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SIMULAÇÃO DE ALTERNATIVA DE PLANTA HÍBRIDA HELIOTÉRMICA BASEADA EM TORRES SOLARES COM USO DE BIOGÁS Anna Luiza Fernandes Tepedino Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheira. Orientador: Alexandre Salem Szklo Rio de Janeiro Setembro de 2019

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SIMULAÇÃO DE ALTERNATIVA DE PLANTA HÍBRIDA HELIOTÉRMICA

BASEADA EM TORRES SOLARES COM USO DE BIOGÁS

Anna Luiza Fernandes Tepedino

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheira.

Orientador: Alexandre Salem Szklo

Rio de Janeiro

Setembro de 2019

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ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

DEM/POLITÉCNICA/UFRJ

SIMULAÇÃO DE ALTERNATIVA DE PLANTA HÍBRIDA HELIOTÉRMICA

BASEADA EM TORRES SOLARES COM USO DE BIOGÁS

Anna Luiza Fernandes Tepedino

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRA MECÂNICA.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc (Orientador)

________________________________________________

Prof. David Alves Castelo Branco, D.Sc

________________________________________________

MSc Rodrigo Fonseca Araujo Milani Tavares.

Rio de Janeiro

SETEMBRO DE 2019

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iii

Tepedino, Anna Luiza Fernandes

Simulação de alternativa de planta híbrida

heliotérmica baseada em torres solares com uso de biogás/

Anna Luiza Fernandes Tepedino. – Rio de Janeiro: UFRJ/

Escola Politécnica, 2019.

LXXV, 75 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Prof. Alexandre Szklo

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola

Politécnica/Curso de Engenharia Mecânica, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 60-64.

1. Energia Solar. 2. Concentração Solar. 3. Biogás.

4. Hibridização. 5. SAM. I. Szklo, Alexandre, et al. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica. III. Título

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iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, sem todo o amor e dedicação deles, não chegaria

até aqui. Aos meus irmãos, pelo carinho, apoio, companheirismo e, principalmente, pela

torcida para que tudo ocorresse da melhor forma possível no decorrer dessa jornada. À

família Junqueira que sempre me apoiou e teve um papel importantíssimo em minha

formação. Aos meus amigos, que me apoiaram não só nos meus momentos mais difíceis,

como também compartilharam comigo os de maior alegria.

Um agradecimento especial ao meu professor orientador Alexandre Salem Szklo, que

esteve disponível a ajudar desde o primeiro momento, e que sempre foi solícito nos

conselhos, com calma e bastante conhecimento. Agradeço ao professor David Alves

Castelo Branco e ao Rodrigo Milani por aceitarem o convite para fazer parte da banca.

Por fim, agradeço à Escola Politécnica da UFRJ pela oportunidade de aprendizado e

crescimento pessoal.

Muito obrigada,

Anna Luiza Fernandes Tepedino

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v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

SIMULAÇÃO DE ALTERNATIVA DE PLANTA DE CONCENTRAÇÃO SOLAR

HÍBRIDA BASEADA EM TORRES SOLARES COM USO DE BIOGÁS

Anna Luiza Fernandes Tepedino

Setembro/2019

Orientador: Alexandre Salem Szklo

Curso: Engenharia Mecânica

Inspirado pelas propostas inovadoras de planta de concentração solar híbrida da AORA e

da VastSolar, este trabalho propõe e simula uma alternativa de hibridização para plantas

baseadas em Torres solares (CSP) com termoacumulação de pequena capacidade e

geração de backup com biogás. A partir de simulações associadas ao projeto ótico da

Torre solar e do balanço de energia da máquina térmica, é analisada a geração de energia

elétrica, em base anual e em base horária, a capacidade de armazenamento térmico em

horas, o tempo de operação da planta de biogás como backup da planta CSP e a

quantidade de matéria orgânica necessária para operar a planta híbrida idealmente 16

horas por dia. O caso de estudo foi desenvolvido em Bom Jesus da Lapa, no semiárido

brasileiro. As simulações indicam que a inovação proposta é viável em termos técnicos.

O sistema híbrido pode ser interessante no contexto do semiárido brasileiro.

Palavras-chave: Energia Solar, Concentração Solar, Biogás, Biodigestor Hibridização,

SAM.

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vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Mechanical Engineer.

ALTERNATIVE SIMULATION OF A HYBRID CONCENTRATED SOLAR

POWER PLANT BASED ON BIOGAS AND SOLAR TOWERS

Anna Luiza Fernandes Tepedino

September/2019

Advisor: Alexandre Salem Szklo

Course: Mechanical Engineering

Inspired by the innovative hybrid solar plants, AORA and VastSolar, the present project

aims to provide and simulate a hybrid alternative for energy plants based on the

concentrated solar power (CSP) tower using low capacity of thermal energy storage and

biogas backup generation. By simulating the optical design of the solar tower and

calculating the energy balance from the thermal cycle, it is analyzed the power generation

taking into consideration the yearly and daily operations aspects, the thermal storage

capacity in hours, the operation time of the biogas plant as backup for the CSP, and, the

amount of organic matter necessary to run the hybrid plant for 16 hours a day in total.

The data study was based on Bom Jesus da Lapa location, Brazilian semiarid. The hybrid

system might be interesting considering the Brazilian semiarid.

Keywords: Solar Energy, Concentrating Solar Power, Biogas, Digester, Hybridization,

SAM.

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vii

Sumário

1 Introdução ................................................................................................................ 1

2 Descrição da Proposta Tecnológica do Estudo ..................................................... 4

2.1 Recurso Solar ..................................................................................................... 4

2.1.1 Recurso Solar Brasileiro................................................................................. 6

2.2 Aproveitamento Energético do Biogás .............................................................. 9

2.2.1 Características do biogás .............................................................................. 10

2.2.2 Recuperação Energética a partir de Resíduos .............................................. 12

2.2.3 Tecnologia de aproveitamento de Resíduos Orgânicos ............................... 13

2.2.4 Utilização do Biogás .................................................................................... 16

2.3 Tecnologia Heliotérmica .................................................................................. 18

2.3.1 Campo Solar ................................................................................................. 19

2.3.2 Armazenamento Térmico ............................................................................. 23

2.3.3 Ciclo de Potência .......................................................................................... 25

3 Metodologia de Avaliação da Planta Proposta ................................................... 27

3.1 Ferramentas de Simulação ............................................................................... 27

3.1.1 System Advisor Model .................................................................................. 27

3.1.2 Solar Pilot .................................................................................................... 27

3.2 Critério de seleção da localidade ..................................................................... 28

3.3 Definição do sistema de geração de potência .................................................. 30

3.3.1 Seleção do modelo da planta ........................................................................ 30

3.3.1.1 Inspiração - Planta AORA ........................................................................ 30

3.3.1.2 Inspiração - Planta Vast ............................................................................ 31

3.3.2 Seleção do tamanho da planta deste estudo ................................................. 33

3.3.3 Bloco de geração de energia: Hibridização CSP e Biogás ........................... 34

3.4 Critério de Produção de Biogás ....................................................................... 36

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viii

4 Estudo de Caso ...................................................................................................... 38

4.1 Energia Heliotérmica ....................................................................................... 38

4.1.1 Escolha da Localidade .................................................................................. 39

4.1.2 Projeto do Sistema ........................................................................................ 40

4.1.3 Heliostat Field (campo solar) ....................................................................... 44

4.1.4 Torre e Receptor ........................................................................................... 47

4.1.5 Ciclo de Potência .......................................................................................... 48

4.1.6 Termoacumulação ........................................................................................ 49

4.2 Energia gerada pelo Biogás ............................................................................. 50

4.3 Resultados ........................................................................................................ 54

5 Conclusão ............................................................................................................... 58

6 Referências Bibliográficas .................................................................................... 60

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ix

Lista de Figuras

Página

Figura 1 - Participação de novas fontes de energia renovável (NHRES) na

capacidade instalada para geração elétrica

2

Figura 2 - Movimento anual da terra em torno do sol, considerando as

estações do hemisfério norte

5

Figura 3 - Relação Sol & Terra 6

Figura 4 - Radiação solar global diária no Brasil, média annual 7

Figura 5 - DNI Brasil 8

Figura 6 - Relação entre poder calorífico do biogás e a porcentagem em

volume do metano

12

Figura 7 - Modelos de biodigestores utilizados em comunidades rurais. 14

Figura 8 - Fases da produção do biogás 15

Figura 9 - Blocos principais de uma planta solar 19

Figura 10 - Classificação dos tipos de tecnologia CSP 20

Figura 11 - Bloco de geração de energia da planta CSP 21

Figura 12 - Efeito cosseno na reflexão do heliostatos 22

Figura 13 - Esquema de planta solar com termo acumulação e backup 24

Figura 14 - Ciclo Rankine ideal 25

Figura 15 - Diagrama T-s do ciclo Rankine 25

Figura 16 - Planta CSP da AORA 30

Figura 17 - Planta CSP da VAST 32

Figura 18 - Ciclo de potência da Planta CSP com backup de Biogás. 34

Figura 19 - Características das Turbinas Siemens utilizadas em plantas CSP 35

Figura 20 - Opções de tecnologia do SAM 38

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x

Figura 21 - Escolha da Localidade no SAM 40

Figura 22 - Design do sistema no SAM 41

Figura 23 - Estatísticas Mensais para Radiação Normal Direta 42

Figura 24 - Campo de Heliostatos projetado no SolarPilot 45

Figura 25 - Campo de Heliostatos no SAM 46

Figura 26 - Torre e Receptor no SAM 47

Figura 27 - Bloco de Potência no SAM 48

Figura 28 - Armazenamento Térmico no SAM 49

Figura 29 - Ciclo de potência da Planta CSP com backup de Biogás 50

Figura 30 - Energia produzida pelo ciclo de potência ao longo do ano 55

Figura 31 - Energia produzida diariamente, em cada mês do ano 56

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xi

Lista de Tabelas

Página

Tabela 1 - Fontes de resíduos para produção de biogás 10

Tabela 2 - Características e composição típicas do biogás 11

Tabela 3 - Equivalência energética de 1 m³ de biogás a 65% de metano 13

Tabela 4 - Tabela com as quatro principais tecnologias CSP 20

Tabela 5 - Dados climatológicos das localidades com dados

georreferenciados

28

Tabela 6 - Taxa de resíduos e biogás produzidos pela agropecuária bovina. 37

Tabela 7 - Dados climatológicos de Bom Jesus da Lapa 39

Tabela 8 - Resultados da Planta Solar 54

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xii

Lista de Siglas

ASME Sociedade Norte-americana de Engenheiros Mecânicos (American Society of

Mechanical Engineers)

CSP Energia solar térmica concentrada (Concentrated solar power)

DNI Radiação Normal Direta (Direct Normal Irradiation)

GWh Gigawatt.hora

hl Entalpia líquido saturado

hv Entalpia vapor saturado

HTF Fluido de Transferência de Calor (Heat Transfer Fluid)

IEA International Energy Agency

kg kilograma

kJ kilojoule

kW kilowatt

kWe kilowatt elétrico

kWh kilowatt.hora

LCOE Custo nivelado de energia (Levelized cost of energy)

MSW Resíduo sólido municipal (Municipal Solid Waste)

MW Megawatt

MWe Megawatt elétrico

MWh Megawatt hora

MWht Megawatt térmico.hora

MWt Megawatt térmico

PCI Poder calorífico inferior

NREL Laboratório de energia renovável norte-americano (National Renewable

Energy Laboratory)

SAM System Advisory Model

SWERA Biblioteca da NREL que reúne conjuntos de dados de recursos de energia solar

TES Armazenamento de Energia Térmica (Thermal Energy Storage)

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1

1 Introdução

A importância do setor energético para o desenvolvimento social e econômico é

reconhecida no mercado internacional (Mehos, Turchi, & Judith Vidal, 2017). Há uma

estreita relação entre a quantidade e a qualidade de energia disponível e o avanço da

economia (EPE, 2017).

Entretanto, nas últimas décadas ficou mais evidente a degradação ambiental no planeta e

os riscos que isso pode causar aos seres vivos (IPCC, 2017). Essa degradação ocorre

devido ao aumento da população, do consumo de energia final, com ênfase em

combustíveis fósseis, da atividade industrial e do desmatamento.

Neste contexto o setor de energias renováveis ganhou espaço e assumiu um papel

estratégico, não apenas para o futuro do sistema energético mundial, mas com um impacto

muito mais amplo em muitos aspectos da sociedade (IRENA, 2019).

Aliada a estas mudanças, existe a necessidade de levar energia com qualidade a milhões

de pessoas no mundo que ainda não têm acesso a ela. Este é um dos Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável (ODS) traçados pela Cúpula das Nações Unidas em 2015,

onde diversos países se comprometeram a “assegurar o acesso confiável, sustentável,

moderno e a preço acessível à energia para todos” (ODS/IPEA, 2018). Além disso, as

novas formas de energia em conjunto com a revolução digital podem se tornar alternativas

viáveis e otimizadas para o desenvolvimento de certas regiões. Estes são os principais

aspectos da transformação pode mudar radicalmente a maneira como se avalia o mundo

das energias renováveis.

Em estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) foi feita uma análise

sobre as fontes geradoras de energia existentes no Brasil e como será a contribuição destas

nos próximos 10 anos. O crescimento de novas formas de energias renováveis, solar e

eólica, é notável. A previsão é que representem 30% do potencial de geração de energia

elétrica instalado no Brasil até 2026 (EPE, 2018).

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2

Figura 1 - Participação de novas fontes de energia renovável (NHRES) na capacidade instalada para

geração elétrica

Fonte: (EPE, 2018)

Assim, este estudo tem como objetivo analisar o comportamento de uma planta solar

utilizando a tecnologia heliotérmica, também denominada Concentrated Solar Power

(CSP), que ainda tem potencial de crescimento ao redor do mundo (IRENA, 2019).

Entre os tipos de plantas CSP, Refletor Linear Fresnel, Cilindro Parabólico, Disco

Parabólico e Torre de Concentração, este último é o menos estudado na literatura para

aplicações no território brasileiro1. Contudo, a Torre solar obtém razões de concentração

mais altas do que os outros tipos de tecnologia (Soria R. A., 2011), apresentando um uso

potencial para a matriz energética brasileira (Burgi, 2013). Por este motivo, o objetivo

deste projeto é fazer o estudo de engenharia e analisar a viabilidade técnica de uma

proposta de arranjo para a opção baseada em Torre Solar, visto que esta tecnologia vem

evoluindo e se destacando entre as opções de construção atualmente no mundo (IRENA,

1 Dentre os estudos sobre a utilização do CSP parabólico no Brasil, dois exemplos são “Avaliação de

alternativas para introdução da geração elétrica termossolar na matriz energética brasileira” (Malagueta,

2013) e “Cenários de geração de eletricidade a partir de geradores heliotérmicos no brasil: a influência do

armazenamento de calor e da hibridização” (Soria R. A., 2011).

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3

2019). A projeção que a tecnologia CSP cresça 87% (4,3 GW) até 2023, 32% a mais do

que o período compreendido entre 2012 e 2017 (IEA, 2018).

De fato, o sistema CSP tem a vantagem de permitir diferentes configurações para plantas,

que podem ter sua capacidade de geração aumentada ou regularizada, através do

armazenamento térmico de energia ou da hibridização2 com outras tecnologias ou fontes

de energia. Logo, a planta CSP proposta e avaliada neste estudo será hibridizada com

biogás (biometano), uma fonte combustível que ainda é pouco utilizada no Brasil e tem

um grande potencial para difusão (Antônio, Filho, & Silva, 2018).

Neste estudo, a proposta é que o biogás seja usado para abastecer a planta quando o

recurso solar for insuficiente para atender a demanda de energia térmica da planta. A fonte

do biogás é a decomposição de matéria orgânica. Sua constituição é, em sua maioria,

metano e gás carbônico, e a sua principal produção se dá em biodigestores e aterros

sanitários que coletam e tratam os gases produzidos pelo lixo que seriam liberados na

atmosfera (Teodorita Al Seadi, 2008). Dessa forma, além de auxiliar na geração de

energia elétrica, a hibridização da Torre solar com biometano mantém o caráter

sustentável do sistema.

Para melhor compreensão deste documento, o texto foi separado em 6 capítulos, de

acordo com seus temas. Neste primeiro capítulo, realiza-se uma breve introdução para a

contextualização do problema e a definição do objetivo do estudo. No segundo,

caracterizam-se o recurso solar, em termos de radiação global e direta, e o recurso

biomassa, em termos de produção de biogás. Depois, realiza-se a descrição tecnológica

básica dos componentes da planta CSP híbrida, que será avaliada no estudo. O terceiro

capítulo trata da metodologia do estudo para a definição da planta solar, do sistema de

biogás e do ciclo de potência, além de introduzir as ferramentas de simulação utilizadas

para os balanços de energia e massa. No quarto capítulo são apresentados o estudo de

caso e a descrição dos cálculos da simulação. No quinto e último capítulo, sumarizam-se

os resultados do estudo, suas conclusões e limitações, com sugestões de estudos futuros.

2 Hibridização diz respeito a utilização outra fonte energética, além do recurso solar, para gerar a energia

térmica que será usada pelo bloco de potência da planta CSP.

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4

2 Descrição da Proposta Tecnológica do Estudo

Este capítulo apresenta uma descrição tecnológica dos componentes da planta projetada.

Inicialmente será apresentado o recurso solar e todas as características que permitem a

geração de energia. Posteriormente descrição da tecnologia do biogás seguido dos tipos

de plantas de concentração solar serão detalhadas. Por sim, será possível descrever o ciclo

de potência utilizado no projeto.

2.1 Recurso Solar

Além das formas de aproveitamento direto da radiação solar, várias formas de energia

utilizadas no mundo são derivadas de processos em que a energia solar foi fundamental,

como o carvão, o óleo e o gás natural. Além disso, a energia dos ventos e das marés

também são originadas a partir da energia solar, visto que são causadas por diferenças na

temperatura de várias regiões terrestres (Kalogirou, 2009).

A maior vantagem da energia solar quando comparada às outras formas é o fato de ser

uma energia renovável abundante e fornecida sem causar danos ao meio ambiente. O sol

é um reator de fusão esférico com o diâmetro de 1,39∙106 km, possui temperatura efetiva

da superfície de 5760 K e distância aproximada da terra de 1,5∙108 km (Morrison &

Rosengarten, 2011). Está em um estágio de mudança constante. Assim, algumas

perturbações podem causar grandes variações na radiação que é emitida por

comprimentos de onda muito longos ou muito curtos.

As diferentes camadas do sol que influenciam na radiação solar são a Fotosfera, a Zona

de Convecção, a Cromosfera e a Corona (Morrison & Rosengarten, 2011). Entre essas

camadas ocorre repetidamente a emissão e a absorção de radiação antes que esta atinja a

superfície solar, em decorrência desse fenômeno o sol não funciona como um corpo

negro. É importante entender essas camadas e as características do sol para a otimizar o

projeto de um coletor solar. A projeção de superfícies de recepção solar deve levar em

consideração o complicado espectro de radiação solar.

Manchas solares, também conhecidas como “Sunspots”, também influenciam o espectro

de distribuição solar (Morrison & Rosengarten, 2011). As manchas causam um grande

impacto na dinâmica das camadas superiores da atmosfera terrestre, mas possuem pouca

interferência direta no total de energia recebido na superfície terrestre. Para conhecer a

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5

capacidade exata da potência da radiação solar que atinge a superfície terrestre é usada a

Constante Solar.

A Constante Solar é o fluxo de potência radiante solar através de uma superfície de

unidade de área orientada normal ao feixe solar. É a potência que atinge a atmosfera na

superfície de 1cm², perpendicularmente aos raios solares, durante um minuto A maior

parte da energia é emitida pela fotosfera, que está uma temperatura de 5760 K; sendo

assim, o fluxo de potência na superfície da fotosfera é de 78 MW/m2 (Morrison &

Rosengarten, 2011). Por sua vez, o valor da constante solar é 1368 W/m2 com uma

variabilidade de 1,5% devido à órbita excêntrica da terra em torno do sol (Morrison &

Rosengarten, 2011). Na Figura 2 é possível observar a excentricidade da órbita da terra,

fator que causa a variabilidade da constante solar.

Figura 2 - Movimento anual da terra em torno do sol, considerando as estações do hemisfério norte.

Fonte: (Kalogirou, 2009)

Além da Constante Solar, outros fatores são influenciados pela órbita e o ângulo da terra

em relação ao sol. Dessa forma, para projetos de coletores solares, o conhecimento do

“caminho” do sol através do céu é necessário para calcular a radiação solar que incide

sobre uma superfície, o “ganho de calor solar”, a orientação adequada dos coletores

solares, o posicionamento de coletores para evitar sombreamento e muitos outros fatores.

A radiação térmica viaja com a velocidade da luz no vácuo (cerca de 300.000 km/s),

depois de deixar o sol atinge a energia solar nosso planeta em 8 min e 20 s.

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6

Figura 3 – Relação Sol & Terra

Fonte: (Kalogirou, 2009)

A partir do momento em que a radiação solar atinge a atmosfera terrestre alguns fatores

influenciam no seu percurso até a superfície, como a umidade, partículas em suspenção,

traços de compostos químicos, gases que absorvem radiação infravermelha (conhecidos

como gases do efeito estufa) e componentes da atmosfera que refletem ou difundem a

radiação. A atmosfera funciona, então, como um filtro da Terra.

Adicionalmente, a quantidade de energia solar recebida pela superfície da Terra varia de

lugar para lugar, havendo, então, uma variação e uma distribuição desigual desta energia

na superfície da atmosfera e no globo.

A porção da radiação solar que chega à superfície terrestre em feixes paralelos é chamada

de irradiação solar direta normal (do inglês, Direct normal irradiance – DNI). Esta

radiação é utilizada no caso de plantas CSP pois a característica de entrada dos feixes

torna a concentração solar possível, permitindo o acúmulo de energia térmica. E em

condições de céu claro, o DNI representa mais de 80% da energia solar que atinge a

superfície da Terra (Affandi, Ghania, Ghana, & Phenga, 2015). Logo, o DNI é a radiação

utilizada para o estudo de plantas CSP e será considerado nos cálculos deste estudo nos

próximos capítulos.

2.1.1 Recurso Solar Brasileiro

O Brasil possui considerável potencial de geração de energia elétrica por novas fontes

renováveis, que ainda não foi explorado, contendo com um abundante potencial solar e

eólico (CEPEL, 2000). A característica continental do país e a sua localização geográfica

são pontos importantes que contribuem para o alto potencial energético.

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7

Além disso, o Brasil está situado numa região com incidência mais vertical dos raios

solares, favorecendo elevados índices de irradiação em quase todo o território nacional.

Essas condições conferem ao país algumas vantagens para o aproveitamento energético

do recurso solar. Por este motivo, o Nordeste brasileiro é uma região com grande

capacidade para a instalação de sistemas solares (CEPEL, 2000).

É possível identificar na Figura 4 abaixo a média diária da radiação solar global no Brasil.

O Nordeste é a região que se destaca comprovando o potencial brasileiro para tecnologias

solares de geração de energia.

Figura 4 – Radiação solar global diária no Brasil, média anual

Fonte: (CEPEL, 2000)

Além da irradiação global, deve-se analisar a irradiação normal direta no Brasil, pois esta

é a porção de radiação solar mais importante para a produção de energia térmica. Sendo

assim, para verificação dos dados de DNI no Brasil e avaliação do potencial de cada

região, foi utilizado um dos bancos de dados da NREL, a partir do mapa de irradiação

solar no Brasil do National Solar Radiation Database (NSRDB). Este mapa apresenta

apenas os dados das regiões norte e nordeste, e uma parte das regiões centro-oeste e

sudeste.

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8

Figura 5 – DNI Brasil

Fonte: NSRDB Data Viewer, adaptado pelo autor

Por outro lado, o principal desafio relacionado à energia solar é sua natureza variável. A

intermitência do recurso solar leva ao surgimento de problemas de estabilidade e garantia

de abastecimento. Dessa forma, é necessário estudar cautelosamente a aplicação da

energia solar e as formas de possibilitar o uso de energia nos momentos em que a radiação

solar não estiver disponível na intensidade e qualidade requerida pelo sistema de

conversão de energia. Uma série de possibilidades surge para auxiliar sua inserção, como

a ampliação da transmissão, o armazenamento de energia, a gestão de carga, a mudança

de operação das usinas, a flexibilização da carga, a hibridização com outras fontes de

energia, entre outras (EPE, 2018).

Ademais, o fato de o Brasil ser um país abundante em recursos renováveis aumenta as

possibilidades de associação da energia solar com outras fontes (Viviescas, et al., 2019),

como por exemplo hidro e eólica, biomassa sólida e biogás (Soria, Pereira, Szklo, Milani,

& Schaeffer, 2015). Precisamente, esta última possibilidade de associação será analisada

neste estudo.

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9

2.2 Aproveitamento Energético do Biogás

O biogás é uma mistura de gases produzidos pela decomposição natural de matéria

orgânica por micro-organismos através da digestão anaeróbica (Araújo, Feroldi, & Urio,

2014), processo fermentativo que tem como finalidade à remoção de matéria orgânica, a

formação de biogás e a produção de biofertilizantes ricos em nutrientes (PERSSON,

JÖNSSON, & WELLINGER, 2006). Na Natureza existem vários ambientes favoráveis

ao desenvolvimento da digestão anaeróbica, sendo representados pelos pântanos,

estuários, mares e lagos, usinas de carvão e jazidas petrolíferas. Esses sistemas anaeróbios

possuem concentrações baixas de oxigênio, facilitando a ocorrência da geração do biogás.

Da observação e análise da combustão natural desse gás na superfície de regiões

pantanosas, veio a possibilidade de produzir gás combustível, partindo de resíduos

orgânicos (PRATI, 2010).

Vários tipos de matéria-prima podem ser usados para a produção de biogás: esterco de

animais, resíduos de culturas, resíduos orgânicos da produção de laticínios, resíduos de

indústrias de alimentos e agroindústrias, lodo de águas residuais, fração orgânica de

resíduos sólidos municipais, resíduos orgânicos de residências e de empresas

alimentícias, bem como culturas energéticas. O biogás também pode ser coletado, com

instalações especiais, em aterros sanitários (Seadi, et al., 2008). Uma das principais

vantagens da produção de biogás é a capacidade de usar os tipos de "biomassa úmida"

como matéria-prima, todos caracterizados por um teor de umidade superior a 60-70%,

por exemplo, lodo de esgoto, pasta de animais e lodo de flotação do processamento de

alimentos (Oliveira, 2009)

Nos últimos anos, várias culturas energéticas (grãos, milho) têm sido amplamente

utilizadas como matéria-prima para a produção de biogás em países como a Áustria ou a

Alemanha. Além das culturas energéticas, todos os tipos de resíduos agrícolas, culturas

danificadas, inadequadas para alimentação ou resultantes de condições climáticas

desfavoráveis, podem ser usadas para produzir biogás e fertilizantes. Vários subprodutos

animais, não adequados ao consumo humano, também podem ser processados em usinas

de biogás (Seadi, et al., 2008). A Tabela 1 apresenta algumas matérias primas com

potencial de produção de biogás quando submetidas ao processo de biodigestão natural

ou artificial.

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10

Tabela 1 – Fontes de resíduos para produção de biogás

Fonte: (PRATI, 2010)

Quando a digestão anaeróbia é realizada em biodigestores especialmente planejados, a

mistura gasosa produzida pode ser usada como combustível, o qual, além de seu maior

poder calorífico, não produzir gases tóxicos durante a queima e ser uma ótima alternativa

para o aproveitamento do lixo orgânico, ainda deixa como resíduo um lodo que é um

excelente biofertilizante (Seadi, et al., 2008).

Essa nova fonte renovável vem se consolidando no Brasil principalmente pela

versatilidade de aplicações. No ano de 2016 o setor cresceu 30%. A Associação Brasileira

de Biogás e Biometano (Abiogás) considera que o potencial nacional de biogás é de 80

bilhões de metros cúbicos de biometano. Esse volume seria capaz de suprir 24% de toda

a demanda de energia elétrica do Brasil (Galvão, 2017).

2.2.1 Características do biogás

O conteúdo energético do biogás proveniente da decomposição anaeróbica de materiais

orgânicos majoritariamente metano e dióxido de carbono, com pequenas quantidades de

ácido sulfúrico e amônia. A composição e as propriedades do biogás variam até certo

ponto, dependendo dos tipos de matéria-prima, sistemas de digestão, temperatura, tempo

de retenção e processo através do qual o mesmo é produzido. Traços de hidrogênio,

nitrogênio, monóxido de carbono, carboidratos saturados ou halogenados e oxigênio

também estão ocasionalmente presentes no biogás (Seadi, et al., 2008). Ainda, de acordo

com o tipo de material orgânico que origina o biogás, este pode também ser denominado

de gás de aterros, gás do lixo, gás de esgotos, gás de lodo, gás de dejetos, dentre outros.

A Tabela 2 contém alguns valores médios da composição do biogás, encontrados na maior

parte da literatura. Considerando o biogás proveniente de resíduos agropecuários em

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reatores anaeróbicos com teor de metano padrão de 60%, o poder calorífico é de 23

MJ/Nm³ (Zanette, 2009).

1

Produzido a partir matéria orgânica de resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários.

² Produzido a partir da matéria orgânica de resíduos agropecuários em reatores anaeróbicos.

Tabela 2 – Características e composição típicas do biogás

Fonte: (PERSSON, JÖNSSON, & WELLINGER, 2006)

O biogás possui baixa densidade energética devido à alta presença de gás carbônico

(CO2), além de baixa velocidade de chama (25 cm/s) e temperatura de autoignição

(650°C) se comparado a outros combustíveis como hidrogênio e gás natural (Araújo,

Feroldi, & Urio, 2014). Pode ser utilizado de diferentes maneiras, dependendo da

aplicação demandada e da purificação em relação a componentes como H2S, CO2 e

umidade, processo o qual influenciará sua compressibilidade, poder calorífico e

corrosividade (Oliveira, 2009).

Para aumentar o poder calorífico, rendimento térmico e eliminar a característica corrosiva

devido à presença de gás sulfídrico e água, é preciso tratar e purificar o biogás produzido

(Oliveira, 2009). A presença de substâncias não combustíveis no biogás, como água e

dióxido de carbono, prejudica o processo de queima tornando-o menos eficiente uma vez

que, presentes na combustão absorvem parte da energia gerada. Na medida em que se

eleva a concentração de impurezas, o poder calorífico do biogás torna-se menor. A Figura

6 mostra a relação entre o poder calorífico do biogás e a porcentagem em volume de

metano presente nele (Alves, 2000).

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Figura 6 – Relação entre poder calorífico do biogás e a porcentagem em volume do metano

Fonte: (Alves, 2000)

2.2.2 Recuperação Energética a partir de Resíduos

Os processos de digestão anaeróbica podem ser utilizados para o tratamento de qualquer

material de origem orgânica. O tratamento de resíduos urbanos, agropecuários e de

efluentes domésticos e industriais representa atualmente a principal aplicação desses

processos em escala que permite o aproveitamento do biogás produzido (PRATI, 2010).

Além disso, biogás pode ser utilizado em praticamente todas as aplicações desenvolvidas

para o gás natural, se tornando um importante combustível para geração de energia.

O interesse na recuperação energética de resíduos através do tratamento anaeróbico pode

ser explicado considerando as vantagens e desvantagens desse processo. Dentre as

vantagens, destacam-se o balanço energético favorável, a menor produção de biomassa,

menor necessidade de nutrientes, maior carga volumétrica e a possibilidade de tratamento

da maioria dos compostos orgânicos (Zanette, 2009).

O resultado da digestão anaeróbica pode apresentar um balanço energético favorável,

porque a energia, na forma de metano, pode ser recuperada a partir da conversão biológica

de substratos orgânicos, ao invés de apenas consumirem energia, como é o caso dos

processos aeróbicos, que apresentam um consumo significativo de energia para agitação

e aeração. Além disso, a menor produção de biomassa (redução de 80 a 90%) devido à

energética dos processos anaeróbicos reduz substancialmente os custos com

processamento e disposição de lodo (Zanette, 2009).

Em relação as desvantagens dos processos anaeróbicos, os principais fatores estão

relacionados às condições operacionais. São exemplos dessas desvantagens o tempo mais

longo para o início da operação a plena carga, a sensibilidade a possíveis compostos

tóxicos, estabilidade operacional e o potencial de produção de odores e de corrosão dos

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gases produzidos (Zanette, 2009). Contudo, apesar desses pontos, as vantagens do biogás

conseguem superar as dificuldades de produzi-lo o que torna todo o processo viável. O

resíduo biogás é o único combustível que transforma passivo ambiental em ativo

energético, e ativo energético em valor econômico (Seadi, et al., 2008).

A análise da equivalência energética do biogás auxilia na percepção de como esse

combustível é relevante. De acordo com a análise da Tabela 3 abaixo, o biogás com 65%

de metano pode ser comparado com outros tipos de combustíveis. Como por exemplo, é

equivalente a 0,6 m³ de gás natural.

Tabela 3 – Equivalência energética de 1 m³ de biogás a 65% de metano

Fonte: (Araújo, Feroldi, & Urio, 2014)

2.2.3 Tecnologia de aproveitamento de Resíduos Orgânicos

O uso dos biodigestores para o tratamento principalmente de dejetos de animais é

amplamente disseminado em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos quanto em

países em desenvolvimento. O principal equipamento desse processo de conversão de

biomassa em biogás, é o biodigestor, ilustrado na Figura 7. Este equipamento é um

recipiente onde é depositado material orgânico, que será diluído em água, passando por

um processo de fermentação anaeróbica, na qual resultará no biofertilizante e biogás

(PRATI, 2010). Essa produção de biogás a partir de biomassa pode ser utilizada como

substratos para a produção do biogás, mas a maioria dos biodigestores utiliza esterco

líquido para a fermentação (Pereira, Godoy, Godoy, Bueno, & Wegner, 2015).

Nas comunidades rurais, as unidades de pequena escala predominam. Estima-se que

existam 8 milhões de biodigestores de pequena escala na China (Zanette, 2009). Na Índia,

onde a tecnologia do biogás é conhecida há mais de cem anos, o Projeto Nacional de

Desenvolvimento do Biogás, lançado pelo governo em 1981, resultou na instalação de

3,4 milhões de biodigestores domésticos. Nesses casos, os biodigestores são geralmente

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empregados para fornecer gás para cocção e iluminação para uma residência (Oliveira,

2009).

Figura 7 – Modelos de biodigestores utilizados em comunidades rurais

Fonte: (Zanette, 2009)

Nos países desenvolvidos, as plantas de digestão anaeróbica em fazendas são geralmente

maiores e o gás é utilizado para produzir calor e eletricidade. Essas unidades são

constituídas de tanques agitados que utilizam longos períodos de retenção para

proporcionar o tratamento necessário (Zanette, 2009).

Para a projeção e construção dos digestores, geralmente são levados dois modelos em

consideração, o chamado digestor com topo de borracha e o digestor de topo de concreto,

geralmente construído no solo. Ambos possuem formato cilíndrico com uma razão

altura/diâmetro de 1/3 a 1/4 e são tanques com mistura intermitente com tempo de

retenção do resíduo no digestor de 15 a 50 dias (Zanette, 2009).

Em relação a cobertura do biodigestor, pode ser feito com uma membrana simples ou

dupla. A vantagem do digestor com topo de borracha é o custo, uma vez que uma

membrana é mais barata do que uma cobertura de concreto. Além disso, a membrana

serve para o armazenamento do biogás, enquanto os digestores de concreto requerem um

sistema adicional para o armazenamento do biogás. Por outro lado, o isolamento térmico

é mais fácil nestes últimos. Além disso, os digestores com membranas geralmente

apresentam problemas de emissão de odores quando a borracha é inflada devido ao

aquecimento pelo sol (Zanette, 2009).

O início do processo de transformação do resíduo orgânico no biodigestor se inicia no

tanque de entrada, ou lagoa de sedimentação. Comumente, esses resíduos são coletados

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em um tanque de alimentação onde outros substratos solúveis podem ser adicionados e,

caso o tanque seja equipado com um macerador, substratos sólidos também podem ser

utilizados (Zanette, 2009). Esse composto é exposto a uma fermentação aeróbia, ou seja,

a digestão do resíduo na presença do ar, no qual somente proliferam bactérias aeróbias.

Neste processo a maior parte do oxigênio dissolvido na mistura é liberado para o meio ou

consumido pelas bactérias aeróbias, viabilizando assim, o posterior desenvolvimento das

bactérias anaeróbias (Rohstoffe, 2010).

Pelo tubo de carga, o resíduo é introduzido no digestor em que será submetido a uma

digestão anaeróbia para a produção do biogás. O grupo de bactérias mais importante no

processo são as denominadas bactérias metanogênicas, e são elas que formam o gás

metano (PRATI, 2010). Esse processo é realizado basicamente em três etapas, como

exposto na Figura 8.

Figura 8 – Fases da produção do biogás

Fonte: (PRATI, 2010)

Na primeira etapa, a matéria orgânica é convertida em moléculas menores pela ação de

bactérias hidrolíticas e fermentativas. Estas bactérias são responsáveis por uma série de

reações químicas que transformam esses produtos em ácidos solúveis, alcoóis e outros

compostos (Rohstoffe, 2010).

Na segunda fase, as bactérias acetogênicas transformam os produtos obtidos na primeira

etapa em ácido acético (CH3COOH), hidrogênio e dióxido de carbono. Essas bactérias

são facultativas, ou seja, elas podem atuar tanto em meio aeróbio como anaeróbio. O

oxigênio do material orgânico não aproveitado no processo aeróbio do sistema é utilizado

para efetuar essas transformações (PRATI, 2010).

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O metano é formado na última etapa da produção do biogás (Seadi, et al., 2008). As

bactérias metanogênicas, transformam o hidrogênio, o dióxido de carbono e o ácido

acético (CH3COOH) em metano e dióxido de carbono. Estas bactérias anaeróbias são

extremamente sensíveis a mudanças no meio, como temperatura e pH. As bactérias

produtoras do biogás são mesofílicas, vivem entre 35 a 45 ºC e são sensíveis a alterações

de temperatura. Variações bruscas de temperatura fariam com que as bactérias

metanogênicas não sobrevivessem, o que acarretaria a diminuição considerável da

produção de biogás (PRATI, 2010).

Outro fator considerável é a acidez do processo, uma vez que as bactérias produtoras do

metano sobrevivem numa faixa variável de pH entre 6,5 e 8,5 (Seadi, et al., 2008). Assim,

enquanto as bactérias constantes dos estágios um e dois da digestão anaeróbia produzem

ácidos, as bactérias produtoras de metano consomem esses ácidos, mantendo o meio

neutro (PRATI, 2010).

O biogás liberado pelas bactérias anaeróbias é acumulado no gasômetro e pode ser

utilizado para produção de eletricidade em sistemas de cogeração. A importância da

utilização dessa transformação dos resíduos através do biodigestor vai além da economia,

existem outras vantagens ligadas ao desenvolvimento da tecnologia. Como por exemplo,

o envio de dejetos de animais para o biodigestor evita que estes sejam jogados no meio

ambiente sem tratamento, contaminando nascentes e lençóis freáticos. Os principais

beneficiários do equipamento são os agricultores pelo aproveitamento dos dejetos para a

produção do biogás e o biofertilizante e o meio ambiente em geral (Pereira, Godoy,

Godoy, Bueno, & Wegner, 2015).

2.2.4 Utilização do Biogás

As aplicações mais comuns para o biogás são a geração de calor e eletricidade. Além

dessas aplicações, a utilização como combustível veicular e a injeção na rede de gás

natural são aplicações que vêm atraindo interesse cada vez maior. Nos países em

desenvolvimento, o uso mais comum do biogás em plantas de pequena escala é para

cocção e iluminação. Fogões convencionais a gás e lamparinas podem ser facilmente

ajustados para usar biogás modificando a razão ar e gás (Oliveira, 2009).

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Este combustível também pode ser utilizado em caldeiras para cogeração de energia. Em

diversas aplicações industriais, o biogás é utilizado para a produção de vapor. A queima

do biogás em caldeiras é uma tecnologia bem estabelecida e confiável, e existem poucas

restrições em relação à qualidade do biogás (Seadi, et al., 2008). A pressão geralmente

deve estar entre 8 e 25 mbar. Adicionalmente, é recomendável reduzir o nível de H2S para

menos de 1000 ppm, o que permite manter o ponto de orvalho em torno de 150°C. Além

disso, o ácido sulfuroso formado no condensado leva à corrosão intensa (Zanette, 2009).

É recomendável, portanto, a utilização de aço inoxidável para as chaminés ou

queimadores de condensação e chaminés plásticas resistentes a altas temperaturas.

A geração de energia elétrica ou cogeração também são processos que podem utilizar o

biogás como combustível. Diversas tecnologias estão disponíveis, sendo as principais

aplicações em geradores com combustão interna e as turbinas a gás (Lantz, Svensson,

Björnsson, & Börjesson, 2006). Para a geração de eletricidade, a utilização de biogás em

sistemas de combustão interna é uma tecnologia bem estabelecida e extremamente

confiável (Araújo, Feroldi, & Urio, 2014). Além disso, o uso de turbinas a gás é uma

aplicação promissora. Elas possuem eficiência comparável à de motores pequenos com

injeção por centelha com baixas emissões, permitindo também a recuperação de vapor de

baixa pressão, o que é interessante para aplicações industriais. Além disso, os custos de

manutenção são muito baixos. As especificações para o gás são comparáveis às dos

sistemas de cogeração (Zanette, 2009).

O biogás também pode ser purificado para atingir as especificações do gás natural e ser

utilizado nos veículos que utilizam o gás natural veicular (GNV) (Rohstoffe, 2010).

Entretanto, as especificações para a qualidade do gás são estritas. Ou seja, o biogás

proveniente de um digestor ou aterro precisa ser purificado. Na prática, isso significa que

o CO2, H2S, NH3, material particulado e água (e algumas vezes outros componentes)

foram removidos, de modo que o gás resultante para o uso veicular possui um conteúdo

de metano superior 95% em volume. Em cada país, diferentes especificações para o uso

veicular do biogás e do gás natural são aplicadas (Zanette, 2009).

Finalmente, o biogás pode ser injetado e distribuído na rede de gás natural, uma vez que

o biogás assim como o gás natural é composto principalmente de metano (PRATI, 2010).

Existem diversas vantagens para o uso da rede de gás natural para o transporte e

distribuição do biogás. Uma delas é que a rede conecta os locais de produção com as áreas

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mais populosas, o que permite que o gás alcance novos consumidores. Adicionalmente,

a injeção do biogás na rede de gás natural aumenta a segurança do abastecimento local.

As especificações do gás natural devem ser atendidas para a injeção na rede, o que pode

ser realizado, na maioria das vezes, com os processos de tratamento existentes (Zanette,

2009).

2.3 Tecnologia Heliotérmica

A tecnologia heliotérmica, ou de concentração solar (CSP), é uma forma de

aproveitamento da energia solar para geração de energia elétrica. Este tipo de tecnologia

concentra a radiação solar por superfícies refletoras, ou coletores solares, para a geração

de energia térmica de alta temperatura. A energia solar é concentrada em receptores

operando com um fluido de trabalho (HTF) que troca calor com o ciclo de potência,

geralmente óleo sintético ou sal fundido, que executa um ciclo termodinâmico,

usualmente Rankine ou Brayton (Soria R. A., 2011). A geração de vapor a partir do calor

obtido no campo solar aciona mecanicamente uma turbina e um gerador para a produção

de energia elétrica.

Os principais elementos de uma planta solar podem ser divididos em 3 blocos: o campo

solar, composto por coletores e receptores, o fluido HTF e bomba desse fluido; o sistema

de armazenamento térmico e o bloco de potência. Muitos tipos de combinações com esses

elementos são possíveis (Kalbermatter, 2017).

Os três blocos funcionam integrados em uma planta, como é ilustrado na Figura 9. O

campo solar se comunica com o bloco de geração de potência, cedendo calor para a

produção energia elétrica, também com o sistema de armazenamento cedendo calor para

o seu carregamento. Na ausência de radiação solar, o fluido HTF do campo solar

descarrega o sistema de armazenamento, passando a ser aquecido por ele, e mantém o

fornecimento de energia para o bloco de potência (WAGNER & GILMA, 2011).

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Figura 9 – Blocos principais de uma planta solar

Fonte: (IEA, 2014)

2.3.1 Campo Solar

Coletores solares são trocadores de calor que transformam radiação solar em energia

térmica (Kalogirou, 2009). Esta energia térmica pode ser utilizada diretamente nesta

forma, como no aquecimento de água, ou convertida para geração de energia elétrica,

como ocorre em uma planta CSP. Os coletores podem ser basicamente de dois tipos: não-

concentradores e concentradores, sendo que a diferença entre eles está na relação entre a

superfície de captação do fluxo solar e a superfície de transferência de calor ao fluido

(óleo, água, sais, etc.) (Soria R. A., 2011). Os coletores não concentradores possuem a

mesma área de abertura área de interceptação e absorção da radiação, possuindo

superfície plana, e são aplicáveis para sistemas que necessitem de baixa temperatura.

Em aplicações que demandem temperaturas mais elevadas, como é o caso da tecnologia

CSP, são mais adequados os concentradores solares. Estes possuem em geral uma

superfície refletora curva que direciona a irradiação direta incidente a um ponto focal,

onde está instalado um receptor pelo qual escoa fluido absorvedor de calor (Malagueta,

2013). O objetivo é concentrar a maior quantidade de energia para gerar maiores

temperaturas e, consequentemente, gerar energia de melhor qualidade. A superfície do

receptor é revestida por uma cobertura com alta absorbância a radiação solar e baixa

emitância para radiação térmica (infravermelho) (Kalogirou, 2009).

De acordo com o rastreamento dos concentradores solares e suas características de

movimentação, fixos ou móveis, estes podem ser classificados de acordo com seu foco

com pontuais ou lineares. Os concentradores classificados como pontuais focam a energia

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em um único ponto, enquanto os concentradores lineares focam a energia em uma

superfície. Já os concentradores móveis rastreiam o sol, sendo que este movimento pode

se dar em um ou mais eixos (Milani R. F., 2014).

As diferenças entre as tecnologias CSP podem ser classificadas quanto ao tipo de coletor

(parabólico ou plano), foco da concentração solar (pontual ou linear), fluido de trabalho,

integração à infraestrutura de transmissão (conectada ao grid ou geração distribuída),

entre outros (Burgi, 2013). Atualmente existem quatro tipos principais de configurações

para plantas CSP, que podem ser classificadas de acordo com o tipo de coletor e tipo de

receptor. A Tabela 4 abaixo apresenta uma descrição dessas tecnologias de acordo com a

Agência Internacional de Energia (IEA).

Tabela 4 – Tabela com as quatro principais tecnologias CSP

Fonte: (IEA, 2014), traduzido do inglês e adaptado pelo autor

A Figura 10 a seguir ilustra cada tipo de planta de acordo com sua classificação.

Figura 10 – Classificação dos tipos de tecnologia CSP

Fonte: (Milani R. F., 2014)

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21

Das quatro configurações apresentadas acima, a Torre Solar de receptor central foi

escolhida para este estudo.

A tecnologia Torre solar, também denominada coletor central, faz uso de superfícies

refletoras planas, denominadas heliostatos, que concentram a radiação solar direta normal

em um ponto focal na parte superior de uma torre. Dessa maneira o receptor na tecnologia

CSP Torres solares se encontra fixo. Por esse motivo, o sistema de rastreamento da

energia solar realizado pelos heliostatos em plantas CSP de Torre Solar ocorre em dois

eixos (Malagueta, 2013).

São utilizadas três possibilidades de fluidos de trabalho para a Torre Solar: vapor, sais

fundidos e ar. O vapor apresenta como vantagem o fato de não necessitar de trocadores

de calor, uma vez que o vapor gerado no campo solar pode ser diretamente utilizado na

turbina a vapor. Este arranjo, porém, apresenta escoamento multifásico e altas pressões

de trabalho, sendo tais condições ainda consideradas um desafio (Burgi, 2013). O arranjo

com ar ainda está sendo estudado e não possui na literatura muita informação a respeito

de sua eficiência.

O sistema que opera com sais fundidos necessita de trocadores de calor, e de um sistema

de backup devido à alta temperatura de fusão dos mesmos. Contudo, tais sais apresentam

como vantagem a alta temperatura que atingem sem se degradarem, aproximadamente

600ºC, facilitando a utilização de termoacumulação. Neste estudo será utilizado o sal

fundido como fluido de trabalho.

A Figura 11 demonstra o esquema de uma Torre CSP operando com o sal fundido.

Figura 11 – Bloco de geração de energia da planta CSP

Fonte: (Mehos, Turchi, & Judith Vidal, 2017)

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O campo solar pode variar de acordo com a geometria dos heliostatos, que podem ser

retangulares ou circulares. Para este projeto foram selecionados os heliostatos

retangulares, com quatro facetas verticais e quatro horizontais. Contudo,

independentemente da geometria, os heliostatos estão sujeitos a perdas óticas, resultando

em uma radiação solar refletida pelas superfícies menor que a radiação incidente. Os

principais fatores causadores dessas perdas e que afetam o desempenho do campo de

heliostatos são:

a) Efeito cosseno: O ângulo entre o feixe de radiação solar incidente e o vetor normal à

superfície do heliostatos interfere na eficiência da reflexão. Quanto maior for o

ângulo, maior será a perda de eficiência (cosseno se aproxima de zero). Perdas

significativas em uma planta Torre solar são causadas por esse efeito. A Figura 23

abaixo ilustra este efeito (Filho, 2014).

Figura 12 – Efeito cosseno na reflexão do heliostatos

Fonte: (Filho, 2014)

b) Reflexão do receptor: A fração da radiação incidente no receptor que é refletida

depende da absorção do revestimento da superfície receptora e do ângulo de

incidência da radiação solar.

c) Dispersão atmosférica: Perda devido à dispersão do feixe de radiação refletida do

heliostato ao receptor. Dessa forma, quanto menor a distância entre o heliostatos ao

receptor e quanto menor a umidade relativa do ar, mais eficiente é a planta.

d) Desfocagem: A perda por desfocagem é a proporção da radiação refletida que não

intercepta a superfície do receptor e é perdida para o ambiente.

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e) Sombreamento e bloqueio: A posição de um heliostatos em relação a outro no campo

pode gerar sombras e causar perdas de eficiência pela diminuição da capacidade

reflexiva (Filho, 2014).

f) Eficiência do campo de heliostatos: A eficiência do campo de heliostatos definida

para este projeto é de 90%. Contudo, o envelhecimento e a sujeira reduzem este valor

ao longo do tempo.

g) Manutenção: Quando for necessário realizar manutenções no campo ou em alguns

heliostatos separadamente, a eficiência geral do campo também irá diminuir.

h) Precisão de movimentação do campo: A inclinação do eixo rotacional, a refração

atmosférica, a curvatura da estrutura do heliostatos, o alinhamento do espelho e o

algoritmo de erro da posição do sol, são fatores que causam perdas de eficiência.

2.3.2 Armazenamento Térmico

A despachabilidade3 das plantas CSP é uma das características que as tornam mais

atraentes em relação às demais fontes de energia limpa (Teske, 2019). De fato, a presença

do armazenamento térmico e de um sistema de backup, permite a geração de energia

elétrica de forma controlada, mesmo na ausência do recurso solar (IEA, 2014). Desse

modo, plantas CSP podem atuar como plantas de base ou como apoio para outras plantas

durante variações na demanda e em momentos de pico (Kalbermatter, 2017).

Plantas CSP possuem uma significativa vantagem em relação a outras fontes renováveis

de energia como a eólica e a solar fotovoltaica no que diz respeito ao armazenamento de

energia. Uma vez que o princípio de geração de eletricidade por plantas CSP está baseado

na obtenção, inicialmente de energia térmica, o armazenamento de energia pode ocorrer

nesta etapa, onde usualmente tanques de armazenamento isolados termicamente são

utilizados para armazenar a energia térmica oriunda do campo solar e coletada pelo fluido

de trabalho nos receptores (Burgi, 2013).

O armazenamento térmico possibilita a geração de energia elétrica para atendimento de

demandas no período noturno ou em situações onde a radiação solar se encontra

restringida por fatores climáticos como a presença de nuvens ou ocorrência de chuvas, o

que ocasiona a diminuição da componente direta da radiação solar (Burgi, 2013). Plantas

3 Despachabilidade é a capacidade de gerir a operação de uma planta conforme a necessidade de energia

elétrica ou como o ótimo financeiro da operação.

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CSP projetadas para armazenar energia térmica demandam maior campo solar, o que

aumenta seu custo de capital, aumentando também, por outro lado, seu fator de

capacidade. Contudo, operador de planta CSP dotada de armazenamento térmico possui

flexibilidade no despacho da energia térmica armazenada e consequentemente no

despacho da energia elétrica, o que proporciona otimização na geração de energia.

Existem dois tipos principais de armazenamento, sistemas de acumulação sensível e

sistemas de acumulação latente. O calor sensível está associado a mudanças de

temperatura, à medida que o meio de estocagem absorver ou libera calor. Já o calor latente

está associado à mudança de fase da substância. Adicionalmente, existe a possibilidade

de armazenar energia térmica através de reações químicas endotérmicas reversíveis

(Milani R. F., 2014), no entanto ainda não existem plantas comerciais que utilizem esse

tipo de armazenamento (Kalbermatter, 2017).

O arranjo para armazenamento de energia térmica bastante utilizado é com o uso de dois

tanques, um a baixa temperatura e outro a alta temperatura (Malagueta, 2013), embora

existam outras formas de compor um sistema híbrido solar. Quando parte do calor é

transferida para um fluido de armazenamento (em geral sal fundido) em um trocador de

calor, o fluido do tanque mais frio é aquecido e conduzido ao tanque mais quente

(Malagueta, 2013). Quando requisitado, o fluido quente do tanque de armazenamento

pode ser reconduzido ao trocador de calor, para desta vez transferir calor ao sistema de

geração de eletricidade (Malagueta, 2013).

A Figura 12 abaixo demonstra como o excesso de energia pode ser desviado para o

sistema de termoacumulação, permitindo que plantas CSP continuem gerando

eletricidade mesmo com a ausência do sol, nas últimas horas do dia (Kalbermatter, 2017).

Figura 13 – Esquema de planta solar com termoacumulação e backup

Fonte: (GIL, MEDRANO, & MARTORELL, 2009), traduzido do inglês.

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2.3.3 Ciclo de Potência

Os sistemas CSP em operação utilizam em grande maioria turbinas a vapor, através de

um ciclo Rankine, apesar de muitos outros ciclos também serem possíveis (WAGNER &

GILMA, 2011). Este ciclo é o mais utilizado para a geração de energia elétrica, podendo

usar como fonte de calor a combustão de qualquer hidrocarboneto ou o aquecimento solar.

Ele tem o nome de seu descobridor William John Macquorn Rankine, um professor da

Universidade de Glasgow.

Para plantas CSP, a fonte de calor principal é o campo solar, mas em outras tecnologias

pode ser uma caldeira a carvão ou um reator nuclear. O fluido de trabalho geralmente

utilizado é a água, que ao longo do ciclo é evaporada e condensada. Os seguintes

processos acontecem idealmente da seguinte forma no Ciclo Rankine simples (Wylen,

Borgnakke, & Sonntag, 2013):

• 1-2 Compressão isentrópica em uma bomba. O fluido é bombeado de uma pressão

baixa para uma mais alta.

• 2-3 Adição de calor a pressão constante em uma caldeira (trocador de calor). O

fluido é aquecido e evaporado numa caldeira a uma pressão constante.

• 3-4 Expansão isentrópica. O fluido passa por uma turbina para geral trabalho. A

temperatura e pressão diminuem neste passo.

• 4-1 Rejeição de calor a pressão constante em um condensador (trocador de calor).

O fluido é resfriado até condição de líquido saturado.

Figura 14 – Ciclo Rankine ideal Figura 15 – Diagrama T-s do ciclo Rankine

Fonte: (Mantilla, 2017) Fonte: (Mantilla, 2017)

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Analisando o volume de controle em regime permanente do Ciclo Rankine descrito acima

e considerando variações de energia cinética e potencial desprezíveis, a Primeira Lei da

Termodinâmica pode ser aplicada da seguinte forma:

𝑄 ̇ − �̇� = �̇� (ℎ𝑠𝑎𝑖𝑑𝑎 − ℎ𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎)

Detalhando a análise termodinâmica para cada um dos equipamentos:

Bomba: 𝑤𝐵 = ℎ2 − ℎ1

Trocador de Calor/Caldeira: 𝑞ℎ = ℎ3 − ℎ2

Turbina: |𝑤𝑇| = ℎ3 − ℎ4

Condensador: |𝑞𝑙| = ℎ4 − ℎ1

Adicionalmente, considerando o princípio da 1𝑎 Lei da Termodinâmica em que o trabalho

realizado durante o ciclo é positivo e igual ao calor líquido transferido, a seguinte equação

é considerada:

0 = ∮ δQ − ∮ δW

𝑊 = 𝑄ℎ − 𝑄𝑙

Consequentemente, a equação final do trabalho gerado por este ciclo é:

𝑤𝑙𝑖𝑞 = 𝑞ℎ − 𝑞𝑙 = (ℎ3 − ℎ2) − (ℎ4 − ℎ1)

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3 Metodologia de Avaliação da Planta Proposta

3.1 Ferramentas de Simulação

3.1.1 System Advisor Model

O System Advisor Model (SAM) é um software que possui o objetivo de projetar modelos

técnicos e econômicos de plantas geradoras de energia elétrica. Desenvolvido pelo

National Renewable Energy Laboratory (NREL), tem o objetivo de auxiliar engenheiros

e pesquisadores a elaboração de projeto de energias renováveis e facilitar a tomada de

decisão (SAM/NREL, 2017).

O programa representa o custo e desempenho de projetos de energia renovável usando

modelos de computador desenvolvidos NREL, Sandia National Laboratories,

Universidade de Wisconsin e outras organizações. A interface do SAM com o usuário

possibilita que pessoas sem muita experiência no desenvolvimento de modelos

computacionais possam construir projetos de energia renovável e realizar projeções de

desempenho com base nos resultados do modelo. Além disso, os arquivos de dados

climáticos descrevendo o recurso de energia renovável e as condições climáticas

localização do projeto, já são disponibilizados pelo software.

A primeira versão pública do programa tinha o objetivo de realizar análise apenas de

sistemas fotovoltaicos e sistemas de concentradores parabólicos, na mesma plataforma de

modelagem. Foi lançada em agosto de 2007. Ao longo dos anos outras tecnologias de

geração de energia renováveis foram atualizadas no software, solares e não-solares, como

energia eólica, geotérmica e biomassa (SAM/NREL, 2017).

3.1.2 Solar Pilot

A Ferramenta Integrada de Otimização e Layout da Torre de Energia Solar (SolarPILOT)

gera e caracteriza sistemas de torre de energia (receptor central). Este software foi

desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL).

O SolarPILOT consiste em uma interface gráfica do usuário e uma interface de

programação de aplicativos através da qual os programas externos podem acessar a

funcionalidade do software. O mecanismo de cálculo do SolarPILOT estende o

DELSOL3 da Sandia National Laboratories usando a técnica de expansão Hermite

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computacionalmente eficiente; mas aplica cálculos a cada imagem de heliostato, em vez

de a grupos maiores de heliostáticos - como o DELSOL3 (SAM/NREL, 2017). O

SolarPILOT também integra o mecanismo de rastreamento de raios SolTrace para

permitir a comparação cruzada de resultados e a análise de geometrias mais complexas.

O SolarPILOT é usado por pesquisadores, desenvolvedores de tecnologia do setor e

acadêmicos para avaliar o desempenho da tecnologia, quantificar o valor das descobertas

da pesquisa e fornecer validação independente e de terceiros para ferramentas

desenvolvidas em particular (SAM/NREL, 2017). O SolarPILOT também é usado por

sua API pelo software System Advisor Model (SAM) da NREL.

3.2 Critério de seleção da localidade

De acordo com o objetivo desta dissertação, que é desenvolver o estudo de caso de uma

proposta de tecnologia híbrida Torre solar-biogás no Brasil, o ideal é que a planta esteja

localizada em uma zona de alto potencial, ou seja, elevado DNI. O desempenho da

tecnologia CSP, consequentemente a produção de energia elétrica, necessitam de alta

exposição à irradiação solar direta. As regiões de alto potencial para instalação de

sistemas solares devem apresentar, em geral, um valor anual de irradiação solar direta

normal (𝐷𝑁𝐼) de 2.000 kWh/m2 (Teske, 2019), o que é equivalente à aproximadamente

5,48 kWh/m2 por dia.

A partir dos dados mostrados na figura 5 da seção 2.1.1, referentes ao mapa de irradiação

solar no Brasil da NREL, é possível verificar que as melhores taxas de irradiação se

encontram na região Nordeste. Porém, nesta monografia não é possível escolher qualquer

ponto desta região, pois o software SAM, que será utilizado na simulação da planta

híbrida, utiliza dados horários de radiação e lê três formatos: TMY2 (.tm2), TMY3 (.csv)

e EPW(.epw) (SAM/NREL, 2017). No Brasil apenas 20 cidades possuem dados

climatológicos nesses formatos, entre elas: Belém, Belo Horizonte, Boa Vista, Bom Jesus

da Lapa, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza,

Jacareacanga, Manaus, Petrolina, Porto Nacional, Porto Velho, Recife, Rio de Janeiro,

Salvador, Santa Maria e São Paulo. A Tabela 5 abaixo mostra os dados climatológicos

destas localidades.

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Tabela 5 – Dados climatológicos das localidades com dados georreferenciados

Fonte: (Malagueta, 2013)

A partir destas informações, nota-se que existe apenas uma localidade que possui dados

georreferenciados e DNI superior a 2.000 kWh/m2, Bom Jesus da Lapa. Além disso, esta

cidade está localizada na Bahia, Nordeste, o que está de acordo com os dados

apresentados pela Figura 5 deste estudo. Dessa forma, Bom Jesus da Lapa será a

localidade escolhida para realizar as simulações dessa monografia.

Para o desempenho da tecnologia de geração de energia a partir do biogás, o que deve ser

levado em consideração é o potencial da cidade de gerar resíduos orgânicos para

utilização no biodigestor. O tipo de resíduo escolhido para este estudo é proveniente da

agropecuária bovina, conforme detalhamento na seção 3.4. A cidade de Bom Jesus da

Lapa possui alto potencial pecuária e atualmente possui um rebanho com 60.092 cabeças

de gado. Conclui-se então que esta localidade atente os requisitos de ambas as plantas,

solar e biogás.

Por fim, a quantidade de habitantes é necessária para calcular a energia consumida na

cidade. De acordo com o último censo, Bom Jesus da Lapa possui 69.148 habitantes

(IBGE, 2019).

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3.3 Definição do sistema de geração de potência

A seguir serão apresentados os sistemas propostos e justificadas as escolhas do tamanho

da planta, armazenamento térmico e tipo de back-up.

3.3.1 Seleção do modelo da planta

3.3.1.1 Inspiração - Planta AORA

A inspiração para este projeto veio da planta “Solar Tulip” desenvolvida pela empresa

AORA Solar, uma empresa Israelense que desenvolveu plantas solares modulares de

pequeno porte4 e já levou o projeto até a Espanha (HelioCSP, 2012). O sistema é híbrido,

pois funciona com energia solar durante o dia e queima combustível à noite; sendo assim,

não há a componente de armazenamento de energia térmica no sistema AORA.

O sistema “Solar Tulip” é baseado em uma microturbina a gás com capacidade de

fornecer 100 kWe, além de cogerar 170 kWt de energia térmica como subproduto, em um

campo solar compacto com os heliostatos próximos à torre (HeliosCSP, 2016). Este

campo direciona a luz solar concentrada para o receptor solar, localizado no topo da torre,

como pode ser observado na Figura 15. O fluido operacional é o ar comprimido, que é

aquecido a 1000°C, e depois expandido através de uma turbina a gás (HeliosCSP, 2016).

Figura 16 – Planta CSP da AORA

Fonte: (HeliosCSP, 2016)

4 São consideradas plantas de pequeno porte aquelas com tamanhos menores do que 5 MWe.

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É um sistema híbrido, que pode ser configurado para queimar automaticamente o biogás

ou outros combustíveis para aquecer o ar, quando o sol não está brilhando ou se radiação

solar direta que atinge a planta não for suficiente para produzir energia do bloco solar.

Isso resulta em um sistema que pode, em tese e desde que vantajoso economicamente,

produzir energia renovável 24 horas por dia – ou mesmo produzir energia elétrica com a

falta de sol por dias seguidos.

Cada um dos heliostatos rastreia o sol e reflete seus raios em direção ao topo de uma torre

cuja altura varia entre 30 e 35 metros, com uma altura focal5 entre 32 e 37 metros

(HeliosCSP, 2016). O campo solar compacto ocupa apenas cerca de 2.700 m², utilizando

aproximadamente 45-50 heliostatos, que consistem em espelhos que possuem uma

pequena curvatura. Esses espelhos perdem menos energia porque estão perto da torre

(HeliosCSP, 2016). Isso resulta em uma menor quantidade de vidro por MW, em

comparação com as maiores usinas CSP.

Esta torre contém um receptor solar especial junto com uma turbina a gás. O receptor é

aquecido pelo ar que passa em 1,4 segundos (a 88 m³/min), a temperatura de entrada do

ar é 600°C e chega até cerca de 1000°C, que é a temperatura necessária para produzir a

saída nominal de 100 kW da turbina (HeliosCSP, 2016).

A modularidade permite que cada unidade base seja localizada independentemente, sem

a necessidade de alocar uma extensão grande, plana e contígua de terra para toda a usina.

Isso oferece grande flexibilidade para encontrar locais de instalação adequados, bem

como os benefícios da escalabilidade. Ser modular também significa oferecer maior

confiabilidade, já que a manutenção de qualquer uma das unidades de base única não

requer o desligamento completo de todo o sistema (em comparação com projetos

alternativos que usam um único bloco de energia de grande escala).

3.3.1.2 Inspiração - Planta Vast

A empresa australiana Vast também elaborou uma planta CSP de pequeno porte que

chamou a atenção no desenvolvimento deste projeto. É uma planta CSP capaz de produzir

1,1 MWe (o equivalente a 6 MWth); e, assim como a planta da AORA, possui um campo

5 Altura focal faz referência a zona de concentração dos raios solares. Nesse ponto se localiza o receptor

que absorbe a energia refletida pelo campo de heliostatos.

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considerado pequeno (VastSolar, 2018). Esta planta é denominada “Jemalong CSP Pilot

Plant” e está localizada no estado de New South Wales, Austrália (VastSolar, 2018).

Ao longo de 2018, a Vast Solar realizou testes operacionais e de desempenho para

confirmar a capacidade de operar com segurança e eficácia, confirmando o conceito da

tecnologia CSP. O comissionamento final da Planta Piloto foi confirmado em junho de

2018. Esta instalação piloto, que contém cinco módulos, é a primeira usina CSP conectada

à rede da Austrália com armazenamento de energia térmica, projetada para alcançar alta

eficiência a baixo custo (VastSolar, 2015).

Cada módulo CSP é composto por 700 heliostatos que concentram a radiação solar em

uma torre de receptor térmico dedicada de 27 metros de altura. Os cinco módulos

conectam-se a um tanque central de armazenamento de energia, onde a energia térmica

armazenada é utilizada, através de um gerador de vapor, para produzir vapor para uma

turbina e gerador de eletricidade de 1,1MWe (VastSolar, 2018).

Os destaques do projeto incluem o ciclo de potência utilizado nesta planta, o ciclo

Rankine, e o sistema de armazenamento de energia térmica. Este último é composto por

um HTF que é distribuído por toda a matriz solar para alcançar altas temperaturas e

superar as temperaturas padrões de um ciclo de energia convencional. Além disso, pode

suportar a capacidade de despachar energia renovável, sob demanda, dia ou noite.

Figura 17 – Planta CSP da VAST

Fonte: (VastSolar, 2018)

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3.3.2 Seleção do tamanho da planta deste estudo

O objetivo deste projeto é explorar o potencial de plantas de pequeno porte, ou com

tamanhos menores do que 5 MWe. Assim, as plantas da AORA e da Vast serviram de

inspiração ao projeto proposto. O modelo de um sistema CSP compacto e utilização de

back up de biogás veio a partir da análise da planta AORA. Já a utilização do ciclo

Rankine, o sistema de armazenamento térmico com HTF e o valor da capacidade

instalada, vieram a partir da análise da planta Vast.

Como resultado dessa análise combinada, o sistema será composto por um campo solar

com a tecnologia Torre de Concentração, heliostatos e o bloco de potência baseado no

ciclo Rankine. O fluido de transferência de calor (HTF) da planta será o Hitec Solar Salt,

sal de nitrato fundido (60% NaNO3 + 40% KNO3), pois possui características

fundamentais para a eficiência da planta, como pressão, viscosidade, condutividade

térmica, massa específica e calor específico (Soria R. A., 2011). Adicionalmente, este

fluido irá garantir a termoacumulação de 2 horas para a planta solar, que será utilizada

apenas como segurança, caso o backup de biogás não possa agir com pronto atendimento.

A energia térmica proveniente da torre é armazenada na forma de calor sensível, através

de um sistema de armazenamento com um par de tanques frio e quente.

O sistema de despacho da energia elétrica do SAM permite a criação de até 9 períodos

diferentes ao longo das horas e meses, dias de semana ou fim de semana (Malagueta,

2013). Caso nenhum desses períodos sejam especificados, o SAM usa um padrão pré

definido de controle para selecionar os modos de operação. Nessa planta, o sistema de

despacho não foi especificado, pois não é necessário com uma termoacumulação pequena

de 2 horas.

O responsável principal de backup da planta será o biogás. Este combustível deve

substituir a TES de forma eficiente, gerando menos custo na construção e manutenção da

planta e ainda possibilitar o maior aproveitamento do lixo. Outra vantagem aqui também

é valorizar o resíduo urbano gerando um combustível para ser utilizado na planta solar.

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3.3.3 Bloco de geração de energia: Hibridização CSP e Biogás

Conforme a planta apresentada na seção anterior, que serviu como inspiração para a

planta, assume-se o valor de 30 metros para a altura da torre de concentração e uma

capacidade instalada de 1,1 MW de geração de energia elétrica. O calor é transformado

em trabalho através do ciclo Rankine, descrito na seção 2.3.3.

Este ciclo também pode receber calor proveniente do biogás que que é queimado na

caldeira e é capaz de aquecer o vapor nas mesmas condições que o sistema da Torre solar.

A planta AORA, uma das que inspirou este estudo, na verdade, opera com biogás em

ciclo Brayton, portanto com turbina a gás. Contudo, para tanto, seria necessário incluir

no estudo a purificação do biogás gerado, para torna-lo passível de ser empregado em

turbinas (Bustani, 2015). Neste sentido, uma vantagem do ciclo aqui proposto, que se

coaduna com o da planta VAST, é não necessitar especificar o biogás, o que permitiria,

inclusive, operar com biogás a partir de diferentes origens.

A integração do CSP com o biogás e o desenho do ciclo de potência pode ser visualizado

na Figura 17 abaixo.

Figura 18 – Ciclo de potência da Planta CSP com backup de Biogás

Fonte: Elaboração própria

O componente principal do ciclo e que será analisado primeiro é a turbina a vapor (TV).

A partir de análises de fornecedores e modelos de turbina para geração CSP foi escolhido

o modelo SST- 150 da Siemens. A escolha desta turbina foi baseada no documento “Solar

power night and day - Dispatchable power made available by industrial steam turbines”

(SIEMENS, 2019), que apresenta as características das turbinas e das plantas CSP que

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utilizam turbinas da Siemens. Neste mesmo documento são apresentados os modelos de

turbina assim como as faixas da potência de saída e das condições de entrada (pressão e

temperatura), de acordo com a Figura 18. As condições de projeto, como dados de entrada

e de saída da turbina, serão consideradas neste projeto conforme as especificações da

figura a seguir.

Figura 19 – Características das Turbinas Siemens utilizadas em plantas CSP

Fonte: (Siemens, 2017)

Após a escolha da Turbina, outro parâmetro importante a ser definido no projeto é o

Múltiplo Solar (MS). Este é a razão entre a área do campo solar da planta real e a área do

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campo solar requerida para operar o bloco de potência na sua capacidade nominal, dada

uma radiação de projeto (plena carga) (SAM/NREL, 2017). Sendo assim, o MS será igual

a 1 quando a área do campo solar permitir operar a turbina com 100% de carga, para uma

radiação normal direta (DNI) de projeto, em plantas sem armazenamento térmico.

No caso em que a planta não possui termoacumulação o MS próximo a 1 é sempre o

desejado. Contudo, quando é necessário gerar mais energia no campo solar do que a

necessária para operar a turbina em plena carga, a fim de se armazenar este excesso, o

sistema irá possuir o chamado armazenamento térmico, então, o MS ideal deve ser

necessariamente maior do que 1.

Na planta CSP estudada, os fatores relevantes para definição do Múltiplo Solar são a

energia térmica dada ao ciclo de potência e a área da planta. Sendo assim, foi escolhido

o Múltiplo Solar igual entre 1,5 e 2, baseado nas análises de otimização do SAM que

serão demonstradas no capítulo 4.

3.4 Critério de Produção de Biogás

O biogás que será utilizado para hibridização com a planta CSP será proveniente da

agropecuária, devido ao potencial do município de Bom Jesus da Lapa para este setor. A

Bahia possui áreas propícias para expansão da pecuária leiteira e do gado de corte

(SEAGRI, 2018). Além disso, a produção agropecuária atual já possui números

expressivos. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária o município

de Bom Jesus da Lapa possui atualmente aproximadamente 60.092 cabeças de gado

(IBGE, 2019).

Os dejetos gerados pela produção agropecuária serão coletados e inseridos no biodigestor

para a produção do biogás. Essa produção de biogás depende do número de animais e da

quantidade dejetos produzidos. Um experimento realizado pela Universidade de

Shahrekord acompanhou 50 animais, 10 utilizados na pecuária leiteira e 40 utilizados

como gados de corte, concluindo que a quantidade de resíduos gerados pelo gado de corte

é maior do que o gado leiteiro (Shamsabadi, Jahangiri, Faegh, & Dehkordi, 2016), vide

Tabela 6. A partir da análise desses resultados, neste estudo será considerado o gado de

corte como gerador de resíduos.

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Tabela 6 – Taxa de resíduos e biogás produzidos pela agropecuária bovina

Fonte: (Shamsabadi, Jahangiri, Faegh, & Dehkordi, 2016)

Também é possível obter pela Tabela 6 os valores da taxa de produção de biogás para

cada quilograma de resíduo. Será considerada então a razão de 0,03 Nm³ de biogás /kg

de resíduo animal (Shamsabadi, Jahangiri, Faegh, & Dehkordi, 2016). Para o cálculo

dessa taxa o experimento leva em consideração a seguinte relação:

𝑅𝑎𝑧ã𝑜 𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠/𝑅𝑒𝑠í𝑢𝑑𝑢𝑜 = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜

𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑎𝑛𝑖𝑚𝑎𝑙

Adicionalmente, as condições ambientes para a produção de biogás são importantes para

garantir a taxa de conversão de resíduos. O biodigestor deve garantir uma mistura

homogênea de resíduo animal e água, na proporção de volume de 1:1. Além disso, a

temperatura interna do biodigestor deve considerar a faixa de 30°C até 32°C

(Shamsabadi, Jahangiri, Faegh, & Dehkordi, 2016).

O biodigestor neste estudo trabalha de maneira contínua e diariamente os resíduos

animais são adicionados. Contudo, o biogás só será disponibilizado para queima na

caldeira e consequente ativação da turbina quando a planta CSP não estiver trabalhando.

O objetivo do uso do biogás é manter uma produção constante de energia quando houver

falta de sol (noite e dias nublados). Portanto, será considerado um total de 16 horas para

geração de energia elétrica total da planta neste estudo, já que durante a noite (período de

10 horas da noite até 6 horas da manhã), o consumo de energia elétrica é praticamente

nulo. Após a simulação da planta CSP e a verificação de quantas horas por dia o sistema

solar é capaz de gerar energia, a quantidade de horas de funcionamento da caldeira de

biogás será definida.

Recursos de

produção de

biogás

Número de

animais

Quantidade de resíduo

produzido por animal

(kg/dia)

Quantidade total de

resíduo produzido

por dia

(kg/dia)

Taxa de produção de

biogás para cada

quilograma de resíduo

(m³/kg)

Total de biogás

produzido por dia

(m³)

1 Gado leiteiro 10 5,77 57,7 0,03 1,731

2 Gado de corte 40 32,6 1304 0,03 39,12

3 Total 50 38,37 1361,7 40,85

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4 Estudo de Caso

Para realizar a simulação da planta de CSP no SAM é necessário definir variáveis não só

da planta heliotérmica e do biogás, mas também a localidade da planta (e,

consequentemente, seus dados meteorológicos) e as propriedades dos pontos no ciclo

térmico. Esta seção tem o objetivo de apresentar e detalhar os critérios para definição de

cada variável da simulação, inicialmente para a planta heliotérmica e, posteriormente,

para o biogás – isto é, o uso do biogás como fonte de energia do ciclo Rankine ocorre

complementarmente à disponibilidade do recurso solar.

4.1 Energia Heliotérmica

Para os cálculos da parte heliotérmica da planta, a simulação seguirá a sequência de

simulação do software SAM. O primeiro passo é clicar em “Start a new Project” e assim

visualizar todas as opções de projetos disponíveis. Neste trabalho o projeto escolhido é

“CSP power tower molten salt”. Após a escolha das opções de tecnologia, ainda podem-

se escolher os parâmetros de modelagem financeira da planta. Neste caso, o escolhido foi

“PPA - Power purchase agreement single owner (utility)”. A Figura 19 abaixo mostra a

primeira tela da simulação.

Figura 20 – Opções de tecnologia do SAM

Fonte: Própria

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Uma vez escolhidas estas opções, a área para realizar a simulação é aberta. Esta área é

diferente para os diversos tipos de tecnologia, mas seguem um mesmo padrão. Para a

Torre de Concentração que opera com Sal Fundido, por exemplo, as guias para definição

do sistema são separadas da seguinte forma: Location and Resource, System Design,

Heliostat Field, Tower and Receiver, Power Cycle, Thermal Storage, System Control,

System Costs, Lifetime, Financial Parameters, Time of Delivery Factors, Incentives and

Depreciation. Nesta monografia as abas referentes ao modelo financeiro não serão

analisadas pois o foco está no desempenho do sistema, ou seja, o objetivo é analisar a

energia elétrica gerada.

4.1.1 Escolha da Localidade

Para iniciar a modelagem no SAM a primeira aba é chamada de “Location and

Resources”, onde é possível escolher o local onde serão feitas as simulações. Dentre as

opções disponíveis e considerando as premissas estabelecidas na seção 3.1 deste estudo,

a localidade de Bom Jesus da Lapa foi selecionada para realização das simulações.

Além de estar de acordo com o critério de construção de uma planta solar, em que o valor

anual de DNI da localidade deve ser superior a 2.000 kWh/m2 (Teske, 2019), são

necessários outros dados climatológicos para rodar a simulação no SAM, pois possuem

grande influência nos resultados de uma planta solar, interferindo no seu desenho,

operação e desempenho. Alguns exemplos são: radiação global horizontal, hora do dia,

latitude, longitude, altitude, pressão atmosférica, temperatura do ponto de orvalho,

temperatura de bulbo seco, temperatura de bulbo úmido, umidade relativa do ar e

velocidade do vento. Os dados climatológicos para a cidade de Bom Jesus da Lapa foram

obtidos a partir do próprio SAM (SWERA) e estão especificados na Tabela 7 abaixo.

Tabela 7 – Dados climatológicos de Bom Jesus da Lapa

Fonte: (SAM/NREL, 2017)

Cidade Bom Jesus da Lapa (BJL)

Estado Bahia

Fuso Horário GMT - 3

Elevação 458 m

Latitude - 13,27°

Longitude - 43,42°

2.198,5 kWh/m2.ano

6,02 kWh/m2.dia

Irradiação Global Horizontal 2.143,2 kWh/m2.ano

Temperatura de bulbo seco 26,1°

Velocidade do vento 1,6 m/s

Informações da

Localidade

Dados climatológicos

anuais

Irradiação Direta Normal (DNI)

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Esses valores foram utilizados na simulação do SAM conforme a Figura 20.

Figura 21 – Escolha da Localidade no SAM

Fonte: Própria

4.1.2 Projeto do Sistema

A segunda parte da simulação, intitulada “System Design”, é responsável por

dimensionar o campo solar, determinando os parâmetros para definição da capacidade do

sistema. Nesta aba, são inseridos valores nominais, ou seja, valores iniciais da planta no

momento de planejamento do projeto, que serão alterados por outras condições e variáveis

ao longo da simulação. Os valores reais serão calculados pelo SAM e apresentados no

relatório com os resultados da simulação.

As características da planta que serão definidas aqui são relacionadas aos principais

subsistemas da planta, que são: Campo de Heliostatos, Torre e Receptor, Armazenamento

Térmico e Ciclo de Potência. Estes subsistemas são completamente dependentes e

precisam ser dimensionados com o mesmo objetivo no projeto. A Figura 21 abaixo mostra

como a aba é apresentada no SAM e como foram definidas cada uma das variáveis.

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Figura 22 – Design do sistema no SAM

Fonte: Própria

1. DNI de projeto

A porção da radiação solar, chamada de irradiação solar direta normal (do inglês Direct

Normal Irradiance), chega à superfície terrestre em feixes paralelos, sem ser refletida ou

absorvida por partículas do ar, poeira ou nuvens. A irradiação DNI é usada para calcular

a superfície do campo solar requerida para que ele forneça o calor necessário para que o

bloco de potência opere a plena carga (SAM/NREL, 2017). A área de abertura dos

heliostatos é dimensionada a partir deste valor para poder operar o bloco de potência de

maneira mais otimizada.

Recomenda-se determinar essa irradiação de projeto um valor próximo à máxima

radiação direta incidente no ano (SAM/NREL, 2017). No entanto, uma recomendação

mais conservadora é determiná-la não como a radiação máxima no ano, e sim como a

média das máximas diárias (Malagueta, 2013). Dessa forma, é necessário analisar os

dados de DNI para a cidade de Bom Jesus da Lapa de maneira mais detalhada. A Figura

22 abaixo apresenta o comportamento da radiação direta normal.

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Figura 23 – Estatísticas Mensais para Radiação Normal Direta

Fonte: (SAM/NREL, 2017)

Exportando-se os dados do SAM é possível montar o gráfico acima e, a partir disto,

visualizar os valores exatos das máximas diárias de DNI. Calculando a média dessas

máximas de DNI, é obtida uma irradiação de projeto de 768,93 W/m² para o município

de Bom Jesus da Lapa.

2. Potencial de saída da turbina

Como apresentado anteriormente, na seção 5.6, este modelo foi projetado para simular

uma planta CSP de pequeno porte, como as plantas desenvolvidas pela AORA e VAST.

A demanda de potência elétrica que esta planta de receptor central pretende atender é 1,1

MWe.

3. Eficiência do ciclo térmico

De acordo com o valor padrão do SAM para este tipo de tecnologia, 0,412 é a eficiência

de conversão de energia do ciclo (Filho, 2014).

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4. Temperatura do HTF

Em uma planta de Torre solar de sal fundido, o sal é bombeado do tanque de

armazenamento frio em direção ao receptor a uma temperatura de aproximadamente

290°C (Filho, 2014). Este valor de temperatura também é considerado padrão pelo SAM,

para o HTF frio.

Já para o HTF quente, que é o sal aquecido depois de passar pelo receptor que recebe a

radiação solar concentrada, o valor utilizado nesta simulação será o mesmo da planta solar

Vast, devido à similaridade das duas plantas. Dessa forma, o valor para o HTF quente é

565°C (VastSolar, 2015).

5. Armazenamento térmico

O armazenamento térmico desta simulação será de 2 horas. O objetivo é aproveitar o sal

fundido que é utilizado como fluido de transferência de calor para armazenar o mínimo

de energia necessário para otimizar a planta. Mas ao mesmo tempo, sem utilizar muita

energia para manter esse sistema.

6. Múltiplo Solar

Como apresentado anteriormente, o MS é um parâmetro importante para otimizar tanto o

projeto da planta como a energia térmica necessária para assegurar que o bloco de

potência seja efetivamente utilizado durante todo o ano. Este parâmetro é a relação entre

o tamanho real do campo solar e aquele que seria necessário para alcançar a capacidade

elétrica do projeto, no momento de incidência da irradiação de projeto.

Sendo assim, a planta necessita de uma maior Múltiplo Solar (MS) pelo fato de armazenar

energia solar na forma térmica, a termoacumulação. Para uma planta com 7 horas de

acúmulo de energia térmica, um estudo recentemente realizado encontrou o MS de 2,3

(Kalbermatter, 2017). Porém, a planta aqui proposta possui uma termoacumulação de 2

horas. Logo, otimizou-se a planta, visando o MS que produzisse o máximo de energia

elétrica, sendo este o critério de otimização. Neste caso, encontrou-se o valor de 1,8, após

a simulação no SAM.

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4.1.3 Heliostat Field (campo solar)

A aba “Heliostat Field” é responsável por dimensionar o campo solar. O software permite

que se mude uma série de parâmetros do campo como o raio, além de parâmetros dos

espelhos como, por exemplo, o grau de reflexão. O heliostato é o elemento principal dos

sistemas da Torre de concentração solar, representando cerca de 40% do custo total da

instalação (Filho, 2014). Ele é composto basicamente por uma superfície espelhada, uma

estrutura de suporte, mecanismos de movimentação e um sistema de controle com alto

nível de precisão. Sua função é coletar a radiação solar incidente e refleti-la em um

receptor localizado em uma torre no centro do campo solar.

O campo de heliostatos de uma planta Torre solar é composto, geralmente, por uma

grande quantidade de heliostatos individuais. Como a quantidade depende das dimensões

de cada heliostato e da capacidade do sistema solar térmico pretendido, nesta monografia

a planta projetada de pequeno porte terá o número e o tamanho de heliostatos

consideravelmente menores do que os verificados nas plantas de grande escala.

Dessa forma, os heliostatos serão projetados com base nas informações da planta Vast,

que possuem 3,6m x 3,6m de área (ASTRISymposium, 2015). Mas para obter uma

margem de segurança, os espelhos serão projetados com o tamanho 4m x 4m, resultando

em 16m² de área para cada heliostatos.

Outro fator importante desta planta é o fato de que os heliostatos estarão ao redor da

planta em um ângulo de 160°. Ou seja, como a planta é de pequeno porte, não terá

espelhos ao redor de toda a torre conforme as plantas de grande porte6, para as quais o

ângulo é de 360°.

Com o objetivo de aumentar o desempenho da planta, reduzindo essa quantidade de

perdas e escolhendo os melhores valores para os parâmetros de entrada do modelo, a

planta de heliostatos foi desenhada no software SolarPilot. As variáveis e o modelo de

simulação deste software são bem similares ao SAM, contudo, o resultado de projeção do

campo de heliostatos é mais específico.

6 A planta GemaSolar situada em Sevilla, na Espanha, é um exemplo de planta de grande porte, com

heliostatos ao redor da torre em um ângulo de 360°. A capacidade desta planta é de 17MW.

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Realizando a simulação no SolarPilot utilizando todas as variáveis já definidas acima,

considerando Bom Jesus da Lapa como a localidade da planta, o campo de heliostatos (de

4m²) resultante é apresentado na Figura 24 abaixo:

Figura 24 – Campo de Heliostatos projetado no SolarPilot

Fonte: Elaboração Própria

Esta simulação do SolarPilot foi feita nos 365 dias do ano, portanto, está precisa o

suficiente e considera todas as diferenças possíveis de DNI. Além disso, para definir o

tamanho do campo foi utilizada uma das premissas da planta Vast, que é a distância entre

os espelhos e a torre ser menor do que 300m. Dessa forma, é garantido o maior

aproveitamento do espaço, excluindo a necessidade de utilizar terrenos muito grandes.

Como resultado desta simulação, este campo possui 1015 heliostatos, o que é um valor

relativamente superior aos 700 heliostatos utilizados na planta da Vast. Adicionalmente,

a eficiência de cada heliostato varia entre 32,4% e 87,1%, tendo como média 63,3%.

A Figura 25 abaixo apresenta como este resultado do campo foi inserido no SAM.

Algumas variáveis, como as atmosféricas e específicas de operação dos heliostatos, não

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foram definidas neste projeto pois foram utilizados os valores padrão do programa,

aceitáveis para as plantas CSP.

Figura 25 – Campo de Heliostatos no SAM

Fonte: Elaboração Própria

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4.1.4 Torre e Receptor

A próxima etapa da simulação é referente a Torre e o Receptor da planta CSP. O receptor

central é o dispositivo localizado no alto da torre, que recebe toda a radiação solar

refletida pelos heliostatos e a transforma em energia térmica, que é absorvida pelo HTF

através de um trocador de calor. A Torre é o suporte do receptor e deve ser projetada de

forma que garanta a altura ideal para o receptor, com o objetivo de minimizar o impacto

de sombras e bloqueios de luz solar que possam interferir na eficiência dos heliostatos.

Seguindo os parâmetros da planta Vast, a torre central terá altura de 30 metros (VastSolar,

2015). Já o receptor terá 4 metros de altura e 2 de diâmetro. O receptor projetado para

esta planta é cilíndrico externo, que acompanha os 160° de abertura dos heliostatos ao

redor da torre. A escolha deste tamanho derivou da otimização da planta e menor

necessidade de heliostatos de acordo com a simulação do Solar Pilot.

Figura 26 – Torre e Receptor no SAM

Fonte: Elaboração Própria

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4.1.5 Ciclo de Potência

Esta aba é responsável pelos parâmetros referentes ao ciclo termodinâmico da planta,

como a capacidade da planta, o projeto do bloco de potência, o controle da planta e o

sistema de resfriamento. A conversão de energia térmica em energia elétrica é definida

aqui, no chamado bloco de potência, que através do ciclo Rankine, transmite a energia

térmica da radiação solar concentrada ao fluido de trabalho que gera vapor a alta pressão

e faz operar uma turbina acoplada a um gerador elétrico, produzindo eletricidade.

Nesta monografia, a pressão de 103 bar foi definida como a pressão de entrada da turbina,

de acordo com as especificações da turbina SST-150 no manual do fabricante (Siemens,

2017). No caso aqui analisado, o resfriamento a seco foi utilizado. Este tipo de

resfriamento utiliza o ar para resfriar a planta. Apesar de ser mais custoso e reduzir o salto

entálpico da turbina, foi escolhido devido à reduzida disponibilidade de água na região

(Milani R. , 2016).

Figura 27 – Bloco de Potência no SAM

Fonte: Elaboração Própria

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4.1.6 Termoacumulação

A planta deste estudo possui o sistema de armazenamento de energia térmica do tipo

direto, pois o fluido de trabalho, sal fundido, é o mesmo que irá atuar no armazenamento

de energia, operando com um par de tanques frio e quente para o armazenamento térmico.

Sendo assim, o principal parâmetro desta aba é o número de horas de armazenamento,

que define o diâmetro do tanque e consequentemente o seu volume. Além disso, o sistema

que opera com sais fundidos necessita de trocadores de calor, e de um sistema de backup

devido à alta temperatura de fusão dos mesmos.

O tempo de armazenamento foi definido em 2 horas. Isto devido ao fato de o backup

principal desta planta, para as horas sem sol, ser o biogás. Desta forma a termoacumulação

projetada é um fator de segurança da planta, já que aproveita o mesmo fluido de

transferência de calor.

A temperatura do tanque quente foi definida como próxima à temperatura de saída do

campo solar, porém um pouco inferior, com uma margem de segurança de 4,5%,

resultando em 540°C. A temperatura do tanque frio foi utilizada a padrão do SAM, de

290°C.

Figura 28 – Armazenamento Térmico no SAM

Fonte: Elaboração Própria

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4.2 Energia gerada pelo Biogás

A caldeira a biogás fornecerá o vapor nas condições de entrada da turbina antes

especificada, quando não houver geração de vapor no bloco solar. Trata-se, portanto, de

um circuito paralelo de vapor. O biogás foi produzido em um biodigestor. Para calcular a

quantidade de matéria-prima que a planta híbrida requer e avaliar a disponibilidade de

recurso (resíduo animal), conforme a quantidade de resíduos produzidos em Bom Jesus

da Lapa, é necessário analisar o ciclo termodinâmico da planta.

O biogás, após ser gerado no biodigestor, deve ser armazenado7. Do armazenamento, ele

segue para a caldeira, onde sofre a combustão, para prover vapor superaquecido à Turbina

SST-150 – ver esquema da Figura 29. Assume-se que não há perda de calor entre a

caldeira e a turbina. Nem tampouco considera-se a perda de pressão neste caso.

Figura 29 – Ciclo de potência da Planta CSP com backup de Biogás

Fonte: Elaboração própria

Para encontrar a quantidade de matéria orgânica necessária para o backup da planta CSP,

devem-se utilizar as condições de entrada e saída turbina. Estas condições são aquelas

verificadas no catálogo da turbina SST-150 escolhida na seção 3.3.3. Seguem abaixo os

dados das condições de trabalho da turbina que serão considerados nos cálculos deste

projeto:

7 Não será modelado neste estudo o armazenamento do biogás, mas é uma sugestão de análises em trabalhos

futuros.

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T𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 = T7 = 505°C

𝑃𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 = P7 = 103 bar = 10.300 kPa

𝑃𝑆𝑎í𝑑𝑎 = 𝑃4 = 10 bar = 1.000 kPa

Através desses valores da turbina, dos resultados da simulação do SAM e da tabela de

propriedades termodinâmicas da água (Wylen, Borgnakke, & Sonntag, 2013), é possível

obter a vazão mássica do vapor na turbina. Conforme o ciclo Rankine descrito na seção

2.3.3, a equação termodinâmica para esta etapa do ciclo que passa pela Turbina é:

|w𝑇| = hentrada − hsaida = h7 − h4

Considerando as condições de entrada da turbina (505°C e 10.300 kPa), a entalpia e a

entropia do vapor no ponto 7 é:

h7 = 3.382,53 𝑘𝐽/𝑘𝑔

s7 = 6,5974 𝑘𝐽/𝑘𝑔 𝐾

Já para as condições de saída da turbina a 1.000 kPa, é necessário identificar a proporção

de vapor saturado do exausto. De acordo com a tabela de água saturada o valor da entropia

para cada estado é (Wylen, Borgnakke, & Sonntag, 2013):

s𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚 4 = s𝑙 4 = 2,1386 𝑘𝐽/𝑘𝑔 𝐾

s𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚 4 = s𝑣 4 = 6,5864 𝑘𝐽/𝑘𝑔 𝐾

O título do ponto 4 é referente a proporção de líquido saturado e vapor saturado do

exausto, será representado pela letra “x”. Dessa forma, considerando o processo

isentrópico:

s4 = s7 = 6,5974 𝑘𝐽/𝑘𝑔 𝐾

s4 = s𝑙 4 + 𝑥 ∗ s𝑣 4

𝑥 = 0,6770

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Com o título do ponto 4 definido, a entalpia será calculada pela fórmula:

h4 = h𝑙 4 + 𝑥 ∗ h𝑣 4

De acordo com a tabela de água saturada o valor da entropia para cada estado é (Wylen,

Borgnakke, & Sonntag, 2013):

h𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚 4 = ℎ𝑙 4 = 762,79 𝑘𝐽/𝑘𝑔

h𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚 4 = h𝑣 4 = 2.778,08 𝑘𝐽/𝑘𝑔

h4 = 2.643,48 𝑘𝐽/𝑘𝑔

Agora, sabendo que a capacidade de geração de energia da turbina é 1,1MW,

considerando a eficiência isentrópica 90% (Wylen, Borgnakke, & Sonntag, 2013),

encontra-se a vazão mássica de vapor na entrada da turbina:

�̇�T = w𝑇 �̇�7 𝜂

1100 kW = 739,05 kJ/kg ∗ �̇�7 ∗ 0,9

�̇�7 =1100 𝑘𝑊

665,15 𝑘𝐽/𝑘𝑔

�̇�7 = 1,65 𝑘𝑔/𝑠

Após passar pela turbina, o vapor sai em forma de vapor saturado a pressão de 1.000 kPa

e passa pelo condensador. Neste ponto do condensador a pressão é constante. A saída do

condensador é líquido saturado:

h5 = 2.778,08 𝑘𝐽/𝑘𝑔

Este ponto também é considerado para as condições de entrada da bomba que transfere o

fluido até a caldeira. Sendo assim, a condição do ponto de entrada da bomba é pressão de

1.000 kPa e entalpia igual a 2.778,08 kJ/kg. Já para as condições de saída da bomba, deve

-se considerar a pressão na caldeira, que deve ser a mesma pressão utilizada na entrada

da turbina, 10.300 kPa, desconsiderando perdas de carga do sistema.

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53

Dessa forma, a equação termodinâmica da bomba resulta em:

�̇�𝐵 = h𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑎 𝑐𝑎𝑙𝑑𝑒𝑖𝑟𝑎 − h𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜 / 𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑒𝑛𝑠𝑎𝑑𝑜𝑟

�̇�𝐵 = h6 − h5

Convém ressaltar que, na bomba, o trabalho específico ainda pode ser estimado de uma

forma mais simples, já que o líquido é praticamente incompressível, isto é, o volume

específico 𝑣 é constante. Para as condições descritas acima, o volume específico de

entrada na bomba é 0,001127 m3/kg. Com isso, tem-se que na região de líquido, um

processo isentrópico é dado por:

�̇�𝐵 = 𝑣 𝑑𝑃 = 𝑑ℎ ⟹ ∆ℎ = ∫ 𝑣 𝑑𝑃𝑃6

𝑃5

h6 − h5 = 𝑣 (𝑃6 − 𝑃5)

h6 = 2778,08 + 0,001127 (10300 − 1000) 𝑘𝐽/𝑘𝑔

h6 = 2.788,56 𝑘𝐽/𝑘𝑔

Por fim, os pontos de entrada e saída da caldeira são encontrados, como descrito acima

são os pontos 6 e 7. A partir da entalpia destes pontos, considerou-se a eficiência da

caldeira de 85% (Wylen, Borgnakke, & Sonntag, 2013).

Para cálculo do Poder Calorífico do Biogás será considerada a análise realizada por

Bustani (Bustani, 2015). Para o presente estudo adotou-se uma concentração de 60% de

metano no biogás, levando em consideração o estudo da seção 2.2. O poder calorífico do

biogás depende da porcentagem de metano (CH4) nele existente. O metano puro, em

condições normais de temperatura e pressão (1,0 atm e 273K), possui um poder calorífico

de 9,96 kWh/Nm³, ao passo que o biogás com concentração de metano variando entre

50% e 80% tem um poder calorífico inferior de 4,95 a 7,9 kWh/ Nm³ (Bustani, 2015).

Levando em consideração uma concentração média de metano no biogás de 60%, tem-se

um PCI de 5,98 kWh/Nm³, que é equivalente a 21.528 kJ/Nm³.

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Considerando a equação da continuidade para esta etapa é possível fazer o seguinte

balanço termodinâmico para calcular a quantidade de biogás que deve ser queimada

para a produção de energia na caldeira (Wylen, Borgnakke, & Sonntag, 2013):

∆h𝐶𝑎𝑙𝑑𝑒𝑖𝑟𝑎 ∗ �̇�3 = �̇�8 ∗ 𝑃𝐶𝐼𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠 ∗ 𝜂𝐶𝑎𝑙𝑑𝑒𝑖𝑟𝑎

(3.382,53 − 2.788,56 ) 𝑘𝐽/𝑘𝑔 ∗ 1,65 𝑘𝑔/𝑠 = �̇�8 ∗ 21.528 kJ/Nm3 ∗ 0,85

�̇�8 = 980,05 𝑘𝐽/𝑠

0,85 ∗ 21.528 kJ/m3

�̇�8 = 0,054 Nm3/𝑠

4.3 Resultados

Os resultados principais da simulação da Torre solar são resumidos na Tabela 8. Estes

são os resultados obtidos após a simulação realizada no SAM, representam a performance

anual da Torre solar considerando a termoacumulação de 2 horas.

Tabela 8 – Resultados da Planta Solar

Fonte: Elaboração própria

Também é possível obter pela simulação do SAM a energia produzida a cada hora do ano

pelo ciclo de potência, de acordo com a Figura 30 abaixo. Conclui-se que a geração é

satisfatória ao longo de todo o ano. Considerando que um ano tem 8.760 horas, os piores

momentos de geração são entre as horas 3mil-4 mil e 7mil-8 mil do ano, que são

equivalentes a abril maio, outubro, novembro e dezembro.

Métrica analizada Resultado

Energia Gerada por ano 1.524.677 kWh

Fator de Capacidade 17,6%

Consumo anual de água 819 m³

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Figura 30 – Energia produzida pelo ciclo de potência ao longo do ano

Fonte: Elaboração própria, baseado em dados obtidos pela simulação no SAM

Os meses que obtiveram uma boa geração de energia correspondem ao período de julho

a setembro, que coincidem com o período seco nas usinas hidroelétricas da bacia do Rio

São Francisco (Lucena, 2010). Ou seja, esta planta pode ser utilizada na região semiárida

para as épocas de seca. Além disso, esses valores de energia produzidos estão de acordo

com o perfil de incidência de DNI em Bom Jesus da Lapa, conforme foi apresentado na

seção 4.1.2 deste estudo, na medida em que planta tem baixa capacidade de

termoacumulação.

Outro resultado importante é a análise da quantidade de energia gerada ao longo do dia.

A partir dos resultados do SAM é possível obter este perfil de energia diário em cada mês

do ano, de acordo com a Figura 31. Nesta análise pode-se observar o total de energia

elétrica produzida pela planta solar (já desconsiderando as perdas parasíticas) e sua

relação com o despacho de energia pelo sistema de termoacumulação (TES).

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Figura 31 – Energia gerada diariamente, em cada mês do ano

Fonte: Elaboração própria, baseado em dados obtidos pela simulação no SAM

Ao analisar este resultado é possível perceber que a termoacumulação da planta CSP é

utilizada para complementar a energia solar no final do período de radiação. Em alguns

meses até supera as 2 horas definidas no projeto, pois a medida em que se opera a turbina

com uma capacidade menor do que a nominal, o sistema de termoacumulação é acionado.

É possível observar também que os meses que mais utilizam a TES e conseguem

acumular energia por longos períodos são aqueles em que a incidência de radiação solar

é elevada, de acordo com a Figura 22 deste estudo.

Em relação aos resultados obtidos para a hibridização da planta, conforme descrito na

seção 3.4, o sistema de biogás deve ser utilizado como backup da planta CSP quando a

radiação solar não estiver adequada para produção de energia, ou seja, durante a noite e

nos dias nublados.

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A partir dos resultados obtidos na simulação do SAM, analisando os 365 dias de

simulação, a média diária de tempo de produção de energia pela planta CSP é de 6 horas8.

Considerando a necessidade de produção média de energia por 16 horas por dia (proposta

por este estudo), a caldeira a biogás deverá trabalhar durante 10 horas em média por dia.

Dessa forma, como a caldeira precisa de 193 Nm³ de biogás para cada hora de

funcionamento, o consumo de biogás na caldeira será de 1930 Nm³ por dia.

De acordo com o experimento da Universidade de Shahrekord descrito na seção 3.4, a

taxa de biogás produzido por quilo de resíduo animal é de 0,03 Nm³/kg (Shamsabadi,

Jahangiri, Faegh, & Dehkordi, 2016).

𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑎𝑛𝑖𝑚𝑎𝑙 = 1930 Nm³

0,03Nm³/kg

𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑎𝑛𝑖𝑚𝑎𝑙 = 64.333 𝑘𝑔/dia

Considerando que a quantidade de resíduo produzido por cada cabeça de gado é igual a

32,6 kg/dia, será necessário um rebanho de gado com 1973 animais. Isso representa 3%

do rebanho total de Bom Jesus da Lapa, o que torna o sistema viável.

8 Este valor é a média de tempo (período) em que a planta CSP gera energia elétrica diariamente na

simulação realizada no SAM.

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5 Conclusão

Este estudo mostrou que é possível tecnicamente implementar plantas híbridas CSP com

uso de Torre solar e biogás no Brasil. O biogás é obtido a partir de resíduos de bovinos

que integram a agropecuária da cidade de Bom Jesus da Lapa. Os resultados mostraram

que para a geração de 1,1 MWe de energia na planta de biogás, durante 10 horas por dia,

é necessária a utilização de apenas 3% do rebanho da região.

A planta seria capaz de gerar 15,84 MWh/dia, o que é equivalente a 5,8GWh/ano.

Considerando o consumo residencial de eletricidade na Bahia de 6.889GWh (EPE, 2017)

e um número de residências no estado igual a 5.164.000 (EPE, 2017), chega-se ao

consumo médio anual de 1,3 MWh/residência.

Assumindo-se uma média de 2 pessoas por residência e um total de 69.148 habitantes em

Bom Jesus da Lapa (IBGE, 2019), é possível aferir que a quantidade de residências é de

34.574. Estima-se então que o município tem um consumo de 44.9 GWh anual,

equivalente a 123,1 MWh em média diária. Neste sentido, a planta seria capaz de atender

a 13% da demanda residencial da cidade de Bom Jesus da Lapa, atestando a viabilidade

técnica do estudo.

Como propostas de trabalhos futuros as recomenda-se analisar as variantes no ciclo

térmico. Neste estudo foi utilizado apenas o ciclo Rankine, mas pode ser utilizado o ciclo

Brayton, desde que o biogás seja purificado ao sair do biodigestor. Também pode ser

estudado um ciclo combinado, com a planta CSP utilizando o ciclo Rankine e o biogás o

ciclo Brayton. Além disso, existe a possibilidade de integração da turbina com o

biodigestor, para que a extração de vapor na turbina auxilie no controle de temperatura

do biodigestor.

Em relação ao combustível utilizado como backup do CSP, podem ser consideradas

diferentes origens para o biometano que é tratado no biodigestor. Neste estudo foram

utilizados resíduos da pecuária bovina, mas isto pode ser substituído por resíduos

agrícolas, resíduos de esgoto, resíduos sólidos urbanos e até mesmo efluentes líquidos.

Visto que na planta projetada a combustão do gás é realizada na caldeira, não há

necessidade de alta especificação e pureza do combustível.

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A análise econômica também é um outro ponto que pode ser endereçado para

complementar este estudo. O cálculo do custo nivelado de energia9 pode ser realizado

para verificação da viabilidade econômica da planta projetada. Ademais, é possível

otimizar o múltiplo solar com o objetivo de obter um melhor valor do custo nivelado de

energia.

Recomenda-se também o estudo detalhado da planta de biogás, no sentido de analisar o

armazenamento, transporte e limpeza dos resíduos orgânicos. Além disso, analisando a

geração de energia elétrica pelo sistema de biogás e pela termoacumulação, seria possível

encontrar a relação ótima desses componentes.

Por fim, é valido ressaltar a necessidade de P&D nesse tipo de tecnologia no Brasil, uma

vez que o país tem excelente índices de DNI, como mostrado no capítulo 2.

9 O custo nivelado de energia (LCOE) é a proporção entre os custos totais ao longo da vida econômica da

planta e geração esperada, em termos de valor presente equivalente.

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