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Larissa Ramalho Pereira SERVIÇO SOCIAL: CONSCIÊNCIA CRÍTICA SOBRE A INCLUSÃO DIGITAL E SUAS INTER-RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO. Santa Maria, RS 2008

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Page 1: TFG Larissa

Larissa Ramalho Pereira

SERVIÇO SOCIAL: CONSCIÊNCIA CRÍTICA SOBRE A INCLUSÃO DIGITAL E

SUAS INTER-RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO.

Santa Maria, RS

2008

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Larissa Ramalho Pereira

SERVIÇO SOCIAL: CONSCIÊNCIA CRÍTICA SOBRE A INCLUSÃO DIGITAL E

SUAS INTER-RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Serviço Social - Área de

Ciências Humanas, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para

obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Rosilaine Coradini Guilherme

Santa Maria, RS

2008

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Larissa Ramalho Pereira

SERVIÇO SOCIAL: CONSCIÊNCIA CRÍTICA SOBRE A INCLUSÃO DIGITAL E

SUAS INTER-RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Serviço Social – Área de Ciências Humanas, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

_________________________________________________

Profª. Rosilaine Coradini Guilherme – Orientadora (UNIFRA)

_________________________________________________

Profª. Ms. Nice de Neves Miranda (UNIFRA)

_________________________________________________

Profª. Ms. Nildete Terezinha de Oliveira (UNIFRA)

Aprovado em 10 de dezembro de 2009.

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Dedico este trabalho, a todas as pessoas que de alguma maneira, contribuíram para concretização deste sonho. Principalmente a minha família, meu amor, que sempre esteve ao meu lado no decorrer desta caminhada e em todos os momentos importantes da minha vida. A todos vocês meu singelo reconhecimento e agradecimento.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pois sempre guiou meus passos nos momentos mais

difíceis, fazendo com que a chama da esperança e perseverança nunca se apagasse.

Aos meus pais, que doaram todo seu amor, me apoiando e me incentivando a sempre

prosseguir. Eu amo muito vocês!

Ao meu amor, companheiro e amigo de todas as horas.

Aos meus irmãos, cunhados e sobrinho pela torcida carinhosa.

Aos mestres, que me ensinaram a ver o mundo com outros olhos. Em especial a querida e

admirável professora Nice de Neves Miranda a quem respeito e me espelho.

À minha orientadora e supervisora, Rosilaine Coradini Guilherme, pela paciência,

dedicação, respeito e carinho. Meu muito obrigado.

Ao meu supervisor de campo, André Michel dos Santos, pela admirável persistência e

dedicação. Parabéns.

A todas colegas do curso de Serviço Social e em especial as queridas amigas e colegas

Tatiane, Claudemara, Edilamar, Luciana e Paula, pela amizade, cumplicidade e amabilidade.

A toda equipe do Centro Social Marista Santa Marta, que me recebeu com muito carinho

e me mostram outra face de família.

A todos os professores que contribuíram para em minha formação, meu muito obrigado.

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Vocês podem calar a minha voz, mas não meus pensamentos!Vocês podem acorrentar meu corpo, mas não minha mente!

Não serei platéia dessa sociedade doente, serei autor da minha história!Os fracos querem controlar o mundo, os fortes o seu próprio ser!

Os fracos usam as armas, os fortes as idéias!

(A saga da humanidade)

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RESUMO

O presente Trabalho Final de Graduação foi produzido com base na intervenção social vivenciada a partir da experiência de estagio curricular obrigatório, realizado no Centro Social Marista Santa Marta, localizado na região oeste do município de Santa Maria-RS. A temática abordada envolve a questão digital, mais propriamente a inclusão digital. Deste modo, tem como objeto de estudo a educação digital voltada à inclusão social, apontando as possíveis contribuições do Serviço Social nesta esfera. No decorrer do estudo, busca-se explicitar como as Tecnologias da Informação e Comunicação repercutem na sociedade contemporânea. O exercício da reflexão se torna extremamente necessário à medida que se analisa de forma critica os resultados oriundos dos avanços tecnológicos e suas implicações na vida dos sujeitos. Sendo assim, o trabalho aqui exposto propõe a reflexão acerca da dialética exclusão/inclusão, evidenciando os novos excluídos da Era Digital: os “excluídos digitais”. Parte-se do pressuposto de que a educação é fundamental à medida que se configura como uma ferramenta para construção dos sujeitos enquanto cidadãos aptos a desfrutarem direitos e exercitarem deveres.

Palavras-chaves: Tecnologias da Informação e Comunicação. Serviço Social. Questão digital. Exclusão/inclusão.

ABSTRACT

The End of Work Graduation was produced based on social intervention experienced from the experience of probation mandatory curriculum, held in Santa Marta Marist Social Center, located in the west of the city of Santa Maria-RS. The theme addressed the issue involves digital, more specifically digital inclusion. Thus has the object of study in digital education geared to social inclusion, pointing out the possible contributions of Social Services in this sphere. During the study, try to explain how the Information and Communication Technologies impact on contemporary society. The exercise of reflection becomes extremely necessary as they examined critically the results from the technological advances and their implications on the lives of subjects. Thus, the work displayed here proposes a reflection on the dialectic exclusion / inclusion, showing excluded from the new digital age: the "digital excluded." It is assumed that education is crucial as it configures as a tool for construction of subjects as citizens able to enjoy rights and exercise duties.

Keywords: Information Technologies and Communication, Social Work. Digital issue. Exclusion/inclusion.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................

1 A TRAJETÓRIA HUMANA MARCADA POR DESCOBERTAS

TECNOLÓGICAS .............................................................................................................

1.1 BREVE REFLEXÃO DA HISTÓRIA EVOLUTIVA DA HUMANIDADE ................

1.2 A ERA DA INFORMAÇÃO E SEUS REFLEXOS CONTEMPORÂNEOS ................

1.3 OS NOVOS EXCLUÍDOS: A DIALÉTICA DA EXCLUSÃO/INCLUSÃO ...............

2 O SERVIÇO SOCIAL SINTONIZADO À REALIDADE COMUNITÁRIA E

AOS NOVOS TEMPOS ......................................................................................................

2.1 UM ELO HISTÓRICO ENTRE COMUNIDADE E CENTRO SOCIAL:

HISTÓRIA DE TRABALHO E EMANCIPAÇÃO..............................................................

2.2 O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO COMUNITÁRIO: A TEORIA E A

PRÁTICA COTIDIANA.......................................................................................................

2.3 O DIGITAL NA COMUNIDADE: CENTRO MARISTA DE INCLUSÃO

DIGITAL UMA NOVA PERSPECTIVA DE INSERÇÃO SOCIAL..................................

3 SERVIÇO SOCIAL E OS DESAFIOS DA INCLUSÃO DIGITAL ...........................

3.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NA ERA DIGITAL PARA A INCLUSÃO

SOCIAL.................................................................................................................................

3.2 SERVIÇO SOCIAL INSERIDO NA ERA DIGITAL: UM NOVO CAMPO SÓCIO-

OCUPACIONAL ..................................................................................................................

3.3 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO CMID: RELATO DE EXPERIÊNCIAS .

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................

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INTRODUÇÃO

Este Trabalho Final de Graduação, ora apresentado ao Curso de Serviço Social do

Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), constituiu uma síntese dos conhecimentos

adquiridos no decorrer da graduação, para obtenção do titulo de bacharel em Serviço Social.

A temática abordada envolve a questão digital, mais propriamente a inclusão digital. O

objetivo do estudo é propiciar o debate acerca da importância da educação digital voltada à

inclusão social, apresentando-se as possíveis contribuições do Serviço Social nesta esfera.

O estágio curricular em Serviço Social se realizou no Centro Social Marista Santa

Marta, localizado na região oeste do município de Santa Maria – RS, junto à Comunidade

Nova Santa Marta, durante o período que compreendeu março a dezembro de 2008. No

decorrer do estágio, pode-se vivenciar a questão digital, mais especificamente na área de

formação digital, por meio do Centro Marista de Inclusão Digital – CMDI. O Centro Marista

de Inclusão Digital é um dos projetos sociais desenvolvidos pelo Centro Social Marista Santa

Marta, onde ofertam cursos de qualificação profissional na área informacional aos moradores

da região.

Desta maneira, o presente Trabalho Final de Graduação está disposto em três seções,

cada uma dividida em três subitens, que discorrem de forma minuciosa a temática abordada.

A abordagem detalhada se deve à configuração do tema como categoria nova ao Serviço

Social, necessitando estudos sistemáticos, profundos e meticulosos.

Sendo assim, a primeira seção apresenta, de forma breve, a trajetória histórica da

humanidade, marcada por descobertas tecnológicas que implicaram nas mudanças

paradigmáticas do mundo contemporâneo. Contextualiza, ainda, a presente era da informação,

bem como seus reflexos na atualidade. Por conseguinte, instiga o debate e a reflexão acerca da

categoria inclusão/exclusão, a fim de apresentar os novos excluídos: os excluídos digitais.

A segunda seção apresenta o Serviço Social no contexto comunitário e sua intervenção

junto ao mesmo. Acredita-se ser de extrema relevância a inserção do Assistente Social neste

campo sócio-ocupacional, uma vez que contribui para o enfrentamento das múltiplas formas

de exclusão vivenciadas pela Comunidade Nova Santa Marta.

A terceira seção pontua alguns desafios ao Serviço Social frente à Era Digital e o

processo de exclusão social. Além disto, aponta algumas estratégias de enfrentamento à

questão, tendo em vista a experiência prática de estágio na área de formação digital. Neste

sentido, apresenta os resultados obtidos com a implementação do projeto de intervenção,

contribuindo para futuras experiências de práticas com a questão digital.

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Por fim, realiza um apanhado geral do trabalho, destacando os resultados obtidos a

partir dos estudos e da prática de estágio curricular no decorrer da graduação, além de

apresentar algumas ponderações acerca do tema explanado, revelando algumas propostas e

desafios ao Serviço Social, no que se refere à questão digital e aos novos “excluídos digitais”.

Portanto, este trabalho se caracteriza como uma nova fonte de dados ao Serviço Social,

no que tange à intervenção junto à questão digital. No intuito de trabalhar coerentemente,

utilizou-se de conhecimentos teóricos, tanto do campo do Serviço Social, como de outras

áreas do conhecimento, em especial da Educação, visando relacionar a teoria com a prática.

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1 A TRAJETÓRIA HUMANA MARCADA POR DESCOBERTAS TECNOLÓGICAS

A história torna-se significativa, à medida que relembramos o passado para melhor

compreender o presente e vislumbrar um futuro. Seria inviável entender-se a sociedade da

informação ou sociedade do conhecimento, dependendo do olhar, quando não se apropria da

história do processo evolutivo da humanidade.

O homem está intrinsecamente ligado às mudanças do mundo contemporâneo, mais do

que isso, é o protagonista dessas mudanças; sendo elas aceleradas, contínuas e profundas. O

impacto social ocasionado pela evolução tecnológica vem afetando não só a vida social, como

também toda uma questão ambiental, exercendo influência num contexto mundial.

É de fundamental importância a apropriação do processo evolutivo, onde a única

certeza é a incerteza, em um mundo que se desdobra e se desvela a todo o instante, de forma

visível. Cabe ressaltar, que o exercício da reflexão é extremamente necessário para a análise

crítica dos avanços contemporâneos, mas, principalmente, para a utilização dos benefícios

oriundos das tecnologias, da forma mais inteligente e adequada possível.

Nessa perspectiva, a primeira seção deste Trabalho Final de Graduação em Serviço

Social abordará, de forma breve, as recentes mudanças de paradigmas que influenciaram a

trajetória histórica da humanidade; tendo em vista que parte delas é marcada por avanços

tecnológicos, que implicaram transformações profundas e significativas na vida dos homens.

Desta maneira, esta primeira seção está disposta em três subitens. O primeiro tratará

de resgatar acontecimentos históricos que demarcaram importantes avanços tecnológicos para

o desenvolvimento da humanidade; o segundo subitem apresentará a era atual, pontuando

aspectos positivos e negativos observados; por fim, o terceiro subitem buscará debater e

analisar a dialética inclusão/exclusão, tendo em vista a atual conjuntura social, política e

econômica que se vivencia.

1.1 BREVE REFLEXÃO DA HISTÓRIA EVOLUTIVA DA HUMANIDADE

Uma sucessão de eventos tem marcado a evolução do homem nos últimos séculos. As

mudanças ocorridas são resultados do desenvolvimento do saber, do conhecimento, da

capacidade infinita do homem em criar e recriar, a partir do raciocínio.

Desta forma, cabe recordar fatos que, de alguma maneira, interligam-se,

transformando a vida dos homens na terra, nos mais diferentes aspectos, sejam eles políticos,

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econômicos, sociais ou culturais. Por conseguinte, rompendo e desmistificando paradigmas

antes tidos como absolutos e verdadeiros.

Neste contexto de transformação, tudo se tornou tão acelerado, que mesmo o homem

não consegue acompanhar em sua plenitude as mudanças que vêm ocorrendo, forçando

muitos a criarem estratégias de adaptação, ou mesmo, sobrevivência. Como bem ressalta o

autor Lima (2000, p.08), “sabemos que estamos em um período de grandes transformações,

em que as próprias pessoas responsáveis pela criação e/ou divulgação da tecnologia não têm

(ou não tinham) uma clara visão do impacto e importância das tecnologias inventadas”.

Revisitando a história, pode-se dizer que a Primeira Revolução Industrial iniciada na

Inglaterra, em meados do século XVII, posteriormente expandindo-se pelo mundo no século

XIII, teve grande influência no processo produtivo no plano econômico e social, interferindo

diretamente no modo de viver dos homens. Tal fato deve-se a um conjunto de mudanças

tecnológicas que substituiu o trabalho braçal pelo trabalho mecanizado1; logo, é estabelecida

uma nova relação entre capital e o trabalho.

O que significa a frase “a revolução industrial explodiu”? Significa que a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços. Este fato é hoje tecnicamente conhecido pelos economistas como a “partida para o crescimento auto-sustentável” (HOBSBAWN, 2002, p.50).

De fato, a Revolução Industrial marcou a história da humanidade, tendo em vista que,

desde então, mudanças não pararam de acontecer; Hobsbawn (2002, p.53) vem afirmar que a

Revolução Industrial ainda prossegue, pois “quando muito podemos perguntar quando as

transformações econômicas chegaram longe o bastante para estabelecer uma economia

substancialmente industrializada, capaz de produzir [...] tudo que desejasse dentro dos limites

das técnicas disponíveis [...]”. Logo, têm-se uma ‘economia industrial amadurecida’2 que

produz a partir de necessidades e desejos, conforme era possível na época.

De acordo com Braick e Mota (2007), neste período, o capital passa a controlar o

processo técnico de produção, ditando as normas e as regras ao trabalhador que perde o poder

de decisão do que produzir ou não, instituindo-se a divisão e o pagamento dos serviços

prestados. Neste momento, o capitalismo se configura como o sistema econômico vigente.

1 Surgimento da máquina a vapor rotativa de James Watt (1769-1782). Segundo Hobsbawn (2002), somente na década de 1820, com o francês Carnot, que se desenvolveu uma teoria mais adequada acerca do invento podendo ser utilizada por longas gerações, práticas de máquina a vapor, principalmente em minas. 2 Termo técnico utilizado por Hobsbawn (2002) em seu livro A era das revoluções.

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Dá-se início ao proletariado, em que o trabalhador passa a vender como mercadoria a própria

força de trabalho.

No intuito de elucidar melhor a questão acerca da venda da força de trabalho, Beaud

(1989, p.181) descreve que, “após tatear por longo tempo, Marx realmente deixou claro: não é

o trabalho, é a força de trabalho que o proletariado vende ao capitalista”. O autor segue

explicando que o valor dessa força de trabalho é estabelecido pelas despesas de manutenção

do trabalhador e sua família. Além disso, no momento em que o trabalhador é obrigado a

produzir aquém do que necessitaria para sobreviver, suscita-se a “mais-valia”; que nada mais

é do que o excedente da força de trabalho humano. Concluindo-se, é neste excedente, na

exploração do trabalho humano que se estabelece o lucro do detentor do capital.

Cabe ressaltar que a Revolução Industrial não se deu de forma instantânea

revolucionando o “sistema fabril”, produzindo em grande escala a baixos custos, de maneira

que as demais formas de produção fossem extintas, mas de modo que o novo modelo fosse se

estabelecendo e garantindo mercado, isto é, a demanda por suas mercadorias.

[...] as revoluções industriais pioneiras ocorreram em uma situação histórica especial, em que o crescimento econômico surge de um acúmulo de decisões de incontáveis empresários e investidores particulares, cada um deles governado pelo primeiro mandamento da época, comprar no mercado mais barato e vender mais caro (HOBSBAWN, 2002, p.56).

A primeira indústria a revolucionar foi a do algodão, que detinha grandes investidores

– empresários – que almejavam o desenvolvimento e o crescimento do setor. Até 1830, a

indústria algodoeira era a que mais prosperava, sendo intitulada ramo têxtil·, segmento que

mais empregava, expandindo-se exponencialmente no mercado. Em segundo lugar, com as

técnicas mais avançadas e mecanizadas da época, estavam as fábricas de cervejarias, setor que

pouco afetou a economia a sua volta, não se comparado ao ramo têxtil.

Neste cenário, tornou-se visível que a economia daquele período estava calcada na

indústria algodoeira. Se o algodão crescia, a economia crescia juntamente; se o algodão

decaía, simultaneamente, decairia a economia. Por volta da década de 1830 e início de 1840, o

algodão demonstrava grandes problemas de crescimento, sem contar com a agitação

revolucionária que incidiu sobre a sociedade, marcando a primeira crise da economia

capitalista industrial.

Conforme Hobsbawm (2002, p.64), “essa primeira crise geral do capitalismo não foi

puramente um fenômeno britânico”. Nota-se que atingiu diversos segmentos, de maneira

expressiva e incisiva, os segmentos sociais.

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Suas mais sérias conseqüências foram sociais: a transição da nova economia criou a miséria e o descontentamento, os ingredientes da revolução social. E, de fato, a revolução social eclodiu na forma de levantes espontâneos dos trabalhadores da indústria e das populações pobres das cidades [...]. Os trabalhadores de espírito simples reagiram ao novo sistema destruindo as máquinas que julgavam ser responsáveis pelos problemas; mas um grande e surpreendente número de homens de negócios e fazendeiros ingleses simpatizava profundamente com estas atividades dos trabalhadores ludistas3 porque também eles se viam como vítimas da minoria diabólica de inovadores egoístas (HOBSBAWM, 2002, p.64-5).

Neste período, o descontentamento expressava-se de forma geral, tanto por parte dos

trabalhadores fabris, como pelos pequenos comerciantes. Os trabalhadores tendo sua mão-de-

obra explorada, recebendo apenas para sobreviver, enquanto os patrões (capitalistas)

acumulavam lucros, que financiavam e faziam crescer as indústrias, além do luxo e das

regalias que desfrutavam. Os pequenos comerciantes, ou a pequena burguesia, tendo

dificuldade em levantarem créditos para impulsionar e provocar a economia, mantinham-se

invisíveis e suscetíveis a desabar no abismo dos destituídos de propriedade, quer dizer,

compartilhando com os trabalhadores os mesmos descontentamentos.

O desenvolvimento do capitalismo através das fases principais de sua história se ligou essencialmente à transformação técnica que afeta o caráter da produção e por esse motivo os capitalistas ligados a cada nova fase tenderam a ser, pelo menos inicialmente, uma camada diferente de capitalistas com relação àqueles que tinham aplicado seu capital no tipo mais antigo de produção. Foi acentuadamente esse caso na Revolução Industrial [...] Por sua vez, a alteração na estrutura da indústria afetou as relações sociais dentro do modo de produção capitalista, influenciando radicalmente a divisão do trabalho, diminuindo as fileiras do pequeno trabalhador-proprietário subempreiteiro, artesão intermediário entre capitalista e assalariado, e transformando a relação entre o trabalhador e o próprio processo produtivo (DOBB, 1987, p.31).

Nota-se que uma nova relação é estabelecida, demarcando um divisor de águas entre o

velho e o novo modelo de produção; a subordinação da produção ao capital, o surgimento de

uma nova relação entre capital trabalho. Esta nova relação estabelecida incide no aumento da

miséria e exploração do trabalho: jornadas de trabalho ampliadas, salários reduzidos,

condições de trabalho e moradias precários, entre outros fatores que interferem diretamente no

sadio desenvolvimento do homem.

3 Ludista foi denominado um grupo de trabalhadores que por volta de 1811 e 1816, se rebelaram e destruíram máquinas têxteis por acreditarem que elas fossem responsáveis pelo desemprego da época (HOBSBAWM, 2002).

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A partir da segunda metade do século XIX, a Revolução Industrial entra em sua

segunda fase, ou Segunda Revolução Industrial. Isso se dá à medida que as técnicas são

aperfeiçoadas, sendo que outras tantas surgem para auxiliar no processo de produção e

reprodução do sistema. Como exemplo, tem-se o sistema técnico baseado na eletricidade, no

petróleo, no motor à explosão e nas indústrias de síntese química, que aceleraram ainda mais

o processo de industrialização.

Esta segunda fase da Revolução Industrial propiciou que o processo tecnológico

incidisse de tal maneira nas indústrias, refletindo diretamente na sociedade, tendo em vista

que, com a aplicação da força motriz às máquinas fabris, a mecanização se difundisse à

indústria têxtil e à mineração. Com a intensificação do trabalho fabril, passa-se a produzir em

série, e surge a indústria pesada (aço e ferro). Para acelerar ainda mais o processo de

circulação de mercadorias, criam-se navios e locomotivas a vapor para transportar as

mercadorias produzidas nas fábricas.

Observa-se que tais avanços tecnológicos não implicaram apenas crescimento e

emancipação econômica, como também na exploração cada vez mais intensa do trabalhador,

com jornadas de trabalho que chegaram a 14 horas, tudo em nome da alta produção e

expansão econômica. Entre tantas outras condições adversas de trabalho, manifesta-se a

condição de um trabalhador alienado, robotizado, sem espaço para pensar e criar alheio às

problemáticas e acontecimentos ao seu redor; somente executores de tarefas milimetricamente

estabelecidas.

Em meados de 1911, um engenheiro norte-americano chamado Frederick Winslow

Taylor desenvolveu e sistematizou dentro das indústrias os princípios de racionalização

produtiva do trabalho, estratégia de gestão/organização do processo de trabalho; seu objetivo

estava direcionado à eficiência e à eficácia operacional da administração empresarial, logo

conhecido como o “Pai da Administração Cientifíca” 4.

Os princípios básicos do Taylorimos tinham como foco a racionalidade produtiva do

trabalho, onde o trabalho manual era separado do trabalho intelectual, estimulando a divisão,

controlando o tempo e os movimentos de execução das tarefas já programadas; este último

tendo por objetivo eliminar os movimentos inúteis através de instrumentos de trabalho mais

adequados.

Os Princípios da Administração Científica, de F. W. Taylor – um influente tratado que descrevia como a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes

4 Segundo o site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Frederick_Taylor> Acesso em 23 de setembro de 2008.

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e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento – tinham sido publicados, afinal, em 1911 (HARVEY, 1994, p.121).

Os novos tempos requisitaram novo ritmo. O taylorismo se caracteriza como uma

nova tecnologia de organização do trabalho, gerando conseqüências sérias à vida do

trabalhador; principalmente, no que tange à saúde, uma vez que se estabelecem exigências

ainda mais rígidas, requerendo do corpo físico além do que ele pode oferecer, visto os

operários serem submetidos aos ritmos acelerados das máquinas.

Ao longo do século XIX, foram pensadas e implementadas outras idéias à

administração, no intuito de obter-se melhores resultados (mais lucro). Em 1914, data

simbólica, o empresário norte-americano Henry Ford, fundador da Ford Motor Company,

introduziu seu dia de oito horas e cinco dólares como recompensa ao trabalhador.

Nesta conjuntura, Ford se utilizou dos princípios básicos de Taylor para avançar nas

teorias da administração. Contudo, distinguiu-se do taylorismo, em razão da visão mais

ampla, quer dizer, suas idéias exigiam da empresa extensa mecanização (ao contrário do

taylorismo), o uso de máquinas - ferramentas especializadas, linha de montagem e de esteira

rolante, incidindo em uma crescente divisão do trabalho.

A produção em massa significaria o consumo de massa, utilizando economia de

escala, ou seja, em grandes quantidades iguais. Conforme Harvey (1994, p.121), “um novo

sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do

trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade

democrática, racionalizada, modernista e populista”.

Nesta segunda fase da Revolução Industrial, cresceu a concorrência entre os países,

tendo em vista que a mesma se expandiu para a Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Estados

Unidos e Japão que se desenvolviam e cresciam de acordo com a cultura, a sociedade e a

economia locais. Crescendo a concorrência e a indústria de bens de produção,

concomitantemente, adquiriram-se novas invenções oriundas das novas fontes de energia

(elétrica e derivada do petróleo).

Muitos dos que buscaram descrever a Revolução Industrial como uma série contínua de transformações que perdurou além mesmo do século XIX, em vez de como uma modificação feita de uma só vez, parece ter empregado o termo como sinônimo de uma revolução puramente técnica. Ao fazer isso, perderam de vista a importância especial dessa transformação na estrutura da indústria e nas relações sociais de produção, conseqüência da modificação técnica em certo nível crucial. Se focalizarmos a atenção na modificação técnica per se, é ao mesmo tempo verdadeiro e importante que, uma vez lançada em sua nova carreira, essa modificação constituía um processo contínuo (DOBB, 1987, p.269-270).

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Lemos (2002), apoiado em Gille, diz que a Revolução Industrial aparece em dois

grandes momentos “de 1855 a 18705, período de adaptação de natureza técnica e econômica

[...]; e de 1880 a 19006, onde as grandes mudanças entram em jogo com a produção de energia

em larga escala [...]”. Aliada a todas essas mudanças, surgem as diversidades de meios de

transporte e comunicação.

Em muitos aspectos, as inovações tecnológicas e organizacionais de Ford eram mera extensão de tendências bem-estabelecidas. A forma corporativa de organização de negócios, por exemplo, tinha sido aperfeiçoada pelas estradas de ferro ao longo do século XIX e já tinha chegado, em particular depois da onda de fusões e de formação de trustes e cartéis no final do século, a muitos setores industriais (um terço dos ativos manufatureiros americanos passaram por fusões somente entre os anos de 1888 e 1902) (HARVEY, 1994, p.121).

As invenções e as novas descobertas tornam-se cada vez mais intensas e crescentes,

impulsionadas por um sistema econômico capitalista que objetiva o lucro, aplicando-se a

prática das indústrias e no desenvolvimento da ciência. A indústria estando mecanizada cria

uma rede nacional de estradas de ferro, dando início à construção de ferrovias em outros

países, exportando locomotivas, vagões, navios e máquinas industriais; o que refletirá mais

tarde no incentivo para conflitos entre nações, tendo em vista que cada uma delas quer ser a

mais poderosa e soberana frente as demais.

Desta maneira, ao final do segundo período da Segunda Revolução Industrial, a

necessidade de comercializar com as demais regiões e a colonização de novas áreas para

escoar os produtos maciçamente produzidos pelas indústrias culminou em uma acirrada

disputa entre as potências industrializadas, gerando graves conflitos e um crescente espírito

armamentista que incentivou, mais tarde, à eclosão da Primeira Guerra Mundial.

A Primeira Grande Guerra é um marco na história mundial, entendida por muitos

autores como a “mãe das guerras”, devido às conseqüências que causou; mas, principalmente,

por seu efeito devastador no sentido de que as reações não se esgotaram com seu final,

irradiando, outras tantas e conhecidas batalhas.

A Grande Guerra foi travada no ambiente resultante do salto tecnológico da Revolução Industrial que, da Grã-Bretanha, se irradiou pela Europa Continental e pelos Estados Unidos, e os meios e os processos de combate de 1914-18 refletem necessariamente este fato. [...]. A estrada de ferro e a telegrafia sem fio (a TSF), presentes na Guerra de Secessão e na Guerra Franco-Prussiana, são extensivamente utilizadas na Grande Guerra, permitindo transportar, controlar e abastecer grandes

5 Crescimento demográfico, rede bancária, organização industrial, aumento da demanda.6 Turbocompressores e motores a explosão e elétricos, aços especiais, química de síntese, lubrificantes.

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massas de homens e de materiais. O desenvolvimento do motor a explosão e do tanque, o carro de combate na terminologia militar. O submarino, em fase de protótipo na guerra entre os Estados, tornou-se arma temível no ataque à navegação aliada (ARARIPE, 2006, p. 325-26).

Desde a Primeira Revolução Industrial, até o presente, o surgimento da máquina a

vapor e os avanços tecnológicos incidem de maneira tanto positiva como negativa na vida do

homem, a exemplo da Primeira Guerra Mundial.

Outro marco importante na história da humanidade trata da Segunda Guerra Mundial,

travada entre o final de 1942 e o início de 1943, onde ocorreu extermínio em grande massa,

caracterizado pela crueldade e mobilização:

A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra total no sentido lato da palavra. A política nazista de destruição dos judeus (a “solução final”) contava com sofisticada organização de busca, seleção, transporte, concentração e assassinato nos campos de extermínio (o chamado Holocausto), para onde também foram enviados ciganos, oposicionistas e até prisioneiros de guerra. Já em 1945, os americanos jogaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, ameaçando o mundo com nova tecnologia de morte em massa. Essa foi a guerra total no último conflito mundial. Daí a mobilização de recursos simplesmente fabulosos (TOTA, 2006, p.356).

Os avanços tecnológicos não pararam de acontecer; em meados de 1973 (data

simbólica do início da Acumulação Flexível), surge a micro-informática e a biotecnologia.

Juntamente com elas, um novo sistema de produção, tendo em vista a incapacidade do

fordismo em responder às exigências e conter contradições inerentes ao capitalismo. O novo

sistema é mais flexível, possibilitando a obtenção de mais lucros, o que foi denominado

Acumulação Flexível. Antunes (1995), sustentado em Harvey, explana analiticamente as

transformações do capitalismo:

Em seu entendimento, o núcleo essencial do fordismo manteve-se forte até pelo menos 1973, baseado numa produção em massa. Segundo esse autor, os padrões de vida para a população trabalhadora dos países capitalistas centrais mantiveram relativa estabilidade e os lucros monopólicos também eram estáveis. Porém, depois da aguda recessão instalada a partir de 1973, teve início um processo de transição no interior do processo de acumulação de capital. Em sua síntese sobre a acumulação flexível nos diz que essa fase da produção é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (p.20-21).

O novo cenário se apresentou em nível mundial, tendo em vista que este processo vem

se expandindo desde a Primeira Revolução Industrial, fortalecida ainda mais pelo capitalismo.

As transformações se incidiram de modo global; contudo, de maneira diferente de país para

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país. Conforme Antunes (1995, p.22), Harvey formulou três características básicas para

identificar o modo de Acumulação Flexível; a primeira diz respeito ao crescimento, a segunda

diz que este crescimento está calcado na exploração do trabalho do universo de produção, e a

terceira se refere ao capitalismo que possui uma relação intrínseca entre tecnológica e

organização.

Este cenário se configura de forma bem distinta dos historicamente conhecidos, uma

vez que possui características bem particulares, tais como a economia é móvel; investir-se

onde maior lucro obtiver-se (mão-de-obra barata, produção a baixos custos); produtos

diversificados (aumento das exportações e importações); meios comunicacionais avançados

(celulares, internet, satélites entre outros); estoque mínimo, mercado aberto (globalização);

direitos trabalhistas cada vez mais desregulamentados; tendo em vista a diminuição dos gastos

do patrão com o trabalhador, em troca do emprego assegurado, entre outros.

Segundo Iamamoto (2007), a competitividade atual gerada pelo capitalismo requer

qualidade cada vez maior dos produtos, visto que garantirá a rentabilidade da produção, tendo

em vista o contexto de globalização da produção e do mercado mundial que é feroz.

Vive-se hoje uma terceira revolução industrial acompanhada de profundas transformações mundiais. Assim como em etapas anteriores do desenvolvimento industrial, radicais mudanças tecnológicas envolveram uma ampla expulsão da população trabalhadora de seus postos de trabalho. Atualmente, segmentos cada vez maiores da população, cuja força de trabalho não tem preço, porém não têm mais lugar no mercado de trabalho [...] São estoques de força de trabalho “descartáveis” pra o mercado de trabalho, colocando em risco para esses segmentos a possibilidade de defesa e reprodução da própria vida (IAMAMOTO, 2007, p.33).

O contemporâneo quadro social, principalmente no que tange à sociedade brasileira,

demonstra que o desemprego, resultante das novas tecnologias, é agravado pelo desemprego

estrutural; por uma relação de trabalho presidida pela violência; luta pela terra; exploração do

trabalho infantil; relações de trabalho clandestinas e ilegais; trabalho escravo que incorpora a

“máscara moderna” para disfarçar a verdadeira face de exploração. De modo geral, a

modernização tão exaltada por alguns é a miséria e a exploração de outros, reafirmando a

formação histórica social brasileira de exploração do trabalho.

O impacto social da evolução tecnológica neste século foi de tal ordem que assistimos, num curto espaço de cem anos, ao homem criar extensões para suas pernas, inventando o automóvel para caminhar mais rápido, ir mais longe adquirindo asas e voando em objetos mais pesados do que o ar, estender sua capacidade auditiva escutando vozes distantes através do telefone e do rádio, aumentar seu poder de visão iluminando as noites e vendo o que se passa em terras distantes através da

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televisão, até estender seus cérebro para muito além da imaginação através do computador (LIMA, 2000, p. 09).

Por conseguinte, confirma-se a idéia que se vive atualmente em uma aldeia global, um

grande planeta ora aldeia, onde tudo está conectado, interligado, inter-relacionado, quiçá

interdependente. Demonstrando que a única preocupação esta calcada em gerir o tempo,

controlando o fuso horário de cada país para não causar constrangimento ao se comunicar

com os “vizinhos”.

O “Novo Mundo”, como diz Ianni (2003, p.35), continua a inquietar a vida e o

pensamento de muita gente, em todo a planeta, além daqueles que o habitam. “São vários os

desafios que atravessam épocas, conjunturas, situações e rupturas, assinalando momentos

mais ou menos fundamentais da história do que o foi e do que tem sido o Novo Mundo [...]”.

Neste sentido, torna-se fundamental conhecer melhor o mundo em que atualmente se

vive. Com isso, entende-se os motivos pelos quais se apresentam tantas desigualdades, às

quais, mesmo que inconscientemente, reproduz-se. Cabe ainda um questionamento

fundamental em meio a esse processo: diante do impacto social das evoluções tecnológicas,

qual sociedade vive-se atualmente?

1.2 A ERA DA INFORMAÇÃO E SEUS REFLEXOS CONTEMPORÂNEOS

Banalizou-se dizer: vive-se em uma “sociedade da informação” ou mesmo “sociedade

do conhecimento”; mas, afinal, que sociedade é esta? Qual sociedade vive-se atualmente?

Primeiramente, cabe a apropriação do que essas terminologias significam, para se

compreender questionamentos e, posteriormente, refletir acerca das mudanças paradigmáticas

que as (re) configuram.

Para Braick e Mota (2007), a sociedade da informação é expressa pelo poder da

informação, do saber, da competência do homem em processar tudo que lhe é transmitido. Já

a sociedade do conhecimento é marcada pela explosão das tecnologias, em especial da

tecnologia da informação (TI), que resulta contínuas e profundas transformações,

principalmente no que tange às formas como as pessoas se relacionam.

Faz muito tempo que toda uma tradição de pensamento crítico desvelou os pressupostos ideológicos do conceito de “informação”, tal como é usado para designar a nova sociedade que se supõe suceder à sociedade industrial, e assinalou os efeitos de sentido não controlados que nutrem a confusão entre este conceito e o conhecimento ou saber. A informação é assunto de engenheiros. Seu problema consiste em encontrar a codificação mais eficaz (em velocidade e custo) para

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transmitir uma mensagem telegráfica de um emissor a um destinatário. O que importa é o canal. A produção do sentido não está incluída no programa. A informação está separada da cultura e da memória (MATTELART, p.234, 2006).

Novas maneiras de comunicação e de convivência vêm alterando consideravelmente a

vida em sociedade, à medida que se distanciam as pessoas próximas e se aproximam as

pessoas distantes, reduzindo tempo e espaço. Ferramentas como a internet, o e-mail, o celular,

a TV a cabo e a videoconferência são instrumentos que intensificam e estimulam estas formas

de comunicação; ao passo que pais, mães e filhos correm o risco de não desfrutarem de uma

convivência plena e sadia.

Como bem ressalta Schaff (1995), nem sempre alguém se percebe imerso a uma

acelerada e dinâmica revolução da microeletrônica, mesmo estando rodeados das mais

diversas expressões, a começar pelos pequenos utensílios domésticos que fazem parte de

atividades cotidianas, como por exemplo, televisores, geladeira, máquinas de lavar louça e

roupa, microondas etc.

Lima (2000, p.14), apoiado em McLuhan, destaca o seguinte:

McLuhan considerava que estávamos caminhando para uma aldeia global, tendo como base o avanço da tecnologia na área do processamento da informação via eletrônica. Para ele, em curto período de tempo, faríamos uso da televisão e outros meios para transportar o mundo para o quintal, transformando o globo em uma pequena aldeia onde todos se relacionariam com todos e participariam de tudo.

Este cenário remete à idéia de que o uso desenfreado das tecnologias e o uso intenso e

“público” da internet propiciam a todo o momento, em tempo real, a comunicação com o

mundo todo; através de mensagens instantâneas que chegam ao destino em questão de

minutos, partilhar experiências com diversas culturas, participar de cursos e seminários no

sofá da sala, realizar compras sem sair de casa, fazendo com que tudo se interligue. Não há

fatos que ocorram em nível mundial que todos não saibam, como também não há fatos que

não repercutam em todos, sejam eles de natureza grave ou não.

Porém, diante das significativas formas de assimilação social dos elementos da

comunicação que traduzem a singularidade das histórias das línguas, das culturas de cada

povo ou segmento social, a noção de sociedade da informação é anulada.

Parte-se do princípio que a sociedade da informação é a sociedade da riqueza, da

abundância de bens e serviços. Nunca se teve tanta diversidade de bens de consumo ao

alcance da humanidade. É fato que há riquezas, mas também é fato que tais riquezas não vêm

sendo partilhas, mas então como partilhá-las? Eminentemente, se há riquezas e não há

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compartilhamento, ocorre uma concentração, o que configura um problema político. Sendo

assim, não se trata mais de falta de recursos, mas o gerenciamento desses.

[...] a noção de sociedade da informação propaga em nossos países, de uma forte cumplicidade discursiva com a modernização neoliberal, racionalizadora do mercado como único princípio organizador da sociedade em seu conjunto, segundo o qual, esgotado o motor da luta de classes, a história teria encontrado sua troca nos avatares da informação (BARBERO, 2006, p.56).

A atual sociedade da informação, assim definida por muitos autores, é entendida por

Eisenberg e Cepik (2002) como uma rede social transnacional, construída ao redor das novas

TICs. Todos estão interligados a todos e a tudo, desde a maneira como se organizam até a

forma como pensam. Este é um mundo globalizado, esta é, inexoravelmente, uma Aldeia

Global.

O global e o local são socialmente produzidos no interior dos processos de globalização. Distingo quatro processos de globalização produzidos por outros tantos modos de globalização. Eis a minha definição de modo de produção de globalização: é o conjunto de trocas desiguais pelo qual um determinado artefacto, condição, entidade ou identidade local estende a sua influência para além das fronteiras nacionais e, fazê-lo, desenvolve a capacidade de designar como local outro artefacto, condição, entidade ou identidade rival (SANTOS, 2003, p.63).

O impacto social ocasionado pelos avanços tecnológicos vem alterando a vida nos

mais diversos sentidos, sejam eles políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais etc.

Em meio a este processo de transformações, os reflexos não escolhem ricos ou pobres,

brancos ou negros, europeus ou americanos para atingir; porém, afetam a todos com maior ou

menor intensidade.

A civilização atual é marcada pela tecnociência, onde os seres humanos se tornam

semi-Deuses, capazes de reinventar a própria vida. O mundo contemporâneo encontra-se

marcado pelo egocentrismo alienante, pelo egoísmo exacerbado, que intensifica as injustiças

ignorantes, contradições sociais e muitas incertezas angustiantes. Que garantias se tem para o

futuro? O delírio de uma época nunca foi tão longe.

Para Braick e Mota (2007, p.03), “há, portanto, na sociedade da informação uma

dialética entre o local e o global, na medida em que problemas aparentemente localizados

podem interferir na vida de todas as pessoas, exigindo uma solução global”. É de fundamental

importância que se aproprie das recentes mudanças de paradigmas que influenciaram na

trajetória histórica da humanidade, com vistas à melhor compreensão do fenômeno técnico-

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científico contemporâneo, mas, principalmente, para utilizar os benefícios oriundos do

progresso tecnológico e científico a favor do homem.

A imaginação pós–electrónica, combinada com a desterritorialização provocada pelas migrações, torna possível a criação de universos simbólicos transnacionais, ‘comunidades de sentimentos’, identidades prospectivas, partilhas de gostos, prazeres e aspirações, em suma, o que Appadurai chama ‘esferas públicas diaspóricas’ (1997: 4). De outra perspectiva, Octávio Ianni fala do ‘príncipe electrónico’ – o conjunto das tecnologias eletrônicas, informáticas e cibernéticas, de informação e comunicação, com destaque para a televisão – que se transformou no ‘arquitecto da ágora electrónica na qual todos estão representados, reflectidos, defletidos ou figurados, sem risco da convivência nem da experiência’ (1998: 17) (SANTOS, 2005, p.45).

Segundo Santaella (2003), a globalização não seria possível sem as poderosas

ferramentas tecnológicas. Através delas, os resultados obtidos para a comunicação e a cultura

são evidentes. “Estamos, sem dúvida, entrando numa revolução da informação e da

comunicação sem precedentes que vem sendo chamada de revolução digital” (p.70). Neste

sentido, a autora diz que “a revolução da informação não é simplesmente uma questão de

progresso tecnológico. Ela também é significativa para a nova matriz de forças políticas e

culturais que ela suporta” (p.73).

No decorrer da história, as revoluções tecnológicas incidiram na sociedade, de tal

maneira que alteraram profundamente a vida dos sujeitos, desde as formas de se relacionarem,

até a distribuição de bens e serviços. Neste contexto de transformação, tudo se tornou tão

acelerado e dinâmico; que mesmo o homem não consegue acompanhá-la em sua plenitude,

forçando muitos a criarem estratégias de adaptação, ou mesmo de sobrevivência.

De acordo com Lima (2000, p.08), “sabemos que estamos em um período de grandes

transformações, em que as próprias pessoas responsáveis pela criação e/ou divulgação da

tecnologia não têm (ou não tinham) uma clara visão do impacto e importância das tecnologias

inventadas”.

Na atual “Era da Informação”, o computador parece ser o cerne de tudo. Tendo em

vista estar presente em boa parte das invenções da segunda metade deste século,

caracterizando-se como uma das principais, se não a principal ferramenta comunicacional.

Contudo, cabe ressaltar que nem sempre o computador foi assim. Inicialmente, ele era uma

extensão da calculadora, objeto grande e de difícil manuseio que não oferecia muita utilidade.

Hoje, caracteriza-se como uma ferramenta importantíssima no processo de

comunicação, transmissão de informação e conhecimento, assim como de fácil manejo e

locomoção. Conforme Silveira (2001, p.08), “a integração do computador ao

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microprocessador, e deste aos avanços das telecomunicações, gera um processo rápido e

contundente de disseminação de informações”.

Fica evidente que o computador é o ícone da nova revolução tecnológica instaurada,

que liga o homem em rede, alterando tempo e espaço. Essas redes informacionais, que

transformam a relação com o tempo e o espaço e modificam o pensar acerca da técnica, são

justificadas por Barbero (2006) como movimentos que estão ao mesmo tempo integrando e

excluindo, desterritorializando e relocalizando, interagindo e misturando lógicas e

temporalidades das mais diversas à vida em sociedade.

A era da informação é nossa era. É um período histórico caracterizado por uma revolução tecnológica centrada nas tecnologias digitais de informação e comunicação, concomitante, mas não causadora, com a emergência de uma estrutura social em rede, em todos os âmbitos da atividade humana, e com a interdependência global desta atividade. É um processo de transformação multidimensional que é ao mesmo tempo includente e excludente em função dos valores e interesses dominantes em cada processo, em cada país e em cada organização social (CASTELLS, 2002, p.225).

Conforme Silveira (2001), o processo de substituição iria acontecer, e as atividades

humanas que demorariam muito tempo para serem concluídas, diante do processo de

informatização, tornaram-se quase que instantâneas. Este processo é vital para a manutenção

do capitalismo, já que se maximiza o tempo na circulação do capital, rendendo ainda mais

lucros. Em meio a isto tudo, o bem maior, a riqueza mais preciosa é a informação.

Desta maneira, uma nova geração surge: os “excluídos digitais”. Frutos das novas

tecnologias que ampliam ainda mais o abismo social entre ricos e pobres, visto que o preço

para se conectar à sociedade da informação é alto.

O cientista político canadense Arthur Kroker, em 1994, já havia alertado para a constituição de uma nova classe dirigente composta dos administradores, formuladores e executores da telemática, uma verdadeira classe virtual. Esta nova elite comandaria uma sociedade partida entre info-ricos e info-pobres. Sua hipótese se chocava com as inúmeras promessas de que o mundo teria encontrado uma tecnologia incorporadora e democratizante per si. A tecnologia da informação não estaria trazendo uma sociedade mais equânime, ao contrário, seu rápido espraiamento pelo planeta trouxe mais desigualdades e dificuldades de superá-la (SILVEIRA, 2008, p. 74).

Para acessar a internet, a rede mundial de computadores, é necessário pagar

mensalmente o chamado provedor que autoriza o acesso; isso ocorre por meio da linha

telefônica que aumenta ainda mais os gastos da família, sendo necessário um computador em

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casa. Contudo, um computador custa, atualmente, no mínimo, 1.000,00 reais7. Diante disto,

pergunta-se: quantas famílias brasileiras dispõem de telefone e de computador em casa? Com

que dinheiro comprariam ferramentas comunicacionais, se muitas nem ao menos têm o

alimento diário?

Segundo Silveira (2001, p.17), “em um país com quase um terço da sociedade abaixo

da linha da pobreza, gastar algo em torno de 40 reais por mês pelo uso mínimo de conexão e

conta telefônica é impossível para a maioria da população”. Se uma parcela significativa da

população brasileira (pobres) se encontra excluída das formas de interação digital, conclui-se

que outra parcela (ricos) se encontra incluída no processo de integração e de interação digital.

Segundo dados apresentados pela pesquisa da Fundação Getúlio Vargas – FGV/RJ

(2007), a respeito da exclusão digital no Brasil, em 2001, 12,46% da população brasileira

dispunha de acesso em seus lares a computador; e 8,31% à Internet. Confrontando esses dados

aos publicados pelo IBGE8, em 2002, demonstra-se um pequeno acréscimo desses índices,

uma vez que, do total de 47,6 milhões de domicílios pesquisados, 14,2% apresentaram possuir

microcomputador em seus lares, e apenas 10,3% dispunham da Internet.

Neste sentido, Demo (2007, p.06), mantendo como pano de fundo a desigualdade

social, ressalta que “as sociedades, em particular as capitalistas, tendem a colocar à margem

grandes maiorias que, servindo aos privilégios de poucos, fazem parte da mesma sociedade,

expressando sua dinâmica desigual”. O autor entende a questão digital como marginalização,

porque tem a ver com a noção de que “digital divide”.

A noção de que digital divide tende a ser estanque, deixando de perceber que o desafio maior é de oportunidade e eqüidade. O que mais importa é reconhecer que a marginalização digital está se tornando uma das mais drásticas, tanto porque segrega pessoas e sociedades do usufruto tecnológico, quanto porque agrava a pobreza política: estar analfabeto não é apenas não saber ler, escrever e contar, é principalmente estar por fora do mundo digital, em especial das oportunidades de saber pensar medidas por plataformas informacionais (DEMO, 2007, p.7-8).

Seguindo nesta direção, Silveira (2008) descreve que os segmentos mais

empobrecidos terão cada vez mais acesso às tecnologias, devido à dinâmica capitalista de

barateamento de preços e à crescente oferta de produtos. O problema está na velocidade em

que as benesses tecnológicas se incorporem aos segmentos pauperizados; mais ainda, se este

segmento estará suficientemente preparado para usufruir as tecnologias de forma produtiva.

7 Silveira (2001) em seu livro Exclusão Digital: a miséria na era da informação apresenta esta estimativa.8 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2002.

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Há tempos, as elites vêm utilizando exaustivamente os aparatos tecnológicos, para

ocuparem espaços e posições importantes junto à sociedade. Entretanto, o problema está no

fato de que as TICs são fundamentais para ampliação da capacidade de decidir, conhecer e

pensar a sociedade. Silveira (2008, p. 52) ressalta que “a tecnologia da informação está sendo

usada efetivamente para acelerar o distanciamento entre segmentos sociais na apropriação da

riqueza socialmente produzida”. Diante disto, conclui-se que a separação entre ricos e pobres

se sobressai ainda mais na Era da Informação.

A dialética entre exclusão/inclusão torna-se mais complexa e profunda na atual Era

da Informação, exigindo análise e reflexões intensas e constantes acerca da questão. Segundo

Sawaia (2001, p. 8), “a sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem

social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão”.

Prosseguindo a idéia dessa autora, o processo de exclusão se torna complexo e

multifacetado à medida que abrange diferentes sentidos materiais, políticos, relacionais e

subjetivos. Ela lembra que “não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo

ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, é produto do

funcionamento do sistema” (p. 09).

Nesse ínterim, apropria-se dos múltiplos significados e expressões do que é exclusão,

para melhor analisar o sentido ‘da exclusão ou marginalização digital’. Somente desta

maneira, pode-se elaborar estratégias de enfrentamento à questão digital, visto que é

preferível optar pela prevenção “tardia”, obtendo-se melhores resultados, do que remediar

tardiamente.

1.3 OS NOVOS EXCLUÍDOS: A DIALÉTICA DA EXCLUSÃO/INCLUSÃO

A dialética exclusão/inclusão, em sua essência, não é propriamente nova. Este

fenômeno já conhecido vem apresentando novas roupagens, intensificando-se com o passar

do tempo, expressando-se de múltiplas formas, sejam culturais, políticas, econômicas, sociais,

étnicas e outras. Trata-se de um processo que deve ser entendido para que sejam elaboradas

maneiras prévias de sanar novas manifestações emergentes. Neste sentido, cabe discutirmos

um pouco mais acerca desta questão.

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De acordo com pesquisa publicada em 2001, pelo IBGE9, na Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios, o número de analfabetos acima de 10 anos de idade é de 11,4%,

sendo que 50,7% da população brasileira recebem até dois salários mínimos; então, qual seria

o sentido de discutir sobre exclusão digital em um país que apresenta tantas outras carências?

A exclusão digital não seria resultado da exclusão social, há tempos tão presente em nosso

país? Em meio a tantas contradições de que forma incluir as pessoas empobrecidas que estão à

margem da sociedade?

Como bem descreve Demo (2007, p.5), “[...] a política social tende a ser simples

assistência – exemplo consumado é o programa Bolsa-Família – as pessoas não querem

apenas sobreviver, mas desfrutar qualidade de vida”. Isso remete ao pensamento que as

pessoas não têm fome apenas de alimento, mas também do belo, do que as enriquece e a

constrói como tal.

A exclusão social aponta para as insuficiências e as falhas de serviços e das políticas voltadas para várias necessidades. Podemos analisar a exclusão/inclusão de um grupo de pessoas, de um segmento etário, dos moradores de um bairro, de uma cidade. A exclusão social é a impossibilidade de poder partilhar, o que leva à vivência da privação, da recusa, do abandono e da expulsão, inclusive com violência, de um conjunto significativo da população. Por isso é uma exclusão social e não pessoal (SPOSATI, 1999, p.67).

Nesta direção, Wanderley (2001) analisa situações entendidas como exclusão,

expressando formas e sentidos da dialética inclusão/exclusão. Para ela, inúmeros processos e

categorias são rotulados de acordo com o entendimento comum a todos, e acabam

manifestando e apresentando fraturas e rupturas do vínculo social; exemplos destes são:

deficientes; idosos; desempregados de longo tempo (fruto do desemprego estrutural

vivenciado atualmente); jovens impossibilitados de inserção no mercado de trabalho (por falta

de qualificação profissional); minorias étnicas ou de cor (índios); entre outros.

O século XXI desafia à reflexão e à analise da sociedade em que se quer viver no

futuro, diante de tantas contradições e problemas éticos, políticos, sociais, ambientais

atualmente presenciados; que sociedade se quer construir no futuro, onde a disseminação do

conhecimento, como força produtiva, é tão desigual. Neste sentido, dependerá de um esforço

coletivo para que esta seja transformada e se apresente igual a todos.

Conforme os autores Eisenberg e Cepik (2002), as novas Tecnologias da Informação e

Comunicação – TCIs, ao mesmo tempo em que contribuem para a melhoria da vida do

homem, também podem ocasionar conseqüências desastrosas. Os autores ressaltam que “na

9 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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esfera política, as TICs têm o potencial de produzir soluções rápidas e inovadoras para antigos

problemas, mas podem também produzir novos problemas, especialmente criando novas

formas de exclusão que já foram conceitualizadas como exclusão digital” (p.293).

No intuito de apresentar algumas das desigualdades sociais existentes relacionadas, ou

mesmo fruto das Tecnologias da Informação e Comunicação, Demo (2007) descreve o

seguinte:

[...] a desigualdade de informação e comunicação no uso das tecnologias digitais é um subconjunto da desigualdade social em geral. Dentro dessa perspectiva relacional, as distinções mais relevantes categoriais seriam: empregadores e (des) empregados, gerentes e executivos, pessoas com altos e baixos níveis de educação, homens e mulheres, velhos e jovens, pais e filhos, brancos e pretos, cidadãos e migrantes. No nível macro entre países, a distinção passa pelos desenvolvidos e em desenvolvimento [...]. Pode-se logo perceber a apropriação diferente da tecnologia: a categoria dominante é a primeira a adotar a nova tecnologia, usando essa vantagem para aumentar o poder em seu relacionamento com a categoria dominada (p.13).

A terceira Revolução Industrial, ou Revolução Tecnológica, trouxe consigo sérias

transformações de âmbito mundial. Segundo as autoras Mendes, Bulla, Prates e Medeiros

(2004, p.34), “radicais mudanças tecnológicas voltam a envolver grandes segmentos

populacionais, ao mesmo tempo em que promovem uma ampla expulsão da população

trabalhadora de seus postos de trabalho”. Isto, porque o novo paradigma econômico e

produtivo, baseado na informação gera conseqüências graves à sociedade, como o

desemprego tecnológico, em que trabalhadores braçais são substituídos por softwares e

leitores óticos de códigos de barras.

Segmentos sociais cada vez maiores tornam-se sobrantes, descartáveis na sociedade

atual. As autoras, acima citadas, apoiadas em Castel (1997), definem sobrantes como,

Pessoas que não têm lugar na sociedade, que não são integradas, e talvez não sejam integráveis no sentido forte da palavra a ela atribuída, por exemplo, por Durkhein, ou seja, em que estar integrado é estar inserido em relações de utilidade social, relações de interdependência com o conjunto da sociedade.

Neste sentido, chama-se atenção ao fato de que estes grupos, os denominados

excluídos, que abarcam contingentes populacionais cada vez mais amplos, na nova ordem

mundial dominante estabelecida pelo mercado global, não é nem mesmo explorada, pois são

considerados desnecessários à produção e ao consumo, tendo em vista não terem meios que

garantam seu consumo.

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28

Nesses termos, Iamamoto (2007, p.28) discorre sobre a forma de intervenção do

Assistente Social nas contradições e desigualdades tão profundas da sociedade atual:

Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade.

Sendo assim, Silveira (2001, p. 47) aponta algumas indagações acerca da inclusão

social, a partir da inclusão digital: “é possível incluirmos digitalmente; mas, principalmente, é

relevante, incluirmos digitalmente em um país onde as pessoas ainda passam fome; em um

país em que a reforma agrária ainda nem passou do papel; onde milhões de crianças,

adolescentes, adultos e idosos ainda vivem nas ruas; onde a saúde é precária; entre outros

inúmeros problemas; será que a inclusão digital não seria um modismo?”

Desta forma, ele destaca três pontuações fundamentais a essas indagações:

Primeiro, é necessário entender que a revolução tecnológica em curso destinou à informação um lugar estratégico. A sociedade é cada vez mais a sociedade da informação e os agrupamentos sociais que não souberem manipular, reunir, desagregar, processar e analisar informações ficarão distantes da produção do conhecimento, estagnados ou vendo se agravar sua condição de miséria [...]. Segundo, a organização da economia e do trabalho no mundo rico será cada vez mais mediada pelo computador e pela comunicação em rede. Portanto, todas as camadas da sociedade precisam se qualificar para acompanhar o desenvolvimento das tecnologias intelectuais, pois é disso que tratamos quando falamos em inclusão na sociedade da informação [...]. Terceiro, a proficiência em massa das pessoas para o uso da tecnologia da informação pode gerar a sinergia essencial para o desenvolvimento sustentado do país. Quantos gênios da informática não estão escondidos pela ignorância e pelo apartheid digital em nosso país? (SILVEIRA, 2001, p.21-2).

A inclusão dos excluídos da informação é indispensável, uma vez que se almeja o

avanço dos mesmos nas mais diversas áreas, porque a revolução tecnológica atinge a todas as

classes sociais com abrangência mundial, ainda que o faça, de forma adversa, à classe

empobrecida. Segundo Eizirick (2005, p.46), “atualmente, presencia-se uma revolução: a da

inclusão em contraponto à exclusão. Essa está produzindo um turbilhão de movimentos que

“invadem todas as áreas, entram pelos mecanismos legais e forçam a presença – nas

empresas, nas escolas, nos lugares públicos, nas diferentes formas de cultura, lazer e diversão,

na sexualidade. Como vamos lidar com esse desafio?”

O processo de inclusão é imprescindível para que a sociedade se torne justa e

equânime. Porém, para o processo de inclusão ocorrer, deve ser debatido com muita

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sensibilidade, uma vez que, em meio a esse turbilhão, se lida com vidas de homens que se

magoam e sofrem. Para Maraschin (2005, p.137), “qualquer que seja o sentido da inclusão,

todos referem a uma dinâmica nas relações de poder entre redes de conversações. Por algum

princípio – seja étnico, moral, ideológico, econômico – produzimos hierarquias entre redes de

conversação”.

Não se trata somente de uma inclusão material, nem da ampliação da base os consumidores ativos, mas também uma inclusão simbólica, afetiva e social. O constrangimento não atinge apenas algumas classes sociais, podemos mesmo afirmar que existe um empobrecimento social e simbólico de crianças e adolescentes que vivem em condomínios fechados sem acesso a rua. Embora saibamos que esse constrangimento atinge diferencialmente cada estrato social com conseqüências mais ou menos graves, nossa proposta é pensar que somos todos necessariamente passíveis de inclusão (MARASCHIN, 2005, p.137).

O autor Silveira (2008), a exemplo de Demo (2007), apontam para o fato que a

inclusão digital deve começar pela escola, mas a falta de capacitação atualizada dos

professores para manusear novas tecnologias se torna uma barreira no processo de inclusão.

Segundo Silveira (2008, p. 26), “muitas das salas de informática ficam trancadas e acabam

sendo alvo de sucateamento e furto de equipamentos”. Demo (2007, p.16), aponta que: “urge

tornar tais escolas, ainda que gradativamente, centros, laboratórios de aprendizagem digital, o

que demanda [...] mudanças drásticas na formação docente, em sua formação permanente,

principalmente, na didática escolar, tendo em vista evitar, de todos os modos, o

instrucionismo”.

Acredita-se que deva começar pela educação que instigue a pensar e refletir,

diferentemente da tradicional que não garante a formação desse perfil de cidadão. “A

autonomia não é produto tecnológico propriamente, mas carece de base tecnológica

impreterivelmente” (DEMO, 2007, p.6).

Neste sentido, a inclusão digital não pode ser separada da inclusão autônoma dos

segmentos sociais empobrecidos, tendo em vista, que garantirá a construção de suas

identidades nos ciberespaços 10, da ampliação do multiculturalismo11, entre outros aspectos,

10 O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p.17). 11 Alain Tauraine sugeriu que o “multiculturalismo” como postulado de respeito pela liberdade de escolha entre uma variedade de possibilidades culturais fosse separado de algo inteiramente diferente (se não manifestamente, pelo menos em suas conseqüências): uma visão mais bem chamada de multicomunitarismo. O primeiro pede respeito pelo direito de os indivíduos escolherem seus modos de vista e seus compromissos; o segundo supõe, ao contrário, que o compromisso dos indivíduos é um caso encerrado, determinado pelo pertencimento comunitário

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destacando-se, principalmente, a construção, resgate ou ampliação de sua cidadania. Cabe

lembrar a mensagem dita por Santos (2003, p.75) “temos o direito de ser iguais quando a

diferença nos inferioriza e a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”.

Segundo Eisenberg e Cepik (2002), um dos maiores desafios às instituições políticas

da atualidade é oferecer aos cidadãos o chamado empower, poder - empoderamento, onde

participem da tomada de decisões que, justamente, incida sobre os mesmos. Esta falta de

empowerment das instituições políticas leva a duas ponderações; primeiramente, que resulta

na participação ineficiente dos cidadãos na hora da tomada de decisões, porque não dispõem

de canais abertos para essa ocorrência efetiva; o segundo ponto é que mesmo se houvessem

canais abertos à participação, de que maneira isso aconteceria, e a população deveria estar

suficientemente equipada para a eficácia de tal participação.

Neste sentido, Eisenberg e Cepik (2002, p.308) dizem que para haver participações

eficazes existem múltiplas condições sociais, tais como “Os cidadãos devem ter saúde e

nutrição, educação e informação, e precisam ter liberdade para se associarem e se

organizarem. Em resumo, as desigualdades sociais precisam ser reduzidas, para que os

cidadãos tenham acesso igual aos meios de participação”.

Nesta direção, Demo (2007) aponta alguns desafios para que se concretize uma

inclusão efetiva, lembrando também que ela deve ser conduzida de forma comprometida por

parte dos governantes, aliada à educação, com vistas a real efetividade.

Nosso atraso é clamoroso e isso já é parte da marginalização digital. O pior, porém, é que não se vê iniciativa profunda, sistemática, a não ser solavancos, como, de repente, compra de milhares de computadores sem as devidas condições de uso. É preciso, antes de qualquer coisa, que a aprendizagem digital faça parte da formação docente e discente, em definitivo, de modo curricular. Em jogo não está apenas participar da vida política. Ou seja, trata-se de cidadania popular capaz de influir nos destinos da sociedade e da economia. (DEMO, 2007, p.17).

Eisenberg e Cepik (2002) salientam que a questão da inclusão digital deve ser pauta

política dos governos, não devendo ser tratada com descaso, já que muitos alegam a

existência de outras prioridades urgentes como a saúde, a educação e a previdência social.

Contudo, pode-se cair numa armadilha, ao se acreditar que a política da tecnologia da

informação possa esperar para ser implementada.

Os autores prosseguem, “mesmo que a pobreza hoje esteja deixada de lado, e no alto

de nossa lista de prioridades, e continue assim nas próximas décadas, a exclusão digital nos

e, portanto, não passível de negociações. Confundir as duas vertentes no credo culturalista é, porém, tão comum quanto equivocado e politicamente perigoso (BAUMAN, 2003, p.98).

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ameaça no futuro muito próximo. Ou começamos a agir para enfrentá-la agora, ou amanhã

poderemos descobrir que é tarde demais” (p.313).

O momento presente desafia os assistentes sociais a se qualificarem para acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão social nos níveis nacional, regional e municipal, diante das estratégias de descentralização das políticas públicas. Os assistentes sociais se encontram em contato direto e cotidiano com as questões de saúde pública, da criança e do adolescente, da terceira idade, da violência, da habitação, da educação, etc., acompanhando as diferentes maneiras como essas questões são experimentadas pelos sujeitos (IAMAMOTO, 2007, p.41).

Diante disto, o debate acerca da questão digital é inevitável, principalmente àquelas

profissões que trabalham em meio às contradições sociais, a exemplo do Assistente Social,

que deve ter profundo conhecimento para tratar de assuntos que emergem como fruto da

dialética exclusão/inclusão. É notório, na atualidade, a distinção entre “os que têm” e “os que

não têm” acesso às tecnologias, advinda da sociedade da informação. Sendo assim, torna-se

necessário propiciar espaços de reflexão sobre o assunto, tendo em vista a elaboração de

alternativas para os severos reflexos causados aos chamados “novos excluídos”: os excluídos

digitais.

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2 O SERVIÇO SOCIAL SINTONIZADO À REALIDADE COMUNITÁRIA E AOS

NOVOS TEMPOS

Para ampliar o debater acerca da Era Digital, é primordial pontuar-se a área

profissional a que pertence, a fim de compreender as ponderações apresentadas. Neste

sentido, contextualiza-se o espaço sócio-ocupacional profissional, destacando-se o Assistente

Social, para que se entenda, com mais clareza, em qual realidade ele está inserido e de que

forma desvela essa era.

Na contemporaneidade, acredita-se que um dos maiores desafios do Serviço Social é

desvelar a realidade social, conforme descreve Iamamoto (2007). Neste sentido, cabe aqui

apresentar o espaço sócio-ocupacional do Serviço Social no Centro Social Marista Santa

Marta, bem como descrever o trabalho desenvolvido junto à Comunidade da Nova Santa

Marta e algumas significações dos sujeitos.

Para tanto, o primeiro item desta seção explana acerca da recente história da

Comunidade Nova Santa Marta, localizada na região oeste do município de Santa Maria.

Além disto, apresenta o Centro Social Marista Santa Marta, localizado na mesma região da

cidade, ao final demonstrando como essa Comunidade se configura atualmente. O segundo

item explicita a intervenção do Serviço Social do Centro Social Marista Santa Marta junto à

Comunidade, evidenciando de que forma a Comunidade tem recebido este trabalho.

No último item desta seção, destaca-se a introdução do digital na Comunidade, que,

por meio de um Projeto Social desenvolvido pelo Centro Social Marista Santa Marta,

possibilita o acesso às tecnologias digitais a uma parcela de moradores da região. Pretende-se

retomar o debate sobre a Era Digital; principalmente, no que tange àquelas pessoas mais

empobrecidas, impossibilitadas de usufruir dos novos espaços virtuais e das ferramentas

informacionais.

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2.1 UM ELO HISTÓRICO ENTRE COMUNIDADE E CENTRO SOCIAL: HISTÓRIA DE

TRABALHO E EMANCIPAÇÃO

O Centro Social Marista Santa Marta12 localiza-se na Região Oeste do município de

Santa Maria, junto à comunidade da Nova Santa Marta que possui uma história particular de

lutas e resistências. A região oeste13 onde se localiza a Comunidade, uma das mais pobres e

vulneráveis do município, originou-se de uma antiga fazenda conhecida como Santa Marta.

Esta ultima foi desapropriada pelo Governo Estadual Alceu Collares, em 1971, tendo como

objetivo construir um núcleo habitacional financiado pela COHAB – Companhia Estadual de

Habitação.

A Comunidade Nova Santa Marta é fruto de uma ocupação ocorrida no ano de 1991,

motivada pela ação de um grupo de famílias integrantes do Movimento Nacional de Luta pela

Moradia – MNLM. O movimento tinha como objetivo garantir a muitas famílias pobres um

lugar para morar. Em um primeiro momento, contou com cerca de duzentas famílias que

migraram das diversas periferias da cidade e de municípios próximos, em busca de melhores

condições de vida e de um futuro melhor aos descendentes.

O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da resistência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando se fala em território deve-se, pois logo, entender que se está falando em território usado, utilizado por uma dada população (SANTOS, 2000, p.96-7).

Logo após a ocupação, a Comunidade foi denominada por muitos como “sem-teto”,

devido à falta de infra-estrutura inicial da ocupação da área, instalando-se em barracas de lona

e plástico, não havendo energia elétrica nem água encanada. No entanto, as famílias sobre os

lotes foram aumentando e, atualmente, a Nova Santa Marta é um núcleo habitacional

composta de sete vilas, dentre elas: Pôr-do-Sol, Sete de Dezembro, Dezoito de Abril, Dez de

Outubro, Alto da Boa Vista, Núcleo Central e Marista I. Estima-se que residem no local cerca

12 O processo de implantação e implementação do Centro Social Marista Santa Marta, ocorreu posteriormente e paralelamente ao da Escola Fundamental Marista Santa Marta, tendo em vista estar localizado junto às dependências da mesma, foram chamados a participar de construção lideres comunitários, crianças, adolescentes, famílias, educadores e Irmãos Maristas. Cada um, a seu modo, contribuindo nas discussões e debates, com propostas de ação e trabalhos direcionados. Assim, fomentando uma relação de respeito, confiança e parceria entre Comunidade e Centro Social.13 Os dados históricos sobre a região oeste do município de Santa Maria, aqui utilizados, tiveram como fonte documentos disponibilizados pela Escola e pelo Centro Social Marista Santa Marta.

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de 5 mil famílias e aproximadamente 25 mil pessoas, que ainda lutam pela legalização do

território, que até o momento permanece propriedade do Estado do Rio Grande do Sul.

Segundo Edésio Fernandes (2002, p.400), em um artigo publicado na Revista Fórum

de Direito, apresenta um panorama da situação jurídico-social das habitações informais no

Brasil:

Os assentamentos informais – e a conseqüente falta de segurança da posse, vulnerabilidade política e baixa qualidade de vida dos seus ocupantes, que lhes são características – resultam não somente do padrão excludente dos processos de desenvolvimento, planejamento e gestão das áreas, mas também da natureza da ordem jurídica em vigor. Ao longo do processo de urbanização intensiva, mercados de terras especulativos, sistemas políticos clientelistas e regimes jurídicos eletistas não têm oferecido condições suficientes, adequados e acessíveis de acesso à terra urbana e à moradia para os grupos sociais mais pobres, assim provocando a ocupação irregular e inadequada do meio ambiente urbano.

A ocupação desordenada da Nova Santa Marta gerou uma série de problemas:

instalação de residências em áreas de risco, produção de lixo sem o devido recolhimento,

ausência de um sistema de esgoto, proliferação de insetos e parasitas, acessos precários (ruas),

falta de arborização etc. Somando-se a tudo isso, a comunidade convive com a falta de

policiamento, Postos de Saúde, Escolas para atender a demanda de crianças e adolescentes em

idade escolar, áreas de lazer e recreação.

Os moradores da comunidade também enfrentam o problema da discriminação: ao

solicitarem emprego no Centro da cidade, geralmente são descartados e menosprezados por

residirem numa área que surgiu de uma “invasão”. O termo sem-teto é usado por muitas

pessoas com o objetivo de diminuir os moradores da Nova Santa Marta. Situações como essas

configuram uma forma de exclusão social, abrangendo números significativos de sujeitos. De

acordo com Sposati (1999, p.67), “a exclusão social é a impossibilidade de poder partilhar, o

que leva à privação, de um conjunto significativo da população”.

Inúmeras necessidades básicas fundamentais são observadas na realidade da referida

Comunidade. Discutindo acerca dos mínimos sociais, Potyara Pereira (2000) pondera algumas

questões, a fim de explicitar algumas necessidades humanas, freqüentemente vivenciadas por

muitas pessoas empobrecidas:

[...] falta ou privação de algo (tangível ou intangível); preferência por determinado bem ou serviço em relação a outro ou a outros; desejo, de quem psicologicamente se sente carente de alguma coisa; compulsão por determinado tipo de consumo, movida pela dependência ou pelo uso repetitivo ou viciado desse consumo; demanda, como procura por satisfação econômica, social ou psicológica de alguma carência. Há, ainda, quem confunda necessidade com motivação, expectativa ou esperança de obter algo de que se julga merecedor, por direito ou promessa.

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Os moradores da Comunidade Nova Santa Marta, em sua maioria, são trabalhadores

do setor informal, diaristas, tais como pedreiros, pintores, carpinteiros entre outros; contudo,

apresentam grande concentração no ramo de reciclagem, buscando no lixo uma alternativa de

sobrevivência. Cabe ressaltar que esta área ocupada é, atualmente, a maior ocupação urbana

do país.

Dentre tantas adversidades cotidianamente encaradas pela população pobre da Nova

Santa Marta, é relevante destacar que sua força na busca por melhores condições de vida é

incessante. Organizam-se em associações comunitárias que debatem, refletem e pontuam

problemáticas, a fim de reivindicar junto aos órgãos públicos competentes soluções às

demandas estabelecidas em grupo, tendo em vista garantir e efetivar seus direitos como

cidadãos.

Com a crise do Estado, o desprestígio e a burocratização do sistema partidário, o agravamento dos conflitos sociais e a crescente conscientização de vários segmentos sociais, desenvolvem-se novas alternativas de participação, novas áreas de relações sociais (homem/mulher, etnias), incorporando-se temas até aí fora da problemática política tradicional. Exercita-se, assim, outra lógica – a da solidariedade e busca de um consenso normativo em relação a questões básicas, tais como meio ambiente, exclusão social, cooperação internacional, possibilitando-se o surgimento de novos tipos de participação, mais ampla, inclusive de conteúdos mais contestador, formando-se uma nova cultura política em que se valorizam a ação coletiva, a construção de identidades, a criação e efetivação de direitos, o enfrentamento dos problemas cotidianos (TEIXEIRA, 2002, p.28).

A comunidade Nova Santa Marta é composta por crianças, adolescentes, jovens,

adultos e idosos; a situação, conforme o explanado, é de intensa vulnerabilidade social, por

inúmeros motivos, dentre eles: impossibilidade do acesso à escola, visto muitos terem de

trabalhar cedo para sustentar suas famílias; preconceitos múltiplos, em razão da cor, situação

econômica, moradia etc.; despreparo para o mercado de trabalho, falta de qualificação

profissional; entre outros fatores condicionantes de risco social.

Neste sentido, o Centro Social Marista Santa Marta, por estar localizado

estrategicamente na Nova Santa Marta, objetiva promover a inclusão social priorizando o

desenvolvimento da cidadania, a fim de buscar a efetivação dos direitos sociais e a

transformação social a toda comunidade. Atendendo, para tanto, a famílias empobrecidas que

possuem uma situação econômica instável, dentre outras problemáticas rotineiramente

enfrentadas pelas mesmas, tais como as múltiplas formas de desigualdades sociais, o aumento

da drogadição, tráfico, violência familiar, prostituição, corrupção, entre outras, que refletem

intensamente e diretamente na vida dos sujeitos, principalmente, no que tange à juventude.

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Diante disto, cabe aprofundar a questão acerca da família, sendo a mesma a base para

o desenvolvimento bio-psico-social de cada pessoa. Atualmente, a família continua sendo

objeto de profundas discussões e idealizações, tendo em vista que a mesma vem sofrendo

significativas mudanças no século XX. Nesse caso, torna-se quase impossível definir, de

forma clara, um padrão “adequado” ou “inadequado”, já que a família vem se expressando de

múltiplas maneiras.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 institui duas profundas alterações no que se refere à família: 1. a quebra da chefia conjugal masculina, tornando a sociedade conjugal compartilhada em direitos e deveres pelo homem e a mulher; 2. o fim da diferenciação entre filhos legítimos e ilegítimos, reiterada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgando em 1990, que os define como “sujeito de direitos” [...]. O ECA dessacraliza a família a ponto de introduzir a idéia da necessidade de se proteger legalmente qualquer criança contra seus próprios familiares, ao mesmo que reitera “a convivência familiar” como um “direito” básico dessa criança (SARTI, 2007, p.24).

Neste sentido, essa autora segue enfatizando que tais aspectos garantidos pelo Estatuto

da Criança e do Adolescente contribuem para a “desidealização” da família atual, porém,

mecanismos legais são utilizados comumente para exprobrar famílias pobres, como da Nova

Santa Marta, entendidas por muitos como “desestruturadas”, sendo assim, “incapazes” de dar

a atenção e o cuidado que toda criança e adolescente requer.

Desta maneira, o Centro Social Marista Santa Marta oportuniza um trabalho

continuado a crianças, adolescentes, jovens e famílias, no intuito de incluí-los socialmente,

visando seu crescimento, autonomia e emancipação. Nota-se que, para que diminuam as

desigualdades sociais existentes deve haver a inclusão dos sujeitos, de maneira participativa,

respeitando-os enquanto cidadãos de direitos e deveres. A educação, desta maneira, tem papel

fundamental, visto que contribui para formar um ser humano independente, além de

configurar uma alternativa de combate à exclusão social e à violência tão permanentes.

2.2 O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO COMUNITÁRIO: A TEORIA E A PRÁTICA

COTIDIANA

Na contemporaneidade, o Serviço Social vem conquistando campos de atuação

anteriormente impensados, surgidos da necessidade de contar com esse profissional

especialista atuando na área social. O avanço na prática, nas produções teóricas, no

instrumental técnico-operativo, na postura e na participação em instituições públicas e

privadas contribui para a abertura de novos campos de atuação a assistentes sociais.

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Neste sentido, o Serviço Social do Centro Social Marista se originou da necessidade

de oportunizar um trabalho assistencial de qualidade à Comunidade, a fim de atender de

maneira menos paliativa, assistencialista, ou seja, atender no viés assistencial, efetivando o

acesso aos diretos a essa população.

Partindo-se dessa premissa, Montãno (2007, p.19) explana acerca da natureza do

Serviço Social, profissão que “por sua ambigüidade nas expectativas e conceituações, por

suas mudanças de rumos [...] tem dedicado um importante espaço intelectual à tentativa de

responder sobre as causas de sua origem como profissão e sua legitimação, bem como das

funções que cumpre na sociedade e no Estado”.

Devido ao número elevado de crianças e adolescente que vive em condições de

extremo risco social na Nova Santa Marta, entende-se que esta parcela vulnerável da

população necessita de atendimento especializado e continuado. Sendo assim, o Serviço

Social do Centro Social Marista Santa Marta, organizou um trabalho sócio-educativo, via

Projetos Sociais, voltado àquelas crianças e adolescente. No decorrer do trabalho, sentiu-se a

necessidade de intervir junto aos adultos e idosos, uma vez que fazem parte de uma categoria

socialmente vulnerável.

O Serviço Social do Centro Social Marista Santa Marta, via Projetos Sociais, realiza

acompanhamento sistemático com as famílias das crianças e/ou adolescentes atendidos,

garantindo-lhes o desenvolvimento bio-psico-social. Em consonância com a Política Nacional

de Assistência Social14 (PNAS/2004) na proteção social básica15, o Centro Social desenvolve

serviços educativos para crianças e adolescentes e um Centro de Informação e Educação para

o trabalho de jovens e adultos, além de projetos de inclusão produtiva.

No que se refere à proteção social especial de média complexidade, desenvolve-se um

trabalho de Orientação Sócio-familiar (OASF), Plantão Social e Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil (PETI), em parceria com a Prefeitura Municipal e Governo Federal.

14 “A política de Assistência Social, legalmente reconhecida como direito social e dever estatal pela Constituição de 1988 e pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), vem sendo regulamentada intensivamente pelo Governo Federal, com aprovação pelo Conselho Nacional de assistência Social (CNAS), por meio da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) e do Sistema Único de Assistência Social (2005). O objetivo com esse processo é consolidar a Assistência Social como política de Estado; para estabelecer critérios objetivos de partilha de recursos entre estados, DF e municípios; para estabelecer uma relação sistemática e interdependente entre programas, projeto, serviços e benefícios [...]” (CFESS, 2007, p.10). 15 “Pode-se dizer que básico é aquilo que é basilar, mais importante, fundamental, primordial, essencial, ou aquilo que é comum a diversas situações. [...] a Proteção Básica está referida a ações preventivas, que reforçam a convivência, socialização, acolhimento e inserção, e possuem um caráter mais genérico e voltado prioritariamente para a família; e visa desenvolver potencialidades, aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e destina-se a populações em situação de vulnerabilidade social (PNAS, p.27)” (CFESS, 2007, p.11-2).

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O Plantão Social se constitui em um espaço onde a população procura o Serviço

Social para orientações e encaminhamentos às suas demandas mais emergenciais. Desta

maneira, configura um importante espaço, pois permite sistematizar as necessidades mais

recorrentes da população, sendo que, posteriormente, procuram-se meios para superá-las

coletivamente. Ressalta-se que o Plantão Social também é um espaço de socialização de

informações relevantes.

No que se refere ao PETI, as crianças e/ou adolescente inseridos neste projeto recebem

um acompanhamento sistemático, bem como suas famílias, visando garantir que as crianças

e/ou adolescente tenham, de fato, seus direitos efetivados. O acompanhamento é realizado

pelo Serviço Social, via visitas domiciliares, reuniões com os pais ou responsáveis, ou

mesmos, em convocações para entrevistas com os responsáveis.

Batista (2007, p.112), sistematiza algumas manifestações familiares quanto ao

trabalho infantil, sendo uma delas: “os pais, que cresceram trabalhando desde a infância,

incorporam e difundem a cultura de que ‘filho de pobre se educa no trabalho’ e que ‘criança

que não trabalha cresce vagabundo’. O trabalho infantil, por conseguinte, passa de problema a

solução”.

Cabe destacar que muitas dessas crianças e/ou adolescentes são atendidas pelas demais

instituições da rede sócio-assistencial da região oeste. Desta maneira, torna-se fundamental a

existência de uma rede sócio-assistencial fortalecida, conectada e a serviço da população.

Neste sentido, as instituições se organizam em rede, para que de fato ofereçam serviços

compatíveis às demandas.

A rede sócio-assistencial congrega Escolas, Creches, Postos de Saúde, Agentes

Comunitários, Instituições Filantrópicas Assistenciais, entre outras. Semanalmente, o Serviço

Social do Centro Social se reúne no Centro de Referência de Assistência Social, articulador e

integrante da rede, a fim de discutir as demandas da população, apresentar os serviços,

socializar informações e propor ações que contribuam para o crescimento, emancipação e

autonomia da Comunidade.

A noção de redes sociais tem suas raízes conceituais construídas nas ciências sociais a partir de perspectivas muito diversificadas, bastante referenciadas a situações empíricas particularizadas. [...] pode-se destacar duas vertentes principais, em seus primórdios: uma que buscava na noção de rede uma explicação para a estrutura social, a qual era caracterizada como sendo uma rede de relações realmente existente [...]; e outra que encontrava nesta noção uma forma para descrever as relações sociais primárias do cotidiano, tipificando essas relações em fechadas ou abertas, elos fortes ou fracos e assim por diante [...]. Portanto, na primeira, a rede visa a uma explicação da estruturação do social (teoria e explicação da realidade) e, na segunda, o que interessa é a constatação empírica de diferentes formas ou intensidade das

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relações sociais num determinado campo social – parentesco, vizinhança, religião, etc. – (modelo metodológico – operacional para as pesquisas empíricas). (WARREN, 2005, p. 29-0).

Inserido na perspectiva de rede, e percebendo as tendências do mundo atual, no que se

refere ao âmbito do trabalho, o Centro Social Marista Santa Marta oferece aos moradores da

Comunidade meios de instrumentalização para acessarem o mercado de trabalho, por meio de

Cursos de Qualificação Profissional.

Na perspectiva de alcançar um público jovem e adulto, promovem cursos em

diferentes áreas: Hotelaria, Serigrafia, Corte e Costura e Informática. Juntamente a este

trabalho, oportunizam projetos de inclusão produtiva, onde se fomenta a criação e

organização de associações ou cooperativas. Atualmente, existem as iniciativas: Grupo de

Corte e Costura e a Associação de Recicladores Pôr do Sol (ARPS).

Em consonância com os Projetos Sociais desenvolvidos pelo Centro Social Marista

Santa Marta, o Serviço Social realiza um trabalho sistemático e assistencial a cursos e

iniciativas de cooperativas e associações, instrumentalizando os sujeitos quanto aos seus

direitos e deveres como cidadãos e como futuros trabalhadores, dando-lhes assistência técnica

na organização e fomento de associações e cooperativas. Estas novas iniciativas crescem

aceleradamente entre os segmentos mais empobrecidos, pois encontram uns nos outros meios

de se apoiarem e, principalmente, de sobreviverem, resistindo às contradições e desigualdades

sociais.

Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. Questão social que, sendo desigualdade, é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem. [...] Formas de resistência já presentes, por vezes de forma parcialmente ocultas, no cotidiano dos segmentos majoritários da população que dependem do trabalho para sua sobrevivência. Assim, apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e re-invenção da vida construídas no cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas formas novas de viver, que apontam para um futuro que está sendo germinado (IAMAMOTO, 2007, p.28).

Na direção das linhas de objetivo dos demais Projetos Sociais, os Centros de

Informação e Educação para o Trabalho voltado a jovens, adultos e famílias, caracterizam-se

como serviço da proteção social básica. O Centro Social apresenta esta iniciativa pioneira no

campo da inclusão digital, através do Projeto Centro Marista de Inclusão Digital - CMID, que

congrega um Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), o qual está conveniado

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com o Governo Federal, através do Projeto Computadores para Inclusão da Secretária de

Logística e Tecnologia da Informação.

Na era da informação, torna-se cada vez mais visível a necessidade da apreensão e

manejo das tecnologias. Sendo assim, a proposta do CMID é oportunizar acesso às

tecnologias da informação e comunicação (TICs) aos moradores da Nova Santa Marta, tendo

em vista que essa população apresenta pouca ou nenhuma possibilidade de acesso tecnológico

por razões econômicas, sociais, ou mesmo intelectuais. Conseqüentemente, não usufruindo

dos meios de relacionamento, informação e conhecimento da nova Era Digital.

De fato, as tecnologias, neste último século, fazem-se presentes na vida das pessoas,

provocando uma série de conflitos, transformações e mudanças que, fundamentalmente,

possuem implicações sérias de âmbito social. Desta maneira, acredita-se como primordial

oportunizar meios para que os segmentos mais empobrecidos, que não detém recursos, sejam

eles econômicos ou mesmo intelectuais, a conexão a este novo mundo que se desvela a todo o

momento.

Pierre Lévy (1999) aponta respostas à questão da exclusão digital e questiona quem de

fato se opõe às novas tecnologias. “Estima-se freqüentemente que o desenvolvimento da

cibercultura poderia ser um fator suplementar de desigualdade e de exclusão, tanto entre as

classes de uma sociedade como entre nações de países ricos e pobres. Esse risco é real.”

(p.235). O autor observa que de fato o acesso a esses ciberespaços exige infra-estrutura

(computadores), conseqüentemente, necessita-se de altos investimentos, sem considerar

questões humanas e competências, frente às novas tecnologias.

Diante dessas questões, a exclusão se faz um problema, porém, o autor apresenta três

possíveis respostas, que não solucionam de fato as indagações já referidas, mas permitem

alternativas às questões. Primeiramente, é necessário observar-se as tendências de conexão,

que aumentam de forma exponencial, levando a acreditar que o número de excluídos será

cada vez menor. Uma segunda resposta diz respeito ao barateamento e à facilidade do acesso,

uma vez que se tem muita concorrência e facilidade de pagamentos. Por fim, a terceira

resposta se refere aos avanços nos sistemas de comunicação, que acarretam necessariamente

alguma forma de exclusão, quer dizer, a cada novo sistema de comunicação fabricam-se seus

excluídos. O autor exemplifica dizendo que não havia iletrados antes da invenção da escrita

(LÈVY).

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O que fazer? É certo que é preciso favorecer de todas as formas adequadas à facilidade e a redução dos custos de conexão. Mas o problema do “acesso para todos” não pode ser reduzido às dimensões tecnológicas e financeiras geralmente apresentadas. Não basta estar na frente de uma tela, munido de todas as interfaces amigáveis que se possa pensar, para superar uma situação de inferioridade. É preciso antes de mais nada estar em condições de participar ativamente dos processos de inteligência coletiva que representam o principal interesse dos ciberespaços. Os novos instrumentos deveriam servir prioritariamente para valorizar a cultura, as competências, os recursos e os projetos locais, para ajudar as pessoas a participar de coletivos de ajuda mútua, de grupos de aprendizagem cooperativa etc. Em outras palavras, na perspectiva da cibercultura assim como nas abordagens mais clássicas, as políticas voluntaristas de luta as desigualdades e a exclusão devem visar o ganho em autonomia das pessoas ou grupos envolvidos (LÉVY, 1999, p.238).

A motivação da proposta do CMID é diversa, porém, a geratriz está ligada,

indistintamente, à possibilidade de inserção dos excluídos digitais, a partir do uso inteligente e

benéfico dos meios tecnológicos de que se dispõe. Salienta-se a importância de desenvolver

Projetos Sociais, principalmente na área informacional, tendo em vista as novas exigências

apresentadas pelo mercado de trabalho por pessoas que detenham tais conhecimentos. Por

conseguinte, proporcionar subsídios técnicos, desenvolver habilidades pessoais e

profissionais, contribuindo na construção pessoal, implica diretamente no desenvolvimento e

transformação social da Comunidade, já que a mesma é constituída de sujeitos, em sua ampla

maioria, empobrecidos multiplamente.

2.3 O DIGITAL NA COMUNIDADE: CENTRO MARISTA DE INCLUSÃO DIGITAL

UMA NOVA PERSPECTIVA DE INSERÇÃO SOCIAL

O Centro Marista de Inclusão Digital – CMID é fruto de um Projeto Social

desenvolvido pelo Centro Social Marista Santa Marta, fundado no ano de 2005, a partir da

necessidade de se prover inclusão digital à Comunidade. A proposta do trabalho é promover o

acesso às tecnologias de informação e comunicação – TICs, proporcionando subsídios

teóricos e técnicos, para que a população obtenha informações e conhecimentos, com vistas à

formação cidadã.

Em consonância com a idéia de Teixeira (2002, p.38), acredita-se que “a busca da

inclusão se torna uma luta por direitos de cidadania, verificando-se um processo de

empowerment, de criação de forças, de valorização das diferenças, de reconhecimento da

própria organização, que leva à integração no conjunto da sociedade”.

Neste sentido, a proposta perpassa a questão do acesso às tecnologias à população de

baixa renda e, também, sua formação integral, gerando trabalho e renda aos integrantes da

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42

Comunidade envolvidos no projeto. Diante disso, valoriza-se a mão de obra local. A

capacitação destas pessoas para o trabalho ficou a cargo de profissionais especializados na

área. Em meio à montagem e manutenção dos computadores, aos futuros monitores do CMID,

ensina-se aspectos que garantem um aprendizado completo acerca do manuseio de peças de

informática e computação.

A implementação do CMID nessa região atende, interinamente, aos objetivos

propostos pelo projeto intitulado de Computadores para a Inclusão do Ministério do

Planejamento Orçamento e Gestão, pois estará localizado em uma região pobre que carece

desse acesso. O Centro Social Marista Santa Marta representa um papel fundamental de

canalizador de parcerias, buscando recursos necessários para o desenvolvimento do projeto.

A preocupação em incluir digitalmente a sociedade, não se restringe às fronteiras brasileiras. Este é um problema de diversos países e, cada um, de acordo com seu contexto e realidade, está buscando a promoção dessa inclusão, visto seu impacto na esfera da cidadania do indivíduo, no que se refere à sua possibilidade de participar de forma ativa na sociedade. No cenário brasileiro, a realidade sobre renda, educação e acesso a tecnologias de informação e comunicação, consideradas como pilares da inclusão digital, possibilita perceber o grande desafio imposto aos brasileiros, para que possam, se não eliminar, minimizar, de forma substancial, o analfabetismo funcional e digital que assola o país (TONIDANDEL, 2007, p.35).

O CMID também conta com um Telecentro próprio, onde a população da Comunidade

tem acesso à internet gratuitamente. Fruto do trabalho, outros Telecentros também poderão

ser implantados no município; levando às demais regiões periféricas de Santa Maria, escolas,

organizações comunitárias, entre outras, a possibilidade de inserção social por meio das

tecnologias digitais. A iniciativa do Centro Social em desenvolver um projeto na área digital

contribui para desconstruir uma realidade marcada por profundas exclusões, no que tange a

digitalização e acesso ao mundo cibernético.

É fato que muitas pessoas jamais sentaram em frente à máquina, por outro lado, para

uma parcela da população, o envio de e-mails, os sites de relacionamento, a comunicação via

internet e o uso freqüente do computador para o trabalho é natural. Verifica-se, portanto, que

essa questão é relevante ao futuro das pessoas empobrecidas, tendo em vista que o acesso ao

trabalho está intrinsecamente ligado ao uso e manuseio de tecnologias.

Os efeitos de tudo isso podem deflagrar-se no plano das relações sociais e econômicas, da organização do trabalho e do arranjo político. À medida que as redes de telecomunicação ficam mais poderosas, que os produtos são miniaturizados, que os transportes ficam ainda mais velozes, que a organização se torna mais eficiente e menos labour intensive, a produção e o consumo, o gosto e os sentidos transformam-se em fenômenos planetários. Em todo o mundo, enfim, vêem-se os mesmos filmes de Hollywood, bebe-se a mesma Coca-Cola, come-se o mesmo

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43

hambúrguer do McDonald’s, fazem-se conexões com o mesmo Explorer, falam-se o mesmo inglês e o mesmo espanhol, especula-se nas mesmas bolsas [...]. O consumo torna-se revelador e receptor dessa nova e vistosa forma de globalização que, por um lado, transforma o globo num grande aeroporto, unificando nos cheiros, barulhos e cores, nos ritos dos seus negócios duty free, e, por outro, alimenta uma profunda subjetividade que recusa a massificação, o consumo e as modas para privilegiar formas de vida cada vez mais discretas e elegantes (MASI, 2001, p.191).

Na presente Era Digital, acredita-se que a educação seja um elemento fundamental.

Uma educação transformadora, propositiva, que enalteça a inteligência humana, fazendo-a

faça brotar. A educação é o principal meio de transformar a vida das pessoas. É a partir dela

que se configuram as visões de homem, mundo e sociedade. Cabe ressaltar que, ainda hoje,

com tantos avanços, a era é marcada fortemente pelos conhecimentos auferidos por meio da

educação formal. É papel do Estado e da sociedade prover oportunidades de ensino-

aprendizagem que transcendam os muros da escola e atinjam a realidade social comunitária,

visando sempre a transformação social.

Emir Sader, no prefácio do livro “A educação para além do Capital” de István

Mészáros (2005, p.17), ressalta que “vivemos atualmente a convivência de uma massa inédita

de informações disponíveis e uma incapacidade aparentemente insuperável de interpretação

dos fenômenos. Vivemos o que alguns chamam de “novo analfabetismo”-, típico dos

discursos econômicos”.

Constata-se que a educação precisa sair do terreno da pedagogia escolar, e ir para os

espaços públicos, conseqüentemente, abrindo-se ao mundo. Mészáros (2005) alerta que a

escola é um dos acessos necessários para a educação, porém insuficiente para retirar o véu e

fazer aparecer pessoas que se encontram excluídas da sociedade. Cada vez mais, a

estratificação social e o acúmulo de riqueza se dão em função da capacidade de acessar e

processar informação conhecimento. O acesso cotidiano às redes, aos equipamentos e o

domínio das habilidades relacionadas às tecnologias de informação e comunicação são um

requisito indispensável à integração social, atividade econômica e fortalecimento da

cidadania. Dessa forma, a exclusão digital se combina com a herança persistente da

desigualdade socioeconômica, exigindo ações integradas de amplo alcance voltadas para a

cidadania.

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44

3 SERVIÇO SOCIAL E OS DESAFIOS DA INCLUSÃO DIGITAL

A atual conjuntura faz com que o Serviço Social se depare com uma diversidade de

desafios, em razão das múltiplas formas de exclusão e desigualdades existentes. Desta

maneira, sendo de extrema importância à referida profissão a apropriação e o desvelamento da

realidade, para que possa intervir junto à mesma no intuito de transformá-la.

Neste sentido, a exclusão digital vem se configurando como mais uma forma de

exclusão social, tendo em vista um número significativo dos segmentos empobrecidos

estarem apartados desta nova sociedade informacional, a qual todos, de uma maneira ou de

outra, encontram-se inseridos na atualidade. Sendo assim, esta terceira seção do trabalho final

de graduação trata deste novo desafio ao Serviço Social: a questão da inclusão digital.

Para tanto, está organizada em três subitens. O primeiro discute acerca da importância

da educação digital para a inclusão social, acreditando que a educação é fator primordial à

inclusão social, autonomia e emancipação dos sujeitos. O segundo apresenta o Serviço Social

inserido na Era Digital, destacando o novo campo sócio-ocupacional que se abre para o

Assistente Social. O último subitem desta seção relata a experiência prática acadêmica, em

cursos de informática promovidos pelo Centro Marista de Inclusão Digital - CMID,

pontuando aspectos positivos e negativos da intervenção realizada.

3.1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NA ERA DIGITAL PARA A INCLUSÃO

SOCIAL

Conforme discorrido anteriormente neste trabalho, vive-se em meio a um processo de

evolução tecnológico avassalador que atinge a todos os sujeitos de forma mais ou menos

intensa; sendo que os processos educacionais se encontram intrinsecamente ligados aos

processos sociais, no sentido de que os sujeitos atingidos negativamente sejam aqueles que

não obtiveram meios de fortalecimento e apropriação de conhecimentos.

Neste sentido, a educação se caracteriza pela suma importância, à medida que se

almeja sujeitos críticos, propositivos, verdadeiros protagonistas de suas histórias. A mudança

e a transformação social podem ocorrer sempre que os sujeitos estiverem de fato aparelhados

o suficientemente de conhecimentos, tendo clareza da importância de seu papel perante a

sociedade, para que não sirvam de “fantoches” nas mãos dos interesses dominantes. Segundo

Demo (2007), a pobreza mais intensa não é a material e sim a política, pois congrega a

autonomia do sujeito. Neste sentido, ele sugere um novo conceito de pobreza: “pobreza

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45

política, para assinalar o déficit de cidadania, a condição de massa de manobra, a situação de

objeto manipulado, a ignorância produzida, imposta e mantida” (p.05).

Poucos negariam hoje que os processos educacionais e os processos sociais mais abrangentes de reprodução estão intimamente ligados. Consequentemente, uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança (MÉSZÁROS, 2005, p.25).

É notório perceber a importância da educação do decorrer da história da humanidade.

Não se trata apenas de uma educação formal que ensine a ler e a escrever, mas uma educação

que de fato possibilite a construção de um sujeito apto a desfrutar de direitos e a exercer

deveres. O caminho percorrido até o presente momento, gerando inúmeras inovações e

benefícios ao homem, é fruto de estudos, pesquisas, conhecimentos, originados da educação.

A educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no seu todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade, seja na forma “internalizada” (isto é, pelos indivíduos devidamente “educados” e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente impostas (MÉZÀROS, 2005, p.35).

Neste sentido, acredita-se que a educação transcende os muros da escola,

apresentando-se no cotidiano das pessoas, em suas experiências, vivências pessoais,

ensinando uns aos outros. Porém, é inegável que a educação escolar seja fundamento para os

sujeitos, mas também é fato que, na atual conjuntura social, econômica e cultural, encontre-se

fragilizada no Brasil.

Esta fragilização se deve à falta de investimentos na área de recursos humanos e

físicos, à falta de incentivos e investimentos a capacitações constantes dos profissionais da

área (aqui no que tange ao setor público), gestão ineficiente, conexão com a realidade, entre

outros fatores.

Neste sentido, como pensar que os sujeitos estarão preparados e conectados o

suficiente para lidar com os novos desafios que a sociedade informacional apresenta? Como

pensar que estes sujeitos estarão aptos a propor plataformas políticas que visem o crescimento

e o avanço dos segmentos mais empobrecidos e, conseqüentemente, do país? Que busquem a

legitimação, a efetivação de seus direitos?

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Segundo Demo (2007, p.05), em uma sociedade intensiva de conhecimento “as

oportunidades, em especial de acesso à qualidade de vida, são definidas pelo acesso e manejo

do conhecimento e respectivas plataformas tecnológicas, já que a riqueza das nações depende,

acima de tudo, de pessoas educadas e suas idéias”.

Mesmo nas nações menos evoluídas, mais atrasadas, as tecnologias perpassam o

cotidiano das mesmas, seja no trabalho, seja na maneira como elas se comunicam. Trata-se,

pois, de um mundo globalizado. Contudo, como já foi dito, tendem a afetar alguns de forma

mais ou menos drástica.

Segundo dados do Censo de 2000, sobre a taxa de analfabetismo no Brasil,

equivalente a 16 milhões na sociedade da informação, estes sujeitos se encontram excluídos,

descartados, tendo em vista não possuírem ferramentas, instrumentos para se comunicarem

com os demais. Cabe ressaltar que o conceito entorno do analfabetismo vem sofrendo

alterações ao longo do tempo, principalmente na época atual.

Conforme o IBGE, o conceito usado para denominar o sujeito alfabetizado é a “pessoa

capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece”. Contudo,

cada vez mais, este conceito vem sendo revisto, isto é, a existência de uma categoria chamada

de analfabetismo funcional é reconhecida, incluindo todos aqueles com menos de quatro

séries de estudos concluídas. Neste sentido, o número de analfabetos no Brasil saltaria de 16

milhões para 30 milhões, considerando a população de 15 anos ou mais16.

Desta maneira, o analfabetismo torna-se um problema seriíssimo na sociedade atual,

como bem expressa Demo (2007, p.07-8):

O que mais importa é reconhecer que a marginalização digital17 está se tornando uma das mais drásticas, tanto porque segrega pessoas e sociedades do usufruto tecnológico, quanto porque agrava a pobreza política: estar analfabeto não é apenas não saber ler, escrever e contar, é principalmente estar por fora do mundo digital, em especial das oportunidades de saber pensar mediadas por plataformas informacionais.

Para tanto, mais do que nunca, deve-se tratar a educação com muita seriedade, ela

deve estar incluída de fato na pauta política dos governantes. Mészáros, parafraseando a

16 Os dados documentais, ora apresentados, foram obtidos no site do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa <http://www.inep.gov.br/download/cibec/2000/rbep/rbep199_010.pdf> Acesso dia: 23 de novembro de 2008.17 Prefiro o conceito de marginalização ao de exclusão, porque este tende a ser estanque: ou fora ou dentro. Como os pesquisadores mais críticos sugerem, trata-se de percepção equivocada, já que os que estão fora são parte do mesmo sistema, dentro da mesma unidade de contrários. Ademais, ao serem pobres incluídos, o que costuma acorrer é a inclusão na margem, ou seja, continuam marginalizados, ainda que um pouco mais dentro do sistema (DEMO, 2007, p.06).

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47

epígrafe de José Martí, diz o seguinte: “as soluções não podem ser apenas formais; elas

devem ser essenciais”. Neste sentido, entende-se que não basta promover o acesso a escolas,

mas um acesso igual a todos, e uma escola de qualidade, professores capacitados e atentos à

realidade dos alunos. Os alunos da atualidade não são mais os mesmos de antigamente,

almejam mais, questionam mais, apresentam sede de conhecimento de saber. Sendo assim, a

escola deve estar preparada para atender a nova demanda estabelecida.

3.2 SERVIÇO SOCIAL INSERIDO NA ERA DIGITAL: UM NOVO CAMPO SÓCIO-

OCUPACIONAL

O Serviço Social, assim como as demais profissões, está inserido na era digital e, de

uma forma ou de outra, tende a se adaptar às novas exigências. Diante disto, o Serviço Social

se questiona a respeito da sua especificidade, tendo em vista que trabalha com diversas

situações que, aparentemente, poderiam ser trabalhadas por outros profissionais.

Na Era Digital, não é diferente, muitos poderiam pensar sobre o que os processos

digitais implicariam no trabalho do Assistente Social, ou mesmo, o que, como, e onde o

Assistente Social estaria inscrito para trabalhar nos meios digitais. Montaño (2007, p.128),

apoiado em Iamamoto, reconhece que o Serviço Social “almeja ter um campo ‘próprio’ de

trabalho, enquanto área ‘especifica’ que lhe atribua status e facilite o seu reconhecimento

profissional”.

Neste sentido, o autor acima segue pontuando:

Assim, a necessidade de estabelecer essa tal “especificidade” é procurada obsessivamente devido à crença de que recai nela a razão de ser da profissão, sua legitimidade (cf. capítulo I, item 2.1), podendo-se observar ornamentos paranóicos por estar ligada à necessidade de fechar as fronteiras aos profissionais de fora, caindo numa “endogenia” do Serviço Social: “não invadir para não ser invadido”, como forma de garantir os espaços profissionais e ocupacionais, sem necessidade de elevar o nível de qualificação do Serviço Social, dada a ausência de concorrência (nos campos de trabalho “específicos”) com outros profissionais (2007, p.128).

A especificidade pode se tornar uma forma “egoísta” de encarar a profissão,

principalmente no que tange às áreas de atuação do Serviço Social, até mesmo, contribuindo

para que o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar não se efetive. Cada vez mais, exige-se

um profissional capacitado, flexível e que saiba trabalhar em grupo, principalmente

profissionais como Assistentes Sociais, que carecem de uma rede sócio-assistencial

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fortalecida, que congrega diferentes profissionais atuando, desde recepcionista até médicos,

para que o trabalho se desenvolva de forma satisfatória e efetiva.

O profissional do Serviço Social da atualidade vem sendo convocado para atuar nas

mais diversas áreas, e em cargos cada vez mais elevados, por inúmeras razões, dentre elas seu

olhar totalitário, seu conhecimento que não perpassa apenas a área de atuação, mas, também,

as demais áreas do conhecimento. Conforme Iamamoto (2007, p.63) “o assistente social não

realiza seu trabalho isoladamente, mas como parte de um trabalho coletivo que forma uma

grande equipe de trabalho”.

Neste sentido, cabe entender a categoria trabalho, que, segundo Simionatto (1998), é

fundamental para compreender o movimento dialético entre o homem e a natureza. Para a

autora, “o trabalho é, portanto, uma atividade prático-social que funda a sociabilidade

humana, que cria e recria as relações sociais”, isto é, a centralidade do trabalho.

Desta maneira, o processo de trabalho do Assistente Social, apresentado por

Simionatto (1998, p.12), apóia-se em Marx, e consiste em quatro elementos fundamentais:

a) o trabalho: atividade humana adequada a um determinado fim; b) o objeto [...] matéria-prima do trabalho do assistente social são as diversas expressões da questão social que se manifestam na vida cotidiana [...]; c) meios de trabalho ou instrumental de trabalho [...] chamado arsenal técnico como entrevistas, reuniões, visitas domiciliares, encaminhamentos etc. No entanto, o instrumental de trabalho inclui, além do arsenal técnico, as bases teórico-metodológicas que o profissional mobiliza para realizar o seu trabalho [...]. O conhecimento não é, assim, apenas um pano de fundo, mas elemento constitutivo do trabalho profissional; d) produto do trabalho ou resultado do processo de trabalho [...] finalidades, objetivos e metas. Em relação ao Serviço Social, a sua finalidade maior é a defesa dos direitos sociais, a ampliação da cidadania e a consolidação da democracia [...]. O resultado do trabalho do assistente social ocorre tanto no campo objetivo, através da prestação de serviços concretos necessários à reprodução material da força de trabalho, quanto no campo subjetivo, através de ações referentes às esferas ideológica, política, cultural etc.

A partir dos elementos acima elencados, constata-se que o trabalho é uma ação que

visa à transformação, por meio de todos os instrumentos mencionados. Tal transformação visa

atender as necessidades dos sujeitos, principalmente àqueles que se encontram em extrema

situação de vulnerabilidade social. Vale ressaltar que necessidades sociais diferenciam-se de

demandas sociais. Quem bem esclarece esta questão é Mota (1997, p. 52):

As demandas, a rigor, são requisições técnico-operativas que, através do mercado de trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes. Em outros termos, elas comportam uma “teleologia” dos requisitantes a respeito das modalidades de atendimento de suas necessidades. Por isso mesmo, o conhecimento das demandas é o principal ponto de partida para o desvelamento das reais necessidades que as determinam.

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49

Neste contexto, uma provocação é apresentada ao Serviço Social: identificar as “reais

necessidades” dos sujeitos. Para tanto, é preciso que o profissional percorra o caminho entre a

demanda e as necessidades fundantes, sempre situado com a conjuntura econômica, social e

política do momento, tendo em vista, a complexidade da sociedade capitalista. “[...] são as

novas modalidades de produção e reprodução social da força de trabalho, exigindo a

refuncionalização de procedimentos e determinando um rearranjo de competências técnicas e

políticas” (MOTA, 1997, p.52).

Essa autora liga as reais necessidades dos sujeitos do processo de reestruturação

produtiva logo após as mediações vinculadas a tais necessidades. Tendo em vista uma

conjuntura de crise, as novas exigências estabelecidas pelo mercado de trabalho exigem

sujeitos cada vez mais qualificados e conectados à realidade. Nessa direção, o papel das

forças produtivas passa por uma remodelagem que influencia tanto a produção quanto as

relações sociais.

O Serviço Social se insere neste contexto de transformação, visando proporcionar

meios para que os sujeitos se estabeleçam de fato, de forma autônoma e emancipatória. Neste

sentido, cursos que subsidiem meios para que os sujeitos se estabeleçam, promovendo

instrumentos que contribuam para sua inserção no mercado de trabalho, e, conseqüentemente,

que melhorem sua qualidade de vida.

O Centro Marista de Inclusão Digital – CMID desenvolve um projeto social vinculado

ao Centro Social Marista, visando trabalhar a promoção da autonomia, proporcionando

instrumentos técnicos e humanos para os moradores da Nova Santa Marta. Este projeto social

oportuniza cursos de qualificação profissional na área de informática, além de outros

instrumentos sociais, que são trabalhados pelo Serviço Social, afim de que os sujeitos

detenham conhecimentos técnicos e sociais.

O Serviço Social, desta maneira, trabalha nesses cursos de qualificação com temáticas

que estejam ligadas e que se configuram como fundamentais à inserção no mercado de

trabalho, tais como direitos trabalhistas e previdenciários; construção de currículos; tratos

com superiores, entre outros. Por conseguinte, constata-se que um novo campo sócio-

ocupacional se abre ao Serviço Social, devido às necessidades que se apresentam na

atualidade, em especial, na campo social.

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50

3.3 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO CMID: RELATO DE EXPERIÊNCIAS

O terceiro item, da presente seção, apresenta a experiência prática acadêmica em

cursos de qualificação profissional na área informacional, ofertados à Comunidade Nova

Santa Marta, por meio de um projeto social vinculado ao Centro Marista Santa Marta,

intitulado Centro Marista de Inclusão Digital – CMID.

Este projeto social, implementado no ano de 2005, visa oportunizar aos moradores da

Comunidade cursos de qualificação profissional na área informacional; no intuito de preparar

os sujeitos para inserção no mercado de trabalho, além de promover a inclusão digital a esta

parcela da população que, por inúmeras razões, econômicas, sociais e até mesmo intelectuais,

não possuem meios para participar das benesses que a Era Digital pode proporcionar, além da

necessidade de utilização e manuseio das ferramentas informacionais.

Embora o projeto social CMID opere acerca de três anos, somente no ano de 2008, por

ocasião do estágio curricular em Serviço Social, elaborou-se um projeto de intervenção na

área digital, a partir das necessidades emergentes da Comunidade e das exigências do mundo

atual; visando oportunizar aos moradores da Comunidade, por meio do Centro Marista de

Inclusão Digital – CMID, cursos de qualificação profissional na área informacional.

A partir das demandas emergentes do campo de estágio, constatou-se que os sujeitos

que procuravam por cursos de qualificação almejavam ascender no trabalho, ou mesmo

conquistar uma colocação no mercado formal de trabalho. Sendo assim, propôs-se um projeto

na área do Serviço Social que abarcasse a educação digital voltada à inclusão social. O

objetivo deste projeto visava socializar informações, para capacitá-los à inclusão no mercado

de trabalho, instrumentalizando-os para o exercício da cidadania.

Para o fortalecimento e aplicação do conhecimento em prol da redução da desigualdade, pelo enfrentamento da pobreza, para o acesso de todos a bens e serviços que garantam uma vida digna, pelo fortalecimento e organização das classes subalternizadas, para que o controle social das políticas públicas e da política econômica seja desenvolvido de baixo para cima (SILVA e YASBECK, 2005, p.30).

Neste sentido, o Serviço Social, aliado aos conhecimentos teórico-metodológico,

técnico-operativo e ético-político, obtidos no decorrer do curso, colocou em prática o referido

projeto de intervenção. Utilizando-se de conhecimentos teóricos, tanto do campo do Serviço

Social, como de outras áreas do conhecimento, aliando teoria e prática.

Page 52: TFG Larissa

51

A instrumentalidade do Serviço Social, dada pela forma na qual a profissão se insere na divisão social e técnica do trabalho e resposta pela dinâmica da realidade social, tanto vincula a profissão a outros ramos de atividade profissional quanto atribui à profissão um status peculiar, já que contempla as ações pelas quais o profissional é reconhecido e requisitado socialmente. Porém, pela sua natureza contraditória, a instrumentalidade da profissão tanto conserva e reproduz aspectos do modo de ser capitalista quanto os nega e os supera (GUERRA, 2002, p.159).

Como resultado da implementação do projeto, conquistou-se a afirmação de jovens

capacitados tecnicamente, além de sujeitos críticos e conscientes de seu papel como cidadão.

Entende-se que os mesmos puderam adquirir melhores condições para inserção no mercado

de trabalho, em razão da bagagem técnica conquistada no decorrer dos cursos oferecidos.

Neste sentido, construiu-se fichas que obtivessem dados iniciais dos usuários que

ingressassem no curso, no intuito de traçar um perfil dos mesmos, enfatizando quanto aos

seus objetivos, aspirações, o que os motivou a buscar o curso, entre outras questões

relevantes. Desta maneira, apresentar-se uma amostra de dados de dois cursos desenvolvidos

no turno da noite, no período que compreende julho a agosto (Sistema Operacional Linux I) e

setembro a outubro (Sistema Operacional Linux II), com duração de duas horas, três dias na

semana.

No término de cada curso, também se aplicou um formulário aos usuários, os quais

avaliavam o desempenho do curso, se haviam superado suas expectativas e como o curso iria

beneficiar (ou não) sua vida a partir do curso. Cabe ressaltar que os dados coletados pelo

Serviço Social nos cursos de qualificação profissional do CMID servem como fonte

balizadora ao Centro Social Marista Santa Marta, no sentido de avaliação das pessoas

atendidas e também de pontuar possíveis falhas no projeto social. Desta maneira, foram

entrevistados 8 usuários do primeiro curso e 9 do segundo curso, totalizando em 17 usuários.

Sistema Operacional Linux I - Sexo -

5; 62%

3; 38%Feminino

Masculino

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52

Gráfico 01 - Percentual por sexo dos usuários do curso SOL I, atendidos pelo Serviço Social, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta , CMID.

Sistema Operacional Linux II- Sexo -

9; 100%

0; 0%

Feminino

Masculino

Gráfico 02 - Percentual por sexo dos usuários do curso SOL II, atendidos pelo Serviço Social, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

No que se refere ao sexo dos usuários atendidos pelos cursos de qualificação do

CMID, nota-se, a partir dos gráficos, um percentual expressivo de mulheres, totalizando no

02, percentual de 100% do sexo feminino.

Observou-se que as mulheres inicialmente buscaram para conhecer o mundo

tecnológico sobre o qual seus filhos têm muito mais propriedade que elas. Desse modo,

poderiam estar mais conectadas aos filhos. Além disto, outro fator primordial é que buscavam

meios de qualificação, para inserção no mercado de trabalho que, segundo as mesmas,

configura-se cada vez pior “agora até para ser empregada doméstica eles pedem estudo e

curso, é tudo pela tal de internet” (sic).

De maneira geral, os usuários dos cursos entendiam que o trabalho é a fonte de

alcançar sonhos, bem como de conquistarem a tão sonhada casa própria. Desde os primórdios

da humanidade, já se falava em conceito de qualidade “mais bela é a justiça, e melhor a saúde;

mais agradável é possuir o que amamos. Todos estes atributos estão presentes nas melhores

atividades, e identificamos uma destas (a melhor de todas) como a felicidade” (Aristóteles).

Page 54: TFG Larissa

53

Sistema Operacional Linnux I- Escolaridade -

3; 37%

1; 13%2; 25%

2; 25%

Ens. FundamentalIncompletoEns. FundamentalCompletoEns. MédioIncompletoEns. MédioCompleto

Gráfico 03 - Percentual de escolaridade dos usuários do curso SOL I, atendidos pelo Serviço Social, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Sistema Operacional Linux II - Escolaridade -

3; 34%

0; 0%

3; 33%

3; 33%

Ens. FundamentalIncompleto

Ens. FundamentalCompleto

Ens. MédioIncompleto

Ens. Médio Completo

Gráfico 04 - Percentual de escolaridade dos usuários do curso SOL II, atendidos pelo Serviço Social, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

É fundamental, neste sentido, avaliar questões referentes à escolaridade dos usuários,

tendo em vista que os mesmos, em sua grande maioria, não possuem o Ensino Fundamental

Completo, ou seja, a questão do analfabetismo funcional, como já dito anteriormente, aqui se

mostra bastante presente. Observa-se no decorrer do trabalho, nos debates e discussões acerca

das temáticas explanadas, que os sujeitos possuem dificuldade em expressar o que pensam,

tanto oralmente quanto na escrita.

Mais uma vez, faz-se de extrema importância destacar o papel fundamental da

educação. Como esses sujeitos poderão propor mudanças, se nem mesmo conseguem se

expressar? Entende-se que, em certa medida, dependerá do exercício de cada um buscar mais

conhecimentos e informações. Porém, acredita-se que é na escola, no princípio dos estudos

Page 55: TFG Larissa

54

que se planta a semente da vontade, do prazer em buscar cada vez mais. Sendo assim, a

educação possui um papel fundamental na sociedade da informação, como bem ressalta

Imbernón (2006, p. 19):

É interessante analisar a relação entre inovação educativa e profissão docente. Entendida como pesquisa educativa na prática, a inovação requer novas e velhas concepções pedagógicas e uma nova cultura profissional forjada nos valores da colaboração e do progresso social, considerado como transformação educativa e social.

Para tanto, é inevitável o debate entorno da educação na contemporaneidade, à medida

que a mudança paradigmática tem influenciado a sociedade nos mais distintos aspectos. Neste

sentido, torna-se importante a análise da questão digital, refletindo alternativas que busquem

sanar problemas como da exclusão digital, principalmente, dando-se conta da importância do

debate à sociedade contemporânea, e o reflexo que a questão digital pode causar no futuro.

Sistema Operacional Linux I - Carteira Profissional Assinada -

6; 75%

2; 25%

Sim

Não

Gráfico 05 - Percentual de Carteira de Trabalho assinada em algum momento da trajetória de trabalho, dos usuários do curso SOL I, atendidos pelo Serviço Social, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Page 56: TFG Larissa

55

Sistema Operacional Linux II - Carteira Profissional Assinada -

2; 22%

7; 78%

Sim

Não

Gráfico 06 - Percentual de Carteira de Trabalho assinada em algum momento da trajetória de trabalho, dos usuários do curso SOL II, atendidos pelo Serviço Social, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Outro aspecto a ser destacado, diz respeito da carteira de trabalho já ter sido assinada

alguma vez. No primeiro curso de Sistema Operacional Linux I, 75% dos participantes já

tiveram um empregador assinando sua carteira de trabalho. Em contrapartida, no segundo

curso, apenas 22% já haviam tido essa experiência.

Neste sentido, observam-se algumas questões: muitos usuários do primeiro curso já se

encontravam inseridos no mercado de trabalho e buscavam no curso conhecimentos acerca

das ferramentas informacionais, conforme necessidades oriundas de seus empregos. Como

exemplo de um frentista de um posto de gasolina, entendendo-se que, de alguma maneira,

estava em contato diário com as tecnologias; até mesmo no momento de passar o cartão de

crédito do cliente, em que deveria se apropriar de ferramentas para melhor exercer seu

trabalho e, quem sabe, crescer no emprego. Outros se encontravam inseridos no mercado,

mas esperavam retornar de carteira assinada.

A década de 80 foi marcada por profundas transformações, principalmente no que

tange ao mundo do trabalho. Década de saltos tecnológicos, da automação, da robótica e da

microeletrônica, invadindo o universo fabril, inserindo-se e se integrando nas relações de

trabalho e produção, transformando intensamente a vida das pessoas.

O trabalho humano, como fator de produção, como mecanismo de participação social ou força evolutiva criadora do sujeito, é tratado como manifestação de uma realidade capitalista, uma relação social onde o poder é representado pela capacidade de acumulação e, conseqüentemente por um movimento incessante de criação, ampliação, crescimento e diversificação dos ramos de produção. Como síntese, temos uma divisão social do trabalho hegemonizada pelos setores mais dinâmicos e mais competitivos. Mais extensa e profunda será esta divisão quanto mais desenvolvida for a sociedade [...] (DALBOSCO; KUYUMJIAN, 1999, p.190).

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56

Referente ao segundo curso de Sistema Operacional Linux II, constatou-se que a

grande maioria era de jovens entre 13 e 28 anos, que buscavam no curso fontes de

conhecimento para concorrerem a vagas no mercado de trabalho formal, obtendo suas

primeiras experiências com carteira assinada.

No intuito de preparar os sujeitos tecnicamente e socialmente, o Serviço Social buscou

abordar diversas temáticas referentes a questões importantes ao trabalho, no intuito que as

pessoas saíssem seguras, confiantes e bem preparadas. Então, discutiu-se acerca das relações

interpessoais com colegas, planejamento (projeções pessoais), elaboração de currículo,

cuidados pessoais, direitos trabalhistas e previdenciários, entre outras temáticas.

Neste sentido, firmaram-se algumas parceiras com profissionais que trabalham

justamente com as temáticas descritas, que ministraram algumas palestram para

complementar o que vinha sendo trabalhado.

A partir de todas as questões trabalhadas, discutidas e refletidas no decorrer do curso,

perguntou-se aos usuários quanto à satisfação, expectativas (se as mesmas foram superadas) e

quanto à pretensão em continuar sua qualificação, obtendo-se as seguintes respostas:

Satisfação quanto às temáticas trabalhadas:

Sistema Operacional Linux I - Satisfação quanto as Temáticas -

5; 100%

0; 0%

0; 0%Sim

Não

Em Parte

Gráfico 07 - Percentual de satisfação dos usuários do Serviço Social, quanto às temáticas abordadas no curso de SOL I, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Page 58: TFG Larissa

57

Sistema Operacional Linux II - Satisfação quanto as Temáticas -

6; 86%

0; 0%1; 14%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 08 - Percentual de satisfação dos usuários do Serviço Social, quanto às temáticas abordadas no curso de SOL II, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Expectativas, se as mesmas foram superadas:

Sistema Operacional Linux I - Quanto as Expectativas -

5; 100%

0; 0%0; 0%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 09 - Percentual quanto às expectativas dos usuários do Serviço Social, em relação ao curso de SOL I, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Page 59: TFG Larissa

58

Sistema Operacional Linux II - Quanto as Expectativa -

7; 100%

0; 0%0; 0%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 10 - Percentual quanto às expectativas dos usuários do Serviço Social, em relação ao curso de SOL II, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Expressa interesse em continuar a qualificação profissional:

Sistema Operacional Linux I - Quanto a qualificação profissional

constante-

5; 100%

0; 0%

0; 0% Sim

Não

Em Parte

Gráfico 11 - Percentual quanto às intenções dos usuários do Serviço Social do curso de SOL I, para capacitações constantes. Este curso desenvolveu-se no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Page 60: TFG Larissa

59

Sistema Operacional Linux II - Quanto a qualificação profissional constante

7; 100%

0; 0%0; 0%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 12 - Percentual quanto às intenções dos usuários do Serviço Social do curso de SOL II, em continuar capacitações constantes. Este curso desenvolveu-se no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

A partir das questões representadas nos gráficos 07, 08, 09, 10, 11, 12, perguntou-se se

os usuários acreditam que estariam preparados para inserirem-se no mercado de trabalho, bem

como se o curso contribuiu para seu crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional, os

mesmos responderam que:

Inserção no mercado de trabalho:

Sistema Operacional Linux I - Capacitado para o Mercado de Trabalho -

1; 20%

0; 0%

4; 80%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 13 - Percentual dos usuários do Serviço Social que se sentem preparados para o mercado de trabalho. Estes atendidos no curso SOL I, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Page 61: TFG Larissa

60

Sistema Operacional Linux II - Capacitado para o Mercado de Trabalho -

4; 57%

0; 0%

3; 43% Sim

Não

Em Parte

Gráfico 14: Percentual dos usuários do Serviço Social que se sentem preparados para o mercado de trabalho. Estes atendidos no curso SOL I, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

A partir dos dados obtidos, percebe-se que os participantes do primeiro curso, aqueles

que já contam com experiências de trabalho, consideram que o curso foi muito relevante, à

medida que é entendido como uma complementação, até mesmo porque as tecnologias se

fazem presentes em todos os campos de trabalho. Já os participantes do segundo curso, para

quem o curso significou o que procuravam, consequentemente, acreditam estar preparados, e

43% deles compartilham das mesmas idéias que a maioria do primeiro grupo.

Cabe destacar que, no decorrer dos encontros, salientou-se constantemente que as

mudanças, as transformações do mundo atual, ocorrem com tanta velocidade; por

conseguinte, que as exigências dos empregadores também, sendo que a qualificação deve ser

algo presente, com vistas a se manter nos postos de trabalho.

O curso contribui para sua vida pessoal e profissional:

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61

Sistema Operacional Linux I - Contribuições para vida profissional e

pessoal -

4; 80%

0; 0%

1; 20%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 15 - Percentual referente às contribuições que o curso SOL I proporcionou aos usuários do Serviço Social, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Sistema Operacional Linux II - Contribuições para vida pessoal e

profissional -

6; 86%

0; 0%1; 14%

Sim

Não

Em Parte

Gráfico 16 - Percentual referente às contribuições que o curso SOL II proporcionou aos usuários do Serviço Social, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Por fim, realizou-se uma avaliação, segundo os usuários dos cursos, quanto ao próprio

desempenho e ao desempenho dos que ministraram os cursos. Inicialmente, pediu-se que se

auto-atribuíssem uma nota de 01 a 10, e da mesma forma para o curso. Logo, que

descrevessem algumas considerações que julgassem importantes.

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62

Avaliação quanto ao desempenho pessoal:

0

1

2

Sistema Operacional Linux I - Avaliação quanto seu desempenho -

Conceito: 6

Conceito: 8

Conceito: 9

Conceito: 10

Série1 1 1 1 2

Conce Conce Conce Conce

Gráfico 17: Percentual das avaliações dos usuários do Serviço Social do curso de SOL I, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

1 1 1

4

0

5

Sistema Operacional Linux II - Avaliação quanto ao seu desempenho -

Conceito: 07

Conceito: 08

Conceito: 9,5

Conceito: 10

Série1 1 1 1 4

Con Con Con Con

Gráfico 18: Percentual das avaliações dos usuários do Serviço Social do curso de SOL II, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Page 64: TFG Larissa

63

Avaliação do curso (metodologia, temáticas, dinâmicas, convidados etc.).

Sistema Operacional Linux I - Avaliação Quantitativa do Curso -

1

4

Conceito 8,5

Conceito 10

Gráfico 19: Percentual de avaliações ao curso SOL I, realizada pelos usuários do Serviço Social, no período de julho a agosto de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Sistema Operacional Linux II - Avaliação Quantitativa do Curso -

1

6

Conceito: 09

Conceito: 10

Gráfico 20: Percentual de avaliações ao curso SOL II, realizada pelos usuários do Serviço Social, no período de setembro a outubro de 2008, no projeto social do Centro Social Marista Santa Marta, CMID.

Alguns dados qualitativos foram possíveis de ser constatados, a partir da avaliação

escrita, onde a maioria de usuários expressou os benefícios do curso: “o curso me

proporcionou mais conhecimento e capacitação etc. com certeza gostaria de fazer mais cursos,

porque meu objetivo maior é aprimorar mais e mais” (sic); “o trabalho em grupo foi muito

bom. Me proporcionou interesse nas aulas e no curso. Eu gostei muito, porque aprendi

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64

bastante coisa” (sic); “adorei as aulas extras com a Larissa e as aulas com o Eloir, além do

trabalho em grupo” (sic).

Por fim, constata-se que cursos de qualificação profissional, desenvolvidos junto a

Comunidades pobres, como o caso da Nova Santa Marta, configuram-se pela importância de

oportunizar a pessoas de segmentos mais empobrecidos, melhores condições (menos

desiguais) para que sejam inseridos no mercado de trabalho, como se pode constatar a partir

das avaliações. Destaca-se, também, a importância em aliar o conhecimento técnico ao social,

fortalecendo ainda mais os sujeitos, proporcionando-lhes mais instrumentos para que

exerçam, de fato, a cidadania.

Page 66: TFG Larissa

65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema não teme pobre que tem fome. A este basta assistência para o domesticar.

Teme pobre que sabe pensar.A este é mister respeitar os direitos.

(Pedro Demo).

O presente Trabalho buscou apresentar, de forma sistemática e sintética, os

conhecimentos teóricos adquiridos no decorrer da graduação em Serviço Social e, também, da

prática de estágio curricular.

A partir do tema aqui proposto, a inclusão digital, pode-se apresentar algumas

propostas e questionamentos originados dos estudos e da experiência prática com a questão

digital. Entende-se que, além de apresentar ao Serviço Social o possível novo campo sócio-

ocupacional, também se evidencia a relevância dessa temática.

Acredita-se que a questão digital, no mundo contemporâneo, caracteriza-se como uma

demanda emergente, tendo em vista as mudanças paradigmáticas que a sociedade vivencia.

Sendo as tecnologias da informação e comunicação instrumentos norteadores das atividades,

desde as mais simples do cotidiano, às grandes decisões que interferem em todos os âmbitos.

Em uma época tão injusta e desigual, onde o abismo entre ricos e pobres se torna cada

vez mais latente, entende-se que os projetos sociais como o desenvolvido pelo Centro Marista

Santa Marta, visando à inclusão a partir da formação digital, faz-se de suma importância.

Nota-se que as pessoas que não têm acesso às mídias digitais, passam a integrar uma nova

categoria social: a dos excluídos digitais.

Neste sentido, algumas pontuações se fazem necessárias: primeiramente, que a

exclusão digital se caracteriza como mais uma expressão da questão social, dentre as

inúmeras desigualdades vivenciadas cotidianamente pelos sujeitos; a segunda pontuação

destaca que autores como Lévy (1999) considera os excluídos digitais como uma nova classe

social, alheia às informações produzidas atualmente, em razão de sua posição econômica e

social. Da mesma forma, outros teóricos seguem a mesma linha de pensamento, acreditando

que todo novo paradigma gera novos excluídos do processo.

Neste contexto, evidencia-se a importância na construção de propostas

verdadeiramente efetivas que visem à superação da exclusão digital. Para tanto, apresentam-se

ponderações significativas, no que tange às propostas para esse enfrentamento: inicialmente,

devem ser desenvolvidas políticas de inclusão digital que de fato possibilitem o acesso às

tecnologias, e que o mesmo seja de qualidade; de investimentos maciços na educação, e que

Page 67: TFG Larissa

66

essa se configure de forma mais igual, justa e equânime a todos os sujeitos, independente da

classe a que pertence.

Entende-se que a educação é elemento fundamental para a inclusão social, mais ainda,

para a utilização das ferramentas informacionais de maneira inteligente e útil à vida dos

sujeitos. Não obstante, a educação é base para o empoderamento, quer dizer, sujeitos críticos

propositivos e aptos a desfrutarem direitos e a exercitarem deveres.

No contexto do trabalho do Serviço Social, obteve-se, a partir do trabalho

desenvolvido junto aos cursos de qualificação profissional do Centro Social Marista Santa

Marta, sujeitos mais seguros de suas capacidades, isto porque, no decorrer do curso,

propiciou-se o desenvolvimento de habilidades pessoais, técnicas e o fortalecimento dos

mesmos, entre outras contribuições. O trabalho de instrumentalização de jovens usuários dos

cursos do Centro Marista de Inclusão Digital se configura como um novo campo sócio-

ocupacional ao Serviço Social, tendo em vista a exclusão digital se caracterizar como mais

uma expressão da questão social.

Por conseguinte, propõem-se novos trabalhos que aprofundem o debate acerca da

exclusão digital, em maior número de estudos, promovendo a ampliação de uma consciência

crítica sobre a inclusão digital e suas inter-relações com a educação, a fim de propiciar um

salto quantitativo e, também, qualitativo, nas possibilidades de uma inclusão social e no

exercício de cidadania.

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67

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