supressão da cobertura vegetal como fator de alteração da...
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V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis - SC – Brasil _______________________________________________________
Supressão da Cobertura Vegetal como fator de alteração da
Temperatura do Ar em Teresina – PI
Sônia Maria Ribeiro Feitosa Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente,
PRODEMA/TROPEN/UFPI, Teresina – PI, [email protected]
Jaíra Maria Alcobaça Gomes
Professora Dra. do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, PRODEMA/TROPEN/UFPI, Teresina – PI,
Carlos Sait Pereira Andrade Professor Dr. do Departamento de Geografia e História, CCHL/UFPI, Teresina – PI,
Resumo
O processo de urbanização na cidade de Teresina - PI transforma a superfície, reduz áreas verdes, altera o balanço de energia, contribuindo, portanto para alterar o clima da cidade. O presente trabalho teve como objetivo analisar o comportamento da temperatura do ar na cidade de Teresina - PI, entre 1977 e 2009, enfocando a importância da urbanização e perda da vegetação no processo de modificação do ambiente urbano natural e das condições climáticas no início do período. Utilizou-se a técnica de sensoriamento remoto na identificação do índice de vegetação existente e na estimativa da temperatura da superfície do solo, através da composição do campo térmico. Esses recursos subsidiaram a análise dos dados meteorológicos de temperatura do ar mínima, temperatura do ar máxima e temperatura do ar média, na validação dos resultados encontrados. O período 1992 a 2009 apresentou-se mais quente do que 1977 a 1991, quando a cidade ainda dispunha de maior índice de vegetação, reforçando a indicação da arborização urbana como parâmetro importante na formação de microclima e em melhor qualidade de vida, no tocante ao conforto térmico. Temperaturas abaixo da média foram verificadas nos anos 1985 e 1986, sendo os anos 1983, 1998, 2002, 2004 e 2005, considerados os mais quentes da série. A análise indicou que maiores aumentos foram observadas de agosto a novembro, sendo outubro o mês que apresentou maior média de temperatura do ar.
Palavras-chave
Urbanização, vegetação, temperatura do ar.
Introdução
A concentração da população na zona urbana da cidade tornou-se questão discutida em pautas
sobre o meio ambiente e problemas decorrentes deste processo, principalmente, quando a cidade
cresce de forma desordenada. As modificações ocorridas no espaço urbano advindas da forma de
crescimento da cidade e da redução das áreas verdes alteram o comportamento dos elementos
meteorológicos e conseqüentemente modificam o clima da cidade. As áreas verdes, portanto,
constituem-se em fator de influência na formação ou alteração do clima de determinado local.
As altas temperaturas registradas em Teresina são reflexos, sobretudo, de condições naturais,
tais como sua localização próxima a Equador terrestre e da sua baixa altitude. Entretanto, no
decorrer dos tempos, a cidade passou por mudanças provocadas pelo aumento da população,
que, na busca em adequar-se ao ambiente em se apropriou, modificou a superfície do solo
fazendo surgir edificações, suprimindo a vegetação, que é um fator importante na manutenção da
umidade relativa do ar, na promoção de sombreamento e de conforto térmico.
A análise do comportamento da temperatura do ar na cidade de Teresina - PI ao longo de 33
anos, enfocando a importância da urbanização e da perda da vegetação no microclima da cidade
e na modificação das condições climáticas predominantes no início do período analisado reforça a
importância da conservação das áreas verdes existentes, como forma de amenizar o desconforto
causado pelas altas temperaturas.
1 Urbanização como modificador do clima
O aumento da população acontece na proporção em que ocorre o crescimento de áreas
edificadas para atender a demanda básica do contingente de pessoas que são introduzidas em
espaços reservados para habitação, comércio, serviços e indústrias.
Landsberg (1981), Mascaró (1996) e Sorre (2006) afirmam que as alterações no comportamento
dos elementos meteorológicos são atribuídas, quase sempre, às mudanças espaciais provocadas
pela urbanização, que, transformando o espaço natural, alteram também as condições ambientais
básicas que definem e mantêm o clima de uma cidade. Dentre as diversas transformações
ocorridas no meio urbano, pode-se citar a supressão da cobertura vegetal, um dos fatores que
contribui para alterar o clima da cidade, através de variações nos seus elementos meteorológicos.
No final dos anos 1970, Monteiro (1976), pioneiro em estudos sobre o clima urbano no Brasil,
conclui que o excesso de atividades praticadas pelo homem é responsável pela degradação do
ambiente natural, podendo formar um novo clima - o clima urbano. Mais tarde, Lombardo (1985) e
Romero (2001), na mesma linha, confirmam esses resultados.
Em pesquisa realizada em São Paulo, Lombardo (1985) atribui ao meio urbano as mudanças que
ocorrem no clima, quando verificou que temperaturas mais altas foram observadas em áreas de
maior crescimento vertical, com alta densidade demográfica e pouca quantidade de vegetação.
A importância da vegetação na temperatura do ar também é destacada por Mascaró (1996), em
estudo realizado em Porto Alegre - RS, quando verificou que a temperatura do ar em áreas
expostas à radiação solar é de 3,0 ºC a 4,0 ºC maior do que entre agrupamentos arbóreos. Em
áreas arborizadas, a umidade relativa do ar é maior entre 3,0 % e 10,0 % do que em áreas sem,
ou com pouca vegetação, sendo essas amplitudes maiores em períodos secos.
Os reflexos da retirada da vegetação foram verificados em Campina Grande – PB, quando Ramos
(2002) estudou o nível de arborização urbana em três décadas do período 1971 a 2000. À medida
em que eram acrescidas novas formas de ocupação do solo e a vegetação substituída pela massa
edificada, era verificado acréscimo da temperatura do ar, principalmente na última década
estudada, fato atribuído ao aumento da população que provocou mudanças no padrão urbanístico
da cidade, caracterizado pela ocupação do solo e maior adensamento nas áreas centrais.
Cavalheiro et. al (1999) conceitua áreas verdes como sendo espaços livres onde o elemento
fundamental de composição é a vegetação, tendo no mínimo 70% da área em solo permeável
(sem laje); que tenha função ecológico-ambiental, estético e de lazer. Outros autores como Lima
et al. (1994), Mazzei et al (2007), Troppmair e Galina (2003) e Rosset (2005) discorrem sobre as
mais diversas conceituações de áreas verdes, entretanto, ainda, não há uma definição
consensual.
Os estudos apresentados pelos autores mostraram a relação da arborização com a temperatura
de centros urbanos, servindo de referência e melhor compreensão para a realização da análise do
comportamento da temperatura do ar na cidade de Teresina-PI.
2 Metodologia
Teresina, capital do estado do Piauí, possui coordenadas geográficas 05º05’12’’ Sul e 42º48’42’’
Oeste e altitude média de 72m, ocupando área territorial de 1.756 km2, (IBGE, 2009) sendo
243,61 km2, correspondentes à área urbana. O clima da cidade é C1sA’a”, caracterizado como
subúmido seco, megatérmico, com excedente hídrico moderado no verão. No trimestre setembro-
outubro-novembro, a concentração da evapotranspiração potencial é de 32,1% (BASTOS;
ANDRADE JÚNIOR, 2008).
Cunha, Rufino e Ideião (2009), utilizaram a técnica do sensoriamento remoto para identificar a
relação entre o aumento de temperatura da superfície da superfície e o crescimento da cidade de
Campina Grande-PB, verificando que, ao longo do processo de ocupação da cidade, houve
diminuição de áreas verdes e aumento da temperatura do solo. Neste processo, as bandas
termais são transformadas em temperatura aparente da superfície do solo, cujas medidas são
obtidas através de sensor infravermelho termal, que fornece a temperatura da superfície da cidade
(CUNHA; RUFINO; IDEIÃO, 2009).
No estudo, utilizou-se técnica de sensoriamento remoto a partir de duas imagens de satélite
LANDSAT- 5, uma correspondente ao dia 14/08/1989, representando o período 1977 a 1991, e
outra do dia 09/11/2009 pertencente ao período de 1992 a 2009, ambas disponibilizadas pelo
Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE, 2010), no seu sítio eletrônico www.inpe.br. A correção de
e ajustes de imagens por meio do software SPRING 4.3.3, seguidos de realce e contraste,
permitiram visualizar e classificar os elementos urbanos captados nas imagens, enfatizando a
extensão de área arborizada e área construída do sítio urbano. O comparativo entre as duas
imagens permitiu identificar a dinâmica espaço-temporal das áreas arborizadas e da urbanização
nos dois períodos estudados da série 1977 a 2009, determinando, quantitativamente, suas áreas
respectivas em cada período.
Como o objetivo principal do estudo foi verificar variações no clima da cidade, não se adentrando
muito às terminologias, os termos “áreas verdes”, “cobertura vegetal” e “arborização” usados no
texto, representam a vegetação visualizada nas imagens de satélite LANDSAT 5 utilizadas no
trabalho.
Utilizou-se para o cálculo do Índice de Áreas Verdes (IAV), a fórmula adotada por HENKE-
OLIVEIRA et al (1994); HARDER (2002), dada pela soma de todas as áreas verdes dividida pela
população referente à área de estudo, cuja expressão é:
IAV=∑Total de áreas verdes/População
O fato de áreas verdes neste trabalho, serem representadas por toda vegetação identificada pelo
satélite LANDSAT 5, não se restringindo somente a uma modalidade específica, o índice de áreas
verdes encontrado pode ser um valor alto se comparado a outros índices calculados a partir de
diferentes critérios de classificação.
Foram utilizadas séries históricas (1977 a 2009) de dados de temperatura do ar (média, máxima e
mínima) fornecidas pela Estação Meteorológica Convencional do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), sob a responsabilidade e operação da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa Meio-Norte, 2009), localizada na zona Norte da cidade. Os dados de
temperatura do ar, referentes à série estudada, foram divididos nos períodos (1977 a 1991) e
(1992 a 2009).
A análise estatística dos dados de temperatura do ar foi realizada através dos softwares SPSS 10,
na determinação das médias e testes de significância e, o Origen-5, na confecção dos gráficos. A
fragmentação na série temporal de 33 anos foi dividida em dois períodos, permitindo que fossem
observadas mudanças num período anterior e posterior à intensificação do processo de
urbanização da cidade de Teresina - PI.
3 Reflexos da urbanização no clima de Teresina- PI
A concentração populacional atua tanto como modificador do espaço físico, como das variantes
econômicas e ambientais. Em Teresina esse processo aconteceu mais intensamente nos anos
1980, quando da implantação de políticas habitacionais do governo (FAÇANHA, 1998).
A Tabela 1 apresenta a população e a densidade demográfica de Teresina referente ao período
de 1970 a 2000.
Tabela 1 – Evolução da população total de Teresina no período de 1970 a 2009
Ano População total (hab) Densidadedemográfica (hab/km²)
1970 220.487 125,6
1980 377.774 215,1
1991 599.272 341,3
2000 715.360 407,4
Fonte: IBGE - Censos demográficos, 2010a.
A população estimada para 2009 em Teresina foi de 802.537 habitantes (IBGE, 2010b), um
aumento de 264 % entre 1970 e 2009, implicando em crescente expansão urbana e
conseqüente perda da vegetação. A densidade demográfica em 1970 era 125,6 hab/km2,
atingindo em 2009, 457,0 hab/km2, indicando que, para alocar todo o contingente populacional,
a vegetação foi suprimida.
A Figura 1 apresenta mapas da ordenação do espaço urbano de Teresina, PI, em diferentes
épocas, facilitando o comparativo do processo evolutivo da população com alterações no
ambiente, desde o ano de 1850 até 2002.
Figura 1 – Mapas da evolução urbana de Teresina, PI no período de 1850 a 2002.
Fonte: Dados básicos TERESINA, 2010.
A cidade de Teresina de 1850 até 2002 passou por grande transformação espacial, estando, em
1970, já bastante urbanizada, continuando este processo de expansão ainda nos anos 1980.
Façanha (1998) e Lima (2003) destacam que, nesse período, a cidade foi contemplada com a
construção de vários conjuntos habitacionais, sendo, a maioria, na zona Sul, promovendo o
crescimento espacial, para aquela região. Agregada à expansão urbana da cidade de Teresina,
acontece a redução de áreas verdes, dando lugar às construções destinadas às moradias da
população ou outros estabelecimentos para atender às necessidades da população.
Os mapas dispostos na Figura 2 permitem visualizar a dinâmica espacial da urbanização e da
arborização na cidade de Teresina – PI, mostrando o comportamento da temperatura da
superfície do solo como resultado do processo de urbanização, através de imagens de satélite,
referentes aos anos 1989 e 2009, compreendidos na série completa estudada (1977 a 2009).
.
Figura 2 – Agrupamento de imagens em 1989 e 2009, captadas pelo satélite Landsat 5, banda 6, representando o perímetro urbano de Teresina-PI: a) Sítio urbano de Teresina-PI; b) classificação dos elementos encontrados no sítio urbano, através de sensoriamento remoto; c) campo termal transformado em temperatura aparente do solo. Fonte: INPE, 2010a; MONTEIRO, 2010.
A classificação usa como critério a similaridade espectral, onde elementos da imagem que se
apresentam semelhantes às amostras pré-determinadas como referência, são agrupados numa
mesma classe. As imagens de 1989 referem-se ao período da série (1977 a 1991), quando a
densidade demográfica da cidade era de 341,3 hab/km2 e Teresina possuía maior extensão de
áreas verdes.
As imagens de 2009, na segunda coluna da Figura 2 correspondem ao período (1992 a 2009),
onde é observado que a urbanização na cidade de Teresina já se encontra em nível mais elevado,
com densidade demográfica de 457,0 hab/km2. O curso dessa urbanização estendeu-se,
principalmente, para as zonas Leste e Sul, já estando, a região central, densamente construída. À
medida que a cidade se expande, cresce também o desmatamento, dando lugar às áreas
construídas.
A Figura 2c apresenta o campo térmico da cidade de Teresina – PI nos dois períodos a partir do
geoprocessamento de imagens captadas pelo satélite Landsat 5, mostrando o contraste de
temperatura do solo entre áreas arborizadas, áreas construídas e áreas descampadas (solos
expostos). Nas áreas arborizadas a temperatura do solo é mais elevada do que nas áreas com
vegetação. No centro da cidade estão concentradas construções e reduzido índice de
arborização, contribuindo para que as temperaturas sejam mais elevadas do que as áreas da
periferia. Em 2009, quando a quantidade de áreas verdes de Teresina apresentou-se reduzida em
relação ao ano de 1989, aumentaram, também, as áreas onde se concentram as temperaturas
mais elevadas.
Para maior compreensão do processo evolutivo da urbanização da cidade de Teresina-PI, a
Tabela 2 apresenta a classificação e quantidade de áreas dos elementos urbanos de interesse no
estudo (vegetação, urbanização, solo exposto/areia, água), detectados pelo satélite Landsat 5 e
classificados a partir da técnica de georeferenciamento de imagens.
Tabela 2 - Classificação e quantificação de elementos presentes no perímetro urbano de Teresina-PI, a partir do georeferenciamento e geoprocessamento de imagens do satélite LANDSAT 5 em 1989 e 2009.
Classificação de elementos que compõem o
perímetro urbano de Teresina - PI
Área (km²)
1989 2009
Vegetação 162,73 114,42
Urbanização 71,02 113,91
Solo exposto/areia 5,27 9,27
Água 4,59 6,01
Área total 243,61 243,61
Fonte: Dados básicos classificados por MONTEIRO, 2010.
No decorrer do período 1977 a 2009, houve redução de áreas verdes e aumento de áreas de solo
exposto na cidade de Teresina. Entre 1989 e 2009, a área ocupada aumentou 60,4 %, atingindo
113,91 km2, havendo, também, perda de vegetação.
Neste mesmo intervalo de tempo o perímetro urbano de Teresina perdeu 29,69% de sua
vegetação, demonstrando que são necessárias aplicações de medidas técnico-administrativas
que minimizem as alterações ambientais, que, segundo Ramos (2002), são capazes de gerar
subsistemas climáticos, que interferem na dinâmica atmosférica urbana.
De acordo com os dados obtidos pelas imagens de satélites e com a metodologia adotada neste
estudo, tem-se que o Índice de Área Verde de Teresina, em 1989, para a população referente ao
ano de 1991 é IAV= 271,5 m2/hab, sendo reduzido para 142,6 m2/hab em 2009.
Observou-se, portanto, que à medida que a população aumentou, o IAV da cidade diminuiu,
indicando a necessidade de estudos mais aprofundados que analisem a influência da supressão
da vegetação na temperatura do ar da cidade.
4 Comportamento da temperatura do ar
As temperaturas médias do ar, em Teresina, são consideradas baixas, quando seus valores são
inferiores a 27,0 ºC, e altas quando superiores a 28,9 ºC. A análise mostra que de 1977 a 2009,
não ocorreram temperaturas baixas (menor que 27,0 ºC) em setembro-outubro-novembro, assim
como não apresentaram temperaturas altas (maior que 28,9 ºC), os meses fevereiro-março-abril-
maio-junho-julho.
O comportamento da temperatura média do ar na cidade de Teresina - PI, ao longo dos 33 anos
analisados é representado no Gráfico 1, onde é mostrada a evolução da temperatura média do ar
referente à série temporal 1977 a 2009.
Gráfico 1 - Tendência da temperatura média do ar anual referente aos 12 meses do ano (1977-2009) em Teresina-PI. Fonte: Dados básicos da Embrapa Meio-Norte, 2010.
A cidade de Teresina apresenta altas temperaturas do ar durante todo o ano. No período
analisado, a média de temperatura do ar média é 28,0 ºC, da temperatura máxima do ar, 33,7 ºC
e da temperatura mínima do ar 22,2 ºC.
Entre os anos considerados mais frios, destacou-se 1985, quando foi registrada a menor média de
temperatura média do ar. Os anos mais quentes foram 1983 e 1998, que registraram as maiores
médias de temperatura média do ar no período analisado. De acordo com o INPE (2009), em
1985 foi registrada ocorrência de um la niña. Os anos 1983 e 1998 foram marcados por ocorrência
de el niño de magnitude forte. Esses fenômenos de larga escala foram predominantemente
responsáveis pelas condições extremas de temperatura observadas nos referidos anos.
No Gráfico 2 é apresentado o comportamento da temperatura média do ar mensal ao longo de 33
anos, referentes aos períodos 1977 a 1991 e 1992 a 2009, indicando os meses que apresentaram
maior aumento de temperatura do ar.
Comparando-se os dois períodos através do teste t, foi verificado que nos últimos 18 anos, as
temperaturas do ar em Teresina são mais altas nos meses compreendidos no período mais
quente (B-R-O-BRÓ), o que já era esperado, por conta da sazonalidade dos elementos
meteorológicos atuantes na época. Essas alterações provavelmente ocorreram devido ao
aumento da população desencadeando a redução de vegetação, aumento de áreas
impermeabilizadas e de áreas construídas, fatores que contribuem para o aumento de
temperatura do ar na cidade.
Gráfico 2 - Média mensal da temperatura média do ar nos períodos (1977 a 1991) e (1992 a 2009) na cidade de Teresina-PI. Fonte: Dados básicos da Embrapa Meio-Norte, 2010.
A temperatura média do ar referente ao período 1977 a 1991 é 27,7 ºC e do período 1992 a 2009
é 28,1 ºC, um aumento significativo de 0,4 ºC, verificado através do teste t, no nível 0,5 %.
A significância no aumento de temperatura média do ar verificado no segundo período (1992 a
2009) é atribuída aos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, principalmente ao mês
de outubro. Neste período do ano, compreendido na estação seca (sem chuvas), as temperaturas
são mais elevadas.
As médias de temperatura média do ar do período (jan-fev-mar-abr-mai) são diferentes de forma
significativa das médias de temperatura média do ar do período considerado B-R-O-BRÓ (set-out-
nov-dez). Salienta-se que a média do período jan-fev-mar-abr-mai é 27,3 ºC, enquanto a do B-R-
O-BRÓ é 29,4 ºC.
A análise de variância e do teste post hoc de Tukey indicam que a média de temperatura máxima
do ar na cidade de Teresina, é considerada alta, quando superior a 35,6 ºC, e baixa, se inferior a
31,9 ºC. Em nenhum ano da série compreendida de 1977 a 2009, foi registrada média anual de
temperatura máxima do ar inferior a 31,9 ºC ou superior a 35,6 ºC. Portanto, no período, não
houve temperatura máxima do ar considerada alta, nem temperatura do ar considerada baixa,
quando se analisa o período completo, ano a ano.
O comportamento da temperatura máxima do ar mensal ao longo do período 1977 a 2009 é
apresentado no Gráfico 3 indicando as médias de temperatura do ar nos períodos 1977 a 1991 e
1992 a 2009.
Gráfico 3 - Média mensal da temperatura máxima ar nos períodos (1977 a 1991) e (1992 a 2009) na cidade de Teresina-PI. Fonte: Dados básicos da Embrapa Meio-Norte, 2010.
Da mesma que a temperatura média do ar, a temperatura máxima do ar apresenta-se maior no
segundo período da série estudada. Sabe-se que causas naturais, como parâmetros
meteorológicos que regem as condições climáticas são responsáveis pelas altas temperaturas de
Teresina, PI, entretanto, observou-se que no segundo período analisado, as médias de
temperatura máxima do ar tornaram-se mais elevadas em todos os meses do ano, sugerindo que
ações antrópicas possam estar contribuindo para esse resultado.
As médias de temperatura máxima do ar do período B-R-O-BRÓ são significativamente diferentes
das médias do período chuvoso (jan-fev-mar-abr-mai) e também diferentes da temperatura
máxima do ar dos meses sem estação definida (jun-jul-ago). A média de temperatura máxima
anual do primeiro período (1977 a 1991) foi 33,5 ºC e do segundo período (1992 a 2009), 33,8 ºC,
um aumento de 0,3 ºC, sendo, maior aumento, verificado no mês de outubro.
A evolução da temperatura mínima do ar nos períodos (1977 a 1991) e (1992 a 2009), é
apresentada no Gráfico 4. A média de temperatura mínima do ar do primeiro período é 21,9 ºC e a
do segundo período 22,5 ºC, um incremento de 0,6 ºC.
Gráfico 4 - Média mensal da temperatura mínima do ar nos períodos (1977 a 1991) e (1992 a 2009) na cidade de Teresina-PI. Fonte: Dados básicos da Embrapa Meio-Norte, 2010.
As médias de temperatura mínima do ar da estação (jan-fev-mar-abr-mai) e as médias de
temperatura mínima do ar da estação (set-out-nov-dez), a partir da análise de variância e do teste
de Tukey, não apresentaram diferenças significativas entre si. Ou seja, as médias de temperatura
mínima do ar da estação das chuvas, estatisticamente, não são diferentes das temperaturas
mínimas doa ar da estação mais quente do ano (B-R-O-BRÓ), cujas temperaturas médias são as
mais altas.
A média de temperatura mínima do ar do primeiro período (1977 a 1991) é 21,9 ºC e a do
segundo período(1992 a 2009), é 22,5 ºC, um incremento significativo de 0,6 ºC no nível de 0,5%
do test t.
Os resultados da análise dos 12 meses do ano, quando analisadas as temperaturas do ar por
estações (B-R-O-BRÓ e chuvas) ou por mês, são diferentes.
5 Temperatura do ar no período chuvoso (janeiro a maio) e no B-R-O-BRÓ
(setembro a dezembro)
A evolução das temperaturas do ar (mínima, média e máxima) analisadas separadamente por
estações, nos períodos 1977 a 1991 e 1992 a 2009 é mostrada no Gráfico 4, cujas médias
comparadas ao longo dos 33 anos estudados permitem observar o grau de contribuição de cada
temperatura na constituição da temperatura média do ar.
(a) (b)
Gráfico 4 – Evolução da temperatura do ar (mínima, média e máxima) na estação chuvosa (a) e na estação seca/b-r-o-bró (b) nos períodos 1977 a 1991 e 1992 a 2009 em Teresina, PI. Fonte: Dados básicos Embrapa Meio-Norte, 2010.
Dentre as duas estações, set-out-nov-dez é a que mais contribui para o aumento da temperatura
do ar média do período completo estudado (1977 a 2009), devido, esta concentrar as mais altas
temperaturas do ano. Não obstante, a estação jan-fev-mar-abr-mai, ainda que em grau menor,
também contribui com o aumento de temeperatura final do peíodo.
Na estação set-out-nov-dez, a diferença na temperatura mínima do ar no período 1992 a 2009 em
relação ao período 1977 a 1991 foi 0,8 ºC, enquanto o aumento de temperatura máxima do ar, no
mesmo período, foi de 0,6 ºC. Sendo assim, dentre as duas modalidades de temperatura, a
temperatura mínima do ar é a que tem maior participação no cômputo final da temperatura média
do ar.
A análise de variância e o teste t não apontam diferenças significativas entre as médias de
temperatura mínima do ar quando comparadas as duas estações, entretanto, foi observado que a
temperatura mínima do ar é a que tem maior participação no aumento da temperatura média do ar
verificado ao longo dos 33 anos.
O estudo demonstrou que Teresina vem passando por aumento de temperatura, sendo inegável a
influência do processo de urbanização. Os desvios interanuais, que também são refletidos nos
elementos meteorológicos, podem também, estar relacionados com as variações que ocorrem na
circulação atmosférica.
O aumento de temperatura registrado em Teresina apresenta-se maior a partir dos anos 1990
quando já se configurava acelerado processo de urbanização refletido nas diversas formas de
ocupação do solo, como desmatamento, impermeabilização, crescimento horizontal e vertical da
construção civil, aumento da poluição atmosférica causada pelo tráfego de veículos automotores e
outras atividades urbanas. Essas práticas podem favorecer o aumento da temperatura urbana.
Teresina naturalmente é dotada de temperaturas altas, devido sua localização geográfica,
entretanto, o estudo apontou que o fenômeno El niño foi o responsável pelas elevadas
temperaturas do ar nos anos mais quentes e o La niña, pelas baixas temperaturas do ar ocorridas
no período analisado. Entretanto, em áreas arborizadas, as temperaturas do ar são mais amenas,
sendo mais altas em direção às áreas densamente construídas.
A análise da temperatura no período 1977 a 2009 mostrou que no segundo período da série (1992
a 2009) as temperaturas do ar em Teresina apresentaram-se mais altas, quando comparadas com
o período anterior (1977 a 1991).
Maior elevação de temperatura foi verificada nos meses de setembro a novembro, sendo outubro,
considerado o mês mais quente. Enfim, observou-se que a análise da temperatura, comparando-
se médias mensais, indicou aumento significativo entre os meses mais quentes do ano. Nesse
período, a população é obrigada a tolerar o desconforto das altas temperaturas, tendo como
atenuante, os baixos valores de umidade relativa do ar, registrados.
6 Considerações finais
O estudo mostrou que as áreas vegetadas em Teresina diminuíram ao tempo em que a população
cresceu e a cidade se expandiu, verificando-se temperatura da superfície do solo mais elevada
nas regiões de maior concentração de áreas construídas. Nas periferias, onde há maior índice de
áreas verdes, as temperaturas são mais amenas.
Ao longo dos 33 anos analisados, houve aumento de temperatura mínima do ar, de temperatura
máxima do ar e de temperatura média do ar, durante todos os meses do ano, sendo esse
aumento maior no período B-R-O-BRÓ (set-out-nov-dez), e outubro o mês mais quente do ano.
Nos últimos anos, a temperatura mínima do ar também se apresentou mais alta, sendo, dentre as
três modalidades de temperatura, a que mais contribuiu para o aumento da temperatura média do
ar. As médias mensais de temperatura do ar aumentaram de forma significativa nos meses mais
quentes do ano, quando a temperatura mínima do ar aumentou 0,9 ºC e a temperatura máxima do
ar, um aumento de 0,8 ºC, contribuindo para um cômputo de aumento de 0,6 ºC na temperatura
média do ar, verificado ao longo de 18 anos.
O estudo indicou que o processo de urbanização contribuiu para o aumento da temperatura do ar
na cidade de Teresina-Pi, sugerindo a necessidade de políticas de preservação das áreas verdes
existentes, bem como o plantio de árvores em áreas com pouca vegetação, como forma a
promover o bem estar e conforto térmico da população, e de minimizar os efeitos que as
alterações no clima podem provocar na sociedade.
Referências
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