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Síntese Neoclássico-‐Keynesiana Monetarismo
Fernando Nogueira da Costa Professor do IE-‐UNICAMP
h>p://fernandonogueiracosta.wordpress.com/
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Estrutura da apresentação
Fundamentos da Teoria Monetária de John Hicks
Obra de John Hicks na História do Pensamento Econômico
Princípios Básicos da Teoria Monetária de Milton Friedman
Papel da PolíRca Monetária segundo Friedman
Origem do IS-‐LM: síntese neoclássica
• Mr. Keynes and The Classics, publicado na Econometrica em 1937, mas originalmente apresentado em setembro de 1936, foi de fato a segunda resenha de Hicks sobre a Teoria Geral.
• Este arRgo-‐resenha é historicamente famoso por ser considerado "o berço do esquema IS-‐LM", método de raciocínio da chamada "síntese neoclássica".
gráfico IS-‐LM • Keynes aceitou o gráfico IS-‐LM como uma representação adequada do núcleo de sua posição.
• Esse gráfico não era uma representação do que o próprio Hicks acreditava.
• Sua própria posição estava no arNgo Simplifying, que conNnuou muito próximo de seu pensamento mesmo após os anos em torno de 1960, que considera a época de seu Risorgimento.
Hicks renega o diagrama IS-‐LM • "Devo dizer que esse diagrama é agora muito menos popular
para mim que para muitas outras pessoas, segundo acredito. • Reduz a Teoria Geral a uma economia do equilíbrio,
não está realmente no tempo. • Por suposto, é por isso que ganhou tanta popularidade. • Muito mais perNnente é Valor e Capital (1939). • Grande parte desse livro escrevi antes de ler a Teoria Geral;
ainda que Keynes apareceu ao final, a parte chamada 'dinâmica' foi escrita sob influência de Lindahl.
• Seguramente podemos dizer que Lindahl não era, de modo algum, um equilibrista; a disKnção entre o passado e o futuro (ex-‐ante e ex-‐post) se encontra no centro de sua obra”.
Modelo IS-LM-BP com Mobilidade Imperfeita de Capital:
expansão monetária (Δ M s) com regime de câmbio flexível (e°) • LM 0 → LM 1 (para a direita)
∴equilíbrio temporário em Y 1: B
• Y 0 → Y 1 => ∇ ( X - Δ M) => BTC < 0 + Δ M s > Δ M d => ∇ i ∴ i < i * => ∇ K => BCA < 0 ∴BP < 0 => Δ e (depreciação imediata) => Δ e r => BP = 0 + Δ ( X – M ) => IS O → IS 1 (para a direita)
• ∴política monetária eficaz (novo equilíbrio em Y 2: C) => Δ N
• Obs.: mesmo raciocínio com Mobilidade Fraca – BP à esquerda de LM
Mobilidade Imperfeita de Capital: expansão monetária (Δ M s) com
regime de câmbio flexível (e°)
0
i
Y0
i0
LM0
LM1
BP0
IS0
AC
Y Y1
IS1
B
Y2
i1
BP1
BPn
Auto subversão das ideias • Em retrospecRva biográfica, Hicks adverte que há grande brecha entre suas primeiras contribuições, basicamente completas em 1950, e a obra que o ocupou a parNr de 1960.
• Comenta que Samuelson, Arrow, Friedman e Don PaNnkin consideravam sua obra como o início da "síntese neoclássica".
• Acrescenta: "Porém, temo que decepcionei-‐os [em sua primeira visita aos Estados Unidos, em 1946], e tenho conKnuado decepcionando-‐os..."
Os Fundamentos da Teoria Monetária
• Em seu úlNmo grande texto, Hicks reuniu quatro ensaios escritos em épocas diferentes, representando a essência de sua obra sobre teoria monetária.
• Ele volta a alertar para a perigosa idenNficação do total da liquidez com a magnitude de algum saldo monetário.
• "É explicável que Keynes (em 1936) tenha tratado a preferência pela liquidez como a demanda por dinheiro, e é possível que nessa época tenha sido suficiente; porém, também é explicável que o Comitê Radcliffe tenha senNdo a necessidade de algo diferente em 1959"
Hicks: de Keynes a Wicksell • "[O que isso significa], em termos da teoria monetária, é que Keynes resulta, para nós, demasiado monetarista.
• O que necessitamos, como versão simplificada do sistema monetário que sublinhe as coisas mais importantes para nós, é algo que preste menos atenção que Keynes à quanKdade de dinheiro.
• Em algumas partes de meus escritos posteriores, tratei de esboçar tal modelo. (...)
• Ele significa regressar de Keynes (o Keynes da Teoria Geral) ao Keynes do TreaKse... e a Wicksell”.
Principais ensinamentos de Hicks a respeito de teoria monetária
• Não há demanda voluntária de dinheiro por moRvo transacional.
• O volume do estoque nominal de moeda depende das transações que se realizam.
• Parte dele deve ser atribuído à posse voluntária por moRvos de precaução e/ou especulação.
• A oferta de moeda credidcia responde (ou não) à demanda de dinheiro por moKvo transacional, derivado de decisões de gastos, sancionando-‐as (ou não).
• Toma-‐se emprésRmos, para evitar perda de liquidez.
Teoria da preferência pela liquidez não explica desemprego em longo prazo
• A moeda entesourada é efeito simultâneo, não a causa antecedente do diferimento de gastos, como parece sugerir a uNlização do conceito de preferência pela liquidez, para jusNficar o desemprego em longo prazo.
• O desemprego em longo prazo é explicado não pelo alojamento monetário, mas simplesmente pela descoordenação entre os impulsos dos empreendedores e a demanda por emprego por parte da população economicamente aNva.
Revisão do conceito de liquidez • Hicks rejeita a simplificação da carteira de aRvos
composta somente de moeda e Utulos a la Tobin (1956). • Na versão hicksiana da Teoria da Preferência pela Liquidez,
esta refere-‐se a todo o "espectro de aKvos”, inclusive os aKvos produUveis com emprego de mão-‐de-‐obra.
• Trata-‐se de conceito de liquidez mais amplo que o da Teoria Geral, pois é conceito rela&vo de liquidez.
• Permite empregá-‐lo mesmo em circunstâncias de expectaRvas inflacionárias, quando cai a demanda por "moeda ociosa".
• Nesta situação, em que o dinheiro vai perdendo suas funções de medida e de reserva de valor, e tornando-‐se "dinheiro parcial", ele permanece no espectro de liquidez pela ausência de custo de conversão, para atuar em sua outra função, a de meio de pagamento.
Hicks: revisão de conceitos da Teoria Geral para dar-‐lhes emprego mais geral
• Devido ao custo de invesRmento e desinvesRmento, há diferencial entre aKvos mais ou menos líquidos, no porYólio, que afeta os princípios da escolha entre usar reservas próprias ou tomar emprésKmos, no financiamento da carteira de aNvos.
• A diferenciação entre os agentes econômicos autosuficientes e os com cobertura permite a construção de modelo da insKtucionalidade financeira contemporânea: 1. o Banco Central atua como emprestador em úlKma instância, 2. o instrumento de políRca monetária é a fixação da taxa de juros, 3. a oferta de moeda é endógena.
Princípios Básicos da Teoria Monetária para Friedman
1. é essencial disNnguir entre: • a quanRdade nominal de moeda: M s determinada pelo Banco Central
• a quanRdade real de moeda: o público determina o total de bens e serviços que a quanKdade nominal de moeda irá comprar, através de sua demanda de moeda: M s > M d => M s / Δ P = M d estável = f( Y p, r )
OBS.: o que realmente importa é o poder aquisiKvo dos encaixes monetários possuídos (saldos de caixa reais), ou seja, aquilo que os saldos nominais irão comprar.
Princípios Básicos da Teoria Monetária para Friedman
2. disNnção entre as alternaNvas abertas ao indivíduo (gastar mais saldos do que recebe de fluxo de renda) e à comunidade como um todo: tentaNvas frustradas por provocarem a alta do valor nominal da dada oferta de bens e serviços = f( apenas transferências de saldos ).
3. disNnção entre ex ante (gastos excedem receita) e ex post (têm de ser iguais) => tentaNvas individuais de redução dos saldos extras de caixa => elevação dos preços e da renda nominal.
Metáforas sobre políNca monetária versus tese keynesiana do “dinheiro farto e barato”
1. “PolíRca monetária é como uma mola, serve para puxar, mas para impulsionar não é de grande valia”.
2. “PolíRca monetária é como uma corda: você laça o touro, mas se ele se volta contra você, ela não serve para retrocedê-‐lo”.
3. “Controlar a economia com a políRca monetária é o mesmo que segurar um Kgre por seu rabo”.
4. “Enxugar a liquidez da economia é o mesmo que enxugar gelo”.
5. “Você pode levar um cavalo à fonte, mas não pode obrigá-‐lo a beber, assim como pode dar liquidez à economia, mas não consegue expandi-‐la”.
O Papel da PolíNca Monetária (Friedman, 1967)
• Representa a invesRda monetarista contra a hegemonia da políRca econômica keynesiana, cuja primazia era a promoção do pleno emprego e o objeNvo secundário era a prevenção da inflação.
• Autoridade monetária controla, diretamente, a quanKdade nominal de seu próprio passivo (BM) e não a quanKdade real.
• São também resultados ex-‐post: 1. a taxa de juros real, ou 2. a taxa de desemprego, ou 3. o nível de produto real.
Idéia Básica
• Não adianta insisNr em controle direto da oferta da moeda se a demanda apresentar comportamento instável => volaNlidade dos juros e instabilidade.
Limites da políNca monetária discricionária de aNvismo da demanda
• No curto prazo, a moeda seria "não-‐neutra": portanto, somente nesse período curto a políRca keynesiana de aRvismo da demanda provocaria impacto sobre o emprego e o produto real.
• No longo prazo, isto é, dado o tempo necessário para os agentes se informarem, perfeitamente, com os sinais de mercado (expectaRva adaptaRva), provocaria somente variações no nível geral dos preços.
Ilusão monetária • O efeito real da políRca monetária expansionista ocorre, segundo Friedman, somente enquanto houver “ilusão monetária”.
• Imperfeições no canal de informações possibilitam enganos quanto ao futuro, devido à defasagem de percepção entre os agentes econômicos sobre: 1. as variações de preços relaKvos e 2. as variações do nível geral de preços, e/ou 1. as variações nominais e 2. as variações reais.
Defasagens temporais 1. na resposta dos gastos e dos preços
às variações na oferta de moeda.
2. na resposta dos condutores da políRca monetária às mudanças na macroeconomia.
• Tendem a converter os esforços discricionários estabilizadores em desestabilizantes = f( “falsas parNdas-‐e-‐paradas”).
• Economia já teria se alterado, quando começassem a surNr os efeitos da políRca monetária discricionária.
Principais defasagens 1. Defasagens de reconhecimento: de percepção e
interpretação, considerando o tempo que ocorre entre 1. a coleta de dados e 2. a capacidade de analisá-‐los;
2. Defasagens administraRvas: de tomada de decisão, em que leva em conta 1. o grau de centralização e 2. outras considerações extra-‐econômicas;
3. Defasagens de implementação: o tempo necessário para implementação de novas políNcas, ou seja, fazer 1. a regulamentação, 2. a difusão e 3. os esclarecimentos necessários;
4. Defasagens de impacto: de efeito macroeconômico, ou seja, o tempo necessário para que novas políNcas afetem a economia através da mudança de expectaKvas e do ajuste de porYólios dos agentes econômicos.
Instrumentos de avaliação da políNca monetária
1. taxa de desemprego 2. taxa de mercado 3. taxa de juros nominais 4. taxa de câmbio 5. taxa de inflação 6. taxa de crescimento de
agregado monetário
Estado do emprego • Não pode ser critério para a políRca monetária = f( desconhecimento da taxa natural, seja de juros, seja de desemprego: NAIRU = Taxa de Desemprego Não Aceleradora da Inflação ): tem algum equivalente numérico, mas depende de circunstâncias parKculares de tempo e lugar.
• Autoridade monetária não consegue, então, fixar a taxa de mercado neste nível de equilíbrio monetário hipotéRco.
Condições do mercado monetário e taxa de juros nominal
• condições do mercado monetário: se a AM responder a todas as flutuações de curto prazo ou variações das taxas de mercado, colocará em encadeamento efeitos de longo prazo que farão o ritmo de crescimento monetário aleatório => instabilidade.
• taxa de juros nominal: desconsiderando a inflação esperada, esse nível é mal indicador de se a políKca monetária é contracionista ou expansionista = f( diferença entre 1. as consequências imediatas e 2. as consequências atrasadas de uma determinada políNca).
Taxa de câmbio e nível de preços
• taxa de câmbio: guia indesejado = f( ausência de coordenação de políKcas macroeconômicas entre os principais bancos centrais) => fixação unilateral da taxa de câmbio provoca retaliação comercial.
• nível de preços (definido por algum índice): a ligação entre 1. a ação da AM e 2. o nível de preços, embora ocorrendo, é mais indireta que a ligação entre 1. as ações políNcas da AM e 2. qualquer dos vários agregados monetários.
QuanNdade de um agregado monetário
• A defasagem temporal e a magnitude do efeito são muito mais favoráveis a este úlNmo indicador: meios de pagamento (M1, M2, etc.).
• Friedman: agregado monetário é o melhor guia ou critério para políKca monetária.
• ↓ Ms => ↓ P° = f(↓ Y / K ) => ↓ N => ↓ W
PolíNca monetarista recessiva • A contração do crédito de curto prazo
impede às empresas de contratar fatores aos preços correntes ou esperados, se subsistem expectaNvas inflacionárias.
• O provocado excesso de oferta de fatores é esUmulo à redução ou à manutenção de seus preços, sufocando pressões alNstas.
• A redução do nível de aRvidades força as firmas a adotarem estratégias de expansão de mercados, via promoções ou liquidações, para fazer frente aos compromissos contratados.
• A ação da políRca monetária é demorada, devido à necessidade de persuadir os agentes econômicos a mudarem suas estratégias.
Regra x Arbítrio
Regra monetarista • adoção de políNca
de aNngir certa taxa de crescimento estável em agregado monetário, para não perturbar o livre funcionamento das forças de mercado.
Ação Discricionária • adoção de aRtude passiva quanto
à oferta de moeda, porém com:
1. rígida fiscalização administraKva,
2. controles financeiros seleKvos e/ou
3. regulação macroprudencial sobre a atuação dos bancos.
Regra
• Significado: sem abruptas oscilações na políRca: a AM falha em não tolerar o diferimento entre 1. as suas ações = f(condições presentes) e 2. os efeitos subsequentes (no futuro indeterminado) sobre a economia.
• A AM deve ter persistência na manutenção da meta sem contrair ou expandir a oferta de moeda, a não ser acompanhando o crescimento do produto real.
Friedman versus Regime de Meta de Inflação
• Friedman: regra para uso do instrumento de controle monetário geral.
• RMI: regra baseada em resultado (meta de inflação) = f(uso discricionário do instrumento taxa de juros).
• Manipulação da taxa de juros = f( discernimento do diretoria do Banco Central).
• Regra torna-‐se, no RMI, um objeKvo em longo prazo, cujo sucesso no alcance implica em liberdade de ação no curto prazo.