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1

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ (SEED) PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL (PDE)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA (UEPG)

RENEI LUCAS COELHO

A vez dos povos indígenas, visibilidades necessárias para a compreensão dos Kaingang

PONTA GROSSA

2011

2

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ (SEED) PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL (PDE)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA (UEPG)

RENEI LUCAS COELHO

PROFESSOR ORIENTADOR: MS. JOSÉ ROBERTO DE VASCONCELOS GALDINO

A VEZ DOS POVOS INDÍGENAS, VISIBILIDADES NECESSÁRIAS PARA A COMPREENSÃO DOS KAINGANG

Produção Didático Pedagógica apresentada Como requisito para obter certificação do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria Estadual de Educação Do Paraná (SEED), Coordenado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

PONTA GROSSA 2011

3

SUMÁRIO

1. LISTA DE FIGURAS.....................................................................................04

2. APRESENTAÇÃO.........................................................................................05

3. INTRODUÇÃO..............................................................................................06

4. A CHEGADA DO COLONIZADOR EUROPEU............................................07

5. PRESENÇA INDÍGENA NO PARANÁ.........................................................10

6. QUEM SÃO OS KAINGANG?......................................................................13

7. A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO INDIGENA PARANAENSE....................17

8. OS ÓRGÃOS PÚBLICOS DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO................................23

9. O QUE SÃO TERRAS INDÍGENAS?...........................................................27

10. A SOCIEDADE KAINGANG.........................................................................30

11. A ECONOMIA KAINGANG...........................................................................34

12. A CRIAÇÃO DOS ALDEAMENTOS.............................................................37

13. ESTUDO DE CASO: ALDEIA DE QUEIMADAS..........................................40

14. MITOS KAINGANG.......................................................................................42

15. REFERÊNCIAS.............................................................................................45

4

LISTA DE FIGURAS

Fig. 01: Viemos em Paz.............................................................................................07

Fig. 02: Montagem......................................................................................................10

Fig. 03: Índio...............................................................................................................13

Fig. 04: Charge 1........................................................................................................17

Fig. 05: FUNAI............................................................................................................22

Fig. 06: Tem lugar para Todos...................................................................................26

Fig. 07: Reprodução Padrões kaingang.....................................................................29

Fig. 08: Marcas de divisão de território......................................................................30

Fig. 09: Charge 2 ……………………………………………………………………….....33

Fig. 10: A Aldeia…………………………………………………………………...............36

Fig. 11: Conversa de família..…………………………………………………….............41

5

APRESENTAÇÃO:

A Unidade Didática foi elaborada para cumprir requisitos sobre pesquisa e

produção científica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da

Secretária de Educação do Estado do Paraná. Com o objetivo de direcionar a

proposta de intervenção que se realizará na rede pública de Ensino no ano de 2011.

O Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDE) é uma política

desenvolvida no Estado do Paraná, objetiva proporcionar a formação continuada, a

produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola

pública paranaense.

Este material Didático é voltado para a os alunos da quinta série do Ensino

Fundamental (sexto ano – Educação Básica), com a temática de reflexão do

indígena, enfatizando o indígena paranaense, principalmente o grupo Kaingang foi

organizado para dar subsídios prioritariamente para a disciplina de História,

procurando cumprir as normas estabelecidas na lei 11.645/08 e 13.381/01,

proporcionando a oportunidade de analisar concepções teóricas e práticas, visando

contribuir para reflexões e possíveis mudanças nas atitudes dos alunos frente a

esses grupos.

Os estudos propostos nesta unidade têm como objetivos:

- Estudar a história dos Kaingang, no Estado do Paraná, procurando dar visibilidade

e um conhecimento crítico sobre esta população;

- Entender os Kaingang como protagonistas e agentes de sua própria historicidade;

- Demonstrar como se dá/dava a distribuição da população Kaingang dentro do

território paranaense;

- Estudar como se deu o contato entre os Kaingang e a sociedade não indígena;

- Resgatar aspectos da organização social, política e cultural dos Kaingang.

6

INTRODUÇÃO:

O processo de “civilização” do índio, segundo a cultura ocidental, deu-se

principalmente por meio da catequese, com o objetivo de integrá-lo ao mercado

capitalista, expropriando suas terras e utilizando-os como mão-de-obra escrava.

Muitos indígenas foram dizimados, por serem considerados empecilhos à expansão

da nascente sociedade brasileira que necessitava de terras para a expansão da

agricultura e da pecuária.

Segundo Pinheiro (2004, p.358): “(...) Cercados pelos brasileiros, os grupos

indígenas foram dizimados e os seus remanescentes alojados em aldeias, Postos

Indígenas (PI) controlados pelo governo.”

O Kaingang de hoje é fruto desse processo, quando a partir do embate com

a cultura não índia procurou-se desmontar a sua forma de organização.

Para Pinheiro:

Costuma-se atribuir a vitória àqueles grupos que dominaram as melhores porções de terras, impuseram suas leis e criaram ideologias compatíveis para dar-lhes credibilidade. No entanto, hoje, os limites dessa vitória estão claros nas suas resultantes: persistência da violência, deterioração das relações com o ambiente ecológico e descaso em relação ao progresso social. Ouvir e reconhecer as determinações históricas dos povos indígenas talvez constitua-se na possibilidade de futuro para os índios e também para não índios. (PINHEIRO, 2004. p.359)

Um dos objetivos da educação é formar cidadãos, isto é, pessoas lúcidas,

críticas e responsáveis. Fundamentalmente, esse propósito é alcançado, por meio,

do estudo. Uma vez que o exercício pleno da cidadania exige conhecimento, cabe a

Escola discutir e fomentar no educando novos olhares frente a “antigas discussões”.

É o caso do indígena que ainda hoje permanece com um estigma que o

coloca cristalizado no tempo, andando nu pela floresta, preguiçoso e incapaz de

lutar pelos seus direitos.

O presente trabalho visa uma desmistificação do indígena Kaingang, com

um olhar voltado à atualidade com vistas ao passado, mostrando que essa etnia

possui uma história, uma cultura, que deve ser conhecida por todos.

7

A CHEGADA DO COLONIZADOR EUROPEU

FIGURA 1: Viemos em Paz

Fonte Charge Adilson Disponível em: http://maracatublog.wordpress.com/2009/08/15/o-descobrimento-do-brasil/

Até o século XV, o continente americano não fazia parte do mundo

conhecido pelos europeus. Com a chegada de Cristóvão Colombo (1492), começava

um novo capítulo para os primitivos habitantes da América.

VOCÊ SABIA?

Segundo Almeida:

As populações indígenas foram indispensáveis ao projeto de colonização, tanto na América hispânica quanto na portuguesa, principalmente em seus primórdios, quando a pouca disponibilidade de capitais, abundância de terras, alta densidade demográfica indígena e população europeia rarefeita eram predominantes. Somem-se a isso as concepções de sociedade fortemente hierarquizada por parte daqueles que para cá se dirigiam e delineavam um projeto colonizador que deveria garantir altos lucros e baixos custos e cuja reprodução ou reiteração temporal dependeria, sobretudo de uma oferta elástica de homens, terras e alimentos. Conclui-se daí que a alternativa mais viável e racional para a exploração econômica do Novo Mundo não podia, absolutamente, prescindir dos povos indígenas: por meio de relações de alianças e/ou de conflitos os europeus buscavam obter deles as terras, os alimentos e o trabalho necessários aos seus empreendimentos coloniais. (ALMEIDA, 2004, p.79)

Com o início da colonização do Brasil, a população indígena sofreu física e

culturalmente a influência da sociedade brasileira em formação, e muitos dos

aspectos de sua cultura foram alterados.

As relações entre indígenas e não indígenas possuiu algumas

particularidades em seus atos, ao longo do processo de formação do povo brasileiro,

mas foi quase sempre marcado por conflitos, devido à imposição do modelo sócio-

econômico e cultural ocidental e a resistência indígena. As conseqüências desses

8

conflitos para os indígenas foram irreversíveis ocasionando desde depopulação,

extermínio, descaracterização física e cultural, bem como, usurpação territorial.

Vamos pesquisar?

Descaracterização –

Depopulação -

Extermínio –

Hierarquizada –

Irreversíveis –

Primórdios -

Usurpação –

ATIVIDADES:

a) Por que com a chegada do Europeu há um novo capítulo da história da

América?____________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Indique por que as populações indígenas eram indispensáveis ao “projeto de

colonização”?________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

9

c) Complete a cruzadinha:

Fonte: http://www.mabilee.com/2010/04/atividades-sobre-dia-do-indio-19-de.html

10

PRESENÇA INDÍGENA NO PARANÁ

FIGURA 2: Montagem Fonte: arquivo do pesquisador

Segundo Lucio Tadeu Motta1, o território que hoje constitui o Estado do

Paraná, antes da chegada do colonizador europeu era habitado por grupos das

etnias: Guarani, Xetá, Kaingang e Xokleng, que disputavam a sua hegemonia

sobre os campos, florestas e rios.

Você sabia?

Dentre essas populações, destaca-se a etnia Kaingang que habitava desde

o planalto de São Paulo até o Planalto do Rio Grande do Sul. No Paraná, ocupavam

as Bacias hidrográficas dos rios Tibagí, Ivaí, Piquiri e Iguaçu2. Atualmente ocupam

uma pequena parte dos seus territórios tradicionais, em terras indígenas

demarcadas.

Com o avanço dos interesses econômicos do Estado Nacional, sobre o

território paranaense, a partir do século XVIII, os Kaingang viram seus vastos

1 MOTTA, Lucio Tadeu. Os Kaingang do Vale do Rio Ivaí – Pr: histórias e relações interculturais. Maringá: Eduem, 2008. 2 LAROQUE, Luis Fernando da Silva. Fronteiras Geográficas, Étnicas e Culturais envolvendo os Kaingang e suas Lideranças no Sul do Brasil. São Leopoldo: Unisinos, 2007.

11

territórios serem reduzidos pela conquista, sendo até mesmo excluídos da história

paranaense pela historiografia oficial.

Para justificar a ocupação dos territórios indígenas, o governo usa da

historiografia oficial3 que criou a idéia de “vazios demográficos”, procurando mostrar

que existiam grandes extensões de terras desabitadas no Paraná, que poderiam ser

ocupadas pelos nacionais e por imigrantes que estivessem dispostos a desbravar os

sertões paranaenses.

Como vimos, ao longo do processo de ocupação, do atual estado Paraná, os

Kaingang ficaram a mercê do processo histórico; esquecidos por anos, considerados

preguiçosos, um atrapalho para o desenvolvimento nacional, que se não fossem

dominados deveriam ser eliminados, como propôs em 1909, Hermann Von Ihering;

em artigo publicado na revista do Museu Paulista4.

Mas, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a etnia Kaingang

sobreviveu e como afirma Galdino:

Hoje, no início do século XXI, os Kaingang, Guarani, Xetá e Xokleng lutam para recuperar parte de seus antigos territórios, para manter sua cultura, suas línguas, para ter saúde, educação, condições materiais de existência. (GALDINO, 2009. p. 92)

VAMOS PESQUISAR? Etnia - Excluído- Hegemonia – Historiografia –

3 MOTTA, Lucio Tadeu. As Guerras dos Índios Kaingang no Paraná: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769 – 1924). Maringá: Eduem, 1994. 4 LAROQUE, Luis Fernando da Silva. Fronteiras Geográficas, Étnicas e Culturais envolvendo os Kaingang e suas Lideranças no Sul do Brasil. São Leopoldo: Unisinos, 2007.

12

ATIVIDADES:

a) Explique o que você entendeu por vazio demográfico.__________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b) Vamos caçar as palavras?

A X F K A I N G A N G L R E G U I M K X L J U O R T P Y G M N O I L A I

E A A P T I B A G I R P

D U D V B V N M U P A I

M C A M O A V L N O N Q U Ç A U G I D T U P I U L M E B V O W E Ç P O I E W D Q P Ç N H T S K R J X O K L E N G B V M I

G R E U O P L U N O N O

KAINGANG GUARANI

XOKLENG XETÁ IGUAÇU

TUPI IVAÍ

TIBAGI PIQUIRI

13

QUEM SÃO OS KAINGANG?

Fig.3: Índio

Fonte: http://www.a77.com.br

Os Kaingang pertencem ao tronco linguístico Jê. Ao longo dos tempos

receberam várias denominações: Gualachos, Guaianas Caágua, Ibiraiaras,

Cabelludos, Botucudos, Bugres, Coroados, Camés, Pinares. A maioria destes

nomes eram geralmente alcunhas dadas por populações Guarani, e depois,

utilizados por missionários e colonos.

Originalmente viviam na região do Planalto Central, entre os rios São

Francisco e o rio Araguaia. Por volta de 3.000 anos atrás teriam abandonado essa

região em direção ao sul do continente, motivados por um grande aumento

populacional nessa área; que provocou escassez de alimentos.

Existem pesquisadores que defendem que os Kaingang são naturais da

região sul do Brasil e seriam descendentes de grupos primitivos que habitavam

esses territórios.

VOCÊ SABIA?

Apesar de pertencerem ao mesmo tronco linguístico, em função ao

isolamento que foram submetidos, a língua Kaingang foi dividida em cinco dialetos

por Ursula Wiesemann:

14

1) dialeto de São Paulo (SP): entre os rios Tietê e Paranapanema;

2) dialeto Paraná (PR): entre os rios Paranapanema e Iguaçu;

3) dialeto central (C): entre os rios Iguaçu e Uruguai;

4) dialeto sudoeste (SO): ao sul do rio Uruguai, oeste de Passo Fundo;

5) dialeto sudeste (SE): ao sul do rio Uruguai, leste de Passo Fundo.

( TOMMASINO, 1995, p.22)

Atualmente, segundo dados da FUNASA5, até junho de 2010 a população da

etnia Kaingang no Paraná era composta por 9.791 indígenas, distribuída da seguinte

forma pelo Estado:

ALDEIAS KAINGANG NO PARANÁ

ALDEIA MUNICÍPIO DA ALDEIA POPULAÇÃO

Água Santa Nova Laranjeiras 09

Alto Pinhal Clevelândia 63

Apucaraninha Londrina 1351

Apucaraninha/Barreiro Londrina 69

Arvoredo Turvo 10

Barão de Antonina São Jerônimo da Serra 317

Boa Vista Laranjeiras do Sul 86

Campina Manguerinha 626

Campo do Dia Nova Laranjeiras 327

Cedro São Jerônimo da Serra 47

Encruzilhada Nova Laranjeiras 282

Faxinal Cândido de Abreu 615

Fazenda/Chopinzinho Chopinzinho 01

Ivaí Manoel Ribas 1395

Kakané Porã Curitiba 86

Lebre Nova Laranjeiras 11

Marrecas Turvo 470

Mato Branco Chopinzinho 52

5 SIASI - SISTEMA DE INFORMAÇÕES DA ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA – FUNASA – Ministério da Saúde. Disponível em: < http://www.funasa.gov.br>. Acesso em: 30/06/2011.

15

Mocóca Ortigueira 156

Paiol Queimado Mangueirinha 130

Palmas Palmas 553

Palmeirinha Chopinzinho 57

Passo Liso Coronel Vivida 329

Pinhal Espigão Alto do Iguaçú 07

Pinhalzinho Tomazina 06

Queimadas Ortigueira 469

Rio das Cobras Nova Laranjeiras 769

São Jerônimo São Jerônimo da Serra 322

Taquara Nova Laranjeiras 209

Tekoha Itamara Diamante d’Oeste 01

Tekoha Marangatú Guaíra 02

Trevo Nova Laranjeiras 636

Vila Nova Nova Laranjeiras 157

Vila Nova Palmas 169

TOTAL 9.791

VAMOS PESQUISAR?

Descendentes –

Escassez-

Dialeto -

16

ATIVIDADES:

a) Cite as diferentes denominações dos Kaingang ao longo dos tempos.

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Ligue com cores diferentes a aldeia ao município que pertence (procure no

quadro acima):

São Jerônimo Ortigueira

Pinhalzinho São Jerônimo da Serra

Queimadas Tomazina

Tekoha Marangatú Nova Laranjeiras

Vila Nova Guaíra

17

c) Jogo dos 5 erros, aproveite e pinte o desenho:

Fonte: http://www.4shared.com/all-images/UbCzpsuJ/indio_jpg_2.html

18

A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO INDIGENA PARANAENSE

Fig.4: Charge 1

Fonte: www.custodioneto.net

Para Motta:

Com a chegada dos europeus ao continente no início do século XVI, o

território começa a ser cruzado, vasculhado por inúmeras expedições de

reconhecimento, viajantes, aventureiros à caça de ouro e pedras preciosas,

bandeirantes paulistas caçadores de índios, padres jesuítas catequizadores

de “selvagens”. (MOTTA, 1994, p. 67)

Em 1542, o futuro governador da Província do rio da Prata, Álvaro Nunes

Cabeza de Vaca, atravessa o território paranaense de leste a oeste com destino a

Villa de Nossa Senhora Assunción. A viagem de Dom Álvaro é marcada por

inúmeras paradas e contatos com índios. Segundo seus relatos são milhares de

índios. Cabeza de Vaca é o primeiro branco a visualizar as cataratas do rio Iguaçu.

A partir da segunda metade do século XVI, os espanhóis investem na

ocupação do território do Guayrá. Esta região, que ficava a leste do Tibagi, limitada

ao norte pelo Paranapanema , ao sul pelo Iguaçu e a oeste pelo rio Paraná, foi o

local onde se desenvolveram várias reduções jesuíticas espanholas no século XVI e

primeira metade do século XVII. No auge a região chegou a contar com 17

reduções.

A partir do século XVII, a região foi palco de intensos combates entre os

índios Guarani (que dominavam a região), espanhóis e bandeirantes paulistas que

invadiam sistematicamente o território do Guayrá para aprisionar os índios. Em

função, disso os índios acompanhados dos jesuítas retiram-se da região com

destino a divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai, onde fundam os Sete Povos

das Missões (1631).

19

Com o abandono do território pelos Guarani, tem início uma outra fase da

história indígena da região, com as tribos bravias Jê (Kaingang) que não estavam

integradas ao sistema montado pelos Jesuítas continuam a viver nas matas

procurando sobreviver, resistindo aos ataques dos preadores de São Paulo.

Até o século XVIII, os Kaingang viveram em relativa tranqüilidade em seus

territórios, mas a preocupação do governo com seus domínios nas terras do sul,

levou a realização de várias expedições militares nos territórios indígenas para

garantir a posse a coroa portuguesa.

VOCÊ SABIA?

Segundo Motta:

A conquista dos territórios Kaingang foi feita em meio à reação permanente

dos índios às vilas que brotavam em suas terras, às fazendas implantadas

em seus campos, aos viajantes, tropeiros, comerciantes e aventureiros que

cruzavam suas matas e campinas, às patrulhas da guarda nacional e

provincial que percorriam suas terras e as tribos colaboracionistas que

insistiam em indicar suas posições e persegui-los. Os choques contra os

brancos, tribos colaboracionistas foram uma constante na vida Kaingang

desde o século XVIII. Nessa relação conflituosa, criaram técnicas de

combate, refinaram táticas de luta, aperfeiçoaram formas de atacar e de

manter o inimigo sobre pressão, enfim, desenvolveram uma tecnologia de

guerra, de guerrilhas, de emboscadas e ataques capaz de fazer frente a um

inimigo muito superior a eles. (MOTA, 1994, p. 93)

O processo de conquista do planalto meridional pelos colonizadores iniciou-

se nos primeiros anos do século XVIII, com as primeiras fazendas de engorda de

gado nas imediações da Vila de Castro, antigo Pouso do Iapó.

A partir de 1768, cresce o interesse em invadir os “sertões” para expulsar os

“bárbaros” que infestavam o Paraná, nas regiões dos Coranbang-rê (campos de

Guarapuava) e Creie-bang-rê (campos de Palmas). Foram onze expedições,

comandadas pelo tenente-coronel Afonso Botelho, entre os anos de 1768 e 1774,

que não conseguiram impor a presença do colonizador nos campos de Guarapuava.

Após a expulsão de Botelho, os Kaingang iniciaram investidas constantes

para o território leste, pois acreditavam que não seriam importunados por novos

invasores. Nos primeiros anos do século XIX, dominavam o território a oeste da

estrada do Viamão, e realizavam ataques contra fazendas, vilas e viajantes.

20

Diante da situação, em 1808, D. João determinou a ocupação imediata dos

Campos de Guarapuava. Por isso, decretou “guerra justa” contra os índios através

da Carta Régia de 05/12/1808, nos seguintes termos6:

“Desde o momento que receberdes esta minha Carta Régia, deveis

considerar como principiada a guerra contra estes bárbaros índios: que

deveis em corpos daqueles milicianos de Curitiba e do resto da Capitania de

São Paulo que voluntariamente quiserem armar-se conta eles, e com a

menor despesa possível da minha real fazenda, perseguir os mesmos

índios infestadores do meu território [...]”.

Diante da ação das tropas comandadas pelo Coronel Diogo Pinto de

Azevedo Portugal, os Kaingang dos campos de Guarapuava são derrotados em

1810. Os grupos sobreviventes abandonam suas terras e fazem das matas seu

refúgio. Enquanto isso, os brancos rumam em direção ao sul, para ocuparem os

campos de Palmas, fechando-se o cerco contra os nativos.

Em 1853, o Paraná torna-se uma Província, separando-se de São Paulo,

mas isso não alterou a situação dos indígenas, que continuavam a ser perseguidos

e mortos para dar lugar à colonização européia; que era incentivada pelo governo

imperial. Por sua localização geográfica, o Paraná foi, desde cedo, pólo de interesse

colonizador, ligado aos distintos ciclos da economia brasileira. Assim na segunda

metade do século XIX, intensifica-se a ocupação das terras paranaenses que eram

consideradas “vazios demográficos”, pois, não se reconhecia o direito dos índios

sobre seus antigos territórios.

Um dos objetivos do governo com colonização européia era incentivar o

“branqueamento da população”7. A empresa colonizadora com imigrantes europeus

no século XIX esteve ordenada por um projeto político e econômico bastante claro,

além do que produziu relações conflitantes: de um lado os colonos batendo nas

matas, caçando e exterminando indígenas: de outra parte, as investidas indígenas

às roças e casas dos colonos recém instalados.

6 LEITE. Rosângela Ferreira. Ocupação territorial, organização econômica e populações livres pobres (Guarapuava, 1808-1878). Tese de Doutorado. São Paulo: USP, 2006. 7 FRANCISCO. Aline Ramos. Selvagens e intrusos em seu próprio território: a expropriação do território Jê no sul do Brasil (1808 – 1875). Dissertação de Mestrado – UNISINOS, São Leopoldo. 2006.

21

Já no século XX, a partir de 1930, a região norte do Paraná atrai empresas

colonizadoras que apoiadas pelo governo do Estado, dividem o território sem dar

importância aos nativos que viviam livres nesses territórios, restando aos mesmos o

confinamento nos aldeamentos criados pelo governo.

O governo de Getulio de Vargas acelerou o processo de legitimação da

expropriação das terras indígenas em todo o sul do Brasil, com vistas a garantir a

colonização. O decreto-lei de n.º 7.692 de 30/06/1945 autorizou o governo federal a

ceder gratuitamente ao Estado do Paraná as terras da fazenda São Jerônimo, numa

extensão de 33.800 ha, com a ressalva de que 4.840 ha ficariam reservados aos

índios que ali habitavam.

Num segundo momento, foi firmado em 12/05/1949 um termo representado

pelo Ministro da Agricultura e o Governo do Paraná, através do governador Moisés

Lupion. Utilizando para a fixação das novas áreas indígenas o mesmo critério do

módulo mínimo para uma unidade rural, isto é, 100 ha por família indígena de cinco

pessoas mais 500 ha destinados ás instalações do Posto Indígena, as reservas de

Apucarana, Queimadas, Ivaí, Faxinal, Rio das Cobras e Mangueirinha sofreram

redução de mais de 2/3 das áreas originalmente concedidas.

VAMOS PESQUISAR?

Carta Régia –

Expedições –

Expropriação –

22

ATIVIDADES:

a) Pinte no mapa as regiões ocupadas pelos portugueses e espanhóis no

Paraná.

Fonte: http://www.ambientebrasil.com.br/estadual/hidrografia/hpr.html

b) Explique com suas palavras como ocorreu a expropriação das terras

Kaingang.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

23

OS ÓRGÃOS PÚBLICOS DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO

Fig.5 – FUNAI Fonte: www.vector-logos.com

Na transição do século XIX para o século XX , muitos territórios indígenas

que não haviam sido atingidos pelos interesses do Estado Nacional passam a

deparar com os diversos mecanismos das frentes econômicas, visando à exploração

capitalista.

A primeira Constituição brasileira, outorgada em 1824, ignorou

completamente a existência das sociedades indígenas, prevalecendo uma

concepção da sociedade como sendo homogênea, conseqüentemente,

desconhecendo-se a diversidade étnica e cultural do país. O Ato Institucional de

1834 designava como sendo de competência das Assembléias Provinciais a tarefa

de promover a catequese e de agrupar os índios em estabelecimentos coloniais,

facilitando, com isso, a apropriação de suas terras.

A Constituição de 1891, não fez nenhuma referência às populações

indígenas, o que não deixava de estar condizente com o projeto da camada

dominante que, se considerando agente do progresso e da civilização, não estava

preocupada com a preservação da história e da cultura dos povos indígenas, mas

sim que fossem incorporadas ao seu modelo de mundo.

Além disso, a Constituição de 1891 manteve o conceito de “terras devolutas”

para as terras ocupadas pelos indígenas, assegurado pela Lei de Terras de 1850.

O que vai fomentar as discussões a respeito da questão indigenista durante

os primeiros anos do século XX serão os vários focos de tensões que estavam

ocorrendo entre os índios e os colonizadores em algumas regiões brasileiras.

Essa situação foi agravada pelos trabalhos de abertura da Estrada de Ferro

Noroeste do Brasil, que atravessa o território dos Kaingang, no estado de São Paulo,

desencadeando uma disputa armada entre os estes índios e os trabalhadores da

24

estrada de ferro que virou notícia nacional. Com a chegada de imigrantes europeus

aos estados do sul do país, sobretudo Santa Catarina e Paraná, ascenderam-se as

disputas por terras entre esses colonos e os índios que lá habitavam.

Além disso, no início do século XX, constatava-se que a catequese

missionária não havia conseguido converter os índios, defender seus territórios

contra invasores, nem impedir seu extermínio, seja em decorrência das doenças que

os contagiavam, seja promovido por matadores profissionais, os chamados

bugreiros, que eram contratados para limpar o terreno à imigração e a especulação

de terras.

Com o objetivo de confinar os povos nativos em áreas determinadas para

não atrapalhar o desenvolvimento nacional é criado em 20/06/1910, o Serviço de

Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN), sendo

seu primeiro diretor o militar Cândido Mariano da Silva Rondon.

Rondon defendia a política de integração, em que o índio era reconhecido

como sujeito transitório, ou seja, enquanto estivesse sendo preparado para ingressar

na “civilização”. Tal política apontava para o fim da diversidade étnica e cultural, pois

reconhecia esta diversidade apenas como um estágio de desenvolvimento que se

concluiria com a incorporação do índio à sociedade nacional.

Neste sentido a criação do SIPLTN, muito mais do que uma resposta para a

comunidade internacional que cobrava medidas do governo, sobre os conflitos

envolvendo indígenas, foi o intuito de acabar com os conflitos agrários a fim de

contribuir para a construção da sociedade brasileira e não a sobrevivência cultural

dos povos indígenas como muitos discursos oficiais nos procuram fazer crer.

Em 1918, passa a denominar-se Serviço de Proteção ao Índio (SPI), pois a

localização de trabalhadores nacionais foi transferida para o Serviço de

Povoamento.

A Constituição de 1934 foi à primeira das Constituições brasileiras a tratar

dos direitos dos povos indígenas, tendo nela sido assegurada aos índios a posse de

seus territórios e tendo sido atribuída a União a responsabilidade pela promoção da

política indigenista. As Constituições de 1937 e 1946 mantiveram esses mesmos

pontos.

25

VOCÊ SABIA?

Por volta de 1957, o SPI entrou num processo de decadência administrativa

e ideológica. O órgão passou a enfrentar problemas decorrentes dos conflitos de

interesses com os estados, muitas vezes se submetendo a estes interesses, além

de não barrar o avanço nas terras indígenas, motivado por interesses econômicos,

em diversos pontos do país.

Em 05/12/1967, quando o regime militar já havia se instalado no Brasil, o

SPI foi extinto, após uma devassa que acabou por apontar uma série de

irregularidade em sua administração. Foi então criada para substituí-lo a FUNAI

(Fundação Nacional do Índio) pela Lei nº 5.371/67.

A lei que criou a FUNAI estabeleceu as seguintes finalidades:

- estabelecer as diretrizes da política indigenista e garantir o seu cumprimento;

- gerir o patrimônio indígena;

- fomentar estudos sobre as populações indígenas que vivem em território brasileiro

e garantir sua proteção;

- demarcar, assegurar e proteger as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios,

exercendo o poder de polícia dentro de seus limites, para evitar conflitos, invasões e

ações predatórias que representem riscos para a vida e a preservação cultural e do

patrimônio indígena;

- promover a prestação de assistência médico-sanitária e a educação elementar

para os índios;

- despertar o interesse da sociedade brasileira pelos índios e pelos assuntos a eles

pertinentes.

Em 19/12/1973, a Lei nº 6.001 criou o Estatuto do Índio, formalizando os

procedimentos a serem adotados pela FUNAI para proteger e assistir as populações

indígenas, especialmente no que diz respeito à definição de suas terras e ao

aprimoramento do processo de regularização.

Desde a sua criação até hoje, a FUNAI teve entre seus presidentes militares

da reserva, burocratas de carreira e sertanistas, mas o órgão não produziu uma

política que contemplasse os interesses dos povos indígenas e garantisse a posse

de seus territórios.

26

VAMOS PESQUISAR?

Burocratas –

Constituição-

Terras devolutas –

ATIVIDADES:

a) Vamos caçar palavras? Não esqueça de completar os espaços abaixo.

S E R V I Ç O R T U

M A M I N G I O O N

U A N A D O U N T M

D L I N I S T D U T

A C M A O T R O T U

L A N O I C A N A I

I H J P I T F O T L

D E V O L U T A S H

U Y T S P G V G E N

Q E R S Ç H W A S M

A E B E C B Y E A A

_________________________de Proteção ao Índio

Marechal Candido __________________________

Fundação______________________do Índio

Terras ocupadas pelos indígenas:___________________

_______________________do índio

As missões tinham o objetivo de catequizar os ____________.

Os indígenas buscam a ______________ dos territórios.

27

O QUE SÃO TERRAS INDÍGENAS?

Fig.06: Lugar para todos

FONTE: http://planetasustentavel.abril.com.br/planetinha/testes/indios.shtml

VOCÊ SABIA?

O conceito de terras indígenas está clara e precisamente descrito na

Constituição de 1988, artigo 231, parágrafo primeiro8: “São terras tradicionalmente

ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas

para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos

ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias para sua reprodução

física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.

Portanto, compõe o conceito quatro elementos que se integram e se somam:

a) As terras habitadas em caráter permanente;

b) As utilizadas em atividades produtivas;

c) As imprescindíveis a preservação ambiental;

d) As necessárias à reprodução física e cultural da comunidade.

Todos esses elementos devem se reconhecidos à luz dos usos, costumes e

tradições indígenas.

São as seguintes as categorias usadas para indicar a situação jurídica da

terra:

- Sem Providências: para as terras indígenas que não tenham qualquer forma de

reconhecimento oficial ou não tenham entrado no processo regular de demarcação.

- Em Identificação: no caso de terras para as quais tenha sido designado pela

FUNAI um grupo de trabalho (GT/FUNAI) para proceder às trabalhos preliminares no

sentido da delimitação da área sem, contudo terem sido apresentados os resultados

destes.

8 CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação. Aconteceu Especial 18: Povos Indígenas do Brasil: 1987 a 1990. São Paulo: CEDI, 1991.

28

- Identificada: para aquelas que já tiveram sua identificação preliminar concluída por

um GT/FUNAI, com a apresentação de relatórios e propostas para a delimitação.

- Delimitada: para as terras que tenham sido reconhecidas como de ocupação dos

índios, seja por Portaria da FUNAI (antes do Decreto n.º 88.118/83), decreto

presidencial ou Portaria Interministerial.

- Homologada: que receberam decreto presidencial homologando a demarcação

física realizada pela FUNAI.

- Regularizada: foram assim consideradas apenas as áreas que tenham tido sua

demarcação homologada e já estejam registradas no Cartório de Registro de

Imóveis da Comarca e no Serviço de Patrimônio da União.

Reservada: áreas reservadas aos índios por ato do executivo, podendo ser das

seguintes modalidades: reserva indígena, parque indígena e colônia agrícola

indígena. Procedemos neste caso a seguinte diferenciação: a) Reservada (decreto

presidencial), Reservada/SPI (decreto estadual, conforme prática da época).

- Dominial Indígena: áreas de domínio da comunidade em forma de doação e/ou

título privado.

- Interditada: através de Portaria da FUNAI que estabelece limites provisórios de

uma determinada área onde o órgão indigenista passa a ter “poder de polícia” (Lei

n.º 5371/67). Reconhece a existência, ou pelo menos indícios, de índios no interior

da área descrita. A interdição não é um ato regular de reconhecimento formal dos

limites da posse indígena. Freqüentemente, a área inicialmente interditada coincide

com aquela posteriormente delimitada.

- Adquirida para Assentamento: a inclusão desta categoria de terras se deve a

dificuldade de enquadrá-las em outras categorias. São terras adquiridas pela FUNAI

por compra ou doação, para as quais os índios serão ou já foram transferidos.

VAMOS PESQUISAR?

Assentamento-

Decreto-

Demarcação-

Homologada-

29

ATIVIDADES:

a) Quais os quatro elementos que compõe o conceito de terras indígenas?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Resolva o enigma:

Fonte: http://educacao-ale.blogspot.com/2011/04/cruzadinhas-com-o-tema-de-indios.html

30

A SOCIEDADE KAINGANG

A sociedade Kaingang tradicional se organizava em duas metades clânicas

exógamas, Kamé e Kairu. Essa divisão não implica posições definidas de moradia

no espaço físico e os Kaingang não fazem aldeias circulares ou semicirculares,

como ocorre na maioria dos grupos JÊ.

A metade Kamé está relacionada ao oeste e a pintura facial de riscos

compridos; a metade Kairu ao leste e a pintura de motivos redondos.

Kamé Kairu

Fig.07: Reprodução Padrões kaingangs

Fonte: VEIGA, 2006. P. 102.

A filiação às metades e seções é definida patrilinearmente. Membros da

mesma metade são referidos como kaitko ou rengré (TOMMASINO, 1995. p. 49) e

membros de metades opostas são iambre (cunhado).

VOCÊ SABIA?

Através da aliança as duas metades trocam mulheres, ritos fúnebres,

animais de caça e, em casos especiais, nomes próprios. Os péin Kamé rezam pelas

almas dos mortos Kairu e vice-versa. Da mesma forma para cuidar das viúvas

durante o período de reclusão. Devido a regra de exogamia um casamento entre

parceiros da mesma metade será considerado incestuoso.

Cada uma dessas metades, por sua vez, seguindo diretrizes intrinsicamente

relacionadas à cosmologia Kaingang a respeito de permissões ou tabus, está

formada por várias famílias, que, reunidas, compunham as diversas parcialidades.

Cada uma delas tem um Pã’í (chefe subordinado) como representante, e a

combinação dessas parcialidades forma um grupo maior, liderado por um Pã’í

mbâng (chefe principal).

31

Os requisitos básicos para a escolha das lideranças Kaingang não estavam

necessariamente, baseada na hereditariedade, mas sim na valentia, generosidade,

redistribuição dos bens conseguidos, diplomacia para resolver os problemas junto ao

grupo, habilidade política e dom da oratória.

Os Kaingang faziam suas aldeias fixas (emã) nas regiões de campo (rê), e

acampamentos ou abrigos provisórios (wãre) nas florestas (nen) e margens dos rios

(goj) onde caçavam e pescavam durante semanas ou meses. Por serem péssimos

nadadores e não eram navegantes (TOMMASINO, 1995, p. 63) tinham nos grandes

rios obstáculos naturais e sociais, constituindo-os em limites entre os territórios de

grupos rivais. Este vasto território constituía um espaço de contínuos deslocamentos

para desenvolverem suas atividades de subsistência material e reprodução social. A

noção de propriedade comum do solo não implicava ausência de direitos precisos e

definidos do indivíduo sobre o solo. A única exceção a este tipo de direito sobre o

solo era constituído pelos pinheirais, que pertenciam exclusivamente ao grupo

aldeado junto aos mesmos.

Se os rios maiores delimitavam os territórios Kaingang, os rios menores,

afluentes daqueles, formavam os limites dos subterritórios de cada grupo local que

se estabelecia em áreas contíguas. Cada grupo local ainda se distribuía em aldeias

menores. Esses rios menores, ao contrário dos grandes, se constituíam como rios

de encontro e reunião entre os diferentes grupos locais. Os grupos de famílias

tinham suas marcas próprias, reproduzindo-as em troncos de pinheiros nos limites

de cada território, ou subterritório. Observe os exemplos abaixo:

32

Fig.08: Marcas de divisão do território

Fonte: FRANCISCO, 2006.p.130.

VAMOS PESQUISAR?

Cosmologia-

Contígua-

Clânicas-

Exógamas

Subterritórios-

ATIVIDADES:

a) Explique por meio de desenhos como está dividida a sociedade Kaingang.

33

b) Resolva a atividade abaixo:

http://thays-educar.blogspot.com/2009/04/dia-do-indio.html

34

A ECONOMIA KAINGANG

Fig.09: Charge 2

Fonte: www.custodioneto.net

VOCÊ SABIA?

Sua economia estava totalmente baseada nos diferentes ecossistemas e

nas oportunidades que um amplo território permitia. A oportunidade de exploração

de um grande território foi criada por meio de alianças que permitia o acesso de

vários grupos vizinhos a um território de exploração, sendo resguardados os direitos

de cada aldeia ou grupo sobre o território que especificamente ocupava.

Para Veiga (2006, p.46) a cultura Kaingang organizou-se sobre uma

economia baseada na caça, coleta e agricultura complementar.

Na caça buscavam grandes e pequenos mamíferos das florestas (anta,

veado, cateto, queixada, quati); aves (jacu, papagaio, nambu, macuco). Para caçar

não utilizavam armadilhas, exceto um laço para apanhar papagaios e baitacas.

Usavam mais freqüentemente caçar aves e animais com seus arcos e flechas, com

diferentes tipos de pontas feitas de madeiras ou ossos de animais.

A coleta era realizada aproveitando-se da abundância de recursos naturais

disponíveis, dentre os quais podemos destacar:

- Pinhão (fâg fy) encontrado com abundância nas florestas de araucárias, era

coletado entre os meses de março e maio. Para conservá-lo transformavam – no em

farinha de pinhão ou também usavam o pinhão d’água ou õkor (os pinhões eram

colocados num cesto com tampa e este amarrado a um cipó era colocado em um

poço de rio). Também usavam o pinhão para produzir uma de suas bebidas

fermentadas.

- Palmito (tõi jũn) do qual faziam farinha.

35

- Mel (mãng) das abelhas indígenas como o guaraipo (mãngpẽ), mirim (ẽgpéi),

irapuá (kuxé), iratim (iâ), mandassaia (nhẽiwẽ), consumido naturalmente, ou usado

na fabricação da bebida do Kiki.

- Frutas silvestres: jabuticaba (mõ), o guamirim (fĩr), pitanga (jymbi), butiá (tõirôr),

ariticum (krukei), guavirova (pẽnuá).

- Larvas de insetos ou “corós” presentes na palmeira, na taquara, no pinheiro, na

paineira e no jaracatiá. De tão apreciados e importantes na dieta Kaingang, essas

larva recebiam nomes distintos, sendo as larvas da ponta chamadas de

ngródngrónd, e as do cerne da palmeira de féniũ. Era costume derrubar palmeira

para que, no pau podre, se reproduzissem as desejadas larvas que eram

consumidas cruas, ou fritas na própria gordura sendo consumidas acompanhando

outros alimentos.

- Verduras como o fuá (erva moura), o kumĩ (folha da mandioca brava), o caruru, a

cambuquira (folha da abóbora ou da moranga) pyrfé (folha da urtiga brava).

- Erva mate com o qual preparavam o mate (kógwuĩn = chimarrão) e também

utilizada para ritos de adivinhação.

Além do alimento a coleta incluía a urtiga brava, cujas fibras do caule

produziam os seus fios de tecer, sobretudo para a confecção dos seus kur (grandes

cobertas).

A pesca era praticada em épocas certas, não coincidindo coma as

épocas de desova. A principal técnica de pescaria utilizada era o paris (armadilhas

de taquaras ou varas), e para conservação da carne do peixe utilizavam o processo

da defumação. Em rios menores utilizavam também técnicas de envenenamento por

cipós, como o uso do timbó e cascas de certas árvores.

A agricultura Kaingang tinha um caráter complementar em relação ás

atividades primordiais da caça, coleta e pesca; sua participação estava restrita,

também por razões climáticas aos meses de dezembro a abril. Constituía-se,

tradicionalmente, do cultivo de milho (ngẽr), feijão (rẽngró) e morangas (péhopẽ).

VAMOS PESQUISAR?

Ecossistema-

Desova-

36

ATIVIDADES:

a) Leia sobre os hábitos alimentares Kaingang e comente qual considerou mais

interessante._________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Resolva a cruzadinha com o nome dos animais:

FONTE: http://thays-educar.blogspot.com/2009/04/dia-do-indio.html

37

A CRIAÇÃO DOS ALDEAMENTOS

Fig.10: A Aldeia

Fonte: http://www.painelcriativo.com.br/tag/dia-do-indio/

A partir da segunda década do século XIX, com o interesse crescente da

sociedade luso-brasileira sobre as terras ocupadas pela população Kaingang, a

conquista dessas terras realizou-se à custa de violência generalizada contra todos

os grupos que se opuseram a ela, violência essa freqüentemente praticada por

grupos indígenas já submetidos e aliados aos “brancos”, armados e subvencionados

pelos governos provinciais.

O destino dos Kaingang a partir dos contatos “pacíficos” com a sociedade

luso-brasileira foi o confinamento em reservas liberando as áreas de caça de coleta

e de perambulação para a ocupação pastoril e agrícola. Como parte do projeto

colonizador do governo, os aldeamentos deveriam se encarregar de civilizar os

índios, além de empregá-los em obras públicas como mão-de-obra barata, uma vez

que lhes eram pagas pequenas quantias ou mesmo em espécie.

Todas as políticas implantadas nos aldeamentos estiveram voltadas à sua

sedentarização, ou seja, que garantisse a liberação de seus vastos territórios para

fins de colonização. Para isso era fundamental que abandonassem a caça e a coleta

e passassem a adotar o modelo agropastoril.

O aldeamento e as atitudes colaboracionistas seriam alternativas para

conservar os seus territórios ou postos de comandos, onde e como poderiam

exercer seu modo de vida pautado por referências sociais próprias. A aceitação do

aldeamento seria uma forma de resistência, posto que não precisavam se desfazer

38

do seu modo de vida. Alguns caciques logravam obter poder e auxílio do governo,

fortalecendo seu papel nas negociações e contatos com a frente de expansão.

Podemos dividir as alianças travadas em dois tipos: a primeira entre índios e

governo, já numa situação de quase controle total sobre o território indígena; e a

segunda se constitui por aquelas relações de alianças travadas entre Kaingang e

fazendeiros instalados próximos a seus toldos.

Considerando a colonização como um projeto civilizatório do território e de

suas gentes, não podemos pensar, entretanto, que tal orientação atingiu plenamente

seus objetivos em relação aos indígenas. Apesar de muitos grupos Kaingang

haverem aceitado aldear-se e mesmo colaborar na ocupação e exploração do

território, esta atitude não significou, necessariamente, a falta de resistência aos

ataques ao grupo e ao território; muitos outros grupos – e mesmo os aldeados-

permaneceram rebeldes e atacando os nacionais.

VOCÊ SABIA?

Os grupos Kaingang, longe de permanecerem estáticos em suas relações

entre si e com a sociedade envolvente, mantiveram-se em constante luta para

preservar suas vidas e seus territórios e, no limite, quando a ocupação torna-se

acirrada pela imperiosa necessidade de exploração de recursos naturais, os grupos

ameríndios aceitaram ir viver nos aldeamentos na perspectiva de garantia de

sobrevivência. Neste processo ocorreu a desterritorialização de muitos grupos,

alimentando o acirramento de disputas intra-grupos e extra-grupos.

Os aldeamentos significaram tanto o lugar onde foram feitas as negociações,

acordos e reclamações junto ao governo, como também locais efetivamente

ocupados pelos índios fixa e sazonalmente. O projeto dos aldeamentos vinculou-se

a interesses econômicos e sociais relativos ao incremento da colonização. Foi uma

forma de combinar a necessidade de tornar a região a ser colonizada segura, e,

ainda, transformar os remanescentes indígenas em caboclos que se dedicassem a

atividades produtivas. A diretriz básica que orientou a formação dos aldeamentos foi

a liberação de terras para a colonização, tanto aquelas das aldeias nas quais

habitavam os índios, como todo o resto do seu território, que eles percorriam

constantemente.

39

VAMOS PESQUISAR?

Subvencionados - Perambulação - Desterritorialização

ATIVIDADES:

a) O que houve com os Kaingang após os contatos pacíficos com os luso-

brasileiros?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Escreva os dois tipos de alianças feitas pelos Kaingang.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

c) Complete:

Os grupos _______________, longe de permanecerem ______________ em suas

relações entre si e com a sociedade envolvente, mantiveram-se em constante

_________ para preservar suas vidas e seus __________________.

Neste processo ocorreu a ___________________ de muitos grupos, alimentando o

_________________ de disputas intra-grupos e ________________.

40

ESTUDO DE CASO: ALDEIA DE QUEIMADAS

Diante da dura realidade dos indígenas do Paraná, que sofreram buscando

resguardar seu passado, encontram-se os Kaingang da Aldeia de Queimadas. A

área indígena da Aldeia de Queimadas está localizada a 4 Km da cidade de

Ortigueira, região dos Campos Gerais, no Estado do Paraná. Segundo dados do

SIASI – FUNASA do Ministério da Saúde possui uma população de 469 Kaingang

que habitam uma área de 3.926.520 ha. Sua área inicial já foi de 10.000.000 ha, que

ficava entre serras e rios. Com a imigração e ocupação da região norte do Paraná, o

número de imigrantes e migrantes na região aumentou muito, pois era um ponto de

transição entre o Norte Novo e os Campos Gerais, sendo que muitas famílias, em

busca de terras devolutas, se assentaram junto à área.

VOCÊ SABIA?

A princípio não houveram grandes problemas na área indígena. Mas, no

decorrer dos anos, a situação começou a agravar-se e quando os índios perceberam

que suas terras estavam sendo tomadas, logo a aldeia já possuía uma vila de

posseiros, bem junto a sede. Os brancos misturavam-se aos índios, muitos

constituíam matrimonio com mulheres índias e ali permaneciam, influenciando cada

vez mais o seu cotidiano.

Foi então que em 1949, o governo de Moisés Lupion desapropriou parte da

área indígena para solucionar o problema dos “intrusos”, assim chamados pelos

índios, restando para a reserva, parte bem pequena de sua área inicial.

Portanto, novas necessidades são introduzidas e novos padrões são

incorporados. O modo de vida baseado nos recursos florestais torna-se cada vez

mais difícil, não só pela devastação das matas e colonização das terras, mas

também em função da dependência dos grupos aldeados que passam

a sofrer a influência da sociedade branca.

Uma dessas influências é a religião. Primeiramente, os índios seguem a

religião católica quando o padre visitava-os quase todos os meses e procedia aos

cerimoniais característicos da sua profissão. Com o passar do tempo, outras Igrejas

foram sendo assimiladas pelos índios, como por exemplo: Assembléia de Deus,

Cristianismo Decidido e outras, dividindo o grupo entre diversas correntes religiosas.

Porém encontra-se na aldeia, apenas uma capela da Igreja Católica e a 600 metros

41

da área da sede, numa propriedade vizinha da área, separada por uma estrada, fica

a propriedade da Missão do Cristianismo Decidido. Há um templo de culto e a casa

dos membros da missão.

Quanto à economia, exploram a criação de gado, em pequenas quantidades,

cultivam o feijão, milho e arroz na área coletiva, e o processo de cultivo é

mecanizado; mas ainda praticam a coivara. Produzem para seu próprio consumo,

algum excedente é transformado em sementes para a próxima safra ou trocado por

gêneros alimentícios. Utilizam maquinário próprio existente na reserva, o qual se

destina a facilitar o trabalho e aumentar a produtividade de suas lavouras.

Na área da saúde, possuem um posto de atendimento médico e para casos

mais graves utilizam o Hospital da cidade de Ortigueira. Já no diz respeito a

educação existe na aldeia a Escola Estadual Indígena Cacique Crispim Gy Um

Ensino Fundamental, que atende os anos iniciais e finais do ensino fundamental,

possuindo segundo dados fornecidos pela Secretaria da Escola, 138 alunos

matriculados no ano letivo de 2011. Não existe previsão por parte das autoridades

governamentais de oferecer o Ensino Médio na Escola Indígena.

Fig. 11: Conversa de Família

FONTE: http://sul21.com.br/jornal/wp-content/uploads/2011/04/Charge-20-de-

abril.jpg&imgrefurl=https://centrodeestudosambientais.wordpress.com

42

OS MITOS KAINGANG

No cotidiano, a ideologia Kaingang enfatiza as relações entre os opostos, ou

contrários, como ideal e harmoniosa, enquanto relações entre membros da mesma

metade é considerada conflituosa. Os Kamé são considerados possuidores de

espírito forte e, por isso, sempre tomam a frente nas cerimônias relacionadas aos

mortos, em especial no ritual do kiki. Os Kairu liderariam nas questões políticas e

nas guerras. A complementaridade é vista como perfeição, como portadora de vida

enquanto a união de iguais é considerada estéril. Os mitos Kaingang enfatizam a

necessidade de estabelecer a diferença:

Morte: a morte para os Kaingang, é a contraparte da vida, ou uma parte

indissociável dela. O mundo dos mortos é apenas outra aldeia, que está em outra

dimensão com relação àquela dos vivos. Quando aqui é dia, no mundo dos mortos é

noite. Se aqui faz tempo seco, no mundo dos mortos está chovendo. Tanto os

mortos podem vir ao mundo dos vivos, quanto os vivos podem em determinadas

situações, ir ao mundo dos mortos. Os Kaingang acreditam que o ser humano é

composto pelo hã (corpo perecível) e pelo kumbâ (espírito ou alma). Quando alguém

morre, o espiríto vai para o Numbê (o mundo das almas)

Tamanduá-mirim: foram os mesmos ancestrais, Kamé e Kairu, que criaram os

animais. Os animais são responsáveis por algumas das suas mais importantes

aquisições culturais. Os mitos contam que, no princípio suas festas eram tristes, não

sabiam cantar nem dançar. Os Kaingang atribuem ao Kakrẽkidn (tamanduá-mirim)

que um dos homens teria observado dançando, o papel de seu mestre de dança,

canto e de instrumentos musicais. O tamanduá deu-lhes também um oráculo para a

predição do sexo dos filhos.

Iangrẽ: os iangrẽ são os donos ou espíritos dos animais, e tornam-se companheiros

dos humanos. Eles podem se aproximar das pessoas e oferecer a elas os seus

préstimos (por exemplo, o dom de curar uma moléstia). A pessoa que recebe o

espírito do animal não pode, entretanto, falar explicitamente sobre esse assunto. Os

iangrẽ são companheiros dos Kuiâ (xamã, rezadores muito especializados, donos de

orações poderosas). São eles que ajudam os Kuiâ a encontrar o remédio que deve

ser dado a um doente, e também a resgatar as almas que se perdem dos seus

43

corpos. Para se tornar um Kuiâ, que pode ser homem ou mulher, a pessoa deve ser

iniciada por um Kuiâ mais velho, que vai mostrar para ela quais os remédios ela vai

se lavar e tomar para receber seu iangrẽ. Esse remédio deve ser usado durante

nove dias. Cumprida essa prescrição, o iangrẽ vem ao encontro da pessoa. O iangrẽ

pode ser qualquer bicho do mato (tigre, tateto, gavião, coruja, cobra).

O ritual do Kikikoi: para deixar um moribundo feliz, os Kaingang prometem fazer,

para ele, um Kiki (nome abreviado como é chamada a festa, em alusão à bebida

preparada para ela). A festa do Kiki é uma oportunidade dos espíritos dos mortos

poderem voltar à aldeia dos vivos. È um momento em que os vivos e os mortos

estão festejando no mesmo espaço, e para aqueles pelos quais é feito o Kiki, é um

último retorno como pessoa relacionada à comunidade, porque no Kiki os mortos

devolvem seus nomes a ela, liberando as pessoas do tabu que as impedia de

pronunciá-lo, e possibilitando que tais nomes venham a ser empregados na

nominação das crianças. Os Kaingang dizem Kikikoi, isto é, que vão comer o Kiki

(bebida tradicionalmente composta de mel e água). Embora o ritual não aconteça

todos os anos, quando é realizado ocorre entre os meses de abril e junho, época em

que há abundância de alimentos, especialmente pinhão e milho verde, mas também

mel e caça, tornado possível recepcionar os parentes que vêm de outras aldeias

para a festa.

VAMOS PESQUISAR?

Excedente moribundo abundância

44

ATIVIDADES:

a) Procure no caça palavras hábitos alimentares dos indígenas:

b) Quanto a economia dos Kaingang, quais suas principais produções.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

c) Escolha um dos mitos Kaingang e reproduza, por meio de desenhos.

45

REFERÊNCIAS:

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