"teatro em revista" magazine

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Julho O passado e o presente da Revista 2011 apoio: Filipe La Feria “A ganância do dinheiro destruiu o Parque Mayer” TEATRO MARIA VITÓRIA Aprovada a reparação do tecto EUGÉNIO SALVADOR O mítico actor que foi futebolista TEATRO RAÚL SOLNADO Conheça o novo espaço lisboeta

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"Teatro em Revista" Magazine - O passado e o presente da Revista

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Page 1: "Teatro em Revista" Magazine

Julho O passado e o presente da Revista 2011

apoio:

Filipe La Feria

“A ganância do

dinheiro destruiu

o Parque Mayer”

TEATRO MARIA VITÓRIA Aprovada a reparação do tecto

EUGÉNIO SALVADOR O mítico actor que foi futebolista

TEATRO RAÚL SOLNADO Conheça o novo espaço lisboeta

Page 2: "Teatro em Revista" Magazine

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Número I - Julho

Mensal

Editores

Nuno Cabral

Patrícia Figueiredo

Design

Nuno Cabral

Colaboradores

João Pinto

Nuno Gomes

Bruno Cardoso

Joana Dionísio

Francisco Branco

Ricardo Mendes

© 2011 Teatro em Revista

Academia RTP

.

Apresentação 03

Por dentro da Revista 04

Em Cartaz 06

Entrevista La Feria 08

Os Palcos 09

Vida Peculiar de… 10

Revista na Imprensa 11

Editorial 12

Page 3: "Teatro em Revista" Magazine

3

Apresentação

Caros leitores,

revista digital, sob

título, “Teatro em

Revista”, inicia

neste mês de Julho,

do ano de 2011, a

sua actividade. A periocidade será

mensal e versará como temática,

tal como o nome indica, o teatro

de Revista feito em Portugal.

Nas várias secções que compõem

esta publicação, daremos a

conhecer os protagonistas antigos

deste género teatral que fizeram

história pelos espaços culturais do

país. Para além desse aspecto,

serão entrevistados os

protagonistas actuais e será

divulgado um cartaz actualizado e

detalhado que apresentará o que se

vai fazendo nos teatros do país.

A concretização desta publicação

representa uma enorme satisfação,

que contagiou a nossa redacção, e,

ao mesmo tempo, representa uma

grande e colossal

responsabilidade, que é dar a

conhecer e promover o teatro de

Revista aos portugueses. No fundo

o que se pretende é valorizar este

tipo de teatro que foi tão

importante na luta pela liberdade,

assim como para a construção da

identidade cultural de Portugal.

Nesta primeira edição, trazemos

algumas entrevistas interessantes a

quem fez e faz parte o teatro de

Revista, que explicitarão como

funciona este género teatral e

avaliarão o seu estado actual,

apontando algumas soluções e

medidas para a sua

potencialização.

Como tal, resta-nos esperar que, o

nosso trabalho, feito com enorme

dedicação e empenho, seja do

agrado de todos os nossos leitores,

Boa Leitura!

A

Page 4: "Teatro em Revista" Magazine

4

“houve uma

grande evolução

mas há que

manter as

características

que marcam o

género”

Por dentro da Revista

Na rúbrica deste mês, a “Teatro em Revista” leva-o a uma “viagem” pela parte

musical de um espectáculo. Para tal, contamos com a colaboração preciosa do

compositor João Dionísio para desvendar a importância da música na Revista. O

compositor possui um vasto conhecimento deste género teatral, em virtude da sua

colaboração em vários espectáculos ao longo da sua carreira.

TeR - Compor para teatro de revista é diferente do compor para

outro qualquer género de teatro, um musical, por exemplo?

JCD - Compor para qualquer tipo de teatro ou cinema é sempre diferente

pois são áreas onde a música “serve” o espectáculo, o texto ou o guião,

devem por isso ir de encontro a esses pressupostos, ou seja, não são

espectáculos onde a música vale por si só tendo no entanto uma

importância fundamental. Há por isso, que entender as especificidades de

cada género e tentar ir ao encontro do que nos é pedido não só na

composição mas também na orquestração.

TeR - Quais são os critérios que norteiam uma composição

musical para o teatro de revista, tendo este género teatral

características muito diferentes dos restantes géneros?

JCD - O Teatro de Revista tem uma longa tradição em Portugal, de

caris marcadamente popular, arrasta consigo, ao longo dos anos,

muitas “fórmulas” que foram sucesso e que acabaram por fazer

parte do “Formato Revista”. Hoje em dia já há quem defenda que é

importante fazer algumas adaptações à realidade dos nossos dias,

não na crítica social porque essa sempre fez parte e está

naturalmente actualizada, mas sim no estilo utilizado. Alguns

autores têm feito alguma coisa nesse sentido mas nunca correndo

muitos riscos com receio de descaracterizar o género. Na música

passa-se um pouco o mesmo, houve uma grande evolução mas há

que manter as características que marcam o género que ainda fazem

as pessoas ir à revista. São trabalhos de autoria musical mas que

estão sempre sujeitos à aprovação do encenador, último responsável

pelo trabalho. Julgo que naturalmente e com o aparecimento de

gente nova, a revista se manterá como espectáculo único e do

agrado popular.

Page 5: "Teatro em Revista" Magazine

5

“a música tem um

papel

preponderante”

Por dentro da Revista

TeR - A inspiração vem da leitura dos textos, dos guiões? Como se inicia o processo criativo de

uma peça musical?

JCD - Essencialmente a inspiração que tal como dizia o Raul Solnado “é para amadores”, pois quando

há trabalho para fazer não se pode esperar pela inspiração, é para fazer e…ponto final. Digamos antes, a

sugestões para compor vêm como é evidente da leitura dos textos e do entendimento das cenas. Há que

reunir como o encenador e outros responsáveis de outras áreas e fazer convergir ideias, como disse

atrás a música é um dos elementos que serve o espectáculo.

TeR - Na sua opinião, qual o papel da música numa peça

de teatro, e em concreto no teatro de revista?

JCD - É fundamental, tal como são fundamentais os textos, a

dança, a cenografia os figurinos. O Teatro musicado é um

todo, no entanto no caso da Revista a música surge quase

sempre em conclusão dos sketchs como remate de um texto

reforçando-o. A música tem também papel preponderante nas

aberturas e finais dos atos.

TeR - Enquanto compositor e autor, qual a

sua opinião relativamente à situação actual

dos autores portugueses que compõem

para teatro?

JCD - A situação é um pouco o reflexo do

país que temos. Sempre ouvi falar na crise do

teatro mas penso que nunca se fez tanto teatro

como hoje em dia. No caso da revista, só

tenho conhecimento de uma companhia

profissional, era fundamental que houvesse

mais para que se gere mais trabalho

remunerado para autores e outros artistas.

Apesar de tudo faz-se muito teatro de revista

amador, o que não deixa de ser positivo no

sentido de divulgação do género. Mais

interessante ainda é a quantidade de gente

nova a fazer teatro de revista que apesar de

ser um género popular não é fácil.

Page 6: "Teatro em Revista" Magazine

6

“VAI DAR BANHO AO CÃO”

:: SINOPSE ::

Começa então a contar-se a mais ou menos

verdadeira história da cidade de Lisboa em 100 mil

anos de aventuras e paixão. A história começa em

plena Idade da Pedra e, avançando no tempo passa

pela conquista de Lisboa, contada por Martim

Moniz, "O Entalado", a saga dos Descobrimentos, o

cinema dos anos 40, as Noivas de Santo António e,

como não podia deixar de ser, o Pátio das Cantigas

em pleno século XXI.

"Vai Dar Banho ao Cão!" é uma viagem pela nossa

História e memórias colectivas, recheada de

figuras, tristes figuras e figurinhas tristes, bem

como a sátira social e política, elemento

fundamental na revista à portuguesa.

:: ARTÍSTAS PRINCIPAIS ::

- Óscar Branco

- Cristina Oliveira

- António Machado

- Margarida Videira

- Fernando Fernandes (FF)

:: QUANDO ::

1 a 31 de Julho

-Quinta a sábado às 21h30

-Domingo às 16h00

:: ONDE ::

Teatro Villaret, Lisboa

:: PREÇOS ::

10 e 20 Euros

Em Cartaz

Page 7: "Teatro em Revista" Magazine

7

“VAMOS CONTAR MENTIRAS”

:: SINOPSE ::

Quando estava previsto irem jantar fora com o

padrinho de casamento de ambos, uma alteração de

última hora faz com que o jantar acabe por se

realizar em casa, alteração essa que em muito

prejudica o plano de assalto que a empregada

doméstica havia planeado para essa noite, em

conjunto com o seu irmão e com o seu namorado.

Ora tendo a dona da casa o hábito de mentir

constantemente só por pura diversão, o que vem

causando inúmeras confusões e problemas a

familiares e amigos, quando esta se apercebe que

estão sendo alvo de uma tentativa de assalto, tenta

avisar o marido e o seu padrinho de casamento, mas

estes não acreditam nela, o que vai originar

inúmeras peripécias e muita confusão, ao longo das

cerca de duas horas de duração do espectáculo.

:: ARTÍSTAS PRINCIPAIS ::

- Octávio Matos

- Luís Aleluia

- Marina Albuquerque

:: QUANDO ::

23 e 29 de Julho

:: ONDE ::

Auditório Municipal,

Portimão

:: PREÇOS ::

15 Euros

Em Cartaz

Page 8: "Teatro em Revista" Magazine

8

“Poder e censura

económica

mataram a

Revista”

Filipe La Feria

Empresário de Teatro

66 anos

Em 1963 inicia a carreira de actor, na Companhia Rey Colaço-

Robles Monteiro, no Teatro Nacional D. Maria e dirigida por

Amélia Rey Colaço. A sua carreira cruza-se com a Revista, em

1991, quando é convidado pelo Governo para trabalhar no

Teatro Nacional D. Maria II e onde assina o maior êxito de

bilheteira da segunda metade do século XX: “Passa Por Mim

no Rossio”, uma homenagem ao teatro de revista. Em paralelo,

colabora com a RTP num programa de tom revisteiro da sua

autoria, intitulado Grande Noite, em 1993.

TeR – Como analisa o estado actual do teatro de Revista?

FLF – A ganância do dinheiro, o valor dos terrenos, os muitos

negócios e a corrupção levaram ao estado actual do Parque Mayer.

Mas o teatro de Revista não é o só o Parque Mayer. O Parque Mayer

só nasceu nos anos 30 e o teatro de Revista nasceu no século XIX. É

um teatro incómodo ao poder político, e se não se está com o poder

e o satiriza é sempre mal visto porque não os políticos não gostam

de ser criticados.

TeR – Se tivesse a oportunidade de ser Ministro da Cultura, o

que faria para desenvolver a Revista?

FLF – O teatro é uma forma de civilização e um país periférico que

não dá importância à cultura é um país que morreu! O teatro é um

barómetro de um povo. Um povo que não vai ao teatro é um povo

que não gosta da sua história e que não gosta de si próprio. Os

espanhóis, não quiseram que as zarzuelas (semelhante à Revista)

morressem e o Estado subsidia o teatro. No nosso país, o poder e a

censura económica mataram a Revista e saliento os heróis que, no

Parque Mayer, com tudo destruído, fazem e querem fazer Revista.

TeR – Como define o teatro de Revista?

FLF – A Revista é sempre a metáfora do país político e da

sociedade em que nós vivemos. É o grande espelho que os actores

poem diante do público para pensar, para rir e para chorar.

Entrevista

“ Os terrenos do Parque Mayer valem

muito e há corrupção ”

Page 9: "Teatro em Revista" Magazine

9

Ultrapassadas todas as barreiras, venceu a vontade de resgatar o

espírito do espaço cultural que foi apelidado, em tempos, de

Broadway portuguesa. A ideia de implementação de um projecto

de reabilitação para o Parque Mayer surgiu em 1999, e, após 11

anos, o último Plano de Pormenor, desenvolvido pelo atelier

Aires Mateus, encontra-se já em execução e está avaliado em

cerca de 9,5 milhões de euros. Recorde-se que, desde a década de

30, que este era o local de eleição para os apreciadores de teatro

de Revista, onde actuavam os grandes actores portugueses.

Teatro Raul Solnado

400 lugares

Multifuncional

O renovado Capitólio ficará situado na

praça central do novo Parque Mayer e o

objectivo é trazer um pouco do que é o

Times Square, em Nova Yorque. Para

atingir esse objectivo, o arquitecto

concebeu um teatro moderno onde um dos

lados será todo coberto por ecrãs gigantes,

à semelhança dos edifícios da Times

Square. Nesta reabilitação, construir-se-á

um auditório de 400 lugares à frente do

qual existirá uma montra de vidro gigante,

que abrirá para o exterior, e transformar-se-

á o terraço em sala. Os autores do projecto

garantem que serão preservados alguns

elementos relevantes que constavam do

projecto inicial de Cristino da Silva, de

1925, aquando da sua criação.

Os Palcos

Na rúbrica deste mês, a “Teatro em Revista” transporta-o até ao novo teatro

Capitólio. Após muitos anos de impasses e de embaraços, o glamour e a boémia de

outros tempos poderão regressar brevemente ao Capitólio. A sua reconstrução

avança a bom ritmo e, na sua nova concepção, o teatro terá o nome de Raul Solnado.

Page 10: "Teatro em Revista" Magazine

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A genialidade de Eugénio Salvador nos palcos e a sua

mestria como um dos melhores comperes de Revista

são bastante conhecidas do grande público. No

entanto, poucos conhecem a experiência de jogador

de futebol profissional do actor. Eugénio Salvador foi

extremo-esquerdo do Sport Lisboa e Benfica entre

1927 e 1934, tendo no seu palmarés, a conquista de

um Campeonato de Lisboa e um Campeonato de

Portugal. Rezam as crónicas da época, que Eugénio

Salvador era melhor nos palcos do que no relvado, no

entanto, apresenta dados interessantes na sua curta

passagem pelo futebol profissional. Foi ele que

marcou o primeiro golo oficial do Estádio das

Amoreiras e conseguiu ter um score de 18 golos em

43 jogos realizados.

TODOS OS JOGADORES IAM AO TEATRO DE REVISTA

Na década de 40, Otto Gloria, treinador do Benfica considerava que era muito proveitoso os

jogadores poderem assistir a teatro de Revista no Parque Mayer, pois era uma importante

estímulo para aliviar a pressão diária e preparar os jogos de Domingo.

Como tal, o treinador, que até era de

nacionalidade brasileira, cultivou esse

hábito aos jogadores e era frequente ver

o plantel encarnado em autênticas

excursões, depois das duas sessões

diárias de treino, em direcção ao Parque

Mayer. Considera-se que terá sido

mesmo a influência de Eugénio

Salvador, com constantes referências ao

teatro de Revista no balneário, que terá

contagiado os restantes elementos.

Vida Peculiar de… Eugénio Salvador

Page 11: "Teatro em Revista" Magazine

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Revista na Imprensa

Page 12: "Teatro em Revista" Magazine

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Editorial

O teatro de Revista atravessa uma grave crise, acompanhando o panorama geral das

actividades de cariz cultural. Os factos e notícias recentes não são animadores e a raiz

do problema é profunda. O Governo decidiu extinguir o Ministério da Cultura e o

cenário agrava-se. De realçar, no entanto, que esta foi apenas a assinatura regimental

de uma “certidão de óbito” de uma instância já inoperante há muitos anos. A cultura

deixou de ter qualquer relevância no seio da dita estratégia de desenvolvimento do

país. Parece que, quando o país atravessa graves crises económicas, uma das medidas

mais fáceis de executar é retirar o apoio às artes e às indústrias criativas. No entanto,

ao contrário do que se possa pensar, este seria um dos sectores estratégicos que

poderia alavancar uma crise que se prevê difícil de ultrapassar. Deixar as actividades

culturais ao abandono é um crime lesa-pátria. Acrescendo ainda, o facto de termos

um mercado cultural limitado, apesar dos teatros terem público. Como tal, perante

esta realidade, as actividades culturais, todas elas, deverão ser, obrigatoriamente,

apoiadas pelo erário público, mas com regras claras e justas. Caso contrário,

estaremos a condenar este sector e, invariavelmente, o país.

Abordando o teatro de Revista em específico, podemos constatar que, como refere

Filipe La Feria na entrevista concedida à nossa publicação, este é um género teatral

que incomoda o poder político. E quem está no poder parece não ter a capacidade de

encaixe e de aceitação da sátira, que é apanágio da Revista à portuguesa. Tal como

aborda La Feria, antigamente, no tempo da ditadura, os actores e agentes culturais

enfrentavam a terrível censura e, actualmente, o “monstro” com que se deparam é a

ditadura económica, que castra toda a tentativa de concepção de um espectáculo de

Revista. Mas importa olhar para o futuro com esperança e apontar soluções. Em

Espanha, a Zarzuela, que é um espectáculo semelhante à Revista e que está enraizado

na cultura popular, é promovida pelas instâncias estatais e foram criados espaços

próprios onde ela se pode ver e desenvolver. Será neste bom exemplo que as

instâncias governamentais portuguesas deverão pôr os olhos e iniciar, imediatamente,

uma política que retire a cultura do marasmo em que se encontra.