textos em defesa da escola aula 08 maio

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MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Maarten. Em defesa da escola. Uma questão pública. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2013. Aula dia 08 de maio de 2014 Texto 01 Acusações, demandas, posições Na disciplina “Fundamentos em Educação”, estudamos hoje a educação e a escola na perspectiva da dinâmica do poder na sociedade contemporânea. Para nos auxiliar neste estudo usamos o livro “Em defesa da escola: uma questão pública”. Na modalidade do estudo coletivo, organizamos, em um primeiro momento, grupos de leituras, para a elaboração da síntese de cada capítulo do livro. Cada grupo se responsabilizará por apresentar as ideias de um capítulo só. Mesmo assim, a introdução do livro, nos oferece um referencial comum. Por isso, neste início de texto, selecionamos temas de interesse geral, isto é, são temas que apresentam uma abordagem geral para compor os argumentos necessários para a defesa da escola na sociedade atual. Neste livro o autor nos provoca para pensar sobre muitos fatos que vêm acontecendo com a escola em um contexto mundial de globalização, de tal modo, que há muitas relações entre a amplitude dos desafios sociais e as dificuldades de cada lugar específico. O fato dos autores serem europeus não faz muita diferença. Depois que o mundo se globalizou, e depois que começou esta onda de reforma educacional fomentada pelo Banco Mundial, em todos os países, nós nos sentimos todos “dentro de um mesmo barco”. Temos diferenças de abordagem sim, mas neste momento vamos concentrar o foco naquilo que temos em comum com os países todos. Pelo título do livro já entendemos que os autores nos convidam a pensar sobre a necessidade de nos empenharmos na defesa da escola como uma questão pública. Por que é uma questão pública? O núcleo da resposta está no fato de que tem relação direta com a defesa do “tempo livre” e com a partilha de um “patrimônio comum”. Tanto a defesa da liberdade, quanto a defesa do patrimônio comum, não podem ficar a mercê dos arranjos privados. Estas defesas se referem ao interesse de todos, por isso é público. Trata-se 1

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MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Maarten. Em defesa da escola. Uma questo pblica. Belo Horizonte: Editora Autntica, 2013.Aula dia 08 de maio de 2014

Texto 01Acusaes, demandas, posies

Na disciplina Fundamentos em Educao, estudamos hoje a educao e a escola na perspectiva da dinmica do poder na sociedade contempornea. Para nos auxiliar neste estudo usamos o livro Em defesa da escola: uma questo pblica. Na modalidade do estudo coletivo, organizamos, em um primeiro momento, grupos de leituras, para a elaborao da sntese de cada captulo do livro. Cada grupo se responsabilizar por apresentar as ideias de um captulo s. Mesmo assim, a introduo do livro, nos oferece um referencial comum. Por isso, neste incio de texto, selecionamos temas de interesse geral, isto , so temas que apresentam uma abordagem geral para compor os argumentos necessrios para a defesa da escola na sociedade atual.Neste livro o autor nos provoca para pensar sobre muitos fatos que vm acontecendo com a escola em um contexto mundial de globalizao, de tal modo, que h muitas relaes entre a amplitude dos desafios sociais e as dificuldades de cada lugar especfico. O fato dos autores serem europeus no faz muita diferena. Depois que o mundo se globalizou, e depois que comeou esta onda de reforma educacional fomentada pelo Banco Mundial, em todos os pases, ns nos sentimos todos dentro de um mesmo barco. Temos diferenas de abordagem sim, mas neste momento vamos concentrar o foco naquilo que temos em comum com os pases todos.Pelo ttulo do livro j entendemos que os autores nos convidam a pensar sobre a necessidade de nos empenharmos na defesa da escola como uma questo pblica. Por que uma questo pblica? O ncleo da resposta est no fato de que tem relao direta com a defesa do tempo livre e com a partilha de um patrimnio comum. Tanto a defesa da liberdade, quanto a defesa do patrimnio comum, no podem ficar a merc dos arranjos privados. Estas defesas se referem ao interesse de todos, por isso pblico. Trata-se de um interesse da humanidade na medida em que esta defesa participa do processo de produo do humano, isto , de ns mesmos.Na introduo os autores falam de uma caracterstica radical, e por isso essencial, da escola: a de que a escola oferece tempo livre e transforma o conhecimento e as habilidades em bens comuns, e, portanto, tem o potencial para dar a todos, independentemente de antecedentes, talento natural ou aptido, o tempo e o espao para sair de seu ambiente conhecido, para se superar e renovar (e, portanto, mudar de forma imprevisvel) o mundo. (Pg.: 10).Mais adiante os autores nos mostram o que realmente consiste a escola: uma sociedade que prov tempo e espao para renovar a si mesma, oferecendo-se, assim, em toda a sua vulnerabilidade. (Pg.: 11).Se a escola uma inveno histrica, ela tambm pode desaparecer como tudo o que fruto da histria. Mas os autores nos convidam a pensar na possibilidade da reinveno da escola. Por isso eles afirmam: Reinventar a escola se resume a encontrar formas concretas no mundo de hoje para fornecer tempo livre e para reunir os jovens em torno de uma coisa comum, isto , algo que aparece no mundo que seja disponibilizado para uma nova gerao. (Pg.: 11). Em todo o livro os autores se esforam para explicar por que e como podemos empreender a reinveno da escola.Agora vamos passar para o estudo dos temas especficos do nosso captulo, selecionando alguns tpicos do texto. No precisamos esgotar tudo.O nosso grupo apresentar um resumo das ideias que esto no captulo 1: acusaes, demandas, posies, seguindo a estrutura do texto. A escola vem recebendo muitas acusaes. Vamos ver como estes autores nos apresentam as acusaes feitas contra a escola.

I. AlienaoMuitas acusaes da escola podem ser compreendidas neste enfoque geral da alienao: a escola est desconectada com a vida, com o mercado de trabalho, com o mundo, etc. Para enfrentar estas crticas os autores discutem que a escola deve suspender ou dissociar certos laos com a famlia dos alunos e o ambiente social, por um lado, e com a sociedade, por outro, a fim de apresentar o mundo aos alunos de uma maneira interessante e envolvente. (Pg.: 14) Sublinhamos aqui os termos interessante e envolvente para uma discusso posterior. Temos interesse em compreender o sentido etimolgico do interesse e a dimenso poltica do gesto de se envolver com o mundo.

II. Consolidao de poder e corrupoNeste tpico os autores nos lembram como vrias crticas apresentam a escola em uma relao de promiscuidade, velada ou aberta, com a dinmica de poder social ou com a corrupo. Todas as tentativas de cooperao e de corrupo ocorrem justamente para domar o potencial distinto e radical que exclusivo do escolar em si mesmo. (Pg.: 15).

III. Desmotivao da juventudeA terceira acusao se refere a desmotivao da juventude. Em torno desta discusso existe muita confuso sobre uma suposta escola do futuro. Contra todo um barulho feito neste tema os autores nos dizem: vamos argumentar que a escola no sobre o bem-estar, e que falar em termos de (des)motivao o sintoma infeliz de uma escola enlouquecida, que confunde ateno com terapia e gerar interesse com satisfazer necessidades. (Pg. 17) Estas duas confuses nos interessam muito para o aprofundamento de nosso debate aqui neste curso sobre os fundamentos da educao.

IV. Falta de eficcia e empregabilidadeA outra acusao vem de um tribunal econmico: a escola mostra uma falta de eficcia e tem grande dificuldade em relao a empregabilidade. Vamos ficar atentos, pois estas categorias de eficcia e de empregabilidade no so nada ingnuas. Tem muito caroo neste ang! Diante de tantas acusaes neste campo os autores nos dizem: A isso, vamos responder que uma declarao como a escola no um negcio expressa uma responsabilidade diferente: a responsabilidade mesmo amor pela gerao de jovens com uma nova gerao. (Pg.: 19)

V. A demanda de reforma e a posio de redundnciaOutro conjunto de acusaes contra a escola gira em torno da necessidade de reformas ou de reparao, sempre preocupadas com o seu bom funcionamento, isto , com a abordagem funcional.Os autores observam dois desenvolvimentos que constituem uma ao de retaguarda na discusso sobre a escola, e que esto situados no campo da redundncia da escola. Antes de fazerem a defesa, os autores nos explicam em que consistem estes dois desenvolvimentos: O primeiro desenvolvimento se refere a constituio de autoridade da escola pelo fato de ela poder reconhecer e validar saberes. A escola pode renovar a sua autoridade apostando nestas suas habilidades de conferir um selo de qualidade aos muitos saberes em circulao pela sociedade inteira. Os autores identificam neste desenvolvimento um tipo de disfarce de redundncia acontecendo na escola hoje.O segundo desenvolvimento est ligado a uma afirmao de redundncia da escola e aparece no seguinte argumento: a escola, onde a aprendizagem est ligada ao tempo e ao espao, no mais necessria na era digital dos ambientes de aprendizagem virtual. (Pg.: 22). Isto envolve uma grande discusso sobre as relaes entre a escola e as novas tecnologias de comunicao. Em nosso momento este tema precioso por demais.Qual argumento os autores apresentam contra todas estas acusaes? Eles dizem no final do captulo:Chegou a hora, ento, de apresentar o contra-argumento. No ser nenhuma surpresa que ns no cedamos extorso que faria com que expressssemos nossa evidncia em termos de valor agregado, resultados de aprendizagem e qualificaes (educacionais). Queremos tentar identificar o que faz uma escola ser uma escola e, ao faz-lo, tambm queremos identificar por que a escola tem um valor em e por si mesma e por que ela merece ser preservada. (Pgs.: 23 24).

MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Maarten. Em defesa da escola. Uma questo pblica. Belo Horizonte: Editora Autntica, 2013.Aula dia 08 de maio de 2014

Texto 02O que o escolar?

Na disciplina Fundamentos em Educao, estudamos hoje a educao e a escola na perspectiva da dinmica do poder na sociedade contempornea. Para nos auxiliar neste estudo usamos o livro Em defesa da escola: uma questo pblica. Na modalidade do estudo coletivo, organizamos, em um primeiro momento, grupos de leituras, para a elaborao da sntese de cada captulo do livro. Cada grupo se responsabilizar por apresentar as ideias de um captulo s. Mesmo assim, a introduo do livro, nos oferece um referencial comum. Por isso, neste incio de texto, selecionamos temas de interesse geral, isto , so temas que apresentam uma abordagem geral para compor os argumentos necessrios para a defesa da escola na sociedade atual.Neste livro o autor nos provoca para pensar sobre muitos fatos que vm acontecendo com a escola em um contexto mundial de globalizao, de tal modo, que h muitas relaes entre a amplitude dos desafios sociais e as dificuldades de cada lugar especfico. O fato dos autores serem europeus no faz muita diferena. Depois que o mundo se globalizou, e depois que comeou esta onda de reforma educacional fomentada pelo Banco Mundial, em todos os pases, ns nos sentimos todos dentro de um mesmo barco. Temos diferenas de abordagem sim, mas neste momento vamos concentrar o foco naquilo que temos em comum com os pases todos.Pelo ttulo do livro j entendemos que os autores nos convidam a pensar sobre a necessidade de nos empenharmos na defesa da escola como uma questo pblica. Por que uma questo pblica? O ncleo da resposta est no fato de que tem relao direta com a defesa do tempo livre e com a partilha de um patrimnio comum. Tanto a defesa da liberdade, quanto a defesa do patrimnio comum, no podem ficar a merc dos arranjos privados. Estas defesas se referem ao interesse de todos, por isso pblico.Na introduo os autores falam de uma caracterstica radical, e por isso essencial, da escola: a de que a escola oferece tempo livre e transforma o conhecimento e as habilidades em bens comuns, e, portanto, tem o potencial para dar a todos, independentemente de antecedentes, talento natural ou aptido, o tempo e o espao para sair de seu ambiente conhecido, para se superar e renovar (e, portanto, mudar de forma imprevisvel) o mundo. (Pg.: 10).Mais adiante os autores nos mostram o que realmente consiste a escola: uma sociedade que prov tempo e espao para renovar a si mesma, oferecendo-se, assim, em toda a sua vulnerabilidade. (Pg.: 11).Se a escola uma inveno histrica, ela tambm pode desaparecer como tudo o que fruto da histria. Mas os autores nos convidam a pensar na possibilidade da reinveno da escola. Por isso eles afirmam: Reinventar a escola se resume a encontrar formas concretas no mundo de hoje para fornecer tempo livre e para reunir os jovens em torno de uma coisa comum, isto , algo que aparece no mundo que seja disponibilizado para uma nova gerao. (Pg.: 11). Em todo o livro os autores se esforam para explicar por que e como podemos empreender a reinveno da escola.Agora vamos passar para o estudo dos temas especficos do nosso captulo, selecionando alguns tpicos do texto. No precisamos esgotar tudo.O nosso grupo vai se dedicar ao estudo do maior captulo do livro, que tem o ttulo O que o escolar?. Vamos resumir as ideias deste captulo acompanhando a estrutura do texto. As vrias questes listadas tentam nos apresentar a essncia do escolar enquanto uma ao, enquanto o fazer escola. Cada questo aqui apresentada tenta definir com maior rigor a essncia da escola, naquilo que ela tem enquanto algo essencial de oferecer uma experincia, enquanto cada indivduo faz o seu percurso pela a escola.A escola uma inveno poltica, especfica, da polis grega. Ela surgiu como usurpao do privilgio das elites aristocrticas e militares na Grcia Antiga.O mais importante ato que a escola faz diz respeito suspenso de uma chamada ordem desigual natural. A inveno do escolar pode ser descrita como democratizao do tempo livre. Queremos reservar a noo de escola para a inveno de uma forma especfica de tempo livre ou no produtivo, tempo indefinido para o qual a pessoa no tem outra forma de acesso fora da escola. Os jovens se desconectam do tempo ocupado da famlia ou da OIKOS (a OIKO-nomia) e da cidade/estado ou polis (pol-tica).

VI. Uma questo de suspenso (ou libertar, destacar, colocar entre parnteses)O que significa a suspenso aqui? O que a escola suspende?Suspenso significa tornar algo inoperante, tirar da esfera da produo, tirar algo do contexto normal, para que o tempo possa se tornar livre, fora da preocupao com o produtivo em si.A escola e o professor permitem que os jovens reflitam sobre si mesmos, separados do contexto (antecedentes, inteligncia, talentos, etc.) que os conecta a um determinado lugar (um caminho de aprendizagem especial, uma aula para os alunos de reforo, etc.). A escola cria igualdade precisamente na medida em que constri o tempo livre, isto , na medida em que consegue, temporariamente, suspender o adiar o passado e o futuro, criando, assim, uma brecha no tempo linear. A escola chama os jovens para o tempo presente.A escola deve ser um puro meio termo ou centro. Esse tipo de meio termo no tem orientao nem destino, mas torna todas as orientaes e direes possveis. Talvez a escola seja outra palavra para esse meio termo onde os professores atraem os jovens para o presente.

VII. Uma questo de profanao (ou tornar algo disponvel, tornar-se um bem pblico ou comum)Um tempo e lugar profanos, mas tambm para as coisas profanas, referem-se a algo que desligado do uso habitual, no mais sagrado ou ocupado por um significado especfico, e, portanto, algo no mundo que , ao mesmo tempo, acessvel a todos e sujeito (re)apropriao de significado. Trazer para o jogo, esse transformar algo em matria de estudo, que necessrio, a fim de aprofundar em alguma coisa como um objeto de prtica e de estudo. A profanao e a suspenso abrem o mundo, e isso atravs da ateno e do interesse, em vez da motivao. Enfatizamos nesta parte esta anlise que os autores fazem sobre ateno e sobre interesse. Para o nosso estudo, nos interessa muito compreender o sentido etimolgico do interesse e a dimenso poltica de um trabalho de formar para a ateno. Em tempos de intensa disperso, onde tudo est disperso, este gesto de formar o sujeito para se comprometer com uma ateno enquanto esforo mesmo de construo altamente poltico.

VIII. Uma questo de ateno e de mundo (ou abrir, criar interesse, trazer vida, formar)Algo se torna real e passa a existir em e por si mesmo. Esse algo comea a se tornar parte do nosso mundo em um sentido real, comeam a gerar interesse e comeam a nos formar. Esse novo eu , antes e acima de tudo, um eu da experincia, da ateno e da exposio a alguma coisa. No entanto, devemos ter o cuidado de distinguir formao de aprendizagem.Na formao, no entanto, esse eu e o mundo da vida do indivduo so colocados em jogo constante desde o incio. A formao envolve, assim, sair constantemente de si mesmo ou transcender a si mesmo ir alm do seu prprio mundo da vida por meio da prtica e do estudo.A escola forma quando ela abre o mundo para o aluno. Ela (in)forma o mundo. Informa nosso mundo em um duplo sentido; forma parte do mundo (que podemos, ento, compartilhar) e informa, isto , partilha algo com o mundo existente (e, dessa forma, acrescenta algo ao mundo e o amplia). Aqui h algo de tornar um inter-esse.Na medida em que o escolar est preocupado com a abertura do mundo, a ateno e no tanto a motivao de importncia crucial. A escola o tempo e o lugar onde temos um cuidado especial e interesse nas coisas, ou, em outras palavras, a escola focaliza a nossa ateno em algo.A escola (com seu professor, disciplina escolar e arquitetura) infunde na nova gerao uma ateno para com o mundo: as coisas comeam a falar conosco.Trata-se do momento mgico quando alguma coisa fora de ns mesmos nos faz pensar, nos convida a pensar ou nos faz coar a cabea. Nesse momento mgico, algo de repente deixa de ser uma ferramenta ou um recurso e se torna uma coisa real, uma coisa que nos faz pensar, mas tambm nos faz estudar e praticar.Esse o acontecimento mgico da escola, o movere o movimento real que no deve ser rastreado at uma deciso individual, escolha ou motivao. Enquanto a motivao uma espcie de caso pessoal, mental, o interesse sempre algo fora de ns mesmo, algo que nos toca e nos leva a estudar, pensar e praticar. Leva-nos para fora de ns mesmos. A escola se torna um tempo/espao do inter-esse do que compartilhado entre ns, o mundo em si. Naquele momento, os alunos no so indivduos com necessidades especficas que escolhem onde eles querem investir seu tempo e energia; eles so expostos ao mundo e convidados a se interessarem por ele; um momento em que a verdadeira comun-icao possvel. Sem um mundo, no h interesse nem ateno.

IX. Uma questo de tecnologia (ou praticar, estudar, disciplina)A partir de uma perspectiva humanista, a tecnologia algo que deve ser mantido fora da escola ou, pelo menos, algo que deve ser cuidadosamente abordado em termos de um meio que permita chamada pessoa bem formada alcanar fins humanitrios: em primeiro lugar, a aquisio de entendimento e conhecimento bsicos, e, em segundo, a traduo disso em tcnicas e aplicaes concretas. Mas, dar forma escola, ou seja, estimular o interesse por cuidadosamente criar e apresentar o mundo, inconcebvel sem a tecnologia.Os autores nos falam de diversas tecnologias presentes na escola, tais como o quadro-negro, o giz, o papel, a caneta, o livro, a carteira, a cadeira. Mas eles falam tambm de outras tecnologias como o ditado, a memorizao, o dever de casa, recitar, copiar, o exame, a avaliao, a autoridade, a disciplina. Mas, tudo isso verificado em outra perspectiva. O registro da tecnologia escolar , nesse sentido, mais mgico do que mecnico, mais de um tipo alqumico do que de uma cadeia de reao qumica.As regras escolares so analisadas tambm como um tipo de tecnologia. Essas regras escolares servem para tornar possvel apresentar o mundo de uma maneira atraente: tentam focalizar a ateno, minimizar a distrao e manter (ou, evitar, quando necessrio) o silncio. A tecnologia da educao escolar e as regras ligadas a ela so o que torna possvel para as pessoas jovens passarem a ser discpulos.As tecnologias da educao escolar so tcnicas que, por um lado, engajam os jovens e, por outro, apresentam o mundo; isto , focam a ateno em alguma coisa. apenas dessa maneira que a escola capaz de gerar interesse e, assim, tornar possvel a formao. Uma tecnologia da educao escolar ajustada para tornar possvel o tempo livre. Mais especificamente, uma tcnica que permite o prprio ser capaz ou que faz a experincia do posso fazer isso/ sou capaz ser possvel.

X. Uma questo de igualdade (ou ser capaz de comear, in-diferena)Talvez no haja nenhuma inveno humana mais habilitada em criar a igualdade do que a escola. Ela capaz de impedir e interromper os planos que avs/pais e avs/mes fizeram para seus netos/filhos e netas/filhas, do mesmo modo que pode inibir e ameaar os planos que os lderes religiosos e polticos (sejam eles inovadores sociais ou conservadores, estadistas ou revolucionrios) tm para seus cidados ou seguidores. A escola sempre tem a ver com a experincia de potencialidade.Os elementos que fazem a escola suspenso, profanao, o mundo, ateno, disciplina, tcnica esto conectados (ou, certamente, podem ser conectados) com a experincia da habilidade e da possibilidade. O professor deve tentar trazer os alunos para dentro do presente indicativo a fim de libert-los do peso das dinmicas sociolgicas e outras que, de outra maneira, os empurra para baixo em uma psique da inutilidade.Os espaos escolares surgem como o espao em que a igualdade de todos averiguada. A igualdade de cada aluno no uma posio cientfica ou um fato provado, mas um ponto de partida prtico que considera que todo mundo capaz e, portanto, que no h motivos ou razes para privar algum da experincia de habilidade, isto , a experincia de ser capaz de.A escola o lugar que transforma algo em um objeto de estudo (o conhecimento pelo bem do conhecimento) e em um objeto de prtica (a habilidade pelo bem da habilidade).A escola e o professor partem do pressuposto de que todos os alunos tm igual capacidade. A escola e o professor proporcionam um benefcio algo que se torna um bem pblico e, consequentemente, coloca a todos numa posio inicial igual e fornece a todos a oportunidade de comear.

XI. Uma questo de amor (ou amateurismo, paixo, presena e mestria)A escola como uma forma de tempo livre feita e deve ser feita. Ns j mostramos que essa forma criada por meio do estabelecimento de limites e regras: pelo tempo escolar (a campainha) e pela disciplina escolar, por fechar as portas, mas tambm pelos quadrosnegros, mesas, livros, salas de aula, etc. Eles ajudam a permitir a abertura e compartilhamento do mundo que se deve experimentar a fim de ser capaz de comear. Para o professor, conhecimento e metodologia so importantes, mas tambm o so amor e o cuidado. O amor que entra em cena no fazer a escola descrito como amor pelo assunto, pela causa (ou pelo mundo e amor pelos alunos. Esse amor no espetacular, ele se expressa de uma maneira bastante comum: em pequenos gestos ordinrios, em certos modos de falar e de escutar.O professor um amador, no sentido de que ele vive para amar. Ao lado do amor pelo assunto, e talvez por causa disso, tambm ensina por amor ao aluno. Explorando um pouco mais esta dica oferecida pelos autores podemos enfatizar: ns professores precisamos pensar nesta dimenso de nosso fazer profissional enquanto profissionais do amor.Como reconhecemos um professor amateur? Como reconhecemos este profissional do amor. Simplificando, isso revelado por meio da extenso em que uma pessoa est presente no que faz e na forma como demonstra quem ela e o que representa atravs de suas palavras e aes. Isso o que se poderia chamar de mestria de um professor. Enquanto o conhecimento e a competncia garantem um tipo de experincia, a presena, o cuidado e a dedicao que do expresso mestria do professor. Ele personifica a matria de uma determinada maneira e tem presena na sala de aula.Voc tambm pode reconhecer o professor amateur por sua busca da perfeio. As coisas tm de ser corretas. No s prepara sua aula, mas tambm a si mesmo.Como que o professor amateur se relaciona com seus alunos? precisamente a mestria e o engajamento interessado e inspirado por parte do professor magistral que lhe permite inspirar e envolver os alunos.O ponto de partida do professor amoroso o amor pelo assunto, pela matria, e pelos alunos: um amor que se expressa na abertura e compartilhamento do mundo.

XII. Uma questo de preparao (ou estar em forma, ser bem treinado, ser bem educado, testar os limites)A formao como uma espcie de autoformao ou entrar em forma consiste na verdade, em preparao. a prpria preparao que importante. A escola a preparao em prol da preparao.

XIII. E, finalmente, uma questo de responsabilidade pedaggica (ou exercer autoridade, trazer vida, trazer para o mundo)A educao a concesso de autoridade para o mundo, no s por falar sobre o mundo, mas tambm e sobretudo por dialogar (encontrar, comprometer-se) com ele. Em suma, a tarefa da educao garantir que o mundo fale com os jovens.O significado poltico da educao est na libertao do mundo (ou das coisas e prticas) de tal maneira que o indivduo se sinta envolvido com o bem comum.

MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Maarten. Em defesa da escola. Uma questo pblica. Belo Horizonte: Editora Autntica, 2013.Aula dia 08 de maio de 2014

Texto 03Domando a escola

Na disciplina Fundamentos em Educao, estudamos hoje a educao e a escola na perspectiva da dinmica do poder na sociedade contempornea. Para nos auxiliar neste estudo usamos o livro Em defesa da escola: uma questo pblica. Na modalidade do estudo coletivo, organizamos, em um primeiro momento, grupos de leituras, para a elaborao da sntese de cada captulo do livro. Cada grupo se responsabilizar por apresentar as ideias de um captulo s. Mesmo assim, a introduo do livro, nos oferece um referencial comum. Por isso, neste incio de texto, selecionamos temas de interesse geral, isto , so temas que apresentam uma abordagem geral para compor os argumentos necessrios para a defesa da escola na sociedade atual.Neste livro o autor nos provoca para pensar sobre muitos fatos que vm acontecendo com a escola em um contexto mundial de globalizao, de tal modo, que h muitas relaes entre a amplitude dos desafios sociais e as dificuldades de cada lugar especfico. O fato dos autores serem europeus no faz muita diferena. Depois que o mundo se globalizou, e depois que comeou esta onda de reforma educacional fomentada pelo Banco Mundial, em todos os pases, ns nos sentimos todos dentro de um mesmo barco. Temos diferenas de abordagem sim, mas neste momento vamos concentrar o foco naquilo que temos em comum com os pases todos.Pelo ttulo do livro j entendemos que os autores nos convidam a pensar sobre a necessidade de nos empenharmos na defesa da escola como uma questo pblica. Por que uma questo pblica? O ncleo da resposta est no fato de que tem relao direta com a defesa do tempo livre e com a partilha de um patrimnio comum. Tanto a defesa da liberdade, quanto a defesa do patrimnio comum, no podem ficar a merc dos arranjos privados. Estas defesas se referem ao interesse de todos, por isso pblico.Na introduo os autores falam de uma caracterstica radical, e por isso essencial, da escola: a de que a escola oferece tempo livre e transforma o conhecimento e as habilidades em bens comuns, e, portanto, tem o potencial para dar a todos, independentemente de antecedentes, talento natural ou aptido, o tempo e o espao para sair de seu ambiente conhecido, para se superar e renovar (e, portanto, mudar de forma imprevisvel) o mundo. (Pg.: 10).Mais adiante os autores nos mostram o que realmente consiste a escola: uma sociedade que prov tempo e espao para renovar a si mesma, oferecendo-se, assim, em toda a sua vulnerabilidade. (Pg.: 11).Se a escola uma inveno histrica, ela tambm pode desaparecer como tudo o que fruto da histria. Mas os autores nos convidam a pensar na possibilidade da reinveno da escola. Por isso eles afirmam: Reinventar a escola se resume a encontrar formas concretas no mundo de hoje para fornecer tempo livre e para reunir os jovens em torno de uma coisa comum, isto , algo que aparece no mundo que seja disponibilizado para uma nova gerao. (Pg.: 11). Em todo o livro os autores se esforam para explicar por que e como podemos empreender a reinveno da escola.Agora vamos passar para o estudo dos temas especfico do captulo trs, no qual os autores mostram o quanto o ncleo da escola tem sido visto como ameaador e por isso h muitas tentativas em domar a escola. Neste captulo os autores analisam diversos movimentos tticos que fazem parte de uma ampla estratgia para domar a escola. As tticas para domar a escola so: politizao, pedagogizao, naturalizao, tecnologizao, psicologizao, popularizao. Vamos discutir cada uma delas a partir das provocaes feitas pelos autores, para depois, averiguarmos o quanto ns tambm estamos envolvidos nestas mesmas tticas.Antes de analisar cada ttica o texto enfatiza que a escola incomoda justamente por este ncleo de permitir o tempo livre, de permitir o acesso ao comum e por permitir o novo comeo para as novas geraes.Domar a escola implica governar seu carter democrtico, pblico e renovador. Isso envolve a reapropriao ou reprivatizao do tempo pblico, do espao pblico e do bem comum possibilitados por ela. Talvez no devssemos ler a histria da escola como uma histria de reformas e inovaes, de progresso e modernizao, mas como uma histria de represso, uma srie de estratgias e tticas para dispers-la, reprimi-la, coagi-la, neutraliz-la ou control-la.Vamos ver como as tentativas de domar a escola tocam no ncleo do nosso trabalho educacional:Atualmente, as instituies e os ideais, obviamente, perderam muito de seu significado, e a transferncia de conhecimentos e a educao centrada no professor esto fora de moda. Exatamente por causa disso, as escolas modernas esto sendo convertidas em ambientes de aprendizagem centrada no aluno.Mais adiante o texto afirma:A gerao jovem jogada de volta ao seu prprio mundo da vida e j no h nada nem ningum que possa tir-la de l. A pessoa do aluno suas necessidades, experincias, talento, motivao e aspiraes se torna o ponto de partida e o ponto final. Domar a escola, aqui, significa garantir que os alunos so mantidos pequenos fazendo-os acreditar que so o centro das atenes, que suas experincias pessoais so o solo frtil para um novo mundo, e que as nicas coisas que tm valor so as que eles valorizam. O resultado que os alunos so domados: eles se tornam escravos de suas prprias necessidades, um turista no seu prprio mundo da vida. A importncia colocada sobre aprender a aprender , talvez, a mais reveladora expresso dessa tentativa de domar. O aluno atirado de volta ao seu prprio aprendizado e a ligao com alguma coisa com o mundo rompida. A velha gerao recua juntamente com seus ideais, porm, ao fazer isso, nega gerao jovem a oportunidade de ser uma nova gerao. Afinal de contas, apenas em confronto com algo que foi proposto e no tratado pela gerao mais velha que os jovens so colocados em uma situao em que eles prprios podem fazer um comeo, atribuir um novo significado para as coisas que atraem sua ateno e sair por si ss de seu mundo da vida imediato. A escola, como uma instituio do sculo XIX, props algo, mas no mesmo movimento colocou ao lado desse algo um manual para o seu uso adequado. O ambiente de aprendizagem contemporneo est cheio de manuais e instrues, mas no h nada sobre a mesa. Em ambos os casos, o carter pblico da escola isto , como lugar onde tudo pode acontecer porque duas geraes entram em contato em relao a algo desaparece. E com ele desaparece o carter de renovao da escola, uma vez que a gerao mais jovem no mais capaz de experimentar a si mesma como nova gerao em relao a algo que foi proposto.A domesticao da escola lana uma luz um pouco diferente sobre o debate polmico que, atualmente, est sendo travado entre os chamados reformistas e tradicionalistas. O que esses dois campos tm em comum parece ser um desejo de domar a escola. Empregar a escola (exclusivamente) a servio da sociedade e empregar a escola a servio do aluno, tanto implica cercear a ao da educao escolar de tornar pblico, quanto de renovar e de democratizar.Daqui para frente vamos entender as tticas que participam desta grande estratgia de domar a escola. E poderemos analisar o quanto isto tambm nos pega mergulhados inteiramente nesse rolo todo.

XIV. PolitizaoNa politizao a escola incumbida de tarefas impossveis de serem cumpridas sem abandonar a prpria escola. H aqui uma tendncia de doutrinao combinada com outra tendncia de infantilizao. O que neutralizado por isso o tempo livre e a possibilidade de os jovens que experimentem a si prprios como uma nova gerao.Uma variante sutil de politizao a nfase colocada na empregabilidade, nesta tendncia para reformular os objetivos da educao em termos de competncias empregveis. Com a nfase agora mudada para a empregabilidade no contexto ativo Estado do bem-estar social, o emprego se torna cada vez mais uma responsabilidade do indivduo. O indivduo batizado como um aprendiz (ao longo da vida), a aprendizagem um investimento no prprio capital humano do indivduo, e os cidados-como-aprendizes ativados carregam a responsabilidade vitalcia de encontrar o seu prprio emprego. Em uma poca de empregabilidade, a poltica se torna uma questo de ativao, de capacitao e de fornecer emprstimos baratos para investimento em capital humano. O adgio : ser empregvel! O evangelho: a empregabilidade o caminho para comprar sua prpria liberdade e contribuir para o progresso social! O sermo: no se aliene e no d de ombros sua responsabilidade para com a sociedade! O lembrete tranquilizador: deixe aquele que no tem necessidade de aprender atirar a primeira pedra!O sucesso do termo competncias no somente no mundo profissional, mas tambm por toda a sociedade e educao pode ser compreendido como um sintoma dessa nfase na empregabilidade.Em outras palavras, competncias, validadas como qualificaes, so a moeda (europia) pelo qual o aluno vitalcio que cuida, organizadamente, da coleta de competncias em seu portflio expressa a sua empregabilidade social. A escola, e com ela a gerao mais jovem, se matricula no projeto social de maximizar a empregabilidade na medida em que se permite ser seduzida para reformular seus objetivos e currculo em termos de competncias/qualificaes. O conceito de competncia empregvel combina, assim, os termos sociolgicos de reproduo, integrao e legitimidade: as competncias garantem a integrao na sociedade, reproduzem aquela sociedade e legitimam a ordem existente. Parece que os estrategistas polticos se tornaram socilogos; eles comprimem a relao funcional entre a educao e a sociedade numa aprendizagem-competncia-qualificao-empregabilidade, vnculo e esperana para uma reao em cadeia Somado a isso est o foco em competncias derivadas de uma ideia de empregabilidade que a educao, possivelmente, no pode garantir. Afinal de contas, como podemos prometer a empregabilidade juventude qualificada numa sociedade que est mudando? Fazer isso no s desperdia desnecessariamente a juventude, como tambm a induz ao erro.E ainda h o lado administrativo de toda a histria, pois tanto os professores como os estudantes so lanados em uma louca burocratizao, devido a tantas tarefas obrigados a cumprir. No meio desta loucura deixamos de educar.

XV. PedagogizaoAqui o texto nos fala de uma quebra na escola como uma funo da famlia, como se os professores tivessem que assumir o lugar de um pai que falta para a criana. Quando um professor faz isso ele perde o centro, que o amor ao mundo.No se trata de negar o cuidado. Pelo contrrio, um cuidado que motivado pelo amor ao mundo; uma preocupao voltada diretamente para manter os alunos atentos, para dar apoio quando seu desempenho fica aqum e para garantir que eles tenham o tempo livre, apesar de uma situao difcil em casa.

XVI. NaturalizaoNesta ttica de domar a escola o futuro do aluno fixado naturalmente. A maneira sutil de fazer isso est no desenvolvimento de talentos.Talvez a forma mais sutil de naturalizao com um efeito de domao seja o desenvolvimento de talento. Um talento como um conceito se refere s diferenas na predisposio entre os alunos.Nesse sentido, o desenvolvimento do talento implica a efetiva e eficiente transformao do talento em competncias e qualificaes que maximizam a empregabilidade dos jovens. Talvez o que torna o termo talento to bem-sucedido hoje que ele traz consigo ambos esses significados. O desenvolvimento do talento abrange a reconciliao definitiva entre os reformadores da educao inspirada no humanismo e os estrategistas polticos focados na mobilizao.Porm, o talento no simplesmente outra palavra para a predestinao natural?A diferena com base no talento (naturalizao) e o interesse da empregabilidade (politizao) , nesse sentido, uma ttica por excelncia e sofisticada para neutralizar o evento escolar. Essas trs tticas politizao, pedagogizao e naturalizao domam a escola acoplando-a a algo fora dela mesma (sociedade, famlia, natureza). Mas tambm existem algumas tticas que desescolarizam a escola a partir de dentro.As tticas estudadas a seguir nos mostram como a escola vem sendo domada a partir de dentro dela mesmo: a tecnologizao, a psicologizao e a popularizao.

XVII. TecnologizaoA escola e a educao acontecem sempre baseadas em uso de tcnicas. Mas aqui o gesto de domar consiste em ficar na tcnica por ela mesma.Usamos o termo tecnologizao, assim, para referir a uma ttica de domar em que os critrios para uma boa tcnica escolar e os critrios para um bom professor e uma boa escola passam a ser situados na prpria tcnica. Em outras palavras, a ttica de domar da tecnologizao refere-se busca por critrios e garantias tcnicos onde o objetivo se torna a otimizao do desempenho tcnico.Essa forma de domar a escola aparece em dois pontos: 1) no foco colocado sobre a eficincia e sobre a eficcia; 2) no foco da performatividade.Assim o princpio da competio entra sorrateiramente no processo educacional, como quem no quer nada, com uma aparncia de inocncia.Assim como o chicote da eficincia e da eficcia resulta em instrumentalizao (a fim de cumprir as metas definidas), o mesmo acontece com o chicote da performatividade direcionada ao monitoramento. O ideal uma medio contnua do desempenho a fim de produzir o feedback permanente. Um dedo no pulso de tudo e de todos. Tudo e todos devem ser monitorados, e nenhum segundo pode ser poupado para ajuste ou afinao. Isso levanta a questo de saber se hoje a economizao da escola , na verdade, o resultado de um mercado de trabalho invasivo. Afirmaramos que a escola est domando a si prpria a partir de dentro, em nome da performatividade e competitividade. Os exames e os prmios so recursos de dentro da escola que comprovam como esse fenmeno vem acontecendo com tanta fora.Vemos isso como o nascimento da escola capitalista e do professor capitalista focados na maximizao dos ganhos de aprendizagem a demolio do seu corao comunista. A queda deste muro (de Berlim) equivale desescolarizao de dentro para fora.

XVIII. PsicologizaoO que ameaa o acontecimento escolar a tendncia a substituir o ensino por uma forma de orientao psicolgica. O professor funciona como aquele que responsvel pela prestao de cuidados teraputicos. Uma expresso dessa tendncia a nfase no bem-estar psicolgico dos alunos e na motivao para aprender. Isto consiste numa confuso que troca o real trabalho da educao por uma tal de emopedagogia.

XIX. PopularizaoO engodo nesta ttica de domar consiste em aproximar ao mximo a escola do mundo do aluno, tornar tudo prazeroso, divertir. O foco exclusivo no relaxamento e no prazer (de ver/ouvir) significa uma domao da tenso exigida pelo estudo e a prtica.A popularizao mantm os alunos infantis enquanto a escola um lugar para amadurecimento, avano, encontrar um caminho no mundo e elevar-se acima de si mesmo e, portanto, tambm de ultrapassar seu mundo.Os autores no esto defendendo o tdio e a monotonia. Eles esto mostrando quanta confuso acontece no modo de tratarmos estas questes no esforo de estudar.

MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Maarten. Em defesa da escola. Uma questo pblica. Belo Horizonte: Editora Autntica, 2013.Aula dia 08 de maio de 2014

Texto 04Domando o professor

Na disciplina Fundamentos em Educao, estudamos hoje a educao e a escola na perspectiva da dinmica do poder na sociedade contempornea. Para nos auxiliar neste estudo usamos o livro Em defesa da escola: uma questo pblica. Na modalidade do estudo coletivo, organizamos, em um primeiro momento, grupos de leituras, para a elaborao da sntese de cada captulo do livro. Cada grupo se responsabilizar por apresentar as ideias de um captulo s. Mesmo assim, a introduo do livro, nos oferece um referencial comum. Por isso, neste incio de texto, selecionamos temas de interesse geral, isto , so temas que apresentam uma abordagem geral para compor os argumentos necessrios para a defesa da escola na sociedade atual.Neste livro o autor nos provoca para pensar sobre muitos fatos que vm acontecendo com a escola em um contexto mundial de globalizao, de tal modo, que h muitas relaes entre a amplitude dos desafios sociais e as dificuldades de cada lugar especfico. O fato dos autores serem europeus no faz muita diferena. Depois que o mundo se globalizou, e depois que comeou esta onda de reforma educacional fomentada pelo Banco Mundial, em todos os pases, ns nos sentimos todos dentro de um mesmo barco. Temos diferenas de abordagem sim, mas neste momento vamos concentrar o foco naquilo que temos em comum com os pases todos.Pelo ttulo do livro j entendemos que os autores nos convidam a pensar sobre a necessidade de nos empenharmos na defesa da escola como uma questo pblica. Por que uma questo pblica? O ncleo da resposta est no fato de que tem relao direta com a defesa do tempo livre e com a partilha de um patrimnio comum. Tanto a defesa da liberdade, quanto a defesa do patrimnio comum, no podem ficar a merc dos arranjos privados. Estas defesas se referem ao interesse de todos, por isso pblico.Na introduo os autores falam de uma caracterstica radical, e por isso essencial, da escola: a de que a escola oferece tempo livre e transforma o conhecimento e as habilidades em bens comuns, e, portanto, tem o potencial para dar a todos, independentemente de antecedentes, talento natural ou aptido, o tempo e o espao para sair de seu ambiente conhecido, para se superar e renovar (e, portanto, mudar de forma imprevisvel) o mundo. (Pg.: 10).Mais adiante os autores nos mostram o que realmente consiste a escola: uma sociedade que prov tempo e espao para renovar a si mesma, oferecendo-se, assim, em toda a sua vulnerabilidade. (Pg.: 11).Se a escola uma inveno histrica, ela tambm pode desaparecer como tudo o que fruto da histria. Mas os autores nos convidam a pensar na possibilidade da reinveno da escola. Por isso eles afirmam: Reinventar a escola se resume a encontrar formas concretas no mundo de hoje para fornecer tempo livre e para reunir os jovens em torno de uma coisa comum, isto , algo que aparece no mundo que seja disponibilizado para uma nova gerao. (Pg.: 11). Em todo o livro os autores se esforam para explicar por que e como podemos empreender a reinveno da escola.Agora vamos passar para o estudo dos temas especfico do captulo quatro, onde o texto analisa mais uma ttica de domar a escola a partir de dentro dela mesmo, que consiste em domar o professor.A escola como tempo livre em que o mundo partilhado e as crianas e os jovens tm a experincia de serem capazes de comear deve ser criada. Nesse espao feito de corredores, salas de aula, livros didticos e tecnologias, o professor, como j indicamos, ocupa um papel particularmente especial.O professor uma figura sem propriedades o seu status um no status, um que no totalmente incomparvel ao da criana. O professor uma figura sem lugar adequado em uma ordem social, e , portanto, uma figura pblica (como so os artistas, por exemplo). O professor uma figura que, de uma forma ou de outra, sempre cai fora da ordem estabelecida. (O professor no real). Consequentemente, o professor sempre desestabiliza a ordem estabelecida ou melhor: sempre a suspende ou a torna inoperande de alguma forma.O professor, enquanto um profissional feito para amar, deve tomar muito cuidado com a absolutizao nas duas formas bsicas da prtica do amor: 1) no amor ao mundo, fazer dele o SEU mundo; 2) no amor aos educandos, fazer deles os SEUS educandos.Se os professores como mestres-escolas tm uma arte especial, essa a arte de disciplinar (no sentido positivo de focar a ateno) e apresentar (como em trazer para o presente do indicativo ou tornar pblico). Essa no uma arte que os professores podem possuir meramente por meio do conhecimento ou habilidades. uma arte incorporada e, assim, uma arte que corresponde a uma maneira de vida algo ao qual se pode referir como um chamado, uma palavra usada tambm por artistas ou mesmo polticos.H uma estratgia global de domar o professor e h as tticas: profissionalizao e flexibilizao.Agora vamos ver em que consiste a estratgia global.Essa estratgia consistia e consiste em neutralizar ou profissionalizar a dupla relao de amor, ou em transform-la em uma relao de obedincia, como na era moderna isto , transformando um escravo liberto em escravo real (o funcionrio pblico-escravo do Estado, o escravo da f da religio, o escravo domstico da economia) ou por transform-la em uma relao contratual, como acontece cada vez mais hoje em dia ou seja, transformando o escravo liberto em um servio profissional ou um flexvel empregado autnomo e pessoa empreendedora. Os professores foram/so transformados em funcionrios civis, prestadores de servios, empregados/trabalhadores e empresrios e, nesse aspecto, tornam-se profissionais ocupando posies claras e inequvocas na ordem social. Seu carter amateur e pblico seu status como um escravo liberto neutralizado e seu trabalho passa a ser sem amor e privatizado.A estratgia geral da profissionalizao da dupla relao de amor , portanto, tambm uma tentativa de banir os riscos da escola como um lugar pblico onde algo pode acontecer (e no apenas algo pode ser aprendido). Alm dessa estratgia geral, esta forma de domar encontra sua expresso hoje em vrias tticas mais especficas que neutralizam ou at mesmo desativam o cuidado do professor com o eu e sua relao com ele, e a distncia de si mesmo, da sociedade e da esfera domstica.Agora vamos ver duas tticas especficas onde os professores so domados.

XX. ProfissionalizaoPrimeiro de tudo e de todos os lados existe o chamado para uma profissionalizao organizada do professor. Dentro desta ttica existem muitas variantes. Vamos enumerar todas e procurar entender cada uma.Primeira variante: substituir a chamada sabedoria da experincia do professor por especializao ou competncia. H sinais aqui de que acontece a profissionalizao como uma continuao de domar pela tecnologizao, escondida atrs do rtulo de cientfico.O que esta variante ttica de domar faz mesmo matar esta condio de amor do professor, matar o amateur.O ar da escola cristalizado pelo ideal de sangue-frio de cientificidade. Mas o jri ainda est sem saber se o palcio de cristal no sonho aquele espao belo, iluminado, transparente, medido e sem fim, onde tudo funciona mesmo habitvel. Tudo pode funcionar, mas nada tem sentido. como se tivssemos perdido o amor em algum lugar ao longo do caminho..Segunda variante: esta ttica continua com a figura do professor especialista mas com a nfase colocada sobre um suposto realismo, mais do que um ideal cientfico.Uma ilustrao disso so os perfis profissionais compilados pelos governos e as listas anexas de competncias bsicas esperadas do professor (iniciante).Para o aluno e o professor em treinamento no incio do seu desenvolvimento profissional, o jogo comea aqui, com uma realidade empresarial e uma virtualidade risvel. O que desaparece ou pelo menos silencia o professor atencioso que est verdadeiramente dedicado causa. Conhecimentos, habilidades ou atitudes so reduzidos a competncias. Terceira variante: esta se relaciona com as duas anteriores: profissionalizao atravs da presso da responsabilidade. Se as duas anteriores apareciam como uma fora de prestao de servio, aqui nesta variante a ao do professor aparece orientada por uma demanda: poder ser a demanda do aluno ou pode ser a demanda do mercado. Neste contexto aparece todo um discurso sobre a tal da qualidade em educao. Trata-se de uma qualidade de faz-de-conta. Dessa forma, o professor, como prestador de servios, realmente doma a si mesmo: submete-se a um tribunal de qualidade e obedece s leis da qualidade de servio. Em tal cultura, a garantia de qualidade no mais experimentada como (maior) alcance burocrtico, nem como um jogo chato, mas como um regime louco com caractersticas totalitrias. Em uma condio como essa, a responsabilidade substituda por sua verso domada: a capacidade de resposta tendo em vista a prestao de contas. Quando a responsabilidade entendida em termos de justificar resultados e retornos, a responsabilidade pedaggica desaparece. Essa responsabilidade se refere (difcil de medir) doao de autoridade para as coisas e para a formao de interesse. Isso vai alm de simplesmente ajudar os alunos a desenvolver talentos (ou capacidade de aprendizagem) ou manter o currculo. Trata-se de abrir novos mundos (e, assim, puxar os alunos para fora de suas necessidades do mundo da vida imediatos) e formar o interesse. Isso possvel justamente porque o prprio professor demonstra interesse, incorpora-o, e lhe d tempo para se desenvolver e agindo assim aperfeioa a si mesmo. Esse o lugar onde a responsabilidade pedaggica est situada.A presso crescente da prestao de contas ameaa erradicar aquele amor e interesse pelo mundo (o amor pela causa como causa) e pelos alunos. O risco: um professor que j no partilha o mundo com os jovens e j no pode mais cuidar de si mesmo, ou seja, um professor que deixa, absolutamente, de ser professor.

XXI. FlexibilizaoA cultura corporativa moderna, que valoriza a qualidade e o profissionalismo, exige flexibilidade de sua equipe. O amor duradouro, a perseverana, a convico e a confiana bsica so ruins para a inovao e, portanto, so ruins para o crescimento e o lucro.A ttica de domar pela flexibilizao tem como objetivo alcanar: o professor que nunca est empregado, mas pode ser posicionado em qualquer lugar.A flexibilidade e a mobilidade so partes indispensveis da obedincia cega do professor militante ordem.As tticas de flexibilizao funcionam sutilmente e conjuram novos ideais de e para o professor, muitos dos quais exercem sobre um efeito de domao.Estes ideais atribudos ao professor flexvel podem receber os seguintes nomes: 1) um professor (auto) monitorado permanente; 2) um professor com multitarefa omnivalente; 3) um professor perfeitamente treinado; 4) um professor padronizado; 5) um professor calculista.

1) um professor (auto) monitorado permanente; o professor que, como um gerente, exerce um contnuo automonitoramenteo do capital adquirido em seu portflio e dos seus pontos fortes e fracos.

2) um professor com multitarefa omnivalente; Aqui o professor se encontra situado entre o aprendiz (com seus talentos e necessidades), de um lado, e as competncias (com matria instrumental), do outro.

3) um professor perfeitamente treinado; Aqui, a norma para treinar bem um professor sustentar a norma, como uma estrutura modular baseada numa lista de competncias. A automonitorizao e a autorreflexo como uma funo do conhecimento e das competncias disponveis banaliza e ignora o cuidado do professor consigo mesmo.

4) um professor padronizado; Isso se refere tendncia de modelar o professor em um padro, e muitas vezes como uma conseqncia da nfase no ensino baseado em evidncia (instruo eficaz e mtodos de trabalho) ou nos perfis profissionais e competncias bsicas. A flexibilidade mxima, nessa concepo, s possvel dentro de uma estrutura padronizada que permita empregabilidade e mobilidade; uma estrutura em que tudo e todos so intercambiveis e intercomunicados tem a mesma unidade de medida e usa a mesma linguagem.Forar tudo isso para caber dentro de uma estrutura padro mensurvel, francamente, usurpa a alma de um professor.

5) um professor calculistaIsso banaliza a generosidade, a dedicao e o perfeccionismo do professor amoroso, ou, pior ainda, projeta um contnuo sinal de desconfiana bsica.O professor calculista s exerce esforo extra se h incentivos envolvidos. Com tal, uma verso econmica da teoria comportamental de estmulo-resposta introduzida dentro da prtica poltica: um comportamento desejvel pode ser provocado se e quando os incentivos certos so oferecidos.

A autoridade imensurvel que um professor comunica s coisas ou o ato de gera interesse em um aluno implica a aceitao da prtica escolar como um evento aberto; algum que no pode ser controlado ou avaliado por meio de resultados ou incentivos predeterminados, e, portanto, no pode ser responsabilizado nesses termos. Se a sociedade deve ser renovada, deve se libertar e se arriscar a confiar a responsabilidade por essa renovao a figuras professores isentas da obrigao de produzir resultados.

MASSCHELEIN, Jan e SIMONS, Maarten. Em defesa da escola. Uma questo pblica. Belo Horizonte: Editora Autntica, 2013.Aula dia 08 de maio de 2014

Texto 05Experimentum scholae:a igualdade do comeo

Na disciplina Fundamentos em Educao, estudamos hoje a educao e a escola na perspectiva da dinmica do poder na sociedade contempornea. Para nos auxiliar neste estudo usamos o livro Em defesa da escola: uma questo pblica. Na modalidade do estudo coletivo, organizamos, em um primeiro momento, grupos de leituras, para a elaborao da sntese de cada captulo do livro. Cada grupo se responsabilizar por apresentar as ideias de um captulo s. Mesmo assim, a introduo do livro, nos oferece um referencial comum. Por isso, neste incio de texto, selecionamos temas de interesse geral, isto , so temas que apresentam uma abordagem geral para compor os argumentos necessrios para a defesa da escola na sociedade atual.Neste livro o autor nos provoca para pensar sobre muitos fatos que vm acontecendo com a escola em um contexto mundial de globalizao, de tal modo, que h muitas relaes entre a amplitude dos desafios sociais e as dificuldades de cada lugar especfico. O fato dos autores serem europeus no faz muita diferena. Depois que o mundo se globalizou, e depois que comeou esta onda de reforma educacional fomentada pelo Banco Mundial, em todos os pases, ns nos sentimos todos dentro de um mesmo barco. Temos diferenas de abordagem sim, mas neste momento vamos concentrar o foco naquilo que temos em comum com os pases todos.Pelo ttulo do livro j entendemos que os autores nos convidam a pensar sobre a necessidade de nos empenharmos na defesa da escola como uma questo pblica. Por que uma questo pblica? O ncleo da resposta est no fato de que tem relao direta com a defesa do tempo livre e com a partilha de um patrimnio comum. Tanto a defesa da liberdade, quanto a defesa do patrimnio comum, no podem ficar a merc dos arranjos privados. Estas defesas se referem ao interesse de todos, por isso pblico.Na introduo os autores falam de uma caracterstica radical, e por isso essencial, da escola: a de que a escola oferece tempo livre e transforma o conhecimento e as habilidades em bens comuns, e, portanto, tem o potencial para dar a todos, independentemente de antecedentes, talento natural ou aptido, o tempo e o espao para sair de seu ambiente conhecido, para se superar e renovar (e, portanto, mudar de forma imprevisvel) o mundo. (Pg.: 10).Mais adiante os autores nos mostram o que realmente consiste a escola: uma sociedade que prov tempo e espao para renovar a si mesma, oferecendo-se, assim, em toda a sua vulnerabilidade. (Pg.: 11).Se a escola uma inveno histrica, ela tambm pode desaparecer como tudo o que fruto da histria. Mas os autores nos convidam a pensar na possibilidade da reinveno da escola. Por isso eles afirmam: Reinventar a escola se resume a encontrar formas concretas no mundo de hoje para fornecer tempo livre e para reunir os jovens em torno de uma coisa comum, isto , algo que aparece no mundo que seja disponibilizado para uma nova gerao. (Pg.: 11). Em todo o livro os autores se esforam para explicar por que e como podemos empreender a reinveno da escola.Agora vamos passar para o estudo dos temas especfico do captulo cinco, com o ttulo Experimentum scholae: a igualdade do comeo. Por este ttulo j percebemos como a defesa da escola assume este centro da experincia que se faz com base no exerccio da igualdade.

Vamos recortar vrias partes do texto que argumentam sobre os diversos aspectos presentes na sua defesa em uma perspectiva de relacionar a educao com a democracia.

O livro nos afirma que a escola se sustenta hoje, mas que mesmo assim ela precisa ser defendida.A escola est sob ataque agora mais do que nunca. Como j indicamos, esses ataques no so novos. Desde a sua criao e ao longo da histria, a escola tem sido confrontada com as tentativas de domar a sua dimenso democrtica e comunista. Esses esforos so mais mortais hoje do que nunca. Pode haver muitas escolas novas, e quase todo mundo pode (querer) ir para a escola, mas, como j dissemos, as estratgias e tticas para domar a escola permanecem. E essas estratgias e tticas atingem o corao da prpria escola; a nica coisa que torna a escola uma escola e anima a sua existncia o amor pelo mundo e pela nova gerao.

A escola rejeita toda e qualquer noo de um destino predeterminado. surda para a invocao de um destino ou de uma predestinao natural. A escola se baseia na hiptese de igualdade. Oferece o mundo como um bem comum, a fim de permitir a sua renovao atravs da formao de interesse e de curiosidade. A escola , portanto, no s uma inveno democrtica como tambm uma inveno comunista pelas quais o mundo no somente transmitido, mas tambm libertado a escola cria um bem comum. Para ns, ela uma inveno particularmente digna de defesa hoje, num momento em que o tempo improdutivo parece j no (ser permitido) existir, quando a predestinao natural est fazendo o seu retorno por meio do mito do talento e quando o bem comum est sendo reduzido a uma fonte para a capitalizao da existncia individual um recurso para a realizao de escolhas individuais ou preferncias para o investimento produtivo no desenvolvimento de talentos.Os autores nos mostram como o apelo para a escola maximizar os ganhos da aprendizagem provoca um a reduo da instituio como prestadora de servios e faz com que as vidas individuais se reduzam tambm a empresas focadas na satisfao tima e mxima de necessidades.

Para o indivduo empreendedor que hoje inclui alunos, professores e pais o tempo sempre ocupado: talentos individuais devem ser encontrados e desenvolvidos; as melhores escolhas devem ser feitas; o valor agregado deve ser produzido; o capital humano deve ser desenvolvido e acumulado. Essa condio adequadamente articulada nos termos permanente e permanncia que atualmente tm bom trnsito. Ser um profissional empreendedor significa ser permanentemente ocupado e aprender em uma base permanente. O tempo para a personalidade empreendedora , assim, um meio de produo ou mesmo um produto, e, portanto, algo que pode e deve ser gerenciado. um tempo de prioridades, investimento e retorno. Se lermos os textos de poltica dos ltimos anos, por exemplo, uma imagem muito especfica da educao torna-se aparente, ou seja, a da educao como um meio de produo de capital humano.

Os autores nos mostram como o foco na aprendizagem tem funcionado como um cavalo de Troia. Ao designar a aprendizagem como a tarefa central da escola, o indivduo se v confrontado com uma ameaa radical a partir de dentro.

Em seguida, os autores trazem o tema do uso das tecnologias vinculadas a era digital.De fato, na era digital, a escola concebida como um lugar de aprendizagem, onde a aprendizagem sujeita ao espao e ao tempo, na verdade, no mais necessria. O foco na aprendizagem, portanto, leva a um foco em ambientes de aprendizagem e a uma abordagem para a tecnologia da informao e comunicao como tecnologia que ajuda a estabelecer que o tempo de aprendizagem produtivo alcance a eficcia e eficincia mximas.

Os autores alertam sobre a necessidade de mudana de foco, para que todos ns possamos sair de uma mobilizao intensa que nos faz ficar presos a uma lgica de clculos e resultados.

Mas essa mobilizao tambm leva ao fim da tarefa essencial da escola e da educao: a renovao da sociedade por meio da nova gerao. Como j dissemos, a escola no (muito) o lugar onde se aprende o que no pode ser aprendido diretamente no prprio mundo da vida, mas sim o lugar onde a sociedade se renova, libertando e oferecendo seu conhecimento e experincia como um bem comum, a fim de tornar possvel a formao. Isso no diz respeito demanda de otimizao de ganhos de aprendizagem ou de provimento de tempo produtivo. Trata-se da demanda para permitir a formao e o fornecimento de tempo livre para o estudo, a prtica e o pensamento.

Sobre o uso de tecnologias os autores afirmam: A tecnologia afeta cada parte da vida de hoje, e libertar essa tecnologia nossa responsabilidade pedaggica.

Experimentar a educao tecnolgica e digital no significa muito desenvolver caminhos de aprendizagem que resultam em competncias bsicas nessas reas. Pelo contrrio, o desafio fazer com que a experincia de ser capaz de comear seja possvel, particularmente no que diz respeito a aspectos do mundo digital e tecnolgico. No h necessidade (urgente) de ensinar competncias nessas reas a escola no , provavelmente, o melhor lugar para isso. Mas experimentar mtodos e contedos que tornam possvel a formao tenolgica e digital , de fato, uma questo escolar eminente. Aventurar-se fora do seu prprio mundo da vida, ficar interessado e ter tempo para desenvolver um eu digital e tecnolgico o que importante aqui. No necessrio dizer que isso requer professores amateurs que so bem desenvolvidos nesse sentido. No somente professores que compartilham sua experincia, mas professores que podem suspender o conhecimento produtivo e as habilidades e dar aos jovens o tempo para praticar, estudar e pensar.

O uso das tecnologias de informao e comunicao na escola tem um risco de envolver a instituio numa espcie de cumplicidade perigosa, sobretudo no que se refere ao manejo da ateno dos estudantes.Nesse caso, podemos falar de uma capitalizao de ateno, com a escola como cmplice atraente no esforo de reduzir o mundo a um recurso. A TIC certamente torna os conhecimentos e as habilidades livremente disponveis de uma forma sem precedentes, mas o desafio saber se e como ela pode, realmente, trazer algo vida, gerar interesse, ocasionar a experincia de compartilhamento (um bem comum) e permitir que se renove o mundo.O fato das telas serem mais atraentes coloca o desafio de explorar como elas ajudam a criar uma presena (comum) e possibilitam o estudo e a prtica..

Devemos experimentar as polticas em todos os nveis que comeam a partir do pressuposto de que o professor se esfora para se distinguir pelo amor ao trabalho, ao assunto ou aos seus alunos e no s polticas, nesta era de profissionalismo e competncia controlada, sustentada pela suspeita ou desconfiana e que visa controlar e constantemente exigir que as escolas e os professores prestem conta de seus produtos (resultados da aprendizagem). Os professores amorosos continuam a ser os melhores garantidores da igualdade de oportunidades. Em vez de fixar-se em experincia e metodologia, pode-se explorar como dar ao amateurismo e ao seu lxico uma chance, e como garantir um grupo de professores amateurs to diversos quanto possvel, ao invs de padronizar o professor de acordo com um perfil nico, um conjunto de habilidades e metodologia. Afinal, cada professor no pode inspirar todos os alunos, e importante garantir que o aluno tenha a melhor chance possvel de encontrar pelo menos um professor que transmita com sucesso a experincia de eu posso fazer isso.

Conclamamos os educadores a serem pedagogos, ou seja, o personagem que guia as crianas e os jovens para a escola e ajuda a moldar e dar forma escola. Imploramos aos professores que sejam personagens que amam a escola porque amam o mundo e a nova gerao; personagens que insistem que a escola no consiste em aprender, mas em formar; que no se trata de acomodar necessidades individuais de aprendizagem, mas de despertar o interesse; que a escola no consiste em tempo produtivo, mas em tempo livre; que no existe para desenvolver talentos ou favorecer o mundo do aluno, mas para focar na tarefa iminente e elevar os alunos para fora de seu mundo da vida imediato; que no se trata de ser forada a desenvolver, mas da experincia de ser capaz. Valorizamos os professores porque eles so os nicos que desbloqueiam e animam um mundo comum para as nossas crianas. Eles so porta-vozes para um tempo e lugar inventado como uma personificao fsica de uma crena: a crena de que no existe uma ordem natural de proprietrios privilegiados; de que somos iguais; de que o mundo pertence a todos e, portanto, a ningum em particular; de que a escola uma aventureira terra de ningum, onde todos possam se elevar acima de si mesmos. No incio, pode ter sido a palavra, mas com a escola h um comeo compartilhado.

Alegoria da escola(ou a escola como explicada para as nossas crianas)O livro termina com uma espcie de conto em que nos faz experimentar um confronto entre um modo de organizar a escola no mundo da luz brilhante e da transparncia da sociedade da aprendizagem, de modo diferente do processo educacional que acontece dentro de uma caverna. A defesa da escola como uma questo pblica tem relao direta com os ataques que uma escola compreendida como lugar da formao vem sofrendo.24