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SIMPÓSI028 ~cologia de ambientes ribeirinhos e areas mal drenadas no bioma Cerrado José Felipe Ribeiro", Bruno Machado Teles Walter 2 Introdução As zonas ribeirinhas se caracterizam p,or se~em ~mbientes dinâmicos, com no- tavel diversIdade de estratégias de vida e ad~ptações a distúrbios oriundos da água. A mundação, constante ou periódica, é um dos agentes que mais influem na com- P~s~ção, estrutura e distribuição das es- pecres (NAlMAN & DÉCAMPS 1997' SCARAN ' , . _ O .et aI., 1997). Nos vegetais, a mundaçao mterfere em diferentes eta- p~s do ~iclo de ~da, como a reprodução, dlspersao, germmação e, também, no ban- co de. sementes, no estabelecimento e no crescunenro das espécies. _ O bioma Cerrado comporta forma- çoes florestais, savânicas e campestres c:da. qual com diferentes tipos fitofisio~ nomicos. Totalizando 11 tipos principais segundo RIBEIRO & WALTER (1998)' a~ ~orestas são representadas pela Mat~ Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e o Cerradão. Savanas compreendem Cer- rado sentido restrito, Parque de Cerra- do, Palmeiral e Vereda. Campos são com- postos pelo Campo Sujo, Campo Limpo e Ca~po ARupestre. Vários desses tipos fi- tofislOnomlcos contém subtipos. No Cerrado, há o predomínio de fi- tofisionomias em solos bem drenados mas também Ocorrem áreas mal drena ~ das sob as três formações. A maioria des- sas áreas caracteriza subtipos, subordi- nados aos tipos acima mencionad Q to ã fi os. uan o as ores tas, há diretamente a Mata de Galeria Inundável, além da pre- ~en~a ~os cursos de água exercer influ- encia Importante na Mata Ciliar en Mata de Galeria Não InundáveI. Da: savanas, os representantes são a Vere- da, os Buritizais (um subtipo de Palmei- ~al) e parte dos Parques de Cerrado Areas mal drenadas Ocorrem sob vastos trecho.s dos Campos Sujos e Limpos, ca- ractenzando seus subtipos "úmido " r d s, ~ em e trechos designados pelo subtipo com murundus" (sensu RIBEIRO & WALTER, 1998). Ambientes florestais Apesar de representarem apenas cer- ~a de 5% da área do bioma, as Matas Ci- I~are~ e de Galeria têm extrema impor- tância na sua biodiversidade (RIBEIRO et aI., 2001). Comportam mais de 30% das espécies de plantas vasculares e são resp?nsáveis diretas pela quantidade e qualidade da água que corre nos rios ri- achos e córregos da região (FELFILi et al., 2001). Nas definições fitofisionômi- cas ~essas matas, forneci das a seguir, é pOSSlVeInotar a influência da água. Mata Ciliar é a vegetação florestal que acompanha os rios de médio e gran- de porte no bioma. Diferencia-se da Mata de Galeria pela composição florfs- ; :esquisador da Embrapa Sede. E-mail: felipe.ribeiro@embrapa br esqursador da Embrapa Cenargen. E-mail: bwalter@cenarge~.embrapa.br tica e pela deciduidade, pois apresenta diferentes graus de caducifolia na esta- ção seca, enquanto a Mata de Galeria é perenifólia. Floristicamente assemelha- se à Mata Seca, diferenciando-se desta pela associação ao curso de água e pela estrutura. Contém uma flora conspícua contígua aos rios. Exemplos de espécies arbóreas fre- qüentes são Anadenanthera spp. (angi- cos), Aspidosperma spp. (perobas),Inga spp. (ingás), Sterculia striata ASt.-Hil. & Naud. (chichá), Tabebuia spp. (ipês) e Trema micrantha (L.) Blume (crindiú- va). Em locais abertos (clareiras), pode ser comum a presença de Cecrapia spp. (embaúbas) e Attalea speciosa Mart. ex Spreng. (babaçu). O número de espéci- es de Orchidaceae epífitas é baixo. Di- ferentes trechos ao longo de uma Mata Ciliar podem apresentar composição bastante variável, havendo faixas domi- nadas por poucas espécies. Em locais sujeitos às enchentes sa- zonais ocorrem árvores como Celtis igua- naea (Jacq.) Sargent (grão-de-galo), Fi- cus spp. (garneleiras), Croton urucurana Baill. (sangra-d'água), Inga spp. e mes- mo gramíneas de grande porte, como Gynerium sagittatum (Aubl.) P.Beauv. (canarana) ou Guaduá paniculata Mun- ro (taquara, bambu). Pode ser comum a formação de praias ou bancos de areia, ~nde predomina uma vegetação arbus- tl:o-herbácea com a presença de espé- c~es de Boraginaceae, Myrtaceae e Ru- bIaceae. Nos locais onde pequenos aflu- e,n~esdeságuam no rio principal, a flora tIplca da Mata Ciliar mistura-se à flora da Mata de Galeria dificultando a deli- mitação fisionômic~ entre os tipos. Mata de Galeria é a vegetação flo- restal que acompanha riachos e córre- ~os ?e pequeno porte nos planaltos do h r asil Central, formando corredores fe- c ados ( I . E ga erias) sobre o curso de água. ssas matas são encontradas no fundo de vales e nas cabeceiras de drenagem, onde os cursos de água ainda não esca- varam canal definitivo. Em função da flo- rística e características de solo, a Mata de Galeria pode ser tipificada como Não Inundável ou Inundável. A Mata de Galeria Não InundáveI possui trechos longos com topografia acidentada, com poucos locais planos. Possui solos bem drenados e uma linha de drenagem (leito do córrego) defini- da. O lençol freático não fica próximo ou sobre a superfície do terreno na maior parte dos trechos o ano todo, mesmo na estação chuvosa. Espécies característi- cas são Aspidosperma spp. (perobas), Nectandra spp. e Ocotea spp. (canelas, louros), Copaifera langsdorffii Oesf. (co- paíba), Hymenaea courbaril L. (jatobá), Callisthene major Mart. (tapicuru), Cari- niana rubra Gard. ex Miers (jequitibá), Chei/oclinium cognatum (Miers) A.C.Sm. (bacupari-da-rnata), Guarea guidonia (L.) Sleumer (marinheiro), Matayba guianensis Aubl. (camboatá- branco), Piptocarpha macropoda (DC.) Baker (coração-de-negro) e Vochysia spp. (pau-de-tucano). Já na Mata de Galeria InundáveI o lençol freático fica próximo ou sobre a superfície do terreno durante todo o ano, mesmo na estação seca. A drenagem é deficiente e o córrego, mui- tas vezes, é pouco definido e sujeito a modificação. Espécies características são Calophyllum brasiliense Cambess. (lan- dim), Clusia spp., Richeria grandis VaW e Talauma ovata ASt.-Hil., além de Eu- terpe edulis Mart. (jussara), Hedyosmum brasiliense Mart. ex Miq. (chá-de-solda- do), Virolaurbaniana Warb. (virola), Xylo- pia emarginata Mart. (pindaíba -preta), Miconia spp., Tibouchina spp., Piper spp., Guarea macraphylla VaW (marinheiro) e também o buriti (Mauritia flexuosa LJ.). Espécies encontradas indistinta- mente nos dois subtipos são Pratium hep- taphyllum (Aubl.) March. (breu, alméce- ••• IiAMBlENTES RIBEIRINHOS E AREAS MAL DRENADAS NO BIOMA CERRADO 399

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SIMPÓSI028

~cologia de ambientes ribeirinhos eareas mal drenadas no bioma Cerrado

José Felipe Ribeiro", Bruno Machado Teles Walter2

Introdução

As zonas ribeirinhas se caracterizamp,or se~em ~mbientes dinâmicos, com no-tavel diversIdade de estratégias de vida ead~ptações a distúrbios oriundos da água.A mundação, constante ou periódica, éum dos agentes que mais influem na com-P~s~ção, estrutura e distribuição das es-pecres (NAlMAN & DÉCAMPS 1997'SCARAN ' ,. _O .et aI., 1997). Nos vegetais, amundaçao mterfere em diferentes eta-p~s do ~iclo de ~da, como a reprodução,dlspersao, germmação e, também, no ban-co de. sementes, no estabelecimento e nocrescunenro das espécies._ O bioma Cerrado comporta forma-

çoes florestais, savânicas e campestresc:da. qual com diferentes tipos fitofisio~nomicos. Totalizando 11 tipos principaissegundo RIBEIRO & WALTER (1998)'a~ ~orestas são representadas pela Mat~Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e oCerradão. Savanas compreendem Cer-rado sentido restrito, Parque de Cerra-do, Palmeiral e Vereda. Campos são com-postos pelo Campo Sujo, Campo Limpo eCa~po ARupestre. Vários desses tipos fi-tofislOnomlcos contém subtipos.

No Cerrado, há o predomínio de fi-tofisionomias em solos bem drenadosmas também Ocorrem áreas mal drena ~das sob as três formações. A maioria des-sas áreas caracteriza subtipos, subordi-

nados aos tipos acima mencionadQ to ã fi os.uan o as ores tas, há diretamente aMata de Galeria Inundável, além da pre-~en~a ~os cursos de água exercer influ-encia Importante na Mata Ciliar e nMata de Galeria Não InundáveI. Da:savanas, os representantes são a Vere-da, os Buritizais (um subtipo de Palmei-~al) e parte dos Parques de CerradoAreas mal drenadas Ocorrem sob vastostrecho.s dos Campos Sujos e Limpos, ca-ractenzando seus subtipos "úmido "r d s ,~ em e trechos designados pelo subtipocom murundus" (sensu RIBEIRO &

WALTER, 1998).

Ambientes florestais

Apesar de representarem apenas cer-~a de 5% da área do bioma, as Matas Ci-I~are~ e de Galeria têm extrema impor-tância na sua biodiversidade (RIBEIROet aI., 2001). Comportam mais de 30%das espécies de plantas vasculares e sãoresp?nsáveis diretas pela quantidade equalidade da água que corre nos rios ri-achos e córregos da região (FELFILi etal., 2001). Nas definições fitofisionômi-cas ~essas matas, forneci das a seguir, épOSSlVeInotar a influência da água.

Mata Ciliar é a vegetação florestalque acompanha os rios de médio e gran-de porte no bioma. Diferencia-se daMata de Galeria pela composição florfs-

; :esquisador da Embrapa Sede. E-mail: felipe.ribeiro@embrapa bresqursador da Embrapa Cenargen. E-mail: bwalter@cenarge~.embrapa.br

tica e pela deciduidade, pois apresentadiferentes graus de caducifolia na esta-ção seca, enquanto a Mata de Galeria éperenifólia. Floristicamente assemelha-se à Mata Seca, diferenciando-se destapelaassociação ao curso de água e pelaestrutura. Contém uma flora conspícuacontígua aos rios.

Exemplos de espécies arbóreas fre-qüentes são Anadenanthera spp. (angi-cos), Aspidosperma spp. (perobas),Ingaspp. (ingás), Sterculia striata ASt.-Hil.& Naud. (chichá), Tabebuia spp. (ipês)e Trema micrantha (L.) Blume (crindiú-va). Em locais abertos (clareiras), podeser comum a presença de Cecrapia spp.(embaúbas) e Attalea speciosa Mart. exSpreng. (babaçu). O número de espéci-es de Orchidaceae epífitas é baixo. Di-ferentes trechos ao longo de uma MataCiliar podem apresentar composiçãobastante variável, havendo faixas domi-nadas por poucas espécies.

Em locais sujeitos às enchentes sa-zonais ocorrem árvores como Celtis igua-naea (Jacq.) Sargent (grão-de-galo), Fi-cus spp. (garneleiras), Croton urucuranaBaill. (sangra-d'água), Inga spp. e mes-mo gramíneas de grande porte, comoGynerium sagittatum (Aubl.) P.Beauv.(canarana) ou Guaduá paniculata Mun-ro (taquara, bambu). Pode ser comum aformação de praias ou bancos de areia,~nde predomina uma vegetação arbus-tl:o-herbácea com a presença de espé-c~es de Boraginaceae, Myrtaceae e Ru-bIaceae. Nos locais onde pequenos aflu-e,n~esdeságuam no rio principal, a floratIplca da Mata Ciliar mistura-se à florada Mata de Galeria dificultando a deli-mitação fisionômic~ entre os tipos.

Mata de Galeria é a vegetação flo-restal que acompanha riachos e córre-~os ?e pequeno porte nos planaltos do

hrasil Central, formando corredores fe-c ados ( I .E ga erias) sobre o curso de água.

ssas matas são encontradas no fundo

de vales e nas cabeceiras de drenagem,onde os cursos de água ainda não esca-varam canal definitivo. Em função da flo-rística e características de solo, a Matade Galeria pode ser tipificada como NãoInundável ou Inundável.

A Mata de Galeria Não InundáveIpossui trechos longos com topografiaacidentada, com poucos locais planos.Possui solos bem drenados e uma linhade drenagem (leito do córrego) defini-da. O lençol freático não fica próximo ousobre a superfície do terreno na maiorparte dos trechos o ano todo, mesmo naestação chuvosa. Espécies característi-cas são Aspidosperma spp. (perobas),Nectandra spp. e Ocotea spp. (canelas,louros), Copaifera langsdorffii Oesf. (co-paíba), Hymenaea courbaril L. (jatobá),Callisthene major Mart. (tapicuru), Cari-niana rubra Gard. ex Miers (jequitibá),Chei/oclinium cognatum (Miers)A.C.Sm. (bacupari-da-rnata), Guareaguidonia (L.) Sleumer (marinheiro),Matayba guianensis Aubl. (camboatá-branco), Piptocarpha macropoda (DC.)Baker (coração-de-negro) e Vochysiaspp.(pau-de-tucano). Já na Mata de GaleriaInundáveI o lençol freático fica próximoou sobre a superfície do terreno durantetodo o ano, mesmo na estação seca. Adrenagem é deficiente e o córrego, mui-tas vezes, é pouco definido e sujeito amodificação. Espécies características sãoCalophyllum brasiliense Cambess. (lan-dim), Clusia spp., Richeria grandis VaW eTalauma ovata ASt.-Hil., além de Eu-terpe edulis Mart. (jussara), Hedyosmumbrasiliense Mart. ex Miq. (chá-de-solda-do), Virolaurbaniana Warb. (virola), Xylo-pia emarginata Mart. (pindaíba -preta),Miconia spp., Tibouchina spp., Piper spp.,Guarea macraphylla VaW (marinheiro) etambém o buriti (Mauritia flexuosa LJ.).

Espécies encontradas indistinta-mente nos dois subtipos são Pratium hep-taphyllum (Aubl.) March. (breu, alméce-

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ga), Schefflera morototoni (Aubl.) Ma-guire, Steyerm. & Frodin (morototó),Tapirira guianensis Aubl. (pau-pombo,pombeiro) e Virola sebifera Aubl. (virola,bicuíba), entre outras.

Padrões de distribuição espacial:exemplos em Matas de Galeria

II

Os ambientes ripários sofrem influ-ência das fitofisionomias adjacentes,mesmo que estas sejam formações nãoflorestais, como os Campos Limpos. Atémesmo em áreas planas há discretos gra-dientes entre as margens do rio e as ve-getações adjacentes, ocasionando dife-rentes sítios que propiciam a ocorrênciade espécies típicas das margens do rio,típicas do interior ou da borda da mata.A interação das características da histó-ria de vida e a seleção ambiental execu-tam papel fundamental no estabeleci-mento e na zonação de espécies em áre-as úmidas (PARKER & LECK, 1985).Essas variações ambientais criam con-dições, no tempo e no espaço, onde aspeculiaridades da história de vida dasespécies podem se "encaixar" (seleçãonatural), permitindo seu estabelecimen-toe desenvolvimento com sucesso. Es-tudos sobre esse tema seriam muito im-portantes para as vegetações ripárias doBrasil, considerando que trabalhos comoos de KEDDY & ELLIS (1985) e KE-DDY & CONSTABEL (1986) mostra-ram que a zonação (no sentido de pa-drões de ocupação) de algumas espéci-es de beira de lago dependia de aspectosgerminativos.

GRUBB (1977) sugeriu que, em ge-ral, o recrutamento das plântulas seria ofator mais importante. LOBO & JOLY(1995), por sua vez, mostraram que agerminação de Talauma ovata não ocor-re em ambientes alagados, embora osindivíduos jovens e os adultos cresçambem nestes ambientes. Dessa maneira,

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a dispersão e o estabelecimento de/ . Ssae~pecle ocorrem.na ~poca seca, proPOr_cionando a germmaçao em ambiente nãI d " aoa aga o, o que lhe e favoravel.

Nas Matas de Galeria, o relevo en,ca~ado geralmente resulta em florestasmais e~treltas, que tenderiam a gerarc~muOldades floristicamente mais res-trlta,s .. Nesse caso, haveria menor espa.ço físico para colonização. Porém, o re-levo encaixado propicia variações ambi-entais maiores do que áreas planas, re-sultando em bruscas diferenças de so-los, na drenagem e na hidrografia a Cur-tas distâncias, o que permite a ocorrên_cia de comunidades extremamente ri-cas. No Distrito Federal, SAMPAlO etaI. (1997) estudaram uma mata bastan-te estreita, mas que ocupava trechos aci-dentados intercalados por locais maisplanos, que resultaram no estabeleci-mento de vegetação altamente diversa.

Estudos como os de SCHIAVINI(1992), WALTER & RIBEIRO (1997) eSAMPAIO et al, (2000), entre outros,fornecem informações que definem pa-drões de ocupação nos diferentes arnbi-entes das Matas de Galeria. SCHIAVINI(1992), por exemplo, encontrou evidên-cias de variação transversal em Matas deGaleria, em que espécies lenhosas foramassociadas com áreas mais úmidas ou maissecas. Vários trabalhos relacionam a ocor-rência de espécies considerando a pre-sença de clareiras, locais mais secos ouúmidos ou, ainda, a disponibilidade denutrientes no solo, sendo que listas deespécies vasculares preferenciais, indife-rentes ou exclusivas de ambientes [nun-dáveis ou não, também já foram produzi-das (p.ex. WALTER & RIBEIRO, 1997).

Ambientes savânicos ecampestres

As Veredas, os Buritizais, os Parquesde Cerrado e vegetações campestres,

os Campos Sujo e Limpo (ÚmidoscolJlO bé f .

m Murundus), tam em so rem m-ouco d ' 1 N• ia do excesso e agua no so o. ofluenc

das Veredas, como estas se expres-caso . .como complexos vegetacionais

~IJI f'(ARAÚJO et al., 2002), az~se n~cessa-, 'nduir parâmetros arnbientais e de

no I , . lassif ' 1composição florística para c assi ica- ase entendê-Ias.

A Vereda é formada por, pelo menos,dois estratos: um herbáceo-graminosocontínuo (formado por Poaceae, Cype-raceae, Asteraceae, Me1astomataceae eEriocaulaceae, além de gêneros comoEchinodorus, Habenaria, Hyptis, Ludwi-gia, Lycopodiella, Mimosa, Polyg~la, Utri-cu/aria eXyris), que ocupa a maior parteda área, e outro estrato arbustivo-arbó-reo, onde predominam os buritis e espé-cies lenhosas, como Calophyllum brasili-ense, Euplassa inaequalis (Pohl) Engl.(fruta-de-morcego), Hedyosmum brasi-liense e Miconia spp. Este último estratotambém tem sido tratado como "fundoda Vereda". Veredas geralmente ocor-rem próximas às nascentes e em solossaturados.

Tendo como base a ausência de bu-ritis jovens nas matas estabelecidas, su-põe-se que a Vereda seja um dos estádi-os para a formação ou expansão da Matade Galeria. Conforme RIBEIRO &WAL-TER (1998), a Mata de Galeria Inun-dável poderia ser um estádio sucessio-na) posterior à Vereda e anterior ao apa-recimento da Mata de Galeria Não Inun-dável, que seria a comunidade clímax.

esta, a linha de drenagem (córrego) é~m definida e não sujeita a modifica-ÇOes,as quais ainda podem ocorrer naMata de Galeria Inundável e especial-mente na Vereda. Também é possívelsupor que um Buritizal possa represen-~r Um estádio sucessional anterior à

ata de Galeria Inundável. As condi-:s a~bientais locais, nesse caso, é que

termmariam se a colonização dos bu-

SIMPÓSIO 28. FLORESTAS RIBEIRINHAS E REGIME HIDROL6G

ritis na Vereda poderia evoluir para umaMata ou para um Palmeiral. Porém, es-sas são apenas suposições que carecemde estudos para testá-Ias.

As condições ecológicas encontradasna interface Campo Limpo Úmido e Ve-reda geram consideráveis variações nadistribuição de importantes espéciesnesses ambientes. Zonas de distribuição!dominância entre espécies vêm sendoindicadas. Por exemplo, a distribuição deLavoisiera bergii Cogn., Miconia albicans(Sw.) Triana, Macairea radula (Bonpl.)DC. e Trembleya parviflora (D.Don.)Cogn. nessas fisionomias foi avaliada porBARBOSA-SILVA et al, (2006). Os re-sultados sugeriram duas zonas prefe-renciais: uma seca, para M. albicans, eoutra úmida, para as demais espécies.Destas, T parviflora foi quem apresen-tou maior densidade e freqüência naárea úmida. Por sua vez, a maioria dosindivíduos de L. bergii e T parviflora fo-ram mais altos nas áreas secas do quenas úmidas ou alagadas.

Assim como já foi bem relatado paraas Matas de Galeria, dentro de uma mes-ma formação savânica ou campestre po-dem ocorrer gradientes. No Campo Lim-po Úmido, o gradiente vegetacional é visí-vel com espécies, se intercalando em fun-ção da tolerância a diferentes graus deencharcamento. Em Vereda, MElREL-LES et al. (2002) classificaram gruposde espécies em relação às classes de pro-fundidade do lençol freático. Foram ob-servadas espécies de distribuição restritae outras com distribuição mais ampla.Espécies de distribuição restrita às áreasúmidas foram Andropogon leucostachyusKunth, Miconia chamissois Naud., Paepa-lanthus scandens Ruhl., Peltodon tomen-tosus Pohl, Syngonanthus densifoliusAlv.Silv., Xyris laxifolia Mart. e X. tenellaKunth, enquanto as de áreas mais secasforam Echinolaena inflexa (Poir) Chase,Lycopodium cernuum L., Paspalum erian-

AMBIENTES RIBEIRINHOS E AREAS MAL DRENADAS NO BIOMA CERRADO 401

thum Nees ex Trin., P maculosum Trin.,Rhynchospora globosa (Kunth) Roem. &Schult.e Rhynchospora tenuis Link.

O estudo de NEMOTO & RIBEIRO(2006) apontaram duas zonas de umi-dade em um Campo Limpo Úmido nosul do Maranhão. As espécies dominan-tes foram Paspalum ellipticum Dõll, e Plineare Trin., na porção mais alta e me-nos úmida, e Leptocoryphium lanatum(Kunth) Nees na porção mais úmida, jápróxima de uma Mata de Galeria. Essesautores mostraram que a umidade e osombreamento proporcionado pela es-trutura foliar nessas plantas estariamfortemente relacionados com a distribui-ção e o crescimento de espécies comoDrosera sessilifolia A.St.-Hil., que foi sig-nificativamente maior nas áreas menossombreadas e menos úmidas, próximasde indivíduos de L. lantum.

A importância dos ambientes ribei-rinhos e mal drenados do bioma Cerra-do destaca sua influência na manuten-ção do regime hídrico de rios e pereni-zação dos cursos d'água, além de con-ter uma flora específica que contribuisignificativamente para a grande rique-za, florística do bioma. Ademais, áreasúmidas também servem como refúgiopara a fauna, busca de água, alimenta-ção e local para reprodução. Assim, éfundamental o desenvolvimento de es-tudos ecofisiológicos amplos que anali-sem o comportamento das espécies na-tivas para o conhecimento de respostadas plantas à inundação. Esses estudosvão tornar possíveis a identificação e acompreensão dos padrões de adapta-ção das espécies mais comuns nessesambientes do Cerrado.

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SIMPÓSIO28. FLORESTAS RIBEIRINHAS E REGIME HIDROLóGAMBIENTES RIBEIRINHOS E AREAS MAL DRENADAS NO BIOMA CERRADO

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Impressão

Gráfica Pallotti

Editoração e Finalização

Imagine. Design editorial

Revisão

Bárbara PenaLuciano Gomes

C749a Congresso Nacional de Botânica (57. : 2006 : Gramado, RS)Os avanços da Botânica no início do século XXI : morfologia,

fisiologia, taxonomia, ecologia e genética: Conferências Plenárias e Simpósiosdo 57° Congresso Nacional de Botânica / organização deJorge Ernesto de Araujo Mariath e Rinaldo Pires dos Santos.- Porto Alegre: Sociedade Botânica do Brasil, 2006.

752 p.; il.

J .Botânica I.Mariath, Jorge Ernesto de Araujo lI.Santos, Rinaldo Pires dosIll.Título

ISBN 85-60428-00-3

CDU - 58:061.3

Ficha catalográfica elaborada pelas bibliotecárias do Instituto de Biociências - UFRGS