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Sustentabilidade: restrições ecológicas e limites éticos do desenvolvimento econômico
Clóvis Cavalcanti
Pesquisador da Fundação Joaquim NabucoProfessor da Universidade Federal de Pernambuco
Função da razão, entendimento do mundo Alfred North Whitehead (1861-1947), filósofo britânico:
Lei básica da natureza: degenerescência (tudo decai; entropia) bens, recursos, serviços e funções da natureza se depreciam pelo uso rios são poluídos; solos se degradam; biodiversidade se perde; paisagens são deformadas; rochas se escavam
“As formas mais elevadas de vida estão ativamente empenhadas em modificar o seu meio ambiente. No caso da espécie humana esse ataque efetivo ao meio ambiente é o fato mais notável de sua existência
A maneira como se dá o “ataque” ao meio ambiente depende da cultura
problemas ambientais têm dimensão cultural: só existem onde há espécie humana (fatores humanos incidem sobre a natureza)
gerados por um conjunto de processos econômicos, políticos, jurídicos, sócio-culturais
Enormidade do impacto devastador da escala humana no resto da criação(a partir da Revolução Industrial; sobretudo nos últimos 60 anos: cultura da subjugação da Natureza às exigências econômicas)
Questões sócio-ambientais: desafios éticos ou técnicos?
Cientistas tendem a transmitir a crença de que os graves problemas sócio-ambientais contemporâneos poderiam ser
razoavelmente analisados no âmbito de suas disciplinas, sem necessidade de abordar questões prévias e bem mais
abstratas sobre o modo com que a espécie humana lida com todo o restante da natureza.
Exemplo recente: “o controle climático não é um jogo moral, mas um desafio tecnológico prático e solucionável” (Jeffrey D.
Sachs, Scientific American Brasil, abril 2008, pág. 28).
Realidade aceita como regra, princípio da política (estratégia de combate à crise): consumo material terá que ser cada vez maior:
propaganda, crédito abundante (cartões, instrumentos financeiros complexos)
Necessidade de um crescimento sem limites da economiaDogma do crescimento econômico prioridade absoluta do crescimento em
relação a outros objetivos societários (valorização do ter)Fetiche (mito) do crescimento econômico
Tom inquestionável da necessidade do crescimento (do PIB, PNB, renda nacional): “mania de crescimento”; verdadeira religião
Caso do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Confunde-se crescimento (aumento) com
desenvolvimento (evolução, transformação, promoção da arte da vida) não se fala dos custos (cada vez mais sérios) do crescimento
Os economistas pensam, escrevem, preceituam como se a natureza não existisse: “o mundo, com efeito, pode continuar
seu negócio sem recursos naturais” (J.R. McNeill) não há custos de oportunidade (sacrifícios)
Os economistas buscam o crescimento econômico sem limites sob o comando do mercado (às vezes, enfatizando o pleno
emprego) para solução de todos os problemas (combate à pobreza, por exemplo)
Como é possível não ver limites a isso?
Também os central bankers não conseguiram ver o que estava para explodir em 1929. Deles se poderia dizer: “Não certamente senhores das finanças; eles seriam algo mais na linha de sumos sacerdotes” –
The Economist, 10.1.09.
Robert Schiller (U. Yale, EUA), sobre a cegueira dos que lidam com o mercado de papéis: “Pensem no contágio social em termos de uma epidemia. Algumas idéias infectam umas poucas pessoas, depois
outras, que continuam a espalhá-las. Na hora em que a maioria das pessoas está infectada, a infecção parece normal, e quem não estiver
infectado é que é considerado estranho. Todos os que estão infectados pensam segundo o mesmo raciocínio. Canais de notícias de TV
mostram os mesmos tipos de noticiário, e os formadores de opinião parecem, todos compartilhar as mesmas idéias. Graças ao contágio
social, essas idéias se transformam em ‘verdades’, não porque passaram no teste rigoroso da ciência, mas porque todo mundo as aceita como verdadeiras. Elas parecem tão óbvias. Como tantas
pessoas poderiam estar tão equivocadas?”
Os limites do ecossistema planetário estão sendo testados Seres humanos pressionam a Terra com demandas
excessivas, exorbitantes desequilíbrios; ameaça à vida humana
Retira-se mais do que a Terra pode dar em cada período criação de uma economia de bolha (bubble economy):bolha financeira, bolha imobiliária, bolha das empresas de
informática = economia da ilusão (e a sociedade é levada a acreditar nessa
ilusão)
Diante da destruição ecológica, possibilidades
(a) Continuar no mesmo (consumismo desenfreado, crescimento exponencial) e esperar grande probabilidade de mudanças abruptas (respostas caóticas a alterações nos sistemas de sustentação da vida; caso do aquecimento global) = desastre social e econômico
(b) Adotar novo modelo econômico levando em conta realidades ecológicas no lugar do lucro mudanças conscientes, fundadas na ética (transição para nova era em sintonia com os limites da natureza: frugalidade, sobriedade, simplicidade) possível?
É aqui que cabe a perspectiva de uma ECONOMIA SÓCIO-AMBIENTAL ou ECONOMIA ECOLÓGICA
Modelo ético-ecológico-econômico (Herman Daly)
visão integrada: base material (ecossistema) + economia + fluxo imaterial do gozo da vida (felicidade)
FelicidadeSummum bonum
Fim derradeiro
Bens e serviços(consumo)
Produção(transformação)
Recursosnaturais
Matéria e Energia
Meios fundamentais
Fins
Meios
Fins
Meios
Engenharia(técnica)
Ética, filosofia, religião
Economia
Ecologia
Física
ECONOMIA SÓCIO-AMBIENTAL = ECONOMIA ECOLÓGICA
uma economia de limites e possibilidades
Limites biofísicos: disponibilidade de meios (limites do POSSÍVEL)
Limites éticos: desejabilidade dos fins (limites do DESEJÁVEL)
Desafio sócio-ambiental (não tecnológico) • Em primeiro lugar colocar a economia em
seu berço original (a ética). Pergunta: para que serve a riqueza e qual o sentido de aumentá-la de forma incessante, mesmo onde a psicologia econômica contemporânea mostra que seu poder para ampliar a felicidade humana é decrescente?
• Em segundo lugar vincular a economia ao universo do qual ela sempre fez questão de se separar: a natureza.
Obrigado!