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* TAMO LÁ! * 1 MAI E JUN/2014 MAIO E JUNHO DE 2014 Nº3 ANO 1 GRATUITO CONQUISTA E AFIRMAÇÃO DE UMA CULTURA O professor Iosvaldyr Bittencourt Jr, ex-coordenador pedagógico no Esperança Popular, apresenta a construção de cultura na periferia. Contextualiza o cotidiano na Restinga, seu comércio, serviços, a diversidade de espaços de sociali- zação, ultrapassando a visão que as pessoas têm sobre a pobreza e a violência no bairro. DICAS O educador de Geografia, Igor Bor- tolotti, com base em Malthus (1766- 1834) apresenta teorias demográficas, alerta para recursos alimentares dis- poníveis e traz questões para pensar- mos. PÁGINA 6 EXPERIÊNCIA Daniele Machado Vieira conta sua experiência como educadora do Cursinho em 2009 e sua alegria quando encontrou em ex-aluno na UFRGS: um novo bixo e colega. PÁGINA 3 PÁGINAS 4 E 5 Você pode entrar na UFRGS através das cotas. Saiba como está funcion- ando esse sistema hoje, com adesão do SISU para o vestibular 2015. Fique por dentro. Com muita sensibilidade, Ingrid Telles, educanda do Esperança Popular, reflete sobre a origem do nome da sua turma e sugere: “Vamos sair do cubo”. OPINIÃO PÁGINAS 7 PÁGINAS 8 Foto de Diego Vara/Agência RBS- Bailarina Sophia Silva Velloso ALUNO

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3ª edição do "Tamo Lá", jornal do cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga

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Page 1: TAMO LÁ - MAI/JUN

* TAMO LÁ! * 1MAI E JUN/2014

MAIO E JUNHO DE 2014Nº3 ANO 1 GRATUITO

CONQUISTA E AFIRMAÇÃO DE UMA CULTURA

O professor Iosvaldyr Bittencourt Jr, ex-coordenador pedagógico no Esperança Popular, apresenta a construção de cultura na periferia. Contextualiza o cotidiano na Restinga, seu comércio, serviços, a diversidade de espaços de sociali-zação, ultrapassando a visão que as pessoas têm sobre a pobreza e a violência no bairro.

DICASO educador de Geografi a, Igor Bor-

tolotti, com base em Malthus (1766-1834) apresenta teorias demográfi cas, alerta para recursos alimentares dis-poníveis e traz questões para pensar-mos. PÁGINA 6

EXPERIÊNCIADaniele Machado Vieira conta

sua experiência como educadora do Cursinho em 2009 e sua alegria quando encontrou em ex-aluno na UFRGS: um novo bixo e colega.

PÁGINA 3

PÁGINAS 4 E 5

Você pode entrar na UFRGS através das cotas. Saiba como está funcion-ando esse sistema hoje, com adesão do SISU para o vestibular 2015. Fique por dentro.

Com muita sensibilidade, Ingrid Telles, educanda do Esperança Popular, refl ete sobre a origem do nome da sua turma e sugere: “Vamos sair do cubo”.

OPINIÃOPÁGINAS 7

PÁGINAS 8

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ALUNO

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* TAMO LÁ! *2 MAI E JUN/2014

INSCRIÇÕES VESTIBULARESFAPA - inscrição até 18/06 prova dia 21/06São Judas Tadeu - inscrições até 14/06 - prova 14/06Cronograma SISU 2014:09/06 a 13/06: Matrícula da 1ª chamada24/06: Resultado da 2ª chamada24/06 a 07/07: Lista de Espera27/06 a 02/07: Matrícula da 2ª chamada14/07: Convocação de candidatos em lista de espera

AGENDAEDITORIAL

Te liga nessas dicas do Cursinho Pré-Ves-tibular Esperança Popular Restinga. Não esquece dessas datas! Anota, memoriza, co-pia, recorta, circula, mas não perde!

TÁ SABENDO DE ALGUM EVENTO LEGAL? COMPARTILHA! Envie um e-mail para o Cursinho Esperança: [email protected]

CONVERSAÇÕES AFIRMATIVAS 2014Roda de conversas sobre Memória e Patrimônio. Os próximos encontros serão nos dias:30/07 - Patrimônio cultural de comunidades indígenas; 27/08 - Patrimônio cultural de comunidades quilombolas rurais.

Mais informações no site do DEDS!http://www.ufrgs.br/deds

LIDERANÇAS NEGRAS FEMININAS NO SUL DO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE GÊNERO, COR E CLASSE SOCIAL:O curso de extensão acontecerá no auditório da Faculdade de Arquitetura (Av. Sarmento Leite, 320-Campus Centro da UFRGS) nos dias 23/07, 25/08 e 26/09.

Não perca! Programação detalhada no site do DEDS

Entrei no Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga em março de 2014 com a missão de fazer parte da equipe de Língua Portuguesa, dando aulas de Gramática Normativa Tradicional. Para mim, foi tudo bastante novo e inesperado, pois não imaginava que ganharia essa chance de estar em sala de aula tão rápido, afinal estou cursando, ainda, o quinto semestre de Letras. Logo, a ansiedade e o medo deram lugar a uma profunda satis-fação, um prazer de estar perto de pessoas sonhadoras como eu. Entrei na sala de aula e passei a dar aulas como sempre o tivesse feito, com alegria, amor e muitíssima dedicação, nada menos do que os alunos merecem, aliás. Dentre essas incríveis experiências, destaco minha vivência com os alunos e os colegas professores no Sábado Esperança, evento ocorrido na Escola onde funciona o Cursinho. Pude perceber o quanto é importante a integração entre os alunos das três turmas e os profes-sores. Foi um dia bastante proveitoso, cultural e emocionalmente falando. O tema abordado foi a África, em suas diversas nuances, com aulas interdisciplinares e a participação grande e interessada dos alunos. Tivemos, também, após as aulas, uma descontração com um lanche e atividades esportivas. Percebi também que nossos alunos têm capacidade de visão crítica bastante desenvolvida, por participarem ativamente com ideias, com opiniões formadas acerca do assunto que esteja sendo abordado. Isso é muito gratificante. Participar dessa construção de conhecimentos e opiniões é alguma coisa que posso afirmar, categoricamente: modifi-cou minha vida para melhor, de maneira irremediável! Ainda, tive a chance de acompanhá-los no UFRGS Portas Abertas 2014, lá no Campus do Vale. Um dia decididamente especial. Neste dia, a UFRGS oferece a chance aos vestibulandos de conhecer-em os locais onde irão estudar, os cursos oferecidos pela Universidade e suas respectivas dinâmicas, seus cotidianos. Fiquei muito satisfeita, porque o ambiente era de entusiasmo e sonho: olhinhos que brilharam diante de um sonho que se mesclava com esperança foram, sem sombra de dúvida, uma injeção de ânimo, a certeza de que estou no caminho certo, que demorei a escolher mas, que, a partir de então, não tem volta. Por fim, quero agradecer ao colega Filipe de Zanetti e ao DEDS por tamanha oportunidade. Brinco com o Filipe que ele mudou minha vida ao me ofertar a chance de dar aulas no Esperança Popular, mas ele sorri e acha que é um exagero. Na verdade, é muito mais do que isso. Para uma funcionária pública inquieta com seus saberes e desejos, poder dar aulas a um grupo de pessoas que buscam algo de melhor para suas vidas é, realmente, uma caminho sem volta, o caminho do bem, da alegria e da satisfação pessoal. Obrigada a todos!

Denise Ramos

Em julho estaremos com atividades na Restinga. Participe, sugira atividades, mostre seu talento na escrita, na música, teatro, desenho.

Informações: http://www.ufrgs.br/deds

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* TAMO LÁ! * 3MAI E JUN/2014

ALUNO

Luciane Bello

COTAS NA UNIVERSIDADE: UMA OPORTUNIDADE

Em 2001, o Brasil assinou um documento que resultou da Convenção In-ternacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

Racial das Nações Unidas, realizada em Durban, na defesa de adoção de medidas positivas para a população afrodescendente nas áreas de edu-cação e trabalho. Esta atitude revelou o comprometimento nacional com a democratização do acesso ao ensino superior e desencadeou vários movi-mentos nas universidades brasileiras para a implantação de cotas (que é uma das formas de ação afirmativa) para ingresso de negros, indígenas e estudantes de escolas públicas.Inicialmente a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), at-ravés da Decisão 134/2007- Conselho

Ra – candidato egresso do Sistema Público de Ensino Médio com renda familiar bruta mensal igual ou inferior a 1,5 salário-míni-mo nacional per capita;Rb – candidato egresso do Sistema Público de Ensino Médio com renda familiar bruta mensal igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo nacional per capita autodeclarado preto, pardo ou indígena;Rc – candidato egresso do Sistema Público de Ensino Médio com renda familiar bruta mensal superior a 1,5 salário-mínimo na-cional per capita; eRd – candidato egresso do Sistema Pú-blico de Ensino Médio com renda familiar bruta mensal superior a 1,5 salário-mínimo nacional per capita autodeclarado preto, pardo ou indígena.

Universitário (CON-SUN), previu reserva de vagas de no mínimo 30% (trinta por cento), com a cri-ação de cotas sociais (estudantes oriundos de escola pública), raciais (estudantes oriundos de escola pública autodeclara-dos negros) e 10 va-gas específicas a cada ano para indígenas até 2012. A sociedade brasileira

começou a questionar este posi-cionamento do governo federal e os encaminhamentos das universidades públicas, demandando a discussão sobre a constitucionalidade das cotas. O Supremo Tribunal Federal (STF) protagonizou esta discussão através de uma audiência pública, em 2011, em que especialistas e representantes de instituições da sociedade civil puderam manifestar-se sobre o tema. Em 2012, o STF julgou recurso que questionava os critérios adotados pela UFRGS para a reserva de vagas e decidiu pela constitucionalidade das cotas. Neste mesmo ano, a UFRGS fez a avaliação do sistema de reserva de vagas, através do CONSUN e aprovou por unanimidade as mudanças que se adequaram ao Decreto e à Portaria que regulamentam a Lei nº 12.711, da Presidência da República, e define a reserva de no mínimo 50% das vagas para egressos do ensino público nas

universidades públicas, com prefer-ência para as famílias que recebem menos de um salário mínimo e meio per capita.

O acesso ao ensino superior conta ain-da com o Sistema de Seleção Unifi-cada (SISU) gerenciado pelo Min-istério da Educação (MEC), aprovado em 2012. Através dele as instituições públicas de ensino superior oferecem vagas para candidatos participantes do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). A inscrição é gratuita, em uma única etapa e é feita pela internet. A UFRGS aprovou a adesão ao SISU, a partir de 2015, reservando 30% aos candidatos com pontuação mínima de 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento do exame e, no míni-mo, 500 pontos na redação. Para o ingresso em universidades pri-vadas existe o Programa Universidade para Todos (PROUNI), que tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de for-mação específica, em instituições de ensino superior privadas. Novas possibilidades estão se consti-tuindo neste novo cenário para uma camada da população que estava preterida dos processos seletivos pelas deficiências de suas formações e proc-essos históricos de desigualdades de acesso. Vamos aproveitá-las!

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* TAMO LÁ! *4 MAI E JUN/2014

RESTINGA: CULTURA NA PERIFERIACOMUNIDADE

Uma comuni-dade situada na periferia, em geral, é con-struída física, a partir dos re-assentamentos, pela ausência de

infra-estrutura, saneamento, serviços públicos, social, pela proximidade forçada, dado o assenta-mento de famílias prov-enientes de diversas vilas, pelas estratégias de sobre-vivência que perpassavam as relações de proximi-dade; e mentalmente, a partir das inúmeras repre-sentações do espaço, vin-culando-o ao confinamento de segmentos desajustados da sociedade. Em geral, a população empobrecida sempre ocupou diversos espaços na cidade, tais como cortiços, avenidas, casas de cômodos, malocas, zonas deterioradas, enclaves nos interstí-cios dos bairros mais ricos. Porém, há um lugar no qual essa população se concentra, enquanto espaço que lhe é próprio e que se constitui como a expressão mais clara de seu modo de vida, que é a chamada periferia. A periferia é constituída pelos bairros considerados mais distantes, mais po-bres e menos servidos pelos serviços públicos fundamentais, tais como transportes, saúde, escola, segurança, trabalho, habitação, redes de água, luz e esgoto, etc. Assim foram formadas as comuni-

A Restinga é o terceiro bairro mais popular da capital e carrega o estigma da violência. É considerada mais ex-tensa do que muitos municípios gaú-chos. Enquanto os jornais da grande mídia destacam a violência policial, a pobreza econômica e social da Restin-ga, os jornais de bairro (Jornal Vitrine e Jornal da Restinga) e a TVRestinga na Web procuram ressaltar os aspectos afirmativos em termos socioculturais e econômicos do bairro, dando destaque para o crescimento comercial, imo-biliário; de serviços de profissionais liberais e das áreas de consumo, de tal modo a elevar a autoestima, fortalecer os laços comunitários e a identidade do bairro. Desta forma, eles preten-dem combater os estereótipos depre-ciativos em torno da idéia de pobreza e da violência. O estigma, de acordo com a urbanista Raquel Rolnik (USP) se dá quando a comunidade, situada na periferia, é representada e mostrada pelo olhar de alguém que não vem de lá, que não vive lá, enfim, de um olhar totalmente estrangeiro sobre aquela realidade. Para minimizar essa imagem, é im-prescindível dar voz também a outras questões, mostrar outras verdades. Para isso, é necessário oferecer opor-tunidades para que a periferia possa se mostrar da forma como gostaria.Por alguns anos, muitos moradores da periferia, sobretudo os jovens, tinham muita dificuldade em assumir que viviam em regiões periféricas, nas ocasiões de busca de emprego nas áreas acadêmicas e áreas de socia-bilidade públicas centrais e, mesmo,

“Restinga nas-ceu da exclusão social e urbana e conquistou a

afirmação de uma cultura produzida

na periferia. “

dades da Restinga Velha e a Nova, no Extremo Sul do município de Porto Alegre. Em 1969, foram iniciadas obras da Nova Restinga. A área do bairro foi adquirida em 1966, sendo primeiramente denominada como Restinga e, com a criação da Primeira Unidade Vicinal da Restinga Nova, passou a ser reconhecida como Velha Restinga, atualmente chamada de

Restinga Velha. Em 1977, começou a regularização da Restinga Velha, mesmo ano de fundação da escola de samba Estado Maior da Restinga. As primeiras pessoas que habitaram a Vila Restinga haviam sido removidas das vilas localizadas no entorno da área urbana central da

cidade, perfazendo um percentual de 10 por cento: Lulu, Maria Degolada, Maria do Golpe, Maria da Conceição, Teodora, Marítimos, Ilhota e Santa Luzia. Era uma população empobre-cida e considerada pelas elites como maloqueiros. Apesar de tudo, o bairro foi oficializado pela Lei 6571, de 8 de janeiro de 1990, sendo considerado o terceiro bairro em população de Porto Alegre, com 53.794 habitantes (OB-SERVA POA). Possuindo aproximad-amente 21 quilômetros quadrados.O bairro Restinga possuía diversas de-nominações: Vila Restinga Velha, Vila Nova Restinga e Restinga Nova. Sem-pre existiram contrastes entre a Velha e a Nova, originando discriminações entre os habitantes de uma e de outra que persistem até os dias atuais.

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Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Jr.

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* TAMO LÁ! * 5MAI E JUN/2014

RESTINGA: CULTURA NA PERIFERIACOMUNIDADE

EDUCADORES DO CURSINHOBreno CostaBruno AffeldtCamila DemirofClayton dos ReisDaniel BomqueirozDenise SantosFilipe de ZanettiGabriel GonzagaGabriel PegoraroIgor BortolottiJulio BaldassoLucas EbbesenPedro CladeraRodrigo dos SantosSaul Bastos

CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR ESPERANÇA POPULAR

RESTINGA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL (DEDS)Daiane MoraesLuciane Bello Rita Camisolão

JORNAL TAMO LÁDIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICOGregory Benes RaabeLucas EbbesenMarília Bandeira

para algum pretendente. Na Restinga Velha e Nova, contudo, o samba, o carnaval, o hip hop, o nativismo e os movimentos religiosos evangélicos, católicos, afro-brasileiros, adventistas, batistas, universal do reino de Deus passaram a moldar o cenário social

Peixe na Esplanada da Restinga na Semana Santa; Encontros de Jovens com Cristo na Igreja Nossa Sen-hora da Misericórdia; casas de cultos

psicólogos, pedagogos, fisioterapeu-tas, médicos, profissionais de edu-cação física, contabilistas, odontólog-os e mais de quatro super-mercados, lojas pet, lojas de presentes e bazares.

Diante destes aspectos, podemos perceber que a periferia é mais com-plexa que os imaginários da violência e da pobreza. De acordo com a pro-fessora Ana Tettamanzy (UFRGS), nos espaços periféricos urbanos, como os da Restinga Velha e Nova, as produções originárias de espaços de exclusão acabam sofrendo difer-enciadas influências socioculturais, as quais são reelaboradas, de forma a oferecer um modo distintivo cultural e afetivo-emocional e de pertencimento à comunidade da periferia. São sen-timentos que afloram nos indivíduos ou grupos que fazem com que eles se sintam partilhando algo comum.

“Com os mora-dores assumindo um conjunto de novas formas e

sentidos simbóli-cos afirmativos,

...os faz declarar: “Sou Tinga, e

daí?”“

e cultural acerca de uma estética da periferia. Com os moradores assumindo um conjunto de novas formas e sentidos simbóli-cos afirmativos, no que se refere a classe, etnia, lugar de moradia e condição de jovem na metrópole, cujo grito de guerra e orgulho os faz declarar: “Sou Tinga, e daí?”. Existem inúmeros prédios ligados ao poder público, como Centro Comunitário (Cecores) com quadras de basquete e de futebol de salão; Fórum judiciário; igrejas e órgão de assistência social; batalhão da Brigada Militar, Corpo de Bombeiros; biblioteca pública munici-pal, anexo da Biblioteca Municipal Josué Guimarães. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), por meio do Câmpus Restinga, atua com a of-erta de diversos cursos técnicos, como Guia de Turismo, Superior de Tecno-logia de Sistemas, Gestão Desportiva e de Lazer e Eletrônica Industrial.O complexo Esportivo Barro Ver-melho, situado em uma área de 2,5 hectares tem por objetivo formar ci-dadãos, por meio do esporte. Além da formação de jovens para o atletismo

(muitos atletas foram encaminhados, em parceria, para a Sogipa), o centro esportivo objetiva operar com geração de empregos; atuação na prevenção da violência doméstica e, ainda, oferta de atividades com cinema, teatro e skate, além de serviços de telecentro e

biblioteca. Há também diversos tem-plos religiosos, tais como Igreja Batista, Adventista do Sétimo Dia, Assem-bléia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, sendo que na Restinga já foi realizado o 9º Encontro Cultural Evangélico na Esplanada da Restinga; a 12ª Feira do

afro-brasileiros, como Batuque, Umbanda, Quimbanda. Na Rest-inga existem instituições educa-cionais e sociais como Renascer da Esperança, Ananda Marga (instituto indiano), curso pré-vestibular Esperança Popular Restinga, etc. São promovidas atividades esportivas de futebol de campo e de salão; capoeira, taekwondo, futebol americano, hapkidô, etc. Na área de serviços de profis-sionais liberais e comércio, a Restinga apresenta desde ad-vogados, assistentes sociais,

Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Jr.

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* TAMO LÁ! *6 MAI E JUN/2014

DICAS

TEORIAS DEMOGRÁFICAS

Olá respeitável leitor! Nesta minha primeira contribuição com o jornal e como educador de geografi a no cur

sinho, vamos discutir um pouco sobre as Teorias Demográfi cas, que buscam o entendimento sobre o crescimento da população, os recursos disponíveis e as consequências para todos nós. Mas trago este tema, levando em consideração a divulgação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), di-vulgado nos últimos dias, que alerta diversos riscos para o século, além da crise de alimentos e suas consequên-cias para a saúde humana. Hoje, já sabemos que a população mundial ul-trapassou os 7 bilhões de pessoas; esta população cresceu muito rápido, se comparados os dados das últimas dé-cadas. A questão que fi ca é: teremos, realmente, recursos disponíveis para alimentar e atender as necessidades básicas de tão grande número de habitantes? Mas esta questão já vem sendo discutida há muitos séculos, para se ter uma ideia, desde o século XIX, com as teorias populacionais. Então, vamos conhecer alguns es-tudiosos e duas ideias. Começamos com Thomas Robert Malthus, um dos primeiros a se preocupar com essas questões. Ele dizia que o aumento da produção de alimentos seria menor do que o crescimento do número de habitantes no mundo, e assim, logo, não haveria mais alimentos para as pessoas. Segundo Malthus, a humani-

dade estaria condenada a passar por problemas como subnutrição, fome, doenças, epidemias, entre outros fa-tores. A solução do teórico seria aban-donar as práticas sexuais, diminuindo, assim, o número de nascimentos e controlando o crescimento total de habitantes. Ele culpava a população pobre, como responsável pelo excesso

de gente no mundo, sendo necessário que cada pessoa tivesse somente o número de fi lhos que pudesse criar. À teoria elaborada por Malthus dá-se o nome de malthusiana ou malthusianis-mo. O erro nesta teoria, é que Malthus não imaginava que as tecnologias nas produções agropecuárias e industriais fossem se tornar tão avançadas. Essa evolução permitiu que a produção de alimentos fosse muito maior que o número de habitantes no mundo, provando assim que ele estava enga-nado. Mas, hoje em dia, muitas pes-soas ainda acreditam que problemas relativos à fome e à subnutrição no mundo sejam ocasionados pela falta de alimentos e pelo excesso de pes-soas. Mas, ao contrário de Malthus, esses teóricos defendem que para controlar o crescimento populacional é necessário adotar métodos contra-ceptivos, isto é, aqueles que impe-dem que novas pessoas nasçam. As pessoas que defendem essas ideias

de gente no mundo, sendo necessário

são chamadas de neomalthusianas. Também existem aqueles teóricos que são totalmente contrários às ideias defendidas por Malthus e pelos Neo-malthusianos; eles são os reformistas ou marxistas. Eles afi rmam que o problema da fome e da miséria no mundo não é a falta de alimentos para a população e também não é culpa do excesso de gente. Esses problemas, na verdade, seriam causados pela má distribuição de renda e do acesso aos bens de consumo. Em outras palavras, para os reformistas, a questão é a desigualdade econômica, e não a falta de recursos. A solução, segundo eles, seria distribuir de uma forma mais de-mocrática a renda, através de reformas sociais que melhorem as condições de vida das populações mais pobres. Assim, se essas pessoas tiverem melhores condições de vida, melhor educação, saúde e outras coisas, terão maiores condições para abandona-rem a miséria. Além disso, é preciso evitar que os ricos ganhem cada vez mais e os pobres fi quem com cada vez menos. Com estas palavras, você pode conhecer os principais estudos ou teorias demográfi cas, suas ideias e conclusões. E você, tem alguma ideia ou conclusão, de onde esse crescimen-to populacional irá chegar? Quanta gente este mundo realmente poderia suportar? Estas e outras questões são importantes de serem levantadas, como forma de conscientização da situação em que a população mundial se encontra, assim, como já nos alerta o relatório do IPCC. Muito obrigado pela sua leitura e até a próxima ed-ição.

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Igor BortolottiGeografi a

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* TAMO LÁ! * 7MAI E JUN/2014

OI, COLEGA!EXPERIÊNCIA

Daniele Machado Vieira

Lembro da minha alegria quando em 2009 a Raquel Chites e o Éder Rod-rigues, colegas da UFRGS, me convidaram a compartilhar as

GALERIAEspaço cultural do jornal em que iremos expor a cada edição a arte de nossos educandos e educadores, e da comunidade

Lucas por Maurício Junker e Jean Medeiros

Denise por Maurício Junker e Jean Medeiros

Saul por Maurício Junker e Jean Medeiros

Quer que seu trabalho apareça aqui?Envie para [email protected]

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aulas de Geografia no PV Esperança Popular da Restinga. Inicialmente, um friozinho na barriga: estava no 4º semestre e nunca tinha dado aulas. Seria a minha primeira vez! Contudo, estava extremamente contente: es-tar na Tinga e voltar-me para ela era muito significativo para mim. Embora nunca tivesse morado ali, tinha uma relação de afeto e reci-procidade com aquele espaço; minha avó e as minhas tias ali residiam. Além disso, era tam-bém a oportunidade de falar com pessoas de uma realidade semelhante à minha: gente que almeja estudar, mas para quem as condições financei-ras e sociais nem sempre são favoráveis. Contar como entrei e desconstruir o mito da UFRGS foi minha primeira ação. O discurso da meritocracia (em que só os melhores vencem) não seria passado adiante. Queria que eles soubessem que eu não era diferente, que não era melhor; apenas tinha me dedicado “muiiitooo” e conseguido passar no vestibular. Na primeira tentativa reprovei feio; percebi que precisava baixar a cabeça e estudar. A segunda foi na trave. E a terceira foi de goleada! Eu não queria ser exemplo, mas que eles soubessem que também podiam. Já na primeira aula - primeira aula da minha vida

– aconteceram duas situações pelas quais eu não esperava. Primeiro, um menino me faz uma pergunta que eu não sabia responder. Poxa: logo essa? Tive receio de que eles perdessem a confiança em mim, mas não se sabe tudo. Respondi que iria pesquisar e traria na aula seguinte. Quando menos espero, no meio da aula, o Prof. Ios-valdyr C. Bittencourt Jr. (coordenador na época) entra, tentando não ser nota-do. Respirei fundo e segui. Apesar da minha pouca experiência, aquele foi um semestre marcante, com aulas ma-ravilhosas e cheio de encontros com alunos e colegas queridos. Edmilson,

Indiara, Klawber, Fernando, Luiza, Éder e Helena são apenas alguns deles. Momentos que contribuiram muito para a construção da minha identidade de professora. E continu-am a contribuir... Dois anos depois, durante o Salão de Iniciação Cientí-fica – SIC 2011, no pátio da FACED ouvir um “oi, sora” foi gratificante! Era o Edmilson, ex-aluno do PVEP, restingueiro, atual aluno da Educação Física da UFRGS; para quem tive a imensa satisfação de dizer: oi, colega!

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* TAMO LÁ! *8 MAI E JUN/2014

FORA DO CUBOIngrid Telles

OPINIÃO

Todas as palavras desTe arTigo são de iNTeira respoNsabilidade do auTor

Uma vez eu ouvi uma história sobre como os filósofos, artistas e idealistas em geral, criavam ou obtinham suas ideias (não lembro bem quem me con-tou, mas provavelmente pode ter sido algum professor do ensino fundamen-tal). É uma interessante analogia sobre a sociedade: A PAREDE ENORME.Diz a lenda que a sociedade é uma PAREDE ENORME onde todas as pessoas vivem próximo ou a rodeiam. Mas, existe também um pequeno

número de pessoas que decidem ficar longe, e bem distantes desta PAREDE para melhor observá-lo. Estas pessoas são justamente os artistas, os filósofos e os idealistas em geral.No entanto, algo diferente acontece com estas pessoas, pois assim como

na história da humanidade, tudo muda através de grandes descober-tas: uma vez que elas se afastem dessa PAREDE ENORME poderão ver melhor e totalmente como ela é realmente, e a observar de um jeito real, pois, quem está próximo não consegue enxergar com clareza os seus detalhes. Para as pessoas que se afastaram desta parede, a realidade foi impactante o suficiente para que suas vidas nunca mais fossem as mes-

mas. Nunca mais puderam enxergar a sociedade com os olhos da própria sociedade, porque a verdade está escancarada diante de seus olhos já abertos para os reais detalhes daquela “PAREDE ENORME”.O que esta mensagem quer dizer, é

que tudo aquilo que não vemos ou desconhecemos torna-se incompreen-sível, sem sentido. Está na hora de pararmos com isso; chega de julgar e ter aquele velho costume de fechar os olhos e abrir a boca; experimente o contrário: feche a boca e abra os olhos, viva entendendo a vida. Acred-ito que talvez que o real significado do nome da minha turma ser HU-MANOS FORA DO CUBO possa ser este sair do seu mundinho (CUBO) e

ver de longe a PAREDE ENORME (MUNDO) para melhor observar, compreender, e por que não, melhorá-la. Todos nós podemos e devemos sair do cubo. TODOS NÓS!

Des

enho

de

Ingr

id T

elle

s