torre reforma: um arranha-céu regionalista

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XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 27 de novembro a 01 de dezembro de 2017 TORRE REFORMA: Um Arranha-Céu Regionalista Luís Henrique Bueno Villanova Mestrando no PPAU UniRitter/Mackenzie UniRitter/Mackenzie [email protected] Maria Paula Recena (orientadora) Drª Arquitetura (UFRGS 2013); Me Poéticas Visuais (UFRGS 2005) UniRitter/Mackenzie [email protected] Resumo: Tendo como base o capítulo, Três Conceitos – Torre Reforma, da dissertação em desenvolvimento sobre arranha-céus no século XXI, este artigo traz como objetivo entender como a cultura local pode estar relacionada à uma edificação em altura. Como premissa, o estudo segue publicações resultantes das conferências do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) que discutem o futuro dos arranha-céus e como estes tiram proveito das características culturais do local de inserção, demonstrado no estudo de caso da Torre Reforma na Cidade do México. Assim explora-se também a necessidade de um entendimento da ligação do movimento moderno com uma corrente de arquitetura regionalista no México para melhor compreender como esse povo associa cultura na arquitetura de edificações. 1 Introdução A cultura de um povo pode ser traduzida para um arranha-céu? Segundo o Diretor Executivo do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH), Antony Wood (2014), o aspecto cultural é o menos tangível de atingir em um projeto de arranha-céu, pois a cultura de uma cidade está associada aos padrões de vida, manifestando-se nos costumes, atividades e expressões da população. Para Roberto Goodwin (2015), o mais desafiador é definir um sentido de expressar o contexto cultural através do design. Fazer arquitetura onde se sabe que a cultura permite abordar e desafiar as crenças, comportamento e estética, requer um processo interpretativo e subjetivo com relação aos sensos pessoais de valores e riqueza de um projeto. Desse modo, Goodwin (2015) diz que a resposta para esse desafio poderia vir de uma investigação mais profunda sobre a história e cultura do lugar, para que as soluções convencionais possam alcançar um modelo arquitetônico mais autêntico e termos modernos. Essa investigação mais profunda sobre a história e cultura do lugar, remete ao regionalismo de Kenneth Frampton em que a estratégia fundamental “[...] é mediar o impacto da civilização universal com elementos derivados indiretamente das peculiaridades de um local específico”. (FRAMPTON, 1983, p.21, tradução do autor): [...] a prática do Regionalismo Crítico é dependente de um processo de mediação dupla. Em primeiro lugar, deve “descontruir” o espectro geral da cultura global que inevitavelmente herda; em segunda lugar, deve alcançar, através de contradição

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XIII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 27 de novembro a 01 de dezembro de 2017

TORRE REFORMA: Um Arranha-Céu Regionalista

Luís Henrique Bueno Villanova Mestrando no PPAU UniRitter/Mackenzie UniRitter/Mackenzie [email protected] Maria Paula Recena (orientadora) Drª Arquitetura (UFRGS 2013); Me Poéticas Visuais (UFRGS 2005) UniRitter/Mackenzie [email protected]

Resumo: Tendo como base o capítulo, Três Conceitos – Torre Reforma, da dissertação em desenvolvimento sobre arranha-céus no século XXI, este artigo traz como objetivo entender como a cultura local pode estar relacionada à uma edificação em altura. Como premissa, o estudo segue publicações resultantes das conferências do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) que discutem o futuro dos arranha-céus e como estes tiram proveito das características culturais do local de inserção, demonstrado no estudo de caso da Torre Reforma na Cidade do México. Assim explora-se também a necessidade de um entendimento da ligação do movimento moderno com uma corrente de arquitetura regionalista no México para melhor compreender como esse povo associa cultura na arquitetura de edificações.

1 Introdução

A cultura de um povo pode ser traduzida para um arranha-céu? Segundo o Diretor Executivo do Council on Tall Buildings and Urban Habitat

(CTBUH), Antony Wood (2014), o aspecto cultural é o menos tangível de atingir em um projeto de arranha-céu, pois a cultura de uma cidade está associada aos padrões de vida, manifestando-se nos costumes, atividades e expressões da população. Para Roberto Goodwin (2015), o mais desafiador é definir um sentido de expressar o contexto cultural através do design. Fazer arquitetura onde se sabe que a cultura permite abordar e desafiar as crenças, comportamento e estética, requer um processo interpretativo e subjetivo com relação aos sensos pessoais de valores e riqueza de um projeto. Desse modo, Goodwin (2015) diz que a resposta para esse desafio poderia vir de uma investigação mais profunda sobre a história e cultura do lugar, para que as soluções convencionais possam alcançar um modelo arquitetônico mais autêntico e termos modernos.

Essa investigação mais profunda sobre a história e cultura do lugar, remete ao regionalismo de Kenneth Frampton em que a estratégia fundamental “[...] é mediar o impacto da civilização universal com elementos derivados indiretamente das peculiaridades de um local específico”. (FRAMPTON, 1983, p.21, tradução do autor):

[...] a prática do Regionalismo Crítico é dependente de um processo de mediação dupla. Em primeiro lugar, deve “descontruir” o espectro geral da cultura global que inevitavelmente herda; em segunda lugar, deve alcançar, através de contradição

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sintética, um manifesto crítico da civilização universal. Descontruir a cultural global é removê-la daquele ecletismo de “fin de siècle” que se apropriou de formas alienígenas e exóticas de forma a fim de revitalizar a expressividade de uma sociedade enfraquecida. (FRAMPTON, 1983, p.21)

Pode-se dizer que essa estratégia depende de uma reinterpretação dos temas da cultura de um determinado local e das opções de projeto, que não são isentas, nesse caso, com relação a uma pauta que envolve questões sociais implicadas na interpretação dos símbolos culturais de uma sociedade. Também como método a afirmação do filósofo Paul Ricoeur, que de acordo com Frampton “[...] desenvolveu a tese que uma ‘cultura mundial’ híbrida somente se tornará uma realidade por meio de fertilização recíproca entre uma cultura de raízes locais, por um lado, e uma civilização universal, por outro. (FRAMPTON, apud. NESBITT, 1965-1995, p.505).

Ricoeur afirmou que, em última análise, tudo depende da capacidade da cultura regional de recriar uma tradição de raízes locais e de, ao mesmo tempo, apropriar-se das influências estrangeiras seja no plano da cultura, seja no da civilização. (FRAMPTON, apud. NESBITT, 1965-1995, p.506)

Tomando como base o capítulo, Três Conceitos – Torre Reforma, da dissertação em desenvolvimento sobre arranha-céus no século XXI, o artigo faz uma breve análise da ligação do movimento moderno e uma arquitetura regionalista no México para melhor compreender como a cultura pode estar relacionada a um arranha-céu. Seguido pelo estudo de caso da Torre Reforma localizada na Cidade do México que irá se contextualizar culturalmente com questões vernaculares de civilizações pré-hispânicas daquele local.

2 Arquitetura Regionalista no México No México, na primeira metade do século XX uma corrente arquitetônica buscou

corresponder as raízes que definiam a identidade da arquitetura mexicana, contrariando o movimento de internacionalização do racionalismo moderno que vinha ganhando força ao redor do mundo. As propostas dos arquitetos buscavam um certo regionalismo ao privilegiar os materiais locais, clima, costumes e possiblidades econômicas. Dessa maneira, arquitetos como Luís Barragan e Ricardo Lagorreta ganharam destaque no cenário mundial por ressaltarem aspectos regionais na arquitetura moderna imprimindo a esta, fortes traços vernaculares do passado mexicano. Como exemplo a casa de Barragan em que a integração da arquitetura funcionalista internacional se mescla com a arquitetura vernácula mediante a adoção de ambientes vistos nas fazendas e conventos do século XVI e o Hotel Camino Real de Legorreta, com nítida identidade cultural mexicana, sendo uma oposição à arquitetura internacional vivida na década de 1960 conforme Homero Rodríguez Deytz (2014).

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Figura 1 e 2: Pátio da Casa de Luis Barragan e Hotel Camino Real

Fonte: Casa Luis Barragan e Legorreta + Legorreta.

Em artigo sobre arquitetura contemporânea, Deytz (2014) ressalta a importância da influência da arquitetura pré-hispânica nas obras de arquitetos como Augustín Hernández no Heroico Colégio Militar, na Cidade do México em que o arquiteto se inspirou em centros cerimoniais pré-hispânicos a exemplo de Teotihuacan1. Outro arquiteto responsável por obras regionalistas que remetem à cultura mexicana anterior a vinda dos espanhóis para a América, é Alberto T. Araí na obra “Frontones de La Ciudad Universitaria”. Construídos em concreto armado e cobertos por pedra vulcânica, Yurik Kifuri Rosas (2004) descreve que os frontões de formas piramidais se relacionam harmonicamente com o entorno e com a arquitetura pré-colombiana por se assentarem de forma escalonada, configurando pátios entre eles, em uma arquitetura funcional, sem ornamentos, em que a estrutura tem a função dupla de suportar o edifício e abrigar os serviços como a premissa de uma arquitetura de um estilo moderno. 1 “A cidade sagrada de Teotihuacan (“o lugar onde os deuses foram criados”) está situada a cerca de 50km a nordeste da Cidade do México. Construída entre os séculos I e VII d.C., caracteriza-se pelo grande tamanho de seus monumentos – em particular, o Templo de Quetzalcóatl e as Pirâmides do Sol e da Lua, dispostos em princípios geométricos e simbólicos. Como um dos centros culturais mais poderosos da Mesoamérica, Teotihuacan ampliou sua influência cultural e artística em toda a região, e até além”. (tradução do autor) Disponível em: http://whc.unesco.org/en/list/414

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Figura 3 e 4: Heroico Colegio Militar e Los Frontones de CU-UNAM

Fonte: Plataforma Arquitectura e MXCITY.

A Biblioteca Central da Cidade Universitária na Cidade do México, é um exemplo da união da arquitetura funcionalista moderna com os traços regionais da cultura mexicana. O arquiteto autor do projeto, Juan O’Gorman cobriu as fachadas do edifício modernista com murais de mosaicos de pedras naturais que representa o passado pré-hispânico no país. Para Maricela González:

[...] a presença de murais no excelente projeto cultural da Cidade Universitária significou o reconhecimento aos artistas mais relevantes do movimentos muralista2, que tiveram a capacidade de adaptar suas obras aos requerimentos espaciais às propostas arquitetônicas funcionalistas que se implantaram na CU-UNAM. (GONZÁLEZ, 2004, p.34)

Edificações em altura também ganharam expressão na corrente regionalista que se instalou no México na metade do século XX. A Torre Insignia de 127 metros, antiga Torre Banobras, projetada pelo arquiteto Mario Pani – autor do edifício da Reitoria e do Master Plan da CU-UNAM – tinha como premissa conceitual ser um ícone revitalizador para a região onde foi projetada. O arquiteto buscou como contraponto das fachadas em pele de vidro, típicas de uma arquitetura internacional, a forma piramidal e a inserção, nas laterais, de mosaicos pintados pelo artista Carlos Mérida representando os Deuses do período Asteca no país, assim como nas edificações modernistas da Cidade Universitária.

2 Movimento artístico mexicano surgido na década de 1920 que buscava em uma arte pública de grandes dimensões uma valorização da história, cultura e tradições do povo mexicano.

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Figura 5 e 6: Biblioteca Central UNAM e Torre Insignia

Fonte: Gaceta UNAM e The Skyscraper Center.

De maneira geral pode-se dizer que no México o movimento moderno e a cultura de

uma arquitetura regionalista andaram juntos, ao contrário de muitos países. A busca por uma identidade cuja fonte está no passado e na arquitetura vernácula dos povos pré-hispânicos é intrínseca no caráter da arquitetura mexicana. Dessa forma, alinha-se ao Regionalismo Crítico na busca por características arquitetônicas locais e individuais, que a distinga dos traços homogêneos desempenhados na prática modernista de arquitetura. Dessa maneira, Wood (2014) conclui que as características de um edifício em altura regionalista, ou que busca entender a história, modo de vida e costumes do local, poderiam ser demonstradas tanto em formas literais aplicadas à edificação, quanto em características que podem ser interpretadas como indiretas, ligadas ao programa do edifício, e novos tipos de usos que esses arranha-céus irão fornecer. Como este ponto de vista, volta o pensamento de Ricoeur que serve de argumento para Kenneth Frampton: “Aí está o paradoxo: como se tornar moderno e retornar às origens; como reavivar uma civilização antiga, adormecida, e participar da civilização universal”. (RICOEUR, apud. FRAMPTON, 1983, p.16). 3 Torre Reforma

A Torre Reforma está localizada em um terreno relativamente pequeno de 2.800m² quadrados em uma das principais avenidas da Cidade do México, a Paseo de La Reforma – área de caráter financeiro, cultural e histórico da cidade – esquina com a rua Rio Elba. Essa é considerada a área mais importante da cidade, motivo pelo qual a maior parte dos recentes arranha-céus têm sido construídos ali.

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Considerada a mais alta edificação na capital mexicana, a esbelta torre de 246 metros de altura e 55 pavimentos foi concluída em 2016, após oito anos de construção. Possuí 45.000m² de escritórios, 2.500m² de espaço para lojas, e 2.500m² de espaços para academias e lazer, supridos por 28 elevadores localizados no encontro das paredes estruturais.

Figura 7 e 8: Fachada sul e norte da Torre Reforma

Fonte: Luís Henrique Bueno Villanova

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Figura 9: Casarão histórico tombado no terreno da Torre Reforma

Fonte: Luís Henrique Bueno Villanova

Com a premissa conceitual, o escritório liderado pelo arquiteto Benjamin Romano,

LBR&A Arquitectos, buscou a implantação do arranha-céu no contexto, já consolidado, de forma adequada, tendo consciência da importância da avenida Paseo de La Reforma e da área de inserção do edifício em altura. Um dos primeiros condicionantes foi a existência de um casarão histórico no terreno, que deveria ser preservado. O arquiteto Benjamin Romano (2016) ainda menciona, na entrevista dada ao CTBUH 15th Annual Awards3, o Bosque de Chapultepec – maior parque urbano da Cidade do México – localizado em posição transversal ao terreno. A partir dessas diretrizes, a primeira decisão projetual tomada foi de posicionar a Torre voltada para a esquina, para a vista, deixando a casa tombada livre e em destaque, tornando-a parte do lobby. Sendo assim, o conceito para o partido arquitetônico foi baseado na forma de um “livro aberto” em direção a esses atributos conforme diz a gerente de projetos do escritório, Julieta Boy (2017). As duas paredes de concreto, voltadas para norte, suportam toda carga da edificação e a terceira fachada, voltada para o sul, pode ser tomada metaforicamente como um “zíper” que une as paredes com uma estrutura metálica treliçada, permitindo que o arranha-céu não tenha pilares. A ideia do “zíper”, explica Romano (2016), foi criada em parceria com a empresa multinacional de engenharia, Arup. Além disso, as lajes dos andares foram feitas usando um sistema estrutural chamado pela Arup de vigas, piramidais, que agem como uma laje treliçada, permitindo o vão livre de

3 Premiação realizada anualmente pelo Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) que elege “os melhores arranha-céus do mundo” segundo o conselho. Disponível em: http://awards.ctbuh.org/

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pilares, enquanto os apoios que encontram as fundações no solo também contam com um sistema especial de articulação que permite certa movimentação da estrutura no caso de abalos sísmicos, comuns na Cidade do México. Um complexo método de engenharia foi criado também para o deslocamento da casa histórica no terreno durante a construção dos nove subsolos necessários para cumprir as regras de zoneamento da cidade, recolocando-a mais tarde no local original com fundações novas e seguras. Para cumprir as exigências de vagas de garagem necessárias foi construído um edifício garagem robotizado de 15 pavimentos acoplado na torre, totalizando com os subsolos 1.161 vagas de veículos. 3.1 Um Arranha-Céu Regionalista Na Torre Reforma a busca por uma reinterpretação da cultura mexicana está simbolizada na fachada da edificação. Mas diferentemente dos arquitetos modernistas da metade do século XX que buscavam em murais contar a história dos antigos povos mexicanos, o arranha-céu expressa, assim como “Los Frontones” de Alberto Araí, nos materiais e técnicas construtivas uma arquitetura regionalista que se difere dos outros arranha-céus da cidade. Segundo Julieta Boy (2017):

As fachadas estruturais e arquitetônicas de concreto sólido são influenciadas pela arquitetura mexicana pré-hispânica e colonial, em que os materiais tectônicos como a pedra são predominantes, reinterpretados no contexto arquitetônico mexicano contemporâneo. (BOY, 2017, p.14)

Na entrevista concedida para o CTBUH, o arquiteto Benjamin Romano (2016) analisa a arquitetura do México, desde os Astecas e afirma que as construções sempre foram pensadas tectonicamente, pois terremotos são comuns na região da Cidade do México e por este motivo estão bem preservadas até hoje. Segundo Romano, a premissa de que o arranha-céu, no mínimo, irá durar 150 anos foi um fator decisivo para que aprendesse com as civilizações pré-hispânicas sobre comportamentos estruturais perante os abalos sísmicos. O que lembra a ideia de Antony Wood (2014) em que devemos aprender com a arquitetura vernacular, pois as edificações em altura hoje irão refletir na cultura dos próximos 200 anos.

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Figura 10: Juntas em espécie de concreto utilizadas entre as pedras das pirâmides de Teotihuacan.

Fonte: Luís Henrique Bueno Villanova.

No seu estudo sobre arquitetura pré-hispânica, Manuel Aguilat-Moreno (2007) afirma que os astecas possuíam uma espécie de concreto feito de uma mistura de brita, areia e cal em que costumavam assentar as pedras vulcânicas, das edificações, para que no caso de algum terremoto, esta argamassa servisse de amortecimento entre as pedras. Desse modo, Benjamin Romano (2016) lembra que os astecas não faziam uma peça única de parede, assim como na Torre Reforma em que as paredes em concreto são feitas em várias camadas. Foram realizadas faixas de 70 centímetros de altura a cada dia dentro da forma das paredes. Levaram 6 dias para completar cada andar de modo que as junções de um dia para o outro se tornassem como as junções de “argamassa” entre as pedras dos edifícios astecas. Romano explica que quando ocorre um terremoto os esforços de tração e compressão são as causas de fissura nas paredes convencionais de concreto, porém na Torre Reforma essas fendas já estão embutidas entre as camadas de concreto. Nas palavras de Benjamin Romano: “O que aprendi – como os astecas – é expor as junções entre as peças e permitir que elas se movam e aconteçam fissuras”.

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Figura 11: Detalhe das faixas horizontais de concreto de 70 centímetros para parede estrutural de cisalhamento.

Fonte: Luís Henrique Bueno Villanova.

As aberturas de altura tripla estrategicamente posicionadas no centro das paredes de concreto, além de permitirem a entrada de iluminação para os ambientes internos, possuem a função de permitir que as faixas de concreto se movimentem sem que haja ruptura durante abalos sísmicos, lembra Julieta Boy (2017). Localizadas a cada quatro pavimentos, entre as aberturas no meio das paredes de concreto, vigas de acoplamento contra o cisalhamento ajudam no controle das paredes estruturais para que não tombem durante terremotos. Segundo Julieta Boy (2017) em terremotos de baixa intensidade estas vigas apenas limitam as deflexões que poderiam ser causadas, já em abalos de alta intensidade, as vigas cedem permitindo o cisalhamento, controlado, das faixas de concreto dissipando a energia sísmica entre as aberturas, garantindo a segurança do arranha-céu.

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Figura 12: No meio da estrutura de concreto aparente, aberturas de altura tripla

Fonte: Luís Henrique Bueno Villanova.

O resultado formal dessa operação tectônica também indica, na composição figural resultante sobre as fachadas, questões simbólicas do muralismo inspiração pré-hispânica como é visto nas edificações da Cidade Universitária e na Torre Insignia. 4 Conclusões

O artigo apresentado, mostra como o arquiteto da Torre Reforma em parceria com a empresa internacional de engenharia, Arup, buscou com novas ferramentas, conceitos estruturais contra abalos sísmicos de civilizações passadas como soluções de projeto para o arranha-céu. Utilizados na civilização Asteca, são soluções milenares que remetem a cultura de um povo imprimindo, ao edifício em altura, uma identidade única perante as demais edificações da região, garantindo a segurança dos usuários na ocasião de terremotos. Referências

BENJAMIN, Romano: Interview: Torre Reforma. CTBUH Interview Series, 2016. Disponível em: http://www.ctbuh.org/TallBuildings/VideoLibrary/tabid/486/language/en-US/Default.aspx#/videos/watch/3296

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BENJAMIN, Romano: Vernacular Architecture in the Contexto f Mexico’s Tallest Building: Torre Reforma. CTBUH 15th Annual Awards. Disponível em: http://www.ctbuh.org/TallBuildings/VideoLibrary/tabid/486/language/en-US/Default.aspx#/videos/watch/3012

BOY, Julieta. Case Study: Torre Reforma, Mexico City. CTBUH Journal 2017, Issue I, 2017. DEYTZ, Homero Rodríguez: Identidad en la Arquitectura Mexicana contemporánea. Ciencia Cierta, No. 38, ano 10, 2014. FRAMPTON, Kenneth: Perpectivas para um Regionalismo Crítico; In: Uma Nova Agenda para a Arquitetura: Antologia Teórica, 1965-1995. Org. NESBITT, Kate. São Paulo, Cosac Naify, 2008. GONZÁLEZ, Marciela: La plástica en CU: del muralismo al Espacio Escultórico. Bitácora Arquitectura, No. 11, 2004. GOODWIN, Robert: Context, Climate, Culture – Investigating Place in Tall Building Design. In: Global interchanges: Resurgence of the Skyscraper City. Org. MALOTT, David; WOOD, Antony. Chicago, CTBUH, 2015. MORENO, Manuel Aguilar: Arquitectura Azteca. FAMSI, 2007. NESBITT, Kate: Uma Nova Agenda para a Arquitetura: Antologia Teórica, 1965-1995. Tradução Vera Pereira. São Paulo, Cosac Naify, 2008. ROSAS, Yurik Kifuri: Los Frontones de Ciudad Universitaria. Bitácora Arquitectura, No. 11, 2004, WOOD, Antony: Rethinking the Skyscraper in The Ecological Age: Design Principles for a New High-Rise Vernacular. In: Future Cities: Towards Sustainable Vertical Urbanism. Org. JOHNSON, Timothy; WOOD, Antony; ZHENG, Shiling. Chicago, CTBUH, 2014.