tfg | infraestrutura de drenagem e áreas verdes na bacia do córrego ponte alta

109
Infraestrutura de drenagem e áreas verdes na bacia do Córrego Ponte Alta mariane takahashi christovam

Upload: mariane-christovam

Post on 23-Mar-2016

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Trabalho Final de Graduação - FAU USP | Mariane Takahashi Christovam

TRANSCRIPT

Infraestrutura de drenagem e áreas verdes

na bacia do Córrego Ponte Alta

mariane takahashi christovam

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃOMariane Takahashi Christovam

ORIENTAÇÃOMaria de Lourdes Zuquim

BANCA EXAMINADORAMaria de Lourdes ZuquimKarina Oliveira LeitãoJosé Rodolfo Scarati Martins

Universidade de São PauloFaculdade de Arquitetura e UrbanismoNovembro de 2013

Infraestrutura de drenagem e áreas verdes

na bacia do Córrego Ponte AltaMariane Takahashi Christovam

AGRADECIMENTOSAlém das demais pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para a produção desse trabalho, agradeço especialmente à minha orienta-dora, Maria de Lourdes Zuquim, pelo direcionamento e paciência ao longo dessa trajetória. Ao José Rodolfo Scarati Martins, que se dispôs a me orientar nos aspectos mais técnicos abordados nesse trabalho, sempre de forma atenciosa. Ao Bruno Fukasawa e Mariana Guimarães, pela ajuda e troca de conhecimentos. E ao Pedro Bozzini, pela ajuda e solicitude que me foram fundamentais no andamento desse trabalho.

DEDICATÓRIAÀ minha mãe, pela ideia.À família, pelo apoio.Ao FauFutsal, por ser o melhor time do mundo.Ao Farofa e aos demais colegas, pela amizade sempre presente.Ao Zoom, pelo aprendizado conjunto e contínuo.Ao Benjamin, pelo companheirismo incondicional.E a todos que fizeram parte dessa experiência incrível, onírica e trans-formadora chamada FAU.

“Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

(...)

Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia.O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.”

(do “Guardador de Rebanhos” - Alberto Caeiro)

1

2

3

INTRODUÇÃO

MUNICÍPIO

Caracterização do município

Plano diretor participativo

Sistema de áreas verdes

DRENAGEM

Plano diretor de macrodrenagem do Alto Tietê

Exemplificação: segurando as águas

Lógica da drenagem convencional atualmente

Alternativas

Técnicas compensatórias de drenagem

BACIA

O córrego ponte alta

Localizaçao

Hidrografia e pontos de alagamento

Plano diretor de macrodrenagem

Zoneamento

Equipamentos públicos

8

10

12

13

14

16

18

22

25

26

28

32

34

36

38

40

42

44

47

48

50

52

54

58

61

66

67

71

73

74

76

82

98

100

102

106

sumário

Análise

INTERVENÇÕES

Parque urbano do córrego ponte alta

Áreas de intervenção

Áreas de microdrenagem

Trincheiras de infiltração

Dimensionamento

Análise dos resultados

Tipologias

Pavimento permeável reservatório

Dimensionamento

Tipologia

Exemplo de aplicação

Parque urbano central

Áreas industriais

Áreas de risco

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

4

5

6

8

Piscinão Eliseu de Almeida na entrada do município. Fonte: http://www.otaboanense.com.br/noticia/1576/

Taboão da Serra, município situado na região metropolitana de São Pau-lo, até alguns anos atrás enfrentava no período de chuvas o problema das enchentes, até que recentemente, após a realização do Plano Dire-tor de Macrodrenagem do Alto Tietê, no final dos anos noventa e mea-dos dos anos dois mil, foram feitas intervenções como canalizações e a construções de reservatórios de retenção, os chamados piscinões. Localizado junto à bacia do córrego Pirajuçara, o município possui, em seus limites e arredores, seis reservatórios construídos e um em obras.

Assim como São Paulo e muitos outros municípios, Taboão da Serra também passou por processo de urbanização sem planejamento do território e hoje se mostra bastante urbanizado e adensado. Somado a isso, existe uma deficiência de áreas verdes na região, que são poucas, muitas vezes residuais e não possuem usos previstos, além de apenas uma pequena porção ser voltada para o usufruto de seus moradores. O fato de ter o solo impermeabilizado dificulta a drenagem e agrava a situação do problema.

Pode-se dizer que os reservatórios, apesar de não tratarem da fonte do problema, sanaram o transtorno das enchentes na época de chuvas na região. Porém, representam áreas de grandes proporções que não preveem outros usos que não sejam a drenagem e que poderiam, me-diante projeto, proporcionar novos usos, como lazer para a população.

Foi através dessa observação e da observação diária de casos como o do reservatório de detenção Eliseu de Almeida, localizado na entrada do município, ao final da Av. Francisco Morato e início da Rodovia Regis

Bittencourt, que significa uma grande área sem manutenção e sem uso, num local urbanizado, central e importante, que se iniciou o questiona-mento do modo que é planejada a drenagem urbana. Seria este o único ou o melhor cenário viável para solucionar o problema das enchentes ou haveria outras formas melhor articuladas e integradas com a cidade de tratar as águas urbanas?

Introdução

9

Desta maneira, a fim de entender melhor a lógica atual da drenagem aplicada no município e estudar alternativas para essa situação, este trabalho pretende abordar o tema da infraestrutura de drenagem e áreas verdes do município de Taboão da Serra e seu entorno, através do es-tudo da hidrografia, meio físico e infraestrutura de drenagem. E, a partir da análise da situação atual dos córregos e áreas verdes, apresenta-se uma proposta de intervenção para a região, visando um cenário alter-nativo para a melhoria da infraestrutura de drenagem e ampliação das áreas verdes e seu uso pela população.

município1

12

Apesar de Taboão da Serra ser um local com o qual me encontro fami-liarizada, por ser moradora, quando se trata de pensar um projeto per-cebeu-se que, na verdade, o conhecimento que havia sobre aquilo que se pensava conhecer era um tanto raso. Portanto, o TFG I foi um período utilizado para outra aproximação com o objeto de estudo. Buscou-se compreender melhor a dinâmica do município olhando pelo viés da infraestrutura de drenagem; e conceituar o tema, para aprofundar o conhecimento do assunto e compreender a situação atual.

Contextualizando o município de forma breve, Taboão da Serra inicia sua trajetória como um subdistrito de Itapecerica da Serra em 1953, pedindo sua emancipação junto à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo em 1958 e obtendo sua emancipação em 1959, através da lei que cria o município.

Até a década de 1990, a cidade tinha perfil industrial, porém dos anos 2000 em diante as fábricas têm desativado suas atividades na cidade e mudado para outras cidades mais afastadas de São Paulo, por serem economicamente mais interessantes. Desde então o perfil de Taboão tem mudado, se voltando para os serviços, atraindo grandes redes de supermercados e um shopping center; e atraindo a população de mu-nicípios vizinhos como Itapecerica da Serra e Embu das Artes.

Localizado na região sudoeste da Grande São Paulo, a aproximadamente 16km do centro de São Paulo, faz divisa com bairros como Vila Sônia e Campo Limpo. Encontra-se conurbado com São Paulo, de modo que praticamente não se percebe o limite entre as duas cidades. Devido

à proximidade e a relativa facilidade de acesso à centralidade de São Paulo, a cidade também já foi conhecida num passado recente como cidade dormitório. O acesso e transporte são facilitados pelo princi-pal eixo de acesso, formado pela Av. Rebouças e Av. Prof. Francisco Morato, que contam com corredor de ônibus. Recentemente, a pro-ximidade com o a linha quatro - amarela - do metrô, também facilitou a acessibilidade para a região.

Tendo 100% de seu território urbanizado, Taboão da Serra com ape-nas 20,38 km2 (IBGE, 2010) de área e 244.528 habitantes, o município é um dos menores da região metropolitana e possui a terceira maior densidade demográfica do país com 12.049,87 hab/Km² (IBGE, 2010), maior do que a de São Paulo, cuja densidade demográfica é 7.387,69 hab/km² (IBGE, 2010).

O município encontra-se inserido na Bacia do Rio Pirajuçara, uma das sub-bacias da Bacia do Alto Tietê, e tem em seu histórico, além de outros problemas relacionados à urbanização sem planejamento, vários episódios de problemas com enchentes e inundações durante os perío-dos de chuva.

caracterização do município

13

Para compreensão das políticas adotadas no desenvolvimento urbano do município de Taboão da Serra, foi estudado o Plano Diretor Partici-pativo - lei complementar nº 132 de 26 de dezembro de 2006 com as alterações da lei complementar 164 de 24 de abril de 2008.

Dentre os temas abordados no plano diretor Participativo, escolheu-se, áreas verdes e drenagem como os aspectos mais relevantes para a continuidade desse trabalho.

Os objetivos gerais da política de desenvolvimento urbano são:

Áreas verdes: preservar e recuperar as áreas ambientalmente sen-síveis; ampliar e qualificar as áreas verdes, de esporte e lazer.

Drenagem: minimizar os efeitos das enchentes, melhorando o sistema de drenagem e recuperando os fundos de vale. Prevê a criação de Planos Regionais de Drenagem e de Micro-Drenagem com municípios vizinhos.

O Plano Diretor prevê a criação de alguns planos e programas, muitos deles relacionados à drenagem do município, como os Planos Regio-nais de Drenagem e de Micro-Drenagem citado e o Programa de Gestão Integrada de Drenagem e Recuperação de Fundos de Vale.

Este último tem como objetivo planejar e coordenar as ações voltadas para viabilizar soluções para as enchentes, e envolverá as seguintes ações prioritárias: Elaborar e implantar os Planos Regionais de Drenagem e de Micro-Drenagem com os demais Municípios integran-

tes da bacia do Pirajuçara; tratamento de margens e fundos de vale, implementando usos sustentáveis; ampliar a vazão do córrego Pira-juçara; estimular e fiscalizar a construção de tanques de retenção por particulares, para ampliar a retenção de águas das chuvas, buscando evitar as enchentes.

Conforme previsto no Plano Diretor, o município realizou estudos de saneamento e drenagem, que resultaram no Plano de Saneamento Básico do Município e no Plano Diretor de Macrodrenagem.

O Plano Diretor de Macrodrenagem do Município de Taboão da Serra (PDM) tem como objetivo “estabelecer diretrizes que definam a gestão do sistema de drenagem, visando mitigar os impactos ambientais devi-do ao escoamento das águas pluviais”. (PDM, P. 9)

Este plano foi pensado em duas etapas, sendo a primeira etapa o di-agnóstico das condições físicas e de operação do sistema, determi-nação de capacidade, características de funcionamento e os problemas operacionais. E a segunda etapa a definição das ações, obras e em-preendimentos necessários para melhorar de forma efetiva a situação presente, anular ou reduzir os déficits do sistema, além de otimizar os investimentos, ou seja, alcançar o maior benefício com a menor apli-cação de recursos.

plano diretor participativo

1 |

Muni

cípi

o

14 sistema de áreas verdes

O Plano Diretor de Taboão da Serra prevê um Sistema de Áreas Verdes para o município, a elaboração de propostas como essa demonstra o desejo e esforço do município de tentar melhorar a situação atual, já que existem poucas áreas verdes instituídas atualmente, e também de se melhorar a gestão e articulação entre as áreas propostas.

Como se nota no mapa 5 do Plano Diretor apresentado ao lado, atu-almente existe apontado como parque existente apenas o Parque das Hortênsias, um pequeno zoológico municipal. A área escolhida para estudo, melhor descrita adiante, abrange a área do Parque Central, assi-nalado como parque proposto, e seu entorno.

Os objetivos principais do Sistema de Áreas Verdes são: a preservação e recuperação das áreas verdes e arborizadas; aumento das áreas per-meáveis; combate às enchentes e aos alagamentos; a diminuição das ilhas de calor; a melhoria da qualidade do ar e melhoria da qualidade ambiental e da paisagem e espaços urbanos.

Sendo prioritárias as áreas que cumprem papel estratégico na estrutu-ração urbana e ordenamento do território:

- Área de preservação ambiental (APA municipal)- Parques públicos: Parque das Hortênsias, Parque do Poá, Parque do Pirajuçara, Parque Ecológico e Parque Central.- Caminhos verdes (ao longo de vias e fundos de vale)- Equipamentos sociais integrantes do Sistema de Áreas Verdes- Bairros residenciais de baixa densidade

LEGENDA

15

Fonte:Plano Diretor do Município de Taboão da Serra, Mapa 5.

1 |

Muni

cípi

o

16

drenagem2

18

PLANO DIRETOR DE MACRODRENAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO TIETÊ

Para melhor entendimento das políticas de drenagem que atendem Taboão da Serra, foi estudado o Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (PDMAT), no que diz respeito aos con-ceitos gerais, com ênfase no trecho referente à bacia do Rio Pirajuçara, na qual o município encontra-se inserido. É importante ressaltar que o PDMAT estudado a seguir é o primeiro dos Planos Diretor de Mac-rodrenagem, que sofreu revisões e reformulações posteriormente, dan-do origem aos PDMAT 2 (2008), PDMAT 3 (em revisão desde 2011).

O PDMAT foi criado em 1998, com o objetivo de avaliar a situação da drenagem na época, diagnosticar problemas e dimensionar as interven-ções necessárias, tomando como horizonte de projeto o ano 2020. A fim de combater as inundações que ocorriam na bacia, o PDMAT realiza estudos e propõe como conjunto de obras e medidas basicamente duas alternativas para a bacia do rio Pirajuçara:

ALTERNATIVA 1: Visa reforçar a capacidade do canal do Pirajuçara. Sem a possibilidade de aumentar a galeria existente, a proposta é de execução de túnel de desvio com extensão aproximada de 5km (ligando a confluência do rio Pirajussara com o ribeirão Poá ao Rio Pinheiros), obras de canalização no curso do Pirajuçara e do Poá e implantação de dois reservatórios de amortecimento de cheias.

ALTERNATIVA 2: Tem em vista o conceito da reservação, visando a di-minuição dos picos de vazão. Consiste na implantação de reservatórios

e canalização nos trechos intermediários entre reservatórios. A desa-propriação para as obras de canalização será muito menor que na Al-ternativa 1.

O plano, após comparação dos custos e benefícios entre as duas alter-nativas, aponta como escolha a alternativa 2, que consiste em:• Estratégia de reservação através da implantação de bacias de deten-ção : 16 piscinões - 1a fase: 10 bacias de detenção, sendo 8 no rio Pirajuçara e 2 no ribeirão Poá. 2a fase: 6 bacias de detenção, sendo 4 no rio Pirajuçara e 2 no ribeirão Poá• Reforço do canal do Pirajuçara Superior e do Ribeirão Poá• Obras de reforço e revestimento do fundo do canal sob a Av. Eliseu de Almeida

De acordo com o planejamento de obras do PDMAT, seriam executa-dos:

• 1ª Fase – Para atender o período de retorno de 10 anos:1ª. etapa - implantação de 4 reservatórios:RPI-02 e RPI-07 no Pirajuçara e RPO-01 e RPO-02 no Poá;2ª. etapa - implantação de 3 reservatórios:RPI-01, RPI-03 e RPI-04 no Pirajuçara;3ª. etapa - implantação de 3 reservatórios:RPI-09, RPI-10 e RPI-11 no Pirajuçara;• 2ª. Fase – Para atender o período de retorno de 25 anos:Implantação dos reservatórios RPI-05,RPI-06,RPI-08 e RPI-12 no Pira-juçara, e RPO-03 e RPO-04, no Poá.

PDMAT

19

Segundo o endereço eletrônico do DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo - encontram-se já realizados 6 piscinões e um piscinão ainda em obras, na bacia do córrego Pira-juçara, conforme mostra a figura a seguir:

De acordo com o primeiro PDMAT, a proposta para esta bacia é de de-zesseis reservatórios, porém, de acordo com o site do DAEE, atual-mente encontram-se concluídos na bacia do córrego Pirajuçara seis piscinões e um em andamento. Ao comparar os mapas do PDMAT 1 e PDMAT 2, nota-se que o número de piscinões propostos é man-tido mas alguns mudam de localização, por motivos desconhecidos, e que a ordem de execução não corresponde à ordem proposta pelo planejamento. Ao que tudo indica os demais reservatórios ainda serão executados.

O próprio plano faz avaliações importantes da situação existente na época, como descritos no trecho a seguir:

“Como nunca foi possível, provavelmente por falta de recursos fi-nanceiros, implantar projetos de canalização ao longo de todos os talvegues integrantes de uma determinada bacia hidrográfica, tais projetos sempre acabaram por beneficiar uma parcela da popu-lação de montante, porém transferindo e agravando problemas de inundações para a população situada a jusante. Dentro desse contexto, é evidente que, com o passar dos anos, os problemas de inundação tiveram a tendência de se tornarem cada vez mais graves pois, se não bastassem os aspectos altamente catastrófi-cos de um processo de urbanização não controlado e sem plane-jamento, provocando a diminuição da capacidade de infiltração e retenção das águas de chuva, os mencionados projeto de canali-zação ainda contribuíram para elevar as vazões de pico e reduzir os tempos de percurso dessas vazões.Figura 1.1 - Piscinões na bacia do Córrego Pirajuçara. Fonte: http://www.daee.sp.gov.br

2 |

Dren

agem

20

Nos últimos anos, após o sucesso da implantação do “piscinão” do Pacaembu, tem-se aceitado melhor a ideia de implantar res-ervatórios de amortecimento de cheias que permitem controlar as descargas e retardar a chegada dos picos de vazão para jusante. Conceitualmente, os reservatórios de contenção de cheias atuam no sentido de compensar os citados aspectos negativos da ur-banização, com o objetivo de resgatar ou devolver, mesmo que parcialmente, as condições naturais equivalentes de uma deter-minada bacia hidrográfica.”

(http://www.sigrh.sp.gov.br/sigrh/basecon/macrodrenagem/pirajussara/arquivos/In-dice_Frame.html)

Analisando as propostas feitas pelo PDMAT para a bacia do Pira-juçara, vê-se que a opção escolhida para solucionar o problema das inundações é a de adotar a reservação das águas em piscinões, para amortecer as cheias, enquanto a água da chuva escoa gradualmente de volta para o curso normal do rio, associando ainda a construção desses piscinões com obras de canalização. Apesar de o plano apre-sentar mais de uma alternativa para o problema, pode-se dizer que as duas opções demonstram ser agressivas na intervenção urbana, e que outros tipos de abordagem e técnicas alternativas não foram cogitadas ou discutidas.

Trata-se de uma abordagem que se encaixa dentro da lógica higienista da drenagem convencional, que consiste em afastar as águas o mais rápido possível do meio urbano, muitas vezes agravando e transferindo

o problema para a jusante do curso d’água.

Esse tipo de solução é vista como uma forma de tentar remediar (e não prevenir) os problemas causados pela urbanização desordenada e sem planejamento, levando em consideração o meio urbano consolidado, quando o problema da inundação já se encontra agravado. É resultado também de anos de falta de conciliação de entre urbanização e infraes-trutura de drenagem planejadas em conjunto, sendo que esta última ao longo do desenvolvimento de cidades como São Paulo foi, muitas vezes, tratada de forma acessória.

21

Situação do andamento dos pis-cinões durante a revisão do PD-MAT em 2008.Fonte: Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (http://www.daee.sp.gov.br)

2 |

Dren

agem

22

Pensando na solução adotada pelo PDMAT para a bacia do rio Pira-juçara, sentiu-se a necessidade de estudar melhor o sistema de re-servatório de detenção, no que implica esse tipo de escolha e quais seriam as alternativas possíveis para essa solução. Para melhor com-preensão desse tema foi estudada a tese “Segurando as águas: modelo de reabilitação de sistema de drenagem urbana com enfoque em reten-ção urbanística” (LIMA, 2003)

Como é sabido, o processo de formação da cidade de São Paulo e todo seu entorno é fruto de uma urbanização que não foi exatamente planejada ou controlada. Ao longo de sua história, São Paulo foi gra-dualmente ocupando as várzeas de seus rios, ou modificando-as com retificações e outras obras, como canalizações. Os municípios ao seu redor possuem o mesmo modelo.

A impermeabilização que a urbanização traz faz com que a água não seja absorvida pelo solo, não retornando ao lençol freático, e ainda escoe mais rapidamente. Somadas, as intervenções nos rios e a imper-meabilização, em épocas de chuva causam as conhecidas inundações e enchentes, já que o rio naturalmente transborda para as áreas que de-veriam ser suas várzeas, e que agora se encontram ocupadas. De forma resumida, o motivo mais comum para a ocorrência de inundações pode ser entendido como uma disputa de espaço entre o rio e a cidade.

“(...) podendo-se concluir que se o problema das enchentes é considerado, basicamente, um conflito por espaços o território

exemplificação: segurando as águas

adensado da cidade, embora saturado de edificações, oferece as condições necessárias para viabilizar o enxugamento das águas.” (LIMA, P. 111)

A tese utiliza como área de estudo São Bernardo do Campo, na grande São Paulo. Este município também sofre com o problema das enchentes e tem em seus arredores o maior número de piscinões da região me-tropolitana: o PDMAT previa a necessidade de 37 reservatórios para a Bacia do Tamanduateí. Em sua tese o autor defende o uso de outras al-ternativas de drenagem ao invés do uso do piscinão e, no caso, propõe um sistema de retenção e dissipação.

Este sistema consiste em vários tanques pequenos de retêm a água da chuva e “devolvem” a água para o solo e lençol freático mais lenta-mente. Foi utilizada como chuva de projeto a “chuva-enchente”, defi-nida pelo autor como a chuva “representativa dos episódios concretos de enchentes ocorridas e percebidas” (LIMA, P. 93), que através da investigação de inundações anteriores do local determinou qual seria o volume de água que seu sistema deveria reter.

Determinada a “chuva-enchente”, a área a ser drenada é dividida em quatro “panos de retenção hidráulicos” “termo este escolhido denotar não somente de extensão, mas de enxugamento do escoamento super-ficial excedente das águas pluviais” (LIMA, P. 97) e são determinados seis sistemas de retenção. Os sistemas objetivam a retenção da água, realimentação do lençol freático e alívio da carga de poluição difusa que a água pluvial carrega consigo. Adotam soluções de projeto vari-

23

adas entre si, mas em geral possuem em comum: reservatório; sistema de limpeza e manutenção, que também contribuem para diminuir a poluição da água captada; associação do sistema à irrigação de áreas verdes.

Após a proposta, são feitas comparações econômicas entre os pis-cinões e os sistemas de retenção, comparando-se os custos:

SISTEMA DE RETENÇÃO:m³ variam de R$71,92 a R$ 615,13custo médio de R$ 122,73capacidade instalada: 9.458,04 m³

PISCINÕES: m³ variam de R$26,75 a R$ 58,00custo médio de R$ 43,80capacidade instalada: 2,45 milhões m³

Verifica-se, após a comparação, que quanto maior a capacidade do tanque de acumulação, menor o custo do metro cúbico de água retida, portanto, o piscinão prova-se a alternativa com custos de construção e implantação mais baratos. Porém, apesar de cumprir sua função de equipamento de drenagem e de sua vantagem de custo construtivo, esse tipo de alternativa não traz vantagens para a cidade, visto que as imensas áreas vazias que os piscinões formam são subutilizadas, sendo uma infraestrutura que atua em apenas um período do ano e não

recebem a manutenção adequada.

Ainda, esses grandes reservatórios não se mostram a opção mais viável no contexto urbano devido à escassez de grandes áreas no tecido ur-bano, custo elevado da terra urbana, custo da desapropriação, impacto no entorno, manutenção e significam uma grande área sem uso. Ao acompanhar as notícias ao longo dos anos, notou-se a diminuição das enchentes, mas não a sua erradicação, mesmo com a implantação dos piscinões.

O sistema proposto por LIMA, apesar de ter custo construtivo mais ele-vado do que o dos piscinões, representa um ganho quando comparado à qualidade urbanística resultante. O sistema de retenção parece mais compatível ao meio urbano consolidado, por seu pequeno impacto na área implantada e por uma questão paisagística, ao ser associado a áreas verdes, como praças, formando um espaço mais aprazível para a cidade do que os piscinões a céu aberto.

“conclui-se que é perfeitamente viável uma prática alternativa de gestão do escoamento excedente de águas pluviais, em situações de chuvas intensas, visando à prevenção de enchentes em áreas adensadas da cidade, como demonstra o ensaio de projeto de-senvolvido”.(LIMA, P. 111)

Ao que parece, o poder público ao escolher a opção dos piscinões foi pragmático, tentando reduzir o problema das enchentes da forma menos trabalhosa para si, mais rápida e supostamente mais barata. Este último motivo, o de menor custo, acaba até sendo discutível, visto

2 |

Dren

agem

24

que as desapropriações de grandes áreas urbanas são custosas. Essa opção trouxe consequências ao meio urbano que são difíceis de ser contornadas, dadas as intervenções de grande porte e incompletas, já que os reservatórios poderiam muito bem ser cobertos e receber algum outro tipo de uso, como foi feito no caso do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Estádio do Pacaembu.

Como já citado anteriormente, mesmo com a construção de tantos pis-cinões na região metropolitana, o problema das enchentes diminuiu, mas inundações ainda acontecem. Assim, o problema não foi exata-mente sanado, afinal, o problema da drenagem urbana é mais com-plexo que a diminuição da velocidade das águas, papel desempenhado pelos piscinões. Sanar o problema da drenagem significa dar atenção para outras medidas como o controle da impermeabilização do solo, aumento de áreas verdes, entre outros. Por mais que essas outras me-didas constem no plano de macrodrenagem, pode-se ver que pouco foi feito.

25lógica da drenagem convencional atualmente

(ocupação das margens dos cursos d’água, retifi-cações, impermeabilização do solo)

(inundações e enchentes )

OCUPAÇÃO DO ESPAÇO DA ÁGUA PELA CIDADE

OCUPAÇÃO DO ESPAÇO DA CIDADE PELA ÁGUA

Tendo em vista as análises dos planos e exemplos anteriores, chegou-se à conclusão de que a urbanização trouxe consigo uma relação clara de causa e consequência:

E a lógica atual do sistema de drenagem convencional acaba resumin-do-se na seguinte abordagem:

“A forma clássica de lidar com a água proveniente da precipitação atmosférica é desviá-la e “mandá-la para bem longe”, ou seja, o volume de água coletado a montante de um trecho é conduzido para jusante, gastando-se recursos públicos no sistema de trans-missão que interliga os dois pontos. Esta atitude é baseada nos conceitos higienistas do século XIX, onde a solução era remover da forma mais rápida e eficiente possível a água dos centros ur-banos” (BOTELHO, 1998 apud SOUZA, 2002)

E esse tipo de lógica pode resultar em consequências como:

ENCHENTESRisco de enchentes à jusante, pela rápida condução do volume de águas através das canalizaçõesPISCINÕESNecessidade de construção de piscinões para amortecer os picos de cheia.RIOS SUBAPROVEITADOSOs cursos d’água recebem intensas intervenções e são ignorados no contexto urbano, quando poderiam integrar a paisagem e ser utilizados para o lazer, por exemplo

Visto isso, a intenção deste trabalho é tentar evitar a lógica conven-cional de drenagem, concentrada em afastar as águas, e buscar outra abordagem de drenagem, assim como feito na tese de LIMA, utilizada como exemplificação anteriormente.

2 |

Dren

agem

26 alternativas

ALTERNATIVA 1:CRIAÇÃO DE MAIS ÁREAS PERMEÁVEIS

A área de intervenção, a bacia do Córrego Ponte Alta, melhor descrita mais adiante, é uma área predominantemente residencial e bastante densa. A primeira alternativa para melhorar a drenagem e infiltração da água no solo seria a reorganização da ocupação e uso do solo, criando mais áreas permeáveis.

Isso poderia ser atingido através da criação de parques e áreas verdes ou até mesmo através da reorganização dos espaços dentro dos lotes: transformar um local com grande taxa de ocupação e horizontal num

local com menos taxa de ocupação e vertical. Assim, seria possível ter um térreo mais livre e mais permeável.

Porém, esta alternativa não é tão simples de se executar uma vez que o espaço urbano já foi construído, pois implicaria na desapropriação e demolição dos espaços já consolidados e reconstrução planejada e reorganizada. Nada impede de que essa alternativa seja atingida a longo prazo, incentivada pela legislação e fiscalização da produção do meio urbano, ou que seja atingida de maneira prévia, através do planejamen-

27

ALTERNATIVA 2:ÁREAS PERMEÁVEIS EXISTENTES MAIS EFICIENTEs

to do território anterior à ocupação, planejamento o qual sabemos que dificilmente acontece nas cidades brasileiras.

Outra alternativa então seria lidar com a cidade existente, buscando formas de intervir no meio urbano já consolidado de maneira que es-sas áreas sejam mais eficientes do ponto de vista da drenagem, sem que haja a necessidade de grandes mudanças como remoções ou de-molições da urbanização atual.

É esta segunda alternativa que este trabalho pretende abordar: intervir no meio urbano existente, trazendo maior eficiência, sem que hajam mudanças radicais na paisagem.

Vale ressaltar que apesar deste trabalho não pretender entrar no tema da habitação, que por si só já é bastante complexo, foram abordadas algumas intervenções desse cunho quando houve intersecção entre os dois temas.

associar:drenagem convencional + técnicas compensatórias

2 |

Dren

agem

28 técnicas compensatórias de drenagem

As técnicas compensatórias de drenagem, como o próprio nome diz, são dispositivos de drenagem que tentam compensar os efeitos da urbanização antes que a água precipitada chegue à rede pública de drenagem. Essa compensação pode ser feita por meio da retenção (funcionando como pequenos reservatórios de amortecimento) e/ou da infiltração da água pluvial no solo, ajudando na redução das vazões máximas de escoamento superficial e na redução do volume escoado. Também podem contribuir para o controle de poluentes, retendo parte da poluição difusa que as águas pluviais no meio urbano carregam consigo, e na recarga de águas subterrâneas, no caso dos dispositivos de infiltração (TRINDADE, 2009).

Diferentemente do sistema tradicional de drenagem, as técnicas com-pensatórias atuam de forma “preventiva” em relação às enchentes, pois atuam diretamente na fonte, ajudando a controlar o escoamento, en-quanto que o sistema clássico lida com a água pluvial de maneira “cor-retiva”, pois lida com a água pluvial já escoada, quando esta já atingiu a rede de drenagem e é conduzida, o mais rápido possível, para fora do meio urbano, através de condutos, canalizações, etc.

As técnicas compensatórias podem ser classificadas em estruturais ou não estruturais, conforme explicado na tabela ao lado:

Também é importante dizer que, apesar da abordagem deste trabalho ser um pouco mais realista do ponto de vista do realizável num prazo mais curto e lidar com a cidade existente, as outras medidas citadas na alternativa 1 como o planejamento prévio da ocupação do território e melhor organização do solo urbano são importantíssimas para controlar as futuras construções e, consequentemente, a composição do meio urbano.

Claro que é dever do poder público prover a fiscalização do cumpri-mento desses itens, assegurando que a urbanização seja realizada de maneira preventiva e não corretiva, como é acontece atualmente na maioria das cidades brasileiras.

Voltando à alternativa 2, ao buscar maneiras de aumentar o desempe-nho em relação à drenagem chegou-se ao estudo das técnicas com-pensatórias de drenagem, que se mostraram viáveis à aplicação no meio urbano consolidado e podem ser associadas ao sistema conven-cional de drenagem.

29

Regulação do uso do soloCriação de áreas verdesRecuperação de matas ciliares – parques linearesNão conexão ou desconexão de áreas impermeáveisUso de revestimentos de elevada rugosidade em vias e em canaisManejo de fertilizantes, pesticidas e detergentes

Controle na fonte

Controle centralizado

Bacias de detenção ou retençãoBacias de infiltraçãoBacias de detenção e infiltraçãoÁreas úmidas artificiais

Localizado

Telhado verdeMicrorreservatórioPoço de infiltraçãoPlano de infiltração

Trincheira de infiltraçãoVala de detençãoPavimento reservatórioPavimento permeávelÁreas úmidas lineares

Linear

CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS COMPENSATÓRIAS:

TÉCNICAS COMPENSATÓRIASNÃO ESTRUTURAIS:

TÉCNICAS COMPENSATÓRIASESTRUTURAIS:

Fonte: RIGHETTO, 2009

2 |

Dren

agem

30

“- Preocupação com a manutenção freqüente, a fim de se evitar a perda de desempenho e aumentar a vida útil;- Utilização das tecnologias condicionada a características do solo (tipo, uso e ocupação, topografia), lençol subterrâneo, etc.;- Uso recente, resultando na falta de padrões de projeto e na escassez de informações a respeito do seu funcionamento a longo prazo;- Risco de contaminação do aqüífero;- Risco de afetar fundações de obras vizinhas.” (TRINDADE, 2009)

Neste trabalho, optou-se por trabalhar com as técnicas compen-satórias de controle na fonte, que atuam no controle da vazão de saída, reservando as águas durante certo tempo, com ou sem infiltração. As estruturas utilizadas e sua aplicação serão melhor detalhadas adiante.

VANTAGENS E DESVANTAGENSO uso das técnicas compensatórias pode trazer diversos benefícios como:

“- Diminuição do risco de inundação e contribuição para a melhoria da qualidade da água em meio urbano;- Redução ou mesmo eliminação da rede de microdrenagem local;- Minimização das intervenções a jusante de novas áreas loteadas quan-do a rede de drenagem preexistente encontra-se saturada, permitindo a modulação do sistema de drenagem em função do crescimento urbano;- Boa integração com o espaço urbano e possibilidade de valorização da água no meio, através de áreas verdes e de lazer, etc.;- Melhoria na recarga de água subterrânea, normalmente reduzida em razão da impermeabilização de superfícies, com conseqüente ma-nutenção da vazão de base dos pequenos rios urbanos;- Taxas mais elevadas de enchimento médio dos coletores de águas pluviais e melhores condições de transporte de matéria sólida;- Controle da poluição das águas pluviais, contribuindo para a recupe-ração e preservação do meio ambiente;- Baixos custos de implantação;- Redução dos volumes escoados (no caso de estruturas de infiltração);- Redução dos efeitos adversos da urbanização sobre as inundações urbanas.” (TRINDADE, 2009)

Vale observar que o emprego dessas técnicas também pode trazer riscos de desvantagens, como:

31

1- bacia de detenção seca revesti-da com equipamento esportivo na região parisiense, na França. Fonte: BAPTISTA, 2011.2 - Bacia de retenção a céu aberto com espelho d’água (Belo Hori-zonte, BH). Fonte: BAPTISTA et al., 2005.3 - Poço de infiltração. Fonte: BAPTISTA, 2011.4 - Valeta de detenção. Fonte: BAPTISTA, 2011.

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

1 2

3 4

2 |

Dren

agem

bacia3

34

Após analisar o município como um todo, foi escolhida como objeto de estudo deste trabalho o Córrego Ponte Alta e sua bacia hidrográ-fica. Por ser uma área ainda em consolidação, apresenta um cenário e possibilidades mais interessantes de projeto e estudo da drenagem.

O córrego em questão possui um histórico de inundações em alguns pontos, como o mostrado na fotografia 1 acima (sem canalização) pa-ralelamente à Rua Paulo Portmann, o que se pretende melhorar através

das medidas tomadas mais adiante. Atualmente, encontra-se canali-zado na maior parte de seu curso, conforme se pode ver nos registros fotográficos feitos durante visita ao local. A fotografia 3 expressa o cenário mais encontrado ao longo do córrego e da Av. Cid Nelson Jordano: canalização da calha e a (muito reduzida) margem separando o córrego da circulação viária que passa em seus dois lados.

Num dos trechos finais de seu percurso, próximo à Rua Paulo Port-

o córrego ponte alta

Fotografia 1. Fonte: acervo da autora. Fotografia 2. Fonte: acervo da autora. Fotografia 3. Fonte: acervo da autora.

35

Fotografia 4. Fonte: acervo da autora. Fotografia 5. Fonte: acervo da autora.

mann, o córrego corre confinado entre dois muros, separando dois lotes industriais (fotografia 2)

Em outros locais, o córrego encontra-se canalizado e tamponado, sob o viário, como ao longo da Av. Vicente Leporace, ou sob as estruturas precárias de habitações, próximo à Rua Ásia, não sendo possível visualizá-lo.

Em seu entorno imediato há principalmente residências, alguns esta-

beleciamento comerciais, galpões e equipamentos como escolas. Há também algumas áreas de lazer informais, como o campo de futebol em uso, mostrado na fotografia 4.

Também em seu entorno imediato há uma significativa área verde, determinada no Plano Diretor como Parque Central, mostrado em parte na fotografia 5.

3 |

Baci

a

36

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTALIMITE DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA

TOPOGRAFIA

HIDROGRAFIA

ÁREA DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTA

A bacia do Córrego Ponte Alta está localizada à sudoeste de Taboão da Serra, próximo à divisa com o município de Embu das Artes.

O Córrego Ponte Alta deságua no Córrego Poá, sendo seu principal afluente. Sua bacia de drenagem, com uma área total de 2,71 km², faz parte da sub-bacia do córrego do Pirajuçara e está praticamente toda localizada dentro do município de Taboão da Serra.

Percurso do Córrego Ponte Alta:

localização

LEGENDA

córrego ponte alta

córrego poá

córrego pirajuçara

rio pinheiros

rio tietê

37

Imagem elaborada pela autora. Base:Departamento de Cartografia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor do município.

ESC 1:30000

3 |

Baci

a

38 hidrografia e pontos de alagamento

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTA

ÁREAS DE INUNDAÇÃO

PISCINÃO PORTUGUESINHA

LIMITE DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA

HIDROGRAFIA

De acordo com o próprio Plano Diretor de Macrodrenagem do mu-nicípio, “a bacia, que antes apresentava áreas rurais em sua margem direita, hoje tem a ocupação urbana residencial como predominante. Tal alteração no uso e ocupação do solo, resultante da implantação de novos loteamentos, provocou problemas de assoreamento no leito do córrego.” (PDM, P. 57)

Próximo ao do fim curso do córrego há um reservatório de amorteci-mento de cheias, o Reservatório Portuguesinha, com capacidade de armazenar 120 mil m³ .

Dentro dos limites da bacia do Córrego Ponte Alta existem duas man-chas de inundação, assinaladas no mapa ao lado, devido à “insuficiên-cia dos bueiros e travessias”(PDM, P. 57).

Essas áreas são nomeadas como área 8 e área 9 no plano, conforme mostra o mapa ao lado, foram estudadas e diagnosticadas pelo PDM, recebendo propostas de medidas estruturais específicas para melhoria dessas áreas quanto à drenagem.

LEGENDA

39

Imagem elaborada pela autora. Base:Departamento de Cartogra-fia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor de Macrodrenagem. Imagem aérea: Google Earth

Córrego Poá

Córrego Ponte Alta

Córrego Joaquim Cachoeira

8

9

ESC 1:20000

3 |

Baci

a

40

Para as áreas assinaladas no mapa anterior o Plano Diretor de Ma-crodrenagem do Município de Taboão da Serra realizou o diagnóstico e fez propostas de intervenção, conforma apresentadas a seguir:

ÁREA DE INTERVENÇÃO 8Esta área localiza-se próxima à cabeceira da bacia do Córrego Ponte Alta, ao longo da ao longo da Av. Cid Nelson Jordano, nas proximidades das ruas Vicente Leporace e Isabel Soria Mainardes.

“Entre a Av. Ásia e a Rua Oswaldo Sad, o córrego Ponte Alta faz seu curso entre casas populares, das quais muitas têm sua estrutura impro-visada sobre o leito do córrego” (PDM, P. 58), essa situação “coloca em risco a saúde e a segurança dos moradores, pois quando o nível d’água do córrego aumenta pode comprometer a integridade das frágeis estruturas de sustentação.” (PDM, P. 59)

Como solução de medida estrutral para este trecho, a empresa que realizou os estudos e diagnósticos do Plano Diretor de Macrodrenagem do município, propôs a canalização do Córrego Ponte Alta sob o viário, conduzindo a vazão desse trecho numa galeria de 3,50x2,50m “desvi-ando o caminhamento natural que hoje se encontra abaixo das casas populares da região.” (PDM, P. 63)

O plano também sugere que as “políticas habitacionais do município devem definir medidas preventivas e mitigadoras para evitar que novas áreas sejam ocupadas, e desta forma melhorar as condições de ha-bitação nas áreas já ocupadas.” (PDM, P. 61)

ÁREA DE INTERVENÇÃO 9Esta área localiza-se próxima à foz do Córrego Ponte Alta, a montante da Rodovia Régis Bittencourt, próxima à Rua Paulo Portmann.

Conforme se pode ver na figura 1 da página 34, no trecho paralelo à Rua Paulo Portmann, a calha do córrego é reduzida. Assim, “um pequeno aumento na lâmina d’água já implica no alagamento da via adjacente.” (PDM, P. 62)

Porém, segundo o diagnóstico da empresa que realizou o estudo, a mancha de inundação referente a esta área no mapa anterior foi deter-minada antes da realização de obras de canalização na região, realiza-das pela prefeitura. De acordo com o estudo, os eventos de inundação são raros nesse ponto e as seções dos canais implantados foram verificadas, sendo aparentemente suficientes para a vazão contribuinte. Devido a este fato, não foram feitas propostas de medidas estruturais para este trecho.

MEDIDAS DE CONTROLE NÃO ESTRUTURAISAlém de medidas estruturais para os dois trechos descritos anterior-mente e outras áreas de intervenção das demais bacias contidas no município, o plano propõe medidas não estruturais complementares para que os resultados sejam duradouros.

Como principais Medidas de Controle não Estruturais, recomenda-se:

plano diretor de macrodrenagem

41

- Programa de Limpeza e Manutenção dos Reservatórios de Amorteci-mento- Combate ao Assoreamento dos Córregos- Melhoria Dos Sistemas De Drenagem, Água, Esgoto E Coleta De Re-síduos- Programas de Conscientização da População Quanto do Despejo de Lixo nos locais corretos- Programa de Incentivo à Prática de Esportes nas Áreas de Lazer Pre-vistas no Plano.

3 |

Baci

a

42 zoneamento

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTALIMITE DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRAHIDROGRAFIA

O mapa de zoneamento mostra que há a predominância de zonas es-peciais de interesse social e áreas industriais e em seguida as áreas predominante residenciais.

As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são destinadas à re-cuperação urbanística, regularização de assentamentos precários e produção de habitação de interesse social, destinadas à população de baixa renda. Para as ZEIS 1 a taxa de ocupação máxima é de 50%, a de permeabilidade mínima de 20% e o gabarito de altura é livre. O Coeficiente de aproveitamento máximo é igual a 2. Já as ZEIS 2 são vol-tadas para a produção de habitação social verticalizada, tendo lotes de dimensões mínimas maiores (500m²) e coeficiente de aproveitamento máximo igual a 5.

As Zonas de Preservação Ambiental (ZPA) são áreas cobertas por ve-getação significativa, áreas definidas como de preservação pela le-gislação federal e estadual, áreas de reflorestamento e áreas de risco ambiental e outras áreas onde há interesse público em recuperar áreas verdes degradadas. A ZPA mostrada no mapa é referente ao Parque Central descrito no Plano Diretor Participativo do município e será ob-jeto de estudo, abordado mais adiante neste trabalho.

As Zonas Predominantemente Residenciais (ZPR) são destinadas ao uso residencial e a usos não residenciais de pequeno porte mas direta-mente relacionados ao uso residencial.

As zonas mistas (ZM) são destinadas à implantação de usos residen-ciais e não residenciais, inclusive no mesmo lote ou edificação, cara-

ZONA ZM 1 (ZONAS MISTAS)

ZONA ZPA (ZONA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

ZONA ZPR 2 (ZONAS PREDOMINANTE-MENTE RESIDENCIAIS)

ZONA ZI - ZONA INDUSTRIAL

ZONA ZEIS 2 (ZONA ESPECIAL DE INTER-ESSE SOCIAL)

ZONA ZEIS 1 (ZONA ESPECIAL DE INTER-ESSE SOCIAL)

LEGENDA

cterizadas por variada tipologia construtiva de média a alta densidade. As ZM 1, zona mista de densidade demográfica e construtiva média, tem características de aproveitamento, ocupação e permeabilidade igual às da ZEIS 1, com exceção do gabarito que passa a ser 25m.

As zonas Industriais (ZI) são áreas já ocupadas predominantemente por indústrias e onde há infra-estrutura instalada e interesse público em manter ou promover a atividade industrial.

43

Imagem elaborada pela autora. Base:Departamento de Cartogra-fia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor do município. Imagem aérea: Google Earth

ESC 1:20000

3 |

Baci

a

44 equipamentos públicos

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTA

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE SAÚDE

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE ES-PORTE E LAZER

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE EDUCAÇÃO

LIMITE DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA

HIDROGRAFIA

A partir do levantamento de equipamentos públicos pode-se perce-ber que dentro da área da bacia os equipamentos públicos de maior número são os de educação.

Também percebe-se que não há praças ou parques formalizados. Res-tam como espaços de lazer ao ar livre os informais campos de fute-bol. Vê-se que os equipamentos de esporte são raros e limitam-se a quadras poliesportivas, exceto pelo projeto de um Centro Olímpico nos arredores, que não chegou a ser construído e tem seu futuro incerto.

Não foram observados equipamentos públicos de lazer e cultura na região. Vale ressaltar que, de acordo com o site da Prefeitura de Taboão da Serra, existem listados como equipamentos públicos de lazer ou cultura apenas o CEMUR (Centro Cultural e de Lazer Carlos Drumond de Andrade), a Biblioteca Municipal Castro Alves e o Parque das Hortênsias, localizados na região central do município.

Através das observações anteriores verifica-se que a área apresenta um déficit de áreas verdes e equipamentos de esporte e lazer. A partir disso, a ideia principal é que o Parque Urbano do Córrego Ponte Alta seja visto e utilizado como um um espaço voltado para esses usos que hoje encontram-se tão escassos nessa região. Desta forma, o parque terá seu projeto voltado para suprir a demanda desses usos, bem como suas funções ambientais e de drenagem.

LEGENDA

45

Imagem elaborada pela autora. Base:Departamento de Cartogra-fia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor de Macrodrenagem. Imagem aérea: Google Earth

4

76

1011

122

3

4

5

1

141516

17

1819

13

9

5

1

2

3

6

4

32

1

5

8

ESC 1:20000

3 | Bacia

3 |

Baci

a

46

1- EMI Santo Antônio2- (EMI) Floquinho3- (EMEF) Professor Oscar Ramos Arantes4- EE Professor Antônio Ruy Cardoso (médio e fundamental)5- (EMI) Maria Cebolinha6- (EMEF) Dr. Anísio Dias dos Reis7-(EMEF) Professora Dalva Barbosa Lima Janson8- (EMI) Papa-Capim9- (EMEF) Professora Therezinha Volpato Baro10- EMEB Darcy Ribeiro11- (PAC) Santa Margarida Maria Alacoque (creche)12- (EMI) Cebolinha13- (EE) Reverendo Denoal Nicodemos Eller ((médio e fundamental)14- EE Profª. Silvia Aparecida dos Santos (fundamental)15- (EMI) Rosinha16- (EMEF) Vinicius de Moraes17- (PAC) Solar dos Unidos - Margaridas (creche)18- (EMEF) Maria José Luizetto Buscarini19- (PAC) São Judas Tadeu

1- Quadra municipal2- Quadra poliesportiva3- Centro de Convivência Jardim Scandia4- Centro de Convivência Vila Iase5- Centro Olímpico (projeto)

ESPORTE E LAZER

1- UBS/USF Jardim record2- PS Maternidade unidade mista de Taboão da Serra3- SAMU4- UBS/USF Jardim Salete5- UBS/USF Jardim Panorama6- UBS Jardim das Margaridas / USF Jardim Comunitário

SAÚDEESCOLAS

47

De forma resumida, pode-se perceber que trata-se de uma área pre-dominantemente residencial e bastante densa com algumas porções de uso industrial, e que dentro desse limite há áreas que sofrem com problemas de inundação.

As áreas verdes ou livres existentes na área da bacia são poucas, assim como os equipamentos de lazer e esporte, sendo que esses dois temas podem ser interpretados como demandas a ser atendidas.

A partir da análise da região, conforme mostrada nos mapas anteri-ores, chegou-se a determinação das áreas prioritárias de estudo e in-tervenção. As áreas de intervenção escolhidas levam em consideração o estado atual em que se encontram, as possibilidades de intervenção de acordo com a drenagem e as propostas e direcionamento do plano diretor atual do município.

análise

3 |

Baci

a

intervenções4

50

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTA

DESTAMPONAÇÃO DO CÓRREGO

RECOMPOSIÇÃO DAS MARGENS

LIMITE DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA

HIDROGRAFIA

Algumas intervenções foram propostas ao longo do córrego e de seu entorno, de forma que juntas possam formar o Parque Urbano do Cór-rego Ponte Alta.

A primeira das propostas é conectar as áreas verdes com tamanho sig-nificativo existentes na área, para que haja continuidade, formando um parque linear.

Também foi proposta a recomposição das margens do córrego que, conforme mostrado nos registros fotográficos, encontram-se canaliza-das na maior parte de sua extensão.

Através dessas intervenções e de outras propostas mais adiante, pre-tende-se chegar ao desenho descrito na mancha verde do mapa ao lado, integrando as áreas verdes existente ao córrego e formando o que se chamou de Parque Urbano do Córrego Ponte Alta.

parque urbano do córrego ponte alta

PARQUE URBANO DO CÓRREGO PONTE ALTA

LEGENDA

51

Imagem elaborada pela autora. Base:Departamento de Cartogra-fia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor de Macrodrenagem. Imagem aérea: Google Earth

ESC 1:20000

4 |

Inte

rven

ções

52

MICRODRENAGEM RESIDENCIAL

ÁREA DE RISCO - REMOÇÃO

MICRODRENAGEM - INDUSTRIAL

PARQUE CENTRAL

áreas de intervenção

LEGENDA

Além das intervenções ao longo do Córrego Ponte Alta, foram determi-nadas outras seis áreas de intervenção, às quais são feitas propostas mais direcionadas e melhor descritas adiante.

As áreas 1 e 2 são áreas predominantemente residenciais, nas quais o foco era trabalhar a microdrenagem e técnicas compensatórias, para melhor desempenho quanto à drenagem. Para o estudo de aplicação foi escolhida apenas a área 1 para detalhamento, porém as intervenções poderiam ser feitas em ambas as áreas.

A área 3 é a área determinada pelo Plano Diretor de Taboão da Serra como “Parque Central”, tendo isso em vista, foram feitas propostas pro-jetuais para este parque, tendo em vista a ampliação do uso deste local pelos moradores da região e levando em consideração a drenagem.

A área 4 é uma área residencial localizada sobre o Córrego Ponte Alta, por se tratar de uma área de risco, foi proposta a remoção destas residências e realocação da população para outras áreas. Desta forma, ganha-se a segurança física dessas famílias e a continuidade do Parque Urbano do Córrego Ponte Alta.

As áreas 5 e 6 são áreas industriais. Para essas áreas não foram feitas propostas projetuais, por se tratar de áreas privadas (que não são o foco principal deste trabalho), mas foram feitas recomendações intralote de drenagem, objetivando o controle na fonte, que poderiam contribuir para a drenagem da bacia do Córrego Ponte Alta como um todo, visto que são áreas de grande extensão.

53

5 4

3

2

1

6

Imagem elaborada pela autora. Base:Departamento de Cartogra-fia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor de Macrodrenagem. Imagem aérea: Google Earth

ESC 1:20000

4 |

Inte

rven

ções

54 áreas de microdrenagem

Dentro da área da bacia, existem trechos loteados que ainda não pos-suem infraestruturas como pavimentação e microdrenagem. Foram identificadas duas áreas com essas características, as áreas 1 e 2 mas, como já dito anteriormente, será detalhada para intervenção apenas a área 1.

A área 1, local escolhido para detalhamento, é um loteamento no qual o uso predominante é o residencial. A ocupação é horizontal e densa, com casas térreas ou sobrados que ocupam quase a totalidade do lote. Como mostrado no mapa de zoneamento da página 43, trata-se de uma Zona Especial de Interesse Social I que, como define o artigo 106 do Plano Diretor de Taboão da Serra, são “áreas públicas ou privadas (...) ocupadas predominantemente por população de baixa renda, de inter-esse público na promoção da regularização urbanística e fundiária”.

A imagem ao lado retrata uma das ruas e o cenário mais típico encon-trado dentro dos limites dessa área de intervenção. Nela se pode ver que as casas não têm recuos laterais, que não há pavimentação nem infraestrutura de drenagem.

Atualmente têm sido feitas algumas mudanças na área, por iniciativa do poder público, os lotes mais próximos ao córrego estão sendo removi-dos. As obras que estão realizadas atualmente parecem estar de acordo com o projeto básico licitado este ano “Execução de Pavimentação, drenagem e serviços complementares, no loteamento Ponte Alta - Jd. Record”, encontrado no site da Prefeitura de Taboão da Serra.

O projeto apresentado aparentemente remove os lotes e aumenta a área

de preservação ao longo do córrego para 30 metros, prevendo uma faixa verde. A pavimentação e microdrenagem propostas pelo projeto, segundo o memorial descritivo, são convencionais, ou seja: ruas de asfalto, calçadas de concreto e bocas de lobo comuns.

A ideia deste trabalho é buscar outras possibilidades além das con-vencionais para esta área. A estratégia adotada foi pensar como essa infraestrutura, que ainda não existe, poderia ser provida e ser mais efi-ciente do que somente a drenagem convencional aplicada hoje em dia. Desta forma, com o aumento da eficiência da drenagem, a intervenção nos lotes poderia ser menor, sem que houvesse a necessidade de mais remoções (além do que já está sendo feito), trabalhando e levando em consideração a cidade existente.

Assim, foram pensadas técnicas compensatórias de drenagem, in-tegradas ao sistema de drenagem convencional.

Ao observar a área de intervenção nota-se que existem, basicamente, dois tipos de ruas: ruas com 10 metros de largura e ruas com 7 metros de largura. Para as ruas de 10 metros, foram propostas trincheiras de infiltração, e para as ruas de 7 metros, o pavimento permeável res-ervatório.

A partir do desenho existente no local, foram estudadas possibilidades de intervenções na infraestrutura de drenagem, para melhorar a con-dição atual. As soluções adotadas estão apresentadas a seguir.

554 | Intervenções

Imagem retirada do Google Streetview 4 |

Inte

rven

ções

56

Imagem elaborada pela autora. Base: Departamento de Cartogra-fia - SEHAB de Taboão da Serra e Plano Diretor de Macrodrenagem. Imagem aérea: Google Earth

áreas de microdrenagem

ESC 1:5000ÁREA MICRODRENAGEM - FOTO AÉREA

57

Base: Prefeitura do Município de Taboão da Serra - SMO (Secretaria de obras, infra-estrutura e serviços urbanos)

ESC 1:5000EXECUÇÃO DE PAVIMENTAÇÃO, DRENAGEM - PROJETO LICITADO - PLANTA 4

| In

terv

ençõ

es

58

uma espécie de filtro, retendo em parte a poluição difusa do meio ur-bano que a água pluvial carrega consigo. Outra vantagem é a recarga de água subterrânea, já que a água infiltra no solo, contribuindo para a manutenção da vazão de base de pequenos corpos d’água.

No caso das trincheiras associadas com vegetação, também há o benefício ambiental e paisagístico, além da melhor integração da in-

A trincheira de infiltração é um dispositivo de drenagem alternativo e contribui para compensar os efeitos da impermeabilização do solo causada pela urbanização.

São valetas, que podem ter suas dimensões variadas, dispostas de forma linear, preenchidas por material granular, como a brita. Um filtro geotêxtil (bidim) envolve toda a trincheira, impedindo que partículas menores entrem na estrutura, o que pode comprometer seu desem-penho ao longo do tempo. A trincheira ainda é conectada a um dreno interligado com o sistema de drenagem, pelo qual a água pluvial es-coa quando essa estrutura se satura. A figura adiante mostra, de forma genérica, o formato da trincheira e seu funcionamento.

O funcionamento da trincheira é bastante simples: a água pluvial é es-coada para dentro da trincheira e fica retida em seu interior durante um certo período, até que o solo do entorno a absorva naturalmente. Um dreno é instalado no fundo da trincheira e ligado à galeria de águas plu-viais pois, caso o sistema sature, a água pluvial excedente é conduzida para a galeria de drenagem convencional, evitando transbordamento.

Desta forma, esse sistema, como outras técnicas compensatórias, con-tribui para a diminuição do risco de inundação, já que reduz os volumes escoados através da retenção de parte desse volume, e atenua o pico de cheia, retém a água em seu interior durante certo tempo “atrasan-do” seu percurso até o curso receptor. Como resultado desse processo, é esperado que haja menor necessidade de intervenções a jusante.

Devido às suas camadas, a trincheira também acaba funcionando como

trincheiras de infiltração

ESC 1:25EXEMPLO DE TRINCHEIRA - CORTE

camada de geotêxtil

camada de geotêxtil

solo material granular (brita, seixos rolados,etc)

escoamento

infiltração da água no solo

escoamento

material granular (brita, seixos rolados,etc)

filtro de areia dreno

80cm

150cm

59

fraestrutura de drenagem com o ambiente urbano. Porém, como já citado, também há desvantagens na aplicação desse tipo de estrutura. A aplicação da trincheira está condicionada às características do local, como o solo (que deve ser absorvente o suficiente) e a altura do lençol subterrâneo, sendo que nem sempre essas características permitem a implantação dessa solução.

Além disso, requerem manutenção com maior frequência (em relação às estruturas convencionais de drenagem), para que não haja perda de desempenho e também são de uso recente, sendo as informações so-bre seu uso e desempenho a longo prazo um tanto escassas. Também há riscos como a contaminação do aqüífero e risco de afetar fundações de obras vizinhas. (TRINDADE, 2009)

TRINCHEIRA COM BIORRETENÇÃOAs trincheiras de infiltração podem ser associadas à biorretenção, que consiste no uso da cobertura vegetal para retenção de poluentes difu-sos trazidos pela água pluvial escoada.

Além de contribuir para a melhor da paisagem urbana, essa vegetação contribui para a impedir que os poluentes difusos - sólidos em sus-pensão, nutrientes, metais pesados e coliformes fecais - atinjam os recursos hídricos, retendo parte da poluição difusa que as água plu-viais arrastam consigo no meio urbano. Diferente estudos indicam que a redução desses poluentes pode ser de 70% a 99% desses poluentes

(MOURA, 2012).

Ou seja, há uma melhora na qualidade da água escoada para o sistema de drenagem, através da vegetação que filtra e absorve os sedimentos, através da fitorremediação.

A biorretenção é diferenciada por ANDRADE, et al., 2007, apud MOU-RA, 2012, dos demais processos de remediação biológica:

“Como qualquer outro processo de remediação, o uso de plantas destina-se à redução dos teores de contaminantes a níveis seguros e compatíveis com a proteção à saúde humana, ou a impedir/dificultar a disseminação de substâncias nocivas ao ambiente. Mas, diferente-mente de algumas outras tecnologias consideradas convencionais, a fitorremediação apresenta grande versatilidade, podendo ser utilizada para remediação em meio aquoso, ar ou solo, com variantes que de-pendem dos objetos a serem utilizados.”

A cidade de Portland, nos Estados Unidos, desenvolveu todo um apara-to técnico e legislativo para esse tipo de técnicas de manejo de águas pluviais, indicando como deve ser o planejamento e execução dessas estruturas e até mesmo quais espécies vegetais devem ser utilizadas, atingindo bons resultados de aplicação no meio urbano, conforme mostram os exemplos de “Ruas Verdes” apresentados nas imagens a seguir (CITY OF PORTLAND, 2009)

4 |

Inte

rven

ções

60 trincheiras de infiltração

Exemplo de aplicação de trincheira de infiltração asso-ciada com biorretenção em uma rua de Portland, Oregon, Estados Unidos. Fonte: http://muralmouth.wordpress.com/2011/07/21/roadside-garden-bioswale-projects-to-restore-water-cycle-in-portland-oregon/

Exemplo de aplicação de trincheira de infiltração durante precipitação em uma rua de Portland, Oregon, Estados Unidos. Fonte: http://www.portlandoregon.gov/transporta-tion/article/421653?archive=yes

Exemplo de aplicação de trincheira de infiltração asso-ciada com biorretenção em uma rua de Portland, Oregon, Estados Unidos. Fonte: http://www.museumofthecity.org/portlands-green-streets/

Após estudo sobre a forma, funcionamento, vantagens e desvantagens das trincheiras de infiltração, foi iniciado o estudo de como seria a aplicação destas na área determinada anteriormente.

Para isso foi feito um pré-dimensionamento das estruturas, com a fi-nalidade de verificar se a aplicação no projeto seria viável. A partir do pré-dimensionamento, foram testadas algumas possibilidades de

aplicação no meio urbano existente, buscando associar as técnicas compensatórias com a infraestrutura de drenagem convecional.

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

APLICAÇÃO NO PROJETO

61

Vale ressaltar que os cálculos realizados a seguir para o dimensiona-mento das trincheiras de infiltração são referentes a uma etapa de pré-dimensionamento. Para um dimensionamento real e mais preciso outros fatores e análises como, por exemplo, análise do solo do lo-cal, deveriam ser executados e levados em consideração. É importante dizer que para a avaliação precisa do desempenho das técnicas com-pensatórias, integradas ao sistema de drenagem convencional, deve se realizar modelos hidrológicos e hidráulicos, através de softwares específicos.

Seguindo o exemplo descrito para dimensionamento de trincheiras de infiltração na publicação sobre manejo de águas pluviais do PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico – o método utilizado é o “Método das Chuvas” que, basicamente, leva em consideração para o dimensionamento o volume de entrada e o volume de saída de água na trincheira.

O volume do dispositivo deverá ser suficiente para armazenar a máxima diferença entre os volumes acumulados de entrada e saída. O Volume de entrada é baseado na precipitação do local, num determinado perío-do de tempo, e o volume de saída é baseado na infiltração de água no solo do local.

Para um dimensionamento preciso é necessário avaliar a permeabili-dade do solo e obter valores da condutividade hidráulica à saturação do mesmo, através de ensaios realizados no local de implantação da trincheira, com um permeâmetro de Guelph. Porém, por falta de dados

do solo da região de intervenção e também, como já citado, por se tratar de um exercício de projeto adotou-se como parâmetro alguns tipos de solo, que resultam em diferentes cenários, melhor descritos mais adiante.

Um fator importante a ser considerado no dimensionamento das trincheiras é a colmatação, que se trata da perda da capacidade de infiltração da superfície devido à obstrução dos poros existentes pela deposição de materiais em suspensão nas águas pluviais. Deste modo, após certo tempo de funcionamento da estrutura, a deposição compro-mete o desempenho da trincheira. Portanto, para os cálculos, apenas as paredes laterais da trincheira são consideradas como área de su-perfície de infiltração, pois se considera que o fundo será colmatado rapidamente.

O coeficiente de segurança contido na equação depende do local da obra e a manutenção que a trincheira receberá. Nesse cálculo adotou-se que o coeficiente de segurança é igual a 1.

Para o dimensionamento, foi adotado o tempo de retorno (T) de 2 anos, valor normalmente indicado para obras de microdrenagem e áreas de ocupação residencial.

A diferença máxima (DHmax) entre os volumes de entrada e os volumes de saída será a altura máxima a armazenar na trincheira sem que haja transbordamento.

dimensionamento

4 |

Inte

rven

ções

62

1. Estimar o volume inicial da trincheira (Vt):

Para a trincheira situada na Área 1 de microdrenagem, utilizada como exemplo, que possui 112m de comprimento (seguindo a extensão da rua), foram estimadas a largura de 0,8m e a profundidade de 2m. Por-tanto, o volume da trincheira será:

Vt = 112 . 0,8 . 2 = 179,2m³

Considerando que ela será preenchida com brita, com porosidade de 35%, temos o volume efetivo de:

Vt = 179,2 . 0,35 = 62,72m³

Sendo a superfície de infiltração:

S = 2Lp/2

S = (2. 112. 2)/2 = 224m²

2. Calcular a vazão de entrada (P):

A vazão de entrada é baseada no volume de água precipitado ao longo de um determinado tempo. Para calcular a vazão de entrada utilizou-se a equação de chuvas intensas para a cidade de São Paulo (DAEE, 1999):

it,T = 39,3015 (t+20)–0,9228+ 10,1767 (t+20)–0,8764.[–0,4653–0,8407 ln ln(T/T-1)]

Chegando à seguinte previsão de alturas de chuva, adotando T=2 anos:

Duração t (min)

10 20 30 60 120

Altura de chuva (mm)

16,2 24,9 30,3 39,3 46,8

3. Coeficiente de escoamento superficial (C):

O coeficiente de escoamento superficial, que “estima o rendimento global da chuva (fração da chuva que chega realmente ao exutório da bacia, considerada por meio de escoamento superficial)” (RIGHETTO, 2009) leva em consideração o tipo de ocupação da área de contribuição. Nesta exemplificação, a área de contribuição possui uma parte da área com ocupação residencial densa, cujos valores de C variam de 0,70 e 0,95, e uma parte de vias asfaltadas/concretadas, cujos valores de C variam também entre 0,70 e 0,95. Foi adotado como valor de C o valor médio de 0,85.

C = 0,85

4. Calcular a Vazão de saída (Qs e qs):

A vazão de saída é baseada na infiltração da água no solo, levando em consideração a condutividade hidráulica à saturação do solo local.

dimensionamento

63

A vazão de saída será:

Qs = α K S

Qs = vazão de saída (m³/s)

α = coeficiente de segurança

K = condutividade hidráulica a saturação (m/s)

S = representa a superfície de infiltração (m²)

Considerando-se que a área de contribuição da estrutura de infiltração é de 0,492 hectares, ou 4920m², a vazão especifica de saída, por uni-dade de área de contribuição (Ac), será:

qS = Qs/Ac

5. Tipo de solo:

Como não seria possível realizar ensaios de condutividade hidráulica no solo da área, foram adotados para esse dimensionamento alguns valores de K, para efeitos de comparação, pois cada K inserido nos cálculos, forneceria um cenário diferente. Quanto menor o K adotado, mais lenta é a infiltração de água no solo. Assim, se o K do solo for muito pequeno, a trincheira de infiltração terá de ter um volume muito grande, o que torna esse tipo de estrutura inviável para aplicação, pelo menos nessa situação, pois ocuparia muito espaço, em planta, no es-paço proposto, que são as ruas de 10m.

Deste modo, para a trincheira proposta, foram adotados 4 valores de solo para estudar quais seriam os resultados obtidos e compará-los. Os valores de K adotados foram genéricos, situando-os apenas na ordem de grandeza de classificação:

K1= 5,0.10-7m/s

K2= 5,0.10-6 m/s

K3= 5,0.10-5 m/s

K4= 5,0.10-4 m/s

ORDEM DE GRANDEZA DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA

K (m/s) Tipos de soloPossibilidade de

infiltração

10-1 a 10-3 Seixos sem areia nem elementos finos

Excelentes

10-4 a 10-5 Areias com seixos, areia grossa a areia fina

Boas

10-6 a 10-8 Areia muito fina, silte grosso a silte argiloso

Médias a baixas

10-9 a 10-11 Argila siltosa a argila homogênea

Baixas a nulas

(RIGHETTO, 2009)

4 |

Inte

rven

ções

64

SOLO 1:

Para K1= 5,0.10-7 m/s:

Qs1 = 1. 5,0.10-7.224 = 1,12.10-4 m³/s

qs1 = 1,12.10-4/4920 = 2,28.10-8 m/s = 2,28.10-5 mm/s

qs1 = 1,37.10-3 mm/min

Cálculo da altura específica máxima da trincheira:

SOLO 1d

(min)P

(mm) Pef = P.C

(mm)qs.d (mm)

DH=Pef-qs.d(mm)

10 16.2 13.77 0.01 13.7620 24.9 21.165 0.03 21.1430 30.3 25.755 0.04 25.7160 39.3 33.405 0.08 33.32120 46.8 39.78 0.16 39.62

A máxima diferença entre o volume precipitado e o volume infiltrado é DHmáx= 39,62mm. Portanto, o volume máximo a armazenar dentro da trincheira será:

Vmáx = DHmáx . Ac = 0,03962 . 4920 = 194,93m³

SOLO 2:

Para K2= 5,0.10-6 m/s:

Qs2 = 1. 5,0.10-6.224 = 1,12.10-3 m³/s

qs2 = 1,12.10-3/4920 = 2,27.10-7 m/s = 2,27.10-4 mm/s

qs2 =0,0136 mm/min

Cálculo da altura específica máxima da trincheira:

SOLO 2d

(min)P

(mm) Pef = P.C

(mm)qs.d (mm)

DH=Pef-qs.d(mm)

10 16.2 13.77 0.14 13.6320 24.9 21.165 0.27 20.8930 30.3 25.755 0.41 25.3560 39.3 33.405 0.82 32.59120 46.8 39.78 1.64 38.14

A máxima diferença entre o volume precipitado e o volume infiltrado é DHmáx= 38,14 mm. Portanto, o volume máximo a armazenar dentro da trincheira será:

Vmáx = DHmáx . Ac = 0,03814 . 4920 = 187,65m³

dimensionamento

65

SOLO 3:

Para K3= 5,0.10-5 m/s:

Qs3 = 1. 5,0.10-5.224 = 0,0112 m³/s

qs3 = 0,0112/4920 = 2,27.10-6 m/s = 2,27.10-3 mm/s

qs3 = 0,136 mm/min

Cálculo da altura específica máxima da trincheira:

SOLO 3d

(min)P

(mm) Pef = P.C

(mm)qs.d (mm)

DH=Pef-qs.d(mm)

10 16.2 13.77 1.37 12.4020 24.9 21.165 2.73 18.4330 30.3 25.755 4.10 21.6660 39.3 33.405 8.20 25.21120 46.8 39.78 16.39 23.39

A máxima diferença entre o volume precipitado e o volume infiltrado é DHmáx= 25,21 mm. Portanto, o volume máximo a armazenar dentro da trincheira será:

Vmáx = DHmáx . Ac = 0,02521 . 4920 = 124,03 m³

SOLO 4:

Para K4= 5,0.10-4 m/s:

Qs4 = 1. 5,0.10-4.224 = 0,112 m³/s

qs4= 0,112/4920 = 2,27.10-5 m/s = 2,27.10-2 mm/s

qs4= 1,36 mm/min

Cálculo da altura específica máxima da trincheira:

SOLO 4d

(min)P

(mm) Pef = P.C

(mm)qs.d (mm)

DH=Pef-qs.d(mm)

10 16.2 13.77 13.66 1.7320 24.9 21.165 27.32 -3.6630 30.3 25.755 40.98 -12.1960 39.3 33.405 81.95 -44.62120 46.8 39.78 163.90 -119.44

A máxima diferença entre o volume precipitado e o volume infiltrado é DHmáx= 1,73 mm. Portanto, o volume máximo a armazenar dentro da trincheira será:

Vmáx = DHmáx . Ac = 0,00173 . 4920 = 8,51 m³

4 |

Inte

rven

ções

66

SOLO 1:

Ao compararmos com o volume proposto inicialmente para a trinchei-ra Vt = 62,72m³, vemos que será necessário mais que o triplo de trincheiras com essas dimensões para comportar o volume máximo.

SOLO 2:

Ao compararmos com o volume proposto inicialmente para a trincheira Vt = 62,72m³, vemos que será necessário praticamente o triplo de trincheiras com essas dimensões para comportar o volume máximo. Não diferenciando muito do caso anterior.

SOLO 3:

Ao compararmos com o volume proposto inicialmente para a trincheira Vt = 62,72m³, vemos que será necessário quase o dobro de trinchei-ras com essas dimensões para comportar o volume máximo, já repre-sentando um cenário um pouco mais viável.

SOLO 4:

Ao compararmos com o volume proposto inicialmente para a trincheira Vt = 62,72m³, percebe-se que a trincheira proposta encontra-se su-perdimensionada, sendo quase 8 vezes maior que o necessário.

Após realização dos cálculos para essas 4 possibilidades de solo foi possível observar que:

O Solo 1 e o Solo 2, menos permeáveis, não são uma possibilidade viável para execução de trincheiras, pelo menos nesse caso, já que o volume necessário seria muito maior do que o que poderia ser aplicado nas ruas de 10 metros. Para o Solo 4, a trincheira proposta encontra-se superdimensionada, podendo ter proporções menores do que as propostas caso fosse aplicada. O Solo 3, apesar de demandar o dobro de trincheiras do proposto inicialmente, ainda pode receber a aplicação das trincheiras, sendo possível de alocá-las nas ruas de 10 metros.

Para dar continuidade aos exemplos de aplicação das trincheiras, es-colheu-se o Solo 3, por ser o caso de aplicação mais crítico, ou seja, o que demandaria maior volume e área em projeção na execução, pois, caso fossem encontrados solos mais permeáveis que o Solo 3 no local de aplicação, seria o caso de apenas de redimensionar o volume das trincheiras para reduzi-las.

A partir da escolha do Solo 3 como parâmetro no dimensionamento das trincheiras de infiltração, explorou-se as possibilidades de aplicação dessas trincheiras nas ruas de 10 metros.

análise dos resultados

67

Na primeira possibilidade de tipologia para as trincheiras, foi pensada a composição mostrada no corte transversal acima, de maneira que haja uma trincheira de infiltração funcionando como um canteiro central de

80cm de largura e 2m de profundidade e outra instalada sob o passeio, com as mesmas dimensões. Essas estruturas seriam lineares e, por-tanto, instaladas ao longo de toda a via.

ESC 1:75TIPOLOGIA 1 - CORTE TRANSVERSAL

1.4 m 3.5 m 0.8 m 2.7 m 1.6 m

i=2%

drenodreno

poço devisita

i=2%

lotes lotes

tipologias

4 |

Inte

rven

ções

68

Nessa outra possibilidade de tipologia para as trincheiras, foi pensa-da a composição mostrada no corte transversal acima, com as duas trincheiras de infiltração de 80cm de largura e 2m de profundidade ins-

taladas sob o passeio. Essa opção proporciona vias mais confortáveis para os automóveis, com duas pistas de 3,5m.

ESC 1:75TIPOLOGIA 2 - CORTE TRANSVERSAL

1.4 m 7.0 m 1.6 m

i=2% i=2%

drenodreno

poço devisita

lotes lotes

tipologias

69

Nessa tipologia, como mostra o corte transversal acima, existe apenas uma trincheira de infiltração de 160cm de largura e 2m de profundi-dade, que funciona como canteiro, instalada junto ao acesso aos lotes.

Essa opção proporciona uma via um pouco estreita para circulação dos automóveis.

ESC 1:75TIPOLOGIA 3 - CORTE TRANSVERSAL

1.4 m 5.4 m 1.6 m1.6 m

i=2%

dreno

poço devisita

lotes lotes

tipologias

4 |

Inte

rven

ções

70

O acesso aos lotes pode ser melhor observado no corte longitudinal da trincheira. As trincheiras encontram-se localizadas junto ao passeio, funcionando como um canteiro. A vegetação é interrompida em alguns

momentos, para que veículos e pedestres possam acessar o interior dos lotes.

ESC 1:75TIPOLOGIA 3 - CORTE LONGITUDINAL

1.4 m 5.4 m 1.6 m1.6 m

tipologias

71pavimento permeável reservatório

Por se tratar de uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), a legis-lação contida no Plano Diretor do município permite que as vias pos-suam largura menor, de 7 metros, sendo 5 metros de leito carroçável e 1 metro de calçada em cada lado.

Assim, nessas ruas com 7m de largura, não seria possível a aplicação das trincheiras com canteiros (nas dimensões propostas na etapa ante-rior), pois a via mais estreita comprometeria a instalação deste sistema. Desta forma, uma outra solução de técnica compensatória seria o uso do pavimento permeável reservatório no leito carroçável.

Como o próprio nome diz, trata-se de um pavimento adaptado para absorver a lâmina d’água precipitada sobre ele, permitindo que este volume seja armazenado nos vazios da base do pavimento durante um certo tempo. A água escoa através da base, que possui o fundo com uma pequena inclinação, em direção aos drenos, retardando assim o escoamento, que leva mais tempo para atingir as galerias de drenagem (MARTINS, 2012).

Seu funcionamento, portanto, é bastante parecido com o da trincheira de infiltração, com a diferença que a água retida no interior do pavi-mento não infiltra no solo, pois isso afetaria o próprio desempenho da função do pavimento, que se deformaria facilmente com o passar de veículos, por exemplo.

A primeira camada, a camada porosa de revestimento, pode ser com-posta de blocos de concreto porosos ou de asfalto poroso tipo CPA. Neste caso, o material adotado no projeto foi o asfalto tipo CPA. Esse

tipo de asfalto apresenta algumas vantagens em relação ao asfalto co-mum, tais como: alta permeabilidade, diminuição da distância de fre-nagem, redução da aquaplanagem, diminuição do spray e até mesmo redução de ruído.

Há ainda uma camada de transição e uma base composta de material granular, como a brita, que possui porosidade em torno de 30% a 35%. Ou seja, cerca de 30% a 35% do volume da camada granular é de

CPA

Macadame betuminoso

Base e Sub-base (Macadame Hidráulico)

Pó de Pedra

Projeção do dreno

escoamento escoamento

5cm

5cm

30cm

5cm

ESC 1:10DETALHE PAV. PERMEÁVEL RESERVATÓRIO - CORTE TRANVERSAL

geomembrana impermeável (1mm)

4 |

Inte

rven

ções

72

vazios, que serão preenchidos pela água precipitada.

O uso desse sistema de pavimento parece ser eficiente: “Estudos de diferentes pesquisadores e projeções apoiadas em modelação matemática e observações de campo indicam que a eficiência é da ordem de 66%, isto é, para uma precipitação de 30mm o escoamento resultante equivale a uma precipitação de 13mm”(MARTINS, 2012).

As principais desvantagens da adoção do pavimento permeável res-ervatório, é a necessidade de manutenção específica, perda da eficiên-cia por colmatação e resistência mecânica, sendo indicado para áreas com menor fluxo de veículos (TRINDADE, 2009).

Outra questão importante para a implantação do pavimento permeável reservatório é a inclinação da via na qual será aplicada. No caso de vias

escoamento

ESC 1:25DETALHE PAV. PERMEÁVEL RESERVATÓRIO - CORTE LONGITUDINAL

dreno

i=1,5%i=0,5%

i=0,5%íngremes, a base do pavimento deve ter vedações (associadas com o dreno) em intervalos calculados, para que não haja afloramento da água represada. Desta forma, o volume de brita necessário acaba sendo maior do que para vias planas ou pouco inclinadas (até aproximada-mente 6%), o que leva à conclusão que a implantação do pavimento permeável em vias com declividade mais acentuada se torna desvanta-josa economicamente.

Asfalto poroso CPA. Fonte: MARTINS, 2012

Bloco de concreto poroso. Fonte: MARTINS, 2012

pavimento permeável reservatório

73

O pavimento permeável reservatório possui a mesma ideia de retenção das trincheiras de infiltração e a altura da camada porosa do pavimento pode ser determinada através da seguinte equação (MARTINS, 2012):

H = DRi µ

Onde:

H = espessura total da camada reservatório (m);D = duração da chuva (h);R = relação entre a área drenada e a área de infiltração;µ = porosidade do material granular (relação entre volume de vazios e volume total);i = intensidade pluviométrica (m/h).

Foram adotados os mesmo parâmetros de precipitação e de solo utili-zados no dimensionamento das trincheiras de infiltração. Os dados que se alteram são os que se baseiam nas dimensões do pavimento e a área de contribuição que agora será de 4345 m².

A rua que utilizaremos como exemplo de dimensionamento, possui 116 metros de extensão e 4,2 metros de leito carroçável, resultando numa área, em projeção de 487,2m². Foi considerado que a camada porosa será preenchida de brita com porosidade de 35% .

A altura total precipitada foi dimensionada, assim como no dimen-

sionamento das trincheiras, adotando o tempo de retorno T=2 anos e a duração de 10 minutos, resultando na altura de 16,2mm, como mostrado na tabela da página 62.

Desta forma, temos:

i = 16,2 mm / 10 min

i = (16,2/1000) . (10/60) = 0,0972 m/h

H = 10/60 . (4345/487,2) . 0,0972 0,35

H = 0,4128m = 41,28 cm

Assim, foi adotado 42cm para a altura da camada porosa do pavimento permeável reservatório, como mostrado na tipologia apresentada adi-ante.

dimensionamento

4 |

Inte

rven

ções

74

A base do pavimento permeável possui uma inclinação, de forma a direcionar a água pluvial para o dreno, que escoa a água lentamente para o sistema de drenagem. Com esse sistemas, o pavimento reserva

a água pluvial em seu interior durante um determinado tempo, con-tribuindo para a redução dos picos de cheia.

ESC 1:75PAVIMENTO PERMEÁVEL - CORTE TRANSVERSAL

4.0 m1.5 m 1.5 m

dreno

galeria de águas pluviais

lotes lotes

tipologia

75

4 |

Inte

rven

ções

76 exemplo de aplicação

Os exemplos de dimensionamento e tipologias tomaram como parâmetro duas ruas escolhidas dentro do limite da área de interven-ção de microdrenagem. Para exemplificar a aplicação dos exemplos no meio urbano, foi escolhida para as ruas com largura de 10 metros a tipologia 1 e a tipologia de pavimento permeável para as ruas com largura de 7 metros. Lembrando que trata-se de um pequeno exemplo de aplicação e que essas tipologias poderiam ser aplicadas nas demais ruas dessa área.

Ao longo do córrego foi proposta uma faixa de área verde com aproxi-madamente 30m de extensão para preservação do próprio córrego, dentro da qual passam os coletores de esgoto, junto ao leito carroçável. Feito isso, essas ruas residenciais teriam de ser sem saída, terminando em cul-de-sac, para facilitar o retorno dos veículos.

Esse desenho proposto condiz com os próprios projetos propostos pela prefeitura, indicados anteriormente, e com as remoções que estão sendo realizadas na área atualmente.

As ruas com largura igual a 10m, com término em cul-de-sac, teriam duas pistas de rolamento, prevendo que uma delas seria mais larga (a mais estreita teria 2.7m e a mais larga 3.5m), para que veículos maiores como caminhão de lixo e ambulância possam circular com maior conforto.

Devido à inclinação da rua, de aproximadamente 4,5%, as trincheiras de infiltração tem de ser instaladas em patamares acompanhando o desnível, de modo que a água possa ficar retida adequadamente. Sobre

a estrutura das trincheiras centrais seria instalado um canteiro verde, funcionando como biorretenção e contribuindo para melhorar a pai-sagem urbana, agora mais agradável arborizada.

As ruas com largura igual a 7m, com término em cul-de-sac, teriam uma pista de rolamento para carros, já que o leito carroçável é muito esteito (4,5m), não havendo espaço suficiente para duas pistas. O pavi-mento permeável reservatório seria aplicado em toda a extensão do leito carroçável.

Por se tratar de uma área residencial, cujo fluxo de pessoas pode ser grande, foi proposta uma nova transposição, na rua de 10m, ligando uma margem à outra, facilitando a circulação e acesso aos espaços criados ao longo do córrego Ponte Alta.

77

LOTES

pav. perm. res. pav. perm. res.

pav. perm. res. pav. perm. res.

LOTES

LOTES LOTES

LOTES LOTES

ruas com 10 metros de largura, equipadas com trincheiras de infiltração sob o passeio (não ficam à mostra) e trincheiras em forma de canteiro central.

criação de mais transposições para interligar melhor as duas margens

área verde linear, ao longo do córrego.

ruas com 7 metros de largura com pavimento permeável em sua extensão.

ESC 1:1500IMPLANTAÇÃO DAS SOLUÇÕES DE MICRODRENAGEM SUGERIDAS 4

| In

terv

ençõ

es

78 exemplo de aplicação

ESC 1:200RUAS COM 10M DE LARGURA - CORTE LONGITUDINAL

área verde instalada ao longo do córrego na faixa de preservação

permanente

novas transposições ao longo do córrego

Av. Cid Nelson Jordano

drenos

79

as trincheiras devem ser instala-das em patamares acompanhando a declividade da rua (aproximada-mente 4,5%), para que a água fique devidamente retida.

i=4,5%

galeria de águas pluviais

4 |

Inte

rven

ções

80 exemplo de aplicação

ESC 1:200RUAS COM 7M DE LARGURA - CORTE LONGITUDINAL

área verde instalada ao longo do córrego na faixa de preservação

permanente

Av. Cid Nelson Jordano

81

pavimento permeável

i=4,5%

galeria de águas pluviais

dreno

4 |

Inte

rven

ções

82 parque urbano central

No perímetro da área denominada como “Parque Central” no Plano Diretor Municipal, foi pensado um parque para servir à população da região. O limite delimitado pelo Plano Diretor do município como Parque Central, possui uma área de aproximadamente 79.441m².

A intenção é desenvolver o espaço, principalmente, para o uso de práticas esportivas e lazer, infraestrutura em falta atualmente na região, como visto no mapa de equipamentos urbanos mostrado anteriormente. Também foi priorizada a consolidação de espaços já existentes em seu entorno, como campos de futebol, requalificando os espaços para o uso já existente e buscando integrá-los ao Parque Central.

No trecho que contém o parque, o córrego não está canalizado atual-mente. Porém, ao longo da Av. Cid Nelson Jordano ele encontra-se canalizado e ao longo da Rua Vicente Leporace encontra-se canalizado sob o sistema viário. Para esse cenário, foi proposta a descanalização do córrego e recuperação de suas margens, formando uma linha verde que interliga os espaços verdes existentes e propostos.

Como a parte de cota mais baixa do Parque é apontada pelo PDM como área de inundação foi prevista, pelo menos nesta margem do córrego, a faixa não edificante de 30 metros, e ocupações que não apresentem risco dentro desta faixa inundável, como segurança para eventuais e possíveis inundações.

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTA

DESTAMPONAÇÃO DO CÓRREGO

RECOMPOSIÇÃO DAS MARGENS

CÓRREGO PONTE ALTA

PARQUE CENTRAL

LEGENDA

ÁREAS DE INUNDAÇÃO

83

PARQUE CENTRAL - IMPLANTAÇÃOESC 1:5000

PARQUE CENTRAL

CAMPOFUTEBOL

4 |

Inte

rven

ções

84 parque urbano central

NOVOS ACESSOSForam criados novos acessos para o parque, que atualmente encon-tra-se segregado de seu entorno devido aos lotes localizados em seu perímetro, a fim de integrá-lo melhor com o meio urbano imediato. Esses acessos, assim como no exemplo de microdrenagem, também foram feitos como ruas sem saída, terminando em cul-de-sac.

QUADRAS-RESERVATÓRIONo ponto mais baixo do Parque, já próximo ao Córrego Ponte Alta, e ainda dentro dos limites de inundação proposto pelo PDM, foi implan-tado um conjunto de três quadras poliesportivas para lazer e esporte.

Ao redor dessas quadras foi proposta uma arquibancada ao ar livre, aproveitando o desnível do terreno, possibilitando que esse espaço também seja utilizado para apresentações, espetáculos, exibição de filmes, etc. ou até mesmo para realização de eventos da comunidade.

Essas quadras tem o nível rebaixado em relação ao entorno, de modo que funcionam também como reservatório de retardo de águas plu-viais. A drenagem pluvial dos lotes do entorno é captada e direcionada para esse reservatório, bem como a água pluvial do parque, que acaba sendo naturalmente direcionada a este ponto, devido ao declive.

O último banco da arquibancada, que fica na cota mais baixa, esconde um sistema de canaletas que encaminha a água captada lentamente para o córrego, conforme mostrado no detalhe mais adiante.

Assim, nos períodos de chuvas intensas essas quadras rebaixadas em 2m ficam cheias d’água, somando o volume aproximado de 11000m³, funcionando como reservatório, e após a drenagem finalizada podem voltar a ser utilizadas como quadras.

LIMITE DA BACIA DO CÓRREGO PONTE ALTA

NOVOS ACESSOS

CAPTAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS DOS LOTES DO ENTORNO

CÓRREGO PONTE ALTA

LEGENDA

85

PARQUE CENTRAL - IMPLANTAÇÃOESC 1:5000

PARQUE CENTRAL

CAMPOFUTEBOL

4 |

Inte

rven

ções

86

PARQUE CENTRAL - PLANTAESC 1:1000

D

B

C C

B

parque urbano central

BALNEÁRIO ÁREA DE LAZER

BOSQUE

87

CÓRREGO PONTE ALTA

A AQUADRAS

POLIESPORTIVAS

4 |

Inte

rven

ções

88

PARQUE CENTRAL - CORTE LONGITUDINALESC 1:1000

balneário

áreas de lazer(churrasqueiras, equipamen-

tos de ginástica, etc)

parque urbano central

OUTROS USOSAlém das propostas projetuais da quadra-reservatório e do balneário, melhor descrito a seguir, foram feitas outras pequenas propostas para ampliar os usos do Parque.

Na cota mais alta do Parque, onde já existe uma massa vegetativa, foi proposto um bosque com plantio complementar de espécies arbóreas

nativas da mata atlântica, conforme a preferência indicada no Plano Diretor.

Esse bosque além de contribuir para a diminuição da velocidade de escoamento, também contribui para a retenção da poluição difusa da água pluvial, que tender chegar às cotas mais baixas um pouco menos poluída.

89

quadras poliesportivas

Entre o balneário e as quadras, apesar de não ter sido detalhado por meio de projeto, seria criado um espaço de lazer, que contaria com equipamentos como churrasqueiras, playgrounds e equipamentos de ginástica ao ar livre.

Poderia ser feita também uma horta comunitária, mantida pelos mora-dores das imediações. Pode-se pensar até mesmo em associar essa horta comunitária ao aprendizado escolar, visto que há muitos equipa-

mentos desse no entorno do Parque Central, aumentando o contato das crianças e jovens com a educação ambiental.

O intuito de criar todos esses outros usos complementares é diversi-ficar as atividades do Parque, podendo atrair diferentes públicos, em diferentes dias e horários, mantendo o local sempre vivo. E através dessas atrações, aumentar o vínculo da população com o Parque.

4 |

Inte

rven

ções

90

QUADRAS POLIESPORTIVAS - CORTE AAESC 1:400

quadras poliesportivas e arquibancada ao ar livre

parque urbano central

91

dreno conduz a água pluvial até o Córrego Ponte Alta

sistema de canaletas sob o banco em todo o perímetro das quadras

sistema de canaletas sob o banco em todo o perímetro das quadras

4 |

Inte

rven

ções

92 parque urbano central

Os bancos instalados ao longo de toda a extensão da quadra fazem parte do sistema de drenagem. A água pluvial reservada no interior da quadra vai se esvaziando aos poucos, por meio do sistema apresentado acima: passa por uma grelha de concreto, que serve como uma pe-neira, impedindo que a poluição e lixo bloqueie a drenagem; segue em

direção a canaletas que percorrem todo o perímetro da quadra e depois em direção a um dreno, que ruma em direção ao córrego.

canaleta canaleta canaleta

grelha deconcreto

grelha deconcreto

grelha deconcreto

banco banco banco

ESC 1:10CORTE BANCO DA ARQUIBANCADA

93

BALNEÁRIOAo verificar que os equipamentos de esporte e lazer existentes na área de estudo são em sua maioria quadras poliesportivas ou campos de futebol informais, outra proposta para o Parque Central é a criação de um balneário, com o objetivo de criar opções diferentes de lazer e prática esportiva, localizado na cota média do Parque.

As piscinas foram propostas por não haver em Taboão da Serra nen-hum outro tipo de equipamento público que ofereça esse uso. Existem alguns exemplos bem sucedidos desse tipo de equipamento em São Paulo, como o Pelézão e o SESC Itaquera.

A área do parque pode funcionar como um clube, oferecendo aos munícipes atividades para a saúde, bem-estar, lazer, praticas esporti-vas. Pode até mesmo ser instituído um programa, seguindo outros ex-emplos, como o do programa Clube Escola do município de São Paulo, que utiliza a infraestrutura pública dos Clubes Esportivos Municipais para oferecer às crianças e jovens em idade escolar a oportunidade de participar das atividades esportivas, recreativas e de lazer.

Programas desse tipo podem contribuir não somente para a saúde da população, mas também incentivar o esporte, descobrir e incentivar novos talentos, possibilita vínculos familiares e comunitários, etc.

O conjunto de piscinas foi separado em duas áreas: uma coberta e outra ao ar livre, separadas fisicamente por caixilhos de vidro, ou algum outro material translúcido, mas conectadas visualmente. Esse elemento

translúcido pode ser dotado de um sistema de abrir e fechar, integrando os dois ambientes e tranformando-os em um único, quando necessário.

Na área coberta, onde há um controle maior do ambiente, existem duas piscinas mais voltadas para a prática esportiva (sendo uma delas semi olímpica) que podem funcionar o ano todo para treinamentos, aulas de natação para a comunidade, etc. Mas nada impede que possam ser utilizadas também para o lazer.

O acesso pode ser feito tanto pela cota superior, por meio das arquiban-cadas, como pela cota inferior. Embaixo da arquibancada, que assim como as quadras poliesportivas, também tira proveito da topografia, há uma área de aproximadamente 325m² destinada às áreas de apoio, vestiário, depósito de materiais, administração.

Na área descoberta, as piscinas são voltadas para o lazer e recreação, com um conjunto de piscinas com variados tamanhos e variadas pro-fundidades, que vão de 1,8m a 0,6m (infantil), para que diferentes faixas etárias possam utilizá-las.

O acesso também se dá pela cota superior, por meio da escadaria/ar-quibancada e pela rampa, ou pela cota inferior. Foi previsto um peque-no volume, com área de aproximadamente 95m² para abrigar vestiários, guarda volumes, depósito, etc.

4 |

Inte

rven

ções

94

BALNEÁRIO - CORTE DDESC 1:400

piscina semi olímpica acessos

parque urbano central

95

vestiários piscina infantilpiscina recreativapiscina recreativa

4 |

Inte

rven

ções

96

BALNEÁRIO - CORTE BBESC 1:250

vestiários, administração,área técnica, depósito de materiais, etc. piscina semi olímpica

parque urbano central

97

BALNEÁRIO - CORTE CCESC 1:250

piscinas recreativas

4 |

Inte

rven

ções

98 áreas industriais

DRENAGEM EM LOTES INDUSTRIAISPara as áreas assinaladas como 5 e 6 no mapa da página 53, não foram feitas proposta projetuais, pois intervenções em lotes particulares não são o foco principal deste trabalho, mas foram feitas recomendações direcionadas ao poder público e até mesmo aos proprietários desses lotes particulares, de intervenções intralote que podem contribuir para a drenagem da bacia como um todo.

Essas duas áreas são áreas industriais, que costumam ser áreas bastante extensas cujo uso acaba demandando grandes áreas impermeabiliza-das também. Apesar dissso, pode-se tirar proveito da cobertura extensa dessas indústrias, utilizando-as para a captação de águas pluviais.

As águas captadas poderiam ser encaminhadas para um tanque de re-tardo, seguindo o exemplo da Lei Nº 13.276 de São Paulo que “torna obrigatória a execução de reservatório para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500,00 m²”.

O próprio Plano Diretor incentiva a ampliação do uso desse sistema, conforme descrito no Art. 41, inciso IV: “estimular e fiscalizar a con-strução de tanques de retenção por particulares, para ampliar a reten-ção de águas das chuvas, buscando evitar as enchentes”. E conforme o Art. 98: “Os empreendimentos novos e localizados em terrenos com área superior a 500m² (quinhentos metros quadrados) poderão implan-tar tanques de retenção destinados a retardar em duas horas a chegada das águas pluviais no sistema de drenagem, córregos e rios.”

Associado à captação das águas pluviais, poderia ser previsto um sis-tema de reúso, no qual a água poderia ser utilizada para irrigação de jardins, bacias sanitárias, etc.

Outra estratégia que poderia ser adotada é o pavimento permeável em áreas como estacionamentos, já que normalmente representam áreas relativamente grandes e geralmente tem pouco tráfego e são horizon-tais, sendo o cenário ideal para a aplicação do pavimento permeável reservatório.

ÁREA 5Dentro dos limites da área 5 encontram-se indústrias como a Homag (indústria de madeira e móveis) e Sherwin-Williams (fabricação de tin-tas), além de outros galpões industrais de menor porte.

Esta área industrial está compreendida no que seria a área de interven-ção 9 do plano diretor de macrodrenagem, conforme dito anteriormente e situada na região de nascente do Córrego Ponte Alta Devido a este último fato, seria interessante que a água captada dentro dos lotes pu-desse ser infiltrada no solo, fazendo a reposição do aquífero.

Desta forma, poderiam ser aplicadas, além das propostas de captação pluvial anteriores, técnicas compensatórias visando a infiltração da água. Podem ser aplicadas trincheiras de infiltração, como as utilizadas nas áreas de microdrenagem, ou poços e valetas de infiltração, que tem a mesma lógica.

99

ÁREA 6A área 6 está situada próximo à foz do Córrego Ponte Alta, onde ele se junta ao Córrego Poá. Neste trecho, o Córrego Ponte Alta tem seu curso confinado entre os muros de dois lotes industriais, conforme mostrado nas fotografias do local, nas páginas 34 e 35.

Para este cenário, poderia ser feita a recomposição das margens do córrego, que hoje são inexistentes, trazendo vida ao córrego e integran-do-o à paisagem. Essa recuperação poderia ser acompanhada da cri-ação de uma faixa não edificante e permeável de no mínimo 15 metros para cada margem, permitindo que o córrego extravase em períodos de cheia. Tal medida, associada às medidas da área de microdrenagem propostas anteriormente, poderia contribuir para a eliminação do ponto de inundação 9 do mapa da página 39.

Lembrando que a aplicação da captação de água pluvial e controle na fonte através das técnicas compensatórias também se aplicam e ajudam a evitar as inundações.

4 |

Inte

rven

ções

100

Estruturas das habitações sobre o Córrego Ponte Alta. Fonte: Imagens retiradas do Plano Diretor de Macrodrenagem do município.

Habitações contruídas sobre o Córrego Ponte Alta. Fonte: Imagens retiradas do Plano Diretor de Macrodrenagem do município.

áreas de risco

REMOÇÃO DE HABITAÇÕES EM OCUPAÇÃO DE RISCOA área assinalada no mapa da página 53 como área 4, é uma área de ocupação predominantemente residencial e está compreendida no que seria a área de intervenção 8 do plano diretor de macrodrenagem, con-forme apontado anteriormente.

Conforme descrito anteriormente, as habitações dessa área encontram-

se instaladas sobre o leito do córrego Ponte Alta, com a estrutura apoi-ada, muitas vezes, sobre o próprio córrego.

Essa situação apresenta risco para as família que residem nessas hab-itações, principalmente por essa área ser apontada como área de in-undação pelo Plano Diretor de Macrodrenagem (ver ponto de inundação 8 da página 39), ou seja, qualquer alteração do nível do córrego afeta

101

rapidamente essas famílias.

Apesar deste trabalho não ter como objetivo principal abordar os lotes particulares ou remoções habitacionais, por se tratar de uma área que interfere diretamente na área do Córrego Ponte Alta, foi proposta a re-moção das famílias desta área, por se tratar de uma ocupação de risco. Essas famílias teriam que ser realocadas, por meio de programas habi-tacionais do município, de preferência para localizações próximas.

A remoção daria lugar a uma área verde, que serviria como área de preservação do curso d’água e daria continuidade ao Parque Central, extendendo-se em um parque linear, ao longo do Córrego Ponte Alta, conforme mostra a mancha verde do mapa “parque urbano do córrego ponte alta” da página 51. Desta maneira, seria maior a conexão entre as áreas verdes existentes e as áreas verdes propostas.

Vale ressaltar, que essa medida difere da medida convencional sug-erida pelo plano de drenagem, que é a canalização e desvio do córrego sob o viário. Como se pode ver, atualmente ainda são adotadas opções convencionais de drenagem, cuja alternativa usual ainda é a canali-zação, caindo na lógica do “afastamento das águas”.

4 |

Inte

rven

ções

considerações finais5

104 considerações finais

Como conclusão, podemos voltar ao ínicío deste trabalho, à imagem introdutória do Piscinão Eliseu de Almeida, na qual a pergunta inicial deste trabalho era se esse tipo de abordagem era a única ou o melhor cenário para solucionar o problema das enchentes.

Após o estudo, percebeu-se que a drenagem no formato clássico e o uso dos reservatórios são medidas que tem cunho corretivo, já que foram implantadas para sanar o problema das enchentes quando elas já haviam atingido situações críticas, e que ainda não atuam na fonte do problema, que seria o controle do escoamento gerado.

Ao longo do trabalho, percebeu-se que existem então outras possibili-dades e abordagens para a drenagem no meio urbano, conforme apre-sentado, que não só a drenagem clássica ou convencional que vemos instalada atualmente em São Paulo e sua região metropolitana.

Porém, percebeu-se também que para que isso aconteça, a urbani-zação deveria ocorrer preferencialmente de outra maneira e não como ocorre atualmente, na qual a ocupação precede a urbanização.

Com a urbanização sendo feita corretamente, respeitando itens como taxas de permeabilidade mínimas, não ocupação das margens dos cur-sos d’água, inclinações de ruas adequadas, a drenagem por si só já poderia ser pensada a partir de uma lógica preventiva e não corretiva, como é a lógica de implantação dos piscinões.

Além disso, viu-se que mesmo no meio urbano já ocupado ou con-solidado, podem ser aplicadas outras formas de drenagem, conforme

apresentado através das técnicas compensatórias de drenagem.

Ao longo do trabalho ficou comprovado que, apesar de haver certas limitações como avaliação de aplicação que variam de acordo com o local e solo, as técnicas compensatórias são perfeitamente aplicáveis ao meio urbano, como se pode ver em exemplos de cidades como é o caso de Portland, nos Estados Unidos.

Ainda, as técnicas compensatórias podem ser associadas à estrutura de drenagem convencional já existente e sua aplicação implica numa menor intervenção e menos onerosa em relação às grandes interven-ções propostas pelo conceito higienistas, como as canalizações, e tam-bém contribui para minimizar a necessidade desse tipo de intervenção.

É importante dizer que, mesmo sendo essa maneira de abordar a drenagem no meio urbano possível e aplicável, ainda há algumas bar-reiras a ser vencidas para que esses elementos novos sejam efetiva-mente aplicados na cidade atualmente.

Em primeiro lugar, percebe-se que há uma necessidade de mudança de pensamento e perda do preconceito pelo emprego de técnicas novas, tanto por parte de quem especifica esses elementos como do poder público.

Falta também que o poder público se empenhe em se atualizar quanto às novas discussões e tecnologias disponíveis e os incorpore em suas especificações e normas técnicas, por exemplo, já que a execução de dispositivos novos, como são os das técnicas compensatórias, enfren-

105

tam dificuldades para passar por aprovação e execução. Ou seja, falta uma melhor gestão por parte do poder público, integrando políticas públicas de habitação, regulamentação do uso e ocupação do solo e atualizações técnicas que viabilizem as medidas estruturais, como a-contece no caso de Portland.

Contudo, pode-se dizer que talvez já venha ocorrendo uma certa mu-dança no cenário atual da drenagem, ainda que timidamente, visto propostas de parques lineares feitas para o município de São Paulo, como por exemplo no programa “100 parques” (TRAVASSOS, 2010), e de iniciativas como o projeto do Córrego das Corujas, na Vila Madale-na, bairro de São Paulo, que traz avanços em relação à drenagem, com uso de outras alternativas que não só as que englobam a drenagem clássica.

106

BRAGA, Miton; FRANCO, Fernando de Mello; MOREIRA, Marta. Vazios de água. Ensaio publicado na Revista Eletrônica de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, 2007.

BAPTISTA, M. (2011). ETG UFMG. Disponível em < http://www.etg.ufmg.br/tim1/palestradrenagemmarcio.pdf > (Acessado em outubro de 2013)

BAPTISTA M., NASCIMENTO, N., BARRAUD, S. Técnicas Compen-satórias em Drenagem Urbana. ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, 2005.

MOURA, Newton, PELLEGRINO, Paulo, SCARATI, José Rodolfo. Transição em infraestruturas urbanas de controle pluvial: uma estra-tégia paisagística de adaptação às mudanças climáticas e à expansão urbana. In: Anais do 11 ENEPEA - Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura. Campo Grande: UFMS, 2012.

CITY OF PORTLAND. Stormwater Management Manual. Revision August 1, 2009. Disponível em <http://www.portlandoregon.gov/bes/47952> (Acessado em outubro de 2013)

EQUAÇÕES DE CHUVAS INTENSAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, Departamento de Águas e Energia Elétrica e Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.

LIMA, Gilson Lameira de. Segurando as águas: modelo de reabilitação de sistema de drenagem urbana com enfoque em retenção urbanís-

referências bibliográficas

tica. São Paulo, FAU-USP, 2003.

MARTINS , José Rodolfo Scarati. Gestão da drenagem urbana: só tec-nologia será suficiente?. São Paulo, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 2012.

RIGHETTO, Antonio Marozzi (Coordenador). Manejo de Águas Pluviais Urbanas. PROSAB. Rio de Janeiro, ABES, 2009.

PDM - PLANO DIRETOR DE MACRODRENAGEM DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA - RELATÓRIO FINAL. Prefeitura de Taboão da Serra, 2011. Disponível em < http://www.taboaodaserra.sp.gov.br/clipart/File/docs/obras/tb013_05_dr8_004.pdf> (Acessado em novembro de 2013)

PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO: Lei complementar Nº 132 de 26 de dezembro de 2006 com as alterações da Lei Complementar 164 de 24 de abril de 2008. Prefeitura de Taboão da Serra, 2008.

PDMAT - Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê . DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica). São Paulo, 1998.

SOUZA, V. C. B. Estudo experimental de trincheiras de infiltração no controle da geração do escoamento superficial. Porto Alegre: IPH-UFRGS, 2002.

TRAVASSOS, Luciana Rodrigues Fagnoni Costa. Revelando os rios: novos paradígmas para a intervenção em fundos de vale urbanos na

107

Cidade de São Paulo. São Paulo, FAU-USP, 2010.

TRINDADE, Rafael. Dimensionamento de trincheira de infiltração seg-undo o rain-envelope-method: uma aplicação experimental. Salvador, UCSAL, 2009.

Endereços eletrônicos:

Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. http://www.daee.sp.gov.br/

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.gov.br/

Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo. http://www.sigrh.sp.gov.br/