quais se misturavam

reclamações contra a comida aí servida com críticas militares. Na noite de 28 de

março, os estudantes iriam partir do Calabouço em passeata, mas foram impedidos

pela Polícia Militar. Houve vaias, pedradas e tiros. Nesse confronto o estudante

paraense Édson Luís de Lima Souto, foi morto, gerando grande comoção no povo do

Rio de Janeiro e manifestações nas capitais em todo o Brasil.

A partir desse momento, os tempos já não eram de paz. Outras

manifestações ocorreram como a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, os

confrontos entre a população e a polícia se tornaram constantes e cada vez mais

reprimidos pelo regime militar. Os conflitos, o clima tenso e a angústia, refletiam nas

músicas e nas artes em geral. A irreverência da juventude deixou as ruas e subiu

nos palcos, num protesto tolerado pelos donos do poder. A peça Roda Viva, de

Chico Buarque, explodiu nos palcos.

Desse período, a música “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, transformou-se em hino de resistência, cantada de forma emocionada no Festival Internacional da Canção em 1968, e silenciada, assim como seu autor, até 1979, e que passou a ser mais conhecida por “Caminhando”. (CUNHA, 2005, p.61).

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Atividades para o aluno

Pesquise a música completa de Geraldo Vandré, relacione-a ao contexto histórico da época (1964 -1968) e depois faça o debate a seguir com seu(a) professor(a) e colegas de sala.

Música: Pra não dizer que não falei das flores

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais, braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer(...)

(Geraldo Vandré, 1968)

DEBATE

Mas afinal, o que havia de comprometedor nesta música para ser

censurada?

Qual era o regime político vigente e o contexto histórico em que vivia o

país?

Você consegue dizer o porquê do título: “Pra não dizer que não falei das

flores”?

O que significava a frase: “somos todos iguais braços dados ou não”?

Por que será que o autor fala da fome em grandes plantações?

O que sugere o refrão: “Vem, vamos embora que esperar não é saber,

quem sabe faz a hora, não espera acontecer”?

Em 13 de dezembro de 1968 o Presidente Artur da Costa e Silva decretou o

mais repressor de todos os Atos Institucionais o AI-5, o qual lhe dava plenos

poderes, como: de intervir nos estados e municípios; fechar o Congresso; suspender

os direitos políticos; cassar mandatos eletivos; decretar estado de sítio; entre outros,

como também a censura prévia a imprensa, ao teatro, ao cinema e a televisão;

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universidades e escolas ficaram sob estreita vigilância. A essa altura o povo

brasileiro já havia percebido que não se tratava de uma democracia e sim uma

ditadura.

Sobre os anos de Ditadura Militar, o sociólogo Herbert José de Souza,

comentou em um artigo na Folha de São Paulo.

O golpe militar de 1964 foi o fim do voto, da liberdade, da dignidade do cidadão. Começo da tortura, da morte, da tentativa de inibir a liberdade pelo reino do terror. Lutar contra a ditadura era prova de loucura. Custou para que os sinais se invertessem e o poder se dobrasse. A sociedade se levantou, movida a amor pela liberdade. O golpe deixou um Congresso sem poder e dignidade. Um Congresso corrompido. Um judiciário domesticado. Partidos medrosos. Civis servis de militares arrogantes. Riqueza para uma minoria e a pobreza e indigência para a maioria. Transformou o Brasil num grande apartheid social.(FOLHA DE SÃO PAULO, 01 de abril 1994).

A contestação pela música tinha como objetivo “conscientizar politicamente”

a sociedade em geral e protestar contra o autoritarismo do governo federal.

Compositores e músicos usavam metáforas e trocadilhos para as canções não

serem vetadas. Como exemplo, isso pode ser verificado nas canções de Chico

Buarque de Holanda, talvez um dos artistas mais perseguidos pela censura, a tal

ponto de não poder assinar suas composições. Chico passou a usar um

pseudônimo, Julinho da Adelaide, porém não foi o suficiente para driblar a censura.

Foi então, quando o compositor saiu do país para o exílio.

Atividades para o aluno:

Analise uma das músicas de Chico Buarque, Apesar de você, (1970) pós AI-5, tida como a canção do silêncio. Mesmo usando uma linguagem simbólica, a música foi entendida pelo público, que a adotou como “hino de resistência”, em diálogo e resposta ao governo.

Música: Apesar de você

Hoje você é quem manda

Falou, tá falado

Não tem discussão,

A minha gente hoje anda

Falando de lado e olhando pro chão, viu

Você que inventou esse Estado

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Inventou de inventar Toda escuridão

Você que inventou o pecado

Esqueceu-se de inventar, o perdão

Apesar de você

Amanha há de ser outro dia

Eu pergunto a você onde vai se esconder

Da enorme euforia

Como vai proibir (...)

(Chico Buarque, 1970)

DEBATE

Em que contexto histórico vivia o país, na época dessa música?

A quem se refere o “você” na música?

Que tipo de afirmação existe na música?

Se você fosse um censor, por que censuraria esta música?

Pesquise sobre o AI-5 e sua repercussão na vida do povo brasileiro e por

que esse Ato Institucional marcou o período chamado “anos de chumbo”?

Os 21 anos de governo militar no Brasil, se caracterizaram pelo

agravamento dos problemas sociais, inflação, dívida externa e também pela

hostilidade às manifestações culturais. Escritores, compositores, cineastas, tiveram

suas produções artísticas censuradas, quando não foram presos, torturados ou

exilados.

Ao final da década de 1970, a pressão pela abertura democrática vinha de

todos os lados, mas o regime se mantinha firme. As incertezas eram imensas e

quem ousava levantar a voz contra o regime, corria o risco de pagar, até com a

própria vida.

A música: O bêbado e a equilibrista de João Bosco e Aldir Blanc, retrata

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muito bem esse período da Ditadura Militar. Lançada em 1979, tornou-se em “hino

da anistia, pois fala dos que foram exilados, dos que partiram às pressas como num

rabo de foguete, que as esposas e mães dos exilados ficaram chorando, que a

pátria mãe gentil também chorava, mas mesmo assim havia uma esperança, o

sonho da volta, e que o desejo de liberdade sempre estará no coração do homem.

Atividades para o aluno

Pesquise sobre esse período da História do Brasil (1974 -1985) e relacione a música com o contexto da época.

Música: O bêbado e a equilibrista

Caía a tarde feito um viaduto

E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos

A lua tal qual a dona do bordel

Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel

e nuvens lá no mata-borrão do céu Chupavam manchas torturadas, que sufoco

louco

O bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil

Prá noite do Brasil(...)

(Elis Regina,1979)

DEBATE

O que foi a campanha pela anistia? Anistia para quem?

Por que será que o autor relacionou o bêbado em traje de luto com

Carlitos?

Quem era Carlitos?

Quem era o irmão do Henfil, as Marias e Clarices?

Por que 1979 foi um ano importante dentro do período militar?

A abertura política foi lenta e gradual. Após mais de uma década a

sociedade se mobilizou e forçou as mudanças do regime com as manifestações

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públicas, reunindo milhares de pessoas, como por exemplo, na campanha pela

anistia (1979) e a campanha pelas Diretas-já (1984). Nessa época o povo voltou a

cantar as músicas que foram censuradas. Artistas famosos foram a comícios para

cantar e apoiar o movimento das Diretas-já.

O historiador e professor Marcos Napolitano, faz uma análise do

comportamento da população, nessa época:

O comparecimento em massa do público (…) revelou uma vontade de participação do cidadão comum ( ou seja, aquele não ligado organicamente a entidades civis ou a organizações políticas) (…). a ocupação das ruas pelo cidadão (…) era uma afronta aos princípios da doutrina de segurança Nacional. O regime militar se esforçaria para despolitizar e controlar o espaço público (…) Para os personagens que não tinham espaço institucional na política de abertura, ocupar as ruas era uma forma ainda que simbólica, de exercer a cidadania e protestar contra os rumos históricos da nação.(NAPOLITANO, 1998, p. 95-6)

A agonia da sociedade brasileira terminou em 15 de janeiro de 1985 com a

eleição indireta de Tancredo Neves e José Sarney. Não foi como o povo esperava,

mas mesmo assim foi muito festejada, pois significava a volta da tão sonhada

democracia. Porém, a ansiedade e a expectativa do povo brasileiro durariam mais

algum tempo. Tancredo Neves adoeceu e morreu antes da posse, e o seu vice, José

Sarney, assumiu a presidência com o compromisso de redemocratizar o Brasil.

Havia muito o que se fazer para reparar os estragos causados pelo governo militar e

problemas urgentes a se resolver, entre eles: transição democrática, reforma

partidária, reforma agrária, desemprego, inflação, dívida externa e elaboração de

uma nova Constituição que contemplasse igualdade de direitos para todos.

Com a abertura do regime político, o radicalismo dos jovens dos anos 60 e

70 foi tomando outras direções, sem, contudo, deixar de fazer valer seus protestos

quando necessário. Exemplo disso foi o impeachment (1992) do ex-presidente

Fernando Collor de Mello, com a participação dos caras-pintadas, como foram

rotulados. Porém, outros desafios passaram a ser questionados como: desigualdade

social, ecologia, drogas, consumismo e a chamada “geração coca-cola”. No campo

da música surgem outras tendências musicais como o rock, o funk e o hip-hop.

Compositores e músicos vão continuar fazendo suas críticas diante do cenário da

história brasileira em suas produções. Entre eles vários grupos musicais, tais como:

Skank, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Engenheiros do

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Hawaii, Cidade Negra e Cazuza.

A música “Brasil” de Cazuza (1888), causou grande repercussão na

sociedade da época, pois denunciava os podres da política vigente. Mesmo o país

vivendo os primeiros anos de democracia, o povo estava massacrado com a

inflação, dívida externa, arrocho salarial, problemas sociais, entre outros. Certa vez

em entrevista Cazuza comentou sobre esta música. “Nunca gostei de política (…)

Sarney que era o não diretas virou o rei da democracia. O Brasil é mesmo um triste

país tropical”.

Atividades para o aluno

Pesquise sobre essa música e o contexto histórico da época (1985 -1992). A letra deixa transparecer o desencanto com o país, já nem se sabe mais que cara tem, com tanta corrupção, os gastos absurdos e as mordomias dos políticos, enquanto o povo fica de fora assistindo a festa para a qual não foi convidado. Para o povo sobram apenas os problemas.

Música: Brasil

Não me convidaram

Pra essa festa pobre

Que os homens armaram pra me convencer

A pagar sem ver

Toda essa droga

Que já vem malhada antes de eu nascer(...)

(Cazuza, 1988)

DEBATE

Como o autor descreve a cara do Brasil?

O Brasil só tem uma cara?

A História tem algo a ver com essa cara?

Quem paga pela sujeira dos políticos?

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Qual a cara do Brasil hoje?

4 – ORIENTAÇÕES DO USO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

Esta pesquisa aponta para a viabilidade da música como opção

metodológica nas aulas de História, atentando para as suas relações como objeto de

estudo e seus efeitos no período em que foram produzidas.

Hoje, ao apresentar para os alunos tais músicas, é necessário levar em

conta que eles desconhecem tanto as músicas, quanto o sentido atribuído a elas.

Quando se ouve a mesma gravação/interpretação, já não se pode ter o mesmo

sentido original.

Cabe ao professor(...), aproximar o aluno dos personagens concretos da

História, sem idealização, mostrando que gente como a gente vem fazendo

História. Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais

terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante,

mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer. O

verdadeiro potencial transformador da História é a oportunidade que ela

oferece de praticar a “inclusão histórica”...(PINSKY, 2010, p. 28)

Portanto, o professor deve orientar seus alunos para que não se perca o

sentido, devido à mudança de contexto, mas também, atribuir sentido condizente

com o contexto atual. Fazer as relações com o passado e o presente, as mudanças

e permanências dos problemas sociais do país em todos os tempos, é essencial

para que nosso aluno tenha consciência de que é “sujeito de sua própria história e,

por conseguinte, da História Social do seu tempo.” (PINSKY, 2010, p.28)

5 – PROPOSTA DE AVALIAÇÃO

O ensino de História se fundamenta em formar no aluno a consciência

histórica, isto é, interpretar a realidade, sentir-se parte da História.

Maria Auxiliadora Schmidt, afirma que:

“O aluno que declara “eu não sirvo para aprender História” evidencia a

interiorização de preconceitos e incapacidades não resolvidas. Ele deve

entender que o conhecimento histórico não é uma mercadoria que se compra

bem ou mal.” (SCHMIDT, 2004, p.30-31)

Para que o aluno construa seu próprio conhecimento histórico, esta proposta

de avaliação sugere ao professor, dar suporte teórico, intercalando com explicações,

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atividades, pesquisas e produções de textos escritos, debates, filmes,

documentários, textos complementares, entre outros como, depoimentos na sala de

aula de pessoas de diversos segmentos da sociedade, que viveram na época do

recorte histórico em estudo, como exemplo, entrevistar pessoas de qualquer época

da Ditadura Militar: um professor, um estudante, um comerciante, um ex-prefeito ou

vereador, um policial, um funcionário público, uma pessoa do campo, uma dona de

casa, entre outros. Certamente cada um falará sua versão sobre esse período da

história de suas vidas e da História do Brasil, de acordo com a leitura de mundo que

cada um tem. Isso servirá para melhor compreensão e apropriação do conteúdo pelo

aluno.

Todas as atividades desenvolvidas durante a implementação do projeto, como

as descritas nesta Unidade Didática e outras elaboradas, deverão ser organizadas

pelo aluno em um portfólio e ao final de cada uma, propor que ele faça por escrito,

um relatório síntese do que aprendeu sobre o conteúdo de estudo. “O aluno deve

entender que o conhecimento histórico não é adquirido como um dom(...) “eu não

dou para aprender História” (SCHMIDT, 2005,p.57). A apropriação do conhecimento

histórico, se adquire com o esforço, o interesse e a participação ativa no processo de

construção do conhecimento. Portanto, a avaliação deverá ser diagnóstica,

processual e contínua durante o desenvolvimento de todas as atividades realizadas.

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6 - REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes.Ensino de história: fundamentos e métodos 2. Ed. – São Paulo: Cortez, 2008

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Sites visitados:

http://www.letras.terra.com.br

http://www.latinoamericano.jor.br/musica_brasil_mpb_ditadura.html

http://franklinmartins.com.br

http:/www.youtube.com/watch