trabalho bagaÇo rev_02

43
Gaseificaçao do Bagaço de Cana de Açúcar Termoprocessamento e Reciclagem de Rejeitos Sólidos Prof: Jo Dweck Alunos:Natália Silveira Thiago Felippe Ribeiro Fevereiro, 2014

Upload: thiago-felippe-ribeiro

Post on 29-Dec-2015

48 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TRABALHO BAGAÇO rev_02

Gaseificaça o do Bagaço de Cana de Açú car

Termoprocessamento e Reciclagem de Rejeitos Sólidos

Prof: Jo Dweck

Alunos:Natália Silveira

Thiago Felippe Ribeiro

Fevereiro, 2014

Page 2: TRABALHO BAGAÇO rev_02

ii

Sumário

1. Introdução .............................................................................................................................. 3

A Utilização do Bagaço de Cana como Insumo Energético ................................................... 6

Secagem do Bagaço para Armazenamento ...................................................................... 7

Queima de Bagaço para Geração de Energia Elétrica ...................................................... 8

2. As tecnologias para conversão do bagaço de cana de açúcar em energia........................... 10

A tecnologia de gaseificação como alternativa de conversão ....................................... 13

Tecnologias de produção disponíveis no Brasil .............................................................. 15

Principais opções de reatores de gaseificação ............................................................... 17

3. Estudos de Caso: ................................................................................................................... 25

Organizações de Pesquisas de Gaseificação no Mundo...................................................... 25

Hawai Biomass Gasification Project ............................................................................... 28

KTH (Kungl Tekniska Hogskolan, the Royal Institute of Technology) ............................. 29

Organizações de Pesquisas de Gaseificação no Brasil ........................................................ 29

UNICAMP - Universidade de Campinas: ......................................................................... 29

IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas: ...................................................................... 31

UFPA - Universidade Federal do Pará............................................................................. 39

EFEI – Universidade Federal de Itajubá .......................................................................... 40

4. Conclusão .............................................................................................................................. 41

5. Bibliografia ............................................................................................................................ 43

Page 3: TRABALHO BAGAÇO rev_02

3

Introdução

Pode-se definir a biomassa como todo material renovável produzido direta ou

indiretamente pelos vegetais através do processo de fotossíntese.

São várias as razões que tornam atrativa a utilização da biomassa para fins

energéticos. Dentre elas, podemos citar:

A biomassa constitui uma riqueza natural própria e renovável, com

elevada disponibilidade e relativa facilidade de uso.

Representa uma fonte renovável e segura de energia não vinculada

diretamente às variações de preços e suprimentos dos combustíveis líquidos

importados.

O uso da biomassa como energia permite a países em desenvolvimento

diminuir suas importações de petróleo, contribuindo assim, para melhorar

significativamente o chamado “balanço de pagamento”.

A biomassa é do ponto de vista energético, um combustível

substancialmente limpo quando comparada com os combustíveis fósseis. A sua

conversão termoquímica contribui na melhora do balanço de CO2 e de óxidos

de nitrogênio e de enxofre na atmosfera.

Entre os principais tipos de biomassa geralmente considerados como possíveis

fontes de energia, temos: resíduos agrícolas e florestais, madeira e resíduos de

madeira, resíduos comerciais e domésticos e resíduos de processos industriais.O

bagaço de cana de açúcar

O bagaço de cana de açúcar constitui, após a madeira, o tipo de biomassa com

maior importância e potencial como combustível. O grande desenvolvimento da

agroindústria canavieira, propiciou um incremento acelerado na produção e industrial,

de cerca de 1.104x106 toneladas de cana, no mundo. No Brasil, esta quantidade está

hoje em torno de 250x106 a 271x106 toneladas/ano.safra, sendo considerado por isto

o maior produtor de cana de açúcar no mundo e, ocupando aproximadamente 25% da

produção mundial.

Page 4: TRABALHO BAGAÇO rev_02

4

Nas condições atuais das usinas, isto significaria produzir em torno de 62,5x106 a

67,5x106 toneladas de bagaço de cana com 50% de umidade (base úmida).

Considerando que aproximadamente 5% desta quantidade é comercializada pelas

usinas, representaria em torno de 3x106 a 3,4x106 toneladas de bagaço de cana

excedente. Esta quantidade excedente é em sua maioria, comercializada como

combustível industrial.

Dos combustíveis disponíveis no mercado brasileiro, o bagaço de cana de açúcar

é o que apresenta o menor custo por gigacalorias, quando comparado com outros

energéticos disponíveis, como, por exemplo a madeira e os derivados do petróleo.

A composição média da cana de açúcar pode ser considerada como sendo a

seguinte:

(CORTEZ et alii, 1992)

Tabela 1 - Composição Média da Cana de Açúcar

Quanto ao seu valor energético, em tese, pode-se considerar que 1 tonelada de

cana contenha cerca de 392.000 kcal em 70 litros de álcool, além de 560.000 kcal em

250 kg de bagaço úmido e 60.000 kcal em 11.830 litros de biogás obtidos através da

biodigestão do vinhoto. Com isso, pode-se dizer que há mais energia na cana de açúcar

e em seus derivados do que se pode conseguir com o álcool isoladamente.

Umas das características que compõem o setor sucroalcooleiro são os grandes

montantes envolvidos, assim como a sua interação com os demais segmentos

industriais. O esquema ilustrado na Figura 1 a seguir, mostra à cadeia produtiva desse

setor, assim como, a valorização dos seus subprodutos, através de um espectro de

atuação bastante amplo.

Page 5: TRABALHO BAGAÇO rev_02

5

Figura 1 - Setor sucroalcooleiro. Fonte: Maria Cristina Pellegrini (2002)

Em termos energéticos, a partir da cana de açúcar, além da produção do álcool

combustível e do açúcar, tem-se também a geração de energia elétrica através da

queima do bagaço. Isto é possível, principalmente, devido aos grandes montantes de

cana de açúcar que são processados dentro do setor sucroalcooleiro, tornando

significativa a quantidade de bagaço, que é representada por cerca de 30% em relação

a quantidade de cana, com 50% de umidade e Poder Calorífico médio de 7,74 MJ/kg

(1850 kcal/kg) (COELHO, 1999), e que é utilizado na usina como combustível, sendo

Page 6: TRABALHO BAGAÇO rev_02

6

seu excedente comercializado para outras indústrias, como por exemplo, a de

alimentos e bebidas.

As tecnologias de gaseificação e/ou pirólise, principalmente em reatores de leito

fluidizado para instalações de pequeno e médio porte, poderiam tornar possível a

valorização do bagaço de cana. Já em instalações de grande porte, uma possível via de

valorização e de criação de novos mercados para o bagaço de cana de açúcar é tornar

viável, técnica e economicamente, a tecnologia alternativa de gaseificação em leito

fluidizado com fins de cogeração, os conhecidos sistemas BIG/GT-CC (Biomass

Integrated Gasifiers/ Gas Turbine-Combined Cycles).

A Utilização do Bagaço de Cana como Insumo Energético

O bagaço de cana tem sido historicamente usado como combustível nas usinas,

pelo menos desde o início deste século, quando passou a substituir a lenha nas

caldeiras.

Com os avanços tecnológicos do setor sucroalcooleiro, o bagaço passou a ser

mais valorizado como fonte de energia, respondendo pelas necessidades energéticas

da própria usina, passando depois, a ser comercializado para outras usinas ou

indústrias. Atualmente, a maioria das usinas vende o bagaço excedente a um preço

variável entre 4,00 R$/t e 14 R$/t dependendo da localização da usina em relação aos

potenciais compradores. O mercado, de um modo geral, paga pela tonelada do bagaço

in natura o mesmo preço por tonelada de cana. Mesmo assim, a utilização do bagaço

como combustível para fins energéticos passa pelo equacionamento dos seus maiores

problemas:

Baixa densidade energética: em torno de 214.800 kcal/m3;

Umidade: 50%;

Armazenamento difícil;

Transporte caro;

Decomposição ao longo do tempo.

Desta forma, em virtude do caráter sazonal da indústria sucroalcooleira, o

fornecimento de bagaço excedente para fins industriais não pode ser realizado de

forma direta contínua, havendo a necessidade da formação de estoques reguladores, a

fim de suprir a sua carência no período da entressafra.

Page 7: TRABALHO BAGAÇO rev_02

7

Quando se armazena o bagaço, o açúcar residual aliado ao teor de umidade e à

ação microbiana estimula uma fermentação exotérmica o que afeta diretamente as

características do material, deteriorando-o e, muitas vezes, provocando uma

combustão espontânea não desejável.

O bagaço de cana, portanto, necessita passar por um beneficiamento que

viabilize sua estocagem e, consequentemente, melhore o seu aproveitamento como

insumo energético ou como matéria-prima industrial.

Secagem do Bagaço para Armazenamento

Um fator muito importante quando se armazena o bagaço é reduzir seu teor de

umidade, que normalmente é de 50%, e que pode ser conseguido através de duas vias

principais:

Utilização de uma fonte de energia disponível nas destilarias e usinas,

Enfardamento com secagem, que está intimamente relacionado com a

compactação do material.

O enfardamento é a prática mais difundida quando se objetiva facilitar o

transporte e/ou reduzir a área das instalações para estocagem do bagaço. Para tanto,

existem dois processos de enfardamento: o normal e o com secagem.

No processo normal não há necessidade de uma pré-secagem, pois o bagaço in

natura é compactado através de prensas hidráulicas em fardos de dimensões

apropriadas como por exemplo 0,7 x 1,0 x 1,0 m. A densidade do fardo varia de 400 a

600 kg/m3. Embora o teor de umidade permaneça alto, pode sofrer uma redução

durante o período de estocagem através da secagem natural com o ar ambiente.

O empilhamento dos fardos pode ser realizado em forma cúbica ou piramidal,

com espaçamento suficiente para permitir a passagem de empilhadeiras e a ventilação

entre os mesmos, sendo que muitas enfardadeiras fazem um furo através do fardo,

visando aumentar a velocidade de secagem. O princípio em que se baseia esta técnica

é o da construção de uma grande pilha de bagaço, onde a deterioração da camada

externa protege as camadas internas. As perdas totais estão em torno de 15%. Neste

sistema é possível uma mecanização completa do manuseio do bagaço, tornando o

custo operacional bastante baixo.

Page 8: TRABALHO BAGAÇO rev_02

8

No processo que utiliza secagem, o fardo é submetido a um período no qual o

uso controlado e racional da fermentação natural e a aeração permitem reduzir o teor

de umidade de 50 para 20% em apenas 20 dias. A densidade do fardo permanece em

torno de 375 kg/m3. Os fardos podem ser estocados ao ar livre, sendo simplesmente

protegidos por uma lona plástica, mantendo suas especificações e características

inalteradas e sem deterioração, por longos períodos de estocagem.

Entre os possíveis sistemas de secagem do bagaço de cana, pode-se relacionar as

seguintes alternativas:

Secadores que utilizam os gases de exaustão de caldeiras como meio de

aquecimento;

Secadores munidos de gerador autônomo de energia (geralmente,

queima de resíduos da biomassa);

Sistema misto, utilizando gases a baixa temperatura (130 – 150oC) que

recebem uma complementação por parte de uma fonte autônoma de energia,

propiciando a elevação da temperatura dos mesmos.

As técnicas de armazenamento variam em função da utilização a ser dada ao

bagaço, ou seja:

In natura - quando a usina ou a indústria utiliza o bagaço durante o

período sazonal e, portanto, não requer procedimentos de estocagem. Além

disso, a indústria que utiliza o bagaço in natura deve localizar-se o mais

próximo possível da usina ou destilaria para facilitar o transporte, e dessa

forma, minimizar os gastos;

Com secagem - quando a usina tem excedente de bagaço e o utiliza fora

do período sazonal, ou vende esse bagaço para outras indústrias que o utilizam

em seus processos, como: as de papel e celulose, alimentícias e de bebidas.

Outras técnicas também empregadas para aumentar a eficiência na utilização do

bagaço são a peletização e a briquetagem.

Queima de Bagaço para Geração de Energia Elétrica

Como mencionado anteriormente, entre as diversas formas de aproveitamento

do bagaço de cana, destaca-se o seu valor como combustível em substituição aos

derivados de petróleo, especialmente óleo combustível, e da lenha. O bagaço

Page 9: TRABALHO BAGAÇO rev_02

9

proporciona às empresas sucroalcooleiras o privilégio da auto suficiência de energia

térmica e da possibilidade de auto suficiência em energia elétrica, condições essas

inexistentes na maioria das atividades industriais.

O bagaço de cana, dentre as biomassas, é aquele que reúne os melhores

atributos econômicos para ser industrializado e competir comercialmente com o óleo

combustível em virtude das seguintes vantagens:

Ter uma lavoura organizada, cujos custos são debitados no produto

nobre: açúcar e/ou álcool;

Ter todo o sistema de transporte campo-indústria organizado e

correndo por conta do mesmo produto nobre;

Ser produzido em grandes quantidades, concentradas em um ponto,

que o libera semi beneficiado, graças ao trabalho de moagem.

Uma das características fundamentais do bagaço é o seu poder calorífico (Poder

Calorífico médio 1850 kcal/kg), o qual é função do grau de umidade (50%) e do teor de

açúcar residual. Como o teor de açúcar é normalmente baixo, tem-se a umidade como

principal fator limitante do poder calorífico. No Estado de São Paulo e, em menor

escala, no restante do país, praticamente todas as indústrias do setor sucroalcooleiro

são autosuficientes em virtude da grande quantidade de bagaço gerado (ANEEL, 1998).

Entretanto, pelos dados existentes, ainda há uma grande parte do bagaço que não é

usada para geração de eletricidade apesar de não existirem estatísticas confiáveis com

relação à quantidade e destino do bagaço vendido pelas usinas.

A umidade do bagaço, portanto, interfere diretamente no rendimento da

combustão, como citado anteriormente, o que se constata pela temperatura de

ignição do bagaço, que está entre 500oC e 600oC com 50% de umidade, caindo para

300oC a 400oC quando a umidade está em torno de 35% a 40%. Com baixo teor de

umidade, a etapa de secagem na fornalha se dá em tempo menor, representando uma

maior velocidade de queima. A temperatura da chama também é sensível ao nível de

umidade, ficando entre 850oC e 920oC com 50% de umidade, mas chegando acima de

1.100oC com 35% de umidade, aumentando consideravelmente a transmissão de calor

por radiação, condução e convecção nos tubos e recuperadores que compõem uma

caldeira.

Page 10: TRABALHO BAGAÇO rev_02

10

Apesar de o bagaço apresentar um alto teor de umidade, é responsável pela boa

ignição do resíduo por possuir um alto teor de voláteis, da ordem de 87% em base

seca. Os voláteis do bagaço representam 78% do poder calorífico e consomem 74% do

ar de combustão.

As tecnologias para conversão do bagaço de cana de açúcar em energia

A quantidade de bagaço produzida pelo setor sucroalcooleiro é extraordinária e,

mesmo assim, milhões de toneladas não são utilizadas como combustível, tendo,

provavelmente, outro destino como por exemplo: sua utilização como matéria-prima

para a produção de celulose, chapas de aglomerado, ração animal, produtos químicos

de alto valor comercial como éter etílico, ácido acético, acetato de etila e dietilamina,

além de várias possibilidades ainda sendo pesquisadas como a sua aplicação para

obtenção de plástico biodegradável, adesivos e fibras sintéticas. (UNICA, 2002).

Dependendo da tecnologia utilizada, dentre aquelas comercialmente viabilizadas

no país, estima-se que o bagaço possa gerar cerca de 100 kWh/tc, o que representa

um enorme potencial de energia elétrica produzida, principalmente, no período da

safra.

A produção de energia elétrica a partir da queima do bagaço de cana, teve seu

impulso durante a 1ª crise do petróleo em 1973, quando começaram a surgir as

primeiras unidades de cogeração através do acoplamento de turbinas de

contrapressão no circuito de vapor das indústrias do setor sucroalcooleiro. Por fazer

parte integrante do processo produtivo da usina, este tipo de alternativa se tornou

limitada sob o ponto de vista da comercialização da energia elétrica excedente, motivo

pelo qual, os empreendimentos atuais passaram a adotar o conceito de turbina de

condensação com operação independente do processo de industrialização da cana de

açúcar.

O processo de cogeração passou a ser considerado como uma alternativa

complementar em função da significativa quantidade de energia que pode ser injetada

na rede elétrica. E para o processo de cogeração, podemos utilizar as seguintes

tecnologias: gaseificação, combustão e pirólise.

Page 11: TRABALHO BAGAÇO rev_02

11

Na Figura 2 são apresentados os diferentes processos tecnológicos alternativos

para se realizar a conversão termoquímica do combustível sólido, que são:

gaseificação, pirólise e liquefação, além dos respectivos produtos primários e

secundários.

Figura 2 - Tecnologias alternativas para a conversão energética dos combustíveis sólidos. Elaboração própria

Page 12: TRABALHO BAGAÇO rev_02

12

A gaseificação é um processo de conversão termoquímica que ocorre entre o

oxigênio e as substâncias que possuem carbono em sua constituição (carvão, madeira,

etc), para a obtenção de uma mistura de gases denominada syngas. Nesse processo, o

carbono sofre oxidação térmica com o oxigênio utilizado em quantidades inferiores ao

estequiometricamente necessário para a combustão completa. Por este motivo, o

syngas gerado é constituído por componentes gasosos ainda passíveis de combustão,

principalmente o hidrogênio e o monóxido de carbono. As reações químicas descritas,

a seguir, ocorrem tipicamente nos processos de gaseificação. Além do fornecimento de

carbono e ar, pode-se utilizar como matéria prima o vapor de água (reações de 3 a 5)

para o favorecimento da geração de H2.

Distingue-se a gaseificação da combustão e da pirólise tanto pela quantidade de

oxidante utilizada quanto pelos produtos de interesse gerados. Enquanto a pirólise é

efetuada sem oxidante, e a combustão, com excesso desse produto, a gaseificação usa

quantidades abaixo do estequiometricamente necessário em razão da quantidade de

carbono presente nas reações. Como produtos de interesse, a pirólise produz

compostos líquidos, já a combustão é efetuada para aproveitamento de calor, gerando

subprodutos gasosos, essencialmente gás carbônico e vapor de água, enquanto a

gaseificação visa a obtenção de vetores energéticos gasosos, principalmente H2 e CO

do syngas.

Page 13: TRABALHO BAGAÇO rev_02

13

O syngas é utilizado na geração de energia elétrica como combustível para

produção de vapor em caldeiras de processos termoelétricos ou na alimentação direta

de grupos geradores baseados em motores de combustão interna. As reações de

combustão dos principais componentes do syngas, são representadas abaixo:

No Brasil, há um crescente interesse no desenvolvimento de processos de

gaseificação de biomassas de resíduos agrícolas, em particular aos provenientes do

setor sucroalcooleiro por sua abundância. Os resíduos lignocelulósicos da cana-de-

açúcar são classificados, segundo sua origem, em:

Bagaço: resíduo sólido obtido no processamento industrial, após

operação de moagem;

Palhiço: denominação genérica dos resíduos gerados na colheita, tais

como ponteiros, folhas verdes e palhas propriamente ditas.

Ambos são classificados como sólidos não inertes, classe IIA (ABNT, 2004). Isso

significa que podem ser aproveitados como biomassa em transformações físicas ou

químicas, não constituindo rejeitos tóxicos ou que necessitem de disposição

controlada.

Apenas um terço da energia total disponível na cana-de-açúcar é aproveitada e

convertida em etanol, estando o restante do potencial energético do vegetal presente

no bagaço e no palhiço. Entretanto, apesar da possibilidade de uso desses rejeitos,

atualmente 93% do bagaço é utilizado de modo pouco eficiente na queima em

caldeiras para geração de vapor.

A tecnologia de gaseificação como alternativa de conversão

Entre as tecnologias apresentadas, a gaseificação, ao transformar o combustível

sólido em gás também combustível, amplia consideravelmente o seu campo de

aplicações e consequentemente, o seu potencial de substituição de derivados do

petróleo, além de ter melhores características de transporte, melhor eficiência de

Page 14: TRABALHO BAGAÇO rev_02

14

conversão energética e que pode ser utilizado como matéria prima de outros

processos.

Em aplicações industriais, a gaseificação apresenta diversas vantagens em

relação a queima direta ou combustão, entre elas temos:

O combustível gasoso pode ser convenientemente distribuído por

tubulação;

Pouca ou nenhuma modificação é necessária nas câmaras de combustão

quando um combustível líquido derivado de petróleo é substituído;

Obtém-se uma chama de alta temperatura, estável e limpa, sem

necessidade de equipamentos antipoluição após a queima;

O gás de gaseificação pode ser utilizado em vários tipos de fornos e

aquecedores industriais, nos locais onde limitações de espaço ou do processo

impedem a instalação de fornalhas;

A eficiência global da gaseificação/combustão do gás pode, em alguns

casos, ser superior à combustão direta, uma vez que a combustão direta de

algumas biomassas tem a eficiência reduzida pelo grande excesso de ar

necessário para obter uma queima total.

Ao substituir derivados de petróleo, o gás elimina os problemas de

corrosão, poluição e contaminação do produto causados pelo enxofre e

partículas solidas de carbono livre, e

A geração de eletricidade em diversas escalas pode ser realizada sem a

necessidade de um ciclo de vapor (ciclo de Rankine), ocorrendo simplesmente

pela queima do gás num motor de combustão interna (pequena escala), ou em

uma turbina a gás (media e grande escala).

Segundo alguns autores os sistemas compostos de gaseificação-combustão

podem possuir ainda certas vantagens sobre o sistema de combustão direta, pois,

geralmente, a conversão do carbono sólido residual é maior, a fornalha trabalha com

urn combustível mais limpo e os pirolenhosos e alcatrões produzidos durante a

gaseificação podem ser transformados na própria fornalha.

Porem, a gaseificação possui algumas desvantagens técnicas que devem ser

levadas em consideração, entre elas temos:

Page 15: TRABALHO BAGAÇO rev_02

15

A tecnologia é mais complicada que a queima direta e deve-se ter

especial atenção com os aspectos de segurança, uma vez que os gases

produzidos são tóxicos. Em geral a maioria dos problemas ocorrem no

manuseio do combustível, no sistema de alimentação e na limpeza dos gases.

Do ponto de vista operacional, em instalações de gaseificação trabalha-se com

operações complexas.

Tecnologias de produção disponíveis no Brasil

Planejamento e procedimentos estão sendo disponibilizados para cada vez mais

utilizar a cana crua nos processos de cogeração. Os modelos mais recentemente

propostos são apresentados na figura 3.

Figura 3 - Sistemas selecionados para colheita da cana crua.

Segundo Walter (1994) existem dois tipos de ciclos geradores de energia elétrica:

Rankine: ciclo de conversão termodinâmica que emprega turbina a

vapor, cujo objetivo é a geração de eletricidade ou potência mecânica para

acionamento de equipamentos, muito usado em usinas de açúcar e álcool. Com

eficiência média de 45%.

Combinado: Quando se associa dois ciclos de potência em série, ou seja,

o rejeito de um deles é insumo do outro, objetivando o uso do insumo

energético, consumido pelo primeiro, para melhorar o rendimento global dos

Page 16: TRABALHO BAGAÇO rev_02

16

dois ciclos, usualmente, aplicado em termoelétricas. Com eficiência média de

80%.

Ainda de acordo com Walter (1994), no Brasil existem apenas dois sistemas

de combustão da biomassa em leito fluidizado instalados nas indústrias Aracruz e

Klabin. Entretanto a maior parte das empresas sucroalcooleiras utiliza tecnologias

ineficientes para co-geração. Como as caldeiras, onde é utilizado o bagaço de cana

como combustível gerando vapor para turbinas, que podem se transformar em

eletricidade ou movimentar moendas. O uso de caldeiras com partida a frio não é

aconselhável, pois esta requer uma programação antecipada de 10 horas o que

torna inviável seu uso imediato em condições de emergência.

Para resolver esta questão de eficiência do aproveitamento energético, Balbo

e Padovani Neto (1987) fizeram uma proposta de formulação do sistema BIG/STIG

– Biomass Integrated Gasifier / steam Injected gas Turbine (Gaseificação integrada

de biomassa associada a turbina a gás com injeção de vapor) para uma indústria

sucroalcooleira. Este sistema é apresentado na figura 4.

Figura 4 - Sistema BIG/STIG – proposto para cogeração em usina sucroalcooleira

Na figura 4, o gaseificador de leito fluidizado, pressurizado ou não, (1), é

alimentado com bagaço de cana, mais o agente de gaseificação (ar + vapor),

obtendo como resultado da conversão termoquímica um gás combustível de baixo

poder calorífico, que é composto por CO, H2, CH4, CO2, O2 e hidrocarbonetos. O

sistema de limpeza do gás quente obtido (2) permite eliminar através do emprego

Page 17: TRABALHO BAGAÇO rev_02

17

de catalisadores, ciclones e filtros, os materiais particulados, os compostos

alcalinos e o alcatrão, que afetam a operação da turbina a gás, pois causam erosão

e corrosão das pás da turbina. O gás limpo é conduzido para uma câmara de

combustão (3) da turbina a gás (4), onde se injeta, também vapor, o que permite a

elevação da potência de eixo, em função do aumento mássico e da injeção de um

fluido de maior calor específico do que o dos gases de combustão. Outra vantagem

disso, está na diminuição do nível de emissores de NOx da turbina a gás.Os gases

quentes (500 a 550ºC) após saírem da turbina a gás, são conduzidos até uma

caldeira de recuperação de calor (5), onde se produz vapor para o gaseificador,

para a injeção na câmara de combustão da turbina a gás (o que provoca um

aumento de sua potência e rendimento no ciclo) e para o processo tecnológico de

produção de açúcar e álcool. Mas esta última tecnologia denominada de ciclo

combinado possui alto custo e por isto não é viável a associação da tecnologia BIG

com o ciclo combinado.

A principal vantagem desta tecnologia na indústria sucroalcooleira é a sua

substancial economia na demanda de vapor de processo, de 480 Kg vapor/tc das

atuais usinas e destilarias, para menos de 280Kg vapor/tc. Isto é possível porque

parte do vapor produzido na caldeira de recuperação de calor (cerca de 30% de

400Kg vapor/tc), destina-se ao processo de gaseificação do bagaço, restando 70%

do vapor produzido parao processo industrial, o que elevea sua disponibilidade

para a produção de energia elétrica excedente.

Principais opções de reatores de gaseificação

Reatores de leito fixo

Os gaseificadores com reatores de leito fixo podem ser classificados, em dois

tipos: o gaseificador contracorrente e o gaseificador concorrente. As principais

características são:

Podem ser atmosféricos ou pressurizados (até 3 MPa);

São sistemas simples e eficientes trabalhando com combustíveis de alta

densidade e granulometria não-fina (10-100 mm); Sua eficiência energética

pode variar na faixa de 60-90 %;

Tem uma baixa potência volumétrica, kJ/m3-s;

Page 18: TRABALHO BAGAÇO rev_02

18

Geralmente são utilizados para gaseificar madeira e carvão.

Na Figura 5-(a) mostra-se o gaseificador de leito fixo mais simples, o

contracorrente. Este tipo de gaseificador tem a vantagem de pré-aquecer a carga de

combustível que desce ao reator pelo gás ascendente, garantindo condições para a

obtenção de uma elevada eficiência térmica e urn gás com poder calorifico inferior da

ordem de 6,28 MJ/Nm3.

Os gases produzidos neste gaseificador arrastam uma grande quantidade de

particulados sólidos, alcatrões e outros produtos da pirólise, uma vez que o gás gerado

não passa pela zona de combustão e o alcatrão não é craqueado. Isto inibe a utilização

direta do gás em motores de combustão interna, sendo limitada s6 para sistemas onde

estes são queimados. A temperatura de saída dos gases do gaseificador encontra-se na

faixa de 250°C e 400°C, variando em função da temperatura na zona de oxidação,

altura do leito de material sobre a zona de pirólise e a umidade do combustível.

Figura 5 - Gaseificadores de leito fixo

Dentre as principais vantagens dos gaseificadores contracorrentes, pode-se citar:

Simplicidade operacional e habilidade de gaseificar materiais com elevado

teor de água e material inorgânico, como lodo residual do tratamento de esgoto;

Potencial de operar com temperaturas muito elevadas na região da grelha

(a menos que vapor d’água seja injetado na grelha) capaz de fundir metais e

escória (gaseificação com cinza fundida);

As principais desvantagens são:

Page 19: TRABALHO BAGAÇO rev_02

19

O gás gerado normalmente contem de 10 a 20 % do alcatrão gerado na

pirólise do combustível, com uma concentração da ordem de 100 g/Nm3. Estes

alcatrões, no entanto, queimam bem em processos de combustão direta.

No caso de aplicações em motores de combustão interna, turbinas ou para

geração de gás de síntese, o alcatrão deverá ser removido;

A grelha pode ser submetida a temperaturas muito elevadas, a não ser que

vapor d’água ou CO2 seja injetado com o ar ou oxigênio;

A granulometria do combustível alimentado tem de ser uniforme para

evitar perda de carga elevada no leito (no caso do gaseificador atmosférico) ou

formação de canais preferenciais;

O tipo de gaseificador apresentado na figura 5 (b), as zonas de combustão e de

redução estão posicionadas de forma oposta aos gaseificadores contracorrente. 0 gás

flui no mesmo sentido descendente que o combustível sólido. Esta característica de

projeto deste tipo de gaseificador levou em conta a possibilidade de converter até 99,9

% do alcatrão liberado pelo combustível, evitando a sua possível condensação em

tubulações e outras partes dos motores. Isso ocorre, pois em regime contacorrente, os

materiais com umidade elevada (acima de 20 %) apresentam dificuldades de aquecimento

e secagem, devido à evaporação da água contida no interior das partículas. Dessa forma, a

pirolise é retarda ou até impede, levando à formação de gases com alto teor de alcatrão.

Contudo, nesta configuração, o material sólido localizado logo acima desta região sofre um

preaquecimento e secagem, principalmente por troca de calor por radiação com a região

de pirólise flamejante. Dessa forma, conforme a biomassa atinge uma determinada

temperatura (acima de 200 °C) ela começa a liberar voláteis combustíveis que, ao entrar

em ignição com o ar descendente, forma uma chama em volta das partículas, que passam

a queimar mais intensamente, devido às trocas de calor com a própria chama, até o

esgotamento de toda a matéria volátil, restando de 5 a 15 % de carvão vegetal.

Os alcatrões, voláteis e pirolenhosos são obrigados a passar pela zona de

combustão do

gaseificador, onde, sob determinadas condições de operação controladas, são

craqueados. Assim, estes sistemas apresentam um estrangulamento (garganta) ao

nível da zona de combustão, onde são posicionados os bicos para a alimentação do ar.

Page 20: TRABALHO BAGAÇO rev_02

20

Nesta região cria-se então uma zona de elevada temperatura que permite a conversão

dos alcatrões que passam por ela.

Motivados pela necessidade de produzir energia elétrica a partir da biomassa em

pequena escala, na faixa de 3,7 a 100 kW, o Combustion, Gasification and Propulsion

Laboratory ( CGPL ), do Indian Institute of Science, em Bangalore, apresentaram uma

variante do gaseificador concorrente visando evitar problemas relacionados com a

fusão das cinzas do combustível como consequências das elevadas temperaturas na

zona de combustão.

Figura 6 - Esquema do reator de topo aberto do Indian Institute of Science

Na Figura 6 é mostrado um esquema deste reator. O gaseificador é conhecido

como gaseificador de topo aberto, uma vez que o combustível e o ar para a

gaseificação são supridos pela parte superior do reator. O sistema não tem

estrangulamento ao nível da zona de combustão e sim entrada de ar lateral através de

bicos de ar situados a 1/3 da altura do reator.

Reatores de leito fluidizado

A fluidização baseia-se fundamentalmente na circulação de sólidos juntamente com

um fluido (gás ou líquido) impedindo a existência de gradientes de temperatura, de pontos

muito ativos ou de regiões estagnadas no leito; proporcionando também um maior contato

superficial entre sólido e fluido, favorecendo a transferência de massa e calor.

Page 21: TRABALHO BAGAÇO rev_02

21

Ao passar um gás através de um leito de material particulado, como indicado na

Figura 7, observa-se somente uma elevação de pressão na grelha. Elevando-se

continuamente a vazão do gás, se obtém uma elevação também contínua da pressão até

atingirmos uma velocidade, denominada velocidade de mínima fluidização (Umf) na qual a

força peso das partículas se iguala à força de arraste do gás. Neste ponto as partículas

começam a se descolar uma das outras e ficam suspensas, passando a se comportar como

um líquido. Incrementos adicionais de velocidade provocam o surgimento de bolhas de gás

no interior da suspensão, criando duas fases. Uma constituída somente de gás, na forma de

bolhas, e outra, denominada emulsão, composta de gás e material particulado fluidizado.

As bolhas, ao subirem, aumentam de tamanho, por redução de pressão e

coalescimento com outras bolhas, arrastando grande quantidade de material particulado na

sua subida. São elas as responsáveis pela grande taxa de circulação de sólidos no leito. A

elevação continuada da vazão, nesta condição, provoca somente o aumento do número e

tamanho das bolhas, sem elevar a pressão na base da grelha. Quando a velocidade do gás

atinge a velocidade terminal das partículas (Ut) começa a haver um arraste do material mais

fino, diminuindo a altura do leito e a pressão na sua base. No casos destas partículas

arrastadas serem coletadas em um ciclone, ou outro dispositivo semelhante, e serem

retornadas ao leito, têm-se um leito fluidizado circulante. Quando não há este retorno, tem-

se um leito de arraste.

Page 22: TRABALHO BAGAÇO rev_02

22

Figura 7 - Evolução da Pressão na Base de um Leito de Material Particulado com o Aumento da Velocidade de Fluidização

Reatores de 1ª geração

São os leitos fluidizados simples, chamados também na literatura de "The

bubbling bed" ou de leito borbulhante, baseados no esquema mostrado na Figura 8.

Possuem as seguintes características:

As partículas sólidas elutriadas (arrastadas pelo fluxo de gás) do leito

não recirculam novamente;

Tem baixa conversão de carbono e menor eficiência, devido ao fato

anterior, são maiores as perdas por carbono não queimado como fuligem no

gás de saída ou no alcatrão produzido e não polimeralizado.

Page 23: TRABALHO BAGAÇO rev_02

23

Figura 8 - Esquema de um reator de leito fluidizado de primeira geração

Neste tipo de reator, as partículas do combustível são mantidas em suspensão

num leito de material inerte (areia, alumina, dolomita etc) fluidizado pelo agente de

gaseificação (ar, oxigênio, ar enriquecido com oxigênio etc.). O combustível é

alimentado diretamente na zona do leito, no entanto existem outras variantes que

alimentam o combustível a determinada distância acima do leito ou pelo topo do

reator. Neste tipo de reator para gaseificação trabalha-se com velocidade superficial

do gás numa faixa de valores para os quais não é passível, teoricamente, atingir o

transporte pneumático das partículas do leito.

Reatores de 2ª geração:

Os reatores de segunda geração são os pertencentes ao grupo conhecido como

reatores de leito circulante. Na Figura 9 é mostrado um esquema básico e simples de

um reator de leito fluidizado circulante. Possuem as seguintes características:

As partículas só1idas elutriadas do leito recirculam novamente;

O sistema opera em regime de leito fluidizado rápido com elevadas

taxas de recirculação do material do leito. E um regime intermediário entre o

leito borbulhante e o regime de transporte pneumático;

Devido à recirculação, o tempo de residência das partículas de

combustível no leito é maior, sendo maior a conversão de carbono (>95% para

algumas instalações);

Page 24: TRABALHO BAGAÇO rev_02

24

Por isso, a eficiência do gaseificador é maior, além de garantir sistemas

de maiores capacidades especificas, kg/m3h.

Figura 9 - Esquema de um reator de leito fluidizado circulante

Sistema de alimentação de combustível para reatores de leito fluidizado

Basicamente existem 4 tipos fundamentais de sistemas de alimentação de

combustível a serem utilizados em reatores de leito fluidizado. Entre eles, o sistema de

rosca-sem-fim é o mais comumente utilizado nas instalações de gaseificação em leito

fluidizado, mesmo quando combinado com outros sistemas, por exemplo, o sistema

pneumático.

Os transportadores de rosca-sem-fim baseiam-se na alimentação do combustível

através do deslocamento positivo da rosca. Podem ser construídos de passo variável,

procurando criar um selo de pressão que evite vazamentos de gás a partir do reator.

Alguns projetos deste tipo de transportador tem incorporado um sistema de

resfriamento da rosca na região perto da descarga quente do alimentador, procurando

evitar a degradação térmica do combustível e o aparecimento de problemas de

operação.

A biomassa fibrosa, como o bagaço de cana-de-açúcar, é de difícil alimentação.

Para a alimentação destes combustíveis precisa-se da remoção constante do mesmo

no silo para garantir a sua queda. A alimentação do combustível deve ser uniforme

para manter constante a composição do gás e a temperatura do leito. Uma alteração

na taxa de alimentação do combustível modifica rapidamente a composição do gás e a

temperatura do leito.

Page 25: TRABALHO BAGAÇO rev_02

25

No caso do bagaço de cana-de-açúcar, a experiência tem demonstrado que é

muito difícil alimentá-lo em sistemas de rosca-sem-fim com teores de umidade acima

de 10% (base úmida). A experiência prática tem demonstrado que a realização do

projeto de um sistema de alimentação tipo rosca-sem-fim, visando seu uso em

instalações de combustão e gaseificação em leito fluidizado, deve constituir uma tarefa

a ser efetuada com extremo cuidado. A falta de informações, ou mesmo informações

erradas com relação às variáveis que participam nos cálculos, influi de forma

significativa no valor da taxa de alimentação da rosca quando "fria".

Figura 10 - Sistemas de alimentação para reatores de leito fluidizado. (a) com válvula rotativa, (b) sem válvula rotativ

Estudos de Caso:

Nesta seção, visa-se apresentar alguns estudos de caso de unidades que utilizam

a tecnologia da gaseificação ao redor do mundo, com maior foco para o cenário

brasileiro.

Como será possível notar, apesar da gaseificação do carvão já ser uma tecnologia

altamente difundida, a aplicação para biomassa ainda é um tópico em estudo e

majoritariamente conta com fomentos de pesquisa e desenvolvimento.

Organizações de Pesquisas de Gaseificação no Mundo

A tecnologia de gaseificação de biomassa é um tópico de estudo em várias

instituições de pesquisa no mundo. Algumas das pesquisas são orientadas deste o

início quanto a utilização da biomassa a ser empregada como fonte de processamento,

enquanto outras adotam um caráter mais generalista aos seus projetos. Dentre as

pesquisas de maior repercussão nos últimos anos, pode citar:

Page 26: TRABALHO BAGAÇO rev_02

26

Page 27: TRABALHO BAGAÇO rev_02

27

Page 28: TRABALHO BAGAÇO rev_02

28

Hawai Biomass Gasification Project

Descrição / Finalidade: Unidade de demonstração de gaseificador alimentado com

bagaço de cana e madeira nos EUA.

O objetivo desse projeto era a elevação da escala do gaseificador desenvolvido pelo

IGT (IGT RENUGAS), de 2 MW de potência térmica, para 20 MW. Essa unidade de

demonstração deveria operar sendo alimentada com bagaço de cana e madeira. O

gaseificador foi projetado para operar tanto com injeção de ar quanto oxigênio, a pressões

de até 2,07 MPa e com temperaturas dos gases à saída na faixa de 850 a 900ºC.

Esse projeto era o único entre os projetos de desenvolvimento de maior porte a

estudar a gaseificação do bagaço de cana. O projeto compreendia três fases: (1) gaseificação

de biomassa, (2) geração de eletricidade, (3) síntese do metanol. A unidade está construída

em Paia, na ilha de Maui, no Hawai, em uma fábrica de açúcar da Hawaiian Commercial

and Sugar Company. Em 1999 o projeto encontrava-se definitivamente paralisado, em

função de dificuldades técnicas principalmente relativas à alimentação do bagaço de cana e

limpeza dos gases.

Figura 11 - Esquema das Instalações do Projeto Hawai Biomass Gasification

Page 29: TRABALHO BAGAÇO rev_02

29

KTH (Kungl Tekniska Hogskolan, the Royal Institute of Technology)

Descrição / Finalidade: Pesquisa sobre todos os aspectos de gaseificação na Suíça.

O governo suíço viu com grande entusiasmo por diversas décadas a energia de

biomassa, eles possuíam grandes recursos florestais, já que são grandes produtores de papel

e de móveis. A KTH possui trabalhos no campo da gaseificação e da combustão, possui

laboratórios bem equipados. Eles possuem uma importante lista de publicações feitas na

última década por instituições de pesquisa sobre gaseificação.

A KTH possui 36 papers listados, como:

Rápida Pirólise do Bagaço, do Açúcar de Cana e Resíduos da

Banana.

Equipamento para Quebra por Pirólise do Gás de Biomassa

Características do Alcatrão do Carvão / Gaseificação de Biomassa

Reforma do Vapor com Catalisador de Níquel no Gás de

Gaseificação de Biomassa

Organizações de Pesquisas de Gaseificação no Brasil

Ainda não existem unidades comerciais de gaseificação no Brasil. Algumas instituições

de pesquisa se destacam pelo caráter pioneiro de seus trabalhos. Entre eles, destaca-se:

UNICAMP - Universidade de Campinas, IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, UFPA -

Universidade Federal do Pará; EFEI – Universidade Federal de Itajubá.

UNICAMP - Universidade de Campinas:

Sob liderança do Prof. Dr. Sanchez, a UNICAMP está trabalhando com um reator

de leito fluidizado constituído por um tubo cilíndrico de 250 mm de diâmetro externo, de

aço inox 314, revestido internamente com concreto refratário de 25 mm de espessura,

resultado em um reator com 200 mm de diâmetro interno. A altura total do reator ‚ de 2000

mm, sendo a altura do refratário de 700 mm.

O ar de alimentação é fornecido por um compressor, com a vazão monitorada por

uma placa de orifício calibrada. O ar é injetado na parte de baixo do reator por uma placa de

orifícios com cerca de 2000 furos de 1,5 mm (plenum). O combustível ‚ introduzido no

reator por uma rosca sem-fim refrigerada a água e instalada 50 mm acima da placa

distribuidora. É possível modificar a alimentação do combustível através de um motor

Page 30: TRABALHO BAGAÇO rev_02

30

variador. O alimentador representa o elemento mais problemático do experimento de vários

pesquisadores. O gás ao sair do topo do reator passa por um ciclone que permite coletar

particu1ados, passando em seguida por uma placa de orifício para a medida da vazão, e

descarregado na atmosfera por uma chaminé. O material inerte do leito é formado por óxido

de alumina branco (alumina). O leito estacionário variou de 28 cm a 57 cm.

A amostragem do gás é feita logo na saída do ciclone. A amostra do gás é

succionada da tubulação de exaustão de gás do reator por um tubo, passando por um filtro e

por um separador de água, por um analisador continuo de monóxido de carbono (fim de

escala 9,99 %) passando por um by-pass para a atmosfera. são reportados bons resultados

para gaseificação de casca de arroz e serragem. Contudo, a utilização de biomassa fibrosa,

por exemplo bagaço de cana, apresentou sérios problemas na alimentação, exigindo um

novo desenho de rosca do alimentador. Com base na experiência adquirida neste reator, o

grupo de trabalho da UNICAMP pretende desenhar um reator maior, diâmetro de 300mm

com capacidade de 100 a 120 KW. Com isto será possive1 aprimorar o sistema de

alimentação de combustível, a filtragem dos gases e e1aborar uma sistemática mais

adequada de partida do reator.

Figura 12 - Reator de Leito Fluidizado Instalado na Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp

Page 31: TRABALHO BAGAÇO rev_02

31

IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas:

O IPT é uma instituição centenária, vinculada ao Governo do Estado de São Paulo,

que provê soluções tecnológicas para empresas e instituições públicas e privadas. Em 2011

teve faturamento anual de R$88 milhões.

Em 2012, a instituição publicou no SAE Brasil um estudo atualizado sobre a

viabilidade econômica da gaseificação do bagaço de cana, visando prospectar esta

oportunidade para 2020. Este estudo, aponta que a técnica de gaseificação do bagaço

concorre com outra tecnologia, de origem bioquímica: a hidrólise enzimática. Nesta

metodologia, visa-se transformar a biomassa lignocelulósica em etanol de segunda geração.

Abaixo, segue um report de 2011 do Google Scholar sobre as publicações de ambas as

tecnologias:

Tabela 2- Pesquisa em 2011 no Google Scholar

Dessa forma, nota-se que tanto no mundo quanto no Brasil, a hidrólise tem ganhado

maior repercussão que a gaseificação. Independente disso, o IPT investe em ambas as

tecnologias.

Contudo, como em qualquer projeto de prospecção de mercado, houve a

necessidade de pesquisar a receptividade de um cenário futuro no que diz respeito ao

suprimento de matéria prima que o mercado poderia abastecer. Para tal, a partir de dados de

produção de cana de açúcar nos últimos anos, prosseguiu-se com uma extrapolação a fim de

se estabelecer o cenário para os próximos anos, conforme a Figura:

Page 32: TRABALHO BAGAÇO rev_02

32

Figura 13 - Análise de Tendência de Produção de Cana de Açúcar

Sabe-se que instituições de fomento, como o BNDS (Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social) e UNICA (União Da Indústria De Cana De Açúcar)

incentivarão a construção de novas usinas de cana nos próximos anos, indicação que o

cenário para o investimento nesta tecnologia é promissor.

Analisando o cenário atual, pode-se apontar algumas características:

Inexiste uma planta comercial de gaseificação de biomassa no

mundo

Várias plantas pilotos sem continuidade

Tecnologias importadas

As plantas de gaseificação exigem altos investimentos

Desafios em financiamento de projetos de P&D e de implantação

comercial

Para tentar equilibrar o cenário nacional, o IPT está investindo na criação de uma

planta piloto de larga escala, nos moldes de outras grandes usinas, como:

Page 33: TRABALHO BAGAÇO rev_02

33

Figura 14- Projeto BioTFuel na França

Figura 15 - Projeto Choren na Alemanha

Figura 16 - Projeto Chemrec na Suécia

Page 34: TRABALHO BAGAÇO rev_02

34

Dessa forma, nasceu o projeto BioSynGas. A ideia é construir e operar uma usina

piloto de gaseificação de biomassa por fluxo de arraste, focada em bagaço de cana de

açúcar, de forma a adquirir o conhecimento necessário para projetar uma usina industrial

com Capex de US360M, para 400.000t/ano.

Este projeto conta com o apoio de diversas instituições, tais como: Petrobras,

Oxiteno, Vale, Raízen, USP, CTBE, FINEP, BNDS, etc.

Apesar do projeto só possuir previsão para finalização em 2016, o fluxograma de

processo já encontra-se bem estabelecido, conforme a imagem abaixo:

Page 35: TRABALHO BAGAÇO rev_02

35

A partir dos dados obtidos por simulações numéricas deste processo, resumiu-se de

maneira sucinta as relações de balanço de massa e consumo energético deste processo,

conforme a Figura 18:

Figura 18 - Balanço de Massa e Energia [Não leva em conta energia consumida nas etapas de secagem, moagem, torrefação e pirólise]

Além deste dados, também foram disponibilizadas outras informações sobre a

sustentabilidade deste processo, tais como a Tabela 3:

Figura 17 - Fluxograma de Processo do BioSynGas

Page 36: TRABALHO BAGAÇO rev_02

36

Tabela 3 - Informações Complementares do Processo BioSynGas

Apesar de promissora, esta tecnologia ainda apresenta vários gargalos que ainda são

alvo de pesquisa e desenvolvimento. Dentre as principais linhas de pesquisa, pode-se

destacar:

Sistemas de secagem da biomassa

Sistemas de pré-tratamento de biomassa

o Torrefação

o Pirólise rápida

Sistema de remoção de cinzas pré-gaseificação.

Sistema de alimentação do combustível;

Revestimento da câmara de gaseificação;

Utilização ou não de recuperador de calor;

Sistema de remoção de cinzas;

Sistemas de monitoramento, controle e segurança.

Sistemas de limpeza de gases

.Sustentabilidade ambiental

O IPT recebeu tantos apoios para o desenvolvimento deste projeto porque nos

últimos anos, a equipe do Laboratório de Combustão e Gaseificação do IPT, projetou e

construiu várias instalações piloto, que permanecem montadas no Laboratório para a

execução de trabalhos de investigação experimental auto motivados e para o atendimento de

trabalhos de interesse do meio industrial.

Tais equipamentos têm como característica comum potência relativamente elevada,

a fim de verificar experimentalmente a maioria dos problemas passíveis de ocorrerem numa

instalação de porte industrial, bem como utilizar parâmetros obtidos na sua operação para o

dimensionamento de unidades industriais com razoável segurança, caracterizando, portanto,

o que se convenciona denominar internacionalmente um Laboratório de Combustão

Industrial.

Água de Recirculação 30 m³/h

Make-Up de Água 2 m³/h

Consumo de GLP 45 kg/t bagaço

Page 37: TRABALHO BAGAÇO rev_02

37

Gaseificador de leito Fluidizado:

Este combustor/gaseificador é constituído de: um reator com diâmetro interno de

0,5m e altura de 5,0 m, revestido internamente por refratário sílico-aluminoso monolítico.

Figura 19 - Gaseificador de Leito Fluidizado Instalado no IPT.

O sistema de injeção de ar de fluidização é constituído por um plenum e uma placa

com 72 bicos de injeção de furos laterais (“stand pipes”).

O preaquecimento do material inerte que constitui o leito é feito pela combustão de

GLP através de 12 injetores montados em alguns bicos de injeção de ar e por um queimador

a diesel, localizado a 1,4 m da grelha. Como material inerte tem sido utilizada areia com

faixas granulométricas bastante estreitas, produzida pelo IPT para outras finalidades.

O gás efluente do gaseificador passa por um ciclone, revestido internamente com

refratário, que capta a maior parte do material particulado presente nesse gás. O material

coletado pode ser simplesmente recolhido através de um silo de transferência, para posterior

pesagem e análise ou então utilizando dois reservatórios de transferência e um ejetor, ser

realimentado ao interior do leito.

O gás efluente da primeira etapa de limpeza passa por uma tubulação de medição e

amostragem e em seguida por um sistema de resfriamento e lavagem e por um conjunto de

ventiladores em série que comprime o gás para a tocha.

Page 38: TRABALHO BAGAÇO rev_02

38

Existem dois sistemas de alimentação de material passíveis de serem utilizados: um

que alimenta o material a gaseificar sobre o leito fluidizado e outro que pode alimentar o

material no meio do leito fluidizado. O primeiro se presta a materiais de granulometria mais

grosseira (2 – 10 mm) e o segundo a materiais de baixa granulometria.

A reposição eventual de inerte ao leito é feita por gravidade a partir de um silo

existente no topo do reator e a retirada eventual de inertes em excesso é feita por um tubo

de transbordo, instalado na grelha, acoplado a um recipiente através de uma válvula de

manobra.

O reator pode operar com potências de até 1 MW, valor este já obtido em diversos

ensaios operando com bagaço de cana peletizado.

Gaseificador de leito fixo

Existe no Laboratório de Combustão e Gaseificação do IPT um gaseificador de leito

fixo, com diâmetro interno de 0,5 m e altura de 3 m, possibilitando alturas de leito de até

2,5 m. O reator é revestido internamente com refratário sílicoaluminoso monolítico e seu

corpo construído em várias partes, possibilitando diversas configurações:

Figura 20 - Gaseificador de Leito Fixo Instalado no IPT.

Page 39: TRABALHO BAGAÇO rev_02

39

O leito de material em processamento apoia-se sobre uma grelha tronco cônica que

gira excentricamente em relação à seção transversal do gaseificador. As cinzas resultantes

escoam por gravidade por um espaço anular entre a grelha e a carcaça do gaseificador

caindo na bacia de selagem, que gira solidariamente à grelha. Os sistemas de alimentação

disponíveis são: um recipiente içado manualmente através de roldana, normalmente

utilizado para materiais friáveis e um sistema de transporte pneumático, utilizável com

materiais de alta resistência ao impacto. Em qualquer dos casos o material é depositado num

pequeno silo, do qual é conduzido ao interior do reator pela manobra de duas válvulas

motorizadas, intercaladas por um reservatório de transferência.

O gás gerado pode ser enviado diretamente a uma tocha ou então passar por um

sistema de limpeza, e deste ir para a tocha ou para outro equipamento onde deva ser

utilizado.

Este equipamento já foi utilizado para muitas corridas, em operações com cavacos

de lenha, carvão vegetal, turfa extrudada, carvão de casca de coco de babaçu, carvão

mineral, bagaço de cana peletizado e resíduos florestais peletizados, totalizando mais de

2000 horas de operação. As máximas potências de operação estão por volta de 500 kW.

Para este equipamento o Laboratório também conta com um programa de simulação cuja

primeira versão foi finalizada em 1984. Este programa tem sido atualizado, tendo recebido,

em 1996, novas rotinas de secagem e pirólise de biomassa.

Atualmente o IPT desenvolve em parceria com o CENBIO – Centro Nacional de

Referência em Biomassa, o BUN – Biomass Users Network do Brasil e a Universidade do

Amazonas o projeto GASEIFAMAZ “Comparação entre Tecnologias de Gaseificação de

Biomassa Existentes no Brasil e no Exterior e Formação de Recursos Humanos na Região

Norte”. Esse projeto é patrocinado pela FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

empresa de fomento do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT).

UFPA - Universidade Federal do Pará

Descrição / Finalidade: Pesquisa sobre gaseificação de resíduos de biomassa para a

produção de energia. O Departamento de Engenharia Elétrica junto com o Departamento de

Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará (UFPA) vem desenvolvendo

projetos de biomassa, como: Utilização de Resíduos da Flora Paraense para Produção de

Briquetes Energéticos, Utilização de Resíduos da Flora Paraense para a Produção de

Energia, Utilização de Resíduos de Madeira para a Produção de Vapor, Utilização de

Page 40: TRABALHO BAGAÇO rev_02

40

Resíduos da Flora Paraense para Obtenção de Produtos de Alto Valor Agregado, Utilização

de Resíduos de Capoeiras para produção de Briquetes Energéticos. Atualmente a UFPA está

desenvolvendo o “Programa ENERBIO / UFPA Utilização de Resíduos de Biomassa de

Açaí e Cacau para a Produção de Energia” sob coordenação da Prof. Dr. Brígida da Rocha.

O projeto consiste em:

- Obtenção do poder calorífico do açaí e do cacau,

- Realização de testes através de gaseificação (gaseificadores importados do Indian

Institute of Science),

- Realização de testes de combustão direta,

- Briqueteamento dos resíduos do cacau,

- Briqueteamento dos resíduos do açaí,

- Utilização de briquetes dos resíduos de cacau e açaí para a geração de energia,

Dentre os resultados esperados, pode-se citar:

- Melhoria na qualidade de vida da população,

- Adequação as normas MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo),

- Limpeza ambiental,

- Geração e manutenção de empregos diretos e indiretos,

- Viabilidade da qualidade de vida para gerações futuras,

- Agregação de valor aos produtos,

- Contribuição do acréscimo do PIB do estado do Pará, entre outros.

EFEI – Universidade Federal de Itajubá

A EFEI – Universidade Federal de Itajubá, sobre coordenação do Prof. Dr. Electo

Silva Lora, está trabalhando atualmente em um projeto de gaseificação financiado pela

CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais, COPERSUCAR – Cooperativa de

Produtos de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo Ltda e pela FINEP –

Financiadora de Estudos e Projetos. O gaseificador é de leito fluidizado circulante de

210KW e será alimentado com casca de arroz, serragem e bagaço de cana. O projeto

pretende verificar a operação dos diferentes sistemas e testar a seqüência de partida.

Atualmente, a equipe técnica aguarda o recebimento do amostrador de gás para realizar os

testes de desempenho.

Page 41: TRABALHO BAGAÇO rev_02

41

O Prof. Luiz Augusto Horta Nogueira, da Universidade Federal de Itajubá,

desenvolveu o Projeto WBP-SIGAME, que reúne entidades brasileiras e internacionais com

o propósito de conceber, desenhar e implantar uma planta termelétrica com ciclo combinado

empregando biomassa lenhosa gaseificada, com uma capacidade cerca de 30 MW.

Como principais referências para este trabalho tomaram-se os trabalhos dos

responsáveis pelo projeto, (Cunha Filho et alli, 1995 e Leão et alli, 1995). O projeto Wood

Biomass Project / Sistema Integrado de Gaseificação de Madeira para Produção de

Eletricidade (WBP/SIGAME), foi iniciado em julho de 1991 e tem como núcleo à

implantação de uma Usina de Demonstração, com capacidade instalada de

aproximadamente 30 MW. O projeto visa demonstrar a viabilidade comercial da geração de

eletricidade, a partir da madeira (biomassa florestal), através da utilização da tecnologia de

gaseificação integrada a uma turbina a gás, operando em ciclo combinado e é o resultado da

soma de interesses de um grupo de empresas e de órgãos do governo brasileiro, no

desenvolvimento desta tecnologia, associando-se ainda aos objetivos de preservação

ambiental do Global Environmental Fund (GEF), das Nações Unidas.

Conclusão

A cana de açúcar, hoje enraizado na matriz alimentícia do planeta, apresenta alto

potencial para complementação da matriz energética global. Assim como as outras

biomassas, trata-se de um produto renovável, menos poluidor e capaz de reduzir a

dependência global em combustíveis fósseis.

A cana de açúcar se destaca de outras biomassas pela alta disponibilidade,

principalmente em países subdesenvolvidos (Brasil, Índia, China, etc.) e pela alta

eficiência energética. Além do etanol gerado pelo processamento direto nas indústrias

sucroalcooleiras, o subproduto gerado, ou seja, o bagaço, ainda é passível a

aproveitamento. Hoje em dia, ainda se emprega em sua maioria para cogeração de

energia nas usinas por combustão. Contudo, outras tecnologias, como a hidrólise

enzimática e a gaseificação tem apresentados bons sinais para melhor aproveitamento

deste recurso.

No que tange esta última tecnologia citada, objetivo do presente estudo, pode-

se dizer então que considerando fatores como: preço, reservas, tecnologias e impactos

ambientais e sociais, de importância fundamental no setor energético nacional, a

Page 42: TRABALHO BAGAÇO rev_02

42

tecnologia de gaseificação de biomassa pode não só ser viável técnica e

economicamente, mas também tomar mais interessante à utilização de combustíveis

renováveis (biomassa vegetal), contribuindo para uma condição de melhor

aproveitamento do potencial renovável existente em países como Brasil.

Dentre as diferentes variantes deste processo, a gaseificação em leito fluidizado

apresenta-se como a mais promissora em termos de desempenho integral, devido à

possibilidade de utilização como combustível dos resíduos agrícolas, abundantes e de

baixo valor comercial, tais como, o bagaço e a palha de cana-de-açúcar, casca de arroz,

casca de café, serragens, etc. A grande disponibilidade, alia-se ao fato de que,

geralmente, o processamento dos produtos agrícolas que dão origem a estes resíduos

requerem grandes quantidades de energia. A gaseificação com reator de leito

fluidizado poderá apresentar vantagens devido às características peculiares destes

combustíveis, com relação principalmente as suas características de umidade,

granulometria, e baixa densidade. Devido a todas estas vantagens, hoje, a gaseificação

em reatores de leito fluidizado se apresenta muito promissora, sendo considerada

praticamente a tecnologia mais viável tecnicamente para a conversão térmica de

resíduos de biomassa de caráter polidisperso.

Por fim, observa-se que este campo de estudo ainda é alvo de pesquisa de

diversas unidades ao redor do mundo e no Brasil. Apesar de não haver unidades

comerciais operantes para gaseificação de biomassa, institutos de pesquisa vêm

investindo em unidades pilotos que permitam a melhor compreensão do processo e

eventual scale-up. Um projeto de grande destaque é o BioSynGas, liderado pelo IPT,

que pretende instalar até 2016 uma unidade de grande porte para fins de pesquisa.

Dessa forma, espera-se para os próximos anos um grande crescimento desta

tecnologia. Órgãos fomentadores de investimentos e os governos federais e estaduais

devem investir para incorporação desta tecnologia na matriz energética brasileira, a

fim de suprir a demanda nacional e minimizar a dependência por produtos de origem

fósseis. Assim, objetiva-se que o Brasil cresça de maneira sustentável e mantenha-se

no posto de líder tecnológico em tecnologias renováveis.

Page 43: TRABALHO BAGAÇO rev_02

43

Bibliografia

[1] LANDGRAF, L. "Aproveitamento da Biomassa da Cana para a Produção de

Energia", IPT 2012.

[2] COELHO, S. T.; “Avaliação da Cogeração de Eletricidade a Partir de Bagaço de

Cana em Sistemas de Gaseificador / Turbina a Gás”, 1992

[3]CENBIO, "Comparação entre tecnologias de gaseificação de biomassa existentes

no brasil e no exterior e formação de recursos humanos na região norte", 2002.

[4]CASTRO, A.J.A, et.al “Gaseificação do Bagaço de Cana de Açúcar: Modelagem,

Análise e Comparação com Sistema Real”, 2009

[5]BOTÃO, S.G.; LACAVA, P. M “Uso do Bagaço de Cana de Açúcar para

Cogeração de Energia Elétrica no Estado de São Paulo e a Comercialização do

Excedente da Energia Gerada”, 2003