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Subprodutos do Algodão na Alimentação de Ruminantes Fernanda Barros Moreira Setembro, 2008

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Subprodutos do Algodão na

Alimentação de Ruminantes

Fernanda Barros Moreira

Setembro, 2008

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=356>.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes.

PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Copyright© 2008 para PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e

Zootecnia.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por

qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico, ou qualquer outra

forma ou meio sem a permissão expressa e por escrito do PUBVET,

Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. ISSN 1982-1263.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Sumário:

1. Introdução.............................................................................. 4

2. Origem dos Subprodutos do Algodão.......................................... 7

3. Toxicidade.............................................................................. 11

4. Caroço de Algodão................................................................... 15

4.1 Caroço de algodão, fonte de gordura naturalmente protegida....... 16

4.2 Caroço de algodão como fonte de fibra efetiva........................... 22

4.3 Caroço de algodão para ovinos................................................ 30

4.4 Caroço de algodão na suplementação de bovinos a pasto............ 32

4.5 Fornecimento do caroço de algodão: inteiro ou moído?................ 38

5. Casca de algodão..................................................................... 39

6. Farelo de algodão.................................................................... 47

7. Conclusão............................................................................... 57

Referências bibliográficas............................................................. 58

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

1. Introdução:

O algodão é uma das culturas de aproveitamento mais completo,

podendo gerar desde fibras têxteis, óleo e diversos subprodutos utilizados

na alimentação animal. Atualmente, o algodão veste grande parte da

humanidade e deverá ser bem mais significativo nos próximos anos, com

a conscientização da necessidade de preservação do meio ambiente,

escassez de petróleo (fonte de fibras sintéticas) e a crescente demanda

por produtos naturais.

O algodoeiro é cultivado, no Brasil, em três macro-regiões:

• Norte–Nordeste (Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do

Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia);

• Centro–Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás);

• Sul–Sudeste (São Paulo, Paraná e Minas Gerais).

Cada região é caracterizada por um sistema de produção, desde

pequenas áreas praticadas pela agricultura familiar, até grandes áreas

caracterizadas pelo alto nível tecnológico.

Em meados de 80, uma praga - o bicudo, (Anthonomus grandis) -

alastrou-se pelo Brasil, destruindo completamente as plantações de

algodão em boa parte do País. Além disso, no início da década de 90,

ocorreu a liberalização das taxas de importação. Como conseqüência, as

indústrias passaram a importar a fibra do algodão de outros países, com a

oferta de preços mais baixos. O resultado foi o abandono da cultura pelos

agricultores, resultando em amplo prejuízo econômico. No Paraná, a área

plantada caiu de cerca de 700 mil hectares no início da década de 90 para

menos de 40.000 hectares em 2001.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Figura 1: Bicudo, principal praga do algodoeiro em todo o mundo. Disponível em www.camposdejulio.mt.gov.br

Com a abertura do cerrado brasileiro para a produção de grãos, a

cultura do algodão passou a representar uma alternativa para rotação

com a soja, o que despertou nos produtores daquela região uma grande

oportunidade de negócios. Hoje, o cerrado responde por 84% da produção

brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior

produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado tem

sido impulsionado pelas condições de clima favorável, uso de tecnologias

modernas, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura,

associado a programas de incentivos implementados pelos estados da

região. Com isso, o cerrado brasileiro detém as mais altas produtividades

na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas.

Figura 2: Cultura do algodão no cerrado. Disponível em www.indea.mt.gov.br

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Segundo estimativas do 10º Levantamento da Safra de Grãos feito

pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), divulgado no dia 03

de julho de 2007, a área plantada de algodão para a safra 2006/07 está

estimada em 1,09 milhão de hectares, 27,2% maior que a área plantada

na safra 2005/06.

Com os incentivos à produção de biodiesel no Brasil, a expectativa é

que a produção de algodão suba ainda mais. O algodão apresenta

vantagens em relação a outras culturas como a mamona, uma vez que a

torta de algodão gerada como subproduto do biodiesel pode ser utilizada

na alimentação de ruminantes, o que não acontece com a torta de

mamona, devido à toxicidade.

Segundo a coordenadora de projetos do Pólo Nacional de

Biocombustíveis da Universidade de São Paulo (USP), Catarina Riodrigues

Pezzo, o biodiesel mais viável e barato produzido no País é o do caroço do

algodão. Custa R$ 0,81 o litro e sai da Região Nordeste. Em seguida é o

de soja, produzido na Região Centro-Oeste, a R$ 0,90 o litro. Segundo

Catarina, o algodão vence por fatores como facilidade de acesso e por

resultar na produção de subprodutos com valor de mercado. O algodão,

além de produzir biodiesel e servir para a indústria têxtil, gera

subprodutos como a casca e o farelo, que serve para a ração animal e tem

valor de mercado.

Diante deste cenário, diversas empresas já anunciaram a

implantação de usinas para extração de biodiesel a partir do algodão.

Como conseqüência, pode-se prever um aumento na disponibilidade de

subprodutos do algodão, principalmente casca e farelo, no mercado,

levando à expectativa de queda no custo destes subprodutos.

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2. Origem dos subprodutos do algodão:

A cultura do algodão é capaz de originar diversos produtos, desde os

diretos como a pluma e o óleo, até os subprodutos como o caroço, casca,

torta e farelo de algodão. Além de fornecer a pluma e o óleo, o algodoeiro

é capaz de fornecer um suplemento protéico de boa qualidade nutricional,

utilizado principalmente na alimentação de ruminantes.

A semente do algodão é colhida juntamente com a pluma ou línter.

Quando se faz a separação da pluma, sobra o caroço do algodão (Figura

3). Com a quebra do caroço, é separada a amêndoa da casca. Da

amêndoa é extraído o óleo, gerando como subproduto a torta de algodão.

Já as cascas geradas pela quebra do caroço do algodão resultam na

formação do subproduto casca de algodão (Figura 4). O fluxograma dos

sub-produtos do algodão está representado na Figura 5.

Figura 3: Caroço de algodão

Figura 4: Casca de algodão

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Figura 5: Fluxograma de produtos do algodão e sua utilização. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/AlgodaoAgriculturaFamiliar/subprodutos.htm

Em função do tipo da extração, podem-se produzir dois tipos de

torta: a torta gorda (5% de óleo residual) de característica mais

energética, proveniente apenas da prensagem mecânica, porém com

menor teor de proteína; torta magra (menos de 2% de óleo residual)

oriundo da extração por solventes, apresenta concentração relativamente

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maior de proteína e menor densidade energética (Araújo et al., 2003;

Tabela 1).

Tabela 1. Composição química média da torta de algodão obtida pelos

dois métodos de extração.

Substância Extração mecânica Extração por

solvente

Matéria seca (%) 92,3 89,1

Proteína bruta (%) 46,1 47,6

Extrato etéreo (%) 4,6 2,2

Fibra bruta (%) 11,4 11,2

Cinzas (%) 7,2 7,5

Minerais

(macro e micro)

Cálcio (%) 0,21 0,22

Magnésio (%) 0,65 0,66

Fósforo (%) 1,14 1,20

Potássio (%) 1,68 1,72

Sódio (%) 0,007 0,14

Enxofre (%) 0,43 0,44

Cobre (mg/kg) 10,9 12,5

Ferro (mg/kg) 106 126

Manganês (mg/kg) 18,7 20,1

Molibdênio (mg/kg) 2,4 2,5

Zinco (mg/kg) 62,8 63,7

Fonte: Cottonseed Feed Products Guide (1998), citado por Araújo et al. (2003).

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A torta de algodão, após a moagem, resultará no farelo de algodão.

O farelo pode ser feito apenas de torta, ou quando misturado às cascas de

algodão, dará origem ao farelo de algodão com casca. A mistura de

diferentes proporções de casca dará origem a farelos com diferentes

teores de proteína bruta e fibra. Quanto maior a proporção de casca,

menor o teor de proteína bruta e maior o teor de fibra no farelo (Tabela

2).

Conforme determinação do Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento, o teor de fibra bruta do farelo de algodão não deve ser

superior a 25%. No mercado, é possível encontrar farelo de algodão com

teores de proteína bruta que variam de 25% (máximo de adição de casca

à torta) até 50% (moagem da torta sem adição de casca).

Tabela 2. Composição de subprodutos do algodão usados na como

matéria-prima na ração animal.

Composição (%) Subproduto Umidade

(máx.) Proteína bruta (mín.)

Extrato etéreo (mín.)

Fibra bruta (máx.)

Cinzas (máx.)

Farelo (solvente) tipo 50

12 50 - 8 6

Farelo (solvente) tipo 40

12 40 2 15-16 6

Farelo c/ casca tipo 30

10 30 2 23 6

Farelo c/ casca tipo 25

12 25 - 25 7,5

Casca de algodão

10 3-3,5 - 40-44 3

Fonte: Brasil (1989), citado por Araújo et al. (2003)

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3. Toxicidade:

As limitações ao uso dos subprodutos do algodão são decorrentes

principalmente da presença do gossipol. Este é um aldeído polifenólico, de

cor amarelada, que pode estar na forma livre ou ligada a aminoácidos. No

grão intacto, o gossipol se apresenta na forma livre, mas no farelo ele

está principalmente ligado às proteínas, em função do processamento do

grão para a retirada do óleo (Tabela 3).

Tabela 3. Teor médio de gossipol em subprodutos do algodoeiro

Farelo de algodão Cascas

de algodão

Substância (%)

prensado solvente

Caroço

de algodão

Gossipol total 1,09 1,16 0,66 0,107

Gossipol livre 0,06 0,14 0,68 0,049

Fonte: Cottonseed Feed Products Guide (1998), citado por Araújo et al. (2003).

O gossipol livre é que apresenta toxicidade. No entanto, quando ele

se liga a aminoácidos livres ou ao ferro ocorre diminuição de sua

toxicidade. Os monogástricos são susceptíveis à intoxicação por gossipol,

por isso seu uso está principalmente relacionado à dieta de ruminantes.

Os ruminantes, com a população microbiana do rúmen desenvolvida, são

capazes de inibir a toxicidade do gossipol livre. O gossipol não será

metabolizado pelos microrganismos do rúmen, mas o ambiente ruminal

favorece a ligação do gossipol com aminoácidos, o que dificulta sua

absorção, e, por conseqüência, sua ação tóxica.

A toxicidade do gossipol está relacionada com dificuldade em

transportar oxigênio pelo sangue, além de prejudicar o funcionamento

reprodutivo dos machos, levando à disfunção testicular.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Alguns trabalhos foram desenvolvidos com a finalidade de avaliar os

efeitos do gossipol no desempenho de ruminantes e, assim, poder

estabelecer os limites máximos de ingestão diária. Há relatos de que para

vacas de alta produção (mais de 40 kg/dia), o fornecimento de dieta com

12% de caroço de algodão e 16% de farelo de algodão não prejudicou a

produção de leite.

Em trabalho com diferentes níveis de gossipol livre (originado do

caroço de algodão) e de gossipol ligado (originado do farelo de algodão),

Mena et al. (2004) avaliaram não somente os efeitos sobre a produção e

qualidade do leite, mas também sobre o funcionamento dos rins, fígado e

músculos de vacas de leite alimentadas com diferentes subprodutos do

algodão. Os autores testaram três níveis de ingestão de farelo de algodão

associado a três níveis de ingestão de caroço de algodão. O nível de

ingestão de gossipol variou de 0 a 1894 mg/kg de matéria seca da

dieta/dia (Tabela 4).

Tabela 4: Ingredientes e composição química da dieta para vacas de leite

alimentadas com diferentes níveis de subprodutos do algodão:

% na matéria seca Dietas

A B C D E Feno de alfafa 48 52 45,5 48,7 38

Milho 43,5 31,5 44,5 38 38,5

Farelo de soja 5,5 0 0,5 0,5 0 Caroço de algodão 0 13,5 0 6,8 13,5 Farelo de algodão 0 0 7 3,5 7

Tampão 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2

Vitaminas + minerais 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8 PB 16,4 16,3 15,4 14,8 16,6

EE 3,4 5,6 3,4 4,5 5,6

FDN 41,6 42,3 40,3 38,9 40,3 Gossipol total mg/kg 0 931,50 924 944,7 1894,3

Gossipol livre mg/kg 0 850,5 91 479,3 960,40 Adaptado de Mena et al., (2004).

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Os autores observaram que o fornecimento de 13,5% de caroço de

algodão e 7% de farelo de algodão não prejudicou o funcionamento dos

órgãos e tecidos testados. Ademais, estes alimentos foram capazes de

favorecer a produção de leite. (Tabela 5). Em função destes resultados, os

autores concluíram que o fornecimento de até 64 mg de gossipol total/kg

de peso vivo não prejudica o desempenho de vacas de leite.

Tabela 5: Produção de leite e consumo de matéria seca de vacas

alimentadas com diferentes níveis de ingestão de gossipol total:

Dietas

A B C D E

Consumo de MS kg/dia

20,7b 21,1ab 21,4ab 21,7ab 22,7a

Consumo de gossipol mg/kg PV/dia

0c 31,16b 31,96b 31,65b 63,88a

Produção de leite kg/dia

28,6b 30,8ab 30,8ab 31,1ab 32,6a

Produção de leite Corrigido 3,5%

27,5b 29,8ab 28,6b 29,7ab 31,0a

% gordura no leite

3,27 3,31 3,08 3,28 3,24

Adaptado de Mena et al. (2004).

Apesar da possibilidade de utilização dos subprodutos do algodão na

alimentação de ruminantes, alguns destes alimentos não devem ser

utilizados em:

• bezerros em que o rúmen ainda não esteja completamente

desenvolvido

• touros em reprodução.

Smalley e Bicknell (1982) reportou um caso de infertilidade

temporária em touros alimentados com caroço de algodão (3,63 Kg/dia) e

farelo de algodão (1,36 Kg/dia). Leighton et al ( 1953 ) trabalhando com

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bezerros com idade de 1 dia aos 6 meses, alimentados com concentrado

com 90% de caroço de algodão, causou a morte de alguns animais,

detectando a taxa de gossipol livre variando de 0,027 a 0,68%. Diante

disto, o caroço de algodão não é recomendado para bezerros devido a

grande susceptibilidade dos não ruminantes à toxicidade do gossipol.

Dentre os diferentes subprodutos do algodão, o caroço é o que

apresenta maior limitação quanto ao uso em touros e bezerros, uma vez

que neste alimento o teor de gossipol livre é mais alto, quando comparado

ao farelo ou às cascas de algodão (Tabela 3). Quanto maior o teor de

gossipol livre, maior a absorção pelo trato gastrointestinal, maior será o

efeito tóxico.

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4. Caroço de algodão:

O caroço de algodão é um alimento rico em proteína (média de 22%

na MS) e com alta densidade energética, em função dos níveis elevados

de extrato etéreo (média de 20% na MS) (Tabela 6). Observa-se que a

utilização do caroço de algodão na dieta de ruminantes é bastante

difundida, o que ocorre basicamente pelas seguintes vantagens do caroço:

• Fonte de proteína verdadeira de baixa degradação no rúmen;

• Alimento de alta densidade energética;

• Fonte de gordura insaturada naturalmente protegida;

• Fonte de fibra efetiva;

Tabela 6. Análise bromatológica do caroço de algodão encontrado por diferentes autores:

MS, matéria seca; PB, proteína bruta; FB, fibra bruta; EE, extrato etéreo; MM, matéria mineral; FDN, fibra em detergente neutro; FDA, fibra em detergente ácido.

Composição Bromatológica do Caroço de algodão

Autores MS PB FB EE MM FDN FDA

% % na matéria seca

Cunha et al., 1998

92 20 21 19 3 - -

Rogério et al., 2002

89 26 - 21 5 40 29

Teixeira et al., 2002

92 22 - - - 48 -

ElNemari Neto et al., 2003

83 22 31 18 4 43 39

Jorge, 2005 94 23 - 19 - 51 39 Teixeira e Borges, 2005

- 23 - 23 - 43 26

Melo et al., 2007

93 21 - 21 - 33

Média 90 22 26 20 4 45 33

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4.1: Caroço de algodão, fonte de gordura naturalmente protegida:

Por seu um alimento rico em lipídeos, o caroço de algodão não deve

ser fornecido à vontade, uma vez que altos níveis de lipídeos na dieta de

ruminantes podem provocar alterações no ambiente ruminal, o que

poderá comprometer o desempenho do animal.

Os lipídeos, ao entrarem no rúmen, apresentam efeito deletério

sobre os microrganismos que degradam a fibra (bactérias gram + e

protozoários). O mecanismo exato da toxicidade dos lipídeos sobre estes

microrganismos ainda não está claro, mas acredita-se que esteja

relacionado à barreira que os lipídeos fazem ao redor das partículas de

alimento, prejudicando a colonização e degradação microbiana (Van

Soest, 1994). Por isso, recomenda-se que o nível de gordura na dieta de

ruminantes não ultrapasse 7 a 8% na matéria seca.

Dentre as fontes de gordura, aquelas que apresentam maior

porcentagem de ácidos graxos insaturados são mais tóxicas ao ambiente

ruminal quando comparadas às gorduras ricas em ácidos graxos

saturados. È por isso que fontes de óleos vegetais apresentam maior

toxicidade quando comparadas às fontes de gordura animal.

Como mecanismo natural de defesa, os microrganismos ruminais

desempenham a biohidrogenação, que nada mais é do que a adição de

íons hidrogênio aos ácidos graxos, de forma à diminuir o número de

ligações insaturadas, tornando estes ácidos graxos menos tóxicos (Figura

6). No entanto, a biohidrogenação não é completa, de forma que parte da

gordura se mantém na forma insaturada, prejudicando assim os

microrganismos ruminais.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Figura 6: Esquema geral do metabolismo de lipídeos pelos microrganismos

ruminais. Fonte: Nagaraja et al. (1997)

Uma alternativa para se diminuir o efeito deletério da gordura sobre

o ambiente ruminal seria a utilização de fontes de gordura de baixa

degradação no rúmen (gordura protegida). Existem no mercado algumas

opções de gordura protegida, como o Megalac® e o Lac100®. No entanto,

muitas vezes, o custo destes produtos inviabiliza seu uso.

Existem também as fontes de gordura naturalmente protegidas,

como é o caso do caroço de algodão. Uma vez que a gordura está

presente na amêndoa do algodão e, no caroço, a amêndoa está protegida

pela casca, a liberação dos lipídeos no ambiente ruminal será mais lenta,

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

de forma a diminuir os efeitos deletérios sobre os microrganismos

ruminais. É por isso que vários trabalhos foram desenvolvidos com a

finalidade de determinar qual a quantidade máxima de caroço de algodão

que poderia ser utilizada na dieta de ruminantes sem que houvesse o

comprometimento da função ruminal.

Valinote et al. (2005) observaram queda na população de

protozoários no rúmen quando trabalharam com dietas ricas em

concentrado (81%) e com alto teor de extrato etéreo (9% na MS). Estes

autores utilizaram como fonte de lipídeo, o caroço de algodão, no nível de

21% da dieta total. Uma vez que os protozoários são elementos

importantes na degradação da fibra, principalmente quando a dieta é rica

em concentrados, os mesmos autores sugerem que a mesma dieta

poderia apresentar uma baixa digestibilidade da fibra, em função do

elevado teor de lipídeos (9% na MS).

No entanto, para dietas com alto teor de concentrado (81%)

Valinote et al. (2006) observaram que a degradabilidade efetiva da FDN

não foi prejudicada pela presença do caroço de algodão na dieta, dentro

dos mesmos níveis acima citados (21% de caroço de algodão; 9% de

extrato etéreo na matéria seca da dieta). Estes autores observaram para

a dieta controle (sem caroço de algodão, com 4,9% de extrato etéreo) a

degradabilidade da FDN da cana-de-açúcar foi de 52,25% e, para a dieta

com caroço de algodão, a degradabilidade foi de 51,25%.

Em outro experimento, mas com dietas muito semelhantes às

utilizadas pelos autores acima citados, Aferri et al. (2005) avaliaram o

efeito da inclusão de caroço de algodão (21% na matéria seca da dieta

total) em dietas de bovinos alimentados em confinamento com 81% de

concentrado em comparação a dieta controle (sem adição de fonte

lipídica) ou suplementado com uma fonte de gordura protegida (LAC

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

100®). A Tabela 7 representa a porcentagem de ingredientes na dieta e

seus teores de proteína bruta e NDT.

Tabela 7: Ingredientes e composição química da dieta de novilhos

alimentados com diferentes fontes de lipídeos:

% na matéria seca LAC 100 Caroço de

algodão Controle

Cana-de-açúcar (planta inteira)

19,00 19,00 19,00

Farelo de soja 14,00 9,00 12,50

Milho em grão 26,54 21,18 29,36

Polpa cítrica 33,61 26,82 37,19 LAC 100 5,00 - -

Caroço de algodão - 21,00 -

Uréia 0,85 0,50 0,95 Calcáreo - 1,50 -

Sal mineral 1,00 1,00 1,00

Rumensin 0,027 0,027 0,027 PB 14,40 14,22 14,44

NDT 81,98 77,89 77,11 Adaptado de Aferri et al., 2005

Os autores não observaram diferença no ganho de peso e na

ingestão de matéria seca quando comparados ao grupo controle (sem

ingestão de caroço de algodão). O nível de extrato etéreo da dieta era de

8,25% na MS (Tabela 8).

Estes resultados apenas confirmam a possibilidade de utilização de

até 21% de caroço de algodão na dieta de bovinos sem que haja o

prejuízo para a fermentação ruminal, mesmo que os níveis de extrato

etéreo da dieta estejam entre 8 a 9% na MS.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 8: Desempenho de novilhos alimentados com diferentes fontes de lipídeos:

LAC 100 Caroço de

algodão

Controle

Peso vivo inicial, kg 354 348 362

Peso vivo final, kg 430 428 444

Ganho médio, kg/dia 1,107 1,169 1,204

Ingestão de MS

kg/dia

8,12b 9,49a 9,20ab

Ingestão de MS

% PV

2,08b 2,45a 2,29ab

Conversão alimentar 8,03 8,38 7,86

Adaptado de Aferri et al., 2005 Nos trabalhos de Valinoti et al. (2005 e 2006) e de Aferri et al.

(2005), os bovinos foram alimentados com dieta rica em concentrado

(81%). No entanto, para dietas com maior proporção de volumoso, qual

seria o limite máximo de caroço de algodão na dieta, uma vez que o nível

de extrato etéreo do concentrado é maior do que do volumoso?

Prado et al. (1995) avaliaram dois níveis de caroço de algodão (15 e

30%) em dietas com cana-de-açúcar ou capim elefante como fonte de

volumoso para novilhos Nelore terminados em confinamento. O ganho de

peso foi semelhante para os dois níveis de caroço (0,95 e 0,90 kg/dia),

assim como não houve diferença na ingestão de matéria seca (11 e 9

kg/dia para os níveis 15 e 30%).

Assim, Prado e Moreira (2002) recomendam a utilização de caroço

de algodão para bovinos em confinamento no nível máximo de 30% de

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

caroço na dieta total. Os mesmos autores salientam que o sabor e o

aroma da carne poderiam estar comprometidos com a utilização de altos

níveis de caroço na dieta (acima de 30%). Esta alteração poderia estar

associada à presença de alguns ácidos graxos característicos do caroço de

algodão na carne do animal, o que geraria sabor e odor característicos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

4.2. O caroço de algodão como fonte de fibra efetiva:

O caroço de algodão também tem sido utilizado como fonte de fibra

efetiva para vacas em lactação alimentadas com altos níveis de

concentrado. Em função de seus maiores teores de FDN quando

comparado a outras fontes de concentrados, o caroço de algodão pode

estimular a atividade mastigatória, garantindo um maior aporte de fibra

efetiva para dietas ricas em concentrado.

A dieta de vacas de leite deve conter uma quantidade mínima de

fibra. A quantidade e a qualidade da fibra irão desempenhar as seguintes

funções:

• capacidade para maximizar o consumo de nutrientes,

• permitir atividade mastigatória ótima,

• manter a fermentação ruminal dentro dos padrões da

normalidade e, por fim,

• promover adequada porcentagem de gordura no leite.

A efetividade da fibra pode ser medida por sua habilidade em

manter a atividade mastigatória da vaca e capacidade em manter a

produção de leite e a proporção de gordura no leite.

Fibra efetiva é a fração do alimento capaz de estimular a atividade

mastigatória, o que promove a secreção de saliva, resultando em maior

capacidade tampão ao rúmen. Maior capacidade tampão, maior

neutralização dos ácidos orgânicos produzidos durante a fermentação,

amenizando problemas como:

• queda na atividade de microrganismos fibrolíticos;

• menor motilidade ruminal;

• menor digestibilidade da fibra;

• menor consumo de alimentos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

O caroço de algodão e a casca de algodão são subprodutos ricos em

FDN, mas não FDN derivado de forragem. O FDN não derivado de

forragem apresenta menor tamanho de partícula e maior gravidade

específica, o que resulta em menor tempo de retenção do alimento no

rúmen. Como conseqüência, há de se esperar uma queda na

digestibilidade da fibra e uma menor produção de ácidos orgânicos no

rúmen (Allen e Grant, 2000).

Diversos trabalhos têm demonstrado que o caroço de algodão

apresenta boa capacidade em manter a atividade mastigatória, o que

resultaria em uma fonte de fibra efetiva. Harvatine et al (2002)

demonstraram que o FDN do caroço de algodão é 84% tão efetivo quanto

o FDN do feno de alfafa, sugerindo que a utilização de até 15% de caroço

de algodão em dietas com baixos teores de FDN de origem forrageiro não

representa limitações quanto à capacidade em estimular a atividade

mastigatória e, portanto, é capaz de manter o funcionamento adequado

do ambiente ruminal.

O caroço de algodão pode então ser utilizado em vacas leiteiras com

a finalidade de aumentar a densidade energética da ração além do caroço

servir como fonte de FDN não derivado de volumoso.

Slater et al. (2000) avaliaram o efeito da substituição do FDN da

forragem pelo FDN presente em resíduos como a casca de soja ou o

caroço de algodão em dietas para vacas leiteiras após o terço inicial de

lactação. Foram testadas quatro dietas experimentais:

• Dieta com FDN exclusivo de origem forrageiro (silagem de

milho e silagem de alfafa);

• Dieta com inclusão de casca de soja como fonte parcial de

FDN e milho como fonte de concentrado energético;

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

• Dieta com inclusão de casca de soja como fonte parcial de

FDN e milho e trigo como fontes de concentrados energéticos;

• Dieta com inclusão de caroço de algodão como fonte parcial de

FDN.

A proporção de ingredientes da ração e a composição química das

dietas utilizadas estão apresentadas na Tabela 9.

Tabela 9: Ingredientes e composição química de dietas para vacas

leiteiras após o terço inicial de lactação:

% na matéria seca

18 FDN 14 FDN 14 FDN trigo

10 FDN caroço de algodão

Silagem de alfafa 16,8 13,6 13,6 9,2

Silagem de milho 27,2 20,3 20,4 13,6 Milho 30,6 22,9 13,8 27,2

Trigo - - 13,8 -

Farelo de soja 15,9 12,5 8,8 10 Casca de soja 3,4 23 23 23,9

Caroço de algodão

- - - 11

Glútem de milho 0,28 1,80 0,5 0,9

Farinha de sangue

1,83 2,03 2,02 2,02

Sebo 1,95 1,97 1,96 -

Calcáreo 1,18 1,10 1,14 1,34

Premix mineral e vitamínico

0,86 0,88 0,92 0,84

PB 17,2 17,9 18,4 17,6

FDN dieta 27,5 32,7 33,9 35,6 FDN forragem 17,8 14,0 13,9 9,4

EE 4,03 3,97 3,92 4,20

Tamanho de partículas mm

2,99

Adaptado de Slater et al., 2000

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Os autores observaram que o consumo de MS/dia foi maior para as

vacas alimentadas com caroço de algodão, o que resultou também em

maior produção de leite por dia. No entanto, a porcentagem de gordura no

leite foi menor para as vacas alimentadas com caroço de algodão, de

forma que a produção de gordura por dia foi semelhante entre os

tratamentos (Tabela 10).

Tabela 10: Desempenho e proporção de AGV no rúmen de vacas

alimentadas com diferentes proporções de FDN de origem da forragem:

Item 18 FDN 14 FDN 14 FDN trigo

10 FDN caroço de algodão

Comsumo de MS

Kg/dia 22,5b 22,9b 21,9b 25,0a % PV 3,77b 3,87b 3,63b 4,18a Consumo FDN Kg/dia

6,32c 7,61b 7,44b 8,57a

Consumo FDN forragem, kg/dia

4,02a 3,22b 3,01b 2,38c

Produção de leite Kg/dia 32,8c 33,4b 34,5b 35,6ab

Kg/dia corrigido 3,5%

33,1 33,5 32,9 34,3

% gordura 3,53a 3,62a 3,26b 3,35b

Gordura g/dia

1163 1177 1110 1165

Proteína g/dia

1088b 1081b 1135a 1155a

Proporção de AGV

Acetato 58,9b 61,6a 62,4a 59,4b Propionato 25,5a 21,8b 22,0b 25,5a

Butirato 11,2b 12,7a 11,8ab 11,0b

A:P 2,42bc 2,90ab 2,94a 2,37c Adaptado de Slater et al., 2000

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Os autores justificaram o aumento na produção de leite pelo

aumento no consumo de matéria seca para dietas com caroço de algodão.

No entanto, o fator responsável pela diminuição na porcentagem de

gordura no leite não foi encontrado.

Sabe-se que quando o nível de FDN efetivo cai na dieta, ocorre uma

diminuição no teor de gordura no leite. Várias teorias foram desenvolvidas

para explicar essa queda. A menor relação acetato:propionato no rúmen

para dietas com baixo FDN efetivo tem sido uma das teorias. No entanto,

os autores acima citados avaliaram a quantidade e a proporção de ácidos

graxos voláteis no rúmen, e observaram que a dieta com caroço de

algodão apresentou valores muito semelhantes à dieta com fibra oriunda

da forragem (Tabela 10).

Outra teoria é a de que quando da utilização de fibras com tamanho

de partícula maior, o ruminante deveria gastar mais tempo mastigando e

ruminando o alimento, de forma que resultaria em menos problemas

digestivos e menor probabilidade de queda no teor de gordura no leite.

Novamente, os autores acima avaliaram o tamanho de partículas da

dieta e o tempo mastigando, observando que embora o tamanho de

partículas fosse menor para as dietas com os subprodutos (casca de soja

ou caroço de algodão), não houve diferença no tempo gasto mastigando o

alimento.

Estes resultados apenas demonstram que a redução no teor de

gordura no leite não pode ser explicada, simplesmente, pela alteração de

proporção de ácidos graxos no rúmen, pela redução do tamanho de

partículas do alimento ou pela diminuição no tempo de mastigação.

Outros fatores, ainda desconhecidos, podem influenciar o teor de gordura

no leite.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Considerando uma dieta para vacas de leite com apenas 23% de

volumoso, há de se esperar que a porcentagem de gordura no leite possa

ser comprometida. No entanto, a porcentagem de gordura no leite

observada pelos autores acima citados é considerada dentro dos padrões

da normalidade (3,26 a 3,62%). Uma vez que a porcentagem de

volumoso na dieta foi baixa (23%), o que estaria contribuindo como fonte

de fibra efetiva para que não ocorresse o comprometimento do teor de

gordura no leite?

A resposta está basicamente em dois ingredientes da ração: a casca

de soja e o caroço de algodão. Estes resultados confirmam então a

possibilidade de redução da utilização de volumosos na dieta de vacas de

alta produção, sem que ocorra prejuízo para a qualidade do leite. Para

isso, é necessária a suplementação com outras fontes de fibra efetiva, o

que poderia vir de resíduos como a casca de soja, casca de algodão ou

caroço de algodão.

Segundo o NRC (1989), a dieta para vacas de leite deveria ter ao

menos 25% de FDN, sendo que 75% do FDN deveriam vir da forragem

(feno, pasto, silagem). No entanto, pelo NRC (2001) já existe uma

variação nos níveis mínimos de FDN e de FDN de origem da forragem. O

NRC recomenda FDN mínimo na dieta entre 25 a 33% e FDN de origem da

forragem entre 19 e 15%, de forma que quanto menor o nível de FDN de

origem na forragem, maior deverá ser o nível mínimo de FDN total.

Diante dos resultados de Slater et al. (2000), pode-se sugerir que o

caroço de algodão pode substituir parcialmente a forragem da dieta de

vacas leiteiras, podendo chegar até 10% de FDN de origem de forragem.

Este é um resultado importante para a formulação de dietas para

vacas de alta produção, uma vez que com a utilização do caroço de

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

algodão, torna-se possível aumentar a densidade energética da ração, o

que poderia resultar em maior consumo de nutrientes, associado à maior

produção de leite.

Em outro trabalho, Melo et al. (2007) avaliaram níveis crescentes de

inclusão do caroço de algodão, em dietas para vacas de leite. Os autores

testaram o caroço de algodão nos níveis 0; 6,25; 12,50; 18,75 e 25,00

para dietas com proporções de volumoso entre 56 a 41%. À medida que

se aumentava a proporção de caroço de algodão na dieta, diminuía-se a

proporção de volumoso (silagem de sorgo) (Tabela 11).

Tabela 11: Ingredientes e composição química de dietas para vacas

leiteiras alimentadas com níveis crescentes de caroço de algodão:

% na matéria seca Dietas

0 6,25 12,50 18,75 25,00 Palma forrageira (Forage cactus)

28,92 29,46 29,21 28,74 29,29

Silagem de sorgo 27,27 23,68 19,54 15,84 12,13 Caroço de algodão 0 6,25 12,72 19,39 25,43

Farelo de soja 23,88 20,90 18,66 16,08 13,27

Fubá de milho 18,91 18,70 18,86 18,93 18,58

Premix mineral 1,02 1,01 1,02 1,02 1,01 PB 17,30 16,89 16,85 16,68 16,29

EE 2,25 3,73 4,97 6,24 7,38 FDN cp 31,83 31,87 31,49 31,40 31,35

Adaptado de Melo et al. (2007).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Os autores observaram que o consumo de matéria seca e a

produção de leite corrigida para 3,5% de gordura aumentaram de forma

linear com o aumento do caroço de algodão na dieta (Tabela 12). Assim,

em vacas de leite com dietas com até 41% de volumoso, seria possível a

utilização de até 25% de caroço de algodão, sem prejuízo para a produção

ou qualidade do leite.

Tabela 12: Desempenho de vacas de leite submetidas a níveis crescentes

de caroço de algodão na dieta

Dietas Efeito

0 6,25 12,50 18,75 25,00

Consumo de MS, kg/dia

21,43 21,38 22,03 24,27 23,50 Linear

Produção de leite

kg/dia 29,5 30,24 31,25 32,67 32,27 NS Kg/dia corrigido 3,5%

26,7 28,12 30,22 30,74 31,68 Linear

Gordura no leite, % 2,91 3,15 3,33 3,13 3,39 NS Adaptado de Melo et al. (2007).

É difícil estabelecer qual o nível máximo de inclusão do caroço de

algodão na dieta de vacas de leite. Os níveis de volumoso e de FDN de

origem forrageiro da dieta devem ser considerados para estabelecimento

de níveis máximos de caroço de algodão na dieta. Dietas com maior

porcentagem de volumoso, no mínimo de 41%, é possível a utilização de

até 25% de caroço. Já em dietas com alto teor de concentrado (77%), o

nível de caroço deve ser menor (até 11%) para que o nível de extrato

etéreo da ração não comprometa a digestão da fibra no rúmen.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

4.3. Caroço de algodão para ovinos:

Em trabalho com ovinos, Rogério et al. (2002) e Rogério et al.

(2004) testaram níveis de inclusão de caroço de algodão integral (0, 12,

24, 35 e 45%) à dieta básica de feno de "Tifton 85" (Cynodon spp.). Os

ovinos eram mantidos em gaiolas de metabolismo e alimentados com feno

de tifton 85 suplementado com níveis crescentes de caroço de algodão. O

nível de extrato etéreo da dieta com 45% de caroço de algodão chegou a

10,9%. O teor de proteína bruta das dietas variou de 7,81% para o nível

0 de caroço a 15,96% de PB para o nível 45% de caroço. O nível de FDN

variou de 86,51% para o tratamento sem caroço de algodão até 65,46%

de FDN para a inclusão de 45% de caroço de algodão.

Os autores observaram que o consumo de proteína bruta e de

extrato etéreo aumentou com a inclusão de caroço de algodão (Tabela

13). Como a dieta apresentava maiores teores de proteína e de extrato

etéreo com a inclusão do caroço, resultou também em aumento no

consumo destes nutrientes. No entanto, o consumo de matéria seca foi

numericamente menor com o aumento do caroço (Tabela 13). Estes

resultados sugerem um possível efeito negativo sobre o consumo de

matéria seca quando da utilização de níveis superiores a 35% de caroço.

Assim, os autores sugerem a inclusão de 24% de caroço de algodão, o

que representava 7% de extrato etéreo na dieta.

O coeficiente de digestibilidade da FDN foi prejudicado com a

inclusão em níveis acima de 35% de caroço (Tabela 13). O caroço de

algodão favoreceu a digestibilidade da matéria seca total da dieta. No

entanto, níveis acima de 35% de inclusão podem prejudicar a

digestibilidade da dieta por diminuir a digestibilidade da fibra. Com esses

resultados, os autores indicaram o caroço de algodão para ovinos, desde

que não ultrapasse os teores de 24% na ração total.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 13: Consumo e digestibilidade de nutrientes de dietas a base de

feno de Tifton 85 associada a níveis crescentes de caroço de algodão, em

ovinos:

Nível de caroço de algodão

0 12 24 35 45

Consumo, g/kg0,75

MS 72,29a 64,75a 72,30a 67,86a 60,53a

PB 6,10b 6,75b 9,31a 10,15a 10,00a

EE 1,92d 3,13c 5,23b 6,41a 6,82ª

Digestibilidade, %

MS 48,12b 52,54a 55,53a 54,74a 57,09a

FDN 51,33a 50,89a 47,34a 40,30b 37,36b

Adaptado de Rogério et al. (2002) e Rogério et al. (2004).

Segundo Teixeira e Borges (2005), a digestibilidade da celulose

começa a cair quando os níveis de caroço de algodão passam de 24%.

Estes autores testaram níveis de caroço de algodão integral em ovinos

alimentados com feno de Brachiaria decumbens.

Diante dos resultados, observa-se que para ovinos, os níveis de

caroço de algodão na dieta não devem estar acima de 25%, uma vez que

níveis acima poderiam resultar em queda no consumo e na digestibilidade

dos nutrientes e, por conseqüência, comprometimento do desempenho

animal.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

4.4. Caroço de algodão na suplementação de bovinos a pasto:

Resultados de pesquisa têm demonstrado que a suplementação a

pasto pode ser uma alternativa para terminação de bovinos no período da

entressafra, com algumas vantagens em relação ao confinamento:

• Não é necessário a produção e fornecimento diário de volumoso,

uma vez que a forragem da pastagem já está disponível ao animal;

• Menor custo com instalações;

• Facilidade no transporte do alimento, pois apenas o concentrado

precisa ser fornecido diariamente;

• Menor utilização de mão-de-obra.

O caroço de algodão representa um alimento importante para ser

fornecido a animais a pasto. Por ser uma fonte de gordura aliado à

proteína, o uso do caroço pode resultar em maior desempenho de animais

mantidos a pasto.

Paulino et al. (2002) avaliaram diferentes fontes de proteína para

uso em suplementos para novilhos mestiços Holandês/Zebu terminados

em pastagem de Brachiaria decumbens, no período da seca (junho a

setembro). Os autores testaram três fontes diferentes de proteína: farelo

de soja; soja em grão ou caroço de algodão. Os ingredientes do

suplemento e sua composição química estão apresentados na Tabela 14.

Os animais eram suplementados com 4 kg da mistura por dia (média de

1% do peso vivo).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 14: Ingredientes e composição química de suplementos para

novilhos terminados a pasto:

% na matéria seca Farelo de

soja Soja em grão

Caroço de algodão

Sal mineral 2 2 2

Uréia + Sulfato de amônia (9:1)

2,5 2,5 2,5

Farelo de soja 17 - -

Soja em grão - 25 - Caroço de algodão - - 50

Milho triturado 78,5 70,5 45,5

PB 22,81 21,64 22,69

FDN 14,81 16,20 30,80 EE 3,20 7,89 12,16 Adaptado de Paulino et al. (2002).

Os autores observaram que não houve diferença no ganho de peso

para os alimentos testados (Tabela 15). É importante observar que apesar

da pastagem disponível apresentar baixa qualidade nutricional (2,5% de

proteína bruta e 75% de FDN), os animais chegaram ao peso de abate no

final da entressafra, uma vez que os suplementos possibilitaram um

ganho médio de 1 kg/animal/dia. Estes dados confirmam a possibilidade

da utilização da suplementação a pasto para terminar novilhos no período

da entressafra.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 15: Desempenho de novilhos terminados a pasto com

suplementos de diferentes fontes protéicas:

Farelo de soja

Soja em grão

Caroço de algodão

Peso vivo inicial, kg 356 363 363 Peso vivo final, kg 462 461 457

Ganho médio diário, kg/dia 1,14 1,06 1,02

Rendimento de carcaça, % 53,61 52,21 53,04

Peso carcaça, kg 248 241 242 Adaptado de Paulino et al. (2002).

El-Memari Neto et al. (2003) avaliaram o efeito da suplementação

com três tipos de suplementos (amido, amido e gordura, gordura) e dois

níveis de suplementação (0,7 e 1,4% do peso vivo) para novilhos Nelores

terminados em pastagem de Brachiaria brizantha, no período de julho a

dezembro. Como fonte de amido os autores utilizaram o milho em grão e

como fonte de gordura, o caroço de algodão. A proporção dos ingredientes

e a composição química dos suplementos podem ser visualizadas na

Tabela 16.

O suplemento com gordura e amido foi o resultou em melhor

desempenho animal (Tabela 17). Quando comparados os dois níveis de

suplementação (0,7 e 1,4%), o nível de 1,4% do peso vivo em

suplementação, apesar de representar maior desempenho, não significou

melhor retorno econômico, uma vez que o custo da suplementação não

justificou este nível (Tabela 17). Estes resultados novamente comprovam

a possibilidade de utilização do caroço de algodão em suplementos para

bovinos a pasto.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 16: Ingredientes e composição química de suplementos para

novilhos terminados a pasto:

% na matéria seca Amido Óleo Amido e Óleo Caroço de algodão 0 39 20

Casca de soja 0 41,50 17,50

Farelo de trigo 2,5 10,5 8,8

Farelo de algodão 17,4 8,5 13,5 Milho 78 0 39

Uréia + AS 12N:1S 2,1 0,50 1,20

PB 21,85 20,60 21,40

FDN 26,92 43,69 34,97

EE 3,11 8,50 6,05 NDT 74 71 73

Adaptado de El-Memari Neto et al. (2003)

Tabela 17: Desempenho de novilhos terminados a pasto com

suplementos de diferentes fontes de concentrado e dois níveis de

suplementação: 0,7 e 1,4% do peso vivo:

Amido Óleo Amido e

Óleo

0,7% de suplementação

Ganho de peso, kg/dia 0,457b 0,437b 0,572ª Dias para abate 205 197 157 Relação Benefício/Custo 0,83 1,20 1,79

1,4% de suplementação

Ganho de peso, kg/dia 0,576b 0,611b 0,716a Dias para abate 156 147 126

Relação Benefício/Custo 0,69 1,06 1,26 Adaptado de El-Memari Neto et al. (2003)

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Em trabalho realizado no sul dos EUA, Poore et al. (2006) avaliaram

o efeito da suplementação com caroço de algodão para novilhas mantidas

a pasto (Festuca arundinacea Schreb.), durante o período do inverno. O

nível de suplementação foi de 0,33% do peso vivo. O suplemento era

composto por 80% de caroço de algodão e 20% de concentrado formado

por farelo de soja e milho. Os pesquisadores utilizaram o concentrado

(20% da mistura) para estimular as novilhas a consumirem o suplemento.

O experimento foi realizado durante o inverno de dois anos consecutivos.

Como resultado, foi observado um aumento no ganho de peso

individual e no ganho por área em ambos os anos avaliados (Tabela 18).

No primeiro ano, como a pastagem apresentava-se com melhor

qualidade nutricional (proteína bruta entre 14 a 20%), houve um adicional

de 100g/animal/dia para os animais suplementados. Já no segundo ano,

como a pastagem apresentava menor qualidade nutricional (proteína

bruta entre 12 a 14%), os animais suplementados apresentaram um

ganho de 230 g/animal/dia a mais quando comparados com as novilhas

não suplementadas (Tabela 18).

Vale salientar que o experimento acima citado foi realizado nos EUA

e, apesar de os animais estarem no período da entressafra, a pastagem

estava em bom estado nutricional, principalmente no aspecto proteína

bruta, uma vez que os teores observados estavam sempre acima da

exigência em proteína bruta por novilhas.

No entanto, no período da entressafra, para as condições brasileiras,

na maioria das vezes, são observados baixos teores de proteína bruta na

pastagem (normalmente de 4-9% de proteína bruta). Nesses casos, a

utilização do caroço de algodão pode ser viável, mas deve estar associado

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

a uma fonte de proteína degradável no rúmen, o que pode ser

parcialmente obtida a partir do nitrogênio não protéico.

Tabela 18: Efeito da suplementação sobre o desempenho de novilhas

mantidas a pasto (Festuca arundinacea Schreb.), durante o período do

inverno

Sem suplementação

Com suplementação

Peso vivo inicial, kg

Ano1 264 267

Ano 2 257 256

Ganho médio diário, kg/dia

Ano 1 0,46b 0,56a Ano 2 0,23b 0,46a Ganho por área, kg/ha

Ano 1 223b 293a

Ano 2 147b 318a Lotação, novilhas/ha

Ano 1 5,87 6,35

Ano 2 7,84 8,40

Adaptado de Poore et al. (2006).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

4.5. Fornecimento do caroço de algodão: inteiro ou moído?

Outra dúvida freqüente quando do uso do caroço de algodão se deve

à forma de administração do caroço: inteiro ou moído. Segundo Teixeira

et al. (2002), a degradabilidade efetiva no rúmen da matéria seca, da

proteína bruta e da FDN do caroço de algodão inteiro é menor quando

comparado ao moído. O processo de moagem faz com que aumente a

fração solúvel da matéria seca e da proteína bruta do caroço.

Considerando que é interessante que a degradação do caroço de

algodão seja lenta, para que a liberação de gordura no rúmen seja

gradual, é recomendável a utilização do caroço de algodão inteiro, o que

também irá contribuir por diminuir a toxicidade da gordura no ambiente

ruminal e aumentar a quantidade de proteína não degradável da dieta.

Assim, o caroço de algodão pode representar uma fonte extra de

energia (em função do extrato etéreo), fonte de fibra efetiva para dietas

ricas em concentrado (presença de maior quantidade de FDN quando

comparado a outros grãos) e por fim, fonte de proteína de escape

(proteína não degradável no rúmen). O caroço de algodão representa um

ingrediente tecnicamente viável para utilização na dieta de ruminantes,

tanto para bovinos de corte, leite, ovinos ou caprinos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

5. Casca de algodão:

O subproduto casca de algodão se origina da quebra do caroço do

algodão para a liberação da amêndoa. Representa a parte externa do

caroço e pode conter quantidades variadas de línter aderido à casca. Isso

ocorre em função de diferenças nas variedades de algodão ou na

eficiência de retirada da pluma durante o processamento. Independente

da quantidade de línter, a casca de algodão se caracteriza por ser rica em

fibra (Tabela 19), por isso é considerado um volumoso para ser utilizado

na dieta de ruminantes.

Tabela 19. Análise bromatológica da casca de algodão encontrado por diferentes autores:

MS, matéria seca; PB, proteína bruta; FB, fibra bruta; EE, extrato etéreo; MM, matéria mineral; FDN, fibra em detergente neutro; FDA, fibra em detergente ácido.

Apesar do elevado teor de fibra, alguns autores observaram que o

consumo de ração foi maior quando da utilização de casca de algodão

como fonte de volumoso, o que pode estar associado à boa palatabilidade,

à maior taxa de passagem de partículas, ou a características inerentes da

fibra deste subproduto.

casca de algodão

Autores MS PB EE MM FDN FDA

% % na matéria seca

Jorge, 2005 92,2 10,9 3,3 - 83,7 62,3

Magalhães et al., 2005 88,1 8,2 5,3 2,7 78,0 -

Chizzotti et al., 2005 87,4 8,1 2,9 - 79,0 61,7

Kazama, 2007 90,2 4,3 1,5 2,4 91,6 59,6

Média 89,5 7,9 3,25 2,5 83,1 61,2

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Chizzotti et al. (2005) avaliaram o consumo e a digestibilidade de

dietas com níveis crescentes de casca de algodão peletizada como

volumoso (0, 10, 20 e 30%) em substituição parcial à silagem de capim-

elefante, sendo a dieta total constituída de 60% de volumoso, na base

seca (Tabela 20).

Tabela 20: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes

níveis de inclusão da casca de algodão:

% na material seca Níveis de casca de algodão

0 10 20 30

Silagem de capim-elefante 60 50 40 30

Casca de algodão 0 10 20 30 Grão de sorgo 32,49 32,65 32,76 32,87

Farelo de soja 4,50 4,50 4,50 4,50

Uréia 1,95 1,80 1,70 1,60 Sulfato de amônia 0,19 0,18 0,17 0,16

Sal comum 0,25 0,25 0,25 0,25 Fosfato bicálcico 0,10 0,10 0,10 0,10

Calcário 0,50 0,10 0,10 0,10 Premix mineral 0,02 0,02 0,02 0,02

PB 13,27 13,24 13,35 13,46 FDN1 47,88 47,97 48,05 48,13 1Corrigido para cinzas e proteína. Adaptado de Chizzotti et al. (2005).

Os autores observaram um aumento linear no consumo de

nutrientes com o aumento na proporção de casca de algodão na dieta

(Tabela 21).

O consumo de matéria seca está diretamente relacionado ao teor de

FDN na dieta. Quanto maior o nível de FDN, menor será o consumo, de

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forma que o consumo deva se estabilizar quando o consumo de FDN

esteja próximo a 1,2% do peso vivo/dia (Mertens, 1994).

Apesar da FDN ter sido utilizada como principal componente químico

na estimativa do consumo de forragens, ela não pode ser considerada

isoladamente para predizer o consumo, uma vez que existem variações

em relação ao tamanho de partícula, fragilidade da partícula, taxa de

passagem, digestibilidade da FDN e características inerentes da fibra.

Tabela 21: Consumo e coeficiente de digestibilidade de dietas com

diferentes níveis de inclusão de casca de algodão:

Níveis de casca de algodão

0 10 20 30 Efeito

Consumo de MS Kg/dia 6,63 7,44 7,62 8,26 Linear

% do peso vivo 2,46 2,89 2,97 3,14 Linear

Consumo de FDN cp Kg/dia 2,87 3,33 3,43 3,76 Linear

% do peso vivo 1,06 1,30 1,34 1,43 Linear

Digestibilidade

MS 54,87 53,99 55,56 54,84 NS FDN cp 32,60 33,17 36,26 34,87 NS 1Corrigido para cinzas e proteína. Adaptado de Chizzotti et al. (2005).

Isso é comprovado pelos resultados observados em relação ao

consumo de casca de algodão. Diversos experimentos têm demonstrado

que o consumo de fibra é maior quando da utilização da casca de algodão

como fonte de volumoso. Kazama (2007) observou consumo de FDN de

até 1,88% do peso vivo/dia quando usou 21% da dieta em casca de

algodão. Estes resultados comprovam a necessidade de investigação de

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

outros fatores que poderiam estar envolvidos na capacidade do animal em

ingerir fibra.

Há uma relação direta entre o consumo de fibra e sua

digestibilidade, onde o consumo voluntário aumenta com a maior

digestibilidade da fibra. Maior digestibilidade da fibra representa maior

velocidade de esvaziamento ruminal, o que resultaria em menor limitação

física do enchimento do rúmen sobre o consumo de nutrientes.

No mesmo trabalho, Chizzotti et al. (2005) não observaram

diferença na digestibilidade de nutrientes de dietas com diferentes níveis

de casca de algodão (Tabela 21). Por outro lado, alguns autores têm

demonstrado diminuição da digestibilidade de nutrientes com o aumento

nos níveis de casca de algodão. Assim, apesar da casca de algodão

responder com maior consumo de nutrientes, sua digestibilidade seria

menor, o que poderia comprometer o desempenho animal.

O efeito positivo da fibra da casca de algodão sobre o consumo de

fibra já foi demonstrado em alguns trabalhos (Chizzotti et al., 2005 e

Kazama, 2007). No entanto, é importante verificar se este efeito positivo

também se manifesta em aumento no desempenho animal, quer seja no

ganho de peso ou na produção de leite.

Magalhães et al. (2005) avaliaram o ganho de peso de novilhos

terminados em confinamento e alimentados com níveis crescentes de

casca de algodão. Os autores trabalharam com até 30% de casca de

algodão em substituição à silagem de capim elefante (Tabela 22).

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Tabela 22: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes

níveis de inclusão da casca de algodão:

% na matéria seca Níveis casca de algodão 0 10 20 30

Silagem de capim elefante 60 50 40 30

Casca de algodão 0 10 20 30

Sorgo em grão moído 32,49 32,65 32,76 32,87 Farelo de soja 4,5 4,5 4,5 4,5

Uréia 1,95 1,80 1,70 1,60

Sulfato de ammonia 0,19 0,18 0,17 0,16 Premix mineral 0,37 0,37 0,37 0,37

Calcareo 0,5 0,5 0,5 0,5

PB 13,35 13,30 13,41 13,52

EE 2,38 2,76 3,13 3,50

FDN 49,09 49,46 49,84 50,21 Adaptado de Magalhães et al. (2005).

Magalhães et al. (2005) observaram maior consumo de nutrientes

para os novilhos alimentados com maior nível de casca de algodão. O

consumo de FDN chegou a 1,63% do peso vivo para a dieta com 30% de

inclusão de casca de algodão. Novamente acima de 1,2% preconizado por

Mertens (1994) como valor limite para o consumo de FDN.

O ganho de peso foi semelhante para todas as dietas testadas

(Tabela 23). Estes resultados confirmam a possibilidade de utilização de

até 30% de casca de algodão na engorda de bovinos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 23: Desempenho de novilhos alimentados com níveis crescentes

de casca de algodão:

Níveis casca de algodão

0 10 20 30

Peso vivo inicial, kg 230 229 228 228

Peso vivo final 331 330 329 325 Ganho médio diário, kg/dia

1,27 1,38 1,21 1,34

Consumo, matéria seca, kg/dia 7,80 7,98 8,77 8,15

matéria seca, % PV1 2,73 2,81 3,03 3,38

FDN, % PV1 1,27 1,33 1,45 1,63 Conversão alimentar 6,14 5,75 7,32 6,07 1Efeito linear. Adaptado de Magalhães et al. (2005).

Kononoff e Heinrichs (2003) avaliaram o efeito da inclusão da casca

de algodão em substituição parcial à silagem de milho para vacas de leite

no terço inicial de lactação. Foram testadas duas silagens de milho

(tamanho de partícula longa (22 mm) ou curta (5 mm) associadas ou não

à casca de algodão (8% da matéria seca da dieta). Os ingredientes e a

composição química das dietas podem ser visualizadas na Tabela 24.

Observou-se que a produção e a composição do leite foram

semelhantes entre os tratamentos avaliados. No entanto, as dietas com

casca de algodão promoveram maiores consumos de matéria seca e de

FDN, o que resultou em melhor condição corporal para as vacas

alimentadas com casca de algodão (Tabela 25).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 24: Ingredientes e composição química de dietas para vacas de

leite com dois tamanhos de partículas da silagem associada ou não às

cascas de algodão:

% na matéria seca Fibra longa

Fibra longa + Casca de algodão

Fibra curta

Fibra curta + Casca de algodão

Silagem de milho 57,4 45,8 57,4 45,8

Casca de algodão 0 7,8 0 7,8

Milho moído 11,2 17,2 11,2 17,2 Soja em grão 6,1 10,4 6,1 10,4

Resíduo de destilaria 6,9 0,9 6,9 0,9

Trigo 6,9 6,0 6,9 6,0 Farelo de soja 6,7 7,9 6,7 7,9

Uréia 0,35 0,42 0,35 0,42

Calcário 1,48 1,58 1,48 1,58 Farinha de origem animal

1,8 0,9 1,8 0,9

Premix mineral e vitamínico

1,14 1,13 1,14 1,13

PB 18,4 17,7 18,0 19,2 FDN 29,1 31,5 29,9 32,3

EE 5,1 5,1 4,7 4,6 Adaptado de Kononoff e Heinrichs (2003)

O efeito positivo sobre a condição corporal foi principalmente

associado à dieta com silagem de milho com menor tamanho de partícula.

Enquanto que nas dietas com silagem de maior tamanho de partícula

houve perda de peso no período, para as dietas com silagem de milho

com menor tamanho de partícula houve um ganho de peso no mesmo

período. Este resultado é importante, pois melhor condição corporal no

terço inicial de lactação pode favorecer o retorno ao cio mais precoce,

diminuindo assim o intervalo entre partos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Assim, além do efeito positivo do menor tamanho de partículas

sobre o processo de ensilagem (maior facilidade de compactação),

silagens confeccionadas com o milho cortado a 5 mm poderão favorecer

também a condição corporal de vacas de leite, sem comprometer a

produção e a composição do leite.

Tabela 25: Desempenho de vacas de leite alimentadas com dietas com

dois tamanhos de partículas da silagem associada ou não às cascas de

algodão:

Fibra longa

Fibra longa + Casca de algodão

Fibra curta

Fibra curta + Casca de algodão

Consumo de matéria seca

Kg/dia 25,69 27,60 26,10 28,31 % PV 3,82 4,06 3,85 4,14

Consumo de FDN, % PV

1,07 1,23 1,13 1,31

NDT % 69 69 66 66

Variação no PV -0,42 -0,11 0,06 0,12

Produção de leite, kg/dia

47,5 48,5 49,3 48,7

Produção de leite, kg/dia corrigido

48,3 48,2 47,7 48,3

% Gordura 3,61 3,49 3,44 3,48 Produção de gordura kg/dia

1,71 1,68 1,66 1,69

Adaptado de Kononoff e Heinrichs (2003)

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6. Farelo de algodão

O farelo de algodão é obtido a partir da moagem da torta de

algodão. O farelo pode ser feito apenas de torta, ou quando misturado às

cascas de algodão, dará origem ao farelo de algodão com casca. É por isso

que a composição química do farelo de algodão é bastante variada.

Quanto maior a proporção de casca de algodão no farelo, menor o teor de

proteína bruta e maior o teor de fibra no farelo.

Assim, a qualidade nutricional do farelo de algodão vai depender da

proporção de casca adicionada. Maior proporção de casca, além de

resultar em menor teor protéico, também irá possuir menor

digestibilidade, o que poderá comprometer o desempenho animal quando

este farelo for rico em casca.

Uma maneira prática de avaliar a qualidade do farelo de algodão é

pelo seu teor de proteína bruta. Quanto menor o teor de proteína bruta,

maior a proporção de casca, menor a digestibilidade e maior a

probabilidade em comprometer o desempenho animal.

Uma vez que o farelo de algodão apresenta maior teor de fibra

quando comparado ao farelo de soja, sua utilização poderia resultar em

comprometimento do desempenho animal, principalmente para animais

de alta produção. Por isso, diversos trabalhos foram e estão sendo

desenvolvidos com a finalidade de avaliar a substituição do farelo de soja

pelo farelo de algodão, quanto aos efeitos sobre a digestibilidade da dieta,

consumo de nutrientes e o desempenho animal.

Zinn et al. (1997) testaram níveis crescentes de farelo de algodão

na dieta de novilhos em confinamento. Os autores não padronizaram para

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

o teor de proteína bruta na dieta, de forma que com o aumento na

proporção de farelo de algodão, a proporção de milho era diminuída, o

que resultava em aumento no teor de proteína bruta das dietas com o

aumento do farelo de algodão (Tabela 26).

Tabela 26: Ingredientes e composição química de dietas com níveis

crescentes de farelo de algodão:

Níveis de farelo de algodão

% na matéria seca 8 16 24 32

Feno de alfafa 6 6 6 6

Feno de capim Sudão 6 6 6 6

Milho 65,85 57,85 49,85 41,85 Sebo 4 4 4 4

Melaço 8 8 8 8

Farelo de algodão 8 16 24 32 Calcáreo 1,5 1,5 1,5 1,5

Premix mineral 0,65 0,65 0,65 0,65

PB 11,93 14,82 17,70 20,59

EE 7,13 6,89 6,66 6,43

FDA 7,88 9,16 10,44 11,72 Adaptado de Zinn et al. (1997).

O ganho de peso e a eficiência alimentar dos animais diminuiu com

o aumento na proporção de farelo de algodão (Tabela 27). Vale destacar

que esta queda no desempenho não pode somente ser associada ao farelo

de algodão, mas sim, ao aumento no teor de proteína bruta da dieta.

Para novilhos, a exigência em proteína bruta é próxima a 12%. O

fornecimento de dietas com valores acima da exigência faz com que o

animal tenha que metabolizar este excesso de nitrogênio, o que irá

resultar em desvio de gasto energético do ganho de peso para a excreção

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

de nitrogênio urinário. Os autores recomendam que para a engorda de

novilhos, o teor de farelo de algodão não ultrapasse 16% da dieta.

Tabela 27: Desempenho de novilhos alimentados com níveis crescentes

de farelo de algodão na ração:

Níveis de farelo de algodão

8 16 24 32

Peso vivo inicial, kg 288 297 296 295 Peso vivo final1, kg 497 497 485 480

Ganho médio diário1, kg/dia 1,55 1,52 1,41 1,38

Consumo de matéria seca, kg/dia 7,85 7,89 8,08 8,06 Conversão alimentar1 5,38 5,6 6,03 6,19 1Efeito linear. Adaptado de Zinn et al. (1997)

Pode parecer insensato a realização de tal experimento, uma vez

que parece lógico que o fornecimento protéico de quantidade acima da

exigência, além de prejudicar o desempenho, resultará em prejuízo

econômico, uma vez que grande parte do nitrogênio acaba por ser

excretado. No entanto, os autores justificam este trabalho pelo fato de

alguns produtores, pela avaliação do custo de alguns subprodutos,

acabam por substituir fontes de energia por fontes protéicas, ou vice

versa. Esta substituição pode resultar em comprometimento do

desempenho animal e prejuízo do aproveitamento da dieta. Estes

resultados, portanto, apenas confirmam a necessidade do balanceamento

adequado das dietas para que o desempenho animal possa então ser

maximizado.

Experimento semelhante foi realizado por Grings et al. (1991). Estes

autores testaram níveis crescentes de inclusão de farelo de algodão para

vacas de leite, somado ao aumento proporcional da proteína bruta da

dieta. Os ingredientes utilizados, a composição química das dietas e o

desempenho estão apresentados na Tabela 28.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Os autores não chegaram a observar queda na produção de leite

quando o teor de proteína bruta da dieta estava acima das exigências. No

entanto, a eficiência de utilização do alimento foi menor para a dieta com

maior teor de proteína. Os autores recomendaram então que o teor de

proteína na dieta de vacas de leite em início de lactação não deveria estar

acima de 17,5%.

Tabela 28: Ingredientes, composição química da dieta e desempenho de

vacas de leite alimentadas com níveis crescentes de proteína bruta na

dieta:

Níveis de Proteína Bruta

13,8 17,5 20,4 23,9 Efeito

Ingredientes, % na MS

Feno de alfafa 28,9 28,9 28,9 28,9 - Silagem de alfafa 12,5 12,5 12,5 12,5 -

Caroço de algodão 10,3 10,3 10,3 10,3 -

Trigo 27,0 21,8 16,7 12,5 -

Milho 17,8 14,4 11,5 8,1 - Farelo de algodão - 8,6 16,6 24,2 -

Premix mineral 3,5 3,5 3,5 3,5 -

Nutrientes, % na MS

FDN 40,8 40,6 40,1 40,7 -

EE 4,5 4,5 4,1 4,0 -

Desempenho

Consumo de MS, % do PV 3,9 3,9 4,0 4,2 Linear

Produção de leite kg/dia 36,6 38 37,9 38,6 Linear Gordura no leite, % 3,40 3,54 3,48 3,49 NS Adaptado de Grings et al. (1991)

Jorge (2005) utilizou casca de algodão, caroço de algodão e farelo

de algodão na dieta de novilhos confinados. Foram avaliadas duas dietas:

uma sem caroço de algodão e outra com caroço e farelo de algodão.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Como volumoso, para as duas dietas, foram utilizados a silagem de milho

e a casca de algodão (Tabela 29).

Tabela 29: Ingredientes e composição química da dieta de novilhos confinados: % na matéria seca Sem caroço Com caroço

Silagem de milho 18 18 Casca de algodão 27 27

Milho 45,31 36,44

Farelo de algodão 9,04 2,85 Caroço de algodão - 15,06

Sal mineral 0,32 0,32

Calcáreo 0,32 0,32 PB 12,8 12,6

FDN 42 47 EE 3,3 5,7 Adaptado de Jorge, 2005.

Apesar do consumo de alguns nutrientes ser maior para a dieta sem

caroço de algodão, o ganho de peso dos novilhos foi semelhante entre as

duas dietas avaliadas (Tabela 30).

Tabela 30: Desempenho de novilhos alimentados com diferentes subprodutos do algodão: Sem caroço Com caroço

PVI 406 406 PVF 521 523

GMD 1,12 1,12

Consumo MS kg/dia 14,6a 13,5b % PV 3,12a 3,01b

FDN % PV 1,37 1,41

CA 13,5 12,3 RC 48 47

EGC 4,79 5,08 Adaptado de Jorge, 2005.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Pina et al. (2006) estudaram o consumo de nutrientes, a

digestibilidade e o desempenho de vacas leiteiras alimentadas com 60%

de silagem de milho e 40% de concentrado contendo diferentes fontes de

proteína. Foram avaliados quatro concentrados com diferentes fontes de

proteína:

• Farelo de soja;

• Farelo de algodão com 38% de proteína bruta;

• Farelo de algodão com 28% de proteína bruta;

• Farelo de soja adicionado a 5% da mistura uréia e sulfato de

amônio.

As proporções de ingredientes nos concentrados podem ser

visualizadas na Tabela 31.

Tabela 31: Ingredientes e composição química de concentrados para

vacas leiteiras:

% na matéria seca Farelo de Soja

Farelo de Algodão

38

Farelo de Algodão

28

Farelo de soja e uréia

Fubá de milho 43,67 29,81 15,42 62,01

Farelo de trigo 10 10 10 10

Farelo de soja 41,61 - 14,39 19,77 Farelo de algodão 38 - 55,47 - -

Farelo de algodão 28 - - 55,47 -

Uréia / AS 1,5 1,5 1,5 5,0 Mistura mineral 3,22 3,22 3,22 3,22

PB 14,71 15,37 14,65 14,62

FDN 44,02 49,39 52,90 43,87 EE 2,26 2,45 1,91 2,45

Adaptado de Pina et al. (2006)

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Os autores observaram que a substituição do farelo de soja pelo

farelo de algodão proporcionou menor digestibilidade da materia seca,

proteína bruta e da fibra e, portanto, menor teor de nutrientes digestíveis

totais (NDT) disponíveis para os animais (Tabela 32).

Por outro lado, a substituição do farelo de soja pelo farelo de algodão

proporcionou maior consumo de alguns nutrientes como proteína bruta,

extrato etéreo e FDN. Como conseqüência, a produção de leite foi

semelhante para todos os concentrados avaliados, apesar da menor

eficiência de produção para as vacas alimentadas com farelo de algodão

(Tabela 32). O teor e a produção de gordura no leite também foram

semelhantes entre as dietas, porém a produção de proteína no leite foi

menor para as dietas com caroço de algodão.

A proteína do farelo de algodão possui menores teores de lisina e

metionina quando comparado ao farelo de soja, o que confere menor

valor biológico para o farelo de algodão. Vacas leiteiras, principalmente no

início de lactação, necessitam de uma fonte protéica de alto valor

biológico, o que pode ser suprido parcialmente pela proteína microbiana e,

como complemento, pela proteína do alimento. Assim, o menor valor

biológico do farelo de algodão pode ter contribuído para a menor produção

de proteína no leite das vacas alimentadas com o farelo de algodão.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Tabela 32: Desempenho de vacas leiteiras alimentadas com diferentes

fontes protéicas no concentrado:

Farelo de Soja

Farelo de Algodão

38

Farelo de Algodão

28

Farelo de soja e uréia

Consumo, kg/dia

MS 18,96 19,38 19,56 18,57

PB 3,06 3,23* 3,12 2,92 FDN 7,85 8,89* 9,90* 7,36

Consumo, % do PV

MS 3,29 3,33 3,40 3,22

FDN 1,36 1,53* 1,72* 1,27 Digestibilidade, %

MS 68,19 61,81* 59,85* 66,45*

PB 72,57 66,18* 68,39* 71,54 FDN 50,87 44,97* 43,68* 47,43*

NDT, % 72,54 64,63* 63,05* 72,48

Produção de leite, kg 23,85 23,76 22,69 23,42 Eficiência1 1,25 1,22 1,16* 1,25

Produção de proteína no leite

g/dia 756,92 702,36* 702,13* 732,25

% 3,19 2,98* 3,12 3,17

Produção de gordura no leite

g/dia 911,50 825,01 919,79 862,50

% 3,85 3,53 4,07 3,73 1 kg de leite/kg de MS ingerida; *Diferem do controle (Farelo de soja) pelo

teste de Dunnett (P<0,05).

Adaptado de Pina et al. (2006)

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

Em outro trabalho realizado no Brasil, Imaizumi (2005) testou a

substituição do farelo de soja pelo farelo de algodão para vacas de alta

produção leiteira. Três dietas foram testadas:

• Farelo de soja como suplemento protéico único;

• Farelo de soja e Farelo de algodão na proporção de 15% da matéria

seca;

• Farelo de algodão como suplemento protéico único (30% da matéria

seca).

Os ingredientes da dieta e sua composição química estão na Tabela

33.

Tabela 33: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes fontes protéicas:

% na matéria seca Farelo de Soja

Farelo de Algodão 15%

Farelo de Algodão 30%

Silagem de milho 45,98 45,98 45,98

Farelo de soja 21,56 10,76 - Farelo de algodão - 15 30

Milho moído 13,27 10,86 8,36

Polpa cítrica peletizada 13,27 10,86 8,36 Uréia 0,24 0,24 0,28

Vitaminas + minerais 2,51 2,51 2,51

Bicarbonato de sódio 0,71 0,71 0,71

sebo 2,46 3,08 3,80 PB 17,3 17,3 17,3

FDN 30,7 32,9 35,0 EE 5,5 6,0 6,6 Adaptado de Imaizumi (2005).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

O autor relatou que a inclusão do farelo de algodão na dieta resultou

em diminuição na produção de leite e queda na proporção de proteína no

leite (Tabela 34). Assim, apesar do efeito negativo sobre a produção de

leite, o autor recomenda a utilização deste farelo, desde que seu preço

represente no máximo 63% do preço do farelo de soja.

Tabela 34: Desempenho de vacas de leite alimentadas com diferentes fontes de proteína: Farelo de

Soja Farelo de Algodão 15%

Farelo de Algodão 30%

Consumo de MS, kg/dia 21,52 22,26 21,71

Produção de leite, kg/dia 34,75a 33,43b 33,21b Produção de leite corrigido, kg/dia

34,78 35,24 35,45

Gordura no leite

% 3,49b 3,82a 3,89a

Kg/dia 1,23b 1,27ab 1,29a

Proteína no leite % 2,91a 2,84b 2,83b

kg/dia 1,01a 0,94b 0,94b

Variação de peso 18,08a 7,47b 10,17b Adaptado de Imaizumi (2005).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

7. Conclusão:

Os subprodutos do algodão são importantes ingredientes para serem

utilizados na alimentação animal. É capaz de fornecer desde fontes

protéicas (caroço e farelo de algodão), fonte de fibra (caroço e casca de

algodão) até fonte de ácidos graxos insaturados (caroço de algodão).

Como qualquer outro ingrediente, é importante conhecer as

particularidades dos subprodutos do algodão para que possam ser

utilizados na alimentação animal da forma mais correta possível.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

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