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SOMOS O QUE COMEMOS
Autor: Vera Lucia Bulla Vasconcellos 1 Orientadora: Eneri Vieira de Souza Leite Mello2
RESUMO
Diante da modernidade do mundo, hábitos que antigamente eram literalmente sagrados, hoje são deixados de lado, como o ato de se alimentar. Devido a esses maus hábitos, as necessidades nutricionais diárias vêm sendo negligenciadas, mediante ao apelo comercial de alimentos industrializados, com consequente prejuízo da saúde da população, que passa a adquirir doenças relacionadas ao déficit nutricional. Existe também, um exagerado culto ao corpo fazendo com que distúrbios psiquiátricos relacionados ao hábito nutricional se instalem na sociedade. Diante disso, é necessário que a escola, o centro formador de indivíduos, comece a mostrar o quanto a alimentação e hábitos saudáveis são importantes na qualidade de vida e na manutenção da saúde. Assim, este projeto tem por finalidade esclarecer e orientar crianças e adolescentes sobre uma forma saudável de alimentação que contemple diversos tipos de alimentos, com baixo custo final. Ele foi realizado com alunos do ensino fundamental – 7º série de um colégio estadual em Maringá – PR, abrangendo temas amplos e atividades práticas que tinham por objetivo final não somente modificar hábitos dos alunos, mas sim de suas famílias. Um perfil nutricional e alimentar destes alunos foi traçado através de um recordatório de 24 horas, durante uma semana, para evidenciar quais alimentos prevalecem em sua mesa. Com essa análise da qualidade nutricional associada ao peso de cada aluno, foi possível, ao menos superficialmente, supor algum distúrbio nutricional. Durante as aulas disponibilizadas para a execução do projeto, diversos temas foram abordados, como por exemplo: alimentação equilibrada, pirâmide alimentar, hábitos alimentares, valor nutritivo dos alimentos e composição dos alimentos industrializados mais utilizados cotidianamente.
Palavras chave: Nutrição; Educação; Hábitos alimentares
1 Professora PDE – Núcleo de Educação de Maringá
2 Professora Doutora – Departamento de Ciências Morfológicas – Universidade Estadual de Maringá
1- Introdução
O mundo contemporâneo e globalizado gerou nas grandes cidades, mais
pessoas estressadas e sempre com muita pressa em seus afazeres. Devido a essa
pressa, o tempo de se realizar uma refeição, antes reservado para a alimentação em
família, hoje se encurtou e é negligenciado pelas pessoas, de modo que as novas
gerações vêm crescendo ao lado de alimentos industrializados com muitos
conservantes e condimentos de baixo valor nutritivo. Diante disso, é necessário que
a escola, o centro formador desses indivíduos, lhes mostre o quanto a alimentação e
hábitos saudáveis são importantes na qualidade de vida e na manutenção da saúde.
Nesse sentido, o projeto desenvolvido se preocupou em traçar e modificar os
hábitos alimentares de um grupo de alunos da 7 ª série do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Duque de Caxias, situado na cidade de Maringá- PR, mostrando
tanto a eles como à sua família que não necessariamente alimentos de alto custo
são realmente nutritivos e benéficos à saúde.
Como metodologia, primeiramente, foi traçado um perfil alimentar destes
alunos, através de um recordatório de 24 horas durante uma semana, evidenciando
quais alimentos prevaleciam nas suas mesas. Com essa informação, foi possível
analisar a qualidade nutricional e a quantidade de alimentos ingeridos, explicando
alguns possíveis distúrbios nutricionais.
Após isso, os participantes do projeto e o professor tiveram uma conversa
informal, com o intuito de revelar e quantificar algum conhecimento dos alunos em
relação à nutrição, à alimentação balanceada e aos desvios de alimentação, tais
como, a anorexia e a compulsão em comer, e, ainda, se os alunos se identificam
com algum desses distúrbios.
Posteriormente, feita esta análise, durante as aulas disponibilizadas para a
execução do projeto, foram abordados diferentes temas, como por exemplo:
Alimentação equilibrada; pirâmide alimentar; hábitos alimentares; nutrientes e suas
funções; valor nutritivo dos alimentos; alimentos naturais e industrializados;
composição dos alimentos industrializados mais utilizados cotidianamente;
conservação dos alimentos; vitaminas e distúrbios orgânicos relacionados à sua falta
e distúrbios nutricionais.
Por fim, como encerramento, foi realizado um piquenique com alimentos
saudáveis e também um novo cardápio baseado nos novos conhecimentos.
Para a explicação dos temas citados, diversas abordagens metodológico-
pedagógicas foram utilizadas, como práticas laboratoriais, discussões e análises de
rótulos de composição de alimentos.
Como resultado final, este extenso trabalho desenvolvido levou à discussão
de diversos temas relacionados ao assunto central (Alimentação), extrapolando o
conhecimento que os alunos já possuíam e, em alguns casos, alcançando outros
parentes como pais, irmãos e tios.
2 – Fundamentação Teórica.
Desde os primórdios, o homem tem a necessidade de se alimentar e a fome
vem como um instinto de sobrevivência. Relatos mostram que a facilidade de acesso
aos alimentos era nula e os antepassados caçavam animais e procuravam frutas e
folhagens comestíveis para a sobrevivência. Com a evolução, a oferta alimentícia foi
ampliada e a revolução industrial e a globalização criaram estabelecimentos
comerciais que proporcionaram à população mais opção e comodidade na obtenção
da própria comida.
Através deste avanço, os alimentos passaram a ter, em sua grande maioria,
aditivos, corantes e conservantes. E, aos poucos, a população habituada a essa
facilidade, ainda desconhecendo os prejuízos na saúde que essa nova forma de se
alimentar traria, foi literalmente alimentada dessa idéia global.
Segundo DE OLIVEIRA et al:
Uma alimentação saudável deve ser entendida enquanto um direito humano que compreende um padrão alimentar adequado ás necessidades biológicas e sociais dos indivíduos. (OLIVEIRA ET al. 2000.)
Estudos científicos avaliaram os benefícios e malefícios dessa dieta e
percebeu-se que ela estava correlacionada a novas doenças e ao aumento da
mortalidade populacional.
Atualmente estipula-se um conceito de geração saúde, em que hábitos
saudáveis para a ampliação da longevidade e da melhora na qualidade de vida são
fomentados; porém, em contrapartida, existem crianças e adolescentes instigados
pelo marketing dos produtos industrializados, ao invés de alimentos mais nutritivos.
Segundo Albano e Souza:
A adolescência é uma etapa do desenvolvimento acompanhada de processos de crescimento e de maturação , tanto do ponto de vista somático como psicológico. Trata-se de um período de elevada demanda nutricional e por este motivo, a nutrição desempenha um papel importante no desenvolvimento do adolescente. Tal importância decorre do fato de que a adoção de dieta inadequada pode influenciar de forma desfavorável o crescimento somático. (ALBANO: 2001, p.56 ).
Em vista disso, a educação nutricional deve ser aplicada nas escolas, a fim de
que os alunos, desde o inicio de suas formações, adquiram a consciência dos
benefícios de uma alimentação saudável, não se deixando levar pelo apelo
comercial a produtos de baixo valor nutritivo, visando maior saúde.
Neste sentido, Araújo et al. afirma que:
Tendo a escola papel expressivo ao modelar as atitudes e comportamentos das crianças principalmente sobre a forma de alimentar, integrar educação nutricional à sala de aula é de fundamental importância no processo de ensino aprendizagem. (ARAÚJO et al: p.194 ).
Maria Cristina Faber Boog, nutricionista e professora da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp, assevera que:
Educar em nutrição é tarefa complexa que pode ser pensada pelo paradigma da complexidade. Além da busca por um certo conhecimento necessário à tomada de decisões que afetam saúde, cabe analisar as atitudes e condutas relativas ao universo da alimentação.(BOOG: 2004, p. 281-293).
Com a ampliação do conceito de uma alimentação saudável, é possível
melhorar a qualidade de vida da população no sentido de prevenção de doenças e
promoção da saúde, tornando o índice de enfermidades correlacionadas
substancialmente menor.
3- Desenvolvimento
Para um melhor entendimento, o desenvolvimento pode segmentar-se em
quatro partes distintas e sequenciais que são:
1. Apresentação do projeto para alunos e funcionários da escola
2. Recordatário e discussão
3. Aulas teóricas e práticas a serem ministradas
4. Piquenique e elaboração do novo cardápio
3.1.1- Apresentação do projeto para a equipe pedagógica e para a direção
Antes do início das aulas, em reunião após o recesso quinzenal de julho, o
projeto e seus objetivos foram apresentados à equipe pedagógica e aos demais
funcionários da escola. Como material de apoio, foi utilizado um pôster onde
constavam todos os conteúdos que seriam abordados, além das metodologias
pedagógicas utilizadas. (Este foi fixado na sala dos professores durante todo o
período de desenvolvimento)
Com relação à direção, foi solicitado o apoio na cessão de um maior tempo de
uso do laboratório de Biologia e também de materiais necessários para a realização
das atividades práticas.
3.1.2- Apresentação do projeto para os alunos envolvidos
Em sala de aula, foi exposto o projeto, suas atividades, objetivos e o
cronograma das ações a serem desenvolvidas.
Tabela 1 – Cronograma das ações a serem desenvolvidas
3.2.1- Recordatário de Alimentação Semanal
Como tarefa, foi solicitada a execução de um recordatário de alimentação
semanal. Nele, o aluno deveria registrar cada refeição realizada e os seus
respectivos alimentos, de segunda a sexta feira de uma determinada semana.
Após a leitura de cada recordatário preenchido, foi possível fazer uma média
de quantas refeições cada aluno realizava por dia, tomando como média a maior
quantidade de dias em que se repetiu um mesmo número de refeições. Abaixo, se
encontram os resultados dos sessenta e oito (68) alunos que participaram do
projeto.
AÇÃO
Agosto/2011 Apresentação do projeto para os alunos envolvidos.
(7° Série do Ensino Fundamental).
Execução e análise do recordatário semanal de 24 horas.
Levantamento dos conhecimentos prévios em relação à nutrição
à alimentação balanceada e aos desvios de alimentação
Setembro/2011
Aulas ministradas (Nutrientes e suas funções; pirâmide
alimentar; alimentação equilibrada; valor nutritivo dos
Outubro/2011 Aulas ministradas (Alimentos naturais e industrializados;
composição dos alimentos industrializados mais utilizados
Novembro/2011
Aulas ministradas (Vitaminas e distúrbios orgânicos
relacionados à sua falta e distúrbios nutricionais).·.
Realização de um piquenique com alimentos saudáveis como
encerramento.
Elaboração de um novo cardápio com as mudanças nutricionais
baseada nos novos conhecimentos adquiridos.
Pensando em um grande número de desistências no preenchimento durante
o final de semana, tanto o sábado como o domingo foram extintos do recordatário,
porém, há de se lembrar que houve uma quantidade de alunos que não realizaram a
tarefa proposta.
Número de refeições diárias Número de Alunos Porcentagem
Cinco Refeições 7 10,3%
Quatro Refeições 16 23,53%
Três Refeições 19 27,94%
Duas Refeições 11 16,18%
Recordatário não realizado 15 22,05%
Tabela 2 – Números gerais dos recordatários
Através do recordatório, os alimentos mais prevalentes nas mesas de cada
aluno foram evidenciados e, a partir disso, foi possível analisar a qualidade
nutricional e superficialmente supor aos alunos algum distúrbio nutricional causado
por má ou excessiva alimentação, como por exemplo: Obesidade.
3.2.2- Levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos
Os participantes do projeto juntamente com o professor tiveram uma conversa
informal, com o intuito de revelar algum conhecimento dos educandos em relação à
nutrição, à alimentação balanceada e aos desvios de alimentação.
A fim de quantificar o conhecimento, os alunos foram indagados com as
questões:
- Como nosso organismo obtém energia?
- Qual é a função dos alimentos?
- Quais são os componentes básicos dos alimentos?
- O que são Carboidratos, Proteínas, Lipídeos Fibras, Vitaminas e Sais Minerais?
- No que consiste uma boa alimentação? O que é uma alimentação balanceada?
-.Você é uma pessoa que consome todos os tipos de alimentos?
- Quais são as implicações de uma alimentação inadequada?
- Pela alimentação, como podemos proteger o nosso corpo contra os efeitos da vida
moderna?
3.3- Aulas teóricas e práticas ministradas
Cada subitem abaixo corresponde ao modo que cada tópico foi explicado e
esmiuçado durante as aulas lecionadas.
3.3.1 Nutrientes e suas funções
Primeiramente, foi citada a definição de nutrientes explicando-a através de
exemplos (Produtos que obtemos depois da transformação dos alimentos no nosso
organismo, sendo que todos eles desempenham funções essenciais nosso
crescimento e manutenção da vida).
Após essa introdução, cada classe de nutrientes (Proteínas, carboidratos,
lipídeos, fibras, vitaminas e sais minerais) e suas respectivas funções foram
comentadas. No quadro-negro, foi exposta a classificação dos nutrientes, conforme
as suas funções no organismo e também os macronutrientes foram diferenciados
dos micronutrientes.
Figura – 1 Classificação dos alimentos conforme suas funções nos organismos
3.3.2 Pirâmide Alimentar
A partir do conhecimento prévio das diferentes classes de nutrientes, uma
pirâmide alimentar foi desenhada no quadro-negro, sendo os quatro grupos da
pirâmide e os alimentos que os compõe explicados.
Figura 2 – Modelo de Pirâmide Alimentar desenhada
Grupo 1: Energéticos – Alimentos que devem ser a base da alimentação, pois
fornecem grande energia ao corpo. (Pães, massas, batatas e arroz)
Grupo 2: Reguladores – Alimentos que devem ser consumidos em boa quantidade
pois são ricos em vitaminas, fibras e vegetais (Frutas e verduras).
Grupo 3: Construtores – Alimentos que necessitam de um médio consumo, todos
são ricos em proteínas (Lacticínios, carnes, ovos e leguminosas).
Grupo 4: Energéticos Extras – Ingeridos em mínima quantidade durante o dia
(Gorduras, óleos e açúcares).
Depois destes conhecimentos teóricos adquiridos, os alunos foram levados ao
laboratório de informática e lhes foram apresentadas as variantes das pirâmides
alimentares existentes, moldadas a distintas atividades diárias realizadas, como a
prática esportiva.
Além disso, neste ambiente informatizado, mais alimentos existentes em cada
um dos quatro grupos que compõem a pirâmide foram exemplificados.
3.3.3 Alimentação Equilibrada
Por fim, ainda no ambiente computacional, com base no que já havia sido
lecionado, os educandos e o professor criaram um conceito de o que seria uma
alimentação Equilibrada: “Alimentação Equilibrada ou Balanceada é aquela que
oferece em uma mesma refeição uma quantidade suficiente de pelo menos um
alimento de cada grupo (Energéticos, Construtores e Reguladores), pois assim
conseguimos todos os nutrientes que nosso corpo precisa para sobreviver”.
Após isso, três figuras de pratos lhes foram apresentadas e cada uma deveria
ser analisada se ela se enquadrava como um prato em que existia a “Alimentação
Equilibrada”.
´ Figura 3 - Ausência de Reguladores e extremamente gorduroso
Figura 4 – Ausência de Energéticos Figura 5 – Prato Saudável
3.3.4 Valor Nutritivo dos Alimentos
A fim de uma melhor memorização do valor nutritivo alimentar, a atividade
prática “Pessoa de Alimentos” foi realizada.
Esta consiste em primeiramente dividir os alunos em três grupos de nome:
Reguladores, Construtores e Energéticos.
Posteriormente, um aluno de cada grupo irá deitar em um papel Kraft
estendido e sua forma será marcada com um pincel atômico.
Todo o corpo desenhado no papel será preenchido com a colagem de figuras
de alimentos recortadas, que correspondam à classe funcional de alimentos
respectiva ao nome de cada grupo.
Essas figuras são de panfletos de supermercados levados à sala de aula
pelos próprios alunos.
No final, cada boneco continha também uma fala explicativa:
Boneco Regulador: “Eu sou a vitamina. Também sou as fibras e os sais minerais.
Sou um nutriente regulador, faço seu corpo funcionar direitinho e cuido dos seus
cabelos sua pele e seus olhos. Estou presente nas frutas, legumes e verduras, além
de muitos outros alimentos”.
Boneco Construtor: “Eu sou a proteína, um nutriente construtor. Sou muito
importante, porque faço os músculos crescerem, as unhas ficarem fortes e cicatrizo
os ferimentos. Sou proteína animal (Carne, ovos, leites e derivados) e também sou
proteína vegetal (Leguminosas e sementes)”.
Boneco Energético: Eu sou os carboidratos e os lipídeos. Minha função é fornecer
energia para todas as atividades que o corpo realiza diariamente. Posso ser
encontrada nas massas, batatas, mel, açúcares e refrigerantes (Carboidratos). Ou
também posso ser achado em toucinhos, manteiga, margarina, óleos, azeites,
carnes goras e frituras (Lipídeos).
Figura 6 – Boneco Regulador
3.3.5- Alimentos Naturais e Industrializados
Em sala de aula, foram discutidos e diferenciados estes dois tipos de
alimentos, sendo que três textos de apoio foram utilizados:
Texto 1: Alimentos Industralizados – Livro: Ciência crítica e ação – 6° série – Pág.
45
Texto 2: Preservação dos Alimentos Industrializados – Livro: Ciência crítica e
ação – 6° série – Pág. 46
Texto 3: O perigo dos Enlatados – Livro: Ciência crítica e ação – 6° série – Pág. 45
a 47.
Substâncias como aditivos químicos, corantes alimentícios e o
processamento alimentar foram explicados e, além disso, um debate sobre o maior
valor nutricional dos alimentos naturais contra a maior praticidade dos
industrializados foi instaurado e discutido pelos alunos.
Por fim, os educandos foram ao laboratório e realizaram uma atividade prática
em que há uma analogia com a ação dos corantes na mucosa gástrica.
Nesta atividade, dois chumaços de algodão são embebidos em dois béqueres
contendo diferentes substâncias: em um há suco de laranja, enquanto no outro há
um refrigerante de sabor laranja.
Após a fervura e lavagem, se analisa o algodão e nota-se que onde havia o
refrigerante (presença de corante) houve a impregnação da cor laranja no algodão,
ao passo que no Becker onde o suco de laranja estava presente houve a
permanência da cor original do algodão.
3.3.6- Composição dos alimentos industrializados mais utilizados
cotidianamente
A fim de que cada aluno conheça os aditivos alimentares mais presentes nos
alimentos industrializados, uma atividade prática foi realizada.
Nela, rótulos de embalagens de industrializados rotineiramente consumidos
foram trazidos para a sala da aula pelos alunos e seus aditivos foram analisados
através de uma tabela explicativa.
Tabela 3 – Principais aditivos químicos e suas funções e prejuízos à saúde
3.3.6- Conservação dos Alimentos
Em ambiente escolar, primeiramente foi explicada a presença de bactérias e
fungos que sobrevivem na natureza degradando os alimentos, assim, é necessária a
presença de um método que elimine ou impeça o crescimento destes
microrganismos, para que os alimentos possam ser consumidos pelo homem.
Aditivo Função Efeitos sobre a saúde Substâncias mais
comuns
presentes.
Antioxidante Evita o ranço provocado
por óleos e gorduras
presentes nos alimentos
Em altas doses pode causar
modificações genéticas
Ácido Ascórbico
Tocoferóis
Ácido cítrico
Aromatizantes
ou
Flavorizantes
Atribui ou ressalta um
aroma no alimento
(Glutamato monossódico) Em
excesso, causa alterações no
apetite, problemas circulatórios e
neuronais
Essências naturais
Essencias artificias
Glutamato
monossódico
Conservantes Impedem a deterioração
de alimentos durante certo
período.
(Ácido benzoico) Pode afetar o metabolismo (Dióxido de Enxofre) Irrita mucosas e é cancerígeno (Nitritos e Nitratos) Afetam o fígado e instestino e em altas doses são cancerígenas
Ácido benzoico
Nitratos
Nitritos
Ácido Sórbico
Dióxido de Enxofre e
derivados
Corantes Atribuem uma coloração
atraente aos alimentos
Em excesso, podem provocar
alergias e sobrecarregar fígado e
rim
Corantes Naturais
Corantes artificiais
Caramelo
Estabilizantes Dá consistência a
alimentos como sorvete e
maionese
Sem informações concretas Polifosfatos
Citrato de Sódio
Polisorbato
Depois desta problematização exposta, a importância da existência dos
métodos de conservação foi debatida e suas diversas técnicas e usos foram
apresentados aos educandos.
A primeira técnica a ser vista foi a conservação pelo calor, sendo que nela a
pasteurização, seus passos de aquecimento e resfriamento e as suas vantagens
foram explicadas aos alunos. Como exemplos de alimentos que são conservados
através deste processo foram citados o leite, sucos, queijo, carne de embutidos e
frutas enlatadas.
O outro tratamento térmico de conservação explicado foi a esterilização. Esta
é diferenciada da pasteurização pela maior temperatura a que o alimento é exposto
e os enlatados foram o exemplo principal de alimentos submetidos a este processo.
Já, em se tratando das técnicas de conservação pelo frio, foram citadas a
refrigeração e o congelamento, tendo as baixas temperaturas como um empecilho
à reprodução e à ação dos microrganismos, mantendo deste modo a integridade dos
alimentos.
Com relação aos métodos de conservação através de substâncias químicas,
os alunos aprenderam que a utilização do cloreto de sódio (sal de cozinha) em
carnes e peixes, promove a desidratação das bactérias.
Por fim, substâncias como nitrato e nitrito, já estudadas na aula de
composição dos alimentos industrializados, extremamente presentes em alimentos
contendo carne crua (linguiça, presunto, bacon e salame) foram relembradas como
conservantes químicos e, suas possíveis complicações em altas doses (câncer de
esôfago e de estômago) foram comentadas.
Como atividade prática, cinco copinhos, contendo um mingau quente formado
por amido de milho dissolvido em água fervente, foram apresentados aos alunos.
Cada um destes copos foi numerado e tiveram diferentes modos de
estocagem:
Copo 1: Ficou aberto no próprio laboratório
Copo 2: Foi coberto com filme plástico.
Copo 3: Foi completado com óleo
Copo 4: Foi completado com vinagre
Copo 5: Foi colocado na geladeira sem nenhuma cobertura.
Após uma semana todos os mingais foram analisados apresentando os
seguintes resultados.
Copo 1: É o que apresentou mais alterações, pois ficou exposto na temperatura
ambiente e sem proteção, exposto aos microorganismos.
Copo 2: Está menos estragado que o primeiro, pois o filme plástico impede que os
microorganismos se depositem sobre ele.
Copo 3: O óleo funciona como cobertura ou embalagem, impedindo qualquer
contato com o ar e, por consequência, com os microrganismos.
Copo 4: a acidez do vinagre impede o aparecimento de microrganismos (princípio
de preparação de algumas conservas).
Copo 5: as baixas temperaturas sãs as que mais retardam o aparecimento de
fungos, por isso a geladeira é o melhor lugar para conservar alimentos.
Figura 6 – Experimento sobre Conservação dos Alimentos.
3.3.7- Vitaminas e distúrbios nutricionais relacionados à sua falta
Em sala de aula, para a explicação deste tópico, foi utilizado como material de
apoio uma tabela explicativa contendo as vitaminas de maior relevância, exemplos
de alimentos em que cada uma é encontrada e os distúrbios nutricionais
relacionados à sua escassez.
Vitamina Alimentos Distúrbios Nutricionais
Vitamina A (Retinol) Fígado, manteiga, gema de
ovo, cenoura e espinafre
Ressecamento dos olhos e
dificuldade de se enxerga com
pouca luz (Cegueira noturna)
Vitamina B Cereais, feijão, soja,
presunto e fígado.
Beribéri, enfermidade
caracterizada por anemia e
dores nos nervos
Vitamina B6 Carne bovina, frango, peixe,
batata e tomate.
Em Crianças, anemia, vômitos,
irritabilidade e fraqueza. Em
adultos, lesões ao redor dos
olhos e da boca.
Vitamina B12 Carne Bovina, fígado, frango,
leite, laticínios e ovos.
Anemia, caracterizada por
fraqueza, palidez e deficiência de
alguns elementos do sangue.
Vitamina C Frutas cítricas, morango,
amora, framboesa,
brócolis
Escorbuto, doença
caracterizada por palidez, dor
nas articulações e
sangramento das gengivas.
Vitamina D Ovos, queijo, leite,
sardinha, salmão e óleo
de bacalhau.
Causa o raquitismo, deficiência
na formação dos ossos que
pode causar deformações no
esqueleto.
Vitamina E Espinafre, castanha e óleos
vegetais
Anemia e esterilidade.
Vitamina K Fígado, couve-flor, espinafre e
batata
Deficiências no sangue que
causam hemorragia.
Tabela 4 – Principais Vitaminas, Alimentos presentes e deficiências nutritivas.
Como atividade prática, uma atividade lúdica foi preparada pelos próprios
alunos. Ela consistia em um “jogo da memória de vitaminas”.
Este era composto de dezesseis cartas retangulares de cartolina, recortadas
e confeccionadas pelos alunos. Oito destas foram grafadas com o nome das oito
vitaminas presentes na tabela exposta e já debatida em sala de aula. Enquanto que
as outras oito cartas restantes consistiam em figuras de vários alimentos recortadas
e coladas, que apresentavam uma grande quantidade de uma dessas vitaminas
existentes na tabela.
Após a confecção de diversos baralhos, os alunos jogavam as partidas deste
“jogo da memória de vitaminas”, sendo que houve um revezamento de baralhos, de
modo que todos alunos puderam ver toda as diversas cartas confeccionadas,
assimilando uma maior quantidade de alimentos que correspondiam uma
determinada vitamina.
3.4.1- Elaboração de um piquenique
Finda a parte teórica, um piquenique foi realizado pelos alunos. Esta atividade
foi denominada de “amigo-fruta”.
Primeiramente, como um “amigo-secreto”, todos os alunos tiveram seu nome
escrito em um papel, que depois foi pego por outro colega da classe, através de um
sorteio.
Após isso, cada aluno da classe foi ao tablado e disse qual seria a sua fruta
predileta, para que o colega que o sorteou pudesse trazê-la na revelação do “amigo
fruta”.
Como tarefa de casa, cada fruta que seria revelada deveria ser pesquisada,
sendo que suas informações deveriam estar presentes em um recorte de cartolina,
posteriormente apresentado e colado na parede da sala de aula. Nesta pesquisa era
necessário que cada cartolina contivesse:
- Um desenho ou figura da fruta.
- Sua informação nutricional (valor energético em kcal e a porcentagem de
proteínas, carboidratos, gorduras, fibras alimentares e sais minerais que aparecem
naquele alimento).
- Quais vitaminas estavam presentes naquela fruta e quais são as suas
funções correspondentes.
3.4.2- Elaboração de um novo cardápio
Como término do projeto, com base nos conhecimentos discutidos em sala de
aula durante os últimos quatro meses, foi pedido que os alunos fizessem um outro
recordatário semanal, semelhante ao que já havia sido realizado antes do início das
atividades teóricas e práticas
Vale lembrar que, novamente, tanto o sábado como o domingo foram extintos
do recordatário a fim de que o número de desistências diminuísse.
Na aula em que o recordatário foi novamente solicitado como tarefa, a
definição de “Alimentação Equilibrada” foi relembrada com os alunos, além de ser
comentado que o maior o número de refeições diárias, com uma menor porção de
comida, faz com que o sistema digestório tenha uma atividade mais homogênea,
sendo benéfico à saúde.
Após uma semana, os novos dados foram trazidos à escola, sendo que, ao se
comparar o primeiro recordatário com o segundo, vinte e três alunos ou por volta de
trinta e três por cento apresentaram uma evidente melhora na qualidade da sua
alimentação.
O que mais se pode notar de diferente entre o primeiro e o segundo
recordatário destes alunos (23) foi um maior número de refeições, uma maior
ingestão de alimentos reguladores e a diminuição da ingestão exagerada de
alimentos calóricos com extrema quantidade de gordura ou carboidratos.
Tabela 5 – Resultados do segundo recordatário
Vale ressaltar que, novamente, uma grande quantidade de alunos não
realizou o recordatário semanal, sendo que houve um aumento da quantidade de
pessoas que não o fizeram, totalizando 17 educandos inadimplentes.
Número de refeições diárias Número de Alunos Porcentagem
Cinco Refeições 10 14,7%
Quatro Refeições 19 27,94%
Três Refeições 15 22,05%
Duas Refeições 7 10,31%
Recordatário não realizado 17 25%
4- Conclusão
Falar sobre alimentação saudável para alunos da 7°série é extremamente
oportuno e interessante, afinal uma melhor alimentação nesta faixa etária acentua o
crescimento ósseo, muscular e também intelectual deste adolescente.
Além disso, quando se tem um tempo adequado, que torna possível discutir
as várias vertentes deste assunto, intercalando a teoria com atividades práticas e
jogos lúdicos, é notório que o conteúdo se torna mais atraente e,
consequentemente, melhor fixado pelos educandos.
Deste modo, os vinte e três alunos que tiveram uma significativa melhora na
sua alimentação apresentaram uma reeducação alimentar e, portanto, atingiram o
objetivo proposto pelo projeto, que era esclarecer a importância de uma alimentação
saudável, e a necessidade de praticá-la desde cedo, buscando perpetuar o hábito de
alimentar-se bem, a fim de se ter uma melhor qualidade de vida e saúde.
Pode-se supor que esta quantidade de educandos conscientizados (23) é
pequena perto do total de alunos (68), estatisticamente somente trinta e três por
cento apresentaram resultados significativos.
Entretanto, como isto se trata de um projeto novo, nunca antes posto em
prática e que tem como dificuldades a enfrentar a indisciplina presente nas escolas,
a não obrigação de comparecimento, por ser uma atividade extracurricular, além dos
meios de comunicação com propagandas apelativas para o consumo de
industrializados, se conclui que os resultados foram extremamentes proveitosos. Há
de se lembrar também a existência de um envolvimento familiar, sendo comum
comentários dos alunos a respeito da aderência dos pais ou de outros familiares ao
seu novo modo de alimentação.
Por fim, diante da importância de se alimentar bem por toda a vida e frente à
grande quantidade de propagandas apelativas que a mídia diariamente publica, mais
atividades como esta ou novos estudos propostos neste mesmo tema deveriam
prosseguir em todas as escolas, de modo que as salas de aulas percam o simples
conceito de “lugar onde a ciência seja lecionada” e se tornem um ambiente de
interação com o cotidiano, que extrapole o ensino da ciência e discuta os novos
entraves que continuamente surgem na sociedade.
Referências
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