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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES- CPqAM
DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA- NESC
SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS ATENDIDAS
NO AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO IMIP
NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2001
Autoras
Lilian Kaercher
Miriam Batista de Moura
Orientadora
Idê Gomes Dantas Gurgel
Recife, 2001
Lilian Kaercher
Miriam Batista de Moura
SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS ATENDIDAS
NO AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO IMIP
NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2001
Relatório do pôster aprovado como requisito parcial à obtenção do título de
Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu em nível de
Especialização em Saúde Pública do Departamento de Saúde
Coletiva/CPqAMIFIOCRUZ/MS, pela Comissão formada pelos
Professores:
Orientador: -----------------------------Professora Idê Gomes Dantas Gurgel- NESC/CPqAM/FIOCRUZ
De batedor: ______________________ _
Professora Eduarda Ângela Pessoa Cesse- NESC/ CPqAMIFIOCRUZ
Recife, 2001
'\ SUMÁRIO
RESUMO .................................................................................................................................... v
'\
,......, INTRODUÇÃ0 .......................................................................................................................... 6
OBJETIVOS ............................................................................................................................... 9
OBJETIVO GERAL ................................................................................................................... 9
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 9
MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................................... 1 O
,......,
,......, RESULTADOS .......................................................................................................................... 12
'""',
DISCUSSÃ0 ............................................................................................................................ 17
CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 20
'\
'\ REFERÊNCIA.S BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 21 '\
ANEXOS .................................................................................................................................. 22
ANEXO 1: Ficha de Cadastro ..................................................................... : .............................. 23
ANEXO 2: Ficha de acompanhamento de avaliação clínica e nutricional.. ............................. 24
~.
ÍNDICE DE GRÁFICOS E MAPA
Gráfico 1: Distribuição de Crianças Segundo Prevalência de
Sobrepeso e Obesidade. Recife, Primeiro Semestre, 2001.. ................................... 12
Gráfico 2: Crianças com Sobrepeso e Obesidade Segundo Estado Nutricional
e Faixa Etária. Recife, Primeiro Semestre, 2001.. .................................................. 12
Gráfico 3: Distribuição de Crianças Segundo Estado Nutricional e Sexo.
Recife, Primeiro Semestre, 2001 ............................................................................. 13
Gráfico 4: Distribuição de Crianças com Sobrepeso e Obesidade
por Enfermidades Associadas. Recife, Primeiro Semestre, 200 1.. ......................... 13
Gráfico 5: Distribuição de Crianças por Estado Nutricional e Renda Mensal.
Recife, Primeiro Semestre, 2001 ............................................................................. 14
Gráfico 6: Crianças com Sobrepeso e Obesidade Segundo
Ocupação da Mãe. Recife, Primeiro Semestre, 200 1.. ............................................ 14
Gráfico 7: Distribuição de Crianças por Estado Nutricional e
Anos de Estudos da Mãe. Recife, Primeiro Semestre, 2001 ................................. .. 15
Mapa 1: Distribuição de Crianças com Sobrepeso e Obesidade por
Bairro Procedente. Recife, Primeiro Semestre, 200 1.. ............................................... 16
RESUMO
KAERCHER, Lilian; MOURA, Miriam B. e GURGEL, Idê G. D. Sobrepeso e Obesidade em
crianças atendidas no Ambulatório de Nutrição do IMIP no primeiro semestre de 2001. 2001.
24f Relatório do Pôster (Especialização em Saúde Pública) - Departamento de Saúde Coletiva,
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife.
Distúrbios do metabolismo energético no qual ocorre armazenamento excessivo de energia sob a
forma de triglicerídeos no tecido adiposo, caracterizam a obesidade e o sobrepeso, cuja etiologia está
associada a fatores genéticos e ambientais. O estudo destes distúrbios é importante por estar,
geralmente, acompanhado de substancial morbidade como: hipertensão arterial, intolerância à glicose,
alterações de metabolismo do colesterol, problemas ortopedicos e importante disfunção psicossocial,
principalmente na fase adulta. Com isto, o objetivo deste estudo é conhecer o perfil epidemiológico
das crianças com sobrepeso e obesidade atendidas no ambulatório de Nutrição do IMIP, onde realizou
se um estudo de corte transversal do tipo descritivo com todas as crianças menores de 12 anos,
residentes no município de Recife, que se encontravam classificadas acima do p90, no período de
janeiro a junho de 2001. Os dados obtidos alimentaram um banco de dados no software Epiinfo 6.04.
Os principais resultados foram: as prevalências de sobrepeso e obesidade juntas foi de I 6%
(obesidade- 14% e sobrepeso- 2%). As idades mais acometidas para esses agravos foram os primeiros
anos de vida (25%) e a fase escolar (36,4%). O sobrepeso manteve-se estável até esta última faixa
etária, que apresenta 6,8%. As maiores freqüências foram entre as meninas (59,1% e 11,4%) em
relação aos meninos (13%). Evidenciou-se que 92% das crianças não apresentaram nenhuma patologia
associada à obesidade e ao sobrepeso. Na renda de até 1 Salário Mínimo (SM), as crianças
apresentaram maior freqüência de obesidade (40,9%) e sobrepeso (6,8%). Com relação a profissão,
54,5% das mães apresentam como profissão 'atividades do lar'. Este estudo evidenciou que em 47,7%
das crianças com sobrepeso e obesidade, as mães apresentaram até 7 anos de estudo (ensino
fundamental). Nas demais (36,3%), a escolaridade da mãe esteve entre 8 e 11 anos estudados (ensino
médio). Concluiu-se que a obesidade apresentou maior prevalência em relação ao sobrepeso. Os
distúrbios foram mais freqüentes em famílias com renda de 1 SM. As condições sócio-econômicas
destas populações se reproduzem no seu local de residência em bairros com características
heterogêneas onde predominam rendas baixas, assim como a própria demanda por assistência à saúde
em instituições conveniadas com o SUS.
v
INTRODUÇÃO
Distúrbios do metabolismo energético no qual ocorre armazenamento excessivo de
energia sob a fonna de triglicerfdeos no tecido adiposo, caracterizam a obesidade e o
sobrepeso. Quanto a etiologia, sabe-se que há uma associação entre fatores genéticos e
ambientais (Nóbrega, 1998). As síndromes genéticas e as endócrinas são responsáveis por
apenas 1% dos casos, os quais são síndromes somáticas, dismórficas, lesões do sistema
nervoso central, endocrinopatias. As outras 99% são consideradas de causa exógena quando
comparada ao consumo energético do individuo (Damiani et ai, 2000).
Dessa maneira, desde as características individuais (idade, sexo), os antecedentes
familiares, os aspectos relacionados à renda familiar e o grau de instrução dos pais, assim
como, os hábitos alimentares e os estilos de vida, são aspectos relevantes na determinação
causal dessas enfermidades e apresentam forte interdependência.
O estudo da obesidade infantil é de grande importância na medida em que cerca de
80% das crianças obesas serão adultos obesos e 30% dos adultos obesos iniciaram a patologia
na inf'ancia (Damiani et al, 2000). Este distúrbio geralmente está acompanhado de substancial
morbidade como: hipertensão arterial, intolerância à glicose, alterações de metabolismo do
colesterol, problemas ortopédicos e importante disfunção psicossocial (Alves & Figueira,
1998).
A obesidade é mais freqüente nas regiões mais desenvolvidas do país onde está mais
adiantado o processo de modernização industrial com conseqüente mudança de hábito
alimentar que o acompanhou.Em época de transição demográfica e epidemiológica no país,
em que aumentam a urbanização, expectativa de vida, mortes por doenças crônico
degenerativas e por violência, enquanto diminuem fertilidade e mortes por doenças infecto
contagiosas, é tempo de dedicar maior atenção ao estudo do sobrepeso e da obesidade,
principalmente infantil (Nóbrega, 1998).
Quanto à classificação, os dados antropométricos, peso e altura, segundo a OMS,
segue o padrão de tabelas elaboradas pelo National Center of Health Statistics (CNHS) a
partir de crianças norte-americanas consideradas normais. Os grupos percentilares que
identificam o sobrepeso por esta classificação está entre o percentil maior que p90 até p97;
acima do percentil97 é considerado obesidade (OMS, 1983).
Com relação à idade o desmame precoce e a introdução inadequada de alimentos após
este, podem desencadear o início da obesidade no primeiro ano de vida. Nos dois primeiros
6
anos de vida, os principais determinantes da adiposidade são: o peso matemo, o peso de
nascimento e o tempo de aleitamento matemo exclusivo. Em estudo realizado numa clínica
privada do Recife, entre 400 crianças aos 4 meses de idade, 9,5% apresentaram excesso de
peso para idade (Alves & Sarinho, 1988).
A Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição realizada pelo JNAN (Instituto Nacional de
Alimentação e Nutrição), em 1989, evidenciou cerca de 1,5 milhão de crianças obesas, sendo
a prevalência maior entre meninas do que em meninos (Nóbrega, 1998).
Alguns estudos têm apontado para uma associação familiar, principalmente em relação
a presença de sobrepeso ou obesidade nos pais. O risco de obesidade quando nenhum dos pais
é obeso é de 9% enquanto que, quando um dos genitores é obeso, sobe a 50% e atinge 80%
quando ambos são obesos.
Quanto à escolaridade, o risco de crianças terem sobrepeso é de 2,89 vezes maior se a
mãe apresentar maior escolaridade, em relação a mãe analfabeta ou com o primeiro grau
menor (Egnstrom & Anjos, 1996).
A prática de assistir televisão por várias horas por dia; a difusão de jogos eletrônicos,
o abandono do aleitamento matemo, a utilização de alimentos processados ao nível doméstico
pelos alimentos industrializados, estes, em geral, com maior densidade energética, mais
saborosos e sempre acompanhados de forte campanha de estímulo ao consumo, são fatores
que devem ser considerados na determinação do crescimento da obesidade infantil. Com
relação a ingestão, surpreendentemente, há poucas evidencias que suportam a hipótese de que
a obesidade seja causada por excesso alimentar em crianças e em adultos. Há uma grande
semelhança de padrão alimentar entre membros de mesma família e fica sempre a mesma
questão se é a influência ambiental que desempenha um papel, ou se um fator genético
subjacente. Com relação ao gasto energético, há muito mais consenso quanto ao aspecto de
que o gasto é menor em obesos. O gasto energético é composto por três elementos:
metabolismo basal; termogênese e atividade física (Nóbrega, 1998).
Estudos indicam que a atividade fisica em combinação á dieta é mais efetiva que a
dieta isoladamente, para a redução e manutenção do peso (Damiami, 2000).
Apesar desses distúrbios não representarem patologias prioritárias na região nordeste
vem se tomando tema crescente de preocupação (Alves e Sarinho, 1988). Diante da atual crise
econômica determinando arrocho salarial e desemprego na cidade do Recife, tem-se
encontrado importante parcela da população infantil com sobrepeso e obesidade em
acompanhamento no ambulatório de nutrição do IMIP (Instituto Matemo Infantil de
Pernambuco), instituição que presta assistência basicamente a população com característica
7
sócio-econômica menos favorecida, e embora haja autores que não concordem, tem-se
encontrado uma prevalência de sobrepeso e obesidade nesta classe social, que pode estar
motivada pela ingestão aumentada de alimentos ricos em hidratos de carbono, já que são
alimentos economicamente mais acessíveis (Damiami et al, 2000).
Neste sentido, este estudo apresenta a seguinte pergunta condutora:
- Qual o perfil epidemipológico das crianças com sobrepeso e obesidade atendidas no
ambulatório de nutrição do IMIP?
8
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Conhecer o perfil epidemiológico das crianças com sobrepeso e obesidade atendidas
no ambulatório de nutrição do lMlP.
Objetivos Específicos
•
•
•
Identificar a freqüência de crianças com sobrepeso e obesidade na população atendida
pelo ambulatório;
Descrever o perfil sócio-ambiental das crianças com sobrepeso e obesidade infantil,
atendidas pelo ambulatório;
Identificar no mapa a procedência das crianças com sobrepeso e obesidade residentes
do município do Recife.
9
MATERIAL E MÉTODOS
a) Desenho do Estudo:
O estudo epidemiológico foi de corte transversal, do tipo descritivo, baseado em dados
secundários obtidos no ambulatório de nutrição do IMIP.
b) População do Estudo:
Todas as crianças menores de 12 anos, residentes no Município de Recife, atendidas
no ambulatório de nutrição do IMIP, que se encontram nos percentis acima de p90.
Foram excluídas as crianças portadoras de endocrinopatias, diabetes mellitus tipo I,
lesões do sistema nervoso central , síndromes somáticas e dismórficas, e em casos de alta e
transferência .
c) Período de Estudo:
O período do estudo foi de janeiro a junho de 2001.
d) Instrumento para coleta de dados:
Os instrumentos adotados para a coleta de dados, foram os mesmos utilizados pelo
serviço: a ficha de cadastro (anexo 1) e a ficha de acompanhamento de avaliação clínica e
nutricional (anexo 2).
e) Variáveis do estudo:
1) de caracterização individual: idade, sexo, peso e altura~
2) de caracterização sócio-ambiental: procedência (bairro), renda familiar, escolaridade
da mãe, ocupação da mãe e antecedentes familiares;
3) de caracterização de morbidade: sobrepeso, obesidade e patologias associadas a
esta.
f) Análise dos dados:
Os dados obtidos alimentaram um banco de dados no software Epiinfo 6.04, a partir
do qual foram extraídas as freqüências necessárias às análises. O agrupamento das crianças
10
~'
conforme tipo de patologia obedeceu à classificação do National Center of Health Statistics
(NCHS) preconizada pela OMS como segue:
1) sobrepeso: crianças que se encontram nos percentis acima de p90 até p97;
2) obesidade: crianças que se encontram nos percentis acima de p 97 (OMS, 1983).
g) Considerações éticas:
Este projeto foi submetido ao Comite de ética em pesquisa do IMIP. As informações
obtidas foram colhidas do banco de dados do ambulatório de Nutrição do IMIP.
Os sujeitos não foram identificados, onde foram mantidas a confidencialidade e demais
mecanismos de proteção aos sujeitos da pesquisa como preconiza a resolução 196/96.
11
RESULTADOS
Gráfico 1: Distribuição de Crianças Segundo Prevalência de Sobrepeso e Obesidade.
Recife, Primeiro Semestre, 2001.
Crianças em Tratamento 84%
Prevalência 16% Obesidade
14%
Sobrepeso 2%
Gráfico 2: Crianças com Sobrepeso e Obesidade Segundo Estado Nutricional e Faixa Etária. Recife, Primeiro Semestre, 2001.
1-3 4-6 7-9 10-12
I• Sobrepeso 11 Obesidade I
12
.·'\
Gráfico 3: Distribuição de Crianças Segundo Estado Nutricional e Sexo. Recife, Primeiro Semestre, 2001.
60
50
40
30
20
10
o Masculino Feminino
I• Sobrepeso • Obesidade I
Gráfico 4:Distribuição de Crianças com Sobrepeso e Obesidade por Enfermidades Associadas. Recife, Primeiro Semestre, 2001.
Cardiopatia 2%
HAS 2%
Sem
associadas 92%
13
Gráfico 5: Distribuição de Crianças por Estado Nutricional e Renda Mensal. Recife, Primeiro Semestre, 2001.
1 Salário 1,5 Salário 2 Salários 3 Salários
I• Sobrepeso 111 Obesidade I
Gráfico 6:Crianças com Sobrepeso e Obesidade Segundo Ocupação da Mãe. Recife, Primeiro Semestre, 2001.
Ignorada
*Outras
Secretária
Professor
Manicure
Cozinheira
Autonômo
Do Lar
o 10 20 30 40 50 60
* Atendente, agente administrativo, ambulante, auxiliar de farmácia, cabelereiro, comerciário, fiscal de loja
14
Gráfico 7: Distribuição de Crianças por Estado Nutricional e Anos de Estudos da Mãe. Recife, Primeiro Semestre, 2001.
1-3 anos 4-7 anos 8-11 anos 12 e+ anos Ignorado
I• Sobrepeso • Obesidade I
15
lvhpa 1. Ilstribuição de Crianças com sob repeso e obesidade porbaino procedente. Ft:cifu, primeiro semestre,2001
Legenda
.11,4% • 9,1% o 6,8% em 4,5% • 2,3%
16
DISCUSSÃO
Do total de crianças atendidas no ambulatório de nutrição do IMIP, observou-se no
Gráfico 1 prevalência do sobrepeso e da obesidade de 16%; superior aos resultados em
crianças brasileiras no ano de 1989, no qual relataram uma prevalência de 13,1 %; deste 10,6%
referentes ao grupo economicamente mais favorecido (Balaban e Silva, 2001 ).
No que se refere a prevalência da obesidade e sobrepeso respectivamente, neste estudo
observou-se que a obesidade possui prevalência superior ao sobrepeso (14% para a obesidade
e 2% para o sobrepeso ). Diferentemente, o estudo de Balaban e Silva (200 1) registraram
maior prevalência para o sobrepeso (26,2%) em relação à obesidade (8,5%), tendo em vista
sua amostra ser uma população de classe social média e alta de uma escola privada do Recife,
levando-se a crer que estas crianças já iniciaram alguns cuidados com relação à redução do
peso. Dentre estes cuidados, pode-se citar a redução alimentar associado também à práticas
esportivas oferecidas por escolas com alto nível de qualidade pedagógica e recursos
educativos. Além da maior conscientização estes pais pelos beneficios da promoção da saúde
durante todas as fases da vida
A elevada. prevalência da obesidade encontrada no ambulatório de nutrição do IMIP
pode ser: devido a tardia procura pelo atendimento neste serviço, por se tratar de classe social
com baixa renda, favorecendo ao consumo alimentar de baixo custo e calóricos, e também
pelo não esclarecimento dos pais quanto a saúde nutricional na inf'ancia.
Quanto à idade (Gráfico 2), observou-se maior freqüência de obesidade nos primeiros
anos de vida (25%), com redução na fase pré-escolar (13,6%), seguida de elevação na fase
escolar (36,4%) e redução na fase tardia da inf'ancia (13,6%). O sobrepeso manteve-se estável
até esta última faixa etária, que apresenta 6,8%. A maior freqüência de obesidade nos três
primeiros anos de vida pode estar associado ao desmame precoce e dietas incorretas que
estimulam a superalimentação, conforme assinalaram Nóbrega (1998) e Alves e Sarinho
(1988). O decréscimo nos percentuais de obesidade e sobrepeso na fase pré-escolar, pode
relacionar-se ao maior gasto energético. O aumento da freqüência na fase escolar pode ser
explicado pelo crescimento mais lento da criança. O decréscimo de peso na fase tardia da
inf'ancia, aproxima-se dos estudos de Balaban e Silva (200 1 ), e, seria devido ao estirão pré
pubertário, quando esse excesso de peso será compensado pelo futuro crescimento. Porém,
não devem ser subestimados, visto que há um risco aumentado de persistir na vida adulta
(Damiani et al, 2000).
17
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Quanto ao sexo, este estudo evidenciou que a obesidade entre meninas foi de 59,1% e
o sobrepeso de 11,4% (Gráfico 3); enquanto nos meninos foi identificado 13% de obesidade e
nenhum caso de sobrepeso. Resultados semelhantes foram obtidos na pesquisa nacional de
saúde e nutrição realizada pelo INAN (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição) sobre
crianças obesas, sendo a maior presvalência entre meninas do que em meninos (Nóbrega,
1998), esta maior freqüência também encontrada em nosso estudo pode estar relacionada ao
fato de que, nesta classe sócio-econômica menos favorecida, as meninas despendem mais
tempo no lar, exercendo atividades com menor perda de energia do que os meninos.
Entretanto, os resultados da pesquisa de Balaban e Silva (200 1) realizada em escola privada
do Recife, envolvendo crianças da classe média e alta, constatou diferentemente maior
frequência tanto do sobrepeso como da obesidade no sexo masculino, provavelmente pelas
atividades com menor gasto de energia, como jogos eletrônicos (vídeo game) e também pelo
tipo de educação e a própria sociedade que conduz as meninas a serem mais vaidosas do que
os meninos; sendo estes distúrbios mais fáceis de resolução nesta classe social que apresenta
maior renda.
Quanto à associação entre sobrepeso e obesidade com outros agravos, este estudo
evidenciou que 92% das crianças não apresentaram agravos associados à obesidade e ao
sobrepeso (Gráfico 4). Diferentemente, Nóbrega (1998), mostra a relação com outros
distúrbios crônico-degenerativos, parª os quais o excesso de peso é considerado fator de risco.
Por sua vez, Damiani et al (2000), mostram que cerca de 80% das crianças obesas serão
adultos obesos. Denota-se, então, a importância da intervenção ambulatorial na nutrição
infantil, no tocante à prevenção destes agravos à saúde.
No que se refere à renda familiar (Gráfico 5), nota-se que as maiores rendas mensais
foram de três salários-mínimos (SM). No extrato de até um SM as crianças apresentaram
maior freqüência de obesidade (40,9%) e sobrepeso (6,8%). Nos extratos de 1,5 SM e três
SM houve discreta redução. Estes resultados contradizem os estudos de Mondini e Monteiro
(1998), que destaca uma esperada desnutrição para tais rendas. A maior freqüência na renda
de até um SM pode ser explicada pela ingestão awnentada de alimentos ricos em hidratos de
carbono, mais acessíveis e saciantes da fome, como sugere Damiani et al (2000).
Quanto a profissão, 54,5% das mães têm como profissão 'atividades do lar' (Gráfico
6), diferentemente do observado por Facchini (1995), que relaciona o trabalho matemo
remunerado, ou seja, fora do lar, ao maior ganho de peso infantil, possivelmente por
representar melhorias na renda familiar afastando-as da extrema linha de pobreza. Por outro
lado, Petry et al (1992), assinalaram que a figura materna associa-se direta ou indiretamente a
18
todas as atividades inerentes ao consumo dos alimentos (escolha, preparo e distribuição
intrafamiliar), o que poderia justificar os achados deste estudo, pois, mesmo com 44,5% das
mães trabalhando fora do lar, em atividades remuneradas, apresentaram rendas que não
ultrapassam três SM, o que por sua vez, levaria ao consumo alimentar de baixo custo e
geralmente, mais calórico (Damiani et al, 2000).
Este estudo evidenciou que em 4 7, 7% das crianças com sobrepeso e obesidade,
as mães apresentaram até 7 anos de estudo (Gráfico 7). Nas demais (36,3%), a escolaridade da
mãe esteve entre 8 e 11 anos estudados (ensino médio). Estes resultados são diferentes
daqueles obtidos por Engstrom e Anjos (1996), que evidenciaram que o risco de obesidade foi
de 2,89 vezes maior se a mãe apresentasse maiores anos de estudo, em relação à mãe
analfabeta ou com até 7 anos de estudo (1° grau). Outros autores referidos por Petty et al
(1992), sugerem influência indireta desta variável na determinação do estado nutricional ou
no consumo alimentar. É possível que as demais condições sócio-ambientais apresentem
maior relação com sobrepeso e obesidade1 infantil, o que requer estudos mais adequados a este
problema.
Quanto a procedência (MAPA 1 ), os bairros Ibura ( 11,4% ), J ordão e Afogados (9, 1%)
apresentaram as maiores freqüências em relação aos demais. No entanto, os bairros de Recife
apresentam populações de características heterogêneas, onde Ç.oexistem grupos sociais com
boas condições sócio-econômicas e outros de baixa renda; que, são maioria neste estudo.
19
. ~
CONCLUSÕES
Neste estudo, a prevalência de 16% para o sobrepeso e obesidade foi bastante
significativa, considerando que o IMIP atende basicamente demanda de baixa renda e esses
agravos são mais freqüentes em classes de renda média e alta~ revelando assim a transição
epidemiológica do sobrepeso e obesidade em população de baixa renda.
Coincidindo com outros estudos, as idades mais acometidas para esses agravos foram
os primeiros anos de vida (25%) e a fase escolar (36,4%), entretanto com relação ao sexo este
estudo realizado em instituição envolvendo classe sócio-econômica menos favorecida,
observou-se maior freqüência tanto do sobrepeso como da obesidade no sexo feminino;
diferente dos resultados encontrados em estudos realizados em instituições privadas com
classes média e alta.
Registros de outros agravos as~ociados ao sobrepeso e à obesidade não foram
verificados em 92% das crianças do estudo; considerando, que não houve acesso aos
prontuários, e sim as fichas ambulatoriais.
Em se tratando da renda, observou-se que a maior freqüência de obesidade (40,9%) e
sobrepeso (6,8%) foi encontrada no grupo com renda mensaLde até um salário mínimo (SM);
no grupo com maior renda (3 SM) houve discreta redução desses agravos .
. Quanto à ocupação materna, 54,5% das mães exerciam atividades do lar, podendo
repercutir no poder de consumo destas, uma vez que 47,7% das mães concluíram até 7 anos
de estudos (ensino fundamental), o que lhes 4ificulta a inserção no mercado de trabalho e
melhorias na renda familiar. Mesmo com 36,3% das mães com conclusão de 8 a 11 anos de
estudos (ensino médio), as atividades remuneradas ainda são precárias, e as condições sócio
econômicas destas populações se reproduzem no seu local de residência em bairros de
características heterogêneas onde predominam rendas baixas, assim como a própria demanda
por assistência à saúde em instituições conveniadas com o SUS .
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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21
ANEXOS
22
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. ·,
Diagnóstico Clinico: {O) Sem diagnóstico (1) DM (2) HAS {3)Dislipidemia (4) · Respiratório (5}Renal (6} CardioRatia (?)Erro inato do metabolismo (8) Hipertrigliceridemia (9) Hipercolesterbiemia (10) Anemia (11} Fibrosa cística (12) Outros
Queixas: (O) Sem queixas (1 )Naúseas e vômitos (2) Azia/gastrite (3} Inapetência (4) Erro Alimentar (5) Constipação (6) Diarréia (7) Flatulência (8) Outros
21
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