segunda parte ticuna

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IntroduoOs Ticuna configuram o mais numeroso povo indgena na Amaznia brasileira. Com uma histria marcada pela entrada violenta de seringueiros, pescadores e madeireiros na regio do rio Solimes, foi somente nos anos 1990 que os Ticuna lograram o reconhecimento oficial da maioria de suas terras. Hoje enfrentam o desafio de garantir sua sustentabilidade econmica e ambiental, bem como qualificar as relaes com a sociedade envolvente mantendo viva sua riqussima cultura. No por acaso, as mscaras, desenhos e pinturas desse povo ganharam repercusso internacional.

Autodenominao MagtaSegundo os registros da tradio oral, foi Yoi [um dos principais heris culturais] que pescou os primeiros Ticuna das guas vermelhas do igarap Eware (prximo s nascentes do igarap So Jernimo). Estes eram os Magta (literalmente, conjunto de pessoas pescadas com vara; do verbo mag, pescar com vara, e do indicativo de coletivo -ta), que passaram a habitar nas cercanias da casa de Yoi, na montanha chamada Taiwegine. Mesmo hoje em dia, este para os Ticuna um local sagrado, onde residem alguns dos imortais e onde esto os vestgios materiais de suas crenas (como os restos da casa ou a vara de pescar usada por Yoi).

Localizao

De acordo com seus mitos, os Ticuna so originrios do igarap Eware, situado nas nascentes do igarap So Jernimo (Tonat), tributrio da margem esquerda do rio Solimes, no trecho entre Tabatinga e So Paulo de Olivena. Ainda hoje essa a rea de mais forte concentrao de Ticuna, onde esto localizadas 42 das 59 aldeias existentes (Oliveira, 2002: 280). Esse povo vivia no alto dos igaraps afluentes da margem esquerda do rio Solimes, no trecho em que este entra em terras brasileiras at o rio I/Putumayo. Houve um intenso processo de deslocamento em direo ao Solimes. No incio, mantiveram sua tradicional distribuio espacial em malocas clnicas e, na dcada de

1970, havia mais de cem aldeias. Hoje, essa distribuio das aldeias ticuna se modificou substancialmente. Sabe-se ainda que alguns ndios desceram o rio at Tef e outros municpios do mdio Solimes, outros se fixaram no municpio de Beruri, no baixo curso do Solimes, bastante prximo cidade de Manaus. No alto Solimes, contudo, os Ticuna so encontrados em todos os seis municpios da regio, a saber: Tabatinga, Benjamim Constant, So Paulo de Olivena, Amatur, Santo Antnio do I e Tonantins. Sua populao est distribuda em mais de 20 Terras Indgenas.

LnguaA lngua Ticuna amplamente falada em uma rea extensa por numerosos falantes (acima de 30.000) cujas comunidades se distribuem por trs pases: Brasil, Peru e Colmbia. No lado brasileiro, o nmero de comunidades ascende a um alto nmero de aldeias (cerca de 100) contidas em diversas reas localizadas em vrios municpios do estado do Amazonas (entre os quais esto Benjamin Constant, Tabatinga, So Paulo de Olivena, Amatur, Santo Antonio do I, Juta, Fonte Boa, Tonantins, Beruri). A maior parte das aldeias encontra-se ao longo/ nas proximidades do rio Solimes. Nas aldeias que se encontram do lado brasileiro, o uso intensivo da lngua Ticuna no chega a ser ameaado pela proximidade de cidades (quando o caso) ou mesmo pela convivncia com falantes de outras lnguas no interior da prpria rea Ticuna: nas aldeias, esses outros falantes so minoritrios e acabam por se submeter realidade Ticuna, razo pela qual, talvez, no representem uma ameaa do ponto de vista lingstico. Exemplificam essa situao os Kaixana (ou Caixana), os Kokama (ou Cocama) e os Kanamari - os dois primeiros presentes em vrias aldeias Ticuna e os ltimos com presena reportada em um nmero muito pequeno dessas aldeias. Os Kaixana so falantes de portugus. Os Kokama que, no lado brasileiro, vivem entre os Ticuna no tm mais o Kokama como sua lngua materna, papel majoritariamente desempenhado pelo portugus; alguns poucos Kokama lembram-se de palavras, seqncias ou frases na lngua Kokama, sendo que a maioria tem como meta readquiri-la de algum modo - o que vem sendo feito no mbito da educao escolar indgena. Com relao aos Kanamari que vivem entre os Ticuna no Brasil, no se tem notcia de que tenham deixado de falar sua prpria lngua - o Kanamari, pertencente famlia Katukina -, nem que essa lngua se sobreponha realidade lingstica Ticuna no interior da prpria rea Ticuna. Em cidades de municpios do estado do Amazonas nos quais so encontradas aldeias Ticuna, escuta-se a lngua Ticuna sempre que seus falantes, transitando por essas cidades, se dirigem a outros Ticuna igualmente em trnsito ou a fixados. Com relao ao uso da lngua pelos filhos daqueles que, falantes de Ticuna, se fixaram em cidades, possvel observar que esse uso tem, entre suas variveis mais fortes, a atitude dos pais em relao prpria lngua: quando tal atitude norteada pela valorizao da lngua Ticuna e pelo que prprio do universo Ticuna, a lngua usada pelos pais com seus filhos o Ticuna (casos freqentes); quando no, a lngua Ticuna deixa de ser usada e cede lugar ao portugus (casos raros). Com relao aos Ticuna que, por razes diversas, se deslocaram para a capital do estado do Amazonas, Manaus, esses vivem mais dramaticamente a imposio da lngua dominante (o portugus) e de seus veculos - razo pela qual renem-se por meio de projetos que tm por meta, entre outras coisas, manter viva sua lngua. O Ticuna uma lngua tonal. Considerada como geneticamente isolada, uma lngua que apresenta complexidades em sua fonologia e em sua sintaxe.

Outras leiturasLngua Ticuna (ou Tikuna), texto da linguista Marlia Fac Soares

Histrico do contatoA primeira referncia aos Ticuna remonta aos meados do sculo XVII e se encontra no livro Novo Descobrimento do Rio Amazonas, de Cristobal de Acua. A referncia, abaixo transcrita, est no captulo LI: "Mantm estas tribos, por uma e por outra margem do rio, contnuas guerras com os povos vizinhos que, pelo lado do sul, so, entre outros, os Curina to numerosos, que no apenas se defendem, pelo lado do rio, da grande quantidade dos gua, como tambm sustentam armas, ao mesmo tempo, contra as demais naes que por via terrestre os atacam constantemente. Pelo lado norte os gua tm como inimigos os Tecuna que, de acordo com boas informaes, no so inferiores aos Curina nem em nmero nem em brio, j que tambm sustentam guerras com os inimigos que tm terra adentro". Tambm segundo Curt Nimuendaj, o etnlogo alemo que, em 1929, fez sua primeira viagem ao alto Solimes, os Ticuna so citados pela primeira vez como os inimigos dos Omgua, moradores da margem esquerda do rio Solimes. Os Ticuna, que j fugiam das agresses deste povo, refugiando-se nos altos dos igaraps e afluentes da margem esquerda do Solimes, fazem o mesmo com a chegada dos espanhis. Os primeiros contatos com os brancos datam do final do sculo XVII, quando jesutas espanhis, vindos do Peru e liderados pelo Padre Samuel Fritz, criaram diversos aldeamentos missionrios s margens do rio Solimes. Essa foi a origem das futuras vilas e cidades da regio, como So Paulo de Olivena, Amatur, Fonte Boa e Tef. Tais misses foram dirigidas principalmente para os Omgua, que dominavam as margens e as ilhas do Solimes, impressionando fortemente os viajantes e cronistas coloniais pelo seu volume demogrfico, potencial militar e pujana econmica. Os registros da poca falam em muitos outros povos (como os Miranha ou os I, Xumana, Passe, Jri, entre outros, dados como extintos j na primeira metade do sculo XIX pelos naturalistas viajantes), que foram aldeados juntamente com os Omgua e os Ticuna, dando lugar a uma populao ribeirinha mestia (Oliveira, 2002: 280). Desde a instalao da misso jesuta espanhola at a consolidao da posse desta regio por Portugal, no sculo XVIII (com a construo de uma fortaleza em Tabatinga), os espanhis e os portugueses vinham disputando a hegemonia no alto Solimes. Os temidos Omgua (tambm conhecidos como Cambeba), de tradio guerreira, quase foram exterminados neste processo, seja por contrarem doenas ou por sua participao na querela entre os dois Estados coloniais. Com o tempo, os europeus no quiseram ou no conseguiram povoar a regio antes habitada pelos Omgua, e os Ticuna passam a ocupar esse espao, descendo dos altos igaraps, onde conseguiram se esquivar do contato mais intenso. Nas duas ltimas dcadas do sculo XIX, com a explorao da borracha, a Amaznia se tornou palco de uma intensa explorao do trabalho seringueiro. O alto Solimes, apesar de no contar com seringais to produtivos quanto os do Acre, por exemplo, tambm no ficou de fora da corrida pelo ouro branco, como era chamada a borracha. Atravs da instituio do sistema de barraco, o patro tinha exclusividade no comrcio com ndios, j que seu armazm era o intermedirio comercial obrigatrio. A legitimidade dessa empresa era dada por ttulos de propriedade conseguidos por poucas famlias, vindas em sua maioria do Nordeste, que incidiam sobre a terra dos Ticuna, os quais passavam a dever obedincia aos recm-

chegados. Os patres instalaram-se na boca dos principais igaraps, controlando assim os moradores dali. Para reforar esse controle, o patro ainda nomeava um tuxaua que exerceria a liderana entre os ndios, cuidando dos seus interesses. Esta liderana nem sempre se baseava em relaes tradicionais, mas na subservincia do tuxaua aos patres seringalistas. Sua habitao tradicional, a maloca, em que viviam juntos membros de um mesmo cl, foi ainda encontrada por Curt Nimuendaj quando de sua primeira viagem ao alto Solimes. Nesse momento, contudo, ela j estava em vias de desaparecimento, devido atuao dos patres da borracha no sentido de forar fragmentao das malocas para atender aos objetivos da empresa seringalista. que a disperso dos ndios ao longo dos igaraps atendia melhor aos interesses da explorao da borracha, visto que a baixa produtividade dos seringais do alto Solimes era otimizada com a disperso demogrfica ao longo da floresta, onde estavam as diversas estradas de seringa. Em 1910, ainda segundo Nimuendaj, uma nova agncia de contato se faz presente no alto Solimes. Nessa poca, capuchinhos vindos da provncia da mbria, na Itlia, instalam a Prefeitura Apostlica do alto Solimes. A presena do Servio de Proteo aos ndios (SPI) nessa situao de domnio dos seringalistas era meramente formal, ou seja, restrita a relatrios de um delegado desta repartio a partir de 1917. somente em 1942 que este rgo da administrao federal vai criar um posto na regio. A dominao do rgo tutor seria mais facilmente exercida com a centralizao do poder entre os Ticuna. Assim sendo, os funcionrios do SPI atuaram de modo a criar uma liderana nica dentro da aldeia, j que esta inexistia dentro da tradio ticuna. Havia, contudo, ao nvel dos grupos vicinais, lideranas reconhecidas (os toeru), que dentro de um limitado grupo de parentes e vizinhos dispunham de autoridade para convocaes para trabalhos coletivos, resoluo de pequenas disputas etc. Essa liderana, por seu carter bastante fragmentado, no satisfazia os interesses da administrao regional do rgo tutor. A soluo encontrada foi a indicao pelo chefe de posto de um capito (Oliveira, 1988:237-8). Uma nova situao histrica comea a se delinear em meados da dcada de 1960: a Amaznia e sua faixa de fronteira vo sendo transformadas em rea de segurana nacional para o exrcito brasileiro. A antiga guarnio militar de Tabatinga cresce em tamanho e importncia, transformando-se no Comando de Fronteira do Solimes (CFSOL), com mais autoridade para intervir localmente. Isso faz com que a relao entre patres e ndios seja profundamente alterada. Sem a possibilidade da coero por castigos fsicos, coibida pelo exrcito, os patres descobriram outros modos de fazer valer seu controle sobre a populao indgena (Oliveira, 1988: 211-3). A atuao da Igreja Catlica - por meio da provncia apostlica do alto Solimes, inaugurada pelos capuchinhos em 1910 - gerou uma infra-estrutura de sade e educao pouco desprezvel, visto que Belm do Solimes hoje uma das maiores aldeias ticuna. Durante a dcada de 1960, tambm missionrios batistas americanos chegam ao alto Solimes com o objetivo de catequizar os ndios. Em uma poca em que os patres ainda dispunham de autoridade, principalmente por serem considerados os donos da terra onde moravam os Ticuna, utilizaram como uma das estratgias de mobilizao da populao indgena da regio a compra de terras, que disponibilizaram para os que quisessem viver junto, compartilhando os ensinamentos de sua religio. Desta forma, surgiram ainda outros aglomerados que hoje constituem algumas das aldeias Ticuna de maior expresso populacional, como Campo Alegre e Betnia. O nmero dos que passaram a viver em aldeias, no entanto, s vai sofrer alteraes realmente significativas a partir do aparecimento do movimento messinico da Irmandade da Santa Cruz. Em um contexto de progressiva perda de autoridade sobre os ndios, j no princpio da dcada de 1970, os antigos patres deram apoio penetrao das idias de um homem chamado Jos Francisco da Cruz. Com alguma correspondncia com a tradio ticuna, j que esta admitia a possibilidade de punio divina em momentos de intensa desagregao scio-cultural, e com o apoio das principais lideranas polticas da regio, as idias de Jos da Cruz vingaram com extrema facilidade e o movimento religioso por ele fundado se tornou hegemnico em pouco tempo. Converteu, deste

modo, ndios e no-ndios por todo o alto Solimes, e assim as posies de liderana na hierarquia da Irmandade foram sendo rapidamente conquistadas pelos antigos patres. Estes conseguiram contornar a crise de autoridade pela qual passavam, ao instituir uma nova legitimidade moral/religiosa para o controle que exerciam (Oliveira, 1978). Os funcionrios da Funai, que nessa poca j substitura o antigo SPI, tambm perceberam logo a utilidade do movimento da Santa Cruz como catalisador de seu projeto de integrao do indgena e passam a apoiar explicitamente aquelas lideranas ligadas ao movimento, incentivando, inclusive, o faccionalismo religioso que at hoje divide aldeias como Umaria e Belm do Solimes (Oliveira, 1987). No final de 1981, as principais lideranas ticuna convocaram uma reunio na aldeia de Campo Alegre, onde foi discutida a proposta de demarcao de suas terras, encaminhada Funai. Nesta reunio foi escolhida tambm uma comisso para ir at Braslia apresentar ao Presidente a proposta ali debatida. Como resultado dessa presso dos Ticuna, a Funai mandou, em 1982, um grupo de trabalho com o fim de identificar as reas ticuna nos municpios de Fonte Boa, Japur, Mara, Juta, Juru, Santo Antnio do I e So Paulo de Olivena. Tambm em 1982, os Ticuna criam o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT), com a figura do coordenador geral, eleito em assemblias quadrianuais entre todos os capites de aldeia e com poderes semelhantes aos de um ministro das relaes exteriores. Posteriormente, outras organizaes indgenas foram criadas: a Organizao dos Professores Ticuna Bilnges (OGPTB), foi fundada em 1986 no intuito de realizar cursos de reciclagem e formao dos professores; a Organizao dos Monitores de Sade do Povo Ticuna (OMSPT); e a Organizao de Sade do Povo Ticuna do Alto Solimes (OSPTAS), em 1990, cuja atuao teve como marco o combate clera vinda da Colmbia e do Peru. Ainda em 1986, foi criado o Centro Magta - Centro de Documentao e Pesquisa do Alto Solimes, voltado principalmente para as populaes ticuna e com o auxlio de pesquisadores que j trabalhavam ali havia pelo menos uma dcada. Sua principal conquista foi o desenvolvimento do processo de reconhecimento fundirio que culminou com a demarcao, em 1993, de cerca de um milho de hectares de terras naquela regio. O Centro Magta realizou ainda trabalhos nas reas de sade e desenvolvimento. Entre 1996 e 1997, devido a dificuldades com o financiamento de suas aes aps o processo de demarcao das principais terras ticuna, o Centro deixou de existir e na sua sede passou a funcionar o CGTT.

Movimentos messinicos

Curt Nimuendaju e Maurcio Vinhas de Queiroz foram os primeiros pesquisadores a observar a existncia de traos de movimentos messinicos entre os Ticuna. Segundo eles, houve sete manifestaes deste tipo entre estes ndios do princpio do sculo XX at 1961.

O primeiro movimento que se aproxima a um movimento messinico, ocorreu em territrio peruano, no princpio do sculo XX, quando uma jovem ticuna comeou a ter vises e a profetizar, atraindo em torno de si Ticuna tanto do Peru quanto do Brasil. Como a afluncia de ndios aumentava sempre mais, Nimuendaju conta que os civilizados intervieram, atacando o grupo com armas de fogo, ocasio em que alguns ticuna morreram, outros foram maltratados e a jovem profetisa teve um destino desconhecido (Nimuendaju, 1952: 138). O segundo movimento ocorreu entre 1930 e 1935 quando um jovem ticuna do lago Cujaru, no rio Jacurap, chamado Aureliano, comeou a ter vises. Os ndios lhe construram uma casa parte para que recebesse mais facilmente as revelaes. Como sua reputao aumentava, reunindo cada vez mais outros ndios em torno de si, os civilizados intervieram novamente e prenderam Aureliano sob o pretexto de que no pagava imposto de uma espcie de violo que fabricava (Nimuendaju, 1952: 138). Em razo da precariedade dos dados apresentados por Nimuendaju, no possvel saber detalhes sobre o contedo das profecias da jovem ticuna e de Aureliano, nem sobre a real situao dos que os seguiram; igualmente, no se sabe ao certo qual era a identidade dos no-ndios que acabaram com os ajuntamentos ticuna, mas, sabendo-se que esses movimentos ocorreram numa poca em que o regime do barraco j estava implantado na regio lcito supor que tais ataques foram desfechados por ordem dos proprietrios regionais que, como se sabe, usavam de todos os expedientes para impedir a evaso da mo-de-obra dos seringais. Outra manifestao messinica teve lugar no Auati-Paran, em torno de 1932. Segundo informaes obtidas por Vinhas de Queiroz junto aos no-ndios da regio, um certo nmero de Ticuna se reuniu no Auati onde aguardavam a apario de deus. O movimento acabou em razo de uma epidemia que se propagou na regio dizimando a maioria dos seus membros (Queiroz, 1963: 46). Um quarto evento aconteceu entre os anos 1938 e 1939, no igarap So Jernimo. Espalhou-se, naquela poca, a notcia de que um jaguar teria dito a uma criana ticuna que uma grande enchente inundaria tudo, inclusive a sede do seringal. Diante dessa nova, os ndios que habitavam prximos da desembocadura do referido igarap se reuniram na sua parte superior onde construram uma grande maloca de estilo tradicional e fizeram grandes plantaes. Como a catstrofe anunciada no se produzia, os ndios acabaram por retornar para as suas habitaes e levaram uma vida normal

Organizao socialA sociedade ticuna est dividida em metades exogmicas (s se pode casar com um membro da outra metade) no-nominadas, cada qual composta por cls. Estes grupos clnicos patrilineares [isto , o pertencimento ao cl transmitido de pai para filho] so reconhecidos por um nome que geral a todos, ka. Em portugus, os ndios traduziram por nao. O conjunto de cls ou naes identificadas por nomes de aves forma uma metade, enquanto as demais, identificadas por nomes de plantas, formam a outra. Mesmo os cls Ona e Sava (ver quadro a seguir), um mamfero e um inseto, so associados metade Planta por razes descritas na mitologia ticuna. A condio de membro de um cl confere a um indivduo uma posio social, sem a qual no seria reconhecido como Ticuna. Cada cl ticuna constitudo por outras unidades, os subcls. Nesse sistema social, cada indivduo pertence simultnea e necessariamente a vrias unidades sociais (metade exogmica, cl e subcl), uma vez que elas esto contidas umas nas outras. Os quadros abaixo ilustram exatamente isso.

Metade plantasCls Aua Subcls a-ru: (aua grande) tseveru: (aua pequeno) ait sanari (jenipapo do igap)

tema (buriti) Buriti nyeni (n) tsi (buriti fino) vaira (aa) nai (n) y (sava) Sava tku: (sava)tsiva

(seringarana)

na?n (n) (pau mulato) Onatsee

(acapu)

tsu: (n) a (caran) keture (maracaj)

Metade avesCls Subclstsara

(canind)

o (vermelha) Arara moru: (maracan) voo (maracan grande) a?ta (maracan pequeno) u?n (n) (mutum cavalo) Mutum aiveru: (urumutum) bar (japu) Japu kau:re (japihim) Tucano tau: (tucano) au: (n) a (manguari) Manguari dyavru: (jaburu) tuyo:yu (tuyuyu) Galinha Urubu Rei Gavio Real ota (galinha) e?tsa (urubu-rei) da-v (gavio real)

notvel que as designaes em Ticuna se referem aos subcls, guardando para os cls nomes regionais (alguns neologismos). Como j foi dito, as metades exogmicas no so nomeadas, mas aqui neste quadro foram indicadas pelos termos "Plantas" e "Aves", fazendo aluso a um modo de classificar os cls a partir de classes botnicas e zoolgicas. Dentro desse sistema, h um mecanismo de nominao por meio do qual possvel identificar o

pertencimento social de cada indivduo. O nome de um homem, kvaitatsin(n)-k, por exemplo, que significa "arara batendo asas sentada" e que se refere a uma das qualidades da arara (que d nome ao cl), mais especificamente da arara vermelha (que d nome ao subcl), faz parte do repertrio de nomes prprios que cada grupo clnico dispe para seus membros. Assim, a simples enunciao de um nome permite classificar seu possuidor como membro de um certo cl e subcl e de uma das metades. possvel notar que por trs do sistema clnico ticuna h o seguinte encadeamento de classes: nome-qualidade do epnimo [o que d nome ao cl, por exemplo, a arara] ---subcl --- cl --metade. Os epnimos clnicos transformados em signos fornecem uma espcie de cdigo, um plano de referncia importante para o comportamento social. Desse modo, ao dizer o nome kvaitatsin(n)k, como no exemplo dado acima, afirma-se o pertencimento do indivduo a um certo cl, o que lhe impede de casar-se no s com pessoas do seu prprio cl, mas tambm com aquelas de sua metade. Em contrapartida, aqueles indivduos que so classificados como membros da metade oposta passam a ser cnjuges potenciais, da a exogamia de metades caracterstica dos Ticuna. Podemos introduzir um comentrio elucidativo a respeito dos fundamentos mticos do dualismo ticuna. Nos referimos aqui ao papel de Yoi como criador da organizao clnica. Um dos mitos coletados por Nimuendaj relata que Yoi e Ipi, os heris culturais, depois de apanharem um grande nmero de pessoas no rio (os Ticuna recm-criados), no conseguiam distingu-las por falta de classificao. "Mas Yoi separou-as, colocando as suas a leste e as de Ipi a oeste. Ento ele ordenou que cozinhassem um jacururu e obrigou todo mundo a provar o caldo. E assim cada um ficou sabendo a que cl pertencia, e Yoi ordenou aos membros dos dois grupos que se casassem entre si" (Nimuendaj, 1952: 129-30). Como se v, o mito sublinha a exogamia de metades. *A grafia aqui reproduzida est de acordo com aquela utilizada pelo autor, no entanto deve-se ressaltar que, hoje em dia, a grafia adotada pelos Ticuna nas escolas outra

Organizao poltica Antigos papis polticos: t- e yucNos relatos sobre o passado a guerra e a rivalidade parecem constituir fatos essenciais da existncia dos Ticuna. Ainda hoje os ndios falam extensamente das guerras entre as diferentes naes, dizendo que eram freqentes as investidas de um grupo sobre o outro, com muitas mortes de ambos os lados. Os mais velhos procuram mostrar o seu desagrado face quelas caractersticas do passado, confrontando a convivncia tranqila de hoje em dia nas aldeias com o medo e a belicosidade do tempo de seus avs. Cardoso de Oliveira tambm indica haver ouvido notcia de tais conflitos e guerras entre as naes [grupos clnicos patrilineares] (1970: 59). Utilizando os relatos atuais, seria possvel dizer que dentro de uma maloca todos se subordinavam a um mesmo cdigo de autoridade que estabelecia a existncia de somente dois papis especializados, o t- e o yuc. O t- no era algum cuja chefia fosse exercida genericamente em muitos contextos. A melhor traduo seria a de um chefe para a guerra. Cada nao tinha um s chefe, que comandava a todos quando se tratava de defender ou atacar a outra nao. O fundamento para o reconhecimento dele - a sua condio de chefe - decorria do fato de que "era ele que defendia os povoados, que defendia dos inimigos". A esse personagem poderia tambm ser aplicado o termo daru, alm do chamamento usual de t-. Devido sua funo especializada e sua fora excessiva, o t- no podia trabalhar na roa ou pescar: "no podia gastar a fora dele assim toa, com o que qualquer um podia fazer (...) os outros que faziam tudo para ele". To grande era a sua fora, que nenhuma atividade comum dava certo: "pegava um terado para cortar um mato e batia com tanta fora que quebrava o terado". A prpria palavra t- usada para designar esse chefe militar, utilizada para referir-se ao macaco caiarara,

animal muito admirado pelos Ticuna devido sua grande agilidade, sendo muito difcil de se deixar apanhar ou surpreender por outro. Os informantes distinguem tambm o t-, como um elemento de sua prpria tradio, de outros ttulos que o branco utiliza para estabelecer chefes entre quaisquer ndios: "O t- era o chefe de Ticuna mesmo, verdadeiro... O tuxaua no era prprio dos Ticuna. Era um chefe dos ndios, assim como Mayoruna ou outros tambm tm". Em outras descries a caracterizao do t- como o protetor das pessoas de sua nao se sobressai fortemente, evidenciando que a sua funo no se exerce apenas na guerra, mas tambm no cotidiano de malocas isoladas na floresta, mantendo rivalidades com outras naes. Por sua atuao em momentos cruciais defesa ou afirmao do grupo, o t- deveria ser bastante identificado com a sua nao, sendo um smbolo e um fator importante dessa unidade. J o yuc (atualmente os termos empregados so yuc para o feiticeiro e ngetac para o xam) exercia funes estritamente privadas e pessoais, no se identificando ao grupo com a mesma intensidade que o t-. Alm disso podia haver mais de um xam ou feiticeiro por cada nao, cada um dispondo de um prestgio diferente e lhe sendo atribudo graus diversos de eficincia. De qualquer modo os pajs tambm participavam dessas guerras e conflitos. Geralmente a transferncia de um grupo de um local para outro explicada pela busca de "um lugar bonito para viver", estando associada ao medo de doenas enviadas pelo yuc, bem como pela necessidade de fugir de epidemias e inundaes. Nimuendaj conta que um bom xam pode afastar de seu grupo, atravs de um tratamento mgico, as epidemias, anunciadas por meio de uma aurola esverdeada no sol (1952: 105). No havia igualmente uma correlao estabelecida de modo rgido entre uma dada nao e um certo territrio. Os terrenos de caa, pesca e coleta eram mantidos sempre com oscilaes, dependendo das presses exercidas por outros cls sobre essas mesmas reas. Existem, no entanto, alguns locais que no eram ocupados ou reivindicados por qualquer uma das naes, embora fossem (e sejam) reconhecidos unanimemente como ponto de origem de todos os Ticuna. esse o caso da montanha do Taiwegne e do igarap do Eware, ambos situados no alto do igarap So Jernimo. Usualmente, no entanto, os direitos de uma nao a um certo territrio eram sempre vinculados existncia de uma ocupao real (e mutvel), derivando de uma necessidade de utilizao efetiva, bem como do empenho e da capacidade militar em manter tais limites.

Atividades produtivasOs Ticuna praticavam o cultivo de espcies nativas como a macaxeira, o car, uma espcie de canade-acar e outros tubrculos. Antigamente, com uma alimentao baseada na carne de caa, a pesca tinha uma importncia mnima e era praticada com uma tecnologia de cercados e envenenamento dos peixes com o sumo do timb (Oliveira, 1988). Essa situao, no entanto, se inverteu a partir da ocupao das vrzeas do Solimes. Hoje, a pesca uma das atividades produtivas mais importantes para os Ticuna.

Cada famlia ticuna possui sua roa e a considera de sua propriedade. Mas no se trata de propriedade da terra, nem mesmo de propriedade coletiva. Nas roas da famlia trabalham, em geral, o pai, sua esposa e os filhos mais velhos que ainda no so casados. No entanto, os filhos homens, maiores e solteiros, podero ter uma roa prpria quando casarem. Os mais idosos tm tambm roas independentes de seus filhos e genros, mesmo quando moram na mesma casa. Quando mais de uma famlia vivem em uma mesma casa, elas costumam trabalhar separadas, cada uma em sua respectiva roa. Alm da mo-de-obra familiar, os Ticuna contam com uma outra ajuda na agricultura por parte de parentes e amigos. So os ajuri, estruturados sobre os grupos vicinais, que so realizados com freqncia em todas as aldeias. Em um ajuri, o dono da roa responsvel pela comida e bebida dos seus convidados. Ele prepara o pajuaru, bebida fermentada feita de mandioca ou macaxeira, e providencia peixe e farinha para todos os participantes. Ao terminar o servio, os participantes vo casa do dono do ajuri, onde passam a noite em cantos e danas. O ajuri pode ser realizado em qualquer etapa da produo, bastando que o dono da roa necessite da ajuda dos integrantes de seu grupo vicinal. Existem, portanto, o ajuri da derrubada, o da colheita, o da palha (em que os convidados levam a palha e a tranam para a cobertura da casa do dono do ajuri), o da canoa etc. O trabalho que aquela famlia demoraria vrios dias para fazer terminado em uma manh de trabalho conjunto dos parentes e vizinhos. Os instrumentos agrcolas utilizados pelos Ticuna so basicamente o terado, o machado, a enxada e o forno de torrar farinha. Os instrumentos de trabalho utilizados no seu cotidiano so comprados por meio dos regates ou nas cidades vizinhas, principalmente em Letcia, na Colmbia. Alguns machados e fornos de farinha foram ganhos da Funai. Pequenos comrcios, instalados na prpria aldeia por moradores com mais recursos, e que vo mais vezes cidade, tambm fornecem os instrumentos necessrios produo, principalmente o terado, que aquele de maior demanda.

As tcnicas agrcolas dos Ticuna no so diferentes daquelas utilizadas em todo o Vale Amaznico,

que incluem a derrubada seguida da queima e coivara. As roas de terra firme esto no centro, como eles costumam dizer. J aquelas da vrzea so geralmente cultivadas nas ilhas e florestas alagveis principalmente pelo Solimes. Os produtos mais plantados, em ordem decrescente de importncia, so: a macaxeira e a mandioca, a banana, o abacaxi, a cana e o car, alm do milho e da melancia, no perodo da seca (vero), quando estas roas que so de vrzea esto sendo trabalhadas. Alguns desses produtos tm seu excedente comercializado. Alm destes, podemos ainda citar algumas frutas como a pupunha, o mapati, o aa, o abiu e o cupuau, que no so, seno raramente, plantadas. Estas frutas esto comumente localizadas nas capoeiras, antigas roas deixadas em pousio. A pescaria um trabalho dos homens. A pesca conjunta muito rara, mesmo entre moradores da mesma casa. A grande maioria dos Ticuna costuma pescar de canio e flecha, e os melhores locais para a pesca so geralmente os numerosos lagos que margeiam o rio Solimes. J a caa no praticada por muitos, apesar de tradicionalmente estar bastante ligada aos Ticuna. Utilizavam uma zarabatana que lanava projteis envenenados, mas hoje se valem da espingarda. As presas citadas com mais freqncia so: o macaco guariba, o macaco prego, a cutia, o veado, a queixada, o caititu, a anta, o mutum, o jacu, a arara, o macaco parauacu, o macaco barrigudo, a preguia real, o macaco caiarara e o pinhuri. A criao de animais entre os Ticuna no costuma ser muito expressiva. A maioria das famlias possui poucas galinhas, mas estas so criadas soltas e apenas para a venda aos regates e nas cidades, no sendo consumidas, assim como seus subprodutos. Alm da galinha, h ainda uma pequena criao de patos, porcos e carneiros. A coleta de frutas realizada por todos da famlia. As frutas mais comuns nas aldeias ticuna so: mapati (tchinh), umari (te'tchi), ing (pama), abiu (tao), castanha (nho), pupunha (itu), cupuau (cupu), sapota (otere) e aa (waira). As capoeiras onde os ndios vo colher as frutas so, em geral, localizadas nas suas antigas roas, que deixaram em repouso, preservando as rvores frutferas.

Dieta alimentarA dieta alimentar composta basicamente de peixe com farinha de mandioca. O preparo do peixe, quase dirio, feito principalmente de duas formas. Os diferentes tipos de peixe so cozidos (o seu caldo bastante apreciado por todos). Depois de comer o peixe cozido com muita farinha de mandioca, os Ticuna costumam tomar vrios pratos do caldo, como se fosse uma sopa. Tambm muito comum fazer o peixe assado (moqueado) e com-lo acompanhado de um pratinho de sal colocado ao lado, onde todos molham o dedo. A farinha de mandioca consumida torrada e muitas vezes misturada ao que eles chamam de vinho de aa, um suco feito desta fruta. Outro importante componente da alimentao ticuna a banana. O mingau de banana bebido como um suco bastante grosso. A banana assada na brasa tambm muito utilizada, assim como frita. Devido pequena expresso da caa na dieta desse povo, no h descries do preparo de todas as carnes. A carne de queixada, assim como a da anta e a do caititu, costuma ser cozida. A carne de jacar, tambm apetitosa, costuma ser preparada do mesmo modo que os peixes. H ainda dois modos diferentes de se preparar os peixes, no to comuns quanto aqueles j descritos. So eles a pupeca (uma espcie de trouxinha preparada com a folha de bananeira onde assado o peixe) e a mujica ou massamoura (uma massa de banana amassada e apimentada com pedaos de peixe desfiados).O artesanato , em geral, responsabilidade da esposa de uma famlia ticuna. Quase a totalidade das mulheres sabe fazer o tipiti (instrumento utilizado para espremer a massa de mandioca), o pacar (cesto com tampa), o atur (cesto cargueiro), a maqueira, a peneira, colares e alguns outros tipos de artesanato. A maioria desses artefatos, entretanto, no feita para a venda, mas para uso domstico. As famlias que vendem algum tipo de artesanato o fazem aos regates ou nas cidades mais prximas, mas isso no ocorre com muita freqncia. Semelhante ao que ocorre com a venda de frutas nas aldeias mais prximas cidade, a venda de artesanato mais intensa. Os Ticuna no costumam comprar muita variedade de produtos. Algumas famlias chegam a

comprar caf, bolacha, arroz, feijo, leo (tudo em pequenas quantidades), e algumas vezes macarro, cebola etc. A maioria, entretanto, costuma comprar apenas fsforo, sabo, sal, acar e algum querosene para suas lamparinas. Muitos no compram nem mesmo o acar, e mesmo os que o fazem compram muito pouco. Todos esses produtos so, em geral, trazidos pelos regates que passam pelas localidades. Esta transao feita normalmente a partir da troca da farinha que produzem e das galinhas que criam. Algumas vezes, tais produtos so comprados. As famlias com mais recursos fazem suas compras nas cidades mais prximas. Algumas compram em grandes quantidades para revender mais tarde na aldeia, formando assim casas "armarinhos", com produtos como pilhas ou linha de costura.

Artes

A variedade e riqueza da produo artstica dos Ticuna expressam uma inegvel capacidade de resistncia e afirmao de sua identidade. So as mscaras cerimoniais, os bastes de dana esculpidos, a pintura em entrecascas de rvores, as estatuetas zoomorfas, a cestaria, a cermica, a tecelagem, os colares com pequenas figuras esculpidas em tucum, alm da msica e das tantas histrias que compem seu acervo literrio. Um aspecto que merece ateno o acervo de tintas e corantes. Cerca de quinze espcies de plantas tintrias so empregadas no tingimento de fios para tecer bolsas e redes ou pintar entrecascas, esculturas, cestos, peneiras, instrumentos musicais, remos, cuias e o prprio corpo. H ainda os pigmentos de origem mineral, que servem para decorar a cermica e a cabea de determinadas mscaras cerimoniais. Ao longo dos quase quatrocentos anos de contato com a sociedade nacional, os Ticuna mantm uma arte que os singulariza etnicamente, e as transformaes constatadas em alguns itens de sua produo material raramente acontecem em detrimento da qualidade esttica ou tcnica das peas. Em certos casos, ao contrrio, as inovaes vieram beneficiar a aparncia dos artefatos especialmente aqueles destinados ao comrcio artesanal tornando-os mais vistosos e com melhor acabamento.

Para os Ticuna, a raiz mat designa todo o tipo de decorao ou enfeite aplicado na superfcie dos objetos ou do corpo, bem como as manchas, malhas ou desenhos encontrados na pele ou couro de certos animais. Alm de ser adotado para nomear os motivos que resultam do cruzamento de fios ou talas ou os desenhos pintados sobre as entrecascas, papel e outros suportes, esse termo tambm usado para designar a escrita introduzida com a escolarizao. Como suportes de decorao h, no mbito do tranado, os cestos com tampa, as peneiras e os tipitis, cuja manufatura cabe s mulheres. Outro conjunto de motivos encontra-se nas redes, tanto nos exemplares fabricados para venda como nos de uso domstico. So motivos que resultam de uma tcnica complexa que exige da tecel grande conhecimento, experincia e ateno, adquiridos aps um longo perodo de aprendizado. A tecelagem est intimamente ligada mulher. A fabricao de fios uma das primeiras tarefas desenvolvidas pelas meninas e na adolescncia a importncia dessa atividade ganha uma expresso ritual. Durante o perodo de recluso a menina moa, worec, dedica-se a trabalhos em tucum, especialmente toro de fios, que so enrolados em forma de flor, de modo diferente dos novelos circulares vistos usualmente.

A confeco da cermica tarefa preferencialmente feminina, mas os homens tambm costumam exerc-la. Outro suporte que possibilita o prazer de desenhar e colorir so os painis feitos de entrecasca de certas espcies de Ficus ou tururi, como denominado regionalmente. O tururi, nome dado a esse tipo de painel, uma inveno recente e surgiu do reaproveitamento de tcnicas e matrias- primas tradicionalmente empregadas na manufatura de mscaras. Os tururis so pintados exclusivamente para fins comerciais. Os especialistas reconhecidos na arte de pintar o tururi so os homens, em sua maioria jovens ou de meia-idade. O elenco de figuras desenhadas infinito. H uma marcada preferncia pela representao de animais (ona, jabuti, cobra, borboleta, anta, jacar e vrias espcies de aves e peixes), que em alguns casos vm combinados com elementos da flora ou com figuras antropomorfas.

Na esfera ritual, os suportes mais representativos da arte grfica so as mscaras, os escudos, as paredes externas do compartimento de recluso da moa-nova e o corpo. Na confeco das mscaras, os Ticuna utilizam como matria-prima bsica entrecascas de determinadas rvores e os motivos ornamentais podem estar distribudos pela vestimenta inteira. Na parte superior ou cabea, a decorao serve para salientar as feies da entidade sobrenatural, mas nas entrecascas com as quais cobrem o corpo que se observa um maior nmero de desenhos. A confeco e o uso das mscaras so de domnio dos homens, que tambm se encarregam da feitura de grande parte dos objetos rituais, como alguns adereos da worec, os instrumentos musicais, o recinto de recluso, os bastes esculpidos etc. A pintura da face, por sua vez, pode ser realizada por ambos os sexos e empregada hoje em dia apenas durante os rituais, por todos os participantes, inclusive crianas. Essa pintura, feita com jenipapo, j no primeiro dia da festa, tem a funo social de identificar o cl ou nao, como dizem os Ticuna, de cada pessoa. possvel detectar em alguns ornamentos faciais uma certa similaridade com a natureza, ou seja, com os animais e as plantas que do nome aos cls. Alm da funo social de especificao do cl, pintar-se na festa um ato obrigatrio. A decorao corporal das jovens e crianas iniciadas, por sua vez, realizada segundo normas rigidamente estabelecidas.

A aptido e a sensibilidade ticuna para a arte relevam-se agora em novos materiais e formas de expresso plstica e esttica, como as pinturas em papel produzidas por um grupo de artistas que formam hoje o Grupo Etena. Segundo a mitologia ticuna Etena a pintora dos peixes. Ela sentava na beira do rio esperando a piracema passar. Ela ento pegava cada peixe e pintava, dando uma cor que ficava para sempre. Esse grupo nasceu no contexto dos cursos de formao ministrados pela Organizao Geral dos Professores Ticunas Bilnges (OGPTB), em que a arte teve um espao privilegiado no programa curricular.

Educao

A Organizao Geral dos Professores Ticunas Bilnges (OGPTB), criada em dezembro de 1986 e constituda juridicamente em 1994, atua numa extensa rea formada pelos municpios de Benjamin Constant, Tabatinga, So Paulo de Olivena, Amatur, Santo Antnio do I e Tonantins, na regio do alto rio Solimes (AM). Ao longo de quase 20 anos, a OGPTB tem sido uma importante referncia para os professores ticuna e, mais recentemente, tambm para os professores de outras etnias que habitam a regio, como os Cocama e os Caixana. Sua importncia est relacionada ao desenvolvimento de projetos e programas de educao bilnge (Portugus e Ticuna), com destaque para a titulao de professores no nvel mdio e a oferta de cursos de especializao em educao indgena, iniciativas que vm suprindo a falta de aes pblicas de formao especfica por parte dos rgos governamentais em todos os nveis. Os cursos so desenvolvidos no Centro de Formao de Professores Ticuna-Tor Nguepata, na aldeia de Filadlfia (Benjamin Constant), com 481 professores indgenas matriculados nas diferentes modalidades. Essa capacitao tem contribudo para a criao de novos nveis de ensino nas escolas indgenas localizadas na rea de atuao da OGPTB e um substancial crescimento do nmero de alunos, revertendo o quadro de excluso escolar observado em dcadas passadas, reduzindo a necessidade de deslocamento de jovens para as escolas da cidade ou mesmo a interrupo dos estudos. Se tomarmos como referncia as escolas ticuna situadas nos cinco primeiros municpios citados, constatamos que, em 1998, havia 7.458 alunos, com apenas 841 nas classes de 5 a 8 srie, ao passo que em 2005 o censo escolar apresentava um total de 16.100 alunos, dos quais 4.580 encontravam-se nas classes finais do Ensino Fundamental e nos cursos de Ensino Mdio. Outro aspecto importante foi a substituio gradativa dos docentes no-ndios por professores ticuna, os quais assumiram todas as classes de 1 a 4 sries, atuando tambm nas sries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Mdio, onde compem cerca de 50% do quadro docente. As escolas municipais so dirigidas por professores ticuna, que tambm desempenham em alguns municpios atividades de superviso e coordenao de plos. Existem 118 escolas municipais e duas estaduais. A partir de 2002, as iniciativas da OGPTB comearam a ter a participao dos demais grupos tnicos do alto Solimes, principalmente pela insero dos professores cocama, caixana e cambeba nos cursos de formao e nos encontros que objetivam discutir as polticas educacionais na regio. Tendo como referncia a mobilizao dos Ticuna por uma educao escolar adequada a seus interesses e realidades, esses professores, com apoio de suas respectivas organizaes, vm lutando para implementar uma nova escola em suas comunidades e, ao mesmo tempo, obter o reconhecimento das prefeituras municipais. Para os Ticuna, assim como para outras etnias, h uma expressiva demanda pelo ensino superior. Existe, de um lado, a necessidade de atender s exigncias legais para a formao dos professores e, de outro, a necessidade de atendimento da demanda escolar que se amplia da 5 a 8 srie e ensino

mdio. Dessa maneira, a formao especfica de nvel mdio j no era suficiente, o que levou a OGPTB a criar o projeto do curso de licenciatura a partir de um longo processo de discusses com professores e lideranas indgenas. Para realizao do Curso de Licenciatura para Professores Indgenas do Alto Solimes, a OGPTB buscou a parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e apresentou a primeira verso do projeto em abril de 2004. O projeto foi aprovado no mbito da UEA em 2005, e em julho de 2006 foi iniciada a primeira etapa. O curso destina-se a 230 professores ticuna, dispondo de 20 vagas para professores cocama, caixana e cambeba. J foram desenvolvidas quatro das dez etapas previstas no projeto, e as aulas so ministradas no Centro de Formao de Professores Ticunas durante as frias escolares.A atuao da OGPTB tem contribudo para uma maior autonomia dos professores e comunidades na conduo do processo educacional em suas escolas e no entendimento da escola como espao de produo de saberes, de reflexo e ao poltica, de proteo do territrio e defesa dos direitos sociais, de promoo da sade, de valorizao da lngua materna e do patrimnio cultural. Assim como outras organizaes indgenas do pas, a OGPTB luta pelo reconhecimento e cumprimento da legislao de educao escolar indgena na regio do alto Solimes. Embora enfrente dificuldades de toda ordem - reiterada falta de reconhecimento, descaso, discriminao -, a persistncia e a incansvel mobilizao dos membros dessa organizao tm permitido superar inmeros obstculos e desafios para fazer valer os direitos dos povos indgenas de atuarem com autonomia na conduo de seus projetos, de suas escolas e de seus propsitos por melhores condies de vida.

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