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8/13/2019 Textos IL - Colaboradores - A entrevista de Armnio Fraga
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CCOOLLAA BBOORR AADD OORREESS30.10.09
A entrevista de Armnio FragaNIVALDO CORDEIRO*
No posso deixar passar sem um comentrio a excelente
entrevista concedida pelo economista Armnio Fraga ao
jornal Valor Econmico, publicada na edio de hoje
[29.10.2009]. O economista um homem brilhante, que
realizou grande carreira na iniciativa privada, vindo a tornar-se um notvel homem pblico. Suas opinies precisam ser
observadas e levadas em conta. No so palavras jogadas ao
vento, mas sim, resultado da observao de algum
qualificado e que dispe de informaes privilegiadas.
Pergunta: Coloca-se o Estado mximo como contraponto ao Estado mnimo. Quem
defende a opo de um Estado mnimo? Resposta: No sei. Nem o Roberto Campos no
auge do seu liberalismo defendia isso. Alis, ele prprio foi o pai do BNDES. Nunca
ouvi falar em algum que defenda o Estado mnimo. Essa uma tentativa de delimitar o
debate a partir de uma premissa falsa, o que muito grave.
A declarao de Armnio Fraga, salvo as excees de regra, reflete a mais pura verdade.
No Brasil, ningum relevante no meio poltico e empresarial abraa a bandeira do
Estado Mnimo, nem mesmo como liberalismo de salo. certo que, nos tempos
recentes, algumas coisas novas em defesa da idias liberais, em matria de Economia,esto sendo feitas, como o Instituto Millenium e os j tradicionais Institutos Liberais do
Rio de Janeiro e de Porto Alegre (este agora chamado Instituto Liberdade). As pessoas
que formam esses institutos so intelectuais abnegados e alguns empresrios que esto
longe do poder de Estado. So pequenos demais para formar a opinio pblica.
Armnio apenas constatou o aspecto mais bvio da nossa tragdia como Nao, o fato
de que nossa juventude adestrada desde o bero para abraar as idias estatistas e
coletivistas. O regime poltico brasileiro , para sermos rigorosos em termos tericos,
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fascista. Tem a forma corporativa que os tericos do fascismo imaginaram. Tudo para
o Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado, mxima que vigora em nossa
sociedade e a fala do Armnio expressa essa realidade, que no de hoje. A novidade
que o governo Lula acelerou o processo, fazendo a incluso (palavra torpe) dos pobres
excludos do butim estatal, a troco dos votos, para se perpetuar no poder. Foi no
governo Lula tambm que os fundos de penso estatais passaram de fato ao controle dos
sindicalistas laborais, dando tnico mais forte ao carter corporativista do regime
poltico nacional.
O exemplo clamoroso disso o caso muito comentado nos ltimos dias, o da empresa
Vale do Rio Doce, sobre o que expressou-se Armnio Fraga: A Vale uma empresa
que tem tido muito sucesso, gerou muito valor para o pas ao longo dos anos - antes edepois da privatizao - e sempre foi conduzida pensando grande. Ningum pode acusar
a Vale de pensar pequeno. uma empresa que tem mecanismos de governana bem
definidos, onde h espaos para se definir estratgias, para se discutir investimentos.
Uma politizao desse processo, confesso, me surpreendeu e incomoda. Vejo com
maior preocupao ainda quando profissionais de altssimo gabarito so perseguidos
porque, em algum momento, fizeram parte de outro governo, alis em funes de
natureza tcnica e com altssima exposio. So pessoas cujo patriotismo, para usar umapalavra importante, est acima de qualquer suspeita.
Ora, prprio dos regimes fascistas a politizao do processo econmico, por isso
entendo que no h surpresa alguma aqui. Quem tem o poder vai exerc-lo na plenitude.
O fato que as corporaes sindicais laborais esto no centro do processo poltico e
esto presentes em todas as agremiaes polticas, alm de terem o controle de
praticamente todo o aparelho de Estado. Armnio falou em surpresa como um
eufemismo para manifestar o seu mal-estar. No fascismo, assim como no comunismo e
no nazismo, acaba-se completamente a separao entre o que econmico e o que
poltico. Ao desaparecer a fronteira a senda fica aberta no rumo do totalitarismo ou,
como tenho chamado, do Estado Total.
Quando comentou a poltica cambial Armnio Fraga colocou o dedo em outra ferida,
que tem sido a chaga do Brasil desde sempre: H, tambm, a defesa de uma ao mais
firm na interveno, no fundo uma espcie de tabelamento do cmbio, que requer
uma discusso mais ampla. No s fazer. Isso exige pensar numa outra perna
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importante do trip, a poltica fiscal. Um modelo que pode dar certo para a China, pas
que poupa 40% do PIB e tem juro real negativo, pode no necessariamente dar certo
aqui. E acrescentou: Teramos um custo fiscal extremamente elevado e, ao contrrio
de uma carta branca para gastar mais, isso recomenda o oposto: mais cautela. Se esse
realmente o objetivo, o que hoje essencial, que uma poltica de responsabilidade
fiscal e disciplina, passa a ser mais do que essencial. Passa a ser vital. Seno, a conta
no fecha.
Disso sabemos todos, mas um regime de governo fascista/esquerdista no quer ouvir
falar em disciplina fiscal permanente. Essa gente acha que a lei da escassez pode ser
driblada. O fato que os desequilbrios fiscais acabam por se tornar o duplo problema
de balano de pagamentos e de inflao. nesse rumo agora que navega a poltica deLula e nesse rumo que navegar seu provvel sucessor, Jos Serra. Este sempre foi um
intervencionista fantico em matria cambial. Noto tambm que Armnio no opinou
sobre a abusiva carga tributria em vigor, aspecto da mesma tragdia. O dinheiro
arrecadado nunca chega para os crescentes gastos pblicos.
Pergunta: Na campanha de 2006, Lula colou no candidato do PSDB, Geraldo Alckmin,
a pecha de privatista da qual ele no conseguiu se desvencilhar, como se isso fosse uma
falha imperdovel. Me parece que a sociedade brasileira gosta da presena do Estado.
Resposta: Li recentemente um artigo extraordinrio de um professor de Chicago, Luigi
Zingales, chamado Capitalism After the Crises, publicado na National Affairs, que
no fundo diz o seguinte: existe uma defesa do Estado porque tipicamente os
interessados conseguem identificar onde vai estar a sua boquinha, e a esmagadora
maioria da populao sente pouco ou vai sentindo aos poucos o custo disso, mas no
consegue se mobilizar. Essa a marca de um Estado que a literatura chamava de
corporativo, patrimonialista, populista, que, infelizmente acaba desembocando num
Estado hiperdimensionado, pouco eficiente, injusto e corrupto.
Bem lembrado o caso de Geraldo Alckmin, que podia ter ganhado aquela eleio se
tivesse respondido imperativamente, a favor do livre mercado, sem titubeios. Talvez
tenha faltado aqui a Armnio ser mais incisivo na resposta, como faltou inciso a
Alckmin: esse modelo fascista caminha para o totalitarismo poltico e para a destruio
do Estado e da economia. No brincadeira o que est em curso. Armnio foi contido na
resposta, no que lamento, porque a situao alarmante. Ela precisa ser revertida e s o
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ser se pessoas como ele falarem de maneira clara e categrica dos riscos e perigos a
que a Nao est exposta. Os riscos so de todos, deles ningum escapa, nem o mais
humilde, nem o mais rico. Vimos o que decises desastradas no mbito estatal, no caso
a empresa Vale do Rio Doce, pode fazer com o Grupo Gerdau, que sofrer competio
direta do produtor estatal, afetando participaes do mercado de ao e preos do
mercado internacional do produto. Caminha-se inexoravelmente para a estatizao de
tudo.
Quando h acelerao do processo histrico, em tempos fascistas e coletivistas, os
grandes grupos empresariais so os primeiros a serem engolidos. Estamos assistindo a
essa acelerao neste preciso momento. So tempos de grandes perigos e deles que
Armnio fala em sua entrevista.
*Economista, articulista.
As opinies emitidas na Srie Colaboradoresso de responsabilidade exclusiva do signatrio,no correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Instituto Liberal.
O contedo do artigo pode ser reproduzido uma vez citada a fonte.
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