trabalho final potyara correto

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Terceiro Captulo

Aluna: Vilma Margarete Simo

Braslia

Segundo semestre de 2004

SUMRIO

Introduo..........................031. Conceituando questo social04

1.1. A polmica nova questo social04

2. Modelo de produo e acumulao flexvel 09

3. Desemprego e precarizao do trabalho no Brasil13

4. O estratgico Exrcito Industrial de Reserva EIR16

4.1. O valor da mo-de-obra brasileira e o EIR17

5. Desemprego: a onda crescente20

Consideraes finais24Bibliografia25

IntroduoDas mudanas no mundo do trabalho decorrem, entre outras, duas questes: o crescente nmero de desempregados e a precarizao das relaes de trabalho materializadas pela diminuio da renda, pela presena de trabalhos temporrios e pela terceirizao. O Brasil no fica isento dessas mudanas.

Uma das alternativas do capital para diminuir o custo com a mo-de-obra, a implantao de novos modelos de produo que flexibilizam as relaes de trabalho e transformam o proprietrio da fora de trabalho em parceiros que vendem seus servios, esse processo conhecido como terceirizao. No entanto, mnimo o nmero de trabalhadores que perdem os seus empregos e conseguem transformar-se em proprietrios dos meios que possibilitam autonomia, ainda que esta seja relativa, pelo vnculo que se estabelece entre contratante e contratado.

Com a abertura do mercado (no chamado processo de globalizao da economia), os capitalistas perseguem a competitividade e se modernizam ao automatizarem o processo de produo das mercadorias. Assim, o desemprego tambm conseqncia do avano tecnolgico que expulsa o trabalhador do cho da fbrica, especialmente o menos qualificado.

No Brasil os ndices de desemprego esto cada vez mais elevados e muitos trabalhadores esto excludos de qualquer possibilidade de encontrar no mercado formal de trabalho a fonte de sua subsistncia. O Brasil acompanhando as transformaes do mundo capitalista, como tendncia do modelo flexvel de acumulao, o setor de servios aumenta o ndice de absoro da Populao Economicamente Ativa (PEA), contudo este setor no tem conseguido absorver toda a mo-de-obra dispensada pelo setor industrial.

Alm do mais, o emprego j no mais garantia de manuteno da sobrevivncia, pois os salrios pagos se mantm ou at diminuem. Para a diminuio de salrios os contratantes usam a estratgia da demisso e readmisso com reduo de salrios. E, para a maioria, nem mesmo o acesso seguridade social possvel pelo vnculo de trabalho.

Neste trabalho, a partir da explicitao dos ndices de desemprego, de renda, de trabalho formal e de contribuio Previdncia Social, buscou-se apresentar as questes que emergem das mudanas do mundo do trabalho na realidade brasileira.

1. Conceituando questo social

A questo social() no deve ser confundida com a falta de igualdade e de oportunidade, ou com o problema de status social, o qual, nas ltimas dcadas, tornou-se um tpico importante das cincias sociais. (ARENDT, 1990:57). Questo social configura-se em necessidades humanas no satisfeitas, por ser necessidade de qualquer ser humano a satisfao das principais - biolgicas, ascenso social, educao e poder poltico- de obrigao social garanti-las. Se elas existem em decorrncia da forma como organizamos nossa sociedade, tanto no aspecto da produo (com presena da explorao do trabalho), quanto da distribuio dessa produo. Portanto, a existncia da Questo Social implica em contradio social, onde nem todos acessam a riqueza socialmente produzida e as relaes sociais esto sustentadas no princpio da explorao.

Quando os pobres, movidos por suas necessidades fsicas, irromperam no palco da Revoluo Francesa, as explicaes sobrenaturais da origem da pobreza tiveram que se render a uma vontade geral, ou seja, da politizao da pobreza vem a conscincia da necessidade de rompimento com uma estrutura social calcada na explorao. (ARENDT, 1990). A realidade que corresponde a esse imaginrio moderno aquela que, desde o sculo XVIII, veio a ser chamada de questo social e que poderamos, melhor e mais simplesmente, denominar de: a existncia da pobreza em uma sociedade rica na capacidade de produzir bens, ou seja, pobreza decorrente da existncia de classes sociais, onde o dono do capital explora o proprietrio da fora-de-trabalho().Pobreza, segundo Hannah Arendt, mais do que privao um estado de carncia, cuja ignomnia consiste em sua fora desumanizadora; a pobreza aviltante, porque submete os homens ao imprio absoluto de seus corpos, isto , ao imprio absoluto da necessidade, como todos os homens conhecem a partir de sua experincia mais ntima, independente de todas as especulaes.

Quando os pobres surgiram no cenrio da poltica, juntamente com eles surgiu a necessidade e o resultado foi que o poder do Antigo Regime tornou-se impotente e a Nova Repblica nasceu morta; a liberdade teve de render-se necessidade e urgncia do processo vital. Quando Robespierre declarou: Tudo o que necessrio manuteno da vida deve ser bem comum, e apenas o excedente pode ser considerado propriedade privada, ele no estava apenas invertendo a teoria poltica pr-moderna, mas, segundo suas palavras, submetendo finalmente o governo revolucionrio s mais sagradas de todas as leis, o bem-estar do povo, e ao mais irrefutvel dos ttulos, a necessidade.

Segundo Marx, a causa da Revoluo Francesa falhara em instituir a liberdade sem resolver a questo social. Conclui ele que liberdade e pobreza so incompatveis, pois, para Marx, liberdade implica em possibilidade de satisfazer necessidades, portanto, todo o necessrio manuteno da vida, num dado tempo e lugar, de responsabilidade de toda a sociedade.

Para Hannah, a contribuio causa da revoluo mais explosiva e, sem dvida, mais original em Karl Marx, foi ele ter interpretado as constrangedoras carncias da pobreza do povo em termos polticos, como uma rebelio no apenas por po ou riqueza, mas tambm por liberdade. A transformao da questo social em uma fora poltica, efetuada por Marx, est contida no termo explorao, isto , na noo de que a pobreza a conseqncia da explorao por uma classe dominante, que detm a posse dos meios de produo.

Se Marx ajudou a libertao dos pobres, no foi por lhes dizer que eles eram a encarnao viva de alguma necessidade histrica, mas por persuadi-los de que a prpria pobreza um fenmeno poltico, e no natural, uma conseqncia mais da violncia e da violao do que da escassez. Pois se a condio de misria _ que, por definio, nunca pode produzir gente de esprito livre, porque a condio de sujeio necessidade _ era para gerar revolues, ao invs de lev-las runa, seria necessrio traduzir condies econmicas em fatores polticos, e explic-las em termos polticos. (ARENDT, 1990:50).

Karl Marx falava da questo social em termos polticos e interpretava o estado de pobreza como includo nas categorias de opresso e explorao.

Concebendo a questo social como a explorao do trabalho pelo capital, dificilmente ser possvel a aceitao que, no mesmo sistema de produo, tenhamos a presena de uma nova questo social. Se as determinantes estruturais das formas de acumulao capitalista no foram alteradas, tambm suas conseqncias no mudaram. Se h algum explorando porque h um explorado, e onde h relaes de explorao no podem existir relaes de igualdade social; com a desigualdade social h sempre algum que no est acessando as riquezas produzidas pelo mundo humano, com a liberdade no sentido dado por Karl Marx.

1.2. A polmica nova questo social

evidente que os modelos, de produo industrial e de organizao do trabalho, tiveram profundas mudanas, em toda a sociedade, acompanhadas de uma verdadeira revoluo informacional e tecnolgica - conhecida como a terceira Revoluo Industrial - a automao. Dessa revoluo decorre uma grande sobra de trabalhadores; com isso, temos visto a pobreza crescer e se alastrar por todos os cantos do mundo, at mesmo em cantos antes nunca pensados. Mas, em que pese tamanha pobreza, no pode ser dito que ela decorrente da nossa diminuio na capacidade de produzir bens, muito ao contrrio, pois nunca se viu tanta capacidade de produzir em grande quantidade com to poucos e em to pouco tempo. Mas, h muito no eram vistas tamanhas disparidades sociais como no incio deste sculo.

Diante dessa realidade, Jos Paulo Neto (2001:48) sustenta a tese de que ...inexiste qualquer nova questo social. O que devemos investigar e, para alm da permanncia de manifestaes tradicionais da questo social, a emergncia de novas expresses da questo social que insuprimvel sem a supresso da ordem do capital. (...) O problema terico consiste em determinar concretamente a relao entre as expresses emergentes e as modalidades imperantes de explorao.

Apesar de a pobreza aumentar, de milhares de trabalhadores perderem seus postos de trabalho, dos quais muitos acabam sem perspectiva de renda, o movimento prprio dos trabalhadores presencia um momento de grande recuo, fragilizando a fora poltica obreira. Portanto, por falta de foras sociais com efetivo poder de presso para fazer incorporar na agenda pblica problemas sociais urgentes, com vista ao seu decisivo enfrentamento, entendo que temos pela frente no propriamente uma questo social explcita, mas uma incomoda e complicada questo social latente, cuja explicitao acaba por tornar-se o principal desafio das foras sociais progressistas... (PEREIRA, 2001:52).As organizaes sindicais perdem sua fora aglutinadora, pois o projeto de nova sociabilidade entra em crise com a queda do socialismo real. Parece at que o capitalismo venceu o projeto do trabalho. Com tudo isso, no esto sendo colocadas em xeque as barbaridades burguesas, que desmontam as estruturas polticas sustentadoras de um Estado social e esses burgueses ficam cada vez mais gananciosos para acumular capital e viver no paraso possvel pela apartheid social por eles construdos.

Assim, citando Potyara A. Pereira, hoje no estamos diante de uma questo social por inteiro, tm-se as condies objetivas, mas as subjetivas esto em crise.

Eis porque no considero a existncia, hoje em dia, de uma questo social por inteiro. Considero sim que os graves desafios atuais so produtos da mesma contradio entre capital e trabalho que gerou a questo social no sculo XIX, mas que, contemporaneamente, assumiram enormes propores e no foram suficientemente problematizados. O prprio conceito de excluso social contribui para essa indefinio poltica, pois, alm de ele ser indiferenciado, oculta o conceito de classe social, que est na base da questo social, e o de status, que sempre fez parte do repertrio dos direitos de cidadania(PEREIRA(1), 2001: 8).

A existncia de classes uma condio objetiva para a existncia da questo social, pois s h explorao do trabalho com a presena de classes proprietrias e no proprietrias dos meios de produo. Quanto polmica da nova ou velha questo social ela parece prpria de abstraes intelectuais descoladas do real. O que historicamente vem mudando, na sociedade capitalista, so as formas de expresso da questo social, que nada mais so do que o resultado da explorao e da ganncia capital por lucros, retirados a partir do valor pago pelo trabalho daquele que vive do resultado de sua prpria ao produtiva.

As classes continuam a existir, passamos sim a ter maior dificuldade de caracteriz-las conforme as clssicas denominaes: burguesia proprietria dos meios de produo e trabalhador como o no-proprietrio. Temos novas configuraes que dificultam logo identificar o inimigo. Apesar de continuarmos a ter classes, nem sempre os integrantes da classe economicamente e politicamente dominante esto na relao direta com o trabalhador. So grupos proprietrios que, muitas vezes, sequer conhecem suas propriedades porque no as administram. O patro j no dialoga com o trabalhador: est em Nova York, em Miami, Londres e os administradores so profissionais, geralmente, sem vnculos de parentesco com os ditos donos do capital. Mas, ainda continua a existir os que se apropriam de um capital, de forma particular, que produzido por toda uma coletividade. A questo que ao nosso entender se coloca a ausncia de enfrentamento forma de apropriao da riqueza em vigor. Com movimentos polticos e de classe, os detentores de capital j relutam em reconhecer direitos alm dos seus prprios, que dir com o desmantelamento das organizaes de trabalhadores e recuo dos movimentos daqueles que dependem de seu prprio trabalho para viver.

Entre os problemas atuais decorrentes das novas formas de produo e acumulao capitalista, destacamos o desemprego como uma das mais cruis manifestaes da questo social na atualidade.

No Brasil, a questo social pobreza vem tomando grande dimenso pelo nmero de pessoas com renda e condies de vida inferior ao preconizado como o necessrio para uma vida humana digna, so muitos os desempregados e sem renda.

A desigualdade social e a excluso() tm como principais determinantes os problemas estruturais da sociedade brasileira, a persistente concentrao de renda e de riqueza em uma pequena parcela da populao.

O Brasil continua a apresentar graves disparidades sociais e nveis elevados de excluso. Na dcada de 90 logramos xito na construo de padres democrticos na relao entre o Estado e a sociedade civil, especialmente com a generalizao das eleies diretas em todos os nveis de governo. Porm, a persistente crise econmica no permitiu uma alterao significativa do quadro social. Apesar do avano democrtico no houve um avano no sentido de diminuir os ndices de desigualdade e de excluso social. A partir de 1994, com a implementao do Plano Real, conseguimos estabilizar a moeda, revertendo o processo inflacionrio que deteriorava os salrios e gerava um clima de instabilidade social e econmica. A partir do segundo ano da estabilizao monetria, em 1996, j tornava-se evidente que persistiam os problemas estruturais na sociedade brasileira: a incapacidade de implementar um processo de crescimento econmico com elevao dos ndices de distribuio da renda e da riqueza nacionais. Ao lado da estabilidade monetria, da persistente elevao das taxas de juros, devido aos problemas relativos dvida pblica, cresceu o problema do desemprego em decorrncia das novas formas de organizao do processo de produo, agravando de forma dramtica o quadro social do pas.

2. Modelo de produo e acumulao flexvel

Todo ato de trabalho resulta em efeitos que no se restringem sua finalidade imediata. O trabalho tambm possibilita o desenvolvimento das capacidades humanas, das foras produtivas e das relaes sociais, de maneira que a sociedade torna-se cada vez mais desenvolvida e complexa. Esse processo contraditrio e complexo fundado pelo trabalho d origem s relaes entre os homens que no mais se limitam a si prprios, e passam a necessitar uns dos outros para garantir sua prpria reproduo. O trabalho funda um ser que social e s lhe possvel se manter na relao com o outro em sociedade.

Mas, o que caracteriza a diviso social capitalista que o trabalho parcial nada produz, prprio de uma diviso de trabalho, mas, o produto de uma produo coletiva passa a ter valor de troca ou de mercadoria. Ento, nesse tipo de sociedade a diviso do trabalho medida pela compra e venda dos produtos de diferentes ramos de trabalho e a conexo dos trabalhos parciais pela venda de diferentes foras de trabalho ao capitalista que as emprega como fora de trabalho combinada.

A diviso capitalista do trabalho pressupe: concentrao dos meios de produo nas mos de um burgus e fracionamento dos meios de produo entre os muitos produtores de mercadorias independentes entre si. Essa independncia aparente, pois nenhum produto resultado da produo individual, ou seja, mesmo que independentes os produtores mantm intercmbio entre si, o qual no cria a diferena entre as esferas de produo, mas as coloca em relao e as transformam assim em ramos mais ou menos interdependentes de uma produo social global. Surgindo, ento, a diviso social do trabalho por meio do intercmbio entre esferas de produo originalmente diferentes, porm independentes entre si. Este tipo de diviso social do trabalho confronta produtores de mercadorias independentes, que no reconhecem nenhuma outra autoridade seno a da concorrncia, a coero exercida sobre eles pela presso de seus interesses recprocos. (MARX, 1985:280).

Na sociedade capitalista organizada com base na sociabilidade sustentada em relaes de compra e venda, o resultado do trabalho tem sido expropriado daquele que produz. E os modelos de organizao do trabalho, ou os tipos de divises tcnicas do trabalho, vem cada vez mais expropriando o trabalhador do controle do processo de produo.

Hoje, vivemos uma das formas mais perversas de organizao do trabalho onde tudo se torna flexvel, at mesmo a valor da vida humana; o importante aquilo que vai melhor movimentar e garantir as relaes de mercado. O modelo flexvel se ampara na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padres de consumo. Esse modelo: ...Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de servios financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovao comercial, tecnolgica e organizacional (HARVEY, 1992:140). Mas esse no apenas um modelo de produo, tambm um modelo de acumulao flexvel.

Portanto, para essa nova forma de organizao do trabalho e de acumulao de capital, necessrio um tipo de Estado garantidor do livre comrcio entre as naes que se desnacionalizam. Para os pases de terceiro mundo isto ainda mais forte quando imposta pelos grandes grupos financeiros mundiais a implementao imediata do Estado neoliberal: Estado mnimo para as questes sociais e mximo para o mercado.

Os capitalistas, que procuram se ajustar ao modelo de produo toyotista ou flexvel, buscam maior competitividade diminuindo o emprego de mo-de-obra direta. Ente as estratgias de emprego da fora de trabalho, procuram falsas parceiras com os trabalhadores que se tornam autnomos e prestam servios s empresas.

Falsas parcerias porque continua o trabalhador sujeito s condies definidas pelo contratante, que em muitos casos o seu ex-patro direto. Para este tipo de parceria tem- se denominado trabalho terceirizado, por meio de empresas que podem ser do tipo empresas unipessoais.

Alm da terceirizao que dispensa o emprego direto da mo-de-obra, os capitalistas ampliam os investimentos no aumento de tecnologias no intuito de buscar maior produtividade. Como resultado social, tm-se o aumento do desemprego e o chamado desemprego estrutural, no qual tarefas humanas so substitudas por mquinas. Presenciou-se a intelectualizao de uma parcela da classe trabalhadora e a desqualificao de outra parcela. Vrios campos de trabalho so destitudos, vrias funes deixam de existir, dando lugar a profisses totalmente novas e criando um ambiente de total incerteza classe que vive do trabalho, nos termos de Ricardo Antunes.

As metamorfoses do mundo do trabalho, seguindo o modelo de acumulao flexvel, refletem duas realidades centrais: uma na esfera do Estado e a outra na esfera da sociedade civil. Na esfera do Estado imposto o modelo neoliberal, que entre outras aes, vem abolindo direitos sociais e desmontando direitos trabalhistas. Na esfera da sociedade civil tem-se o aprofundamento da desigualdade social resultante da diminuio de emprego e da presena do desemprego estrutural.

Nesse modelo de acumulao aumenta a presena do trabalho temporrio e amplia-se o trabalho informal. No trabalho temporrio no h uma continuidade e, sobretudo, regularidade na execuo de tarefas prprias de uma profisso ou ofcio. Assim, a noo de trabalho retorna sua concepo antiga, ou seja, funo econmica com fim de assegurar apenas subsistncia biolgica do homem. Em outras palavras, a satisfao de necessidades apenas no nvel da reproduo fsica da fora de trabalho.

O valor da fora de trabalho deveria estar determinado pelo tempo de trabalho no s necessrio para a manuteno do trabalhador individual adulto, mas para a manuteno da famlia do trabalhador, porm ...a maquinaria, ao lanar todos os membros da famlia do trabalhador no mercado de trabalho, reparte o valor da fora de trabalho do homem por toda sua famlia. (...) Agora, precisam fornecer no s o trabalho, mas mais-trabalho para o capital, para que uma famlia possa viver..." (MARX, 1988:21). Quadro pior se apresenta com a automao, fazendo com que o capitalista no necessite de grande quantidade de trabalho vivo. O valor do trabalho sustentado no tempo de uso desta mo-de-obra desestabiliza at mesmo o mnimo necessrio para a manuteno do trabalhador individual, mesmo com toda a famlia lanando sua fora de trabalho venda no mercado. Na sociedade capitalista, a transformao da fora de trabalho em mercadoria, em instrumento de produo e de capital um processo contnuo. Contudo, preciso acrescentar que o modo capitalista de produo est sempre modificando as formas contratuais de compra da fora-de-trabalho, sendo continuamente aperfeioado, de modo que sua presso sobre os trabalhadores incessante.

Historicamente, "...o que o trabalhador vende e o que o capitalista compra no uma quantidade contratada de trabalho __ que uma funo fsica e mental inalienvel __, mas a fora para trabalhar por um perodo contratado de tempo" (BREVERMAN 1974:124). No entanto, no final deste sculo, o capitalista j no quer, necessariamente, comprar a fora-de-trabalho e t-la disponvel por um perodo, mas sim comprar o resultado da fora de trabalho que entra em ao e produz mercadoria. Quando a emprega de forma direta, o tempo de trabalho semanal supera de forma significativa as 44 horas semanais.

Fala-se que estamos na era do fim do emprego e que necessria distino entre emprego e trabalho. Todo trabalhador que mantm um vnculo empregatcio estaria, em tese, desenvolvendo um trabalho, mas nem todo trabalhador sem vnculo empregatcio estar, necessariamente, sem trabalho e sem renda para subsidiar a sua sobrevivncia. Com o novo modelo de produo outras formas de desenvolvimento e uso do trabalho surgem, na medida em que a produo no se restringe ao cho da fbrica, no entanto, estas novas formas de uso da mo-de-obra no garantem o pleno trabalho.

Embora exista toda uma disseminao ideolgica e espordicas polticas pblicas para o desenvolvimento do trabalho, seja pelo incentivo ao empreendedorismo, s cooperativas de trabalho, ao trabalho autnomo ou seja em direo superao de relaes empregatcias, so vrios os trabalhadores que se mantm desempregados, sem trabalho e sem renda. E as alternativas de trabalho encontradas pelos desempregados no fogem da concepo de trabalho assalariado. A disseminao da idia do fim do emprego e do incio do trabalho livre dos mandos do patro uma forma de transferir ao trabalhador a responsabilidade nica pelo rendimento mediador da satisfao de suas necessidades. Como diz Karl Marx: ... a classe que poder material dominante numa determinada sociedade tambm o poder espiritual dominante. A classe que dispe dos meios da produo intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles aos quais so negados os meios de produo intelectual est submetido tambm classe dominante. Os pensamentos dominantes nada mais so do que a expresso ideal das relaes materiais dominantes..." (1989:47).

3. Desemprego e precarizao do trabalho no Brasil

Considerando como desempregado toda pessoa que se encontra em uma situao involuntria de no-trabalho ou que desenvolve trabalhos precrios, a mdia de desemprego total() das regies metropolitanas do Brasil, nos ltimos 7 anos, de 20,4%, segundo o Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (DIEESE), portanto, no verdadeira a tese de que novas alternativas de trabalho esto surgindo e absorvendo a mo de obra brasileira desempregada.

Identificar o percentual de desemprego total no tarefa fcil. Se os dados do IBGE do Censo 2000 forem tomados como referncia, teremos uma populao total na idade de 16 a 70 anos ou mais de 116.028.070 milhes e uma PEA() de 74.810.805 milhes, o que significaria um percentual de 35,52% de desocupados. Grfico 1

Taxa de desemprego total (em %)

Fonte: DIEESE

Porm, nem todas as pessoas, integrantes nesse percentual, pertencem classe que vive do trabalho, o que torna difcil de definir o percentual de desemprego total. E considerando um total de 63.838.412 milhes efetivamente ocupados tem-se a diferena de 10.972.393 milhes, 14,66%, em relao PEA j citada. Na anlise desses ndices tem-se que considerar tambm o desemprego oculto que mascarado pelo trabalho precrio.

Outra caracterstica essencial desse novo modelo de organizao do processo de produo a flexibilizao dos direitos dos trabalhadores, de modo a dispor dessa fora de trabalho de acordo com a demanda do mercado consumidor por determinados produtos ou servios. Assim, o modelo de produo toyotista estrutura-se com um nmero mnimo de trabalhadores, ampliando-os, por meio de horas extras, de trabalhadores temporrios ou de subcontratao, dependendo das condies de mercado (ANTUNES, 1995:28). Segundo o Censo de 2000 (IBGE), 28.553.726 milhes de trabalhadores tm uma jornada semanal de 45 a 49 horas semanais, ou seja, 44,69% da PEA trabalha mais horas do que o previsto pela Legislao Trabalhista. Para esse excesso de horas podemos atribuir a prticas do uso de horas-extras e/ou a duplicao da jornada do trabalhador, com mais de um emprego ou trabalho, como forma de ampliar a renda individual e familiar. O uso da prtica de mais de uma fonte de renda e a sujeio ao desenvolvimento de horas-extras ocorre muito provavelmente ser em decorrncia do empobrecimento daqueles que vivem do prprio resultado de seu trabalho.

Outro dado significativo da precarizao das relaes de trabalho e flexibilizao de direitos so os 31.382.982 milhes de trabalhadores que no possuem carteira assinada, ou seja, 49,16% da PEA. Tambm semelhante o nmero de pessoas que no contribuem para o instituto de previdncia social no trabalho principal, so 43.694.129 milhes, ou seja, 58,40% das pessoas ativas no possuem uma segurana social, segundo o Censo de 2000; ficando a sua seguridade merc das condies de por ela pagar.

Diferentemente da era da sociedade salarial(), a indstria j no a maior absorvedora da fora de trabalho ativa, a qual vem ocupando 14,36% PEA brasileira.

Seguindo a prpria tendncia do modelo flexvel de produo e acumulao, o setor de servios aparece como o maior absorvedor de mo- de- obra trabalhadora, que junto com o comrcio emprega 64,67% da populao ativa. Tambm a agricultura, com 20,7% de absoro do total da PEA, tem percentual maior que o da indstria mostrando que, para muitos trabalhadores no qualificados para as novas exigncias do mercado de trabalho urbano, a agricultura tem se apresentado como campo de trabalho assalariado. No obstante, provvel que nos prximos anos venhamos a constatar a diminuio da presena do trabalho vivo nas atividades agrrias, as quais vem sendo, a passos largos, substitudas pelo trabalho morto.

Grfico 2

Percentual de ocupados por ramos de atividade em 2003

Fonte: IBGE

4. O estratgico Exrcito Industrial de Reserva EIR

A ausncia do pleno emprego ou do pleno trabalho sempre foi, na sociedade capitalista, considerada como prpria das relaes de mercado. Quanto maior o nmero dos trabalhadores disponveis, maiores so as possibilidades de manipulao burguesa do valor do trabalho vivo. Assim, durante os anos de desenvolvimento da indstria com pouco uso da tecnologia, conseqentemente menor presena do trabalho morto, era aceita a tese da necessidade capital do Exrcito Industrial de Reserva (EIR) para controlar o valor da fora de trabalho em um nvel menor possvel e com ela acumular mais lucros.

Todavia, nos dias atuais so muitos os que abandonaram essa tese sustentados no argumento da fcil substituio do trabalho vivo (uso da mo-de-obra direta) pelo trabalho morto (uso de maquinrios e de tecnologias avanadas). Contudo, considerando a queda percentual da mdia salarial entre os anos de 1995 (7,67% salrios mnimos) a 2003 (2,75% salrios mnimos), podemos afirmar que o capital tem se aproveitado da falta de alternativa dos trabalhadores e do grande exrcito de trabalhadores sem trabalho para manter a presena forte do trabalho vivo com custo concorrente ao do uso de altas tecnologias. So tantos os disponveis e to frgil a atual organizao da classe trabalhadora que, facilmente, o capital consegue impor o preo a ser pago pelo trabalho ou pelo resultado do trabalho, daquele que depende desta renda para se auto-reproduzir enquanto fora de trabalho. Com o Estado de bem-estar social substitudo pelo Estado neoliberal, a manuteno da sobrevivncia fica submetida, essencialmente, lgica de mercado. Em outras palavras, (...) o resultado prtico da viso liberal a tentativa de reposio do exrcito industrial de reserva como varivel de ajuste das relaes salariais (NETO, 1996:77).

4.1. O valor da mo-de-obra brasileira e o EIR

Os capitalistas/industriais produzem, em espaos diferenciados, os diversos produtos obrigatrios satisfao das necessidades, mas o acesso a eles s ser possvel quele que tiver condies de adquiri-las por seu valor de troca, ou seja, enquanto mercadorias.

Neste mercado capitalista, a determinao do valor da mo-de-obra mediatizada pela oferta e pela procura da mercadoria mo-de-obra, e outras mediaes que fogem ao controle do trabalhador, resultando na ausncia de garantia de satisfao das necessidades, at mesmo as de sobrevivncia. Reescrevendo Heller, o capitalismo constitui a primeira sociedade que por meio da fora e de sua estrutura social condena as classes inteiras da populao a lutar cotidianamente pela satisfao de suas necessidades existenciais puras e simples (1998: 171).

TABELA 1Rendimento mdio mensal dos empregados e trabalhadores

- 1995/2003 -Total%SMC/CTA()% SMS/CTA%SMME

%SMTCP()%SM

19957677,678758,754004,01.19411,947047,04

19967706,878767,824303,831.19010,627786,94

19977786,488837,354333,61.21410,117206,0

19987876,058926,864474,431.2489,66885,29

19997385,428286,084143,041.2118,96374,68

20017294,058004,444372,421.2406,886273,48

20027143,577863,934272,131.2276,135882,94

20036612,757253,023851,61.1194,665492,28

Fonte: IBGE

A renda mdia dos empregados e dos trabalhadores, nos ltimos oito anos, de 4,83SM. Nessa mdia devem ser destacados os anos de 1995, 1996 e 1997, perodo em que a renda brasileira se elevou em decorrncia do auge do Plano Real implementado pelo governo federal.

Porm, a partir de 1998, novamente a renda mdia comea a declinar e chega ao ano de 2003 em um valor mdio de 2,75 SM. Essa renda salarial to pequena pouco contribui para a satisfao das necessidades humanas, as quais so definidas em um tempo e em um espao. Pode-se dizer que so salrios de misria, os quais sequer poderiam ser denominados de renda mnima para a reproduo da fora de trabalho em um nvel alm das bestiais necessidades.

O salrio mdio pago ao trabalhador brasileiro cada vez mais se aproxima do que Karl Marx classificava como reduo ao nvel bestial na satisfao das necessidades. Fica claro que o desemprego ampliado serve como estratgia de busca de adeso dos trabalhadores aos processos de trabalho flexveis ou aceitao de baixos salrios. A renda mdia dos trabalhadores, desses ltimos oito anos foi de 4,83SM, poderia ser atribuda a uma tendncia do empobrecimento no pas. Mas, analisando a renda mdia mensal dos 2,4% mais ricos, de R$ 22.487, ou seja, 80 SM, vimos que no h uma pobreza generalizada no pas e sim uma acentuada concentrao de renda. A concentrao de renda uma das mediaes da existncia de pobreza no Brasil. Este pas est entre as nove maiores economias mundial e a quarta economia com maior concentrao de renda do planeta, em seu territrio aproximadamente 50 milhes de pessoas vivem com R$ 80 por ms. Ou seja, 29,26% da populao do pas no conseguem atender minimamente s suas necessidades dirias.

Conforme os dados do IBGE, no relatrio sob o ttulo de "Estatsticas do Sculo XX", a concentrao de renda no perodo de 1900 e 2000 foi um dos fenmenos merecedores de maior destaque social. Enquanto a produo de riquezas medidas pelo Produto Interno Bruto cresceu 100 vezes, durante o sculo XX, e a renda percapita aumentou 12 vezes, os 10% mais ricos passaram a ter rendimentos crescentes em relao aos 10% mais pobres.

Segundo Pochmann, o aumento da populao rica ampliou a desigualdade no pas. Em 1980, a populao rica tinha uma renda mdia equivalente a 10 vezes a da populao em geral. Na atualidade, os ricos ganham 14 vezes mais que a mdia do pas. Segundo Marcio Pochmann, no livro de volume 3 "Atlas da Excluso Social no Brasil- Os Ricos no Brasil, a base da pirmide social [os pobres] ficou ainda maior com o esvaziamento da classe mdia. A economia brasileira, mesmo enfrentando recesso e sucessivos planos econmicos, conseguiu dobrar o rendimento dos mais ricos e aumentar ainda mais a concentrao de renda. Os dados de Pochmann mostram que os ricos so as pessoas integrantes de famlias com renda mensal acima de R$ 10.982 (valores de setembro de 2003). O estudo mostrou ainda que as famlias mais ricas, 1,162 milho, detm 75% do PIB brasileiro, o equivalente a R$ 1,13 trilho, segundo estimativas do autor. Desse total, 5.000 famlias sozinhas so donas de 45% do PIB nacional, o equivalente a R$ 691 bilhes. Diante desses dados, inegvel que o problema do Brasil no seja a falta de produo de riqueza, mas sim a m distribuio da riqueza produzida socialmente. Pois, quem define o valor dos salrios e da renda do trabalhador que vive do trabalho so exatamente os mais ricos do pas, entre eles os proprietrios dos meios de produo, classicamente identificados como burgueses.

Em sendo o valor da mo-de-obra definido pelo burgus que a compra, o trabalhador passa a ter uma relao de subordinao, hoje ainda mais aprofundada dado o enfraquecimento das organizaes sindicais. A determinao do valor da mo-de-obra mediada por determinaes do tipo: oferta e procura da mercadoria, demanda de mo-de-obra, desenvolvimento tecnolgico, qualificao exigida e outras, que ultrapassam o desempenho do trabalhador levando no garantia da sobrevivncia.

O ajuste neoliberal busca a autonomia do mercado frente ao poder do trabalho organizado e, para tanto, tem que repor o EIR atravs de polticas econmicas. Portanto, o EIR, que no capitalismo clssico era analisado por Marx como resultado das flutuaes autnomas da acumulao de capital e era considerado como regulador do valor de troca da fora de trabalho, passou a ser entendido, pelas polticas neoliberais e pela automao __ que dispensa grande parte da fora de trabalho, como sobra estrutural de mo-de-obra __, provocadora do achatamento do seu preo.

Segundo Marx, a produo de uma PEA excessiva s necessidades imediatas de valorizao do capital conseqncia direta do processo de concentrao e de centralizao do capital, ou seja, na fase ascendente da acumulao, o EIR se reduzia e, na fase de contrao, se ampliava. Assim, "Seria possvel dizer que o mercado fornece o retrato acabado de uma sociedade na qual direitos no fazem parte das regras que organizam a vida social. O desemprego, bem sabemos, expresso disso, estratgia que , como sempre foi, de gerenciamento da mo-de-obra, de reduo de custos e de ajuste s oscilaes dos ciclos econmicos e, mais recentemente, s novas regras da competio mundial(TELLES, 1994:94).

Na contemporaneidade, est em voga o mercado de trabalho flexvel (externo e interno empresa), onde no parece haver lugar para conflitos coletivos ou para posies ideolgicas. A fragilizao da posio dos trabalhadores passa a ser pr-condio de elevao da lucratividade, por meio da intensificao do trabalho. E se h um sentido no desemprego como pressuposto da reestruturao, este o do enfraquecimento da capacidade de resistncia coletiva dos trabalhadores. A atualizao do conceito de EIR permite analisar a tenso e a presso exacerbadas no mercado de trabalho. Segundo esse enfoque, a ateno concentrada nos impactos do desenganjamento sindical e da descrena na ao grevista, bem como no significado da crise dos projetos revolucionrios.

5. Desemprego: a onda crescente

Sabe-se que o desemprego vem crescendo em todo o mundo. Para o conjunto dos pases capitalistas avanados, o desemprego se manifesta em perodo relativamente recente. Ou seja, algo que se forjou na segunda metade dos anos 70 e vem evoluindo de maneira significativa e perversa para as classes trabalhadoras (POCHMANN, 2002: 43). Marcio Pochmann (2002), destaca que, entre a dcada de 1950 e o incio dos anos 70, as taxas de desemprego dos pases avanados encontravam-se, em mdia, abaixo dos 3% do total da PEA. E Jos Meneleu Neto (1996:101), diz que a taxa mdia de desemprego, que havia ficado em torno de 4% no decorrer dos anos 70, pelo menos duplicou nos ltimos 15 anos, atingindo uma mdia de 8,5% para o conjunto de 24 pases que compem a OCDE. Ao mesmo tempo em que cresce o desemprego, vem se expandindo o trabalho precrio, o que era uma caracterstica apenas dos pases subdesenvolvidos vem se tornando uma realidade mundial. Para David Harvey, no livro Condio Ps-Moderna, apenas 25% da fora de trabalho encontrava-se, na dcada de 90, no ncleo estvel da economia, os outros 75% encontravam-se em atividades perifricas, trabalhos precrios ocasionais ou no desemprego, realidade esta que nada indica em mudanas para dados mais otimistas para a entrada do novo milnio, ou seja, o que vem ocorrendo o aumento global dos ndices de pobreza provocados pelo desemprego e pela ausncia de trabalho garantidor de renda.

Alguns autores consideram que, em comparao com os pases industrializados, a taxa de desemprego no Brasil ainda modesta. Tais consideraes so possveis pelo grau de flexibilidade do mercado de trabalho brasileiro: durao do desemprego, o prazo do contrato de trabalho e o ndice de rotatividade no emprego. Contudo, no se deve tomar a caracterstica de flexibilidade externa ou de informalidade, que marca historicamente nosso mercado de trabalho, como um fenmeno desvinculado do desemprego. Ou seja, a precarizao das relaes de trabalho que se alastra, sob a condio de informalidade, no um fenmeno desvinculado do desemprego, mas decorrncia dele. A informalidade das relaes de trabalho amortece os impactos sobre as taxas de desemprego aberto e oculta as situaes de desemprego.

Grfico 3

MDIA PERCENTUAL DO DESEMPREGO NO BRASIL

Regies metropolitanas() e Distrito Federal - 1998/2004

Fonte: DIEESENo Brasil, os ndices de desemprego apresentam pouca alterao na ocupao da fora de trabalho nos ltimos 7 anos, mostrando uma tendncia no padro de absoro da mo-de-obra trabalhadora. O desemprego oculto tem mdia de 7,84%, o desemprego aberto tem mdia de 12,49% e o total de 20,41%, possivelmente esses ndices se elevam se considerado for o Brasil na sua totalidade, lembrando que esses nmeros so organizados a partir dos dados das regies metropolitanas e do Distrito Federal.

Os ndices de desemprego, destes ltimos anos, parecem pequenos. Porm, necessrio esclarecer que a taxa da populao ativa composta pela populao em idade entre 15 e 64 anos, variando em cada pas em funo de polticas educacionais, do sistema de seguridade social e da dinmica econmica, que define a rigidez ou a fluidez do mercado. No Brasil, segundo o IBGE, a populao ativa est entre 10 e 70 anos de idade, tendo assim dois agravantes: falta de polticas sociais, que garantam a criana na escola e o idoso em condies de aposentar-se, sem necessitar da renda oriunda de atividades remuneradas e o outro a escassez de dados precisos sobre a realidade social e do trabalho. Em alguns pases, os desempregados com mais de 57 anos no so mais contados como desempregados, a eles so propostas vantagens para antecipar a aposentadoria.

Por isso, importante esclarecer que este saldo negativo de empregos se refere fora de trabalho dispensada, no sendo computada a populao jovem que nem mesmo foi um dia contratada, mas que procuram emprego ou trabalho. Dos dados estatsticos tambm esto excludos aqueles desempregados que j passaram pelo mercado e para os quais so propostas atividades precrias, ou que est a tanto tempo sem emprego que nem mais so integrantes de tais dados, mesmo que sua situao real no tenha mudado. Compem a populao ativa tambm aquelas pessoas que no vendem a sua fora de trabalho, pois so proprietrias dos meios de produo.

Resumidamente, do total da populao ativa, os servios estatsticos, com o objetivo de identificar o ndice de desemprego, no computam os que ainda no entraram no mercado de trabalho, apesar de procurarem emprego, eliminam aquelas pessoas que necessitariam trabalhar - mas que no o fazem h muito tempo por no conseguirem emprego ou atividade autnoma e tambm no consideram os trabalhadores em atividades substancialmente precrias.

O grau de flexibilidade do mercado de trabalho e o grau de flexibilidade salarial so um parmetro fundamental no desempenho da economia. Se nas dcadas que a sociedade at veio a ser caracterizada como salarial() o trabalhador assalariado poderia se considerar com razovel padro de vida, hoje sofrem as conseqncias dos ajustes econmicos: aumento do desemprego, baixos salrios, ou seja, diminuio do padro de vida e aumento da pobreza. A situao de trabalho atual traz consigo a precarizao das relaes de trabalho, onde o acesso seguridade social, atravs de carteira assinada, j realidade para uma minoria, no mais podendo ser caracterizada a sociedade como salarial.

O Brasil acompanha as nuances do capitalismo, entre elas a transformao da estrutura do mercado de trabalho. Assim, a flexibilizao da economia e a terceirizao juntamente com a prestao de servios, fazem do trabalhador assalariado um trabalhador autnomo: "A transformao da estrutura de trabalho teve como paralelo mudanas de igual importncia na organizao industrial. Por exemplo, a subcontratao organizada abre oportunidades para a formao de pequenos negcios..." (HARVEY, 1993:145). No entanto, na maioria das vezes, essa autonomia relativa e dependente do grande capital sendo dominada por ele, e a possibilidade de manuteno da sobrevivncia fica comprometida e subordinada ao movimento do mercado consumidor da sua prestao de servio, seja ela no setor produtivo ou no.

Para o grande capital, uma das enormes vantagens do uso desses processos de trabalho e produo __ pequena empresas domsticas e sem empregados __ o desmonte da organizao da classe trabalhadora "(...) e a transformao da base objetiva da luta de classes. Nelas, a conscincia de classe j no deriva da clara relao de classe entre capital e trabalho, passando para um terreno muito mais confuso dos conflitos interfamiliares e das lutas pelo poder em um sistema de parentesco ou semelhantes a um cl que contenha relaes sociais hierarquicamente ordenadas..." (HARVEY, 1993:145/146). Este mesmo autor (idem) diz ainda que, na medida em que a ao coletiva se tornou mais difcil, o individualismo exacerbado se encaixa no quadro geral como condio necessria, embora no suficiente, da transio do fordismo para a acumulao flexvel.

Consideraes Finais

As caractersticas do modelo flexvel de produo aumentam a possibilidade de ser ampliado o nmero de trabalhadores dispensados, alterando-se substancialmente o mercado de trabalho. Assim, vai emergindo uma "nova pobreza", um excedente da fora de trabalho que no tem preo por no possur a qualificao necessria ao novo tipo humano exigido. Apesar disso, o desemprego e as situaes de pobreza jamais so consideradas como conseqncia do prprio funcionamento do sistema ou expresso da questo social. No mximo, so considerados residuais ou saldo provisrio, eliminvel com o crescimento econmico.

Quando o volume de desempregados comeou a crescer em propores assustadoras, inmeras polticas foram adotadas, especialmente na Europa: alongamento da escolaridade, reduo do tempo de trabalho, repatriamento de imigrantes etc, porm, nada surtiu efeito. Isso se deve, entre outros fatores, ao crescimento da produtividade do trabalho que foi, em mdia, superior a 2% ao ano. Ou seja, aumentada a produtividade do trabalho para um mesmo nvel de produo, o nmero de trabalhadores cada vez menor (CATTANI, 1996:51).

A histria no se repete, pois o homem vai mudando e assim tambm a sua histria. Entretanto, a histria da sociedade capitalista tem uma dinmica central: maior produtividade com menor custo, enriquecimento de uns e empobrecimento de outros. J no modelo taylorista-fordista de produo, a introduo de mquinas mais complexas e aperfeioadas levou diminuio dos postos de trabalho e reduo do custo da mo- de- obra, e ainda alcanando-se maior produtividade. E, nos dias atuais, como o modelo toyotista, a flexibilidade alm de provocar a extino de ofcios e profisses, decorrente da automao, tambm aumenta a explorao do trabalho com o uso instrumental da fora de trabalho, onde o trabalhador facilmente contratado e facilmente descartado.

So o desemprego, as condies precrias de trabalho, a ausncia de direitos e a proteo social que provocam tremores na segurana e na sobrevivncia do trabalhador. Esses tremores levam movimentao da grande onda arrasadora: sujeitando-se s baixas rendas e trabalhos pouco estveis para manter-se, pelo menos, em condies de continuar a respirar e continuar a ter uma sobre-vida. Ficando a vida em seu sentido pleno com necessidades individuais e sociais atendidas - como um horizonte cada vez mais distante.

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TELLES, V. Sociedade e Construo de espaos pblicos. In: DAGNINO E. (org.) op. cit.

EMBED Excel.Chart.8 \s

EMBED Excel.Chart.8 \s

()A conceituao de questo social tem causado polmica entre os estudiosos com perspectiva crtica sociedade capitalista. O n da polmica pode ser apresentado em duas grandes pontas: 1) a primeira ponta a definio da questo social como expresso da contradio entre capital e trabalho e a outra como sendo a prpria contradio entre capital e trabalho, responsvel pela existncia da Questo Social; 2) a segunda quanto manifestao da questo social, ou seja se faz-se ou no necessria conscincia da classe trabalhadora quanto explorao existente sobre seu trabalho, para que se concretize a contradio e, ento, haja a materializao dessa contradio em uma questo social. Outra polmica se na atualidade tem-se presente a mesma questo social do incio da industrializao e do incio do sculo XX, ou se as novas manifestaes decorrentes do acmulo de capital chegam a uma nova questo social. Jos Paulo Neto (2001, p. 45- 46) retoma Marx para dizer que a questo social est, na sua constituio, determinada pelo trao prprio e peculiar da relao de explorao do capital ao trabalho. Porm, a explorao remete apenas determinao molecular da questo social; na sua integralidade, ela implica na intercorrncia mediata de componentes histricos, polticos, culturais etc. Portanto, h dois elementos constituintes da questo social: um estrutural e outro histrico e a no transformao da estrutura capitalista acarreta a no superao das bases da questo social. Assim sendo, a questo social configura-se em necessidades humanas no satisfeitas, por ser necessidade de qualquer ser humano a satisfao das principais de obrigao social garanti-las. Se elas existem em decorrncia da forma como organizamos nossa sociedade, tanto no aspecto da produo (com presena da explorao do trabalho), quanto da distribuio dessa produo. Portanto, a existncia da Questo Social implica em contradio social, onde nem todos acessam a riqueza socialmente produzida e as relaes sociais esto sustentadas no princpio da explorao.

() Hannah Arendet, ao discutir sobre trabalho e sobre esfera pblica e privada em seu livro Condio Humana, diz que a nica propriedade verdadeiramente privada o corpo humano. Mas, quando o trabalhador obrigado a vender seu corpo para suprir as suas prprias necessidades aviltante, pois essa a fora participante diretamente da produo e, portanto, possibilitadora da satisfao das necessidades sociais. Como diz Karl Marx, o ser ontologicamente social e toda a sua produo s possvel pela diviso social do trabalho. Mas, na sociedade capitalista, o resultado da produo social e apropriado de forma individual por aqueles que se denominam proprietrios do capital.

()Somos excludos a partir de uma condio real de incluso da qual no fazemos parte, somos discriminados ou apartados. Talvez, at mesmo tornados invisveis ou no-contados, como ocorre com o Censo nacional que no inclui, em seus nmeros, aqueles brasileiros que vivem nas ruas... (SPOSATI, 2001: 76)

() Os ndices de desemprego total consideram no s o desemprego aberto como tambm diversas formas de desemprego oculto, como a procura por trabalho que se d com a realizao de trabalho precrio e/ou sob outras condies que tambm caracterizam formas disfaradas de desemprego. Os ndices do desemprego total do DIEESE so organizados a partir de trs tipos de desemprego:

Desemprego aberto: pessoas que procuraram trabalho de maneira efetiva nos 30 dias anteriores ao da entrevista e no exerceram nenhum trabalho nos ltimos 7 dias;

Desemprego oculto pelo trabalho precrio: pessoas que realizam trabalhos precrios- algum trabalho remunerado ocasional de auto-ocupao- ou pessoas que realizam trabalho no-remunerado em ajuda a negcios de parentes e que procuraram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, no tendo procurado neste perodo, o fizeram sem xito at 12 meses atrs;

Desemprego oculto pelo desalento: pessoas que no possuem trabalho e nem procuraram nos ltimos 30 dias anteriores ao da entrevista, por desestmulos do mercado de trabalho ou por circunstncias fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos ltimos 12 meses.

() O IBGE define a condio de PEA se ela est ou no ocupada na semana de referncia da pesquisa.

() Foi a industrializao que deu origem condio de assalariado, e a grande empresa o lugar por excelncia da relao salarial moderna. (...) Condio proletria, condio operria, condio salarial: trs formas dominantes de cristalizao das relaes de trabalho na sociedade industrial, e tambm trs modalidades das relaes de trabalho na sociedade industrial... (CASTEL: 1998, 415/418).

() CTA Carteira de Trabalho Assinada

(8)Militares e Estatutrios

() TCP Trabalho por Conta Prpria

() Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e So Paulo

() Sobre sociedade salarial ver Robert Castel, no livro: As metamorfoses da questo social. Uma crnica do salrio. Editora Vozes, Petrpolis, 1998.

PAGE 28

_1171301275.xlsGrf1

19.3

21.3

19.9

19.9

20.11

21.7

20.8

Media das Cidades Metropolitans e Distrito Federal

Plan1

PerodoBelo HorizonteDistrito FederalPorto AlegreRecifeSalvadorSo Paulo

Media Total

199815.919.715.921.624.918.219.3

199917.922.11922.127.719.321.3

200017.820.216.620.726.617.619.9

200118.320.514.921.127.517.619.9

200218.120.715.320.327.31920.11

20032022.916.723.22819.921.7

At Nov/0419.721.31623.425.718.920.8

Media das Cidades Metropolitans e Distrito Federal

199819.3

199921.3

200019.9

200119.9

200220.11

200321.7

At Nov/0420.8

Plan1

0

0

0

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0

Perodo Media das Cidades Metropolitans e Distrito Federal

Media das Cidades Metropolitans e Distrito Federal

Plan2

0

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0

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0

Media das Cidades Metropolitans e Distrito Federal

Plan3

_1171301327.xlsGrf5

61.1

20.7

14.36

%

64,67

Plan1

%Nmero de ocupados

Servios e Comrcio61.151 252 636

Agrcola20.716 409 383

Indstria14.3611 387 016

Comrcio e reparao17.7214 047 477

Alojamento e alimentao3.62 858 332

Transporte, armazenagem e comunicao4.643 680 609

Administrao pblica4.973 942 196

Educao, sade e servios sociais8.947 087 297

Servios domsticos7.676 081 879

Outros servios coletivos, sociais e pessoais3.712 947 023

Outras atividades6.885 455 622

Atividades maldefinidas ou no-declaradas6.55 152 201

Plan1

0

0

0

Plan2

0

0

0

%

Plan3

MBD00087EC2.xls

Grf1

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20.7

14.36

Plan1

Ramos de atividade%Nmero de ocupados

Servios e Comrcio64.6751 252 636

Agrcola20.716 409 383

Indstria14.3611 387 016

Fonte: IBGE

Comrcio e reparao17.7214 047 477

Alojamento e alimentao3.62 858 332

Transporte, armazenagem e comunicao4.643 680 609

Administrao pblica4.973 942 196

Educao, sade e servios sociais8.947 087 297

Servios domsticos7.676 081 879

Outros servios coletivos, sociais e pessoais3.712 947 023

Outras atividades6.885 455 622

Atividades maldefinidas ou no-declaradas6.55 152 201

Plan1

0

0

0

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0

0

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Plan3

_1168430356.xlsGrf1

7.4511.8819.36

8.3812.9621.18

7.812.119.91

7.612.319.98

7.7812.3320.11

8.1113.6521.78

7.7612.2620.6

Oculto

Aberto

Total

Plan1

PerodoMdia de Desemprego

OcultoAbertoTotal

19987.4511.8819.36

19998.3812.9621.18

20007.812.119.91

20017.612.319.98

20027.7812.3320.11

20038.1113.6521.78

At nov/20047.7612.2620.6

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2003

At nov/2004