strikes and social conflicts 2nd edition-4

Download Strikes and Social Conflicts 2nd Edition-4

If you can't read please download the document

Upload: arua1984

Post on 01-Jan-2016

74 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

  • Coordination /

    Antnio Simes do Pao

    Raquel Varela

    Sjaak van der Velden

    Strikes and social conflictsTowards a global history

  • Strikes and social conflicts.

    Towards a global history

  • 1

    Strikes and social conflicts.

    Towards a global history

    Editors

    Antnio Simes do Pao

    Raquel Varela

    Sjaak van der Velden

    International Association Strikes and Social Conflict

  • 2

    Title: Strikes and Social Conflicts.

    Towards a global history

    Cover: Stanisaw Lentz, Strajk (1910) National Museum, Warsaw, Poland.

    Coordination: Antnio Simes do Pao, Raquel Varela, Sjaak van der Velden

    Publisher: International Association Strikes and Social Conflict

    Instituto de Histria Contempornea da Faculdade de Cincias Sociais e Humanas

    da Universidade Nova de Lisboa

    ISBN: 978-972-96844-1-8

    2nd edition

    Lisbon, December 2012

  • 3

    CONTENTS

    Introduction ........................................................................................................................................ 7

    Discurso do Professor Fernando Rosas na Abertura da Conferncia Internacional

    Greves e Conflitos Sociais no Sculo XX..................................................................................... 8

    Discours douverture du Professeur Serge Wolikow dans la Confrence

    Internationale Grves et Conflits Sociaux dans le XXe Sicle ...............................................10

    Letter from Anthony Arnove to the International Conference Strikes and Social

    Conflicts in the XX Century .......................................................................................................13

    1. Strikes and social conflicts........................................................................................................... 15

    Setbal republicana quando as fbricas transbordavam de greves. Albrico Afonso

    Costa ..............................................................................................................................................16

    Huelgas y conflictos universitarios en la descomposicin del franquismo (1965-1977).

    Alberto Carrillo-Linares .............................................................................................................25

    Militantisme syndical et conflits sociaux fminins entre 1970 et 1985 dans le

    dpartement de la Haute-Vienne en France. Amandine Tabutaud ......................................34

    As greves no Litoral Norte portugus no agitado Vero de 1958. Ana Sofia Ferreira

    ........................................................................................................................................................42

    Movimientos de resistencia en Rumana. Dos retratos de mujeres: Elisabeta Rizea y

    Herta Muller. Andra Breza ........................................................................................................48

    La huelga en Espaa bajo el segundo franquismo: actitudes y estrategias patrnales.

    ngeles Gonzlez Fernndez ......................................................................................................59

    Poltica e educao: as greves e conflitos de classe na Itlia entre 1919-1920 a partir

    dos escritos de Gramsci. Anita Helena Schlesener ..................................................................69

    Crise e recuperao do sindicalismo brasileiro. Armando Boito e Paula Marcelino ..77

    Conflitos sociais na base da ecloso das guerras coloniais. Dalila Cabrita Mateus.....87

    Asalto al franquismo. Las movilizaciones en el Pas Vasco en los estertores de la

    dictadura. Daniel Escribano y Pau Casanellas.........................................................................94

    From the Greatest Victories to the Biggest Defeat: The British Coalminers National

    Strikes of 1972, 1974 and 198485. Dave Lyddon ................................................................. 102

    A greve poltica de julho de 1962. Demian Bezerra de Melo ....................................... 112

    La lucha contra el cierre de la siderurgia de Sagunto (1983-84). Enrique Gonzlez de

    Andrs ........................................................................................................................................ 123

    Padres de la patria contra hijos del pueblo. Discursos y prcticas del rgimen

    poltico argentino ante las huelgas y conflictos sociales en la Buenos Aires de 1909. Hugo

    Quinterno ................................................................................................................................... 138

    Sindicalismo y poltica. La polmica comunista sobre la unidad sindical en la

    transicin espaola. Javier Tbar Hurtado ........................................................................... 152

    As comunidades industriais no alvorecer do associativismo operrio portugus.

    Joana Dias Pereira .................................................................................................................... 162

    O declnio das greves rurais e a evoluo do PCP nos campos do Sul. Joo Madeira

    ..................................................................................................................................................... 171

    Greves e conflitos sociais na Lisnave. Jorge Fontes ...................................................... 180

    Vigo and Ferrol, 1972. Two strikes, one strategy. Jos G. Aln .................................. 187

    Resonancia en Astrias de la huelga de 1917. Jos Luis Campal Fernndez ........... 195

    El sindicalismo libertario en Catalua durante la transicin (1975-1979).

  • 4

    Aproximacin a su reconstruccin, crecimiento y ruptura. Josep Maria Sol Soldevila 202

    Violencia sindical en Barcelona, 19071914. Juan Cristbal Marinello Bonnefoy .. 210

    Sindicalismo livre e I Repblica. Percursos paralelos, convergncias efmeras

    (1908-1931). Luis Farinha ........................................................................................................ 218

    Huelgas y movilizaciones campesinas en la Catalua de la Segunda Repblica 1931-

    1936. Manel Lpez Esteve ........................................................................................................ 227

    USO y la pugna por el espacio sindical socialista en la transicin espaola (1971-

    1980). Manuela Aroca Mohedano ........................................................................................... 236

    New trade unionism versus the vertical union during Franco's regime: the case of

    Galicia. Margarita Barral Martnez ....................................................................................... 244

    Movimento docente no Brasil: os limites das suas palavras de ordem cidadania e

    democracia j. Maria de Ftima Rodrigues Pereira ............................................................ 256

    La conflictividad social en la Espaa de la II Repblica, entre la regionalizacin y la

    segmentacin. Mart Marn Corbera ..................................................................................... 262

    The Rouge is Down: The Triumph of Progressive Unionism at the Ford Motor

    Company. Martin Halpern ...................................................................................................... 270

    Riots and strikes in Spain between the Spanish-American War and the First World

    War (1898-1920). scar Bascun Aover ........................................................................... 281

    Os trabalhadores no comrcio em foco: trabalho e sindicalismo da baixa classe mdia

    no Brasil contemporneo. Patrcia Vieira Trpia ................................................................. 289

    A greve que mudou a revoluo: luta laboral e ocupao da Rdio Renascena,

    1974-1975. Paula Borges Santos .............................................................................................. 302

    Greves na Revoluo dos Cravos (1974-1975). Raquel Varela ................................... 311

    Lutas sociais e nacionalizaes (1974-75): A banca ao servio do povo. Ricardo

    Noronha ...................................................................................................................................... 321

    International labour solidarity under military rule. The case of the Greek trade

    unions exiled in Italy during the colonels' dictatorship and the Italian trade unions

    support (196774). Rigas Raftopoulos .................................................................................... 330

    Las jornadas de protesta y movimiento sindical en Chile, entre la movilizacin social

    y la accin poltica. Rodrigo Araya Gmez ........................................................................... 342

    Cerrando el crculo. Eventualidad, reconversin y defensa del empleo en el astillero

    Naval Gijn (1975-2009). Rubn Vega Garca ...................................................................... 352

    Les conflits du monde du travail et le champ politique au cours du 20e

    sicle nos

    jours. Le cas franais. Serge Wolikow ................................................................................... 360

    A Intersindical: das origens ao Congresso de Todos os Sindicatos (1970-1977) um

    projecto de Histria Oral. Slvia Correia ............................................................................... 370

    Rotterdam dockers, a vanguard of the Dutch working-class? Sjaak van der Velden

    ..................................................................................................................................................... 375

    Temos Fome, Temos Fome: resistncia operria feminina em Almada durante o

    Estado Novo. Snia Sofia Ferreira .......................................................................................... 383

    De laction collective au groupe de pression. La naissance de la Fdration Nationale

    des Courtiers en Vins et son action (1920-1949). Stphane Le Bras................................... 392

    Farewell to the communist strike hypothesis? The diversity of striking in Finland

    between 1971-1990. Tapio Bergholm and Paul Jonker-Hoffrn......................................... 401

    Lutas operrias no Porto na segunda metade do sculo XX. Teresa Medina, Natrcia

    Pacheco, Joo Caramelo .......................................................................................................... 414

    El papel de la huelga en la Revolucin Cubana. Thomas Posado .............................. 424

    All for the employing printers! Employer class solidarity in the U.S. printers

    strike of 19051907. Vilja Hulden ........................................................................................... 432

  • 5

    Strikes in East Germany (1949 to 1989). Renate Hrtgen........................................... 444

    2. Revolution and counter-revolution ........................................................................................... 451

    La crisis de 1917 en Espaa. De crisis poltica a revolucin social. ngels Carles-

    Pomar ......................................................................................................................................... 452

    Conflictos sociales y violencia poltica en el movimiento autnomo italiano de los aos

    setenta. Elisa Santalena ............................................................................................................ 458

    Estudio sobre la dinmica del movimiento social urbano chileno: poderes

    populares durante el gobierno de Salvador Allende (1970-1973). Franck Gaudichaud 468

    Ces de guarda da burguesia: as organizaes integralistas contra as organizaes

    dos trabalhadores no Brasil (1945-1964). Gilberto Grassi Calil ......................................... 478

    Survivors associations in Isre: political actions for absolute duties. Karin Dupinay-

    Bedford ....................................................................................................................................... 486

    From Resistance to Civil War: The White Terror in Central Greece (1945-1946). Lee

    Sarafis ......................................................................................................................................... 494

    Revolt and War. The Greek Armed Forces in the Middle East during the Second

    World War. Procopis Papastratis ........................................................................................... 504

    Transio poltica e contrarrevoluo: o Brasil ps-1964 em perspectiva. Renato Lus

    do Couto Neto e Lemos ............................................................................................................ 514

    O antifascismo no Brasil e a Batalha da Praa da S: da Frente nica Antifascista

    Aliana Nacional Libertadora (1933-1935). Ricardo Figueiredo de Castro ...................... 522

    Youth, counterculture and politics: the student movements of the sixties. Sergio

    Rodrguez Tejada ...................................................................................................................... 531

    Luta armada na Frente Patritica de Libertao Nacional: uma querela permanente.

    Susana Martins.......................................................................................................................... 540

    Debates sobre a viabilidade de uma revoluo anarquista no Brasil (1917-1922).

    Tiago Bernardon de Oliveira ................................................................................................... 548

    O outro 25 de abril e as Diretas J. Noventa dias de luta que mudaram o Brasil.

    Valrio Arcary ........................................................................................................................... 556

    El marxismo y la Dictadura de Primo de Rivera. Pablo Montes ................................ 564

    Movimiento obrero y cuestin nacional en Espaa: Catalunya y Pas Vasco (1895

    1923). Diego Daz Alonso .......................................................................................................... 571

    3. Land and freedom ...................................................................................................................... 578

    Terra e liberdade. Experincias de reforma agrria em Portugal no sculo XX. Dulce

    Freire .......................................................................................................................................... 579

    Uma cidade em luta. Sonia Lcio Rodrigues de Lima ................................................. 588

    As transformaes socioeconmicas da atividade pesqueira na Amaznia brasileira.

    Tiago da Silva Jacana ............................................................................................................. 596

    4. Media and social conflicts .......................................................................................................... 607

    Editoras e lutas sociais no Brasil. Andra Lemos Xavier Galucio .............................. 608

    A revista Veja e os conflitos sociais dos anos 1990. Carla Luciana Silva ................... 617

    A Editorial Vitria e a divulgao das ideias comunistas no Brasil, 1944-1964.

    Flamarion Maus ...................................................................................................................... 627

    Conflictos laborales e imagen: de la mirada institucional a la de intervencin. El caso

    Sintel. Isadora Guardia ............................................................................................................ 641

    Themes of destruction, fighting, hatred and disruption in theatrical productions of

    the 1920's-1930's within the context of Communist mythology. Vera Klimentevna

  • 6

    Krylova ....................................................................................................................................... 657

    5. Biographies ................................................................................................................................. 667

    Jlio Fogaa, o outro intelectual que dirigiu o PCP. Antnio Simes do Pao ......... 668

    Lapport de la socio-biographie lhistoriographie du mouvement ouvrier. Bruno

    Groppo ....................................................................................................................................... 678

    Everardo Dias contra a Repblica Velha no Brasil. Marcelo Ridenti ....................... 694

    6. Theoretical essays and workers movement ............................................................................ 726

    Revisitando la Inglaterra de Engels y E.P. Thompson. Notas para la formulacin de

    hiptesis sobre la formacin de la clase obrera en Argentina. Agustn Santella y Gabriela

    Scodeller ..................................................................................................................................... 727

    Trabalho, classes e movimentos sociais. Andria Galvo ............................................ 736

    O 18 de Janeiro na histria das ideias. ngelo Novo .................................................... 750

    A militncia possvel. Sociologia das condies sociais de possibilidade do

    militantismo operrio no Porto (1940-1974). Bruno Monteiro ........................................... 759

    Estado e movimento operrio no Brasil: apontamentos histricos. Celso Frederico 768

    Notas introdutrias sobre o conceito marxista de bonapartismo. Felipe Abranches

    Demier ........................................................................................................................................ 780

    As leituras revisionistas da Revoluo de 1934 em Espanha. Fernando Ampudia de

    Haro ............................................................................................................................................ 788

    Drogas e poltica no sculo XX. Henrique Carneiro .................................................... 796

    Political organization and class consciousness in the thought of the young Trotsky.

    Jos Carlos Mendona .............................................................................................................. 803

    Lenin. Comments in Summary, in Place of a Postscript. Tams Krausz .................. 812

    Is Anarcho-Syndicalism Marxist? Notes on the syndicalist understanding of working

    class. Torsten Bewernitz ......................................................................................................... 826

    Hope for the future. Closing speech by Sjaak van der Velden at the International Conference

    Strikes and Social Conflicts, Lisbon, March 18, 2011 ......................................................................... 834

  • 7

    Introduction

    Close contacts with colleagues and co-operation between fellow research institutes are

    of crucial importance to all studies. The study of strikes and social conflicts is no

    exception to this rule. This is the reason why we initiated a conference on this item to

    take place in Lisbon.

    Despite the recent neglect of the subject in academia since the 1980s we hoped to

    revive and arouse the interest from students and professionals so long gone.

    Using our networks built during earlier conferences we invited many researchers

    who had shown the requested interest. To our surprise many responded enthusiastically

    and the financial aid from a handful of scientific institutes made it possible to organise

    the conference.

    From 16 March to 20 March 2011 hundreds of colleagues in the field of labour history

    met during 46 sessions in Lisbon. A few round table meetings and a common dinner

    completed the conference.

    During the conference there was great support for the initiative to establish an

    association and start the publication of a journal. The association was actually

    established and will organise future conferences while the journal is also taking shape.

    The first issue of the journal will publish a few of the Lisbon papers, while others found

    their way to other journals.

    We are convinced that it would be a shame to leave the conference papers only

    open to the participants and decided to publish these in an online book. We asked the

    authors to edit their paper and the results are in this book. Unfortunately there was no

    money to translate papers from English to Spanish/Portuguese and vice versa like we

    could do during the conference. But even then we are confident that this book may be a

    useful tool for ourselves and others who study the history of strikes and social conflicts.

    We titled this book: Strikes and social conflicts. Towards a global history

    because in our opinion this stresses our goal for the conference. Labour history and the

    study of strikes and social conflicts are moving into a new phase where a global

    perspective is more than ever before needed to understand the subject. Society is going

    global and social movements are going global. Hence the study of these movements

    needs to go global too. We hope that we have contributed to this movement of study by

    the publication of this book.

    We again want to thank the institutes that supported the conference: Instituto de

    Histria Contempornea, International Institute of Social History, Maison des Sciences

    de lHomme, Centre dEstudis de lpoca Franquista i Democrtica, Arquivo Edgard

    Leuenroth, Friedrich Ebert Stiftung, Fundao para a Cincia e Tecnologia, Red de

    Archivos Histricos de Comissiones Obreras, FWO Scientific Research Network and

    Fundao Luso-Americana. This book, to end with, would not have been possible to

    publish without the support from Instituto de Histria Contempornea da Faculdade de

    Cincias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

    Antnio Simes do Pao, Raquel Varela and Sjaak van der Velden

  • 8

    Discurso do Professor Fernando Rosas na Abertura da Conferncia

    Internacional Greves e Conflitos Sociais no Sculo XX

    H uma ligao entre aquilo que em cada conjuntura as agendas acadmicas definem

    como prioridades cientficas no campo das investigaes histricas e das cincias

    sociais e o esprito da poca. Ou, se se quiser falar em termos mais gramscianos, entre

    essas escolhas e a relao de foras decorrente da luta pela hegemonia nas reas deste

    tipo de conhecimento. O que desejava sugerir, nesta breve interveno de abertura,

    que, neste aspecto, talvez estejamos perante um processo de mudana de paradigma.

    Nos anos 80/90 do sculo passado, a crise geral do socialismo como mundividncia

    e a emergncia hegemnica do tatcherismo, do reaganismo e do pensamento nico

    neoliberal e neoconservador, entre muitas outras coisas, decretaram o fim da utilidade e

    at da legitimidade dos estudos sobre o movimento operrio e a sua histria. O fim da

    Histria e o anunciado triunfo do capitalismo mostravam a irrelevncia (e a

    inconvenincia) da luta de classes no processo histrico, a classe operria desaparecera

    ou estava em vias de disso, o operariado nunca fora sujeito de transformao

    revolucionria mas vtima inconsciente de manipuladores ingnuos ou decididamente

    mal intencionados, o futuro como o passado bem sucedido era a

    concertao/sujeio e no o conflito.

    Assim sendo, uma rica tradio de estudos polticos, econmicos e sociolgicos do

    movimento operrio nos centros de pesquisa europeus passou defensiva, a ter de

    justificar-se heuristicamente, quando no paralisou. Transitou-se, noutras reas, para

    uma certa antropologizao despolitizante do objecto de estudo. Em certa cincia

    poltica aproveitou-se para desenterrar os tropos considerados autonomamente positivos

    do corporativismo para construir novas sociologias da harmonia social neocorporativa.

    Precisamente, a presente crise do capitalismo e as polticas de destruio econmica

    e de regresso social com que os poderes estabelecidos a tentam fazer pagar por parte

    do mundo assalariado recolocam dramaticamente no centro dos debates dos dias de hoje

    as questes da condio actual do trabalho assalariado e dos caminhos das suas lutas de

    resistncia e emancipao. O capitalismo triunfante e arauto do esplendor da tecnologia,

    afinal, mostra-se mais parasitrio, especulativo e predador do que nunca, tentando

    conjugar a digitalizao do sculo XXI com a regresso a formas de arbtrio e

    explorao do trabalho dignos do sculo XIX. O proletariado afinal no desapareceu,

    mas provavelmente multiplicou-se e complexificou-se por um vasto mundo de novos

    trabalhos assalariados marcados pela precariedade e pela negao de direitos

    fundamentais to duramente conquistados. Um proletariado que, seguramente na aco,

    tem de articular-se centralmente com o oceano do precariado.

    E dessa forma regressa em fora a actualidade dos estudos do trabalho, da sua

    condio, da sua luta passada e actual. urgente, alis, convocar essas memrias e esses

    saberes. muito mais fcil impor hoje aos trabalhadores da indstria automvel

    europeia as 10 ou 12 horas de trabalho dirio, se eles no souberem, se lhes roubarem a

    memria dos rios de sangue que tiveram de correr para, batalha a batalham se

    conquistar a jornada das 8 horas de trabalho. No s a questo dos direitos do trabalho

    que hoje est em causa. a da subsistncia dos instrumentos essenciais da sua

    conquista: a contratao colectiva, a liberdade sindical ou o direito greve. uma

    civilizao de direitos alcanados que est a ser posta em causa silenciosa e

    passivamente pela desregulao e activamente pela sua negao em nome de uma

    falcia surpreendente: que a modernidade econmica exige o retrocesso social.

  • 9

    Para quem o estudo dos fenmenos histricos, sociais, polticos, culturais do mundo

    do trabalho no s o conhecimento e a explicao da realidade, mas uma tentativa de

    ajudar a transform-la, este recomeo renovado da histria dos movimentos sociais, das

    greves, dos conflitos sociais, de forma internacional, comparada e pluridisciplinar pode

    vir a ser um marco de alguma importncia. Inici-lo j um passo decisivo nesta luta

    pela hegemonia em torno das mundividncias que queremos fundamentalmente,

    cientificamente, construir acerca do esprito da nossa poca.

    O campo de estudos que esta conferncia retoma tem pois uma cruciante

    actualidade. Sado por isso os participantes que em to grande nmero a ela aderiram e

    o esforo magnfico dos colegas e organizaes que deitaram mos tarefa de a

    organizar. Gostaria de pensar que esse esforo, que em nenhum caso ser vo, poder

    continuar-se atravs de formas regulares e mais permanentes de prosseguir os nossos

    trabalhos de cooperao e intercmbio. Quero crer que as nossas sociedades e o mundo

    do trabalho tero algo a ganhar com a organizao dessa colaborao.

    Desejo a todos as boas vindas e um bom trabalho.

    Fernando Rosas

  • 10

    Discours douverture du Professeur Serge Wolikow dans la Confrence

    Internationale Grves et Conflits Sociaux dans le XXe Sicle

    Mesdames, Messieurs,

    Chers collgues et amis,

    Je souhaite mon tour intervenir pour dire la fois les raisons de mon implication dans

    lorganisation de ce colloque et souligner ensuite la porte et les possibilits que recle

    cette initiative.

    Lorsquil y a dix huit mois jai accd la proposition de Fernando Rosas de

    participer la coordination scientifique de colloque cest la fois comme historien des

    mouvements sociaux et rvolutionnaires mais aussi comme universitaire attach

    linterdisciplinarit et la promotion en France des sciences humaines et sociales dans

    le cadre des Maisons de sciences de lhomme.

    En effet lhistoire des mouvements sociaux, entendue notamment comme celle

    des grves et des conflits sociaux, constitue aujourdhui comme hier un domaine du

    savoir quil faut promouvoir et imposer dans le champ acadmique et universitaire.

    Cette histoire qui fait une part importante aux conflits et aux contradictions tant sociales

    que politiques reste souvent en butte aux critiques des dfenseurs dune histoire

    attentive avant tout laction des Etats et des lites dirigeantes. Effectivement faire

    lhistoire des grves conduit sintresser au monde du travail, ses conditions

    dexistence comme ses activits professionnelles. Elle est en ce sens

    fondamentalement une histoire des milieux populaires et du travail, non seulement dans

    le domaine de lindustrie mais aussi du monde rural et des activits tertiaires. Cest

    prendre le contre pied de lhistoire dominante de la politique et de la culture, assimile

    celle des lites et des milieux sociaux dominants. Pour autant lhistoire des grves nest

    pas seulement celle des travailleurs mais aussi celle des catgories sociales dominantes,

    de lindustrie, des activits financires et commerciales comme de la grande proprit

    rurale. Lhistoire des conflits implique ncessairement une rflexion en termes daction

    collective et de catgories sociales. En ce sens elle se dmarque des courants

    historiographiques dominants lchelle internationale, centrs sur les approches

    biographiques et individualises des acteurs sociaux. Lhistoire des grves incite

    penser lhistoire sociale du monde du travail avec des paradigmes qui permettent de

    comprendre les appartenances collectives, les processus de prise de conscience comme

    les formes de laction commune forgs dans la confrontation. Elle se dmarque des

    paradigmes fonds sur la dclinaison des identits dont le modle import de la

    psychologie a t tendue lensemble du champ social et politique au cours des annes

    1980 et 1990.

    Relancer, par une initiative internationale comme celle-ci, lhistoire des grves

    et des conflits sociaux cest affirmer la volont de donner lhistoire sociale une place

    nouvelle marque notamment par une ambition largie. Il arrive en effet que lon

    concde lhistoire sociale et notamment celle du monde du travail une petite place en

    marge des grands domaines de lhistoire. Selon moi ce qui est dactualit cest tout autre

    chose car en mettant au centre de lattention de la recherche historique les actions

    collectives et les mobilisations du monde du travail, il sagit de renouveler le regard

    port sur lhistoire contemporaine dans son ensemble. Loin dtre ferme aux

    recherches nouvelles consacres tel ou tel objet, lhistoire sociale affirme limportance

    quil faut accorder lhistoire des milieux populaires, de leurs conditions dexistence,

    de leurs activits de travail comme de leurs luttes. Loin dignorer lhistoire politique

  • 11

    comme lhistoire culturelle, elle les rattache de faon effective non pas une lite

    troite et dominante, mais au plus grand nombre qui, bien quen position subalterne, a

    fait une irruption massive sur la scne politique et sociale au cours des 19e et 20e

    sicles. Loin dignorer la mthodologie de lhistoire critique, la prise en compte des

    conflits implique un travail empirique et documentaire exigeant avec le souci de croiser

    des donnes et des informations produites partir de sources diversifies permettant de

    contrler leur fiabilit respective.

    Mais pour moi la cration de lassociation et la tenue de sa premire confrence

    signifient galement une ouverture ncessaire des historiens linterdisciplinarit. Elle

    est la fois indispensable, difficile mais aussi source de connaissance et de

    comprhension. Jy suis particulirement sensible du fait de mon exprience

    scientifique en France au sein du rseau des Maisons des sciences dhomme. La

    complexit des phnomnes tudis mais aussi les attentes sociales impliquent une

    coopration scientifique qui doit dpasser la juxtaposition des disciplines scientifiques

    existantes dautant que dun pays lautre celles-ci diffrent souvent. Me semble

    particulirement dactualit le croisement des savoirs des diffrentes sciences humaines

    et sociales. La perspective historique est la base de toutes ces sciences mais chacune

    est porteuses de spcialisations et de mthodologie: ethnologie, sociologie,

    anthropologie mais aussi sciences politiques, linguistique ou philosophie mritent dtre

    associes et mobiliss pour tudier les grves et les conflits sociaux. Mais

    linterdisciplinarit suppose galement une coopration intellectuelle avec les praticiens,

    les acteurs collectifs et individuels des mouvements sociaux, il sagit en quelque sorte

    dlargir le cercle des chercheurs avec le souci de rcuprer lexprience et les

    rflexions des acteurs non seulement comme des tmoins mais aussi comme des

    participants au travail de recherche lui-mme chaque fois que cela est possible. La

    dimension internationale du travail scientifique est devenue une donne incontournable

    avec les nouveaux moyens dinformation et la circulation acclre des travaux

    scientifiques. Dans les sciences humaines, en histoire notamment, cette

    internationalisation est largement amorce par le biais des socits de spcialistes et les

    grandes revues scientifiques. Il reste cependant quelle est aujourdhui domine par le

    monde anglo-saxon, langlais international et des normes qui sont souvent ressenties

    comme autant dobstacles pour les chercheurs dautres zones gographiques et

    culturelles. En fait la communaut scientifique internationale fonctionne trs

    ingalement selon les domaines et notamment les moyens conomiques et

    institutionnels mis disposition des chercheurs. Dans le domaine de l histoire sociale et

    en particulier des conflits et des grves, la circulation, lchange et la confrontation des

    recherches fonctionnent mal. Cela peut sembler paradoxal si lon se rfre au domaine

    de la recherche : historiquement le mouvement ouvrier sest dvelopp prcocement en

    affirmant ses connections internationales, le croisement des expriences, la mobilit des

    militants, exils et pourchasss sont autant de facteurs objectifs qui rendent possible et

    ncessaire une histoire internationale des mouvements sociaux et des conflits. De ce

    point de vue les nouvelles tendances historiographiques en faveur dune histoire globale

    faisant sa place aux interactions, aux diffrentes chelles danalyse, la circulation des

    savoirs comme aux migrations, est au centre de la dmarche de notre association et de

    sa premire confrence. Jajouterai que lassociation internationale en tant que telle est

    un outil prcieux dvelopper pour soutenir lactivit de la recherche sur lhistoire des

    mouvements sociaux. Son fonctionnement, sa visibilit doivent tre la mesure de notre

    ambition : de ce point de vue la participation exceptionnelle cette premire confrence

    internationale de Lisbonne est une jen suis certain une prfiguration significative de

    lessor que notre association peut connaitre et de laudience des recherches quelle peut

  • 12

    promouvoir. Au moment o les idologies dominantes du libralisme triomphant

    connaissent des dconvenues, lhistoire des conflits peut ambitionner de se dployer

    largement la mesure de la place des mouvements sociaux dans la dynamique

    historique.

  • 13

    Letter from Anthony Arnove to the International Conference Strikes

    and Social Conflicts in the XX Century

    I was moved deeply when I learned your conference is dedicated to my friend and

    collaborator Howard Zinn, whose loss we all still mourn.

    I know Howard would have loved to be with you for this important gathering.

    Besides being someone who loved travel and who was a true internationalist, Howard

    was someone who loved the people in struggle not merely the abstract idea of

    struggle.

    Thinking of Howard and the theme of this conference, I am reminded of what

    Frederick Engels, Karl Marxs friend and longtime collaborator, said at his graveside in

    Highgate Cemetery, London, in 1883:

    Marx was above all else a revolutionary. His real mission in life was

    to contribute in one way or another to the overthrow of capitalist society

    and of the forms of government which it had brought into being, to

    contribute to the liberation of the present-day proletariat . Fighting was

    his element. And he fought with a passion, a tenacity and a success few

    could rival.

    Filming our documentary, The People Speak, in Boston one afternoon, Howard

    observed that the camaraderie between our cast members, the sense of collective

    purpose and joy was a feeling he hadnt experienced with such intensity since his active

    participation in the civil rights movement.

    Since Howards passing, I have thought often of that moment, which crystallizes

    for me what made him so compelling an example of someone committed to, and

    enjoying to its fullest, a life of struggle.

    Howard jumped into the civil rights struggle as an active participant, not just as a

    commentator or observer. He decided that the point of studying history was not to write

    papers and attend seminars, but to make history, to help inform struggles to change the

    world.

    He was fired from Spelman College as a result, and only narrowly escaped

    losing his next job at Boston University for his role in opposing the Vietnam War and in

    supporting workers on the campus.

    When there was a moment of respite after the end of the Vietnam War, Howard

    did not turn back to academic studies, or turn inward, as so many other 1960s activists

    had done, but began writing plays, understanding the importance of cultural expression

    to political understanding and change. He also began writing A Peoples History of the

    United States, which came out in 1980, right as the tide was turning against the radical

    social movements he had helped to organize.

    A Peoples History would provide a countercurrent that developed and grew, as

    teachers, activists, and the next generation of social movements developed new political

    efforts, new movements. And Howard was there to fight with them.

    Howard embodied the understanding that the process of struggle, the shared

    experience of being part of work alongside and for others, is the most rewarding,

  • 14

    fulfilling, and meaningful life one can live. The sense of solidarity he had with people in

    struggle, the sense of joy he had in life, was infectious.

    Throughout, he reminded us of the history of social change in this country, and

    kept coming back to the essential lessons that it seems we so often forget or need to

    learn anew. That change comes from below. That progress comes only with struggle.

    That we cannot rely on elected officials or leaders. That we have to rely on our

    collective self-activity, social movements, protest. That change never happens in a

    straight line, but always has ups and downs, twists and turns. That there are no

    guarantees in history.

    The stereotypical image our corporate media presents of the Left, especially the

    radical Left, is that it is humorless, it lacks culture, its based on self-denial and

    conformity. Howard shattered this convenient caricature.

    Howards talks were like a Lenny Bruce monologue, with punch-lines that

    delivered keen social observations. His play Marx in Soho manages to simultaneously

    reclaim Marxism from its bourgeois critics and its Stalinist distorters, while bringing

    down the house with physical comedy that evokes Sid Caesar and Zero Mostel.

    He returned repeatedly to discussions of the importance of music, theater, film,

    literature, and the arts to political change. When he spoke of his turning points

    politically, Howard would often evoke Woody Guthrie, Charles Dickens, Dalton

    Trumbo, Alice Walker (his former student), and Marge Piercy.

    He enjoyed oysters, Italian food, wine, the company of friends, vacations. And

    especially he loved time with his family, Roz, his life partner, his two children, and five

    grandchildren.

    We should avoid hagiography, though. Howard was not a saint. None of us are.

    Its important to remember that whatever revolution we make, it has to be made with

    people as they are, with all the contradictions that come with living under capitalism.

    There is no other way for it to happen. But in the course of trying to change the world,

    with others, we change ourselves, and new possibilities emerge.

    It is a problem that the Left in the United States and in much of the world today

    relies so heavily on a few charismatic leaders, who often are elevated above or set apart

    from the movements of which they are a part. The reasons are many. Some people

    cultivate or contribute to this dynamic, of course, but Howard was not one of them.

    There are, from time to time, people who can crystallize the aims or goals of a

    movement in an especially compelling way. Who can rally greater numbers of people to

    take a particular action or, in the case of Howard, make a lifelong commitment to

    activism. But such people cannot substitute for a movement. Eugene Debs, who

    understood this problem well, put it this way, once: I am no Moses to lead you out of

    the wilderness because if I could lead you out, someone else could lead you in

    again.

    That was the spirit of Howard: think for yourself, act for yourself, challenge and

    question authority. But do it with others. As he writes in Marx in Soho, If you are

    going to break the law, do it with two thousand people and Mozart.

    Yours in struggle,

    Anthony Arnove

  • 15

    Der Streik (Painting by Robert Koehler 1886, Oil on canvas).

    1. Strikes and social conflicts

  • 16

    Setbal republicana quando as fbricas transbordavam de greves. Albrico Afonso Costa

    Em Dezembro de 1909, o Governo chefiado pelo regenerador Venceslau de Lima

    procedeu a um inqurito s Associaes de Classe Industriais e Operrias1.

    Os dados do inqurito mostram-nos que Setbal a localidade do pas que tem

    mais associaes de classe, logo a seguir a Lisboa e Porto; tambm aquela que tem um

    maior nmero de associados filiados a grande distncia de outras localidades.

    Setbal vai ser uma directa beneficiria do surto desenvolvimentista e reformador do

    perodo da Regenerao. Graas a este impulso, a ento vila conhece um conjunto de

    transformaes que lhe permite passar de uma comunidade mercantil e piscatria

    tradicional para um espao fabril em ascenso.

    Deste modo podemos assinalar um conjunto de melhoramentos que vo

    potenciar a prosperidade econmica da cidade. De destacar a ligao ferroviria ao

    Pinhal Novo-Barreiro (1860); incio das obras de reestruturao do porto de Setbal;

    construo da Avenida Lusa Todi; incio de carreiras dirias de vapores fluviais entre

    Setbal e Alccer do Sal, no ano de 1867.

    Neste perodo a cidade vai sustentar um enorme aumento demogrfico. Em 1890

    a populao da cidade era de 17 581 habitantes, passando para 30 346 em 1911, com um

    aumento de mais de 12 mil pessoas.

    A principal razo destas grandes alteraes demogrficas est associada

    implantao da indstria de conservas de peixe e s outras actividades econmicas que

    lhe esto associadas (pesca, litografia, serralharia, caixotaria, entre outras).

    Setbal constitui-se como um plo de atraco demogrfico. As novas

    indstrias, e particularmente a indstria conserveira, necessitam de milhares de novos

    trabalhadores que vo recrutar aos campos de Alentejo e aos centros industriais de

    Lisboa e Porto. Trata-se de uma populao muito jovem com predominncia do grupo

    etrio com menos de 20 anos, sendo ainda uma populao predominantemente

    masculina2.

    Setbal transforma-se, assim, nos finais do sculo XIX e incios do sculo XX,

    numa cidade industrial, ou, para falar com maior rigor, numa cidade mono-industrial

    dependente da indstria de conservas de peixe.

    A emergncia do associativismo operrio

    , pois, um jovem proletariado aquele que vai preencher as fbricas deste espao

    urbano.

    Um proletariado jovem e aguerrido, mas tambm desenraizado e inexperiente.

    A criao de redes de sociabilidade e de solidariedade cedo lhe potenciar uma

    total integrao e enraizamento na vida laboral, citadina e proletria da Setbal de

    ento.

    O desenvolvimento econmico e o crescimento urbano so, deste modo,

    acompanhados pela emergncia de vrios modelos de associativismo operrio como

    forma de sobreviver disciplina da fbrica, aos baixos salrios, s extensas jornadas e

    s durssimas condies de trabalho.

    1 Citado por Manuel Vilaverde Cabral, O Operariado nas Vsperas da Repblica (1909-1910),

    Presena/Gabinete de Investigaes Sociais, Lisboa, 1977, pp. 175 e sgts.

    2 Vasco Pulido Valente, Os conserveiros de Setbal (1887-1901), in Anlise Social, vol. XVII, (67, 68 e

    69), 1981.

  • 17

    neste contexto que vemos serem criadas vrias associaes mutualistas,

    cooperativas, escolas, bibliotecas, grupos desportivos, de teatro e sociedades musicais e

    recreativas.

    Nas ltimas dcadas do sculo XIX surgem pelo menos uma dezena de

    agrupamentos musicais e sociedades recreativas e grupos de teatro, publicitados na

    imprensa local, com destaque para a Capricho Setubalense e para a Sociedade

    Filarmnica Operria Setubalense.

    Todos estes elementos evidenciam a determinao destes trabalhadores em criar

    um espao cultural prprio no novo mundo urbano e proletrio. Procuram como que um

    territrio com que se possam identificar, um espao de pertena que os ajude a

    sobreviver.

    Os ideais do socialismo, do anarquismo e mesmo do republicanismo vo ser

    igualmente elementos importantes para a construo destas novas reas de sociabilidade

    poltica, educativa e cultural, que integram formas de resistncia explorao

    capitalista.

    Esta nova massa proletria associada a esta diversidade de expresses culturais e

    de solidariedade vai construindo formas autnomas de organizao que possam

    canalizar e organizar as reivindicaes operrias decorrentes das condies de trabalho

    nos vrios espaos fabris.

    Com essas reivindicaes pretendem salrios que lhes permitam ultrapassar o limiar

    da sobrevivncia fsica, melhores condies de trabalho, a diminuio dos horrios de

    trabalho, que chegavam a ultrapassar as 14 horas dirias.

    Os soldadores vo ser precursores na criao da sua associao de classe,

    fundando em 1891 a Associao dos Soldadores de Setbal, cujos dirigentes, inspirados

    nos ideais do anarco-sindicalismo, sero dos mais combativos e dos mais inconformados

    do conjunto do proletariado setubalense.

    Os empregados do comrcio criam a sua estrutura sindical em 1898 e nos

    ltimos anos do sculo XIX e incios do sculo XX continuam a florescer diversas

    estruturas e formas de auto-organizao dos trabalhadores. O perodo da Repblica

    permitir que praticamente todos os trabalhadores setubalenses se organizem em

    estruturas autnomas que defendem as suas reivindicaes.

    Se nos lembrarmos do inqurito de 1909, verificamos estar perante um

    operariado com um grau de organizao e de estruturao j significativos por relao

    ao que se passa na generalidade do pas. Um proletariado interventivo que se mobiliza

    para a defesa dos seus interesses de classe.

    Os ltimos tempos do regime monrquico vo ser tempos de duro confronto

    social. As greves que opuseram soldadores ao patronato conserveiro e os pescadores aos

    armadores tinham evidenciado a existncia de um operariado predisposto para a defesa

    das suas reivindicaes atravs da luta.

    O grau de combatividade e o xito de muitos destes combates s podem ser

    compreendidos se percebermos os fortssimos laos de solidariedade e de confiana que

    existiam entre os trabalhadores, que se foram forjando ao longo dos anos de uma

    vivncia colectiva nos espaos fabris e nos diversos espaos de sociabilidade poltica e

    cultural da cidade.

    Outro aspecto relevante a aliana que se estabelece entre os dirigentes

    operrios influenciados pelo anarco-sindicalismo e o Partido Republicano local, que se

    materializa no apoio eleitoral ao PRP1.

    1 Albrico Afonso Costa Alho, Setbal Roteiros Republicanos, Comisso Nacional para as

    Comemoraes do Centenrio da Repblica, editora Quidnovi, Matosinhos, 2010.

  • 18

    Setbal, para alm de Lisboa e Porto, vai ser o nico crculo eleitoral a ter

    deputados republicanos no parlamento.

    Mas a convergncia com os republicanos passou tambm por aces conjuntas

    contra a monarquia, de que foram exemplos as comemoraes do I centenrio da morte

    de Bocage ou o comcio de 15 de Agosto de 1909, amplamente convocado pela Liga

    Republicana das Mulheres Portuguesas, pela Escola Liberal de Setbal, pelo Centro

    Setubalense de Propaganda Liberal, pelo jornal Germinal e pelo Centro Republicano de

    Setbal. Este comcio reuniu 5 mil pessoas na luta contra o reaccionarismo poltico-

    -jesutico do Governo.

    Mudar o regime o aprofundamento da luta social

    Lembremo-nos ainda da tarde de 4 de Outubro de 1910, em que uma manifestao de

    milhares de operrios assalta e incendeia a CMS, onde funcionava a esquadra da polcia,

    incendiando mais tarde o convento de Brancannes e ocupando e Igreja do Corao de

    Jesus, aces que vo antecipar a proclamao da Repblica. Esta nascer, alis, aqui

    antes de nascer em Lisboa, aqui se fazendo, de igual modo, uma especial tomada da

    Bastilha setubalense. Todas estas aces so claramente hegemonizadas pelas correntes

    mais radicais do movimento operrio, que foram tambm aquelas que na gnese e no

    desenvolvimento desta cidade industrial estiveram presentes na organizao das suas

    lutas, na criao dos locais de sociabilidade cultural, desportiva e poltica.

    Na luta pela mudana de regime poltico, os dirigentes anarco-sindicalistas no

    vo tambm deixar que os republicanos fiquem sozinhos nesta tarefa. Para estes

    sindicalistas a anarquia, a sociedade ideal que perseguiam, seria mais facilmente

    edificvel no quadro do regime republicano.

    O aprofundamento das liberdades pblicas e o acesso a uma maior instruo do

    povo, que, na sua perspectiva, os republicanos iriam concretizar, permitiriam uma maior

    divulgao da causa libertria.

    Mas depois do 5 de Outubro tudo vai mudar no relacionamento com os

    republicanos

    O ms de Outubro de 1910 vai ser ainda um perodo de celebrao e de euforia,

    em que os sectores operrios se reconhecem e identificam com a vitria revolucionria.

    Foi um ms ainda sem conflitualidade social. Isto no significa que os sectores

    operrios se tenham ficado pelas celebraes.

    Pelo contrrio, assistimos desde logo a um conjunto de iniciativas que vo no

    sentido da organizao e da institucionalizao de algumas associaes operrias. o

    caso dos carroceiros, sapateiros, das mulheres das fbricas que fazem as suas reunies

    para dar expresso a formas de auto-organizao e de discusso das suas reivindicaes.

    Durante o ms de Novembro assistimos a dois fenmenos interessantes. Por um lado, a

    continuao de iniciativas que vo no sentido da auto-organizao do movimento

    operrio; por outro, a multiplicao de reunies em que se discute a actualizao dos

    cadernos reivindicativos.

    Este perodo de reflexo organizativa que o ms de Novembro vai conhecer ser

    aproveitado para a criao de fundos de entreajuda a utilizar em caso de greve. Tambm

    a criao de estruturas de coordenao entre as diversas organizaes j existentes ou a

    criar outro foco de preocupao dos dirigentes operrios. Por outro lado, discute-se a

    possibilidade, e mais que isso, necessidade, de mudar a lei da greve.

    Ainda durante o ms de Novembro entram em luta alguns dos sectores operrios mais

    importantes: os trabalhadores das fbricas de conserva, na sua maioria mulheres, e os

    martimos.

  • 19

    Eram tambm os sectores com maior experincia organizativa, que j tinham

    prticas de confrontao com o patronato e com as foras repressivas do Estado desde o

    tempo da monarquia.

    Entre Outubro e Dezembro de 1910, para alm das greves de vrias fbricas de

    conserva e dos martimos, vo tambm entrar em greve outros sectores do operariado

    setubalense, com destaque para os gasomistas, pescadores do arrasto, padeiros e os

    trabalhadores da abegoaria municipal.

    O ano de 1911 vai ser o ano de todas as greves. Praticamente todos os diferentes

    ramos do proletariado setubalense vo medir foras com as entidades patronais, numa

    tentativa global de melhorar as condies de vida e de trabalho: sapateiros, caixeiros,

    ferrovirios, pescadores, moos (conserveiros), metalrgicos, mulheres (conserveiras),

    cocheiros, trabalhadores rurais, ardinas, condutores do sal. Todos encetaram formas de

    luta.

    De destacar que os pescadores, os metalrgicos, as mulheres e os moos da

    indstria conserveira participam em mais do que uma greve ao longo do ano de 1911.

    Durante este ano, chegou mesmo a haver fbricas de conserva que estiveram em luta

    por quatro vezes.

    Contabilizamos, neste perodo, 24 greves, que envolvem a generalidade do

    operariado setubalense.

    Os acontecimentos de 13 de Maro de 1911, em que so mortos pela recm-

    -criada GNR um trabalhador e uma trabalhadora conserveira, marcam de forma trgica

    a conflitualidade crescente entre os operrios em luta, o patronato e o novo regime. De

    resto, estes graves incidentes vo marcar um afastamento irreversvel entre o

    movimento operrio e o poder poltico sado da revoluo de 5 de Outubro1.

    No ano de 1912 o nmero de greves de 14, e no ano seguinte vo existir

    apenas greves nos sectores da construo civil, dos pescadores e dos trabalhadores dos

    arrozais. Por sua vez, no ano de 1914 os conflitos vo limitar-se aos sapateiros e aos

    pescadores.

    E se verdade que esta diminuio da conflitualidade social est associada ao

    facto de alguns sectores de actividade terem visto satisfeitas algumas das suas

    reivindicaes, tambm verdade que os trabalhadores vo ser alvo de uma represso

    muito violenta por parte do aparelho de Estado. A represso vai paralisar muitos dos

    sectores em luta, particularmente aqueles que tinham menos experincia e capacidade

    organizativa.

    No entanto, a partir de 1916 h um novo recrudescimento das lutas operrias em

    Setbal.

    Os perodos da guerra e do ps-guerra agravam as condies de vida dos

    setubalenses. O aumento do custo de vida vai ser particularmente sentido pela

    populao trabalhadora. O mercado negro, os aambarcamentos, a especulao integram

    os elementos fundamentais da vida econmica nacional e local daqueles anos.

    H um agravamento generalizado dos preos de bens a retalho e dos bens

    essenciais. Os salrios mantm-se inalterveis.

    As greves continuam a ser o terreno preferencial de luta face desactualizao

    dos salrios que esta situao aprofunda e agrava.

    1 Albrico Afonso Costa Alho, Setbal Roteiros Republicanos, Comisso Nacional para as

    Comemoraes do Centenrio da Repblica, editora Quidnovi, Matosinhos, 2010.

  • 20

    Uma luta social de alta intensidade

    Mas para alm das greves, houve outras formas de confrontao social e poltica

    que marcaram a paisagem social da cidade neste perodo, com destaque para os assaltos

    colectivos a armazns, mercearias, carvoarias e padarias; os assaltos colectivos a

    quintas, os actos de sabotagem perpetrados contra vrias fbricas; a destruio de

    maquinaria nas fbricas de conserva, especialmente as cravadeiras; os boicotes no

    fornecimento de matria-prima necessria ao funcionamento das fbricas; os atentados

    bomba contra industriais conserveiros e contra a prpria polcia e GNR.

    Descobrem-se dezenas de bombas prontas a serem accionadas; incendeiam-se

    fbricas, que ficam completamente destrudas; fazem-se assaltos cadeia para libertao

    dos presos; utiliza-se a sabotagem aos comboios de mercadorias e dos carris do caminho-

    -de-ferro; usam-se armas de fogo contra as foras policiais e mesmo contra o patronato,

    ou ainda entre os prprios trabalhadores; assaltam-se os transportes de conservas

    destinadas exportao.

    A resposta a estes actos simtrica, ou melhor, a represso por parte das foras

    policiais, militares e patronais mais que proporcional gravidade dos actos cometidos.

    H rusgas nas ruas, nas sedes das associaes, nas prprias casas dos operrios. H um

    policiamento constante da GNR e do Exrcito, que se passeia por toda a cidade em aces

    de permanente intimidao.

    Essa intimidao tem como destinatrios no s os sectores em greve, como

    tambm a populao em geral.

    decretado o estado de stio, com obrigatoriedade de encerramento do comrcio

    e proibio de circular a partir de certas horas.

    As prises so frequentes. O operariado setubalense ostenta, nestes anos, uma

    intimidade nua e crua com o arbtrio da represso policial.

    O lock-out utilizado pelos industriais conserveiros sem qualquer parcimnia.

    Ao mais pequeno sinal de contestao, a Associao Industrial de Setbal concitava os

    seus associados a fecharem as fbricas como represlia s reivindicaes operrias. Os

    despedimentos ou tentativas de despedimento por razes sindicais e polticas so

    prticas ensaiadas com frequncia.

    Tudo isto se passava tendo como pano de fundo a I Guerra Mundial.

    Olhando a cidade operria destes anos, verifica-se que estamos perante um

    tecido urbano que coabita quotidianamente com a penria, com o confronto e

    correlativa represso, num dia a dia que cada vez mais o da desesperana face s

    trgicas condies de vida que a guerra havia aprofundado.

    Deste modo, no se exagerar ao dizer que a Setbal da guerra tambm

    a Setbal em guerra.

    Aambarcamentos, mercado negro, salrios escassos para preos que todos os

    dias subiam com a inflao, prises, deseres, protestos e manifestaes contra a

    participao de Portugal no conflito so as grandes linhas de fora em que Setbal se

    vai movimentar neste perodo da histria mundial.

    A partir do ms de Maio de 1917 as situaes de desero comeam a ser

    frequentes, aumentando a partir de Agosto desse ano.

    As aces explicitamente anti-belicistas passam a fazer parte da agenda de luta

    da cidade, apesar da legislao que probe a propaganda anti-guerra.

    A I Guerra Mundial vai ser, assim, vivida em Setbal sob o signo da

    contestao. E quando o armistcio assinado em 11 de Novembro de 1918, a cidade

    est cada vez mais empobrecida e enlutada.

    A pneumnica tambm cobrava o seu imposto, provocando centenas de vtimas.

  • 21

    A greve, uma velha aliada

    Setbal vai conhecer duras greves gerais em 1917, 1918, 1920, 1921, 1922 e

    1925.

    A greve geral da indstria conserveira, com incio no ms de Setembro de 1922,

    vai ser uma das mais duras e mais longas greves que ocorreram em Setbal durante o

    perodo republicano, prolongando-se por um perodo de 74 dias.

    certamente uma das mais importantes greves da nova ofensiva operria do ps-

    -guerra. Vai eclodir na esteira de outros durssimos confrontos, j referidos, que opuseram o

    proletariado setubalense ao patronato entre 1917 e 1925.

    Se analisarmos com detalhe as caractersticas das greves neste perodo,

    constatamos que no so greves meramente simblicas, com uma durao de um ou

    dois dias, como as que conhecemos actualmente, ou mesmo como a maioria daquelas

    que se declararam aps o 25 de Abril de 1974.

    So confrontos que raramente tm um decurso inferior a uma semana, chegando

    a durar mais de dois meses. Muitas destas greves s terminam com a rendio pela fome

    dos trabalhadores e das suas famlias e pela exausto das redes sociais de apoio que

    ento se estabeleciam.

    Os sindicalistas revolucionrios, no congresso operrio de 1911, aprovam uma

    resoluo sobre as greves com o seguinte contedo: Nunca prevenir a entidade patronal

    (); procurar que a greve constitua um mximo de surpresa (); evitar qualquer

    espcie de contrato de trabalho, individual ou colectivo, de que possa resultar um

    entrave liberdade do grevista (); recusar a arbitragem sob que forma se apresente1.

    Era este o guio de aco, uma espcie de roteiro de interveno, utilizado

    maioritariamente e quase sem excepo pelos trabalhadores setubalenses. Esta opo

    levava ao conflito quase permanente. De resto, a polcia e o Exrcito no intervm s

    em caso de conflito. H numerosas situaes em que estas foras vigiam as sedes das

    associaes de classe quando h reunies e chegam a ocupar e mesmo fechar estes

    locais quando declarada greve. Tambm com frequncia os principais dirigentes

    grevistas so presos e encerrados na canhoeira Zaire, sita no Sado e que se transformou

    numa autntica priso poltica.

    Merece a pena fazer uma breve referncia ao desespero com que os vrios

    administradores do concelho se referem situao revolucionria que se vive na cidade.

    Nas comunicaes dirigidas ao governador civil, o administrador do concelho claro

    quanto ao perigo evidente que a especfica situao de Setbal configura: Os

    anarquistas de Setbal trabalham para a proclamao aqui de uma Comuna Livre.

    sublinhada a existncia de foras do Exrcito fatalmente minadas por sindicalistas e

    anarquistas, que nesta cidade que cognominaram a Barcelona Portuguesa () esto

    na grande maioria da populao, na maior parte operria e toda sindicada em associao

    de classe2.

    Ou ainda: em 20 de Abril de 1917, o A.C. recm-nomeado pelo Governo da

    Unio Sagrada, presidido por Afonso Costa, relata ao longo de vrias pginas, num

    tom que raia o desespero, a situao social e poltica que a cidade ento vivia.

    A greve em Setbal por assim dizer uma situao normal, quase sempre feita

    com prejuzo para os patres e dirigida por forma mais ou menos violenta, visto

    os seus mentores serem sempre homens recrutados, notando-se que apesar da

    1 Citado por Manuel Vilaverde Cabral, O Operariado nas Vsperas da Repblica (1909-1910),

    Presena/Gabinete de Investigaes Sociais, Lisboa, 1977, p. 135.

    2 Arquivo Distrital de Setbal. Correspondncia do Administrador do Concelho. Ano de 1916.

  • 22

    maioria do operariado no ser anarquista, rara a associao de classe que na sua

    direco no comporte pelo menos alguns daqueles elementos. Uma greve geral

    aqui de faclima execuo, impondo-se mesmo pela forma de organizao

    operria ().

    Nas fbricas cada classe tem uma comisso de vigilncia, que no deixa trabalhar

    quem no possuir bilhete da associao. E os patres sujeitam-se, sob pena de

    greve na fbrica e a sua paralisao completa.

    O comrcio teme por uma forma extraordinria o operariado. Sempre que este

    pensa em fazer qualquer manifestao pede ao comrcio (no sei se ser bem

    empregado o verbo pedir) para o acompanhar no seu protesto, na sua

    manifestao, e o comrcio, com medo de represlias, apressa-se a fechar os

    estabelecimentos, ou mesmo no os chega a abrir. () Assim como as greves se

    apresentam por vezes imprevistamente, os actos de sabotagem, quando os

    praticam, aparecem inesperadamente e mascarados por uma aparente disposio

    para o trabalho1.

    No s a dimenso e a durao das greves que impressiona. tambm, e

    fundamentalmente, a alta intensidade da confrontao social.

    Mas para alm da alta intensidade da luta social a Setbal republicana revelar a

    marca profunda de uma guerra social permanente (ou quase permanente) que se

    prolongou ao longo dos 16 anos do regime.

    Este grau de radicalidade do confronto social permite-nos afirmar que Setbal,

    no ps-guerra, se transforma num dos mais importantes epicentros da luta de classes em

    Portugal.

    Em concluso

    Este espao urbano que a Setbal destes anos revela-se hoje aos investigadores

    da histria local como uma arena intrpida de combates e confrontos que ditam um

    quotidiano habitado por uma permanente conflitualidade. Tentmos ao longo da

    investigao explicar esta singularidade do modus vivendi laboral e social setubalense,

    sendo que as razes so mltiplas e devem ser entendidas em concomitncia, isto ,

    cada uma de per si no contm a idoneidade suficiente para explicar a complexidade

    daquele vibrar social violento, classista e permanente.

    Ser pois o somatrio interactivo de vrios factores que nos permitir chegar

    percepo da especificidade da veemncia lutadora dos anos republicanos:

    1. A cidade de Setbal era uma cidade mono-industrial. A indstria conserveira

    empregava a maioria do operariado com um conjunto de regras especficas comuns a

    todas as indstrias, sendo que uma das mais importantes era justamente a existncia de

    uma flexibilidade laboral que permitia que a maioria dos trabalhadores trabalhasse ao

    ritmo da existncia da matria-prima. Esta situao impunha ainda jornadas que

    ultrapassavam as 14 e as 16 horas de trabalho seguidas.

    As regras comuns a toda a indstria, impostas pelo patronato conserveiro,

    permitiam tambm uma resposta globalmente uniforme por parte do operariado,

    facilitando ou homogeneizando respostas globais pelo conjunto dos trabalhadores;

    permitiam, de igual modo, formas de lutas unitrias que reforavam a capacidade de

    resposta, possibilitando a fcil generalizao das reivindicaes ao conjunto das fbricas

    de conserva da cidade.

    2. O patronato conserveiro desde sempre apostou nos salrios exguos que

    pagava como fonte quase exclusiva de mais-valias, tendo continuado aps a mudana de

    1 Arquivo Distrital de Setbal. Correspondncia do Administrador do Concelho. Ano de 1917.

  • 23

    regime com a mesma aposta. No era essa a atitude que era esperada pelo operariado

    setubalense, um operariado que tinha intervindo activamente na queda da monarquia e

    pensava ser chegado o momento de cobrana da dvida que a Repblica tinha para com

    ele; mais, no se tratava apenas de uma dvida, mas do cumprimento das promessas que

    o novo regime, enquanto pr-poder, havia feito e agora incumpria reiteradamente,

    esquivando-se pela fora aos compromissos que havia firmado e esquecido.

    De facto, o patronato setubalense vai encontrar na jovem Repblica a grande

    aliada da sua continuidade de procedimento, tendo-lhe esta, sempre que necessrio,

    emprestado a fora de que necessitava para combater a outra grande fora que,

    determinada, se lhe opunha: um movimento operrio igualmente jovem, aguerrido e

    sobretudo farto das miserveis condies de vida que lhe eram impostas.

    Habituado a que o Exrcito e as foras policiais contivessem os excessos

    reivindicativos da plebe, o patronato setubalense vai continuar a acomodar-se velha

    soluo da interveno estatal para impor a conteno salarial. A correspondncia que

    os diversos administradores do concelho mantm com o governador civil e com o

    Governo bem elucidativa do que foram sempre as suas prticas.

    Perante as sucessivas situaes de guerra aberta, os administradores do concelho

    escolheram sempre o reforo da autoridade policial e militar, exigindo mais meios

    repressivos. Poucos foram os momentos em que a sua intermediao foi no sentido de

    tentar uma conciliao entre as partes em litgio.

    E quando tal ocorreu, em situaes especialmente sensveis, em que aquela

    autoridade local tentou ensaiar uma conciliao, tais tentativas foram sempre vistas com

    desagrado, desconfiana e censura.

    Vo ser estas condies salariais, esta impossibilidade objectiva de dilogo, esta

    constante e ininterrupta represso que vo tornar a cidade de Setbal territrio frtil para o

    crescimento de ideais sindicalistas revolucionrios.

    3. As perspectivas do reformismo operrio que haviam marcado o princpio do

    sculo revelavam-se incapazes de dar resposta aos anseios do proletariado setubalense e

    s suas necessidades.

    A situao em que o operariado setubalense vivia e sobrevivia e, por outro lado,

    a fora de um patronato que no se resignava a perder nem que fosse uma pequena parte

    do lucro a que desde sempre se habituara provocavam um quadro de impossvel

    dilogo, que no se harmonizava com as meias tintas que as propostas reformistas

    integravam. neste quadro que vo ser os sindicalistas revolucionrios a dirigir e

    enquadrar o operariado setubalense.

    4. Para alm de tudo o que se acabou de referir existem ainda condies

    especficas que condicionam esta especial vocao conflitual do proletariado e

    burguesia setubalenses.

    Na realidade, estamos perante um espao urbano que vive as grandes

    desigualdades sociais que se faziam sentir com especial intensidade. Essa especial

    intensidade desde logo ditada pela tambm especial configurao do espao urbano,

    que assume caractersticas diferenciadas.

    Aqui, encontramos uma delimitao absoluta entre os territrios operrios e

    populares e os territrios burgueses, sendo que estes ltimos estavam como que

    entalados a oriente e a ocidente da cidade por manchas urbanas plebeias; deste modo,

    ainda que a conciliao fosse impossvel por todas as razes que se apontaram, a

    proximidade fsica e objectiva que o urbanismo constituinte da cidade propiciava

    tornava mais imediato o conflito e mais acesa a contestao. A elite urbana e burguesa,

    que vive nos seus locais prprios e ocupa enquanto poder institucional o centro da

  • 24

    cidade, intramuros das muralhas medievais, era olhada ameaadoramente pelos outros

    estratos sociais, famintos, despojados e sobretudo trados no tempo ps republicano.

    A cidade pobre exibia um tecido social de densidade proletria bastante

    espessa, para utilizar uma expresso de Villaverde Cabral.

    Esta densidade proletria era sentida por todos e era especialmente temida por

    aquele patronato, que no podendo prescindir dela, a sentia como um perigo. Os bairros

    operrios que se concentravam a ocidente e a oriente do casco antigo da cidade

    funcionavam como uma espcie de tenaz omnipresente que, nas alturas de luta e de

    greves, concretizava o cerco vindo manifestar-se para o espao simblico de

    funcionamento do poder poltico.

    Mas no apenas a especial morfologia da cidade a responsvel pela vertente

    rebelde do trabalho em Setbal. De facto, ela impe proximidade fsica, que possibilita

    um confronto mais imediato. As causas, contudo, no se ficam por a.

    Estamos perante um proletariado jovem, combativo, que se interrelaciona e

    afirma nas redes de sociabilidade de toda a cidade popular; estamos perante condies

    de trabalho durssimas, que no encontram justa remunerao e se traduzem em salrios

    sempre insuficientes, precrios, que ditam fome e misria; por fim, todas estas especiais

    condies tm como sntese e consequncia o germinar das ideias do sindicalismo

    revolucionrio e anarquismo, como resposta possvel a uma realidade que se

    caracterizava a todos os nveis como inaceitvel.

    5. Se juntarmos a tudo isto o sentimento de traio e frustrao que o novo

    regime, solidariamente implantado, havia trazido consigo, apropriando-se

    exclusivamente do poder e colocando-se de forma assertiva ao lado do patronato,

    estaremos perante um cocktail absolutamente explosivo.

    Os rgos e cargos polticos institucionais haviam sido todos ocupados pelos

    dirigentes republicanos locais.

    Os dirigentes do movimento operrio no so sequer convidados para partilhar

    qualquer nfima parcela de poder. Republicano e burgus, o novo regime revela um

    apetite insacivel para a ocupao exclusiva de todos os cargos. No se d to pouco ao

    trabalho de simular qualquer partilha, voltando, definitivamente e sem rebuo, as costas

    ao movimento operrio que com ele havia derrubado a monarquia em nome de melhores

    dias. Os novssimos detentores do poder poltico vo estar omnipresentes em tudo o que

    cargo e mando; na Cmara Municipal, na administrao do concelho, na misericrdia,

    como regedores. Tudo isto, como que numa determinao totalizante, ocupado pelos

    dirigentes republicanos.

    Em Setbal, como alis no resto do pas, a Repblica no ser perdoada quando

    chega a hora da retirada. Havia cometido demasiados erros.

  • 25

    Huelgas y conflictos universitarios en la descomposicin del franquismo (1965-1977). Alberto Carrillo-Linares1

    La historia del franquismo est indisolublemente unida a la de la oposicin al mismo. El

    estudiantil fue uno de los movimientos sociopolticos ms potentes, constantes y

    extendidos en la lucha contra la dictadura durante su ltima dcada. Un fugaz

    acercamiento a dicho fenmeno juvenil permite detectar la veloz evolucin de una parte

    de la sociedad espaola desde mediados de los sesenta (clases sociales, hbitos y

    costumbres, consumo cultural, preocupaciones polticas, relaciones sociales, etc.). Al

    mismo tiempo se perciben mutaciones importantes en los agentes que participaron

    activamente de la tendencia (individuos, organizaciones, etc.), a la vez que se registran

    los flujos ideolgicos, ticos y estticos internacionales que, aunque con mayores

    filtros, llegaron a los ambientes juveniles y universitarios espaoles.2

    En el presente texto expondr un cuadro general de la evolucin del movimiento

    estudiantil durante la dictadura franquista y seleccionar una serie de huelgas y

    conflictos que son significativamente representativos de la fase por la que atravesaba.

    Como en cualquier clasificacin de este tipo que se establezca, siempre es posible

    detectar casos que se escapan al modelo matriz, tanto cronolgica como

    geogrficamente. As hubo distritos (como Barcelona o Madrid) que se adelantaron

    algunos aos a lo que posteriormente sera la norma, como otros hubo que siempre se

    encontraron relegados (Murcia).

    A grandes rasgos se podran distinguir cuatro etapas desde el final de la guerra

    civil. Una primera, que apenas mencionaremos, se extendi desde 1939 hasta 1964 y

    podramos definir como de aletargamiento. En ella lo normal fue la tranquilidad en los

    campus aunque se dieron erupciones estudiantiles puntuales, localizadas bsicamente en

    Madrid (1956) y Barcelona (1957). El proceso subterrneo de crisis que se estaba

    produciendo en el Sindicato Espaol Universitario (SEU) explot definitiva y

    oficialmente en 1965, despus de que varios distritos se hubiesen separado poco antes

    de la rbita del sindicato estudiantil de origen fascista (los estatutos del SEU fueron

    aprobados el 21 de noviembre de 1937). En 1965 se certificaba la muerte del SEU

    cuando, de facto, ya lo haban matado los estudiantes varios aos atrs gracias la presin

    sobre las autoridades y al vaco al sindicato. Se puede decir en rigor que muy pocos

    casos como este se dieron durante los casi cuarenta aos de franquismo. Lentamente se

    avanzaba en la coordinacin a nivel nacional.

    La segunda fase (1965-1967) fue el despertar del letargo y supuso el enfrentamiento

    abierto de los universitarios contra el rgimen, aunque planteado an en trminos de

    intereses sindicales, acadmicos o profesionales. Lo singular de esta etapa fue la salida a

    la superficie de un malestar, en gran medida, contenido que se extendi

    geogrficamente. Valencia, Sevilla, Valladolid, Granada, Bilbao, Canarias, Santiago de

    Compostela, etc. se sumaban con cierto vigor al carro de las Universidades con

    estudiantes dscolos. La nueva situacin conllev el perfeccionamiento de una red de

    coordinacin cada vez ms amplia entre los distritos universitarios con el fin de lograr

    un sindicato autnomo, representativo y democrtico. Eran los tiempos del Sindicato

    Democrtico de Estudiantes (SD) y las Reuniones Coordinadoras y Preparatorias

    (RCP).

    1 Universidad de Sevilla.

    2 Algunas obras generales sobre el tema en Hernndez Sandoica, E. et al, 2006; Valdelvira Gonzlez, G.

    2006.

  • 26

    La tercera etapa (1968-1972) se distingue por la aparicin en la mayor parte de los

    distritos -y la intensificacin en los pioneros- de una acusada atomizacin que a la vez

    que resta fuerza al movimiento como conjunto inyecta savia a las mltiples

    organizaciones noveles que inundan la Universidad en iluminada y encendida

    competencia. Los influjos internacionales se abran paso abruptamente entre los

    protagonistas dando lugar a un tpico enfrentamiento generacional, de acusado carcter

    cultural.

    La cuarta y ltima etapa (1973-1977) es una consecuencia lgica y previsible de lo

    que haba ocurrido en la anterior: extrema y concentrada politizacin, un fenmeno

    frecuente en otros mbitos, aunque raramente con la fuerza que tuvo en la Universidad.

    Fue entonces cuando los institutos de enseanza secundaria se sumaron a la ola de

    conflictividad poltico-social convirtindose en valiosa cantera de los cada vez ms

    activistas (organizados o no). La continuidad del movimiento pareca garantizada, pero

    el final de la dictadura y el cambio de paradigma cultural situ al movimiento

    estudiantil despus de 1978 en un lugar relativamente alejado de la poltica.

    Las expulsiones de varios influyentes catedrticos de la Universidad de Madrid por

    su apoyo sin ambages a la causa estudiantil durante los incidentes de febrero-marzo del

    65 representaron el nuevo tiempo turbulento por el que se atravesaba.1 Con la intencin

    de minimizar las consecuencias estudiantiles de la depuracin acadmica el gobierno

    public la orden el 21 de agosto, en plenas vacaciones estivales. Fue en vano porque la

    mecha ya estaba encendida y la solidaridad con los catedrticos traspas incluso los

    hasta entonces frreos muros de las juntas de Facultad.

    Desde la inauguracin del curso 65-66 hicieron notar los escolares su descontento

    en algunos lugares, relacionado fundamentalmente con la democratizacin de las

    asociaciones estudiantiles. En Sevilla se manifest ante el ministro de Educacin,

    Manuel Lora Tamayo, encargado de leer el discurso de apertura y en Oviedo un grupo

    intervino con aplausos extemporneos, ligeros golpes con los pies y silbidos casi

    inapreciables.2 Las cuestiones polticas fueron penetrando muy lentamente en la

    percepcin de los jvenes que ahora vean de cerca los efectos represores de la

    dictadura.

    Por otro lado, el contacto peridico entre estudiantes de todo el pas requiri que se

    perfeccionara progresivamente el sistema heredado, pero tambin el establecido al calor

    de los sucesos de febrero del 65 en Madrid. En marzo y mayo se celebraron en

    Barcelona la I y II Reunin Coordinadora Nacional (RCN) de estudiantes, donde se

    sent el objetivo final: celebracin de un congreso nacional que sirviera de acto

    fundacional del Sindicato Democrtico (SD) a escala estatal. Adems, desde principios

    del curso 65-66 se editaba por la Secretara nacional de coordinacin el Boletn

    Nacional de Coordinacin atendiendo as el frente informativo y propagandstico.3

    Lo relevante de estas primeras reuniones, inspiradas por el Partido Comunista de

    Espaa y de Catalua PCE/PSUC, es que fueron la base sobre la que se regularon los

    futuros contactos y, de manera inmediata, fue en ese contexto en el que se generaron

    1 Y poco despus les acompaaba el catedrtico Manuel Sacrista Luzn, conocido comunista de la

    Universidad de Barcelona y otros.

    2 Direccin General de Seguridad, Comisara General de Investigacin Social (DGS-CGIS), Boletn

    Informativo de actividades estudiantiles (en adelante, BIAE), n 6, 14-10-1965, pp. 2-3.

    3 La Secretara Nacional de Coordinacin, en esos momentos, estaba formada por los distritos de

    Barcelona (*), Bilbao (*), Granada, Madrid (*), Oviedo, Salamanca, Santiago de Compostela, Sevilla (*),

    Valladolid, Valencia (*) y Zaragoza (*). Se sealan con un asterisco (*) los distritos cuyos representantes

    asesoraban de cara al Boletn.

  • 27

    dos documentos de enorme trascendencia: la Declaracin de principios y los Estatutos

    del Sindicato Democrtico de Estudiantes de la Universidad de Barcelona (SDEUB), el

    primero que se formaliz formalmente el 9 de marzo de 1966. La represin sobre el

    congreso constituyente que estaba teniendo lugar en el convento de los capuchinos la

    caputxinada- activ una nueva ola de solidaridad, un valor en alza e identificable con

    facilidad durante aquella coyuntura poltica.1 Asambleas, paros acadmicos,

    lanzamiento de propaganda, mtines, reuniones y ms reuniones fueron la tnica en

    algunos centros docentes (Valencia, Madrid, Oviedo, Bilbao, Navarra, etc.). Incluso la

    Comisin Diocesana de las Juventudes de Estudiantes Catlicos (JEC) difundi dos

    escritos denunciando los sucesos.2 Paradjicamente un significativo nmero de

    afiliados a la JEC comenzaron a implicarse en la movilizacin poltica a partir de estos

    momentos, nutriendo los futuros partidos, generalmente de extrema izquierda como

    PCE(I)/PTE, aunque no exclusivamente. Felipe Gonzlez Mrquez, por ejemplo, siendo

    estudiante en la Universidad de Sevilla, estuvo vinculado a la JEC, como algunos de sus

    allegados (Carmen Romero, Rafael Escuredo, etc.). Su evolucin les llev a posiciones

    moderadas propias del Partido Socialista Obrero Espaol (PSOE).

    Las RCN que sumaron en torno a una decena en menos de dos aos- dieron paso a

    un modelo ms sofisticado pero que mantena el espritu de la iniciativa, estrechando un

    poco ms el cerco de los objetivos. Fueron las Reuniones Coordinadoras y Preparatorias

    (RCP) del congreso nacional de estudiantes y en ellas se crearon organismos

    permanentes, se vertebr la actuacin geogrficamente, etc. Hubo hasta seis RCP, la

    primera tuvo lugar en Valencia (enero de 1967) y en sta se firm el pacto de

    solidaridad entre los representantes, un paso importante en el intento por coordinar la

    accin.3 La intervencin policial con detencin de delegados estudiantiles no poda ms

    que encrespar los nervios e insuflar los nimos de sus compaeros. En este sentido, la

    circulacin por Espaa de una Carta contra la represin y la convocatoria a nivel

    nacional de una huelga antirrepresin, para el 7 de febrero de 1967, reflejaba bien la

    decisin estudiantil de hacer frente a las injusticias. El llamamiento solidario tuvo un

    importante impacto en los diversos distritos donde se desarrollaron huelgas

    intermitentes. Era la primera vez que algo as ocurra.4 Paralelamente empezaban a

    elevarse protestas por cuestiones puramente profesionales (Escuelas de Comercio,

    Ingenieros Industriales, etc.).

    La ltima RCP, la sexta, se celebr en Sevilla (febrero 1968) y puso de manifiesto

    lo rpido que haba pasado el tiempo hundindose en meses lo que se haba ido

    levantando en aos. Las causas de este precipitado fin fueron mltiples, tanto internas

    como exgenas. Entre las primeras, las declaradas y cada vez ms tensas relaciones

    entre la vanguardia estudiantil que bascula hacia horizontes polticos divergentes, pero

    tambin la evidente distancia registrada entre esta vanguardia y la base. Adems, la

    fuerte represin acadmica, gubernamental y policial, fue asfixiando un proyecto que

    haba nacido con intenciones bsicamente sindicales.5

    1 La solidaridad fue una actitud proyectada tambin hacia los que se consideraban pueblos oprimidos

    (Vietnam, Laos, Camboya, etc.). En ocasiones adoptaba una retrica marcadamente anticolonialista.

    2 DGS-CGIS, Boletn informativo, n 12, 17-3-1966, p. 46.

    3 En realidad no era ms que una ratificacin de los acuerdos de la I y II RCN.

    4 Los actos de protesta se dieron tanto antes como despus de la fecha indicada. Sobre todo ello, cfr.

    Archivo Histrico del Partido Comunista de Espaa (AHPCE), Movimiento estudiantil, caja 124, carp.

    76, fol. 3; BIAE, n 19, 10-II-1967, pp. 4-13.

    5 Sobre la VI RCP, cfr. Carrillo-Linares, A. 2008 y Carrillo-Linares, A. 2003.

  • 28

    En la VI RCP todo estall por lo aires. La inasistencia de Valencia y Madrid

    (dominadas por opciones a la izquierda del PCE, mximo valedor del SD) fue un serio

    aviso de que el sindicato se estaba descomponiendo. Pese a todo, la intervencin

    policial y las consiguientes detenciones de algunos delegados asistentes a la reunin,

    provocaron una respuesta en forma de condena en prcticamente todas las

    universidades; una movilizacin, la registrada en las semanas posteriores, no vivida en

    Espaa desde la II Repblica. As, los meses que mediaron entre enero y junio de 1968

    vivieron un proceso de radicalizacin influido en primer lugar por la desaparicin del

    SD, cuyo hueco intent ser llenado por un universo liliputiense de organizaciones de

    extrema izquierda con discursos y mtodos de accin muy radicalizados. En segundo

    lugar, unido a este clima, el mayo francs y el ambiente cultural internacional

    prendieron en jvenes ansiosos por conocer y proclives al consumo de cultura pop. Pero

    antes de los acontecimientos franceses, los estudiantes espaoles ms inquietos ya

    conocan las principales lneas polticas soterradas que dominaron en Pars

    (situacionismo, trotskismo, maosmo, marxismo-leninismo, anarquismo, etc.) y el

    movimiento estudiantil era centro de atencin preferencial en algunos medios

    informativos internacionales.1

    Lo sucedido en el curso 67-68 marc definitivamente otro punto de inflexin

    dibujndose un panorama en la Universidad inconcebible slo tres aos atrs: los

    campus se transformaron en verdaderos campos de batalla entre las fuerzas del orden y

    los estudiantes, donde lo poltico pasaba a ocupar un lugar vertebral, aunque segua

    siendo un tema asumido pblicamente slo por la vanguardia, pero en franca expansin;

    la base incorporaba el nmero en las cada vez ms frecuentes manifestacion