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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Museologia e Conservação e Restauro
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis
TERMOS E MODOS DE FAZER RELACIONADOS AO ESTUQUE DENOMINADO DE ESCAIOLA NOS REVESTIMENTOS
DE PAREDES NO SEC. XIX
FABIO GALLI ALVES
Pelotas, 2011
FABIO GALLI ALVES
TERMOS E MODOS DE FAZER RELACIONADOS AO ESTUQUE DENOMINADO DE ESCAIOLA NOS REVESTIMENTOS DE PAREDES NO
SEC.XIX
Trabalho de conclusão de curso
apresentado ao Bacharelado em
Conservação e Restauro de Bens Culturais
Móveis da Universidade Federal de
Pelotas, como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharel em Conservação e
Restauro de Bens Culturais Móveis.
Orientador: Prof.Dr. Pedro Luis Machado Sanches
Pelotas, 2011.
Banca Examinadora:
____________________________________
Prof. Dr. Pedro Luis Machado Sanches –(UFPEL /Orientador)
____________________________________
Profa. Ms. Andréa Lacerda Bachettini- (UFPEL)
Dedicatória
A Ivette Galli (in memoriam)
Agradecimentos
Agradeço ao corpo docente, aos discentes e funcionários da Universidade
Federal de Pelotas pelo empenho na consolidação do curso de Bacharelado em
Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis em especial ao Magnífico
Reitor Dr. César Borges e à Profª Dra. Maria Letícia Ferreira que acreditaram
neste curso.
Agradeço ao Prof°. Dr. Pedro Luis Machado Sanches pelo apoio,
paciência e conselhos para que este trabalho se realizasse plenamente.
Sou grato a Profa. Ms. Andréa Lacerda Bachettini pelo grande incentivo
nos estudos de restauro e excelente bibliografia generosamente sempre
disponível.
A Profa. Dr. Francisca Michelon, incansável em suas orientações.
Agradeço também aos colegas do Grupo de Estudos em Estuque (GEPE)
com os quais pude sempre trocar informações sobre esta técnica tão antiga.
Agradeço ao Prof. Dr.José Luiz de Pellegrin, sempre um bom conselheiro
e educador.
Agradeço a minha prima Eliane Zanella Prates pelo incentivo e apoio
sempre.
Agradeço a Arq. Cristina Rozinski que me colocou e deu grande apoio no
caminho dos estuques.
Ainda a todas as pessoas que acreditaram no meu trabalho como
restaurador, me incentivando a concluir esta formação com muito orgulho.
Muito Obrigado a todos.
Jerivá torto, não dá ripa!
João Simões Lopes Neto
Resumo
ALVES, Fábio Galli. Termos e modos de fazer relacionados ao estuque denominado
de escaiola nos revestimentos de paredes internas no sec.XIX. 2011. 85 f.
Monografia (Graduação) – Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro da
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.
No presente trabalho, realizou-se um levantamento da nomenclatura e das técnicas de
feitura do estuque de revestimento interno de parede denominado de “escaiola”, ou
“escariola”, em Pelotas, RS, Brasil. Muito utilizado no séc. XIX, este acabamento terá
aplicação nesta cidade até aproximadamente o segundo quartel do sec.XX.
Palavras-chave: Escaiola. Escariola. Marmorino. Estuque. Estuque Lustrado.
Abstract
ALVES, Fábio Galli. Terminology and production processes related of the stucco
wall finishes in the historic buildings of Pelotas, Brazil.2011 85 pgs f. Monograph
(Undergraduate degree) – The Conservation and Restoration Course in Federal
University of Pelotas, Pelotas (RS), Brazil.
This study is a survey of the nomenclature and techniques of production of stucco interior
walls finishes called "escaiola" or "escariola" in Pelotas, Brazil. Widely used in the XIX
Century, this type of finishes will be applied in this city until about the second quarter of
the XX century.
Keywords: Escaiola; Escariola; Marmorino plasters; stucco; stucco-lustro.
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Reprodução fotográfica feita da matéria veiculada na edição do jornal Diário Popular de 21 de março de 2010. ....................................................................................21
Figura 2: Reprodução fotográfica feita de matéria veiculada na edição de 21 de março de 2010. . .............................................................................................................................21
Figura 3: Reprodução da capa da Revista da Associação dos Proprietários de Imóveis de Pelotas em 1939.. ............................................................................................................22
Figura 4: Reprodução do Anúncio da Revista da Associação dos Proprietários de imóveis de Pelotas.. ......................................................................................................................23
Figura 5: Modelo de Composição Decorativa...................................................................40
Figura 6: Fotografia de detalhe do IJSLN usada como modelo para pintura. ...................41
Figura 7: Detalhe do soco. ...............................................................................................42
Figura 8: Detalhe do primeiro painel. ...............................................................................42
Figura 9: Detalhe do friso pintado. ...................................................................................43
Figura 10: Exemplos de moldes vasados para pintura. ....................................................43
Figura 11: Friso pintado. ..................................................................................................44
Figura 12: Detalhe do friso pintado. .................................................................................44
Figura 13: Comparação da espessura do revestimento no hall de entrada do casarão 2.45
Figura 14: Massa aplicada na lacuna conforme receita com o início do “fingido” de mármore pintado a fresco.. ..............................................................................................46
Figura 15: Estratigrafia das camadas de argamassa até o revestimento final em pó de mármore e cal. . ...............................................................................................................47
Figura 16: Vista do patamar da escada no segundo piso. ................................................48
Figura 17: Imagem da fachada do Casarão 6. .................................................................48
Figura 18: Detalhe do pórtico de entrada do Casarão 6. ..................................................49
Figura 19: Imagem de detalhe do corredor do Cassarão 6. .............................................49
Figura 20: Detalhe de decoração acima de uma das aberturas do Casarão 6 .................50
Figura 21: Detalhe de acabamento lateral em uma das abertura do Casarão 6 ...............50
Figura 22: Detalhe de quadro do pórtico de entrada do Casarão 6 ..................................51
Figura 23: Detalhe de fingimento no Casarão 6 ...............................................................51
Figura 24: Detalhe de parede do ambiente social do Casarão 6 ......................................52
Figura 25: Visão geral de quarto de banho no andar superior do Casarão 6 ...................53
Figura 26: Detalhe da decoração do quarto de banho. ....................................................53
Figura 27: Detalhe de corredor da área de serviço do Casarão 6 ....................................54
Figura 28: Lacuna em parede do corredor do Casarão 6 .................................................55
Figura 29: Detalhe do hall de entrada do Casarão 8 ........................................................56
Figura 30: Detalhe do desenho geometrizado no hall de entrada do Casarão 8 ..............56
Figura 31: Imagem reproduzida do Manual do Formador Estucador. ..............................57
Figura 32: Detalhe do ambiente que distribui para os ambientes da área nobre do casarão 8. ........................................................................................................................58
Figura 33: Detalhe do primeiro painel e friso do ambiente de distribuição do Casarão 8 .58
Figura 34: Detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8................59
Figura 35: Segundo detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8 ..59
Figura 36: Lacuna no revestimento em ambiente no casarão 8 .......................................60
Figura 37: Detalhe de lacuna de revestimento em ambiente do casarão 8 ......................61
Figura 38: Hall de entrada de residência que pertenceu ao Senador Joaquim Augusto Assunção. . ......................................................................................................................62
Figura 39: Detalha da decoração do hall de entrada. .......................................................63
Figura 40: Foto do Instituto João Simões Lopes Neto. .....................................................64
Figura 41: Foto de por menor de instituição particular. ...................................................65
Figura 42: Foto de colunas do prédio que abriga a sede do Clube Comercial de Pelotas. ........................................................................................................................................65
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12
1 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DOS ESTUQUES E EMPREGO DA ESCAIOLA NA CIDADE DE PELOTAS .................................................................................. 15
1.1 ESTUQUE ...................................................................................................... 15
1.2 ESCAIOLA: TERMO EMPREGADO E APROXIMAÇÃO DA TÉCNICA PREDOMINANTE EM PELOTAS ........................................................................ 19
1.3 DA FORMAÇÃO DA MÃO DE OBRA E MANUAIS PRÁTICOS ..................... 23
2 RESULTADOS DA PESQUISA DE TERMOS RELACIONADOS À ESCAIOLA E/OU IMITAÇÃO DE MÁRMORE EM ESTUQUE ................................................ 27
2.1 STUC OU MARBRE FACTICE, (ART MÉCHAN.) .......................................... 27
2.1.1 COMENTÁRIO SOBRE STUC OU MARBRE FACTICE ............................. 27
2.2 ESCAIOLA: IMITAÇÃO DO MÁRMORE ........................................................ 27
2.2.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLA IMITAÇÃO DE MÁRMORE ................ 28
2.3. REVESTIMENTOS COM ESCAIOLA: .......................................................... 28
2.3.1 COMENTÁRIO SOBRE REVESTIMENTO EM ESCAIOLA: ....................... 29
2.4 SCA.GLIA ....................................................................................................... 29
2.5 SCA.GLIA.RE ................................................................................................. 29
2.6 SCA.GLIO.LA ................................................................................................. 29
2.7. ESCAYOLA: .................................................................................................. 29
2.7.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAYOLA. ......................................................... 29
2.8. STUCCHI A LÚCIDO E SCAGLIOLE RICETTA CN. 12 ............................... 29
2.8.1 COMENTÁRIO SOBRE RICETTA CN. 12 STUCCHI A LÚCIDO E
SCAGLIOLE ......................................................................................................... 30
2.9 MARMORINO (modos tradicionais de realizar-se um marmorino) ................. 30
2.9.1 MARMORINO COM UMA ÚNICA COR E BRILHO NATURAL ................... 30
2.9.2 MARMORINO POLIDO A FRESCO ............................................................ 31
2.9.3 MARMORINO POLIDO A FRESCO E A QUENTE ..................................... 31
2.9.4 PINTURA E DECORAÇÃO A FRESCO DO MARMORINO ........................ 31
2.9.5 IMITAÇÃO DE MÁRMORE CLARO ............................................................ 32
2.9.6 IMITAÇÃO DE UM MÁRMORE A PINTURA FORTE .................................. 32
2.9.7 DECORAÇÃO DE PINTURA A FRESCO SOBRE MARMORINO .............. 33
2.9.8 COMENTÁRIO SOBRE AS RECEITAS DE MARMORINO (MODOS TRADICIONAIS DE REALIZAR UM MARMORINO) 2.6.1 À 2.6.7 ....................... 33
2.10 ESCAIOLAS ................................................................................................. 34
2.10.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLAS ....................................................... 34
2.11 STUCCO-LUSTRO ...................................................................................... 34
2.12 STUCCO-MARMO ....................................................................................... 35
2.13 SCAGLIOLA ................................................................................................. 35
2.14 ESTUQUE LUSTRO..................................................................................... 35
2.15 ESCAIOLA ................................................................................................... 35
2.16 ESTUQUE MARMORIZADO ........................................................................ 36
2.17 STUC-MARBRE ........................................................................................... 36
2.18 SCAGLIOLA ................................................................................................. 36
2.19 ESCAIOLA ................................................................................................... 36
2.20 ESCAIOLA ................................................................................................... 36
2.21 SCÀGLIA S.F. .............................................................................................. 37
2.22 SCAGLIÒLA ................................................................................................. 37
2.23 ESCAIOLA ................................................................................................... 37
3 DESCRIÇÃO DAS ESCAIOLAS DE PELOTAS ................................................ 39
3.1 CASARÃO 2 ................................................................................................... 45
3.2 CASARÃO 6 ................................................................................................... 48
3.3 CASARÃO 8 ................................................................................................... 56
3.4 OUTROS EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA TÉCNICA EM PELOTAS ......... 62
CONCLUSÃO ....................................................................................................... 67
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 69
APÊNDICE A ........................................................................................................ 71
DIPINTURA .......................................................................................................... 81
E DECORAZIONE ‘A FRESCO' DEL MARMORINO ........................................... 81
12
INTRODUÇÃO
A cidade de Pelotas no extremo sul do Brasil no ano de 2012 completará
200 anos, a história da cidade e as reminiscências da arquitetura local apontam
um período de grande prosperidade do meio para o fim da segunda metade do
sec. XIX. (MAGALHÃES, 1993 apud CHEVALLIER, 2002)
Exemplares arquitetônicos, construídos neste período, possuem no seu
interior uma técnica decorativa de acabamento de parede, que imita o mármore,
relacionada aos estuques, muito utilizada até o início da segunda metade do séc.
XX, definida como escaiola localmente ou “escariola” conforme jargão popular.
Procuramos então com este trabalho pesquisar a origem do uso deste
termo,e a que tipo de estuque está relacionado, uma vez que em consultas a
dicionários, manuais, livros de arquitetura e artes e ainda na própria rede
internacional, ora o encontramos relacionado a um material, ora a uma
determinada técnica de estuque. Será observado ainda que os testemunhos orais
são de certa forma escassos ou inconclusivos, ao tratar de como o termo,
escaiola ou escariola, foi incorporado à técnica aplicada em âmbito local.
Veremos mais adiante que o uso do termo escaiola pode ser empregado em
diversos contextos e não corresponder ao estuque encontrado em Pelotas.
A escassez de terminologia científica em língua portuguesa, questão
levantada por alguns autores em introdução aos seus trabalhos científicos (LEITE,
2008), e a divergência encontrada em material institucional1 de conservação de
estuques de parede, que podem apresentar uma técnica discordante da que se
apresenta no âmbito local ou ainda a necessidade de formar glossários2, são
1 Podemos citar o manual de IPHAN (BRASIL, 2005) e de Proprietários de Imóveis Inventariados da cidade de Pelotas (SILVA, et. al. 2008) que descrevem uma técnica com nomenclatura de escaiola que não corresponde a usual na cidade por uma série de características, as quais discute-se adiante neste trabalho.
2 Silvana Bojanoski em recente trabalho apresentado no V Seminário Internacional de Memória e Patrimônio “A construção da Conservação-Restauração como disciplina científica: da necessidade de elaboração de terminologias científicas; definindo glossário como repertório de unidades
13
fatores importantes aos profissionais que atuam na área de conservação e
restauro. Reconstituir e pesquisar nomenclaturas podem ser importante, uma vez
que problemas desta ordem podem ocasionar falta de entendimento do que lhe é
exposto, dificuldade na identificação e na elaboração de estratégias de
conservação e restauro quando necessário.
A preocupação com registros e nomes e modos de fazer, não vem dos
dias de hoje, o ponto de partida considerado essencial na cultura clássica no que
se refere às artes de estuque parte de uma fonte comum, os Dez Livros de
Arquitetura de Vitrúvio, tratado escrito como manual prático de um arquiteto
Romano do século I d.C. e publicado na época de Augusto, tornou-se da maior
importância na cultura arquitetônica e artística da cultura ocidental, sendo de
influencia decisiva no tratadismo sobre técnicas arquitetônicas até sec.
XIX.Quando da sua (re)descoberta no sec. XV, sua reintrodução faz-se baseada
em diversas transcrições o que desde logo levantaram importantes polêmicas
sobre o aspecto da redação e do significado do texto original. Em Vitrúvio é
particularmente fascinante observar a atualidade de suas descrições e técnicas,
sua leitura ajuda a compreender a gênese de muitas soluções de revestimentos
que podem ser observados ainda hoje em edifícios históricos. Ainda no decorrer
da história no sec. XVIII os iluministas reinvestem através do conhecimento
enciclopédico no estudo rigoroso das artes práticas e revalorização da sua
pedagogia com a edição da obra de Diderot , a Encyclopédie, ou Dictionnaire
Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, por une Société de Gens de
Lettres3 com o objetivo de registrar termos e técnicas. (AGUIAR, 2005)
lexicais de uma especialidade com suas respectivas definições ou outras especificações sobre seus sentidos. Composto sem pretensão de exaustividade, o trabalho aponta dentre as necessidades dos campos da metodologia e da terminologia, a composição de glossário ou dicionário definindo termos de que possuem uma pertinência temática ou pragmática e estabelecimento de suas definições (BOJANOSKI, 2011).
3 O iluminismo reinveste, através do conhecimento enciclopédico, no estudo rigoroso das artes práticas, exemplo desse regresso é a celebre enciclopédia de Diderot e de D’Alembert, DICTIONNAIRE RAISONNÉ DES SCIENCES, DES ARTS ET DES MÉTIERS, que repõem a atenção sobre conhecimento prático e a necessidade de revalorizar a sua pedagogia. (AGUIAR, 2005, p.181).
14
Levantar os registros do termo escaiola ou escariola, suas variáveis no
emprego e no uso dos estuques juntamente com sua aplicação parece necessário
para definir o valor e as estratégias de conservação deste patrimônio em Pelotas.
Associa-se a tal objetivo a necessária determinação da técnica mais
semelhante com o revestimento que encontramos na cidade através de
observações organolépticas e a reunião de termos possíveis que definam esta
técnica, para que possa ser usada por profissionais das mais variadas áreas.
A nomenclatura aplicada em Pelotas como ponto de partida desta
pesquisa oferece uma grande possibilidade de conhecimento pela popularização
e emprego contínuo durante de aproximadamente 100 anos da técnica de
escaiolas, demonstrando grande apreço popular, justificando ainda a necessidade
de reconstituir esta nomenclatura, suas receitas e modos de fazer, pois estas não
mudam ao mesmo tempo em que os termos, aplicando neste caso uma inversão
de hierarquia de conceitos da teoria de desconstrução de Jacques Derrida.
Num primeiro momento, a desconstrução visa inverter a hierarquia dos conceitos, procurando pensar o segundo termo como principal e originário. Na relação entre causa e efeito, por exemplo, este é tradicionalmente entendido como secundário e derivado daquela. Mas, em nossa experiência, primeiramente constatamos a manifestação do efeito, para então remontarmos a suas causas. Assim concebido, o efeito é que deveria ser tido como originário, pois é por causa dele que um fenômeno pode ser concebido como causa. Em outras palavras, numa perspectiva desconstrucionista, o efeito é entendido como a causa de sua própria causa. (VASCONCELOS, 2005, p.158).
Ainda pela integração entre as áreas: o conservador-restaurador poderá
trabalhar com os mesmos termos que o historiador, o etnólogo, o proprietário e,
principalmente, o estucador fingidor4.
Como primeiro passo foi pesquisado o léxico escaiola em dicionários,
livros de arte, manuais e bibliografia relacionada à arquitetura e a construção civil,
num segundo momento a pesquisa se estendeu às receitas relacionadas à
escaiola e as relacionadas ao estuque encontrado em Pelotas pela observação de
suas características.
4 Fingidor é um termo usado por Segurado para definir o profissionais que imitavam (fingiam) os materiais nobres. Acabamento das construções. (Segurado, s/data, p.196). O termo também será empregado quando a técnica dos estuques se populariza pela Europa no sec. XVII. (AGUIAR, 2005, p.258).
15
Portanto introduzimos o estuque e sua história, a escaiola como um tipo
de revestimento em estuque, suas características e partimos para pesquisa de
termos e modos de fazer, reunindo-os em um glossário para posteriores
comentários e conclusões em relação à técnica aplicada em Pelotas.
1 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DOS ESTUQUES E EMPREGO DA ESCAIOLA
NA CIDADE DE PELOTAS
1.1 ESTUQUE
Para se falar de escaiolas não podemos deixar de antes dar uma breve
história da arte do estuque no tempo antigo. Recentes escavações na ilha de
Malta, no complexo templário de Tarxiem, trouxeram a luz, traços de estuque e
decoração em pinturas realizadas no último período do séc. calcolítico maltes,
que remete de 3.000 a 2.500 a.C. No secundo milênio anterior a nossa era,
próximo ao Elam, o estuque começou a substituir a terracota. Alem disso foi
usada a cal (em substituição ao betume) para unir os tijolos, tendo em conta seu
rápido endurecimento. Fazem-se hipóteses que levam a crer que os estuques
arquitetônicos são nativos na província oriental do Irã e posteriormente difundidos
na Mesopotânia.
No Egito foi feito grande uso do gesso no revestimento murário com uso
de pintura. O gesso era misturado com areia e palha e usando como ligante, o
limo do rio Nilo, ainda era usado para adornar sarcófagos de madeira e como
revestimentos das pedras das construções.
Do mundo oriental passamos à Grécia e aos modos de trabalhar a
terracota para realizar arquitetonicamente, paredes, pisos e etc., que passa deste
material para o estuque, onde teve um grande e racional emprego, se constituindo
de uma mistura de cal apagada e agregados apropriados especialmente o pó de
mármore. (FOGLIATA, 2004). A técnica era usada pelos antigos romanos,
16
Pompéia é repleta de estuque. Vitrúvio, em seus livros, deixou testemunhos das
paredes decoradas.
No Período da Arte Grega Helenística a arte plástica por adição (estuque)
aparece por influência do Oriente. Os templos eram todos decorados, coloridos e
não brancos como se sabe historicamente. Usado tanto o estuque forte
(marmorino), quanto o estuque de gesso (estuque marmorizado). Nos períodos
Paleo-cristão, tardo romano, lombardo, romano e gótico, encontramos ainda ,
importantes e significativos traços dessa técnica em Ravena, Milão e Brescia. No
Renascimento a técnica volta a ser difundida. O estuque volta a ser utilizado por
volta de 1430 / 1440 por Donatello (cerca de 1386-1466), nas obras do arquiteto
Brunelleschi (1337-1446). Nesta época o estuque era branco, no máximo com
dourado, com baixo relevo e figuras sempre emolduradas. Durante escavações
arqueológicas, por volta de 1500, descobre-se o Palácio do Imperador Nero, todo
decorado em estuque forte, com adição de pó de mármore na massa, com flores,
animais e figuras mitológicas; o que despertou grande interesse dos artistas da
época, definindo-se como Arte Grotesca5, pois foram encontradas em edifícios
que pareciam grutas subterrâneas.
Giovanni da Udine com sua ornamentação grotesca é influenciado por
seu grande mestre Rafael Sanzio, sendo o grande estucador da época do
Renascimento. Por volta de 1600 no início do que é considerado o período
Barroco, se encontram o fundo do marmorino colorido e as massas pigmentadas.
Na primeira parte do Barroco, a decoração era muito pesada, robusta,
consistente, desaparecem as molduras e a decoração toma conta de todo o
espaço. A técnica do estuque foi muito difundida nesta época, por ser uma
execução mais rápida e mais leve em relação à pedra.
As figuras vão soltando-se da parede, tornando-se cada vez mais
tridimensionais. Para sustentar toda essa massa moldada, começa-se a usar
armação- esqueleto aparece a partir daí a técnica da escultura ‘a sbalzo’6.
5 O termo grotesco, originário do italiano grotta,que significa gruta, se torna associado àquela decoração parietal extravagante, formada por ramos, frutas, flores,folhagens, figuras híbridas do homem ligado a animais e outros elementos,imitando as decorações que foram realizadas em Roma estre os séculos XV e XVI. (Mascarenhas, 2008, p.30). 6 Execução de ornamentos em alto-relevo, utilizando um tipo de “armação” que ajuda a suportar a massa. Empregava-se pedaços de madeira recoberta de fibra natural a fim de facilitar a aderência do material.
17
Primeiro uma camada de reboco (massa) mais grossa com tijolo moído. Sobre
esta a massa de estuque aplicava-se cal e pó de mármore ou pó de pedra.
No Barroco, pela necessidade excessiva de decoração, o tempo curto
para execução e a distância entre o observador e estes elementos, o acabamento
não era refinado, era mais grosseiro, sem brilho, com a última camada sendo feita
até com uma caiação, sem polimento.
Nas últimas décadas de 1600, esta decoração carregada perde-se, por
influência oriental e das colônias. Há um retorno à utilização das técnicas da
Renascença. As cores voltam a ser pastéis, a espessura dos detalhes decorativos
tomam-se mais suaves, menos volumosos. Mantêm a continuidade da decoração
e acrescentam-se arabescos, geometrias e curvas assimétricas. (Informação
Verbal)7.
Com esta breve história do estuque, pode-se considerar que os
revestimentos com base em cal, gesso, agregados finos como pó de mármore e
pigmentos aplicados em camadas, utilizados durante milênios e até meados do
séc. XX, e denominados como estuque, se prestaram para técnicas decorativas
artisticamente complexas, como afrescos, semi-afrescos, os grafitos e os
esgrafiados, os baixo-relevos e os altos relevos, os fingidos e os efeitos
ilusionistas, tanto em superfícies interiores como exteriores dos edifícios,
constituindo o testemunho material de uma prática muito antiga e um patrimônio
de elevado valor artístico e histórico.
Patrimônio este em vias de desaparecer em muitos locais, pela quase
completa extinção dos saberes de manufatura e ainda por substituição dos
materiais e modificação das práticas construtivas.
Os revestimentos exteriores com base em cal constituem em um efectivo sistema de protecção (enquanto camada sacrificial) das alvenarias e estruturas e de comunicação formal na arquitectura. Durante milênios e até meados do século XX, as argamassas de cal com diferentes tipos de agregados, geralmente de proveniência local, utilizaram-se tanto nos acabamentos interiores como exteriores dos edifícios. Os romanos deram a este tipo de revestimentos a termo genérico de stucco, que parece provir da antiga palavra lombarda stuhhi,que indicava crosta, ou pele. Uma pele que protegia e revestia, de forma esteticamente adequada, a estrutura muraria, como esclarece Giogio Forti: “E como La
7 (Palestra da Arquiteta Enilda Miceli Sobre estuque e escaiola na I Jornada sobre Preservação do Patrimônio Cultural – 28 e 29 de agosto de 2007 - FAU-PUCRS – Porto Alegre, RS).
18
pelle ed il vestito possono caratterizzare, com Le loro intonazioni cromatiche, l’uomo, cosi l’intonaco e lo stucco, a seconda della cromia, possono caractterizzare l’intera architettura” (apud. ROSÀRIO, 2004, p.1).
Na introdução do livro Arte de los yesos, Rojas (1999) 8 define muito bem
a crise que vivemos em relação às velhas tradições, quando diz que nunca se
conseguiu nada parecido com os novos materiais que hoje inundam o mercado. O
esquecimento absoluto das técnicas históricas e o grande massacre artesanal
tem sido um dos aspectos mais negativos dos avanços da era industrial no séc.
XX.
A promoção dos novos materiais que invadem o mercado e o imenso
poder de persuasão e convincente das multinacionais, não somente acabaram
com os materiais tradicionais, com suas técnicas e seus artesões, como também
cegaram os profissionais, e o que é muito pior, cegaram as docências oficiais, que
passaram a considerar tudo o que fosse tradicional, como obsoleto diante da
chegada da modernidade.
Ainda segundo Rojas os novos materiais, Portland9 ou os sintetizados dos
resíduos já inservíveis, do petróleo (pigmentos e tintas), criam, por suas
características, barreiras de vapor, com a conseguinte concentração de sais
solúveis na parte interna do invento. O que causará estragos na parede,
esfarelando-a, desagregando seus materiais construtivos em geral de estuque,
pedra ou tijolo, e criando fissuras e outras agressões.
A qualidade e durabilidade dos revestimentos com base em cal e areia
dependem tanto do cuidado na seleção das matérias primas, como das
tecnologias da produção e aplicação da decoração a base de estuque, o que
também definia materiais que poderiam ser empregados no interior ou no exterior
das edificações. Um importante exemplo disso está no fato da matéria prima cal
poder ter sido utilizada, conforme características específicas, tanto no interior
como no exterior, enquanto o gesso teve seu uso restrito à parte interna dos
edifícios.
8 Ignácio Garate Rojas Dr, Arquiteto em seu livro A Arte de Los Yesos, vai se unir a um químico e um artífice como colaboradores, produzindo uma obra com registros valiosos na área dos estuques. 9 Uma das denominações dadas ao cimento.
19
Importante ainda é compreender a base onde o revestimento está
aplicado que podem ser de ripas de madeira, telas de arame, tijolos assentados
com barro, pedra e etc. O que pode gerar um número bem complexo de
patologias em conjunto com a massa quando expostas a fatores não previstos.
Com todas estas características e embora a simplicidade dos materiais, é
necessário que se conheçam os antigos saberes, para entender e conseguir
intervir de maneira conservativa10, propondo metodologias com materiais de
restauro que não afetem os originais, normalmente em péssimo estado de
conservação devido ao passar do tempo, uso e intervenção com materiais
inadequados, mudanças nas condições climáticas e atmosféricas desfavoráveis,
trafego e falta de manutenção das residências. Evita-se assim, na medida do
possível, substituições do material original que nada mais é que a pele que
reveste nosso patrimônio.
1.2 ESCAIOLA: TERMO EMPREGADO E APROXIMAÇÃO DA TÉCNICA
PREDOMINANTE EM PELOTAS
A cidade de Pelotas teve em sua história um período de grande riqueza
gerada pela indústria saladeril (produção de charque) que irá influênciar a cultura
e a arquitetura local.
Os anos entre 1845 e 1860 foram marcados por um esforço de recuperação econômica e de retomada do crescimento urbano. Em 1853, o relatório da Presidência da Província registrou a existência na zona rural, de 38 charqueadas e de 37 olarias, ou seja, a cidade estava pronta para retomar seu desenvolvimento. Em seu livro Opulência e Cultura na Província de São Pedro: um estudo sobre a história de Pelotas (1860 – 1890), Mário Osório Magalhães conclui que a cidade de Pelotas viveu, entre os anos de 1860 e 1890, seu apogeu sociocultural, explicado pela “convergência de boas condições urbanas e econômicas” (CHEVALIER, 2002, p. 27).
“Escaiola” ou “escariola” é o termo designado para os revestimentos de
paredes internas encontrados nas residências do dito “apogeu sociocultural”, na
cidade de Pelotas. É um tipo de pintura a fresco aplicada sobre uma massa lisa,
10 Conservação - todas aquelas medidas ou ações que tenham como objetivo a salvaguarda do patrimônio cultural tangível, assegurando sua acessibilidade às gerações atuais e futuras. A conservação compreende a conservação preventiva, a conservação curativa e a restauração. Todas estas medidas e ações deverão respeitar o significado e as propriedades físicas do bem cultural em questão. (Boletim Eletrônico da ABRACOR- Número 1. Julho de 2010).
20
fina e lustrosa (estuque) demonstrando grande apuro técnico, artístico e grandes
dimensões, típicas do sistema construtivo a base de cal, cujos seus executores
ficaram na maioria anônimos e desapareceram com a popularização do uso de
azulejos e outros acabamentos, não sendo encontrado até hoje registros escritos
da execução da técnica nesta região, apenas o testemunho material nas paredes
de residências construídas até a metade do sec. XX, aproximadamente. Hoje não
há mais quem execute essas obras em suas dimensões, apenas quem as
restaure, tornando-as verdadeiras relíquias do sistema construtivo e decorativo do
sec.XIX, até o XX onde eram ainda muito utilizadas como revestimento de
paredes internas.
Em Portugal e em Espanha, perdeu-se o significado original do termo “escaiola”, que derivava da scagliola italiana e que, nos últimos dois séculos, por corruptela ou por simplificação, passou a designar, sem o ser, a técnica do stucco-lustro e até por vezes, do stucco-marmo, situação que leva a algumas confusões terminológicas propagadas até nossos dias. Entre nós é muito freqüente chamar “escaiolas” a todo tipo de fingimentos de pedra, sejam estes feitos com pintura ou com cor dada na massa, como se pode comprovar consultando a entrada ”escaiola” de dicionários de Belas-Artes dos séculos XIX ou XX. (AGUIAR, 2005, p. 258).
Como podemos constatar, a questão terminológica também se faz
presente em Pelotas, aqui o termo “escariola “é aplicado por profissionais tanto da
área da construção como da decoração, como foi constatado em entrevista de
jornal com profissional do aposentado e anúncio em revista de 1939.
21
Figura 1: Reprodução fotográfica feita da matéria veiculada na edição do jornal Diário
Popular de 21 de março de 2010. Fonte: O autor, 2011.
Figura 2: Reprodução fotográfica feita de matéria veiculada na edição de 21 de março de
2010. Fonte: O autor, 2011.
22
Nas figuras 1 e 2 temos a reprodução fotográfica feita da matéria publicada
na edição do jornal Diário Popular11 de 21 de março de 2010, da qual
reproduziremos as passagens mais relevantes ao assunto em questão.
Com o título de “Bens culturais, como as escaiola, seguem por gerações de
profissionais que buscam preserva os saberes antigos” a entrevista realizada
com o senhor Sued Macedo, de 75 anos de idade, pedreiro aposentado.procura
resgatar parte deste conhecimento.
“(Acostumei-me a ver aquelas paredes de pé direito altíssimo, ‘escarioladas’(gosto de usar o termo popular) em branco puro fingindo um carrara). Quem não tinha condições de azulejar a casa mandava ‘escariolar’12.”
Figura 3: Reprodução da capa da Revista da Associação dos Proprietários de Imóveis de
Pelotas em 1939. Fonte: O autor, 2011.
11 Jornal da cidade de Pelotas fundado em 1890. 12 Diário Popular, 21 mar. 2010, p. 8
23
Figura 4: Reprodução do Anúncio da Revista da Associação dos Proprietários de
imóveis de Pelotas. Fonte: O autor, 2011.
Nas figuras 3 e 4 foi reproduzido o anúncio veiculado na Revista da
Associação dos Proprietários de Imóveis de Pelotas em 1939 onde oferece
serviços de pinturas decorativas, estuques e “escariolas”, o que demonstra que o
termo popular ainda prevalece até o final da década de trinta.
1.3 DA FORMAÇÃO DA MÃO DE OBRA E MANUAIS PRÁTICOS
Segundo o arquiteto Aguiar (2005, p. 193) em se Livro a Cor e a Cidade
Histórica até meados do sec. XX a formação da mão de obra era invariavelmente
prática: o aspirante a profissional iniciava como aprendiz, passando a oficial, e
quando dominada a arte, finalmente se tornava mestre.
24
Na construção tradicional existia uma hierarquia, estrita e bem estruturada
definindo o lugar preciso de cada um, em função da capacidade e
responsabilidade artística. Como exemplo dentro da corporação dos pintores, era
marcada a distinção entre o brochante, o pintor vulgar, o pintor fingidor e o pintor
decorador, alguns profissionais de grande especialização.
Nos grandes centros industriais e artísticos há fingidores que só imitam madeiras, outros que só fingem mármores havendo ainda especialistas para [fingir] determinadas madeiras e certos mármores, que não fazem outra coisa. (AGUIAR, 2005, p.193).
Sobre manuais ainda diz que na segunda metade do séc.XIX, no embalo
do “Fontismo”13 de uma política de desenvolvimento que se caracteriza pela
liberalização e gradual especialização do saber, há uma obrigação de sistematizar
os saberes disponíveis, surgem em Portugal manuais como o Guia do Operário
nos trabalhos públicos (GUERRA, 1896) o Curso Elementar de Construções
(LEITÃO, 1896) e também o essencialmente técnico Bases Para Orçamentos
(Direção-Geral de Engenharia, Lisboa, Lallement Frères,1877). Fazia parte da
natureza destes manuais a definições de preços com base no trabalho, a
discrição, seus materiais e quantificação dos mesmos, além de, assegurar com
pragmatismo a descrição dos trabalhos e dos materiais para a construção, sob
pena de na sua falta se perder a objetividade, ao tornar generalista seu conteúdo.
Já em meados do séc. XX este conteúdo dos manuais tende a se simplificar
perdendo sucessivamente, sua utilidade enquanto repositório do modo de fazer.
No livro Os Mestres das fachadas artistas e artesões, a artista plástica e
pesquisadora Yvoti Macambira (1985) dedica o capitulo quarto a “Como se
Modelavam um Artesão”.
O capítulo aborda desde o período colonial com ensino profissional
ministrado pelos jesuítas, à necessidade de formação de mão-de-obra
instrumentada com a abolição da escravatura, período que até então, toda a
atividade manual era executada por escravos, incluindo as artísticas. As
13
Fontismo é a designação dada ao período que se seguiu à regeneração e à consequente diminuição, ainda que temporária, da crônica instabilidade política em que tinha mergulhado a monarquia constitucional portuguesa. A designação fontismo deriva do nome de Fontes Pereira de Melo, a figura líder do período. (RIOS, 2007).
25
atividades manuais então rejeitadas pelas classes abastadas são ensinadas
apenas a órfãos pobres e desvalidos, sendo fundado em 1874 o Instituto de
Educandos e Artífices. Esse tipo de instituições ensinavam aos alunos, as quatro
operações, alfabetização e ofícios como de alfaiate, marceneiro, serralheiro e
outros do mesmo tipo, introduzidos à medida que se faziam necessários para a
comunidade. Prevalecia o sentido de coisa menor atribuído à atividade manual,
esta por sua vez, era entendida como arte menor.
Com a chegada de um grande número de imigrantes, e com a
necessidade de ensinar a falar e escrever a língua nacional, em 1874 é fundada a
Sociedade Propagadora da Instrução Popular. Em 1882, a Sociedade passa a
Instituto Profissional, adotando o nome de Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
O Liceu de Artes e Ofícios terá seu currículo inspirado nos Liceus de artes
e Ofícios fundados conforme os planos de Le Breton (coordenador da Missão
Francesa no Brasil) já existente na cidade do Rio de Janeiro desde 1820.
(MACAMBIRA, 1985.).
A partir de 1895 assume o arquiteto Francisco de Paula Ramos de
Azevedo (1851-1928) tendo estudado na Bélgica era dono do escritório de
engenharia responsável pela maioria da obras públicas da cidade de São Paulo
no período. Ramos de Azevedo tinha então no Liceu o máximo interesse em
instrumentar artífices, capazes de trabalhar nos projetos encomendados em seu
escritório. O modelo implantado era semelhante aos das escolas que ele havia
conhecido na Europa, o programa era amplo e o conteúdo era composto de:
Desenho Linear-geométrico, Desenho Linear e a Mão Livre, Desenho
Arquitetônico, Desenho Profissional, Modelação, Desenho e Pintura nas Artes
decorativas.
Somente em 1911 são fundadas pelo Governo do Estado escolas que
efetivamente se incumbem do ensino profissional. O programa era muito
semelhante ao do Liceu.
Vale a pena destacar então, o descrito no cap. VI. Atribuições e Técnicas
dos Artistas/artesões, subtítulo 3 O Pintor Decorador letra A.
Quando se tratava de desenhos exclusivos, o pintor confeccionava ele próprio as máscaras para esse fim. Cabia ao pintor também executar todo o trabalho de douração, mais comumente usado nas igrejas. Dividia com o frentista o trabalho de aplicar diversas técnicas de estucagem,
26
quando estas dependiam do trabalho de pintura para proporcionar os resultados desejados. O pintor complementava o trabalho do frentista na confecção de estuque, pintando por exemplo, imitações de pedra. Com tintas em pó desfeitas em água, produzia os efeitos desejados na superfície previamente preparada com a técnica conhecida por “estuque lustro”. (MACAMBIRA, 1985, p.84).
No panorama apresentado até aqui, torna-se então necessário entender e
definir qual o revestimento de paredes que é encontrado na cidade de Pelotas.
Quando da observação das paredes e suas patologias, vamos encontrar
as informações necessárias para nos aproximarmos da identificação da técnica.
Para tanto foi feita uma seleção de residências construídas no séc. XIX
nas quais se identificaram algumas de suas características através de uma
observação in loco e registro.
Vale apena ressaltar que na grande maioria os estudos são em torno da
datação e atribuição enfocando os projetos de fachada, que na sua grande
maioria encontrasse em pesquisa.
27
2 RESULTADOS DA PESQUISA DE TERMOS RELACIONADOS À ESCAIOLA E/OU
IMITAÇÃO DE MÁRMORE EM ESTUQUE.
Neste capítulo foram reunidos 23 termos lexicais e/ou receitas relacionados
à escaiola e de termos que levam a imitação de mármore em estuque. Em alguns
casos acompanhados de um comentário. A ordem em que os mesmos serão
apresentados será pela data da publicação, da mais antiga para amais atual, com
a posterior tradução, do termo em língua estrangeira.
Para uma maior fluidez do trabalho as definições alongadas e receitas na
língua original foram relacionadas na integra, em apêndice neste trabalho.
2.1 STUC OU MARBRE FACTICE, (ART MÉCHAN.)
Estuque ou mármore artificial (arte mecânica). Estuque ou mármore
falso é invenção humana a base de gesso, conhecida tanto por sua dureza como
por sua durabilidade. Pode ser composto por diferentes cores que podem
representar quase que naturalmente os mámores mais preciosos. (DIDEROT;
D’ALMBERT,1778)
2.1.1 COMENTÁRIO SOBRE STUC OU MARBRE FACTICE
Esta definição relaciona estuque a arte mecânica (manual) e a
representação de falso mármore. Menciona matéria prima gesso e pigmentos,
enaltecendo as qualidades do resultado final com dureza e semelhança ao
Mármore verdadeiro.
2.2 ESCAIOLA: IMITAÇÃO DO MÁRMORE
O mármore com as suas lindas e variadas cores foi sempre considerado
como uma pedra estimada para as construções luxuosas, mas ao mesmo tempo
como um material dispendioso pela sua raridade, havendo mesmo países onde
ele não existe.
28
Por esta razão fizeram-se muitas experiências para substituir o mármore
por qualquer processo artificial, e só depois de aparecer o cimento branco,
que pela sua rigidez pode igualar na resistência o mármore, é que se conseguiu
um resultado satisfatório.
A imitação do mármore a que chamaram escaiola, quando é executada
por artistas de competência dá uma perfeita semelhança dos mármores naturais.
Apesar do seu custo de fabrico ser bastante elevado, já hoje em quase todos os
estabelecimentos modernos se encontram colunas, pilastras, lambris, etc.
revestidos de escaiola.
O material para a preparação da massa que se emprega na escaiola, é,
como já dissemos, principalmente o cimento branco (cimento inglês), além de
tintas em pó necessárias para a confecção das diversas cores e pedra hume
(alúmen). Para os acabamentos são empregados a pedra pomes, pedra de
Escócia, pó de poteia14, óleo de nozes, cera dissolvida em aguarás e panos para
esfregar. (SEGURADO, s/data).
2.2.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLA IMITAÇÃO DE MÁRMORE
Aqui o autor apresenta mármore como material estimado para
construções luxuosas e que devido ser o mesmo raro e dispendioso, pode ser
substituído por um processo artificial. Neste processo inclui o cimento branco
como o material que possibilitou esta imitação o que nos remete ao final do séc.
XIX início do vinte. Na apresentação da receita pode-se constatar que é uma
massa de espessura de 15 mm, aplicada e moldada numa superfície em partes e
que deve ser desbastada e polida. Chama a atenção uso exclusivo do cimento
branco, as matérias primas gesso, cal, pó de mármore e areia não são citadas na
receita.
2.3. REVESTIMENTOS COM ESCAIOLA:
O revestimento com escaiola é feito sobre o emboço da parede e consiste
em cobrí-la com uma camada de material devidamente polido que imita o
mármore, o alabastro ou outras pedras de valor. (ver na integra em apêndices).
(PIANCA, 1977)
14 Poteia- óxido de estanho reduzido a pó muito fino.
29
2.3.1 COMENTÁRIO SOBRE REVESTIMENTO EM ESCAIOLA:
O autor apresenta situações de emprego da escaiola, as vantagens em
certos casos sobre o uso de azulejos e receita com matérias primas cal ou gesso,
areia fina, pó de mármore e corantes incorporados ou não a massa. Para áreas
sujeitas a ação da água indica o uso de cimento branco. O polimento será dado
esfregando pedra pomes e posteriormente aplicando-se óleo de linhaça e
encerando-se com cera e água raz. Em nenhum momento faz comentário sobre a
espessura da massa e veios de mármore.
2.4 SCA.GLIA
[sk'aya] sf Zool. escama. Min. Lasca. (POLITO, 1993).
2.5 SCA.GLIA.RE
[skay’are] vt jogar, atirar, arremessar; descamar (peixe), vpr jogar-se,
atirar-se. (POLITO, 1993)
2.6 SCA.GLIO.LA
[skay'cla] ou sca.gliuo.la [skaVwola] sf Bot. alpiste. (POLITO, 1993).
2.7. ESCAYOLA:
Sulfato de cálcio a 180°C, material de rápido endurecimento para
aplicações e moldes. Quanto maior a temperatura de calcinação, mais lentamente
endurece.
2.7.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAYOLA.
Aqui vemos apenas a definição da matéria prima gesso e suas
características conforme a temperatura de calcinação. A autora não relaciona à
imitação de mármore. (GONZÁLEZ; MARTÍNES, 1997)
2.8. STUCCHI A LÚCIDO E SCAGLIOLE RICETTA CN. 12
Argamassa com gesso e cal para o estuque polido. Composição e
aplicação. Estuque polido e escaiola [...] As aplicações em edifícios modernos
30
podem ser preparadas de duas maneiras: em ambos os casos é necessário a
premissa da aplicação de revestimento áspero e comum de gesso, deixando
secar perfeitamente.
1 - Espalhe sobre a superfície uma pasta de gesso e água cola e sobre
esta primeira camada é sobreposta por uma segunda mais fina e lisa de gesso,
misturada com água de cola e pigmentos, ocre amarelo, vermelho ou qualquer cor
conforme o gosto. Quando o gesso secar, polir com pedra-pomes e água, após
aplicar uma camada de óleo para dar brilho. Por este meio o estuque de gesso,
imita perfeitamente qualquer tipo de mármore, de excelente durabilidade quando
não exposto à água ou umidade. É de elevado custo e necessita de muita mão-
de-obra.
2 - Sobre o gesso comum é aplicada, por meio de espátula, uma fina camada de
argamassa de espessura 1-2 milímetros, feita de pó de mármore, areia fina e cal,
em que pode-se adicionar uma pequena quantidade de ocre vermelho ou
amarelo, para imitar o fundo do mármore que se deseja. Em seguida, com o
pincel pintar a superfície, com manchas e listras de acordo com o mármore que
deseja imitar. Então com um ferro quente, alise a superfície, repetindo este
processo até obter o alto brilho do mármore. [...] (ARCOLAO, 1998)
2.8.1 COMENTÁRIO SOBRE RICETTA CN. 12 STUCCHI A LÚCIDO E
SCAGLIOLE
Nestas receitas podemos constatar que o termo scagliole está
relacionado à segunda receita. A mesma descreve aplicação de massa com
colher a uma expessura de 1-2 mm sendo esta a base de cal, pó de mármore e
areia fina. Indica pigmento na massa e pintura a fresco fingindo o mármore. O
polimento é dado com ferro quente.
2.9 MARMORINO (modos tradicionais de realizar-se um marmorino)
2.9.1 MARMORINO COM UMA ÚNICA COR E BRILHO NATURAL
Trabalho da jornada: Molhar a superfície, com um nebulizador, onde será
aplicado o primeiro estrato se aplica o primeiro estrato de marmorino composto
de 6 partes de pó de mármore e 4 de pasta de cal, em movimentos circulares
31
com o fratacho de madeira, nivelando a superfície. O segundo estrato, com 5
partes de pasta de cal e 5 partes de pó de mármore, se aplica em seguida que o
primeiro começar a aderir, uma camada muito fina em movimentos circulares. O
terceiro estrato ou de polimento ,composto de 6 partes de pasta de cal e 4 de pó
de mármore, será aplicado quando o segundo também já estiver aderido, de
modo a formar uma fina película, o polimento. O operador deve atentar a
uniformidade na aplicação das massas para obter como resultado uma superfície
homogenia. Após estas operações será feito o alisamento da superfície com o
fratacho de ferro polido e a colher de estucador.
2.9.2 MARMORINO POLIDO A FRESCO
Trabalho da jornada: executar todas as etapas anteriores e passar ao
alisamento a fresco. Se pega a solução de sabão previamente preparada, e
aplica-se uma camada da mesma, com um pincel macio, por toda a superfície,
sem causar defeitos, duas ou três vezes intercalando a direção. Deixa-se secar
por volta de 10 a 30 minutos para o sabão penetrar através do marmorino, após
com um pincel macio e seco elimina-se qualquer resquício de sabão que possa
ter ficado em excesso na forma de pó.
Procede-se ao polimento com a colher de estucador como explicado
anteriormente.
2.9.3 MARMORINO POLIDO A FRESCO E A QUENTE
Sobre o marmorino preparado como nas etapas anteriores se aplica ao
polimento com um ferro de aço quente que era comumente chamado de ferro de
“estiro”. Tal método é empregado para acelerar o polimento de grandes áreas.
2.9.4 PINTURA E DECORAÇÃO A FRESCO DO MARMORINO
Para pintar a fresco um marmorino são indispensáveis: o marmorino
como da receita 2.6.1, solução de sabão em água, pigmento em pó, pinceis
macios de diversos tamanhos, esponja marinha, colher de estucador e
eventualmente cera.
Leva-se também em consideração aqui, o trabalho de uma jornada, para
determinar o início e o fim de um ciclo de trabalho de pintura, pois após se
32
encerrar um ciclo não é mais possível continuar a pintura, pois o matérial já
estará em fase de secagem não tendo mais condição de receber cor. Todo o
aparato decorativo deve ser dividido em torno do que será possível executar
numa jornada de trabalho. A subdivisão se faz com uma incisão no marmorino
ainda fresco deixando uma margem de meio centímetro para que em outra data o
operador possa unir perfeitamente o outro marmorino.
2.9.5 IMITAÇÃO DE MÁRMORE CLARO
Trabalho da jornada: se prepara uma marmorino com cor na massa
conforme o mármore a ser imitado, terminado o marmorino como na receita 2.6.1
se aplica uma ou duas mão de solução de sabão. Se mistura os pigmentos das
cores escolhidas em solução de sabão ocupando tantos recipientes quanto forem
os pigmentos necessárias, a densidade da mistura colorida deve ser semelhante
a do leite. Com pinceis adequados de diversos tamanhos, e com esponja
marinha, inspirado na natureza, desenhe veios e manche para imitação do
mármore escolhido. Para que não se misturarem é importante passar a colher de
estucador entre as aplicações de cores.Terminada a imitação do mármore, aplicar
um polimento geral com a colher de estucador, sem adição de sabão. A eventual
aplicação de cera após secagem do marmorino proporcionará um efeito muito
realista ao fingimento.
2.9.6 IMITAÇÃO DE UM MÁRMORE A PINTURA FORTE
Trabalho da jornada: para executar a imitação de um mármore de forte
tonalidade, (ex.Verde de Genova, Granito vermelho Índia, Porto Ouro, Vermelho
de Verona etc.) se prepara um marmorino branco natural, sem pigmento na
massa, trabalhado como em 2.6.1.
Suponhamos imitar o Verde de Genova, então em um recipiente se
mistura e se escolhe o pigmento que dará a cor de fundo, neste caso Preto videira
ou outro preto, se aplica a cor sobre a superfície com um pincel macio e de
qualidade a modo de veladura, cruzando as pinceladas.
No tempo de absorção da tinta, que é relativo a extensão da área pintada,
se deve polir suavemente com a colher de estucador. Quando se obtiver uma
superfície colorida e lisa e com a cor fixada, se passa a outra fase. Teremos então
33
preparado em outros recipientes as cores necessárias para este trabalho, que
serão aplicadas com pinceis e esponja marinha até obter o efeito necessário,
seguindo então ao polimento com a colher de estucador.
2.9.7 DECORAÇÃO DE PINTURA A FRESCO SOBRE MARMORINO
Trabalho da jornada: se prepara o marmorino como na receita 2.6.1,se
presume que o projeto da pintura já foi resolvido e elaborado, os modelos a
serem aplicados preparados assim como o material de aplicação, as cores já
foram escolhidas previamente. Se prepara o marmorino da jornada, se aplica os
desenhos elaborados sobre a superfície do mesmo ainda fresco, pelo método de
pequenos furos no desenho e sujando com uma pequena bucha com pigmento
dentro ou se desenha por cima do mesmo com uma ponta arredondada de metal
com leve pressão para marcar de forma incisa a forma no marmorino (método
muito antigo adotado por Michelangelo para pintura da Capela Sistina).
Inicia-se a pintar com pincel macio, com pigmento em água de sabão,
com veladuras rápidas e sobrepostas formando o motivo decorativo com sombra
e luz.
É importante repetir que se deve polir uma cor antes de se passar para
outra para evitar que se misturem. Quando estiver seco, poderá ser tratado com
cera, o resultado estético será visivelmente idêntico a encáustica Romana.
2.9.8 COMENTÁRIO SOBRE AS RECEITAS DE MARMORINO (MODOS
TRADICIONAIS DE REALIZAR UM MARMORINO) 2.6.1 À 2.6.7
No conjunto de receitas apresentadas a titulo de marmorino podemos
observar que a primeira (2.6.1) apresenta o modo de fazer do que será a base
para as receitas posteriores as quais, poderão receber métodos de acabamentos
e decoração distintos, é extremamente detalhada (ver apêndice) indicando o
sentido de trabalhar com a massa e inclusive sugerindo o número de executores
para uma “jornada de trabalho”. Dá ainda a entender que o marmorino se presta
a diversos acabamentos, sendo uma matéria prima ou base para ser utilizado
com ou sem polimento e pigmento, adicionado de pigmento e polido e pintado a
fresco com veios e composições variadas. Pode ainda ser usada para estuques
ornamentais tridimensionais. (FOGLIATA, 2004).
34
2.10 ESCAIOLAS
Podem ser executadas no próprio local da aplicação ou nas oficinas dos
estucadores e transportadas ao local de fixação, que se dará por parafusos ou
outro meio. O local de execução deve ser isento de poeiras e umidade. Deve ser
utilizado gesso de primeira qualidade, muito bem peneirado. A água de cola (1
litro de água para 500 gramas de cola de carpinteiro) deve ser preparada
diariamente. As superfícies que receberão a escaiola devem estar limpas e bem
molhadas. Na preparação entra o cimento branco e as diversas tintas em pó, a
serem misturadas à massa. A cor depende da natureza da pedra que se quer
imitar.
A massa a ser aplicada é formada por gesso, amassado em superfície de
mármore, com água e cola concentrada, de modo a constituir pasta pouco fluida e
que cure entre 12 e 20 horas.
Caderno de Encargos do Programa Monumenta editado pelo IPHAN na
página 90 item 04.07.06.00 - Escaiola (parede) subitem 04.00.00.00 cita e
apresenta o modo de fazer na p.238 que define ESCAIOLA. (BRASIL, 2005).
2.10.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLAS
A receita remete a escaiola feita de gesso, chama à tensão o fato de que
pode ser feita fora da parede e aplicada posteriormente.
2.11 STUCCO-LUSTRO
Stucco-lustro (stuccolustro), que imitando pedras ornamentais, como
mármores ou brechas, através da pintura (a fresco, ou a seco) feita sobre
estuques lisos de argamassas de cal e de areia finíssima ou de pasta de cal com
pó de mármore, ou também sobre argamassas de gesso e cal, no fim pintados e
cuidadosamente acabados, por vezes com pinturas brunidas a ferro quente e
depois polidas, podendo levar acabamento final com ceras e vernizes. (AGUIAR,
2005).
35
2.12 STUCCO-MARMO
Stucco-marmo (por vezes também erradamente designado, na nossa
literatura técnica e artística, como scagliola ou escaiola),uma outra técnica
decorativa, onde a simulação se conseguia incorporando pigmentos nas próprias
argamassa, utilizando-se massas de gesso e/ou pastas de cal. (AGUIAR, 2005)
2.13 SCAGLIOLA
Verdadeira scagliola, que propõe revestimentos ornamentais simulando
embutidos de pedra, compondo esquemas decorativos policromos que se
executam com massas de gesso (ou gesso e pasta de cal) carregadas de
diversos pigmentos e colas, jogando com os contrastes das cores, recortando
espaços necessários numa camada-base e preenchendo-os com distintas
massas coloradas. (AGUIAR, 2005).
2.14 ESTUQUE LUSTRO
Esta técnica, também conhecida como fresco lustro, é de procedência
italiana. Em algumas localidades pode ser denominada de estuque pranchado ao
fogo ou estuque pranchado quente. Ela consiste praticamente em uma pintura
”marmorizada” executada a fresco sobre uma superfície preparada de cal e pó de
mármore bem fino, seguida de solução aquosa de sabão e aplicação de
pranchas de ferro ou aço, previamente aquecidas em um fogão, ou pranchas
elétricas, tornando a superfície mais lisa e brilhante. (MASCARENHAS, 2008).
2.15 ESCAIOLA
A escaiola é uma técnica semelhante ao estuque lustro, sendo em algumas
localidades considerada a mesma. A grande diferença está em utilizar no lugar da
prancha aquecida uma espécie de colher de pedreiro especial – cazzuola -, que
apresenta acabamento arredondado nas bordas, usada para dar o polimento e o
brilho desejado nas superfícies. Este método de imitação de mármore é
conhecido como marmorino decorati, finto marmo ou scagliola.
O processo consiste então na reprodução de mármores realizada por meio
de aplicação de veios, utilizando pincel com pêlos bem finos, penas de ave e ou
36
esponja natural do mar, seguida de polimento com colher de metal – cazzuola –
sobre marmorino, colorato ou não. (MASCARENHAS, 2008).
2.16 ESTUQUE MARMORIZADO
Na Itália, denominado como stucco marmo, é a imitação perfeita do
mármore. Ele é executado a partir de uso de gesso, que determina o diferencial
em relação ás outras técnicas de estuque tradicional – stucco veneziano e
escaiola. Estas utilizam a pasta cal como elemento de ligação entre componentes.
Curiosamente, apesar do termo – stucco marmo-, não se emprega pó de
mármore. A receita é simples: gesso, pigmento natural ou químico, cola animal, e
água. A pureza e a dosagem correta da cola de coelho garantem a qualidade e a
longevidade do estuque. (MASCARENHAS, 2008)
2.17 STUC-MARBRE
Termo usado na França para denominar stucco marmo. (MASCARENHAS,
2008)
2.18 SCAGLIOLA
Existem algumas discordâncias quanto ás terminologias que variam de um
lugar para outro. A técnica descrita como escaiola é reconhecida no Brasil. No
entanto, alguns autores e especialistas na Alemanha, Itália e na Espanha definem
escaiola como stucco marmo, ou seja, a técnica que utiliza gesso, pigmentos e
cola. (MASCARENHAS, 2008).
2.19 ESCAIOLA
É um tipo de estuque executado com argamassa à base de gesso,
utilizada para espaços interiores, cuja aparência geralmente simula mármore e
outros revestimentos nobres. (SILVA; LAER; FRATTINI, 2008).
2.20 ESCAIOLA
Substantivo feminino Rubrica: construção.
37
Peça que, empregada em revestimentos, imita o mármore ornamental e
consiste em uma base de gesso e cola sobre a qual, quando mole, adiciona-se pó
de mármore, granito etc.
Etimologia: it. scagliola (1567-1573) ‘lasquinha, gesso; pó de gesso utilizado
para estuque', der. de scaglia lasquinha, escama (peixes), cascalho (pedra,
mármore), fragmento, lasca, este do gót. skaíja telha; fragmento (de madeira, pedra
ou metal), lasca. (HOUAISS, 2009)
2.21 SCÀGLIA S.F.
1) sf squama, dei pesci e dei rettili
2) sf piastra, piccola lamina, frammento di metallo, di pietra o altro.
2.22 SCAGLIÒLA
1 sf . gesso puro, cotto e ridotto in polvere, che fa rapida presa ed è usato
specialmente per gli stucchi. (DIZIONÁRIO ITALIANO, 2011).
2.23 ESCAIOLA
s.f. Combinação de gesso e cola que serve para cobrir estátuas, colunas
etc. (Aplicada de modo especial nas paredes, serve para fingir pedra.) / Estuque.
(AURÉLIO, 2011).
Podemos concluir que a palavra “escaiola” existe na língua portuguesa pelo
registro nos dicionários Houaiss e Aurélio, tendo provável origem na palavra
italiana scagliòla que é relacionada a um tipo de matéria prima, o gesso. O
dicionário Houaiss ao apresentar a etimologia da palavra com sua derivação em
scaglia, confirmando o definido nos dicionários italianos Michaelis e Dizionario-
italiano.
Quanto à palavra “escariola”, não foi encontrado nenhum registro na
literatura técnica e artística consultada.
As definições em dicionários e receitas sobre escaiola, apresentam em
comum a descrição de uma técnica de revestimento de gesso, acrescido de cola
animal e pigmento na própria massa, para imitar mármore, com exceção da “2.8
Ricetta CN.12 Stucchi a Lúcido e scagliole” item de número 2, que apresenta pó
de mármore e pasta de cal na sua receita (receita descrita no cap. anterior).
38
Por tanto após a investigação efetuada neste capítulo, com suas
nomenclaturas, receitas e modos de fazer, poderemos investigar com
conhecimento prévio, qual a técnica que mais se aproxima aos estuques
decorativos de paredes internas em Pelotas.
39
3 DESCRIÇÃO DAS ESCAIOLAS DE PELOTAS
Antes da descrição das escaiolas em Pelotas será feita uma breve
abordagem dos “Princípios básicos a observar na conservação de revestimentos
e acabamentos”, descritos por Aguiar ( 2005 p. 396-397) .O autor vai em busca de
referencias essenciais que orientem a operação de conservação de revestimentos
de edifícios históricos. Em consulta às Carta de Veneza de 1967 e na Carta
Internacional para a Conservação das Cidades Históricas (ou Carta de Toledo) de
1987 ainda neste documento destaca no Anexo B, Instruções para proceder à
conservação, manutenção e restauro das obras de interesse arquitetônico, no
“Ponto 3. Intervenção nas aplicações decorativas em estuque, frescos e em
esgrafiados” e no “Ponto 4. Reintegração e/ou substituição de guarnecimentos e
/ou colorações.
As propostas da Carta de 1987, privilegiando a preservação dos revestimentos existentes e recomendando a sua consolidação, aceitavam também, por comparação com a Carta del Restauro de 1972, uma maior latitude na possibilidade de proceder a substituições com técnicas similares às ancestrais, prática que é entendida como fazendo parte das operações de manutenção necessárias à conservação arquitectónica. A nova proposta de Carta do Restauro indicava os métodos e as técnicas básicas a utilizar nas reintegrações, na substituição de revestimentos e/ou em novas colorações, para o que regulava as condições de realização de exames estratigráficos prévios. Para a substituição de revestimentos e acabamentos cuja conservação fosse considerada inviável, a Carta de 1987 recomendava a sua substituição com processos, materiais e granulometrias o mais semelhantes possível às do contexto envolvente, recomendando parcimónia na utilização dos materiais sintéticos e procurando aparências e consistências similares às das texturas originais. Recomendava também o cuidado de assinalar de forma sóbria, o limite entre os velhos e os novos revestimentos, procedendo à documentação exaustiva das operações 245. (AGUIAR, 2005).
Ainda será relevante destacar a nota feita pelo autor neste parágrafo (n°
245).
Esta necessidade de marcar a distinção entre o novo e o velho é hoje algo discutível porque, na prática, a distinção entre as partes é suficiente
40
visível, aumentando essa visibilidade com a passagem do tempo (envelhecimento diferencial). (AGUIAR, 2005, p.589).
Então aqui veremos justificada a necessidade de investigação exaustiva
do objeto de restauro e de nomenclatura aplicada a este, para determinar futuras
ações de conservação e restauro do bem.
As escaiolas de Pelotas são assim:
As escaiolas na cidade de Pelotas recepcionam as pessoas, estão
inseridas na decoração desde as paredes do hall de entrada, seguindo para
corredores, salas de jantar, estar, área intima cozinha e até ao banheiro. Com
pinturas em formas e motivos próprios a cada ambiente, lembram os desenhos de
mármores e granitos de diversas cores e formas. A base (estuque) e normalmente
branca, lisa e lustrada, refletindo a luz e transmitindo uma sensação fria ao toque.
São de grandes dimensões, acompanhando a configuração arquitetônica
dos prédios que decoram, revestindo suas paredes do piso ao roda forro e ainda
colunas quando estes as possuem.
Sua composição decorativa normalmente e formada de três sessões: o
soco, uma representação de painel a uma altura média, um friso e acima deste,
uma segunda representação de painel até o roda forro.
Figura 5: Modelo de Composição Decorativa. Fonte: O autor, 2011.
2° painel
Friso
1° Painel
Soco
41
Fig.5 Reprodução da pintura da escaiola do IJSLN, executada pelo autor,
para a cadeira de Pintura Decorativa, ministrada no 1° semestre de 2011 pela
Profa Andréa Bachettini, onde podemos visualizar as divisões na composição
decorativa.
Figura 6: Fotografia de detalhe do IJSLN usada como modelo para pintura.
Fonte: O autor, 2011
Fig. 6 fotografia de detalhe de escaiola do Instituto João Simões Lopes
Neto que foi utilizada para modelo da figura anterior. Vale a pena salientar aqui as
grandes dimensões dos painéis e o início da decoração rente ao piso, terminando
no roda forro.
O soco que seria uma saliência na base da parede, medindo
aproximadamente 20 cm de altura e projeção entorno de 1 cm para fora,que
quando em escadas, acompanham o contorno da inclinação desta. Sua cor
normalmente é mais escura que as outras representações de pedra, pois não é
pintado sobre fundo branco.
42
Figura 7: Detalhe do soco.
Fonte: O autor, 2011. O Primeiro Painel uma primeira representação de painel, variando sua
altura até 1m em relação ao soco. Podem possuir painéis internos menores como
se fossem embutidos, com desenhos geometrizados e efeitos de claro e escuro
no contorno, sobre um fundo de uma representação de veios de um tipo diferente
do interno. Normalmente a pintura é executada sobre fundo branco.
Figura 8: Detalhe do primeiro painel.
Fonte: O autor, 2011.
O Friso acima do primeiro painel, tem uma altura que podem ter medidas
que variam conforme o desenho empregado, é decorado com os mais diversos
motivos à escolha do executor. Para a execução do desenho são utilizados
moldes vazados, podem ainda ser emoldurados por faixas em tons claros e
escuros para dar efeito de volume.
43
Figura 9: Detalhe do friso pintado.
Fonte: O autor, 2011.
Figura 10: Exemplos de moldes vasados para pintura.
Fonte: O autor, 2011.
A Fig.10 apresenta três exemplos de moldes vazados confeccionados em
papel para aplicação, como no exemplo acima e nas outras situações onde este
tipo de decoração (frisos decorados) é aplicada.
O Segundo Painel: pode medir até 3m de altura acima do friso, com
divisões verticais para compor painéis menores em paredes mais largas ,
dividindo a área em painéis internos, formando quase sempre retângulos dentro
de retângulos, com molduras e/ou frisos no entorno.
Fig. 11 e 12 detalhe do friso pintado
IJSLN.
Para a descrição
revestimento de paredes em Pelotas nos Casarões 2, 6 e 8 que fazem parte de
um conjunto de prédios tombados pelo Instituto de Patrimônio Artístico Nacional 15no entorno da Praça Cel. Pedro Osório
erigidos no período da década de setenta do sé
15 Respectivamente Livro de Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Bens móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Figura 11: Friso pintado.
Fonte: O autor, 2011.
Figura 12: Detalhe do friso pintado.
Fonte: O autor, 2011.
detalhe do friso pintado no estuque aplicado
descrição da técnica foram observados exemplares de
revestimento de paredes em Pelotas nos Casarões 2, 6 e 8 que fazem parte de
um conjunto de prédios tombados pelo Instituto de Patrimônio Artístico Nacional
no entorno da Praça Cel. Pedro Osório, sendo o 2 reformado e os outros dois
ríodo da década de setenta do séc. XIX (Ceres Chevallier
Respectivamente Livro de Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Bens
móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
44
no estuque aplicado na parede do
da técnica foram observados exemplares de
revestimento de paredes em Pelotas nos Casarões 2, 6 e 8 que fazem parte de
um conjunto de prédios tombados pelo Instituto de Patrimônio Artístico Nacional
2 reformado e os outros dois
c. XIX (Ceres Chevallier, 2002). 16
Respectivamente Livro de Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Bens móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
3.1 CASARÃO 2
O casarão 2 sofreu diversas intervenções ao long
interior, porém ainda mantém testemunhos de escaiolas em suas
No interior do casarão são encontradas escaiolas no hall de entrada,
algumas áreas pequenas de paredes no andar térreo, na escada de acesso ao
segundo piso e no patamar que circunda a mesma.
No hall de entrada
anteriormente, pois apresenta soco e um primeiro painel em mármore original,
mas foi possível observar a espessura do estuque de revestimento p
do primeiro painel, em lacunas expostas por perda da massa.
Figura 13: Comparação da espessura do revestimento no hall de entrada do casarão 2.
Nacional: 1938-2009 / [Org. FranciscaCanário Pope]. 5. ed. rev. e atualiz. [Versão Preliminar] 16 É provável que essa reforma tenha ocorrido na década de setenta do século XIX; talmesmos anos que os casarões n° 6 e 8 estivessem sendo construídos.ISELLA arquitetura em Pelotas na segunda metade do século XIX.pag.174.
O casarão 2 sofreu diversas intervenções ao longo do tempo no seu
m ainda mantém testemunhos de escaiolas em suas
No interior do casarão são encontradas escaiolas no hall de entrada,
algumas áreas pequenas de paredes no andar térreo, na escada de acesso ao
segundo piso e no patamar que circunda a mesma.
No hall de entrada a decoração não segue a descri
pois apresenta soco e um primeiro painel em mármore original,
mas foi possível observar a espessura do estuque de revestimento p
em lacunas expostas por perda da massa.
: Comparação da espessura do revestimento no hall de entrada do casarão 2. Fonte: SECULT - Pelotas, 2011.
2009 / [Org. Francisca Helena Barbosa Lima, Mônica Muniz Melhem e Zulmira
Pope]. 5. ed. rev. e atualiz. [Versão Preliminar] – Rio de Janeiro: IPHAN/COPEDOC,2009.É provável que essa reforma tenha ocorrido na década de setenta do século XIX; tal
mesmos anos que os casarões n° 6 e 8 estivessem sendo construídos. ( CHEVALIER Ceres.José ISELLA arquitetura em Pelotas na segunda metade do século XIX. Ed. Livraria Mundial, 2002
45
o do tempo no seu
m ainda mantém testemunhos de escaiolas em suas paredes.
No interior do casarão são encontradas escaiolas no hall de entrada, em
algumas áreas pequenas de paredes no andar térreo, na escada de acesso ao
a decoração não segue a descrição apresentada
pois apresenta soco e um primeiro painel em mármore original,
mas foi possível observar a espessura do estuque de revestimento pintado acima
: Comparação da espessura do revestimento no hall de entrada do casarão 2.
Helena Barbosa Lima, Mônica Muniz Melhem e Zulmira
IPHAN/COPEDOC,2009. É provável que essa reforma tenha ocorrido na década de setenta do século XIX; talvez, nos
( CHEVALIER Ceres.José Livraria Mundial, 2002
46
Fig. 13 para fazer uma comparação com a espessura foi utilizada uma
colher de pedreiro de 1 mm de espessura numa lacuna do revestimento
decorativo na parede do hall de entrada. O mesmo por tanto, por comparação,
não ultrapassa os 2 mm de profundidade.
Figura 14: Massa aplicada na lacuna conforme receita com o início do “fingido” de mármore
pintado a fresco. Fonte: SECULT - Pelotas, 2011.
Na Fig. 14 vemos a massa já aplicada e início da pintura na lacuna do hall
de entrada onde inicialmente foi feita a determinação da espessura do
revestimento.
Aguiar (2005) cita em seu livro A Cor e a cidade Histórica que em
Cnossos se conhecem múltiplos vestígios de rebocos de rebocos compostos de
cal e pó de mármore, sem uso de areia com uma espessura de aproximadamente
dois centímetros que precedem o opus marmoratum do mundo romano
pormenorizadamente descrito por Vitrúvio nos Dez Livros de Arquitetura. (p.176).
Fogliata em L’arte dello stucco (p.103) descreve a espessura de um
marmorino clássico como de 3 a 5 cm.
Foi aplicada por tanto na reconstituição das lacunas a metodologia
apresentada na reconstituição estratigráfica demonstrada na próxima figura.
47
Figura 15 Estratigrafia das camadas de argamassa até o revestimento final em pó de mármore e
cal. Fonte: o autor, 2011.
Por observação a camada final que recebe a pintura, está embasada em
camadas anteriores,sendo A para a base, B para primeira camada de reboco com
areia grossa, C para camada de areia média, D para a areia fina e E para a
massa de acabamento que receberá a pintura a fresco e o polimento.
Estratigrafia semelhante está descrita em “Estratigrafia Típica de Jornada
de Afresco” na publicação organizada pela restauradora Regina Tirello sobre o
restauro de um afresco moderno. (TIRELLO, 2001, p. 73)
A autora ainda cita o que segue:
Quando um trecho da pintura sobre o fresco termina ou deve ser
interrompido, corta-se a massa, no sentido obliquo, com a lateral da
desempenadeira até a retomada do trabalho no dia seguinte. Antes de reiniciar a
pintura do trecho, deve-se molhar e raspar a área do corte para que a pintura do
dia, feita em massa fresca adira à parte já seca, de modo que não se note as
divisões, descrição muito semelhante a receita 2.9.7 do Cap. 2.
E
D C B
A
48
Figura 16: Vista do patamar da escada no segundo piso.
Fonte: O autor, 2011.
Na figura 16 pode-se verificar como a composição segue a divisão dos
fingidos de mármore, com o soco, um primeiro painel e um segundo painel, até
o roda forro porém com ausência de friso decorado. Esta composição foi
executada com pintura fingindo veios de mármore e brechas sobre uma superfície
de cor branca sem pigmento na massa.
3.2 CASARÃO 6
Figura 17: Imagem da fachada do Casarão 6.
Fonte: O autor, 2011.
Figura 18
Nas figuras 17 e 18
casarão 6, demonstrando a suntuosidade da construção,
formado por muitos ambientes,
fingidos de mármores.
Figura 19
18: Detalhe do pórtico de entrada do Casarão 6. Fonte: O autor, 2011.
17 e 18 temos fotos da fachada e detalhe da entrada para o
demonstrando a suntuosidade da construção, que no seu interior
formado por muitos ambientes, a maioria das paredes são
19: Imagem de detalhe do corredor do Casarão 6.
Fonte: O autor, 2011.
49
lhe da entrada para o
que no seu interior,
a maioria das paredes são revestidas com
sarão 6.
50
Figura 20: Detalhe de decoração acima de uma das aberturas do Casarão 6
Fonte: O autor, 2011. Nas figuras 19 e 20 detalhes de um dos corredores que levam as áreas ou
de serviço, decorado com soco, painéis inferiores, friso e painéis superiores e
ainda quadros na parte superior das aberturas simulando embutidos.
Figura 21: Detalhe de acabamento lateral em uma das abertura do Casarão 6
Fonte: O autor, 2011.
Na Fig. 21 por menor de fingido no acabamento da lateral de uma das
aberturas internas da residência, com fingidos executados com simulação
detalhada de veios de mármore bem marcados, também
estuque.
Figura 22: Detalhe de quadro do p
Na figura 22 por menor
frisos que fazem um contorno s
escultura como se estivesse embutido no painel.
Figura
detalhada de veios de mármore bem marcados, também pode-se notar o brilho do
: Detalhe de quadro do pórtico de entrada do Casarão 6Fonte: O autor, 2011.
por menor do pórtico de entrada com um quadro interno c
frisos que fazem um contorno simulando um efeito de volume
escultura como se estivesse embutido no painel.
Figura 23: Detalhe de fingimento no Casarão 6 Fonte: O autor, 2011.
51
se notar o brilho do
órtico de entrada do Casarão 6
om um quadro interno com
imulando um efeito de volume, como numa
Figura 24: Detalhe de parede
Na figura 23 detalhe do fingimento de um dos ambientes da área social
onde a composição não apresenta frisos em motivos decorativos.
Na figura 24 detalhe do corredor da área social onde se encontra a
composição com frisos decorativos
sombra.
Nas figuras 23 e 24 os exemplos de composição deixam claro que
conforme o ambiente, a representação dos fingidos
importância do mesmo na residência.
: Detalhe de parede do ambiente social do Casarão 6Fonte: o autor, 2011.
etalhe do fingimento de um dos ambientes da área social
composição não apresenta frisos em motivos decorativos.
detalhe do corredor da área social onde se encontra a
decorativos e efeitos de ilusão de profundidade em luz e
Nas figuras 23 e 24 os exemplos de composição deixam claro que
conforme o ambiente, a representação dos fingidos poderia variar em relação
importância do mesmo na residência.
52
social do Casarão 6
etalhe do fingimento de um dos ambientes da área social
composição não apresenta frisos em motivos decorativos.
detalhe do corredor da área social onde se encontra a
de profundidade em luz e
Nas figuras 23 e 24 os exemplos de composição deixam claro que
poderia variar em relação
Figura 25: Visão geral de quarto de banho
Figura
Nas Figuras 25 e 26
segundo piso onde o
acabamento de um friso decorado com motivos geométricos.
: Visão geral de quarto de banho no andar superior do Casarão 6
Fonte: O autor, 2011.
Figura 26: Detalhe da decoração do quarto de banho. Fonte: O autor, 2009.
25 e 26 detalhes da decoração de um quarto d
s fingimentos simulam azulejos de cor branca com o
acabamento de um friso decorado com motivos geométricos.
53
no andar superior do Casarão 6
da decoração de um quarto de banho no
azulejos de cor branca com o
Figura 27: Detalhe de corredor
Na Fig. 27 detalhe do
de placas de mármore.
normalmente está ligado a
copas, cozinhas e ambientes de passagem.
simular o rejunte entre as placas o que pode realmente confun
quando observado no conjunto da composição.
: Detalhe de corredor da área de serviço do Casarão 6Fonte: O autor, 2009.
detalhe do corredor que leva a área de serviços com simulação
de placas de mármore. Dentre os motivos decorativos recorrentes, este
normalmente está ligado a ambientes reservados as tarefas domésticas como
copas, cozinhas e ambientes de passagem. Possuem sulcos muito sutis para
simular o rejunte entre as placas o que pode realmente confun
quando observado no conjunto da composição.
54
da área de serviço do Casarão 6
a área de serviços com simulação
Dentre os motivos decorativos recorrentes, este
as tarefas domésticas como
Possuem sulcos muito sutis para
simular o rejunte entre as placas o que pode realmente confundir o espectador,
Figura 28
Na figura 28 pode ser observada a
lacuna na camada de acabamento
da camada. Sua espessura em torno 3 mm, de cor branca
ha pigmento na massa.
28: Lacuna em parede do corredor do Casarão 6 Fonte: O autor, 2008.
pode ser observada a espessura do revestimento por uma
acabamento, onde é possível ver um destacamento parcial
da camada. Sua espessura em torno 3 mm, de cor branca, deixa claro que n
55
do revestimento por uma
destacamento parcial
deixa claro que não
3.3 CASARÃO 8
Figura
Figura 30: detalhe do desenho geometrizado no hall de entrada do Casarão
Nas figuras 29 e 30 de
neste caso, o soco é feito de mármore natural, não é fingido.
Figura 29: Detalhe do hall de entrada do Casarão 8Fonte: O autor, 2008.
: detalhe do desenho geometrizado no hall de entrada do Casarão Fonte: O autor, 2008.
29 e 30 detalhes da decoração do hall de entrada
o soco é feito de mármore natural, não é fingido.
56
Casarão 8
: detalhe do desenho geometrizado no hall de entrada do Casarão 8
talhes da decoração do hall de entrada, sendo que
57
Figura 31: Imagem reproduzida do Manual do Formador Estucador.
Fonte: O autor, 2011.
Na figura 31 na reprodução do Manual do Formador estucador da página
12, são sugeridos modelos de geometrizações, que lembram a decoração
aplicada no hall de entrada e em outros ambientes do Casarão 8.
Figura 32: Detalhe do ambiente
Figura 33: Detalhe do primeiro painel
Nas figuras 32 e 33
encontramos fingidos de “brechas”
livro A Cor e a Cidade Histórica.
do ambiente que distribui para os ambientes da área nobre do casarão 8.
Fonte: O autor, 2008.
: Detalhe do primeiro painel e friso do ambiente de distribuição do Casarão 8Fonte: O autor, 2008.
32 e 33 detalhes do ambiente de distribuição da casa onde
encontramos fingidos de “brechas” no friso, muito referidos por Aguiar no seu
livro A Cor e a Cidade Histórica.
58
os ambientes da área nobre do casarão 8.
de distribuição do Casarão 8
detalhes do ambiente de distribuição da casa onde
muito referidos por Aguiar no seu
Figura 34: detalhe do emprego de geometriz
Figura 35: Segundo detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8
Nas figuras 34 e 35
elaboradas, aplicados no fingimento do
descrição do conteúdo dos modelos de ensino
posteriormente no Brasil
e a mão livre, desenho e pintura nas artes decorativas etc..
: detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8Fonte: O autor, 2008.
detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8Fonte: O autor, 2008.
34 e 35 mais exemplos da geometrização
aplicados no fingimento do primeiro painel o que nos remete a
descrição do conteúdo dos modelos de ensino aplicados na Eu
posteriormente no Brasil, composto de desenho linear-geométrico, desenho linear
e a mão livre, desenho e pintura nas artes decorativas etc..
59
ação nos fingidos do Casarão 8
detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8
ação muito bem
ro painel o que nos remete a
aplicados na Europa e
geométrico, desenho linear
60
Figura 36: Lacuna no revestimento em ambiente no casarão 8
Fonte: O autor, 2006.
Na Fig. 36 uma grande perda na área de revestimento em uma parede do
Casarão 8, onde é possível visualizar todas as camadas que compunham o
estuque de revestimento.
61
Figura 37: Detalhe de lacuna de revestimento em ambiente do casarão 8
Fonte: O autor, 2011.
Na Fig. 37 detalhe aproximado da figura anterior, onde é possível ser
observada a espessura aproximadamente de 3mm da camada final que recebe
pintura.
62
3.4 OUTROS EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA TÉCNICA EM PELOTAS
Figura 38: Hall de entrada de residência que pertenceu ao Senador Joaquim Augusto Assunção.
Fonte: O autor, 2011.
63
Figura 39: Detalha da decoração do hall de entrada.
Fonte: O autor, 2011.
Nas figuras 38 e 39 fotos de detalhes do Hall de entrada da residência
que pertenceu ao Sen. Joaquim Augusto Assunção, que segundo Ceres
Chevalier, a data de construção seria no ano de 1887. O revestimento aplicado
numa grande área e de cores variadas e fortes demonstra o domínio da técnica
pelo fingidor. A simulação do mármore rosado chega a confundir o espectador .No
64
pormenor é possível observar a pintura do soco que recebeu pintura sobre a
massa branca antes do fingimento dos veios.
Figura 40: Foto do Instituto João Simões Lopes Neto.
Fonte: O autor, 2011.
Na figura 40 poderão ser observados no primeiro plano uma representação
de fingidos de mármore e na segunda outra completamente distinta, tanto nas
cores como na decoração, demonstrando a originalidade da decoração de um
ambiente para outro. A foto foi tirada do Instituto João Simões Lopes Neto, a data
da construção da casa seria de 1891 conforme informação aplicada no frontão da
fachada.
65
Figura 41: Foto de pormenor de instituição particular.
Fonte: O autor, 2008.
Na figura 41 foto de detalhe de decoração de um corredor do prédio que
abrigou o antigo Asilo de Órfãs na cidade, com data ainda não atribuída.Neste
pormenor um canto de parede simulando acabamento com embutido de mármore
de cor distinta e de forma arredondada no canto.
Figura 42: Foto de colunas do prédio que abriga a sede do Clube Comercial de Pelotas.
Fonte: O autor, 2006.
66
Na figura 42 detalhe de colunas revestidas de estuque do hall de entrada
de prédio da sede do Clube Comercial de Pelotas, as patologias nas paredes
demonstram que todo o ambiente era revestido com fingidos de mármore, pois o
prédio passou por uma série de intervenções.
Dentre as características desta técnica na cidade de Pelotas, parecem ser
a espontaneidade, originalidade e domínio da técnica de estuque, com que foram
executados os revestimentos de paredes. São encontradas algumas semelhanças
nas composições artísticas, mas nada além, não há uma igual a outra, nem
mesmo dentro de uma mesma construção, demonstrando o grande preparo e
originalidade dos profissionais da área na elaboração das decorações.
67
CONCLUSÃO
A história do estuque e sua aplicação milenar em diversas culturas
requerem do pesquisador um esforço de grandes proporções na procura de
respostas e não obstante esta procura, poderá gerar uma série de outras
perguntas.
Técnica milenar, difundida do oriente para o ocidente, aplicada deforma
mais efetiva na redescoberta e valorização deste tipo de acabamentos e matérias
primas, com a reintrodução e tradução para diversas línguas de Vitrúvio e Os dez
Livros da Arquitetura, no período renascentista, ou ainda a questão da
transmissão de saberes inicialmente de forma oral e prática, o que pode ter
gerado um grande número de termos individuais ou correlacionados a uma
técnica.
Só ai poderão ser levantadas hipóteses do que gerou a riqueza
terminológica relacionada as técnicas. No final do séc. XIX ainda teremos a
formação de profissionais área dos estuques com a implementação de escolas da
artes e ofícios e produção de manuais adaptados de outras línguas.
Com este trabalho não foi possível determinar como a técnica e mão de
obra chegam na cidade de Pelotas ,pois até o momento, não foram encontrado
manuais escritos ou registros de escolas para a divulgação destes saberes ,o que
não exclui a sua existência. Na cidade encontra-se aplicado o termo escariola de
forma popular e em anúncios para técnica, não muito distante na grafia do
original, porém um outro termo, ainda não encontrado nos dicionários e literatura
nacional ou estrangeira.
Dentre as definições e as técnicas pesquisadas as que mais se
aproximam ao encontrado nos revestimentos de parede dos casarões observados
seria a do estuque lustrado (estuque lustro )ou a do marmorino pintado a fresco,
pois apresentam uma série de características como espessura, ausência de cor
na massa, lisura, brilho e decoração pictórica à maneira de pintura. Bem diferente
68
de resultados possíveis nas receitas que apresentam massas de gesso coloridas
e aplicadas de maneira intercalada e polidas posteriormente.
A inventividade humana, e sua observação da natureza, querem que
tenha sido por gosto ou necessidade, utilizou-se do estuque com seus materiais e
técnicas através do tempo para criar revestimentos de acabamento fingindo
materiais nobres e luxuosos.
Apesar do questionamento terminológico não ser conclusivo, de maneira
nenhuma desvaloriza o revestimento em estuque que imita o mármore na cidade,
pois suas qualidades artísticas e de cuidadosa execução são capazes de
transmitir o gosto de uma época através do tempo e o conhecimento de técnicas
e materiais ancestrais aplicados até pouco tempo atrás.
69
REFERÊNCIAS
AGUIAR, José. Cor e Cidade Histórica: Estudos cromáticos e conservação do patrimônio. Lisboa: FAUP publicações, 2005.
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70
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ROSÀRIO, Maria do, et al. Conservação e Renovação de Revestimentos de Paredes de Edifícios Antigos. Lisboa: LNEC, 2004.
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VASCONCELOS, José. A Quem tem medo de teoria? Coimbra: ANNABLUME Editora, Ago. 2005.
71
APÊNDICE A
1. Receitas e definições na integra e língua original.
2. 1. STUC ou MARBRE FACTICE, (Art méchan.)
le stuc ou le marbre fictice est une composition dont le plâtre fait toute la base. La dureté qu’on sait lui donner ; les différentes couleurs que l’on y mêle, & le poli dont il est susceptible, le rendent propre à représenter presque au naturel les marbres les plus précieux.
(DIDEROT,M.,D’ALMBERT,M..ENCYCLOPÉDIE, OU DICTIONNAIRE RAISONNÉ DES SCIENCES, DES ARTS ET DES MÉTIERS, POR UNE SOCIÉTÉ DE GENS DE LETTRES. A GENEVE, Chez Jean – Léonard Pellet, Imprimeur de La Répiblique. A NEUFCHATEL, Chez La Société Typographique.M.DCC.LXXVIII. (1778)
2.2.Escaiola: (Imitação do mármore).
O mármore com as suas lindas e variadas côres foi sempre considerado como
uma pedra estimada para as construções luxuosas, mas ao mesmo tempo como um
material dispendioso pela sua raridade, havendo mesmo países onde êle não existe.
Por esta razão fizeram-se muitas experiênciaspara substituir o mórmore por
qualquer processo artificial, e só depois de aparecer o cimento branco,
que pela sua rigidez pode igualar na resistência o mármore, é que se conseguiu um
resultado satisfatório.
A imitação do mármore a que chamaram escaiola,quando é executada por
artistas de competência dá uma perfeita semelhança dos mármores naturais. Apesar do
seu custo de fabrico ser bastante elevado, já hoje em quasi todos os estabelecimentos
modernos se encontram colunas, pilastras,lambris, etc., revestidos de escaiola.
O material para a preparação da massa que se emprega na escaiola, é, como já
dissemos, principalmente o cimento branco (cimento inglês),além de tintas em pó
necessárias para a confecção das diversas côres e pedra hume (alúmen).
Para os acabamentos são empregados a pedra pomes, pedra de Escócia, pó de poteia,
óleo de nozes, cera dissolvida em água-ráz e panos para esfregar.
A massa de escaiola nunca se deve empregar sôbre paredes húmidas ou
salgadiças. Antes de pôr a massa, é primeiramente esboçado com massa de gesso o
sítio destinado a ser coberto por este processo.
Vamos citar como exemplo, uma fórmula, pela qual se obtém uma imitação da
pedra de Cintra:
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Sôbre uma laje de pedra plana (não se deve amassar o cimento sôbre a
madeira), deitam-se 4 quilos de cimento, dividida esta porção em duas partes iguais;
uma delas é.outra vez dividida ao meio, de forma que temos uma parte de 2 quilos e
duas de um quilo cada.
Anteriormente preparam-se em duas vasilhas as seguintes tintas: na primeira
deitam-se 4 litros de água comum, adicionando-lbe 200 gramas de preto de Itália em pó,
passado por um passador. Bem mexida a tinta para não assentar no fundo, tira-se da
mesma um litro para uma segunda vasilha, juntando-lhe dois litros de água. Temos pois
a tinta da segunda vasilha, duas vezes mais fraca do que a primeira. Numa terceira
vasilha conserva-se água limpa.
Depois de preparadas as tintas, tira-se da segunda vasilha a quantidade
necessária para amassar a porção maior do cimento que temos sôbre a pedra, isto é,
dois quilos, e da primeira vasilha, com a tinta mais escura, tira-se igualmente o suficiente
para então amassar uma das duas porções de um quilo de cimento. A última porção de
cimento que nos resta, também de um quilo, é por fim amassada sómente com água
pura.
É preciso notar, que a primeira massa, assim como a segunda, devem ficar
bastante compactas, ao passo que a terceira ficará mais branda.
A primeira das massas será em seguida partida em 6 ou 8 pedaços, a segunda
em 10 ou 15. Reunidos outra vez, parte-se esta espécie de bòlo novamente em 8 ou 10
pedaços, pulvorizando-lhes com os dedos um pouco de cimento em pó que resta sôbre a
pedra, ou pode-se também misturar uns pequenos pedaços de massa do cimento
branco. Tornando-se a reunir todos os pedaços num só bôlo e recortado de novo, repete-
se esta operação três ou quatro vezes, devendo a massa ficar reunida num bôlo só, para
começar então com o trabalho.
Para êste fim cortam-se deste bôlo uma espécie de fatias da espessura de 10 a
15 milímetros, que se colocam sôbre a parte a revestir, tendo sempre o cuidado de a
molhar primeiro com água. A massa, depois de colocada, é comprimida com as costas
ou palma da mão.
São assim empregados três ou quatro pedaços da massa; pega-se então numa
das colheres mais pequenas e aplica-se com ela nas espessuras uns pedaços da massa
de cimento branco. Continua-se a colocar mais uns pedaços da massa e faz-se a mesma
operação, mas com a massa mais escura que ficou reservada sôbre a pedra para êste
fim.
Serão estas massas brancas e pretas embutidas entre as juntas dos pedaços da
massa, que formarão as veias ou estalados que imitam a pedra. Com êste processo se
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continua até estar preenchido todo o espaço destinado a ser revestido com a referida
pedra fingida.
Uma hora depois a massa deve estar um pouco mais rija. Começa-se então com
o ferro de cantos, bem aliado, a cortar as partes mais altas e com o auxílio de uma régua
a desempenar a face o melhor possível. Em seguida dá-se uma passagem com o
raspador para tirar qualquer imperfeição que ainda fique.
Concluído êste trabalho, põe-se sôbre a pedra uma pequena quantidade de
cimento, que se amassa com a tinta mais clara (da segunda vasilha); molha-se bem com
a água tôda a superfície que se acabou de passar com o raspador, tapam-se com esta
massa tôdas as irregularidades que existam, de forma que tôda a superfície fique
completamente coberta.
No dia seguinte é passada tôda a superfície da camada a pedra pomes. Toma-se
na mão esquerda uma esponja e na direita um pedaço de pedra pomes, esfregando-se
com ela as partes molhadas com a água da esponja, até que tôda a massa, na véspera
aplicada para tapar as imperfeições, desapareça. Depois é passada com a pedra de
Escócia afim de tirar alguns riscos provenientes da pedra pomes.
Novamente a camada é coberta de massa para tapar qualquer defeito, e no dia
seguinte outra vez esfregada, mas desta vez só com pedra de Escócia. Estas operações
repetem-se até que a superfície esteja aperfeiçoada o melhor possível.
Na última passagem aplica-se com uma broxa sôbre a superfície uma massa de
cimento mais branda, para tapar os poros, a qual em seguida é tirada e limpa com uns
panos, repetindo-se a mesma operação no dia seguinte.
Em vez de panos começa-se a esfregar tôda a superfície com a palma da mão
até a camada secar.
Antes porêm de secar completamente, devem-se dar uma ou duas passagens de
poteia. Para êste fim prepara-se com uns trapos uma espécie de boneca, a qual é
humedecida com água; e, colocada sôbre o pó de poteia, êste adere começando então
com ela a esfregar com fôrça sôbre a camada, até obter brilho. Também esta operação
se repete mais de uma vez.
Depois da camada estar completamente sêca, embebe-se um trapo em óleo de
nozes esfregando com êle tôda a superfície durante duas ou três horas e limpa-se com
um pano.
Por fim é encerada com cera e água-ráz.
O emprêgo do alúmen serve para dar à camada maior resistência, mas sómente
na de cimento. Aplica-se nas seguintes proporções: água 200 gr. e alúmen 300 gr.
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A respeito de outras imitações, de pedras ou mármores, resta dizer, que o
processo de trabalho é sempre o mesmo, diferindo apenas em relação aos acabamentos.
Por esta descrição se pode avaliar, que a operação é bastante complicada e
trabalhosa, resultando levar muito tempo e ficar dispendiosa. Mas como já dissemos,
consegue-se por este sistema as mais perfeitas imitações, que em nada diferem das
pedras naturais. Contudo, deve ser executado ou dirigido por pessoas que tenham o
mais completo conhecimento das particularidades das diversas espécies de mármores,
dos quais é necessário fazer antecipadamente estudos e amostras, copiando fielmente o
natural, o que também nêsse mister, como em tudo o que diz respeito à arte, é o melhor
caminho. As chamadas pedras de fantasia não têm nenhum valor artístico e mostram na
maior parte das vezes sómente o mau gôsto do seu autor.
SEGURADO, João E. dos S.. Manual do Formador e Estucador. Lisboa:Livrarias AILLAUD e BERTRAND
Paris-Lisboa, Biblioteca de Instrução Profissional, 4° Ed.. 191 p
2.3. Revestimentos com escaiola:
O revestimento com escaiola é feito sobre o emboço da parede e consiste em
cobri-la com uma camada de material devidamente polido que imita o mármore, o
alabastro ou outras pedras de valor.
A escaiola emprega-se nos pórticos, vestíbulos, copas, cozinhas, instalações
sanitárias, comedores, etc.
É um revestimento que pelo seu menor preço substitui vantajosamente o azulejo
em certos casos.
O emboço é feito com argamassa mista, mais ou menos rica em cimento
conforme a finalidade do revestimento. Sobre o emboço aplica-se o reboco com
argamassa de cal ou gesso, areia fina lavada e pó de pedra branca (mármore ou
calcário) em partes iguais, podendo incorporar-se também um corante se a pedra a imitar
é de fundo colorido.
Nas partes sujeitas à ação das águas, como acontece nos exteriores ou nas
cozinhas, quartos de banho, etc., substitui-se o gesso pelo cimento branco.
O reboco é alisado a feltro ou desempenadeira metálica, precedendo-se depois o
seu polimento. Utiliza-se, para isto, pedra-pomes que se esfrega na parede ao mesmo
tempo que com uma esponja se molha a superfície.
Terminando o polimento passa-se óleo de linhaça com um pano e encera-se com
cera e aguarás.
( PIANCA,João B.MANUAL DO CONSTRUTOR.Ed.Globo 11° ed.1977 vol.2
pag.204)
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2.7.Escayola:
-Sulfato de cal calcinado hasta 180°C, producto de rápido endurecimento apto
para reposiciones y moldes. A um mayor grado de calcinación y hasta 200-250°,
endurece más lentamente. Si se deshidrata a 600°C, se convierte em yeso muerto, y si
se calcina por encima de 800-1000°C se considera yeso hidráulico de endurecimento
muy lento. (GONZÁLEZ,Enriqueta,MARTÍNES, Alonso.Tratado Del Dorado, Plateado y su
Policromia.Departamento de Conservación y Restauración de Bienes
Culturales.Universidad Politécnica. Valência, 1997).
2.8.Ricetta CN. 12
Ricetta CN. 12 MALTA CON GESSO E CALCE PER STUCCO LÚCIDO . Composizione/applicazione -
Vol. 1 - Cap. IV • Opere architettoniche gaterali (pp. 570-371)
■ Stucchi A LÚCIDO e SCAGLIOLE - [...] L'incrostatura a lúcido che viene formata nelle
moderne costruzioni può essere preparata in due modi: in ambedue i casi è d'uopo
premettere l'intonaco ordinário di rinzaffo e di arricciatura, lasciandolo perfeitamente
essiccare.
1° modo - Si distende sulla superfície una pasta di gesso e d'acqua di collo e su questo
primo strato se ne sovrappone un secondo più sottile formato di gesso speculare
calcinato, che si denomina anche scagliola, impastata parimenti con acqua di colla, a cui
si frammischia ocra gialla o rossa o qualsiasi altro colore a piacimento. Allorché questo
intonaco è ascititto, si lúcida colla sabbia e colla pomice ed acqua, in seguito a che si dà
una spalmatura d’olio per ottenere il lucido brillante. Con questo mezzo si ha uno stucco
o più propriamente la scagliola, che imita perfeitamente qualunque marmo, e che ha
molta durata, quando non sia esposto all’acqua né all’umido; ma esso è costoso e vi
occorre molta mano d'opera per avere Ia lucidezza della superfície.
2° modo - Si stende sull’intonaco comune col mezzo della cazzuola un sottilissimo strato
di malta della grossezza da uno a due millimetri, formato da polvere di marmo, calce e
sabbia finíssima, a cui si aggiunge una piccola quantità di ocra rossa o gialla, che imiti il
fondo del marmo che si desidera. Súccessivamente col pennello si dipinge a fresco Ia
superfície dell'intonaco, col praticara le macchie e le venature conformi al marmo che si
intende imitare. Indi si prende um ferro caldissimo e si liscia la superfície, ripetendo
questa operazione fino a che si ottiene il lucido brillante del marmo. [...] ■
ARCOLAO,Carla.Le ricette del restauro Malte,intonaci,stucchi dal XV aL XIX secolo .Venesa Marsilio
Editori,1998.
2.9. Marmorino
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I MODI TRADIZIONALI DI REALIZZARE UN MARMORINO
MARMORINO IN TINTA UNITA 'OPACO' O A LUCIDATURA NATURALE
LAVORO DELLA 'GIORNATA'
PRIMO STRATO (MARMORINO 'MAGRO')
L'operazione preventiva è quella di bagnare la superficie, possibilmente con un
nebulizzatore.Si usa il marmorino da primo strato (6 parti di aggregato e 4 parti di
legante). Si spianano due stesure successive, ortogonali fra loro, usando il frattazzo di
legno come per l'intonaco civile.Fra un'applicazione e l'altra, si deve attendere che la
prima inizi a rapprender¬si rendendo possibile la stesura susseguente.
Si procede, frattazzando con movimento rotatorio e facendo attenzione di staccare
l'attrezzo dalla superficie secondo un'angolazione acuta (con l'angolo di 90° l'attrezzo si
comporta da ventosa e, quindi, strappa il materiale).
SECONDO STRATO (MARMORINO 'GRASSO')
Si usa il marmorino con 5 parti di aggregato e 5 di legante.
Lo si stende quando lo strato precedente comincia a rapprendersi.
Lo si spiana, solo in un senso, col frattazzo di legno e con lieve pressione.
È bene ricordare che, anche qui, le mani seguono un movimento leggermente
ondulatorio e che la cazzuola deve portare al frattazzo poco materiale per volta: infatti, si
deve creare una 'copertina', o strato leggero di copertura, il cui spessore è dato dalla
granulometria del materiale.Non dovrà essere frattazzato. alla fine, come nello strato
precedente, poiché la superficie deve risultare bene spianata ma ruvida, atta a ricevere il
terzo strato.
TERZO STRATO (PULIMENTO)
Si attende anche qui che la seconda mano cominci a rapprendersi overe non sia
piii appiccicosa.Si usa;i il mormorino con i parli ili aggregato e 6 di legante, in piccole
quantità per ottenere una sottile pelle: il pulimento o pulitura.
lo si spiana,solo in un senso, con il frattazzo di acciaio, dagli spigoli affilati e ben
diritti, perfettamente pulito.Il metodo della stesura segue un movimento in linea retta, da
destra verso sinistra, solo orizzontale all'operatore, procedendo per porzioni di muro della
capacità operativa delle braccia ed iniziando dall'angolo sinistro superiore, se trattasi di
parete, e da un angolo, pure a sinistra rispetto all'operatore, se trattasi di soffitto.
Si procede per righe tornando ogni volta a capo.
Una cura particolare, anzi fondamentale, va alle 'aggiunte'1 con sovrapposizione,
da pezzo a pezzo e da zona a zona: l'operatore deve capire esattamente quali sono i
momenti per le riprese tra il prima e il dopo, onde ottenere una superficie omogenea, ben
lisciata, senza l'ombra di giunture.
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1. Aggiunte o riprese. È un capitolo fondamentale nella metodologia tecnica
dell'esecuzione del marmorino a tinta unita su specchiature vaste ed uniformi. Infatti, un
minimo allontanamento dalla metodologia stessa può compromettere esteticamente il
risultato del lavoro. Le aggiunte sono sostanzialmente una sovrapposizione di
piccolissime particelle. È chiaro allora che il confine dev'essere tenuto sempre fresco e
morbido e che non deve minimamente iniziarvi l'azione dell'indurimento.
Di conseguenza, presentiamo le regole da osservare:
- non smettere di lavorare, ricorrendo al turno con altri operatori;
- dare alla giunta un movimento irregolare, onde evitare la linea retta di
confine;
- lasciare, dal marmorino finito, una zona 'franca' d'attacco, alta cm 10-20,
non levigata;
- inumidire la zona della giunta, spruzzandola leggermente con acqua.
Un esempio significativo potrebbe essere una parete delle seguenti dimensioni:
altezza m 4, lunghezza m 8.
Qui gli operatori devono essere almeno tre.
Si svilupperà un lavoro a calcita:
- uno spianerà il primo strato, un altro il secondo strato, il terzo l'ultimo strato.
- Appena il primo stuccatore ha terminato la sua prima operazione, passerà
a levigare il terzo strato; il secondo procederà alla saponatura, mentre il terzo stuccatore,
oramai libero, ricomincerà il ciclo dove occorre.
- Con tale procedimento non si dà tregua e non si permette al marmorino di
asciugarsi prima che sia stato unito in tutta l'ampiezza della specchiatura.
- Il risultato visivo sarà quello di una parete di mq 32 dall'aspetto omogeneo
od uniformemente riflettente.
-Al contrario, la parte denuncerebbe visivamente la scansione temporale del lavoro
con lo interruzioni, i ritardi nelle riprose, meuendo in evidenza una 'scacchiera', non voluta
ma certamente denunciante improvvisazione ed incapacità (vedi intonaci attuali, sia
esterni Che inter- ni, che stanno deturpando in maniera volgare ed antistorica la città di
Venezia, e non solo).
La Levigatura
È un'operazione che si sviluppa e si completa articolandosi in molteplici mani o
passate, con l'uso di due diversi strumenti: il frattazzo di ferro prima e la cazzuola da
'lustro' poi.La prima levigatura procede con la stesura stessa, seguendola subito dopo
(senza materiale!), usando il frattazzo di ferro pulito, con lo slesso movlincillo orizzontale
in un'unica direzione.
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Una volta terminata una superficie completa (soffitto o parete), si passa all'ili tima
levigatura generale:
- si nebulizza leggermente con acqua la superficie;
- con il frattazzo di ferro ben pulito, ci si muove dall'estrema destra a sinistra,
procedendo per zone orizzontali parallele e successive, alte circa quanto l'arnese in
verticale.Questa operazione viene ripetuta due o più volte, finché lo stuccatore sente che
il ferro comincia a stridere sulla materia.A questo punto, lo stuccatore usa la cazzuola da
marmorino e comincia a levigare o lisciare pezzo per pezzo, zona per zona, prendendo
con una mano l'impugnatura e facendo con l'altra mano una leggera pressione sullo
spigolo destro dell'arnese, che risulterà, così, inclinato di poco rispetto al muro, con la
punta leggermente a sinistra.
Il movimento dovrà essere lento, ma diritto.
OSSERVAZIONI
- Questa operazione serve a rendere il marmorino più compatto, più liscio e
senza difetti.
- La zona d'operazione sarà illuminata a dovere da più direzioni, in maniera
di poter controllare il risultato in via di lavoro.
MARMORINO LUCIDATO 'A FRESCO'
Lavoro della 'giornata'
Eseguite tutte le operazioni di cui al paragrafo precedente, si passa alla lucidatura
'a fresco'.
Si prende la soluzione di acqua e sapone già preparata.
Con una buona e morbida pennellessa (grande pennello rettangolare) la si stende
senza causare colature: con tocco leggero, si percorre tutta la superfície, da due a tre
volte, incrociando le direzioni.Si lascia asciugare per alcuni minuti (da 10 a 30 minuti, in
relazione alla a situazione igrometrica dell'aria), per permettere alla potassa contenuta
nel sapone di penetrare attraverso i pori del marmorino.(Quando visibilmente hi superficie
si presenterà striata ili bianco opaco, occorrerà sfumarla con una pennellessa asciutta di
qualita morbidissima, in maniera delicata, al fine di togliere la polvere del sapone
affiorante e, quindi, le slrialure. Si procede alla lucidatura:
- con la cazzuola da marmorino, mediante due o tre passate, secondo l'uso
spiegato al paragrafo precedente), se si sta operando su tinti superficie ridotta,
- con il frattazzo d'acciaio ben levigato e pulito, se si tratta di una superficie
vasta,
- o usando entrambi gli arnesi, rapportati alla bisogna.
MARMORINO LUCIDATO 'A FRESCO' E 'A CALDO'
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LAVO DELLA 'GIORNATA'
Lucidatura 'a fresco' con ferri d'acciaio caldi
Erano comunemente chiamati 'ferri da stiro' da stuccatore, proprio per la loro
forma e servivano per la 'lucidatura a caldo'. Si operava su marmorino saponato a fresco
(in tinta unita, marmorizzato, dipinto com gli arnersidi cui all'illustrazione.
II ferrò' era scaldato sulla fiamma di un braciere a carbone dolce ,ancora caldo
veniva pulito per pochi secondi sulla polvere di marino asciutta a mo’di ferro da stiro,
lavorando con le due mani (l'arnese, rovente, veniva saldamente impugnato sui due punti
lignei di protezione: il manico ed una presa o tappo infilato nel perno esistente sopra il
ferro ed incastrato a forcella alla base ansata del manico, era fatto scorrere sulla
superficie di marmorino, in ogni senso, finché manteneva il calore; veniva, quindi,
sostituito da un altro arnese gemello già pronto sul fuoco: la rotazione di arnesi
continuava fintanto che tutta la parte interessala risultasse lucidata.
Tale prassi metodologica è venuta in uso allo scopo di accelerare i tempi della
lavorazione, allorquando la moderna urbanistica richiedeva un larghissimo spazio ai
marmorini lucidati, specialmente negli interni, con vasto impiego di mano-dopera.
Però, non sempre la lucidatura a caldo dava risultati ottimali, essendo difficile
empiricamente combinare la forte reazione provocata, specialmente nei primi momenti,
sulle componenti del marmorino freddo e bagnato: la rapidissima sottrazione dell'acqua
contenuta nel marmorino, operata dal forte calore dello strumento, comprometteva il
normale processo di carbonatazione. Nel caso negativo, si verificavano screpolature
anomalo, qualche stacco negli strati sottostanti, bolle d'aria, maculazione nel campo
cromatico (senza contare la nocività per la salute dell'operatore causata dalle forgie
accese).Per tutto ciò, nei primi anni Sessanta il metodo è stato abbandonato e sostituito
dal più sicuro ritorno alla tradizione della lucidatura a freddo con cazzuola da marmorino,
patrimonio ancora vivo nella memoria dei vecchi maestri stuccatori, nati nel XIX secolo.
Marmorino rilucidato 'a secco'
La superficie suscettibile dell'operazione enunciata è solo quella del marmorino
lucidato a fresco ad acqua e sapone. L'esigenza è dettata dal fatto che un marmorino
opaco o a lucidatura naturale assorbirebbe troppo rapidamente cera e trementina,
risultando rovinato da macchie più o meno intense ed irregolari, ancor più, con scarso
risultato di brillantezza.Quando il marmorino lucidato a fresco sarà completamente secco,
si procederà con un'altra saponatura per chiudere ulteriormente le porosità e le micro-
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fratture dovute alla contrazione della calce durante l'asciugatura o ritiro (le microfratture
non sono difetti, ma caratteristiche peculiari del materiale stesso).
Ai verificarsi delle striature polverose del sapone, si procederà a toglierle con una
pennellessa morbida ed asciutta.È il momento della ceratura, cioè di stendere la cera con
un pennello buono e morbido (una passata), senza causare colature, seguendo un'unica
direzione.
Si lascia asciugare per qualche ora.Si strofina e si lucida con panno morbido di lana.
La cera serve a rendere più brillante, più impermeabile e durevole nel tempo il
marmorino, a rafforzare e a fissare le tonalità cromatiche e la trasparenza, nonché ad
esaltare i risultati della lavorazione con la cazzuola, distinguendo in modo inclemente
l'opera nobilissima dello stuccatore tradizionale dalle applicazioni industriali dei nostri
giorni.
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DIPINTURA
E DECORAZIONE ‘A FRESCO' DEL MARMORINO
Per poter affrescare una superficie di marmorino, in qualsiasi modo, sono indispensabili:
- il marmorino del paragrafo primo del capitolo settimo;
- acqua e sapone;
- pigmenti in polvere;
- pennelli morbidi di tutte le misure;
- spugne marine;
- cazzuola da marmorino;
- eventualmente, la cera.
Vogliamo, innanzitutto, chiarire la già nota espressione 'lavoro della giornata', che
ricorrerà puntualmente in questo capitolo ad ogni 'modo di dipingere'.
È della 'giornata' quella quantità di lavoro che trova inizio e fine del suo specifico ciclo
nell'arco di un giorno lavorativo.
L'operatore, apprestandosi ad eseguire un qualsiasi tipo di marmorino affrescato, sa
bene che il giorno dopo non avrà più la possibilità tecnica di riprendere l'opera, perché
essa sarà già in una fase di asciugatura tale da non permettere la continuazione
dell'intervento, non essendo più nella condizione di ricevere colore.
Quindi, tutto l'apparato decorativo dovrà essere suddiviso in maniera da calcolarsi in
'g i o r n a t e' di lavoro.
La suddivisione si fa con incisione a fresco, lasciando mezzo centimetro di marmorino
finito oltre il segno inciso, di modo che, il giorno successivo o in altra data, l'operatore
possa unirvi perfettamente il nuovo marmorino.
IMITAZIONI DI UN MARMO CHIARO
LAVORO DELLA ‘GIORNATA’
Si prepara un marmorino colorato nell'impasto, come il fondo del marmo da Imitare
(es.: Carrara, Giallo di Siena, Fior di pesco...).
Terminalo il marmorino come al primo paragrafo del capitolo settimo, si stendono
una o due mani di acqua e sapone come al secondo paragrafo dello stesso capitolo.
Si sciolgono i colori in acqua e sapone, occupando tanti recipienti quanti sono i
pigmenti necessari (la densità dei liquidi colorati sara come quella di um latte).
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Con pennelli adatti, di varie misure, e con spugne marine, si eseguono nenature,
marezzature e macchiettature ad imitazione del marmo.Importante! Ad ogni stesura di
colore, e necessario, prima di passare alla suiccessiva, attendere qualche minuto per
l'assorbimento e lucidare, poi, leggermente con la cazzuola da marmorino: tale
operazione va eseguita per non creare spiace voli mescolanzefra i colori.
Raggiunta l'imitazione del marmo, si passa ad una lucidatura generale, senza più
ricorrere al sapone, cioè con sola cazzuola da marmorino.
L'eventuale stesura della cera, a marmorino secco, renderà ancor più credibile la
finzione.
IMITAZIONE DI UN MARMO A TINTE FORTI
LAVORO DELLA 'GIORNATA'
Per eseguire l'imitazione di un marmo dalle forti tonalità (es.: Verde di Geno¬va,
Granito rosso India, Porto oro, Porto Venere, Rosso di Verona, ...), si prepara un
marmorino bianco naturale, ossia senza pigmenti nell'impasto, lavorato come al primo
paragrafo del capitolo settimo.
Supponiamo di voler imitare il Verde di Genova.
Ebbene, in un recipiente contenente acqua e sapone si mescola e si scioglie il
pigmento di fondo, in questo caso, Nero vite od altro nero, rispettando le regole sulla
preparazione, enunciate ed esplicitate nel capitolo quinto.
Si stende il colore sulla superficie, con un pennello morbido e di qualità, a mo' di
velatura, in più mani tra loro incrociate.
Nel tempo dell'assorbimento, che è susseguente alla stesura, si deve levigare,
pressando dolcemente con la cazzuola da marmorino. Una volta ottenuta una su¬perficie
dipinta e lisciata, che dia la sicurezza di non cedere assolutamente colore, si passa alla
fase successiva.
Ci sono già altri recipienti predisposti con i colori della gamma necessaria a questo
lavoro; Verde Treviso o Verde cromo, Terra gialla o Giallo ocra, Bianco di San Giovanni o
latte di calce o Bianco di titanio, alcuni miscugli degli stessi.
Si prende una spugna marina, preventivamente bagnata nell'acqua, per eseguire
le spugnature, su tutto il fondo, con il verde; sì fanno poi venature verdi con pennellino
apposito.
Si lucida con la cazzuola da marmorino.
Con spugna e pennello, si eseguono altre marezzature con giallo (poco), bian¬co
(poco) e miscugli preparati.
Come d'obbligo, segue la lucidatura con cazzuola da marmorino.
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L'alternarsi della dipintura e della lucidatura cesserà quando la finzione sarà
abbastanza slmile alla realtà.
Importante! L'imitazione dei marmi è un lavoro impegnativo, lungo e metico¬loso.
Di conseguenza, non è possibile eseguire in una giornata vaste superfìci, che, del resto,
non risulterebbero buone imitazioni se si pensa che anche il vero marmo è diviso e
lavorato a lastre. Per quest'ultima ragione, il finto marmo pre¬senterà delle suddivisioni
verticali e/o orizzontali ottenute mediante sottili incisioni eseguite a fresco con riga e stilo
d'acciaio a punta curvata e sottile (sezione min 2 ca.).
I finti marmi si eseguono per lo più in: zoccoiature, basamenti, colonne, pila¬stri,
paraste, sottofinestre, piccoli fondali decorativi, medaglioni, inserti, cornici, fregi, ecc.
DECORAZIONI DIPINTE 'A FRESCO' SU MARMORINO
LAVORO DELLA 'GIORNATA'
Si prepara un marmorino bianco naturale, ossia senza colori nell'impasto, lavorato
come al primo paragrafo del capitolo settimo.
Si presume che, sulla base del progetto decorativo iniziale, siano già stati
ap¬prontati tutti i cartoni e spolveri.
Si ritiene, altresì, che sia stata preparata la gamma dei colori fondamentali, come
da bozzetti.
Si stende il marmorino della 'gi o r na t a'
Si prendono gli spolveri, preventivamente bucati; si sporcano col carbocino: si
posano sulla superficie di marmorino ancora fresco; si strofina, con strácio o carta
morbida, lungo la linea dei disegno; si tolgono gli spolveri: il marmorino bianco mostrerà
tutta la traccia decorativa lasciata dal carboncino atraverso i fori, che sarà fissata come
esposto al capitolo quarto, paragrafo primo.Il procedimento con gli spolveri testò spiegato
è adatto per una decorazione minuta e molto varia.Se, invece, si dovesse eseguire della
decorazione di larghe proporzioni, non servirebbe bucare lo spolvero, ma sarebbe
sufficiente appoggiare il cartone o il lucido alla superficie, prendere una paletta piccola e
sottile da decoratore con la punta molto arrotondata, scorrere sul tracciato del disegno
con leggera pressione senza danneggiare la carta: alla fine troveremmo l'impressione ben
pulita, deli¬neata da una solcatura sul marmorino fresco (metodo in uso nei tempi antichi.
Fu adottato anche da Michelangelo nell'apparato pittorico della Cappella Sistina).
Si comincia a dipingere con dei penneli morbidi, stendendo il pigmento di¬sperso
in acqua e sapone, a velature leggere e sovrapposte, formando i motivi decorativi con
ombreggiature e lumeggiature.È importante ripetere la seguente regola fondamentale per
affrescare sul mar¬morino, che si potrebbe desumere, tuttavia, da quanto scritto per i finti
marmi: ocorre pressare e lucidare bene ugni coloritura prima di passare a quella
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successiva!Quando l’affresco sarà eqmpleiamenie asciutto, potrà essere trattato a cera,
come al paragrafo terzo del capitolo settimo. Il risultato estetico sarà visivamente identico
a quello dell'antico 'encausto romano' , il cui procedimento si diver¬sificava dal nostro
nella fase finale della ceratura per l'applicazione del metodo greco detto 'catais :[x<ivaiç).
Da M. VITRUVIO POLLIONE; op, cit Libro VII, capo IX. p. 534: "... quando sarà il
muro colorito e asciutto a dovere, con un pennello lo opra dicera punica liquefatta al fuoco
e estemperata con un tantino d'olio: indi con dei carboni accomodati in un vaso di ferro
vada riscaldando bene e le mura e la cera, riducendola a gocciolare: e con panni netti la
strofini appunto come si fa su i nudi delle statue di marmo. Questa operazione dai Greci si
dice 'causis'. Or questa copertura di cera fa che né lo splendor della luna, né i raggi del
sole possano rodere, né cancellare i colori in sì fatte pitture".
Causis (vuôcrií); parola greca che significa: bruciamento, bruciattura, ovvero.
riscaldamento della Cera per la spalmatura (Vitruvio) e cauterizzazione (Plinio) (cfr. Parte
III. capitolo dodicesimo, primo paragrafo). (Da I.. Rocci. Vocabolario Greco-Italiano).
FOGLIATA,Mario,SARTOR, Maria L..L’arte dello stucco Storia,técnica,metodologie della
tradizione veneziana.Edizione Antilia-Treviso,2004.
2.10. Escaiolas
Podem ser executadas no próprio local da aplicação ou nas oficinas dos
estucadores e transportadas ao local de fixação, que se dará por parafusos ou outro
meio. O local de execução deve ser isento de poeiras e umidade. Deve ser utilizado
gesso de primeira qualidade, muito bem peneirado. A água de cola (1 litro de água para
500 gramas de cola de carpinteiro) deve ser preparada diariamente. As superfícies que
receberão a escaiola devem estar limpas e bem molhadas. Na preparação entra o
cimento branco e as diversas tintas em pó, a serem misturadas à massa. A cor depende
da natureza da pedra que se quer imitar.
A massa a ser aplicada é formada por gesso, amassado em superfície de
mármore, com água e cola concentrada, de modo a constituir pasta pouco fluida e que
cure entre 12 e 20 horas. Essa primeira massa, chamada de esboço, leva, algumas
vezes, uma mistura de pelos (crina) bem lavados, de forma a torná-la mais rija e
resistente a fissuras. A superfície obtida é picada com ponteiro de madeira, para que a
massa da escaiola tenha boa aderência. Esta massa é cortada em fatias ou tiras e
aplicada sobre o esboço com colher. Sua espessura deve ficar em torno de três
milímetros. Depois de seca, faz-se o polimento. A mistura de cores, o modo de cortar as
tiras e de aplicá-las constitui toda a arte de fazer escaiola. Caso queira se imitar, por
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exemplo, mármore avermelhado, estriado de branco, prepara-se a pasta de gesso, a qual
se junta um pouco de tinta vermelha (pigmento) e depois um pouco de preto. Misturam-se
tudo muito bem à mão, sem emprego de ferramentas, faz-se uma espécie de bolo que se
corta em fatias de dois ou três centímetros de espessura. Cada uma destas é partida à
mão, em pequenos pedaços, que devem ser salpicados com pasta de gesso e um pouco
de gesso seco, e também um pouco de mármore e alabastro. Mergulham-se estes
pequenos pedaços na massa preparada com aguada de gesso e retiram-se para serem
amassados juntos num único bolo. Este é cortado em fatias e novamente amassado.
Corta-se o bolo pela segunda vez, à faca, e novamente se amassa tudo. Repete-se o
processo pela terceira vez. Estas fatias é que são aplicadas agora, para formar a
escaiola. Para o polimento, usa-se primeiro pedra pomes e uma esponja embebida em
água. Limpa-se tudo com pequena régua, extraindo-se substâncias não aderidas. Com
pasta de cimento branco vai se preenchendo quaisquer depressões e, depois da cura, é
feito novo polimento. Quando seca, a superfície é esfregada com óleo de linhaça, com o
auxílio de trapos. Finalmente, o enceramento com cera e aguarrás.17
Caderno de Encargos do Programa Monumenta editado pelo IPHAN na página
90 item 04.07.06.00 - Escaiola (parede) sub-item 04.00.00.00 cita e apresenta o modo
de fazer na pag.238 que define ESCAIOLA .
BRASIL. Ministério da Cultura. Programa Monumenta Cadernos de encargos.
Brasília : Ministério da Cultura, Programa Monumenta, 2005.