sobre uma sociedade decadente

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Copyright ©, 2016 by Fabio da Silva Barbosa

Projeto Gráfico e Diagramação: Daniel DutraIlustração de Capa: Solano GualdaEditora: Editora Resistência

Fortaleza, Ceará 2016

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SUMÁRIO

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Apresentação 05Abra os olhos 06Rabiscando 08Enquanto você 09Estão enganando vocês 11Manifesto: Contra toda 13Mudanças se fazem 14Nada é só isso 16S.O.S. botequins 18O significado os Reality 19Alegria e tristeza 23Não 24Mentiras do mundo cão 26Gastos e necessidades 28É claro que é possível 29Língua rica ou confusa? 30A colonização de ontem 32Porque o jornalista vive 35Conceitos e preceitos 36Pqp 38Reflexões e questionamentos 39Tá difícil 40Fórmulas previamente 41Teclas do piano 42Preocupante 44Controle e submissão 46Crítica a cultura de massa 48Pensamentos de trincheira 51Causas da vida 53As pragas que assolam 55Colonização pela mídia 56Acorda!!!! 57Momentos e argumentos 58Um novo mundo 60Passando pela cabeça 62Um novo olhar é preciso 64Uma existência triste 65A sociedade do espetáculo 67Matando os pobres 68Black Power 69A endemonização 70Trabalho, sofrimento 71Apocalípticos 72A fila 73Outros trabalhos do autor 75Biografia 77

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APRESENTAÇÃO

“Sobre uma Sociedade Decadente” é uma coletânea de textos que escrevi em diversas ocasiões para tentar entender o caos social que reina a nossa volta e compartilhar algumas impressões. Não se trata de livro escrito pelo dono da verdade ou intelectual de gabinete, mas reflexões de um cara comum que não se preocupa em dar respostas ou vê algum problema em contradições e mudanças de opinião. Pelo contrário. Esses são sinais de movimentação, de caminhada. Esse livro também não se trata de receita de bolo ou manual de instruções. Não foi algo construído para agradar um lado e desagradar outro. Integrar algo ou desintegrar? Vai saber. Através do fluxo contínuo da mente e da reestruturação constante do pensamento, o texto vai brotando e registrando o sentir. Um breve olhar em volta já faz nascer a indignação necessária para produzir. Entre os diversos assuntos abordados, talvez os meios de comunicação sejam os objetos mais observados durante as explanações. Talvez por estarmos em uma época onde esses meios estão se aperfeiçoando cada vez mais no esvaziamento e no contro le menta l . Mas outros também são constantemente explorados, como a sabotagem das classes sociais marginalizadas e a imposição de um caminho único a seguir. É um livro para ser lido como um diálogo totalmente informal, bate papo na mesa de bar. Por isso não nos alonguemos mais na tentativa de explicar ou justificar este registro. Vire a página e boa leitura.

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ABRA OS OLHOS

Já nascemos sendo registrados, moldados, cobrados. Muitos são atirados a tv, este bizarro aparelho que nos deforma a cada instante, antes mesmo de aprender a falar. Aprendem a ser egoístas. É a porta de entrada para o macabro mundo da competição, do consumo. Te empurram uma religião, uma visão, um padrão. Mentem o tempo todo. É o mundo da ilusão, onde nada é confiável. A hipocrisia, o jogo de aparências. Tudo é nada.Aí vem a escola, o colégio, mais uma prisão. Em um sistema de ensino autoritário, os submissos são aceitos com louvor. É uma preparação para o sistema de trabalho. Mais imposições, mais regras, mais submissão. Entre uma coisa e outra ainda tem o serviço militar. E temos de votar, temos de degradar, temos de sangrar. O medo é implantado até a medula. Você está cheio de sentimentos que não são seus. O desespero e a cegueira aumentam. O desconforto, a vida escoando entre seus dedos. As pessoas estão sem forças, dopadas pelos bombardeios de alienação. Distração gratuita que se paga caro. Aí vem a depressão, tristeza, angústia. Ninguém consegue explicar o porquê. E tome remédio, consulta, má alimentação, atividades improdutivas. Todos aprisionados às suas posses. Ser possuído pelo que se possui. E cada vez se possuir mais para ser mais possuído. Tem de se andar na linha, se não eles determinam uma punição. Ser apenas uma engrenagem é o destino. Quem grita apanha, é preso, é segregado. Presos todos estão. Há os guerreiros, mas há os que se agarram a qualquer bengala que apareça, outras correntes. Os ateus religiosos que produzem seus próprios símbolos e deuses a serem seguidos, adorados sob o discurso iconoclasta dos que acreditam ser outra coisa, mas acabam sendo a mesma, ou algo muito parecido. Não tenho nada contra os ateus. Foi apenas um exemplo. Poderia citar também os revolucionários e gurus de ocasião. Estou tratando dos falsos profetas, tão perigosos quanto os que estão hoje no poder. Ficam só no fingimento. Só se fazendo de perfeitos. Mas a perfeição não é própria do ser humano. A perfeição, o normal... Quem determina esses padrões? Existem muitas formas de ilusão. Procuram se apegar a uma delas pra fugir da realidade e não se deparar com a inutilidade de suas

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verdades mentirosas. Às vezes fica difícil se livrar de tantas correntes. Às mudanças vêm com as dúvidas, não com a disputa de verdades, não com a pregação de uma catequese qualquer. A mudança é constante no interior do ser reflexivo, no interior dos que se negam a fazer parte desse esquema sórdido. Como integrantes do mundo, conseguimos mudá-lo sempre que mudamos a nós mesmos. Nossa mudança interior altera nossa relação com o exterior e nossas escolhas. Nossas atitudes são contribuições que damos. Não se deixe enganar. Abra os olhos e observe.

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RABISCANDO

A moda é a prova cabal de que a sociedade manipula o indivíduo, roubando dele toda característica que pode ser chamada de própria. O Ser deixa o campo subjetivo para se tornar mais um produto na prateleira, ao ponto de os que estão na contramão seguirem a moda apropriada para os da contramão.

A gramática se tornou mais uma forma de controle. Quem não escreve segundo seus mandamentos, está fora do círculo dos inteligentes. Lembrando que a língua serve para se comunicar e o povo não precisa da gramática para tal, deixo a gramática de lado, escrevo como bem entender e uso a língua para fazer careta (careta de colocar língua para fora, porque a arte de careta, no sentido de caretice, deixo para os inteligentes).

Gente tida como inteligente me parece cada vez mais sacal e limitada. Tenho preferido a inteligência dos tidos como ignorantes.

A política partidária tem se infiltrado em todos os meios, sufocando a verdadeira política até conseguir matá-la de asfixia. Precisamos de jardineiros, com urgência, para eliminar essa erva daninha.

A hierarquia é a base da desordem. Afinal, ela dificulta quem está em baixo criticar quem está em cima. Logicamente, então, quem está em cima fará o que quiser sem se preocupar tanto.

A lógica social e de convivência me impulsiona cada vez mais em direção a falta de sentido. O sem sentido tem sido muito mais compreensível que toda essa organização desorganizada.

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ENQUANTO VOCÊ ASSISTE TV PARA FICAR DESINFORMADO, REMELAS MUTANTES CRESCEM EM SEUS OLHOS E A REALIDADE NÃO CONSEGUE MAIS SER DISTINGUIDA.

Existem conflitos sociais acontecendo em toda parte. Agora mesmo, enquanto você lê estas palavras, tem muita gente sofrendo para que outros esbanjem a grosseria de serem finos em um mundo marcado por profundas desigualdades sociais. Às vezes esses conflitos tomam corpo e podemos vê-los com muita clareza, sem ter como ignorar (por mais que nos esforcemos). Mas na maior parte do tempo eles se mantêm camuflados diante dos olhos que já não podem ver com nitidez. Nestes conflitos, muitos tentam se manter a distância para garantir uma frágil segurança egoísta. Primeiro pensar em si, para depois pensar nos que estão no olho do furacão e não têm como fingir que está tudo bem. Isso quando os maiores prejudicados pelo egoísmo são lembrados. Não percebem que é tudo uma grande teia interligada? Ninguém estará bem enquanto todos não estiverem. Os que querem viver com muita neutralidade esquecem o principal problema: Não existe neutralidade em uma situação como a que vivemos. Não há como ser apenas um espectador. Mesmo não fazendo nada, você está apoiando um lado. Mesmo vivendo para conseguir seu empreguinho e dar sequência a sua vida “feliz”, seu modo de vida apoia um dos lados. Será que você está apoiando o lado certo? Será que sua indiferença não está matando? O Estado apoia os inertes, enquanto marginaliza e agride aos que não suportam mais assistir esse espetáculo de horrores. Claro. O Estado e os donos do capital (os que realmente mandam, já que o Estado não quer se indispor com eles) não têm interesse em barulho. Eles querem tudo em paz, sem ninguém gritando pelo que é certo. A população vai sendo neutralizada através de um resfriamento covarde e boçal. E assim vão nascendo, crescendo e morrendo as engrenagens que sustentam e fazem funcionar essa grande máquina de moer carne. Quem pensa e questiona é adepto da teoria da conspiração e os que

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refletem sobre a sistemática destruição do mundo são os ecochatos. Já os estúpidos e desinformados são ovacionados e carregados nas costas. “Viva!!! Esse é o nosso Rei!!!” Alguma coisa está errada, não está? Você não acha que o mundo estará indo para um caminho muito ruim se continuar valorizando a futilidade e seus valores distorcidos? Então, por que não fazer algo? Se vai dar certo ou errado, se vai adiantar ou não... Essas, são outras questões que só o tempo responderá. A questão principal é: Pelo menos você não vai estar do lado de quem te destrói. Você não vai estar batendo palmas para os que cagam na sua cabeça. Caso não saiba, é isso que você faz quando pensa que está sendo neutro. Você aplaude os que te iludem e mentem. Não há neutralidade, há o comodismo e a covardia em se escolher o lado que menos lhe dará trabalho. “Trabalho, só se for para ganhar dinheiro”, brada o massificado.

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ESTÃO ENGANANDO VOCÊS

Dia desses estava discutindo com um amigo sobre aquela crônica do Luiz Fernando Veríssimo chamada “O Nariz”. A estória é ótima e demonstra muito bem o que vivemos - Falta de personalidade e um culto a imbecilidade denominado “igual”. Nada pode sair do padrão, seja qual for. Quem não conhece, vale a pena correr atrás e conhecer. O papo que estava tendo com este grande amigo e cabeça de vento foi apenas o início do que gostaria de comentar aqui. Bem... Aí quando comentei sobre “O Nariz” ele quis saber mais. Expliquei que era basicamente sobre um cara comum que vê sua vida virar um inferno apenas por gostar de um nariz de borracha (uma daquelas máscaras que vem uns óculos, um nariz e um bigode juntos) que viu em uma loja. Deste momento em diante resolveu usar o adereço todo o tempo. Meu amigo não entendeu e achou que o cara estava querendo ser escroto e disse que isso era ridículo. Perguntou ainda o que o personagem poderia esperar. Tentei explicar um pouco mais e disse que talvez fosse melhor que ele lesse o texto. Mas meu amigo não quis saber. Achou simplesmente impossível que alguém gostasse de usar um nariz de borracha só porque ele não conhecia ninguém que, se quer, achasse a ideia simpática. Larguei-o mergulhado em suas certezas. Daquelas certezas que fazem parte de um mundo sem horizontes, onde só existe pobreza interior e repetição. Do mesmo modo das pessoas que rodeavam o cara descrito por Luiz Fernando, ele não hesitou ao primeiro impulso de marginalizar o personagem. Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que isso não era culpa dele. Na verdade, fora enganado. Desde criança nossos pais nos enganam. Tudo começa com Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. Eles dizem ser importante esse tipo de fantasia. A maioria aceita isso e repete para seus filhos e seus filhos para seus netos. Uma corrente de mentiras que um dia os próprios desmentirão. Para que inventar coisas? Só para depois dizer que é mentira? Para começar a minar confiança no próximo desde criança? Com o crescimento as mentiras vão se tornando um estilo de vida norteada por regras, criadas pelos mesmos que inventaram Noés e Coelhinhos. “Regras são para os tolos”. Lembrei dessa frase de algum lugar.

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Todos estão se esforçando ao máximo para se enquadrar. As coisas têm de ser assim porque é assim que os outros fazem. Até os que se dizem diferentes, pertencem a um diferente padronizado. Nada mais pode fugir a regra escrita ou dita não se sabe por quem. Criam-se religiões para lançar os infiéis ao inferno e modas para lançar quem prefere algo mais criativo ao ridículo. “Vamos ver como os outros fizeram para fazermos também.” “Vamos ver como eles se vestem para nos vestir do mesmo modo.” Diz essa pobre gente.Certa vez uma parenta estava feliz da vida com um paninho que tinha colocado sobre a mesa. Aquilo estava lindo para ela. Até chegar uma amiga submissa ao conceito de belo imposto pela maioria, uma pessoa de muito bom gosto, que disse ao ser apresentada ao paninho: “Mas não se usa esse tipo de paninho em cima desse tipo de mesa”. O paninho não teve a mínima chance. Sumiu e nunca mais foi visto.

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MANIFESTO: CONTRA TODA FORMA DE PRECONCEITO

Pelo fim do preconceito racial, regional, sexual, ideológico e qual mais for.Contra toda forma de preconceito.Pelo fim do bullying, do imperialismo e das mentes colonizadas.Contra toda forma de opressão.Pelo fim da submissão.Pela convivência entre os opostos, entre todas as formas e pensamentos.Pela união de todos os gêneros humanos.A individualidade é nosso maior bem. (não confundindo individualidade com egoísmo)Somos iguais por sermos diferentes.As diferenças nos tornam iguais.É nosso ponto comum.Aceitando as peculiaridades de cada um, chegaremos ao coletivo mais belo e colorido jamais visto.Vamos misturar.O respeito é a única lei.O respeito é o início e o fim.As lacunas que sobrarem devem ser preenchidas com liberdade total e irrestrita, compreensão e conhecimento.Uma nova época pode nascer assim que tomarmos conhecimento e agirmos de acordo.Chega de maldade.Chega de servidão.Pela diversidade.Pela união.

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MUDANÇAS SE FAZEM NECESSÁRIAS COM URGÊNCIA.

Me impressiona a facilidade com que certas pessoas fingem que nada está acontecendo. Por mais que sejam afetadas e sofram as consequências de uma sociedade egoísta e desigual, parecem não perceber que a única forma de mudar essa situação é através da proliferação constante de uma nova consciência. Se acovardar, escondendo a verdade por trás de um argumento fraco e infantil, não vai mudar o estado precário em que grande parte da população vive. A maioria está submissa a uma realidade tão brutal que atinge o impossível. Para tentar sobreviver, a massa acaba por se submeter a subempregos que nada acrescentam a sua existência. A mentalidade conformista vai se fortalecendo e as pessoas vão ficando cada vez mais fracas. O sistema vai se fortalecendo e a indústria do consumo prossegue escravizando e limitando as possibilidades. Apenas os artistas inofensivos ganham espaço. Arte e entretenimento não são sinônimos, pois representam lados opostos. Enquanto a arte abre portas, o entretenimento aliena. A juventude esquece o papel crucial e sua responsabilidade na transformação, se apegando à alienação, por medo e insegurança. O novo se resume a uma repetição do que já houve. Situação lamentável. O que salva é uma galera que se despe de toda essa imundice e corre atrás. A cada dia que passa, conheço novas pessoas com ideias próprias e disposição para encarar as barreiras colocadas pelos que desejam manter as coisas como estão. Evoluir, buscando novos caminhos, é a própria razão da nossa existência. Viver em busca de dinheiro e estabilidade nos degraus dessa sociedade é minimizar nossa existência a nada. Negar esse pensamento vil e mesquinho, que nos é imposto desde o nascimento, se torna necessário. Escapar de toda forma de controle faz parte do caminho para a verdadeira libertação. Ninguém pode impor a verdade, mas, olhando para dentro de si, você irá encontrá-la. Sendo honesto com você mesmo, assumindo seus erros, não se deixando levar pela maré... Assim a revolução irá acontecer em seu interior. Daí por diante você irá emanar revolução, transpirar mudanças e contaminar a todos com o verdadeiro espírito dos novos tempos. Esse espírito não está

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escrito ou determinado. Para encontrá-lo, comece a procurar em você. Sem mentiras, fraudes ou ilusões. “De fantasia a Disneylândia já está cheia”*. *Vi essa frase em algum lugar, mas não lembro onde.

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NADA É SÓ ISSO

Um filme não é apenas um filme.Um livro não é somente um livro.Uma música não se resume na música.As coisas são as ideias que elas passam, sua utilidade no mundo. Elas são onde se encaixam no contexto do que está acontecendo. Seu criador (ou responsável), querendo ou não, está dando vida a algo que existirá e causará reflexos e consequências.A arte, as produções e as atitudes ultrapassam seus limites por serem expressões de ideias e pensamentos. É impossível uma pessoa (ou um grupo de pessoas) criar algo sem expressar em algum momento o que ela pensa. Mesmo quando se cria pensando em combater a ideia de que tudo significa alguma coisa, se defende e se transmite a ideia de que é possível criar sem passar ideias. Quando se assiste uma comédia, o espectador pode acreditar que está apenas vendo um filme inocente para rir. É uma opção pessoal acreditar nisso. Quem sou eu para julgar. Mas saiba que você está absorvendo valores o tempo todo, querendo ou não, acreditando ou não. O problema em absorver conceitos alheios de maneira distraída e sem senso crítico é que não percebemos que estamos sendo guiados. O tempo todo estamos sendo bombardeados por conceitos. O pior de tudo é que são conceitos que só favorecem aos que estão querendo um mundo cada vez mais artificial e egoísta (falando especificamente das produções de massa, encharcadas de propagandas maléficas ao ser humano e a construção de uma sociedade livre e justa). Quando você está lendo um livro ou vendo um filme e não é mais um desavisado, além de não ser manipulado, você consegue ver com muita clareza onde estão as iscas.Por mais estranho que seja, ainda se faz necessário este tipo de alerta, pois ainda podemos encontrar quem não entenda o entorpecimento alienador em que as pessoas se encontram. Exercite um pouco mais o olhar crítico sobre as coisas inocentemente nocivas que nos cercam cotidianamente e garanto que a malícia aparecerá em pontos que nunca antes foi observada.Mefisto é um filme que trata desse assunto. Nessa obra, um ator que acredita estar fazendo parte de algo inofensivo e que é possível atuar no campo artístico de forma distante da política nazista,

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acaba por ajudar ao sistema. No fim, ao se deparar com o resultado de sua arte, ainda tenta argumentar que ele era apenas um ator. Nesse ponto, fica bem claro que ser apenas um ator foi um ato que lhe fez compartilhar com os nazistas a responsabilidade por toda crueldade existente nessa época.

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S.O.S. BOTEQUINS

Não sei se isso está ocorrendo em todo Brasil, mas aqui em Niterói (RJ) eu posso me lamentar, sem medo de estar enganado: Os botequins estão acabando. Esses locais onde a nata da cultura e da contracultura de nosso país sempre se reuniu para animadas conversas em um ambiente descontraído, sem o moralismo dos “bons costumes”, estão sendo substituídos por locais repletos da frieza que a arrogância do requinte consegue oferecer melhor que ninguém.A primeira grande mudança observada é a televisão prendendo a atenção das pessoas que costumavam estar ali em uma extravagante troca de ideias. Depois podemos observar os petiscos que antes ficavam expostos na vitrine e que agora vêm em cardápios trazidos por garçons. Chouriço, moela, batatinha a calabresa, cu de galinha frito... Tudo isso é substituído por uma pálida porção de batatas fritas (daquelascongeladas, que vêm num saquinho) ou vá lá saber o quê.Os que ainda ostentam esse nome, não lembram em nada aquele balcão super confortável, onde nos debruçávamos e muitas vezes conversávamos com pessoas que acabamos de conhecer. Um enriquecedor papo de balcão, ou conversa de botequim, como muitos gostam de chamar.Desde moleque sempre frequentei os botecos de Niterói. Outro dia fui caminhar com meu parceiro de elucubrações, Alexandre Mendes, e fizemos uma verdadeira peregrinação por Santa Rosa em busca de um botequim onde pudéssemos encostar a pança e colaborar com o burburinho de vozes que fazem a sinfonia desses lugares. De vez em quando uma gargalhada sempre corta o ar. AHAHAHAHAHAHAHAHAHA... Estávamos precisando de algo assim para reorganizar as ideias. Mas, para nossa surpresa, todos os botequins de verdade foram reformados. Agora eles têm toalhas sobre as mesas e substituíram o copo americano por tulipas finas.Coitadas das pessoas. Vão perder um reduto onde a interação com a diversidade característica do ser humano está dando lugar à uniformidade das ilhas mesas. E a conversa que se começava com um e terminava com outro? Essa está sendo travada apenas com a televisão.

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O SIGNIFICADO DOS REALITY SHOWS NA CULTURA CONTEMPORÂNEA

Os reality shows são um fenômeno da cultura de massa contemporâneo que visa, aparentemente, tão somente um meio de entretenimento sem maiores pretensões. Mesmo exprimindo um culto ao real, ele não consegue passar o que realmente a pessoa é, ou quais são seus hábitos, já que normalmente não se consegue 100% de autenticidade diante das câmeras. Quando se está sozinho, em casa, seu comportamento não é igual a quando recebe visitas. Mesmo que você seja muito autêntico ao ponto de ser sempre você, ninguém é o mesmo com todos. Dependendo do ponto em comum que se tem com uma pessoa, seu relacionamento será diferente do que você tem com outra em que os interesses em comum são outros. Agora transporte isso para uma casa com várias pessoas desconhecidas e um número infinitamente maior te acompanhando diariamente diante da TV, como acontece no “Big Brother”. Aliás, a própria casa afasta a sensação de realidade. Quantas pessoas que assistem ao programa têm uma casa com academia, piscina e toda a estrutura de uma casa montada para espetáculos. O espectador se envolve em observar vidas alheias, se tornando um mero voyer. A participação de quem assiste pode ser pouca ou nenhuma. Em programas como “O Aprendiz” o público se limita ao estado de voyerismo citado anteriormente, enquanto em outros como “Big Brother” e “Ídolos” a participação se resume em votar em quem continua ou não no programa, se baseando no que vê durante a apresentação do mesmo. As imagens previamente escolhidas são editadas pela emissora de TV, o que torna inviável a noção de conhecimento da personalidade alheia. Mesmo assim, a impressão é que se conhece o candidato como a alguém da família e que o voto dado foi justo. Em um mundo onde o sintético e o artificial se tornam cada vez mais presentes em toda parte, realmente ver a vida passar diante da tela de TV, ao invés de vivê-la, não é algo tão inimaginável. Em alguns programas o participante tem de mostrar uma habilidade especial. No “Ídolos”, por exemplo, a pessoa deve demonstrar seus dotes artísticos, além de sua capacidade para

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conseguir ser exaltado pelas multidões. Em outros, como no caso do “Big Brother”, basta ser dissimulado o suficiente para mostrar sua perfeição ao público e a seus companheiros de casa a fim de conseguir ser merecedor do prêmio final. Outra novidade que esse tipo de espetáculo veio trazer foi uma inversão nítida de valores: A superexposição gratuita. Antigamente os meios de comunicação justificavam pessoas ou fatos buscando alguma relevância social, atualmente o relevante é estar lá. Não existe mais a preocupação de, ao menos, tentar encontrar algo que diga o porque da pessoa estar lá. O vencedor é ovacionado por ter aparecido na televisão. Esse é o motivo de sua exposição. Ele é exposto por ter sido exposto. Nenhum grande fato por parte dele justificou tal espaço em um meio de comunicação que deveria estar servindo ao interesse público. A supervalorização do lucro também é outro fator muito acrescido durante a exibição dos programas. Os participantes são capazes de qualquer coisa para atingir suas metas. Enquanto no “Big Brother” a coisa se restringe as armações e fofocas, em outros programas, como o “Aprendiz”, a pessoa é insuflada pelo próprio apresentador a apontar os defeitos e as deficiências de seus concorrentes, causando uma sensação de mal estar muito apreciada por quem acompanha a programação. Isso também aumenta a endemonização do erro. Errar, ao invés de ser a marca do tentar e do criar, vira algo jocoso e evitado pelos que fogem diariamente do ridículo. Mas o que é ser taxado de ridículo? O “No Limite”, um dos primeiros programas do gênero exibidos no Brasil, já mostrava bem a cara desse tipo de ideia. Os Participantes eram colocados em locais de difícil acesso e vivência. Além das dificuldades naturais do lugar, eles ainda eram expostos às situações mais adversas possíveis, chegando ao nível do doentio. Mas tudo era suportado para se chegar ao prêmio final. Shows bizarros de humilhações eram assistidos nas salas das residências mais conservadoras como se fossem espetáculos da mais alta nobreza. Banquetes com iguarias incomuns eram oferecidos aos participantes que perdiam se vomitassem durante a prova. Isso nos lança aos antigos espetáculos de apedrejamento e de lutas de homens contra leões. A ideia do real e saudável fica então seriamente abalada. O atentado contra o Word Trade Center, no exato momento em que aconteceu, foi encarado com maior dúvida que uma briga entre

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casais internos da casa “Big Brother”. Por maior susto que as pessoas tenham tomado com o choque dos aviões contra o prédio, muitas ficaram em dúvida se aquilo realmente estava acontecendo. Será um filme? Enquanto isso elas acreditam no ato, quando os ânimos se acirram dentro da casa do BBB. Um fato facilmente observado é a falta de compromisso com uma experiência de maior profundidade por parte do espectador. Insistindo no exemplo do “Big Brother”, já que este é o mais popular dentre os demais, podemos ver que o nome do programa se baseia no romance de George Orwell, lançado em 1948, e que atende pelo nome de 1984. Neste livro o autor descreve um futuro opressor, onde todos vivem sobre o jugo do Grande Irmão (Big Brother), enquanto são vigiados todo o tempo pelas Teletelas. Por que não aproveitam o gancho do programa para fazer um incentivo a leitura e divulgar esse verdadeiro clássico da literatura mundial? Simples: A finalidade não é exibir cultura. É só entretenimento. Só isso. A intenção é fazer o que as pessoas costumam chamar (sem pensar no que isso quer dizer) de matar o tempo. Focault já falava de um “Poder Panóptico”. De acordo com ele, vigiar se torna mais eficaz à medida que as pessoas não associam o ato a repressão. Então, segundo ele, o poder do “Panótipo” deveria impregnar o vigiado sem que ele percebesse, untando nele o olhar de quem o vigia. Assim o vigiado iria aderir à ideia de ser observado, sem maiores dificuldades. Isso nos remete as empresas de ônibus colocando câmeras em sua frota para vigiar os funcionários, mas com a intenção oculta sob o discurso de protegê-los. Este mesmo funcionário pode trocar de lugar sentando em seu sofá e observando os televigiados durante a hora de lazer. Vira um hábito normal, parecido com um animal ter de matar o outro para sobreviver. Vigiar e ser vigiado vira necessidade. Buscando autores atuais, para melhor demonstrar o que significa os reality shows na cultura contemporânea, podemos citar Illana Feldman e seu artigo escrito para o site do Ministério da Cultura. Ela acredita ser mais apropriado entender o fenômeno não como um conjunto de programas isolados, mas como como “uma lógica cultural e operacional que naturaliza, tendendo a consolidar, valores, práticas e discursos próprios ao atual estágio do capitalismo, denominado imaterial ou cognitivo.” E para ela esse tipo de cultura de massa não é apenas uma forma de consolidar o atual estágio do capitalismo. Indo mais fundo, dá o exemplo do “Big

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Brother Brasil” (muito usado por nós): “Nesse panorama, daremos especial ênfase ao formato narrativo Big Brother Brasil, considerado aqui um dispositivo biopolítico, tanto por fazer da própria vida, “anônima” e “real”, matéria prima de observação e instrumentalização, quanto por ser uma tecnologia de produção - e gestão - subjetiva. No entanto, se entendemos que essa produção audiovisual biopolítica produz efeitos perversos, baseados em relações de poder extremamente desiguais, cujas estratégias passam pela humilhação e pelo constrangimento, não podemos fechar os olhos para a inventividade narrativa que a cada edição vem sendo aprimorada.” Mesmo reconhecendo o programa como algo nocivo ao intelecto humano, ela entende que a narrativa é inovadora e vem se aprimorando. Podemos concordar com o fato da narrativa trazer novidades, mas não devemos esquecer que nem tudo que é novo é benéfico. Em outro ponto ela ressaltará isso falando sobre a naturalização da vigilância. O que nos leva ao que foi dito anteriormente por Focault. Ou seja, a única coisa que podemos achar de significativo nessse tipo de programa, vendido como entretenimento em nossa cultura, é a naturalização da viglância e a valorização da idéia de vencer a qualquer custo.

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ALEGRIA E TRISTEZA SOB UM SOL ESCALDANTE

Mal cheguei do trabalho, Severino me chamou para irmos à feira de São Cristóvão (Feira do Paraíba, RJ). Chegamos lá sem muita dificuldade, por volta de 11h. No caminho passamos por um corpo estendido no chão. Pelo que as pessoas comentavam, tratava-se de uma senhora que tinha sido atropelada aproximadamente 2h da manhã. “Isso é um absurdo. A coitada está cozinhando nesse chão quente desde a madrugada”, comentava uma moça que estava próxima ao corpo coberto.Fiz a cobertura da primeira caravana organizada pelo “Ministério do Baião” ao lugar. Entre a festa, a pobreza desfilava pelos animados dançarinos de forró. Enquanto o “Trio Severino” arrebentava no palco, mulheres transitavam com crianças no colo, que nem ao menos sei se eram seus filhos. Em um calor escaldante, crianças derretiam nos braços dessas vendedoras e até sozinhas por entre as mesas.Um garotinho se aproximou e ofereceu umas balas. Dissemos que não queríamos. Ele me abraçou e falou com dengo: “Compra, tio”. Retribuí o carinho com um afago em sua cabeça e disse que não compraria. Agradeci e ele foi fazer seu charme para ocupantes de mesas próximas. Todos recusaram. Ele se debruçou sobre a mesa e fez cara de choro. Aquilo já me cortava o coração. Bati uma foto. Ele tentou fugir e bati outra. Chamei-o e prometi não bater mais nenhuma. Mostrei o resultado. Expliquei como tinha ficado bonita a imagem. Ele parece ter gostado. Pedi para ficar com ela. Se não concordasse, excluiria no ato. Ele fez um gesto que entendi como afirmativo. Como já tinha feito vários registros do evento, resolvi fotografar engraxates e outras figuras do gênero. O impacto daquelas pessoas sofrendo, naquele calor, entre os aparentemente felizes, deu um contraste gritante às fotos.Saí do lugar com aquilo transitando em minha mente. Por volta das 16h estava fazendo a cobertura do Bloco Um dia Sai. E mal aquele paradoxo felicidade/tristeza começava a se afrouxar de minha lembrança, passamos todos sambando por onde horas antes, uma senhora, que nem sei o nome foi atropelada.

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NÃO

Fico pensando, atordoado, em como o sistema criado pelo homem se tornou tão predatório que está caçando seu próprio criador. O ser humano está sendo chacinado por sua própria sociedade, por sua própria máquina de matar. A situação está insustentável.Estamos à beira do invivível. O sistema atual virou um predador tão eficaz, que não permite a mínima chance de vida.Somos educados, a partir de nosso nascimento, a sermos perdedores implacáveis. Nos agrupam, rotulam, vendem... Fumar e beber se torna o auge da rebeldia. Mas, na verdade, é isso que o sistema quer. É aí que ele começa a matar. Ele tira as chances de sua sobrevivência. Criam uma segurança falsa e inviável que exige uma perfeição imprópria ao homem. Você se torna seu pior inimigo. Sufocam sua essência de diferentes formas. A playboizada pisa fundo no acelerador, achando que está afrontando as regras.Como se não fosse suficiente, o sistema de ensino, que deveria abrir nossa mente e nos levar a lugares inexplorados, se mostra como algo massificante e sacal. Aqui no Brasil, por exemplo, podemos observar um fenômeno no mínimo insólito. O colégio público, que deveria atender satisfatoriamente a grande maioria da população, pobre e desprovida de recursos, virou uma espécie de amostra grátis do que acontece nos particulares. As escolas públicas são providas de um ensino ralo e insuficiente. Depois, chegando à época da faculdade, essas pessoas não podem continuar no ensino público, pois a prova para uma universidade pública é no nível da escola particular - que o pobre não tem acesso. Ou seja: ele não tem dinheiro para um ensino superior particular, nem apreparação para um vestibular público. Preciso continuar essa explanação? É difícil ver que é tudo feito para impossibilitar a ascensão dos que estão em baixo? Que é muito mais fácil para quem já está em cima subir ainda mais? DEPOIS AINDA ME VEM COM ESSA ESTORINHA DE COTAS COMO SE FOSSE SOLUÇÃO. BLA BLA BLAA saúde pública está um caos. E olha que na verdade o atendimento público não é gratuito, já que pagamos inúmeros impostos para termos garantidos esses direitos. Enquanto nosso massacre acontece diariamente, somos ludibriados com partidas de futebol,

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onde os jogadores ganham fortunas. O professor, que é o responsável pelo conhecimento, é mais um a viver com dificuldade. A sobreviver, na verdade. Realmente é de dar nojo esse animal que vive satisfeito com a política de pão e circo aplicada até os dias atuais, chafurdando nas próprias fezes. Política essa imposta por uma minoria, a contar do antigo império romano.Então essa minoria está bem? Na verdade não. O sistema não deixa brecha para felicidade. Esses estão com medo e acuados. Vivendo em um mundo ilusório, onde tudo é mentira. Se trancam na futilidade hipócrita da artificialidade que só o dinheiro pode comprar. Fazem as tais leis que promovem a segurança, mas que são desprezadas por eles mesmos. Não quero mais falar. Chega. Não vou corrigir nem reler esse texto. Ele vai como está. Sem ser repensado ou preso a qualquer norma pré estabelecida. Vai como o grito de raiva, como a revolta. Algo a mais que se dar por vencido e deixar roubem sua vontade de lutar. Chega de mentir para si mesmo. Chega de dar o que nossos assassinos querem.CHEGA!!!

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MENTIRAS DO MUNDO CÃO

Em um mundo dominado por falsos conceitos, é natural que a mentira seja colocada no altar e todos se ajoelhem perante ela. Vamos separar alguns exemplos que fariam o próprio Pinóquio sentir vergonha de sair repetindo por aí.

Ler jornais diariamente nos deixa bem informados – Se os jornais a que se refere este dito faz parte da mídia convencional, essa mentira tem de estar no primeiro lugar. Dizer “bem informado” é determinar que aquela informação recebida é de boa qualidade. Já olhou a primeira página dos jornais hoje? Eu também não, mas pode correr até a banca mais próxima para conferir: Bunda, fofoca (Artistas separando, casando, namorando, cagando... Opa... Desculpe... Artistas não cagam!) e assassinato (Pobre matando pobre e pobre matando rico... Só quando o rico mata o pobre não se comenta. Vê se a matança de indígenas e o constante estado de opressão em que vivem pequenos agricultores são primeira página. Latifundiário só entra nesse rolo quando o pobre se revolta. Aí sai como pobre mata rico, pobre invade, pobre rouba... Mas a notícia fica incompleta, já que não se noticiou antes que rico mata, rico invade, rico rouba...)

A imprensa é imparcial – Continuando o assunto “mídia convencional” temos mais um exemplo de Mentiras do Mundo Cão. Se existe uma coisa chamada linha editorial, a imparcialidade já fica de lado. Simples assim.

O usuário é quem sustenta o tráfico – Os usuários das chamadas drogas sempre estiveram por aí, mas a proibição criou e sustenta o tráfico até os dias de hoje. Isso, sem falar no grande esquema para a chegada de mercadorias nos varejistas. Como no morro não tem plantação de maconha, nem fábrica de armas, é fácil chegar a conclusão que existe muito mais gente envolvida nisso do que o cara que está com uma bolsa recheada dos tais produtos ilícitos e uma pistola na cintura e o usuário. Mas fica fácil manter tudo na conta deles, já que não tem espaço para exporem seu direito de resposta livremente. Estão sempre sob o julgamento de uma sociedade frustrada e hipócrita.

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Trabalhar dignifica – Esse aí pegou pesado. Hahahahaha... Como sabemos bem que esse jargão se refere ao tipo de trabalho assalariado e submisso ao patrão, só gostaria de entender como se associa exploração a dignidade. Nem o explorador, nem o explorado são portadores da tal dignidade. Para o trabalho ser digno, ele tem de ser livre de qualquer pressão ou coação. Isso, só para início de conversa.

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GASTOS E NECESSIDADES

Não tem como sair de casa sem ficar pasmo com a quantidade de propagandas “políticas” pelas ruas em época de eleição. É cartaz, placa, panfleto, jornal... Têm uns caras que tornam inviável passar por uma rua se quer que não tenha sua cara risonha estampada em algum lugar. Isso, sem falar nos carros de som, bicicletas... É musiquinha para todo o lado... Uma gastação de dinheiro sem fim, somada a poluição sonora e uma série de fatores que nada acrescentam ao povo, muito pelo contrário. Nem quero entrar na questão “De onde vem esse dinheiro todo?” para não perder o foco da questão que buscarei levantar como primordial nesse texto (ou artigo... Chame como quiser). O que seria essa questão? Simples. Com tanta gente passando necessidade, tanta comunidade precisando de um mínimo de assistência, e essa galera gastando um monte de dinheiro com nada. Dinheiro sendo posto fora com campanhas vazias. Não é possível que esse dinheiro não possa ser melhor empregado. Mas aí vem o contra-argumento que isso poderia gerar compra de votos. O candidato que pegasse o dinheiro da campanha e injetasse em uma comunidade carente poderia ter sua atitude interpretada como compra de votos. Isso realmente poderia acontecer e alerto que aconteceria com razão, pois sabemos bem que qualquer gasto ou investimento é contabilizando por eles de acordo com a quantidade de votos que terão de retorno. Mas que é um absurdo ver todo esse desperdício com as campanhas risíveis que temos por aí, isso é. Chega a ser indecente ver tamanho esbanjamento com tanta pobreza em volta. Afinal, não estamos falando de um investimento de R$ 100,00 – R$ 200,00, mas de uma quantidade espantosa de dinheiro. Some o gasto com a campanha de todos os candidatos de todos os partidos a todos os cargos. É muito dinheiro para não trazer nada de retorno para a população, não é não?

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É CLARO QUE É POSSÍVEL

Embora muitos estejam produzindo e semeando um futuro diferente, a grande maioria continua se vendendo por muito pouco e abrindo mão de uma sociedade mais justa e igualitária em troca de valores que nos são incutidos por um sistema corrupto. A acomodação e o conformismo são males contagiosos que nos enfraquece e reduz nossa existência ao simples ato de ganhar dinheiro para manter bens materiais e status falhos. Não precisa ser um grande gênio para perceber que a estrutura criada não irá resistir para sempre. Ela está ruindo, justamente por não ter sido construída sobre base sólida. O que temos hoje não passa de resultado do trabalho feito pelas elites para manter tudo como está. Mas a realidade grita. A realidade vivida pela grande maioria não consegue ficar submersa na artificialidade. O grande x da questão é: O que virá depois que esse sistema cair? Isso só depende de nós. Então façamos nossa parte e trabalhemos por mudanças significativas para toda a humanidade, independente de qualquer diferença aparente. A diversidade é benéfica e enriquecedora. Nada pode separar os excluídos. Tem de haver união entre os marginalizados para que não haja mais uma elite minoria mamando nas tetas de um sistema opressor. Não nos curvemos mais diante de falsos líderes (redundante esse termo, né?). As mudanças não acontecem da noite para o dia, por isso mesmo devemos começar hoje a trabalhar por uma consciência mais ampla das necessidades humanas. Para quem já começou a mais tempo esse trabalho por melhorias, continue de pé. Resista a pressão. Não podemos aderir um milímetro que seja a convenção que nos empurraram guela a baixo, através da lavagem cerebral iniciada ainda em nossa infância.

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LÍNGUA RICA OU CONFUSA?

Certas coisas não entram em minha rude cabeça. Por exemplo: Se o ch tem o mesmo som do x, qual a necessidade do ch? Questiono o ch por terem unido duas letras para fazer o som de uma que já existe. Eu sei que muitos irão falar sobre a origem da palavra e toda essa história, que embora seja muito interessante para estudiosos do assunto, não serve muito para os que usam a língua em sua real finalidade, a comunicação.O fato é que sou um grande oxigenador. Sou a favor das mudanças. Mudar sempre. Só o que está morto não precisa de oxigênio e mesmo assim muda. De um jeito ou de outro muda. Muda a forma, a consistência, o cheiro... É a mudança que resta aos que se mantêm firmes às velhas normas: o apodrecimento e o mofo. Cérebros engessados não produzem, apenas repetem o que já foi dito, tocado e feito.O falar serve como um meio de comunicação, assim como o escrever. Não é mais que isso. É apenas uma forma de se comunicar. E a língua muda como muda o povo que a usa. Ela tem de atender a necessidade do povo, ao em vez do povo atender as suas necessidades. Para não acharem, os simplistas, que apenas abolindo o ch se resolverá a questão, vou citar também o caso do s. De uma forma geral, s faz som de z e ss som de ç. Preciso continuar o raciocínio? Preciso ainda falar que, na prática, essas regras têm exceção? Que, por vezes, o s faz outro som? E de que serve isso? Isso é riqueza da língua? Preciso perguntar a utilidade de uma letra que faz som de outra? Preciso chegar ao cúmulo de passar pelo h antes de uma palavra como o nome Hugo? Há países em que isso faz uma grande diferença. Mas vamos falar de Brasil. Qual a diferença de Ugo e Hugo? A não ser o h, é claro. E o g com som de j, ou vice versa?Poderia ficar o dia inteiro desfiando as banalidades linguísticas que nos são impostas, mas acho (ou axo, tanto faz) que já consegui passar a ideia geral da coisa. Ahistória ou etimologia da palavra não é camisa de força para prender um povo a um sistema confuso de signos que perde o foco de sua real função. Dizer que ia ser complicado mudar tudo agora, seria uma grande besteira. Não seria dificuldade nenhuma a pessoa, independente da idade, ser informada de que a partir de

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agora apenas o x fará som de x. Olha que coisa difícil de explicar.A internet trouxe mudanças muito mais complexas ao cotidiano da escrita, e todos absorveram muito mais rápido do que essa linguagem empolada que nos empurram goela a baixo desde a alfabetização, sem conseguir nunca que nós fiquemos confortáveis ao usá-la. Somos sempre vítimas dela, que nos assalta com dúvidas criadas por suas regras arbitrárias. Engraçado que nunca vi aula de rede social para ensinar que vc significa você, ou qualquer outra coisa do tipo. A coisa flui naturalmente quando é agradável ao u s u á r i o . Tu d o t e m d e c o n t i n u a r c a m i n h a n d o . O desengorduramento linguístico tem de persistir. Nunca vai estar bom o suficiente ao ponto de não precisar mudar mais. A perfeição é utópica. Ainda bem que existem as gírias para nos salvar dessa estagnação que tanto agrada a alguns senhores do saber. A gíria é o enriquecimento da língua. Isso sim é riqueza. O povo criando e transformando o que é seu, dia após dia, palavra por palavra. Mudando conceitos sem nenhum tipo de preparação ou aviso, nem por isso deixando de ser compreendido. O significado da palavra aparece assim que é dita. É por isso que o teórico fica tão aborrecido com essas mudanças. Porque ele fica de fora. Não é consultado. Quando sabe... Já foi. Aí só resta desfiar seu conhecimento ultrapassado, com cheiro azedo, tentando provar que tudo que escapa ao seu controle é blasfêmia.VIVA A LITERATURA MARGINAL!VIVA AS TRANSGRESSÕES LIGÜISTICAS!VIVA O VIVO!

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A COLONIZAÇÃO DE ONTEM E DE HOJE

Enquanto estou relendo “AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA” (Livro de Eduardo Galeano que trata da colonização e do saque da América Latina) comparo a colonização de ontem com a de hoje. Mesmo com toda distância temporal, muitos povos ainda são submetidos a esse processo. Por terem sofrido contínua lavagem cerebral, são colocados na posição de colonizados pacíficos. Tudo parece estar dentro do normal e caminhando pelo único caminho possível. Mas existem muitos caminhos e possibilidades que não recebem a devida atenção. Isso não se dá devido a falta de inteligência ou a fraqueza, mas por causa de toda uma estrutura que nos faz acreditar que a realidade em que vivemos é a única possível.Além dos colonizadores externos e seus bandeirantes, ainda temos de suportar os ataques dos colonizadores internos. Este tipo de colonizador se divide em grupos que não medem esforços para fixar suas bandeiras e catequizar aos que, segundo a visão deles, estão precisando de orientação e esclarecimento. Um dos muitos exemplos que poderiam ser citados é a forma com que partidos políticos ou pretensos grupos revolucionários chegam a uma comunidade carente ou em um movimento social espontâneo (criado pela própria população, sem depender de doutrinas ou verdades estabelecidas) e já vão catequizando para arrebanhar.Focando nos partidos políticos, podemos comparar esse tipo de colonização interna com a antiga da seguinte forma: O político partidário X chega na comunidade carente y, encontra os moradores tradicionais desta localidade, trava contato, fixa sua bandeira partidária e troca seus espelhos e quinquilharias (atualmente representadas por churrascos ou pequenas trocas de favores) pelo bem da terra (antigamente: madeira e metais preciosos – hoje: voto). A mão de obra utilizada pelos antigos colonizadores em suas novas terras era o trabalho escravo, atualmente usam cabos eleitorais que trabalham em troca de promessas ou de pequenos favores (entre eles a aquisição de uma mixaria que não garante nenhuma mudança real em sua vida).Focando agora no outro exemplo dado (os pretensos

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revolucionários), contarei uma história que pude assistir algumas vezes em locais e datas diferentes: Em uma comunidade extremamente pobre, um grupo que dizia estar ajudando essa comunidade de forma desinteressada impunha sempre uma série de costumes que não faziam parte do cotidiano dos moradores. Entre esses costumes havia o momento de falar sobre suas ideologias salvadoras durante encontros e festividades locais. Enquanto os europeístas falavam sobre sua visão científica da sociedade, entre a infestação de baratas e o roncar de estômagos das crianças que lembravam a todo momento a realidade daquela gente, os moradores iam saindo de fininho ou se fechavam em seus próprios pensamentos (haviam muitos problemas para serem pensados enquanto aqueles garotos bem alimentados falavam em uma língua empolada sobre teorias antigas e cansativas). O evento só começava de verdade depois que essa galera ia embora. Aí os moradores iam chegando desconfiados, se certificando que aquela gente chata já tinha sumido.Certa vez, perguntei a uma senhora, que aparecia sempre depois que esses caras iam embora, onde ela estava no momento da confraternização. Ela disse que tinha um pessoal de igreja falando mais cedo e, como não gostava de igreja, ela preferiu esperar eles irem embora antes de se aproximar. O pessoal de igreja, na verdade, era um grupo “revolucionário” que, assim como a antiga igreja, dizia estar salvando a alma daquela gente pura. Aquela senhora nem fazia ideia de como sua análise da situação fora perfeita. Muitos outros exemplos de colonização interna poderiam ser dados, mas citarei apenas mais um: Certa vez estava comentando sobre a mania dos acadêmicos ficarem transformando tudo em teoria, se afastando assim do mundo real e pragmático, ficando restritos ao pequeno grupo da academia. Falei sobre os diversos movimentos sociais e culturais que surgiam de forma espontânea e sem nenhuma necessidade de guias ou condutores de massas. A pessoa com quem eu conversava questionou se eu achava que um estudioso não poderia pesquisar sobre um movimento periférico. Respondi que ele poderia pesquisar a vontade, mas que ele nunca poderia achar que sabe mais daquela cultura que as pessoas que deram forma e conteúdo a ela (ou seja, não poderia se apropriar do que não lhe pertence). Nem preciso dizer que essa pessoa, untada de teorias limitadoras, não conseguiu entender nada do que eu

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disse. O grande problema da academia é a atitude colonizadora. Ela chega, põe sua bandeira (que deve ser adorada por todos como o certo) e começa o trabalho de catequização.E por aí vai...

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POR QUE O JORNALISTA VIVE EM UMA CAMISA DE FORÇA?

Ao contrário do que muitos acreditam, o jornalista vive em uma apertada e sufocante camisa de força. Sua liberdade de escrita e de estilo é limitada ao máximo pelas empresas de comunicação. Um jornalista não pode ter visão diferente do veículo que o contrata. Ele vive sob uma ditadura ideológica sem precedentes.A imparcialidade é uma utopia, já que tem de prevalecer sempre a linha editorial. O que é linha editorial? É o que pensa o dono do veículo, é a regra do jogo, é como a coisa deve funcionar. Os editores ficam responsáveis, entre outras coisas, para que tudo funcione como eles querem. Como escapar dessa violenta repressão? Buscando caminhos alternativos, que não sejam a servidão aos grandes veículos de comunicação. O máximo que pode acontecer é dizerem que seu trabalho não é jornalismo por não estar enquadrado no padrão.E quem são esses sábios que ditam o que vem e o que não vem a ser jornalismo? Nós precisamos de suas opiniões? Temos de segui-las? E se eu quiser fazer diferente? E se eu fizer? Serei lançado ao inferno por causa disso? Existem diversos tipos de caminhos para a resistência a esse engessamento da notícia, que não garante de forma alguma a tão comentada imparcialidade. O jornalismo comunitário é um exemplo disso. Nele, os próprios moradores locais fazem o papel da mídia, usando sua linguagem e atitude. O blog também vem sendo um importante meio de resistência contra os hitlers da imprensa. Em comparação com os sites, eles são os fanzines da internet.Então qual a função dessa matéria? Muitas ou nenhuma. Mas nenhuma não pode? Quem disse que não pode? Mas aí não teria sentido. Mas quem disse que tem de fazer sentido? Tudo bem. Então supondo que tenha um... Qual seria? Talvez... Pense sobre as verdades. Aprenda a questionar. Resista. Ou quem sabe... Não veja a imprensa oficial e suas normas como a única forma de se informar ou produzir informações.Leia, estude, pense – Não deixe que pensem por você

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CONCEITOS E PRECONCEITOS

Dia desses estava entrando em um dos botequins que costumo frequentar (Botequim de verdade. Como gosto.) e encontrei com uma figura que morava nas redondezas. Como manda as boas maneiras, convidei para tomar uma no balcão (O melhor lugar do bom boteco. - Se bem que, com a nova lei que pesa sobre os fumantes, tenho preferido o lado de fora). A triste figura torceu o nariz e disse que eu era maluco. Meteu a mão na boca e perguntou se eu costumava beber no meio daquele monte de gente e se eu usava o mesmo copo que todo mundo. Como se não bastasse, me disse que se ele frequentasse esse tipo de lugar, traria sempre um copo dentro da bolsa para não beber no mesmo que os outros.Dia desses saiu uma briga em um bar. Não sei bem como se iniciou o caso, mas não creio que isso tenha alguma importância. O relevante é que saíram surrando um cara que acabou por cair de cabeça no meio fio. Um dos agressores veio correndo de dentro do estabelecimento e deu um chute na cabeça do cara que estava caído. Foi um verdadeiro pandemônio. Mesas voaram, garrafas e copos quebrando por todo o lado e a companheira do surrado gritando para que parassem de bater nele. Como se não bastasse o triste da situação por si só, os agressores retornaram ao bar e ficaram comentando o quanto tinham batido no pobre diabo (que sumiu na primeira piscadela de olhos que o pessoal deu. Como ele conseguiu ser tão ágil naquele estado eu não sei, mas teve gente que garante ter o visto dar um pinote e sair a mil, com a cabeça arrebentada). Eles comentavam como se fossem verdadeiros super heróis. Se sentindo muito homens por serem brutos.A princípio gostaria de destacar que no primeiro caso eu estava em um botequim clássico, no meio do povo e tudo o mais que apavorou a figura citada. O segundo caso ocorreu em um bar, com garçons... essas coisas... (parei lá, por força das circunstâncias). Com certeza, a figura da primeira história estaria se sentindo muito mais segura no segundo ponto, onde se deu o espancamento. Mais um dado importante, é que nunca vi uma briga no citado boteco, já no barzinho... de vez enquanto a playboizada se estranha.Agora ser ia adequado imaginarmos o porque desse comportamento agressivo e o porque desse pânico frente a possibilidade de se misturar com pessoas de pouco poder

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aquisitivo. Parecem ser dois assuntos muito diferentes para serem tratados no mesmo espaço. Puro engano. Todas essas atitudes lamentáveis têm origem nos conceitos e preconceitos que nos são impostos desde criança. Desde a lembrança mais longínqua que tenho, recordo sempre de algum comentário do tipo: “Deixa de criolice! Parece favelado!” E tem aqueles assim: “Eu não sou racista, não! Tenho até amigo preto! Mas é um preto educado, né... Preto com alma de branco.” Se a pessoa não tiver um mínimo de senso crítico, ela começa a temer essa gente rotulada tão pejorativamente. Fico feliz por ter percebido cedo (mal chegando a adolescência) que tinha algo de muito errado nos tais valores morais da família tradicional. A tradição era ser estúpido. Ser preconceituoso. Não queria esse tipo de tradição. Isso sempre me soou como merda batendo no vaso.É hora de rompermos essas velhas tradições que não servem para nada além de produzir trogloditas problemáticos ou pessoas com medo de viver. Vamos romper as amarras e parar de fingir que no B r a s i l n ã o e x i s t e p r e c o n c e i t o .Ah... Sim... A violência presenciada, dessa vez, não foi causada por nenhum tipo de preconceito, com certeza algum desentendimento entre pessoas que ainda não aprenderam a conversar, mas ela é incentivada pelos conceitos tradicionais que nosso papai e nossa mamãe costumam ensinar. Conceitos que nos ensinam que para sermos homens temos de ter pau grande e meter a porrada em qualquer um que nos olhar de cara feia. Lamentável. E olha que isso é só parte do problema. Esses conceitos e preconceitos são responsáveis por muito de nosso caos. A ideia de sempre se dar bem, de que bonito é apenas o modelo de homem e mulher europeu ou norte americano... E por aí vai. Vamos acordar e colocar a cabeça para funcionar enquanto ainda é tempo. Não é a classe social ou o biotipo que determina nosso caráter, mas as atitudes e escolhas que fazemos durante a vida.Pense nisso.Reflita.

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PQP

Nove horas de trabalho por dia, pouco mais que um salário ao mês. Muito tempo de vida vendido à muito pouco. Sei que tem gente que não vai entender. Gente que prefere discutir sobre o Justim Biber (até hoje não tive curiosidade de aprender a escrever o nome desse menino. Deve ser assim.). Muita gente chorando pelo cara do computador (alguma coisa Jobs, Jobis ou Jobes... Sei lá... Não importa). Será que com tanta tecnologia e grana em volta, ele reduziu o tempo de trabalho e aumentou o salário dos funcionários? Será que contribuiu para diminuir o abismo social? Nove horas por dia é muito suor vendido a preço de banana. Se bem que a banana nem tá mais barata. Não para mim. Só como banana quando nasce na casa do vizinho. Nove horas de trabalho com mais duas indo e vindo são 11 horas perdidas todo o dia a troco de dinheiro. Pouco dinheiro. Muito pouco. Será que vale a pena? Eu nem fazia questão do dinheiro. O mais importante é o tempo de vida desperdiçado. Tanta coisa eu podia tá fazendo. Tanta coisa para fazer. Tanta gente preocupada com o Rafinha Bastos. Um senhor que mora na calçada em baixo do meu prédio está sumido há algumas semanas e não está fazendo falta. Ele não trabalhava nove horas e nem tinha salário. Será que estava satisfeito? Será que estão me fazendo um favor? Acho que não. Afinal, são nove horas do nosso dia por apenas pouco mais que um salário uma vez ao mês. Eles dizem que uma hora é para meu almoço. Dizem que são apenas oito horas de trabalho por dia. Puta que o pariu.

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REFLEXÕES E QUESTIONAMENTOS

Como assim liberdade total? É possível existir liberdade parcial? Acredito que não. Ninguém é meio livre. Ou se é livre, ou não. Liberdade é um estado total. É um estado pleno.

A verdadeira evolução não está na prateleira do supermercado.

O importante não é apresentar respostas, mas levar a reflexão e ao questionamento. Embora as respostas sejam mais cômodas, não costumam acrescentar tanto quanto o mundo reflexivo. Esse mundo leva a certas respostas, que também são dignas de outras reflexões e questionamentos, em um exercício contínuo de crescimento.

Bem, pelo menos é o que digo hoje. De repente amanhã já refleti e cheguei a outra conclusão e depois de amanhã... Enfim...

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TÁ DIFÍCIL

Por vezes acho que estou sendo muito radical e ligo a Tv para ver o que está passando. Liguei o aparelho e vim adiantar minhas atividades para sair e interagir com o mundo. Escutei o final do noticiário matinal enquanto estava envolvido em meus afazeres. Não prestei muita atenção. Na sequência, começou um programa daqueles - nem vou falar o nome para não dar ibope. Pensei em desligar, mas não queria interromper a leitura de um e-mail interessante sobre a situação indígena. Em tom de esclarecimento, a apresentadora começou a descrever São Pedro como um cara de barbas brancas que fica com as chaves do céu... “E quando morrermos, ele que vai abrir os portões... E quando chove é porque ele está lavando o céu...” Meu ouvido não é penico e não tenho tempo para besteirol. Pulei da cadeira e troquei de canal. Parei em algum noticiário e voltei para o computador. Primeira matéria que pego pela frente: A mulher que tem os cabelos compridos, até os pés. Não é possível. Será que não está acontecendo nada relevante no mundo? Será que esses caras que têm os grandes veículos nas mãos, não percebem que o mundo está muito ruim e que informação de qualidade, cultura, conhecimento - Tudo isso - pode ser de alguma ajuda? Como se não bastasse mostrar uma matéria como esta, ainda mostra da forma mais boçal possível. Ao invés de valorizar as opções e individualidades de cada um, o repórter já começa a matéria com a seguinte pergunta: “Porque você decidiu ficar assim?” Não dá! Desisto! Desliguei esse centro emissor de inutilidades e vim escrever minha reflexão do dia. O interessante é que sempre lembro dos mais velhos dizendo durante minha infância e adolescência que um dia eu veria que o mundo não é bem assim como eu penso e tal... Só que acontece um fenômeno oposto. Quanto mais eu vivo, maior certeza tenho de que tudo é exatamente assim, como eu penso. E eu que preferia estar errado.

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FÓRMULAS PREVIAMENTE ESTABELECIDAS DESTROEM A

VERDADE

Você acha que o jornalismo está realmente ligado à verdade? Você acredita na imparcialidade e na ética jornalística? Então vou te contar um segredinho: O jornalismo tem um só compromisso. Com um sistema medíocre e preestabelecido que teoricamente purifica a verdade, mas que, na prática, impõe tanto ruído a essa verdade que a transforma em um espectro frágil do que realmente é.O sujeito já começa tendo que se submeter a uma linha editorial. Ou seja: nossa visão é essa. Você nunca pode olhar para outro lado, porque só olhamos para aqui. Dando continuidade a isso, vem uma doutrina onde o repórter deve se comportar de um jeito x. Seus movimentos, gestos e falas são minuciosamente regulados. O indivíduo se torna um boneco, abrindo mão de toda a humanidade que possui. Ele não pode ser humano e nem pode humanizar o alvo de sua reportagem. Parece ridículo, mas muitas vezes o repórter conversa com o entrevistado sobre a matéria antes da entrevista. Explica o que pretende, como serão as perguntas e alguns chegam a orientar a resposta. “Não dizemos o que ele deve responder, mas não tem nada de mais mostrar a melhor forma das coisas serem ditas. Isso é normal.” Ouvi da boca de um colega jornalista. Um sujeito que vive vomitando a ética do jornalismo.Como podemos facilmente observar, nada disso tem haver com verdade. Nem ao menos com um recorte da realidade. Isso tem a ver com pessoas cegas e sem atitude seguindo uma doutrina que já está podre e mofada, que pede para ressuscitar, para respirar... para se banhar na fonte da juventude e automaticamente se renovar. Uma doutrina mantida pelos inimigos da verdade, da informação e da criatividade.Por isso prefiro a contramão. É o caminho em que acredito. É a reposta que afronta a todo esse padrão que estupra a verdadeira ética profissional e humana. A contramão é. Saúdo aos que fizeram e fazem a diferença por sua visão única do jornalismo. Saúdo também aos que morreram na sarjeta, por não serem admitidos

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TECLAS DO PIANO

Uma tecla em que sempre bato é afirmar que quanto mais eu vivo, maior minha certeza de que o mundo é exatamente do jeito que penso. Cada engrenagem social, o ser humano descaralhando tudo, a mentira e a hipocrisia se fundindo em uma única massa disforme, incolor e inodora... Tudo arrastando tudo para o buraco. Escuridão total sendo iluminada por alguns vagalumes zonzos. A insanidade se apossando de mentes vazias. Muita mosca para pouca bosta. Senso comum, preconceito, guerras, sabedoria destrutiva... Tudo imerdalhando tudo. Talvez, a passagem que melhor ilustre o que estou tentando explicar, seja quando fazia vendas na porta de um shopping Center (Já fiz muita merda na vida para tentar tirar um trocado. Deprimente!). Tínhamos sempre de participar de reuniões enlouquecidas na sede da empresa, onde aprendíamos princípios bizarros, como por exemplo: “Nossos clientes compram nossos produtos, não por precisarem deles, mas porque nós entendemos suas necessidades.” Um jargão muito usado entre os supervisores era: “Sou muito legal, mas não mete a mão no meu bolso que eu viro bicho”. E repetiam isso como se fosse a maior sabedoria que se possa ter. Falavam quando alguém vendia pouco e diminuía o lucro deles, falavam quando algum vendedor cometia um erro, quando... Sempre tinham alguma ocasião para demonstrar o suprassumo de sua intelectualidade. Liam livros de auto ajuda, cresciam o olho na venda dos outros, eram falsos em tempo integral. Gostavam de fazer assalariados saírem endividados de suas mesas. “Sempre que o cliente sentar na mesa, bata um papo e junte o maior número de informações possíveis sobre ele, para quando a venda realmente começar, utilizarmos tudo que ele nos contou de sua vida contra ele e a favor da venda” Me orientou o mais experiente. Um povo assustador. Era uma escola do mau. Sem entender nada do que estava fazendo, consegui fazer algumas vendas apenas com meia dúzia de técnicas que aprendi. Devia ter ficado com aquela apostila para poder escanear e expor aqui. Eles já não deixam você levar por isso mesmo. Se vazar, o consumidor terá a prova cabal de que está sendo manipulado e o encanto pode se quebrar. O consumidor não teria mais como mentir para si mesmo.

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Não suportei fazer aquilo por muito tempo e logo estava metido em novas dificuldades financeiras. Um ciclo que até hoje não se quebrou devido a minha dificuldade em ser mais uma parte dessa máquina de moer carne que chamamos de sociedade.

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PREOCUPANTE

Para início de conversa, de onde veio a ideia de que a religião pode barganhar e pressionar o Estado, ignorando o que todas as outras vertentes que circulam pela humanidade tem a dizer sobre o assunto? Eles estão querendo ter poder de decisão sobre assuntos que desconhecem. O aborto, por exemplo, diz respeito a área de saúde pública e os religiosos, com seu misticismo inconsistente, vivem pressionando para que nem ao menos seja discutido de forma clara e científica. Isso deve ser debatido por toda sociedade, não podendo ser tomada uma decisão baseada na opinião de quem está levando em conta apenas uma questão de fé. Existe a liberdade de acreditar, assim como a de não acreditar. Isso é uma questão pessoal, que não pode, de forma alguma, interferir na vida da maioria, nem da minoria. Eu me julgo no direito de não crer em teorias cristãs para dizer o que devo e não devo fazer. Estou no meu direito.

O Estado e a religião não pode ser um.A liberdade religiosa só tem algum valor se a liberdade de escolha vier antes. A verdade de uma parcela, nunca pode se impor sobre o todo. Sempre que alguma religião esteve a cima do povo (mais especificamente ao lado do Estado) as coisas ficaram para lá de bizarras. Quem pode ignorar o terror vivido na idade média, quando o catolicismo estava ao lado da elite, dominando um povo desprovido de tudo. E o que acontece até hoje, em locais onde a lei baseada em vertentes religiosas fanáticas, comete arbitrariedades impressionantes? E as guerras religiosas?

E agora?O mínimo que se pode esperar é que as coisas sejam colocadas em seus devidos lugares. Um médico não pode celebrar uma missa, assim como um papa não pode determinar a importância da camisinha. O presidente não está preparado para celebrar um culto, assim como o pastor não está preparado para administrar um assunto de ordem legal, que diz respeito a todos em um país tão diversificado quanto o nosso. Se vivemos na democracia, ninguém pode determinar nada. Tudo tem de ser discutido e resolvido da forma mais democrática possível. Ou a democracia só existe na

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hora de votar? Se resume nisso? É o que parece.Uma pessoa tem o direito de não ser do Povo de Deus e ser dignamente representada. Contrariando o que é dito por alguns, acredito que a religião não deve ser determinante na hora de se tomar decisões que fogem aos seus limites. Não podemos admitir que certos seguimentos imponham sua visão como verdade. Se eles acham que descobriram a verdade, não venham me oprimir com ela, pois eu discordo e tenho esse direito.

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CONTROLE E SUBMISSÃO

É muito comum vermos pessoas dizendo que qualquer um pode estudar e trabalhar o suficiente para melhorar sua realidade financeira. Mas isso não é verdade. Não há vagas para todos neste céu. Existe certo cuidado para sabotar os indesejados e manter os que já estão lá. Afinal, para haver rico, tem de haver pobre. Por isso, tudo é feito para gerar a desigualdade necessária para a manutenção das coisas como estão. Você duvida? Então imagine um magnata desentupindo o esgoto de sua mansão, lavando e costurando a própria roupa e cozinhando a comida que vai lhe servir de alimento. Difícil imaginar, né?Acreditar em igualdade de oportunidades em uma sociedade onde as diferenças entre os serviços prestados aos que podem e aos que não podem pagar saltam aos olhos, não parece lógico. É claro que, de vez enquanto, conseguimos encontrar um que driblou a sabotagem infligida por um Estado que zela pelos interesses dos grandes empresários, latifundiários.... e quem mais tem o poder da grana. Esse, que consegue driblar as barreiras impostas e se adapta as regras do jogo, é usado como grande exemplo de que todos têm oportunidades. Mas ficam perguntas: E todos os outros que ficaram pelo caminho? E os que não conseguem se adaptar as opções existentes? Esses são a maioria.Essa maioria, que não tem uma alimentação decente, uma educação que mereça esse nome, um sistema de saúde confiável... ou seja, uma base sólida para garantir seu crescimento humano e social, será atirada a margem e se transformará em mão de obra barata para trabalhar em qualquer serviço que apareça. Faz parte do plano social existir essa maioria carente. Uma maioria ludibriada, que passa a vida correndo atrás da miragem: Conseguir ter acesso ao mundo dos ricos. Ser mais um bem sucedido financeiramente. Mas o dinheiro nunca é suficiente e as necessidades não param de ser criadas. E o cidadão comum tem de trabalhar cada vez mais, tendo cada vez menos tempo para pensar e refletir. A vida perde o sentido e vira apenas uma corrida insana e infinita atrás de mais dinheiro para poder comprar tudo o que lhe garante o status de cidadão bem sucedido. O trabalho assalariado assume um caráter alienante. A tecnologia, que deveria ser usada para trazer bem estar a todos, é utilizada pelos que a domina para

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reduzir as vagas de emprego, jogando mais trabalhadores ao desamparo e os distanciando mais do paraíso econômico, aumentando assim o exército de mão de obra reserva. O povo, acusado de ignorante, é transformado nessa criatura desinformada e acuada no decorrer de sua vida. E caso alguns elementos se revoltem, são duramente reprimidos para que voltem a sua rotina de submissão. Os meios de comunicação de massa (Mídia) são poderosas ferramentas utilizadas pelos que estão satisfeitos com a situação para ocuparem o pouco tempo que sobra aos trabalhadores. Os donos dos canais de televisão, por exemplo, são ricos empresários que colocam na programação de suas emissoras mensagens alienantes, repletas de informações distorcidas, que reforçam as grades desta prisão. Ao chegar de um dia cansativo de trabalho, o cidadão comum senta na frente da tv e absorve todos os conceitos que são passados pela tela luminosa. São inúmeros métodos utilizados pela elite dominante para controlar a população. Poderíamos citar ainda o medo, a discórdia e o comodismo como armas dessa elite. Enquanto a grande maioria explorada aceitar e desejar fazer parte deste sistema, não passará de engrenagens. A partir do momento em que perceberem que podem caminhar rumo a uma nova realidade, um mundo diferente será possível. Basta pararmos de caminhar rumo ao egoísmo e a destruição e priorizarmos a solidariedade e a igualdade de oportunidades e direitos. As mudanças estão em nossas mãos. Vamos a luta.

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CRÍTICA A CULTURA DE MASSA

No final da década de setenta, o progresso tecnológico, unido a ideia de meios de comunicação como produtores da cultura de massa, fortaleceu o que Adorno e Horkheimer chamariam de indústria cultural. Um sistema de produção em série, que estudiosos tratariam como antiarte. Houve mudanças na ordem da quantidade e da qualidade nos processos de produção, diminuindo a variação e autenticidade de diversos produtos. Isso se aplicou também na produção da informação, bombardeando e atordoando as pessoas com uma verdadeira avalanche informativa que viria a alterar seu comportamento, fazendo aparecer efeitos sociais. O poder econômico reduziu a exploração direta, substituindo gradativamente esta por uma sutil exploração psicológica, em grande parte conseguida pela propaganda, já que o anunciante é a principal fonte de renda desses meios de comunicação. Esses anunciantes, grandes firmas e empresas que fazem parte de nosso sistema econômico, recebem o retorno não só através do anúncio, mas também vê a contribuição dada pela mídia para a manutenção do sistema. Sistema este que favorece aos anunciantes. Os meios de comunicação de massa selecionam então o que vai e o que não vai ser dito. Poucos textos rebeldes se encontram perdidos em meio aos inúmeros textos conformistas que nos assolam. Mesmo os telejornais, tidos como verdades indiscutíveis, fazem parte deste processo, mostrando recortes da realidade de forma tendenciosa, dando ênfase ao assunto e a determinado ponto deste que mais lhe for conveniente. E o pior de tudo: Como se fosse a verdade, a vida, o fato ocorrido, exatamente dessa maneira, sem tirar nem por. Os chamados mass media (termo que designa os meios de comunicação de massa) conseguiram tal prestigio em nossa sociedade, que podem favorecer ou até prejudicar um candidato político ou posição social de uma pessoa, por exemplo, apenas com seu testemunho. O ex-presidente Fernando Collor de Melo foi uma indicação disso. Uma indicação que mesmo em nosso tempo, ainda somos controlados por esses meios, e ousaria dizer que cada vez mais. Não que ele fosse o melhor dos presidentes... Mas o por que de esperar o interesse da mídia em se livrar dele para podermos nos mexer? Onde está nossa autonomia e nosso senso crítico? Esse

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poder também é utilizado para reafirmar normas sociais e fazer cair as que forem consideradas, por eles, desnecessárias. Criam estereótipos que fazem as pessoas se acostumarem com uma forma de pensar em que tudo já está previamente estabelecido. O bem e o mal, o belo e o feio e todos os conceitos imagináveis se encaixam em modelos fixos. Como o mau deve ser, como o bem age... A mobilidade humana sobre essas condições é nenhuma ou quase nenhuma. Só de olhar a primeira vez já se pode deduzir como é aquele personagem e a que lado ele pertence. A mensagem é de fácil assimilação, criando um certo bloqueio contra tudo que exigir o mínimo de esforço intelectual e reprimindo, com a ajuda dos já citados estereótipos, a criatividade humana. Aí podemos entender o porque de serem considerados antiarte, já que arte é uma atividade altamente criativa e que exige o mínimo esforço intelectual.A mídia não gosta de correr riscos e quando corre são calculados. O produto não pode encalhar. A possível rejeição se confunde com possível prejuízo. Os anunciantes não podem perder. Caso ocorra, ela, conseqüentemente, perde. Mesmo com ares de novidade, o novo para os mass media é o velho com roupagens novas. O ultrapassado estaria travestido de última moda. Quando algo que não foi tentado ainda na grande mídia chega ao público dependente, com certeza já foi testado em outro meio. Foi retirado de algum lugar. Sempre é algo que já foi assimilado pelas pessoas. Usurpado de seus verdadeiros criadores. O nivelamento da programação através de uma média de gosto que vise alcançar o maior número de espectadores na televisão, por exemplo, ameaça os padrões culturais populares, podendo levá-los a um declínio rumo a deterioração completa. Quando a cultura popular alcança algum desses meios, ela já deixou de ser cultura popular. Ela se torna um produto, embalado e preparado para o consumo. É venda certa, testada e aprovada por uma equipe determinada de especialistas no assunto. A falsa sensação de liberdade de escolha também é facilmente observada pelos vários canais que passam programas idênticos, ou pelo menos similares. Pode-se ver isso claramente em uma tarde de domingo. Os principais canais expõem programas de auditório de conteúdo banal e sem propósito. Nas rádios isso também é de fácil compreensão. A escolha entre Banda Calipso e É o Tcham não representa realmente uma escolha.

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Nossa ascensão cultural e intelectual depende unicamente de nós e de nossa independência desses meios nocivos que são apresentados no cotidiano. A sociedade de consumo em que vivemos está na contramão de uma sociedade mais justa, em que o espírito humano se desenvolva rumo a uma verdadeira evolução benéfica, que nos proporcionará mudanças realmente significativas. A qualidade de vida começa no interior. Apenas depois de se solidificar se exterioriza.

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PENSAMENTOS DE TRINCHEIRA

Quando vejo alguém citando frases feitas e repetindo fórmulas desgastadas, penso sobre o bundamolismo e a falta de atitude dessa galera. Tudo isso que está por aí é muito interessante de se conhecer e pensar a respeito, mas devemos ter o mínimo de criatividade. Pensar nossa própria forma de ver o mundo e trocar as certezas pelas dúvidas seria um bom começo.

Quanta gente a procura de um guru que indique o caminho para a felicidade, um modelo a seguir. Alguém que tenha todas as respostas e que ajude a compreender os mistérios da vida. Quanto trouxa pedindo para ser enganado.

Dizem que criticar é fácil. Eu não acho. Fazer críticas construtivas e consistentes depende de certo grau de percepção, reflexão e coragem. Se acomodar, dizer que o mundo é assim mesmo e que nada adianta é muito mais fácil.

O medo é o que te mantém paralisado no seu mundinho ilusório. Você tem medo de tudo. Tem medo de sair, de ficar até tarde na rua, de discordar, de falar o que pensa, de virar a mesa, de se misturar com a multidão, de errar, de acertar, de se recusar, de dizer não, de transgredir... Você tem medo de viver.

Se apegar a um niilismo inofensivo, ou a um “não me importo” cômodo, aparenta ser a maneira mais fácil de viver, mas não esconde a covardia de quem prefere se ocultar a sair e lutar por um mundo melhor. Não acreditar em uma nova realidade é se deixar levar pela maré. Não tentar mudar o mundo é aceitar o nada que lhe é imposto. Um mundo diferente é possível. Não se esconda atrás da máscara do isolamento. Não seja mais um parasita.

Morrer não tem nada de mais. Todo mundo morre. Agora, viver é outro papo. É o que acontece entre o nascimento e a morte que difere os homens. Precisamos ter coragem para viver de forma íntegra nessa sociedade corrompida. Depois da morte? Sobre isso nada sei, nem me interesso. Tenho assuntos mais importantes para

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tratar. A pior justificativa é aquela que você inventa para explicar algo que sabe não estar certo. Mas o que é estar certo? Aí é de cada um.

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CAUSOS DA VIDA, RELEMBRANDO OU PASSAGENS

Já fiz muita merda para arrumar uns trocados, sustentar a família e minhas ideias. Com certeza, umas das piores lembranças são de quando permiti a aproximação de políticos partidários, tentando conseguir apoio para projetos sociais e culturais que desenvolvia de forma independente. Era muito desgastante. Tentei várias siglas, mas todas se mostraram exatamente iguais quando a corda apertava o pescoço. Chegavam mansinhos, dizendo gostar da idéia e coisa e tal... Quando iam dar a grana, o apoio a cultura e ao social ia por água abaixo e começava a contrapartida. Foi uma das muitas oportunidades que tive de confirmar que tudo funciona exatamente como penso. E ficava lembrando os mais velhos dizendo quando eu era adolescente: “Um dia você vai ver que não é bem assim que o mundo funciona”. Como queria que estivessem certos. Cheguei a recusar grana de um cara tendo a luz da minha casa cortada por falta de pagamento. E isso tudo não era porque desejava ser santo. Nunca tive vocação para santidade. Foi apenas minha escolha. Fiz o que tinha de fazer. Não quis participar desse mundo podre. Até hoje não me arrependi.

Muito tempo depois de entender que não tinha temperamento para trabalhar com essas figuras, estava no supermercado e avistei o assessor de um desses caras. Entrei pelo corredor dos enlatados para não ter o desprazer do encontro. Passei no caixa, paguei as compras e saí do mercado. Pronto. Estava salvo. Ao respirar aliviado, senti a mão no meu ombro. - E aí? Viu a vitória que tivemos nas últimas eleições? Não quis caminhar com a gente...- Vitória? Ganhar as eleições quando se tem dinheiro para campanha não é o mais difícil. Eu quero ver agora.- Agora está tudo bem. Tá todo mundo tranquilo. - Tranquilo? Como assim tranquilo? Os desabrigados das últimas chuvas continuam sem solução para seus problemas, quem produz cultura na cidade tá fudido, a especulação imobiliária continua ganhando dinheiro sem dar nada em troca pelo lugar que a enriquece, muito pelo contrário...

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Ele começou a olhar com cara de quem não entendia nada do que eu estava falando. - Se você estivesse com a gente, ia estar tranquilo também.- É realmente lamentável que alguém na sua idade possa achar que está tudo bem em viver pendurado no saco de político. Sabendo que esses caras estão ganhando dinheiro às custas do sofrimento alheio. Se eu fosse você, teria vergonha de vir falar que está tudo tranquilo.Virei a esquina e segui caminho. Ele ficou lá, olhando para os lados, sem saber para onde ir.

Quando estava produzindo o Comunidade Editoria e o Impresso das Comunidades, era recebido com desconfiança nas primeiras visitas em certas comunidades. O pessoal já estava escaldado e perguntava logo se eu havia sido enviado por algum político ou instituição. Explicava que não era nada disso e que estava fazendo algo que simplesmente gostava, da maneira que achava certo. Aí que a desconfiança aumentava. Depois de muita pergunta e de ver que eu não tirava nenhuma vantagem política ou financeira com a iniciativa, vinha a pergunta:- Então, por que você faz isso?Realmente era difícil explicar que estava exercendo minha profissão de jornalista da forma que eu acreditava. As pessoas estão condicionadas a só fazerem algo que lhe proporcione vantagem material e não conseguem ter a mínima percepção que podemos ter muito mais que isso. OBS: Antes que alguém pense que eu estava nadando em dinheiro e que isso era apenas hobby, aviso que, nessa época, estava tão duro quanto hoje. Fazia esse trabalho com toda dedicação e compromisso. Descobri no trabalho alternativo/independente um sentido para a vida. Algo muito mais consistente do que a maioria adota como realidade e necessidade.

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AS PRAGAS QUE ASSOLAM A HUMANIDADE

Partidos políticosAparentemente algo positivo. Dá-nos a sensação de que temos escolha na hora de votar. Mas, quando analisamos suas práticas, constatamos que a diferença entre eles é nenhuma ou muito pouca. Quanto mais o tempo passa, se acentua esta característica. A esquerda vai ficando mais de direita e a direita continua de direita.Sindicatos patronaisComo todas as pragas, tem a capacidade de iludir quem está desprevenido. Quem escuta seu discurso se engana, mas na hora do vamos ver a praga sempre se satisfaz com o pouco que é oferecido a sua categoria. Uma característica marcante é o conformismo com que tentam untar seus associados.

Boy bandIsso é praga pura. Assim como os piores tipos, a boy band costuma ter diversos formatos de acordo com a época. É um vírus mutante. Atualmente tentam parecer bandas de rock, mas quem está prevenido não se engana. Uma das principais características deste tipo de praga é a cara de seus integrantes. Tudo lisinho, igual a bumbum de bebê. Coisa assustadora de ver.S u b m i s s ã oQuem está submisso a praga da submissão é feliz em ser infeliz. As características mudam de acordo com o tipo de submissão. Muitos dos que se acham inteligentes estão submissos a conceitos Europeus e Norte Americanos ultrapassados, deixando de lado o desenvolvimento de ideias próprias e de acordo com sua realidade.

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COLONIZAÇÃO PELA MÍDIA.

A mídia e seus paradigmas impostos vão alterando a cultura e os costumes dos povos através de sua constante lavagem cerebral. Isso faz o belo e o correto serem únicos em toda parte, independente da cultura local ou opinião pessoal. Pegando um jovem estadunidense, japonês ou brasileiro, podemos averiguar hábitos e inclinações bem semelhantes. A moda dos EUA, implantada, entre outras formas, através das superproduções hollywodianas, vai uniformizando a tudo e a todos. Quantas brasileiras abusaram do implante de silicone para ficar como americanas estereotipadas, apresentadas nas telas como loiras fatais? Isso nos lembra também os cabelos loiros nas cabeças de nossas morenas. Sem falar na questão: Será que todas as americanas são assim? Todas clones da Marilyn Monroe? É obvio que não. Mas é assim que são apresentadas. Uma nação clonada do que é tido como perfeição pelos donos da verdade e do bom gosto. E a rebeldia? É fácil ser rebelde hoje em dia. Basta comprar uma camisa do Che no shopping. Tudo sendo sugado pelo grande monstro moedor de cérebros. A fruta típica não faz um suco tão vendido quanto a Coca-Cola, assim como a menina da escola nunca será tão bela quanto a capa da Playboy. A Playboy é um tipo diferente de imposição midiática. Mulheres que não tem e nunca terão rugas ou celulites. Imagina uma pessoa se punindo até conseguir ser como alguém que não existe. Só para atingir o que é tido como beleza pela mídia capitalista e seus terríveis manipuladores.

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ACORDA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

É lamentável vermos movimentos sociais com um passado sólido e de conquistas relevantes perdendo o foco. A luta por igualdade e mudanças reais está sendo substituída por uma luta míope por pequenos privilégios. Uns dos responsáveis por esta lástima, são os que permitiram a entrada de agentes da política partidária nesses movimentos. A sorte é que existem movimentos sérios que ainda não perderam o foco. Resistência! As verdadeiras conquistas não serão dadas por nenhum governo, mas conquistadas com a luta popular. Como podemos observar por toda a história, foi sempre assim. O Estado nunca presenteou o povo com nenhuma mudança significativa. O certo é mais difícil de fazer e talvez até demore um pouco mais para se conseguir, mas, ainda assim, é o certo. Nada pode substituir. Não se venda por pouco e não se deixe levar. "É melhor a ausência de luz do que uma luz trêmula e incerta, servindo apenas para extraviar aqueles que a seguem""Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: O governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso n ã o c o n h e c e a n a t u r e z a h u m a n a . ""Quem quer, não a liberdade, mas o Estado, não deve brincar de R e v o l u ç ã o " Bakunin

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MOMENTOS E ARGUMENTOS

Estava tomando uma cerveja entre amigos e no meio da conversa veio o papo sobre a inexistência de Deus. Expliquei que não pensava mais nisso por acreditar que existam coisas mais urgentes para se discutir. Se existe ou não vida após a morte, Deus e todo o resto, eu descobriria depois que morresse.- Mas isso tem de ser discutido. - Disse um.- Por que deveria perder meu tempo com isso? A fé não é uma questão racional. Você nunca irá conseguir argumentar ou racionalizar com uma pessoa que tenha fé. Ela simplesmente acredita e pronto. Não vai deixar de acreditar porque você está dizendo o contrário. - Respondi.- Mas a fé dessa pessoa afeta minha vida. - Disse outro.- O que afeta sua vida não é o fato da pessoa acreditar em Deus, Saci Pererê ou extra terrestres. O que afeta sua vida é o Estado estar submisso a certas instituições religiosas e deixar que elas influenciem nas decisões que dizem respeito a todos. Trocar essa imposição de crer pela de não crer é apenas trocar as posições no tabuleiro. Não muda nada. O respeito as diferenças é a base para mudanças reais. Que creiam os que preferem crer e que neguem os que preferem negar. Para mim, tanto faz.

Uma garota entrou no bar festejando a proibição da burca na França. Dizia que agora as mulheres estariam livres. Perguntei se ela estava consciente do movimento de resistência cultural de algumas mulheres que não querem deixar de usar a burca.- Elas estão encarando essa medida como uma opressão a seus costumes. Lógico que ela quis impor sua visão e suas certezas pré concebidas, mas acredito que deveria haver opção. Quem quiser usar burca, que use, quem não quiser, não use. Ou o governo vai querer se meter até na roupa que nós usamos? Coisa que não quero nunca é ser obrigado a me libertar. Se é obrigado, não é liberdade.

- Se uma pessoa falar da Dilma, estará falando de todas as mulheres. Ela nos representa.Olhei para a senhora que me disse tal disparate e tentei explicar que cada ser é único, não importando se mulher ou homem. Uma

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mulher nunca irá representar o interesse de todas. Citei o exemplo do Obama. Ela disse que o Obama era um representante do povo negro.- Você realmente acredita que Obama representa um negro do Gueto? Você realmente acredita que ele prioriza os interesses dos negros pobres? Você acha sequer que ele sabe do que um negro pobre precisa, pensa, ou sente?- Mas essas pessoas são símbolos. Elas são importantes para o povo se identificar.- Pois é. A elite percebeu essa necessidade no povo e não quer outra vida. No mundo todo podemos ver cada vez mais governantes com cara de povo e atitude de elite. Quando o povo aprender a ser mais iconoclasta, a coisa vai andar melhor.

Certa vez, um cara me ouviu tecer algumas críticas sobre a esquerda e veio acusando:- Você é de direita!Achei engraçada a colocação. Afinal, ele não me conhecia. Disse que, definitivamente, não era de direita.- Então você é daqueles que ficam em cima do muro! É centro!Dei uma golada na cachaça, olhei bem no fundo dos olhos dele e disse:- Com toda diversidade humana que existe, você realmente acredita que pode agrupar todos em direita, esquerda e centro? Essas três opções são o máximo que você pode enxergar?

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UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL. BASTA OLHARMOS EM VOLTA COM

NOSSOS PRÓPRIOS OLHOS.

Assim como os marxistas acreditam que tudo que está acontecendo já havia sido previsto por Marx, os cristãos acreditam que está tudo de acordo com a bíblia, os anarquistas acreditam que tudo já havia sido falado por antigos anarquistas, os seguidores de Nostradamus acreditam que está tudo nas profecias de Nostradamus, os capitalistas acreditam, apesar de todo o caos vigente, que o mundo está progredindo e que todos têm oportunidades (Dizem que basta trabalhar. Eu, particularmente, duvido.) e por aí vai. Sempre que seguimos alguma doutrina, ou verdade, nossos olhos não conseguem ver o mundo de outra maneira se não aquela. É sempre bom conhecer pensamentos e ideias alheias, até para servirem de base reflexiva. Existem boas ideias e conhecimentos válidos em toda a parte. Nenhum conhecimento é superior ou inferior. O único problema é quando nos apegamos a determinados pensamentos como verdades absolutas. Aí, ao invés desses pensamentos servirem como pontos de partida, tornam-se ancoradouros. A visão fica turva e você começa a pensar que está vendo tudo sob sua ótica, mas está vendo tudo sob a ótica de outros. Exatamente o mesmo fenômeno que ocorre quando a pessoa se deixa influenciar pela mídia convencional. A realidade perde o sentido e tudo que nos é dito se torna uma pseudo realidade. Parece que tudo o que eles (o rádio, a tv, a publicidade, a religião, o ismo de preferência, os governantes...) falam faz sentido. É preciso senso crítico para continuarmos na caminhada rumo a novas possibilidades. Se fechar em grupos e cada grupo ficar vendo seu lado não possibilitará novos horizontes. O problema é o mesmo para todos. Estamos sofrendo devido ao egoísmo, visível no sistema vigente através da concentração de poder (representado, hoje, pelo dinheiro, bens materiais, poderio bélico...). Pessoas tendo como único objetivo na vida o ter. Um mundo diferente é possível. Volto a afirmar que (e isso vale a pena ser reafirmado): Fechar-nos em pequenos grupos e ficar falando para nós mesmos não cabe mais

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Assumir um rótulo é no atual estágio de mudanças em que o mundo se encontra. apenas restringir seu modo de ação. Temos de ultrapassar o limite do discurso. Alguns grupos indígenas já estão percebendo as possibilidades de união e estão se aproximando de quilombolas, sem tetos e sem terras. Todos sofremos devido a mesma fonte de problemas. Tudo faz parte da mesma teia. E não se trata de ganhar ou perder. Trata-se de uma nova realidade, onde não há vencedores ou perdedores, grupo ou A ou B, classe x ou y, mas onde o único grupo que virá a existir é o grupo humano. Feliz em sua diversidade e mostrando que a verdadeira evolução não cabe dentro do seu armário, na sua garagem ou no cofre do seu banco. Não temam o que parece impossível. Não acreditem nas realidades falsas e nas verdades mentirosas que lhe foram implantadas ainda na infância. Está na hora de acordar, pois o sonho prometido pelos falsos salvadores, há muito tempo virou pesadelo. Se é possível o mundo como penso, não é o mais importante. O importante é que não há mais possibilidade para o reino da ignorância institucionalizada, do egoísmo hediondo e da intolerância gerada por tudo isso somado a verdade única. Está na hora da diversidade humana exigir seu espaço e o respeito que estão lhe devendo.

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PASSANDO PELA CABEÇA

Abrir sua mente é um ato revolucionário que só depende de você. Parar de se apegar tanto às respostas e se untar de perguntas é um começo.

Desligue a tv, esqueça todas as verdades pré fabricadas (TODAS) e saia de casa para conhecer o mundo. Mas saia sem medo, sem preconceito.

Não se trata de convencer ou ensinar. Se trata de olhar em volta e pensar livremente, sem estar com olhos turvos, cheios da poluição imposta.

Está mais que na hora das pessoas abandonarem suas frágeis certezas e mergulharem de cabeça no mundo da reflexão e do questionamento.

O belo é o que você acha belo, o bom é o que te faz bem e o respeito mutuo é a base pra tudo.

Criar um padrão é virar as costas para a diversidade humana.

Se libertar não só do material, mas também das velhas convicções é indispensável para criarmos algo novo.

Dizer eu sei é se fechar para o novo.

Se reconstruir a cada dia e chegar a novas conclusões (ou a nenhuma) é a disposição correta para aprender.

Tire suas verdades do caminho, pois eu quero passar com minhas dúvidas.O mais importante é termos perguntas, não respostas.

Tanta gente acredita que conhece a verdade e que tem todas as respostas. Só por aí podemos ver que o caminho tomado não é o da libertação.

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Pior que os conservadores que ficam justificando o apego a velhas correntes, são os que se julgam libertos, mas conservam suas prisões.

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UM NOVO OLHAR É PRECISO

Índios sendo massacrados pelo Brasil a fora, desabrigados das chuvas continuam sem solução para seus problemas, a violência se impõe através do medo e da morte, a maior parte da população está privada dos seus direitos básicos, desigualdade e abuso em toda parte, guerras, torturas, desrespeito... São diversas mazelas passadas pelas pessoas, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Enquanto isso, um culto a ignorância, ao fútil, a boçalidade e a alienação anestesia a juventude e demais poderes de modificação que sempre trouxeram grandes contribuições para o mundo. O egoísmo e a corrupção anulam ferramentas que deveriam possibilitar melhorias para todos. Trabalhadores e artistas estão cada vez mais desamparados e desmobilizados. Tudo descendo pelo ralo.Muitos ainda não sabem como reverter esta situação, mas poderíamos começar exercitando um novo olhar sobre o mundo. Assim, uma nova concepção seria criada. É fato que em ferramentas como o youtube, vídeos idiotas, que não acrescentam ou modificam nada, tem muito mais visualização que os esclarecedores e de conteúdo reflexivo. Os números estão lá. É muito fácil constatar. Compare qualquer besteirol com produções como “Ilha das Flores”, “Ponto de Mutação”, “A História das Coisas.”, “A Carne é Fraca”, “História de uma Guerra Particular”, “Ocupation” e tantos outros que deveriam ser vistos por pessoas que se julguem dispostas a pensar. Qualquer idiotice tem seus números crescendo muito mais rápido do que os chamados de forma pejorativa como filmes cabeça. Porque colaborar com o processo de emburrecimento que já nos é empurrado garganta abaixo por onde quer que passemos?Dê um passeio pela banca de jornal e analise os periódicos com um pouco mais de profundidade que você poderá constatar o nível das informações que nos são oferecidas. E a Tv? Puts... Só besteirol. A realidade está gritando. Até quem não quer ver, não tem como continuar vivendo em seu mundo de faz de conta. O tempo está passando e a cada minuto a mais que passamos jogando nossa vida na privada, tornamos a situação mais crítica. Gostando ou não, a responsabilidade é nossa. Um novo olhar sobre o mundo é preciso e se faz urgente. Não percamos mais tempo.

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UMA EXISTÊNCIA TRISTE...

... por ver a humanidade ser substituída pelo lucro. Máquinas substituindo trabalhadores, como aconteceu naquela grande demissão dos bancários com a chegada dos terminais informatizados que fazem saques, pagamentos, empréstimos, depósitos e distribuem talões de cheques. Como quase aconteceu com a catraca eletrônica. Sorte que o sindicato correu a tempo e conseguiu demonstrar o inferno que seria a demissão em massa dos cobradores. Os aparelhos de raios-x que estão sendo projetados serão capazes de selecionar a técnica necessária para realizar o exame, transportando a imagem até um computador que a deixará disponível na rede hospitalar, tornando assim dispensável o Técnico de Raio-X e o Câmara Escura que revela tais filmes. Isso sem falar nas próprias fábricas de películas que já sofreram grandes baixas com as máquinas fotográficas digitais. Como contraponto a toda essa catástrofe, podemos apenas apresentar a economia e o conforto de meia dúzia privilegiada diante da massa sem perspectiva. Uma existência completamente inconformada por assistir uma ferramenta se tornar o manipulador de quem deveria utilizá-la. O homem atual se comporta como as antigas tribos diante dos espelhos trazidos pelos colonizadores europeus. Espelhos que refletiram suas mortes e o fim de sua cultura. Uma corrida transformadora que não tem tempo ou interesse de estudar seus efeitos, enxergando apenas a produção excedente no fim do túnel. A velocidade dessa produção é vertiginosa, impossibilitando a visão clara dos aspectos negativos e segregacionistas, escondidos sob a falácia global do comodismo e rapidez que vem aumentando o extress, obesidade, tendinite, entre outros males ligados a saúde e a sociedade. O homem moderno fica assim, completamente impossibilitado de ver com clareza os aspectos negativos dessa insana corrida tecnológica sempre rumo ao futuro. É uma existência que também passa por dificuldades e se torna mais complicada que as demais, por se negar constantemente a se conformar com a realidade imposta e suportá-la como uma benção. Pessoas morrem devido à proliferação de doenças seculares (Tuberculose, entre outras), mas temos de nos curvar e agradecer pela chegada do ipod. Esse foi um

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exemplo entre muitos produtos, até mais modernos, que já estarão ultrapassados no meio tempo do texto chegar até as mãos do leitor. Um trabalho que será digitado, salvo e impresso. Formatado em fontes e cores adequadas ao “belo” e “aceitável”. É uma existência que se utiliza dos novos meios como quem usa uma esferográfica ou uma lanterna a pilha, nada a mais. Nunca permitirei que minha existência se resuma a hipnótica tela neon, que meus relacionamentos se resumam as redes sociais e daí a complicação citada anteriormente. Um projeto social não será levado em consideração, independente de seu conteúdo, se for entregue manuscrito ou datilografado. A diversidade e as escolhas pessoais são perigosas para os detentores do capital. Imagina se aceitarem uma pessoa saboreando a formação das letras enquanto a caneta escorrega sobre o papel. Nada disso é admissível. Apenas o Word é pai do belo. A caligrafia fica em último plano, enquanto as letras disponíveis no programa se tornam a única opção possível. Sair dessa corrida reta no estreito corredor dos excessos é inadmissível. Temos de ir sempre em frente, mas rumo a frente que nos apresentam. Esse Avanço limitado apenas a tecnologia e ao capital está sugando todo o planeta e o tornando invivível. As novas técnicas e máquinas de extração de petróleo estão tirando todo esse material existente nas profundezas terrestres. Será que ainda não se debruçaram sobre o que acontecerá quando todo esse líquido viscoso for retirado destas profundezas? O espaço deixado por ele não causará distúrbios? Onde havia algo por milhares de anos agora está repleto de nada. E os celulares? A cada dia um novo modelo com um novo detalhe aparece. E os antigos? Para onde vão? E não percam o lançamento do novo carro. Exatamente igual ao anterior, só que com faróis levemente arredondados. É de se pensar.

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A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

Talvez, quem tenha falado com maior propriedade sobre o assunto, tenha sido Guy Debord, em seu livro homônimo. A princípio, esse livro lançado na França, em 1967, foi cultuado pela ala mais extremista, mas hoje ele é considerado um clássico. Debord já falava naquela época das situações apresentadas pela onipresença da mídia na sociedade. A complementação que indivíduos fazem em sua vida insatisfatória com a apreciação de montagens e vidas de personagens apresentadas nos meios de comunicação de massa. “Têm de olhar para outros (estrelas, homens políticos etc.) que vivem em seu lugar. A realidade torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade; a unidade que falta à vida, recupera-se no plano da imagem.” Afirma o site Geocities ao comentar o livro. Nossa vida está se tornando exatamente isso. A supressão do real por uma ficção mais palatável. Para que viver uma intensa paixão se pode observar pessoas “perfeitas” (entende-se perfeito o que é aprovado pela TV como tal) em estado apaixonado na novela? Aquela imagem fica sobre o sentimento real, trazendo apenas uma sensação de prazer voyerístico. O espetáculo natural é completamente esquecido. Um por do Sol pode ser um grande inconveniente se atrapalhar o horário do programa de tv. Nossa sociedade deveria ser a sociedade do espetáculo artificial, onde o espetáculo natural não tem vez. Nada consegue superar a beleza do sintético. É uma situação que beira o hipnotismo coletivo. Chamo de hipnotismo por gerar passividade e conformismo diante dos valores capitalistas que nos guiaram até a beira do precipício que nos encontramos hoje. Ninguém reage a nada. A vivência direta foi substituída pela representação. A satisfação se resume ao consumo. A imagem manipula a vontade, criando estereótipos e conceitos que se distanciam da realidade onde todos têm estrias, celulites e remelas quando acordam. Este distanciamento que causa a insatisfação com o real prende cada vez mais o espectador em frente à tv e outros meios onde se encontram essas distorções da vida. Ma isso não vai aliviar a insatisfação, irá apenas alimentá-la como um vício nocivo.

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MATANDO OS POBRES

Infelizmente a música Kill the poor (Matar os pobres), da banda californiana Dead Kennedys, cabe perfeitamente no atual momento brasileiro. Não que isso seja inédito em nosso país. O próprio “descobrimento” (invasão seria o termo mais apropriado) do Brasil foi uma história de extermínio físico e cultural. Eliminar os indesejados sempre foi prática corriqueira em sistemas covardes como o nosso. O que assusta é a máquina assassina cada vez mais se especializando no extermínio sem culpa. As justificativas mais bizarras são usadas. Os processos de exclusão jogam para longe os que sobrevivem. Exemplo disso são as remoções forçadas que estão acontecendo pelo Brasil. No Rio de Janeiro, os grandes eventos e a especulação imobiliária fizeram esse processo ganhar um volume monstruoso. As “pacificações” foram o anúncio de que o pior ainda estava por vir. Em São Paulo os incêndios estão dando um toque piromaníaco à expulsão e ao extermínio dos pobres. Falando em São Paulo, não podemos esquecer da brutalidade ocorrida em Pinheirinho. Na Bahia, o Quilombo Rio dos Macacos está sendo expulso de suas terras pela Marinha. Milhares de pobres são entulhados nos presídios, favelas e lixões, da maneira mais insalubre possível. O serviço público é executado do pior modo. Seriam inúmeros casos relatados e mesmo assim esqueceríamos algum, devido ao grande número de massacres físicos, psicológicos e culturais a que a grande massa está sujeita desde o seu nascimento. Toda forma de opressão é usada. Por quantas chacinas ainda passaremos? Você já ouviu falar de alguma execução em bairro de bacana? Difícil acontecer, né? Os canos estão apontados para os pobres. Mesmo sendo necessários para lavar, passar, cozinhar.... fazer as coisas funcionarem, o número de pobres não pode afetar a segurança dos patrões. E de preferência que morem bem longe para não incomodar o universo artificial criado para os poucos que acumulam privilégios. E a classe média, morrendo de medo da pobreza e babando pela posição dos ricos, apoia toda a crueldade, esperando por mais algumas migalhas do banquete.

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BLACK POWER – A UNIÃO DA COMUNIDADE NEGRA

Surgido nos anos 60, o Partido Pantera Negra para Auto-Defesa tinha como objetivo inicial patrulhar os guetos onde a comunidade negra vivia e era constantemente abordada com brutalidade pela polícia. Mais tarde passou a se chamar Partido dos Panteras Negras e assumiu uma postura revolucionária. Em seu auge, ainda nos anos 60, tinha mais de dois mil militantes. Sua luta pelos direitos dos negros e por compensações por anos de exploração branca incomodou a chamada América Branca, que reagiu prendendo vários de seus membros. A pressão exercida sobre o grupo foi tanta que conseguiram por fim dissolve-los.Mumia Abu-jamal foi integrante dos Panteras Negras. Depois de algum tempo foi ser jornalista na Filadelfia, onde ficou conhecido por seu programa de rádio “A Voz dos Sem Voz”. Mumia foi condenado a morte nos anos 80 por ter matado um policial. Depois de muitos protestos e abaixo assinados contra a sentença, tida como mais uma armação do poder americano contra os Panteras, outras audiências ocorreram e várias irregularidades foram encontradas no processo de Mumia. Embora a justiça americana tente trata-lo como preso comum, é de conhecimento de todos sua situação como preso político. Atualmente Mumia continua preso.Para maiores informações e acompanhamento do caso:cma-j.blogspot.comhttp://www.freemumia.com/http://www.mumia2000.org/www.prisonradio.org/mumia.htmhttp://www.abu-jamal-news.com/

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A ENDEMONIZAÇÃO DO ERRO

Quando ouvi falar sobre isso pela primeira vez, não consegui entender tão bem quanto agora. O erro, que deveria ser apenas o início do acerto, vem se transformado em um demônio assustador. Chegando ao ponto de impedir as pessoas de tentar. A maioria acaba por preferir não fazer nada, a fazer e correr o risco de errar. Os erros são medalhas no peito dos que não querem apenas assistir aos outros produzirem, mas são usados pelo terrível senso comum como uma metralhadora de desprezo e humilhação. Existem pessoas especialistas nisso. Procuram falhas e imperfeições em tudo que apareça a sua frente. Como ninguém, ou nada, é perfeito, acabam achando. Um pequeno erro acaba por se transformar em algo mais importante que toda uma belíssima obra. A endemonização do erro nos leva apenas ao comodismo e nos causa um pânico paralisante. Temos de entender que o erro faz parte de nosso ser. Somente negando a nossa essência e se negando a aprender deixamos de errar. Podemos também fazer a opção pela inércia, mas essa não é a minha. Não tenha medo de errar. Tente! Faça!

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TRABALHO, SOFRIMENTO E HOBBY

Trabalho, sofrimento e hobby são termos que causam certa confusão na cabeça das pessoas. Essa confusão se dá por uma simples questão: O trabalho só é considerado trabalho quando se transforma em dinheiro, caso contrário é considerado hobby. Essa definição é fruto da nossa mentalidade deturpada e deformada desde criança pelo sistema capitalista. A verdade é que existem muitas outras formas de pagamento que não envolvam direta ou indiretamente dinheiro. No meu caso, o que tenho feito para arrumar dinheiro defino como sofrimento (ou perda de tempo). O que faço como jornalista e escritor não tem rendido dinheiro, mas é feito com responsabilidade e seriedade, logo, não é um simples hobby. Não tenho tempo para hobbys. Meu trabalho com zines, jornais e demais meios alternativos e independentes me tomam tempo e energia como qualquer trabalho a que nos dedicamos com um mínimo de responsabilidade. Trabalho não tem de ser algo ruim ou prostituído.

Conclusão:

Trabalho - Algo a que se dedica com seriedade e compromisso. Gasto de energia para determinado fim.Sofrimento - No caso citado, é algo a que se dedica apenas para conseguir dinheiro*.Hobby - Algo que se faz sem compromisso, em horas vagas ou para passar o tempo.

* dinheiro = Papel colorido a que se atribuiu determinado valor e nos permite sobreviver com menos ou mais conforto no sistema econômico conhecido como capitalismo. Embora, na teoria, a forma para se conseguir tal papel seja trabalhando, na prática, quem mais trabalha é quem menos tem. O maior problema é que os donos da verba é quem decide para quem e quanto vai dar esse passaporte para o "paraíso" capital.

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APOCALÍPTICOS

Os mass media dirigem-se a um público heterogênio, tendo de basear-se em médias de gosto, evitando soluções originais com a difusão do que já foi assimilado, trabalhando opiniões comuns e difundindo uma cultura de tipo homogêneo. Características culturais de diversos grupos são destruídas com a hogeneização das culturas. Impondo mitos e símbolos de fácil universalidade, criam tipos, reduzindo ao mínimo a individualidade e o caráter concreto, não só de nossas experiências, como de nossas imagens.O livro “Apocalípticos e Intergrados”, de Umberto Eco, destaca que “os mass media expõem as emoções já confeccionadas ao invés de as sugerirem”. O exemplo dado é o da música, que serve mais como estímulos sensoriais que como uma forma contemplável.Ao seguir uma lei baseada no consumo, sustentada pela ação persuasiva da publicidade, os mass media sugerem ao público o que eles devem desejar. Todos os produtos, independente do nível cultural, são difundidos, nivelados e condensados a fim de não provocarem nenhum esforço por parte do fruidor, resumindo o pensamento em fórmulas, desencorajando assim a pesquisa de novas experiências. Isso reforça sua utilidade apenas como entretenimento e lazer, empenhando apenas o nível superficialde nossa atenção e viciando nossa atitude.Encorajando uma imensa corrente de informações sobre o presente, os mass media entorpecem a consciência histórica. Mesmo ao assumirem modos exteriores de uma cultura popular, não crescem espontaneamente de baixo para cima, mas são impostos de cima para baixo.

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A FILA

Tava com uma crise de tendinite. Depois de algum tempo de espera e dor na fila de um hospital público, tomei um analgésico injetável e mandaram que eu comprasse os terríveis anti-inflamatórios. Para buscar o acompanhamento adequado me encaminharam a lugares longínquos e decidi passar no posto de saúde perto de casa. Era ali. Boa decisão a minha. A moça do balcão disse que eu tinha de ir ao clínico geral para ele me encaminhar a um especialista. Como só existia um dia na semana que o clínico comparecia, a fila era enorme. E olha que cheguei cedo. Falaram que tinha gente em pé ali desde a madrugada. O mesmo fenômeno observado em outros cantos do Brasil: O péssimo atendimento no serviço público. Que absurdo. Aproveitei o tempo na fila para lembrar e pensar. Lembrei de quando estava caminhando com meu filho junto a passeata contra o aumento da passagem de ônibus. A gente ali, conversando sobre as coisas da vida, enquanto os manifestantes pediam por um transporte realmente público. No dia seguinte, pensei nas pessoas que vendem sua vida para poder passear com o filho na beira da praia. Melhor que qualquer praia foi aquele passeio pela manifestação. Lembrei também do bate papo na mesa de um bar em que um cara me alvejava com suas opiniões enlouquecidas. Ele se dizia socialista, mas nem ao menos compreendia o povo. Não acreditou quando disse que muitas pessoas estavam trabalhando mais de nove horas por dia para ganhar R$ 700,00 ou um pouco mais (ou um pouco menos), sem direito a sábado, domingo ou feriado. Ele argumentou que isso não existe. Que R$1.000,00 não dava nem para suas despesas... “Como um pai de família poderia sustentar os seus?” Respondi que esse era o problema.Pensei também no texto PQP. Depois da experiência no campo, pude conhecer pessoas que trabalham mais de 14 horas por dia, sem folga e sem qualquer tipo de motivação para a vida sem ser o próprio trabalho. Será que eles estão certos? Será que eu estou certo? Será que estamos todos errados? Será que existe o certo e o errado? Vai saber. Talvez eles não tenham tido opção. Vai saber. Cada um com sua história, cumprindo sua sentença. Vou tentando compreender.

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Nisso, veio uma senhora que eu achava estar lá na frente da fila. Mais um que havia desistido. As pessoas adoram quando alguém que está a sua frente desiste. Ela passou resmungando que a fila tava grande e que só tinha uma pessoa para atender todo mundo. Ela estava preocupada com o horário de entrar no trabalho. Passei mais um tempo na fila e resolvi fazer o pessoal da retaguarda mais feliz. Saí caminhando. Segui a fila até onde pensei ser seu início (onde estava a tal senhora) e descobri que ali era apenas uma curva. A fila ainda continuava até uma portinha, onde estava a tal funcionária preenchendo a papelada e encaminhando as pessoas para a fila seguinte (Essa sim a do atendimento médico). Fui pela rua movimentando as mãos e torcendo para que elas aguentem firme mais um tempo. Aquilo era fila para o dia inteiro e não podia ficar ali.

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OUTROS TRABALHOS DO AUTOR:

- Reboco Caído – Reflexos e ReflexõesLivro impresso lançado em 2014 pela Coisa Edições, de Porto Alegre. A editora ainda tem no estoque e é só pedir pelo facebook www.facebook.com/CoisaEdicoes ou pelo e-mail [email protected]

- UM ANO DE BERRO – 365 dias de fúriaLançado em 2010 pela Editora Independente, de Brasília. Registro do primeiro ano de existência do zine O Berro. Nesse livro o autor divide as páginas com os amigos Winter Bastos e Alexandre Mendes, que construíram essa iniciativa junto com Fabio da Silva Barbosa, além de diversos colaboradores. A versão impressa está esgotada, mas existe a versão digital do rascunho no pt.slideshare.net/ARITANA.

- Reboco CaídoZine. A versão impressa pode ser conseguida através da caixa postal 21819, Porto Alegre/RS – cep.: 90050-970 ou também pedida pelo e-mail [email protected]. Versão digital disponível no blog www.rebococaidozine.blogspot.com.br ou no pt.slideshare.net/ARITANA.

- Escritos Malditos de uma Realidade Insana E-book lançado pela Editora Lamparina Luminosa, de São Paulo, em 2013. Download gratuito no site da editora www.lamparinaluminosa.com.

- Comunidade EditoriaProjeto do autor junto com o amigo Luiz Henrique Peixoto Caldas, que incluía produção de vídeo, jornal impresso, blog, eventos culturais, produção de áudio e tudo o que fosse possível para registro do cotidiano nas favelas, ocupações, comunidades pesqueiras e afins.

- Impresso das ComunidadesJornal impresso mensal. Parceria entre Fabio da Silva Barbosa e Alexandre Mendes.

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- PDFs organizados pelo autor e lançados de maneira livre pela internet a foraQuem somos nós? - Conversa fiada e papo de botequimQuem somos nós? - Volume IIA saga do jornalismo livreParceriaTodos esses, além de outros, podem ser encontrados no pt.slideshare.net/ARITANA

- TARDE MULTICULTURAL SEM FRONTEIRASEvento cultural onde Fabio junta diversas formas de expressão em um mesmo espaço. Teve 3 edições em 2014 e assim que der rolarão outras.

*Além das produções listadas, ainda existem contribuições para diversos meios impressos e digitais. Esteve também envolvido no programa de rádio HoraMacabra, de Niterói- RJ. Outros projetos também estão em andamento, buscado meios para serem concretizados o quanto antes. Em tempo: Atualmente o Impresso das Comunidades e o Comunidade editoria estão inativos. Até quando? Vai saber ;-)

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BIOGRAFIA

Fabio da Silva Barbosa nasceu em Niterói-RJ, no dia 24 de julho de 1975. Foi uma criança incompreendida pelos outros e por si mesmo. Não conseguia corresponder as expectativas e nada o satisfazia. De 89 para 90 mergulhou de cabeça no submundo do rock, teve seu primeiro contato com zines e descobriu que não estava sozinho. Existia um universo dos que não se enquadravam e ali se sentiu a vontade. Participou do zine Terceiro Mundo – o submundo dos ratos e produziu alguns. Passou uma temporada afastado do universo zineiro, se dedicando a cadernos onde despejava todas as angustias e loucuras dessa sociedade bizarra que nos cerca. Através do amigo e músico Rubem Zachis, conheceu outras formas de expressões musicais. Através da música conheceu outras formas de expressões artísticas. Começou a mergulhar no mundo da literatura, do teatro, do cinema, da dança... Foi se aprofundando cada vez mais nas formas menos convencionais. Passava tardes com o amigo Murilo (o Murilouco) recitando e criando, assim como ouvindo as recitações e criações do companheiro de estrada. A vida passou em um turbilhão louco de acontecimentos que não caberiam nessas poucas linhas. Dando um salto até a faculdade de jornalismo, fez parceria com Luiz Henrique e começou a registrar febrilmente o universo das favelas, ocupações e comunidades excluídas do sistema. Voltou a produzir zines em parceria com antigos companheiros e depois seguiu com seu próprio projeto pessoal, o zine Reboco Caído. Foi uma época de produção contínua em blogs, zines, revistas, vídeos, rádios, eventos, jornais... e tudo o mais que aparecesse pela frente. Novamente as informações continuam se multiplicando e seriam muitas para caberem aqui. Terminou a faculdade, trabalhou em biblioteca, durante aproximadamente 5 anos foi técnico de raio x em hospital público, continuou o bom relacionamento que sempre teve desde a adolescência nas favelas e comunidades em geral, foi colher uva no Rio Grande do Sul, trabalhou em fábrica, fazia bico aqui e ali e nunca deixou de produzir seus escritos (entre outras coisas) enquanto dava um jeito para sobreviver e manter a família. Atualmente é educador social em um abrigo para crianças e adolescentes e continua contribuindo ativamente para a cultura marginal e maldita.

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