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A contribuição da charge na formação crítica: Uma análise nas charges publicadas nos dois principais jornais de CaruaruTRANSCRIPT
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SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA – SESVALI
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP
ROSIVALDO PINHEIRO SOARES
A CONTRIBUIÇÃO DA CHARGE NA FORMAÇÃO CRÍTICA:
UMA ANÁLISE NAS CHARGES PUBLICADAS NOS DOIS PRINCIPAIS JORNAIS
IMPRESSOS DE CARUARU
CARUARU, 2010
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Diretores
Luiz de França Leite
Vicente Jorge Espíndola Rodrigues
Diretora Executiva
Profª. Mauricélia Bezerra Vidal
Diretora Acadêmica
Prof. Aline Brandão
Coordenadora do Curso de Jornalismo
Profª Rosângela Araújo de Souza
Professora Orientadora
Profª Heleniza Saldanha
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ROSIVALDO PINHEIRO SOARES
A CONTRIBUIÇÃO DA CHARGE NA FORMAÇÃO CRÍTICA:
UMA ANÁLISE NAS CHARGES PUBLICADAS NOS DOIS PRINCIPAIS JORNAIS
IMPRESSOS DE CARUARU
Monografia apresentada à
Faculdade do Vale do Ipojuca -
Favip, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em
Comunicação Social com Habilitação
em Jornalismo.
CARUARU, 2010
3
Catalogação na fonte -
Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE
S676c Soares, Rosivaldo Pinheiro.
A contribuição da charge na formação crítica: uma análise
nas charges publicadas nos dois principais jornais de Caruaru /
Rosivaldo Pinheiro Soares. -- Caruaru : FAVIP, 2010.
90 f. : il.
Orientador(a) : Heleniza Saldanha.
Trabalho de Conclusão de Curso (Jornalismo) -- Faculdade
do Vale do Ipojuca.
Inclui apêndice e anexo.
1. Charge. 2. Caricatura. 3.Gênero opinativo. I. Título.
CDU 070[11.1]
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
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ROSIVALDO PINHEIRO SOARES
A CONTRIBUIÇÃO DA CHARGE NA FORMAÇÃO CRÍTICA:
UMA ANÁLISE NAS CHARGES PUBLICADAS NOS DOIS PRINCIPAIS JORNAIS
IMPRESSOS DE CARUARU
Monografia apresentada à
Faculdade do Vale do Ipojuca -
Favip, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em
Comunicação Social com Habilitação
em Jornalismo.
Aprovado em: ____/____/____
Banca examinadora
_______________________________________
Professor orientador
_________________________________________
1º prof. examinador
__________________________________________
2º prof. examinador
5
AGRADECIMENTOS
Ao Mestre dos Mestres, meu Grandioso Deus, autor da minha fé, que nunca
me deixou fraquejar e me carregou nos braços quando minhas forças se esgotaram.
Aos meus pais e irmãos, e principalmente à minha mãe querida, Odézia
Pinheiro, e minha irmã, Raquel Soares, pelo esforço, por ter me educado com amor
e carinho dentro dos princípios da ética e moral cristã, por sempre realizarem o
possível e o impossível para que eu chegasse a onde estou hoje, por compartilhar
as minhas vitórias e derrotas.
Aos meus professores: Mariana Mesquita, Luiz Adriano, Rosildo Brito,
Rosangela Araújo, e minha orientadora Heleniza Saldanha, por estarem sempre à
disposição e por acreditarem nas minhas ideias. Em especial à professora Iraê Mota,
e os professores Mário Flávio e Tenaflae Lordêlo, pela atenção, carinho, respeito e
principalmente pelo incentivo e reconhecimento de minhas habilidades criativas no
desenho artístico, que de certa forma motivaram a escolha do tema desenvolvido
nesta monografia.
Por fim, a todos meus colegas e amigos que juntos compartilharam minhas
vitórias e conquistas nas atividades corriqueiras deste curso, por contribuírem para
minha formação acadêmica, e principalmente pelos momentos felizes que passamos
juntos.
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“Se o que é sólido se desmancha no ar, nada é
menos sólido do que a maioria das notícias que
os jornais publicam. O fato que provoca barulho
não é necessariamente importante. Importa o
fato destinado a produzir mudanças na vida
das pessoas.”
(Ricardo Noblat)
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RESUMO
Neste trabalho, procuramos avaliar a qualidade dos desenhos/charges nos dois jornais impressos da cidade de Caruaru: Extra de Pernambuco e Vanguarda. Considerada como imagem figurativa, do ponto de vista científico, a charge tem a missão no jornalismo local de tornar a realidade regional algo mais debatido. E explorar através dessa linguagem um conteúdo onde seu público se identifique, fazendo um canal de comunicação das autoridades representantes com a comunidade, que deposita tanta confiança nos meios de comunicação. Nesse pensamento, elaboramos uma pesquisa de caráter qualitativo observando a necessidade de uma identidade local. Aplicou-se um questionário com perguntas abertas aos chargistas dos dois veículos. O objetivo desta entrevista foi identificar como esses profissionais do desenho compreendem o conceito de opinião e verificar se as imagens consolidam ideias e habilidades que permitam a inovação, criatividade, contribuindo para a formação de um leitor presente na opinião publica local, incorporando um espírito crítico e transformador da realidade social.
Palavras-chave: Charge. Caricatura. Gênero opinativo.
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ABSTRACT
In this work we try to assess the quality of drawings/charges in two newspapers printed city Caruaru: Extra of Pernambuco and Vanguarda. Considered as figurative image from a scientific point of view, the charge has the mission in local journalism to make something more discussed regional reality. And explore through this language content where your audience is to identify, doing a channel of communication with the authorities, community representatives that attaches so much confidence in the media. In this thought we elaborate a qualitative character search, noting the need for a local identity. A questionnaire was applied with open-ended questions to charges of two vehicles. The goal of this interview was to identify how these design professionals understand the concept of opinion and verify that the images consolidate ideas and skills that enable innovation, creativity, and contributing to the training of a reader present in local public opinion, incorporating a critical spirit and transformer of social reality.
Keywords: Charge. Caricature. Genre opinionated.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2. JORNALISMO OPINATIVO...................................................................................13
2.1. Linguagem opinativa...........................................................................................13
2.2. Um pouco da história...........................................................................................14
2.3. Gêneros jornalísticos...........................................................................................16
3. GÊNERO CHARGE...............................................................................................20
3.1. Linguagem visual.................................................................................................20
3.2. Definindo o gênero charge..................................................................................21
3.3. Uma linguagem local...........................................................................................25
4. UMA VISÃO CIENTÍFICA......................................................................................28
4.1. Uma olhada por cima..........................................................................................28
4.2. Um olhar mais detalhado.....................................................................................33
5. DESENVOLVIMENTO..........................................................................................39
5.1. Levantamento......................................................................................................39
5.1.1. Dados Físicos: Localização e Dimensão nos Jornais......................................39
5.1.2. Classificação por Dimensão de Temas Abordados..........................................40
5.1.3. Classificação por Assuntos Abordados............................................................42
5.1.4. Classificação por Características do Gênero...................................................44
5.2. Análise dos Dados Levantados...........................................................................51
5.3. Visão dos Autores...............................................................................................55
6. CONCLUSÃO........................................................................................................58
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................60
8. APÊNDICES...........................................................................................................61
9. ANEXO...................................................................................................................64
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1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho se propôs a analisar o conteúdo das charges publicadas nos
dois principais jornais impressos da cidade de Caruaru, no Estado de Pernambuco,
com a finalidade de encontrar, nessas imagens, as devidas características da charge
jornalística. Mas afinal, quais são as características primordiais da charge? E como
ela produz seus efeitos de sentido? E qual sua contribuição para formação da
sociedade?
As charges, que geralmente vemos na imprensa escrita, e agora também nas
mídias digitais, têm seu foco voltado, principalmente, ao que acontece na atualidade.
E é justamente essa necessidade constante por fatos atuais do cotidiano que faz
deste desenho um conteúdo jornalístico, opinativo e de forte persuasão perante seu
público. Isso também o diferencia dos outros desenhos profissionais, porque as
charges são desenhos capazes de passar não apenas o que está explícito, mas
também aquilo que não se explicita na superfície da imagem, pois possui façanhas
de duplos sentidos e interpretações dinâmicas, hilariantes do cotidiano e realidade
política/social.
A abordagem de um tema atual é de extrema importância para que a mesma
seja considera uma notícia ou produto jornalístico, outro fator essencial é a presença
de características opinativas, como o humor e a crítica, fazendo deste um desenho
engraçado, mas com uma mensagem importante a ser transmitida.
Procuramos desenvolver em nossa fundamentação teórica um perfil que
sintetizasse as devidas características da charge jornalística de nível local a fim de
compará-lo ao perfil encontrado em sua pesquisa de campo, que realizou uma
análise de conteúdo nas charges publicadas nos dois principais jornais impressos da
cidade de Caruaru: Extra de Pernambuco e Vanguarda, com finalidade de saber a
devida contribuição do referente gênero para a formação da opinião pública crítica e
reflexiva da sociedade local.
A princípio se fez necessário desenvolver uma pesquisa teórica que pudesse
classificar um perfil nos fundamentos teóricos e características históricas do gênero
charge, acompanhando sua evolução até o presente momento, por se tratar de um
gênero opinativo frágil e vulnerável a sofrer algumas adaptações dependendo da
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necessidade do tempo e do espaço presente que ocupa, bem como entender como
essas adaptações de gêneros opinativos são necessárias para a formação de um
leitor crítico e atualizado sobre os fatos que o cercam.
Em segundo momento, procuramos traduzir essas devidas características em
uma linguagem científica. A teoria semiótica de Peirce (1909), apontada por
Santaella (1983) e Joly (1996), criou conceitos e dispositivos de indagação que nos
permitiram descrever, analisar e interpretar a linguagem/charge com finalidade
apenas de encontramos sua classificação e posição no mundo das representações
figurativas, chegando a um conceito de leitura universal generalizada sobre as
múltiplas funções dos signos dentro de um desenho representativo qualquer e de
livre interpretação. Nessa análise, concluí-se que todas as imagens corresponderam
às características necessárias e foram consideradas imagens figurativas, devido à
clareza e definição de suas imagens.
Em nosso desenvolvimento, procuramos fazer uso dessa percepção,
avaliando o material coletado em nossa pesquisa de campo, período referente a três
meses de publicações desses dois jornais semanais, durante o período de 01 de
maio a 30 de julho de 2010, totalizando 26 charges, que por sua vez tiveram suas
imagens avaliadas segundo as características fundamentadas em nossa pesquisa
bibliográfica que destacou: a importância de atualidade nos assuntos abordados; a
utilização de humor, ironia, crítica, que é a presença da opinião como sugestão de
ideia perante o fato abordado.
Outro fator importante foi a necessidade de nitidez, por se tratar de um
desenho representativo. É nesse ponto que entra o gênero complementar: a
caricatura. A mesma foi classificada como suporte ao que se desejou incorporar no
gênero charge, por deixar mais clara as imagens figurativas ou representativas,
principalmente quando se trata de detalhes nas expressões faciais.
De posse dos dados e características, procuramos dividir as imagens/charges
por meio dos seguintes ângulos de análise: segundo o nível de repercussão de
temas abordados, mediante a classificação de assuntos levantados, de acordo com
as características do gênero charge, expondo as ideias e intenções de seus devidos
criadores através de entrevistas abertas.
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Diante do crescimento da área de comunicação, no Agreste pernambucano,
este trabalho de análise buscou provocar um profissionalismo mais criativo nos
chargistas locais, os quais deveriam procurar abordar assuntos ligados à atualidade
de nossa região, formando leitores mais atentos à opinião pública e política local.
A razão pela qual se optou por este tema como objeto de estudo é a
necessidade de registrar a qualidade do trabalho chargista neste momento histórico,
ressaltando a necessidade de mais profissionalismo e qualidade nas charges, que
são um poderoso instrumento democrático.
Por fim, trabalhar este tema no formato de monografia acredita-se ser um
fator de importância para o curso de jornalismo desta instituição, tendo em vista a
baixa produção deste gênero de trabalho. Outra razão foi o fato de se tratar de um
estudo até então inédito na cidade, o que demonstrará a relevância deste trabalho
para academia, bem como para a sociedade como um todo, uma vez que esta
necessita de leitores mais críticos e presentes na opinião pública.
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2. JORNALISMO OPINATIVO
2.1. LINGUAGUEM OPINATIVA
Hoje, nos mais diversos meios de comunicação, existe um grande número de
jornais, revistas e emissoras de televisão que exploram a linguagem opinativa, a
qual deixa transparecer um ponto de vista pessoal sobre um determinado assunto.
Ela sempre esteve presente na história da mídia, assumindo os mais diversos meios
de expressões, até de forma discreta e silenciosa, às vezes quase em palavras
subliminares, seja de forma verbal ou visual. Classificada nos jornais impressos
como editorial, a linguagem opinativa também está presente em artigos ou matérias
que nos impulsionam a pensar em apenas um ponto de vista, ou realidade.
A opinião da empresa, ademais de se manifestar no conjunto da orientação editorial (seleção, destaque, titulação), aparece oficialmente no editorial. A opinião do jornalista, entendido como profissional regularmente assalariado e pertencente aos quadros da empresa, apresenta-se sob a forma de comentário, resenha, coluna crônica, caricatura e eventualmente artigo. [...]
(MELO, 2003, p. 102)
A linguagem opinativa sempre quer nos impulsionar a algo, seja ele, contra
administração dos mais diversos órgãos públicos, sistema administrativo de uma
rede privada, à política social que se adota e aos governantes em geral, ou a
imprensa, ou seja, a qualquer pessoa ou causa que mereça sua atenção. Uma das
formas é utilizando-se de argumentos lógicos que possam convencer o leitor, outra é
explorar a crítica, provocar ironia e deboche, que são usados como recursos para
criar vínculo com o leitor e persuadi-lo a aceitar as ideias do discurso, ou seja, na
comunicação sempre nos deparamos com diversas formas de opinião e crítica que
também muitas vezes vai apenas de encontro aos interesses dos veículos de
comunicação ou autoridades vinculadas, como afirma Santaella:
É claro que no sistema social em que vivemos estamos fadados a apenas receber Iinguagens que não ajudamos a produzir, que somos bombardeados por mensagens que servem à inculcação de valores que se prestam ao jogo de interesses dos proprietários dos meios de produção de linguagem e não aos usuários. (SANTAELLA, 1983, p. 12)
Este tipo de raciocínio, afirmado por Santaella, apresenta um tom de verdade
inquestionável, principalmente, quando a argumentação da linguagem é fechada,
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restando ao receptor apenas aceitar a verdade do emissor. E é usada, ainda hoje,
em muitas editorias jornalísticas. Mas independente do mau uso da opinião por parte
dos profissionais ou empresas de comunicação, não podemos nos esquecer da
importância e necessidade da opinião no desenvolvimento da sociedade, que
também deposita nos meios de comunicação ou na imprensa certa confiança, no
decorrer das informações da atualidade que precisam para se orientarem no tempo
e no espaço político, como defende Roger Clausse, no comentário de José Marques
de Melo:
[...] Roger Clausse defende o ponto de vista de que a atualidade decorre da "necessidade social de conhecer os acontecimentos do mundo, para uma utilização prática na formação de uma opinião ou decisão de uma ação adequada". Assumindo o caráter de "situação de ação, de pensamento ou de opinião", não pode ser desvinculado do universo de expectativas da coletividade a que pretende atender/influenciar. (MELO, 2003, p. 18)
2.2. UM POUCO DA HISTÓRIA
O jornalismo, ao contrário do que se possa imaginar, em sua essência ou
origem é formado por gêneros opinativos, e não informativos. Historicamente, eles
passam uma visão política baseado em uma ideologia, e é uma consequência da
revolução tecnológica de seus criadores capitalistas que começaram a dominar a
economia da época, conforme diz Pena: “Até o século XX os jornais eram
essencialmente opinativos. Não que a informação/notícia estivesse ausente das
páginas. Mas a forma como era apresentada é que era diferente.” (PENA, 2006, p.
41) Segundo Melo, o próprio jornalismo surgiu em período de grandes
transformações sociais promovendo a circulação das novas idéias políticas:
[...] A intensificação e o refinamento das relações de troca, que ocorrem no bojo das transações capitalistas, as possibilidades de atuar e de influir na vida da sociedade, que se afiguram na eclosão das revoluções burguesas, tornam a informação um bem social, um indicador econômico, um instrumento político. Não é acidental que o jornalismo tenha emergido historicamente na esteira dos acontecimentos que preparam e tornam realidade a transformação das sociedades européias. A própria imprensa, que viabilizou tecnologicamente o jornalismo, também surgiu como resultado de crescentes exigências sócio-culturais que se manifestaram na nascente engrenagem burocrática, nas operações mercantis e financeiras que movimentavam as cidades, na circulação mais rápida das idéias e dos inventos que tornaram a reprodução do conhecimento um fator político significativo. (MELO, 2003, p. 19)
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E, como podemos observar, o crescimento das cidades também foi um fator
decisivo para o surgimento das primeiras manifestações jornalísticas, mediante a
necessidade de informação da população, assim, na forma de avisos e gazetas que,
além de transmitir os acontecimentos, também deveriam fazê-lo de forma acessível
à coletividade, interpretando os fatos. Entre os séculos XV e XVI, surgiram as
primeiras manifestações noticiosas precursoras do jornal.
As primeiras manifestações do jornalismo - as relações, os avisos as gazetas, que circulam escassamente no século XV ampliam-se no século XVI - atendem a necessidade social de informação dos habitantes das cidades, súditos e governantes. (MELO, 2003, p. 19)
Sabe-se, porém, que o jornalismo atual é classificado em dois tipos de
gêneros. Estes dois são o resultado de dois mundos ideológicos que viveram na
Europa no século XVIII, que assumiram posturas diferentes perante seu público,
consequência da realidade política que viviam.
Vê-se, portanto, que o jornalismo francês e o jornalismo inglês suscitam diferentes padrões de expressão simbólica. Enquanto o jornalismo francês apresenta-se com todo o vigor opinativo, promovendo debates, levantando problemas, participando ativamente do cenário político, o jornalismo inglês assume uma tendência informativa, retraindo-se do combate, preferindo distanciar-se do confronto direto com o centro do poder. (MELO, 2003, p. 24)
No entanto, o jornalismo informativo começou a delinear-se apenas após a
Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos da América, assumindo uma postura
imparcial nas matérias, que tem como única finalidade informar a partir dos fatos,
trazendo uma linguagem aparentemente desvinculada de opinião ou influências
políticas. Obviamente os demais veículos de comunicação que são consequências
da revolução industrial seguem a mesma postura.
Mas sem dúvida o jornalismo informativo afigura-se como categoria hegemônica, no século XIX, quando a imprensa norte-americana acelera seu ritmo produtivo, assumindo feição industrial e convertendo a informação de atualidade em mercadoria. A edição de jornais e revistas que, nos seus primórdios, possui o caráter de participação política, de influência na vida pública, transforma-se em negócio, em empreendimento rentável. O rádio e a televisão já nascem e se afirmam nesse contexto mercantil. (MELO, 2003, p. 24)
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Com relação ao modelo do jornal brasileiro, podemos observar que o mesmo
apesar de possuir hoje uma característica própria, é fruto de uma mistificação de
formatos que foram implantados por influências de várias culturas que, de certa
forma, enriqueceram e contribuíram para o crescimento do jornalismo nacional.
Nosso jornalismo é contemporaneamente o resultado cultural desse conjunto de motivações forâneas, sem que isso queira significar a existência de uma fisionomia amorfa, produzida pelo entrecruzamento dos padrões estrangeiros. Na verdade, o jornalismo brasileiro estruturou-se criativamente, absorvendo com seletividade os modelos que se nos insinuaram ou impuseram, adquirindo feição diferenciada. [...] (MELO, 2003, p. 179)
Portanto, apesar de ser influenciado por outras culturas, o jornalismo
brasileiro se adaptou e adquiriu sua própria identidade baseado nas características e
ideologias que defendem e acham prioritário ao seu público.
2.3. GÊNEROS JORNALÍSTICOS
Portanto, com base na história e origens, podemos concluir que o jornalismo
classifica-se em gêneros informativos e gêneros opinativos, e têm dois objetivos que
é “informar o que acontece” e “passar o que se pensa sobre os acontecimentos”,
como conclui José Marques:
O jornalismo articula-se, portanto, em função de dois núcleos de interesse: a informação (saber o que se passa) e a opinião (saber o que se pensa sobre o que se passa). Daí o relato jornalístico haver assumido duas modalidades: a descrição e a versão dos fatos. [...] (MELO, 2003, p. 63)
Mas o que vem a ser gênero jornalístico? E qual a sua verdadeira
necessidade de atuação no campo jornalístico? Segundo conclusões de José
Marques, os gêneros se formam a partir das relações que seus idealizadores têm
com o mundo externo.
Os gêneros que corresponde ao universo da informação se estruturam a partir de um referencial exterior à instituição jornalística: sua expressão depende diretamente de eclosão e evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores profissionais (jornalistas) estabelecem em relação aos seus protagonistas (personalidades ou organizações). (MELO, 2003, p. 65).
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No caso dos gêneros opinativos, especificamente, José Marques faz menção
a duas variantes que determinam o sentindo da opinião ilustrada, ou pensamento
ideológico exposto. A primeira está na atitude do autor que assume uma postura de
opinião, e a segunda é determinada pela harmonia, dessas ideias apresentadas,
com os fatores externos.
(...) gêneros que se agrupam na área da opinião tem a estrutura da mensagem co-determinada por variáveis controladas pela instituição jornalística e que assumem duas feições: autoria (quem emite a opinião) e angulagem (perspectiva temporal ou espacial que dá sentido à opinião). (MELO, 2003, p. 65)
No entanto, podemos avaliar que o significado maior do que seja o gênero
opinativo, presente no editorial de forma explícita, concentra-se no ato de alguém
deixar transparecer um pensamento ou ideia sua ou da instituição jornalística,
através de críticas, avaliações, considerações e juízos de valor, assumindo,
portanto, um ponto de vista que não está oculto, deixando transparecer em
linguagem direta ao emissor. Percebemos que “os gêneros jornalísticos são „formas
que busca o jornalista para se expressar‟.” (MELO, 2003, p. 43)
Segundo Melo, cada processo jornalístico tem sua dimensão ideológica
própria, independente do artifício narrativo utilizado, esta relação não atrapalha a
interatividade com o público. Portanto, o ato de opinar não atrapalha o processo de
informação, de acordo com o contexto histórico analisado por Melo:
Narrar os fatos e expressar as idéias segundo os padrões historicamente
definidos como jornalismo informativo e jornalismo opinativo não altera
fundamentalmente o resultado do processo interativo que se estabelece
entre a instituição jornalística e a coletividade que tem acesso ao universo
temático e conteudístico manufaturado continuamente. (MELO, 2003, p. 25)
Como vemos, “o maior desafio do jornalismo como campo do conhecimento é
sem dúvida a configuração da sua identidade enquanto objeto de científico.” [...]
(MELO, 2003, p. 41). Por isso, neste trabalho, estamos considerando os dois
gêneros classificados por José Marques que são apresentados pelo autor após
várias análises e comparações nos classificados, formatos e modelos de gêneros
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dos jornais nacionais e internacionais, o qual nos propõe uma categoria mais ampla,
historicamente situada.
Melo parte da classificação feita por Luíz Beltrão, que foi o pioneiro no Brasil
em classificação dos gêneros, e nos apresenta uma nova classificação que chamou
de jornalismo informativo (compreendendo os gêneros nota, notícia, reportagem e
entrevista), e o jornalismo opinativo (composto por editorial, comentário, artigo,
resenha, coluna, crônica, caricatura, carta).
Como já foram analisados, os gêneros informativos procuram passar a
informação de forma neutra, na tentativa de pelo menos se abster de uma opinião a
respeito do fato relatado através de notas, reportagens e entrevistas. Sobre esse
“mundo ideológico”, Lage faz as seguintes observações:
Nisto, a ideologia se articula em dois pólos: por um lado, a ocultação do emissor por detrás do complexo aparelho de produção das mensagens (nomeado também como coisa do mundo – a mídia -, quando objeto eventual de notícias); por outro lado, a evidência de uma neutralidade tal que a informação se legitima por aparentemente não pretender respostas. Uma indústria produtora, na qual as decisões afloram de vago mecanismo, dirige-se a público vasto, de cujo repertório tem apenas idéias estatísticas; e se inocenta do que diz, como se falasse naturalmente dos fenômenos, sem
nada ocultar, exagerar ou distorcer. (LAGE, 2001, p. 63)
Todavia, no caso de gêneros opinativos por meio do editorial, comentário,
artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura ou carta podemos, evidentemente, “(...)
deparamo-nos com alguns que se estruturam semelhantemente enquanto narração
dos valores contidos nos acontecimentos, mas assumem identidades diversas a
partir da autoria/angulagem.” (MELO, 2003, p. 66). Ou seja, existe uma necessidade
de adaptação de linguagem específica ou um público determinado para que ele
aconteça. A respeito da importância dessa relação, José Marques faz as seguintes
considerações:
[...] É justamente a necessidade que tem os cidadãos de recorrer a uma meditação para apreender uma realidade que se tornou muito ampla para ser captada pelos mecanismos da sensorialidade individual. Justifica-se a manutenção de instituições que façam saber aos interessados o que está acontecendo e possam também dizer o que pensam dos fatos que ocorrem. (MELO, 2003, p. 63)
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Sabendo que o objetivo principal deste trabalho é analisar o conteúdo do
gênero charge, que faz parte da classificação editorial e opinativa do jornal
impresso, não vamos nos deter em explicar cada gênero em seus detalhes ou
características particulares. Assim, reafirmamos que cada gênero opinativo obedece
a uma necessidade de adaptação de linguagem ou abordagem de emissor para com
seu público-alvo, ou receptor específico, podendo utilizar-se das mais diversas
formas de linguagem, por isso não podem ser definidos como algo fixo, mas
possuem formas de adaptações e estão sujeitos às mudanças de acordo com as
necessidades de seu público.
Os gêneros jornalísticos não são estáticos. Ao contrário possuem tendência hídrica e dialética. Estão intrinsecamente relacionados ao movimento da sociedade aliada aos meios de expressão social. Qualquer alteração nos contextos sociais e nos processos de difusão da informação pode ocasionar uma mudança nos gêneros, ou possibilitar uma nova nuance a ser considerada. (MELO; ASSIS, p.107)
E como vemos, essas mudanças nas formas de abordagens do gênero, são
adaptações provocadas pelas necessidades da sociedade, e não apenas uma
postura própria assumida pelo veículo de informação, portanto, é algo que exige
sensibilidade e percepção.
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3. GÊNERO CHARGE
3.1. LINGUAGEM VISUAL
O desenho está entre as mais primitivas formas de comunicação e
expressões como uma linguagem visual, ele explora a imaginação e criatividade e
troca de informações através de imagens códigos ou expressões. A linguagem
visual, que se demonstra através dos desenhos, também pode ser considerada
como uma linguagem verbal escrita, mesmo quando o desenho não apresenta uma
forma alfabética articulada, ou texto, “mas existe simultaneamente uma enorme
variedade de outras linguagens que também se constituem em sistemas sociais e
históricos de representação do mundo.” (SANTAELLA, 1983, p. 11)
No entanto, em todos os tempos, grupos humanos constituídos sempre recorreram a modos de expressão, de manifestação de sentido e de comunicação sociais outros e diversos da linguagem verbal, desde os desenhos nas grutas de Lascaux, os rituais de tribos "primitivas", danças, musicas, cerimoniais e jogos, até as produções de arquitetura e de objetos, além das formas de criação de linguagem que viemos a chamar de arte: desenhos, pinturas; esculturas, poética, cenografia etc. E, quando consideramos a linguagem verbal escrita, esta também não conheceu apenas o modo de codificação alfabética criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos. Há outras formas de codificação escrita, diferentes da linguagem alfabeticamente articulada, tais como hieróglifos, pictogramas, ideogramas, formas estas que se limitam com o desenho. (SANTAELLA, 1983, p. 11)
Como podemos observar, segundo Santaella, o desenho pode ser
considerado uma linguagem verbal escrita e se encontra entre as mais primitivas
formas de expressão, pois ele tem uma comunicação rápida e atinge um público
bem maior, justamente pela facilidade de interatividade e de clareza, diferente da
linguagem articulada por letras ou códigos dos outros gêneros jornalísticos, como
afirma Melo:
O uso da imagem como instrumento de opinião atende, muitas vezes, ao imperativo de influenciar um público maior que aquele dedicado a leitura atenta dos gêneros opinativos convencionais: editorial, artigo, crônica etc. (MELO, 2003, p. 163)
Por isso, a “imagem” pode ser vista como um conteúdo jornalístico na medida
em que passa uma informação ou complementa uma mensagem, portanto, pode ser
21
considerada como notícia, como complemento de notícias ou até mesmo como
reportagem dependendo da clareza da informação transmitida.
[...] Então, a fotografia ou o desenho são perfeitamente identificáveis como notícias (quando apreendem a faceta privilegiada de um fato), como complemento das notícias (e aí a notícia é compreendida como uma estrutura articulada entre texto e imagem) ou como reportagens (quando as imagens são suficientes para narrar os acontecimentos). (MELO, 2003, p. 61)
Percebemos aqui uma necessidade de adaptação ao corpo do jornal ou
página editorial: quando a charge vem como complemento de um comentário
opinativo ou crônica, recebe a classificação de notícia; mas quando atua de forma
desvinculada de texto, torna-se a própria reportagem, no entanto, essa
imagem/charge precisa ser completa ou objetiva o suficiente.
3.2. DEFININDO O GÊNERO CHARGE
No jornalismo, o gênero opinativo que se utiliza do “desenho” e de suas
expressões mais exageradas, como a “caricatura”, é o “gênero charge”, juntos, os
três se completam formando uma autonomia da opinião ilustrada. “(...) Sua validade
humorística advém do real, da apreensão de facetas ou de instantes que traduzem o
ritmo de vida da sociedade, que flagram as expressões hilariantes do cotidiano.”
(MELO, 2003, p. 168)
A caricatura reproduz a imagem isolada dos personagens vivos da cena noticiosa. A charge contém a expressão de uma opinião sobre determinado acontecimento. Ambas as espécies só adquirem sentido no espaço jornalístico, porque se nutrem dos símbolos e valores que fluem permanentemente e estão sintonizados com o comportamento coletivo. (MELO, 2003, p. 168)
Como podemos ver, a charge e a caricatura são conteúdos jornalísticos
exclusivamente opinativos e são diferentes de outros tipos de desenhos da área de
entretenimento, como o cartum e o cômic, os quais não necessitam estarem ligados
a fatos da atualidade, pois possuem uma linguagem mais universal, no entanto, a
necessidade de atualização da charge/caricatura é constante, pois emitem opiniões
temporariamente contínuas e sincronizadas com o emergir e o repercutir dos
22
acontecimentos. “Sua intenção é representar o real, criticando.” [...] (MELO, 2003, p.
168).
Desta maneira, o espaço ideal da caricatura é a imprensa, onde os traços fisionômicos e os perfis dos acontecimentos podem ser captados vagarosamente, produzindo o efeito satírico que motivou o trabalho do desenhista. (MELO, 2003, p. 172)
Mas como podemos definir dois gêneros com características tão parecidas,
como é a charge e a caricatura? Ou até onde vão suas semelhanças como conteúdo
jornalístico?
A palavra charge é francesa, vem do verbo charger, que significa (carregar,
exagerar, atacar), uma forma de representação pictórica de caráter bulesco e
caricatural em que se satiriza um fato específico, tal qual uma idéia, situação ou
pessoa, em geral de caráter político e do conhecimento público, segundo afirma
Fonseca (1999, p. 26).
No entanto, com relação às origens da “caricatura”, segundo José Marques
de Melo, a palavra tem “origem semântica (do italiano caricare) corresponde a
ridicularizar satirizar, criticar.” (MELO, 2003, p. 165). Mas só se desenvolveu com o
avanço da tecnologia, atuando nos jornais locais como complemento dos textos
ilustrados.
A introdução da caricatura a imprensa explica-se pela conjugação de dois fatores socioculturais: o avanço tecnológico dos processos de reprodução gráfica e a popularização do jornal como veículo de comunicação coletiva. No primeiro caso, verificamos que a caricatura só se desenvolveu depois que a litografia passou a constituir um recurso plenamente incorporado aos processos de produção jornalística. Foi justamente na década de 1830 que surgiu na França o jornal La Caricature,' publicando a imagem como desenhada, como complemento do registro verbal dos fatos da atualidade. (MELO, 2003, p. 164)
Com relação à chegada da caricatura no jornalismo brasileiro, a mesma
ocorreu justamente no estado de Pernambuco com o surgimento do jornal chamado
“O Carapuceiro”, editado pelo Padre Lopes Gama, um dos nossos pioneiros na
caricatura. O jornal possuía características muito próximas ao “jornal caricato” na
opinião do historiador da caricatura no Brasil, Gilberto Freyre.
23
[...] Lendo esse jornal, a impressão recolhida por Gilberto Freyre é quase a de folhear-se um jornal caricato, tão forte e a sugestão pictórica – grotescamente pictórica - das palavras vivas, picantes e às vezes cheias de cor. (MELO, 2003, p. 165)
O “jornal caricato” é um segmento jornalístico formado por veículos ou jornais
impressos que assumem a caricatura e textos opinativos como conteúdo principal.
Esse é um estilo bastante utilizado pelos jornalistas brasileiros desde meados do
século XIX até a metade do século XX, principalmente “o jornalismo gaúcho” que foi
destaque em produções de gêneros dessa natureza.
No estado de Pernambuco também ouve um grande desenvolvimento desse
segmento, como descreve Melo:
Em Pernambuco, a imprensa caricata também se desenvolveu com peculiaridades próprias. Sua primeira expressão é o jornal O Carcundão, que circula em 1831. Registra Alfredo de Carvalho: “Era escrito com extrema mordacidade (...); trazia grosseiras vinhetas caricatas abertas a canivete em entrecasca de cajazeiro...” ( MELO, 2003, p. 169).
Com a implantação do sistema litográfico surge um dos seus principais
cultores:
[...] Todavia, sua pujança só ocorre na década de 1870, quando se implanta ali O sistema litográfico. Em 1871, surge um dos principais cultores da caricatura - A America ilustrada - que, segundo anotações de Luiz do Nascimento, obedecia a um programa "joco-serio, através da pena e do craion" e estampava no cabeçalho a indicação "jornal humorístico". (MELO, 2003, p. 169)
No entanto, através desse breve levantamento histórico, podemos ver que o
“segmento caricato” é algo que tem estrutura e conteúdo histórico, apesar de não
ser um movimento constante no mundo do jornalismo, pois sempre aparece quando
existe a liberdade de expressão e desaparece quando a censura renasce, e assim é
com qualquer comportamento ou veículo de opinião pública.
Não é raro na história do jornalismo de muitos países, como o Brasil, que a caricatura murcha durante os governos autoritários, reaparecendo e desenvolvendo-se com ímpeto quando volta a florescer a vida democrática. (MELO, 2003, p. 166)
24
Portanto, a liberdade de imprensa é fundamental para a concretização de
segmentos opinativos, que utilizam pontos de vistas constantemente: transmitindo
ideias, compartilhando pensamentos, ridicularizando maus comportamentos políticos
e sociais, enfim, algo que surge com as primeiras manifestações do espírito
democrático na história da imprensa.
[...] Nesses primeiros momentos da sua afirmação, o jornalismo caracteriza-se pela expressão de opiniões. Na medida em que a liberdade de imprensa beneficiava a todos, as diferentes correntes de pensamento ou os distintos grupos sociais se confrontavam através das paginas dos jornais que editavam. (MELO, 2003, p. 23)
A charge é um gênero jornalístico opinativo, pois deseja passar um
pensamento a respeito de fatos da atualidade deixando uma opinião com crítica e
humor. No entanto, o gênero ou estilo de desenho “caricato” surge da necessidade
da “charge” detalhar algumas características pessoais de personagens do mundo
real envolvidos no raciocínio da crítica, portanto, dependendo do objetivo da charge
a caricatura poderá ser ou não utilizada pelos seus idealizadores. Por isso, o gênero
caricatura funciona como poderoso meio de crítica política e social, deixando a
charge mais objetiva, quando a função é identificar o personagem abordado.
Enquanto gênero jornalístico, a caricatura cumpre uma função social mais profunda que a emissão rotineira da opinião nos veículos de comunicação coletiva. É que a imagem, na imprensa, motiva de tal modo o leitor e produz uma percepção tão rápida na opinião que se torna instrumento eficaz de persuasão. Por isso a caricatura incomoda mais os donos do poder que o editorial ou o artigo. (MELO, 2003, p. 166)
Como vemos, “a caricatura é uma forma de ilustração que a imprensa
absorve com sentido nitidamente opinativo.” (MELO, 2003, p. 165). O poder de
persuasão “caricatu” é muito importante na área de comunicação ao ponto de ser
capaz de formular outro segmento do jornalismo, conhecido como “jornal caricato”, o
mesmo utiliza-se constantemente de caricaturas, textos opinativo e críticas
políticas/sociais.
É, porém, com o desenho, que a caricatura adquire expressão permanente como relato humorístico, dando origem até mesmo a um segmento do jornalismo - o jornalismo caricato - destinado a sátira política e social. (MELO, 2003, p. 165)
25
No entanto, pelo fato de passar expressões faciais ou características pessoais
pesadas, a caricatura sempre passa uma mensagem crítica e satírica. Deve ser por
isso que as histórias da “charge” e da “caricatura” estão sempre paralelas ou
entrelaçadas, justamente pelo fato de ambas se completarem na missão jornalística
opinativa. Mas através de uma percepção mais detalhada, José Marques procurou
avaliar cada gênero separadamente e chegou a uma conclusão sobre a real
definição da caricatura identificando-a como um retrato humano isolado que procura
exagerar nos traços mais fortes.
Caricatura (propriamente dita). Retrato humano ou de objetos que exagera ou simplifica traços, acentuando detalhes ou ressaltando defeitos. Sua finalidade e suscitar risos, ironia. Trata-se de um retrato isolado. (MELO, 2003, p. 167)
A respeito da charge, José Marques eleva à mesma a posição de notícia,
independente de estar acompanhada de texto ou não, na medida em que ela aborda
um fato da atualidade que já é de conhecimento do seu público, acrescentando uma
mensagem opinativa com humor e crítica.
Charge. Crítica humorística de uma fato ou acontecimento específico. Reprodução gráfica de uma notícia já conhecida do público, segundo a ótica do desenhista. Tanto pode se apresentar somente através de imagens quanta combinando imagem e texto (título, diálogos). (MELO, 2003, p. 167)
Agora, portanto, completando nosso raciocínio, percebe-se que a “charge,”
dependendo de sua objetividade, é mais do que uma simples forma de código de
linguagem verbal escrita, assumindo uma posição mais completa, ou seja, a própria
“notícia” opinativa, sendo essa compreendida como mais um gênero utilizado para
transmissão do conteúdo jornalístico, e que não são gêneros de menor importância,
em relação aos demais, ao contrário, estão no mesmo nível.
3.3. UMA LINGUAGEM LOCAL
Mediante as características que compõem uma charge, levantada por esse
trabalho, uma delas é a necessidade de atualização nos assuntos ou temas
ilustrados. Assim como toda e qualquer notícia da atualidade, a charge precisa
abordar fatos atuais que cada vez mais reflitam a realidade política/social onde o
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mesmo (jornal) está localizado. No caso da nossa pesquisa, trata-se do Agreste
pernambucano. Realizamos, portanto, uma busca por identidades regionais na
variação dos temas levantados pelas charges.
Assim cada processo jornalístico tem suas próprias peculiaridades, variando de acordo com a estrutura sociocultural em que se localiza, com a disponibilidade de canais de difusão coletiva e com a natureza do ambiente político e econômico que rege a vida da coletividade. (MELO, 2003, p. 18)
Sabemos, pois, que a charge é um poderosíssimo meio de crítica
política/social e que a mesma reflete a opinião do jornal, opinião que muitas vezes
necessitamos para nos orientarmos e tomarmos uma posição perante os fatos da
atualidade local. Em muitas vezes é considerada um resumo ilustrado da opinião
editorial de um jornal, como apura Melo:
O caricaturista faz, então, uma leitura visual da opinião da instituição jornalística, naquele dia, e a expressa graficamente. Trata-se de uma tentativa para fazer o leitor comum, nem sempre interessado pelo editorial, tomar conhecimento da opinião oficial da imprensa. (MELO, 2003, p. 168)
Por isso, a opinião da charge pode funcionar como um poderoso juiz no
combate à corrupção, na decisão de um fato ou julgamento de ideia, como afirma
Ramon Columba na observação de José Marques de Melo:
A opinião se manifesta explicita e permanentemente através da caricatura, cuja finalidade satírica ou humorística pressupõe a emissão de juízos de valor. Por isso Ramon Columba denomina a caricatura de „supremo tribunal‟, cujo mandato provém da opinião publica. „A caricatura é a encarregada de assinalar' qualquer excesso social ou político suspeito de licenciosidade corruptora. (MELO, 2003, p. 163)
Por isso, a mesma é temida pelos poderosos, os quais em diversas vezes na
história tentaram sufocar sua liberdade de opinião fazendo-a sumir dos conteúdos
jornalísticos em determinados períodos de censura. Portanto, hoje, na charge,
mesmo vivendo uma liberdade de imprensa, percebe-se um comportamento recuado
e temeroso perante as autoridades locais, abordando temas um pouco distante de
nossa realidade política/local, e que não venham causar tumultos ou processos
judiciais, atuando de forma neutra ou imparcial, sem opinião. “Os grandes idealismos
políticos, a crítica e o humor, que estavam em alta há 20 anos, praticamente
27
desapareceram como focos de leitura inteligente.” (LAGE, 2001, p. 41). Isso faz
desse conteúdo jornalístico um instrumento fraco perante o potencial democrático
que poderia exercer a favor de seu público.
Fazer com que os moradores conheçam aspectos diversos da realidade que os cerca e que acreditem e busquem soluções para o local onde vivem. Tornar a informação local mais forte do que a versão que vem de fora. (MORONI; RUAS, 2006, p. 31)
A missão do jornalismo local é, sem dúvida, tornar a realidade regional algo
mais debatido e explorado através de uma linguagem que seu público se identifique,
trazendo: críticas ao sistema administrativo de redes privadas, denunciando abusos
de mau uso das finanças públicas por parte das autoridades políticas, expondo
problemas urbanos ou comunitários, ou seja, fazer um canal de comunicação das
autoridades representantes com a comunidade, que deposita tanta confiança nos
meios de comunicação, pois, segundo Moroni e Ruas, esse deve ser foco do
jornalismo regional.
Os problemas locais como falta de saneamento, uma licitação não transparente, a indústria que fecha, as eleições municipais, tudo pode ser de relevância para a cidade do interior e de nenhum significado para a grande cidade. Assim, as pequenas cidades não irão se reconhecer nas páginas dos grandes jornais. E nessa situação que surge o jornal do interior. (MORONI; RUAS, 2006, p. 25)
E quando tratamos de jornalismo local, é evidente que o assunto ou opinião
transmitida pela charge também deve incorporar uma identidade local na maioria
das vezes, mediante a missão e público-alvo do veículo, como vemos no exemplo
de características a serem assumidas, demonstrado por Moroni e Ruas (2006, p.
25): “Charge – bem humorada que exprime uma reflexão ou crítica local e regional
sobre tema atual abordado na edição,” pois, temas locais geram participação social:
Da mesma forma, o jornal regional ou jornal do interior não se caracteriza como veículo comunitário o que não lhe destitui o inegável valor de promover a cobertura jornalística a partir de temas locais, gerando participação comunitária. (MORONI; RUAS, 2006, p. 30)
Portanto, levantamos esse assunto, na convicção de ter deixado claro um
perfil óbvio a ser assumido mediante a necessidade e características universais do
gênero charge nos jornais de nível local.
28
4. UMA VISÃO CIENTÍFICA
4.1. UMA OLHADA POR CIMA
Compreendemos que o “desenho charge” não é um desenho simples e de
fácil leitura, ele precisa incorporar uma série de características para ser considerado
uma representação de pensamento opinativo, crítico e irônico assumindo, portanto,
uma postura expressiva. Por isso, é preciso saber “ler” a charge para que haja uma
comunicação completa ou recíproca, pois se a mesma for compreendida em sua
totalidade, trata-se de uma imagem que realizou uma comunicação e obteve êxito
em sua mensagem.
Não se deve esquecer, que, se qualquer imagem e representação, isso não implica que ela utilize necessariamente regras de construção. Se essas representações são compreendidas por outras pessoas além das que as fabricam, é porque existe entre elas um mínimo de convenção sociocultural, [...] (JOLY, 1996, p. 40).
Mas, obviamente, pode ser que essa informação não seja clara o suficiente
por parte do emissor, provocando uma confusão mental no leitor, que, mesmo de
posse das bases da informação, não compreendeu a ironia proposta ou
personagens da atualidade envolvidos na trama. Portanto, estamos diante de
problemas de codificação que podem ocorrer em qualquer processo de
comunicação quando uma ou ambas as partes não apresentam uma semelhança de
códigos que possam ser processados, ou comparados, e substituídos no
pensamento. Segundo Joly, a falta e o excesso de semelhança na imagem pode ser
algo perigoso, classifica-os como problemas da imagem:
[...] é possível constatar que problema da imagem é, de fato, o da
semelhança, tanto que os temores que suscita provem precisamente de
suas variações: a imagem pode se tornar perigosa tanto por excesso quanta
por falta de semelhança. Semelhança demais provocaria confusão entre
imagem e objeto representado. Semelhança de menos, uma ilegibilidade
perturbadora e inútil. (JOLY, 1996, p. 39)
No caso de falta de processamento de informação não podemos considerar
os devidos códigos como signos, pois “de fato, um signo só é signo se exprimir
29
ideias e se provocar na mente daquele ou daqueles que o percebem uma atitude
interpretativa” (JOLY, 1996, p. 29).
Para a compreensão científica da imagem charge nos detalhes que se
apresentam, escolhemos a teoria dos signos ou simplesmente “semiótica,” a qual
tem como objetivo a compreensão de todas as linguagens possíveis ou qualquer
fenômeno de produção de significação e de sentido através de uma linguagem mais
globalizada. Para a realização deste trabalho, optamos pela sua essência de
linguagem mais simples e básica formulada pelo cientista Charles Sanders Peirce. A
semiótica é uma ciência nova, comparada as outras, como avalia Joly:
A semiótica é uma disciplina recente nas ciências humanas. Surgiu no início do século XX e não usufrui, portanto, da “legitimidade” de disciplinas mais antigas como a filosofia, e ainda menos a das ciências ditas “puras”, como a matemática ou a física. (JOLY, 1996, p. 29).
Portanto, seu objetivo surgiu da necessidade de se explicar qualquer tipo de
linguagem existente ou fenômeno.
A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as
linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de
constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de
significação e de sentido. (SANTAELLA, 1983, p. 13)
Segundo Santaella, o pensamento humano para compreender qualquer
objeto ou fenômeno que está diante dele, o mesmo se utiliza de um sistema de
códigos e signos que são como “modos de pensamento-signo” que se processam na
mente, como explica Santaella:
Diante de qualquer fenômeno, isto é, para conhecer e compreender
qualquer coisa, a consciência produz um signo, ou seja, um pensamento
como mediação irrecusável entre nós e os fenômenos. E isto, já ao nível do
que chamamos de percepção. Perceber não é senão traduzir um objeto de
percepção em um julgamento de percepção, ou melhor, é interpor uma
camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido.
(SANTAELLA, 1983, p. 51)
30
Podem ser identificados dentro de uma mesma imagem vários signos
possuidores de leis próprias e com sentidos e significados, nesse caso segundo
Joly:
O trabalho do semiótico vai consistir mais em tentar ver se existem categorias de signos diferentes, se esses diferentes tipos de signos tem uma especificidade e leis próprias de organização, processos de significação particulares.” (JOLY, 1996, p. 29)
Portanto, para que ocorra uma interpretação ou compreensão, quando
estamos diante das imagens compostas, que possui uma charge jornalística, nosso
pensamento deve estar carregado de informações atualizadas sobre o assunto
abordado e de suas possíveis características representadas no desenho, ocorrendo
aí uma percepção de valores que, consequentemente, produzirá sentidos e trocas
de informações, que, por sua vez, provocam reações adversas.
Nessa medida, o simples ato de olhar já está carregado de interpretação,
visto que é sempre o resultado de uma elaboração cognitiva, fruto de uma
mediação sígnica que possibilita nossa orientação no espaço por um
reconhecimento e assentimento diante das coisas que só o signo permite.
(SANTAELLA, 1983, p. 51)
No processo de percepção e interpretação da imagem produzida pelo
pensamento humano, Peirce classifica-o em três modalidades possíveis de
apreensão de todo e qualquer fenômeno. As modalidades são: Primeiridade
(qualidade), Secundidade (relação/reação) e Terceidade (representação/mediação).
Este último diz respeito aos signos, que, segundo Peirce, são formados pela
necessidade de comunicação entre os dois primeiros.
Três elementos constituem todas as experiências. Eles são as categorias universais do pensamento e da natureza. Primeiridade é a categoria que dá à experiência sua qualidade distintiva, seu frescor, originalidade irrepetível e liberdade. Não a liberdade em relação a uma determinação física, pois que isso seria uma proposição metafísica, mas liberdade em relação a qualquer elemento segundo. [...] Secundidade é aquilo que dá à experiência seu caráter factual, de luta e confronto. Ação e reação ainda em nível de binariedade pura, sem o governo da camada mediadora da intencionalidade, razão ou lei. Finalmente, terceiridade, que aproxima um primeiro e um segundo numa síntese intelectual, corresponde à camada de inteligibilidade, ou
31
pensamento em signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo. (SANTAELLA, 1983, p. 50-51)
Portanto, todas essas etapas são evoluções do pensamento, desde sua
essência (primeiridade), aos processos de representação de pensamentos
(terceiridade), que são denominas como “pensamentos interpretantes” provocados
pelos fatos novos ou objetos (secundidade), ou seja, aquilo que nos faz buscar uma
explicação nas informações já conceituadas em nós, formando um pensamento
novo (ou outro signo).
O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só interpreta essa representação numa outra representação, que Peirce denomina interpretante da primeira. Daí que o signo seja uma coisa de cujo conhecimento depende do signo, isto é, aquilo que é representado pelo signo. Daí que, para nós, o signo seja um primeiro, o objeto um segundo e o interpretante um terceiro. Para conhecer e se conhecer o homem se faz signo e só interpreta esses signos traduzindo-os em outros signos. (SANTAELLA, 1983, p. 51-52)
Sabemos agora que diante do fenômeno físico “charge” podemos identificar
três signos básicos: O “signo primeiro” trata-se da própria imagem, algo temos em
mente sobre o fenômeno debatido; o “signo segundo” é a primeira imagem ou
impressão que temos da “charge”, a mesma nos passa uma opinião explícita em
forma de desenho ou caricatura sobre uma determinada pessoa ou assunto; esse
último deve produzir efeitos de sentidos com base nas informações da atualidade
com características pessoais daquilo que se pretende incorporar, formulando assim
em nosso pensamento outra mensagem ou um “terceiro signo” através da opinião
sobre o fato ou notícia.
Em síntese: compreender, interpretar é traduzir um pensamento em outro pensamento num movimento ininterrupto, pois só podemos pensar um pensamento em outro pensamento. É porque o signo está numa relação a três termos que sua ação pode ser bilateral: de um lado, representa o que está fora dele, seu objeto, e de outro lado, dirige-se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para um outro signo ou pensamento onde seu sentido se traduz. E esse sentido, para ser interpretado tem de ser traduzido em outro signo, e assim ad infinitum. (SANTAELLA, 1983, p. 52)
Mas, para que a definição da charge como um signo seja melhor dividida,
convém esclarecer que o mesmo tem dois objetos e três interpretantes: O “objeto
32
imediato” (dentro do signo, no próprio signo) diz respeito ao modo como o “objeto
dinâmico” (aquilo que o signo substitui) está representado. (SANTAELLA, 1983, p.
59-60). No caso da caricatura/signo, poderíamos dizer que existe um exagero nos
traços mais fortes do personagem/imediato abordado, pois este trata-se de um
“desenho figurativo”, de um personagem/dinâmico que o mesmo deseja se
assemelhar.
Se se trata de um desenho figurativo, o objeto imediato é a aparência do desenho, no modo como ele intenta representar por semelhança a aparência do objeto (uma paisagem, por exemplo). Se se trata de uma palavra, o objeto imediato é a aparência gráfica ou acústica daquela palavra como suporte portador de uma lei geral, pacto coletivo ou convenção social que faz com que essa palavra, que não apresenta nenhuma semelhança real ou imaginária com o objeto, possa, no entanto, representá-lo. (SANTAELLA, 1983, p. 59-60)
A partir dessa visão lógica, das partes que interagem na constituição de todo
e qualquer signo, percebemos que o desenho representativo ou objeto imediato,
assim como é a charge, nos permite uma compreensão mais óbvia com valores e
características que já temos em comparação ao seu “signo” ou “objeto dinâmico”,
por assumir semelhanças e traços que são facilmente identificados em nossa
percepção de mundo, não se utilizando assim de símbolos ou ícones de difícil
compreensão, “sua validade humorística advém do real, da apreensão de facetas ou
de instantes que traduzem o ritmo de vida da sociedade, que flagram as expressões
hilariantes do cotidiano.” (MELO, 2003, p. 169)
A primeira conseqüência dessa observação é constatar que esse denominador comum da analogia, ou da semelhança coloca de imediato a imagem na categoria das representações. Se ela parece é porque ela não é a própria coisa: sua função é, portanto, evocar, querer dizer outra coisa que não ela própria, utilizando o processo da semelhança. Se a imagem é percebida como representação, isso quer dizer que a imagem é percebida como signo. (JOLY, 1996, p. 39)
No caso dos “interpretantes”, existem três: o primeiro é o “interpretante
imediato”, que é a capacidade daquilo que o signo pode produzir, sua própria
intenção de mensagem, ou seja, aquele pensamento crítico incorporado na charge
que de fato o chargista gostaria de provocar nos leitores do jornal.
O interpretante imediato consiste naquilo que o signo está apto a produzir numa mente interpretadora qualquer. Não se trata daquilo que o signo
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efetivamente produz na minha ou na sua mente, mas daquilo que, dependendo de sua natureza, ele pode produzir. (SANTAELLA, 1983, p. 60)
O segundo é o “interpretante dinâmico”, refere-se à capacidade de cada
pensamento produzir signos de acordo com a condição, situação ou pela sua própria
percepção de signo. Nesse caso, pode existir uma adaptação das imagens que
compõe a charge dependendo do ponto de vista do leitor, que poderá entender
apenas parcialmente ou criar outras idéias adaptáveis a sua condição de percepção
da realidade.
Daí decorre o interpretante dinâmico, isto é, aquilo que o signo efetivamente
produz na sua, na minha mente, em cada mente singular. E isso ele produzirá dependendo da sua natureza de signo e do seu potencial como signo. (SANTAELLA, 1983, p. 60)
E, por fim, o “interpretante em si”, que diz respeito àquele signo convencional
ao primeiro, produzido por lei. O mesmo é, portanto, o resultado desejado, formando
um signo de mesma natureza. Nesse caso, a mensagem da charge atingiu o efeito
esperado, ou se manifesta de forma lógica, pelo fato que, qualquer pensamento teria
a mesma percepção.
Se o signo for convencional, ou seja, signo de lei, por exemplo, uma palavra ou frase, o interpretante será um pensamento que traduzirá o signo anterior em um outro signo da mesma natureza, e assim ad infinitum. Este outro signo de caráter lógico é o que Peirce chama de interpretante em si. Este consiste não apenas no modo como sua mente reage ao signo, mas no modo como qualquer mente reagiria, dadas certas condições. Assim, a palavra casa produzirá como interpretante em si outros signos da mesma espécie: habitação, moradia, lar, "lar-doce-lar" etc. (SANTAELLA, 1983, p. 61)
4.2. UM OLHAR MAIS DETALHADO
Possuidor de uma imagem complexa com vários núcleos, ícones, símbolos, o
desenho charge possui detalhes na superfície das suas imagens/signos que compõe
uma informação, portanto, os signos não são idênticos, esses podem se apresentar
de formas separadas, misturadas ou conectadas. Pois, para que possamos definir o
signo, é preciso compreender primeiro sua imagem em detalhes.
O primeiro princípio essencial e provavelmente, a nosso ver, que o que se chama "imagem" é heterogêneo. Isto é, reúne coordena dentro de um
34
quadro (ou limite) diferentes categorias de signos: “Imagens” no sentido teórico do termo (signos ícones, analógicos), mas também signos plásticos (cores, formas, composição materna, textura) e a maior parte do tempo também signos lingüísticos (linguagem verbal). É sua relação, sua interação, que produz o sentido que aprendemos a decifrar mais ou menos conscientemente e que uma observação mais sistemática vai ajudar a compreender melhor. (JOLY, 1996, p. 38)
Nesse sentido, Santaella nos propõem a seguinte classificação, elaborada por
Peirce, para demonstrar suas especialidades e diferenças: ícone, índice, símbolo.
Aí estão explanadas as três grandes tríades dos signos. Como se pode ver, trata-se de uma divisão lógica a mais genérica, espécie de mapeamento panorâmico das grandes matrizes sígnicas e das fronteiras que as definem. A partir disso, por combinação lógica entre essas matrizes, Peirce estabeleceu 10 classes principais de signos que dizem respeito às misturas entre signos que são logicamente possíveis. Como matrizes abstratas, as três tríades definem campos gerais e elementares que raramente serão encontrados em estado puro nas linguagens concretas que estão aí e aqui, conosco e em uso. Na produção e utilização prática dos signos, estes se apresentam amalgamados, misturados, interconectados. (SANTAELLA, 1983, p. 69)
A principio temos o “ícone”, funcionando como objeto do signo, o mesmo
corresponde apenas a uma qualidade daquilo que ele representa, assim como a cor
azul (ícone) pode nos lembrar o céu (signo). Portanto, o ícone é algo abstrato e de
livre interpretação, não pode ser considerado como um signo/objeto, ou seja,
sempre será sinônimo de semelhança ou quase-signo, segundo afirma Santaella.
Nesse caso, são as comparações de imagens em nossa mente que dão sentido à
imagem/ícone, ou detalhes da mesma, provocando nossa imaginação.
É por isso que, se o signo aparece como simples qualidade, na sua relação com seu objeto, ele só pode ser um ícone. Isso porque qualidades não representam nada. Elas se apresentam. Ora, se não representam, não podem funcionar como signo. Daí que o ícone seja sempre um quase-signo: algo que se dá à contemplação. (SANTAELLA, 1983, p. 63-64)
Ainda segundo Santaella, “as formas de criação na arte [...] têm a ver com
ícones” (Santaella, 1983, p. 65). É nessa classificação que entra o desenho, pois
sempre será a tentativa de semelhança de algo real.
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Joly, também faz uma aplicação mais concreta com o objetivo principal deste
trabalho, comparando o desenho a um ícone por medida de tentativa de semelhança
do mesmo. Nesse caso, é aceitável dizer que em uma caricatura ou charge
podemos encontrar vários ícones a partir do momento em que existe uma
semelhança ou imagem identificada pelos nossos sentidos de percepção. “[...]
enquanto um retrato desenhado ou pintado já será um signo 'motivado' pela
semelhança, um vestígio de passos ou da mão, pela contiguidade física que
constitui sua causalidade." (JOLY, 1996, p. 31)
O ícone corresponde à classe de signos cujo significante mantém uma relação de analogia com o que representa, isto é, com seu referente. Um desenho figurativo, uma fotografia, uma imagem de síntese que represente uma árvore ou uma casa são ícones, na medida em que se "pareçam" com uma arvore ou com uma casa. (JOLY, 1996, p. 35).
Pois, segundo a própria Joly, “um ponto comum” do que venha significar o
que é “imagem” é simplesmente o fato de algo se assemelhar a outra coisa. A
mesma apresenta uma classificação em três dimensões:
O ponto comum entre as significações diferentes da palavra "imagem" (imagens visuais/ imagens mentais/ imagens virtuais) parece ser, antes de mais nada, o da analogia. Material ou imaterial, visual ou não, natural ou fabricada, uma "imagem" é antes de mais nada algo que se assemelha a outra coisa. (JOLY, 1996, p. 38)
Portanto, em seu aspecto físico, a imagem/charge sempre será uma
comparação ou semelhança de algo que existe, ou seja, uma imagem material,
visual e fabricada, portanto, algo definido e caracterizado em nossa concepção.
Mas, tratando-se de outras áreas das artes, a “imagem” pode assumir as mais
diversas formas na tentativa de representação.
De fato, no campo da arte, a noção de imagem vincula-se essencialmente à representação visual: afrescos, pinturas, mas também iluminuras, ilustrações decorativas, desenho, gravura, filmes, vídeo, fotografia e ate imagens de síntese. A estatuária é mais raramente considerada "imagem". (JOLY, 1996, p. 18)
No nível da secundidade, temos o “índice”, que se refere à capacidade de
representação existente entre um signo e outro, ou seja, um objeto/signo que nos
36
faça lembrar imediatamente de outro. Nesse caso, ocorre uma substituição ou
ligação através de referências pessoais que ambos têm em comum, de acordo com
nossa percepção e interpretação. Essa relação dual ocorre bastante no contexto
charge, pois a mesma procura sempre nos elevar a outro nível de pensamento, que
fisicamente está representado no desenho por meios de índices com duplas facetas
de interpretação.
O índice corresponde à classe dos signos que mantém uma relação causal de contigüidade física com o que representam. É o caso dos signos ditos "naturais", como a palidez para o cansaço, a fumaça para o fogo, a nuvem para a chuva, e também as pegadas deixadas pelo caminhante na areia ou as marcas deixadas pelo pneu de um carro na lama. (JOLY, 1996, p. 35).
A ligação entre esses dois signos é algo direto, ou seja, de signo para signo,
algo bastante usado na criação da imagem crítica que compõe a trama na charge,
pois se utiliza de uma imagem para se dizer outra coisa, que é geralmente o
contrário, que só pode ser compreendida quando alguém faz a ligação imaginária
entre ambos os fatos ou realidades.
[...] o índice como real, concreto, singular é sempre um ponto que irradia para múltiplas direções. Mas só funciona como signo quando uma mente interpretadora estabelece a conexão em uma dessas direções. Nessa medida, o índice é sempre dual: ligação de uma coisa com outra. O interpretante do índice, portanto, não vai além da constatação de uma relação física entre existentes. E ao nível do raciocínio, esse interpretante não irá além de um dicente, isto é, signo de existência concreta. (SANTAELLA, 1983, p. 66)
Por fim, no nível da terceiridade, temos o “símbolo”, o mesmo nos faz ligação
com o objeto, mas de forma abstrata, ou seja, não se trata de semelhanças físicas
aparentes, trata-se de leis de códigos em geral de representação, assim como as
“letras” do alfabeto representam um “som” fonético qualquer. Percebemos sua
presença frequente na charge justamente pela necessidade de representar
instituições, times ou grupos através da imagem desenhada do mascote, signo,
brasão, etc.
[...] o símbolo corresponde à classe dos signos que mantém uma relação de convenção com seu referente. Os símbolos clássicos, como a bandeira para o país ou a pomba para a paz, entram nessa categoria junto com a Iinguagem, aqui considerada como um sistema de signos convencionais. (JOLY, 1996, p. 36)
37
Portador de uma lei de significações, o símbolo constitui um sistema de
códigos e não se refere exatamente a uma coisa só, mas sim a um conjunto à parte,
de regras e significados.
Daí que os símbolos sejam signos triádicos genuínos, pois produzirão como interpretante um outro tipo geral ou interpretante em si que, para ser interpretado, exigirá um outro signo, e assim ad infinitum. Símbolos crescem e se disseminam, mas eles trazem, embutidos em si, caracteres icônicos e indicais. O que seria de uma frase, por exemplo, sem o diagrama sintático, ordem das palavras, padrão de sua estrutura, isto é, justamente seu caráter icônico que nos leva a compreendê-la? O que seria de uma frase, sem índices de referências? Esses caracteres, contudo, estão embutidos no símbolo, pois o que lhe dá o poder de funcionar como signo é o fato proeminente de que ele é portador de uma lei de representação. (Santaella, 1983, p. 68)
Como podemos observar através dessa percepção mais detalhada, “assim,
embora os signos possam ser múltiplos e variados, todos teriam, segundo Peirce,
uma estrutura comum que implica essa dinâmica tripolar, que vincula o significante
ao referente e ao significado.” (JOLY, 1996, p. 35) Estes, conforme acredita
Santaella (1996), têm a função de representar “alguma coisa”. Ainda, segundo a
mesma, “todo signo é, em maior ou menor medida, uma espécie de imagem
especular: o signo não é apenas um corpo físico que habita a realidade, mas
também é capaz de refletir essa realidade de que ele é parte e que está fora dele”
(SANTAELLA, 1996, p. 60). E a função das imagens/charge é justamente nos elevar
a uma reflexão sobre a realidade presente.
Por isso, nos pareceu necessário uma abordagem teórica antes de qualquer
análise interpretativa, para que possamos compreender sua estrutura e posição
cientifica. Mas sabemos que as imagens devem naturalmente se adaptar a nossa
realidade, “o que queremos dizer com isso é que, para analisar uma mensagem, em
primeiro lugar devemos nos colocar deliberadamente do lado em que estamos, ou
seja, do lado da recepção, [...]” (JOLY, 1996, p. 45). Mais importante do que saber a
intenção do autor é saber o que a imagem pode nos proporcionar, ou seja, a
mensagem da charge/caricatura necessita apenas se adaptar a realidade do leitor
que possui sua própria conclusão, mediante as informações que possui naquele
momento.
38
[...] Interpretar uma mensagem, analisá-la, não consiste certamente em tentar encontrar ao máximo uma mensagem preexistente, mas em compreender o que essa mensagem, nessas circunstâncias, provoca de significações aqui e agora, ao mesmo tempo que se tenta separar o que é pessoal do que é coletivo. De fato, são necessários, é claro, limites e pontos de referência para uma análise. Será possível, exatamente, ir buscar esses pontos de referência nos pontos comuns que minha analise pode ter com a de outros leitores comparáveis a mim. Com certeza, não nas hipotéticas intenções do autor. (JOLY, 1996, p. 44)
Dessa forma, procuramos através dessa percepção verificar se as charges
publicadas nos dois principais jornais impressos da cidade de Caruaru, no estado de
Pernambuco, obedecem às devidas características e objetivos determinados para a
formação de um leitor crítico e se são capazes de passar não apenas o que está
explícito, mas também aquilo que não se explicita na superfície da imagem,
transmitindo através do humor um pensamento mais crítico, perceptivo, uma
identidade local, atualizada, ou mensagem ideológica caracterizada e consciente
dos problemas sociais e políticos da cidade e região. Por isso, neste trabalho não
vamos questionar a nitidez das imagens/charges ou tentar explicar seus múltiplos
signos apresentados, pois acreditamos que a mesma atua com fundamentos
lógicos, ao ser classificada como um desenho figurativo, possuidora de signos cujo
significante mantém uma relação de analogia com o que representa. Portanto, o que
destacamos aqui é o conteúdo de mensagem que o desenho/charge pode nos
proporcionar mediante os fatos da atualidade e suas necessárias características que
refletem a sociedade local.
39
5. DESENVOLVIMENTO
Para realização deste trabalho, foram realizadas análises de conteúdo nas
charges dos dois principais jornais locais da cidade de Caruaru, no Agreste do
estado de Pernambuco, Brasil, os quais são: “Vanguarda” e “Extra de Pernambuco”.
A pesquisa foi realizada durante o período determinado de três meses, começando
no dia 1º de maio a 30 de julho de 2010. Por se tratar de um período de expectativas
para vários eventos de repercussão regional, nacional, e mundial, entre os quais
podemos destacar: a Copa do Mundo; o início das campanhas políticas para as
Eleições 2010; e, no Agreste de Pernambuco, as festividades juninas ou
simplesmente o São João de Caruaru, além dos assuntos relacionados ao cotidiano
urbano e comunitário com seus mais diversos tipos problemas. Portanto, um período
com grande variedade de assuntos, que poderiam ser utilizados por esses
chargistas. Isso nos possibilitou uma classificação mais realista sobre a preferência
de assuntos, e a utilização da liberdade de expressão nesses veículos de
informação, principalmente para temas locais, políticos e sociais.
5.1. LEVANTAMENTO
Procuramos avaliar as charges mediante ao gênero opinativo que
representam, com suas características determinadas; perante a condição de notícia
local que a mesma está condicionada; e a qualidade de conteúdo com a qual
transmitem a mensagem pretendida ao seu público. Para isso, realizamos as
devidas observações nas imagens/charges por meio dos seguintes ângulos de
analise: 1) Apresentação dos dados físicos; 2) Segundo dimensão de temas
abordados; 3) Mediante a classificação de assuntos levantados; 4) De acordo as
características do gênero charge; 5) E, por fim, a visão dos seus devidos autores.
5.1.1. DADOS FÍSICOS: LOCALIZAÇÃO E DIMENSÃO NOS JORNAIS
Durante o período de nossa pesquisa, ambos os jornais “Vanguarda” e “Extra
de Pernambuco” exibiram apenas uma charge por edição semanal, no primeiro
caderno, ou “caderno A”. Todas as charges são de serviço não remunerado e são
40
enviadas aos veículos pelos profissionais autônomos: Luiz Fernandes (para o
“Vanguarda”); e Lucas Ferreira (para o “Extra de Pernambuco”).
A charge no jornal “Extra de Pernambuco” se situa de forma fixa, sempre na
página “opinião” (A 11), ao lado esquerdo do editorial, ocupando o espaço de 13 cm
de largura e 10,5 cm de altura, mas sempre em cores preto e branco, em todas as
edições durante o período dessa pesquisa. No entanto, no jornal “Vanguarda”, a
charge variou das páginas 09 a 18, mas sempre no espaço “a semana” ao lado
direito do comentário semanal “PERISCÓPIO”, e publicou 9 charges “coloridas”, e
apenas 4 em “preto e branco” ocupando um espaço de 8 cm de largura e 15,5 cm de
altura, em todas as edições durante o período dessa pesquisa. No total, a pesquisa
coletou 26 charges publicadas nesses dois jornais.
5.1.2. CLASSIFICAÇÃO POR DIMENSÃO DE TEMAS ABORDADOS
Todas as charges desta pesquisa apresentaram independente do nível de
informação, seja seu conteúdo local, zonal (agreste), estadual, nacional, ou mundial,
assuntos relacionados a fatos da atualidade ainda que não tenham harmonia com o
editorial ou com outras páginas do conteúdo geral do jornal.
No entanto, percebemos uma preferência por assuntos de nível nacional e
mundial, que juntos representam 17 das 26 charges dessa pesquisa. Entre os
assuntos nacionais podemos citar, por exemplo: as preparações para o começo das
campanhas eleitorais, abordando os candidatos a presidência ou fatos que geraram
bastante polêmica como a aplicação da lei “ficha limpa” já para as eleições 2010.1
Outro assunto que predominou na preferência das charges está relacionado aos
eventos mundiais como a “Copa do Mundo” e o muito criticado técnico “Dunga”, 2 e a
famosa bola oficial da copa, a “jabulani” que devido a sua leveza repercutiu notícias
no mundo inteiro.3
1 Ver anexo (charge 17).
2 Ver anexo (charges 03, 08, 16, e 16).
3 Ver anexo (charge 19).
41
TABELA 1 (Distribuição de assuntos abordados por área geográfica)
NÍVEL GEOGRÁFICO
CHARGE JORNAL EXTRA
CHARGE JORNAL VANGUARDA
TOTAL GERAL
LOCAL/ZONAL 1 2 3
ESTADUAL 3 3 6
NACIONAL 2 4 6
MUNDIAL 7 4 11
TOTAL 13 13 26
Como vemos na tabela 1, os dados mais preocupantes de nossa pesquisa
são com relação aos números referentes às chages que abordam assuntos locais e
zonais representando apenas 3 das 26 charges analisadas, “duas” publicadas pelo
Jornal Vanguarda e apenas “uma” pelo Jornal Extra de Pernambuco. Dentre os
temas principais estão às festividades juninas ou o “São João de Caruaru”. Ambos
os jornais abordam o mesmo tema. Enquanto a charge do Jornal Vanguarda procura
fazer apenas uma ilustração com os homenageados pelo “São João 2010”.4 O Jornal
Extra de Pernambuco faz uma crítica à proibição ao “forró estilizado” que ocorreu no
ano anterior, classificando-o como forró não democrático.5 A terceira e última charge
dessa pesquisa que tratou de assunto local foi publicada pelo Jornal Vanguarda e
tratou de fazer uma crítica ao “surto de dengue” na cidade, mostrando a mesma
sendo dominada pelos mosquitos.6 Portanto, durante esses três meses de
publicação apenas esses dois assuntos locais foram levantados pelas charges.
Os assuntos em nível “estadual” não estão muito atrás dos “locais/zonais” em
questão de precisão na abordagem das charges, pois aparecem em apenas 6 vezes
das 26 charges apresentadas por essa pesquisa. Dentre essas charges, podemos
destacar duas que apenas ilustram o “pentacampeonato” conquistado pelo “Sport
Futebol Clube do Recife”, em ambos os jornais.7 As charges também ilustram as
“enchentes” ocorridas na Zona da Mata pernambucana no mês de junho de 2010,
por ambos os jornais.8
4 Ver anexo (charge 18).
5 Ver anexo (charge 05).
6 Ver anexo (charge 20).
7 Ver anexo (charges 08 e 14).
8 Ver anexo (charges 10, 11, e 22).
42
Percebemos que, em nível local e zonal, as imagens/charges ficaram muito a
desejar em relação ao conteúdo, tendo em vista fatos internos do sistema político
muito relevantes para a sociedade civil a serem debatidos, como foi o processo de
investigação em cima das denúncias sobre o mau uso do dinheiro público
envolvendo os ex-prefeitos da cidade de Caruaru Tony Gel e Manuel Teixeira. No
entanto, não vemos nenhum tipo de manifestação, por parte das charges, a respeito
desse assunto, em ambos os jornais, o que é lamentável tendo em vista o potencial
que representa o gênero charge para assuntos políticos, por ser um instrumento
eficaz de persuasão e mobilização pública no combate a corrupção.
5.1.3. CLASSIFICAÇÃO POR ASSUNTOS ABORDADOS
Para uma compreensão melhor dos temas das imagens/charges analisadas,
procuramos dividir agora por assuntos que tiveram preferências na visão analítica e
na percepção da realidade/social desses criadores.
TABELA 2 (Distribuição de assuntos por temas abordados)
Como podemos ver na tabela 2, todas as charges, do recorte dado pela
pesquisa, giram em torno de apenas quatro temas, com exceção de apenas “uma”
que não se encaixa em nenhuma das outras categorias, a mesma faz referência à
saúde do atual vice-presidente José Alencar tratando sua resistência à morte com
bastante humor, ao mostrar sua caricatura correndo do símbolo da morte.9
No entanto, como podemos observar, os temas relacionados a “esporte” são
os campeões de preferência das imagens/charges publicadas durante o período de
9 Ver anexo (charge 25).
ASSUNTOS ABORDADOS CHARGE JORNAL EXTRA
CHARGE JORNAL VANGUARDA
TOTAL GERAL
SÃO JOÃO DE CARUARU 1 1 2
PROBLEMAS URBANOS 2 2 4
ELEIÇÕES 2010/POLÍTICA 3 4 7
COPA DO MUNDO/ ESPORTE 7 5 12
OUTROS - 1 1
TOTAL 13 13 26
43
nossa pesquisa, abordando temas esportivos como a Copa do Mundo em 10
charges,10 e o “pentacampeonato” conquistado pelo “Sport Futebol Clube do Recife”,
em duas charges,11 dando um total de 12 charges que optaram pelo o “esporte”
como assunto principal. Dentre elas um fato curioso, ou antecipação de fatos
referente à “Copa do mundo”, na disputa entre Brasil e Portugal, onde as imagens se
antecipam e mostram um duelo bastante esperado, que por ironia do destino acabou
não acontecendo entre os jogadores Cristiano Ronaldo de Portugal e o brasileiro
Kaká, intitulada como “duelo de titãs”.12 Nas imagens os jogadores se enfrentam em
uma divisão de bola.
Em segundo lugar estão as imagens/charges que optaram por assuntos
”políticos” e o início das “campanhas políticas” para as eleições 2010. Dentre elas,
podemos destacar as duas primeiras publicações referentes à nossa pesquisa, que
fazem uma ironia à paciência do pré-candidato Ciro Gomes, do (PSB). Enquanto o
Jornal Extra de Pernambuco destaca sua espera pela decisão do partido, ver anexo
(charge 1), o Jornal Vanguarda mostra a decisão do partido em não mais lançá-lo
como candidato a presidente da república.13
No que se refere à política local, temos um quadro bastante preocupante, pois
o assunto mais próximo a ser abordado foi a disputa entre os candidatos Jarbas
Vasconcelos (PMDB) e o candidato e atual governador do Estado Eduardo Campos
(PSB) em uma perseguição ou corrida eleitoral,14 publicada na primeira semana do
mês de julho. No entanto, nos meses de maio e junho no qual esperávamos uma
maior concentração nas charges em assuntos voltados à disputa política/local ou
estadual, por se tratar de período que antecedia a volta da censura anunciada que
proibiria qualquer utilização de imagens dos candidatos com intenção de humor nos
meios de comunicação, não constatamos nenhuma charge que refletisse o quadro
ou realidade da atual disputa política local, zonal ou estadual.
Em terceiro lugar, aparecem os problemas urbanos com apenas 4
imagens/charges, tendo como seu principal assunto as enchentes ocorridas na Zona
10
Ver anexo (charges 03, 06, 07, 08, 09, 12, 19, 21, 24, e 25). 11
Ver anexo (charges 02 e 05). 12
Ver anexo (charge 06). 13
Ver anexo (charge 14). 14
Ver anexo (charge 23).
44
da Mata pernambucana e no Estado de Alagoas, durante o mês de junho de 2010,
por ambos os jornais.15 No entanto, a respeito dessa tragédia, no Jornal Extra de
Pernambuco ocorre um fato inédito: o jornal publica a mesma charge na edição da
semana seguinte,16 sabendo-se que dentro desse assunto existiam muitas críticas a
serem feitas, principalmente ao governo do Estado, mediante o descaso e a falta de
verbas para catástrofes naturais, mas as charges dos dois jornais apenas ilustram a
situação, ou atribui a Deus a culpa, como dá a entender nos textos que compõem a
charge do Jornal Vanguarda.17
E por fim, as imagens/charges que tiveram como tema o “São João de
Caruaru”,18 representam apenas “duas” charges do total de 26 imagens/charges
analisadas por nossa pesquisa.
Percebe-se que, mediante a variedade de assuntos que poderiam ser
abordados pelas imagens críticas, irônicas, e bem humoradas das charges desses
dois veículos impressos de comunicação, durante o período de 3 meses,
estabelecido por esse trabalho, existia a expectativa de encontramos vários fatos
sendo trabalhados, expostos e debatidos, que fossem principalmente de interesse
local, zonal e regional. Como por exemplo, as notícias relacionadas aos escândalos
políticos e mau uso do dinheiro público, sobre a administração municipal e a
polêmica em torno da calamidade na saúde, como também o processo de
legalização da profissão moto-taxista e os mais diversos problemas urbanos de
saneamento, iluminação pública e moradia, mas o que vemos é o descaso perante
esses fatos e problemas comunitários que nos cercam. O profissional da área
(chargista) demonstra durante este período uma visão distante da realidade
vivenciada pela população da cidade de Caruaru e região, pois percebemos que de
fato muitas questões não foram levantadas do universo político/local e social.
5.1.4. CLASSIFICAÇÃO POR CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO
Esse trabalho se propôs a buscar fundamentos teóricos que caracterizassem
um perfil de análise para classificação das charges jornalísticas de nível/local e
procurou comparar o mesmo com a realidade encontrada em sua pesquisa de
15
Ver anexo (charges 10 e 22). 16
Ver anexo (charge 11). 17
Ver anexo (charge 22). 18
Ver anexo (charge 05 e 18).
45
campo e encontrou, mesmo em uma proporção baixa, as características necessárias
no perfil/charge, as quais são: a “atualidade” nos assuntos escolhidos; a presença
do “humor”; a utilização da “opinião” por meio de “críticas”, e expressões de “ironia”
perante um fato; o uso de “textos” e “caricaturas” com a finalidade de uma
comunicação mais clara; e a exposição de imagens ilustrativas. Portanto, todas
estas características foram encontradas em nossa pesquisa, em maior ou em menor
grau, mediante a necessidade de expressão do autor (chargista). E é evidente
também que, dependendo do grau de uso de determinadas características, podemos
classificar a charge como mais clara ou menos objetiva, ou menos opinativa e mais
informativa ou ilustrativa, determinando assim sua qualidade. Com base nesse
pensamento, elaboramos o seguinte gráfico:
GRÁFICO 1 (Classificação de assuntos por gêneros informativos e opinativos)
Como vemos, nos (gráficos 1 e 2), dividimos os assuntos publicados nas
charges, entre gêneros “informativos” e gêneros “opinativos”,19 para termos uma
ideia do tipo de linguagem utilizada por essas imagens. No Jornal Extra de
Pernambuco, classificamos 8 charges informativas e 5 opinativas, e o Jornal
Vanguarda com 4 charges informativas e 9 opinativas. No total, temos 12 charges
informativas, ou 46%, e 14 charges opinativas ou 54% desse total.
19
Ver (apêndice – C) (tabela 4).
INFORMATIVAS OPINATIVAS
JORNAL EXTRA 8 5
JORNAL VANGUARDA 4 9
0123456789
10
46
GRÁFICO 2 (Classificação das charges por gêneros)
Como vemos, 46%, quase metade dos temas abordados pelas imagens não
incorporam na charge um gênero opinativo, mesmo estando localizada no espaço
editorial, ou página de opinião.
As imagens/charges classificadas como opinativas foram aquelas que
deixaram transparecer nas ilustrações um certo exagero de expressão, ou que,
através de comparações figurativas ou textos deixaram uma ideia de opinião sobre o
determinado assunto, opinião essa que, de certa forma, aparece na comparação
com os fatos reais ou notícia. Portanto, se faz necessário uma busca por fatos atuais
para compreendermos até onde vai a informação ou em que momento se manifesta
a opinião, como nos ensina José Marques: “Compreender os gêneros jornalísticos
significa, portanto, estabelecer comparações, buscar identidades, indagar
procedências [...]” (MELO, 2003, p. 178)
Assim, como sabemos os assuntos, políticos já fazem parte da identidade das
charges, justamente pela necessidade de expor um protesto, resignação, frustração,
anseios, expectativas ou sentimento da sociedade em relação aos políticos. A
charge, nesse ponto, funciona como um forte meio de expressão que procura refletir
e trazer em mente a opinião das massas em forma de protesto. Durante nossa
pesquisa, as charges de ambos os jornais raramente expressaram esse sentimento,
principalmente para assuntos locais.
Percebemos o uso da opinião explícita na charge quando o autor deixa
transparecer uma ideia sua, mesmo que essa ideia corresponda a um pensamento
do senso comum ou opinião formada na sociedade ou comunidade. Como é o caso
46%
54%
CHARGES
INFORMATIVAS OPINATIVAS
47
da charge que aborda a aplicação da “lei ficha limpa”,20 do Jornal Vanguarda, onde o
autor/chargista ironiza ao generalizar o perfil dos deputados, classificando todos
como corruptos ao ilustrar uma estrada que se dividia com a indicação de duas
placas informativas: a placa “planalto” sinalizando à direita, onde todos os índices de
pegadas de deputados seguiram; e a estrada “ficha limpa” sinalizando à esquerda,
onde só um fóssil de dinossauro podia seguir. Temos nessa charge um contexto
completo no que se refere às características apresentadas por esse trabalho, pois a
mesma fez uso da “ironia”, abordou um tema político da “atualidade”, usou de
“criatividade” com os fatos e passou uma “opinião” com bastante “humor”.
O gênero “caricatura”, que é uma forma mais direta de persuasão, por ser
provido de características imagéticas que remetem ao signo representado uma fácil
identificação, pois atua de forma direta, principalmente quando a função é identificar
ou denunciar o personagem abordado no tema, pois se trata de um desenho de
representação humana, ou ícone que identifica os detalhes, dentre outras
qualidades e funções levantadas por esse trabalho. Portanto, durante nossa
pesquisa, não percebemos sua presença na identificação e representação de
personagens da arena política/local.
Quanto à utilização do gênero “caricatura” nas charges, a mesma tem
presença em mais da metade do total das imagens apresentadas por esta pesquisa,
como vemos no (gráfico 3).
GRÁFICO 3 (Nível de uso do gênero caricatura nas charges)
20
Ver anexo (charge 17)
62%
38%
Charges
Fez uso de Caricaturas
Não Fez Uso de Caricaturas
48
A utilização da “caricatura”, que representa uma forma de expressão mais
direta e objetiva, está presente em 16 do total de 26 charges,21 que significam 62%,
como vemos no (gráfico 3), nesse caso, consideramos como caricatura apenas as
expressões faciais humanas popularmente já conhecidas ou identificadas por grupos
sociais.
Mas com relação às imagens e características das autoridades políticas,
apenas 7 charges desse total de 16 charges incorporaram personalidades de
políticos através de “caricaturas”.22 Dentre elas, podemos destacar como irônica à
charge que faz menção a polêmica nacional em torno da escolha do deputado
federal Índio da Costa (DEM), do Estado do Rio de Janeiro, para ser o vice na chapa
do candidato José Serra (PSDB) na disputa pela presidência da República. A charge
faz uma sátira e façanha em torno do sobrenome “Costa”, dando idéia de duplo
sentido. Intitulada “o peso do vice”, o deputado Índio da Costa aparece com uma
pena na cabeça e pendurado nas costas de José Serra, simbolizando mais um peso
na campanha do candidato, por ser considerado desconhecido pelos adversários, e
ficar famoso nacionalmente como conversador de bobagens.23 Outro caso político
que podemos destacar, como opinião explicita, diz respeito à campanha do
candidato Jarbas Vasconcelos (PMDB), no Jornal Vanguarda, depois do resultado
das pesquisas de intenções de votos que apontavam crescimento disparado do
candidato e atual governador Eduardo Campos (PSB). Na charge divulgada no início
do mês de julho, vemos a caricatura de Jarbas Vasconcelos armada, espingarda na
mão e com expressões de raiva, perseguindo o candidato da oposição, Eduardo
Campos. A imagem também faz uso do humor ao utilizar um ditado popular.24
Os assuntos que mais utilizaram a caricatura como forma de expressão foram
os temas esportivos com 9 caricaturas,25 tendo o ex-técnico da seleção brasileira
Dunga como um dos principais alvos de críticas, principalmente no período de
divulgação da lista de jogadores escalados para atuação na “Copa do Mundo 2010”,
criticada pelos mais diversos meios de comunicação. Com relação a esse fato, o
Jornal Extra de Pernambuco divulgou uma charge onde a caricatura de Dunga
caminhava para Copa do Mundo de “jumento”, que logo é percebida como
21
Ver anexo (charges 01, 03, 06, 07, 08, 09, 12, 13, 14, 16, 18, 19, 21, 23, 25, e 26). 22
Ver anexo (charges 1, 4,13, 14, 23, 25, e 26). 23
Ver anexo (charge 26). 24
Ver anexo (charge 23). 25
Ver anexos (charges 03, 06, 07, 08, 09, 12, 16, 19, 21).
49
capacidade e potencial do time escalado e sinal de falta de inteligência por parte do
técnico “Dunga”.26 No mesmo dia, a charge do Jornal Vanguarda aborda o mesmo
tema, nesse caso a ironia já é feita em torno dos comentários que sofria o técnico
em torno da escala, pois tanto a população como os comentaristas dos mais
diversos meios de comunicação cobravam a presença de certos jogadores na
escala, como o jogador “Ganso”, do time do “Santos”. Na charge, ocorre uma
ironização do fato, em que a caricatura do técnico “Dunga” aparece em um
restaurante fazendo a escolha do cardápio do dia, onde a única opção é a “carne de
ganso”.27
Com relação às charges que ilustraram “caricaturas” de personagens
estrangeiros, podemos citar um total de 5 charges, dentre elas apenas “uma” faz um
comentário opinativo na política mundial, e se trata de um desentendimento do atual
Presidente da República, Lula, com a Secretária de Estado americana, Hillary
Clinton, que mostrou pessimismo com a possibilidade de o Brasil convencer o Irã a
cooperar com a comunidade internacional sobre o polêmico programa nuclear
iraniano. Na charge a caricatura de Hillary Clinton demonstra ar de superioridade e
expressões faciais de tolerância em relação ao Presidente Lula, que é representado
em uma caricatura bem menor, expressando inferioridade com relação à secretária
americana.28
As outras quatro charges que ilustram personagens internacionais dizem
respeito aos temas da “Copa do Mundo”, entre as que exprimiram opinião, podemos
citar a famosa discussão entre os técnicos Carlos Alberto Parreira, da África do Sul e
o técnico da França, Raymond Domenech. O fato entre os dois aconteceu na
terceira e última partida da primeira fase do mundial, depois da vitória da África do
Sul sobre a seleção da França, quando Raymond se recusou cumprimentar o
brasileiro Parreira, que procurou conciliação. Nas imagens da charge, vemos a
opinião quando o texto justifica o fato da seleção da França não se encontrar entre
as favoritas devido à falta de educação do seu treinador.29
No (gráfico 4) vemos um empate no número de caricaturas opinativas
utilizadas nos jornais.
26
Ver anexo (charge 03). 27
Ver anexo (charge 16).
28 Ver anexo (charge 04).
29 Ver anexo (charge 09).
50
Gráfico 4 ( Divisão de caricaturas opinativas entre os dois jornais)
Com relação às personalidades políticas da cidade de Caruaru e região, não
constatamos nenhuma caricatura representando suas expressões faciais, portanto,
percebemos nesse comportamento um certo recuo de opinião, demonstrando
desprezo com as causas locais que se encontram no anonimato, quase inexistente,
nas imagens analisadas durante nossa pesquisa.
Com relação à abordagem de temas locais, apenas “duas” imagens/charges
em nível local incorporam um perfil de “opinião” de forma indireta. A primeira
publicada trata de comparar as “festividades juninas” da cidade: “São João 2009”
com o “São João 2010”, fazendo uma crítica à proibição da Prefeitura de Caruaru ao
estilo de música “forró estilizado” que ocorreu no ano de 2009, ao chamar o “São
João 2010” de forró democrático.30 Outra charge que abordou um tema local de
forma opinativa faz menção ao alto índice de foco de dengue na cidade, as imagens
da charge mostram a cidade de Caruaru sendo completamente dominada pelos
mosquitos, dando a entender que o caso está fora de controle ao mostrar um agente
de saúde coçando a cabeça, e sem saber o que fazer perante a praga assoladora.31
Portanto, durante nossa pesquisa cada jornal publicou apenas “uma” charge
transparecendo um perfil opinativo em nível local.
30
Ver anexo (charge 05). 31
Ver anexo (charge 20).
35%
27%
19%
19%
38%
Caricaturas
Não ultilizou Caricaturas Caricaturas Ilustrativas
Caricaturas Opinativas Jonal Extra Caricaturas Opinativas Jonal Vanguarda
51
5.2. ANÁLISE DOS DADOS LEVANTADOS
Diante dos dados, características e assuntos das imagens/charges levantados
nos ângulos de análises apresentados em nosso desenvolvimento, com a finalidade
de compreendermos a preferência desses autores/chargistas ou empresas de
comunicação pelos devidos temas trabalhados, deparamo-nos com motivos
indiferentes, pois normalmente para a escolha de um tema, segundo afirma Lage:
“no campo das avaliações empíricas, alguns itens são consideráveis: a proximidade,
a atualidade, a identificação, a intensidade, o ineditismo, a oportunidade.” (2001, p.
93) Esses fatores deveriam influenciar na escolha de um assunto a ser trabalhado.
Mas “na realidade das empresas de comunicação, esses fatores influem segundo a
ordem de interesses de classe ou grupo dominante;” (LAJE, 2001, p.94). Nesse
caso, o silêncio ganha voz de sonegação dos fatos, como afirma Leão Serva:
Por sonegação entende-se aquela informação que, sendo de conhecimento do órgão de imprensa, não foi colocada na edição por alguma razão. São casos de sonegação: [...] informações descartadas (porque o repórter não ouviu os lados envolvidos; porque o editor não gostou da reportagem; ou ainda quando a direção da empresa considera que a informação não é do interesse de seu leitor ou fere seus interesses corporativos; etc). (SERVA, 2001, p. 66)
Através da divisão por nível geográfico, destacamos uma visão distante da
realidade local e zonal assumida pelos temas abordados, onde constatamos apenas
3 charges,32 que trabalharam temas relacionado ao município, durante o período de
3 meses de pesquisa, significando apenas 12%, representada no (gráfico 5).
32
Ver anexo (charges 5, 18 e 20)
52
GRÁFICO 5 (Distribuição dos assuntos por dimensão geográfica)
Constatamos que não existe uma preocupação por parte desses veículos em
utilizar a charge em suas diversas façanhas de duplo sentido ou poder de crítica
para se debater problemas dos mais variados seguimentos de nível local, pois
desconhecem tamanha capacidade da mesma, procurando destacar de forma
isolada eventos mundiais e outros assuntos a nível nacional, sem, no entanto,
realizar uma adaptação dessa linguagem ao contexto regional. Não há nenhum
problema em se debater assuntos nacionais nos jornais locais, portanto é necessário
que haja uma adaptação e aplicação na realidade local, como afirmam Moroni e
Ruas: “Consideremos, ainda, o fato de o jornal regional não apenas editar notícias
nacionais e internacionais que chegam pelas agências de notícias, mas também
abordá-las e discuti-Ias no contexto regional.” (MORONI; RUAS, 2006, p. 43)
Portanto, nestes aspectos, os desenhos analisados deixaram muito a desejar,
pois trataram os assuntos nacionais de forma isolada e distante de uma linguagem
local. Desta forma, a realidade apresentada por essas charges, pouco retratam a
realidade local e muito menos traz a discussão de problemas comunitários e
realidade vivida por seu publico alvo.
Desta forma, ao olharmos para as comunidades do interior, principalmente das pequenas cidades, reconhecemos que o jornalismo não pode ficar apenas na realidade macro, não discutindo o dia-a-dia e as especificidades e características próprias de cada região e local. (MORONI; RUAS, 2006, p. 25)
12%
23%
23%
42%
REPERCUSSÃO DOS ASSUNTOS DAS CHARGES
LOCAL/ZONAL
ESTADUAL
NACIONAL
MUNDIAL
53
Em segundo, vem a classificação por temas debatidos ou simplesmente
ilustrados por essas imagens/charges, destacamos os assuntos de festividades
locais, ou apenas o “São João” de Caruaru, com apenas “duas” charges, que
representam apenas 8 %, como vemos no (gráfico 6), e os problemas urbanos e
comunitários, que, consequentemente, significam apenas 15 % desse total.
Evidentemente, que durante 3 meses, ocorreram os mais variados fatos de
repercussão local em diversos segmentos de temas, mas que foram considerados
apagados ou insignificantes na preferência desses profissionais. Percebemos que ás
notícias locais, por não terem um tom de espetáculo, como as de mídia
convencional, perdem a preferência para as de nível nacional, na concepção desses
chargistas, pois essas se envolvem com celebridades do mundo da fama, ao
contrario dos temas de conteúdo comunitário que envolve problemas urbanos. Como
afirma Moroni e Ruas:
Uma das características da comunicação comunitária é que, por abordar temas locais ou específicos, desperta o interesse do público pela informação, uma vez que conteúdo e personagens envolvidos têm relação mais direta com as pessoas. As notícias não têm um tom de espetáculo como mídia convencional, mas revelam algo do qual o publico participa, reconhecendo nas informações dados do seu próprio cotidiano. (MORONI; RUAS, 2006, p. 26-27) GRÁFICO 6 (Preferência dos assuntos abordados)
8%
15%
27%
46%
4%
ASSUNTOS LEVANTADOS NAS CHARGES
FESTIVIDADES LOCAIS
PROBLEMAS URBANOS
POLÍTICA/ELEIÇÕES
ESPORTES/COPA DO MUNDO
OUTRO
54
No entanto, de acordo com as características do gênero “charge” levantadas
nesse trabalho, deixamos claro que a mesma não é um desenho comum, e
principalmente deve passar uma mensagem opinativa ou pelo o menos fazer uso do
bom humor e da crítica nos temas da atualidade abordados, mas todavia, em nossa
pesquisa de campo, observamos imagens que não sintetizam nenhumas dessas
características. Há casos em que a charge apenas informa ou ilustra um situação
dos fatos reais ou é usada como homenagem ou ilustração, desconsiderando assim
seu caráter opinativo e o espaço editorial que estão localizadas, já que, segundo
Melo, “a opinião deve ser confinada, quase religiosamente, na página editorial; a
interpretação é uma parte essencial do noticiário" (2003, p. 31). Segundo Moroni e
Ruas, é extremamente necessário para os jornais de nível local incorporar a
sociedade, dando abertura à mesma, ao abordar e debater os problemas do
cotidiano.
Essa e a verdadeira função da imprensa regional. Esse foco local de farto noticiário que é dispensado pelos grandes jornais, a necessidade da sociedade em ter abertura e espaço próprios e não estar a reboque da grande imprensa, que objetiva informar temas de relevância estadual, nacional e internacional. (MORONI; RUAS, 2006, p. 38-39)
Em alguns desenhos, existe também a ausência em relação às características
primordiais das charges, as quais devem produzir efeitos de sentido ou passar uma
mensagem irônica com humor, crítica e abordando assuntos da política/social, pois
“sua validade humorística advém do real, da apreensão de facetas ou de instantes
que traduzem o ritmo de vida da sociedade, que flagram as expressões hilariantes
do cotidiano. Sua intenção é representar o real, criticando.” (MELO, 2003, p. 169)
Com relação às características das charges no Brasil, Melo avalia que a
mesma “assume o papel de intérprete do comportamento coletivo, ironizando o
cotidiano, satirizando seus personagens, bem no estilo maroto da „gozação‟
nacional.” (MELO, 2003, p. 181) Alguns desenhos analisados não possuem
nenhuma dessas características apresentadas, o que faz das imagens, apenas mero
efeito informativo ou ilustrativo não se caracterizando com o gênero editorial no qual
estão localizadas, pois o “[...] editorial é o gênero jornalístico que expressa à opinião
oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento.” (MELO,
2003, p. 103). E esse também é um fator importante a ser analisado por toda equipe
55
de redação e edição de ambos os jornais, ao decidirem publicar ou não uma charge
enviada por esses profissionais.
5.3. VISÃO DOS AUTORES
Como a finalidade desse trabalho é justamente identificar a presença de
gêneros opinativos no conteúdo das imagens/charges, nos pareceu necessário ouvir
de seus devidos autores a finalidade das mesmas. Por isso, as interpretações das
charges expressadas nesse trabalho correspondem às verdadeiras intenções de
seus autores, fornecidas por entrevistas abertas.
A respeito de tamanha escassez de temas que incorporem um pensamento
crítico e opinativo e, principalmente envolvendo temas locais nas imagens/charges
observadas por nossa pesquisa, procuramos conversar com os chargistas
responsáveis, a fim de constatamos suas intenções e finalidades nas expressões
figurativas que produzem semanalmente. Aos mesmos fizemos perguntas
subjetivas.33
As informações prestadas por esses desenhistas/chargistas apenas
confirmam os dados levantados por esse trabalho,34 que constataram um número
bastante alto de temas abordados em nível nacional e temas esportivos.
Percebemos nas justificativas apresentadas por esses dois voluntários uma
certa necessidade de verem seus trabalhos serem mais objetivos ou compreendidos
por um número bem maior de leitores que nem sempre estão ligados nas notícias
locais, por isso, fazem opções por assuntos mais abrangentes, ligados à
repercussão de notícias nacionais e esportivas. Segundo o chargista Luiz Fernandes
(Luizinho), responsável pela criação das charges publicadas pelo Jornal Vanguarda,
“as pessoas de Caruaru não são muito conhecidas”. Ele considera “os assuntos da
cidade de Caruaru bobos e pequenos demais, para o entendimento do
caruaruense,” e diz, “mas sempre quando ocorre algo interessante na cidade de
repercussão nacional é claro que pego nesse ponto”, afirma Luizinho que se
mostrou surpreso com o resultado de nossa pesquisa ao declarar que achou
“interessante o que estava acontecendo, pois não tinha pensando nesse ponto de
33
Ver (apêndice - A).
34 Ver (apêndice - B).
56
vista antes”, apesar de se manter atualizado sobre os acontecimentos da cidade.
Luiz afirmou que pretende a partir de então focar mais assuntos locais.
No entanto, o desenhista Lucas Ferreira, chargista responsável pelas charges
publicas no Jornal Extra de Pernambuco, demonstra objetividade e consciência no
nível dos assuntos abordados em seu trabalho, ao afirmar que procura realizar um
trabalho mais externo. Por isso, tem procurado dessa forma focar mais os assuntos
nacionais, “pois são mais fáceis de se trabalhar” e esportivos, porque existe uma
identificação pessoal com o Futebol. Com relação aos temas políticos, Lucas
afirmou que sempre procura evitar abordar assuntos locais, na tentativa de fugir de
tumultos partidários. Mesmo quando trabalha temas em nível nacional, ele procura
dar uma aliviada nas expressões do desenho. Entretanto, deixou claro que pretende
no próximo ano realizar um trabalho mais focado nos problemas locais, pois acredita
que existe uma necessidade grande de se expor opinião.
Com relação ao espírito crítico, opinativo e irônico, em nossa análise
observamos nos devidos profissionais posturas diferentes que explicam o resultado
de nossa pesquisa. Constatamos que o “Jornal Vanguarda” possui o dobro de
charges opinativas com relação ao “Jornal Extra”, descritos no (gráfico 1), o mesmo
mostra ainda o Jornal Extra de Pernambuco com 8 charges informativas e 5
opinativas, e o Jornal Vanguarda com 4 charges informativas e 9 opinativas.
Podemos destacar comportamentos diferentes no perfil desses dois
chargistas, pois enquanto Luiz Ferreira, do Jornal Vanguarda, incorpora um espírito
mais provocador ao se considerar livre, independente, anarquista, e demonstrar
espírito crítico, o desenhista “Lucas Fernandes”, do Jornal Extra, demonstra possuir
uma forte articulação e criatividade, mas assume um comportamento mais cauteloso
na prevenção de temas e imagens que venham causar possíveis rumores políticos,
afastando-se de um perfil mais crítico ou opinativo em suas imagens produzidas.
Na questão 2,35 o desenhista Lucas afirma nunca ter uma charge rejeitada
pelo Jornal Extra por assunto abordado. Enquanto Luizinho afirma que o veículo já
deixou de publicar algumas charges críticas que produziu, porque as considerou
muito pesadas, o que revela limitações impostas pelo veículo, ou mais um obstáculo
35
Ver apêndice (tabela 3).
57
na concretização de um pensamento crítico. Segundo Lage, isso acontece devido a
articulações de capitais externos:
Ao longo desse processo, os principais grupos de comunicação do Brasil, beneficiários do processo democrático, logo se articulam com capitais externos para disputar os despojos da privatização; do ponto de vista editorial, essa lógica preside sua orientação há muitos anos. Para o bem ou mal, nunca se denunciou tanto, e nunca foram tão inúteis as denúncias; também nunca se exaltou tanto a modernidade cosmopolita contra o conservadorismo nacional e popular; ou se mostrou tão unânime o discurso da mídia – submissa a uma espécie de onda que varre o mundo, define como simpáticos os Estados e os políticos que se deixam levar, e silencia ou condena aqueles que tentam resistir. (LAJE, 2001, p. 93)
No entanto, ambos profissionais deixaram de trazer na discussão temas
sociais, comunitários, e políticos de nível local, da atualidade demonstrando, ao
nosso entender, uma falta de interesse em debater os problemas da região por
considerá-los menos perceptíveis ou conteúdo de baixa repercussão. Portanto,
durante nossas entrevistas, perante os dados de nossa pesquisa, ambos os
chargistas se comprometeram em assumir um perfil mais consciente dos problemas
locais, abordando em seus trabalhos algo que venha contribuir para o
desenvolvimento da formação crítica do cidadão local perante a realidade que o
cerca, atitude que para nós já é algo compensador.
58
6. CONCLUSÃO
Assim, com base nessas informações e princípios, podemos concluir que as
charges publicadas nos dois principais jornais impressos da cidade de Caruaru
abordam assuntos da relevantes em todas as edições, porém necessitam localizar-
se no tempo e no espaço, procurando uma identidade maior com os assuntos locais,
já que os dois veículos têm seu conteúdo focado no público da cidade de Caruaru e
região.
Através das características e informações consolidadas através da coleta de
dados e entrevistas, podemos concluir que o número de abordagem para assuntos
locais é praticamente zero, já que são baseados em noticias locais de repercussão
nacional. E também constatamos que não existe uma liberdade completa nesses
veículos com relação à expressão desses autores chargistas e suas ideias, pois, em
alguns casos, ocorreu rejeição de imagens enviadas à redação, por um desses
veículos de informação, o que desvaloriza o pensamento crítico local e dá uma
sensação de controle por parte das autoridades políticas, deixando a situação do
jornalismo opinativo local mais pobre, já que a charge exprime muitas vezes um
pensamento crítico que os textos não conseguem ou não podem dizer naquele
determinado momento.
Esse pequeno número de charges que abordam assuntos locais, expressa o
mau uso do potencial deste gênero, tratando os temas com superficialidades e na
maioria das vezes apenas ilustrando os fatos.
Ambos os jornais têm um perfil parecido, na maneira como utilizam as
imagens/charges, fazendo uso da mesma para abordar assuntos, que, na maioria
das vezes, estão baseadas em repercussão de notícias a nível nacional e
relacionadas ao mundo dos esportes, no entanto, essas imagens/charges não fazem
adaptações desses assuntos com a realidade local, o que seria de extrema
importância por se tratar de dois veículos que tem como público alvo a população do
interior do Estado de Pernambuco.
Dessa forma, com base nas análises, podemos concluir que as charges
publicadas nos dois jornais impressos da cidade de Caruaru, os quais são: “Extra de
Pernambuco” e “Vanguarda”, nas referentes edições coletadas durante o período
59
estabelecido por essa pesquisa, demonstram em seu conteúdo geral semelhanças e
características que conferem ao perfil científico construído na fundamentação teórica
desse trabalho, no entanto, em uma porcentagem bastante baixa e desigual que
desvaloriza o potencial deste gênero opinativo, resultando em falta de qualidade e
profissionalismo, pois quase a metade das charges analisadas não incorporam um
perfil opinativo, fator essencial para consideração deste gênero, fazendo dessas
imagens, apenas mero efeito informativo ou ilustrativo.
60
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FONSECA, Joaquim da. Caricatura: A imagem gráfica do humor. Porto Alegre. Artes e ofícios: 1999. JOLY, Martine. Introdução à analise de imagem; tradução Marina Appenzeller –
Campinas, SP: Papirus, 1996. – (Coleção Ofício de Arte e Forma).
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Florianopolis: Insular, 3ª Ed. UFSC,
2001.
LAGO, Claúdia; BENETTI, Marcia (orgs.) Metodologia de pesquisa em jornalismo
– 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. – (coleção Fazer Jornalismo)
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho
científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório,
publicações e trabalhos científicos – 7. Ed. – 3. Reimpr. – São Paulo: Atlas, 2009
MELO, Jose Marques de. Jornalismo opinativo: Gêneros opinativos no jornalismo
brasileiro. - 3.ed. rev. e ampl. - Campos do Jordão: Editora Mantiqueira, 2003.
______. Estudos de jornalismo comparado: São Paulo: Pioneira Editôra,1972.
______; ASSIS, Francisco de. Gêneros jornalísticos no Brasil. São Bernardo do
Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2010.
MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e
dissertações – 3. ed. – São Paulo : Atlas, 2002.
MORONI, Benedito de Godoy; RUAS, Reinaldo Lázaro. Jornalismo Regional: O
jornal Correio do Porto, 6° aniversário - Presidente Epitácio Gráfica Epitácio, 2006.
PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. 2 ed. – São Paulo: Contexto, 2006.
SERVA, Leão. Jornalismo e desinformação. São Paulo: Editora SENAC, 2001.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. 1ª. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1983.
(Coleção primeiros passos: 103)
______. Cultura das Mídias. São Paulo: Experimento, 1996.
61
APÊNDICE
APÊNDICE – A: (Questionário usado nas entrevistas com os chargistas)
1) Costuma receber opinião do veículo sobre os temas abortados na charge?
2) O jornal já se recusou a publicar alguma charge devido ao seu conteúdo?
3) Já recebeu reclamações por opinião exposta na charge?
4) Chega a evitar expor opinião com medo da repercussão?
5) Por que não costuma abordar os temas locais e zonais?
6) Por que a preferências por assuntos esportivos?
62
APÊNDICE – B:
TABELA 3 (Respostas simplificadas dos profissionais chargistas)
PERGUNTA CHARGISTA (LUCAS) DO EXTRA
CHARGISTA (LUÍZ) DO VANGUARDA
1 Às vezes, geralmente é livre. Não, sou independente.
2 Não Sim, às vezes acontece.
3 Não Não, mas já me ligaram para comentar.
4 Sim, já deixei de aplicar ideias críticas em algumas charges.
Não, sou anarquista.
5 Na tentativa de evitar conflitos políticos locais, procuro fazer um
trabalho mais a nível nacional.
Não havia percebido, mas acho os temas nacionais são mais
interessantes, mais evidentes.
6 Porque são temas mais fáceis de se trabalhar.
Porque são assuntos em mais evidência. Pois o futebol é uma paixão
nacional.
63
APÊNDICE – C:
TABELA 4 (Divisão das charges em conteúdo opinativo e informativo/ilustrativo)
Charge Opinativa Informativa Total
1 X
2 X
3 X
4 X
5 X X
6 X
7 X
8 X
9 X
10 X
11 X
12 X
13 X
14 X
15 X
16 X
17 X
18 X
19 X
20 X
21 X
22 X
23 X
24 X
25 X
26 X
TOTAL 14 12 26
64
ANEXO
65
CHARGE 01: Extra de Pernambuco, p. A11, de 01.05.2010
66
CHARGE 02: Extra de Pernambuco, p. A11, de 08.05.2010
67
CHARGE 03: Extra de Pernambuco, p. A11, de 15.05.2010
68
CHARGE 04: Extra de Pernambuco, p. A11, de 22.05.2010
69
CHARGE 05: Extra de Pernambuco, p. A11, de 29.05.2010
70
CHARGE 06: Extra de Pernambuco, p. A11, de 05.06.2010
71
CHARGE 07: Extra de Pernambuco, p. A11, de 12.06.2010
72
CHARGE 08: Extra de Pernambuco, p. A11, de 19.06.2010
73
CHARGE 09: Extra de Pernambuco, p. A11, de 26.06.2010
74
CHARGE 10: Extra de Pernambuco, p. A11, de 03.07.2010
75
CHARGE 11: Extra de Pernambuco, p. A11, de 10.07.2010
76
CHARGE 12: Extra de Pernambuco, p. A11, de 17.07.2010
77
CHARGE 13: Extra de Pernambuco, p. A11, de 24.07.2010
78
CHARGE 14: Vanguarda, p. 12, de 01.05.2010
79
CHARGE 15: Vanguarda, p. 18, de 08.05.2010
80
CHARGE 16: Vanguarda, p. 14, de 15.05.2010
81
CHARGE 17: Vanguarda, p. 10, de 22.05.2010
82
CHARGE 18: Vanguarda, p. 18, de 29.05.2010
83
CHARGE 19: Vanguarda, p. 18, de 05.06.2010
84
CHARGE 20: Vanguarda, p. 18, de 12.06.2010
85
CHARGE 21: Vanguarda, p. 16, de 19.06.2010
86
CHARGE 22: Vanguarda, p. 14, de 26.06.2010
87
CHARGE 23: Vanguarda, p. 09, de 03.07.2010
88
CHARGE 24: Vanguarda, p. 11, de 10.07.2010
89
CHARGE 25: Vanguarda, p. 11, de 17.07.2010
90
CHARGE 26: Vanguarda, p. 13, de 24.07.2010
91