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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP SILVIA CRISTINA RAVASIO VASCONCELOS PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A RESPEITO DA INCLUSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA São Paulo 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

SILVIA CRISTINA RAVASIO VASCONCELOS

PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A RESPEITO DA INCLUSÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

São Paulo 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

SILVIA CRISTINA RAVASIO VASCONCELOS

PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A RESPEITO DA INCLUSÃO

Dissertação de mestrado apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de mestre profissional em ensino de Matemática, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Manrique.

São Paulo 2013

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Banca Examinadora:

______________________________

______________________________

______________________________

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: _________________________ Local e data: ________________

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Dedico este trabalho à minha irmã

Jaileni, pois sem ela nada disso seria

possível.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, em quem me refugiei nos momentos mais difíceis e

que, com certeza, me guiou para o caminho correto.

Aos meus pais, que me deram o alicerce fundamental de uma educação de

qualidade baseada em respeito, confiança e perseverança.

Ao meu namorado Robson, que suportou meus rompantes de mau humor e

que sempre me incentivou a seguir em frente.

Aos meus amigos, que entenderam minhas ausências e me incentivaram nos

momentos difíceis.

À professora doutora Ana Lúcia Manrique, que, com sua clareza e grande

sabedoria, me motivou e conduziu à finalização deste trabalho.

À professora doutora Cileda de Queiroz e Silva Coutinho e ao professor

doutor José Eduardo Roma, que participaram da banca de qualificação e que com

muita generosidade me auxiliaram com suas sugestões.

A todos os professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em

Educação Matemática, da PUC-SP, por compartilharem comigo seus

conhecimentos.

Ao Observatório de Educação da CAPES / INEP, pela concessão de bolsa.

Aos professores que participaram deste estudo respondendo aos

questionários.

Aos colegas do curso de mestrado pelos agradáveis momentos de

convivência.

A todos que, de uma maneira ou de outra, contribuíram para a existência

desta dissertação.

Muito obrigada!

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RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo identificar as percepções dos professores que

lecionam Matemática a respeito da inclusão de alunos com deficiência em sala de

aula regular. Ele foi desenvolvido por meio de uma pesquisa junto a professores que

ensinam Matemática nos Ensinos Fundamental I, Fundamental II e/ou Médio.

Participaram da pesquisa 197 professores do estado de São Paulo. Utilizamos como

intrumento de pesquisa um questionário. Nosso referencial teórico foi pautado nos

significados e pressupostos dos paradigmas da integração e da inclusão. Os dados

foram analisados segundo dois tipos de procedimentos estatísticos: análises uni e

bidimensional e uma análise multidimensional, aliada ao software CHIC

(Classificação Hierárquica Implicativa e Coesiva). Por meio da análise dos dados

pudemos observar que a maior parte dos professores respondentes não participou

de cursos ou capacitações e não teve em sua formação inicial, nem continuada, um

trabalho efetivo relativo à educação para inclusão. Identificamos que na maior parte

das escolas dos professores respondentes não existem tecnologias assistivas e

materiais didáticos para o trabalho com alunos com deficiência, e quando há, são

insuficientes. Os professores respondentes demonstraram ser favoráveis à inclusão

e aos benefícios que a mesma proporciona aos alunos com e sem deficiência, aos

seus familiares, aos seus professores e à comunidade na qual estão inseridos,

quando se trata de deficiências leves e moderadas. Quando tratamos de

deficiências mais severas houve uma divisão de opiniões entre os professores que

concordam e os que discordam, entretanto não houve convicção no posicionamento.

Palavras-chave: inclusão; percepções; professores de Matemática; escola básica.

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ABSTRACT

The present paper had the objective of identifying the perceptions of the teachers

who teach Mathematics concerning the inclusion of students with deficiency in a

regular classroom. It was developed through a descriptive research with Mathematics

teachers from the Fundamental I, Fundamental II and High School. A hundred ninety

seven teachers from São Paulo state took part in the research. We used a

questionay as a research tool. Our theoretical reference was based on the meanings

and suppositions of the integration and inclusion paradigms. The data were analized

through two kinds of statistics procedures: a descriptive uni and bidimensional

statistics and a multidimensional analysis, related to the CHIC (Classificação

Hierárquica Implicativa e Coesiva / Implicative and Coesitive Hierarquic

Classification). According to the analysis of the data we could notice that the major

part of the teachers who answered the questionary did not participate in enabling

activities and they did not have in their inicial formation, not even in the continuous

one, an effective work related to education for inclusion. We identified that in most

part os the schools of the teachers who answered the questionary there are no

assistant technology and pedagogical material for the work with students with

deficiency, and when there are such things, they are not enough. The teachers who

answered the questionary were favorable to the inclusion and to the benefit that it

provides to the students with and without deficiency, to their relatives, to their

teachers and to their communities when it concerns light and moderate deficiencies.

When we dealt with more severe deficiencies there was a division of opinions among

the teachers who agreed and who did not agree, altough there was no conviction on

their positions.

Key-words: inclusion – perceptions – Math teachers – basic school.

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................... 14

Capítulo I. Educação inclusiva .............................................................................. 18

1.1. Marcos históricos, sociais e políticos ................................................................ 18

1.2. Integração ........................................................................................................ 26

1.3. Inclusão ............................................................................................................ 29

1.4. Integração x inclusão ........................................................................................ 32

Capítulo II. Mapeamento de teses e dissertações ............................................... 34

Capítulo III. Procedimentos metodológicos ......................................................... 42

3.1. Instrumento de pesquisa .................................................................................. 42

3.2. Coleta dos dados ............................................................................................... 44

3.3. Análise dos dados ............................................................................................. 46

Capítulo IV. Resultados e análises ....................................................................... 48

4.1. Análises unidimensional e bidimensional .......................................................... 48

4.1.1. Perfil dos professores respondentes .................................................. 48

4.1.2. Aspectos relativos à educação especial .............................................. 52

4.1.3. Aspectos relativos à tecnologia assistiva e a materiais didáticos ........ 57

4.1.4. Percepção dos professores respondentes a respeito da inclusão ...... 59

4.2. Análise multidimensional .................................................................................. 66

Considerações finais ............................................................................................. 73

Referências ............................................................................................................. 76

Anexo I ..................................................................................................................... 82

Anexo II........................................................................................ ............................. 87

Anexo III ................................................................................................................... 88

Apêndice I ............................................................................................................... 89

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Distribuição dos professores respondentes por gênero ................... 49 Gráfico 2. Distribuição dos professores respondentes por faixa etária ............. 50 Gráfico 3. Tempo de experiência no magistério ............................................... 50 Gráfico 4. Tipos de deficiência dos alunos dos professores respondentes ...... 54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de matrículas na educação especial, São Paulo, 2012 .............. 15

Tabela 2. Resultados iniciais da pesquisa junto ao banco de teses e dissertações da

CAPES, Brasil, 2011 ...................................................................................... 34

Tabela 3. Níveis acadêmicos por área das produções selecionadas na pesquisa

junto ao banco de teses e dissertações da CAPES, Brasil, 2011 ................. 36

Tabela 4. Trabalho referente à área “Educação Especial”, Brasil, 2011 .................. 36

Tabela 5. Trabalhos referentes à área “Fonoaudiologia” , Brasil, 2011 ................... 37

Tabela 6. Trabalhos referentes à área “Educação em Ciências e Matemática”, Brasil,

2011........................................................................................... ..................... 37

Tabela 7. Trabalhos referentes à área “Educação”, Brasil, 2011 ............................. 38

Tabela 8. Distribuição de 270 professores respondentes por estado, Brasil,

2012 ............................................................................................................... 45

Tabela 9. Distribuição de 197 professores respondentes por regiões do estado de

São Paulo, São Paulo, 2012 .......................................................................... 49

Tabela 10. Distribuição de 197 professores respondentes por faixa etária e tempo de

experiência no magistério, São Paulo, 2012 ................................................. 51

Tabela 11. Distribuição de 197 professores respondentes por tipo de

estabelecimento e nível de ensino no qual lecionam, São Paulo,

2012 ............................................................................................................... 52

Tabela 12. Distribuição de 197 professores respondentes por nível de ensino no qual

lecionam e experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência,

São Paulo, 2012 ............................................................................................ 53

Tabela 13. Distribuição e percentual de 130 professores respondentes que não têm

experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência em relação

às afirmações sobre sua formação, São Paulo, 2012 ............................ 55

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Tabela 14. Distribuição e percentual de 59 professores respondentes que têm

experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência em relação

às afirmações sobre sua formação, São Paulo, 2012 ................................... 56

Tabela 15. Relação de tecnologias assistivas existentes por número de escolas, São

Paulo, 2012 .................................................................................................... 57

Tabela 16. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de

Concordância em relação à inclusão por nível de deficiência, São Paulo,

2012 ............................................................................................................... 59

Tabela 17. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de

concordância em relação aos benefícios da inclusão por grupos da

comunidade escolar, São Paulo, 2012 .......................................................... 61

Tabela 18. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de

concordância em relação à inclusão por tipo de sala de aula, São Paulo,

2012 ............................................................................................................... 62

Tabela 19. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de

concordância em relação à inclusão por tipo de deficiência, São Paulo,

2012 ............................................................................................................... 63

Tabela 20. Concordância do professor respondente em relação à inclusão por

consequências, São Paulo, 2012 .................................................................. 64

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Árvore de similaridades ................................................................... 67

Figura 2. Agrupamento 1 ................................................................................ 68

Figura 3. Agrupamento 2 ................................................................................ 71

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Introdução

1. A pesquisadora

Durante minha experiência como professora da rede municipal de ensino

da cidade de São Paulo, tive a oportunidade de ter, em minhas turmas, alunos

com deficiência. Esse fato despertou em mim certa instabilidade, pois eu não

sabia como trabalhar com esses alunos. Foi então que decidi procurar novas

formações que me dessem subsídios para preencher essa lacuna.

Nesse período ingressei na especialização em Educação Matemática na

PUC-SP, onde pude estudar mais profundamente a Matemática, bem como sua

didática, proposta por alguns teóricos, envolvida durante o processo de ensino e

aprendizagem dessa disciplina. Além disso, conheci professores que, como eu,

tinham as mesmas dificuldades quando o assunto era “inclusão”.

Ao terminar a especialização, minha orientadora, a Profa. Dra. Ana Lúcia

Manrique, sabendo do meu interesse em pesquisar a inclusão de alunos com

deficiência na escola regular, convidou-me a participar do projeto de pesquisa1

“Desafios para a Educação Inclusiva: Pensando a Formação de Professores

sobre os Processos de Domínio da Matemática nas Séries Iniciais da Educação

Básica”. O projeto, segundo Manrique (2010, p. 01):

Pretende investigar como o desenvolvimento do aluno com deficiência se

dá mediante o trabalho pedagógico adotado pelo professor, bem como as

possibilidades de aprendizagem destes alunos. Além disso, proporcionar

aos professores da rede pública de ensino e alunos de licenciatura meios

de experimentar e desenvolver técnicas e tecnologias adequadas ao

ensino para alunos com deficiência.

Tal oportunidade proporcionou-me o ingresso no Mestrado Profissional em

Ensino da Matemática na PUC-SP e, com isso, iniciei minha trajetória de

pesquisa no campo da educação especial.

1 Esse projeto foi aprovado pelo INEP/CAPES no âmbito do Edital n. 38/2010 – Observatório da

Educação, e está sob coordenação geral da Profa. Dra. Ana Lúcia Manrique, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC-SP.

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15

2. A pesquisa

O processo de inclusão no Brasil iniciou-se no século XX, e teve como

principal marco a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988, que prevê no artigo 208, Inciso III: “o dever do Estado com a educação

será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos

portadores de deficiência, preferenc ialmente na rede regular de ensino”.

A partir de então, diversos decretos e portarias foram feitos para fazer valer

o que foi previsto na constituição. Por meio dos dados do Censo da Educação

Básica, apresentados na Tabela 1, podemos constatar o grande número de

matrículas que migraram das classes especiais e escolas exclusivas para as

classes comuns e, além disso, o aumento do número de matrículas desses

alunos.

Tabela 1. Número de matrículas na educação especial, Brasil, 2012

Ano Classes Especiais e

Escolas Exclusivas

Classes Comuns

(Alunos Incluídos) Total Geral

2007 348.470 306.136 654.606

2008 319.924 375.775 695.699

2009 252.687 387.031 639.718

2010 218.271 484.332 702.603

2011 193.882 558.423 752.305

Fonte: Censo da Educação Básica (BRASIL, 2012).

Nos dias atuais, a área da educação especial vem rompendo diversas

barreiras, em relação aos aspectos de acessibilidade e de aprendizagem. No

entanto, a aprendizagem que ocorre na escola, particularmente em sala de aula,

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ainda enfrenta grandes dificuldades, principalmente pela falta de materiais

pedagógicos e de profissionais preparados para trabalhar com alunos com

deficiência.

Por isso, muitos professores não se sentem aptos a trabalhar nas salas em

aula inclusivas e muitos desses alunos, que hoje estão “incluídos” e frequentam

as escolas, passaram de uma situação de excluídos da escola para excluídos na

escola, ou seja, estão presentes nas salas de aula regulares, mas não lhe são

oferecidas oportunidades de participação e aprendizagem iguais às dos demais

alunos. Segundo Glat e Pletsch (2011, p. 31):

O aluno está incluído fisicamente na turma comum e pode até ter uma boa

integração social com os colegas, mas fica excluído do processo de

ensino-aprendizagem. Nessa lógica, tem acesso ao sistema escolar, mas é

excluído da construção do conhecimento, o que significa que estão sendo

produzidas novas formas de exclusão no interior da própria escola.

Tal descompasso entre o que é previsto pelas políticas púbicas e o que

realmente está acontecendo nas escolas brasileiras é o reflexo de como foi

constituído o processo da educação inclusiva no Brasil. De acordo com Beyer

(2010, p. 08):

A particularidade da experiência brasileira da integração ou inclusão

escolar reside no fato de que sua história não se assentou sobre a

iniciativa de pais, familiares e escolas, porém foi articulada por estudiosos

da área e técnicos de secretarias. Em vez de se constituir como um

movimento gradativo de decisões conjuntas entre pais e educadores, com

imediata reversão em ações de implementação e adaptação das escolas e

dos professores na direção do projeto inclusivo, ocorreu um movimento

deslocado das bases para o topo. Assim, quando as diretrizes político-

pedagógicas da educação inclusiva foram definidas, muito pouco de

história concreta nas escolas, entre as famílias e educadores, no sentido

de ações efetivas de integração ou inclusão escolar, Brasil afora, havia

sido feito.

No intuito de minimizar tal descompasso, muito pesquisadores têm tido

como objeto de estudo os aspectos relativos à educação do aluno com

deficiência. No entanto, em nosso mapeamento, apresentado no capítulo II,

encontramos poucas pesquisas relacionadas ao que o professor sente, entende,

espera da inclusão, sobretudo daqueles que estão inseridos na diversidade

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17

cultural de escolas públicas de ensino básico, e principalmente pesquisas junto

aos professores que ensinam Matemática.

Tais constatações remetem-nos à seguinte questão: “quais são as

percepções dos professores que ensinam Matemática a respeito da inclusão de

alunos com deficiência nas salas de aula regulares?”, já que, segundo Mazzotta

(2011, p. 96), “dentre os mais importantes elementos da organização da

educação escolar (comum ou especial) destaca-se como fundamental o

professor”.

Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo investigar a

percepção de professores, que lecionam Matemática, a respeito da inclusão de

alunos com deficiência em salas de aula regulares de escolas públicas do estado

de São Paulo. Não focalizamos em um tipo de deficiência específica, pois

acreditamos que essa não seja a questão principal do estudo, mas sim a inclusão

de alunos com qualquer tipo de deficiência.

No primeiro capítulo, apresentamos nosso referencial teórico pautado na

discussão dos paradigmas da Integração e da Inclusão; no segundo capítulo, um

mapeamento feito no banco de teses e dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em relação às

produções existentes na temática da presente pesquisa; no terceiro capítulo, a

metodologia utilizada; no quarto capítulo, os resultados e a análise dos dados; e,

por fim, apresentaremos nossas considerações a respeito do trabalho

desenvolvido.

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18

Capítulo I. Educação inclusiva

Neste capítulo apresentamos nosso referencial teórico pautado na

discussão e entendimento dos conceitos dos paradigmas da integração e da

inclusão. Para tanto, fez-se necessário apresentar como ocorreu o processo da

instauração da educação especial. Sendo assim, trazemos alguns marcos

históricos, sociais e políticos para elucidar esse processo.

1.1. Marcos históricos, sociais e políticos

Olhando para o passado, podemos observar que a pessoa com deficiência

por vezes foi excluída ou marginalizada da sociedade. Segundo Fontes (2009),

na Antiguidade as crianças com deficiência eram mortas, pois não serviam para

lutar nas guerras. Na Idade Média eram escravizadas ou exploradas como

pedintes. No final da Idade Média, por influência da Igreja, as pessoas com

deficiência passaram a ser consideradas como “filhos de Deus” e, com isso,

começaram a ter abrigos nas igrejas em troca de pequenos favores, mas ainda

isoladas da sociedade.

Durante a Idade Moderna, apesar da predominância de filosofias

humanistas, as pessoas com deficiência continuaram isoladas da sociedade em

asilos, conventos e albergues, nos quais predominavam a troca de abrigo por

trabalho. Nesse mesmo período, surgiram os primeiros hospitais psiquiátricos na

Europa, que eram tidos como prisões. A única função social para as pessoas com

deficiência, nessa época, foi a de bobos da corte, na qual utilizavam sua

deficiência para divertir a aristocracia.

No final da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea, mais

precisamente a partir do século XVII, começaram a surgir os primeiros trabalhos

e instituições voltados à educação de pessoas com deficiência. Segundo

Mazzotta (2011, p. 17):

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19

Foi principalmente na Europa que os primeiros movimentos pelo

atendimento aos deficientes, refletindo mudanças na atitude dos

grupos sociais, se concretizaram em medidas educacionais. Tais

medidas educacionais foram se expandindo, tendo sido

primeiramente levadas para os Estados Unidos e Canadá e

posteriormente para outros países, inclusive o Brasil.

Na Europa, de acordo com o mesmo autor, podemos destacar como

principais marcos:

Em 1620, Jean-Paul Bonet escreveu Redação das letras e arte de

ensinar os mudos a falar, constatada como a primeira obra impressa

acerca da educação de pessoas com deficiência.

Em 1770, foi fundada a primeira instituição especializada para a

educação de pessoas com surdez, em Paris, pelo abade Charles M.

Eppée.

Em 1784, Valentin Haüy fundou o Institute Nacionale des Jeunes

Aveugles (Instituto Nacional de Jovens Cegos).

Em 1801, o médico Jean Marc Itard (1774-1838) publicou o livro De

l’éducation d’um homme sauvage, em que relata sua experiência em

educar Víctor, um menino de 12 anos capturado na floresta de

Aveyron, no sul da França. Esse trabalho ficou conhecido como o

“selvagem de Aveyron”.

Em 1829, Louis Braille (1809-1852), um jovem cego francês e

estudante do Instituto Nacional de Jovens Cegos, adaptou o código

militar de comunicação noturna, criado pelo oficial do exército

francês Charles Barbier, para ser utilizado por cegos. Hoje esse

meio de leitura e escrita é conhecido como sistema braile.

Nos Estados Unidos, ainda segundo Mazzotta (2011):

Em 1817, foi fundada a primeira escola pública dos Estados Unidos

para as pessoas com surdez, a American School [Escola

Americana].

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20

Em 1837, foi fundada a primeira escola para cegos inteiramente

subsidiada pelo Estado, a Ohio School for the Blind [Escola Ohio

para Cegos].

Em 1848, foi criado, em Massachusetts, o primeiro internato público

para deficientes mentais, denominação utilizada na época para a

deficiência intelectual.

Por volta de 1940, os pais de crianças com paralisia cerebral

organizaram-se para fundar a New York State Cerebral Palsy

Association [Associação do Estado de Nova Iorque para a Paralisia

Cerebral].

Por volta de 1950, com o objetivo de proporcionar atendimento em

escolas públicas para pessoas com deficiência intelectual, os pais se

organizaram na National Association for Retarded Children (NARC)

[Associação Nacional para as Crianças Retardadas]. Tal instituição

“exerceu grande influência em vários países, tendo sido a

inspiradora da criação das Associações de Pais e Amigos dos

Excepcionais (APAE) no Brasil” (Mazzotta, 2011, p. 26).

No século XIX, inspiradas em experiências desenvolvidas na Europa e nos

Estados Unidos, surgiram no Brasil as primeiras tentativas de organizar os

serviços educacionais destinados às pessoas com deficiência. Em 1854, D. Pedro

II fundou no Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje

conhecido por Instituto Benjamin Constant (IBC), e, em 1857, fundou, na mesma

cidade, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto

Nacional de Educação de Surdos (INES).

Apesar da criação desses institutos, somente no século XX as iniciativas

oficiais e particulares marcaram o início da educação especial no Brasil.

A partir de 1957, o governo federal assume responsabilidade com o

atendimento educacional das pessoas com deficiência por meio das seguintes

campanhas:

Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro (CESB), pelo

Decreto Federal nº 42.728, de 03 de dezembro de 1957;

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21

Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da

Visão, pelo Decreto nº 44.236, de 01 de agosto de 1958,

inicialmente vinculada ao Instituto Benjamin Constant. Em 1960

deixou de ser vinculada ao Instituto e passou a ser denominada

Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC), pelo Decreto

nº 48.252, de 31 de maio de 1960; e

Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes

Mentais (CADEME), pelo Decreto nº 48.961, de 22 de setembro de

1960.

Em 1961, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN, Lei nº 4.024/61), o atendimento educacional às pessoas com deficiência

passou a ser fundamentado. O artigo 88 da lei previu que “a educação dos

excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de

educação, a fim de integrá-lo na comunidade”. Em relação a esse artigo,

Mazzotta (2011, p. 72) pontua que:

Pode-se inferir que o princípio básico aí implícito é o de que a

educação dos excepcionais deve ocorrer com a utilização dos

mesmos serviços educacionais organizados para a população em

geral (situação comum de ensino), podendo se realizar através de

serviços educacionais especiais (situação especial de ensino)

quando aquela situação não for possível. Entretanto, na expressão

“sistema geral de educação”, pode-se interpretar o termo “geral”

com um sentido genérico, isto é, envolvendo situações diversas em

condições variáveis ou, ainda, com um sentido universal, referindo-

se à totalidade das situações. Nesse entendimento, estariam

abrangidos pelo sistema geral de educação tanto os serviços

educacionais comuns quanto os especiais.

Por outro lado, pode-se interpretar que, quando a educação de

excepcionais não se enquadrar no sistema geral de educação,

estará enquadrada em um sistema especial de educação. Nesse

caso se entenderia que as ações educativas desenvolvidas em

situações especiais estariam à margem do sistema escolar ou

“sistema geral de educação”.

Outro artigo dedicado ao atendimento educacional às pessoas com

deficiência, o artigo 89, diz que “toda iniciativa privada considerada eficiente

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22

pelos conselhos estaduais de educação e relativa à educação de excepcionais,

receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo,

empréstimos e subvenções”. Tal artigo incentiva as iniciativas privadas

exonerando, assim, o compromisso de iniciativas públicas.

Dez anos mais tarde, a Lei nº 5.692/71 dispôs em seu artigo 9º que:

Os alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais, os que

se encontram em atraso considerável quanto à idade regular de

matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial,

de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de

Educação.

Segundo Fontes (2009, p. 31), “a oferta de atendimento especializado aos

alunos descritos na Lei 5.692/71 materializou-se nas escolas de Educação

Especial que passaram a integrar o sistema de ensino”.

Em 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CNESP),

que tinha, de acordo com Mazzotta (2011, p. 59), “a finalidade de promover, em

todo território nacional, a expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais”.

Em 1992, devido à reorganizações dos Ministérios, o CNESP transforma-se na

Secretaria de Educação Especial (SEESP).

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a atual Constituição da

República Federativa do Brasil, que estabelece em seu artigo 3º, Inciso IV,

“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação”. Define, ainda, no artigo 205, a

educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da

pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 206,

Inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na

escola” como um dos princípios para o ensino e, no artigo 208, garante como

dever do Estado a oferta do “atendimento educacional especializado aos

portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.

A partir da promulgação dessa constituição, um conjunto de legislações foi

feito, visando os direitos educacionais das pessoas com deficiência, dentre elas:

Lei da Integração, Lei nº 7.853/89, que dispõe a respeito do apoio às

pessoas portadoras de deficiência e de sua integração social. Define

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23

como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a

matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em

qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado.

Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, que dispõe

em seu artigo 54, Inciso III, “atendimento educacional especializado

aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino”, e no artigo 55 “os pais ou responsável têm a obrigação de

matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”.

Portaria nº 1.793/1994, que recomenda a inclusão da disciplina

Aspectos Ético-Políticos-Educacionais da Normalização e Integração

da Pessoa Portadora de Necessidades Especiais, prioritariamente,

nos cursos de Pedagogia e Psicologia e em todas as licenciaturas.

Política Nacional de Educação Especial, de 1994, visou orientar o

processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às

classes comuns do ensino regular àqueles que “(…) possuem

condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares

programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos

normais” (BRASIL, 1994b, p. 19).

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96,

“que dispõe, em capítulo específico, diretrizes para a Educação

Especial como modalidade da educação escolar, oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos

portadores de necessidades especiais” (FONTES, 2009, p. 39).

Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência, Decreto nº 3.298/99, que dispõe acerca da Política

Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,

define a educação especial como uma modalidade transversal a

todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação

complementar da educação especial ao ensino regular.

Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,

Resolução CNE / CNB nº 002/01, que “dispõe sobre a oferta da

Educação Especial como parte integrante do sistema regular de

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24

ensino, definindo, entre outros, quem são os alunos com

necessidades especiais, a natureza dos serviços de apoio

educacional para as classes comuns e as exigências para a

formação do professor” (FONTES, 2009, p. 40).

Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172/01, que “diagnosticou e

fixou objetivos e metas para a educação de pessoas com

necessidades especiais a serem atingidos durante a Década da

Educação” (FONTES, 2009, p. 39).

Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas

de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência

(Convenção de Guatemala), Decreto nº 3.956/01, em que o Brasil foi

signatário dessa convenção e a promulgou por meio desse decreto.

Nessa convenção é afirmado “que as pessoas com deficiência têm

os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as

demais pessoas”, e é definida como “discriminação com base na

deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou

anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades

fundamentais”.

Resolução CNE/CP nº 01/2002, que “Institui Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em

nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena”. Nela está

prevista a formação dos professores contemplando a diversidade e

conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com

necessidades educacionais especiais.

Lei de Libras, Lei nº 10.436/02, que dispõe a respeito da Língua

Brasileira de Sinais. Ela reconhece a libras como meio de

comunicação legal e prevê a inserção da disciplina de libras nos

currículos dos cursos de formação de professores.

Portaria nº 2.678/02, que aprova diretriz e normas para o uso, o

ensino, a produção e a difusão do sistema braile em todas as

modalidades de ensino, compreendendo o projeto da grafia braile

para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em

todo o território nacional.

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25

O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns

da Rede Regular, de 2004. O Ministério Público Federal divulga o

documento com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes

mundiais para a inclusão.

Decreto nº 5.296/04, que regulamenta as leis nº 10.048/00 e nº

10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da

acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade

reduzida.

Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/02. Dispõe

sobre a inclusão da libras como disciplina curricular, a formação e a

certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de libras, o

ensino da língua portuguesa como segunda língua para alunos

surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular.

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, de 2006, que

tem como objetivo contemplar, no currículo da educação básica, as

temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações

afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na

educação superior.

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), de 2007, que traz

como eixos a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a

implantação de salas de recursos multifuncionais e a formação de

professores para a educação especial.

Decreto nº 6.094/07, que estabelece dentre as diretrizes do

Compromisso Todos pela Educação a garantia do acesso e

permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades

educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão

educacional nas escolas públicas.

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva, de 2008, que traz as diretrizes que fundamentam uma

política pública voltada à inclusão escolar, consolidando o

movimento histórico brasileiro.

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26

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2009,

que estabelece em seu artigo 24 que “os Estados Partes

reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para

efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de

oportunidades, os Estados Partes assegurarão sistema educacional

inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de

toda a vida”.

Decreto nº 6.949/09, que promulga a Convenção Internacional sobre

os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,

assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Esse decreto dá

ao texto da convenção caráter de norma constitucional brasileira.

Resolução CNE/CEB nº 4/2009, que “institui Diretrizes Operacionais

para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica,

modalidade Educação Especial”.

Diante do aqui apresentado, podemos observar que a partir da década de

90 as políticas públicas educacionais brasileiras em favor da inclusão

apresentaram grandes avanços, mas, mesmo assim, não garantiram essa

eficiência em nossas salas de aula. Segundo Beyer (2010, p. 08):

Encontramo-nos numa situação histórica de muita sensibilidade e

vulnerabilidade no que tange ao projeto de educação inclusiva. A

sensação é de descompasso entre o surgimento e a formalização

da política educacional nacional para os alunos ditos com

necessidades educacionais especiais e a realidade educacional

brasileira. As escolas, em sua maioria, se encontram, ainda, em

situação incipiente diante deste projeto.

Traçado o panorama social, histórico e político da Educação Especial,

apresentamos a seguir os pressupostos, o paradigma da integração e o

paradigma da inclusão que nortearam nossa análise.

1.2. Integração

A educação especial constituiu-se, de acordo com Glat e Fernandes (2005,

p. 36), “como campo de saber e área de atuação a partir de um modelo médico

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27

ou clínico”. Apesar de algumas iniciativas isoladas de médicos e pedagogos,

como, por exemplo, o caso do “selvagem de Aveyron”, desde o século XVII

grande parte das pessoas com deficiência ficava confinada em asilos e

manicômios, onde recebiam atendimento assistencial e terapêutico (médico e

psicológico), pois a deficiência era entendida como uma doença crônica. Segundo

Mendes (2006, p. 387), essa “foi uma fase de segregação, justificada pela crença

de que a pessoa diferente seria bem mais cuidada e protegida se confinada em

ambiente separado, também para proteger a sociedade dos „anormais‟”.

No século XIX, devido ao movimento da institucionalização da escolaridade

obrigatória, surgem as primeiras classes especiais em escolas regulares nos

Estados Unidos (MENDES, 2006). Mas, ainda, a situação de segregação foi

mantida, pois, apesar de estarem em uma escola regular, as pessoas com

deficiência eram mantidas em salas separadas.

Somente no século XX, devido aos movimentos sociais pelos direitos

humanos, aos altos custos dos programas segregados, às ações de grupos

formados por pessoas com deficiência, familiares e profissionais e às pesquisas

educacionais é que foram estabelecidas as bases para o surgimento da filosofia

da normalização e integração (MENDES, 2006).

O princípio da normalização teve sua origem nos países escandinavos,

conforme Mendes (2006, p. 389), com os trabalhos de Bank-Mikkelsen (1969) e

Nirje (1969), e tinha como pressuposto básico:

A ideia de que toda pessoa com deficiência teria o direito

inalienável de experimentar um estilo ou padrão de vida que seria

comum ou normal em sua cultura, e que a todos indistintamente

deveriam ser fornecidas oportunidades iguais de participação em

todas as mesmas atividades partilhadas por grupos de idades

equivalentes.

Tal princípio não era específico para a vida escolar, mas sim para todo e

qualquer tipo de ação que visasse à integração da pessoa com deficiência à

comunidade. Entretanto, Mantoan (1993) afirma que ele foi a base da integração

escolar.

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28

Uma ação promovida pelo princípio de normalização, segundo Mendes

(2006, p. 389), foi a promulgação, em 1977, de uma lei pública nos Estado

Unidos “que assegurou educação pública apropriada para todas as crianças com

deficiências, instituindo oficialmente em âmbito nacional o processo de

mainstreaming2”. Mantoan (1993, p. 04) destaca que “integrar-se no

mainstreaming, ou seja, na „corrente principal‟ é fazer parte do alunado escolar,

ou seja, ter acesso à educação”.

Visando a operacionalização do princípio de normalização nos Estados

Unidos, Deno (1970) apud Mendes (2006, p. 390) propôs o sistema em cascata,

que prevê:

Diferentes níveis ou graus de integração, envolvendo: 1) classe

comum, com ou sem apoio; 2) classe comum associada a serviços

suplementares; 3) classe especial em tempo parcial; 4) classe

especial em tempo integral; 5) escolas especiais; 6) lares; 7)

ambientes hospitalares ou instituições residenciais. Tal sistema

pressupunha uma possibilidade de mudança de nível para o aluno,

buscando um grau maior de integração escolar com base nas

potencialidades e no progresso do aluno.

Em relação ao “sistema em cascata”, Mantoan (1993, p. 04) destaca que

tal sistema promove a inserção parcial, pois “os alunos que se encontram em

serviços segregados muito raramente se deslocam para os menos segregados e,

raramente, às classes regulares”.

No Brasil, segundo Glat e Fernandes (2005), a filosofia da normalização e

integração começou a se consolidar no início da década de 80. Devido às

influências de documentos internacionais, tais como a Declaração Mundial de

Educação para Todos3 (1990) e a Declaração de Salamanca4 (1994), em 1994 foi

publicada a Política Nacional de Educação Especial que orientou o processo de

2 Segundo Mendes (2006, p. 389), “o termo mainstreaming (fluxo, corrente ou tendência principal) foi

no Brasil traduzido como integração”. 3 Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada na cidade de

Jomtien, na Tailândia, em 1990, também conhecida como Conferência de Jomtien. A declaração fornece definições e novas abordagens a respeito das necessidades básicas de aprendizagem, tendo em vista estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, visando uma sociedade mais humana e mais justa. 4 Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, na

Espanha, em 1994, com o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social.

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29

integração instrucional. Em relação a essa política, Mantoan e Santos (2010, p.

84) ressaltam que:

Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de padrões

homogêneos de participação e aprendizagem, a Política não

provoca uma reformulação das práticas educacionais de maneira

que sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no

ensino comum, mantendo a responsabilidade da educação desses

alunos exclusivamente no âmbito da educação especial.

Outro autor, Sassaki (2005, p. 21), salienta que a proposta da integração

não “satisfaz plenamente os direitos de todas as pessoas com deficiência, pois a

integração pouco exige da sociedade em termos de modificações de atitudes, de

espaços, de objetos e de práticas sociais”, e destaca que:

O mérito da proposta da integração está no seu forte apelo contra a

exclusão e a segregação de pessoas com deficiência. Todo um

esforço é envolvido no sentido de promover a aproximação entre a

pessoa deficiente e a escola comum, entre a pessoa deficiente e a

empresa comum e, assim por diante. Mas sempre com a tônica da

responsabilidade colocada sobre as pessoas com deficiência, no

sentido de se prepararem para serem integradas à sociedade (às

escolas comuns, às empresas, etc.) (p.22).

Portanto, a integração não previa adequações dos sistemas para atender

as pessoas com deficiência, mas sim uma adequação dessas pessoas para

integrarem nos sistemas. Tais constatações geraram críticas a esse paradigma,

pois muitos o consideravam como excludente, e tais críticas desencadearam

movimentos em busca de um novo paradigma no qual não houvesse nenhum tipo

de exclusão.

1.3. Inclusão

Segundo Mendes (2006), devido às críticas ao modelo de integração

escolar, surgem nos Estados Unidos, na década de 80, dois movimentos que

influenciaram o aparecimento da proposta de inclusão escolar: a Iniciativa da

Educação Regular e a Inclusão Total.

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30

A Iniciativa da Educação Regular “defendia que todos os alunos deveriam

ser inseridos nas classes comuns das escolas comuns, sem descartar a

necessidade de manutenção dos serviços de ensino especial separados”

(MENDES, 2006, p. 393). Já a proposta de Inclusão Total:

Se configurava de uma forma mais radical, no sentido de

estabelecer um tipo de política sem exceção, requisitando a

participação em tempo integral na classe comum apropriada à

idade, para todos os estudantes, a despeito do quão extensivas

fossem suas limitações.

Apesar de ambos os movimentos buscarem a fusão do ensino especial ao

regular, o movimento da Iniciativa da Educação Regular previa o atendimento

apenas às pessoas com deficiências leves ou moderadas, enquanto que o de

Inclusão Total previa atendimento para pessoas com qualquer tipo de deficiência,

inclusive as deficiências severas.

Na década de 90, segundo Mendes (2006, p. 394), tais movimentos

bifurcaram-se em duas correntes, a educação inclusiva e a inclusão total:

A partir de então, aparecem na literatura duas posições mais

extremistas, estando num dos extremos a proposta de inclusão

total, que advoga a colocação de todos os estudantes,

independentemente do grau e tipo de incapacidade, na classe

comum da escola próxima à sua residência, e a eliminação total do

atual modelo de prestação baseado num contínuo de serviços de

apoio de ensino especial. Do outro lado estão os adeptos da

educação inclusiva, que consideram que a melhor colocação seria

sempre na classe comum, embora admitindo a possibilidade de

serviços de suportes, ou mesmo ambientes diferenciados (tais

como classes de recursos, classes especiais parciais ou

autocontidas, escolas especiais ou residenciais).

Também na década de 90, devido às críticas existentes em relação ao

modelo da integração escolar, que gerava uma exclusão dos alunos com

deficiência dentro da escola, visando à ampliação do acesso e da qualidade da

educação da pessoa com deficiência e por influência de ações internacionais,

surge, no Brasil, a proposta de educação inclusiva (MENDES, 2006; GLAT e

BLANCO, 2009).

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31

Tal proposta foi instituída no Brasil em 2007, por meio da Política Nacional

de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que tem como

objetivo:

Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento de altas habilidades/superdotação,

orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino

regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis

mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de

educação especial desde a educação infantil até a educação

superior; oferta do atendimento educacional especializado;

formação de professores para o atendimento educacional

especializado e demais profissionais da educação para a inclusão;

participação da família e da comunidade; acessibilidade

arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e

informação; e articulação intersetorial na implementação das

políticas púbicas (MANTOAN e SANTOS, 2010, p. 91).

Essa política, que atualmente é a política educacional oficial do Brasil, traz

consigo o paradigma da inclusão escolar que, ao contrário do paradigma da

integração, prevê uma adequação dos sistemas para o atendimento das pessoas

com deficiência. Segundo Mantoan (1993, p. 05):

A inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois

não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam

dificuldades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos,

pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente

educativa geral.

Portanto, podemos concluir que a implantação dessa política requer o

envolvimento de todos: escola, professores, pais, comunidades e pessoas com

deficiência, além de condições legítimas de acesso, vivência e aprendizado nas

escolas, por meio de acessibilidade arquitetônica, materiais didáticos, tecnologias

assistivas e formação dos professores e de todo o quadro de funcionários da

escola.

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32

1.4. Integração X inclusão

Durante a fase de transição de um paradigma para outro, Sassaki (2005)

destaca que diferentes pessoas utilizavam as palavras integração e inclusão de

formas distorcidas ou como sinônimos. Tal forma errônea remete à falta de

entendimento dos significados dos paradigmas.

A falta de diferenciação entre os paradigmas integração e inclusão,

segundo Mantoan (1993, p. 02), “reforça ainda mais a vigência do paradigma

tradicional de serviços”, ou seja, apesar de se viver em uma política de educação

inclusiva pautada no modelo do paradigma da inclusão, age-se conforme o que é

previsto no modelo do paradigma da Integração.

Sendo assim, para viver, trabalhar e conviver em uma política de educação

inclusiva, é necessário um entendimento pleno dos seus pressupostos e

significados. Por isso, trouxemos essa discussão a esta pesquisa.

Além da falta de entendimento de sua proposta, a educação inclusiva, no

Brasil, ainda tem muitos obstáculos a serem enfrentados. Dentre eles, Mantoan

(2005, p. 26) destaca:

Escolas que carecem de possibilidades de acesso físico a alunos

com deficiências motoras; salas de aula superlotadas; falta de

recursos especializados para atender às necessidades de alunos

com deficiências visuais; necessidades de se dominar a Língua

Brasileira de Sinais (LIBRAS) e de intérpretes para os alunos

surdos; ausência ou distanciamento de serviços de apoio

educacional ao aluno e professor; resistência de professores, que

alegam falta de preparo para atender aos alunos com deficiência,

nas salas de aulas comuns; reticências dos pais de alunos com e

sem deficiência, entre outros.

Observamos que muitos são os entraves para a efetiva implantação de

uma educação, não só inclusiva, de qualidade. Mas, apesar disso, não podemos

fechar os olhos para essa realidade, pois ela está nas escolas, na mídia e no

nosso dia-a-dia.

Por isso que na presente pesquisa discutimos aspectos não somente

relativos ao nosso objetivo principal, que é o de investigar a percepção de

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33

professores que lecionam Matemática a respeito da inclusão de alunos com

deficiência em salas de aula regulares de escolas públicas do estado de São

Paulo, mas também a respeito da disponibilidade de materiais didáticos e

tecnologias assistivas existentes nas escolas, além da formação dos professores

pesquisados.

Sabemos que as mudanças em educação são lentas, mas temos que

encará-la de frente e assumir nossa responsabilidade, para que tanto a inclusão

como a educação de qualidade previstas em nossa legislação e em nossos

discursos realmente existam, mesmo em um tempo “em que a sociedade

promove a barbárie a partir de si mesma, a escola tem sido insuficiente como

espaço de resistência e conscientização, mas sua ação ainda é fundamental para

qualquer mudança almejada” (CROCHIK, 2011, p. 579).

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34

Capítulo II. Mapeamento de teses e dissertações

Fizemos um mapeamento junto ao banco de teses e dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no

período de agosto de 2011 a setembro de 2011, para conhecer as produções

existentes em relação à temática do projeto de pesquisa “Desafios para a

Educação Inclusiva: pensando a Formação de Professores sobre os Processos

de Domínio da Matemática nas Séries Iniciais da Educação Básica”. Na Tabela 2

apresentamos os primeiros resultados obtidos:

Tabela 2. Resultados iniciais da pesquisa junto ao Banco de Teses e Dissertações da CAPES, Brasil, 2011

Palavras Chave Utilizadas Mestrado

Acadêmico

Mestrado

Profissional Doutorado Total

Matemática Necessidades Especiais 51 04 21 76

Prática Pedagógica Deficiente Visual 11 01 03 15

Práticas Pedagógicas Deficientes Visuais 06 02 01 09

Prática Pedagógica Cego 20 01 08 29

Matemática Deficiência Visual 15 01 01 17

Matemática Deficiente Visual 06 01 01 08

Matemática Cegos 11 01 05 17

Matemática Deficiência Mental 08 00 02 10

Matemática Deficiência Intelectual 03 00 02 05

Matemática Deficiência Motora 04 00 03 07

Deficiência Matemática 104 07 40 151

Prática Inclusiva de Matemática 10 01 01 12

Matemática Inclusiva 31 04 08 43

Matemática Deficiente 33 04 12 49

Matemática Deficiente Auditivo 03 00 02 05

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35

Matemática Surdos 21 03 03 27

Necessidades Especiais Reabilitação Educação 20 00 02 22

Tecnologias Assistivas Matemática 07 00 03 10

TOTAL 364 30 118 512

Diante dos primeiros resultados, fizemos uma triagem para verificar a

existência de duplicidades e eliminar as que não eram pertinentes à temática do

projeto. Das 512 teses ou dissertações encontradas, 141 eram repetidas e 270

não eram pertinentes. Sendo assim, após essa triagem, obtivemos um total de

101 teses ou dissertações.

Em seguida, fizemos a leitura dos resumos das 101 teses ou dissertações

selecionadas e escolhemos os trabalhos relativos ao tema e objetivo desta

pesquisa, ou seja, relacionados à formação de professores e a percepções.

Sendo assim, foi feita a análise de treze trabalhos. Destes, dois são teses e onze

são dissertações de mestrado acadêmico.

Em relação aos programas, sete são de Educação, dois de Educação em

Ciências e Matemática, um de Educação Especial, um de Educação para a

Ciência e o Ensino de Matemática e dois de Fonoaudiologia.

Como os programas “Educação em Ciências e Matemática” e “Educação

para a Ciência e o Ensino de Matemática” pertencem à mesma temática, os

consideramos como de “Ensino de Ciências e Matemática”. Sendo assim,

obtivemos trabalhos de quatro áreas diferentes, conforme o apresentado na

Tabela 3:

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36

Tabela 3. Níveis acadêmicos por área das produções selecionadas na pesquisa junto ao Banco de Teses e Dissertações da CAPES, Brasil, 2011

Área Mestrado

Acadêmico Doutorado

Educação Especial 01 00

Fonoaudiologia 02 00

Ensino de Ciências e Matemática 03 00

Educação 05 02

Total 11 02

Selecionados os trabalhos, fizemos uma leitura de cada um com a intenção

de identificar os que se assemelhavam ao nosso. Nas tabelas 4, 5 6, e 7

apresentamos cada um dos trabalhos, por área, com os seus respectivos

objetivos.

Tabela 4. Trabalho referente à área “Educação Especial”, Brasil, 2011

Instituição de

Ensino Superior Ano Nível Objetivo

UFSCar 2004 Mestrado

Analisar a expectativa do professor do

ensino regular quanto ao desempenho

acadêmico dos alunos surdos e

ouvintes, inseridos no ensino

fundamental.

Nessa área obtivemos apenas um trabalho ligado à categoria formação de

professor que trata das expectativas do professor em relação ao desempenho de

alunos surdos na educação básica.

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37

Tabela 5. Trabalhos referentes à área “Fonoaudiologia”, Brasil, 2011

Instituição de

Ensino Superior Ano Nível Objetivo

PUC-SP 2007 Mestrado

Descrever e discutir, a partir da vivência

de professores, o processo de inclusão

de crianças com deficiência auditiva em

escola regular.

PUC-SP 2009 Mestrado

Investigar o sentido atribuído à

expressividade oral e sua prática em

sala de aula, de professores

especializados na área da deficiência

visual.

Em relação a essa área foram obtidos dois trabalhos, um relativo à

vivência do professor diante do processo de inclusão de alunos com deficiência

auditiva e outro relativo à prática e à expressividade de professores de alunos

com deficiência visual.

Tabela 6. Trabalhos referentes à área “Ensino de Ciências e Matemática”,

Brasil, 2011

Instituição de

Ensino Superior Ano Nível Objetivo

UFP 2007 Mestrado

Analisar as necessidades formativas dos

professores de Matemática na Educação

de deficientes auditivos, tendo em vista

o seu desenvolvimento profissional.

UEM 2006 Mestrado

Investigar as possíveis correlações entre

as representações docentes e o ensino

para surdos.

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38

UFP 2010 Mestrado

Investigar os saberes em ação na

prática docente no ensino de

Matemática a alunos surdos incluídos

em uma escola com alunos ouvintes.

Obtivemos apenas três trabalhos nessa área, destinada ao ensino em

Ciências e Matemática. Os três trabalhos são dedicados a alunos com deficiência

auditiva ou surdos. O primeiro refere-se às necessidades formativas de

professores de Matemática de alunos com deficiência auditiva, o segundo

investiga possíveis correlações entre as representações docentes e o ensino

para alunos surdos e o terceiro trabalho pesquisa saberes e práticas docentes no

ensino de Matemática para alunos surdos.

Tabela 7. Trabalhos referentes à área “Educação”, Brasil, 2011

Instituição de

Ensino

Superior

Ano Nível Objetivo

PUC-RS 1996 Mestrado

Compreender e analisar como as

professoras de crianças surdas de pré-

escola e séries iniciais percebem o

trabalho com oficinas pedagógicas em

Matemática para resolução de problemas

matemáticos.

PUC-RS 2001 Mestrado

Analisar os relatos de professores de

Matemática para compreender sua

atuação com alunos que apresentam

necessidades educacionais especiais,

em classes do ensino dito regular.

UNESP –

Marília 2002 Doutorado

Identificar as representações sociais

presentes no universo de pensamento de

alunos com deficiência e de professores

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39

habilitados em uma das quatro áreas de

deficiência (auditiva, física, mental e

visual).

UNESP –

Marília 2002 Mestrado

1) Identificar a concepção que alunos em

formação em Educação Especial têm

sobre recurso pedagógico; 2) Verificar

possíveis diferenças nas concepções

desses alunos, quando relacionadas à

área de atuação específica dos mesmos;

3) Identificar as atribuições estabelecidas

ao recurso pedagógico e suas relações

com o desenvolvimento.

UFSM 2004 Mestrado

Identificar a presença do fenômeno

social conhecido por Burnout5 entre 39

docentes que trabalham com alunos com

necessidades educacionais especiais.

Universidade

Estácio de Sá 2009 Mestrado

Conhecer os indícios das representações

sociais de baixa visão elaboradas por

professores que atuam nas turmas de 6º

ao 9º ano do ensino fundamental no

Instituto Benjamin Constant.

UFG 2010 Doutorado

Compreender a complexidade do

processo ensino-aprendizagem de

Matemática na perspectiva inclusiva, em

uma escola da rede estadual de

educação da capital goiana, com base

empírica e estudos bibliográficos e

documentais.

5 Segundo Benevides-Pereira (2002, p. 45), entende-se Burnout como sendo “a resposta a um estado

prolongado de estresse, ocorre pela cronificação deste, quando os métodos de enfrentamento falharam ou foram insuficientes. (...) está relacionado com o mundo do trabalho, com o tipo de atividades laborais do indivíduo”.

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40

Na área “Educação” obteve-se o maior número de produções, sete das

treze selecionadas. Além disso, essa é a única área que contém teses e que

apresenta a produção mais antiga, de 1996.

Em relação às produções, a primeira aborda o trabalho com oficinas

pedagógicas de Matemática realizadas por professores de alunos surdos; a

segunda analisa relatos de professores de Matemática diante de suas atuações

junto a alunos com deficiência; a terceira identifica as representações sociais de

alunos com deficiência e de professores habilitados em uma das quatro áreas de

deficiência (auditiva, física, mental e visual); a quarta produção analisa as

concepções de alunos que estão em formação em educação especial a respeito

dos recursos pedagógicos existentes em suas áreas de atuação; a quinta

identifica a existência de um fenômeno social (Burnout) junto a professores que

trabalham com alunos com deficiência; a sexta investiga indícios de

representações sociais de professores em relação à baixa visão; e a sétima visa

compreender a complexidade do processo ensino-aprendizagem de Matemática

na perspectiva inclusiva.

Dos treze resumos analisados, constatamos, em relação às deficiências

abordadas, que seis trabalhos são relativos à deficiência auditiva ou surdez, cinco

trabalhos não especificam o tipo de deficiência e dois trabalhos são relativos à

deficiência visual ou cegueira.

Em relação à metodologia, mais especificamente à coleta de dados

utilizada nos trabalhos, cinco utilizaram a entrevista, três o questionário, um a

observação participante, um o estudo bibliográfico e documental, dois uti lizaram

concomitantemente a entrevista e a observação, e um a entrevista, a observação

e a análise documental.

Analisando os sujeitos das pesquisas, podemos constatar que um trabalho

usou documentos e não sujeitos; um foi realizado junto a alunos em formação

para a educação especial; um trabalho realizou a pesquisa com professores de

diversas áreas, inclusive a Matemática; um trabalhou com professores de

Ciências e Matemática; dois com professores do ensino regular; três com

professores de Matemática; e quatro com professores do ensino especial.

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41

Ao relacionar esses dados com nosso trabalho, podemos identificar que

dos trabalhos que utilizam como sujeitos professores de Matemática ou que

lecionam Matemática, apenas um trabalho utiliza como instrumento de coleta de

dados o questionário, entretanto, o mesmo é desenvolvido com alunos surdos e

ouvintes. Sendo assim, apesar de alguns trabalhos serem semelhantes ao nosso,

nenhum tem o mesmo objetivo, utiliza o mesmo meio de investigação, o número

de sujeitos ou tipos de deficiência.

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42

Capítulo III. Procedimentos metodológicos

Tendo em vista que o objetivo desta pesquisa é investigar a percepção de

professores que lecionam Matemática a respeito da inclusão de alunos com

deficiência em salas de aula regulares de escolas públicas do estado de São

Paulo, podemos classificá-la como descritiva, pois, segundo Fiorentini e

Lorenzato (2009, p. 70), “uma pesquisa é considerada descritiva quando o

pesquisador deseja descrever ou caracterizar com detalhes uma situação, um

fenômeno ou um problema”.

A seguir, apresentamos os caminhos percorridos para atingir tal objetivo.

3.1. Instrumento de pesquisa

Para investigarmos as percepções apresentadas em nosso objetivo de

pesquisa, utilizamos como instrumento um questionário intitulado “Percepção de

Professores da Educação Básica que ensinam Matemática sobre a Inclusão de

Alunos com Deficiência” (Anexo I). A escolha pelo questionário é justificada, pois

segundo Figueiredo (2008, p. 94):

As pesquisas descritivas têm como principal objetivo a descrição

das características de determinada população ou fenômeno, ou

então o estabelecimento de relações entre variáveis obtidas por

meio da utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados,

tais como o questionário e a observação sistemática.

Uma primeira versão do questionário foi idealizada pelas professoras

doutoras Ana Paula Loução Martins e Anabela Cruz dos Santos, ambas da

Universidade do Minho, Portugal, utilizando os trabalhos de Tanner e

colaboradoras (1996). A versão brasileira do questionário foi adaptada pela

equipe de alunos e pesquisadores do projeto de pesquisa “Desafios para a

Educação Inclusiva: pensando a Formação de Professores sobre os Processos

de Domínio da Matemática nas Séries Iniciais da Educação Básica”, coordenado

pela professora doutora Ana Lúcia Manrique.

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43

O questionário brasileiro é formado por 58 questões, divididas em sete

seções. Cada seção contém as seguintes informações:

1ª – a identificação do professor pesquisado e da escola onde

trabalha, além do seu aceite em participar da pesquisa (Termo de

Consentimento Livre Esclarecido);

2ª – as variáveis demográficas do pesquisado;

3ª – o contato do professor pesquisado com a educação especial;

4ª – a percepção do professor pesquisado sobre a inclusão de

alunos com deficiência;

5ª – a percepção do professor pesquisado sobre o ensino de

Matemática para alunos com deficiência;

6ª – a percepção do professor pesquisado sobre o uso de tecnologia

assistiva;

7ª – a percepção do professor pesquisado sobre sua formação para

o trabalho com inclusão de alunos com deficiência em sala de aula.

Além dessa pesquisa, o questionário brasileiro fornece dados que serão

utilizados em outras pesquisas vinculadas ao projeto de pesquisa “Desafios para

a Educação Inclusiva: Pensando a Formação de Professores sobre os Processos

de Domínio da Matemática nas Séries Iniciais da Educação Básica”.

Na presente pesquisa utilizamos quarenta questões do questionário, que

são:

Da 1ª seção – tipo de escola (estadual ou municipal), nome da

escola (apenas para identificar a quantidade de escolas), cidade e

estado a qual pertence;

Da 2ª seção – as questões 1, 2, 4 e 6;

Da 3ª seção – as questões 8, 10 e 11;

Da 4ª seção – as questão 12 a 30;

Da 5ª seção – as questões 31, 32, 36 e 39;

Da 6ª seção – as questões 40, 41, 42 e 43; e

Da 7ª seção – as questões 46 e 47.

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44

Não foram utilizadas todas as questões do questionário, pois nem todas

estavam relacionadas ao nosso objetivo de pesquisa.

3.2. Coleta dos dados

A coleta dos dados desta pesquisa se deu por dois meios: abordagem

pessoal e via internet.

A abordagem presencial foi feita por todos os participantes do projeto em

suas escolas e contatos. Além disso, fizemos abordagens em alguns eventos do

Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da PUC-SP.

Primeiramente contatamos os participantes explicando a finalidade do

questionário e, posteriormente, recolhemos os questionários respondidos. Nessa

abordagem utilizamos a versão impressa.

Em relação a esse tipo de abordagem (presencial), Fowler Junior (2011, p.

105) destaca como vantagens a opção de o entrevistador poder explicar a

intenção da pesquisa e que “as taxas de resposta tendem a ser como as de

estudos que utilizam entrevistas pessoais”. Já em relação às desvantagens

salienta que “este procedimento tem o mesmo custo de entrevistas pessoais” e

que é necessária uma equipe para abordar as pessoas.

A abordagem via internet foi feita por meio de sites de relacionamento,

inserção de mensagens em grupos de professores de Matemática e e-mails

enviados a escolas. Para essa abordagem utilizamos uma ferramenta para

coletar dados on-line (formulário do Google Docs).

Fowler Junior (2011, p. 105) destaca como vantagens desse tipo de

abordagem (via internet) o baixo custo, o retorno de respostas rápido e o maior

tempo para o pesquisado responder à pesquisa. Em relação às desvantagens

destaca que “são necessários endereços confiáveis”, “há o desafio de obter

cooperação” e de que a “não participação de um entrevistador pode afetar a

coleta de dados”.

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45

O período de coleta dos dados (aplicação do questionário) foi de abril de

2012 a setembro de 2012. Durante esse período 270 professores participaram da

pesquisa, sendo que 197 eram do estado de São Paulo, 72 de outros estados e

um professor não respondeu essa questão. Na tabela 8 apresentamos a

distribuição de professores e seus respectivos estados de origem:

Tabela 8. Distribuição de 270 professores respondentes por estado, Brasil, 2012

Estado Número de professores

Espírito Santo 01

Goiás 01

Pará 01

Pernambuco 01

Não respondeu 01

Distrito Federal 02

Paraíba 02

Rio de Janeiro 02

Minas Gerais 03

Rio Grande do Sul 05

Paraná 16

Bahia 17

Santa Catarina 21

São Paulo 197

TOTAL 270

Inicialmente pretendíamos fazer o presente estudo em nível nacional, mas

diante dos resultados obtidos, optamos em restringir apenas ao estado de São

Paulo. Sendo assim, foram considerados nesta pesquisa 197 professores.

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46

Participaram como respondentes da presente investigação professores de

escolas públicas (municipais e estaduais) que ensinam Matemática no Ensino

Fundamental I, Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação de Jovens e

Adultos. Nosso interesse foi o de investigar não só os professores formados em

Matemática, mas também os professores que, apesar de não serem formados na

área específica, lecionam Matemática.

3.3. Análise dos dados

Neste estudo, fizemos inicialmente uma análise exploratória dos dados

obtidos e, em seguida, uma análise multidimensional, aliada ao software CHIC

(Classificação Hierárquica Implicativa e Coesiva).

Em relação ao software, Okada (2008, pp. 49-50) esclarece que:

O CHIC, denominado “Classificação Hierárquica, Implicativa e

Coesiva”, foi desenvolvido por Almouloud, em 1997, em sua

primeira versão e atualizado por Raphaël Couturier. Este software

permite realizar estudo quantitativo e análise qualitativa através da

visualização das inter-relações de vários conjuntos dados. Dados

coletados em entrevistas podem ser codificados através de

variáveis. O software quantifica os valores atribuídos e representa

graficamente as associações hierárquicas. Esses mapas de análise

multidimensional gerados automaticamente pelo CHIC, conforme

constituição de regras, permitem um estudo mais aprofundado de

grande quantidade de dados.

Roma (2010, pp. 108-109) salienta que o software CHIC permite três tipos

de tratamento dos dados, que são:

Árvore de Similaridade: ajuda a interpretar quais

características mostram-se estatisticamente parecidas,

duas a duas, por intermédio de uma hierarquia de

tipologias presentes nos sujeitos da pesquisa;

Grafo Implicativo: permite inferir se um determinado tipo de

característica da amostra dos sujeitos da pesquisa

influencia outro tipo de característica representada pelas

respostas do questionário; e

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47

Árvore Coesitiva: indica o grau de coesão entre duas

características evidenciadas na amostra, ou seja, dentre

todas as características processadas pelo software, duas a

duas e obedecendo a uma hierarquia, indicando o grau de

ligação entre elas.

Na presente pesquisa, utilizamos o software CHIC para identificar as

relações e similaridades entre os sujeitos e suas respostas. Para tanto, utilizamos

apenas o tratamento Árvore de Similaridade.

Para todas as análises, unidimensional, bidimensional e multidimensional,

primeiramente fizemos a seleção das questões de nosso interesse na planilha

gerada no Google Docs dos questionários respondidos, em seguida as

transferimos para uma planilha do Excel e, finalmente selecionamos os dados

relativos ao estado de São Paulo e os separamos dos demais.

As análises unidimensional e bidimensional dos dados nos permitiu, por

meio de cruzamento dos dados e de montagens de tabelas e gráficos, traçar o

perfil dos professores respondentes, identificar aspectos relativos à educação

especial (experiência e formação) e a existência de tecnologias assisitivas e

materiais pedagógicos nas escolas onde trabalham, além de suas percepções em

relação à Inclusão de alunos com deficiência.

Já a análise multidimensional nos permitiu fazer agrupamentos nos quais

pudemos relacionar o perfil dos professores respondentes às questões que

tratam de suas percepções em relação à escola e seu trabalho, ao aluno e à

inclusão.

Tais análises nos ajudaram a traçar as percepções dos professores

respondentes para atingir nosso objetivo de pesquisa, de investigar a percepção

de professores que lecionam Matemática a respeito da inclusão de alunos com

deficiência em salas de aula regulares de escolas públicas do estado de São

Paulo.

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48

Capítulo IV. Resultados e análises

Neste capítulo apresentamos os resultados obtidos em nossa pesquisa,

bem como as análises, unidimensional, bidimensional e multidimensional, desses

resultados.

4.1. Análises unidimensional e bidimensional

Na presente análise apresentamos o perfil dos professores respondentes,

os aspectos relativos à educação especial (experiência e formação) e à

existência de tecnologias assisitivas e materiais pedagógicos nas escolas onde

trabalham e suas percepções em relação à inclusão de alunos com deficiência.

4.1.1. Perfil dos professores respondentes

Como mencionamos anteriormente, no início desta investigação

pretendíamos obter amostras de vários estados brasileiros. Devido à baixa

participação, ou seja, dos 270 questionários respondidos 197 foram do estado de

São Paulo, 72 de outros estados e um pesquisado não respondeu o estado de

sua origem, restringimos nossa amostra apenas aos professores respondentes do

estado de São Paulo (no apêndice 1 da presente pesquisa, apresentamos uma

tabela contendo o número de professores respondentes por município e cidade

do estado de São Paulo). Portanto, participaram desta pesquisa 197 professores

de 88 escolas paulistas.

Sendo assim, tendo como amostra os professores respondentes do estado

de São Paulo, os agrupamos por regiões: Capital, Grande SP e Interior, e

obtivemos os números apresentado na tabela 9:

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49

Tabela 9. Distribuição de 197 professores respondentes por regiões do estado de São Paulo, São Paulo, 2012

Regiões Número de professores

respondentes

Capital 135

Grande SP 37

Interior 25

TOTAL 197

Em relação ao gênero dos docentes que participaram da presente

pesquisa, 147 são mulheres e 50 são homens.

Gráfico 1. Distribuição dos professores respondentes por gênero

Analisando a idade dos docentes, podemos observar, no gráfico 2, que

grande parte tem idade entre 41 e 50 anos.

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50

Gráfico 2. Distribuição dos professores respondentes por faixa etária

Quando questionados em relação ao tempo de experiência no magistério,

58 professores respondentes declararam ter mais de 20 anos de experiência,

conforme apresentado no gráfico 3.

Gráfico 3. Tempo de experiência no magistério

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51

Ao relacionarmos a faixa etária do professor respondente com seu tempo

de experiência no magistério, obtivemos o apresentado na tabela 10.

Tabela 10. Distribuição de 197 professores respondentes por faixa etária e tempo de experiência no magistério, São Paulo, 2012

Faixa Etária

Tempo de Experiência no Magistério

Menos

de 5

anos

De 5 a

10 anos

De 11 a

15 anos

De 16 a

20 anos

Mais de

20 anos Total

Menor de 30 anos 18 08 01 00 00 27

De 31 a 40 anos 09 16 16 09 03 53

De 41 a 50 anos 06 08 07 19 28 68

Maior de 51 anos 00 01 05 08 22 36

Não respondeu 02 02 02 02 05 13

Total 35 35 31 38 58 197

Ao observarmos os dados apresentados na tabela 10, constatamos que os

professores respondentes concentram-se nas faixas etárias de 41 a 50 anos e de

maiores de 51 anos, e com tempo de experiência no magistério superior a 20

anos.

Considerando o estabelecimento no qual o professor pesquisado trabalha,

160 declararam trabalhar em escola estadual e 37 em escola municipal, conforme

apresentado na tabela 11. Além disso, 104 professores declararam trabalhar com

alunos do Ensino fundamental I (1º ao 5º ano) e 102 com alunos do Ensino

Fundamental II (6º ao 9º ano) e Ensino Médio. Nesses números estão incluídos

os professores que trabalham na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e os que

trabalham em ambos.

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52

Tabela 11. Distribuição de 197 professores respondentes por tipo de estabelecimento e nível de ensino no qual lecionam, São Paulo, 2012

Tipo de Estabelecimento

Nível de Ensino

EF I EF II e

Médio Todos

Não

respondeu Total

Estadual 84 73 02 01 160

Municipal 11 24 02 00 37

Total 95 97 04 01 197

Embora no total não haja uma diferença significativa entre o número de

professores do Ensino Fundamental I e os do Ensino Fundamental II e Médio,

quando consideramos apenas os professores da rede municipal observamos uma

diferença maior, sendo o número de professores do Ensino Fundamental I (11)

menor que a metade do Ensino Fundamental II e Médio (24), e o mesmo não

acontece em relação aos professores da rede estadual.

4.1.2. Aspectos relativos à educação especial

Quando questionados se já tiveram em suas salas de aula alunos com

deficiência, 175 professores declararam que sim e 22 que não. E, apesar de já

terem tido alunos com deficiência em suas salas de aula, 130 professores

declararam não ter nenhuma experiência no ensino de Matemática para esses

alunos, conforme tabela 12.

Observando esses dados surgem questionamentos a respeito do trabalho

do professor em sala de aula. Por exemplo, há o ensino de Matemática para

esses alunos? Se sim, como ocorreu esse ensino? Qual metodologia utilizada? E

se não, o que o professor ensinava para esses alunos?

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53

Tabela 12. Distribuição de 197 professores respondentes por nível de ensino no qual lecionam e experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência, São Paulo, 2012

Experiência

Nível de Ensino

EF I EF II e

Médio Todos

Não

respondeu

o nível de

ensino

TOTAL

Sim 18 39 02 00 59

Não 73 56 01 00 130

Não respondeu sua experiência 04 02 01 01 08

Total 95 97 04 01 197

Na tabela 12 o que nos chamou a atenção foi o número de 39 professores

do Ensino Fundamental II e Médio que disseram ter experiência no ensino de

Matemática para alunos com deficiência e, da mesma forma, surgem

questionamentos em relação ao que esses professores de Matemática

trabalharam com esses alunos.

Em relação ao tipo de deficiência dos alunos, os docentes respondentes

declararam ter tido em sala de aula, em grande parte, alunos com deficiência

intelectual, mas, também, foram apontados outros tipos de deficiência conforme

apresentado no gráfico 4.

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54

Gráfico 4. Tipos de deficiência dos alunos dos professores respondentes

Dos 197 professores respondentes, 161 professores, declarou ter acesso a

informações sobre os tipos de deficiência que existem, mas, apesar disso,

apenas 62 participaram de algum tipo de capacitação em educação especial, 16

declaram ter tido em sua formação inicial alguma disciplina com esse enfoque e,

grande parte, 161, não procurou cursos voltados para a inclusão durante o seu

processo de formação continuada.

Analisando a formação dos professores respondentes que não têm

experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência (tabela 13),

podemos observar que grande parte, apesar de ter informações sobre os tipos de

deficiências existentes (104 professores), não participou de capacitações (102

professores) e não teve disciplinas em sua formação inicial (119 professores),

nem na continuada (116 professores), pra um trabalho efetivo relativo à educação

especial.

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55

Tabela 13. Distribuição e percentual de 130 professores respondentes que NÃO TÊM experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência em relação às afirmações sobre sua formação, São Paulo, 2012

Questões Sim % Não % Não

respondeu % Total

Têm informações

sobre os tipos de

deficiência

104 80% 26 20% 00 0% 130

Participaram de

capacitações em

Educação

Especial

28 21,54% 102 78,46% 00 0% 130

Tiveram

formação inicial

em Educação

Especial

10 7,69% 119 91,54% 01 0,77% 130

Procuraram

formação

continuada em

Educação

Especial

11 8,46% 116 89,23% 03 2,31% 130

Quando analisamos a formação dos professores respondentes que têm

experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência (tabela 14),

observamos que apresentam características semelhantes às dos professores que

não têm experiência (tabela 13) em relação a terem informações sobre os tipos

de deficiência e a falta de formação inicial em educação especial. Mas, quando

comparamos os percentuais dos dois grupos, podemos observar uma proporção

maior de professores que têm experiência e participaram de capacitações e,

também, que procuraram formação continuada.

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56

Tabela 14. Distribuição e percentual de 59 professores respondentes que TÊM experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência em relação às afirmações sobre sua formação, São Paulo, 2012

Questões Sim % Não % Não

respondeu % Total

Têm informações

sobre os tipos de

deficiência

51 86,44% 07 11,86% 01 1,69% 59

Participaram de

capacitações em

educação especial

28 47,46% 31 52,54% 00 0% 59

Tiveram formação

inicial em educação

especial

05 8,47% 54 91,53% 00 0% 59

Procuraram

formação continuada

em educação

especial

21 35,59% 38 64,41% 00 0% 59

Em relação à formação inicial, é prevista por legislações6, desde 1994, a

inclusão de disciplinas voltadas para educação especial nos cursos de

licenciatura, mas, apesar disso, não identificamos, nas respostas dos professores

respondentes, o reflexo do cumprimento de tais indicações, provavelmente pelo

fato de grande parte dos respondentes ter mais de 20 anos de experiência no

magistério, ou seja, se formou provavelmente antes de 1994.

Tal constatação, juntamente com os dados apresentados, nos remete à

importância da formação continuada do professor para o trabalho com alunos

com deficiência e para o avanço da educação inclusiva no Brasil.

6 Portaria nº 1.793/94, Decreto nº 3.298/99 e Resolução CNE/CP nº 01/2002 (disponíveis no capítulo I

da presente pesquisa).

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57

4.1.3. Aspectos relativos à tecnologia assistiva e materiais

didáticos

Das 88 escolas envolvidas nesta pesquisa, em apenas 17 foram

identificadas tecnologias assistivas. Dos 197 respondentes, apenas 29

professores declararam existir tecnologias assistivas (TAs) em suas escolas, e,

desses, apenas 8 afirmaram que as TAs são suficientes para atender os alunos

com deficiência. Na tabela 15 apresentamos quais TAs foram citadas como

existentes nas escolas. Vale salientar que oito escolas foram indicadas possuir

mais de uma TA.

Tabela 15. Relação de tecnologias assistivas existentes por número de escolas, São Paulo, 2012

Tecnologia Assistiva Número de Escolas

Toca-fitas com controle de velocidade 03

Equipamentos de comunicação com rádio

transmissão 01

Calculadora falante (com síntese de voz) 03

Caneta digital 01

Software educativo para o ensino de

Matemática 12

Software de reconhecimento de caracteres

(OCR) 02

Materiais de leitura falados e audiolivros 05

Editores de texto com software de

reconhecimento de siglas/acrônimos 04

Software de reconhecimento de voz 03

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58

Leitor de tela e navegador textual 02

Display Braille 02

Ampliador de tela 05

Mesa educativa multissensorial 04

Lupa 02

Ao mesmo tempo em que professores declararam a existência de TAs,

constatou-se que outros professores, das mesmas escolas, afirmaram

desconhecer a disponibilidade de qualquer uma das TAs. Tais dados podem

revelar, primeiramente, o desconhecimento do professor a respeito dos materiais

disponíveis em sua escola, o que indica a necessidade de divulgação, pela

escola, dos materiais existentes para o trabalho pedagógico do professor. Em

segundo lugar, que os materiais existentes nas escolas estão disponíveis para

uso apenas nas salas de recursos. Nesse caso, o professor de sala regular não

tem o material disponível para seu trabalho, ou seja, há falta de materiais

(MANRIQUE et al, 2012).

Mesmo com a ausência das tecnologias assistivas nas escolas, 179

professores respondentes (90,86%) concordam ou concordam totalmente que a

existência de TAs na escola é útil para minimizar as dificuldades encontradas

pelo aluno com deficiência e 178 (90,35%) concordam ou concordam totalmente

que seu uso pode aumentar a autoconfiança e o sentido de independência do

aluno com deficiência.

Ao analisarmos os dados relativos aos materiais didáticos, observamos

que, aproximadamente, 50% dos professores respondentes não conhecem

nenhum tipo de material didático apropriado para o ensino de Matemática para

alunos com deficiência, e, ao mesmo tempo, cerca de 80% dos professores

declaram não existir tais materiais em suas escolas, e por volta de 41% nunca

utilizaram nenhum dos materiais listados no questionário (vide anexo I).

Tanto as TAs quanto os materiais didáticos são extremamente importantes

para o trabalho do professor em aulas para todos os alunos, pois as tecnologias

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59

assistivas podem minimizar as deficiências dos alunos, como, por exemplo, um

aluno com baixa visão tem sua leitura facilitada por meio do uso de uma lupa ou

de um ampliador de tela. O mesmo ocorre com o uso de materiais didáticos,

como, por exemplo, o uso de ábaco para auxiliar os alunos com deficiência

intelectual em contagens e operações matemáticas.

Sendo assim, podemos identificar que além da falta, ou da quantidade

insuficiente, de TAs e materiais didáticos nas escolas, há, como já citado, a falta

de conhecimento dos professores em relação à existência desses materiais em

suas escolas, e, também, há a falta treinamento dos mesmos em como utilizá-las

e em relação à sua importância, convergindo para o já observado por Manrique et

al (2012).

4.1.4. Percepção dos professores respondentes a respeito da

inclusão

Ao questionar os docentes se é benéfica para os alunos com deficiência

sua inclusão em classes regulares, obtivemos os resultados apresentados na

tabela 16.

Tabela 16. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de concordância em relação à inclusão por nível de deficiência, São Paulo, 2012

Nível de

Deficiência

Discordam

Totalmente Discordam Concordam

Concordam

Totalmente

Não

respondeu Total

Grave 29 109 53 06 00 197

Moderada 15 61 92 27 02 197

Leve 06 09 118 64 00 197

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60

Quando consideramos uma deficiência grave, 138 docentes (70,05%)

discordam ou discordam totalmente que a inclusão de alunos que apresentam

esse nível de deficiência em classes regulares pode ser benéfica para eles. Em

contrapartida, concordam ou concordam totalmente com os benefícios da

inclusão quando consideramos um nível de deficiência moderada (119 docentes,

60,41%) ou leve (182 docentes, 92,39%).

Diante desses dados, verificamos que, quando se trata de uma deficiência

leve, os professores respondentes são mais favoráveis à inclusão dos alunos em

salas regulares do que quando se trata de uma deficiência mais severa. Segundo

Camisão (2004, p. 123):

Algumas investigações (e.g. Scruggs & Mastropieri, 1996), sugerem

que os professores estão mais dispostos a ensinar alunos com

dificuldades ligeiras, do que ensinar alunos com graves

incapacidades, porque aparentemente os professores

percepcionam ser necessário maiores recursos e melhores

competências para conseguirem desempenhar tal tarefa.

Sendo assim, a educação inclusiva prevista em nossa legislação se torna

inatingível sem a formação adequada dos professores, pois tal educação deve-se

dar sem a distinção ou exclusão de alunos, sejam eles com deficiência ou não.

Portanto, identifica-se a necessidade de uma formação baseada nos

pressupostos do paradigma da inclusão, no qual haja, segundo Mantoan (1993, p.

01), uma “escola (de qualidade) para todos”, respeitando os “educandos em sua

individualidade”.

Em relação à questão que aborda a inclusão de alunos com deficiência em

classes regulares e seus benefícios para todos os envolvidos (comunidade

escolar), obtivemos os dados apresentados na tabela 17.

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61

Tabela 17. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de concordância em relação aos benefícios da inclusão por grupos da comunidade escolar, São Paulo, 2012

Comunidade

Escolar

Discordam

Totalmente Discordam Concordam

Concordam

Totalmente

Não

Respondeu Total

A

comunidade 07 34 120 36 00 197

Os

professores 20 60 100 17 00 197

A família

desses

alunos

06 30 132 29 00 197

Os alunos

que não

apresentam

deficiência

08 31 125 32 01 197

Nessa questão, grande parte dos docentes concorda ou concorda

totalmente que a inclusão de alunos com deficiência em classes regulares é

benéfica para a comunidade (156 professores, 79,19%), para os professores (117

professores, 59,39%), para a família dos alunos com deficiência (161

professores, 81,73%) e para os alunos que não apresentam deficiência (157

professores, 79,70%).

Diante dos resultados obtidos, observamos um discurso relativamente

favorável ao paradigma da inclusão, mas apenas para alunos sem deficiências

graves, conforme já observado na análise dos dados da tabela 16. Nesse sentido,

Mantoan (1993, p. 02) destaca que “a diversidade no meio social e especialmente

no ambiente escolar é fator determinante do enriquecimento das trocas, dos

intercâmbios intelectuais, sociais e culturais que possam ocorrer entre os sujeitos

que neles interagem”. Sendo assim, a inclusão traz benefícios tanto para as

pessoas com deficiência quanto para todas as pessoas envolvidas no processo

de inclusão, seja ela escolar ou social.

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62

Quando questionados em relação ao tipo de sala de aula no qual os alunos

com deficiência devam estudar, os docentes apresentaram suas opiniões

conforme o apresentado na tabela 18.

Tabela 18. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de concordância em relação à inclusão por tipo de sala de aula, São Paulo, 2012

Tipo de sala

de aula

Discordam

Totalmente Discordam Concordam

Concordam

Totalmente

Não

Respondeu Total

Separadas

dentro de

escolas

regulares

49 82 47 19 00 197

Regulares 10 55 119 13 00 197

Especiais 12 95 74 16 00 197

Por esses dados, podemos observar uma contradição. Ao mesmo tempo

em que grande parte dos professores respondentes (131 professores, 66,5%)

discordam ou discordam totalmente com a separação dos alunos com deficiência

em salas distintas nas escolas regulares e que concordam ou concordam

totalmente (132 professores, 67%) com a inclusão desses alunos em sala de aula

regular, quando são questionados em relação às classes especiais, evidencia-se

uma pequena diferença entre os professores que concordam ou concordam

totalmente (90 professores, 45,69%) e os que discordam ou discordam totalmente

(107 professores, 54,32%).

Esse discurso contraditório pode evidenciar o despreparo e a insegurança

do professor para o trabalho com alunos com deficiência, que, com isso, acabam

por considerar a classe especial mais efetiva, pois nela há um professor

especialista, que pode ser considerado melhor preparado para o trabalho

pedagógico com esses alunos. Sendo assim, no intuito de sanar tal situação,

consideramos como necessárias medidas diversas de adequação dos sistemas

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63

escolares, tais como o investimento em acessibilidade arquitetônica, em materiais

didáticos, em tecnologias assistivas, na contratação de intérpretes em libras,

além de capacitações e formações do professor e da equipe escolar.

Ao questionar os docentes se é benéfica para os alunos com deficiência

sua inclusão em classes regulares, considerando o tipo de deficiência, obtivemos

os resultados apresentados na tabela 19.

Tabela 19. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de concordância em relação à inclusão por tipo de deficiência, São Paulo, 2012

Tipo de

deficiência

Discordam

totalmente Discordam Concordam

Concordam

totalmente

Não

Respondeu Total

Deficiência

visual 12 50 114 19 02 197

Cegueira 20 72 87 16 02 197

Deficiência

auditiva 10 35 132 19 01 197

Surdez 17 69 96 13 02 197

Deficiência

motora 08 40 121 26 02 197

Deficiência

intelectual 20 51 107 18 01 197

Ao analisar os dados obtidos, podemos constatar que grande parte dos

professores respondentes concorda ou concorda totalmente com os benefícios da

inclusão de alunos com deficiência: visual (133 professores, 67,51%), auditiva

(151 professores, 76,65%), motora (147 professores, 74,61%) e intelectual (125

professores, 63,45%).

Quando questionados em relação às deficiências mais graves, como

surdez e cegueira, as diferenças entre o número de respondentes que concordam

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64

ou concordam totalmente e discordam ou discordam totalmente são menores. Em

relação à cegueira, 92 professores (46,77%) discordam ou discordam totalmente

com a inclusão, enquanto 103 professores (52,28%) concordam ou concordam

totalmente. O mesmo acontece em relação à surdez, em que 86 professores

(43,66%) discordam ou discordam totalmente com a inclusão e 109 professores

(55,33%) concordam ou concordam totalmente.

Tais dados evidenciam mais uma vez a tendência do professor se sentir

mais confortável com a inclusão quando se trata de deficiências menos graves ou

mais leves. E, como já discutimos, não se pode pautar um ensino inclusivo

arraigado na separação dos alunos de acordo com o grau de sua deficiência. A

escola inclusiva deve atender a todos os alunos, com ou sem deficiência, sem

exceções, com escolas aparelhadas tanto com tecnologias assistivas, bem como

com materiais didáticos, professores assistentes para auxiliar o professor titular

da sala de aula e, também, disponibilização de formações e orientações focadas

na educação inclusiva aos docentes e equipe docente.

Ao questionar os docentes em relação às consequências geradas pela

inclusão do aluno com deficiência em uma classe regular, obtivemos os

resultados apresentados na tabela 20.

Tabela 20. Distribuição de 197 professores respondentes quanto ao grau de concordância em relação à inclusão por suas consequências, São Paulo, 2012

Consequências Discordam

Totalmente Discordam Concordam

Concordam

Totalmente

Não

Respondeu Total

Tem impacto

positivo no

progresso

escolar

11 46 115 24 01 197

Tem impacto

positivo na

socialização

08 28 115 44 02 197

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65

É prejudicial

para os alunos

que não

apresentam

deficiência

103 73 17 04 00 197

Podemos constatar, diante dos dados apresentados na tabela 20, que

grande parte dos professores respondentes concorda ou concorda totalmente que

a inclusão tem impacto positivo tanto no progresso escolar do aluno com

deficiência (139 professores, 70,56%) quanto na sua socialização (159

professores, 80,71%). Além disso, discorda ou discorda totalmente que a inclusão

desses alunos é prejudicial para os alunos que não apresentam deficiência (176

professores, 89,34%).

Tais constatações nos levam a inferir que os professores respondentes

acreditam nos benefícios trazidos com a inclusão, mas, ao mesmo tempo, ao

olharmos para as demais questões podemos notar algumas contradições, como,

por exemplo, quando tratamos de deficiências graves.

Segundo Mantoan e Santos (2010, p. 07):

A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito polemizado

e por vezes distorcido pelos mais diferentes segmentos

educacionais e sociais. No entanto, inserir na escola comum alunos

com problemas de toda ordem, sejam esses problemas

permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos, nada

mais é do que garantir o direito de todos à educação, conforme dita

a Constituição Federal de 1988.

Nosso caminho em direção às escolas inclusivas envolve mudanças

substanciais na própria maneira como enxergamos e conceituamos

a educação. Assim, podemos focalizar o cenário educacional

brasileiro diante dessas mudanças sob os ângulos: dos desafios

provocados pela inclusão na educação comum e especial, incluindo

a formação dos professores; das ações no sentido de superá-los; e

das perspectivas que essas ações abrem à educação escolar.

Sabemos e pudemos constatar que o caminho a ser trilhado não é o mais

fácil, mas temos que ter em mente que a educação inclusiva não é um sistema

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66

educacional paralelo ou segregado, mas sim um conjunto de recursos que a

escola tem que dispor para atender à diversidade de seus alunos.

4.2. Análise multidimensional

Utilizamos nessa análise as seguintes variáveis estatísticas:

Suplementares: tipo de estabelecimento (municipal ou estadual),

gênero dos professores respondentes (questão 1 do questionário),

idade (questão 2 do questionário), tempo de experiência no

magistério (questão 4 do questionário), nível de ensino para que

lecionam (questão 6 do questionário) e presença de alunos com

deficiência em sua sala de aula (questão 8 do questionário); e

Principais: percepção da inclusão em relação ao grau de deficiência

do aluno (questões 12, 13 e 14 do questionário), percepção em

relação aos benefícios da inclusão (questões 15, 16, 17 e 18 do

questionário), percepção em relação ao local de estudo dos alunos

com deficiência (questões 19, 20 e 21 do questionário), percepção

da inclusão em reação ao tipo de deficiência do aluno (questões 22,

23, 24, 25, 26 e 27 do questionário) e percepção em reação aos

impactos da inclusão (questões 28, 29 e 30 do questionário).

Consideramos os campos “Concordo” e “Concordo totalmente” como uma

resposta positiva e os campos “Discordo” e “Discordo totalmente” como uma

resposta negativa. Fizemos esse agrupamento por nos permitir construir reflexões

a partir da oposição entre uma posição positiva e uma negativa. As análises

detalhadas referentes às respostas que consideram a escala de quatro itens são

apresentadas nas análises unidimensional e bidimensional.

Após submetermos os dados ao software CHIC, obtivemos a árvore de

similaridades apresentada na figura 1.

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67

Figura 1. Árvore de similaridades

Observamos a formação de dois grandes agrupamentos, que

denominamos de agrupamento 1 e agrupamento 2. A figura 2 apresenta a análise

do primeiro agrupamento, lembrando que quanto mais próximo o nó (a ligação

entre as variáveis) estiver da raiz da árvore de similaridades (próximo às

etiquetas de identificação das variáveis), mais forte é o grau de similaridade

calculado pelo software CHIC, indicando a probabilidade de que as duas

variáveis ou grupos de variáveis possuam comportamentos similares quanto ao

item analisado.

AGRUPAMENTO 1

AGRUPAMENTO 2

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68

Figura 2. Agrupamento 1

Os professores que lecionam no Ensino Fundamental II e Médio

(considerado como variável suplementar) foram identificados, pelo software

CHIC, como variável típica do agrupamento 1 , com risco de 0,0226. Segundo

Coutinho e Miguel (2007, p. 10), “entende-se como risco a probabilidade de se

cometer um erro na afirmação feita”. Além dessa característica obtivemos,

A i

ncl

usã

o d

e al

unos

com

def

iciê

nci

a gra

ve

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A i

ncl

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69

também, com um maior risco, outras variáveis suplementares que podem

caracterizar esse grupo, como o gênero masculino (risco 0,109), idade de 31 a 40

anos (risco 0,355), experiência no magistério de 16 a 20 anos (risco 0,0965) e

que já tiveram alunos com deficiência em suas salas de aula (risco 0,396).

Em relação às percepções, observamos que os professores pertencentes

a esse agrupamento concordam com:

A existência de benefícios que a inclusão de alunos com deficiência em

escolas regulares traz para os professores e para a família desses alunos,

para a comunidade no qual estão inseridos e para os alunos que não

apresentam deficiência (grau de similaridade 1);

Que os alunos com deficiência devam estudar em salas regulares (grau de

similaridade 1) e não em salas separadas (grau de similaridade 1) ou em

salas especiais (grau de similaridade 0,99958);

Que a inclusão é benéfica para os alunos com deficiência, independente do

grau de deficiência (leve, grau de similaridade 0,999912, moderada, grau

de similaridade 0,999969, ou grave, grau de similaridade 0,98382) ou tipo

de deficiência (intelectual, grau de similaridade 0,999999, motora, grau de

similaridade 1, auditiva, grau de similaridade 1, visual, grau de similaridade

1, cegueira, grau de similaridade 1, ou surdez, grau de similaridade 1); e

Que a inclusão tem impacto positivo na socialização (grau de similaridade

1) e no progresso escolar do aluno com deficiência (grau de similaridade

1), e não consideram que ela seja prejudicial para os demais alunos (grau

de similaridade 0,998726).

Apesar de os professores respondentes que caracterizam esse

agrupamento serem favoráveis à inclusão, independentemente do grau ou nível

de deficiência, podemos observar na árvore de similaridades que as variáveis

relativas à deficiência grave e à deficiência moderada estão em um nível maior e

parecem complementar as outras variáveis. Embora a análise não tenha indicado

que esse grupo de professores seja contrário à inclusão, podemos inferir que,

quando tratamos de deficiências leves ou menos graves, os professores

respondentes são mais favoráveis à inclusão do que quando tratamos de

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70

deficiências mais severas. O que pode revelar a necessidade de mais recursos e

formação para o desenvolvimento do trabalho dos professores junto aos alunos

com deficiência (CAMISÃO, 2004).

Nesse agrupamento, observamos um discurso favorável à inclusão e,

sendo assim, podemos inferir que esses professores identificaram benefícios e

impactos positivos para todos os envolvidos nos processo. Para pais,

professores, alunos que não apresentam deficiência e comunidade, a troca de

experiências e a vivência com os alunos com deficiência favorecem o

entendimento da inclusão e, portanto, sua implantação (SÁNCHEZ, 2005).

Para os alunos com deficiência, as trocas existentes nessa convivência

favorecem o seu desenvolvimento social, intelectual e cognitivo, pois, como

salientam os estudos de Vygotsky, segundo Moysés (1997, p. 27), é por meio da

interação social que ocorre o desenvolvimento intelectual da criança.

Os resultados obtidos na análise deste primeiro agrupamento confirmam os

resultados obtidos nas análises unidimensional e bidimensional feitas

anteriormente.

Figura 3 apresenta a análise do agrupamento 2.

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71

Figura 3. Agrupamento 2

Identificamos como variável típica do agrupamento 2 os professores que

lecionam em escolas públicas municipais (considerada como variável

suplementar), com risco de 0,0355. Além dessa, e apesar de um risco maior,

podemos identificar outras variáveis suplementares como idade maior de 51 anos

(risco 0,0933) e experiência no magistério de 11 a 15 anos (risco 0,0567).

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72

Em relação às percepções dos professores respondentes, as similaridades

mais significantes nesse agrupamento 2 são as que correspondem a:

Não considerar a inclusão benéfica para os professores e concordar que

ela não tem impacto positivo no progresso escolar do aluno com

deficiência. Além disso, considerar que esses alunos não devem ser

inseridos em salas de aula regular, ou seja, que eles devem estudar em

classes especiais ou classes separadas (grau de similaridade 0,992051); e

Discordar que a inclusão é benéfica para os alunos com deficiência grave,

moderada, visual, motora, auditiva, intelectual e para alunos cegos ou

surdos (grau de similaridade 0,971461).

Ao analisar a árvore de similaridades desse agrupamento 2, podemos

observar que as variáveis relativas aos benefícios da inclusão para a família, para

a comunidade, para os alunos que não apresentam deficiência e ao impacto

positivo na socialização do aluno com deficiência (grau de similaridade

0,743522), e também aos benefícios da inclusão de alunos com deficiência leve e

aos prejuízos que a inclusão pode trazer para os alunos que não apresentam

deficiência (grau de similaridade 0,666838) estão em um nível maior, ou seja, a

ligação dessas variáveis com as demais não é tão forte e parece complementar

as outras variáveis. Embora a análise não tenha indicado que esse grupo de

professores seja favorável à inclusão, podemos inferir que, quando se trata de

seus benefícios e da deficiência leve, essa situação poderia ser alterada se fosse

realizada uma formação específica em educação inclusiva para esse grupo de

professores.

Diante do apresentado, podemos verificar que a diferença básica que

discrimina os dois agrupamentos é a concordância ou a discordância com a

inclusão, e que, além disso, a análise multidimensional reforça o obtido nas

análises unidimensional e bidimensional, ou seja, que grande parte dos

professores respondentes a esta pesquisa são favoráveis à inclusão, contudo,

necessitam de formação para trabalhar com os alunos com deficiências

moderadas ou graves. Além disso, existem professores que não possuem

informações suficientes para perceberem os benefícios da inclusão para todos,

pais, alunos e professores.

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73

Considerações finais

Pensando na inclusão escolar e em seus agentes, a presente pesquisa

teve como objetivo investigar a percepção de professores que lecionam

Matemática a respeito da inclusão de alunos com deficiência em salas de aula

regulares de escolas públicas do estado de São Paulo.

Para atingir esse objetivo, iniciamos nosso trabalho fazendo um

mapeamento das produções existentes na mesma temática desta pesquisa.

Encontramos poucas produções, treze trabalhos, e destes apenas três da área de

educação em Ciências e Matemática. Por meio da leitura de seus resumos,

podemos constatar que apesar de alguns trabalhos serem semelhantes ao nosso,

nenhum deles tem o mesmo objetivo proposto nesta pesquisa e, além disso, não

utilizam os mesmos meio de investigação, números de sujeitos ou tipos de

deficiência.

A presente pesquisa utilizou um questionário para coletar dados junto a

professores da rede pública de ensino do estado de São Paulo e, para analisá-

los, fizemos análises uni e bidimensional e outra multidimensional.

Em relação ao perfil dos professores respondentes, 75% são mulheres,

têm idade entre 41 e 50 anos, têm mais de 20 anos de experiência no magistério

e 81% trabalham em escolas estaduais.

As análises unidimensional e bidimensional dos dados mostraram que

grande parte dos professores respondentes não tem formação (capacitação,

formação inicial ou continuada) em educação inclusiva e, também, que não têm

experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência.

Quando questionados em relação às tecnologias assistivas e aos materiais

pedagógicos, os professores declaram que em suas escolas não há tais materiais

disponíveis para o trabalho com os alunos com deficiência, e que, além disso,

nas escolas que possuem materiais estes não são disponíveis para todos os

alunos ou são conhecidos por todos os professores.

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74

Em relação à inclusão, os professores respondentes são mais favoráveis

quando tratamos de deficiências menos severas, como, por exemplo, deficiência

visual, auditiva, motora e intelectual. Quando tratamos de deficiências graves,

cegueira ou surdez, observamos uma divisão de opiniões com a maior

prevalência da não concordância.

Grande parte dos participantes desta pesquisa concorda com os benefícios

que a inclusão de alunos com deficiência traz para a comunidade escolar, para os

professores e para a família desses alunos e para os alunos que não apresentam

deficiência e, também, que a mesma tem impacto positivo no progresso escolar e

na socialização desses alunos e que, além disso, a inclusão não é prejudicial

para os alunos que não apresentam deficiência.

Ao tratarmos do local de inserção dos alunos com deficiência, houve uma

contradição no discurso dos professores, pois ao mesmo tempo em que

concordam com que esses alunos estudem em salas regulares, não houve uma

definição em relação às classes especiais, pois os professores se dividiram entre

concordar e discordar com esse tipo de inserção.

A análise multidimensional, feita com o auxílio do software CHIC, nos

trouxe dois agrupamentos. No primeiro agrupamento, que teve como variável

típica os professores que lecionam no Ensino Fundamental II e Médio, as

opiniões expostas são favoráveis à inclusão e aos seus benefícios. Já no

segundo agrupamento, que teve como variável típica os professores que

trabalham em escolas municipais, as opiniões foram contrárias à inclusão e aos

seus benefícios.

A inclusão hoje é uma realidade, presente na comunidade, nas escolas e

na mídia, mas, como pudemos constatar, nem sempre foi assim. Para ser

instaurada a educação inclusiva prevista em nossa legislação passamos por

várias mudanças, pautadas por diversos paradigmas. Dentre essas mudanças,

verificamos que a mais recente transição, do paradigma da integração para o da

inclusão, trouxe muitas dúvidas em relação aos seus significados e pressupostos.

Apesar de ambos os paradigmas serem formas de inserção dos alunos

com deficiência, eles diferem muito entre si. Sánchez (2005) salienta algumas

diferenças entre os paradigmas da integração e da inclusão, dentre elas:

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75

Enquanto a integração é seletiva, pois espera que o aluno se adeque

à escola para ser inserido na mesma, a inclusão respeita as

diferenças, pois a escola inclusiva está aberta para receber todos os

alunos, com deficiência ou não;

O paradigma da integração é pautado na individualidade, centrada

apenas no aluno com deficiência, já o paradigma da inclusão se

pauta na comunidade e na melhora para todos;

A integração é preconceituosa, a inclusão valoriza as diferenças.

Segundo a mesma autora, o paradigma da inclusão surgiu:

A princípio, como uma alternativa à integração; como uma tentativa

de eliminar as situações de desintegração e exclusão em que se

encontravam muitos alunos nas escolas, sob o enfoque da

integração. Em segundo lugar, como uma tentativa de reconstruir o

enfoque deficitário individualista e médico dominante, considerando

seriamente as vozes das pessoas com deficiência, e analisando as

complexas relações de poder implicadas nesses controvertidos

debates. E, em terceiro lugar, como uma reivindicação de que todos

os alunos com ou sem necessidades educacionais especiais

recebam uma educação de qualidade, nas classes comuns do

sistema regular de ensino (p. 17).

Sendo assim, a inclusão vem para romper qualquer tipo de discriminação

e, além disso, reivindicar um comprometimento da sociedade em se adequar para

fazer valer os direitos das pessoas com deficiência.

Diante dos dados obtidos nesta pesquisa, pudemos constatar a

necessidade de formação do professor para o trabalho com alunos com

deficiência, formação na qual devem ser contemplados na prática os materiais

didáticos, as tecnologias assistivas, as experiências de outros professores e

instituições, além das teorias e legislações existentes no campo da educação

inclusiva.

Consideramos como possíveis futuras investigações as que abordam a

formação em educação inclusiva oferecida nos cursos de licenciatura, além das

que contemplem as práticas inclusivas dos professores de Matemática.

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81

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ANEXO I

Questões utilizadas na pesquisa

Escolha uma das escolas na qual você trabalha para responder ao questionário.

Sua escola é: Estadual ( ) Municipal ( )

A escola está situada em qual estado? ____________________________________

A escola está situada em qual cidade? ____________________________________

Qual é o nome da escola? ______________________________________________

1. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

2. Idade: ________ 4. Quantos anos de experiência em educação você possui?

Menos de 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) 11 a15 anos ( ) 16 a 20 anos ( ) Mais de 20 anos ( )

6. Para que ano(s) você leciona?

1º ano do EF 7º ano do EF 2º ano do EF 8º ano do EF 3º ano do EF 9º ano do EF 4º ano do EF 1º ano do EM 5º ano do EF 2º ano do EM 6º ano do EF 3º ano do EM

8. Você já teve em sua sala de aula alunos que apresentassem algum tipo de deficiência?

Sim ( ) Não ( ) Se sim, indique quais tipos de deficiência:

Baixa visão (ambliopia) ( ) Com cegueira ( ) Deficiência auditiva parcial (hipoacusia) ( ) Com surdez ( ) Deficiência motora ( ) Deficiência intelectual ( ) Outras: ________________________________________ 10. Você já teve acesso à informações sobre os tipos de deficiência que existem?

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Sim ( ) Não ( ) 11. Você já participou de alguma capacitação em educação de alunos com deficiência?

Sim ( ) Não ( ) Indique o quanto você concorda ou discorda de cada uma das informações abaixo marcando com um (X) a opção apropriada:

Discordo totalmente

Discordo Concordo Concordo totalmente

12

A inclusão de alunos que apresentam deficiência grave em classes regulares pode ser benéfica para eles.

13

A inclusão de alunos que apresentam deficiência moderada em classes regulares pode ser benéfica para eles.

14

A inclusão de alunos que apresentam deficiência leve em classes regulares pode ser benéfica para eles.

15

A inclusão de alunos com deficiência em classes regulares pode ser benéfica para a comunidade.

16

A inclusão de alunos com deficiência em classes regulares pode ser benéfica para os professores.

17

A inclusão de alunos com deficiência em classes regulares pode ser benéfica para a família desses alunos.

18

A inclusão de alunos com deficiência em classes regulares pode ser benéfica para os alunos que não apresentam deficiência.

19

Alunos com deficiência devem estudar em classes separadas dentro de escolas regulares.

20 Alunos com deficiência devem estudar em classes

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regulares.

21 Alunos com deficiência devem estudar em escolas especiais.

22

A inclusão de alunos com baixa visão (ambliopia) em classes regulares pode ser benéfica para esses alunos.

23

A inclusão de alunos com cegueira em classes regulares pode ser benéfica para esses alunos.

24

A inclusão de alunos com deficiência auditiva parcial (hipoacusia) em classes regulares pode ser benéfica para esses alunos.

25

A inclusão de alunos com surdez em classes regulares pode ser benéfica para esses alunos.

26

A inclusão de alunos com deficiência motora em classes regulares pode ser benéfica para esses alunos.

27

A inclusão de alunos com deficiência intelectual em classes regulares pode ser benéfica para esses alunos.

28

A inclusão em uma classe regular tem impacto positivo no progresso escolar do aluno com deficiência.

29

A inclusão em uma classe regular tem impacto positivo na socialização do aluno com deficiência.

30

A inclusão de um aluno com deficiência em uma classe regular é prejudicial para os alunos que não apresentam deficiência.

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31. Você conhece materiais didáticos apropriados para o ensino de Matemática para alunos com:

Com baixa visão (ambliopia)? Muitos Alguns Poucos Nenhum

Cegueira? Muitos Alguns Poucos Nenhum

Com deficiência auditiva parcial (hipoacusia)? Muitos Alguns Poucos Nenhum

Surdez? Muitos Alguns Poucos Nenhum

Com deficiência motora? Muitos Alguns Poucos Nenhum

Com deficiência intelectual? Muitos Alguns Poucos Nenhum

32. Sua escola é equipada com material didático apropriado ao ensino de Matemática para alunos com:

com baixa visão (ambliopia)? Sim Não

cegueira? Sim Não

com deficiência auditiva parcial (hipoacusia)? Sim Não

surdez? Sim Não

com deficiência motora? Sim Não

com deficiência intelectual? Sim Não

36. Você tem alguma experiência no ensino de Matemática para alunos com deficiência?

Sim ( ) Não ( ) 39. Assinale os materiais utilizados por você em suas aulas de Matemática para alunos com deficiência, indicando a frequência de seu uso.

Ábaco Sempre Às vezes Raramente Nunca

Caixa tátil Sempre Às vezes Raramente Nunca

Caixas de diferentes tamanhos e cores Sempre Às vezes Raramente Nunca

Cubaritmo Sempre Às vezes Raramente Nunca

Geoplano Sempre Às vezes Raramente Nunca

Jogo da memória tátil Sempre Às vezes Raramente Nunca

Multiplano Sempre Às vezes Raramente Nunca

Mosaico geométrico Sempre Às vezes Raramente Nunca

Números em braile Sempre Às vezes Raramente Nunca

Números ilustrados em libras Sempre Às vezes Raramente Nunca

Soroban Sempre Às vezes Raramente Nunca

Tangran Sempre Às vezes Raramente Nunca

Outros (descreva): ...................................................................................................... ............................. Sempre Às vezes Raramente Nunca

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40. Que tipo de TA está disponível para os alunos com deficiência na sua escola? Nenhum Toca-fitas com controle de velocidade Software de reconhecimento de voz

Equipamentos de comunicação com radio transmissão

Equipamento com rastreamento do movimento ocular

Calculadora falante (com síntese de voz) Leitor de tela e navegador textual

Caneta digital Display Braille

Software educativo para o ensino de Matemática

Ampliador de tela

Software de reconhecimento de caracteres (OCR)

Mesa educativa multissensorial

Materiais de leitura falados e audiolivros Outros _______________________

Capacete com ponteira Editores de texto com software de reconhecimento de siglas/acrónimos

______________________________________________

41. As tecnologias assistivas disponíveis em sua escola são suficientes (quantidade e aplicabilidade) para atender aos alunos com deficiência nas aulas de Matemática?

Sim ( ) Não ( ) Indique o quanto você concorda ou discorda de cada uma das informações abaixo:

Discordo

totalmente Discordo Concordo

Concordo totalmente

42

A existência de TA na escola é útil para minimizar as dificuldades encontradas pelo aluno com deficiência.

43

O uso de TA pode aumentar a autoconfiança e o sentido de independência do aluno com deficiência.

46. Em sua graduação, formação inicial para a docência, você teve alguma disciplina que abordou o trabalho voltado para a inclusão de alunos com deficiência em aula de Matemática?

Sim ( ) Não ( ) 47. Durante o seu processo de formação continuada, você procurou cursos que abordassem o trabalho voltado para a inclusão de alunos com deficiência em aula de Matemática?

Sim ( ) Não ( )

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ANEXO II

Termo de consentimento livre esclarecido

Este questionário é parte de uma pesquisa conjunta do Programa de Pós-

Graduação em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, Brasil, e do Instituto de Educação/Centro de Investigação em Educação da

Universidade de Minho, Portugal, vinculada ao projeto “Desafios para a educação

inclusiva”, sob coordenação geral da Profa. Dra. Ana Lúcia Manrique, aprovado

no Programa Observatório da Educação da CAPES, protocolo de pesquisa nº

149/2011 do Comitê de Ética, PUC-SP. A intenção do questionário nesse

contexto é compreender a percepção dos professores que ensinam Matemática

na educação básica a respeito da inclusão de alunos com deficiência.

A presente pesquisa terá seus resultados publicados em relatórios de

pesquisa, revistas científicas, anais de congresso etc., contudo, será garantido

seu sigilo e anonimato, bem como realizada a troca de nomes e a omissão de

dados que possam levar à sua efetiva identificação por parte dos que vierem a ter

conhecimento desses estudos. E seus dados serão mantidos sob nossa guarda e

responsabilidade.

Assim, gostaríamos de solicitar sua colaboração em responder este

questionário, que ocupará aproximadamente 20 minutos do seu tempo. Ele não é

um teste, não existem respostas “certas” ou “erradas”, então procure responder

com suas opiniões.

Salientamos que estaremos disponíveis para quaisquer esclarecimentos

antes, durante e após a conclusão da pesquisa acerca da metodologia e outros

assuntos a ela correlatos, podendo ser contatados por meio dos dados que

seguem:

Pesquisadora Ana Lúcia Manrique, e-mail inclusã[email protected], telefone

(11) 3124-5851. Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP, Rua Ministro Godói,

969, sala 63C, CEP 05015-001, Perdizes, São Paulo, SP, e-mail

[email protected], telefone (11) 3670-8466.

Agradecemos sua colaboração.

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ANEXO III

Declaração de consentimento

Fui esclarecido que:

não poderei esperar benefícios pessoais advindos deste questionário;

não existem possíveis desconfortos e riscos decorrentes da participação;

minha privacidade será respeitada, ou seja, qualquer dado ou elemento

que possa, de qualquer forma, me identificar será mantido em sigilo;

posso me recusar a responder este questionário e retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar-me, e não

sofrerei qualquer prejuízo; e

tenho livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais

sobre o estudo e suas consequências durante a pesquisa; enfim, tudo o

que eu queira saber antes, durante e depois da minha participação.

Finalmente, tendo sido orientado quanto ao teor do projeto e compreendido o

objetivo do questionário manifesto meu livre consentimento em participar.

Nome: ________________________________________________________

RG: __________________________ CPF: ___________________________

E-mail: __________________________________________________

Concordo Não Concordo

E por estar assim ciente

Assinam o presente em (02) duas vias de igual teor

São Paulo, ___/___ de 2012.

_____________________________

Professor(a) participante Responsável: Ana Lúcia Manrique

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APÊNDICE I

Tabela 21. Distribuição dos professores respondentes por municípios e cidades, São Paulo, 2012

Município / cidade Número de professores

respondentes

Barueri 01

Carapicuíba 01

Diadema 01

Embu das Artes 01

Osasco 01

Araraquara 01

Campinas 01

Campos do Jordão 01

Jarinu 01

Jundiaí 01

Laranjal Paulista 01

Limeira 01

Lorena 01

Monte Mor 01

Ourinhos 01

Pindamonhangaba 01

Rio Claro 01

Santa Cruz do Rio Pardo 01

São João da Boa Vista 01

São José do Rio Preto 01

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90

Tatuí 01

Caieiras 02

Rio Grande da Serra 02

São Bernardo do Campo 02

Americana 02

Boituva 02

Ribeirão Preto 02

Sorocaba 03

Guarulhos 06

Mairiporã 07

Santo André 13

São Paulo 135

TOTAL 197