serafim e malacueco
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Serafim e Malacueco
Trabalho realizado por Joaquim António Pedro Fernandes
Serafim e Malacueco [Cenário: a fachada de uma casa simples - uma porta e uma janela - com estrutura de rodas, que a movimente em cena.] [Aparecem dois vagabundos esfarrapados: Serafim, o magro, Malacueco, o gordo.]
Serafim – Ai que sono! Que preguiça! Que cansaço!
Malacueco – Ai que estafa! Que fadiga! Que quebreira!
Serafim – Quebreira de quê?
Malacueco – Cansaço de quê?
Serafim e Malacueco – De não fazer nada!
Malacueco – E eu estou com uma larica… Olha, vamos àquela casa. Pode ser que nos deem de comer.
Serafim e Malacueco• [Batem à porta da casa.]
Serafim – Vossa Excelência precisa de regar o jardim…
Malacueco – … que já está muito seco…
Serafim – Aqui está o Serafim…
Malacueco – … e o Malacueco.
Serafim – Em troca pedimos…
Malacueco – … pão para a viagem.
Serafim – Não temos dinheiro para pagar a estalagem.
Serafim e Malacueco
[Abre-se a porta com espalhafato e aparece o Pirata da Perna de Pau, de espada na mão.]
Pirata – Quem são vocês?
Serafim [muito encolhido, com a voz a sumir-se] – Serafim…
Pirata – O quê?
Serafim [mais alto, mas ainda assustado] – Serafim…
Pirata [para Malacueco] – E tu?
Malacueco [trémulo e gaguejante] – Ma… la… cué… cué… cueco.
Pirata – O quê?
Serafim e Malacueco Malacueco [ainda assustado] – Malacueco.
Pirata [designando-os com a espada] – Serafim e Malacueco?
Serafim e Malacueco – Dois criados ao vosso dispor [desajeitada vénia].
Pirata [rindo-se] – Meus criados? Eh! Eh! Estão contratados. Eh! Eh!
Serafim [tentando atalhar] – Nós só dissemos…
Malacueco [idem] – Nós só dissemos…
Pirata – O vosso patrão, a partir de agora, sou eu.
Malacueco [para Serafim] - Parece que falámos demais.
Serafim e Malacueco Pirata – Sabem quem eu sou?
[Serafim e Malacueco fazem que não com a cabeça.]
Pirata [rindo] – Eh! Eh! Adivinhem. Sou a Branca de Neve?
Malacueco – À primeira vista, não parece…
Pirata – Eh! Eh! Sou o Capuchinho Vermelho? Ou sou o Lobo Mau?
Malacueco [a medo] – Talvez… talvez mais… a segunda hipótese…
Serafim e Malacueco Pirata – Nem um nem outro. Eh! Eh! Eu sou [cantarolando]
o Pirata da Perna de Pau, do olho de vidro, da cara de mau...
Serafim e Malacueco – Brr! Que medo! Pirata – Vocês os dois fazem parte da equipagem do meu navio. Vou sair daqui: navegar por esses mares fora até encontrar uma terra em que as minhas maroscas não sejam conhecidas.
Serafim – E se o barco vai ao fundo?
Malacueco – Nós não sabemos nadar…
Serafim e Malacueco
Pirata – Dentro de água é que se aprende. Eh! Eh! À minha frente, marchem!
[Eles marcham, capitaneados pelo Pirata.]
Malacueco [tremendo] – Meteste-nos em bons trabalhos, Serafim!
Serafim – Tu é que me meteste…
Malacueco – Foste tu!
Serafim – Não, foste tu!
Serafim e Malacueco [Batem um no outro. O Pirata da Perna de Pau dá uma cacetada-espadeirada em ambos.]
Pirata – Quero disciplina! [Aparece em cena a estrutura lateral de um barco a remos.]
Pirata – Toca a embarcar. E disciplina!
[Entram dentro do barco. Malacueco e Serafim tomam conta dos remos. O Pirata comanda, de pé, à proa.]
Pirata – Toca a remar.
Serafim e Malacueco[A casa, movida por rodas, vai recuando. O barco fica no
mesmo sítio. Se possível, alguns efeitos visuais que dêem a ilusão de movimento]
Pirata [cantando] – Eu sou o Pirata da Perna de Pau, do olho de vidro, da cara de mau…
[Aparece em cena uma minúscula ilha, também movida a rodas, que se aproxima do barco, onde esforçadamente remam Serafim e Malacueco.]
António Torrado, Teatro às três pancadas, Civilização
Serafim – Ai que sono! Que preguiça! Que cansaço!
Malacueco – Ai que estafa! Que fadiga! Que quebreira!
Serafim – Quebreira de quê?
Malacueco – Cansaço de quê?
Serafim e Malacueco – De não fazer nada!
Malacueco – E eu estou com uma larica… Olha, vamos àquela casa. Pode ser que nos deem de comer.
Leitura do início do texto dramático.
Ora ouvimos Malacueco, ora ouvimos outro…
Malacueco – E eu estou com uma larica… Olha, vamos àquela casa. Pode ser que nos deem de comer.
Um outro conta, mais tarde, o que Malacueco afirmou. Mas relata o que disse Malacueco sem reproduzir tal e qual a fala dele.
Malacueco disse…
Malacueco – E eu estou com uma larica… Olha, vamos àquela casa. Pode ser que nos deem de comer.
Malacueco acrescentou que ele estava com larica e sugeriu que fossem àquela casa pois poderia ser que lhes dessem de comer.
O que mudou quanto às formas verbais destacadas?
As formas verbais do Presente do Indicativo passaram para…… o Pretérito Imperfeito do Indicativo estou (estava)… o Pretérito Imperfeito do Conjuntivo vamos (fossem)… o Presente do Condicional Pode (poderia )
As formas verbais do Presente do Conjuntivo passaram para…… o Pretérito Imperfeito do Conjuntivo deem (dessem)
As formas verbais do Infinitivo Impessoal não mudaram (ser, comer)
Comparando o que Malacueco disse e o que o Outro contou…
Malacueco – E eu estou com uma larica… Olha, vamos àquela casa. Pode ser que nos deem de comer.
Malacueco acrescentou que ele estava com larica e sugeriu que fossem àquela casa pois poderia ser que lhes dessem de comer.
O pronome pessoal com função de sujeito passou da 1ª pessoa do singular para a 3ª pessoa do singular (eu / ele).
O pronome pessoal com função de complemento indireto passou da 1ª pessoa do plural para a 3ª pessoa do plural (nos / lhes ).
O que mudou quanto aos pronomes pessoais destacados?
Comparando o que Malacueco disse e o que o Outro contou…
Serafim – Ai que sono! Que preguiça! Que cansaço!
Malacueco – Ai que estafa! Que fadiga! Que quebreira!
Serafim – Quebreira de quê?
Malacueco – Cansaço de quê?
Serafim e Malacueco – De não fazer nada!
O Serafim disse que sentia sono, preguiça e cansaço. Malacueco respondeu que era uma estafa, uma fadiga e uma quebreira.
Serafim perguntou de que seria a quebreira e o Malacueco também perguntou de que seria o cansaço.
Os dois disseram que era de não fazerem nada.
Texto A Discurso direto Texto B Discurso indireto
Comparando o que Serafim e Malacueco disseram e o que o Outro contou…
Vamos ligar com setas as frases à esquerda aos textos correspondentes
Quando o narrador relata as palavras da personagem não é necessário mudar de parágrafo. O texto é mais expressivo. Os pronomes pessoais estão nas 1ª e 2ª pessoas. Quando o narrador relata as palavras da personagem não utiliza o travessão. Os verbos estão na 3ª pessoa. Os pronomes pessoais estão na 3ª pessoa. As falas das personagens são introduzidas por travessão. O texto é menos expressivo. Quando uma personagem fala há mudança de parágrafo. Os verbos estão nas 1ª e 2ª pessoas.
Texto A Discurso direto
Texto B Discurso indireto
• Pirata [rindo] – Eh! Eh! Adivinhem. Sou a Branca de Neve?• Malacueco – À primeira vista, não parece…• Pirata – Eh! Eh! Sou o Capuchinho Vermelho? Ou sou o Lobo Mau?• Serafim [a medo] – Talvez… talvez mais… a segunda hipótese… • Pirata – Nem um nem outro. Eh! Eh! Eu sou [cantarolando] o Pirata da Perna de Pau, do olho
de vidro, da cara de mau... • Serafim e Malacueco – Brr! Que medo! • Pirata – Vocês os dois fazem parte da equipagem do meu navio. Vou sair daqui: navegar por
esses mares fora até encontrar uma terra em que as minhas maroscas não sejam conhecidas.• Serafim – E se o barco vai ao fundo?• Malacueco – Nós não sabemos nadar…• Pirata – Dentro de água é que se aprende. Eh! Eh! À minha frente, marchem!
• [Eles marcham, capitaneados pelo Pirata.]
• Malacueco [tremendo] – Meteste-nos em bons trabalhos, Serafim!• Serafim – Tu é que me meteste…• Malacueco – Foste tu!• Serafim – Não, foste tu!• [Batem um no outro. O Pirata da Perna de Pau dá uma cacetada-espadeirada em ambos.]
Discurso direto Ouvindo como as personagens falam…
O pirata, rindo, pedia para adivinharem quem ele era e perguntava se seria a Branca de Neve. Malacueco respondia que não parecia. Então, ele insistia e perguntava se seria o Capuchinho Vermelho ou o Lobo Mau. Malacueco respondeu que lhe parecia mais esta última hipótese. O pirata disse que não era nem um nem outro e, a cantarolar, revelou que era o Pirata da Perna de Pau, do Olho de Vidro, da Cara de Mau.
Os vagabundos exclamaram que sentiam medo. O pirata disse-lhes que faziam parte da equipagem dele e que ia sair dali. Ia navegar por aqueles mares fora até encontrar uma terra onde as maroscas dele não fossem conhecidas. O Serafim perguntou como seria se o barco fosse ao fundo e o Malacueco acrescentou que eles não sabiam nadar. O pirata retorquiu que dentro de água é que se aprendia e mandou-os marchar à sua frente.
Cada vagabundo acusou o colega de ser o responsável pela situação e começaram a bater um no outro. O pirata acabou com a briga dando uma cacetada--espadeirada em cada um.
Discurso indireto Ouvindo outra versão, ouvindo outro emissor…
Normas de transformação do discurso direto em discurso indireto Pessoa Gramatical e Pontuação
Pessoa gramatical 1ª ou 2ª Pessoa gramatical 3ª
O Joaquim perguntou ao irmão:- Carlos, eu posso ver o jogo na tua casa?
O Joaquim perguntou ao Carlos se (ele) podia ir ver o jogo à casa do irmão.
Pontuação Pontuação
Aspas, dois pontos, travessão, reticências, ponto de exclamação, ponto de interrogação.
Ex.: O Joaquim perguntou ao irmão: - Carlos, posso ver o jogo na tua casa?
Desaparecem as marcas de pontuação específicas do discurso direto.
Ex.:
O Joaquim perguntou ao Carlos se podia ir ver o jogo à casa do irmão.
Normas de transformação do discurso direto em discurso indireto - Tempos e Modos Verbais
Presente do Indicativo
- Não pinto mais hoje – decidiu a Joana.
Presente do Indicativo com valor de Futuro.
- Pinto o quadro depois. – prometeu a Joana.
Pretérito Perfeito do Indicativo
- Leste o livro? – perguntou o Jorge.
Futuro do Indicativo
- Dançarei até a noite chegar! – garantiu a Conceição
Normas de transformação do discurso direto em discurso indireto Tempos e Modos Verbais
Imperativo
- Lê o livro! – aconselhou o professor.
Presente do Conjuntivo
- É provável que vejamos o meu tio na Grande Central – afirmou o Inácio.
Futuro do Conjuntivo
- Quando partir, levarei comigo as flores – disse a Helena.
Normas de transformação do discurso direto em discurso indireto Verbos
Verbo Vir
- Vem para a festa! – pediu a Marília..
Verbo Trazer
- Trouxeste-me o último livro do Saramago? – perguntou o Paulo.
Normas de transformação do discurso direto em discurso indireto Advérbios e locuções adverbiais com valor temporal
Advérbios e locuções adverbiais com valor temporal
Advérbios e locuções adverbiais com valor temporal
Agora, jáNeste momentoOntemHojeAmanhãLogoHá poucoDaqui a poucoNo ano passadoHá um mêsNa próxima semana
Ex.: - Hoje vai anoitecer cedo – disse a Célia.- Agora passemos à sala de convívio – propôs a Fernanda
Naquele momento, então, logo, imediatamente, Na véspera, no dia anteriorNaquele diaNo dia seguinteDepoisUm pouco antesDali a poucoNo ano anteriorUm mês antesNa semana seguinte
Ex.: A Célia disse que naquele dia iria anoitecer cedo.A Fernanda propôs que passassem à sala de convívio naquele momento.
Normas de transformação do discurso direto em discurso indireto Advérbios e locuções adverbiais com valor locativo ; Vocativo; Frase interrogativa. Advérbios e locuções adverbiais com
valor locativo (espaço) Advérbios e locuções adverbiais com
valor locativo (espaço)
Aqui, cáAí, ali, lá, acolá
Ex.:- Aqui esculpe o Simão as suas obras de
arte – confidenciou a Vera.
Ali, láLá, naquele lugar
Ex.: A Vera confidenciou que ali esculpia o Simão as suas obras de arte.
Vocativo O vocativo desaparece ou passa a desempenhar a função de complemento indireto
Ex.:- Susana, já mudaste de escritório –
perguntou o Henrique.
Ex.: O Henrique perguntou à Susana (perguntou-lhe) se ela já tinha mudado de escritório.
Frase interrogativa direta Frase interrogativa indireta
E.: - Já chegou a encomenda? – indagou a Matilde.
E.: A Matilde indagou se já tinha chegado a encomenda.
Discurso direto
• O discurso direto é mais expressivo do que o indireto, pois:• Tem um carácter teatral e dinâmico, uma vez que coloca as personagens a “falar”; • Aproxima mais o leitor ou ouvinte à situação onde a mensagem inicial foi dita;• Utiliza frases de tipo exclamativo e interrogativo, recorrendo a sinais de pontuação
como o ponto de interrogação e o ponto de exclamação;• Recorre a características da oralidade, como interjeições, vocativos, etc.
• In Amorim, Clara e Costa; Vera, Construir a Gramática, pp 20 Areal Editores, 2011
Discurso direto é o modo de enunciação em que o emissor reproduz diretamente o discurso das personagens mantendo as marcas de oralidade. As falas das personagens são introduzidas, intercaladas ou concluídas por verbos declarativos ou de inquirição, tais como: «dizer», «afirmar», «responder», «perguntar», «exclamar» etc
In AAVV, Gramática de português 2º Ciclo do Ensino Básico. Santillana, 2011.
Discurso indireto
• O discurso indireto é menos expressivo que o direto, pois:• Perde o carácter teatral do discurso direto, uma vez que não são as personagens a
apresentar as suas palavras;• O leitor ou ouvinte não é transportado para a situação em que a mensagem inicial
foi dita;• Utiliza apenas frases interrogativas e exclamativas indiretas, introduzidas por uma
conjunção subordinativa completiva (ex.: Ele exclamou que… ; Ela perguntou se…).
• In Amorim, Clara e Costa; Vera, Construir a Gramática, pp 20 Areal Editores, 2011
Discurso indireto é o processo pelo qual o emissor inclui no seu discurso o conteúdo das falas das personagens, sem a preocupação de as reproduzir fielmente: reformula, clarifica ou resume, interpreta um enunciado primitivo. O discurso indireto é introduzido por um verbo declarativo ou de inquirição, como, por exemplo: «dizer», «perguntar», «responder», «pedir», «ordenar» etc
In AAVV, Gramática de português 2º Ciclo do Ensino Básico. Santillana, 2011.
Serafim e Malacueco texto narrativo
Dois vagabundos esfarrapados conversam defronte duma casa de aldeia. Um, de nome Serafim, esquálido, queixa-se de sentir sono, preguiça e cansaço. Ao que o outro, o anafado Malacueco, concorda. Questionando-se da fadiga, concluem que é de nada fazerem e os lamentos passam, então, para a fome que aperta.
Serafim e Malacueco texto narrativo
A singela casa atrás deles pode trazer a solução e vão bater à porta. Ainda sem avistarem o dono da casa, oferecem-se para regar o jardim em troca de comida. Perante a figura do Pirata da Perna de Pau, gaguejam de pavor e balbuciam os nomes mas tratam de ensaiar uma aproximação. E vá de se declararem criados ao dispor do pirata.
Serafim e Malacueco texto narrativo
Prazenteiro, o corsário leva à letra a proposta. Num ar folgazão que contrasta com o medo dos vadios, o pirata proclama-se patrão deles. E vai enunciando personagens das estórias juvenis para que a sua verdadeira identidade apareça. Mas Serafim e Malacueco também não seriam dados à leitura, pois que o pirata se vê obrigado a cantarolar o epíteto de Perna de Pau para não ser confundido com o Lobo Mau.
Serafim e Malacueco texto narrativo
O pirata anuncia a missão de remarem até uma terra onde se desconheçam as patifarias do seu passado. Sentindo a irrevogabilidade desse destino, os vagabundos acusam-se mutuamente e acabam à pancada. O pirata impõe a ordem com uma espadeirada em cada um, após a qual os obriga a embarcar. E tudo acaba com os vagabundos aos remos, a casa afastando-se enquanto, no horizonte, vem aumentando a silhueta duma ilha distante.