sisal trabalho
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INTRODUÇÃO
O sisal (Agave sisalana), é da família Agavaceae, e é uma planta
grandemente utilizada para fins comerciais, sendo preferivelmente cultivado em
regiões semi-áridas. No Brasil, aparecem como principais produtores, os
estados da Paraíba e também é destaque na Bahia, especialmente na região
chamada de sisaleira, onde está localizado o maior pólo produtor e industrial do
sisal do mundo, que é a cidade de Conceição do Coité.
Do sisal, utiliza-se principalmente a fibra das folhas que, após o
beneficiamento, é destinada majoritariamente à indústria de cordoaria (cordas,
cordéis, fios, tapetes etc). A cultura teve seu apogeu econômico durante a
Crise do Petróleo nas décadas de 60 e 70. A utilização das fibras sintéticas,
porém a necessidade de preservação da natureza e a forte pressão dos grupos
ambientalistas vem contribuindo para o incremento da utilização de fios
naturais.
A Agave sisalana é uma planta originária do México. Os primeiros
bulbilhos do sisal foram introduzidos na Bahia, em 1903, pelo Comendador
Horácio Urpia Júnior nos municípios de Madre de Deus e Maragogipe, trazidos
provavelmente da Flórida, através de uma firma americana, foi difundido
inicialmente no estado da Paraíba e somente no final da década de 30 na
Bahia. Atualmente o Brasil é o maior produtor de sisal do mundo e a Bahia é
responsável por 80% da produção da fibra nacional.
A importância do sisal para a economia do setor agrícola nordestino
pode ser analisada sob diversos aspectos, merecendo destaque a geração de
renda e emprego para um contingente de aproximadamente 800 mil pessoas,
proporcionando divisas para os Estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do
Norte (EMBRAPA 2006).
O ciclo de transformação do sisal em fios naturais tem início aos 3 anos
de vida da planta, ou quando suas folhas atingem até cerca de 140 cm de
comprimento que podem resultar em fibras de 90 a 120 cm. As fibras
representam apenas 4 a 5% da massa bruta da folha do sisal. As folhas são
cortadas a cada 6 meses durante toda vida útil da planta que é de 6/7 anos. Ao
final do período é gerada uma haste (inflorescência), a flecha, onde surgem as
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sementes de uma nova planta. Uma característica da família é que a planta
morre após gerar as sementes.
O sisal pode ser colhido durante todo o ano: para isto ser possível, não
são destacadas do caule as folhas mais novas.
É uma planta resistente á aridez e ao sol intenso do sertão nordestino. É
a fibra vegetal mais dura que existe. Os principais produtos são os fios
biodegradáveis utilizados em artesanato; no enfardamento de forragens;
cordas de várias utilidades, inclusive navais; torcidos, terminais e cordéis. O
sisal também é utilizado na produção de estofos; pasta para indústria de
celulose; produção de tequila; tapetes decorativos; remédios; biofertilizantes;
ração animal; adubo orgânico e sacarias. As fibras podem ser utilizadas
também na indústria automobilística, substituindo a fibra de vidro. Uma
fibra sintética demora até 150 anos para se decompor no solo, enquanto a fibra
do sisal, em meses, torna-se um fertilizante natural.
Atualmente a Tanzânia, Quênia, Uganda (África Oriental) e Brasil, fazem
parte do maiores cultivadores de sisal do mundo. Também são de destaque os
países: Angola, México e Moçambique.
Este trabalho tem por objetivo revisar a cultura do sisal.
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1. O sisal no nordeste
A importância do sisal para a economia do setor agrícola nordestino pode
ser analisada sob diversos aspectos, merecendo destaque a geração de renda
e emprego para um contingente de aproximadamente 800 mil pessoas,
proporcionando divisas para os Estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do
Norte. Na Bahia, maior produtor desta cultura, com mais de 95% da produção
da fibra nacional, o cultivo do sisal se estende por 75 municípios atingindo uma
área de 190 mil ha, em propriedades de pequeno porte, menores que 15ha,
nas quais predominam a mão-de-obra familiar, perfazendo uma população de
aproximadamente 700 mil pessoas que vivem, direta ou indiretamente, em
estreita relação com esta fibrosa.
Apesar de sua importância, o desempenho dessa cultura no Estado vem
sofrendo, nos últimos anos, declínio na área plantada e na produtividade
estando os principais fatores responsáveis por este declínio ligados
diretamente ao baixo valor pago pela fibra, à competição com os fios sintéticos,
ao alto custo de produção, a falta de máquinas modernas para a colheita, a
longos períodos de estiagem e sobretudo ao fato de ser aproveitado apenas 3
a 4% do total da planta, referentes à porção da fibra.
Mesmo diante destas dificuldades, é preciso se entender que o sisal
continua sendo uma das poucas opções econômicas para a região semi-árida
do Nordeste do Brasil e dificilmente uma outra cultura poderá ser mais rentável
economicamente e mais vantajosa para a área em questão, por isso e é
imprescindível garantir sua continuidade, realizar estudos e trabalhos capazes
de estimular a expansão e promover o progresso tecnológico.
Este Sistema de Produção reúne os conhecimentos gerados na
Embrapa ao longo de 20 anos de pesquisa e descreve de forma sucinta e
objetiva os segmentos da cadeia produtiva do sisal. Aborda ainda, o
aproveitamento dos resíduos oriundos do desfibramento, com ênfase na
utilização da mucilagem para alimentação animal.
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2. Importância econômica
O sisal (Agave sisalana) é a principal fonte de extração de fibras duras
vegetais do mundo. No Brasil, o seu cultivo ocupa uma extensa área de solos
pobres na região semi-árida dos Estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do
Norte, em regiões com escassa ou nenhuma alternativa para exploração de
outras culturas.
A fibra do sisal beneficiada ou industrializada rende cerca de 80 milhões
de dólares em divisas para o Brasil, além de gerar, mais de meio milhão de
empregos diretos e indiretos por meio de sua cadeia produtiva, sendo o cultivo
dessa agavaceae um dos principais agentes de fixação do homem à região
semi-árida nordestina.
Apesar da sua relevância, tem-se constatado nos últimos anos, um
declínio contínuo desta cultura, expresso em reduções da área cultivada,
produção e produtividade. Vários fatores têm contribuído para esta decadência,
dentre os quais o baixo índice de aproveitamento da planta de sisal (somente
4% das folhas colhidas se convertem em produto vendável); a concorrência
com as fibras duras sintéticas; o elevado custo inicial para a produção da
monocultura sisaleira; a falta de variedades adaptadas às regiões produtoras; o
não aproveitamento dos resíduos do desfibramento, doenças e o manejo
deficitário da fertilidade dos solos.
Neste contexto, o desenvolvimento de novos sistemas de produção que
viabilizem a competição da fibra com os fios sintéticos, a redução de custos de
produção, o aproveitamento dos subprodutos do desfibramento e a maior
eficiência no processo de descorticamento, são fundamentais para elevar a
sustentabilidade da atividade sisaleira e promover a inclusão social das
comunidades que subsistem desta cultura.
3. A planta
O sisal é uma planta de elevada complexidade morfofisiológica, sendo
uma monocotiledônea. Apresenta sistema radicular fibroso e em forma de tufo.
Possui dois tipos de raízes designadas por transportadoras e alimentadoras,
sendo as primeiras responsáveis pela fixação da planta ao solo.
Não tem caule e as folhas são destituídas de pecíolos, podendo chegar a
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quase dois metros de comprimento. Os estômatos são em criptas e no
parênquima esponjoso acham-se embebidas as fibras, mecânicas e as em
forma de fitas. As flores são hermafroditas e agrupadas em cachos. Os frutos
são cápsulas com três lóculos e as sementes são pretas com seis a sete
milímetros na maior dimensão.
Apresenta metabolismo fotossintético do tipo CAM, abrindo os
estômatos à noite, para não perder água via transpiração durante o dia e se
beneficiar do orvalho. É uma espécie que prefere locais de altitude e possui
elevada resistência à seca e ao estresse térmico, apresentando eficiência
transpiratória e gastando pouquíssima água para produzir fitomassa – menos
de 100g de água/g de fitomassa, contra quase dez vezes mais no caso do
algodão herbáceo. Necessita de precipitação pluvial de pelo menos
400mm/ano e temperaturas médias entre 20 e 28°C. Prefere solos com
elevados teores de cálcio, que não encharquem facilmente e que tenham boa
fertilidade natural.
Pertence à classe das monocotiledôneas, família Agavaceae, subfamília
Agavoidea e seu principal produto é a fibra tipo dura, com elevados teores de
celulose e lignina, que oferecem inúmeras aplicações. Trata-se de uma espécie
perene, plurianual, porém monocárpica, fenecendo depois do processo de
frutificação, que demora alguns anos para ocorrer e se completar. Existem
duas espécies no gênero Agave, de importância econômica: A. Sisalana, que
tem a Bahia como maior produtor mundial, e a A. fourcroydes, explorada no
México sob a denominação de henequém e cuja fibra é utilizada para a
fabricação de fios e cordas.
As folhas, com ápice ponteagudo crescem em torno de um bulbo
central, são rígidas, lisas, cor verde – lustrosa com 10cm. de largura e 1,5m. de
comprimento aproximadamente.
4. Cultivares
Dois genótipos são utilizados no cultivo de sisal no Nordeste brasileiro:
A. sisalana ou sisal comum, que é amplamente cultivado na região, e o Híbrido
11648, que foi desenvolvido na região Oeste da África (SOUZA SOBRINHO et
al.,1985).
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O comprimento da folha e a resistência da fibra, características
importantes para a indústria, são qualidades intrínsecas de A. sisalana. O
híbrido 11648, entretanto, é mais resistente à seca, o que permite colheita
durante todo o ano. No processo de desfibramento, o híbrido 11648, quando
comparado a A. sisalana, tem a desvantagem de exigir maior esforço do
operador da máquina desfibradora; esta desvantagem, no entanto, pode ser
superada com o uso de máquinas desfibradoras automáticas.
Desta forma, ao escolher o genótipo a ser plantado, o agricultor deverá
levar em consideração a disponibilidade do clone em sua região, os critérios de
qualidade da fibra exigidos pela indústria e o tipo de máquina desfibradora
existente na propriedade (BEZERRA et al., 1991; SILVA e BELTRAO, 1999)
A espécie mais cultivada é a Agave sisalana. Há em uso os híbridos-da-
Paraíba e híbrido-do-Rio-Grande-do-Norte, mais exigentes em solo/clima e que
produzem até 700 folhas no ciclo (6 a 8 anos), contra 180 a 240 folhas do
comum em 5 a 15 anos. O ciclo médio de vida do sisal comum é 8 anos, findos
os quais a planta entra em floração e morre sem frutificar. O híbrido frutifica.
5. Cadeia produtiva
O sisal é a principal fibra dura produzida no mundo, correspondendo a
aproximadamente 70% da produção comercial de todas as fibras desse tipo.
No Brasil, a agaveicultura se concentra em áreas de pequenos produtores, com
predomínio do trabalho familiar. Além de ser fonte de renda e emprego para
muitos trabalhadores, o sisal fixa o homem no semi-árido nordestino, onde, não
raro, é a única alternativa de cultivo com resultados econômicos satisfatórios
para comunidades e famílias inteiras.
A fibra do sisal, beneficiada ou industrializada, rende mais de 80 milhões
de dólares em divisas para o Brasil, além de gerar mais de meio milhão de
empregos na sua cadeia de serviços, que começa com as atividades de
manutenção das lavouras, colheita, desfibramento e beneficiamento da fibra e
termina de forma direta com uma industrialização bastante concreta, e a
confecção de artesanato.
Levando-se em consideração o grande número de trabalhadores
envolvidos nos processos produtivo e industrial da fibra do sisal, é fundamental
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a busca de alternativas que viabilizem a competição da fibra com os fios
sintéticos, que são os principais responsáveis pelo baixo preço do sisal no
mercado internacional, portanto a redução de custos de produção, o
aproveitamento dos subprodutos do desfibramento e a maior eficiência no
processo de descorticamento são pontos que devem ser enfocados em
primeiro plano para tornar a cultura mais atrativa ao produtor rural.
5.1 Clima
A temperatura de conforto para o sisal fica em torno de 25ºC (média), e
chuvas entre 1.000-1.500mm/ano bem distribuídas.
5.2 Solos
Os solos ideais são os que possuem textura média (areno-argiloso a
argilo-arenoso), rico em cálcio, magnésio e potássio, permeável, com boa
drenagem, boa fertilidade, livres de encharcamento, profundidade mínima de
0,5m., pH 5,5 a 6,0, declividade abaixo de 5%.
5.3 Plantio
Em terrenos planos, recomenda-se que as linhas de plantio sejam
orientadas no sentido norte-sul, a fim de evitar o sombreamento entre as
plantas. É aconselhável também, dividir a área em talhões de
aproximadamente 2 ha, com o objetivo de facilitar a operação de colheita e o
transporte das folhas.
O plantio das mudas poderá ser realizado em sulcos, com o auxílio de
um sulcador tratorizado, em solos que permitam o tráfego de máquinas. Em
terrenos com topografia acidentada, pode-se também plantar as mudas em
covas, com o uso de enxadas ou enxadões. Na região Nordeste, a época
adequada para o plantio é antes do início da estação chuvosa.
5.4 Preparo da área
Limpeza, queima, aração, gradagem, adubação.
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Aração: a trator ou animal, a uma profundidade de 20cm., cortando-se o
sentido das águas.
Gradagem: deve ser leve para nivelar o terreno e eliminar ervas daninhas.
6. Material para Plantio
O sisal é propagado assexuadamente por bulbilhos e rebentos. Os
bulbilhos são produzidos no escapo floral, após a queda das flores; os rebentos
se originam de rizomas subterrâneos emitidos pela planta-mãe. Normalmente,
os rebentos têm sido mais utilizados no plantio do sisal no Nordeste brasileiro
Caso sejam escolhido rebentos, como material para plantio, estes
devem ser selecionados levando-se em consideração os seguintes aspectos:
A planta-mãe deve ser sadia, ter adequado desenvolvimento
vegetativo e produtivo, assim como boas condições fitossanitárias;
Devem ser separados quanto à idade, tamanho e diâmetro do
bulbo;
Descartar os rebentos advindos de plantas-mãe no final de ciclo,
pois estes possuem menor longevidade;
Devem ser selecionados de acordo com a sua altura (40 a 50cm)
e número de folhas (entre 12 e 15).
Como dispensam enviveiramento, os rebentos são mais disponíveis
que os bubilhos, diminuindo despesas adicionais. Além disto, são resistentes
às intempéries climáticas, podendo ser arrancados e armazenados por alguns
dias em lugares frescos e abrigados do sol e do vento.
No caso de se optar por bulbilhos, como material para plantio, estes
deverão ser cultivados considerando os seguintes aspectos:
O viveiro deverá ser alocado em terreno fértil, de boa drenagem,
propício à irrigação e próximo da área de plantio definitivo;
Os bulbilhos selecionados deverão apresentar tamanho superior a
10cm, sendo, preferencialmente, isentos de espinho nos bordos laterais das
folhas;
A planta mãe deve ser produtiva, vigorosa e saudável.
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O plantio em viveiro deverá ser feito no espaçamento de 20cm entre
plantas e de 50cm entre linhas, onde a planta permanece neste local até atingir
a altura de 40 a 50cm.
Na escolha do tipo das mudas para a formação do campo de sisal,
deverão ser considerados fatores econômicos e a disponibilidade de material
adequado na área, pois não existe diferença quanto a produtividade, qualidade
de fibra e longevidade das plantas em sisalais formados por bulbilhos ou
rebentos (MEDINA, 1963).
No plantio definitivo, a muda deve ser alinhada com a fileira de plantas,
na posição vertical, alocando-a em profundidade adequada (aproximadamente
20cm), tendo o cuidado de manter a parte de inserção das folhas do colo fora
da superfície do solo. A fim de dar maior sustentação, deve-se comprimir a
terra ao redor da muda.
6.1Configuração e Densidade de Plantio
Existem basicamente dois tipos de plantio de sisal: o tradicional ou em
fileiras simples e o plantio em fileiras duplas (MEDINA, 1954). A escolha da
configuração adequada deverá levar em consideração fatores relacionados
com a topografia, tipo de solo, disponibilidade de mão de obra e existência de
outro tipo de atividade agrícola na propriedade, entre outros.
6.2Plantio em Fileiras Simples
O sistema de plantio em fileiras simples, amplamente utilizado nas
principais regiões produtoras é composto por espaçamento de 2,0x1m, com
uma população de 5000 plantas/ha. Entretanto, em cultivos mais tecnificados,
são recomendados espaçamentos mais largos, como 2,5x1,0m, que mantêm
densidade de 4.000 plantas/ha e possibilita a implantação de culturas
intercalares nos dois primeiros anos, além de permitir que algumas operações
sejam mecanizadas, tais como o roço e o transporte das folhas.
Para a situação de consórcio de sisal com a pecuária bovina, o
espaçamento mais recomendado é o de 3x1,5m, com densidade de 2200
plantas/ha, o que facilita a ampla circulação dos animais.
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6.3Plantio em Fileiras Duplas
O sistema de plantio em fileiras duplas é adequado principalmente para
grandes áreas, em que são utilizadas práticas de cultivo mais elaboradas. Esta
configuração permite maior proteção do solo quanto aos efeitos da erosão;
entretanto, torna os tratos culturais dispendiosos, principalmente a operação do
roço (MEDINA, 1954; LOCK, 1969). Os espaçamentos mais recomendados
para plantio em fileiras duplas são: 3x1x1m com 3,3 mil plantas/ha e 4x1x1m
com 2,5 mil plantas/ha.
6.4Plantio propriamente dito
Abre-se covas (20cm.) com enxadas apropriadas, coloca-se a muda
em terreno úmido apertando-se a terra em volta da muda. O plantio faz-se nos
períodos normais de chuvas (inverno e/ou trovoadas).
7. Tratos
Capinas ou Roço
O sisal é bastante sensível a concorrência das plantas invasoras,
especialmente nos dois primeiros anos, por isso recomenda-se duas a três
capinas no primeiro ano, dependendo da incidência das invasoras, e uma ou
duas capinas no segundo ano, podendo ser a primeira após o início do período
chuvoso e a segunda ao final deste período. As operações de limpeza podem
ser feitas com o cultivador a tração animal ou, então, tratorizadas com uma
grade leve, quando o espaçamento entre fileiras o permitir. Em ambos os
casos, recomenda-se a capina manual com enxada ou enxadão, entre as
plantas de sisal, como complemento das operações anteriores.
A partir do terceiro ano, recomenda-se o roço manual ou tratorizado,
uma ou duas vezes ao ano. Caso seja uma vez ao ano, este deverá ser no final
do período chuvoso. Quando as operações de limpeza forem realizadas com o
trator deve-se um afastamento mínimo de 50cm das folhas baixeiras a fim de
evitar danos às mesmas.
Erradicação dos Rebentos
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Após a colheita das folhas, é necessário erradicar o excesso de
rebentos para evitar a competição destes com a planta-mãe por
fotoassimilados. Recomenda-se deixar um ou dois filhotes para substituir a
planta mãe, a partir do terceiro ou quarto corte de folhas . Estes deverão ser
vigorosos e estar alinhados à fileira de plantio.
- Eliminar e substituir plantas que emitirem o pendão.
- Efetuar o raleamento deixando-se sempre 2 rebentos por planta-mãe
(época da roçagem), a partir do 3º ano.
- Adubar com químicos no plantio e após colheita; adubar com resíduo
de sisal à distância mínima de 20cm. do pé.
- Renova-se o plantio quando 70% das plantas tiverem emitido o
pendão floral.
8. Pragas e Doenças
Cochonilha, joaninha, vespas, fungos.
Doenças são decorrentes de desequilíbrio nutricional e estagnação de
água no solo.
Embora a epiderme da folha de sisal com sua cutícula espessa e
cerosa possa conferir uma barreira natural à penetração de microrganismos
patogênicos, esta planta pode ser afetada por várias doenças capazes de
causar sérios prejuízos à cultura (BOCK, 1965).
Há várias doenças que afetam o sisal, mas apenas duas foram relatadas
até o presente no Brasil: a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum
agaves (MEDINA, 1954), que não se constitui propriamente um problema
fitossanitário de importância econômica, e a podridão vermelha do tronco, ou
simplesmente podridão do tronco do sisal (LIMA et al., 1998), que tem afetado,
de forma isolada, desde a década de 1970, os sisalais do Brasil, nas principais
áreas produtoras dos estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte,
atingindo níveis críticos a partir de 1998. A incidência da doença varia entre as
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regiões de cultivo; em algumas, não ultrapassa 5% da área e, em outras, pode
alcançar 40% de infestação (ALVES et al., 2004). As folhas de plantas afetadas
pela podridão do tronco não se prestam ao desfibramento e as plantas
sintomáticas morrem com o progresso da doença.
Embora ainda existam dúvidas com relação a etiologia da doença, três
fungos já foram relatados causando podridões no tronco do sisal: Pythium
aphanidermatum, Lasiodiplodia theobromae e Aspergillus niger (BOCK, 1965;
LIMA et al, 1998; IKITOO e KHAYRALLAH, 2001). Esses fungos são
classificados como saprófitas ou parasitas fracos em função de serem
dependentes de lesões de origem mecânica ou fisiológica e de condições
ambientais adversas ao hospedeiro para iniciar o processo de infecção. No
Brasil, apenas L. theobromae foi relatada causando podridão no tronco do sisal
(LIMA et al.,1998).
A doença é caracterizada pelo escurecimento dos tecidos internos do
tronco; as áreas afetadas variam da coloração cinza-escuro ao rosa pálido e se
estendem da base das folhas à base do tronco da planta (LIMA et al.,1998).
Em plantas com estádios avançados da doença, as folhas se tornam
amareladas e o tronco completamente apodrecido. Embora seja fatal para a
cultura, plantas de sisal infectadas pela doença podem sobreviver por algum
tempo, em função do apodrecimento resultante da colonização pelo(s)
agente(s) etiológico(s) ocorrer de forma lenta (BOCK, 1965). A podridão do
tronco afeta plantas de sisal em todos os estágios fenológicos, desde rebentos
a plantas no final do ciclo.
Os fungos relatados até o momento como causadores de podridões no
tronco de sisal não penetram em tecidos não injuriados do hospedeiro
(WALLACE e DIEKMAHNS, 1952; LOCK, 1962; LIMA et al., 1998),
necessitando, portanto, de lesões de origem mecânica ou fisiológica; portanto,
ferimentos causados na base das folhas por ocasião do corte dessas folhas
para o desfibramento e aqueles causados abaixo da superfície do solo por
instrumentos utilizados para realização de tratos culturais, como capinas,
desbaste de touceiras ou mesmo a retirada de filhotes (rebentos) da planta-
mãe para implantação de novos campos ou renovação de áreas, poderão
constituir-se em importantes vias de penetração para esses patógenos,
principalmente em plantas submetidas a algum tipo de estresse (deficiência
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hídrica e nutricional).
Não existe tratamento curativo para a podridão do tronco do sisal;
entretanto, algumas medidas preventivas podem ser implementadas no manejo
da doença, como arrancar e queimar plantas com sintomas da doença; plantar
filhotes (rebentos) provenientes de campos sadios para implantação de novos
campo; utilizar o resíduo do desfibramento como adubação orgânica para
melhorar a fertilidade do solo, evitando-se estresses nutricionais à planta.
9. Colheita e pós-colheita
Corte das Folhas
No cultivo de A. sisalana, cujo ciclo varia entre 8 e 10 anos, o primeiro
corte é realizado aproximadamente aos 36 meses após o plantio, no qual
podem ser colhidas de 50 a 60 folhas/planta. Nesta primeira colheita, 30 a 40%
são folhas curtas, impróprias para a cordoaria enquanto, que nas colheitas
subseqüentes, são retiradas cerca de 30 folhas/planta. Para o sisal híbrido
11648, que tem ciclo de vida semelhante ao de A. sisalana, o primeiro corte é
realizado aos 48 meses, podendo ser colhidas cerca de 110 folhas/planta. Nas
colheitas subseqüentes são extraídas entre 50 a 70 folhas/planta. Em
condições normais de colheita recomenda-se após o corte, deixar de sete a
nove folhas remanescentes para A. sisalana e de nove a doze folhas para o
híbrido 11648.
As operações de corte, enfeixamento, transporte e desfibramento
devem ser sincronizadas, de modo que as folhas cortadas sejam beneficiadas
no mesmo dia, para evitar o murchamento, o que dificulta o desfibramento e
causa depreciação da fibra.
Transporte
No Nordeste brasileiro, o transporte mais comum das folhas de sisal do
campo até a máquina desfibradora é feito por jumentos. O animal pode
transportar uma carga de aproximadamente 200 folhas, cujo peso varia de 100
a 130 Kg. Quando há uma máquina desfibradora automática, que é fixa e tem
maior capacidade de processamento, as folhas são reunidas em feixes de
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aproximadamente 50 unidades e transportadas em caminhão ou reboques
tracionados a trator.
9.1Tratos Pós-colheita
Desfibramento
A principal operação pós-colheita é o desfibramento do sisal, processo
pelo qual se elimina a polpa das fibras, mediante uma raspagem mecânica, o
que torna esta prática complexa e de custo elevado. No Nordeste brasileiro, o
desfibramento é realizado por meio de uma máquina denominada “motor de
agave” ou “máquina Paraibana”. Esta máquina desfibra em torno de 150 a
200kg de fibra seca em um turno de 10 horas de trabalho, desperdiçando, em
média, 20 a 30% da fibra. Além disso, envolve um número elevado de pessoas
para a sua operacionalização (SILVA e BELTRÃO, 1999). As mão de obra
envolvida no desfibramento com a máquina paraibana pode ser dividida
em:Colhe as folhas das plantas, cortando-as com um instrumento apropriado
denominado foice. Cortador: O número de pessoas envolvidas nesta atividade
pode variar de uma a três;
1. enfeixador: Amarra as folhas em forma de feixes que serão
transportados até a máquina de desfibradora;
2. cambiteiro: Recolhe os feixes e os transporta até a máquina, com o
auxílio de tração animal;
3. puxador: É o responsável pela operacionalização da máquina. Esta
atividade envolve uma ou duas pessoas, dependendo da região produtora;
4. fibreiro: Responsável pelo abastecimento da máquina com as folhas e
pela recepção das fibras, que são pesadas com umidade. Esta atividade
poderá ser realizada por uma ou duas pessoas;
5. bagaceiro: Retira da parte inferior da máquina os resíduos sólidos do
desfibramento. Esta atividade pode envolver uma ou duas pessoas;
6. lavadeira: Faz a lavagem, secagem e armazenamento da fibra.
A rusticidade da máquina exige grande esforço do operador (puxador).
Em uma operação normal desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto,
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ou 1.200 a 1.800 folhas por hora. A fadiga, aliada à falta de segurança da
máquina, expõe os operadores a constantes riscos de acidentes, o que
constitui em um dos principais problemas da operação de desfibramento da
folha do sisal.
A rusticidade da máquina exige grande esforço do operador (puxador).
Em uma operação normal desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto,
ou 1.200 a 1.800 folhas por hora. A fadiga, aliada à falta de segurança da
máquina, expõe os operadores a constantes riscos de acidentes, o que
constitui em um dos principais problemas da operação de desfibramento da
folha do sisal.
Nas regiões produtoras de sisal existe um grande número de pessoas
com mãos mutiladas pela máquina Paraibana. No entanto, é importante
salientar que pelo fato deste equipamento ser um dos únicos disponíveis no
mercado, ter baixo custo aquisitivo e ser de fácil manutenção, tem grande
aceitação por parte dos pequenos e médios produtores. Desde o surgimento da
máquina Paraibana, poucas modificações foram introduzidas com o propósito
de melhorar sua capacidade produtiva e a redução dos riscos de acidente.
Dentre essas modificações, destaca-se o dispositivo protetor montado no
orifício de alimentação da máquina, desenvolvido pela Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), com a
finalidade de evitar que a mão do operador alcance o rotor desfibrador (ROBIN
e XAVIER FILHO, 1984).
9.2Lavagem e secagem da fibra
Após o término da operação diária de desfibramento, a fibra obtida é
transportada em carrinho de mão ou no dorso de animais, para tanques com
água limpa, onde deverá ser imersa durante oito a doze horas. Isto é
necessário para a eliminação dos resíduos da mucilagem péctica e da seiva
clorofílica, que ficam aderidos a fibra de sisal. Não é aconselhada a utilização
de água salobra para a lavagem da fibra do sisal, em virtude da sua alta
higroscopicidade, que poderá afetar a qualidade da fibra depois de secas.
Após a lavagem, as fibras deverão secar ao sol por 8 a 10 horas. Se
este período for ultrapassado, os raios solares poderão depreciar a fibra,
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causando amarelecimento. O local de secagem poderá ser uma área onde as
fibras não absorvam impurezas, como em varais ou estaleiros, feitos com fio de
arame galvanizado, ou em área cimentada devidamente limpa. Depois de
secas, as fibras são arrumadas em pequenos feixes, denominados de
manocas, amarradas pela parte mais espessa e armazenadas em depósito
sem serem dobradas.
9.3Limpeza da Fibra
No Nordeste brasileiro, grande parte dos produtores de sisal
comercializa seu produto na forma bruta, sem realizar qualquer processo de
melhoria do produto, como o batimento ou penteamento. Esta operação visa
remover o pó e o tecido parenquimatoso aderido aos feixes fibrosos, além de
retirar as fibras de pequeno comprimento, o que resulta em um produto limpo,
brilhoso, macio e valorizado.
As batedeiras são máquinas de funcionamento semelhante às
desfibradoras, e são dotadas de um tambor rotativo de aproximadamente
0,60m de diâmetro e seis lâminas planas de 5cm de largura, protegidas por
uma tampa metálica, que gira no sentido inverso ao das desfibradoras. A
velocidade de giro do tambor está em torno de 200 rpm. Nesta operação,
geralmente, são perdidas entre 8 a 10% do peso original da fibra.
O pó, que é um resíduo do batimento, pode ser utilizado como adubo
orgânico e até mesmo em misturas para ração animal, enquanto que a bucha
pode ser empregada para obtenção de celulose, no revestimento interno de
estofados e como componente de polímeros para uso doméstico e até mesmo
para a indústria automobilística.
9.4Seleção e Classificação da Fibra
Após o batimento, as fibras são selecionadas de acordo com os
padrões de classificação vigentes no Brasil, segundo Portarias do Ministério de
Agricultura e Abastecimento, tendo como base a classe (comprimento) e o tipo
(qualidade) da fibra.
A fibra beneficiada de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 71, de
16 de março de 1993 (BRASIL, 1987), quanto à classe em longa (comprimento
18
acima de 0,90m), média (comprimento entre 0,71 e 0,90m) e curta
(comprimento entre 0,60 e 0,70m), e quanto ao tipo em Tipo Superior, Tipo 1,
Tipo 2 e Tipo 3, conforme detalhamento:
Tipo superior: Material constituído de fibras lavadas, secadas e bem
batidas ou escovadas, de coloração creme-claro, em ótimo estado de
maturação, com maciez, brilho e resistência bem acentuados, umidade máxima
de 13,5%, bem soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, de
substâncias pécticas, de entrançamentos e nós, fragmentos de folhas e
cascas, e de quaisquer outros defeitos.
Tipo 1: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de
coloração creme-claro ou amarelada, em ótimo estado de maturação, com
maciez, brilho e resistência normais, manchas com pequena variação em
relação à cor, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas
de impurezas, substâncias pécticas, entrançamentos e nós, fragmento de
folhas e cascas, e de quaisquer outros defeitos.
Tipo 2: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de
coloração amarelada ou pardacenta, com pequenas extensões esverdeadas,
em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ligeiramente
ásperas, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de
impurezas, entrançamentos, nós e cascas.
Tipo 3: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de
coloração amarelada, com parte de tonalidade esverdeada, pardacenta ou
avermelhada, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais,
ásperas, manchas com variação bem acentuadas em relação à cor, umidade
máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas,
entrançamentos, nós e cascas.
A fibra bruta de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 211, de 21 de
abril de 1975, em quatro classes: Extra longa – EL (comprimento acima de
1,10m), Longa – L (comprimento acima 0,90 até 1,10m), Média – M
(comprimento acima de 0,70 até 0,90m) e Curta – C (comprimento de 0,60 até
0,70 m), e em dois tipos (A e B), conforme detalhamento:
TIPO A: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, lavadas,
brilho, natural, cor creme claro, uniforme, secas, com grau de umidade de
13,5%, com quantidades normais de fragmentos de polpa aderentes aos feixes
19
fibrosos, rigorosamente selecionados quanto à classe e que, depois de
submetidas ao processo de escovamento ou batimento, em condições normais
(adequada armazenamento e tempo hábil), se enquadrem no Tipo Superior
e/ou Tipo 1 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.
TIPO B: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, brilho natural,
cor creme-claro ou amarelada, secas, com grau de umidade que não exceda
de 13,5%, com quantidades normais de fragmentos da polpa, aderentes aos
feixes fibrosos, rigorosamente selecionadas quanto à classe e que, depois de
submetidas ao processo de escovamento ou batimento, em condições normais
(adequada armazenamento e tempo hábil), e enquadrem no Tipo 1 e/ou no
Tipo 2 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.
9.5Enfardamento
Depois de classificada, a fibra é acondicionada em fardos para o seu
transporte até a indústria de fiação. Os fardos são preparados em prensas
mecânicas ou hidráulicas, dotadas de caixas de dimensões médias de
150x50x70cm, podendo variar entre 200 e 250kg de peso. O fardo deve ser
envolto por uma faixa de tecido contendo as seguintes informações, em
caracteres perfeitamente legíveis: produto, safra, lote, número do fardo, nome
da prensa, classe, tipo, peso bruto, local de prensagem, cidade, unidade
federativa e data da prensagem.
9.6Armazenamento
O armazenamento é uma operação simples, desde que sejam
observados os seguintes pontos:
Os fardos deverão ser colocados em duas pilhas cruzadas, em
cada lado do corredor central do armazém. A altura da pilha deverá ter no
máximo 2,4m, de modo a facilitar a ventilação dos fardos;
O armazém deverá oferecer segurança contra incêndio, ter boa
ventilação e possuir número suficiente de portas para o escoamento do produto
armazenado;
20
Deverá ser rigorosamente proibido fumar nos armazéns e, por
medida de precaução, os mesmos deverão possuir de sistemas de combate a
incêndios.
10.Mercado e comercialização
Na região sisaleira do Nordeste brasileiro, a comercialização da fibra é
formada por uma cadeia de intermediários desde o processamento
(desfibramento, batimento e enfardamento) até a comercialização. Geralmente,
o produtor negocia sua lavoura com o proprietário do motor (desfibrador) que,
por sua vez, estabelece uma relação financeira com o intermediário, que
financia todas as despesas com o desfibramento e transporte, em troca do
compromisso de entrega da fibra bruta. Este intermediário poderá ser o agente
de compra que comercializa a fibra bruta ou aquele que beneficia em sua
batedeira para depois entregá-la à indústria ou ao exportador.
11.Aproveitamento da fibra
Apenas 3 a 5% do peso das folhas de sisal são aproveitadas; o
restante, chamados de resíduos de desfibramento, constituem, em média, 15%
de mucilagem ou polpa (formado pela cutícula e por tecido palissádico e
parenquimatoso), 1% de bucha (fibras curtas) e 81% de suco ou seiva
clorofilada (HARRISON, 1984).
A fibra é industrializada e convertida em fios, barbantes, cordas, tapetes,
sacos, bolsas, chapéus e artesanato. Também pode ser utilizada na fabricação
de pasta celulósica, empregada na confecção do papel Kraft e de outros tipos
de papéis finos. Além dessas aplicações, a fibra de sisal pode ser empregada
na indústria automotiva, de móveis e eletrodomésticos, na mistura com
polipropileno e na construção civil. Apesar de todas essas aplicações, a
principal utilização da fibra do sisal é a fabricação de fios agrícolas (Twines).
O Baler Twine é o principal fio agrícola produzido da fibra de sisal. Este
produto é feito de fio torcido, elaborado a partir de fibras de sisal paralelizadas
que, necessariamente, devem ter uniformidade de comprimento para
regularidade do seu diâmetro e melhor resistência. O Baler Twine é utilizado
para a amarração de fardos de feno de cereais (alfafa, palhada de aveia, trigo,
21
centeio etc.) nos Estados Unidos, Canada e Europa (RIGHT, 1985) e, mais
recentemente no Brasil.
11.1 Aproveitamento dos resíduos do desfibramento
Poucos são os produtores que aproveitam os resíduos do
desfibramento para recompor parte da fertilidade de suas lavouras de sisal ou
como alimento para ruminantes. Quando utilizados como adubo, os resíduos
são distribuídos na própria cultura, entre as fileiras do sisal para depois ser
espalhada em toda a área.
Frequentemente, observam-se bovinos, ovinos e caprinos alimentando-
se dos resíduos frescos do desfibramento mas, quando utilizado in natura, este
alimento pode ocasionar problemas aos animais., pela presença de uma
grande quantidade de fibra (bucha) e suco (seiva). A ingestão destes resíduos
poderá ocasionar a oclusão do rúmen do animal em função da sua não
degradação pela flora bacteriana, causando timpanismo (FIGUEREDO, 1974;
PAIVA, 1986).
A separação da bucha da mucilagem poderá ser realizada por meio de
um equipamento de concepção simples e de baixo custo, denominado peneira
ou gaiola rotativa, desenvolvido pela Embrapa Algodão. O equipamento deverá
ser instalado próximo a máquina desfibradora para aproveitar todo o resíduo
produzido no processo de desfibramento.
A mucilagem contém altas concentrações de cinza e cálcio e baixos
teores de proteína bruta e fósforo. Para viabilizar uma ração equilibrada, é
conveniente a adição de elementos que estejam ausentes, como por exemplo o
nitrogênio, por meio da uréia pecuária, que pode elevar os níveis de proteína
bruta, melhorando a conversão do Nitrogênio Não Protéico (NNP) em proteína,
pela microbiota do rúmen (HARRISON, 1984; FIGUEREDO, 1974; PAIVA,
1986; LAKSESVELA e SAID, 1970; GOHL, 1975).
A mucilagem de sisal pode ser utilizada na alimentação animal in natura,
na forma de feno ou silagem. O processo de fenação e ensilagem da
mucilagem de sisal são descritas abaixo:
Fenação: A mucilagem peneirada deverá ser exposta ao sol em área
cimentada ou chão batido limpo, em camadas finas e uniformes de 5cm a 7cm
22
de espessura pelo tempo de dois a três dias, até alcançar o teor de umidade
entre 15 a 20%. Durante o dia, recomenda-se fazer o revolvimento da massa,
para uniformizar a secagem e, ao final deste, amontoar e cobrir a massa com
lona plástica para evitar a umidade noturna.
Ensilagem: A mucilagem pós desfibramento tem entre 90 a 95% de
umidade e para ser ensilada adequadamente, esta umidade deverá ser
reduzida para 30%, através da exposição ao sol, em procedimento semelhante
ao descrito para fenação. A ensilagem poderá ser feita na forma de monte,
sobre o solo, coberto com lona ou em silos do tipo trincheira ou, ainda, em
sacos plástico. Para todos esses métodos é necessário que se faça a
compressão do material, visando a expulsão do ar contido na massa ensilada.
A mucilagem fenada ou ensilada deve ser oferecida aos animais
misturadas a uma fonte de nitrogênio, como a uréia pecuária e uma fonte de
enxofre, que pode ser sulfato de cálcio ou sulfato de amônio. Se a fonte de
enxofre escolhida for o sulfato de cálcio (gesso agrícola), utilizar-se-á uma
parte para quatro partes de uréia pecuária; se utilizado sulfato de amônio,
adicionar-se-á uma parte para nove partes de uréia pecuária. A uréia pecuária
e a fonte de enxofre escolhida devem ser bem misturadas com o auxílio de
uma pá ou enxada, e o composto resultante guardado em local seco, fora do
alcance dos animais.
O composto uréia pecuária e fonte de enxofre deve ser diluído em água
e adicionado a mucilagem fenada, uniformemente, iniciando-se com 0,5%, nos
três primeiros dias, aumentando-se para 1,0% nos três dias subseqüentes, até
atingir 2,0%, a partir do nono dia (período de rotina).
Além desta mistura, recomenda-se que a mucilagem seja associada a
outros alimentos protéicos ou não protéicos a fim de tornar a ração mais
equilibrada e melhorar a sua palatabilidade. Dentre os alimentos utilizados
destaca-se a torta de algodão, farelo de trigo, milho moído, leucena, capim
buffel, palma forrageiras, entre outros (SILVA et. al., 1999).
12.Novos usos
A utilização de materiais compostos por uma mistura de fibras naturais
com plásticos reciclados pós-consumo (lixo) ou virgens é uma alternativa que
23
terá grande demanda no futuro próximo, devido à crescente escassez e alto
custo de materiais sintéticos baseados no petróleo como os plásticos. A
crescente substituição de plásticos por fibras naturais tem ainda vantagens
ecológicas (fibras naturais são recicláveis e renováveis), sociais (criação de
empregos rurais), mecânicas (mais leves e mais resistentes que fibras
concorrentes como a fibra de vidro) e econômicas (são mais baratas). Painéis
interiores de automóveis já são fabricados com estes materiais, mas muito
estudo será ainda necessário para determinar a composição ótima para cada
aplicação, com diferentes propriedades mecânicas (resistência, segurança
ativa e passiva) e químicas.
A imensa variedade e disponibilidade de fibras naturais no Brasil, faz
deste estudo uma área de investimento muito promissora. As pressões
ambientalistas e a crescente competitividade pressionam nossas empresas a
fazer mais (quantidade de produtos, qualidade) com menos (matérias-primas,
energia, impacto ambiental, etc.). A intensidade de uso dos materiais deve
levar em conta o custo de fabricação, utilização, reutilização, reciclagem e
disposição final. Em outras palavras, deve-se aumentar a eficiência de
conversão dos recursos naturais, prolongar a vida útil dos produtos, considerar
sua reciclabilidade e usar tecnologias ambientalmente corretas ao meio
ambiente e aos trabalhadores da empresa.
A indústria de compósitos tem a expectativa de ser o mais importante
segmento da indústria de plásticos. As perspectivas são imensas para atender
a mercados em grandes quantidades, com baixo preço e que ofereçam um
balanço favorável de produto, qualidade, desempenho e custo. As fibras
naturais são de particular interesse, pois são abundantes, renováveis,
apresentam baixa densidade, e ainda são extremamente favoráveis sob a
relação resistência-peso, comparadas com outros materiais poliméricos.
13.CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sisal destaca-se pela capacidade de geração de empregos, por meio
de uma cadeia de serviços que abrange, desde os trabalhos de manutenção
das lavouras (baseados na mão-de-obra familiar), a extração e o
processamento da fibra para o beneficiamento, até as atividades de
24
industrialização de diversos produtos, bem como seu uso para fins artesanais.
A resistência do sisal ao clima adverso tem sido uma das razões por
que, em algumas áreas do Nordeste, os agricultores optaram pelas
explorações sisaleiras. O segmento do sisal é intensivo em de mão-de-obra em
todas as fases de implantação, manutenção, colheita e desfibramento. Além do
contingente de mão-de-obra diretamente ocupado na atividade sisaleira,
grande número de outras pessoas é dependente dessa cultura ainda no setor
primário, bem como no secundário e terciário. Pertencem a essas categorias os
proprietários sitiantes, os fazendeiros que exploram o sisal, os fazendeiros
administradores, os fazendeiros ausentes e os demais agentes da produção
que estão nos outros setores da economia (beneficiadores, industriais e
exportadores).
ALVES e SANTIAGO (2005) resalta que as principais estratégias para o
desenvolvimento socioeconômico do sisal podem ser delineadas a partir das
seguintes ações:
- Incentivar a realização de pesquisas científicas sobre o sisal nas
universidades, Embrapa e centros de pesquisa, no intuito de potencializar a
sua exploração econômica. Seria importante desenvolver experimentos
utilizando a bioquímica no processo de desfibramento da folha do sisal, forma
de eliminar o desfibramento mecânico e melhorar a produtividade e as
condições de trabalho.
- Paralelamente, promover articulação das universidades, órgãos de
pesquisa e empresas privadas com institutos de pesquisa de excelência para
que seja projetada máquina desfibradora que aumente a produtividade e
elimine a possibilidade de causar acidentes de trabalho.
- Disseminar os resultados das pesquisas concluídas e em andamento
sobre as variadas alternativas de exploração econômica do sisal (fármacos,
geotêxteis, componentes para uso na indústria automobilística, química,
construção civil, papel e celulose). É fundamental aproximar as diversas
instituições de pesquisa do setor produtivo e de suas representações com os
governos federal e estadual.
- Viabilizar, através da Secretaria Nacional de Economia Solidária
(SNAES), do MTE, apoio técnico e financeiro para implantação e consolidação
de cooperativas e associações de produtores.
25
- Destinar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), para
capacitação dos trabalhadores rurais para o aperfeiçoamento do manejo da
cultura e a melhoria da produtividade do sisal no campo.
- Apoiar a EBDA para a instalação de batedeiras nos projetos de
assentamento rural em áreas produtoras de sisal da Bahia. Esta ação poderá
amenizar o problema da concentração da renda.
- Assegurar formas de financiamento específico para projetos
exemplares realizados por ONGs, pautados na concepção do desenvolvimento
territorial e que envolvam a integração entre organização de produtores,
consórcio de culturas e utilização de recursos naturais disponíveis no Semi–
Árido Nordestino (Articulação do Semi-Árido – ASA, Cáritas,MOC e outras).
- Sugerir ao MTE a ampliação de bolsas do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil para diminuir a incidência do trabalho infantil. Paralelamente, é
importante apoiar os programas estaduais, voltados para a geração de
ocupação e renda, já desenvolvidos e com comprovado êxito (Projeto
Prosperar).
- Articular o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), do MDA com os
programas de apoio ao artesanato dos estados produtores de sisal (BA, PB,
RN e CE), na perspectiva de ampliar as possibilidades do mercado interno e
buscar novos espaços de mercado externo.
- Estabelecer contatos com agências internacionais de desenvolvimento
(BID, GTZ, OXFAN TRADING), objetivando buscar apoio técnico e financeiro
para dinamizar o setor sisaleiro.
REFERENCIAS
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região nordestina produtora de sisal (versão preliminar). Fortaleza: Banco do
Nordeste do Brasil, 2004. 75p.
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28