sound bomb

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TCC - Curso Técnico em Design Gráfico

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Page 1: SOUND BOMB

ISBN 85-7305-891-9

9 788577 190263

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Coordenação GeralMariana Fonseca

Produção Gráfica e Edição de TextoLucas Rocha

PesquisaDEDOC-Departamento de Documentação Editora Abril

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático: 1. Internacional: Revistas: Música 050.981 2. Brasil: Revistas: Música 050.981

ISBN 85-7305-891-9

© Editoria Abril, 2011

Sound Bomb. - São Paulo : Editora Abril, 2011

Bibliografia 1. Periódicos - Música

00-2388 CDD-050.981

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EDITORA

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Quando começamos a pensar em como reunir nomes da música que mais se destacaram durante o ano, ocorreu-nos que vários desses tinham muita coisa em comum e que quando juntos poderiam ser ainda mais memoráveis. O livro que está em suas mãos traz o melhor do universo musical no ano de 2011 de uma forma clara e direta. Dividido em quatro seções - NACIONAL, ROCK, POWERHITS e INDIE - o Sound Bomb não só apresenta o trabalho do artista, mas também mostra o real motivo de ouvi-lo através das análises de todos os 40 álbuns presentes. É com grande orgulho que apresentamos este livro na esperança de que ele contribua para o enriquecimento musical de amantes da música, essa que, cada vez mais, se mostra presente em suas vidas.

Roberto CivitaPresidente e EditorEditora AbrilDezembro de 2011

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A BANDA MAIS BONITA DA CIDADE A Banda Mais Bonita Da Cidade

MÚSICA CROCANTE Autoramas

DE VERDADENevilton

SAMBA 808Wado

EU PRECISO DE UM LIQUIDIFICADORGraveola e o Lixo Polifônico

HAVENOConstantina

CANÇÕES DE GUERRAPública

NÓ NA ORELHACriolo

LONGE DE ONDEKarina Buhr

NACIONALTransmissor

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A BANDA MAIS BONITA DA CIDADE A Banda Mais Bonita Da Cidade

No Brasil ou mesmo no restante do mundo existe um estranho sentimento de que se um artista é con-hecido do grande público ou circula com destaque pelos principais circuitos culturais, ele automat-icamente será incapaz de promover um trabalho realmente satisfatório. Entretanto, quem joga com essa lógica falha terá de rever seus conceitos ao se deparar com a estréia do grupo curitibano A Banda Mais Bonita Da Cidade, coletivo que não apenas comprova estar além de um único hit, como trans-forma seu debut em uma sequência de acertos.

Aos que acompanham o trabalho dos curitibanos desde que suas primeiras composições passaram a ecoar pela rede há pouco mais de dois anos, pro-vavelmente encontraram no clipe da faixa Oração um ponto de ascensão da banda paranaense. A boa repercussão através de toda a imprensa nacional serviria para abrir uma série de portas ao grupo, que até o presente momento contava com um catálogo mínimo de composições e raras apresentações ao vivo. Já aos que nunca ouviram falar do trabalho dos curitibanos, o efeito talvez tenha sido outro.

01 Mercadoramama02 Aos Garotos de Aluguel03 Boa Pessoa04 A Balada da Bailarina Torta05 Oxigênio06 Ótima07 Canção Pra Não Voltar08 Solitaria09 Nunca10 Se Eu Corro11 Oração12 Cantiga De Dar Tchau

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Totalizando 12 composições a homônima estréia do grupo curitibano – hoje composto por Uyara Torrente, Rodrigo Lemos, Vinícius Nisi, Diego Plaça e Luis Bourscheidt – amarra com firmeza o uso de uma instrumentação primorosa, letras que escapam do óbvio e um vocal intensamente explorado, garantindo desde composições tomadas pela calmaria, até faixas inundadas por um senti-mento grandioso. Volátil em todas suas estâncias, o registro transita por difer-entes setores da música, promovendo tanto músicas carregadas por estética esquizofrênica, até faixas tocadas por uma sutileza lírica e vocal.

Mesmo que a presença instrumental e poética de Rodrigo Lemos (ex-Poléxia) esteja por todos os cantos do trabalho, é Uyara quem acaba chamando as at-enções. Mais do que uma figura passiva aos comandos instrumentais de seus parceiros de grupo, Torrente transforma sua voz em um elemento de destaque do registro, soando como uma louca, romântica, excêntrica e melancólica, não apenas dando formas aos versos anunciados pelas faixas, mas interpretando-os com verdadeira intensidade.

Assim como é vasta a maneira como os vocais de Torrente são explorados, vastos são os gêneros musicais que entrecortam o trabalho. O apoio em distintos campos da música acaba posicionando o ouvinte dentro de um variado universo sonoro, transformando cada nova audição do disco em uma somatória de ineditismos e faixas que reconfiguram suas lógicas. Esse vasto conjunto de elementos que delimitam todas as canções acabam por fim traduzindo a grandiosidade do registro e da própria banda, que acaba transformando a famigerada Oração em uma mínima parte de todo um vasto caleidoscópio musical.

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MÚSICA CROCANTE Autoramas

O que fazer depois de alcançada a maturidade e com ela o suposto melhor trabalho da carreira de uma ban-da? Ora, faça como o Autoramas e se reinvente. De-pois de apresentar em meados de 2007 o memorável Teletransporte, provavelmente o melhor e mais adulto trabalho da banda carioca, alguns questionamentos sobre o que poderia ser feito a partir dali foram lan-çados. Entretanto, quem bem conhece a carreira do grupo (hoje) formado por Gabriel Thomaz (guitarra e vocal), Bacalhau (bateria) e Flávia Couri (baixo) sabe que surpresas são sempre possíveis em cada novo registro da banda.

Quem chegou a pensar que após a recente emprei-tada através de uma sonoridade acústica pudesse de alguma forma afetar o trabalho da trinca carioca, verá logo na faixa de abertura do recente Música Crocante (2011, Coqueiro Verde) que o peso e a so-noridade elétrica do grupo ainda estão lá. Em seu quinto álbum de estúdio a banda não apenas revive suas antigas experiências musicais, como propor-ciona uma soma de sons carregados de peso e certa dose de agressividade.

01 Verdade Absoluta 02 Tudo Bem03 Verdugo04 Máquina05 Abstrai06 Lugar Errado07 Domina08 Superficial09 Guitarrada II10 Sem Privilégios11 Luana López12 Billy Hates Sayonara13 Blue Monday

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Se antes a Jovem Guarda e alguns toques de surf music pareciam delimitar os últimos lançamentos do grupo, agora estes mesmos elementos são pratica-mente arremessados para o fundo das composições, com o trio não poupando no peso e nos ruídos de seus instrumentos e fazendo do recente disco o projeto mais intenso da vasta carreira do Autoramas. Entre doses imensuráveis de gui-tarras distorcidas e o sequências do característico baixo ruidoso que delimita a sonoridade da banda, somos submetidos a uma série de 11 composições po-derosas (13 contabilizando as duas faixas bônus), faixas que praticamente cor-rompem o rótulo frágil e pegajoso do trabalho.

Mesmo nos momentos mais melódicos do álbum , a banda em nenhum momen-to abandona o toque “agressivo” do registro, poluindo cada uma das faixas pre-sentes com uma densa camada de cacofonias instrumentais que quase beiram o noise rock. Se a instrumentação suja, porém, entusiasmada é o que define e dá sabor ao recente registro dos cariocas, então os versos são responsáveis por garantir um tempero especial ao trabalho.

Produzido através de um sistema de financiamento colaborativo, onde os fãs ajudar-am a alavancar dinheiro para a construção do disco, Música Crocante surge apenas para reforçar o caráter do Autoramas como um dos maiores exemplares do rock nacional. O álbum não apenas confirma que passada mais de uma década des-de a formação da banda ela ainda se manifesta como uma das mais intensas expoentes da nossa música, como também reforça a figura de uma tríade de artistas joviais, hábeis compositores e músicos capazes de nos surpreender a cada nova composição arremessada ao longo do álbum.

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DE VERDADE Nevilton

Lançado sob muita expectativa a estréia de Nevilton, Thiago Lobão e Eder Chapolla surge como um tempero necessário ao rock nacional, carente de algum projeto capaz de desenvolver um som fácil, porém não falho e descartável. O trio faz nascer um projeto convincente, um catálogo de 14 canções ensolaradas, faixas que explodem em um virtuosismo pop e descontraído, mas que passam longe de qualquer aspecto tolo e frágil.

Aos que acompanham o trabalho da banda desde seus primórdios havia um grande medo e talvez até mesmo uma crítica ao trabalho do grupo: em estúdio, a banda não era nem metade do que evidenciava em suas apresentações ao vivo. Logo, havia uma grande preocupação em relação ao primeiro álbum do trio, afinal, teriam eles condições de confrontar em estúdio suas sempre intensas apresentações?

A resposta para essa e quaisquer outras perguntas chegam antes mesmo que a terceira faixa acabe ecoando. De Verdade não apenas funciona como

01 Pressuposto02 A Máscara03 Tempos de Maracujá04 Bolerothèque05 Bolo Espacial06 Ballet da Vida Irônica07 Fortuna08 Vitorioso Adormecido09 Luz Demais P’reu Dormir10 Por Um Triz11 Paz e Amores12 Delicadeza13 Cala e Forma14 Me Espere

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uma grande sequência de composições entusiasmadas e versos que grudam fáceis nos ouvidos, mas como um grande retrato vivo do que são as fenomenais apresentações da banda. Mesmo que isso já fosse visível ao longo do último EP, é somente agora que essa percepção torna-se realmente clara e inques-tionável, com o disco todo surgindo como um belo encontro entre a excentri-cidade melódica do Pavement da fase Crooked Rain, Crooked Rain, com o Los Hermanos do álbum Ventura, usando como liga para unir esses dois elementos uma fina camada de rock brasileiro dos anos 80.

Mesmo reduzidas, as novas composições acabam obviamente satisfazendo, mostrando que Nevilton ainda terá muito tempo para nos surpreender. Melhor exemplo disso está na melódica Tempos de Maracujá, provavelmente uma das melhores canções que o músico já apresentou em tempos. Da sonoridade la-tente aos versos bem aplicados, a faixa evidencia a figura de um compositor em processo de maturação, algo que anteriores composições como O Morno e Do Que Não Deu Certo já transpareciam com propriedade.

É muito provável que para os moderninhos de plantão, De Verdade acabe soando como um trabalho demasiado pop ou até simplista demais. Entretanto, é justamente essa tonalidade radiofônica e livre de excessos que transformam o registro em uma das grandes estréias do ano. Entre todas as grandes ban-das nacionais que habitam o atual cenário alternativo, não restam dúvidas que Nevilton e seus parceiros são aqueles que mais têm chances de adentrar omainstream, posição que mesmo ocupada, ainda garantirá frutos tão bons quanto este nada óbvio debut.

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SAMBA 808 Wado

De toda a crescente de artistas que eclodiram em solo brasileiro ao longo da última década, o catarinense naturalizado alagoano Wado, é de forma incontestável o artista mais inventivo que acabou surgindo. Entre sambas, funks e afoxés, o músico conseguiu através de seus trabalhos proporcionar uma nova roupagem a música brasileira, fundindo tendências, encaixando distintas sonoridades e fazendo com que a cada novo álbum fossemos agraciados com uma onda de novas sensações musicais. Samba 808, evoca as mesmas experiências de suas anteriores obras, com o cantor mais uma vez deixando o conforto das antigas fórmu-las para experimentar.

Munido de uma bateria eletrônica Roland-TR 808 , Wado nos faz navegar em uma maré de sambas lev-emente melancólicos e nostálgicos, inundados por pequenas doses de projeções eletrônicas. Lançado unicamente em formato virtual e dialogando de for-ma “coerente com a cultura do mp3”, o disco é mais um bem desenvolto achado musical, uma espécie de grande resultado de tudo que foi desenvolvido pelo artista ao longo de sua bem resolvida carreira.

01 Si Próprio02 Esqueleto03 Surdos de Escola de Samba04 Com a Ponta dos Dedos05 Portas são pra conter ou deixar passar06 Recompensa07 Não para samba08 Vai Ver09 Jornada10 Beira Mar

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Inverso ao que fora explorado pelo músico em seu último disco – que acabou adornado por melodias ensolaradas, furto óbvio da temática explorada pela obra -, em Samba 808 é visível o quando o registro foca suas composições para dentro. Mesmo nos momentos mais exaltados do trabalho há uma espécie de controle, com as músicas soando intensamente abrandadas. Seja a abertura do disco ao som da moderada Si Próprio ou no fecho com Beira Mar, Wado opta por um som quase diminuto, longe da grandiosidade explorada em faixas comoEstrada, Cordão de Isolamento ou Macaco Pavão.

Embora o título do álbum transpareça grande parte do que encontraremos em seu interior, Wado e seus parceiros se permitem quebrar os limites, apostando em composições que se desvencilhem da unidade de sambas carregados por uma fluência sintética. É o caso de faixas como Não Para, que parece ter es-capado de Terceiro Mundo Festivo e fugido para cá, evocando uma espécie de funk carregado de suingue, permitindo que o cantor ecoe a calorosa sequência “não para, não para, não para não/ Até o chão/ Elas estão descontroladas”.

Talvez acabem decepcionados aqueles que buscam em Samba 808 a mesma fluidez exaltada por Wado em suas antigas obras, afinal, é inegável o quanto o registro carece de certo tempo até se assentar confortavelmente em nossos ouvidos. Passado o desconforto, o álbum acaba revelando a sempre mutável e inteligente imagem do compositor alagoano, uma figura que mesmo desconhecida do grande público e muitas vezes esquecida pela imprensa “ especializada”, nunca esquece de seus seguidores, presenteando-os com mais um deleite musical.

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EU PRECISO DE UM LIQUIDIFICADOR Graveola e o Lixo Polifônico

Estranho quem têm observado o trabalho da banda mineira Graveola e O Lixo Polifônico como algo novo, quiçá inédito dentro do cenário musical brasileiro. Embora pareça como uma alternativa recente aos atentos seguidores da música independente nacional, a banda já vem de uma longa data de apresentações ao vivo, pequenas e grandes gravações em estúdio. Entretanto, estranho não observar o grande salto cria-tivo que a banda (estranho catalogá-los assim) dá em seu mais novo trabalho, Eu Preciso De Um Liquidifi-cador (2011, Independente), um projeto que esbanja beleza, experimentos e uma formatação musical rara e habilmente desenvolvida.

Os mais apressados não tardaram em jogar o grupo no mesmo balaio em que artistas tocados pela “febre Los Hermanos” foram ao longo de uma década sendo empilhados. Os cruzamentos entre samba, rock e alguns toques de ritmo latino provavelmente foram os grandes responsáveis por isso, entretanto, o bloco da Graveola não está sozinho, muitas mais referências habitam as suculentas texturas musicais promovidas pelos mineiros, algo que o novo álbum apenas reforça.

01 Blues via Satélite02 Pra parar de vez03 Desencontro04 Farewell Love song05 Desdenha06 Desmantelado07 Inverno08 Nesse instante só09 Lindo toque10 Rua A11Canção para um cão qualquer12 Dg de pão13 Babulina’s trip14 O cão e a ciência

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Quem observar atentamente a afinação musical neo-hippie que se estende por todo o trabalho do grupo – assim como seu vasto número de integrantes – verá que muito do que delimita os compostos da banda vão além, muito além da geração 2000. Por mais que o indie rock suingado e carregado de referências latinas ainda esteja lá, é nas inspirações poéticas e sonoras que entrecortam tanto a Tropicália como os Novos Baianos de sua melhor fase que o coletivo mineiro encontra seu elemento de acerto.

Se grandioso é o número de mentes que trabalham por trás de cada uma das canções que brotam ao longo do disco, ainda mais diversificado é o conjunto de ritmos, sons e incontáveis referências que borbulham enquanto se desenvolve o álbum. Sejam as pequenas transições pelo Jazz e a Bossa Nova em Canção para um Cão qualquer e Inverno, o samba em Desenha (lembrando muito os Novos Baianos do disco Acabou Chorare) ou mesmo todo o clima caliente de Desmatelado, tudo se representa de maneira vasta, como um grande passeio por diferentes épocas, estilos e preferências musicais.

Típico registro que deve agradar em cheio aos arcaicos apreciadores da velha MPB, em todas as 14 faixas do álbum é possível encontrar um profundo toque de música brasileira, algo que se anuncia tanto de forma branda e quase imperceptível (O Cão e a Ciência), como de maneira escancarada e adornada em notas verdes e amarelas (Desdenha) . Aos pouco instruídos nesse tipo de som, a trinca de abertura do disco proporciona o momento mais “rock” do trabalho, com o grupo moldando boas guitarras e versos que se sustentam em um pop agradável e nunca descartável.

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HAVENO Constantina

Cinco anos parece um tempo mais do que demasiado para separar o lançamento de um disco, de outro. Este, porém foi o tempo necessário para que a mineira Constantina desse vida ao seu mais novo trabalho, Haveno (2011, Independente), um registro que parece estar pronto desde que o primeiro álbum da banda foi lançado em idos de 2006, mas que só agora alcançou seu ponto de maturidade e pode ser apreciado em sua totalidade. Delimitado dentro das mesmas experiências instrumentais do antigo álbum, em seu novo álbum a banda de Belo Horizonte cai de vez na experimentação, ao mesmo tempo em que mantém de forma constante sua sobriedade.

Menos extenso que seu homônimo antecessor (disco que ultrapassa facilmente os 60 minutos de duração), o atual trabalho do grupo mineiro mantém em seus exatos 49:36 minutos uma beleza instru-mental incontestável, com a banda buscando de forma constante uma musicalidade renovada e que preza por modificar seus próprios limites e cara-cterísticas. Tomado por uma tonalidade azul que vai da capa do disco aos sons propostos através

01 Imobilidade Tônica02 Azul Marinho03 Juan, El Marinero04 Benjamin Guimarães05 Bagagem Extra06 Pequenas Embarcações07 Monte Roraima

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dos sete pequenos e extensos tratados musicais do álbum, o registro parece se movimentar sozinho, como se as ondas apresentadas na capa do registro alagassem o conteúdo do trabalho, movimentando suavemente cada uma das canções

Se anteriormente a sonoridade proposta por André Veloso, Bruno e Daniel Nunes, Gustavo Gazzola, Lucas Morais, Thiago Vieira e Túlio Castanheira revelava um grupo de atenciosos seguidores das ideias instrumentais apresentadas pelo Explosions In Sky ou outros grandes representantes do pós-rock norte-americano, hoje a Constantina e seus integrantes estão longe, muito longe de soar como aprendizes, mas sim como donos de uma temática completamente própria. Cada segundo que passamos dentro das emanações marítimas de Haveno deixam transbordar a imagem e a sonoridade de um grupo que parece delimitar seu próprio caminho, sem em nenhum momento ficar em débito com qualquer outro grande representante do gênero.

Acompanhado constantemente por uma exaltação instrumental que beira o épico em algumas composições, Haveno não apenas dá continuidade de forma segura ao que a banda vinha desenvolvendo anteriormente, como se apresenta como um novo e melhor constituído trabalho na carreira do septeto.

Complexo, delicado e dinâmico na mesma medida, o álbum joga com as texturas e as sensações, transformando seus quase 50 minutos de duração em algo que na verdade soa muito maior, como se a banda aportasse constantemente em diferentes gêneros ou navegasse por diferentes temáticas musicais.

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CANÇÕES DE GUERRA Pública

Tão logo após o lançamento de Polaris havia uma clara percepção de que a forma como a gaúcha Pública elaborava seu som e traduzia suas letras, se organizava de forma distinta aos demais grupos que naquele momento começavam a brotar. Em um cenário independente que parecia caminhar cada vez mais com passos firmes e decididos, a presença do ainda quinteto gaúcho proporcionava uma certa dose de reforço e credibilidade ao rock nacional daquele momento, um grupo que parecia ir contra a infestação de bandas que sugavam ao máximo todas as referências lançadas pelo Los Hermanos, um grupo de garotos que pareciam ter seu próprio som e saber para onde ir.

Embora cantassem ao amor e aos momentos de perda e solidão, a melancolia cuidadosamente trabalhada nas composições do grupo tornava ainda mais estreito o elo entre a banda e seu público. Músicas que mesmo tratando de temas “convencionais” soavam de maneira fresca aos ouvidos, talvez pelo entrelaçar de sons que flertavam eventualmente com o rock britânico

01 Das coisas que eu não fui02 Pouca estrada pra cedo envelhecer03 Corpo fechado04 O homem05 Cartas de guerra 06 John07 Lembre que eu me lembro08 Não há outro caminho09 Jazzmine10 Apagar das luzes11 Silenciou

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de diferentes décadas ou pela estrutura musical que parecia se opor ao que existia de mais convencional e repetitivo em solo gaúcho naquele período. Em pouco tempo de atuação, o grupo já havia alcançado uma distinção, um público e uma linguagem extremamente específica, algo que talvez se reforçasse pelas letras singulares ou pelas guitarras, algo que pouquíssimas bandas da última década conseguiram elaborar.

É agora, em pleno 2011 e passados exatos dez anos desde que a banda passou a apresentar suas primeiras criações, que toda a sonoridade própria e a produção singular do agora quarteto alcança seu melhor resultado. Sob o nome forte deCanções de Guerra, o terceiro disco do Pública concentra o que parece haver de melhor em uma década de produções constantes, unindo um pequeno arsenal de versos excepcionalmente elaborados e uma instrumentação que se afasta do básico ou do que já se materializara como tradicional na carreira do grupo.

Mesmo doloroso em diversas composições, o disco passa longe de se trans-formar em um registro sentimentalmente excessivo, parece até um oposto dos trabalhos anteriores, se propondo como um álbum muito mais sério, sóbrio e quase reflexivo em determinados momentos. A banda parece ter alcançado um novo patamar, tanto poético como instrumental, como se os dois trabal-hos anteriores fossem apenas uma indicação do ponto em que eles realmente gostariam de alcançar, e que finalmente parecem ter alcançado.Canções de Guerra é simplesmente o melhor e mais bem desenvolvido trabalho da Pública, sendo que qualquer um que busque contestar isso precisará de muito esforço.

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NÓ NA ORELHA Criolo

Quando lançou seu primeiro disco em 1974, Cartola já contava com mais de sessenta anos de idade, embora participasse ativamente das rodas de samba cariocas e fosse um dos maiores compositores de seu tempo, ainda era uma pessoa presa ao seu circulo. Kleber Cavalcante Gomes, ou como é conhecido, o Criolo (ex-Criolo Doido) não levou o mesmo tempo para alcançar seu disco de estreia – Ainda Há Tempo (2006) – embora fosse, assim como Cartola, muito mais conhecido dentro do circuito do rap nacional do que além dele. Com seu novo álbum, uma espécie de segundo disco de estréia, o paulistano vai atrás de novas sonoridades, em busca de expansão do seu próprio território.

Nó na Orelha é um trabalho que se define logo em seu título, afinal é hip-hop, mas também é samba, transita por boleros, assim como se entrega ao funk, sem falar nas diversas referências regionais que vão se evidenciando ao longo do trabalho, uma mis-celânea de ritmos que permitem a Gomes passear em diversos territórios, como se desbravasse cada uma das múltiplas tonalidades da música.

01 Bogotá02 Subirusdoistiozin03 Não existe amor em SP04 Mariô05 Freguês da meia noite06 Grajauex07 Samba sambei08 Sucrilhos09 Lion man10 Linha de frente

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Quando rapper, Criolo, que é um dos criadores da conhecida Batalha dos MC’s, se aventura na descrição tanto de cenários, quanto nas situações que o ro-deiam. A cidade de São Paulo se apresenta como a grande musa do poeta, servindo de tema para boa parte das composições, algo que torna-se evidente logo nas primeiras faixas do álbum, através de músicas como Não Existe Amor em SP ou mais à frente com Grajauex. Essa última, um brilhante jogo de pala-vras que funcionam como uma homenagem á região do Grajaú, mais populoso distrito paulista.

Límpida e cantada em bom tom, a voz de Criolo ecoa de forma agradável através de faixas como Bogotá, dando ginga ao ritmo já acalentador da composição. Lembrando de leve Curumin no disco Japan Pop Show (2008), o músico brinca com os vocais em Samba Sambei, faixa preenchida por toques de reggae e dub, além do funcional naipe de metais que acompanha o disco. Criolo se permite até a arriscar seus vocais no bolero Freguês da Meia-Noite. Soando como uma espécie de Reginaldo Rossi contemporâneo, o músico destila versos metafóri-cos repletos de sentimentalismos exagerados, porém sinceros.

Com produção de Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman, que também assumem boa parte dos instrumentos e bases durante o álbum, Nó na Orelha pode até confundir por sua diversificada sequência de estilos e ritmos distintos, contudo finda-se como um disco inventivo. A pluralidade de formas que atuam como os pilares do trabalho ajudam Criolo a não desabar em redundâncias, evitando que caia nos repetitivos vícios do rap nacional. Um disco que deve levar o rapper para além do seu já conceituado circulo ou mesmo para além de Terras Brasilis.

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LONGE DE ONDEKarina Buhr

Desde o princípio Karina Buhr não veio para desen-volver suas canções de forma natural, reverberan-do uma sonoridade básica ou letras exploradas de maneira convencional. Pelo contrário, tudo se converte em algo excêntrico quando pisamos pela primeira vez no universo particular da artista, como se o mundo literalmente virasse do avesso, trans-formando o ouvinte em um ser estranho, não suas composições. Foi justamente dentro dessa lógica que a recifense fez de sua estreia em 2010 um dos projetos mais ousados e inventivos dos últimos 10 anos, algo que ela volta a repetir agora, com o lan-çamento de sua segunda obra em carreira solo.

Distante das pequenas incursões suavizadas e quase românticas que emanavam do espetacu-lar Eu Menti Pra Você, Buhr transforma o recente Longe De Onde em um manancial de ritmos sujos, esquizofrenias descontroladas e, claro, seu funda-mental jogo de palavras que mais uma vez hipnoti-zam qualquer um que se aventura em suas canções. Das guitarras viscerais de “Cara palavra” (primeiro single do disco) aos experimentos épicos da sur-

01 Carapalavra02 A pessoa morre03 Não me ame tanto04 Guitarras e Copacabana05 Sem fazer idéia06 Pra ser romântica07 Cadáver08 The war’s dancing floor09 Copo de veneno10 Amor brando11 Não precisa me procurar

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preendente “Não Precisa Me Procurar”, tudo ecoa esquisito, belo, irritante e inspirador, com Karina e seu colossal grupo de parceiros mais uma vez ac-ertando a medida entre o experimental e o pop.

Vindo do mesmo fluxo criativo que deu vida ao anterior lançamento da cantora, o novo álbum, mesmo dotado de algumas particularidades que obviamente o aproximam do elogiado debut, acabam pendendo para um campo muito mais ruidoso, seco e consequentemente instigante. Nada de emanações suaves ou qualquer mínima possibilidade que transforme Buhr em uma figura frágil e mu-sicalmente estável. Tudo aqui é duro, mesmo nos momentos de calmaria, como os expressos em “Não Me Ame Tanto” ou na ponderada “Pra Ser Romântica”.

Mesmo manifestando sua imagem forte através dos vocais sempre concisos e dos versos construídos em cima de um ardiloso jogo de palavras, Buhr não se consagra sozinha. Instrumentalmente a beleza do trabalho acaba entregue a outros colaboradores, velhos parceiros da musicista e que aqui reforçam ainda mais sua participação.

Assim como no trabalho anterior, Longe De Onde não funciona como um reg-istro fácil, capaz de garantir algumas respostas ao ouvinte logo em uma única audição. É preciso tempo para que o ouvinte possa compreender a extensão do registro e consequentemente se habitue o universo peculiar que se forma em seu interior. O disco funciona de maneira complexa em todas suas extensões, resultando em uma morada instrumental em que uma vez acostumados, não queremos mais sair.

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NACIONAL Transmissor

Em tempos de revoluções musicais, fórmulas cada vez mais rebuscadas e experimentos acús-ticos que busquem arrancar as bandas de uma musicalidade convencional, não são poucos os artistas que acabam esquecendo um elemento necessário para a boa condução de qualquer registro, seja ele de grande ou pequeno porte: a honestidade. Referência cada vez mais rara em boa parte dos lançamentos musicais (não apenas os nacionais), a honestidade parece ter fugido e encontrado como seu único abrigo o simplista (e também grandioso) Nacional (2011 Independ-ente), segunda aventura musical da banda mineira Transmissor e um belo exemplo de como um álbum pode soar esplendido, sem abraçar quaisquer mínimos artifícios.

Delimitado em um espaço exato de 31:04 minutos, o reconfortante trabalho –sucessor do também primoroso Sociedade do Crivo Mútuo, de 2008 – se afasta de qualquer possível estratagema instrumental ou lírica que posicione a ban-da de Belo Horizonte em um panorama ex-

01 Sempre02 Dessa vez03 Dois dias04 Bonina05 Só se for domingo06 Vazio07 Outra ela08 Traz o sol pro meu lado da rua 09 Longe daqui10 Hoje

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perimental ou minimamente revolucionário. Simples, porém, não banal, o álbum atravessa uma musicalidade tecnicamente limitada e dentro de uma naturalidade temporal própria, elementos que possibilitam o desenvolvimento de letras marcadas pela sinceridade e uma fluidez suave que garante ao grupo um trabalho integro e convincente até o soar dos últimos acordes da obra.

Musicalmente Nacional é um trabalho envolto em contornos básicos. Por mais que algumas guitarras arranhadas surjam aqui e ali, assovios esporádicos e um xilofone até possibilitem um diferencial e “inovação” ao trabalho, em sua totalidade o registro se sustenta em cima de uma formatação quase convencional. Por mais que grande parte do álbum possa involuntariamente puxar o trabalho dos mineiros para referências que os compare ao Los Herma-nos ou outros importantes grupos da década passada, no refúgio instrumental do quinteto as experiências e referências são completamente outras.

Adulto e dosando controladamente as melodias que caracterizam o disco – evitando um projeto que trafegue excessivamente pelas vias da música pop -,Nacional em sua curta duração (a sensação é de um trabalho bem mais extenso) consegue promover e explorar com propriedade todas as exigên-cias de um bom registro musical. Letras convincentes, uma instrumentação controlada e a forte aproximação que define as composições do álbum acabam por transformar o acumulado de experimentos que habitam o disco em um ponto de convergência único, um projeto que faz da espontaneidade e da consistência de seu material um caminho para um trabalho suficientemente rico e honesto.

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WASTING LIGHT Foo Fighters

IN AND OUT OF YOUTH AND LIGHTNESS Young Widows

SUCK IT AND SEEArctic Monkeys

A DRAMATIC TURN OF EVENTS Dream Theater

MIND SPIDERSMind Spiders

DAVID COMES TO LIFE Fucked Up

END GAMERise Against

BLOOD PRESSURESThe Kills

FIRST WORLD MANIFESTOScreeching Weasel

THE HUNTER Mastodon

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WASTING LIGHT Foo Fighters

Com Wasting Light o Foo Fighters mostra o porquê de ser considerada como uma das melhores bandas de rock da atualidade. O grupo ainda dá um show de publicidade online com a disponibilização das faixas para audição gratuita, clipes (Rope, White Limo), com o “foo fighters FM”, e também com a divulgação de concertos “secretos” e tantos outros recursos – como o twitter – utilizados amplamente. O disco também preza por trazer um “quê” dos álbunsOne By One (2002) e In Your Honor (2005) com riffs bem trabalhados, refrões marcantes, e, claro, a bela voz de Dave Grohl, que consegue passar da melancolia para vocais gritados.

O álbum, como Dave Grohl disse em diversas entrevistas, é o mais pesado da carreira, parte por ser gravado em sua garagem com o intuito de “voltar às raízes” e flertar com as influências da banda. A parte grunge fica com a produção de Butch Vig (mesmo produtor de Nevermind do Nirvana) e com a participação de Krist Novoselic na faixa I should have known. Quanto ao metal, a faixa White Limo faz o serviço com os vocais rasgados

01 Bridge Burning02 Rope03 Dear Rosemary04 White Limo05 Arlandria06 These Days07 Back & Forth08 A Matter of Time09 Miss the Misery10 I Should Have Known11 Walk

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(característica de Grohl), guitarras pesadas e que ganhou a participação do frontman do Motorhead, Lemmy Kilmister na versão do videoclipe.

Bridge Burning abre com o pé direito através da frase “these are my famous last words”, te fazendo querer ouvi-la até a exaustão e saber o que mais o álbum oferece. Rope repete a fórmula do sucesso da banda e vem com riffs marcantes, com um vocal duo entre Dave e Taylor Hawkins nas estrofes. Dear Rosemary é uma das mais belas do álbum, não só pela letra e seu refrão chicletes, mas também pela linha instrumental que combina perfeitamente com a proposta da música. A bateria merece um destaque em músicas como Arlandria, Back and Forth, e a Matter of Time, com batidas que te fazem balançar a cabeça e dizer “yeah”.

These days é uma baladinha crescente que nos remete ao álbum The Colour and the Shape (1997), é sem dúvidas, a mais soft do álbum, não perdendo em qualidade para as outras. Miss the Misery possui a melhor introdução com um riff sujo e depois com um ótimo sincronismo de baixo e bateria. Walk fecha com chave de ouro esse presente para os fãs do bom rock and roll, com novamente um refrão grudento, uma bela letra e uma ótima apresentação do Foo Fighters.

Wasting Light não é uma revolução musical e nem chega perto de querer ser isso. O novo disco da banda de Seattle é uma prova de que ainda se pode fazer boa música com a velha combinação vocal, guitarra, baixo e bateria. É um álbum com letras bem feitas, ótima produção e músicas que vão ficar na sua cabeça por algum tempo. Um dos melhores trabalhos da banda, e só.

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IN AND OUT OF YOUTH AND LIGHTNESS Young Widows

O Young Widows se define como uma banda de rock progressivo, ou pelo menos uma dissidência disso. Em todas as camadas de som construídas pelo trio Evan Patterson, Nick Thieneman e Jeremy McMonigle no decorrer de seu mais recente lança-mento, o que temos é uma sequência de acordes prolongados, firmes e brutos. Do rock dos anos 70 ao noise do princípio da década de 1990 sobram espaços e possibilidades para que o grupo de Louisville possa navegar em sua própria sonoridade.

In and Out of Youth and Lightness (2011) é um disco sólido, opaco e pesado, quase como uma rocha, de fato, tratá-lo como um mineral talvez seja a metáfora mais coerente para defini-lo. Todas as canções são trabalhadas de forma completamente hermética, séria e até fria. Em cada novo som o trio manda pra cima do ouvinte um enorme bloco negro, intransponível, mas estranhamente atrativo. É praticamente uma relação de amor e ódio, com a banda soltando uma rajada de sons embrutecidos enquanto o ouvinte aceita de forma passiva, quase hipnotizado.

01 Young Rivers02 Future Heart03 In and out of lightness04 Lean on the ghost05 The muted man06 Right in the end 07 Miss Tambourine Wrist08 White Golden Rings09 In and out of youth

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Esperar por qualquer tipo de acorde mais límpido ou “colorido” dentro do álbum é o mesmo que esperar em vão. Durante os nove blocos de som arremessados pela banda no desenvolvimento do disco a postura séria, as notas secas e o direcionamento conciso do trio são sempre os mesmos. Por mais estranho (e sádico) que seja, não há como se esquivar de sons monumentais como Young Rivers, Lean On The Ghost e Miss Tambourine Wrist, a aspereza da banda é elemento essencial para que o disco possa se desenvolver de maneira única.

É praticamente impossível excluir as influências de Black Sabbath dentro deste novo trabalho, os anteriores são Settle Down City (2006) e Old Wounds (2008). A todo o momento as guitarras de Patterson remetem fácil aos sons obscuros de Tony Iommi, claro que de uma maneira muito mais fechada e seca, sem grandes momentos espalhafatosos e nem tão “tenebrosos”. De fato esse é um ponto a se observar, sempre que o trio converge para um som mais aberto há um corte seco e os sons são rapidamente dissolvidos, como se nada pudesse escapar do cerco das jovens viúvas.

Quando encerram as canções nesse recente disco, os norte-americanos deixam apenas uma certeza: fomos atingidos e nem ao menos sabemos pelo que. Mesmo que durante todo o desenvolvimento In and Out of Youth and Lightness pouco seja transformado, esta é a maneira que o trio encontra para tirar o máximo de suas criações. Sente, prepare seus fones e deixe que a cada nova nota a banda te derrube ou no mínimo rompa seus tímpanos.

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SUCK IT AND SEEArctic Monkeys

Há quem possa dizer, que ao lançarem o novo disco o quarteto britânico dá continuidade ao trabalho anterior, se afundando ainda mais nas sonoridades vindas dos anos 70 e desligando-se completamente de um rock dançante, algo explorado com afinco e uma quase marca registrada dos dois primeiros LPs da banda. Entretanto, atentamente observado esse novo álbum parece um leve retrocesso na carreira da quarteto, como se estivesse entre o britpop enérgico de Favourite Worst Nightmare (2007) e a quase psicodelia roqueira do álbum de 2009.

Quanto mais o disco se desenvolve, mais essa sensação de “trabalho perdido no tempo” torna-se evidente. É como se antes de alcançarem a maturidade emHumbug, a banda tivesse dado formas a esse “quarto” LP e aos poucos moldando aquilo que seria visto em faixas como My Propeller, Crying Lightninge Dance Little Liar (a melhor do álbum anterior). Talvez pela presença de Josh Homme (Queens Of The Stone Age) no controle de boa parte das gravações do disco passado, que as faixas seguiam por uma linha

01 She’s Thunderstorms02 Black Treacle03 Brick By Brick04 The Hellcat Spangled Shalalala05 Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair06 Library Pictures07 All My Own Stunts08 Reckless Serenade09 Piledriver Waltz10 Love Is A Laserquest11 Suck It And See12 That’s Where You’re Wrong

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muito concisa, algo que parece totalmente distante com Suck It and See, com a banda mandando sons em cima de sons de forma excessivamente despojada e beirando certo descontrole.

Talvez o que mais chateie nessa nova empreitada do grupo não seja o esbanjar de um som impreciso e multidirecional, mas as letras trabalhadas por Alex Turner. A idade e a experiência ao que tudo indica de nada serviram para que o britânico aperfeiçoasse seus versos, abandonando de vez a complexidade poética encontrada nas já clássicas A Certain Romance ou 505 e seguindo por uma via simples e clichê. Mesmo nos hits que mobilizavam o público à dançar, como Flourescent Adolescent e Fake Tales Of San Francisco, não havia somente o refrão e as redundâncias de palavras feitas para colar nos ouvidos, mas um vasto jogo de versos que se encaixavam e posicionavam Turner como um dos grandes compositores dessa geração.

O mesmo responsável por recriar pequenas crônicas pós-adolescentes e angústias de jovens adultos, hoje quer ser “rock and roll”, “te construir e te quebrar”, “tijolo por tijolo”, numa simplicidade excessiva e que beira o constrangimento. É ótimo ver que a banda não está presa em uma temática única e imutável, o problema está em fazer isso de forma genérica, longe da verdadeira beleza encontrada nas composições anteriores. Em Humbug, mesmo desenvolvendo um tipo de som opositor aos álbuns primários, tanto os versos quanto a instrumentação do álbum pareciam de fato maduros, algo abandonando no novo disco e que transforma o Arctic Monkeys em apenas mais uma banda, tão simples e falha como tantas outras.

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A DRAMATIC TURN OF EVENTS Dream Theater

O álbum já abre com a excelente e pesadíssima “On the Backs of Angels”, cujos teclados com coros iniciais lembram um pouco os tempos áu-reos do Stratovarius, e é repleta de peso e partes quebradas, daquelas para fazer a alegria de qualquer fã, e possui um refrão emotivo típico da banda.“Build Me Up, Break Me Down” possui alguns elementos mais modernos meio estranhos, mas tem um belo refrão, além de riffs muito cativantes. Já “Lost Not Forgotten”, com seus mais de 10 minutos de duração, é repleta de climas diversificados, riffs pesados e técnicos, e possui uma levada de bateria espetacular, além de ótimos solos, tanto de guitarra como de teclados, e mais um refrão muito cativante, sendo uma das mais progressivas do trabalho, com todos os elementos que elevaram o Dream Theater à qualidade de maior banda do metal progressivo de todos os tempos. Ah, e nesta faixa o baixo é mais perceptível, e muito legal.

Na sequência temos a emocional “balada” “This is the Life”, replete de teclados climáticos e solos fantásticos de John Petrucci. “Bridges In The

01 On the Backs of Angels02 Build Me Up, Break Me Down03 Lost Not Forgotten04 This is the Life05 Bridges In The Sky06 Outcry07 Far From Heaven08 Breaking All Illusions09 Beneath The Surface

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Sky” também segue a linha mais progressiva, e é uma das mais pesadas do disco, com riffs que beiram ao thrash metal, e com LaBrie em sua melhor forma, cantando de forma mais agressiva. Destaque também para os teclados de Jordan, muito diversificados e repletos de novas influências. Genial.

“Outcry”, para variar, também é cheia de passagens pesadas, complexas e quebradas, sendo repleta de grooves e solos virtuosos, e um baixo muito técnico. “Far From Heaven”, a menor do album, é uma balada bem emocional e climática, conduzida pelos teclados de Jordan, e com mais uma bela interpretação de LaBrie.

Em “Breaking All Illusions”, que possui todos os elementos progressivos sempre presentes no som da banda, aliando novas influências, principalmente nos teclados, muito bem arranjados e executados, com algum toque de el-ementos setentistas, a banda mostra que não esta para brincadeira, criando harmonias completamente carregadas de emoção, e passagens instrumen-tais simplesmente perfeitas, sendo uma das melhores composições do disco. Encerrando o trabalho, temos outra balada, “Beneath The Surface”, que apesar de ser mais direta e com uns teclados meio estranhos, é mais uma bela canção.

Enfim, pode não ser o melhor trabalho da banda, mas mesmo assim é um disco excelente, e o DREAM THEATER continua no topo inatingível do metal progressivo. E embora tenha causado calafrios nos fãs, não foi a saída de Mike Portnoy que conseguiu fazer a banda perder o seu brilho. Podem ficar tranqüilos e conferir o material sem medo.

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MIND SPIDERSMind Spiders

Eles são como o próprio nome diz: Aranhas da Mente. E tal qual o nome não há como evitar que esses aracnídeos te agarrem com suas teias, lancem seu veneno e tenham total domínio sobre seu cérebro. Trinta minutos de total e absoluto controle sobre seus pensamentos e ações, enquanto você ouve entusiasmado seu auto-intitulado álbum de estreia. Urgente, sujo e eficaz, assim pode ser caracterizado o debut do Mind Spiders.

Bem observado as faixas do grupo texano em boa parte do tempo se prendem muito mais no uso de distorções quase experimentais e voltadas para o noise pop do que no rock de garagem em si. Todo o peso (ou a parte fundamental dele) acaba se fixando na primeira parte do álbum. Go!, a faixa que inicia o álbum, vem para abrir as portas desse lado raivoso do grupo. Guitarras rápidas, uma bateria básica e os vocais sujos de Ryan, acompanhados de um backing vocal quase descompassado, o que dá aquela aura “punk” ao disco. Uma canção curta com menos de dois minutos, mais ainda assim eficaz que acaba pegando o ouvinte de jeito.

01 Go!02 Don’t Let Her Go03 Mind Spiders Theme04 Read Your Mind05 Going Away Tonight06 No Romance07 No. 308 One Step Ahead09 Slippin’ and Slidin’10 Your Soul11 Neurotic Gold12 Close the Door

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Com Don’t Let Her Go o grupo mostra que não vem munido apenas de guitarras, baixo e bateria. Um teclado psicótico (e profundamente irritante) vem pontuando a faixa, dando um lado excêntrico à composição. Esse mesmo teclado e múltiplas distorções dão vida a Mind Spiders Theme, facilmente a melhor canção do álbum e que da apontamentos do lado experimental da banda, principalmente nos segundos finais da música.

Read Your Mind é uma clara balada country totalmente suja, enquanto Going Away Tonight te joga mais uma vez para dentro do lado acelerado do grupo. E esse mesmo rumo vai seguindo com No Romance, No. 3 até esbarrar em One Step Ahead de onde a banda passa a se aventurar por terrenos experimentais e distorcidos.

Slippin’ and Slidin’ surge de maneira tão abafada pelas distorções de que quase soa shoegaze. Já Your Soul se apresenta como a canção mais estranha dentro do álbum. Alguns teclados espaciais, distorção e vocais sujos ditam o desenvolvimento da faixa. A canção parece muito com o que o Wavves trabalha nos dois primeiros álbuns, embora a faixa ganhe um ritmo mais relaxado.

A partir de Neurotic Gold a banda tenta restabelecer a sonoridade das faixas iniciais do disco, mesmo que as composições ainda contem com as mesmas guitarras distorcidas e os toques de estranheza. Close The Door, canção que fecha as portas do disco parece uma cópia da canção anterior, mas talvez seja apenas o efeito do veneno da aranha que a esse ponto já deve ter consumido totalmente seu cérebro e não te permita discernir direito as coisas.

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DAVID COMES TO LIFE Fucked Up

Se em 2008 você soube destinar uma pequena parte de sua vida para apreciar o trabalho da canadense Fucked Up, ou mais especificamente seu segundo discoThe Chemistry of Common Life, então você provavelmente destinará muitas horas a mais para David Comes to Life (2011), terceiro trabalho de es-túdio do sexteto de Toronto e que apenas vem para solidificar ainda mais a curta, porém essencial dis-cografia da banda. Esqueça o hardcore “tradicion-al” ao qual você está habituado a ouvir e tenha com esse trabalho a possibilidade de ver o estilo através de novos ângulos, sons, e versos, todos tomados por uma funcionalidade única.

Diferente dos dois álbuns anteriores, o novo registro transita por um instrumental que se posiciona muito mais dentro do rock alternativo do fim dos anos 80, do que através da temática versátil do punk setentista, encontrado anteriormente nos trabalhos da Fucked Up. Se em The Chemistry of Common Life havia o que parecia ser uma homoge-neidade nas canções, aqui a sonoridade é exposta de forma muito mais despojada, porém ainda assim

01 Let Her Rest; Queen of Hearts; Under My Nose; The Other Shoe; Turn the Season02 Running On Nothing; Remember My Name; A Slanted Tone; Serve Me Right03 Truth I Know; Life In Paper; Ship of Fools; A Little Death04 I Was There; Inside a Frame; The Recursive Girl; One More Night; Lights Go Up

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tão consistente quanto fora no passado recente do grupo, fazendo com que as guitarras construam gigantescos castelos de distorção ou acúmulos certeiros de acordes, sem que para isso estejam intrinsecamente ligadas.

Talvez o elemento que mais faça falta dentro de David Comes to Life sejam pequenas experimentações ou composições diferenciadas ao longo do disco, algo explorado com afinco nos trabalhos anteriores.

Mais do que um disco de hardcore,David Comes to Life é uma sincera história de amor entre dois personagens (David e Veronica), transformando o álbum em uma verdadeira ópera rock contemporânea. Dividido em quatro atos: 1 - Love, then tragedy strikes the town; 2 - David loses Veronica, and then himself, as he succumbs to guilt and despair; 3 - Another character is revealed, putting the re-sponsibility for Veronica’s death into question; 4 - A revelation from Vivian sheds more light on Veronica’s death; Octavio and Vivian explain their motives, and David is reborn; o álbum apenas evidenciam a soberania da banda canadense em reformular ainda mais o estilo ao qual estão integrados.

Todos os caminhos levam a entender este terceiro álbum como um trabalho de contornos grandiosos em seus múltiplos aspectos. Tanto a instrumentação, quanto seus versos e sua duração (78:26 minutos) ganham aspectos que beiram o épico, o que obviamente os separa ainda mais do que tradicionalmente é exposto através da efemeridade do hardcore. Se no álbum anterior o grupo fixava de vez seu nome na história recente da música, com o novo disco vê-se que o sexteto ainda tem muito com o que nos presentear.

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END GAMERise Against

Como se tornar a maior banda de hardcore melódico do planeta?

Quem encontrou a resposta para essa pergunta foi o Rise Against, que consolida essa posição com“Endgame”, que conta com a produção de de Bill Stevenson, baterista do Descendents.

E a participação de estrelas do punk rock não para por aí, já que Matt Skiba do Alkaline Trio e Chad Price doALL e Drag The River emprestam suas vozes para backing vocals em algumas faixas do trabalho.Abrindo com a forte “Architects” o Rise Against mostra todo seu peso e abre caminho para “Help Is On The Way”, primeiro single do trabalho e que conta com um clipe tocante, daqueles de fazer você pensar após assistir, com cenas de desastres como o Furacão Katrina.

Essa, aliás, é uma característica forte da banda e isso fica evidente no encarte do disco, que traz trechos do livroThe Grapes Of Wrath de John

01 Architects02 Help Is on the Way03 Make It Stop (September’s Children)04 Disparity by Design05 Satellite06 Midnight Hands07 Survivor Guilt08 Broken Mirrors09 Wait for Me10 A Gentlemen’s Coup11 This Is Letting Go12 Endgame

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Steinbeck, que se passa durante a Grande Depressão norte-americana e uma família de Oklahoma que é forçada a se mudar para a California devido à crise econômica e acaba sofrendo muito por isso. Algo que casa bem com a arte da capa do álbum, que contrasta campos de plantações com a bandeira norte-americana.

O hardcore melódico acompanhado do característico e elogiadíssimo timbre vocal do vocalista Tim McIlrath continuam ao longo de todo o disco em faix-as como “Disparity By Design” e “Satellite”, enquanto “Make It Stop” conta com um coro de vozes infantis que de acordo com os créditos foi gravado com parentes de Bill Stevenson e outros membros relacionados à gravação.

“Midnight Hands” tem uma introdução roqueira, com um riff de guitarra pesadão e que se destaca em relação a outras faixas do disco e além de mostrar uma característica forte da banda que é a mudança constante de ritmo das músicas, ainda conta com backing vocals de Matt Skiba, do Alkaline Trio.Coincidência ou não, “Broken Mirrors” também começa com uma guitarra a la rock clássico e tem a participação especial de Chad Price, ALL/Drag The River, nos vocais.

Ao encerrar o disco com “Endgame”, o Rise Against dá continuidade a sua car-reira de forma sólida e consistente, já que irá agradar a seus fãs mais antigos e é sem dúvida alguma uma baita alternativa para os fãs de rock tão carentes hoje em dia. Prova disso é que o disco estreou em segundo lugar na parada da Billboard e é o de maior sucesso comercial do quarteto até hoje.

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BLOOD PRESSURESThe Kills

O grande barato de ouvir qualquer trabalho do The Kills está na forma levemente descompromissada com que a dupla destila tanto a sonoridade como suas letras. É como se os registros fossem todos feitos de maneira tranquila e livre de pressões, o que abre a todo o momento a possibilidade para que solos vigorosos, nuances elaboradas e vocais bem empregados apareçam. Do começo ao fim este, como os demais lançamentos da banda se desen-volvem de maneira atrativa, livre de excessos e que dá gosto de ouvir.

A banda consegue em todos os 11 hits do álbum desenvolver uma sonoridade que bebe de várias épocas sempre soando de maneira inovadora e diferenciada. Ao contrário do que aparenta no The Dead Weather (exceção do segundo disco), Mosshart parece realmente em casa. Seus vocais passeiam de maneira bela por todo o disco, evidenciando-se de maneira distinta a cada nova canção. Seja pelos momentos raivosos de DNA ou pela calmaria em The Last Goodbye, sobram pos-sibilidades para que a bela reinvente seus vocais.

01 Future Starts Slow02 Satellite03 Heart Is a Beating Drum04 Nail in My Coffin05 Wild Charms06 DNA07 Baby Says08 The Last Goodbye 09 Damned If She Do10 You Don’t Own the Road11Pots and Pans

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Blood Pressures é um desses discos que valem do começo ao fim. Cada faixa parece fluir numa mesma ressonância, de maneira funcional e coerente. Embora não seja um desses discos que mudam sua vida ou mudam drasticamente os rumos da música, o álbum vale em cada mínimo acorde, batida ou reverberação vocálica. Embora sejam os vocais de “VV” o elemento que caracteriza o trabalho do duo é Hince quem domina tudo a todo o momento.

Se valendo de solos poluídos e ainda assim acessíveis de Satellite (com uma levada de reggae no melhor estilo The Clash) ou através da instrumentação mais direta de You Don’t Own The Road, o que não falta ao músico são as possibilidades de brilhar dentro desse disco. Bateria, guitarras, percussão, teclados e metade da produção do álbum tudo vindo diretamente das mãos de “Hotel”.

Pots and Pans concentra um dos melhores momentos do casal. Os vocais abertos de Alison (acompanhados cuidadosamente pelo parceiro), os solos de guitarra no melhor estilo garage rock (sempre mesclado com blues), as batidas pesadas de bateria e um ritmo que cresce a todo o momento até o desfecho excepcional da faixa e do disco.

Blood Pressures consegue ser ainda melhor do que o anterior Midnight Boom(2008). Tudo funciona de maneira bem mais organizada, coerente e ainda mais suja. Aqui o som distorcido e as batidas claustrofóbicas se derretem e invadem nossos ouvidos sem pedir licença, mas sinceramente, depois de um registro como esse a banda tem permissão para fazer o que quiser.

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FIRST WORLD MANIFESTOScreeching Weasel

Após 11 anos o Screeching Weasel está de volta.

Pra quem não sabe, os caras são a maior banda do chamado pop-punk/bubblegum, estilo que incor-pora elementos claros do punk, muito, mas muito Ramones, e melodias bonitinhas. O Blink-182 por exemplo, bebeu muito dessa fonte, e seus membros são fãs declarados dos caras.

Antes de falar sobre “First World Manifesto” é necessário levar em consideração o que Ben Wea-sel, a mente por trás da banda, fez nos últimos anos.O cara lançou um álbum solo chamado “Fidatevi” em 2002 e em 2007 se juntou a Dan Andriano (Alka-line Trio) no baixo e ao pessoal doThe All-American Rejects para montar o excelente Ben Weasel And His Iron String Quartet, nome sob o qual lançou “These Ones Are Bitter”.

É importante que isso seja dito porque quem pro-duziu o novo trabalho das doninhas foi justamente Mike Kennerty, do All-American Rejects.

01 Follow Your Leaders02 Frankengirl03 Beginningless Vacation04 Dry is the Desert05 Totem Pole06 Creepy Crawl07 Three Lonely Days08 Friday Night Nation09 All Over Town10 Fortune Cookie11 Baby Talk12 Come and See the Violence...13 Bite Marks14 Little Big Man

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Diante disso me parece bastante natural que o álbum soe mais como uma con-tinuação do trabalho solo de Ben do que um disco do Screeching Weasel. E é isso que vemos aqui.

“Follow Your Leaders” abre os trabalhos e é uma amostra perfeita do que é o som da banda, assim como“Frankengirl”, que conta com a participação de Dr. Frank da banda The Mr. T Experience e traz teclado/órgão, que a banda sempre soube usar tão bem. Ouça “Dammit” do Blink-182 e você entenderá um pouco da influência dos caras.

“Beginningless Vacation” foi uma das primeiras a ser liberada e é daquelas que grudam na sua cabeça. Exatamente de onde vem o termo bubblegum falado anteriormente.

“Dry Is The Desert” é uma semi-balada que raramente ouvimos em outros dis-cos da banda, a não ser justamente nos trabalhos solo de Ben.

Apostando nos 3 acordes, refrões grudentos e solos de guitarra até o fim, o Screeching Weasel fecha com “Little Big Man”, mostra que definitivamente está de volta e nos deixa com gosto de quero mais.

Ninguém preencheu a lacuna deixada pelos caras durante esses 11 anos, en-tão o retorno é mais do que bem vindo, apesar do estilo já não ter a mesma força que teve nos anos 90.

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THE HUNTER Mastodon

Quinto registro na carreira do grupo de Atlanta, Georgia, The Hunter se distancia visivelmente dos anteriores projetos da banda, algo que se ex-pressa tanto no uso de uma sonoridade completa-mente melódica e comercial, como pelas letras empurradas por uma força enérgica que chega muito próxima do pop. A diferença dos conceituais regis-tros anteriores é tanta, que até a capa do álbum foge dos padrões estéticos que o grupo vinha desenvol-vendo, repassando um caráter menos obscuro e um tipo de contexto que parece mobilizar a banda (e o próprio ouvinte) para a guerra.

As guitarras de Brent Hinds e Bill Kelliher, bem como os vocais marcantes de Troy Sanders são os dois elementos que definem toda a condução do reg-istro, que faz de suas 13 faixas um extenso bloco instrumental que começa com a certeira Black Tongue e só termina quando os últimos vocais de The Sparrow são finalizados. Fluindo de maneira sempre ascendente, o registro quebra completa-mente os sons desenvolvidos pela banda principal-mente em seu último disco, Crack the Sky.

01 Black Tongue 02 Curl of the Burl 03 Blasteroid 04 Stargasm 05 Octopus Has No Friends 06 All the Heavy Lifting 07 The Hunter 08 Dry Bone Valley 09 Thickening 10 Creature Lives 11 Spectrelight 12 Bedazzled Fingernails 13 The Sparrow

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The Hunter talvez seja o trabalho mais enérgico e acelerado que a banda já desenvolveu desde que sua carreira teve início de fato com o disco Remission de 2002. A melhor prova dessa busca por um som rápido e competente está no uso de faixas mais curtas do que as projetadas nos antigos lançamentos da banda. Enquanto construções épicas como The Last Baron com mais de 13 minutos acabava por definir os últimos trabalhos do Mastodon, aqui são faixas de três ou quatro minutos que assuem a direção, resultando em um trabalho magro e que seque intenso até seus últimos minutos.

Claro que a busca por canções mais “simples” podem acarretar em fãs decepcionados pela ausência dos já tradicionais paredões de som que a banda vinha desenvolvendo, exposições instrumentais capazes de hipnotizar o ouvinte em poucos segundos. Dessa forma, sempre que possível o grupo manda para cima do espectador algumas sequências de guitarras capazes de colar seu público no teto, músicas como a explosiva Blasteroid ou Stargasm, que de alguma forma se voltam aos anteriores discos da banda, mas que ainda sim conseguem seguir em desenvolvimento com um tipo de sonoridade um tanto quanto renovada e própria.

Mike Elizondo, o produtor, é quem surge para dar um toque mais comercial ao disco, que deve figurar facilmente nas principais paradas musicais pelos próximos meses. Mesmo que opte por um tipo de som e texturas instrumen-tais contrárias ao que a banda já vinha desenvolvendo, The Hunter mantém o mesmo resultado impecável de outrora, apenas apresenta o Mastodon sobre outra ótica e sonoridade, tão ou talvez até mais interessante que a anterior.

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COLLAPSE INTO NOW R.E.M.

NEIGHBORHOODS Blink182

ANGELS The Strokes

BAD AS ME Tom Waits

BIOPHILIA Björk

WATCH THE THRONE Jay-Z e Kanye West

21Adele

UKULELE SONGS Eddie Vedder

HOT SAUCE COMMITTEE PART TWO Beastie Boys

THE KING OF LIMBS Radiohead

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COLLAPSE INTO NOW R.E.M.

Depois de toda a expectativa criada com o ótimo Accelerate, álbum que deu uma nova injeção de ânimo e criatividade à banda de Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills, o grupo volta com Collapse Into Now, um disco que mescla el-ementos dessas três décadas de composições da banda. Partindo do ponto de vista de al-guém que nunca tenha ouvido nenhum álbum do grupo, esse décimo quinto trabalho de estúdio funciona de maneira responsável e introduz os leigos categoricamente ao som proposto pelo trio. Porém, um ouvinte mais assíduo pouca novidade irá encontrar nesse álbum.

A sensação absorvida com esse novo disco é a de que a banda não trabalha com a pressão de substi-tuir um álbum fracassado, mas sim de dar sequência a um bom registro de estúdio. Dessa forma Collapse Into Now acaba se mostrando como uma bolacha mais solta, similar a outros discos do grupo, porém sem parecer uma cópia. A mescla de sonoridades dentro do novo trabalho revela-se logo nas três primeiras faixas, Discoverer, All The Best e Überlin.

01 Discoverer02 All the Best03 Überlin04 Oh My Heart05 It Happened Today06 Every Day Is Yours to Win07 Mine Smell Like Honey08 Walk It Back09 Alligator_Aviator_Autopilot_ Antimatter10 That Someone Is You11 Me, Marlon Brando, Marlon Brando and I12 Blue

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Com base nessas três faixas o que é encontrado na sequência surge como continuidade desse tipo de som, porém como já foi dito, não há como caracterizar isso como um auto-plágio é como se cada faixa soasse nova aos ouvidos. Talvez apenas Oh My Heart, por conta de sua letra excessivamente dramática acabe reduzindo o álbum. Contudo, tal queda não é nada que não possa ser esquecida com a chegada de It Happened Today, mais um bom momento em que a sonoridade bem arranjada gera ótimos resultados. A voz característica de Stipe chega de maneira acalentadora, sempre acompanhada por uso afinado de backing vocal.

A melancolia sincera de Every Day Is Yours To Win faz dessa uma das faixas mais agradáveis do álbum. Entretanto, é no instrumental detalhado que a can-ção firma-se. Guitarras, violões e principalmente os teclados fomentam um resultado quase adocicado, que de alguma forma lembra o som de bandas alternativas contemporâneas, principalmente o Beach House do último álbum (Teen Dream, 2010), exceto pela finalização mais polida do som. É estranha-mente distinto e encantador, como se o R.E.M. fizesse algo tocado baixinho e de maneira cuidadosa.

Collapse Into Now conta com a produção de Jacknife Lee, que anteriormente trabalhou com a banda em Accelerated. O produtor orienta eficientemente os rumos do álbum, trazendo certa aura jovial ao trabalho, explicando como o retrospecto de sons da banda soam de maneira quase inédita e deliciosamente envolventes. Um álbum indicado para quem desconhece o trabalho do trio, e quando livre de preconceitos agrada também os que já apreciam os discos.

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NEIGHBORHOODS Blink182

É sempre importante lembrar que Blink-182, disco de 2003, já mostrava outra cara da banda, com composições muito mais sérias e sombrias como “Down” e “I Miss You”. A partir daí, Mark Hoppus e Travis Barker gravaram um disco com o +44 e Tom DeLonge surtou que tinha a melhor banda do mun-do, o Angels And Airwaves.

Tendo isso como base é perfeitamente possível compreender e prever que o som do novo disco da banda não poderia ficar muito longe do que seus membros vinham tocando, e é justamente isso que aconteceu.

“Ghost On The Dancefloor” abre os trabalhos e embora possa passar a impressão errada com al-guns efeitos em seu começo, logo se transforma em uma das melhores do disco, com uma guitarra interessante e Tom DeLonge cantando como fazia em seu primeiro projeto paralelo, o Box Car Racer.Na sequencia vem “Natives” e é impossível não lembrar de “M+M’s” com uma guitarra muito pare-cida e uma espécie de dueto de vocais entre Tom e

01 Ghost on the Dance Floor02 Natives03 Up All Night04 After Midnight05 Heart’s All Gone06 Wishing Well 07 Kaleidoscope08 This Is Home09 MH 4.18.201110 Love Is Dangerous

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Mark Hoppus, algo que também foi resgatado de discos mais antigos da banda.“Up All Night” é o primeiro single, tem cara de arena rock e riffs que de-vem ter sido resgatados por Tom das gravações do primeiro e único disco do Box Car Racer, já que o início e fim da música lembram demais músicas como “All Systems Go”. Com efeitos foi uma bela escolha para trabalhar o álbum.“Kaleidoscope” traz os 2 vocalistas dividindo-a e tem uma introdução com um quê de Foo Fighters, enquanto “This Is Home” e seu efeito de fundo são a representação perfeita de que a banda quer ir atrás de vôos mais altos.

“Fighting The Gravity” é uma das faixas mais sombrias do disco e traz umas guitarras a la The Offspring que acompanham vocais repetidos, diversos efei-tos, muita bateria e distorções pra todo lado. É um dos sons mais interessantes do álbum todo e talvez o que represente melhor essa nova fase do Blink-182 e seus experimentos. Eu jamais poderia imaginar que o trio de “Dammit” faria uma música assim.

É claro e evidente que os anos se passaram e que, assim como todos nós, os membros do Blink-182 amadureceram e trouxeram toda a carga do que acon-teceu durante esse tempo todo para suas composições. Obviamente os fãs sentem falta daquela banda que os fazia rir com suas músicas e vídeos, mas com certeza também sentem falta de quando eram mais novos e, assim como a banda, não podem fazer o tempo voltar atrás. O Blink-182 amadureceu e fez um grande disco, talvez o melhor de sua carreira, e sinceramente acho muito mais interessante do que se Mark, Tom e Travis perto de seus 40 anos fizessem músicas como faziam há mais de 10 anos atrás.

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ANGELS The Strokes

Quem esperava um disco típico do Strokes com as características guitarras fazendo suas estripolias de cada lado dos seus fones de ouvido, bateria simplona e Julian Casablancas cantando sempre da mesma maneira até que encontrou isso, mas misturado a muita influência dos anos 80, efei-tos eletrônicos, vocais diferentes e viagem.

“Machu Picchu” abre os trabalhos com efeitos em cima do vocal principal e Casablancas usando um tom que não é dos mais comuns no Strokes. Parece que a ideia era justamente mostrar que aí pela frente viriam coisas diferentes, como a percussão usada nessa mesma música.

Pra não assustar tanto, “Under Cover Of Darkness” é Strokes clássico e poderia estar em qualquer dis-co dos caras, e sem dúvida uma grande música. Já “Two Kinds of Happiness” te põe numa máquina do tempo para algumas décadas atrás, assim como a primeira parte de “Taken For A Fool”, que até flerta com músicas dançantes antes de entrar em um grande refrão, cantado inclusive por Elvis Costello.

01 Machu Picchu 02 Under Cover of Darkness03 Two Kinds of Happiness04 You’re So Right05 Taken for a Fool06 Games07 Call Me Back08 Gratisfaction09 Metabolism10 Life Is Simple in the Moonlight

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A bizarrice, digamos assim, volta com “Games”, seus vários efeitos eletrônicos e aura de música antiga.Ao fim dessa música chega a melhor sequência do disco com a excelente “Call Me Back”, que conta principalmente com guitar-ras e os vocais de Julian em uma combinação melancólica dessas difíceis de se ouvir por aí.

Depois dela “Gratisfaction” tem uma pegada Beatles e Rolling Stones, com apelo pop que é muito bem executado pela banda em um daqueles refrões de cantar junto e balançar a cabeça pra um lado e pro outro com um sorriso na cara. É uma das melhores do disco.

“Metabolism” lembra muito o Strokes da era “First Impressions Of Earth” com músicas como “Heart In A Cage” e junto com as 2 músicas anteriores são o auge de “Angles”, que termina com mais uma viagenzinha do quinteto, “Life Is Simple in The moonlight”, que alterna entre momentos clássicos da banda e solos de guitarras com efeitos que tornam a canção digna de aparecer em alguma estação de rádio de motel por aí.

Ao final das contas o novo do Strokes obteve opiniões diversas a seu respeito, mas é muito bom.

Com uma boa duração, elementos naturais da banda e experimentações in-teressantes, “Angles” mostra que os caras estão muito interessados em fazer música, tanto que mal lançaram o disco e já estão em estúdio novamente.Que venha mais um bom trabalho dos caras por aí.

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BAD AS ME Tom Waits

São poucos os artistas que atingem 40 anos de carreira e continuam produzindo com qualidade. Grande parte dos que chegam a esse patamar, não compõe tanto e passam a viver do passado, rodando o mundo em turnês para saudosistas, relembrando os tempos que não voltam mais e fazendo cover de si mesmo (cover esse, muitas vezes, de baixíssima qualidade). É muito comum, por exemplo, ver uma banda voltando da aposentadoria para fazer alguns shows, somente para levantar o dinheiro do aluguel. Outros, até tentam produzir alguma coisa, mas, aco-modados pelo conforto de já terem entrado para história, se acabam lançando discos meia-bocas. E mesmo esses receberam elogios – e aí de quem falar mal.

Depois de sete anos sem um disco de inéditas, Waits volta a apresentar um trabalho arrebatador, no nível dos seus melhores trabalhos da década e 80 (como Swordfishtrombones e Rain Dogs), adicio-nando a sua discografia mais um clássico e manten-do em altíssimo nível a sua carreira que atravessa cinco décadas.

01 Chicago02 Raised Right Men03 Talking at the Same Time04 Get Lost05 Face to the Highway06 Pay Me07 Back in the Crowd08 Bad as Me09 Kiss Me10 Satisfied11 Last Leaf12 Hell Broke Luce13 New Year’s Eve

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É difícil explicar o modo como a música do norte-americano gera fascínio, mes-mo sendo, sob um primeiro olhar, tão estranha e nada séria. A característica mais marcante pode ser a sua voz gutural, por vezes monstruosa. O homem também é responsável por canções belíssimas e frágeis. O ponto que mais im-pressiona na sua obra, é a incrível capacidade de nos transportar para cenári-os bizarros com personagens tão estranhos e simpáticos. E isso está presente de modo muito forte em Bad As Me, com Tom Waits assumindo personagens diferentes em cada uma das músicas.

Nas faixas de Bad As Me, Waits reuniu um time de monstros\instrumentistas, como Keith Richards, Flea e Les Claypool, só para ficar nos nomes mais con-hecidos. Mas a grande parceria de Waits nesse álbum continua sendo a sua esposa Kathleen Brennan, que divide os créditos na composição e produção de todas as músicas de Bad As Me.

O grande destaque do álbum, tanto em termos de música quanto de interpre-tação, é a faixa título, onde, somente com a sua voz, apresenta dois persona-gens tão distintos que é quase possível vê-los em nossa frente. Kiss Me é outra canção lindíssima e simples, apenas com o contrabaixo de Marcus Shelby acompanhando a voz rasgada e o piano arrastado de Waits. Ela contrasta com Satisfied, onde Tom incorpora um James Brown meio torto e um pouco mais desbocado. Last Leaf, respeitável dueto com Keith Richards, é um momento histórico que completa o maravilhoso álbum. Na canção country sobre a idade, Waits canta o verso que resume o momento atual de sua carreira: ”Eu sou a última folha da árvore. O outono levou o resto, mas eles não vão me levar”

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BIOPHILIA Björk

Nenhum dos caminhos que levam até os trabalhos de Björk são fáceis, entretanto, nenhum deles é tão turvo e complexo quanto o que nos encaminha ao recente Biophilia (2011, One Little Indian). Longe das batidas percussivas e do ritmo tribal que brotava de seu último e hoje distante último álbum, Volta de 2007, a islandêsa transforma seu recente álbum em um refúgio. Um trabalho que colide o urbano e o bucólico a fim de resultar uma soma de compl-exas sensações e diferentes experiências musicais, algumas delas até bem diferentes que quaisquer outras já anunciadas pela sempre excêntrica musi-cista. Um trabalho difícil, instigante e que soa como deveria ser: um disco de Björk.

Logo que os pequenos e açucarados ruídos da faixa Moon abrem o disco, parte das estratégias musicais da cantora acabam de ser lançadas. A suavidade, a predominância da voz e os sons se locomovendo delicadamente estranhos ao fundo da composição revelam em que se concentra o mais recente disco da dama da música experimental. Tomado pelas mesmas particularidades atmosféricas do delicado

01 Moon02 Thunderbolt03 Crystalline04 Cosmogony05 Dark Matter06 Hollow07 Virus08 Sacrifice09 Mutual Core10 Solstice

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Medulla de 2004, em que investia na sobreposição de camadas e colagens de diversas vozes – único “instrumento” do disco, além de um gongo -, em seu novo álbum a cantora substitui as vozes sobrepostas por sintetizadores cacofônicos, que ao serem agrupados foram um intransponível castelo de re-verberações densas e obscuras.

Se dividindo constantemente entre o eletrônico e tonalidades puramente acús-ticas, Björk vai até a década de 1990 para relembrar o clássico Post em diversos momentos, isso enquanto passeia pelo início dos anos 2000, ou mais especifi-camente em álbuns como Vespertine para dar um complemento doce e excên-trico ao disco. O resultado desse passeio por diferentes épocas de sua própria música acabam resultando tanto em músicas aos moldes da suave e eletrônica Crystalline (um trip-hop esquizofrênico e etéreo) como de faixas amargas e car-regadas por uma percussão eletrônica sufocante, feito Sacrifice.

Biophilia é um álbum todo baseado em um conceito. Construído em grande parte com o auxílio de um Ipad, cada faixa do registro posteriormente será transformada em um aplicativo para o tablet da Apple, onde o ouvinte será ca-paz de reconfigurar a música da islandêsa ao seu próprio gosto.

Assim como qualquer trabalho da cantora Biophilia é um álbum que precisa de certa dose de paciência ou cuidado para sua melhor compreensão, entretanto, uma vez inseridos dentro do contexto do álbum torna-se difícil querer aban-doná-lo, com a musicista mais uma vez causando um nó na mente do ouvinte, ao mesmo tempo em que o encanta com suas peculiares emanações.

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WATCH THE THRONE Jay-Z e Kanye West

Jay-Z e Kanye West. A parceria entre os dois rappers é de fato um grande cruzamento entre referências vindas dos dois lados do projeto. West que assume boa parte da produção do álbum traz um toque conceitual aos compostos comerciais e acessíveis do parceiro, enquanto Jay-Z parece evi-tar o tempo todo que o disco transite pela mesma sonoridade explorada por Kanye em seu último dis-co, materializando um álbum coeso, dividido entre o pop e o épico, entre o excêntrico e o radiofônico.

Acompanhados por uma série de outros produtores, como The Neptunes, The RZA, Q-Tip, 88-Key e Mike Dean, o álbum evita constantemente que a mentali-dade (ou o ego) de uma das metades predomine ao longo do disco, resultando em um projeto que involuntariamente se liga aos seus enunciadores, porém mantém constantemente um controle e um meio termo. LembraAmerican Gangster, contudo soa de forma mais melódica, remete ao clássico-Graduation, porém não concentra a mesma grandi-osidade e o caráter “rock de arena”, parece como um trabalho fechado, entretanto não manifesta com

01 No Church in the Wild02 Lift Off03 Niggas in Paris04 Otis05 Gotta Have It06 New Day07 That’s My Bitch08 Welcome to the Jungle09 Mutual Core10 Who Gon Stop Me11 Made in America12 Why I Love You

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o mesmo hermetismo de Late Registration. Simplesmente um disco que parece seguir uma sonoridade e um ritmo próprio.

Se Watch The Throne não apresenta nenhuma mudança que possa estremecer o hip-hop norte-americano, pelo menos ele garante um vasto concentrado de hits e faixas que a todo momento alavancam o disco. Seja pela excelente par-ticipação de Beyoncé em Lift Off (que soa melhor do que qualquer faixa lançada em seu último álbum) ou a surpreendente Otis (faixa que presta uma espécie de homenagem ao cantor e compositor Otis Redding, morto em 1967), por todos os lados surgem composições que transformam o disco em um dos trabalhos mais intensos do ano. Sobra até para a dupla experimentar no decorrer do ál-bum, como em Who Gon Stop Me que estranhamente puxa o disco para o UK Garage, enquanto Gotta Have It brinca com suas batidas assíncronas, trazendo novidade ao trabalho.

Por mais difícil que isso seja, Watch The Throne é um registro que merece ser ouvido sem que o ouvinte busque por um álbum revolucionário ou que se sobre-ponha em relação aos anteriores e individuais lançamentos dos dois rappers. É sem dúvidas um trabalho memorável, que em toda nova audição parece suprir cada mínima expectativa lançada desde que foi anunciado, contudo, a parceria entre Kanye West e Jay-Z está longe, muito longe, de ser uma obra-prima como alguns veículos de comunicação tem anunciado. Mesmo aquém do que o duo poderia desenvolver, Watch The Throne feito a capa que ostenta é um trabalho grandioso, onde cada uma de suas composições reluzem feito ouro e de forma alguma envergonham ou prejudicam a elogiada carreira da dupla.

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21Adele

Os três anos que separam o debut 19 (2008, XL, Al-lido, Columbia) do atual 21(2011, XL, Columbia) não apenas trouxeram mais idade à britânica (hoje com 23 anos), que cercada de novos produtores e amizades faz com que seu mais recente trabalho apresente uma clara evolução, tanto instrumental e lírica, quanto no belo emprego de sua voz. Ainda bebendo vigorosamente da soul music (os ecos da Motown mais presentes do que nunca), em seu novo álbum Adele brinca com novos gêneros, evitando que sua obra se afunde em redundâncias e amarrando ainda mais seu já fiel público.

Em tempos de crise e buscas por novas estratégias dentro da indústria musical é na venda de forma convencional, que a cantora conseguiu se posicio-nar firmemente como a dona do disco mais vendido de 2011. As boas vendas e a quase unanimidade das críticas reforçam beleza amargurada que circunda a voz e as melodias derramadas em 21 torna-se difícil não se entregar à conformidade e simples-mente se deixar conduzir pelas agradáveis canções que se instalam em nossos ouvidos.

01 Rolling in the Deep02 Rumour Has It03 Turning Tables04 Don’t You Remember05 Set Fire to the Rain06 He Won’t Go07 Take It All08 I’ll Be Waiting09 One and Only10 Lovesong11 Someone Like You

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Se em sua estreia Adele já se revelava de forma grandiosa, esbanjando sensi-bilidade através das 12 faixas que preenchiam seu álbum, com o novo projeto a cantora vai ainda além encontrando no uso de novas especiarias instrumentais o tempero que faltava para seu trabalho.

A cantora de múltiplas faces que vai aos poucos se construindo ao longo do álbum só parece possível pelo corpo de músicos e produtores que a circundam. Enquanto 19 se fechava em torno de três produtores e um pequeno apanhado de músicos, com o recente álbum, Adele chega acompanhada de seis produ-tores, um número grandioso de músicos, compositores e indivíduos que con-stroem as bases para que sua voz possa confortavelmente se intensificar e se transformar no material que temos em mãos. O resultado se traduz não apenas nas boas vendas, mas em um trabalho tomado por composições de pura beleza e sinceridade, um tipo de mistura que eventualmente entra em extinção dentro do panorama musical.

Há espaço tanto para a construção de pequenos épicos, como a poderosa faixa de abertura Rolling in the Deep (com Adele brincando com o Bluegrass de Wanda Jackson), como para a simplicidade e a doçura de If It Hadn’t Been For Love, faixa que mesmo modesta se dissolve em um vasto apanhado de refer-ências, indo do Blues à Bossa Nova em curtos minutos. Ao mesmo tempo que se mantém como um registro de proporções grandiosas há também um limite, como se a britânica soubesse exatamente até onde pode chegar em sua obra, e talvez por conta disso saiba como explorar tão cuidadosamente cada pequeno espaço de seu trabalho.

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UKULELE SONGS Eddie Vedder

É muito provável que nem Eddie Vedder tivesse noção das vias que acabaria percorrendo em seu primeiro trabalho solo, Into the Wild, disco feito por encomenda para ilustrar a película homônima (Na Natureza Selvagem) dirigida por Sean Penn em 2007. Quem esperava por um músico aos mesmos moldes daqueles encontrados ao lado do Pearl Jam teve uma surpresa mais do que agradável, afinal, o velho músico cabeludo, lembrado sempre pelos sons sujos que o acompanham, convertia-se em um quase hippie, destilando composições acústicas, repletas de letras suaves, através de vocais ainda mais brandos.

A surpresa em ver o eterno roqueiro de Seattle confortavelmente afundado em sons amenos não se resumiu apenas ao trabalho feito por encomenda, tanto que para o novo disco, Ukulele Songs (2011), Vedder se entrega ainda mais tranquilo e suavi-zado em um conjunto de 16 faixas que falam sobre a vida, amores e o mar. Quem achava que assistir Amanda Palmer interpretando clássicos do Radio-head munida apenas de um Ukulele seria o máximo

01 Can’t Keep02 Sleeping by Myself03 Without You04 More Than You Know05 Goodbye06 Broken Heart07 Satellite08 Longing to Belong09 You’re True10 Light Today11 Sleepless Nights12 Once in a While13 Waving Palms14 Tonight You Belong to Me15 Dream a Little Dream

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dessa instrumentação, não sabe o verdadeiro presente que o norte-americano preparou, utilizando basicamente do mesmo instrumento para dar forma às suas canções.

Feito para ser ouvido de frente para o mar, de preferência com os pés des-calços sendo tocados pelas ondas, o segundo disco solo de Vedder parece menos tímido que o álbum anterior, além de despontar um caráter muito mais intimista, porém não melancólico. É quase possível recriar um cenário onde o músico permanece sozinho e sentado nas rochas, enquanto assiste ao impacto das ondas abaixo de seus pés, dedilhando seu pequeno Ukulele.

Em alguns momentos, porém, Vedder não está sozinho, recebendo momenta-neamente a visita de alguns parceiros, que partem tão rapidamente quanto chegam. O primeiro a se aproximar é Glen Hansard (The Frames, The Swell Season), que fazendo coro em Sleepless Night deixa que a melancolia se es-tenda por alguns minutos dentro do álbum, como se um fino penumbra baixasse sobre a canção.

Assim como em Into The Wild Vedder eliminava todos os excessos, dando vida a um álbum que prendia por sua emoção, com Ukulele Songs – que também irá se converter em DVD, com o músico interpretando covers, composições próprias e clássicos do Pearl Jam – o cantor não apenas repete a fórmula, como se entrega de maneira ainda mais simplista e sensível. Há um limite dentro do disco, e ele, felizmente, nunca é ultrapassado, fazendo disso o grande acerto do trabalho.

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HOT SAUCE COMMITTEE PART TWO Beastie Boys

E os Beastie Boys finalmente estão de volta, após sete anos sem nenhum disco com versos inéditos – The Mix-Up (2007) era um álbum apenas de faixas instru-mentais – o trio formado por Mike D, MCA e Ad-Rock retorna não apenas com um dos discos mais divertidos do ano, mas um dos melhores registros de toda a car-reira do grupo. Inspirados por boas doses de música eletrônica, autotunes e bem desenvoltas guitarras, o grupo nova-iorquino mostra que o tempo e as adver-sidades pelas que passaram não formam suficientes para abalar o bom humor e nem sua criatividade. Hot Sauce Committee Part Two (2011) é um disco que já começa diferente, afinal, como pode um álbum iniciar pela parte dois antes da primeira parte? A resposta para esse pequeno “problema” é muito mais técnica do que uma brincadeira do trio em si. Por conta do câncer de Adam “MCA”, a primeira parte acabou temporariamente sendo deixada de lado, assim, resolvido o problema com a doença do músico, os três passaram a trabalhar na sequência do disco, que acabou se convertendo nas 16 faixas do presente trabalho.

01 Make Some Noise02 Nonstop Disco Powerpack03 OK04 Too Many Rappers05 Say It06 The Bill Harper Collection07 Don’t Play No Game That I Can’t Win08 Long Burn the Fire09 Funky Donkey10 The Larry Routine11Tadlock’s Glasses12 Lee Majors Come Again13 Multilateral Nuclear Disarmament14 Here’s a Little Something for Ya15 Crazy Ass Shit16 The Lisa Lisa/Full Force Routine

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A cada nova audição fica mais do que perceptível a ligação deste com determi-nados trabalhos lançados em meados dos anos 90, quando o trio vivia seu ápice de criatividade. Há todo momento pulam referências, que vão desdeCheck Your Head (1992), nos primórdios do disco, à Ill Communication (1994), próximo do fechamento. Porém é o clássico Hello Nasty (1998), disco de fato popularizou o grupo para além de seus seletos seguidores e que deixa suas maiores influên-cias ao longo deste oitavo álbum do grupo.

Da primeira à última faixa o que se percebe é uma sucessão de faixas que remetem diretamente a canções como Intergalatic, Body Movin e Remote Con-trol, quase como uma espécie de sequência do clássico disco de 98. Além do trio, quem chega para dar complemento a esse novo trabalho é o rap-per conterrâneo Nas, que através da faixa To Manny Rappers cria um dos mel-hores momentos do álbum. Dando um toque mais “feminino” ao trabalho, Santi-gold chega para embelezar Don’t Play No Game That I Can’t Win, que consegue angariar uma climatização voltada à Blaxploitation, além de soar como uma espécie de “lado b” da estreia da cantora.

Mais do que um “novo disco do Beastie Boys”, Hot Sauce Committee Part Twosoa como um álbum verdadeiramente entusiasmado, feito de maneira a ser apreciado sequencialmente. A pausa forçada pela qual o trio (e mesmo o público) teve de passar apenas contribuiu para que o trabalho envelhecesse um pouco mais e consequentemente pudesse ser melhor apreciado. Se essa é apenas a parte “dois” do projeto, o que dirá a parte “um”?

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THE KING OF LIMBS Radiohead

Há sempre uma angustiante tensão que acompanha cada novo lançamento dos britânicos do Radiohead. É como se em todo recente trabalho produzido os fãs e a crítica esperassem aflitos por um possível erro a ser cometido por Thom Yorke e seus parceiros, um erro que vem sendo esperado desde que The Bends(1995) foi lançado e que ainda não chegou. Mesmo com toda a tensão estabelecida após o lan-çamento do “revolucionário” In Rainbows em 2007 esse oitavo trabalho da banda de Oxford faz um re-torno ao hermetismo proposto em Kid-A (2000), ou seja, apresenta a banda em seu habitat natural.

De tempos em tempos o grupo que se completa por Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Colin Greenwood e Phil Selway surge com algum trabalho que de al-guma forma filtra seus seguidores e “dificulta” o caminho para aqueles que se aproximam de fac-eta mais pop da banda. Foi assim com aqueles que seguiram o quinteto graças à faixa Creep, mas que recuaram por meio da seriedade de The Bends. O mesmo aconteceu com quem se encantou pelo suc-esso da banda através de OK Computer (1997), mas

01 Bloom02 Morning Mr Magpie03 Little by Little04 Feral05 Lotus Flower06 Codex07 Give Up the Ghost08 Separator

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que teve de decidir se seguiam ou não o quinteto após o climático Kid-A. Para os que buscavam pela mesma sequência enérgica e repleta de elementos per-cussivos do último álbum (além de algum feito revolucionário nos moldes do processo de comercialização virtual) esseThe King Of Limbs (2011) surge como mais uma pequena barreira.

Apesar de boa parte do álbum se orientar dentro de um caráter eletrônico e sintético, algumas das faixas acabam se adornando por uma casca orgânica nada efêmera. Give Up The Ghost vai buscar no sampler de sons de pássaros e no detalhamento acústico para entregar o momento mais instintivo do álbum. Mesmo os vocais deformados de Yorke em contraposição com seus mesmos vocais em estado puro contribuem para o naturalismo dado à faixa. Em Little By Little esse mesmo tipo de sonoridade surge com um caráter deformado, o som nasce de maneira quebrada, como se os elementos sonoros fossem proposital-mente deformados.

O número reduzido de faixas e a curta duração do álbum são claramente um dos pontos positivos desse The King Of Limbs. As oito canções do disco fun-cionam de maneira exata e hermética, apesar do abrupto final em Separator e da ânsia por uma faixa seguinte é quase impossível imaginar o álbum diferente do formato atual. Esse oitavo disco talvez seja o trabalho mais recluso e com-portado do grupo, não chega a ser minimalista, mas carrega claramente uma temática reducionista em sua essência. A percussão etérea, o groove excên-trico e a ambientação obscura do disco mostram que o Radiohead acertou mais uma vez e está longe de cometer qualquer tipo de erro.

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YUCK YUCK

CEREMONIALS Florence + the Machine

IN THE GRACE OF YOUR LOVE The Rapture

PALA Friendly Fires

VELOCIRAPTOR Kasabian

TORCHES Foster The People

CULTS Cults

BON IVER Bon Iverr

SEVERAL SHADES OF WHY J Mascis

SMOTHER Wild Beasts

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YUCK YUCK

“Yuck” é um termo inglês que funciona para designar coisas nojentas, asquerosas e grosseiras. Yuck também o nome de uma banda londrina que faz um rock tão pesado e sujo que nem parece ser um produto da fina terra da Rainha. Formada por gente de Hiroshima, New Jersey e da Escócia o grupo tem se mostrado um dos projetos mais interessantes do momento. O som imundo do auto-intitulado álbum de estreia é um trabalho que esbanja jovialidade e guitarras com aquele jeitão de banda indie da década de 1990.

Danny Blumberg e Max Bloom, os fundadores da banda devem ter passado horas a fio se aventuran-do pela discografia do Dinosaur Jr, Pavement, Sonic Youth, e mais uma lista de bandas donas de um som sujo ou gravado em uma qualidade tão módica, que fariam um público habituado em composições poli-das e plastificadas sentirem certo “desconforto”. O som da banda – que fica completa com Jonny Rogoff (bateria) e Mariko Dói (baixo) – é como um concentrado de tudo que tocou nos anos 90, uma espécie de resumão contemporâneo.

01 Get Away02 The Wall03 Shook Down04 Holing Out05 Suicide Policeman06 Georgia07 Suck08 Stutter09 Operation10 Sunday11 Rose Gives A Lilly12 Rubber

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Abre com Get Away o tipo de canção que poderia facilmente ser encontrada dentro de Slanted And Enchanted (1992), o disco de estreia do Pavement, assim como os toques de raiva e gritarias esporádicas o incluiriam dentro de You’re Living All Over Me (1987) do Dinosaur Jr. Há também, mesmo que de maneira reclusa, quase imperceptível uma aura quase pop, algo visível pelas leves ex-plosões melódicas que acompanham o álbum. Já The Wall te arremessa para dentro do álbum Goo (1990) ou seria o Dirty (1992), ambos do Sonic Youth.

Nessas horas você passa a se perguntar o quão válido é um trabalho como esse. O Yuck talvez seja a prova da futilidade e da ausência de inovação do rock dos anos 2000, que precisa se prender a fórmulas do passado para encontrar a redenção em um trabalho como esse. Porém, problemas e debates culturológi-cos à parte, essa estreia do grupo britânico é excepcional.

Na baladinha abafada Suicide Policeman o quarteto consegue gestar um som com a mesma intensidade e climatização lo-fi do restante do trabalho. Georgia funciona como o lado mais “shoegaze” da banda. As espessas camadas de guitarras, distorções e os vocais submersos do vocalista, mergulham para mais além e vão buscar inspiração na discografia do The Jesus and Mary Chain, há até quem possa ver uma semelhança com o The Pains Of Being Pure At Heart.

Até quando chegam com um violãozinho e cheios de slide guitar em Suck, quase plagiando High and Dry do Radiohead, Blumberg e sua turma não perdem a pose. A banda se posiciona o tempo todo de maneira firme e sabe exatamente o rumo que está seguindo.

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CEREMONIALS Florence + the Machine

Nenhuma artista britânica hoje é tão completa quanto Florence Welch. Desculpem aqueles que idolatram os vocais amargurados da jovem Adele ou mesmo quem se entrega aos doces acordes de Laura Marling, nada que venha da velha Inglat-erra consegue superar a tonalidade épica, a beleza sentimental e a estranha energia cativante que se expande em cada composição entoada pela musicista londrina. Welch faz com que cada uma de suas canções se convertam em clássicos, ou como seu novo álbum aponta, pequenas etapas de um gi-gantesco cerimonial.

Se os dias de cão acabaram, agora a britânica só quer saber de se libertar e enterrar o passado, pelo menos é o que aponta Shake It Out, primeira com-posição que realmente nos fez perceber do que se trata Ceremonials, um disco que foca no movi-mento e na continuidade sentimental e mundana. Se através de Lungs(2009) era visível o quanto Welch sufocava em um oceano de relacionamentos que não deram certo e doses policromáticas de melan-colia, aqui temos o oposto, a consagração.

01 Only If for a Night 02 Shake It Out 03 What the Water Gave Me04 Never Let Me Go05 Breaking Down06 Lover to Lover07 No Light, No Light08 Seven Devils09 Heartlines10 Spectrum11 All This and Heaven Too12 Leave My Body

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Embora o toque épico e a grandiosidade penetrassem cada uma das 13 faixas construídas em sua estreia, com essa sequência musical Florence surge ainda mais magnânima, quase intocável, permitindo que a intensa dose de misticismo que se derrama sobre suas faixas tragam ao disco um toque de constante exaltação. Além da eficaz companhia dos parceiros do The Machine – for-mada por Robert Ackroyd, Christopher Lloyd Hayden, Isabella Summers, Tom Monger e Mark Saunders -, em seu recente trabalho, Welch encontra forças em um novo parceiro musical: Paul Epworth. Sempre lembrado pela produção de álbuns memoráveis e marcados pela originalidade pop, o britânico surge para acrescentar o elemento que faltava ao trabalho Florence.

Todo o emaranhado de arranjos instrumentais calcados na música erudita acabam contando com um acréscimo de música pop volátil e descontraída. É a mesma Florence de dois anos atrás, porém, capaz de dialogar com todas as frentes de ouvintes. Epworth parece ter libertado a mesma energia que Welch e sua banda transparecem ao vivo para dentro do estúdio, fazendo nascer um álbum entusiasmado, capaz de convencer e motivar o ouvinte.

Mesmo bem estruturado e carregado de boas composições, Ceremonials pode-ria ser apresentado como um trabalho mais curto (apenas 10 faixas seriam mais do que suficientes), evitando que a extensa duração do álbum possa trans-formá-lo em um trabalho penoso. Se havia qualquer tipo de medo em relação ao famigerado “segundo disco” de Florence Welch isso já pode ser deixado de lado, afinal, com o substituto de Lungs a musicista revela não ser apenas uma simples promessa da música britânica, mas uma sólida garantia.

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IN THE GRACE OF YOUR LOVE The Rapture

Quão profundo é o seu amor? Foi ao fazer esta per-gunta em junho de 2011 que o The Rapture encer-rava um silêncio de cinco anos desde que Pieces of the People We Love, último disco da banda fora lançado em setembro de 2006. Pianos enlouquecid-os, saxofones tocados de maneira a hipnotizar o ou-vinte, batidas típicas da House Music dos anos 90, um toque de dance punk que a banda traz desde seu primeiro álbum e a voz de peculiar de Luke Jenner perguntando desesperadamente “quão profundo é o seu amor?”. Com todos estes elementos os nova-iorquinos marcavam não apenas seu retorno, como anunciavam que algo no mínimo surpreendente es-tava por chegar.

Enquanto hoje se fala sobre a retomada da Acid House e de todos os aspectos da música eletrôni-ca que permearam a década de 1990, em idos de 2003 o The Rapture – quando ainda era formado pelo quarteto Luke Jenner, Vito Roccoforte, Gabriel Andruzzi e Matt Safer (que deixou o grupo 2009) – foi um dos primeiros a trazer de volta as mesmas tendências musicais que hoje estranhamente

01 Sail Away02 Miss You03 Blue Bird04 Come Back to Me05 In the Grace of Your Love06 Never Gonna Die Again07 Roller Coaster08 Children09 Can You Find a Way?10 How Deep Is Your Love?11 It Takes Time to Be a Man

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soam como novas, quebrando os limites de outras bandas que pareciam en-contrar todas suas referências no clássico Entertainment! Do Gang of Four. Enquanto o mundo esperava por alguma novidade vinda de território britânico eram os nova-iorquinos e seu Echoes que tinham todas as respostas, e inclusive algumas previsões.

Apesar de que muito do que se manifeste dentro do disco pareça vir direta-mente dos dois primeiros álbuns da banda – o que obviamente traz de volta a influência de grupos como Gang Of Four e toda a cena eletrônica de Chicago dos anos 80 e 90 -, uma nova carga de inspiração, principalmente vinda de território britânico se instala no decorrer do álbum. Torna-se inevitável ouvir a faixa que dá nome ao disco ou músicas como Come Back To Me sem de alguma forma recordar os memoráveis Pills ‘n’ Thrills and Bellyaches do Happy Mondays ouScreamadelica do Primal Scream, dois registros que parecem ecoar em cada segundo do recente trabalho do grupo.

Embora surja de um esforço conjunto dos três integrantes que assumem a banda, In The Grace Of Your Love se destaca pela produção mais do que coerente da dupla de produtores Philippe Zdar e Boom Bass, que juntos atuam à frente do projeto de eletrônica Cassius. O Duo que trabalhou na produção de discos como Bright Like Neon Love do Cut Copy e o insuperável Wolfgang Amadeus Phoenix do Phoenix surge para amarrar todas as pontas do novo registro dos nova-iorquinos, resultando em um dos discos mais maduros e completos do ano. Defintivamente, os cinco anos de “férias” fizeram mais do que bem ao The Rapture.

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PALA Friendly Fires

Depois do rock ser assolado pela invasão de bandas inspiradas por todas as temáticas levantadas na dé-cada de 1990 chega a vez da música eletrônica ser puxada para dentro do mesmo vórtice. Embora o efeito venha parcialmente se estendendo em amp-los setores do gênero ao longo dos últimos anos, de janeiro pra cá uma quantidade mais do que espan-tável de artistas reassumiu tais sonoridades, fazen-do com que todo o cenário das raves, o panorama Italo Disco, House e Trance encontrado da Europa aos Estados Unidos do século passado recebesse uma cuidadosa revisão.

Entre tentativas, experimentações e êxitos – que vão dos trabalhos do Hercules and Love Affair, pas-sando Holy Ghost! e Jessica 6 – quem faz de seu novo álbum uma sucessão de faixas assertivas é o trio britânico Friendly Fires, que após despontar em 2008 com um mais do que agradável disco de estreia, agora retorna com Pala (2011), um álbum que mais do que imediatamente te convida para as pistas, transportando o ouvinte para dentro de toda a energia construída ao longo dos anos 90.

01 Live Those Days Tonight02 Blue Cassette 03 Running Away 04 Hawaiian Air05 Hurting” 06 Pala 07 Show Me Lights 08 True Love 09 Pull Me Back to Earth10 Chimes 11 Helpless

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Assim como a banda – Ed Macfarlane, Jack Savidge e Edd Gibson – fazia com o álbum de estreia, prendendo o ouvinte em uma sequência de sons viciantes, ca-rimbando no cérebro as marcas de faixas como In The Hospital, Paris,Skeleton Boy e Lovesick, com o segundo disco o trio volta ainda mais resolvido, man-dando outra avalanche incontrolável de arrasa-quarteirões, que começa com a canção de abertura, Live Those Days Tonight e só consegue parar de fato em Helpless, no fechamento do disco. Instrumentalmente radiantes e brincando com os versos fáceis, o grupo faz jus aos frequentes elogios recebidos pela crítica internacional.

Ao contrário de outros trabalhos intelectualmente definidos como conceit-uais, o novo trabalho do Friendly Fires utiliza-se dos mesmos ideais temáticos abordados por uma infinidade de grupos relacionados ao panorama britânico e mundial, contudo a diferença está num ponto chave do álbum: a diversão e o real conhecimento sobre o tema ressaltado. Assim como na estreia, o recente álbum conta com o caso raro de “convidar” o ouvinte a apreciá-lo seguidas vezes. Sem perceber você estará preso ao disco em um looping confortável, onde toda faixa se renova a cada recente audição.

Ao contrário de muitos lançamentos que diariamente tomam conta do cenário musical, Pala praticamente obriga que seus apreciadores o explorem seguidas vezes. Se for para entregar um ponto negativo do álbum, que seja relacionada às dores proporcionadas pelas inúmeras doses de ácido lático ou a surdez, motivados pelas convidativas danças e audições incontroláveis do trabalho. Sejam bem vindos aos anos 90.

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VELOCIRAPTOR Kasabian

Enquanto a quase totalidade da bandas britânicas pareciam seguir por uma via musical similar, enfa-donha e pouco inventiva, o quinteto de Leicester-shire, Kasabian sempre deu formas a um tipo de som distinto, uma completa oposição ao que seus conterrâneos pareciam interessados em desenvolv-er. Afastados do resgate ao pós-punk britânico que ainda hoje delimita a sonoridade de nove em cada dez bandas inglesas, o grupo sempre esteve um passo à frente de todas suas bandas que residem em sua vizinhança, apostando (quase) todas suas fi-chas no revisitar da cena musical de Manchester no começo dos anos 90, algo que se repete de maneira bem conduzida em seu quarto e mais novo álbum.

Dono de um ritmo completamente distinto do anterior álbum da banda – The West Rider Pauper Lunatic, de 2009 –, em Velociraptor! (2011, RCA/Columbia) o quinteto deixa de lado o flerte com o rock dos anos 60/70, voltando toda sua produção musical para uma fórmula que remete diretamente ao primeiro e homônimo trabalho da banda. Longe do caráter orgânico que parecia movimentar Fire,

01 Let’s Roll Just Like We Used To02 Days Are Forgotten03 Goodbye Kiss04 La Fée Verte05 Velociraptor!06 Acid Turkish Bath07 I Hear Voices08 Re-Wired09 Man of Simple Pleasures10 Switchblade Smiles11 Neon Noon

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Where Did All The Love Go?, Vlad The Impaler e todas as grandes composições do último disco, em seu novo álbum a banda transita por um universo de can-ções sintetizadas, mais plásticas e que se dividem entre doses de psicodelia e passeios pela música eletrônica.

Dan, The Automator volta em Velociraptor! para repetir a boa parceria gerada através do último trabalho da banda. Variado, o disco se apresenta como o tra-balho mais experimental da banda, capaz de proporcionar tanto músicas co-lossais como Acid Turkish Bath (Shelter From The Storm), quanto canções mais simples e voltadas diretamente para a dança, como Re-wired.

Claro que nem tudo são flores no novo disco do Kasabian. La Fee Verte, por exemplo, quebra totalmente o bom ritmo que o disco vem tomando desde sua abertura. Contudo, a série de boas faixas que chegam na sequência rapida-mente retomam o bom desenvolvimento do disco, que vai se encaminhando para a chegada da potente,Switchblade Smiles, de longe uma das melhores e mais intensas músicas de 2011.

Fazendo com que o ouvinte flutue em uma nuvem de sons chapados e completamente instáveis, cada segundo dentro de Velociraptor! soa como uma grande surpresa aos apreciadores do álbum, com cada faixa, mesmo se mantendo dentro de certo limite, envergando por um caminho totalmente particular. O novo álbum do Kasabian não decepciona e mantem o grupo no topo dos grandes representantes do britrock atual, sem medo de arriscar ou viver do básico.

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TORCHES Foster The People

Talvez o fator mais interessante de todo o baratea-mento e as novas possibilidades de gravação no meio musical seja o de termos acesso a trabalhos como Torches (2011), estreia mais do que fantástica do quarteto californiano Foster The People. Desde 2009 se revezando em apresentações por toda Los Angeles, o trio formado por Mark Foster, Mark Pon-tius e Cubbie Fink faz de seu primeiro trabalho o dis-co de música pop mais agradável de 2011. Camin-hando por diferentes gerações e absorvendo todas as sonoridades radiofônicas dos anos 2000, a banda faz de sua música um instrumento para a diversão.

É difícil situar a sonoridade do grupo dentro de um rótulo ou de uma linhagem específica. Talvez o mais fácil seja classifica-los como uma banda de música pop e ponto, entretanto, alguns elementos e influências perceptíveis nos sons e nas letras das canções permitem traçar algumas considerações sobre o trio. É possível encontrar desde mínimas camadas de um synthpop nostálgico, numa quase ode aos anos 80 feito por alguém que sequer tenha vivido durante o período. Mas é na psicodelia pop

01 Helena Beat02 Pumped Up Kicks03 Call It What You Want04 Don’t Stop (Color on the Walls)05 Waste06 I Would Do Anything for You07 Houdini08 Life on the Nickel09 Miss You10 Warrant

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do MGMT e nos sintetizadores coloridos do Discoverey e do Passion Pit que a banda de fato estende suas pontes.

Outro elemento de forte importância dentro do álbum são os vocais. Assim como Angelakos em 2009, Mark Foster preenche sua voz com diversos efeitos sintetizados, que dão ao registro um toque de polidez, invadindo os ouvidos logo na primeira audição. Não será nem um pouco estranho você ouvir o disco uma única vez e logo se pegar cantarolando trechos de Helena Beat, Pumped Up Kicks ou da graciosaWaste. Se a intenção do grupo era a de fisgar o ouvinte com apenas uma única rotação do trabalho, então eles conseguiram.

Quem pensa que por se tratar de um disco de música pop Torches reserve ap-enas para a abertura do disco seus melhores exemplares, espere para ver o que se esconde no “lado b” do álbum. É ali que o trio “oculta” seus momentos de maior aproximação com a música eletrônica e também o espaço para que pequenas comoções, como as que são proporcionadas por Houdini e Miss You possam se esconder.

Se 2011 precisava de seu “artista revelação”, aquele grupo que ninguém es-perava algo de muito relevante e simplesmente acaba por conquistar a todos, então essa é a posição do Foster The People. Claro que falta ao grupo uma dose de instrumentação própria, algo que os torne realmente inovadores, mas isso é algo que com o tempo o grupo deve construir. Se por enquanto, brincando apenas com o básico o trio já consegue fazer um álbum desse tamanho, o que dirá os futuros lançamentos do grupo.

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CULTS Cults

Não é de hoje que os casais são uma peculiaridade no mundo da música. Desde os anos 50 com Johnny Cash e June Carter, na década de 60 Lennon e Yoko, Sid Vicious e Nancy na década de 1970, Madonna e Sean Penn nos anos 80 ou Kurt e Courtney na década seguinte, todas uniões marcadas pela relevância criativa ou polêmica desses encontros. Mas e nos anos 2000, quem seria o casal sensação do mundo da música? Mesmo longe das polêmicas os pouco conhecidos Brian Oblivion e sua amada Madeline Follin acabam por se revelar como uma das mais interessantes uniões do momento, tendo em seu homônimo disco de estreia um destacado conjunto de versos amorosos e um instrumental tomado pelo lo-fi.

Assim como são inúmeros os casais que perpassam as décadas de música, múltiplas são as influências que compõem as onze canções do disco de estreia do casal nova-iorquino, de cara lançado pela Columbia Records, hoje casa de um casting monumental de artistas, que vão de Beyoncé à Band Of Horses, passando por Foster The People até

01 Abducted02 Go Outside03 You Know What I Mean04 Most Wanted05 Walk at Night06 Never Heal Myself07 Oh My God08 Never Saw the Point09 Bad Things10 Bumper11 Rave On

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The Vaccines. Da música pop dos anos 60 e 80, do rock lo-fi da década de 1990 ao experimentalismo pop dos anos 2000, tudo funciona como um grande pano de fundo ao trabalho do duo.

Embora comparações os joguem para dentro do mesmo quadro de bandas como o também casal Tennis, a sonoridade proposta pelo Cults se distancia vi-sivelmente das climatizações praieiras que assolam com intensidade o rock e a música norte-americana em geral. Mesmo que existam alguns poucos toques e reverberações nostálgicas que os joguem para dentro da surf music, conforme o álbum se desenvolve ampliam-se as percepções de uma instrumentação muito mais urbana é o que movimenta o disco. Dessa forma é possível traçar algumas similaridades com o trabalho de estreia da conterrânea Acrylics, Lives and Treasures (2011), trabalho que apresenta suas canções de maneira “suja”, como se uma leve camada de poeira se abatesse sobre as músicas, dando à elas um charme todo especial.

Quem quer que tenha se deparado com os primeiros singles da dupla e pen-sado que dali viria mais uma dose de “mais do mesmo”, logo verá que dentro da ótima estreia do Cults tudo se evidencia de maneira parcialmente inédita. A temática lo-fi é a mesma, embora os rumos dados ao disco são completa-mente outros.Entre declarações de amor, sons empoeirados e canções que vão do dançante ao comovente, o duo entra fácil no patamar dos grandes lan-çamentos de 2011, sem contar na possível lista dos grandes casais do novo século. Um disco para ser apreciado ao lado da pessoa amada, ou aguardando pela chegada da mesma.

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BON IVER Bon Iver

Entre palavras anunciando sua angústia e coros de vocais tomados pelo uso de falsetes é no instrumen-tal que a banda carrega toda a beleza e comoção do novo disco. As guitarras fragmentadas em con-trolados solos melancólicos e a bateria esporádica, evitando a todo momento exaltações desnecessári-as vão movimentando as bases das faixas, enquan-to pequenas inserções cumprem o papel de tornar grande a presença das faixas. Ruídos discretos de percussão, violoncelos, pianos e teclados servem como pequenas pinceladas no decorrer da obra, tornando ainda mais assertiva a execução do disco.

Um bom exemplo de como a banda vai constru-indo em etapas suas canções está em Michicant. Quinta música do álbum, a faixa – que em seus ver-sos revela muito do que levou Vernon a construir o disco anterior, traduzindo seu sofrimento como uma espécie de maturação forçada – começa com a tradicional sobreposição de vocais, trançada com uma sonorização acústica típica do grupo, mas que gradativamente vai se preenchendo de elementos percussivos. A climatização pacata logo se adorna

01 Perth02 Minnesota, WI03 Holocene04 Towers05 Michicant06 Hinnom, TX07 Wash.08 Calgary09 Lisbon, OH10 Beth/Rest

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de novos sons, que vão do uso de instrumentos de sopro à violinos obscuros e uma bateria abafada, sempre desenvoltos dentro de um panorama minimalista, controlado ao máximo e justamente por isso encantador.

O álbum todo chega carregado por pequenas inclusões de bips eletrônicos, tramas de teclados e massas de som que percorrem as dez composições do LP. Quanto mais o trabalho se aproxima do fim, maiores são as inclusões de sons sintéticos, o que obviamente dá todo um charme especial ao disco.

A partir de Calgary toda a profusão de sons que posicionavam a banda dentro de uma temática folk são simplesmente afastados, com o quarteto adentrando um território novo, ecoando os anos 80 e em alguns momentos lembrando muito o que o Destroyer tem explorado em seu último disco, Kaputt (2011).

Depois de uma boa apreciação do LP não restam dúvidas que todas as expec-tativas lançadas no disco de estreia foram supridas. Se no debut Vernon lutava contra as dores de um pós-relacionamento, aqui é o recomeço que amplia suas formas, mesmo que ainda exista toda uma gama de referências às dores do passado. Nesse aspecto é possível ligar o trabalho do Bon Iver com o último disco do The Antlers (Burst Apart, 2011), também partindo do mesmo princípio de superação, e ambos discos que rumaram para novos caminhos, tanto no quesito poético quanto instrumental. Porém, a dor expressa pela banda de Wis-consin parece ainda maior, como se mesmo a luminosidade primaveril fosse insuficiente para esquentar ou fazer derreter toda a neve e as mágoas que sur-giram no passado.

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SEVERAL SHADES OF WHY J Mascis

Para quem está acostumado a ouvir J Mascis escondido atrás de gigantescos paredões de guitarras ao lado dos parceiros do Dinosaur Jr, vê-lo na comodidade acústica de seu trabalho solo é inicialmente estranho. Porém, passado a estranheza das primeiras audições, o músico e seu Several Shades Of Why (2011) acabam se revelando de maneira delicada, expressando um detalhamento sonoro único. Desde 2005 sem lançar nada inédito com seu projeto solo, o músico faz um retorno pontual através de faixas suavizadas e cômodas.

Nas dez pequenas composições que fazem parte do seu mais novo lançamento, Mascis eu nenhum momento se assemelha ao roqueiro quartentão de sua banda principal. Ao contrário de afundar os tímpanos alheios através de solos de guitar-ras cruas que se complementam com a bateria de Murph e o baixo de Lou Barlow, o músico vem acompanhado apenas da singeleza de um violão e de outros sofisticados instrumentos acústicos, como um violoncelo que acompanha o trabalho quase em sua completude.

01 Listen to Me02 Several Shades of Why03 Not Enough04 Very Nervous and Love05 Is It Done06 Make it Right07 Where Are You08 Too Deep09 Can I10 What Happened

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Embora seja construído de maneira ponderada o trabalho em nenhum momento se perde em meio a simplicidades ou estruturas básicas excessivas. Se com o Dinosaur Jr é através de efeitos elaborados e solos bem amarrados que as canções vão se construindo, com Several Shades Of Why são inclusões pontuais ao longo das faixas que vão fomentando o trabalho. Pode ser um dedilhado mais bem executado aqui, ou um pandeiro comportado acolá, ou mesmo um triste tocar de violoncelo momentaneamente executado. O fato de ser simples, não quer dizer que o disco seja comum.

Mesmo os vocais do músico vêm carregados de uma sobriedade e uma calma acalentadora, que no decorrer do disco vão se abrigando de maneira comportada em nossos ouvidos. Mesmo pacatos, tanto os vocais como a instrumentação momentaneamente permitem a inclusão de pequenos picos de raiva dentro do álbum. Is It Done e Can I, por exemplo, chegam com um rápido solo de guitarra ou distorções esporádicas no melhor estilo Dinosaur Jr.

Entretanto são nos momentos de maior calma e sofisticação que o álbum atinge seu ápice. Make It Right, Where You Are e a faixa título inserem o músico dentro de um cenário delicado e que estranhamente parece perfeito para Mascis. É quase como se esse fosse seu habitat natural e não as gritarias descontroladas ou a sonoridade excessiva de sua banda original. Several Shades Of Why é um trabalho que deve ser apreciado sem que o ouvinte vá atrás de uma continu-ação do que é proposto no Dinosaur Jr, só assim ele pode ser compreendido por completo.

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SMOTHER Wild Beasts

Parece que determinadas bandas estão fadadas a serem lembradas unicamente por seu grande disco de estúdio e seu eminente fracasso, lançado logo em sequência. Seguindo por uma linha totalmente contrária a isso, o quarteto britânico Wild Beasts (pouco, ou praticamente nunca citados em terras tupiniquins) teve desde seu primeiro disco uma se-quência de aprendizados, reformulando seus sons e angariando uma característica que poucos gru-pos contemporâneos conseguem agregar: um som próprio. Embora bem pontuado por toda a imprensa, tanto a britânica quanto a norte-americana, Limbo, Panto de 2008 acabou pouco mencionado, talvez por não dar formas a singles fáceis ou colagens pegajosas típicas do rock inglês, entretanto, o disco soava como um verdadeiro frescor e dava claros apontamentos, que do grupo viriam bons trabalhos.

A mente fervilhante de Hayden Thorpe (vocal, guitarra, baixo e teclados), Ben Little (guitarra e teclados), Tom Fleming (baixo, vocal, guitarra e teclados) e Chris Talbot (bateria e vocais) fez com que logo no ano seguinte o quarteto voltasse à cena

01 Lion’s Share02 Bed of Nails03 Deeper04 Loop the Loop05 Plaything06 Invisible07 Albatross08 Reach a Bit Further09 Burning10 End Come Too Soon

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(trocadilho mais do que coerente, já que a sonoridade da banda vale-se de di-versos elementos encontrados nas apresentações de Cabaré e Vaudeville, um tipo de gênero teatral e de performance norte-americano, que incluía shows do horror, danças e canto) com Two Dancers (2009), trabalho que figurou nas principais listas de melhores do ano, tudo por conta da visível evolução da banda em sua sonoridade, que a partir de então pode realmente ser chamada de “sua”.

Pronto, agora seria esperar que o quarteto lançasse um terceiro disco, de menor qualidade que os dois trabalhos anteriores, e estaria fechado o ciclo. O grupo seria eternamente lembrado por seu segundo disco e sempre recordado como “um dos mais promissores de sua geração”, tendo que se virar com as fu-turas críticas, sempre saudosistas e melancolicamente pessimistas em relação aos futuros lançamento. Entretanto o Wild Beasts ainda não fechou seu ciclo, e assim como conseguiu surpreender lançando seu segundo trabalho de estúdio, consegue mais uma vez agradar seus ouvintes com outro maduro trabalho, re-pleto de melancolia, sofisticação e beleza, bem vindos à Smother.

Smother entra fácil no mesmo patamar de álbuns como Halcyon Digest (2010) do Deerhunter ou XX (2009) dos conterrâneos do The XX, ambos discos que troux-eram um sopro de inventividade para dentro de seus gêneros, ou mesmo para dentro da música contemporânea. Entretanto é difícil classificar esse terceiro álbum do Wild Beasts dentro de um seguimento único, afinal, ele é minimalista, porém seja voltado ao indie rock, abarca aspectos da música experimental, ao mesmo tempo que se apresenta como um achado da melancolia pop. Talvez “clássico” seja o rótulo mais coerente que o trabalho mereça agregar.

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Tratamento de ImagensEliseu Gomez

ColaboradoresIlana CaiafaRodrigo Liberato

FotolitoStudio Alfa, Letra & Imagem Editora Ltda.

Impressão e AcabamentoDonnelley-CochraneGráficaEditoradoBrasilLtdaDivisão Hamburg

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