tipler cafe

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AUGUSTO LIMA ilustrações Renato Seixas

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Page 1: Tipler Cafe

AUGUSTO LIMA

ilustraçõesRenato Seixas

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AUGUSTO LIMA

ilustraçõesRenato Seixas

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O Autor...

21 MARÇO 2005 – Começa a Primavera. Assino um contrato coma empresa Gracenote (CDDB) (USA), detentora da maior basede dados de CD's musicais da net.

12 ABRIL 2005 – A Sony compra a patente de controlo cerebralwireless, descrita como um dispositivo que dispara impulsos deultrasons na cabeça para modificar padrões de excitação em par-tes específicas do cérebro, criando novas experiências sensoriais.

22 ABRIL 2008 – A Gracenote é comprada pela Sony, por 260milhões de dólares.

11 JULHO 2008 – Voo até ao Brasil e compro umas Viper V7 naTripler surfshop, que me permitem andar mais rápido nas paredesdas ondas tubulares.

21 DEZEMBRO 2008 – Começa o Inverno. Acordo decidido a escrevero conto "Tipler Café".

Augusto [email protected]/tipler

AUGUSTO LIMA

ilustraçõesRenato Seixas

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iha desenha um barco nas costas domenú e esboça um sorriso a duas mini-

-bam que passam lá fora, abraçadasaos livros. Chegou 10 minutos maiscedo pensando que teria tempo pararelaxar antes de se encontrar com essarapariga que apenas conhece de uma noite.

– Isso não é para pintar...– Desculpe! Estava distraído.

O empregado do café,carrancudo, retira o menú das mãos de

Siha e dirige-se ao balcão. Um outroempregado arranca-lho das mãos, fazum giro de 180º e dirige-se pronta-mente para a mesa preferida do seucliente predilecto.

– Toma, risca à vontade.– Mad!

– Então, por onde tens andado? Já não

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S

MAD RI

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te via há uns meses...– Pois, nem me despedi...– Olá!

– Ei... Sen... Olá! Olha, esteé o Mad Ri.

– Olá...– Senta-te... estás bem? Estás a suar!– A menina vai querer alguma coisa?– Ah, sim, um Wit-ten açucarado, bem fres-

quinho, e uma palhinha! Desculpa o atraso; nemimaginas o que acabou de me acontecer... estava

a passar no cruzamento do Moee e atravessou--se à minha frente uma roda de camião que foi

direitinha a uma loja de animais. Bateu no passeio, deuum salto e partiu a montra!

– O quê?

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– Sim, e parou toda a gente, porque a roda apareceudo nada... vinha um sr. numa cadeira de rodas eléctricaa persegui-la!

– Espera, um tipo numa cadeira de rodas atrás de umaroda de um camião fantasma?

– Ha ha ha, sim... eu sei, surreal, mas olha a minhafigura... encostei a bicla e fui ver se era preciso ajuda eentretanto o Sr. da cadeira já estava na porta a derraparno degrau enquanto tentava entrar na loja. Foi aí queele me contou...

20 minutos antes, à porta da loja de animais Tale Pe...

– Desculpe menina, pode ajudar-me aqui?...– Sim, claro... espere, não acelere... deixe que eu em-

purro. O que é que aconteceu?– Foram os Brasilos! Os Brasilos!– Os Brasilos?!– Sim, há anos que eles tentam passar...– Mas quem são esses Brasilos e de onde veio esta

roda? Não vejo nenhum camião!– Foi um acidente! Eles apenas querem entrar em

contacto... vamos, vamos entrar na loja... preciso deencontrar o transmissor!

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– Agarre-se bem... uhhhhhh, ahhh...

O homem assim que se viu lá dentro foi disparado atéao balcão onde estava escondida e assustada uma miúdade uns 11 anos. Estava um macaco minúsculo no ombro

dela a morder frenéticamente uma espécie defruta, e mesmo ao lado deles o pneu

gigante começou a derreter. A lojaestava cheia de fumo mas não chei-rava a borracha, tinha um aromadoce que não nos deixava respirar.

O homem estava possesso a tentararrancar aquela fruta alaranjada ao

pequeno símio; era como uma tange-rina semi-transparente e fosforescen-

te. Eu só pensava em sair dali; pegueina miúda ao colo e corri até à porta.

Cá fora já estava uma patrulha Paabaque levou logo a criança. A mim fizeram-

-me um teste respiratório rápido e manda-ram-me sair dali... só tive tempo deolhar para trás e de ver o estranho ho-

mem na cadeira de rodas a fugir ao fundo da rua e omacaco no prédio ao lado agarrado a uma conduta deágua, bem lá no alto.

– Uau! Que história! E tudo isso antes de vires ter co-migo... mesmo agora? Não me admira que estejas comesse ar.

– Menina, o seu batido...– Ah, obrigada!– Mas para terem chegado tão rápido os Paaba... é

muito estranha essa história.– Sim, e não imaginas o ar do tipo na cadeira... acho

que já tenho material para a minha história...– História, tu escreves? Não desenhavas peças industriais

na empresa do teu pai?– Ah, sim, isso é verdade, não te menti...– Estávamos um bocado "alegres" naquela noite, posso

ter ouvido mal...– Não, ouviste bem; desenho peças estranhas para

coisas estranhas que o meu pai depois vende a pessoasestranhas... ha, ha...

– Começas a assustar-me.– Oh, sou mesmo inofensiva... e tu, conta-me mais

sobre essa viagem...– Uh, bem, cheguei há 5, não, 6 dias...– Foi no dia em que nos conhecemos certo?– Sim, sim. Tinha chegado exactamente nesse dia...

estive quase um ano sem ver o sol!– Que loucura! Eu não sei se aguentava;

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– Já tinha tudo planeado há anos...– Olha, lá vão os Paaba! Queres passar lá?– Na loja dos acontecimentos bizarros? Ia propôr-te

uma coisa, mas podemos passar lá primeiro, claro! temosa tarde livre e parece ser um plano divertido.

– Tenho só de telefonar a uma amiga minha.– Ok!

Sen dirige-se à porta e liga à sua amiga e primeira na-morada, com quem costuma passar as tardes de sábadodesde os 9 anos.

Lá dentro, Siha prepara-se para pagar a conta com oresto dos créditos acumulados no seu chip de cliente ha-bitual. Mad pisca-lhe o olho e deixa escapar um sorriso.Siha percebe o sinal e sai do café.

– Então, tudo bem?– Sim, quer dizer... a Sahd não atende...– A tua amiga?– Sim, é estranho...– Olha, eu vim de monoplano...– Eu de bicla! Encontramo-nos lá!

Siha entra no monoplano e repara queo navegador tem os leds desfocados,como se tivesse sido magnetizado porum "insecto". O sistema anti-virus estáa fazer um scan a toda a cabine que jádura há 11 longos minutos.

Sen consegue chegar primeiro a Tale Pemas o perímetro criado pela polícia à volta da loja émuito apertado. Enquanto espera por Siha, volta a olharpara o seu Loc e Sahd continua sem responder. Os últimos

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raios de sol iluminam apenas uma pequena parte damontra da sua loja de doces preferida...

– Ei!– Ah, chegaste... olha, vai ser impossível entrar ali...– Sim, já reparei.. estou a tentar com o Infrasc mas

estou a receber as imagens codificadas. Deve haver algonaquela loja que não querem que vejamos. Queresentrar?

– Dá-me 1 minuto... vou buscar um saquinho de cho-colates!

Enquanto isso, Siha sobe por instantes à faixa de roda-gem superior, a 11 metros da rua e consegue intercep-tar duas redes livres. Numa delas circula um pacote comfotos de uma casa que ele conhece perfeitamente. Quase

de imediato o monoplano perde energia, caivertiginosamente e apenas é travado pelo

sistema electro-magnético de segurança. Dentro da loja de doçarias, o terminalde pagamento dá erro e Sen sente umarrepio a percorrer-lhe a espinha.Olha lá para fora e vê como centenasde veículos caem com os seus tripulan-tes aterrorizados no seu interior.

De repente, tudo se desvanece e Siha acorda cheiode frio num ambiente estranhamente familiar. Os lençóissão pretos e enormes, está sozinho e no chão ao ladoda cama pisca a luz laranja do seu telefone em formade Donkey Kong. Carrega no pequeno botão e ouve-sea mensagem: "Jadir, são 11 horas e a reunião vai começar.Voçê sabe que foi eleito pelos funcionários da Tipler edevia pegar essa oportunidade... estou-lhe dizendo issocomo sua amiga e não como sua irmã. Tem 20 minutos,no máximo. A tomada de posse é na sala AH3. Vem rápi-do por favor! Ah, e outra coisa, chegouuma encomenda enorme de SantaCatarina para voçê, de uma familiardas vítimas da tragédia para quem agente enviou ajuda no início do mês."

Nesse instante, Siha é invadido porrecordações que se confundem com asda sua própria vida. O seu corpo é o deSiha mas o seu nome é Jadir F. M., vive emTrês Portos, no Brasil e sente-se imensa-mente distante de casa.

Jadir levanta-se e as persianas abrem--se. Os seus olhos abrem-se ainda mais... Sihadesvanece-se e Jadir ganha cada vez mais força."Pi pi pi pi pi..."

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Pi pi pi pi...

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De novo a caixa de mensagens...À porta do seu quarto uma miúda de uns 11 anos olha

fixamente para ele.– A mamãe tá super chateada. Falou que você não tro-

cou o pneu do carro e agora a gente vai chegar atrasadana escola e o microondas tá largando um fumo amarelocom um cheiro estranho.

Jadir ignora a criança; veste uns calções e uma t-shirt,pega no seu carregador solar e desce até à cozinha aindasonâmbulo. Atravessa o espesso fumo e leva consigodois crepes com doce de ginja, uma caneca herméticacom leite achocolatado e uma BD da DC.

A porta das traseiras encontra-se entreaberta e é oatalho mais rápido possível para fugir daquele cenário.Uma suave brisa de leste empurra-o até ao seu refúgio.Jadir pedala impaciente em direcção ao seu lago preferidoenquanto responde a um sms. "Dculpa n ter dito nd.Volteia ter aqueles sonhos.Ainda tens o tlm da tua amiga psiq?"

Fim do primeiro capítulo.

Torre de D.Chama,Portugal (GMT)

Dona Júlia guarda os rascunhos do seu mais promissorautor, pede a conta e pega no seu telemóvel: "O nº detelefone que acabou de ligar não se encontra de momen-to disponível. Por favor deixe a sua mensagem a seguir

ao sinal. Piiiii..."– Olá João. Acabei de ler a

nova versão do 1º capítulo datua nova história. Reparei quemudaste imensas coisas e quecriaste uma personagem novamuito interessante. Refiro-me

à rapariga do sonho de Siha...ou melhor, Jadir. Fico curiosa emcomo vais ligar tudo isto àquelaseita das sondas incubadoras. O

editor precisa de tudo pronto até12 de Abril, não te esqueças!

Outra coisa, a minha filha Joana acabou definitivamen-te com o Devo. Acho que está na altura de lhe ligares!Beijinhos e, liga-me também assim que chegares.

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Oceano Pacífico, a 60 milhas a sul de Niulakita, a bordodo “Ca Sea”00h (GMT+12)

– João?– Diz...– Já consegui!– Óptimo! Podes pôr a carregar primeiro o meu?– Sim claro.

João e a sua nova amiga Laura estão a poucas horasde ver pela última vez algumas das 11 ilhas de Tuvalu,a meio caminho entre o Hawaii e a Austrália. O país co-meçou a ser evacuado há duas semanas, altura em queo nível do mar pôs em risco a segurança da população.

Há anos que ele tinha planeado esta viagem, pois nun-ca acreditou que os problemas do aquecimento globalfossem resolvidos a tempo. Decidiram esperar pelo nascerdo sol para se aproximarem à bolina das ilhas mais a sul.Entretanto, a suave brisa convida-os a passar a noite embranco.

– Estás nervoso?– Não... por acaso estou a pensar noutra coisa.– Olha, acabei de ler os teus rascunhos enquanto

dormias hoje à tarde.– E então? Gostaste?– Sim, mas... aquilo são mesmo os teus sonhos?– Referes-te à parte em que ele sonha?– Sim.– São.– Mas como é que consegues continuar no mesmo

sonho depois de acordares?– Nunca te aconteceu?– Não!– Eu consigo. Mas estou com dificuldades para conti-

nuar nesse, precisamente...– Ah! Quer dizer que não sabes o que vai acontecer?

Foi só aquilo que sonhaste?– Não, tive outro sonho relacionado com aquelas per-

sonagens, mas decidi não usá-lo nesta história.– E se não tiveres o sonho com o resto da história?– Vou ter... estou apenas desconcentrado aqui no meio

do oceano.– Deves estar triste...– Estou feliz, sinceramente. Laura, isto tem de acontecer.

Não chega ver o gelo a cair aos pedaços no Pólo Norte.– Olha, queres descer? Estou a ficar com frio.

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4h30 (GMT+12)

João adormece.Sen, Siha e Mad observam as bizarras personagens

reunidas naquela peculiar cozinha, e traduzem com osseus Locs o discurso daquela que parece ser a líder deuma sociedade secreta: “Isto, isto são sondas incubadorasde sequências de DNA da espécie dominadora do planetamoribundo, a quem a nossa T2 chamou de "Géa". É danossa responsabilidade regenerar esta civilização inteli-gente, codificar as suas memórias e personalidades. Tam-bém nós viveremos os nossos últimos dias num universoem congelação e, tal como estes nossos "irmãos cósmicos",precisaremos de nos perpetuar.”

DNAT2

Géa

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– Olha Sen, lá está o tipo, mas... agora parece não ternenhum problema, ele consegue andar!

– O quê? Tens a certeza?– Falem baixo! Reparem no frigorífico...– O que é aquela luz?– É como a daquela bola laranja. Mad, estás a gravar

tudo?– Estou!– De que é que eles estão a falar? Que planeta?

4h45 (GMT+12)

– João? Estás bem?– Ei...– Estás a suar!

João acorda, assustado. Laura olha para ele fixamente,com o mesmo olhar da miúda da sua história. De repenteo sonho começa a desvanecer-se e ele transcreve-o instin-tivamente para o caderno de rascunhos que dorme sem-pre a seu lado.

– Sonhaste? Conseguiste?

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Tinham passado quase 3 anos e já ninguémsentia a sua falta. Pensamentos egoístas comoestes têm marcado os dias com a inconfundívelcor do desespero, e a esperança tem vindo a serdevorada pela loucura. O sonho que agora a fazchorar está prestes a tornar-se realidade.

Está realmente alguém a tocar à campainha...provavelmente já há algum tempo... tanta insis-tência significa que é alguém conhecido, e depoisde ontem Sahd já não quer voltar a sair da cama.

Passaram 15 longos minutos e finalmente desis-tiram. Sahd voltou a adormecer,com a almofada a tapar-

-lhe a cabeça. Lá foracomeçou a chover.

João não responde e escreve frenéticamente.

– Sabes quem é Tipler?– Tipler?– Sim, já sei quem é. Sonhei com ele!– Agora?– Não, ontem! Mas só me lembrei agora! Toma... lê a

minha outra história e vais perceber!– Agora?– Sim, não vamos dormir pois não?– Mas tu adormeceste!– Lê por favor!– Eu leio...

“Sahd acorda ofegante... dos seu olhos casta-nhos saem lágrimas confusas de um sonho quese repete há mil e uma noites. O jantar de ontemfoi para esquecer... O Siha e a Sen acabaram poraparecer, cheios de surpresas, de super-planose viagens exóticas, e isso tornou tudo ainda maisdifícil. Ninguém se lembrou daquela data mágica,do verdadeiro porquê daquela inesperada reu-nião de amigos, apenas Sahd se revia constante-mente naquela sobremesa predilecta do seuamor perdido.

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de parece-se agora a um sonho no qual é impos-sível concentrar-se, e em que as formas, as corese os sons se distorcem até limites agonizantes.A vontade de Loow apaga-se e perde-se na escu-ridão.

Sahd já não ouve o telefone e imagina Loowe Sen ao telefone enquanto espera sentada nabanheira esses 10 minutos de que falam na emba-lagem do novo amaciador.

Na televisão interrompem o filme para um"especial terrorismo"; desta vez enganaram-see rebentaram com um antigo armazém de brin­quedos abandonado. Incrível coincidência, poisfoi aí que Sahd e Loow se conheceram 3 anosantes, numa feira de "brinquedos dos anos 50".

10 anos antes

Era meio-dia do segundo sábado de Junho;o vai-e-vém Slowvaky tinha acabado de entrarna órbita de Saturnino e podiam ver-se em direc-to as primeiras imagens dos 9 anéis. Numa peque-na ilha do Pacífico Azul o homem mais velho daaldeia mais pequena do mundo pescava o maior

7 anos antes

(televisão) "maldita sea cariño, cuantas veceste he dicho que no hay forma de pintar la..."

(telefone) "Ring Ring"

– Loow! Atende tu! Deve ser a Sen outra vez...ela disse que voltava a ligar...

O telefone toca mas Loow está deitado nochão, inconsciente, com o sangue a sair espessopela narina esquerda e com os olhos fixos, semi-

-abertos... a sua mão direita é a única parte docorpo que lhe responde mas mesmo assim revela-se inútil e impotente, incapaz de, sozinho, fazerum sinal, um barulho que ultrapasse o chão doquarto, atravesse o corredor, entre pela portasemi-aberta da casa de banho e revele à despreo-cupada Sahd o incompreensível momento peloque está a passar. Não percebea rapidez com que fi-cou naquele estado,não consegue pensarcomo dantes; a realida-

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peixe da sua vida e um amor à primeira vistaacontecia numa realidade muito diferente, nopequeno stand do Big Joee, na 9ª edição da

"Toys From The 50's". Ele procurava a colecçãocompleta de uma revista underground que re-latavam as ligações do 3º Reich ao acidente deRoswell e a influência dos alienígenas na 2ªGuerra Mundial. Ela deliciava-se com dois palha-ços de corda siameses.

Uma breve troca de olhares parece inexplicável-mente produzir uma sobrecarga eléctrica e afeira fica às escuras. Apenas as luzes laranja deemergência deixam entrever dois tímidos sorrisos.Ele acabou por desistir das revistas e ela esqueceu-

-se de pagar os palhaços.

12:00, actualidade

Sahd acorda com a enorme tempestade quese começa a revelar assustadora. Vira-se paracima na cama e já não se lembra do que estavaa sonhar. Tapa-se até ao nariz e liga o sistemade vídeo externo da casa com o comando quedormiu com ela, naquela cama demasiado gran-

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de. No painel por cima dela pode-se ver umapanorâmica da cidade e o barómetro não párade oscilar. Sahd muda de câmara para se certificarde que a água da piscina não inunda o jardim.Para já tudo parece ok e deixa-se levar por essesono constante e preguiçoso.”

– Já li. Mas não percebo... onde está esse Tripler?– Não é Tripler, é Tipler! Cuidado! O caderno!

Laura, ensonada, deixa cair os rascunhos à água. Joãoatira-se de cabeça atrás do seu pequeno tesouro.

– Desculpa! Desculpa! Desculpa!– Atira-me essa lanterna, rápido! Laura? Laura?

João tenta regressar ao pequeno veleiro. No momentoem que se agarra à escada da popa ouve um ruído ensur-decedor. Segue-se um enorme clarão que dura uma frac-ção de segundo e o silêncio até ao amanhecer.

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Frank Jennings Tipler III – Pro-fessor de física matemática naTulane University, New Orleans,Louisiana (USA). Idealizou o ci-lindro de Tipler em 1974, umdispositivo que permitiria asviagens no tempo. No seu livro,

“The Physics Of Immortality”,Tipler afirma que o processoevolutivo das espécies terá co-mo resultado o crescimento ex-ponencial do progresso cientí-fico, que culminará numa inte-ligência artificial capaz de im-pedir o colapso do universo.(http://en.wikipedia.org/wiki/Frank_J._Tipler)

Borrachas Tipler – Empresa bra-sileira produtora de borrachase pneumáticos.

Torre de D. Chama – Freguesiado conselho de Mirandela, Por-tugal. Segundo a lenda, existiauma torre habitada por D. Cha-ma, castelã lúbrica, sempre

pronta a dormir com quantoscavaleiros a procuravam e, pa-ra que não divulgassem o se-gredo das que tinha pernas decabra, mandava-os matar nodia seguinte.

Wit-ten – Batido de chocolatee framboesas frescas.

Donkey Kong – Donkey Kongé um gorila, personagem deum jogo de vídeo homónimo,criado em 1981 por ShigeruMiyamoto. Nesse jogo, o gorilaera um vilão e o jogador tinhacomo objectivo salvar a prince-sa raptada.

Mini-bam – Grupo de adoles-centes que assumem a duplafobia, epidemia do futuro quese define pela conjugação deCoulrofobia e de Itifalofobia.

Glossário útil:7h11 (GMT+12)

As últimas embarcações saem de Funafuti, Nui e Nana-tui.

A 300 milhas das ilhas Fiji e a bordo de um dos barcosde resgate, um idoso inclina-se em direcção às límpidase calmas águas e agarra habilidosamente a capa de umlivro, à deriva naquele vasto oceano. Apenas o nome doautor se encontra legível: Frank J. Tipler.

FRANK