trabalho coletivo é combustível na luta pela terra

2
Um pedaço do céu em forma de uma maravilhosa fazenda repleta de muita fartura. É isso o que se encontra ao atravessar a porteira que fica a 500 metros da cidade de Cachoeira do Pajeú. Desde 1992 o sítio situado ali é o destino de muitas famílias que por muito tempo adiaram o sonho de ter um pedaço de terra para plantar. Há 18 anos, o Padre Sérgio Stroppiana, na época recém-chegado ao município, buscava uma solução para as várias famílias que não tinham uma atividade que desse renda e sustentabilidade àquela paróquia que o acolheu com tanto carinho. Mas não bastava ter uma ideia, era importante construir as possibilidades junto á população. Padre Sérgio passou a fazer reuniões após a missa para consultar seus fiéis que tanto lhe pediam socorro. Foi durante essas reuniões que ele percebeu que seus fiéis não precisavam de esmolas, mas a demanda era por terra, para que aquelas pessoas pudessem produzir e ter condições de uma vida digna. Seu Valdemar, um dos agricultores e ex-presidente da associação, afirma que comprar e principalmente manter uma terra é algo muito caro e difícil para famílias humildes como a dele. Foi com um projeto escrito por Padre Sérgio para a comunidade europeia que se conseguiu o dinheiro para a compra do pedaço de terra de cerca de 116 hectares, que foi batizado de Sítio Maravilha. Em conjunto, os primeiros integrantes do grupo de agricultores de Cachoeira do Pajeú decidiram que não seria interessante que as famílias morassem no sítio. Seria melhor continuar a morar na cidade, onde teriam mais facilidade de acesso á educação e saúde e manter o sítio através de uma gestão compartilhada. Era preciso que todos ajudassem a tomar as decisões e ao mesmo tempo se responsabilizassem pelos cuidados com o sítio. Minas Gerais Ano 5 | nº 84 | Julho | 2011 Cachoeira do Pajeú- Minas Gerais Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Trabalho Coletivo é o Combustível na Luta pela Terra 1 Integrantes da AGRICAP em frente á farinheira após o mutirão A horta é um belo exemplo do trabalho coletivo

Upload: articulacaosemiarido

Post on 23-Jul-2016

216 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Trabalho coletivo é combustível na luta pela terra

Um pedaço do céu em forma de uma maravilhosa fazenda repleta de muita fartura. É isso o que se encontra ao atravessar a porteira que fica a 500 metros da cidade de Cachoeira do Pajeú. Desde 1992 o sítio situado ali é o destino de muitas famílias que por muito tempo adiaram o sonho de ter um pedaço de terra para plantar. Há 18 anos, o Padre Sérgio Stroppiana, na época recém-chegado ao município, buscava uma solução para as várias famílias que não tinham uma atividade que desse renda e sustentabilidade àquela paróquia que o acolheu com tanto carinho. Mas não bastava ter uma ideia, era importante construir as possibilidades junto á população.Padre Sérgio passou a fazer reuniões após a missa para consultar seus fiéis que tanto lhe pediam socorro. Foi durante essas reuniões que ele percebeu que seus fiéis não precisavam de esmolas, mas a demanda era por terra, para que aquelas pessoas pudessem produzir e ter condições de uma vida digna. Seu Valdemar, um dos agricultores e ex-presidente da associação, afirma que comprar e principalmente manter uma terra é algo muito caro e difícil para famílias humildes como a dele.

Foi com um projeto escrito por Padre Sérgio para a comunidade europeia que se conseguiu o dinheiro para a compra do pedaço de terra de cerca de 116 hectares, que foi batizado de Sítio Maravilha. Em conjunto, os primeiros integrantes do grupo de agricultores de Cachoeira do Pajeú decidiram que não seria interessante que as famílias morassem no sítio. Seria melhor continuar a morar na cidade, onde teriam mais facilidade de acesso á educação e saúde e manter o sítio através de uma gestão compartilhada. Era preciso que todos ajudassem a tomar as decisões e ao mesmo tempo se responsabilizassem pelos cuidados com o sítio.

Minas Gerais

Ano 5 | nº 84 | Julho | 2011Cachoeira do Pajeú- Minas Gerais

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Trabalho Coletivo é o Combustível na Luta pela Terra

1

Integrantes da AGRICAP em frente á farinheira após o mutirão

A horta é um belo exemplo do trabalho coletivo

Fonte Casablanca Antique corpo 37

Page 2: Trabalho coletivo é combustível na luta pela terra

A União Faz a Força e a Terra Dividida Dá os Frutos que Fortalecem a Luta

Nasceu então a AGRICAP – Associação de Agricultores de Cachoeira do Pajeú – de onde todas as famílias que trabalhavam no sítio se tornaram sócios. Para se tornar um associado, a família que esteja interessada em trabalhar na terra é apresentada aos sócios. E os requisitos para ser aceito são: ser humilde, trabalhador e não possuir outra terra com espaço para produção. O Sítio foi registrado como propriedade da associação e logo passou a pertencer a todas as famílias associadas também. Cada uma recebeu uma parte da terra onde podem produzir o que preferirem. Ao mesmo tempo em que se tornaram donos, os sócios se tornaram também responsáveis por aquele lugar. Então, além de trabalhar no seu pedaço de terra, eles passaram também a trabalhar em mutirão em culturas coletivas, como no caso do urucum, que são vendidos principalmente para a empresa de tempero de Pedra Azul.O dinheiro da venda das culturas coletivas servem para manter as despesas com o trator - que serve para levar os produtos de todos para a feira da cidade, além de arar a terra -, gastos com energia elétrica usada nas máquinas de beneficiamento de milho e mandioca e com o pagamento simbólico de José Gomes, que é o caseiro do sítio. Além disso, a cada venda de 1 saco das produções individuais (que corresponde a 75 litros), 10% são doados para a associação cobrir as demais despesas. Foi assim que a AGRICAP conseguiu que seus sócios participassem de cursos de tratorista, gestão da farinheira, de plantação de bananas e hortaliças e de gênero.Segundo seu Laurenço Gonçalves dos Santos, que faz parte da associação desde sua fundação, “do jeito como é aqui é muito bom. A propriedade é de todos e assim ninguém quer nada pra si só. Como todos trabalham juntos, no dia em que um fica doente ou precisa faltar no mutirão os outros cuidam da parte que sobrou”. Ainda segundo ele, “é muito mais fácil trabalhar com todo mundo ajudando. Se fosse só meu seria muito mais caro e mais difícil cuidar da terra. Além disso, é uma herança que eu deixo para os meus filhos, porque quando eu faltar eles passam a ser sócios e também donos daqui”. Josué Gonçalves de Souza, filho de seu Laurenço, fez o curso de tratorista oferecido no sítio e hoje ajuda aos outros sócios com seu trabalho . A receita para tanto sucesso está no pacto de convivência que o grupo estabeleceu, onde deve haver união, dedicação, esforço, alegria, pontualidade, respeito e diálogo.Hoje, a associação conta com 40 famílias associadas e está cada vez mais forte. Eles se reúnem 1 vez por mês para trabalharem nas lavouras coletivas e comemoram cada reunião com um delicioso almoço, assim como fazem todas as famílias. E é assim como eles se sentem: uma grande família.

Padre Sérgio se sente cada vez mais orgulhoso do projeto que ajudou a construir, pois pode ver muitas famílias se unirem em uma só para preservar o meio-ambiente, tirando dele o seu sustento e dignidade, através da luta coletiva pela terra, assim como deve ser no reino de Deus.

Apesar de alguns desafios, como maior participação da juventude na associação e falta de compreensão de alguns sobre a real proposta do projeto,

2

Todos se unem na colheita do urucum

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

largura tarja superior 2ª página 4cm

Fonte Serifa BT bold corpo 11

Minas Gerais

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

Apoio:

www.asabrasil.org.br