texto aula atividade 03 fundamentos

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Servio SocialDisciplina: Fundamentos Histricos Tericos e Metodolgicos do Servio Social I Prof.(a): Rosane Ap. Belieiro Malvezzi 3-E assim era no principio: O Conhecimento Histrico e suas Aula: Condies para o Surgimento das Primeiras Prticas Sociais No Brasil. Semestre: 1

OS INSTRUMENTOS E TCNICAS NA FORMAO PROFISSIONAL: DA CRIAO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS AO MOVIMENTO DE RENOVAO DO SERVIO SOCIAL

O processo de surgimento do Servio Social nos pases cntricos, segundo Netto (1992), est intimamente ligado ao agravamento da questo social14 por ocasio da passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista. O agravamento da questo social intensifica a organizao e a luta dos trabalhadores visando conquista de melhores condies de vida. Essa organizao e luta possibilitam aos trabalhadores expressarem as seqelas resultantes das contradies sociais que ameaam a ordem burguesa a qual se v impulsionada a buscar soluo para minimiz-las. A partir de uma anlise que se restringe as particularidades da realidade brasileira, constato que a necessidade de a ordem burguesa oferecer solues s contradies geradas por ela mesma faz com que o Estado brasileiro na Repblica ps-30 do sculo XX amplie sua interveno para a esfera econmica, alm da poltica. Conforme afirma Mendona (1990:243), reinterpretadas, transmutam-se em uma tica de explicao e em projetos de ao favorveis manuteno da ordem capitalista.

sem dvida alguma a industrializao brasileira teve o seu arranco a partir das transformaes ocorridas ao longo da dcada de 30. Estabeleceram-se ento os contornos iniciais da implantao de um ncleo de indstrias de base, assim como a definio de um novo papel do Estado em matria econmica, voltado para a afirmao do plo urbano-industrial enquanto eixo dinmico da economia (grifo meu).

A legitimao poltica do Estado precisa, agora, do intercmbio com outros elementos scio-polticos na busca de consensos e de articulao com os demais segmentos dominantes, tais como a Igreja Catlica entre os anos de 1930 e 1940 e o empresariado. Para isso, o Estado responde s demandas das classes subalternas assumindo sua tutela atravs do atendimento de algumas reivindicaes dos trabalhadores, tais como, segundo Cunha

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Servio Social(1989:49), a organizao sindical15, o salrio mnimo, as frias remuneradas, a limitao do trabalho da mulher e do menor, alm de outros benefcios. Nos primeiros vinte anos do sculo XX, a Igreja Catlica tentava recuperar sua influncia na vida do pas, perdida historicamente e ameaada pelo comunismo, pelo liberalismo, pelo positivismo e pelo redimensionamento do Estado no caso brasileiro, a Repblica. Assim, impulsionada pela Encclica Rerum Novarum, a Igreja tambm se preocupa com a questo social, assumindo com maior amplitude a interveno na vida social, com o objetivo de atrair a simpatia dos operrios, que se voltavam para o comunismo. Na dcada de 1930, a Igreja busca consolidar sua posio na sociedade civil ao mesmo tempo em que o Estado busca o seu apoio. Dessa forma, Igreja e Estado se aliam no sentido de buscarem uma resposta minimamente satisfatria aos anseios do proletariado. O acordo entre Estado e Igreja Catlica ocorre diante do pacto do anti-comunismo, entretanto, ambos delimitam seus terrenos, ou seja, unem se com o objetivo comum de resguardar e consolidar a ordem e a disciplina social (Iamamoto, 1985:159), resguardando, porm, seus campos de interveno e delimitando reas de influncias. Em 1932 criado, na cidade de So Paulo, o Centro de Estudos e Ao Social (CEAS), com o objetivode promover a formao de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ao nessa formao doutrinria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais, visando tornar mais eficiente a atuao dos trabalhadores sociais e adotar uma orientao definida em relao aos problemas a resolver, favorecendo a coordenao de esforos dispersos nas diferentes atividades e obras de carter social (Cerqueira, apud Iamamoto, 1985:173).

O CEAS se ocupa da formao de quadros especializados para a ao social e a difuso da doutrina social da Igreja. Como pretende atingir moas catlicas para intervir junto ao proletariado, cria as primeiras escolas de Servio Social em 1936 e 1937, em So Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, orientando a profisso por um vis moralizador, pautado na doutrina social da Igreja. Para resolver os problemas sociais, a soluo estaria no restabelecimento da ordem social atravs da justia e da caridade. Para tanto, fazia-se necessria a adaptao do indivduo ao meio, bem como pesquisar as causas dos problemas sociais a fim de prevenir sua ocorrncia, reforando a idia de que as causas das mazelas sociais se encontravam no indivduo. Os problemas sociais eram, portanto, transformados em problemas de cunho pessoal. Na obteno do conhecimento das causas sociais seria preponderante um aprendizado especial, justificandose, assim, a criao de Escolas de Servio Social.UNOPAR VIRTUAL

Servio SocialIdeologicamente, Igreja e Estado se encontraram nessa conjuntura para melhor efetivao do controle social. A primeira com o objetivo de recristianizao da sociedade, o segundo para garantia da hegemonia dominante. Backx (1994:26), em anlise dos Trabalhos de Concluso de Curso (TCC) apresentados ao Instituto Social (RJ) no perodo compreendido entre 1940-1950, confirma: nesse sentido, se o discurso dos alunos informado pelo discurso da doutrina social da Igreja, este por sua vez se inscreve no projeto burgus de dominao. Neste perodo de gnese do Servio Social no Brasil sob a influncia da doutrina social da Igreja aliada ao Estado e do Servio Social europeu , a profisso adquiriu uma formao moral e tcnica, ambas de substrato humanista, calcada na filosofia aristotlico-tomista. Tinha-se o cuidado de no deixar que a preocupao com a tcnica profissional fosse maior do que com a moral doutrinria. A tcnica deveria estar a servio da doutrina; a base mais doutrinria sobrepunha-se cientfica. Assim, a preocupao com os instrumentos e tcnicas no poderia suplantar a moral crist, deveria antes ser uma tcnica com a finalidade de se garantirem valores morais cristos: era empregado o mtodo da Ao Catlica: ver, julgar e agir (Reis, 1998:84). Iamamoto (1992:19) sintetiza esse momento de criao do Servio Social no Brasil quando afirma queo Servio Social surge da iniciativa de grupos e fraes de classes dominantes, que se expressam atravs da Igreja, como um dos desdobramentos do movimento do apostolado leigo. Aparece como uma das frentes mobilizadas para a formao doutrinria e para um aprofundamento sobre os problemas sociais de militantes, especialmente femininas, do movimento catlico a partir de um contato direto com o ambiente operrio. Est voltado para uma ao de soerguimento moral da famlia operria, atuando preferencialmente com mulheres e crianas. Atravs de uma ao individualizadora entre as massas atomizadas social e moralmente, busca estabelecer um contraponto s influncias anarcosindicalistas no proletariado urbano.

Nesse momento, o currculo dos cursos de Servio Social estava direcionado para a formao moral, principalmente de base doutrinria e tcnica. Na formao profissional deveria ser assegurada a vocao do Assistente Social aliada sua personalidade, ao seu conhecimento dos problemas sociais e tcnica adequada ao trabalho a ser desenvolvido, de acordo com o que se constata na leitura destes depoimentos:o preparo tcnico no basta apenas ao Assistente Social, necessrio quea ele seja aliada uma slida formao moral, porque, quase sempre, ter o Assistente Social de pr prova seus princpios morais, quer aconselhando, quer adotando

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Servio Socialuma atitude frente a um problema moral daqueles que procura reajustar.

(...)Tcnica apropriada, agentes competentes, eis o que caracteriza o Servio Social. Essa tcnica e esta competncia, tornam-se dia a dia mais indispensveis para que seja o Servio Social eficiente e para que seja eficaz para o bem de todos e de cada um. O exagero da tcnica e dacincia nos casos individuais, no entanto, suprime a alma do Servio Social (Mancine, 1939:3-8, apud S, 1995:75) (grifo meu).

Em funo dessa preocupao, o currculo era constitudo de disciplinas como: Religio, Moral, Sociologia, Psicologia, Higiene, Direito, Seminrios, Introduo ao Servio Social, Servio Social de Casos, Visitas a Obras, Prticas de Casos. As disciplinas de Introduo ao Servio Social, Religio, Moral e Doutrina Social da Igreja seriam fundamentais na luta contra o tecnicismo. Identifica-se, neste perodo, ento, a interface entre uma ideologia dominante, fundada no positivismo, e os preceitos da doutrina crist catlica, cabendo ao Servio Social uma ao que materializasse essa ideologia. Tal postura na formao profissional resultou, segundo Junqueira (1980:4), em uma quase ausncia de mtodos e tcnicas na concepo europia do Servio Social, que ento predominava, fazendo com que o Servio Social buscasse o aporte norteamericano. A esse respeito, considero que a necessidade da busca de tcnicas com respaldo cientfico se deve conjuntura social, poltica e econmica do Brasil poca, que exigia uma resposta aos problemas sociais agravados pelo desenvolvimento da industrializao no pas. Posso afirmar, de forma sinttica, a partir da leitura do que a profisso tem produzido na vertente crtica, que a formao caracterizava-se, nesse perodo de gnese do Servio Social, por uma preocupao com as tcnicas, mas se tomando cuidado com os princpios doutrinrios: a tcnica deveria estar a servio da moral doutrinria e no o contrrio. Na dcada de 1940, no Brasil, no bojo de uma poltica econmica favorecedora da industrializao, estimulando a emergncia da burguesia industrial, no poder do Estado aliado aos grandes proprietrios rurais e, conseqentemente, ao crescimento do proletariado urbanoindustrial17, o Estado criou instituies de assistncia estatais, paraestatais e autrquicas , com o intuito de direcionar e integrar as reivindicaes da classe trabalhadora atravs de polticas sociais assistenciais desenvolvidas nessas instituies18, as quais demandam aes dos profissionais do Servio Social, sendo eles os agentes executores das polticas sociais direcionadas ao proletariado urbano. O surgimento das grandes instituies executoras de polticas sociais constituiu o mercado de trabalho do Assistente Social, cujas bases de legitimao foram se deslocando para o Estado eUNOPAR VIRTUAL

Servio Socialsetores empresariais da sociedade, permitindo, assim, que se deflagrasse um processo de distanciamento na formao profissional com suas origens catlicas que s se concretizaria mais tarde, na dcada de 1960. Foi tal processo que legitimou a profisso na diviso social e tcnica do trabalho. Esse processo vai ao encontro do que Netto (1990) afirma: que o Servio Social s se constitui enquanto profisso a partir da existncia de um espao scioocupacional e no o contrrio, no o Servio Social que se constitui para criar um espao scio-ocupacional. Assim, sua institucionalizao se vincula forma pela qual o Estado enfrenta as refraes da questo social. A busca de soluo para as seqelas da questo social por parte do Estado permeada pela racionalidade positivista, que se configurava num dos suportes para se pensar o social. Os sujeitos tornam-se meros objetos, e o social visto segundo uma tica tico-moral, o que leva psicologizao das relaes sociais, ou seja, as expresses da questo social so tratadas como externas s instituies da sociedade burguesa, desencarnadas da esfera econmica, da cultura, do social e sem historicidade; reduzidas esfera pessoal e moral. Nas palavras de Netto (1992:58), a despolitizao surge no tratamento da questo social como objeto de administrao tcnica e/ou campo de terapia comportamental. H de se enfatizar que nesses moldes o tratamento da questo social no aleatrio, mas tpico do reformismo conservador, o qual, no capitalismo monopolista, entronizado como estratgia de classe da burguesia (idem). Essa racionalidade formal-abstrata influi nos procedimentos de interveno do Servio Social, incorporando elementos do Servio Social norte-americano dentre eles os mtodos de trabalho com Grupos e Comunidades. O Servio Social de Caso predominante no incio da institucionalizao dessa profisso e, de acordo com observao de Dantas (1995), centra-se nos fenmenos intrapsquicos, valorizando o funcionamento social do indivduo e tem como referncia a metodologia psicanaltica. Assim, segundo o autor, nesse momento no houve, ou houve minimamente, uma influncia da corrente funcionalista. No final da Segunda Guerra Mundial, introjeta-se, no Servio Social, o mtodo de Grupo com o aporte da teoria funcionalista americana que, ainda focando os indivduos, visa fortaleclos por meio da convivncia grupal. Na dcada de 1950, inicia-se a aplicao do mtodo de Comunidade, que se desenvolve at o final da dcada seguinte. Netto (1990:140), na historiografia da profisso indica trs vertentesUNOPAR VIRTUAL

Servio Socialprofissionais no que se refere ao Desenvolvimento de Comunidade: uma corrente que extrapola para o DC os procedimentos e as representaes tradicionais, apenas alterando o mbito da sua interveno; outra, que pensa o DC numa perspectiva macrossocietria, supondo mudanas socioeconmicas estruturais, mas sempre no bojo do ordenamento capitalista; e, enfim, uma vertente que pensa o DC como instrumento de um processo de transformao social substantiva, conectado libertao social das classes e camadas subalternas. A nfase no como fazer est presente nos processos de Caso, Grupo e Comunidade, marcando o metodologismo na trajetria intelectual da profisso. No final da dcada de 1940, embora mantivesse seus aspectos doutrinrios, a profisso j detinha um carter mais tcnico-cientfico, o qual delegado influncia norte-americana no Servio Social, mas (no coincidentemente) se fez de forma paralela a uma mudana no cenrio brasileiro. Temos uma sociedade brasileira consolidando o projeto de urbanizao e de industrializao, o qual fortalecido no trmino dos anos de 1950 e incio dos anos 60, sustentados pelo modelo desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek, marcado pela internacionalizao da economia com o fortalecimento do setor privado e do capital internacional. Extrado de http://www.ess.ufrj.br/teses_2006/claudia-monica.pdf em 02/09/2009.Santos, Cludia Mnica dos. Os instrumentos e tcnicas: mitos e dilemas na formao profissional do assistente social no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.

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