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SMDOTS – UMA PROPOSTA DE MEDIÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA PERFORMANCE DE INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR HENRIQUE REGO MONTEIRO DA HORA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ NOVEMBRO DE 2007

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SMDOTS – UMA PROPOSTA DE MEDIÇÃO E ACOMPANHAMENTO

DA PERFORMANCE DE INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR

HENRIQUE REGO MONTEIRO DA HORA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

NOVEMBRO DE 2007

SMDOTS – UMA PROPOSTA DE MEDIÇÃO E ACOMPANHAMENTO

DA PERFORMANCE DE INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR

HENRIQUE REGO MONTEIRO DA HORA

Dissertação apresentada ao Centro

de Ciências e Tecnologia da

Universidade Estadual do Norte

Fluminense, como parte das

exigências para obtenção do título

de Mestre em Engenharia de

Produção.

Orientador: Prof. Luis Enrique Valdiviezo Viera, D.Sc. PURO/UFF

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

NOVEMBRO DE 2007

FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca do CCT / UENF 11/2007

Hora, Henrique Rego Monteiro da SMDOTS: uma proposta de medição e acompanhamento da performance de instituições do Terceiro Setor / Henrique Rego Monteiro da Hora. – Campos dos Goytacazes, 2007. xiii, 111 f. : il. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) --Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciência e Tecnologia. Laboratório de Engenharia de Produção. Campos dos Goytacazes, 2007. Orientador: Luiz Enrique Valdiviezo Viera. Área de concentração: Gerência da produção Bibliografia: f. 91-98 1. SMDO 2. 3. Terceiro Setor 4. Desempenho organizacional l. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciência e Tecnologia. Laboratório de Engenharia de Produção I. Título

CDD 368.7068

SMDOTS – UMA PROPOSTA DE MEDIÇÃO E ACOMPANHAMENTO

DA PERFORMANCE DE INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Dissertação apresentada ao

programa de pós-graduação de

Engenharia de Produção como

requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Engenharia de

Produção.

Aprovada em 29 de novembro de 2007

Comissão Examinadora:

_________________________________________ Prof. Ely de Abreu (Doutor, Engenharia de Produção) – UENF/LEPROD

_________________________________________ Prof. Romeu e Silva Neto (Doutor, Engenharia de Produção) – CEFET-CAMPOS

_________________________________________ Prof. Carlos Alberto Gonçalves da Silva (Doutor, Engenharia de Produção) – CEFET-RJ _________________________________________ Profª. Cristina Maria Brites (Doutora, Serviço Social) – UFF/PURO _________________________________________ Prof. Luis Enrique Valdiviezo Viera (Doutor, Engenharia de Produção) – UFF/PURO

(orientador)

À Maria Angélica, pela sua

insistência e apoio para que

eu ingressasse no

mestrado. Sempre colhemos

aquilo que plantamos!

Agradecimentos

Principalmente a Deus, que nos deu o dom da vida, fruto de sua imensa

bondade.

A meu pai, Prof. Dr. Antonio da Hora, cujos vários títulos que conquistou na

vida, o de que mais me orgulho é o título de pai. Também a sua esposa, Profª. Drª.

Mônica da Hora.

A minha mãe, Rosário Torres, porto seguro nas tribulações, e a minha tia,

Profª. Drª. Gina Torres, pelo exemplo de perseverança e pelos retos conselhos,

doa a quem doer.

A meus irmãos, Leonardo e Mônica.

Ao orientador deste trabalho, Prof. Dr. Luis Enrique Valdiviezo Viera, que

me aceitou como seu aluno quando não mais tinha nenhum compromisso com a

UENF, e mesmo assim dedicou-se para este que trabalho tornasse realidade.

Aos membros da banca, pelos oportunos comentários. Ao professor Dr.

Romeu e Silva Neto, pelas oportunidades oferecidas. A professora Dra. Maria

Cristina Brites, por ter se disponibilizado a analisar um trabalho que não é

inteiramente da sua área. Ao Prof. Doutor Ely de Abreu, pelas longas conversas e

oportunos conselhos e ao Prof. Dr. Carlos Alberto Gonçalves, pela disponibilidade

em analisar este trabalho.

Aos professores e funcionários do LEPROD, que de alguma maneira ou de

outra, contribuíram para a realização de mais esta etapa na minha vida.

"A vida é uma oportunidade, aproveite-a... A vida é beleza, admire-a...

A vida é felicidade, deguste-a... A vida é um sonho, torne-o realidade...

A vida é um desafio, enfrente-o... A vida é um dever, cumpra-o...

A vida é um jogo, jogue-o... A vida é preciosa, cuide dela...

A vida é uma riqueza, conserve-a... A vida é amor, goze-o...

A vida é um mistério, descubra-o... A vida é promessa, cumpra-a...

A vida é tristeza, supere-a... A vida é um hino, cante-o...

A vida é uma luta, aceite-a... A vida é aventura, arrisque-a...

A vida é alegria, mereça-a... A vida é vida, defenda-a..."

Madre Teresa de Calcutá

Resumo

As organizações sem fins lucrativos vêm, ano a ano, crescendo tanto em

quantidade de organizações, quanto em recursos mobilizados para seu fim. O

papel que estas instituições vêm desempenhando na economia movimenta

consideráveis cifras e gera muitos empregos. Apesar dos crescentes números

relacionados com o chamado Terceiro Setor, ainda são poucas as pesquisas

sobre a gestão dos recursos destinados a essas instituições sociais, que na

maioria das vezes são escassos. Este trabalho propõe um Sistema de Medição de

Desempenho Organizacional que atenda as particularidades das organizações

sem fins lucrativos. Para seu desenvolvimento, foi levantado os cinco modelos

para medição de desempenho mais utilizados e comentados na literatura e

escolhido o Balanced ScoreCard, pela sua característica de elaborar os

indicadores desdobrados da missão coorporativa. As perspectivas levantadas para

contemplar as necessidades do Terceiro Setor são: Habilidade e Motivação,

Processos Internos, Mobilização de Recursos, Cidadão-Beneficiário e Mudança na

Sociedade. Para validação deste modelo, uma pesquisa foi realizada com

especialistas tanto em Engenharia de Produção quanto em gestão de

organizações não lucrativas. Ao final do trabalho é apresentada uma aplicação

ilustrativa do modelo em uma organização que cuida de crianças afastadas da

família pela justiça.

Palavras-Chave: SMDO, Terceiro Setor, BSC, Desempenho Organizacional.

I

Abstract

The non-profit organizations come, year by year, growing both in number of

organizations, as in resources mobilized for your purpose. The role that these

institutions are playing in the economy moves considerable numbers and

generates many jobs. Despite the growing numbers related to the Third Sector,

there are still only limited research about management of resources allocated to

these social institutions, which in most cases are scarce. This academic work

proposes an Organizational Performance Measurement that meets the specific

subjects of non-profit organizations. For its development, it was researched the five

most used and discussed in the literature models for performance measurement

and elected the Balanced Scorecard, by its characteristic of producing the

indicators deployed from corporative mission. The outlook raised to meet the Third

Sector needs are: Ability and Motivation, Internal Processes, Mobilization of

Resources, Citizen-Beneficiary and Change in Society. For validation of this model,

a search was conducted with experts both in Industrial Engineering and in non-

profit organizations management. At the end of the work is given an illustrative

application of the model in an organization that cares for children away from the

family for justice.

Keywords: Performance Measurement Systems, Balanced ScoreCard, NGOs,

non profit organizations.

II

Lista de Figuras

Figura 1 – Organização dos setores, baseado em Falconer (1999) e Albuquerque

(2006)............................................................................................................... 9

Figura 2 – Gráfico sobre o número de empregos no Terceiro Setor por década da

fundação da OTS. Fonte: Baseado em IBGE, 2002. ..................................... 14

Figura 3 – Pirâmide das necessidades hierárquicas de Maslow. Fonte: Boeree,

2007. .............................................................................................................. 16

Figura 4 – Como distinguir entre eficiência, eficácia, consistência e impacto. Fonte:

Roche, 2002................................................................................................... 23

Figura 5 – Processo de Impacto. Adaptado de Roche, 2002. ............................... 27

Figura 6 – Dinâmica dos indicadores. Fonte: ABONG, 2007. ............................... 30

Figura 7 – Matriz de Medição de Desempenho. Fonte: Keegan et al 1989 apud

Martins, 1999. ................................................................................................ 41

Figura 8 – Performance Pyramid. Fonte: Cross & Lynch, 1990 apud Martins, 1999.

....................................................................................................................... 42

Figura 9 – Sistema de loop fechado com desdobramento e feedback. Fonte: Bititci

et al, 1997b. ................................................................................................... 44

Figura 10 – O processo de gerência do desempenho e a posição do sistema de

medição de desempenho. Fonte: Bititci et al, 1997b, livre tradução. ............. 45

Figura 11 – Configuração do VSM com sua interpretação em uma estrutura de

SMD. Bititci et al, 1997b. ................................................................................ 46

Figura 12 – Estrutura Organizacional para o IPMS. Fonte: Bititci et al, 1997a, livre

tradução. ........................................................................................................ 46

Figura 13 – Modelo de Referência para o Sistema de Medição de Desempenho

Integrado. Fonte: Bititci et al, 1997a, livre tradução. ...................................... 47

III

Figura 14 – Estrutura do Performance Prism. Fonte Neely & Adams, 2000, livre

tradução. ........................................................................................................ 48

Figura 15 – Dinâmica dos valores no Performance Prism. Fonte: Neely & Adams,

2000, livre tradução........................................................................................ 49

Figura 16 – As quatro perspectivas do BSC. Fonte: Kaplan & Norton, 1997. ....... 52

Figura 17 – Mapa estratégico ilustrativo do BSC. Fonte: Kaplan & Norton, 1997. 53

Figura 18 – Etapas de desenvolvimento, implantação e utilização de um SMD.

Fonte Cardoza et al, 2003.............................................................................. 54

Figura 19 – Gráfico das respostas da questão 01. Fonte própria.......................... 61

Figura 20 – Gráfico das respostas da questão 02. Fonte própria.......................... 62

Figura 21 – Gráfico das respostas da questão 03. Fonte própria.......................... 62

Figura 22 – Gráfico das respostas da questão 04. Fonte própria.......................... 63

Figura 23 – Perspectivas do SMDOTS. Fonte própria. ......................................... 64

Figura 24 – Relacionamento Cliente/Fornecedor dos processos internos. Fonte:

Gianesi & Corrêa, 1994.................................................................................. 70

Figura 25 – Mapa Estratégico genérico do modelo proposto para uma OTS. Fonte

própria. ........................................................................................................... 74

IV

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins

Lucrativos e do pessoal ocupado assalariado, segundo porte....................... 12

Tabela 2 – Crescimento do Terceiro Setor no Brasil. ............................................ 13

Tabela 3 – Quantidade de associadas da ABONG por regional. .......................... 59

Tabela 4 – Amplitude das respostas do questionário de validação....................... 63

Tabela 5 – Disparidade dos dados disponíveis sobre o terceiro setor. ................. 85

Lista de Equações

Equação 1 – Produtividade, segundo Campos, 1994. .......................................... 25

Equação 2 – Índice de Gini para medir desigualdade. .......................................... 68

Equação 3 – Coeficiente de Variação amostral..................................................... 68

Equação 4 – Potencial Motivacional da Tarefa. Fonte: Vieira, 1996. .................... 72

V

Lista de Quadros

Quadro 1 – Característica dos Setores Sociais. Adaptado de Ferreira, 2005. ........ 3

Quadro 2 – Classificação da ONU. Fonte ONU, 2003. ........................................... 6

Quadro 3 – Classificação utilizada pelo IBGE. Dados do IBGE, 2002. ................... 6

Quadro 4 – Comparativo entre as classificações da ONU em 2003 e do IBGE em

2002. ................................................................................................................ 7

Quadro 5 – Fatores motivacionais e higiênicos de Herzberg. Fonte: Serrano, 2006.

....................................................................................................................... 16

Quadro 6 – Cruzamento entre a teoria de Maslow e Herzberg. Fonte: Tenório,

2006. .............................................................................................................. 17

Quadro 7 – Ilustração do conceito de eficácia e eficiência segundo Tenório, 2006.

....................................................................................................................... 26

Quadro 8 – Principais propostas de modelos de Sistemas de Medição de

Desempenho. Fonte: Attadia & Martins, 2003................................................ 40

Quadro 9 – Professores solicitados a validar o modelo. Fonte Própria. Baseado

nos curriculos dos professores cadastrados no sistema Lattes. .................... 60

Quadro 10 – Principais modelos de QVT e suas características. Fonte: Vieira,

1996. .............................................................................................................. 72

Quadro 11 - ScoreCard para a perspectiva "Habilidade e Motivação". ................. 79

Quadro 12 – ScoreCard para a perspectiva de “Processos Internos”. Fonte própria.

....................................................................................................................... 80

Quadro 13 – ScoreCard para a perspectiva “Mobilização de Recursos”. Fonte

própria. ........................................................................................................... 81

Quadro 14 – ScoreCard para a perspectiva “Cidadão-Beneficiário”. Fonte própria.

....................................................................................................................... 82

VI

Quadro 15 – ScoreCard para a perspectiva “Mudança na Sociedade”. Fonte

própria. ........................................................................................................... 83

VII

Lista de Siglas e Abreviaturas

ABEPRO Associação Brasileira de Engenharia de Produção

ABONG Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais

ACP Área Crítica de Desempenho

BSC Balanced ScoreCard

CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica

CEMPRE Cadastro Nacional de Empresas

CETS Centro de Estudos do Terceiro Setor

CONCLA Comissão Nacional de Classificações

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

CQT Controle da Qualidade Total

DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

EBITDA Earned Before Income Tax and Depreciaton Amortiation

EFQM European Foundation for Quality Management

ENEGEP Encontro Nacional de Engenharia de Produção

ENGRAD Encontro Anual da Associação de Cursos de Graduação em

Administração.

EVA Economic Value Added

FASFIL Fundações e Associações sem fins lucrativos

VIII

FGV Fundação Getúlio Vargas

FNQ Fundação Nacional da Qualidade

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPMS Integrated Performance Measurement System

ISE-CENSA Instituto Superior de Ensino do Centro Educacional Nossa

Senhora Auxiliadora.

JHU John Hopkins University

ONG Organização Não Governamental

ONL Organizacion Non Lucrativa

ONU Organizações das Nações Unidas

OSCIP Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

OSL Organização Sem fins lucrativos

OTS Organização do Terceiro Setor

PMAS Planejamento, Monitoramento, Avaliação e Sistematização

PNQ Prêmio Nacional da Qualidade

QVT Qualidade de Vida no Trabalho

RITS Rede de Informações do Terceiro Setor

ROCE Retorno Obtido do Capital Empregado

ROI Return On Investment

SMART Strategic Measurement, Analysis, and Reporting Technique

IX

SMD Sistema de Medição de Desempenho

SMDO Sistema de Medição de Desempenho Organizacional

UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

UFF Universidade Federal Fluminense

UFSCAR Universidade Federal de São Carlos

VSM Viable Systems Model

X

Sumário

RESUMO................................................................................................................................. I

ABSTRACT............................................................................................................................ II

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................. III

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................V

LISTA DE EQUAÇÕES..........................................................................................................V

LISTA DE QUADROS...........................................................................................................VI

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS.............................................................................VIII

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

Organização do Trabalho .............................................................................................. 1 OBJETIVOS........................................................................................................................... 2

CAPÍTULO 1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA DO ESTUDO ................................... 3

1.1 DEFINIÇÃO DO TEMA DE ESTUDO ............................................................................. 3 1.2 RELEVÂNCIA E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ................................................................. 8 1.3 O TERCEIRO SETOR BRASILEIRO ........................................................................... 12 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................... 17

1.4.1 Revisão bibliográfica sobre o Terceiro Setor ................................................. 18 1.4.2 Estado da Arte em Sistemas de Medição de Desempenho........................... 18 1.4.3 Desenvolvimento e Efetividade do Modelo .................................................... 19 1.4.4 Aplicação do Modelo ...................................................................................... 20

1.5 PROBLEMÁTICA DA PESQUISA ................................................................................ 20

CAPÍTULO 2 GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR ........................ 22

2.1 AVALIAÇÃO DE EFICIÊNCIA ..................................................................................... 24 2.2 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA........................................................................................ 25 2.3 AVALIAÇÃO DA CONSISTÊNCIA ............................................................................... 26 2.4 AVALIAÇÃO DE IMPACTO ........................................................................................ 27 2.5 INDICADORES PARA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO....................................................... 27

2.5.1 Elaboração de Indicadores............................................................................. 30 2.6 GESTÃO ESTRATÉGICA EM OTS ............................................................................ 32

CAPÍTULO 3 SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL ...... 34

3.1 HISTÓRICO DA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL.................................. 35 3.2 PRINCIPAIS MODELOS DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO............................................. 39

XI

3.2.1 Performance Measurement Matrix ................................................................. 40 3.2.2 SMART – Performance Pyramid .................................................................... 42 3.2.3 Integrated Performance Measurement System.............................................. 43 3.2.4 Performance Prism......................................................................................... 48 3.2.5 Balanced ScoreCard ...................................................................................... 50

3.3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E IMPLANTAÇÃO DE UM SMDO........................... 53

CAPÍTULO 4 SMDOTS – SISTEMA DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL PARA O TERCEIRO SETOR ......................................................................... 56

4.1 ESCOLHA DO MODELO BASE................................................................................... 56 4.2 VALIDAÇÃO DO MODELO ........................................................................................ 58 4.3 PERSPECTIVAS...................................................................................................... 64

4.3.1 Mudança na Sociedade.................................................................................. 65 4.3.2 Cidadão Beneficiário ...................................................................................... 65 4.3.3 Mobilização de Recursos ............................................................................... 66 4.3.4 Processos Internos......................................................................................... 69 4.3.5 Habilidades e Motivação ................................................................................ 71

4.4 CONSIDERAÇÕES DAS PERSPECTIVAS .................................................................... 73 4.5 MAPA ESTRATÉGICO.............................................................................................. 73

CAPÍTULO 5 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DO SMDOTS............................................... 75

5.1 CRITÉRIO DE ESCOLHA E DISPONIBILIDADE DE INFORMAÇÕES................................... 75 5.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ..................................................................... 75 5.3 DECLARAÇÃO DA MISSÃO ...................................................................................... 77 5.4 SCORECARDS....................................................................................................... 78

5.4.1 Habilidade e Motivação .................................................................................. 78 5.4.2 Processos Internos......................................................................................... 79 5.4.3 Mobilização de Recursos ............................................................................... 80 5.4.4 Cidadão-Beneficiário ...................................................................................... 81 5.4.5 Mudança na Sociedade.................................................................................. 82

CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS............................................. 84

6.1 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 84 6.1.1 Quanto aos objetivos...................................................................................... 84 6.1.2 Quanto ao Terceiro Setor ............................................................................... 85 6.1.3 Quanto ao modelo proposto ........................................................................... 86 6.1.4 Quanto a Implantação do Modelo .................................................................. 87

6.2 TRABALHOS FUTUROS ........................................................................................... 87

XII

6.2.1 Quanto às iniciativas em relação à divulgação do modelo ............................ 89

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................... 90

ÍNDICE REMISSIVO ............................................................................................................ 99

ANEXO I – QUESTIONÁRIO E MODELO PARA VALIDAÇÃO....................................... 101

XIII

1

Introdução

As organizações cujo fim não é obter lucro com suas operações têm

crescido em quantidade, em importância na economia e recursos movimentados.

Pouco se sabe sobre essas organizações, sobre sua estrutura organizacional

ideal, sobre a gerência de seus recursos, entre outros.

Neste trabalho será explorada a parte gerencial de organizações sem fins

lucrativos, procurando conhecer um pouco mais a realidade das organizações e

propondo algumas técnicas gerenciais para seus dirigentes.

A medição do desempenho de uma organização pertencente ao Terceiro

Setor é importante para a sociedade tanto para a sociedade como um todo, pois a

atuação da organização é na própria sociedade; quanto para a sociedade em

particular, na população onde ela atua. Também são incluídas nesta lista as

empresas com responsabilidade social e governos que financiam seus projetos

entre outros.

Organização do Trabalho

Este trabalho se divide em seis capítulos do seguinte modo:

Capítulo 1 – O problema e a Metodologia de Estudo, neste capítulo

descrevem-se o problema e a metodologia para estudá-lo.

Capítulo 2 – Gestão de Organizações do Terceiro Setor: Nesta parte do

trabalho são abordadas as particularidades existentes de uma OTS para uma

gestão eficiente.

Capítulo 3 – Sistemas de Medição de Desempenho Organizacional: Em um

primeiro momento é abordado o histórico dos SMDOs, e logo em seguida é feito

um levantamento dos SMDOs mais relevantes e utilizados.

Capítulo 4 – SMDOTS – Sistema de Medição de Desempenho

Organizacional para o Terceiro Setor: Neste capítulo é desenvolvida a proposta

principal desta dissertação, o SMDOTS.

2

Capítulo 5 – Aplicação do SMDOTS: É proposta uma aplicação do modelo

em uma organização para verificar seu funcionamento.

Capítulo 6 – Conclusões e Trabalhos Futuros: Neste capítulo final, são

feitas as conclusões pertinentes aos trabalhos realizados e ainda são sugeridos

alguns caminhos por onde a pesquisa pode seguir.

Objetivos

O presente trabalho tem como objetivo geral desenvolver um Sistema de

Medição de Desempenho Organizacional (SMDO) que atenda as particularidades

de uma Organização do Terceiro Setor (OTS), e os objetivos específicos estão

abaixo listados:

• Identificar a melhor definição de uma Organização do Terceiro Setor;

• Identificar os fatores de competitividade de uma OTS;

• Identificar as melhores práticas gerenciais de uma OTS;

• Fornecer subsídio para avaliar os planos estratégicos de uma OTS;

• Identificar os mais relevantes modelos de desempenho

organizacional.

3

Capítulo 1 O Problema e a Metodologia do Estudo

1.1 Definição do Tema de Estudo

Vários são os termos adotados para designar as organizações da

sociedade civil: Organizações Sem Fins Lucrativos (OSL), Organizações Não

Governamentais (ONG), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIP), definida na lei 9.790/99, que qualifica pessoas jurídicas de direito privado

sem fins lucrativos, Organizações Filantrópicas, Sociais, Solidárias, Caridosas.

“Terceiro Setor” é o termo que vem encontrando maior aceitação para designar

este conceito, e é o termo que adotaremos neste trabalho para denotar a

sociedade civil organizada.

É importante ressaltar que o Terceiro Setor aqui estudado são as

organizações da sociedade civil, e não o setor terciário definido pelos economistas

como as indústrias de serviço (ROGGERO, 1998).

Ferreira (2005) define as ONGs como pertencentes ao “Terceiro Setor”, e

define este último como organização que, embora privada, persegue fins públicos.

O primeiro setor é definido pelo poder público constituído (instituições

públicas, sejam elas municipais, estaduais ou federais, do legislativo, judiciário ou

executivo) e tem como objetivo gerir o bem público de maneira a trazer benefícios

para o próprio público. O segundo setor concerne na iniciativa privada, que tem

claro objetivo lucrativo. O Terceiro Setor remete a sociedade civil, que se organiza

e procura suprir a falta do poder público em alguma área, com o objetivo de

produzir algum bem ou serviço público, humanizando o capitalismo. Esta definição

traz um novo conceito de “público” não necessariamente “estatal” (FALCONER,

1999).

Agentes Fins Setor Denominação Públicos Públicos Estado Primeiro Setor Privados Privados Mercado Segundo Setor Privados Públicos Sociedade Terceiro Setor

Quadro 1 – Característica dos Setores Sociais. Adaptado de Ferreira, 2005.

4

Ainda segundo Ferreira (2005), o termo "Terceiro Setor” foi inicialmente

concebido na década de 70 para designar o conjunto de organizações sem fins

lucrativos para a prestação de serviços públicos.

As organizações do Terceiro Setor podem incluir desde as ONGs que

produzem informações para conscientização de determinado problema, passando

por fundações mantenedoras até organizações de ligas esportivas.

O termo Terceiro Setor, no uso corrente, é usado para se referir à ação social das empresas, ao trabalho voluntário de cidadão, às organizações do poder público privatizadas na forma de fundações e ‘organizações sociais’. Mais do que um conceito rigoroso ou um modelo solidamente fundamentado em teoria – organizacional, política ou sociológica – Terceiro Setor, no Brasil, é uma idéia-força, um espaço mobilizador de reflexão, de recursos e, sobretudo, de ação (FALCONER, 1999).

Apesar de pouco preciso, o conceito de Terceiro Setor de Falconer pode

ser resumido segundo Drucker (2002), que diz que “as organizações sem fins

lucrativos existem para provocar mudanças nos indivíduos e na sociedade”.

Ambos autores fazem referência à sociedade civil, o primeiro citando-a em sua

origem, e o segundo em seu objetivo.

Há ainda a definição descrita pela ONU (2003), em trabalho conjunto com a

John Hopkins University (JHU), com objetivo, dentre outros, de direcionar as

Contas Nacionais de cada país para estatísticas.

Participaram do Estudo 13 países, inclusive o Brasil, e chegou-se a

seguinte definição para Terceiro Setor, composta por cinco premissas,

identificadas na citação abaixo.

O setor não-lucrativo é definido como formado por (a) organizações que (b) são sem fins lucrativos e que, por lei ou costume, não distribuem qualquer excedente, que possa ser gerado para seus donos ou controladores; (c) são institucionalmente separadas do governo, (d) são auto-geridas; e (e) não-compulsórias (ONU/JHU, 2003).

Para explicitar melhor cada um dos cinco critérios para enquadramento na

definição de Terceiro Setor, o relatório da JHU junto com a ONU traz uma

definição do que vem a ser cada premissa:

5

(a) Organização: A entidade deve estar estruturada, com reuniões

regulares, representantes reconhecidos e trabalhos

consolidados como regulares, isto é, deve haver algum grau de

organização interna, limites organizacionais bem definidos, ou

até um estatuto de criação legal;

(b) Sem fins lucrativos: Ou seja, não distribuem os lucros. O fato

de não ter lucro como seu objetivo não significa que ela não

possa ter lucros, mas os excedentes financeiros que venham a

ser gerados pela instituição precisam ser integralmente

aplicados nas suas atividades-fim. Não podendo ser repassados

a sócios ou membros;

(c) Institucionalmente separada do governo: Em outras palavras,

de natureza privada. Não faz parte do aparato governamental,

apesar de não haver restrições sobre o recebimento de

financiamento público, nem de funcionários públicos como

membros de seus conselhos e diretoria, desde que não sejam a

maioria;

(d) Auto-geridas: Têm estruturas de governança própria,

controlando de forma autônima a gestão de suas atividades. E

outras palavras, não esta sob o controle efetivo de qualquer

outra organização;

(e) Não compulsória: A participação é voluntária. A contribuição de

dinheiro, tempo, ou outros recursos não é requerida ou

obrigatória por lei nem fazem parte da condição de cidadania.

Neste relatório, a JHU/ONU ressalta que para ser corretamente classificada

entre os 12 grupos e 32 subgrupos, é necessário que a organização cumpra essas

cinco premissas, do contrário a classificação da organização como sendo do

Terceiro Setor não será possível e haverá inconsistência se os dados de um país

forem comparados com os de outro.

6

Grupo Descrição1 Cultura e recreação 2 Educação e pesquisa 3 Saúde 4 Assistência e promoção social 5 Meio ambiente 6 Desenvolvimento e moradia 7 Serviços legais, defesa de direitos civis e organizações políticas 8 Intermediárias filantrópicas e de promoção de ações voluntárias 9 Internacional 10 Religião 11 Associações profissionais, de classes e sindicatos 12 Não classificado em outro grupo

Quadro 2 – Classificação da ONU. Fonte ONU, 2003.

No caso brasileiro, esses critérios correspondem a três figuras jurídicas

dentro do novo Código Civil: associações, fundações e organizações religiosas.

(IBGE, 2004).

A classificação das Organizações do Terceiro Setor (bem como de outras

organizações) no Brasil foi feita pela CONCLA (Comissão Nacional de

Classificações), e atribui quatro números para cada item, sendo o primeiro o

identificador de sua natureza jurídica. (CONCLA, 2002; IBGE, 2004). As

Classificações para entidade sem fins lucrativos são em número de 14, mas 9 não

atendem às 5 premissas do estudo da ONU/JHU (IBGE, 2004).

Os últimos dados disponibilizados pelo IBGE ainda são anteriores ao

estudo da ONU/JHU, ou seja, apesar da proximidade de classificações praticadas

nos levantamentos do IBGE, não é possível ainda comparações precisas com

outras nações.

N Classificação 1 Habitação 2 Saúde 3 Cultura e recreação 4 Educação e pesquisa 5 Assistência social 6 Religião 7 Associações patronais e profissionais 8 Meio ambiente e proteção animal 9 Desenvolvimento e defesa de direitos 10 Outras instituições privadas sem fins

lucrativos

Quadro 3 – Classificação utilizada pelo IBGE. Dados do IBGE, 2002.

7

Ambas as classificações reconhecem que não são completas ao manter

uma classificação como alternativa para as organizações que não puderam ser

classificadas nas definições anteriores.

Ferreira (2005) afirma que apesar da própria ONU já ter se pronunciado em

uma definição do Terceiro Setor, ainda há várias outras definições mais ou menos

abrangentes, e que ainda estamos longe de um consenso na literatura. Esta

situação de várias definições e, portanto, indefinição, é própria da dinâmica do

conhecimento e julgamos proveitosa para as discussões.

Para este estudo, considera-se a definição da ONU junto com a JHU, que

parece ser mais completa e tende a ser utilizada a partir de então em todas as

nações. Para fins de caracterização do setor, são utilizados os dados do IBGE,

que no Quadro 4 são mostrados em comparação com as categorias definidas pela

ONU/JHU.

Apesar de não serem precisos de acordo com a definição, os dados do

IBGE, únicos disponíveis, podem dar-nos uma boa ordem de grandeza do setor

em que estamos trabalhando.

IBGE ONU Habitação Desenvolvimento e moradia Saúde Saúde Cultura e recreação Cultura e recreação Educação e pesquisa Educação e pesquisa Assistência social Assistência e promoção social Religião Religião Associações patronais e profissionais Organizações profissionais, de classes e

sindicatos Meio ambiente e proteção animal Meio ambiente Desenvolvimento e defesa de direitos Serviços legais, defesa de direitos civis e

organizações políticas Outras instituições privadas sem fins lucrativos

Outras áreas de atuação

- Intermediárias filantrópicas e de promoção do voluntariado

- Atividades internacionais

Quadro 4 – Comparativo entre as classificações da ONU em 2003 e do IBGE em 2002.

Na definição da Associação Brasileira de Organizações Não-

Governamentais (ABONG, 2007), as organizações não-governamentais são

entidades comprometidas com mudanças sociais, tendo como utopia uma

8

sociedade verdadeiramente justa, democrática e solidária. Por fim, podemos

concluir que o Terceiro Setor é a sociedade civil gerando benefícios em prol dela

própria.

1.2 Relevância e Delimitação do Estudo

Segundo Falconer (1999), o campo de estudos do Terceiro Setor é uma das

áreas mais novas e verdadeiramente multidisciplinar, e a Engenharia de Produção

pode e deve dar sua contribuição para a gestão eficiente desta nova realidade que

surge da sociedade e ganha relevância na economia.

Slack et al (2002) levantam indagações sobre a administração da produção

em organizações cujo objetivo primordial não seja a geração de lucros:

[...] Será que a administração de produção é relevante para empresa cujo objetivo primordial não seja gerar lucros? Será que as questões associadas com a administração de produção, por exemplo, de um centro de proteção dos animais, de um hospital, de um centro de pesquisa ou de um departamento do governo são as mesmas das de organizações baseadas em lucros? (SLACK et al, 2002).

Em seguida, Slack (2002) afirma que as operações são basicamente as

mesmas em organizações com ou sem fins lucrativos. Elas transformam recursos

de entrada em produtos ou serviços na saída e precisam enfrentar o mesmo

conjunto de decisões, mesmo que o modelo decisório e as práticas gerências

precisem ser adaptados.

Na Figura 1, vemos uma definição e relação de interação dos três setores

da economia.

9

Primeiro Setor

Segundo SetorTerceiro Setor

Primeiro Setor

Segundo SetorTerceiro Setor

IniciativaPrivada

PoderPúblico

SociedadeCivil

Organizada

Figura 1 – Organização dos setores, baseado em Falconer (1999) e Albuquerque (2006).

As intercessões da Figura 1 se devem aos relacionamentos entre as

organizações de cada setor. O poder público e a sociedade civil organizada se

relacionam de várias maneiras (TENÓRIO, 2007; ALBUQUERQUE, 2006;

FALCONER, 1999).

No sentido Poder Público => Sociedade Civil Organizada

• Financiamento de projetos;

• Reconhecimento e estabelecimento jurídico.

No sentido Sociedade Civil Organizada => Poder Público

• Gestão Participativa;

• Atuação onde o Poder Público é deficiente;

• Pressão popular nas áreas de interesse da sociedade.

No sentido Iniciativa Privada => Sociedade Civil Organizada

• Financiamento de Projetos;

• Apoio Institucional;

10

• Responsabilidade social.

No sentido Sociedade Civil Organizada => Iniciativa Provada

• Retorno à imagem da Instituição;

• Pressão popular nas áreas de interesse da sociedade.

No sentido Poder Público => Iniciativa Privada

• Isenção de taxas e impostos;

• Legislação;

No sentido Iniciativa Privada => Poder Público

• Indiretamente se beneficia pelo trabalho promovido pela ONG

auxiliada pela Iniciativa Privada;

Na intercessão das três esferas da economia, também é possível definir

algumas organizações que atuam a favor dos três interesses como o sistema “S”

(Senai, Sesi, Senac), os sindicatos, fundações e institutos empresariais

(ALBUQUERQUE, 2006).

O’Neil (apud FALCONER, 1999) levanta algumas diferenças

organizacionais existentes entre os três setores, ressaltando as características

peculiares das organizações sem fins lucrativos. O propósito de uma ONG é muito

mais claro do que as demais empresas, pois sua existência esta intimamente

ligada uma necessidade da sociedade que ela procura suprir (DRUCKER, 2002),

bem como os valores declarados por ela.

A captação de recursos de uma ONG é uma das tarefas mais complexas de

se gerir, pois sua aquisição acontece das mais variadas fontes: poder público,

iniciativa privada, doações, campanhas, venda de produtos próprios, etc.

(ABONG, 2007).

A legislação para o Terceiro Setor também é peculiar, principalmente em

isenção de impostos (FERRAREZI, 2001).

11

Por fim, a forma organizacional de uma OTS é extremamente complexa,

dada a variedade de serviços prestados, a multiplicidade do público atendido e a

dependência de variadas fontes de recursos (O’NEIL, 1998 apud FALCONER,

1999).

Este sector de la economía, ha experimentado durante las últimas décadas un considerable desarrollo, tanto por la evolución del número de organizaciones como por el peso e importancia alcanzados (PORCAR, 2003).

O crescimento acentuado do Terceiro Setor – tanto em número de

organizações quanto em pessoas envolvidas, recursos administrados e

abrangência ao redor do mundo – conduz à hipótese se todos estes recursos são

bem geridos de maneira a possibilitar um maior benefício à própria sociedade.

O fato de existirem várias definições para as organizações do terceiro setor

é um indício para a conclusão que não há uma forma única de geri-las. A

variedade em áreas de atuação, número de voluntários e de funcionários, capital

movimentado, entre outros, reforça a tese que nesta diversidade, dificilmente será

possível uma única forma de gestão que abranja a todas elas.

El número de ONLs ha experimentado un crecimiento increíble en numerosos países. El tamaño del sector medido tanto por el número de organizaciones como por las personas involucradas mantiene una línea ascendente. Durante el periodo 1940 hasta 1989 el número de ONLs en los Estados Unidos ha pasado de 12.500 organizaciones a casi un millón, mientras el número de empresas ha pasado de 473.000 a 3.000.000 durante el mismo periodo. Las cifras en Europa reflejan la misma evolución (SALMERON et al , 2006).

Sendo a legislação brasileira bastante favorável à criação de organizações

sem fins lucrativos, concedendo uma série de isenção em taxas e impostos, este

crescimento destas organizações também foi acentuado no nosso país

(FERRAREZI, 2001).

Segundo o IBGE (2004), a maioria das Organizações do Terceiro Setor –

denominadas como FASFIL (Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos) no

estudo do IBGE – não têm nenhum funcionário, sendo que quase 90% delas têm

menos do que dez funcionários, como pode ser verificado na Tabela 1.

12

Tabela 1 – Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos e do pessoal ocupado assalariado, segundo porte.

Porte (Faixas de

pessoal ocupado

assalariado)

Fundações Privadas e Associações sem Fins

Lucrativos

Absoluto Relativo (%) 0 212.165 76,90 de 1 a 2 25.825 9,36 de 3 a 4 9.241 3,35 de 5 a 9 9.782 3,55 de 10 a 49 13.774 4,99 de 50 a 99 2.495 0,90 de 100 a 499 2.198 0,79 500 e mais 415 0,15 Total 275.895 100

Fonte: IBGE, 2002.

Neste estudo será priorizada a maior parte das Organizações do Terceiro

Setor, ou seja, as que tenham até dez funcionários assalariados (93,16% de todas

as organizações). Subentende-se que as organizações de grande porte

apresentam características diferenciadas e têm recursos para desenvolver suas

melhores práticas de gestão, pois há a possibilidade de contratar mão de obra

especializada.

A priorização no desenvolvimento de um sistema de medição de

desempenho que atenda às necessidades das organizações do Terceiro Setor

seja simples o suficiente para que pequenas organizações possam facilmente

utilizá-lo não inviabiliza a sua aplicação em organizações maiores.

1.3 O Terceiro Setor Brasileiro

Os dados mais recentes disponíveis pelo IBGE sobre o Terceiro Setor são

de 2002, mas trazem uma boa noção tanto do tamanho, quanto da importância

deste.

No Brasil, em 2002, havia 275.895 organizações do Terceiro Setor gerando

1.541.290 postos de trabalho assalariado e movimentando mais de 17 bilhões de

reais somente em salários e remunerações (sem contar financiamento de projetos

e receita das OTS).

13

Na tabela abaixo podemos observar o crescimento do setor ao longo das

últimas décadas.

Tabela 2 – Crescimento do Terceiro Setor no Brasil.

Unidades Assalariados

em 31.12.2002 Salários e

Remunerações (R$ 1.000,00)

Até 1970 10.998 523.520 6.708.581 1971 a 1980 32.858 387.765 4.518.760 1981 a 1990 61.970 261.887 2.326.362 1991 a 2000 139.187 327.783 3.609.937 2001 e 2002 30.882 40.335 285.905

Total 275.895 1.541.290 17.449.545

Fonte: IBGE, 2002

Os números relatados são somente cifras movimentadas em salários e

pessoas mobilizadas em empregos. Não foram encontrados dados relativos a

cifras movimentadas em projetos nem voluntários mobilizados. Os dados

apresentados demonstram um reflexo da importância do Terceiro Setor brasileiro

e justifica seu estudo pela engenharia de produção, bem como por outras áreas do

conhecimento.

De acordo com a Tabela 2, a realidade brasileira não é distante da

realidade reportada por Salmeron et al (2006) sobre os Estados Unidos.

Percebemos ao analisarmos os dados da Tabela 2 que em menos de dez anos o

número de unidades de organizações do terceiro setor triplicou comparando as

décadas anteriores à década de 70 e a própria década de 70. E o crescimento

continua exponencial na década de 80, dobrando de 32.858 em 1980 e 61.970 em

1990. Na década de noventa um as unidades se multiplicam novamente

alcançando 139.187, mas do que o dobro registrado na década anterior.

14

050

100150200250300350400450

Década de 70 Década de 80 Década de 90

Data de fundação da OTS

Núm

ero

de e

mpr

egos

(1.0

00)

Figura 2 – Gráfico sobre o número de empregos no Terceiro Setor por década da fundação da OTS. Fonte: Baseado em IBGE, 2002.

Este fenômeno onde as OTS mais antigas (década de 70) empregam mais,

as relativamente novas (década de 80) empregam menos, e as novas OTS estão

em ascensão (década de 90 e projeção em 2000, Tabela 2) é um interessante

nicho para investigação acadêmica.

O período de ascensão do número de empregos nas OTS é o mesmo da

proposta de criação da primeira Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das

ONGs na câmara dos deputados (LIMA, 1996), com o intuito de investigar a sua

finalidade e criar uma legislação específica. Esta criação da CPI indica uma

atenção da câmara federal às organizações do Terceiro Setor, fato este que pode

ser considerado um impacto das OTS na economia.

Esta primeira proposta de CPI foi arquivada em 1999 e propôs algumas

novas leis como as da OSCIP, mas Dias propôs novamente uma CPI das ONGs

em 2005 para investigar a atuação e os objetivos das ONGs, em especial na

Amazônia.

Este fato pode dar um indício para a investigação sobre o fenômeno

apresentado pela queda do número de assalariados e das remunerações de

acordo com a data de fundação da OTS, mas o estudo e a explicação deste

fenômeno também não fazem parte do escopo desta pesquisa, uma vez que

15

outros fatos neste período podem ter influenciado estes números, como a abertura

do mercado econômico do Brasil pelo presidente Collor na década de 90, por

exemplo.

O perfil do trabalhador em uma ONG é completamente diferente de

qualquer outra organização, pois há contratados, voluntários de tempo integral,

voluntários esporádicos. A gestão de recursos humanos também se mostra uma

árdua tarefa, como em outras organizações. Teodósio (2001) relata que a gestão

de recursos humanos em organizações do Terceiro Setor é uma das áreas chaves

para seu sucesso, principalmente pela força do trabalho voluntário.

Segundo Drucker (2002), em nenhuma outra área as diferenças entre

empresas e instituições sem fins lucrativos são maiores do que na gerência de

pessoas e relacionamentos. Isto se dá pelo fato da motivação das pessoas

envolvidas neste tipo de trabalho não ser somente a remuneração financeira, que

muitas vezes não há, no caso dos voluntários. A motivação dessas pessoas esta

relacionada com a satisfação de servir à comunidade.

Em relação à motivação, Tenório (2006) faz um estudo comparativo entre a

pirâmide das necessidades hierárquica de Maslow e os fatores higiênicos e

motivacionais de Herzberg, indicando sua compreensão para motivação do

trabalho, voluntário ou não, que acontece nas OTS.

Maslow propõe a consagrada pirâmide hierárquica das necessidades, onde

um individuo só começará a buscar um nível hierárquico superior se estiver

satisfeito em um nível inferior (BOEREE, 2007). Maslow afirmava na década de 50

que todas as necessidades do indivíduo não podem ser manifestadas de uma só

vez, elas tendem a ter alguma prioridade na qual encontram expressão

(SARDINHA, 1999).

16

Auto-Realização

Auto-Estima

Afetivo-Social

Segurança

Fisiológicas

Auto-Realização

Auto-Estima

Afetivo-Social

Segurança

Fisiológicas

Figura 3 – Pirâmide das necessidades hierárquicas de Maslow. Fonte: Boeree, 2007.

Herzberg propõe uma outra modelagem sobre os fatores motivacionais para

funcionários. Sua pesquisa se baseou em perguntar a funcionários de uma

empresa quais são os fatores que os agradam e quais os fatores que os

desagradam. Os fatores que agradam foram denominados Motivadores, e os que

desagradam foram chamados de Higiene (SERRANO, 2006. Grifo próprio).

Os fatores de Higiene são necessários para evitar a insatisfação no

ambiente de trabalho, mas não são suficientes para provocar satisfação. Para

motivar um funcionário, não basta que os fatores de insatisfação estejam

ausentes, é necessário que os fatores de satisfação estejam estar presentes

(SERRANO, 2006).

Fatores que levam à insatisfação Fatores que levam à satisfação Política da Empresa Crescimento

Condições do ambiente de Trabalho Desenvolvimento Relacionamento com outros funcionários Responsabilidade

Segurança Reconhecimento Salário Realização

Entre outros

Quadro 5 – Fatores motivacionais e higiênicos de Herzberg. Fonte: Serrano, 2006.

Tenório (2006) propõe a união dos fatores motivacionais de Herzberg com a

pirâmide e Maslow, elaborando um quadro que permite identificar e analisar os

17

tipos de estímulos ou incentivos para serem utilizados em funcionários,

voluntários, colaboradores, patrocinadores em OTS.

Necessidades hierárquicas de Maslow Fatores higiênicos e motivacionais de Herzberg Auto-Realização • Identidade com o objetivo da organização;

• Liberdade e autonomia de trabalho; • Respeito mútuo; • Valorização do trabalho.

Auto-Estima • Possibilidade de desenvolvimento profissional;

• Reconhecimento interno e externo pelo trabalho realizado.

Afetivo-Social • Participação em movimentos de classe. Segurança • Condições de moradia;

• Plano de saúde; • Aposentadoria; • Ajuda-educação.

Fisiológicas • Salário; • Condições físicas do ambiente de trabalho; • Outros benefícios indiretos, como

alimentação, transporte.

Quadro 6 – Cruzamento entre a teoria de Maslow e Herzberg. Fonte: Tenório, 2006.

1.4 Procedimentos Metodológicos

A metodologia usada para o desenvolvimento deste estudo pode ser

dividida em três etapas, a primeira consiste na revisão bibliográfica e

levantamento dos principais conceitos para efetivação da segunda etapa, que

consiste no desenvolvimento do modelo de sistema proposto por este trabalho. A

terceira etapa é uma aplicação do modelo para verificar o seu funcionamento.

A primeira etapa é dividida na pesquisa duas áreas do conhecimento:

Organizações do Terceiro Setor, e os Sistemas de Medição de Desempenho

Organizacional. Assim sendo, é necessário cobrir os estudos relevantes sobre as

duas áreas.

O desenvolvimento do modelo de sistema proposto, feito a partir da reflexão

e resultados da primeira etapa, foi submetido a uma avaliação e validação, que se

encontra no Anexo 01.

O conceito de “validade” trás uma subjetividade em si, pois ao afirmar que

um instrumento de medição é válido, a pergunta “Válido para qual propósito?”

18

surge. A validade é o grau em que um determinado indicador mede o que ele

deveria medir (CARMINES & ZELLER, 1979). Validade é, em fim, o grau de

acurácia ou exatidão do resultado de uma medição, ou seja, é o quanto o

resultado se refere ao que se pretendia medir.

Por último o modelo foi aplicado em uma organização para ilustrar seu

funcionamento e elaboração.

1.4.1 Revisão bibliográfica sobre o Terceiro Setor

Para vislumbrar o estado da arte no Terceiro Setor, recorremos à sua maior

representante brasileira, a ABONG, que em seu site (http://www.abong.org.br)

disponibiliza um amplo material abordando diversos temas pertinentes ao setor.

Também publica o periódico Cadernos da ABONG, disponível no portal de

periódicos da CAPES.

Em uma pesquisa webliográfica, também foram levantado os dados do

portal RITS - Rede de Informações do Terceiro Setor (http://www.rits.org.br), e

este contém várias publicações em periódicos, defesas de trabalhos acadêmicos

nas áreas de administração, direito e legislações que regulamentam o setor entre

outros.

Ainda na pesquisa webliográfica, verificamos a existência de um Mapa do

Terceiro Setor, disponível em http://www.mapa.org.br, fruto do trabalho do Centro

de Estudos do Terceiro Setor (CETS) da Escola de Administração de Empresas

em São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP/FGV).

A EASP/FGV publica também os Cadernos do Terceiro Setor em meio

impresso e mantém a revista eletrônica do Terceiro Setor chamada de IntegrAção

(http://integracao.fgvsp.br/).

1.4.2 Estado da Arte em Sistemas de Medição de Desempenho

Primeiramente foi feita uma vasta pesquisa nos periódicos nacionais

disponibilizados pela CAPES, selecionando todos que abordassem o tema de

Sistemas de Medição de Desempenho, Formação de Indicadores, ou abordasse

19

algum método aplicado relacionado com desempenho (BSC, Performace Prism,

etc.).

A partir destes periódicos, verificando suas referências bibliográficas, foi

possível selecionar os trabalhos internacionais mais relevantes sobre o tema e os

autores mais citados.

Ainda a partindo das referências bibliográficas. Também foi possível chegar

a pesquisadores e programas de pós-graduação que atuam com o tema “Sistema

de Medição de Desempenho”. Nestes termos ficou em evidência o PPGEP da

UFSCAR, que produz muitos trabalhos relacionados ao assunto.

A Universidade Federal de São Carlos disponibiliza todos seus trabalhos

por meio do BDTD, Banco de Dados de Teses e Dissertações

(http://www.bdtd.ufscar.br/). Então foi possível ter acesso a vários trabalhos que

deram origem aos artigos supramencionados.

1.4.3 Desenvolvimento e Efetividade do Modelo

O desenvolvimento do modelo proposto foi possível após a reflexão da

bibliografia consultada, considerando as particularidades pertinentes a uma

organização cujo fim não é o lucro, e sim a mudança na sociedade onde ela atua.

Algumas OTS foram visitadas pelo autor a fim de conhecer a realidade

dessas organizações não só através da literatura, mas também em uma parte de

seu cotidiano.

A melhor situação para verificar a efetividade do modelo é observar seu

funcionamento ao longo dos anos, mas esta opção não é possível, pelo menos

neste momento.

Outra possibilidade a ser considerara é a simulação estatística, alimentando

o modelo com valores possíveis, mas esta opção não reflete a validade que é

necessária.

20

Para verificação da efetividade do modelo, um questionário foi oferecido a

pessoas cuja atuação profissional estivesse relacionada com o tema desta

dissertação. O questionário está disponível no Anexo 1 deste trabalho.

1.4.4 Aplicação do Modelo

O critério principal adotado para a aplicação do sistema desenvolvido é a

acessibilidade à organização, existência de informações e a sua disponibilidade

para a pesquisa.

1.5 Problemática da Pesquisa

Segundo Drucker (2002) as instituições sem fins lucrativos tendem a não

dar prioridade ao desempenho e aos resultados, acrescentando ainda que medir e

controlar o desempenho e os resultados são mais difíceis do que em uma

organização comum. Falconer (1999) diz que geralmente, os gestores destas

organizações são pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em gestão.

La ausencia de finalidad lucrativa no implica que las entidades sin ánimo de lucro no deban ser gestionadas de la forma más eficaz y eficiente posible (MARTINEZ, 2005).

Bell (1973) mostra uma migração da sociedade baseada em bens,

chamada de sociedade industrial, para uma sociedade baseada em serviços,

chamada de sociedade pós-industrial, e com essa mudança no foco da sociedade,

que passa a valorizar mais as empresas prestadoras de serviços, as práticas

gerenciais adotadas na indústria manufatureira foram adaptadas à nova realidade

existente.

Neste mesmo sentido, sabe-se que muitos recursos são alocados nestas

organizações sem fins lucrativos: dinheiro, pessoas, tempo, planejamento, etc. As

práticas gerenciais utilizadas para gerir esses recursos não podem ser meramente

transpostas das práticas desenvolvidas para gerir os recursos de outras indústrias

cujo fim é obter lucro (FALCONER, 1999). Com a mudança de objetivo, devem ser

mudada também as práticas utilizadas para alcançá-lo.

21

Esta clara importancia del sector no lucrativo se ha trasladado también al plano de la investigación. Los estudios se han multiplicado abarcando numerosos aspectos pero, al mismo tiempo dejando determinados huecos en la literatura que requieren ser tratados (SALMERON et al , 2006).

A construção de um SMDO para atender as características particulares de

organizações do Terceiro Setor compõe uma lacuna existente hoje na literatura

que este trabalho procura dar sua contribuição.

Conforme já citado por Falconer (1999), os estudos do Terceiro Setor são

multidiciplinares, e este trabalho se propõe a dar uma contribuição ainda inédita da

Engenharia de Produção a esta problemática, propondo um Sistema de Medição

de Desempenho Organizacional que atenda às particularidades das Organizações

do Terceiro Setor.

22

Capítulo 2 Gestão de Organizações do Terceiro Setor

A ABONG reconhece que os principais problemas das organizações do

campo não governamental são, fundamentalmente, problemas de capacitação

técnica e de gestão (ABONG, 2007).

Vicari & Colenci Jr. (2001) propõem um procedimento de gestão para

empreendimentos no Terceiro Setor, que se baseia na elaboração de um plano de

negócios, mas este método atende a modelos organizacionais por projetos, o que

não é realidade em todas as organizações.

Falconer (1999) reconhece que a gestão destas organizações não pode ser

feita pela simples transposição de modelos e técnicas adotadas pela gestão

privada nem pública. Contudo, não se deve re-inventar a roda, uma vez que as

teorias já desenvolvidas sobre gestão podem ser adaptadas e internalizadas para

a gestão das OTS.

Medir o “lucro” de uma organização onde o lucro não é o objetivo é uma

tarefa complexa. As OTS têm uma missão social maior do que a necessidade de

resultados financeiros, mas estes resultados precisam de financiamento, doações,

recursos empregados, etc. ou em outras palavras, precisam de inputs para

gerarem outputs, e esta transformação tem que ser conduzida da melhor maneira

possível, tanto para atingir os objetivos de quem gerencia os recursos, de quem se

beneficia dos recursos e também de quem fornece os recursos.

Na opinião de Martins (1999), a empresa deve criar riquezas. As empresas

em geral buscam aumentar o seu valor econômico, seja pelo lucro obtido em um

período, seja pela imagem que ela possui, seja por sua credibilidade social, ou por

algum outro fator que agregue valor à sua instituição.

Drucker (2002) sugere que uma organização sem fins lucrativos deve ser

avaliada de fora para dentro. Os índices de desempenho de seus trabalhos devem

ser aferidos na sociedade onde ela atua, verificando o impacto de seus esforços.

23

Esta visão também é compartilhada por Roche (2002). Desempenho é colocar os

recursos disponíveis onde estão os resultados (DRUCKER, 2002).

A gerência de uma OTS não passa somente pela aplicação de técnicas,

modelos, medidores de desempenho e monitoramento das operações. É

necessário aplicar os métodos conhecidos e desenvolvidos em metodologias

próprias para cada realidade, via internalização, adaptação, aprendizado, etc.

A excessiva ênfase na capacidade gerencial, coerentemente com uma certa concepção tecnicista, arrisca atribuir um significado quase mágico a alguns instrumentos de desenvolvimento institucional, como se os mesmos – aplicados mecânica e rigidamente – pudessem resolver todos os problemas de uma instituição (ABONG, 2007).

O modelo apresentado na Figura 4, adaptado de Roche (2002), mostra

resumidamente as etapas de uma organização que processa recursos em

atividades produzindo um resultado. E a partir deste resultado, compõe-se um

efeito que resulta em um impacto.

Recursos Atividades / Processos Resultados

Resultado ou Efeito

Mudança na vida das

pessoas.

Eficiência Consistência Eficácia

Impacto

Figura 4 – Como distinguir entre eficiência, eficácia, consistência e impacto. Fonte: Roche, 2002.

24

Para cada uma das etapas na ilustração acima, podem-se desenvolver

mecanismos de monitoramento para alinhar os resultados com o planejamento

estratégico das instituições.

O desempenho pode ser julgado sob duas perspectivas: quanto o resultado

de um processo atende às expectativas do cliente ou receptor do resultado do

processo; ou quanto economicamente determinados recursos são utilizados no

processo de obtenção de um determinado resultado para prover um nível

adequado de satisfação (GEROLAMO et al, 2002).

O pensamento de Gerolamo e colaboradores (2002) pode ser estendido ao

ponto onde uma avaliação completa de uma organização, seja ela do Terceiro

Setor ou não, deve abranger essas quatro avaliações: Eficiência, Consistência,

Resultado e Impacto (entendido como mudança social no Terceiro Setor).

2.1 Avaliação de Eficiência

A eficiência é a relação entre os recursos investidos em determinado

projeto ou programa e os resultados e efeitos alcançados. Dessa forma, uma

avaliação de eficiência ajuda a decidir se os mesmos resultados poderiam ter sido

alcançados a um custo menor, ou se resultados significamente melhores poderiam

ter sido alcançados com uma pequena soma de recursos adicionais.

Eficiência, nas palavras de Tenório (2006), é a melhor forma de fazer algo

com os recursos disponíveis. É o atendimento dos objetivos com a melhor

alocação de recursos (GOMES et al, 2002).

O Programa de Excelência Gerencial do Exército Brasileiro define os

indicadores da eficiência de um sistema organizacional como indicadores de

Produtividade, pois medem a proporção de recursos consumidos com relação às

saídas resultantes do processo em questão.

No mesmo sentido, Campos (1994) também define produtividade como

sendo a relação entre insumos de um processo produtivo (inputs) e os resultados

propriamente produzidos por este processo (outputs), conforme ilustrado na

Equação 1.

25

Produtividade= InputsOutputs

Equação 1 – Produtividade, segundo Campos, 1994.

E quanto menor for o resultado desta relação, em geral, mais eficiente será

o emprego dos recursos alocados no processo. O pensamento de Campos (1994)

pode ser expresso de uma maneira mais precisa definindo produtividade como o

máximo da produção que a qualidade permite, lembrando que o componente

preço pertence às dimensões da qualidade (CAMPOS, 1994).

A importância da avaliação dos processos internos de uma Organização do

Terceiro Setor é explanada pela ABONG abaixo:

Muitas vezes, a ênfase nos resultados, principalmente por parte de agências de cooperação, vem levando a colocar em segundo plano a importância do tão necessário cuidado com os processos, acentuando a imprópria dicotomia entre processo e produto. Produtos relevantes só podem advir de processos participativos, pedagógicos e coerentes com os princípios e a missão institucionais. Tais processos deverão gerar, necessariamente, produtos expressivos e de qualidade (ABONG, 2007).

O fato da OTS causar um bom impacto (mudança social) não a isenta de

má conduta nos processos e atividades internas. Há uma tendência em acreditar

que se uma OTS atinge seu objetivo, não há necessidade de fazer um bom

gerenciamento (DRUCKER, 2002).

2.2 Avaliação da Eficácia

Ainda segundo Roche (2002), a eficácia visa o grau onde os processos ou

métodos adotados estão consistentes ou em consonância com os resultados

alcançados. Se estivéssemos tratando do segundo setor, nossa avaliação seria

em medidas de satisfação do cliente, ou ainda características do produto e/ou

serviço ofertado estivessem dentro das conformidades e especificações de

qualidade.

Em resumo, eficácia é fazer o que deve ser feito, ou seja, cumprir o objetivo

determinado (TENÓRIO, 2006). Gomes e companheiros (2002) acrescentam que

é o atendimento de objetivos e metas, usando critérios definidos anteriormente.

26

Este tipo de avaliação é bastante comum nas empresas hoje em dia, que

avaliam este grau de satisfação por meio de vários instrumentos, desde caixa de

sugestões até pesquisas bem estruturadas (FREITAS, 2005).

Tenório propõe um quadro para ilustrar a definição dos conceitos de

eficácia e eficiência.

Desempenho Avaliação

Eficaz e Eficiente

Os objetivos propostos foram atingidos com a menor utilização dos recursos disponíveis.

Eficaz, mas ineficiente Os objetivos foram alcançados, mas com maior consumo de recursos do que o previsto.

Eficiente, mas ineficaz Os recursos foram utilizados conforme o estabelecido, porém os objetivos previstos não foram alcançados.

Ineficaz e ineficiente Os objetivos não foram alcançados e o consumo de recursos ultrapassou o previsto.

Quadro 7 – Ilustração do conceito de eficácia e eficiência segundo Tenório, 2006.

2.3 Avaliação da Consistência

Estritamente relacionada com os métodos que são adotados para a

geração de resultados a partir dos insumos empregados, a avaliação de

consistência pode ser mensurada de acordo com o grau de excelência com que

esses métodos são realizados.

Hammer (2007) diz que a gestão de processos virou um modo de vida para

empresas, ou seja, gerir os processos para que eles se tornem de alto

desempenho é um fator fundamental para o sucesso da organização com um

todo.

Seus meios de avaliação são bastante complexos, como se pode verificar

em um processo de certificação, e dado o fato que cada empresa possui seus

próprios métodos para transformar insumos em resultados, a generalização de

indicadores é uma tarefa árdua e muitas vezes imprecisas (PEG, 2007).

27

Mas em geral, um sistema de gestão da qualidade, auditado, padronizado,

normalizado e certificado (seja com o com o selo ISO 9001 ou não), com plenos

conhecimentos das ferramentas da qualidade, pode ser considerado um sistema

consistente.

2.4 Avaliação de Impacto

O impacto é avaliado ao se analisar o grau até onde os resultados de um

processo conduziram a mudanças em outros segmentos.

Insumo A Resultado B Impacto C

Figura 5 – Processo de Impacto. Adaptado de Roche, 2002.

Um insumo “A” aplicado em um processo gera um resultado “B”, e este

resultado causa um efeito ou impacto previsível e desejado “C”, mas também pode

causar um efeito ou impacto não esperado “D”. Assim, antes do início de um

projeto, é possível prever suas prováveis conseqüências ambientais, sociais e

econômicas (ROCHE, 2002).

A avaliação de impacto é, portanto, feita essencialmente sobre a medição

e/ou avaliação da mudança na sociedade decorrente daquele processo (ROCHE,

2002). Essa avaliação é medida por Indicadores de Efetividade (PEG, 2007) e

efetividade, na definição de Tenório (2006) é a capacidade de atender às

expectativas de uma sociedade, ou, segundo Drucker (2002), é a mudança na

vida das pessoas.

2.5 Indicadores para medição de desempenho

A célebre declaração de Joseph Juran “Se você não mede você não

gerencia!”, aplica-se também nas Organizações do Terceiro Setor. Campos (1994)

Influencia Impacto D

28

reforça esta afirmação com seus “itens de controle” da qualidade, gerindo

processos pela gestão da qualidade.

Medição, nas palavras de Carmines & Zeller (1979) significa atribuir

números a objetos ou eventos de acordo com regras. Ou ainda, a medição é a

atribuição de uma escala numérica (quantitativa), ou descritiva (qualitativa) a um

determinado evento ou objeto.

Uma parte relevante do planejamento estratégico das organizações é a

medição de seus resultados. Se a medição for incompatível com os objetivos,

estes possam não ser atingidos (SELLITO & RIBEIRO, 2004). Os autores ainda

definem as medições como modelos numéricos capazes de estruturar descrições

qualitativas.

Neste sentido, o desenvolvimento de indicadores, qualitativos e\ou

quantitativos se faz absolutamente necessário para a gestão das Organizações do

Terceiro Setor, unidos a um Planejamento Estratégico (ABONG, 2007). É

importante ressaltar que indicadores, sejam operacionais, sejam estratégicos,

auxiliem o processo de tomada de decisão. Processo este que Gomes et al

(2002) indicam estar um dos pontos críticos das organizações.

A tomada de decisão faz parte do dia-a-dia de qualquer gestor, e estas

decisões têm que serem tomadas da forma mais segura e confiável possível, pois

decidir é posicionar-se em relação ao futuro (GOMES et al , 2002). Para a tomada

da decisão correta, é necessário dispor do maior número de informações

confiáveis.

Se já há algum tempo os indicadores tradicionais financeiros já não mais

atendem ao planejamento estratégico das empresas (KAPLAN & NORTON, 1997;

CARDOZA & CARPINETTI, 2005; GEROLAMO et al, 2002), quanto mais em uma

organização cujos fins não são lucrativos.

Em uma Organização do Terceiro Setor, vários são os empecilhos

encontrados tanto na elaboração de indicadores de desempenho, quanto na

adoção e/ou desenvolvimento de um SMDO. A seguir, alguns itens classificados

29

como complicador em uma oficina promovida pela ABONG sobre gestão com

participação de diversas entidades no Norte e Nordeste do país (ABONG, 2007).

• As entidades, em geral, revelam dificuldade para institucionalizar a

prática de indicadores, cujos diferentes níveis nem sempre são

levados em conta;

• Muitas vezes, acaba-se por enfatizar o debate sobre indicadores de

impacto em detrimento dos operacionais/institucionais; por outro

lado, a dificuldade de acompanhar os primeiros leva, às vezes, a

preferir a prática e o uso dos últimos;

• As acentuadas resistências de muitas ONGs com relação aos

indicadores não estão totalmente superadas e devem ser

compreendidas e avaliadas a partir da conjuntura internacional que

exerceu fortes pressões sobre elas – num contexto marcadamente

neoliberal - para que aderissem rapidamente a essa temática. A

trajetória política das ONGs se confrontava – e em muitos casos

ainda se confronta - com as exigências e os novos parâmetros de

desenvolvimento institucional e ação social estratégica;

• A falta de previsão dos necessários mecanismos de registro e

monitoramento inviabiliza a utilização de indicadores, favorecendo o

não aproveitamento desses importantes instrumentos;

• A construção de um sistema de indicadores deverá levar em conta o

curto, médio e longo prazos dos programas e projetos de uma

entidade, de forma que os diferentes resultados alcançados pelas

ações tenham inter-relação e correspondência entre si;

Acrescentamos a esta lista que a construção de um sistema de indicadores

deverá levar em conta ainda a estrutura organizacional adotada pela OTS.

Nesta mesma oficina foram propostas as seguintes dinâmicas de

indicadores, que pode ter seu contexto facilmente inserido nos três níveis

organizacionais de uma empresa: estratégico, tático e operacional:

30

Figura 6 – Dinâmica dos indicadores. Fonte: ABONG, 2007.

De acordo com a figura acima, é possível concluir que manter um conjunto

de indicadores sem definição de objetivos é um grave erro. A construção de

indicadores deve estar inserida dentro de um planejamento estratégico da

organização.

Cardoza & Carpinetti (2005) indicam que é preciso integrar os objetivos das

unidades de negócio ou dos processos administrativos com os indicadores de

desempenho.

2.5.1 Elaboração de Indicadores

Se medir é atribuir um valor a um evento ou objeto, este número pode

ser chamado de indicador.

Indicadores permitem acompanhar o andamento de um processo,

identificando riscos em potencial e problemas, antes de se tornarem críticos;

controlar a qualidade e produtividade, obtendo informações importantes para

eficiência de um processo e auxiliar na tomada de decisão (HIKAGE et al,

2006).

Armani (2000) sugere um método para criação de indicadores que consiste

em responder a determinadas questões:

31

• Para que? Definir a variável específica a ser avaliada;

o Ex: nível de associativismo.

• O que? Indicar concretamente o quê se vai avaliar;

o Ex.: variação do índice de sindicalização dos trabalhadores

empregados na comunidade xtpo.

• Quanto? Quantificar a variação esperada.

o Ex.: Aumento de 20% da sindicalização nas categorias

profissionais melhor organizadas e de 10% nas menos

organizadas, em relação à situação inicial (começo do

projeto, conforme conclusões do diagnóstico).

• Quem? Definir grupo social de referência;

o Ex.: Trabalhadores empregados que moram na

comunidade.

• Quando? Indicar a partir de quando e por quanto tempo;

o Ex.: Verificar variações no índice de sindicalização a cada

ano.

• Onde? Indicar localização geográfica de referência.

o Ex.: Comunidade xpto.

• Como? Indicar meios de verificação;

o Ex.: Consulta regular aos sindicatos selecionados e

preenchimento de ficha de acompanhamento pelo grupo

comunitário responsável pelo monitoramento desta

variável do projeto.

• É Viável? Analisar o que o indicador demandará de tempo e

recursos para ser verificador;

32

• É válido? Considerar se o indicador em questão é capaz de

demonstrar que o que está sendo medido/avaliado é efetivamente

fruto do projeto.

Respondendo a todas essas perguntas para cada indicador elaborado, é

possível compreender bem sua necessidade e sua macro-localização em um

SMD.

2.6 Gestão Estratégica em OTS

A ABONG (2007) recomenda às suas associadas à utilização do sistema

PMAS, Planejamento, Monitoramento, Avaliação e Sistematização como

ferramenta para o desenvolvimento institucional interno. Apesar de ser uma

iniciativa em prol da gestão de OTS, é preciso explorar mais este assunto e propor

sistemas de apoio a gestão mais familiarizados com as particularidades das

organizações deste setor.

Para Porter (1991) a essência da formulação de uma estratégia competitiva

é relacionar uma companhia ao seu meio ambiente. A formulação estratégica de

uma OTS está intrinsecamente ligada à missão a que ela se propõe, ou em outros

termos, ao nicho que o Estado é falho e ela ocupa, aos meios e ao financiamento

que ela busca e ao voluntariado que ela motiva e gerencia, etc. E é preciso que

esta estratégia aconteça de modo articulado, em conexão com a missão e com os

demais aspectos de uma entidade (ABONG, 2007).

A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ, 2007) diz que a formulação das

estratégias aborda o processo de planejamento, que visa definir os caminhos que

a organização deve trilhar para tornar real uma visão de futuro, a partir da

identificação de forças restritivas e impulsoras, externas e internas, decorrentes de

uma análise ambiental.

Gerolamo et al (2002) afirmam que é importante que as organizações

busquem métodos para auxiliar nos seus processos de análise, formulação,

desenvolvimento e revisão da estratégia, supondo que a estratégia, assim como o

33

ambiente em que ela atua, não são estáticos. Muito pelo contrário, são

extremamente dinâmicos.

34

Capítulo 3 Sistemas de Medição de Desempenho Organizacional

Toda organização deve procurar melhorar seus índices, sob a pena de

perder cientes, e em conseqüência disto, perder participação mercado e talvez até

a falência (CAMPOS, 1994). Nesta mesma linha de raciocínio, o autor ainda diz

que a sobrevivência da organização depende da sua competitividade, e esta

última depende de sua produtividade.

A competitividade pode ser compreendida com capacidade de produzir

melhor que os concorrentes, como sugere Campos, mas também poder ser

compreendida como a capacidade de melhorar de uma organização.

Os esforços de uma organização então, ainda segundo Campos, devem

estar focados na melhoria contínua de suas atividades para conquistar clientes.

Neely (1999) afirma ainda que a essência da melhoria contínua é procurar

constantemente quais produtos e processos podem ser melhorados.

Para Bond (1999 apud ATTADIA & MARTINS, 2003) a medição de

desempenho pode ajudar a detectar: (i) o que está acontecendo com o

desempenho da empresa; (ii) quais as razões prováveis que configuram a

situação atual; e (iii) quais podem vir a ser as ações a serem tomadas.

As companhias para assegurar que seus objetivos serão atingidos e as

metas alcançadas devem usar medidores de performance para controlar e

melhorar os processos produtivos (GHALAYINI & NOBLE, 1996).

Mas ações isoladas, medições que não são interligadas, e muitas vezes

que não estão de acordo com a missão que a empresa declara, impossibilita o

melhoramento e crescimento contínuos.

Marshall Jr. et al (2007) reforçam a mesma tese de Campos, dizendo que

não basta mais somente a padronização dos processos, fruto do modelo fordista,

é preciso melhorá-los continuamente. E não a melhoria contínua com base na

35

produtividade que gera lucros, e sim a melhoria que caminha em sentido à missão

da organização.

Entretanto, para a melhoria de desempenho, será necessária a realização de diagnósticos e avaliações, quantitativas ou qualitativas, caso contrário não haverá como gerenciar melhorias. Isso implica em um sistema de medição de desempenho (SMD) que somente tem razão de existir se for para alavancar a competitividade da empresa (GEROLAMO et al, 2002).

Segundo Figueiredo et al (2005), um SMDO deve fornecer informações

que possibilitem aos tomadores de decisão perceber não só se a estratégia está

sendo executada de acordo com o planejado, mas também se a estratégia

planejada continua sendo viável e bem sucedida.

3.1 Histórico da Medição de Desempenho Organizacional

A medição de desempenho organizacional pode ser dividida em duas

vertentes: a primeira, iniciada por volta de 1880 e aperfeiçoada na década de 50,

acompanhando o paradigma da produção em massa, é baseada em relatórios e

cálculos financeiros e medidas como ROI (Return On Investment1), EVA

(Economic Value Added2, mais recente) e EBITDA (Earned Before income Tax

and Depreciaton Amortiation3) e a segunda, a partir da década de 90, passa a

considerar os chamados ativos intangíveis (NEELY, 1999; KAPLAN & NORTON,

1992; GHALAYINI & NOBLE, 1996).

Os SMDOs baseados em indicadores financeiros são considerados de

primeira geração, enquanto os que consideram os outros aspectos das

organizações, são denominados de segunda geração.

1 Em vernáculo, ROCE - Retorno Obtido do Capital Empregado.

2 Metodologia para agregar valor por meio econômico (MURAYAMA, 2005).

3 Indicador financeiro utilizado nos relatórios de demonstração de resultados das empresas

(MURAYAMA, 2005).

36

Neely (1999) cita algumas críticas feitas aos SMDOs baseados em

indicadores financeiros:

• Encoraja as ações de curto prazo;

• Foco deficiente na estratégia, pois não fornece dado como

qualidade, tempo de resposta e flexibilidade;

• Encoraja a otimização local;

• Falha ao prover informações que os consumidores querem e como

está a performance dos competidores.

As limitações dos antigos sistemas de medição de desempenho não mais

retratavam a verdadeira realidade em que as organizações se encontravam.

Ghalayini & Noble (1996) dizem que há muitas limitações nos modelos de medição

de performance tradicionais focados em dados financeiros, sugerindo oito motivos

gerais sobre as limitações dos modelos tradicionais de medição de desempenho.

(i) Sistema tradicional de contabilidade da gerência: A maior

limitação deste sistema é a atribuição de custos às operações. Hoje

as atividades de produção não são a maior parcela do custo de um

produto ou serviço;

(ii) Medidas atrasadas (lagging): Os relatórios financeiros são

usualmente “fechados” mensalmente, então as informações só

estarão disponíveis para a gerência tomar decisões quando elas já

estiverem muito antigas para serem integralmente aproveitadas;

(iii) Estratégia corporativa: As medidas de desempenho tradicionais

não incorporam a estratégia da empresa. Os objetivos costumam ser

minimizar custos, aumentar a eficiência do trabalho e a utilização do

maquinário;

(iv) Relevância à prática: As medidas de desempenho tradicionais

tentam quantificar a performance e outros esforços por melhoria em

37

termos financeiros. Contudo, muitos esforços para melhoria são

difíceis em serem expressos em moeda;

(v) Inflexibilidade: Os relatórios financeiros tradicionais são inflexíveis

ao passo que têm um formato pré-determinado para todos seus

setores;

(vi) Caro: A preparação dos relatórios financeiros tradicionais requer um

montante de dados que usualmente são caros de se obter e que a

legislação exige;

(vii) Melhoria contínua: Estabelecer padrões para medidas de

performance pode gerar conflitos com a melhoria contínua. Se estas

não forem definidas com muito cuidado, podem ter o papel de

normalização ao invés de motivação para a melhoria;

(viii) Requisitos do consumidor e técnicas de gestão: As medidas de

desempenho tradicionais não são mais úteis quando os requisitos de

clientes são considerados, tais como: alta qualidade nos produtos,

time to market, etc.

Kaplan & Norton iniciaram uma nova era em relação a desempenho

organizacional ao lançarem a idéia de indicadores balanceados, ou seja, que os

indicadores sejam colhidos em várias partes da organização (NEELY, 1999).

Neely faz ainda um levantamento sobre a necessidade da mudança na

medição do desempenho organizacional. Este levantamento, como pode ser

percebido, vai de acordo com o trabalho de Ghalayini & Noble citado

anteriormente.

• A mudança da natureza do trabalho: Os relatórios financeiros eram

apropriados quando o custo de produção de um determinado item

era composto por mais de 50% de mão de obra. A realidade hoje

indica que este percentual raramente ultrapassa a casa dos 12%;

• O aumento da competitividade: Não há dúvida que o nível de

competição ao redor do mundo cresceu com a globalização. As

38

organizações estão sempre sendo pressionadas a reduzir seus

custos e agregar valores aos produtos / serviços entregues aos seus

consumidores;

• Iniciativas específicas em melhoria: Em resposta ao aumento da

competição, numerosas organizações adotaram iniciativas de

melhoramento, como CQT, produção enxuta, etc;

• Prêmios nacionais e internacionais de qualidade: O prêmio

Deming no Japão, o Baldrige nos Estados Unidos e o prêmio da

European Foundation for Quality Management (EFQM) são alguns

exemplos de prêmios que aumentam o valor econômico das

empresas. Muitos desses prêmios, devido a sua complexidade,

excluíam partes das organizações que não necessitavam da

estrutura avaliada por terem um porte menor. Muitos desses prêmios

foram adaptados para organizações menores e menos complexas,

sem contudo, perder sua importância4;

• Mudanças nas regras organizacionais: A tecnologia disponível

mudou completamente a forma das empresas se organizarem, e

também, a forma de se medir seu desempenho: Neely (1999) aponta

três razões: (i) as medições de performance tendem a ser integrais;

(ii) o alcance aos níveis de performance devem ser recompensados

e (iii) muitas organizações passaram por programas de downsizing;

• Mudança nas demandas externas: Atualmente as organizações

estão sujeitas a um leque bem variável de demandas externas. Os

consumidores não esperam somente produtos e serviços de alta

4 No Brasil, o PNQ – Premio Nacional de Qualidade – dado pela FNQ – Fundação Nacional

da Qualidade – é concedido em três categorias: Grandes Empresas (mais de 500 funcionários na

força de trabalho), Médias Empresas (de 51 a 499 funcionários na força de trabalho) e Pequenas e

Micro Empresas (até 50 funcionários na força de trabalho), adaptando a avaliação para cada

categoria (MARSHALL JR. et al , 2007).

39

qualidade, agora eles têm expectativas de serem surpreendidos, em

um atendimento exclusivo;

• O poder da tecnologia da informação: É sem dúvida o maior

direcionador da revolução nas medições de desempenho, pois não

só a captação de dados está fácil, sua análise também acompanhou

as facilidades da trazidas com a tecnologia, bem como a sua

apresentação.

3.2 Principais Modelos de Medição de Desempenho

Em uma extensa revisão bibliográfica na época, Martins (1999) levantou

mais de 20 modelos para medição de desempenho desenvolvidos ao longo da

década de oitenta e noventa. Estes modelos levantados pelo autor já são

consideramos modelos de segunda geração, ou seja, já não são baseados

somente em indicadores financeiros e já consideram os ativos intangíveis de uma

organização.

Attadia & Martins (2003) apresentam de forma sintética no Quadro 8 os

principais modelos de medição de desempenho apresentados por Martins (1999)

no trabalho anterior.

Modelo de Medição de Desempenho Principais Características Performance Measurement Matrix

• Medidas de Desempenho internas e

externas, financeiras e não financeiras; • Medidas de desempenho ligadas à

estratégia.

SMART – Performance Pyramid

• Medidas de desempenho de eficiência

interna e eficácia externa; • Medidas de desempenho desdobradas

da estratégia da empresa.

Integrated Performance Measurement System

• Desdobramento estratégico para

negócio, unidade de negócio, processos e atividades gera medidas considerando os requisitos dos stakeholders (partes interessadas), monitoramento externo, objetivos e medidas de desempenho.

40

Performance Prism

• Medição de desempenho da satisfação

dos stakeholders; • Comunicação da estratégia; • Abordagem pela gestão de processos

de negócio.

Balanced ScoreCard

• Medidas de desempenho agrupadas

em quatro perspectivas; • Relação de causa e efeito entre as

perspectivas reflete a estratégia.

Quadro 8 – Principais propostas de modelos de Sistemas de Medição de Desempenho. Fonte: Attadia & Martins, 2003.

3.2.1 Performance Measurement Matrix

Para Keegan et al (1989 apud MARTINS, 1999), as medidas de

desempenho devem atender a três premissas:

(i) Serem derivadas da estratégia, hierárquicas e integradas através

das funções da empresa;

(ii) Suportarem um ambiente multidimensional (em relação às

medidas de custo e não custo e ao ambiente externo e interno);

(iii) E serem baseadas no perfeito entendimento do comportamento e

relacionamento dos custos.

41

Figura 7 – Matriz de Medição de Desempenho. Fonte: Keegan et al 1989 apud Martins, 1999.

Como pode ser notado na Figura 1, a Matriz de Medição de Performance

sugere o que o desempenho seja aferido tanto em componentes que tenham

custo, quanto em componentes que não o tenham, considerando os aspectos

internos e externos.

Os autores ainda citam que o SMDO de uma empresa contribui para esta

alcançar seus objetivos, mas advertem que as medidas de desempenho devem

desdobrar-se dos níveis hierárquicos superiores para os inferiores, e interagirem

nos níveis hierárquicos horizontalmente.

42

3.2.2 SMART – Performance Pyramid

A sigla SMART significa Strategic Measurement, Analysis, and Reporting

Technique, em uma livre tradução, Técnica de Medição Estratégica, Análise e

Relatório.

Trata-se de uma proposta de mudança da orientação do SMDO em custos

para suportar a melhoria dos processos (MCNAIR, 1990 apud MARTINS, 1999).

Mas esta mudança é muito difícil considerando somente os dados da

contabilidade tradicional. Cross e Lyntch (1990, apud MARTINS, 1999), sugerem

um mecanismo para implementar esta teoria. Esse mecanismo é a Performance

Pyramid, que foi desenvolvida com base nos conceitos de Gestão pela Qualidade

Total, Engenharia Industrial e Custeio Baseado em Atividades e está ilustrada na

Figura 8.

Figura 8 – Performance Pyramid. Fonte: Cross & Lynch, 1990 apud Martins, 1999.

Sua proposta é levar a visão da organização, traduzida em objetivos

financeiros e de mercado, a todas as áreas de trabalho da empresa. Seu foco esta

em administrar as medidas de desempenho de maneira a sustentar a visão da

corporação (MARTINS, 1999).

43

A visão ideal de uma organização deve (a) mostrar onde a empresa está,

(b) aonde quer chegar e (c) que meios serão necessários para atingir esse

objetivo (ALLEN, 1998). A formalização da visão de uma organização junto com

uma estratégia de comunicação da mesma é uma forma de motivar os

funcionários a perseguir este futuro.

Murayama (2005) cita uma pesquisa revelando que apenas 5% dos

funcionários da linha operacional compreendem a visão de futuro da empresa, ou

seja, aonde a empresa precisa concentrar esforços, empregar recursos e obter

resultados para alcançar um objetivo. O autor ainda acrescenta que esses

funcionários não compreendem exatamente qual é a sua contribuição, nem o

impacto de suas atividades nos objetivos estratégicos da organização.

Este fato do desconhecimento da visão por parte dos membros das

organizações localizados em níveis organizacionais hierárquicos inferiores

compreende um problema grave de comunicação interna. A estratégia precisa ser

deliberada, mas também comunicada (NEELY, 1999).

Seus indicadores são divididos em dois grupos, conforme ilustrado na

Figura 8 pela área hachurada. Um grupo é formado pelos indicadores da eficácia

externa (mercado), o outro grupo é formado pelos indicadores de eficiência interna

(processos).

A divisão entre as unidades hierárquicas de negócio (estratégico, tático e

operacional) contempla a maioria das estruturas organizacionais existentes, mas

os autores não comentam nada sobre interação entre essas medidas, ou seja, os

funcionários de um determinado nível hierárquico organizacional ter acesso ao

desempenho dos outros níveis (MARTINS, 1999).

3.2.3 Integrated Performance Measurement System

O Integrated Performance Measurement System (IPMS) é um modelo de

SDMO desenvolvido por Bititci, Carrie e McDevitt (1997a, 1997b). Sua estrutura

está baseada em um loop interno de desdobramento da visão até a medição do

desempenho, como pode ser averiguado na Figura 9:

44

Visão

Objetivosdo negócio

Objetivosestratégicos

Fatores críticos do sucesso

Plano de ação de tarefas críticas

Medidas de Desempenho

feedback

Desdobram

ento

Visão

Objetivosdo negócio

Objetivosestratégicos

Fatores críticos do sucesso

Plano de ação de tarefas críticas

Medidas de Desempenho

Visão

Objetivosdo negócio

Objetivosestratégicos

Fatores críticos do sucesso

Plano de ação de tarefas críticas

Medidas de Desempenho

feedback

Desdobram

ento

Figura 9 – Sistema de loop fechado com desdobramento e feedback. Fonte: Bititci et

al, 1997b.

O objetivo do desdobramento do IPMS é assegurar que:

(i) As medições de performance sejam utilizadas em vários níveis da

organização;

(ii) O desdobramento seja consistente através da hierarquia da

organização e;

(iii) O desdobramento seja relevante e correto com o impacto e

influências das áreas de negócio individualmente.

Bititci e seus companheiros (1997b) também definem o que é um processo

de gerenciamento da performance: aquele é o processo pelo qual a empresa

gerencia sua performance de acordo com a estratégia e objetivos coorporativos. A

Figura 10 situa o processo de gerência da performance, o sistema de medição de

desempenho e o sistema de informações de uma organização.

45

Figura 10 – O processo de gerência do desempenho e a posição do sistema de medição de desempenho. Fonte: Bititci et al, 1997b, livre tradução.

Para o funcionamento do IPMS, são adotadas duas considerações críticas:

• Integridade: habilidade do SMD em promover a integração entre as

várias áreas de negócio;

• Desdobramento: distribuição dos objetivos e políticas do negócio

através da estrutura hierárquica da organização (Figura 9).

Bititci e seus companheiros utilizam o VSM (Viable Systems Model, ou

modelo de sistemas viáveis, em uma livre tradução) para assegurar a integridade

de seu sistema. O VSM é baseado em 5 subsistemas: (a) o sistema 1 representa

a função produtiva de uma organização, (b) o sistema 2 representa o processo de

negócio que contém as funções do sistema 1. (c) o sistema 3 representa o nível

tático gerencial que gerência os sistemas 1 e 2. (d) o sistema 4 tem um foco na

melhoria continua e por fim, (e) o sistema 5 é o “chefe”, que define a direção e os

objetivos corporativos. Estes cinco subsistemas do modelo conceitual VSM são

apresentados na Figura 11.

46

Figura 11 – Configuração do VSM com sua interpretação em uma estrutura de SMD. Bititci et al, 1997b.

Os autores do modelo do SMD IPMS ainda propõe a adoção do conceito de

quatro níveis de unidades de negócio, considerando a estrutura organizacional da

empresa.

Figura 12 – Estrutura Organizacional para o IPMS. Fonte: Bititci et al, 1997a, livre tradução.

Nestes termos, a Figura 13 ilustra o modelo de referência para o IPMS:

47

Figura 13 – Modelo de Referência para o Sistema de Medição de Desempenho Integrado. Fonte: Bititci et al, 1997a, livre tradução.

48

3.2.4 Performance Prism

O Performance Prism é um sistema de medição de desempenho onde o

foco está nos stakeholders. Suas medições derivam das necessidades e

contribuições dos stakeholders das organizações, e este sistema considera uma

falácia derivar a estratégia da missão (NEELY & ADAMS, 2000).

Partindo de cinco perspectivas, é montado um prisma tridimensional onde

cada face corresponde a uma das perspectivas, que são independentes, mas

também interligadas logicamente.

As faces do prisma são divididas em faces do topo e do fundo, e as faces

do lado. As do topo de do fundo são respectivamente: Satisfação dos stakeholders

e contribuição dos stakeholders. As três faces laterais são: Estratégia, Processos

e Capacidades.

Figura 14 – Estrutura do Performance Prism. Fonte Neely & Adams, 2000, livre tradução.

Os autores sugerem cinco perguntas para o projeto das medições:

1. Satisfação dos stakeholders: Quem são os stakeholders chaves e

o que eles querem e precisam?

49

2. Estratégias: quais estratégias são necessárias adotar para

satisfazer os desejos e necessidades destes stakeholders chaves?

3. Processos: quais processos críticos devemos atender pra executar

essas estratégias?

4. Capacidades: quais capacidades (habilidades, potencialidades)

devemos adquirir para operar esses processos?

5. Contribuição dos stakeholders: Quais são as contribuições

necessárias dos stakeholders para manter e desenvolver essas

capacidades?

Figura 15 – Dinâmica dos valores no Performance Prism. Fonte: Neely & Adams, 2000, livre tradução.

Na Figura 15 verifica-se a dinâmica existente entre as diferentes fazes do

prisma. Uma boa leitura da figura se iniciaria da parte central, satisfação dos

stakeholders, seguindo pelo sentido anti-horário estratégia, processos,

capacidades, e por fim, contribuição dos stakeholders.

50

Em todo caminho há influência dos stakeholders, pois, como já esclarecido

do início desta seção, o Performance Prism é um método baseado nos

stakeholders, iniciando e terminando com eles.

3.2.5 Balanced ScoreCard

O Balanced ScoreCard (BSC) lançado por Kaplan & Norton em 1992 é hoje

o modelo SMDO mais difundido na bibliografia consultada.

Attadia (2004) diz que o BSC passou por um processo de evolução desde

sua concepção original. Esta evolução esta estritamente ligada ao uso do modelo.

A partir das várias experiências de implementação, os autores Kaplan & Norton

(1997) perceberam que para as empresas, o BSC era muito mais do que um

modelo para medição de desempenho.

Canevarolo (2004) propõe três gerações para o BSC:

1.ª geração: em seu lançamento, em 1992, a proposta era de utilizar

algumas medidas não financeiras para direcionar os indicadores de

processo;

2.ª geração: Em 1996 o BSC passa a ser proposto com sistema de

medição de desempenho alinhado com a estratégia da organização;

3.ª geração: Em 2001 o BSC passa a ser visto também como um

método de apoio para comunicar a visão e a estratégia organizacional,

onde o foco esta centralizado na implementação da estratégia.

Attadia (2004) acrescenta que o BSC hoje pode ser considerado um

Sistema de Gestão Estratégica, equilibrando objetivos de curto e longo prazo.

Sua proposta consiste em balancear as medições nas áreas de negócios

das empresas por meio de indicadores nos scorecards.

Inicialmente, o BSC propõe quatro perspectivas, mas os próprios autores

admitem que estas perspectivas podem ser mudadas de acordo com a

necessidade da organização, adicionando novas e/ou eliminando as iniciais.

51

(KAPLAN & NORTON, 1997). Prieto et al (2006) resumem cada uma das

perspectivas abordadas por Kaplan & Norton.

• Perspectiva Financeira – Como os stakeholders nos vêem?: Monitora

se a estratégia da empresa está contribuindo para a melhoria dos

resultados financeiros. As metas financeiras se relacionam com

rentabilidade, crescimento e valor para os acionistas;

• Perspectiva do Cliente – Como os consumidores nos vêem?: Pressupõe definições quanto ao mercado e segmentos nos quais a

organização deseja competir. A organização deverá traduzir em

medidas específicas os fatores importantes para os clientes. A proposta

é monitorar como a empresa entrega real valor ao cliente certo.

Normalmente são definidos indicadores da satisfação e de resultados

relacionados aos clientes: satisfação, retenção, captação e

lucratividade;

• Perspectiva dos Processos Internos – Nós precisamos ser excelentes

em que?: Os indicadores de perspectiva dos clientes e dos acionistas

devem ser apoiados por processos internos. Nesta perspectiva as

organizações identificam os processos críticos para a realização dos

objetivos das duas perspectivas anteriores. Os processos devem criar

as condições para que a organização ofereça propostas de valor ao

cliente, capazes de atrair e reter clientes nos seus segmentos de

atuação e, ao mesmo tempo, criando valor aos acionistas;

• Crescimento e Aprendizado – Nós podemos continuar a melhorar e

criar valores?: Empresas com condição de serem cada vez melhores

são empresas com capacidade de aprender. A capacitação da

organização se dará por meio dos investimentos em novos

equipamentos, em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, em

sistemas e procedimentos e nos recursos humanos da empresa.

As quatro perspectivas devem estar interligadas entre si e guiar a

organização para cumprimento e contemplação de sua estratégia, a caminho da

52

sua visão. Essas estratégias derivam diretamente da declaração de missão da

organização.

A Figura 16 ilustra os relacionamentos das quatro perspectivas com seus

scorecards em relação à missão e visão da organização.

Figura 16 – As quatro perspectivas do BSC. Fonte: Kaplan & Norton, 1997.

O scorecard é um cartão que possui os objetivos, as medidas, as metas

(objetivos quantificados) e as iniciativas necessárias para atingir as metas

estabelecidas. Cada indicador deve possuir essas quatro informações.

Ainda é sugerido o desenvolvimento de um mapa estratégico, indicando

como as perspectivas se relacionam. A seguir os autores propõem um mapa

genérico.

O objetivo deste mapa estratégico é financeiro, portanto a perspectiva

financeira está no topo, e toda estratégia é desenhada para atingir esse objetivo.

A interatividade entre as perspectivas se dá por meio de uma relação de

causa e efeito. No exemplo ilustrativo a seguir, Kaplan & Norton (1997) expõem

sua teoria.

53

Para se conseguir um resultado financeiro (ROI, por exemplo), deve-se

conquistar a lealdade dos clientes, e para isto, as entregas têm que serem feitas

dentro do prazo afirmado. As entregas só serão feitas dentro do prazo se houver

qualidade no processo e se o tempo de ciclo do processo for monitorado. Por

último, a qualidade do processo só será aumentada se houver investimentos na

habilidade dos funcionários.

Figura 17 – Mapa estratégico ilustrativo do BSC. Fonte: Kaplan & Norton, 1997.

O BSC limita a influência dos stakeholders em clientes (perspectiva dos

consumidores) e investidores (perspectiva financeira), ignorando outros como

fornecedores, funcionários, comunidade, etc., mas em uma OTS, a missão da

organização é mais importante do que seus stakeholders.

3.3 Processo de desenvolvimento e implantação de um

SMDO

O desenvolvimento de um SMDO não basta para seu funcionamento, é

preciso que um processo e uma estratégia de implantação atuem conjuntamente

para o sucesso do sistema como um todo.

54

A Figura 18 ilustra todo o processo de implantação de um SMD de uma

organização.

Figura 18 – Etapas de desenvolvimento, implantação e utilização de um SMD. Fonte Cardoza et al, 2003.

Cardoza et al (2003) após uma revisão bibliográfica pelos principais autores

relacionados com o SMDO, propõe um resumo geral dos passos mínimos para o

desenvolvimento e implantação:

⎯ A primeira atividade é definir os objetivos estratégicos das unidades

organizacionais, identificando as competências, oportunidades, ameaças e

restrições globais que a empresa sofre no ambiente interno e externo;

55

⎯ Em seguida, é necessário identificar as áreas críticas de desempenho

(ACP’s). As ACP’s são os fatores críticos de sucesso que levam a

organização a alcançar os objetivos estratégicos;

⎯ Outra atividade essencial no início do projeto é apontar a necessidade de

medir o desempenho da empresa, identificando os fatores externos e

internos que afetam a performance das unidades de negócio;

⎯ A seguir, a equipe define as métricas de desempenho apropriadas para

cada uma das ACP’s;

⎯ Depois, o projeto de SMD deve ser implementado. Ao mesmo tempo, a

proposta deve ser revista pelos participantes;

⎯ Outra atividade importante é o meio que será utilizado para comunicar e

visualizar o desempenho da empresa; e

⎯ Finalmente, as últimas etapas são identificar e implementar as iniciativas de

melhorias nas áreas que apresentam resultados insatisfatórios e rever o

impacto dessa melhoria no desempenho geral da empresa.

O escopo deste trabalho delineia-se somente pela fase do projeto.

56

Capítulo 4 SMDOTS – Sistema de Medição de Desempenho Organizacional para o Terceiro Setor

4.1 Escolha do modelo base

No trabalho de Tenório (2006) constata-se que os funcionários das ONGs,

em especial os do quadro dirigente e técnico da organização, são altamente

estimulados a trabalhar pela missão da organização, contagiando em certo grau

os funcionários dos setores administrativos e de serviços.

Drucker (2002) diz que a missão de uma OTS é a sua razão de existir, e a

ABONG (2007) acrescenta que uma OTS não deve traçar seus objetivos em

função das necessidades dos seus financiadores, mas sim das demandas das

sociedades.

Cardoza & Carpinetti (2005) relatam que uma vantagem é alcançada

quando o SMD reúne informações de diversas áreas da empresa. Com isso é

possível identificar com mais segurança problemas e elaborar eventos de

melhoria.

Gerolamo et al (2002) afirmam que inútil seria um SMD integrado a um ativo

processo de gestão de melhoria e mudança sem uma orientação estratégica, ou

seja, um SMD que não abrange a filosofia da organização – declaradas na missão

e visão – não pode ser útil.

A missão corporativa, segundo Tubino (2000), é a base de uma empresa.

Esta deve ser entendida por todos, inspirar e desafiar a organização para atingi-la.

Tubino propõe algumas questões que devem ser contempladas na declaração da

missão:

• Qual o escopo do negócio?

• Qual a essência do negócio?

57

• Qual o sentido e intensidade do crescimento que se está

buscando?

• Como atender as necessidades dos clientes?

A missão, ainda segundo Tubino, é uma meta a ser alcançada. Ela deve ser

operacionalizada por meio da definição e implantação das estratégias corporativa,

competitiva e funcional.

Para Storch et al (2004) o principal objetivo da implantação do BSC é a

identificação de indicadores que melhor comuniquem o significado da estratégia.

Attadia & Martins (2003) dizem que a medição de desempenho deve ser

estruturada em um SMD, o qual deve abranger todos os níveis hierárquicos, tendo

como finalidade a implantação de melhorias relativas para o melhoramento

incremental dos processos. Os autores ainda acrescentam que o SMD deve ser

constituído por medidas financeiras e não financeiras balanceadas entre si e

alinhadas com a estratégia.

Segundo Storch et al (2004) o Balanced ScoreCard deve traduzir a missão

e a estratégia da organização em objetivos e medidas tangíveis. Nestes termos, a

adoção do BSC vai de encontro com as particularidades das organizações do

terceiro setor e servirá de base para o SMDOTS.

É possível encontrar algumas adaptações do BSC à realidade do setor não

lucrativo. Mâsih et al (2001) apresentam uma adaptação onde a perspectiva

financeira permanece no topo do mapa estratégico. Isto representa um erro

conceitual, pois o lucro não é o objetivo maior da organização.

Batista et al (2007) fazem uma análise da implantação do BSC em OTS e

indicam que as características do Balanced ScoredCard é destinada a aumentar o

valor do acionista, através de um conjunto balanceado de indicadores, mas a

ausência destes objetivos em uma OTS pode significar que os indicadores

propostos originalmente não sejam adequados a realidade do Terceiro Setor.

A análise realizada por Batista et al (2007) é feita com as perspectivas

originais do BSC, com a única adaptação da perspectiva “Clientes” ser trocada de

58

posição com a perspectiva “Financeira”. Esta proposta não contempla a missão de

uma organização, que é mudar a sociedade em que ela atua (DRUCKER, 2002).

4.2 Validação do Modelo

O questionário presente no Anexo 01, anexo a uma breve descrição do

modelo, foi enviado por via eletrônica a todas as associadas da ABONG com e-

mails disponibilizados em 08/10/2007 no site http://www.abong.org.br. A Tabela 3

traz os dados referentes aos questionários submetidos às associadas divido por

suas regionais.

Os e-mails foram encaminhados no próprio dia 08/10/2007 (segunda-feira),

com uma solicitação de resposta até o dia 25/10/2007 (sexta-feira), totalizando

três semanas para análise, contemplação e esclarecimentos do modelo.

Apesar da definição de ONG admitida pela ABONG não está em perfeita

harmonia com a definição da ONU/JHU adotada para este trabalho, pois a

primeira é mais rigorosa, é possível dizer que todas as organizações que a

ABONG admite estão inclusas nessa definição.

Para se chegar ao número “Total efetivamente enviados” checou-se a

quantidade de associadas por regional, colheu-se todos os e-mails

disponibilizados para o envio do questionário. Os e-mails que não chegaram aos

seus destinatários foram contabilizados e estão apresentados na coluna “E-mails

inválidos”.

59

Tabela 3 – Quantidade de associadas da ABONG por regional.

Regional Estados Quantidade

de Associadas

E-mails disponibilizados

E-mails inválidos

Total de efetivamente

enviados

Total de e-mails

respondidos

Amazônia

AC, AP, AM, MA, PA, RO, RR, TO

26 25 7 18 0

Centro-Oeste DF, GO, MT, MS 18 18 4 14 1

Nordeste I AL, PB, PE 40 38 11 27 1

Nordeste II BA e SE 28 26 5 21 0

Nordeste III CE, PI, RN 28 27 5 22 0

São Paulo SP 49 40 7 33 0

Sudeste ES, MG e RJ 56 48 6 42 0

Sul RS, SC e PR 26 23 5 17 1

Total 271 245 50 194 3 Fonte Própria.

Dos 245 e-mails enviados com o questionário para validação do modelo,

apenas 194 chegaram aos seus destinatários e menos ainda foram respondidos:

Apenas três questionários.

Também foram enviados questionários oito para professores universitários

cuja atuação profissional\acadêmica e\ou formação estivessem relacionados com

o tema abordado. No Quadro 9 está descrito o perfil dos professores

respondentes.

60

Professor Instituição Descrição

Alcimar das Chagas Ribeiro UENF5 Doutor em engenharia de produção, economista e professor do PPGEP, onde desenvolve trabalho sobre desenvolvimento local.

Ely de Abreu UENF Doutor em engenharia de produção, professor do curso de engenharia de produção e economista.

Hélio Gomes Filho CEFET-Campos6 Mestre em análise e planejamento regional e membro do Observatório socioeconômico na cidade de Campos

Nelson Crespo Pimentel CEFET-Campos

UFF

Mestre em análise e planejamento regional, presidente da ONG Cidade 21 e professor da área de geografia e sociologia.

Romeu e Silva Neto CEFET-Campos

ISE-CENSA7

Doutor em engenharia de produção, coordenador da pós-graduação em produção e sistemas no CEFET, coordenador da graduação em engenharia de produção no ISE-CENSA e membro do observatório socioeconômico na cidade de Campos.

Quadro 9 – Professores solicitados a validar o modelo. Fonte Própria. Baseado nos curriculos dos professores cadastrados no sistema Lattes.

Dos oito professores solicitados a responder o questionário, somente cinco

descritos no Quadro 9 o fizeram.

Os organizadores do Mapa do Terceiro Setor (http://www.mapa.org.br)

também receberam por e-mail o questionário para validação do modelo, mas

nenhuma resposta foi obtida.

Ao todo foram enviados 204 questionários efetivamente, e somente oito

respondidos. Apesar do baixo número de respondentes, a validação do modelo é

possível, pois a pesquisa não se baseia na opinião da massa, e sim na avaliação

de especialistas.

5 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. 6 Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos. 7 Instituto Superior de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora.

61

O questionário foi estruturado com seis perguntas relativas à validação do

modelo. As quatro primeiras questões são respondidas em um grau de

concordância variando de 1 a 10, onde a nota 1 é a discordância total e a nota 10

é a concordância total com a pergunta. As perguntas 5 e 6 são abertas e procuram

saber a opinião dos respondentes em relação à implantação (pergunta 5)

permitem sugestões ao modelo não contempladas (pergunta 6).

Os valores apresentados no gráfico são a média das respostas obtidas por

perfil do respondente.

1) Os aspectos considerados na metodologia refletem a realidade da Gestão do Terceiro Setor?

8,678,80

0

2

4

6

8

10

OTS Professores

Gra

u de

Con

cord

ânci

a

Figura 19 – Gráfico das respostas da questão 01. Fonte própria.

62

2) A metodologia, em questão, mede aquilo que se propõe a medir?

8,678,40

0

2

4

6

8

10

OTS Professores

Gra

u de

Con

cord

ânci

a

Figura 20 – Gráfico das respostas da questão 02. Fonte própria.

3) Consideraria os resultados da metodologia confiáveis?

8,008,33

0

2

4

6

8

10

OTS Professores

Gra

u de

Con

cord

ânci

a

Figura 21 – Gráfico das respostas da questão 03. Fonte própria.

63

4) Considera a estrutura lógica da metodologia coerente?

9,208,33

0

2

4

6

8

10

OTS Professores

Gra

u de

Con

cord

ânci

a

Figura 22 – Gráfico das respostas da questão 04. Fonte própria.

Em todas as respostas é notado sempre um grau de concordância

(respostas de 6 a 10), seja ele grande ou pequeno, ou seja, em nenhum momento

algum respondente discordou do modelo proposto (respostas de 1 a 5).

Para cada questão, há um espaço para observações da resposta. Após a

contemplação das ponderações feitas, umas foram adotadas e outras

descartadas.

As respostas também apresentaram alguma variabilidade, como pode ser

conferido na Tabela 4.

Tabela 4 – Amplitude das respostas do questionário de validação.

OTS Pesquisador Mínimo Máximo Mínimo Máximo Questão 01 7 10 7 10 Questão 02 7 10 7 10 Questão 03 6 10 6 10 Questão 04 6 10 8 10

Fonte própria.

Na questão cinco, é perguntado ao respondente sobre as principais

dificuldades para a implantação da metodologia. Em geral, tanto dos dirigentes

das OTS e os professores, apontaram o “amadorismo” e a qualificação dos

64

profissionais envolvidos na gestão das OTS. Houve também apontamentos na

dificuldade de se quantificar medidas qualitativas.

A sexta e última questão é uma oportunidade do respondente sugerir

aspectos não considerados pelo modelo proposto. Dessas respostas foram feitos

os ajustes finais apresentados a seguir.

4.3 Perspectivas

Como os próprios autores do BSC já haviam dito (KAPLAN & NORTON,

1997), as perspectivas podem mudar de acordo com a necessidade de cada

organização. São propostas neste trabalho as perspectivas julgadas necessárias

para contemplar genericamente uma OTS. Obviamente, na implantação do

modelo, adaptações a cada realidade são necessárias.

A Figura 23 relaciona a missão, a visão e a estratégia da organização com

as perspectivas do modelo. Neste sentido, fica claro o relacionamento dos

objetivos estratégicos de cada perspectiva tem que ter com as filosofias da

organização.

Missão Visão

Estratégia

Cidadão Beneficiário

Atividades Internas

Mobilização de

Recursos

Habilidades e

Motivação

Mudança na

Sociedade

Figura 23 – Perspectivas do SMDOTS. Fonte própria.

65

4.3.1 Mudança na Sociedade

“Como nossas atuações têm mudado a sociedade em que atuamos?”

Medir a mudança na sociedade é uma tarefa árdua e complicada. Com já

visto na Figura 5 do capítulo 1, um resultado pode causar mais de um impacto.

Para se medir este impacto, várias são as possibilidades. Para uma OTS

que trabalha com menores de rua, por exemplo, a diminuição desses menores ao

longo dos anos é um bom indicador. Para as que trabalham com prevenção de

DST (doenças sexualmente transmissíveis), os índices de mortandade e

morbidade divulgados pelo ministério da saúde são muito úteis.

A idéia exposta por Roche (2002) sobre avaliação de impacto no Terceiro

Setor reflete a percepção de Drucker (2002) em considerar fatores externos na

avaliação, ou seja, que a avaliação de uma OTS é feita de fora para dentro.

4.3.2 Cidadão Beneficiário8

“Como nossos cidadãos-beneficiários nos vêem?”

Como a OTS existe para suprir uma necessidade da sociedade, esta

perspectiva se faz necessária para verificar se a sociedade que a OTS atende

está satisfeita.

Heckert & Silva (2001) já apontam a necessidade de verificar a qualidade

dos serviços prestados por uma organização sem fins lucrativos, identificando as

dimensões a serem analisadas e as cruzando com os principais stakeholders.

A medição da satisfação do cidadão-beneficiário se dá de várias formas,

desde uma pesquisa diretamente com o cidadão-beneficiário, por meio de

8 O termo Cidadão-beneficiário é proposto por Tenório (2006) em substituição a outras

denominações, como público-alvo, cliente, grupo-alvo, beneficiário entre outros a fim de incorporar

o conceito de “cidadania” à formulação, implementação e avaliação das OTS.

66

entrevistas, formulários, questionários ou outros meios de verificar a satisfação

dos clientes.

Freitas (2005) levanta uma série de instrumentos para tal:

• Formulários de Pesquisa (questionário): para serem respondidos

diretamente pelos clientes. Podem ser desenvolvidos baseados em

conhecidos métodos, como ServQual, ServPerf, etc.;

• Entrevistas: realizadas pessoalmente ou por telefone, sendo que

qualidade da informação depende da habilidade do entrevistador;

• Pesquisa de Mercado: realizadas normalmente por um instituto de

pesquisa independente, e costuma ter um custo muito alto;

• Urna de Sugestões: é um instrumento de comunicação diária com

os clientes, capaz de captar elogios, críticas e sugestões;

• Mesa redonda com o Cliente: consiste em uma reunião planejada

com entre organização e clientes selecionados aleatoriamente;

• Serviço de Atendimento ao Consumido (SAC): consiste em uma

linha telefônica ou e-mail disponibilizados para o cliente se

manifestar.

4.3.3 Mobilização de Recursos

“Como nossos financiadores nos vêem?”

O termo “mobilização de recursos” é preferível ao termo “captação de

recursos” ao passo que o primeiro traz em si o conceito de não somente captar, e

sim assegurar recursos novos e adicionais, bem como otimizar o uso de recursos

já existentes (ALBUQUERQUE, 2007; ABONG, 2007).

A OTS, continua a ABONG, deve buscar a sua sustentabilidade, ou seja,

sua capacidade de sobrevier o mais independente de seus financiadores. Gerando

recursos próprios, se possível.

67

Embora as OTS não tenham fins lucrativos, observa-se uma grande

preocupação pela captação de recursos financeiros.

É importante que se conheça a quantidade de recursos necessários para as

ações a serem desenvolvidas, sejam esses recursos financeiros ou não. A

comparação da quantidade de recursos necessários e a quantidade de recursos

alcançados é um indicador de eficácia (resultado sobre objetivos).

4.3.3.1 Captação de Recursos Financeiros

O princípio de Paretto, ou princípio 80/20, é uma constante verdadeira na

captação de recursos de uma OTS, onde 80% da arrecadação têm origem em

apenas 20% dos doadores (ALBUQUERQUE, 2007).

O autor cita ainda um trabalho da Consulting Ogilvy Wordwide

determinando perfis de doadores, o que possibilita a elaboração de estratégias

para cada um desses perfis:

• Pró-ONGs: Contribuem espontaneamente com diversas ONGs,

normalmente são sócios colaboradores;

• Colaboradores: Pessoas que além de contribuir, participam ativamente

de ações e atividades;

• Sem fidelidade (free minded): Têm hábito de contribuir, mas o fazem

em diversas entidades;

• Eventuais: Pessoas que se mobilizam diante de algum fato grave

• Telemaratonianos: Parecidos com os eventuais, mas colaboram devido

a um apelo emocional em campanhas por rádios e redes de televisão.

Apesar de não estar explicito na listagem acima, o repasse de verbas

públicas também é considerado uma fonte de recursos para as OTS.

Nenhuma organização deve depender de poucas fontes de recursos.

Apesar do que disse Albuquerque sobre o princípio de Paretto, deve-se combater

essa situação, pois acaso essa fonte não possa mais contribuir, a existência da

organização estará comprometida.

68

A ABONG (2007) recomenda que a captação de recursos seja feita de

maneira que a desistência de um ou de outro doador não comprometa seriamente

o seu trabalho.

Um exemplo de uma folha de captação de recursos mal gerida pode ser

encontrado na notícia do jornal O DIÁRIO (2007), onde o presidente da ONG

Orquestrando a Vida revela que teme o fim de sua organização por um doador

não estar contribuindo há cinco meses.

Para tal verificação, a adoção do índice de Gini9, que mede o coeficiente de

desigualdade ilustrado a seguir:

( )( )∑−=

=++ −−−=

1

111 .1

nk

kkkkk YYXXG

Equação 2 – Índice de Gini para medir desigualdade.

Onde: “G” é o coeficiente de Gini, “X” é a proporção acumulada da variável

“Doadores” e “Y” é a proporção acumulada da variável “Doações”.

Ainda é possível utilizar o Coeficiente de Variação:

xxsCV )(

=

Equação 3 – Coeficiente de Variação amostral.

Onde “CV” é o coeficiente de variação, “s(x)” é o desvio padrão amostral

das doações, e “x barrado” é a média amostral das doações, mas é possível

utilizá-lo com dados do universo ao invés da amostra.

Ambos os coeficientes existem entre 0 e 1, e quando se aproximam de 0

são considerados iguais ou homogêneos, e quando se aproximam de 1 são

considerados desiguais ou heterogêneo, considerando respectivamente os

coeficientes de Gini e de variação.

9 O índice de Gini é utilizado, entre outros, pela ONU para medir a desigualdade em

relação à renda nos países.

69

Ambos os coeficientes dão uma idéia de concentração dos dados, mas ao

objetivo deste trabalho, Organizações do Terceiro Setor, cuja maioria das

organizações têm menos do que 10 funcionários, o coeficiente de variações é

preferível, pela sua simplicidade no cálculo e portanto facilidade na

operacionalização e interpretação.

Outro ponto importante a ser monitorado é a eficiência na captação.

Estabelecer metas para serem cumpridas em períodos de tempo é uma maneira

para saber se a OTS é eficiente ao captar recursos.

As atividades para economia dos recursos também devem ser monitoradas

por serem índices importantes.

4.3.3.2 Captação de recursos não-financeiros

Nem toda doação vem em forma de recursos financeiros. Em muitas

ocasiões a OTS recebe mantimentos para serem consumidos/distribuídos, móveis

para serem utilizados, etc.

4.3.3.3 Sustentabilidade

Apesar da OTS não ter fim lucrativo, ela pode gerar recursos para serem

convertidos em benefício da sua causa.

A sustentabilidade está intrinsecamente ligada à sobrevivência da OTS.

Toda organização do Terceiro Setor deve ter meios de se sustentar, seja por uma

carteira de doações regulares, seja pela produção de algum bem.

A venda de lembranças (souvernirs), artesanato, fabricação de itens a partir

de material descartado (reciclagem) ou outros meios que promovam sua

sustentabilidade devem ser monitorados.

4.3.4 Processos Internos

“Como desempenhamos nossas atividades?”

Eleutério & Souza (2002) comentam sobre a importância da qualidade nos

serviços prestados internamente. Este conceito da qualidade dos serviços

70

prestados internamento pode ser estendia para todos os processos internos

(GIANESI & CORRÊA, 1994).

Figura 24 – Relacionamento Cliente/Fornecedor dos processos internos. Fonte: Gianesi & Corrêa, 1994.

O conceito de serviços internos cria uma relação de cliente-fornecedor

dentro da empresa – como mostrado na Figura 24 – que pode ser entendida e

incentivada como marketing interno, ou então endomarketing (GRONROOS, 1993

apud ELEUTÉRIO & SOUZA, 2002).

O resultado (output) de determinado serviço interno é uma entrada (input)

para um outro processo interno, sendo que o desempenho de primeiro é o

requisito do segundo, e quanto melhor os requisitos forem atendidos, melhor o

processo será executado.

Em geral, as OTS oferecem serviços onde o Estado é falho, e em poucas

ocasiões produzem algum bem manufaturado.

Os indicadores para atividades internas podem ser desenvolvidos a partir

de um benchmark relacionado com organizações similares, padronização e

normalização dos processos e por fim, em um sistema de gestão da qualidade,

certificado ou não.

As atividades de serviços se caracterizam, segundo Parasuraman et al

(1988) da seguinte forma:

71

• Intangibilidade: os serviços representam um produto não físico, em

outras palavras, que não pode ser estocado ou transportado;

• Heterogeneidade: a relação entre o cliente do serviço e o prestador

do serviço é única. A qualidade do serviço prestado tem uma grande

parcela no fator humano, ou seja, na habilidade de quem presta do

serviço;

• Simultaneidade: os serviços são consumidos quase que

imediatamente quando são produzidos.

4.3.5 Habilidades e Motivação

“Como investimos e capacitamos nossa força de trabalho?”

A idéia de crescimento profissional não faz muito sentido em uma OTS. A

satisfação de sua força de trabalho (funcionários e voluntários) esta na sua

contribuição à causa defendida pela OTS, e não na sua ascensão profissional

dentro da organização. O crescimento profissional da força de trabalho de uma

OTS está ligado ao próprio crescimento da OTS. Nesta perspectiva devem ser

observadas as iniciativas para capacitar a força de trabalho a desempenhar as

atividades concernentes ao objetivo da OTS.

Também é necessário verificar o nível de satisfação da força de trabalho na

OTS no desempenho de sua atividade. Numa OTS, como já visto anteriormente, a

motivação da força de trabalho determina o sucesso em que as atividades serão

realizadas.

As abordagens sobre QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) têm alta

correlação com a produtividade dos funcionários (LIMONGI-FRANÇA, 2004), e se

mostram como um bom campo a ser explorado nesta perspectiva. Vieira (1996),

após uma revisão bibliográfica, propõe alguns modelos para verificar a QVT.

As características mais relevantes de cada modelo levantados por Vieira

(1996) são apresentadas no Quadro 10.

72

Modelo Principais características Modelo de Nadler e Lawer: • Participações nas decisões;

• Reestruturação do trabalho através do enriquecimento de tarefas e grupos de trabalho autônomo;

• Inovação n sistema de recompensas com influência no clima organizacional;

• Melhora do ambiente de trabalho no que se refere a: horas de trabalho, condições, regras, meio ambiente físico, entre outros.

Modelo de Siqueira e Coletta • Política de recursos humanos;

• Trabalho em ambiente seguro e saudável;

• Interações Pessoais entre colegas; • Individuo com assiduidade e baixa

rotatividade; • Empresa sólida, bem conceituada e

regras bem definidas. Modelo de Dimensões Básicas da Tarefa (Hackman e Oldhan)

• Variedade de Habilidade (VH); • Identidade da Tarefa (IT); • Significado da Tarefa (ST); • Autonomia (AU); • Feedback do próprio Trabalho (FT); • Inter-Relacionamento (IR). • Cálculo do Potencial Motivacional da

Tarefa, ilustrado na Equação 4. Walton • Compensação adequada e justa;

• Condições de trabalho; • Uso e desenvolvimento de

capacidades; • Chances de crescimento e segurança; • Integração social na empresa; • Constitucionalismo; • Trabalho e espaço total de vida; • Relevância social da vida no trabalho.

Quadro 10 – Principais modelos de QVT e suas características. Fonte: Vieira, 1996.

Abaixo, o Potencial Motivacional da Tarefa do modelo de dimensões

básicas da tarefa.

FTAUIRSTITVHPMT ..4

)( +++=

Equação 4 – Potencial Motivacional da Tarefa. Fonte: Vieira, 1996.

73

4.4 Considerações das perspectivas

O aparato de técnicas ilustradas aqui neste trabalho reflete a riqueza de

como cada perspectiva pode ser abordada pela literatura, mas é preciso ter em

mente que a implementação de um SMDO deve ser feita com indicadores que

reflitam resumidamente o objeto que eles se propõem a quantificar.

A utilização de técnicas mais apuradas, de aplicação mais detalhada e que

demandam mais tempo são oportunas na verificação de um indicador que reflita

baixo desempenho onde se deve aumentá-lo.

Por exemplo, são várias as técnicas para averiguar a QVT em um

ambiente, mas se para alimentar um SMDO fosse utilizada todas as técnicas de

um determinado modelo de QVT, a quantidade de informação gerada seria

demasiadamente abundante para o fim que ela se propõe.

A proposta aqui apresentada delimita-se nos conceitos de cada perspectiva

para a elaboração dos indicadores, derivados da missão da organização, contudo

é fortemente sugerido que na ocasião de algum indicador apresentar baixo

desempenho, seja utilizado as técnicas em sua plenitude para aferir a causa do

baixo desempenho.

4.5 Mapa estratégico

A relação de causa e efeito do BSC pode ser expressa pelo mapa

estratégico, que ilustra os relacionamentos entre os indicadores. A Figura 25

ilustra de modo genérico esta relação, levando em consideração indicadores

também genéricos e as perspectivas aqui elencadas.

A escolha dos indicadores é resultado da experiência da própria

organização, fruto de uma avaliação/ponderação empírica e subjetiva. Há,

contudo, técnicas para formalizar sua escolha, como: painel de especialistas,

Delphi, análise de cenários, entre outros.

74

Mudança na Sociedade

Mobilização de Recursos

Habilidade e Motivação

Processos Internos

Indicadoresde Impacto

Satisfação dos cidadãos-Beneficiários

Captação de Recursos

Economia

Sustentabilidade

Excelência nos Processos

Satisfação da força de trabalho

Cidadão-Beneficiário

Figura 25 – Mapa Estratégico genérico do modelo proposto para uma OTS. Fonte própria.

O objetivo principal de uma OTS é causar uma mudança na sociedade,

como já foi visto anteriormente. Para a leitura do mapa estratégico acima, deve-se

começar baixo para cima, observando as relações de causa e efeito.

A força de trabalho deve estar motivada e habilitada para exercer as

atividades-fins da OTS com excelência. Este fato levará a uma boa captação de

recursos, economias, que levará a sustentabilidade. Estes fatos levarão a

satisfação do cidadão-beneficiário, e por fim, mudando o cidadão-beneficiário,

muda-se a sociedade em que a OTS atua.

Os indicadores dos Processos Internos podem ser divididos no número de

processos críticos da organização.

75

Capítulo 5 Exemplo de Aplicação do SMDOTS

Neste capítulo é apresentado um exemplo ilustrativo da aplicação do

SMDOTS. O objetivo não é fazer um estudo de caso, mas somente mostrar seu

funcionamento.

O nome da organização bem como seu endereço não serão divulgados, e a

organização será referenciada pelo nome fictício de LAR PEQUENO.

5.1 Critério de escolha e disponibilidade de informações

A critério de escolha da organização cujas características serviram de base

para a aplicação do modelo é a disponibilidade de informações.

A elaboração dos indicadores, formulação da missão, definição das

estratégias foi possível após algumas entrevistas com os dirigentes da OTS em

questão.

A afirmação de Drucker (2002) diz que para os dirigentes das OTS, a

missão social cumprida é mais importante do que a boa gestão da organização é

claramente observada no LAR PEQUENO.

Não existem muitas informações estruturadas disponíveis, mas a boa

vontade e dedicação dos dirigentes são notáveis. A motivação das pessoas

envolvidas na instituição é realmente a adoção causa que eles defendem, no

caso, as crianças desamparadas.

Se já é difícil encontrar a missão declarada em pequenas empresas, quanto

mais em organizações geridas sem fim lucrativo, cujos dirigentes são na maioria

das vezes leigos em matéria de gestão.

5.2 Caracterização da Organização

O LAR PEQUENO é uma casa que cuida de crianças menores do que 12

anos que por algum motivo, tenham seu convívio com a família impossibilitado

76

pela justiça, que julgará se a criança pode voltar para a família ou se será

encaminhada para a adoção.

A organização é dividida em duas casas, uma destinada para menores de

sete anos, sendo habitada por crianças de ambos os sexos, e outra habitada

somente por meninas mais velhas. Ao todo são 28 crianças, desde recém

nascidos até poucos casos de crianças idade mais avançada.

A instituição conta com alguns funcionários para manutenção da casa,

cuidado das crianças e preparação das refeições, e o critério de seleção se

diferencia totalmente do convencional. Um dos dirigentes relata que já houve

contratações com base em análise currículos e experiência profissional que não

deram certo. A contratação que é adotada atualmente, e que parece estar

funcionando é a identificação do funcionário com a causa da OTS.

Em relação ao voluntariado, os dirigentes relatam a complexidade em sua

administração, pela falta de horário fixo e compromisso com as normas da casa. A

casa se mantém organizada e disciplinada pelo conjunto de regras e horários

existentes, mas o voluntário é pouco envolvido com essas regras, os horários não

são constantes, e muitas vezes têm a preferência de agir não onde é mais

necessário, e sim onde lhe melhor convém. Por essas razões são admitidos

poucos ou nenhum voluntários para colaborar dentro da instituição.

As duas casas destinadas ao LAR PEQUENO não são próprias, e o aluguel

é uma despesa considerável.

Os recursos para manutenção dos funcionários e aluguel do local são

quitados com verba pública em convênio com o poder municipal, mas a

manutenção das casas e das crianças são mobilizadas por técnicas próprias –

geralmente campanhas mensais em instituições de ensino diferentes.

A dissolução do convênio com o poder público, nas próprias palavras dos

dirigentes, significaria o fim do trabalho social por eles prestados.

77

É comum também que pais adotivos de crianças oriundas do LAR

PEQUENO também contribuam mensalmente com as despesas, tanto em forma

monetária, quanto em forma de doações.

A criança é encaminhada ao LAR PEQUENO pela justiça, e após sua

entrada, dois destinos são possíveis: o retorno ao lar ou o encaminhamento para a

adoção.

O tempo de permanência da criança é bastante relativo, mas em geral, elas

chegam a permanecer alguns anos até que seja adotada ou que possa retornar à

sua família. Há a situação remota das crianças passarem da idade de adoção, fato

este que ainda não está totalmente estruturado na organização pela raridade de

sua ocorrência.

Os próprios dirigentes reconhecem que a situação ideal para qualquer

Organização do Terceiro Setor é a sua não existência, ou seja, que o poder

público instituído fosse capaz de atuar em todas as dimensões da sociedade, não

possibilitando espaço para que a sociedade civil se organize para cumprir esse

papel.

5.3 Declaração da Missão

Não existe nenhuma missão propriamente declarada explicitamente pela

instituição, mas ao invés da iniciativa privada, em uma OTS essa declaração é

mais fácil de ser concebida, pois têm uma alta identificação com seus cidadãos-

beneficiários.

“Promover dignidade, moradia, alimentação, carinho e educação para os

menores de idade pelo tempo que se encontram desprovidos de sua família,

minimizando o trauma do afastamento familiar”.

É importante notar que a atuação da OTS em questão não esta na família

da criança. Este trabalho é feito pela justiça. Não há nenhum tipo de

acompanhamento ou trabalho junto à família da criança. A atuação do LAR

PEQUENO é estritamente com a criança, garantindo sua formação e

78

desenvolvimento enquanto pessoa pelo período que se encontra impedido do

convívio familiar.

5.4 ScoreCards

Como já definido neste trabalho, a fase que será contemplada neste

trabalho concerne somente no projeto, ou seja, no desenvolvimento dos

ScoreCards. Na Figura 18, na seção 3.3, Cardoza et al (2003) enumeram três

passos importantes após reconhecida a necessidade da medição:

• Identificar objetivos estratégicos;

• Definir áreas críticas do processo (ACP’s);

• Definir as métricas de desempenho das ACP’s.

5.4.1 Habilidade e Motivação

As funções necessárias para o funcionamento do LAR PEQUENO não são

de execução complexa e nem exigem funcionários altamente qualificados, o que

torna simples a tarefa de habilitação.

O objetivo estratégico desta perspectiva é ter uma força de trabalho

identificada e sensibilizada com a causa defendida pela OTS, o que implica em um

tratamento diferenciado dado às crianças por parte dos funcionários.

O salário, pago pelo poder público municipal, é um item que influência a

força de trabalho, e sua pontualidade, de acordo com a teoria de Herzberg

(BOEREE, 2007), pode não causar motivação, mas seu atraso causa insatisfação.

Consultas ao próprio funcionário sobre sua satisfação em realizar suas

tarefas é também um indicador crítico, pois os serviços prestados por um

funcionário insatisfeito têm relação direta na qualidade do serviço prestado.

Ainda em relação aos funcionários, é comum que algum dirigente durma na

esporadicamente na instituição sem aviso prévio para observar os processos de

refeição, de descanso e de despertar.

79

Os voluntários da casa são poucos, esporádicos e pouco compromissados

com regras e horários, e por isso não se faz muito uso desta força de trabalho,

mas a situação ideal seria se os voluntários fossem habilitados (treinados) a

desempenhar algumas tarefas mais complexas e compreendessem seu papel na

OTS.

Indicador Objetivo Medida Meta Iniciativa

Reclamações das crianças em relação a algum

funcionário

Não ter nenhuma Quantidade por mês zero

Selecionar funcionários que

além do currículo, tenha sensibilidade

social

Atraso de salário Não atrasar Dias atrasados Zero

Fazer as devidas articulações

políticas a fim de garantir a

pontualidade dos pagamentos.

Satisfação do funcionário

Funcionários o mais satisfeito

possível. Escala de 0 a 10 8

Solicitar ao funcionário que responda uma

vez ao mês uma pergunta sobre sua satisfação em trabalhar

onde trabalha.

Iniciação do Voluntariado

Explicar as regras da casa para que elas

não sejam desrespeitadas

pelos voluntários

Quantidade de regras quebradas por voluntários.

zero

Elaborar uma cartilha para o

que o voluntário conheça as

normas antes de se oferecer

ajudar.

Quadro 11 - ScoreCard para a perspectiva "Habilidade e Motivação".

5.4.2 Processos Internos

Os processos internos do LAR PEQUENO são bem parecidos com as

atividades domésticas de um lar comum, que vão desde despertar as crianças no

horário, até transportá-las para a escola. Dentre vários processos, são destacados

os críticos.

• Preparação dos alimentos;

• Horário diário e semanal das crianças;

80

O objetivo estratégico desta perspectiva é prover um lar o mais estruturado

em forma de família possível. Operacionalmente, os objetivos são levar as

crianças para a escola, exigir higiene, dar carinho, entre outros.

Indicador Objetivo Medida Meta Iniciativa

Dieta semanal

Seguir a dieta semanal com o

mínimo de adaptações possíveis

Número de quantidade

substituições na receita

Dois por semana

Direcionar as campanhas de

doações para as necessidades observadas na

dieta das crianças.

Horário

Ter horário suficiente para

todas as atividades

necessárias para formação da

criança.

Número de adaptações do

horário

Cinco por semana

Disciplinar crianças e

funcionários a seguirem os

horários, explicando sua

importância.

Quadro 12 – ScoreCard para a perspectiva de “Processos Internos”. Fonte própria.

5.4.3 Mobilização de Recursos

O objetivo estratégico desta perspectiva é mobilizar os recursos

necessários para suprir todas as necessidades das crianças, que são elas:

• Moradia;

• Vestimenta;

• Alimentos;

• Educação. È necessário saber quanto cada criança consome de recurso por mês para

poder saber qual a quantidade de recursos que deverão ser mobilizados.

Indicador Objetivo Medida Meta Iniciativa

Moradia

Garantir a manutenção do convenio com o

pode poder público para

abrigar a organização

Tempo de duração do convênio.

Casa própria Articulação

política junto aos poderes público.

Vestimenta Vestir

dignamente todos as crianças

Necessidade apurada /

necessidade atendida

> 1,00

Campanhas junto à comunidade

local (principalmente

escolas). Alimentos Captar Quantidade Maior ou igual a Campanhas junto

81

quantidade de alimentos

suficientes para executar o cardápio

pretendido.

calculada / quantidade

captada (separado por

gênero alimentício)

um à comunidade local

(principalmente escolas).

Educação

Garantir educação em

colégios para os alunos

Crianças na escola em idade escolar / total de

crianças em idade escolar

Um

Pleitear bolsas de estudos em

escolas particulares e articular vagas

em escolas públicas.

Sustentabilidade

Verificar a distribuição da mobilização de

recursos

Desvio padrão das recursos

captados (em $) / Média dos recursos

captados (em $)

Entre 0 e 0,25

Aumentar a carta de doadores para

no mínimo 12, fazendo um

plano de visita anual a cada um

deles.

Quadro 13 – ScoreCard para a perspectiva “Mobilização de Recursos”. Fonte própria.

Pode haver uma certa tendência em considerar “Tempo de Permanência na

casa” como um indicador para o cidadão-beneficiário, mas esse tempo não pode

ser controlado pela organização, pois não está nos seus objetivos, por isso não é

considerado um bom indicador.

5.4.4 Cidadão-Beneficiário

O objetivo estratégico desta perspectiva é fazer a criança feliz enquanto ela

estiver no LAR PEQUENO.

Esta perspectiva tem uma complexidade peculiar no seu desdobramento

dos objetivos estratégicos em indicadores operacionais, pois seu foco esta na

criança que foi separada de seu lar por um grave motivo.

As técnicas para saber se uma criança está satisfeita são muito subjetivas e

difícil de ser avaliada em uma escala, e esta avaliação normalmente estará a

cargo dos dirigentes, que são capacitados para tal. Verificar se a criança esta

adaptada ao ambiente e às normas da casa é um fator a ser considerado.

Outros indicadores também são pertinentes, e juntos fornecem subsídio

para uma avaliação mais completa, como por exemplo, as notas escolares.

82

O processo de adoção tem uma fase de adaptação, onde a criança passa

um determinado tempo com os candidatos a pais adotivos e são observados os

comportamentos de ambos. A taxa de retorno, ou de insucesso nas adoções, é

um fator a ser observado, pois quando a criança é retirada de seu lar original, o

motivo é mau comportamento dois pais, mas quando a criança não é adotada,

normalmente é mau comportamento da própria criança.

Indicador Objetivo Medida Meta Iniciativa

Notas Escolares Que todos sejam

aprovados no ano escolar

Total de alunos aprovados / Total

de alunos 80%

Manter um horário diário

para estudo com acompanhante escolar para

dúvidas.

Adaptação da criança

Adaptação de todas as crianças

às normas da casa e ao novo

ambiente.

Quantidade de crianças

adaptadas / quantidade total

de crianças

90%

Provocar a interação de

crianças ainda não adaptadas

com outras adaptadas há mais tempo.

Felicidade das crianças

Medir o grau de felicidade (ou o grau de tristeza)

das crianças

1- (Quantidade de crianças

tristes / quantidade total

de crianças)

80% Ação individual.

Insucesso em adoções

Que todas as adoções sejam

realizadas

Quantidade de tentativas de

adoções / quantidade de

adoções efetivadas.

70%

Preparar as crianças para seu novo lar e fazer

campanhas junto a sociedade para

aumentar a procura por adoções.

Quadro 14 – ScoreCard para a perspectiva “Cidadão-Beneficiário”. Fonte própria.

5.4.5 Mudança na Sociedade

O objetivo estratégico desta perspectiva é que as crianças que saiam da

casa tenham uma vida melhor e possam exercer plenamente sua cidadania.

O impacto, ou a efetividade do trabalho da OTS, só poderá ser observado

em longo prazo, quando depois de certa maturidade, os problemas enfrentados

pela então criança, não afetem o agora adulto.

83

Ao prazo de dez anos, a verificação se o egresso do LAR PEQUENO

conseguiu concluir os estudos, seja em uma família adotiva ou na família original,

deve ser considerado, bem como se esta empregado ou em condições de ocupar

uma vaga no mercado.

Indicador Objetivo Medida Meta Iniciativa

Conclusão dos estudos

Que todos egressos da LAR

PEQUENO continuem seus

estudos

Quantidade de egressos que concluíram os

estudo / quantidade total

dos egressos

80%

Durante o período na casa,

explicar a importância de se

concluir os estudos.

Taxa de empregados

Que todos estejam aptos ou já ocupando uma vaga no mercado

Quantidade de egressos que trabalham ou

estão aptos para tal / quantidade

total dos egressos

80%

Durante o período da casa,

explicar a importância de se

ter um trabalho honesto.

Quadro 15 – ScoreCard para a perspectiva “Mudança na Sociedade”. Fonte própria.

84

Capítulo 6 Conclusões e Trabalhos Futuros

6.1 Conclusões

6.1.1 Quanto aos objetivos

O objetivo geral deste trabalho – desenvolver um sistema de medição de

desempenho que atenda às necessidades e características do Terceiro Setor – foi

contemplado com a proposta do SMDOTS.

Os objetivos específicos propostos inicialmente, que estão listados a seguir,

foram contemplados à medida que o trabalho foi desenvolvido.

• Identificar a melhor definição de uma Organização do Terceiro Setor;

• Identificar os fatores de competitividade de uma OTS;

• Identificar as melhores práticas gerenciais de uma OTS;

• Fornecer subsídio para avaliar os planos estratégicos de uma OTS;

• Identificar os mais relevantes modelos de desempenho

organizacional;

A definição proposta pela ONU e adotada neste trabalho ainda não é uma

unanimidade, mas pela abrangência da atuação da ONU, que serve também como

referência a outros países, mostra-se como uma boa definição, mesmo que não

haja consenso entre alguns setores brasileiros.

Os fatores de competitividade de uma OTS – definindo competitividade

como capacidade de melhorar – foram identificados nas perspectivas abordadas

pelo modelo proposto, ao passo que as melhores práticas gerenciais estão

relacionadas com a gestão dos indicadores de cada perspectiva.

O conjunto dos fatores de competitividade e melhores práticas gerenciais

fornecem subsídios para a avaliação dos planos estratégicos de organizações do

Terceiro Setor.

85

Também foi possível através de extensa revisão bibliográfica,

principalmente em periódicos internacionais, selecionar os modelos de SMDOs

mais relevantes e utilizados tanto pela academia, quanto pelo ambiente

coorporativo.

Assim sendo, conclui-se que os objetivos propostos deste trabalho foram

contemplados satisfatoriamente.

6.1.2 Quanto ao Terceiro Setor

Teodósio & Resende (1999) apontam que a falta de consenso de uma

definição abrangente para o Terceiro Setor deve-se pela sua característica de

extrema heterogeneidade.

Esta falta a consenso sobre a definição do que é o Terceiro Setor é um

dificultador para estudar mais profundamente o tema. A legislação brasileira tem

uma definição jurídica sobre as organizações sem fins lucrativos, o IBGE até então

utiliza outro conjunto de definições, e por fim, recentemente, a ONU & JHU

divulga um estudo mundial com uma outra definição para o mesmo objeto com o

intuito de criar bases para comparações das contabilidades nacionais sobre o

setor não lucrativo. Por fim, no Brasil a ABONG têm sua própria definição.

Todas as definições são discordantes entre si em pelo menos algum ponto,

o que fragmenta os trabalhos que exploram o tema. Os dados que caracterizam o

setor não lucrativo também são discordantes entre si.

A Tabela 5, elaborada por Albuquerque (2006), mostra como os dados

disponíveis são bastante discordantes entre si.

Tabela 5 – Disparidade dos dados disponíveis sobre o terceiro setor.

Fontes Período das pesquisas

Número de organizações

Lester e Helmut 1978 a 1991 76 a 190 mil Relatório da Civicus – ONU 1920 a 1986 6.460 IBGE 1996 a 202 276 mil

Fonte: Albuquerque, 2006.

86

Com o trabalho da ONU & JHU (2002), o IBGE (2004) já adaptou suas

classificações para que no próximo censo os dados já estejam de tal forma a

permitir uma comparação mundial. Espera-se também que a legislação brasileira

sofra as alterações necessárias para unificar as definições em torno do Terceiro

Setor.

6.1.3 Quanto ao modelo proposto

A fase de validação do modelo foi essencial para suprir eventuais falhas na

concepção do modelo, tanto a parte acadêmica – onde houve sugestões

pertinentes, quanto da parte das OTS – que apontou suas dificuldades.

Nos questionários respondidos foi apontada uma grande dificuldade por

parte de um respondente em avaliar o modelo por não haver parâmetro de

comparação, devido ao caráter inédito da pesquisa.

O desenvolvimento do SMDOTS foi realizado a partir dos trabalhos

acadêmicos sobre gestão de organizações sem fins-lucrativos e entrevistas com

alguns dirigentes destas organizações. Por isso não é possível garantir sua

aplicação em qualquer organização do Terceiro Setor, mas aparentemente, os

temas abordados são pertinentes ao menos a maioria delas.

A princípio não há uma limitação do modelo, que pode ser aplicado com os

devidos ajustes a qualquer organização do Terceiro Setor. Suas principais

características são as mesmas do seu modelo base, o BSC. O BSC apresenta

uma falta de foco nos steakholders e a formulação da estratégica converge para a

escola do posicionamento de Porter, que desconsidera as estratégias emergentes

e as estratégias abandonadas, abordadas por Mintzberg (2001).

Um tema não abordado diretamente em forma de perspectiva, mas que a

princípio pode ser monitorado por meio de indicadores na perspectiva

“Mobilização de Recursos” é o relacionamento político das OTS.

Este tema foi encontrado com certa freqüência na fase de validação do

modelo proposto onde foi encontrada uma grande preocupação em relação ao

relacionamento político que a OTS pratica com os gestores públicos em que ela

87

está inserida. A preferência de não abordar diretamente a questão política neste

trabalho deve-se ao fato de ser uma área de grande complexidade e conflitos de

interesse, e de difícil entendimento e modelagem.

6.1.4 Quanto a Implantação do Modelo

As empresas com fins lucrativos contam com especialistas para sua gestão,

além de consultoria externa para tarefas mais complexas, e mesmo com esse

aparato apresentam um alto índice de fracasso da implantação de um SMDO. A

fase de implementação de um SMDO, quando o projeto já foi desenvolvido e sua

utilização passa a ser corrente, é responsável por 70% das falhas em projetos

deste tipo (FIGUEIREDO et al, 2005).

Falconer (1999) e Drucker (2002) abordam os estudos do Terceiro Setor

uma área multidisciplinar do conhecimento, portanto o desenvolvimento das

ferramentas para gerir as organizações do Terceiro Setor também o devem ser,

principalmente no que se relaciona na formulação dos indicadores (e respectivos

scorecards) a serem monitorados.

Em uma organização sem fins lucrativos, reconhecidamente gerida por

amadores (FALCONER, 1999), e com escassez de recursos (FALCONER, 1999;

ABONG, 2007; TENÓRIO, 2006; ALBUQUERQUE, 2006) que inviabiliza a

consultoria de especialista, este número fracassos tende a ser muito maior.

Durante a fase de validação do modelo de SMDO proposto, foi questionado

sobre o as dificuldades na implantação do SMDOTS. Observou-se que a maioria

dos respondentes, seja do perfil acadêmico ou do perfil de dirigente de uma OTS,

aponta como a falta de capacitação dos próprios dirigentes como um grande

empecilho.

6.2 Trabalhos Futuros

O tema abordado é muito pouco explorado pela Engenharia de Produção, e

este trabalho abre um extenso leque de possibilidades de trabalhos realizados a

partir deste.

88

A validação por outros métodos, que não a opinião de especialistas aqui

utilizada, dá mais confiança na utilização do método.

Estudos de casos, com aplicações práticas e acompanhamento dos

resultados ao longo de um determinado tempo é outro ponto importante a ser

abordado, bem como a fase de implantação de um SMDO proposta por Cardoza

et al (2003) e não contemplada neste trabalho.

As estratégias de comunicação de resultados, que normalmente funciona

internamente em um SMDO para direcionamento do comportamento dos

funcionários (ATTADIA, 2004), têm um caráter interessante a ser explorado nas

OTS, pois aparentemente existe uma influência com os financiadores dos projetos,

ou seja, os indicadores de impacto, se bem comunicados, têm alta correlação com

os indicadores de mobilização de recursos.

No campo específico sobre o BSC, Fernandes (2002) propõe uma análise

de correlação estatística para verificar a relação causa-efeito do mapa estratégico

elaborado, validando os relacionamentos entre os indicadores. Este método além

de validar o mapa estratégico do modelo proposto, ainda permite o conhecimento

de outros relacionamentos que devem ser explorados oportunamente.

Em tempo, as ferramentas estatísticas para validação só podem ser

utilizadas depois que há uma base consistente de dados a ser explorada.

As questões relacionadas ainda com a interação entre indicadores e

desempenho leva à indagação de quanto um indicador precisa melhorar para que

a relação causa-efeito seja perceptível, ou em outras palavras, para que esse

crescimento do primeiro seja refletido no segundo. A partir desta constatação

levanta-se também uma nova hipótese de quando se deve investir para a melhoria

de determinado indicador para colher os resultados em outro.

Um índice globalizante que reduza todo modelo a uma única dimensão

pode ser útil para uma rápida decisão, mas não permitem uma maior

compreensão, nem aprendizado da dinâmica e comportamento da organização. A

relação de causa-efeito entre os indicadores também pode inflacionar um

indicador global. Mas apesar dos problemas apontados, percebe-se a

89

necessidade de um componente para avaliação e comparação entre as

organizações.

Essas questões vão além dos estudos do Terceiro Setor e podem ser

resolvidos pela Engenharia de Produção com modelos econométricos, função

potência e tendo as restrições relativas à cada realidade, é possível desenvolver

uma função objetivo para otimização.

6.2.1 Quanto às iniciativas em relação à divulgação do modelo

Este trabalho é pioneiro, e por isso, precisa ser discutido nos meios

acadêmicos e testado nos meios práticos do Terceiro Setor. Além da divulgação

do trabalho em artigos que se derivam desta dissertação, o trabalho será

encaminhado para a ABONG, Mapa do Terceiro Setor, Portal RITS, CETS/FGV,

além é claro para a Biblioteca Nacional.

90

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Índice Remissivo ABONG, 7, 10, 18, 22, 23, 25, 28, 29,

30, 32, 56, 58, 66, 68, 87

Albuquerque, 9, 10, 66, 67, 85, 87

Armani, 30

Attadia, 50, 88

Attadia & Martins, 34, 39, 40, 57

Batista et al, 57

Bell, 20

Bititci et al, 43, 44, 45, 46, 47

Boeree, 15, 16, 78

Campos, 24, 25, 27, 34

Canevarolo, 50

Cardoza & Carpinetti, 28, 30, 56

Cardoza et al, 54, 78, 88

Carmines & Zeller, 18, 28

CONCLA, 6

Dias, 14

Drucker, 4, 10, 15, 20, 22, 23, 25, 27,

56, 58, 65, 75, 87

Eleutério & Souza, 69, 70

Falconer, 3, 4, 8, 9, 10, 11, 20, 21,

22, 87

Fernandes, 88

Ferrarezi, 10, 11

Ferreira, 3, 4, 7

Figueiredo et al, 35, 87

FNQ, 32, 38

Freitas, 26, 66

Gerolamo et al, 24, 28, 32, 35, 56

Ghalayini & Noble, 34, 35, 36, 37

Gianesi & Corrêa, 70

Gomes et al, 24, 25, 28

Hammer, 26

Herzberg, 15, 16, 17

Hikage et al, 30

IBGE, 6, 7, 11, 12, 13, 86

Kaplan & Norton, 28, 35, 37, 50, 51,

52, 53, 64

Lima, 14

Limongi-França, 71

Marshall Jr. et al, 34, 38

Martinez, 20

Martins, 22, 39, 40, 41, 42, 43

Mâsih et al, 57

100

Maslow, 15, 16, 17

Mintzberg, 86

Murayama, 35, 43

Neely, 34, 35, 36, 37, 38, 43

Neely & Adams, 48, 49

O Diário, 68

ONU & JHU, 4, 5, 6, 7, 58, 85, 86

Parasuraman et al, 70

PEG, 26, 27

Porcar, 11

Porter, 32, 86

Prieto et al, 51

Roche, 23, 25, 27, 65

Roggero, 3

Salmeron et al, 11, 13, 21

Sardinha, 15

Sellito & Ribeiro, 28

Serrano, 16

Slack et al, 8

Storch, 57

Tenório, 9, 15, 16, 17, 24, 25, 26, 27,

56, 65, 87

Teodósio & Resende, 85

Tubino, 56, 57

Vicari & Colenci Jr, 22

Vieira, 71, 72

101

Anexo I – Questionário e Modelo para Validação

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Centro de Ciência e Tecnologia Laboratório de Engenharia de Produção Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção

Universidade Estadual do Norte Fluminense/LEPROD

Caro Sr.(a),

O LEPROD/UENF está realizando uma pesquisa relativa à Gestão de

Organizações do Terceiro Setor (ou Organizações sem Fins Lucrativos). E, em

virtude a sua atuação profissional solicitamos responda o seguinte

questionário, de modo a contribuir com o desenvolvimento de uma Metodologia

de Avaliação e Acompanhamento das Organizações do Terceiro Setor.

Obrigado.

Henrique da Hora, LEPROD/UENF

e-mail: [email protected] Tel: XXXX-XXXX

Este é um trabalho acadêmico desenvolvido em uma dissertação de

mestrado em Engenharia de Produção que tem como objetivo desenvolver uma

metodologia para avaliação e acompanhamento do desempenho de

Organizações do Terceiro Setor.

Gostaríamos que o sr. (a) avaliasse a validade do modelo, isto é, sua

efetividade. Levando em consideração que todo modelo deve ser adaptado e

melhorado conforme sua atualização.

Após analisar as páginas que se seguem, gostaria que o sr.

respondesse às seguintes perguntas, considerando que o grau 1 é a

discordância máxima e o grau 10 é a concordância máxima:

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Centro de Ciência e Tecnologia Laboratório de Engenharia de Produção Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção

Universidade Estadual do Norte Fluminense/LEPROD

Nome: ____________________________________________________

Instituição: _________________________________________________

Ocupação na Instituição: ______________________________________

Contato: ___________________________________________________

1) Os aspectos considerados na metodologia refletem a realidade da

Gestão do Terceiro Setor? Marque o grau.

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Observações: ____________________________________________________

_______________________________________________________________

2) A metodologia, em questão, mede aquilo que se propõe a medir?.

Marque na escala:

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.

Observações: ____________________________________________________

_______________________________________________________________

3) Consideraria os resultados da metodologia confiáveis?

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Observações: ____________________________________________________

_______________________________________________________________

4) Considera a estrutura lógica da metodologia coerente?

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Observações: ____________________________________________________

_______________________________________________________________

5) Quais são as principais dificuldades que o sr.(a) considera para a

implantação da metodologia?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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Universidade Estadual do Norte Fluminense/LEPROD

6) Quais aspectos o sr.(a) considera que não foram considerados,

deveriam sê-lo pela metodologia?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

Pequeno Dicionário de Siglas:

OTS – Organização do Terceiro Setor (ONGs)

SMD – Sistema de Medição de Desempenho

QVT – Qualidade de Vida no Trabalho

BSC – Balanced ScoreCard

LEPROD – Laboratório e Engenharia de Produção

UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense

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Universidade Estadual do Norte Fluminense/LEPROD

SMDOTS – Sistema de Medição de Desempenho Organizacional para o Terceiro Setor

Escolha do modelo base

Foi escolhido para servir de base para o SMDOTS o Balanced

ScoredCard, devido a suas características e operacionalização.

A missão de uma OTS é a sua razão de existir, e a OTS não deve traçar

seus objetivos em função das necessidades dos seus financiadores, mas sim

das demandas das sociedades. Um sistema de medição de desempenho

integrado a um ativo processo de gestão de melhoria e mudança é inútil sem

uma orientação estratégica.

Quando o Sistema de Medição de Desempenho reúne informações de

diversas áreas da empresa é possível identificar com mais segurança

problemas e elaborar eventos de melhoria.

A missão corporativa é a base de uma empresa. Esta deve ser

entendida por todos, inspirar e desafiar a organização para atingi-la. Abaixo

propõe algumas questões que devem ser contempladas na declaração da

missão:

Qual o escopo do negócio?

Qual a essência do negócio?

Qual o sentido e intensidade do crescimento que se está buscando?

Como atender as necessidades dos clientes?

A missão é uma meta desafiadora que a organização lhe impõe para ser

alcançada. Ela deve ser operacionalizada por meio da definição e implantação

das estratégias corporativa, competitiva e funcional.

O principal objetivo da implantação do BSC é a identificação de

indicadores que melhor comuniquem o significado da estratégia.

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O Balanced ScoreCard deve traduzir a missão e a estratégia da

organização em objetivos e medidas tangíveis. Nestes termos, a adoção do

BSC vai de encontro com as particularidades das organizações do terceiro

setor e servirá de base para o SMDOTS.

Perspectivas

Visão

Estratégia

Cidadão Beneficiário

Atividades Internas

Mobilização de

Recursos

Habilidades e

Motivação

Mudança na

Sociedade

Figura – Perspectivas do SMDOTS.

Mudança na Sociedade

“Como nossa atuação têm mudado a sociedade em que atuamos?”

Medir a mudança na sociedade é uma tarefa árdua e complicada.

Para se medir este impacto, várias são as possibilidades. Para uma OTS

que trabalha com menores de rua, por exemplo, a diminuição desses menores

ao longo dos anos é um bom indicador. Para as que trabalham com prevenção

de DST (doenças sexualmente transmissíveis), os índices de mortandade e

morbidade divulgados pelo ministério da saúde são muito úteis.

Cidadão Beneficiário

“Como nossos cidadãos-beneficiários nos vêem?”

Universidade Estadual do Norte Fluminense/LEPROD

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Como a OTS existe para suprir uma necessidade da sociedade, esta

perspectiva se faz necessária para verificar se a sociedade que a OTS atende

está satisfeita.

Sua medição se dá de várias formas, desde uma pesquisa diretamente

com o cidadão-beneficiário, por meio de entrevistas, formulários, questionários

ou outros meios de verificar a satisfação dos clientes:

Mobilização de Recursos

“Como nossos financiadores nos vêem?”

O termo “mobilização de recursos” é preferível ao termo “captação de

recursos” ao passo que o primeiro traz em si o conceito de não somente captar,

e sim assegurar recursos novos e adicionais, bem como otimizar o uso de

recursos já existentes.

A OTS deve buscar a sua sustentabilidade, ou seja, sua capacidade de

sobrevier independente de seus financiadores, gerando recursos próprios.

Captação de Recursos Financeiros

O princípio de Paretto, ou princípio 80/20, é uma constante verdadeira

na captação de recursos de uma OTS, onde 80% da arrecadação têm origem

em apenas 20% dos doadores.

Nenhuma organização não pode depender de poucas fontes de

recursos. Deve-se combater essa situação, pois acaso essa fonte não possa

mais contribuir, a existência da organização estará comprometida.

É recomendado que a captação de recursos seja feita de maneira que a

desistência de um ou de outro doador não comprometa seriamente o seu

trabalho.

Um exemplo de uma folha de captação de recursos mal gerida pode ser

encontrada na notícia em uma notícia do jornal O DIÁRIO

(www.odiarionf.com.br) (03/10/2007), onde o presidente da ONG Orquestrando

a Vida, Marcos Antônio Rangel, teme o fim de sua organização por um doador

não estar contribuindo há cinco meses.

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Outro ponto importante a ser monitorado é a eficiência na captação.

Estabelecer metas para serem cumpridas em períodos de tempo é uma

maneira para saber se a OTS é eficiente ao captar recursos.

As atividades para economia dos recursos também devem ser

monitoradas. As economias dos recursos existentes também são índices

importantes a serem notados.

Captação de recursos não-financeiros

Nem toda doação vem em forma de recursos financeiros. Em muitas

ocasiões a OTS recebe mantimentos para serem consumidos/distribuídos,

móveis para serem utilizados, etc.

Sustentabilidade

Apesar da OTS não ter fim lucrativo, ela pode gerar recursos para serem

convertidos em benefício da sua causa.

A venda de souvernirs, artesanato, ou outros meios que promovam sua

sustentabilidade também devem ser monitorados.

Este item pode estar localizado hora na perspectiva “Mobilização de

Recursos”, hora na perspectiva “Atividades Internas”, dependendo muito da

característica da organização.

A primeira opção acima relatada é preferível quando a OTS não possui

nenhum processo produtivo, mas busca sua sustentabilidade por outros meios,

já a segunda opção é preferível quando a OTS tem alguma produção, e esta

produção deve ser considerada no modelo. Como exemplo desta segunda

configuração, pode-se citar as OTS de meio ambiente que produzem a partir de

lixo alguns produtos reciclados, como é o caso de reaproveitamento de

garrafas PETs, etc.

Atividades Internas

“Como desempenhamos nossas atividades?”

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Em geral, as OTS oferecem serviços onde o Estado é falho, e em

poucas ocasiões produzem algum bem. As atividades em serviços se

caracterizam:

Intangibilidade: Os serviços representam um produto não físico, em

outras palavras, que não pode ser estocado ou transportado.

Heterogeneidade: A relação entre o cliente do serviço e o prestador do

serviço é única. A qualidade do serviço prestado tem uma grande parcela no

fator humano, ou seja, na habilidade de quem presta do serviço.

Simultaneidade: Os serviços são consumidos quase que imediatamente

quando são produzidos.

Nesses termos, a OTS que se caracteriza pela prestação de um serviço

dificilmente poderá avaliar esse tipo de atividade interna, pois a satisfação do

cidadão-beneficiário refletirá a qualidade do serviço prestador por ela.

Caso a organização se caracterize pela produção de algum bem, há de

se considerar os indicadores desta atividade também, como já relatado acima.

Habilidades e Motivação

“Como investimos e capacitamos nossa força de trabalho?”

A idéia de crescimento profissional não faz muito sentido em uma OTS.

A satisfação de sua força de trabalho (funcionários e voluntários) esta na sua

contribuição à causa defendida pela OTS, e não na sua ascensão profissional

dentro da organização.

Nesta perspectiva devem ser observadas as iniciativas para capacitar a

força de trabalho a desempenhar as atividades concernentes ao objetivo da

OTS.

Também é necessário verificar o nível de satisfação da força de trabalho

na OTS no desempenho de sua atividade. Numa OTS, como já visto

anteriormente, a motivação da força de trabalho determina o sucesso em que

as atividades serão realizadas.

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As abordagens sobre QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) têm alta

correlação com a produtividade dos funcionários e se mostra como um bom

campo a ser explorado nesta perspectiva.

Mapa estratégico

A relação de causa e efeito do BSC pode ser expressa pelo mapa

estratégico, que ilustra os relacionamentos entre os indicadores. Abaixo é

ilustrado genericamente esta relação levanto em consideração indicadores

também genérico e as perspectivas aqui levantadas.

Mudança na Sociedade

Cidadão-Beneficiário

Mobilização de Recursos

Habilidade e Motivação

Atividades Internas

Indicadoresde Impacto

Satisfação dos cidadãos-Beneficiários

Captação de Recursos

Economia

Sustentabilidade

Excelência nas atividades

Satisfação da força de trabalho

Cidadão-Beneficiário

Figura – Mapa Estratégico genérico para uma OTS.

O Objetivo principal de uma OTS é causar uma mudança na sociedade,

como já foi visto anteriormente. Para a leitura do mapa estratégico acima,

deve-se começar baixo para cima, observando as relações de causa e efeito.

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A força de trabalho deve estar motivada e habilitada para exercer as

atividades-fins da OTS com excelência. Este fato levará a uma boa captação

de recursos, economias, que levará a sustentabilidade. Estes fatos levarão a

satisfação do cidadão-beneficiário, e por fim, mudando o cidadão-beneficiário,

muda-se a sociedade em que a OTS atua.

Os indicadores de excelência nas atividades estão em um quadro

tracejado pelo fato de sua existência não ser uma constante, como já explicado

na definição da perspectiva.

Os indicadores de sustentabilidade estão em uma situação intermediária

entre a perspectiva “Atividades Internas” e “Mobilização de Recursos” pois esta

é uma atividade realizada internamente pela OTS para a captação de recursos,

ou seja, uma atividade-meio para se atingir o fim da OTS.