tradução bíblica - katharine barnwell

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Socicdadc Bíblica do Brasil Tradução Bíblica Um curso introdutório aos princípios básicos de tradução Katharine Barnwell Tradução: Dra Mary Daniel Adaptação e Revisão: Linda Niehoffe Dr. Vilson Scholz

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Socicdadc Bíblica do Brasil

Tradução Bíblica

Um curso introdutório aos princípios básicos de tradução

Katharine Barnwell

Tradução: Dra Mary Daniel

Adaptação e Revisão: Linda Niehoffe

Dr. Vilson Scholz

Tradução Bíblica

Um curso introdutório aos princípios básicos de tradução

Katharine Barnwell

Tradução: Dr§ Mary Daniel

Adaptação e Revisão: Linda Niehoff e Dr. Vilson Scholz

Sociedade Bíblica do Brasil

Associação Internacional de Linguística - SIL Brasil

Anápolis, GOBarueri, SP

Barnwell, KatharineTradução bíblica - Um curso introdutório aos

princípios básicos de tradução. 3- ed. - Barueri, SP : Sociedade Bíblica do Brasil ; Anápolis, GO : Associação Internacional de Linguística, 2011

ISBN 0-88312-626-5

1. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. 2. Bíblia de Jerusalém. 3. Nova Versão Internacional. 4. Barnwell, Katharine

CDD - 220.3

Tradução bíblica - Um curso introdutório aos princípios básicos de traduçãoTradução ao português da Parte 1 de Bible Translation:An Introductory Course in Translation Principles, terceira edição, 1986 (2007).

Associação Internacional de LinguísticaRua Dr. Bernardo Sayão Qd, 8 - Cidade UniversitáriaAnápolis, GO - CEP 75074-750

Sociedade Bíblica do Brasil Av. Ceei, 706 - Tamboré Barueri, SP-CEP 06460-120 Cx. Postal 330 - CEP 06453-970 www.sbb.org.br - 0800-727-8888 Todos os direitos reservados

EA963TB - 3.000 - SBB - 2011

CONTEÚDOPrefácio................................................................................................................................Ao começar a traduzir.......................................................................................................

1 .0 que significa traduzir?..................................................................................2. Dois tipos de tradução............................................................................................13. Algumas traduções da Bíblia ao português......................................................... 14. Como traduzir expressões idiomáticas.................................................................25. Qualidades de uma boa tradução.........................................................................26. Os dois passos da tradução....................................................................................37. Como traduzir ideias desconhecidas.................................................................... 4

Apêndice 1: Como traduzir nomes desconhecidos.............................................5Apêndice 2: Como traduzir pesos, medidas e m oedas......................................5

8. Como estudar o significado de um term o........................................................... 69. Como traduzir termos bíblicos especiais..............................................................7

10. Como estudar a sua própria cultura..................................................................... 811. Como fazer uma tradução com significado?.......................................................812.Fatores que impedem a compreensão da mensagem......................................... 913. Outros aspectos das diferenças transculturais...................................... 1014. Exercícios relacionados com a tradução baseada no significado................... 1115. Descobrindo o real significado............................................................................ 1116. Como transmitir informações sobre o fundo histórico e cultural..................1217. Uma tradução natural...........................................................................................1218. Descobrindo o significado: 1 - Acontecimentos............................................... 1319.Descobrindo o significado: 2 - A preposição “de” ............................................1320. Descobrindo o significado: 3 - Voz ativa e voz passiva............. 1421. Descobrindo o significado: 4 - Elipse................................................................. 1422. Descobrindo o significado: 5 - Passagens complexas...................................... 1523.Descobrindo o significado: 6 - A ordem dos acontecimentos.........................1524. Descobrindo o significado: 7 - Orações breves ou compridas..1625. Linguagem figurada: Comparação..................................................................... 1É26. Outras figuras de linguagem................................................................................1727. Perguntas retóricas............................................................................................... 1E28. Como preparar um rascunho da tradução........................................................2C29. Como revisar a tradução...................................................................................... 2C30. Dez maneiras de testar a qualidade da tradução.............................................2C31. Como fazer uma retroversão............................................................................... 2132. Subtítulos...............................................................................................................2233. Pronomes e seus referentes..................................................................................2234. Como descobrir a gramática da língua receptora.............................................2335. Problemas de tradução — Revisão..................................................................... 23

PREFACIOTradução b íb lica - Um curso in trodutório a o s p rincíp ios b á sico s de

tradução é uma versão e adaptação ao português do livro Bible Translation, ie Katharine Barnwell, publicado pelo Summer Institute of Linguistics no Brasil, Sociedade Internacional de Linguística. Trata-se de uma versão ampliada e revisa- 3 a em relação à primeira edição desta obra em português, publicada pelo SIL em _979 (reimpressão em 1989). Destina-se principalmente a pessoas interessadas em naduzir a Bíblia, ou partes dela, para a sua língua materna. Pode ser utilizado como nvro-texto em cursos para tradutores ou em classes menos formais. Os primeiros seis ::apítulos devem ser estudados em bloco, como unidade, mas os demais capítulos são _-.dependentes uns dos outros e podem ser estudados em qualquer ordem.

Os objetivos deste livro são:1. que o tradutor possa aprofundar sua compreensão dos princípios de tradução

da Bíblia; e2. que possa aplicar esses princípios de forma eficaz, para obter uma tradução

correta e clara.Os primeiros seis capítulos tratam dos princípios básicos de tradução da Bíblia. Os

:apítulos 7—35 analisam problemas comuns enfrentados por tradutores da Bíblia. Eáses capítulos também explicam as diferentes etapas de um projeto de tradução.

Ao com eçar a traduzir

Uma parte bem importante de qualquer programa de treinamento para tradu- rores é a prática na tradução. A melhor maneira de aprender a traduzir é, simples­mente, traduzir!

Para o projeto inicial de tradução, recomenda-se escolher passagens bíblicas que sejam:

1. especialmente relevantes, interessantes e úteis para o povo ao qual se destina a tradução;

2. de tamanho médio (recomenda-se um trecho entre 3 e 6 capítulos);3. fáceis de ler (recomendam-se trechos narrativos dos Evangelhos ou do Antigo

Testamento).

Seguem, abaixo, algumas sugestões para projetos que terão a participação de tradutores principiantes:

1. A história do Natal: Lucas 2.1-10 ou Mateus 1.18—2.12.2. A história do julgamento, morte e ressurreição de Jesus: João 18—20, ou tre­

chos selecionados de Mateus 26—28.3. Uma seleção de passagens que tratam da vida de Cristo, incluindo seu nasci­

mento, alguns milagres, sua morte e ressurreição.4. Um seleção de parábolas de Jesus, extraídas de Mateus e Lucas.5. TrechosdoEvangelhodeMarcos:Marcos4.35-41;5.1-20;5.21-43 (21-24,35-43);

6.1-6; 6.6-13; 6.14-29; 6.45-52. O tradutor poderia depois completar a tradu­ção do Evangelho.

6. A história de José: Génesis 37 e 39—50.7. As histórias de Elias e Eliseu: IReis 17—18; 2Reis 4— 5.8. O Livro de Jonas.9. O Livro de Rute.

Capítulo 1

O que significa traduzir?Exemplo 1: Um conto

Leia o seguinte conto, que foi narrado originalmente na língua quiché:

Diz-se que sendo um homem não daqui, não sabendo-se onde o seu ou o ele vem de onde. Um dia estas coisas, ele vai caminhando em uma granja ou neles as praias, ele viu sua aparência um pequeno colar, ou ele pensou que um pequeno colar 0 muito formoso ati­rado no chão no caminho. Ele pegou o colar este o jogou na boca por sua razão que vindo a uma outra pessoa a sua parte de atrás, pelo seu que não ele encontre aquele que seguindo este caminho em sua parte de atrás, não ele sabe que o colar o ele jogou na boca esta uma cobra e o homem este morreu agora mesmo porque não ele sabe sua aparência a cobra ou que o ele comcu esta não este um colar só possivelmente esta cobra.

Agora compare-o com outra versão do mesmo conto:

Há um conto sobre certo homem. Ele não era desta parte do mun­do e, de fato, não sei de onde ele veio. Um dia, esse homem ca­minhava pela praia (em uma “granja”, como eles dizem), quando viu um pequeno colar, ou melhor, o que ele pensou que fosse um colarzinho muito bonito, atirado no chão. Havia alguém que vinha atrás dele, por isso ele pegou este colar e o jogou na boca porque não queria que a outra pessoa o visse. Pois bem, ele não sabia que o coiar que jogou na boca era na realidade uma cobra, e o homem morreu aí mesmo porque não reconheceu essa espécic de cobra e não sabia que o que tinha jogado na boca não era um colar mas uma cobra.

(Estas versões são adaptadas de um artigo de David Fox na revista The Bible inslator, outubro 1959, pág. 175.)

Na primeira versão, cada uma das palavras do quiché foi substituída pelo tenno— xis apropriado em português. Por que essa versão é tão difícil de compreender?

Essa tradução comunica o sign ificado do relato?Lm sua opinião, qual das duas versões é a tradução mais fiel do relato em quiché?Em suas próprias palavras, dê a definição de uma boa tradução.

Lembre-se:Uma boa tradução deve comunicar o significado da mensagem original.

10 O QUE SIGNIFICA [RADUZIR?

O q u e s ig n ifica “t r a d u s k 1”? Traduzir é reproduzir, da maneira mais exata possível, o s ig n ificad o da mensagem originai de uma forma natural no idioma ao qual se está traduzindo.

Exercício 7« Escolha uma passagem breve, escrita na língua que você fala. Bastam duas ou

três frases. Escreva primeiro, palavra por palavra, embaixo de cada um dos vo­cábulos em seu idioma, o termo em português que corresponde a essa palavra. Esta tradução seria facilmente entendida por qualquer pessoa? Faça em seguida urna tradução adequada que expresse em português o significado da passagem de uma forma natural.

Exemplo 2: Marcos 2.19Compare as traduções de Marcos 2.19 que aparecem abaixo e responda as

perguntas que seguem.

O texto grego com uma tradução literal (palavra por palavra) ao português: (O grego é escrito em letras portuguesas para que os que não conhecem o alfa­beto grego possam lê-lo. A tradução literal (palavra por palavra) ao português se encontra debaixo do texto grego para facilitar a comparação com outras versões).

kai eipen autois ho Iesous: me dunantai hoi huioi tou nurnphõnos,e disse a eles (o) Jesus: Não podem os filhos da sala nupcial

en hõ ho numphios met’ autõn estin, nêsteuein? hoson chrononem que o noivo com eles está jejuar? Ouanto tempo

echousin ton numphion met’ autõn ou dunantai nêsteuein.têm o noivo com eles não podem jejuar.

Tradução A(Tradução literal, palavra por palavra, conforme o Novo Testamento Interlinear Grego-Português):E disse a eles Jesus: “Não podem os filhos da sala nupcial em que o noivo com eles está jejuar? Quanto tempo têm o noivo com eles não podem jejuar.”

Tradução BE Jesus disse-lhes: “Podem, porventura, os filhos das bodas jejuar, enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar”.

0 QUE SIGNIFICA TRADUZIR? 11

Tradução CJesus respondeu: “Vocês acham que os convidados de um casamento jejuam enquanto o r.oívo está com eles? Enquanto ele está presente, é claro que não jejuam!”

ztercício 2• Comparando as traduções A e B, anote algumas coisas que o tradutor fez na tra­

dução B para reproduzir a mensagem de forma mais clara e natural.• Comparando as traduções A e B, anote de que maneira o tradutor da B fez uma

tradução bem semelhante ao original grego. Há algo no texto da tradução B que o leitor teria dificuldade para entender?

• Comparando as traduções A, B e C, quais são as outras mudanças feitas pelo tra­dutor da C para tornar o texto mais claro e natural em português?

Em uma língua para a qual se traduziu literalmente a expressão “filhos da sala- .pcial” (ou “filhos das bodas”), algumas pessoas pensaram que isto significava “os• j-.os que a noiva teve antes de casar”. Essa ideia combinava com a cultura da região

que se fez a tradução, porque ali ter filhos antes de casar comprova a fertilidade noiva, ou seja, mostra que ela pode ter filhos. Portanto, tenha cuidado! Uma tra-

;_;âo literal, que reproduz cegamente as palavras exa tas do texto original, pode um sign ificad o errado. Nas traduções apresentadas acima, a C comunica

- Tíhor o significado verdadeiro e é, portanto, uma tradução mais exata neste caso :. que a versão B.

Lembre-se:As línguas são diferentes entre si, ou seja, cada uma faz uso de palavras

e expressões distintas.Em cada língua, a forma de colocar as palavras nas frases (isto é, a

“gramática” da língua) é diferente.Se o tradutor seguir muito de perto a gramática e as palavras do idioma

original, a tradução pode ser forçada,

confusa,e pode inclusive dar um significado errado.

= *emplo 3: Génesis 49.10

O texto hebraico com uma tradução literal ao português:

lo’-yasur shèbet míhudah um3hoqeq mibben rag^lãwi j -se-avartará cetro de-Judá e-vara-de-govemante de-entre pes dele

0 QUE SIGNIFICA TRADUZIR? 13

Traduçao A (Versão literal)E vendo Jesus a fé deles, diz ao paralítico: “Filho, estão perdoados de íi os pe­cados”.

Note-se que, na lingua grega, o sujeito de uma oração geralmente vem de­pois do verbo, mas em português o sujeito quase sempre vem antes do verbo. Assim, vendo Jesus a fé deles significa ‘3esus, ao ver a fé que eies tinham”. Do mesmo modo, estão perdoados de ti os pecados significa “os seus pecados estão perdoados”.

Tradução BE Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: “Filho, perdoados estão os teus pe­cados”.

T raduçãoCJesus viu que eles tinham fé e disse ao paralítico: “Meu filho, os seus pecados estão perdoados”.

Exercício 4• Examine as três traduções acima. Todas elas expressam o mesmo signifi­

cado?* C o m p a r o as diferentes maneiras em que as três versões expressam esse signi­

ficado. Anote as diferenças específicas observadas.» Traduza este versículo para a língua que você fala. comunicando adequada­

mente o significado correto.

Lembre-se:1. A B íb lia é a p a la v ra d e D eus, inspirada pelo Espírito Santo. O

tradutor tem a tremenda responsabilidade de n ã o modificar o signifi­cado. Deve ter o cuidado dc não acrescentar nada ao significado, nem omitir nenhuma parte do significado.

2. A Bít-Ha é u m liv ro q u e faz se n tid o . E um livro que tem uma mensagem que foi dada para ser entendida. Quando escrita inicial­mente, a Bíblia foi redigida na linguagem comum das pessoas daquela época.

3. T odos a s lín g u a s -ou Id io m as são d ife re n te s . Cada língua tem sua própria gramática, suas próprias palavras e expressões idiomáti­cas. Para expressar o significado da mensagem que se traduz, o tradu­tor tem de empregar palavras e estruturas gramaticais diferentes das que foram empregadas no idioma do qual traduz. O importante é que 0 significado da mensagem não seia modificado.

Capítulo 2

Dois tipos de traduçãoA tradu ção lite ra l e a tra d u çã o b a sea d a no significado

Exemplo: Mateus 3.8

O texto grego com tradução literal (palavra por palavra) em português:

Traduções em português: (para uma explicação das abreviaturas, veja o capítulo 3}A. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento. (ARC)B. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento. (ARA)C. Produzi, então, fruto digno de arrependimento. (BJ)D. Deem fruto que mostre o arrependimento. (NVi)E. Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados.

F. Mostrem pelo fruto das vossas açôes que estão verdadeiramente arrependi­dos. (TPC)

As traduções A-D sâo todas mais ou menos litera is, já que seguem a forma do grego. Note-se que:

1. Todas elas empregam a palavra “fruto”, embora seja uma expressão caracterís­tica do grego.

2. As traduções A-D empregam o substantivo abstrato “arrependimento”, seguin­do a gramática do texto grego.

3. Todas seguem a mesma ordem sintática das palavras e orações do texto grego. As traduções E e F se baseiam no sign ificado. Comunicam o significado da

mensagem original de uma forma clara e natural.

Lembre-se:Uma tradução litera l segue, na medida do possível, a form a da lín­

gua em que se encontra a mensagem original.Uma tradução b asead a no sign ificado tem como objetivo a comu­

nicação do sign ificado exato da mensagem original, expressando-o de uma forma natural no novo idioma, ou língua receptora.

Poiesate oun karpon axion tes metanoiasfazei pois fruto digno do arrependimento

(NTLH)

Uma tradução baseada no significado pode trocar:

1.a ordem das palavras, seguindo uma ordem mais natural no idioma para o qual se traduz;

2. as expressões idiomáticas, empregando palavras que expressam claramente o significado da mensagem original, embora a formulação não seja idêntica à do texto original.

A tradução baseada no significado pode ser chamada também de;1. “tradução com equivalência semântica”: Comunica o mesmo significado da

mensagem original.2. “tradução idiomática”: Emprega uma forma natural (idiomática) da língua

para a qual se traduz.3. “tradução de equivalência dinâmica ou funcional” : Tem o propósito de pro­

duzir no leitor ou ouvinte de hoje o mesmo impacto produzido naqueles que leram e ouviram a mensagem do texto original.

Outros exemplos:Nos exemplos que seguem, faça o seguinte para cada tradução ao português:1. Sublinhe a(s) parte(s) em que o tradutor modificou a forma do texto originai,

ou seja. onde ele empregou estruturas gramaticais ou formas de expressão que são diferentes daquelas que aparecem no texto original.

2. Anote, para cada tradução, se a referida versão lhe parece “literal” ou “baseada no significado”. Faça uso de palavras como: “muito literal”, “bastante literal”, “baseada no significado” ou “bem idiomática”.

Se já houver na sua língua materna ou na(s) Iíngua(s) falada(s) em seu país outras traduções destes versículos, localize os versículos nessas traduções e determine se cada uma dessas traduções pode ser descrita como “literal” ou “baseada no significado”.

1. Jó 38.3

0 texto hebraico com tradução literal ao português:

16 DOIS TIPOS DE TRADUÇAO

Dazarna3 k°geber haiãseykã w03esh3al3ka vvshõdicêní cinge-agom como-homem teus iombos e-eu-te-pergumarei. e-(tu)-me-respondes

_ !11lU X .IJ .I I J J J u —l: J-M '*U ;.- • ' ____ __________ , , . . J.Li ...... ..I................. .H'W"- • . . - w»=saaL.

Traduções em português:A. Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde­-me. (ARC)B. Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber. (ARA)

C. Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me respon­derá. (NVT)D. Mostre agora que é valente e responda às perguntas que ihe vou fazer, ÍNTLH)E. Se tens coragem, prepara-te, para responderes às perguntas que te vou fazer. (TPC)

2. SaSmo 1.6

O texto hebraico com tradução Uterai ao português:

ki yodêac yahõwãh derek saddlqim w3derek r3shacim tobed |Porque conhece Javé/Jeovácominho-de jusios e-caminho-de maus perecerá |

Trsduçõss em português:A. Pois o S e n h o r dirige e abençoa a vida daqueles que lhe obedecem, porém o fim dos maus são a desgraça e a morte. (N'l’LH)B . Porque o S enhor conhece o caminho dos justos; mas o caminho dos ímpios perecerá. (ARC)C. Pois o S e n í:oh conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios pere­cerá. (ARA)D. Pois o S fn h o r aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição! (NVI)E. Sim, lahweh conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perece. (BJ)F; O Senhor oroiege o caminhos dos justos, mas o caminho dos maus conduz à perdição. (TPC)

3. Romanos 15.12

O tsxto grego com tradução literal ao português:

Fsiai he rhiza tou lessai, kai ho anistamenos archein ethnõn |Existirá a raiz do Jessé, e o que-se-levanta para-governar gentios 1E-

i raduções ao português:A. Haverá a raiz de Jessé, aqueie que se levanta para governar os gentios. (ARA)

C. Brotará a raiz de Jessé, aquele que se levantará para reinar sobre os gentios. (NVT)D. Surgirá o rebento de Jessé. aquele que se levanta para reger as nações. (BJ)E. Virá um descendente do rei Davi. filho de Jessé; ele aparecerá para governar os que não são judeus. (NTLH)

4. 2Coríntsc=s 6.11

O texto grego com tradução literal em português:

1 8 DOiS TIPOS DE TRADUÇAO

To stoma hemon aneõgen pros humas KorinrhioiA fooca nossa se abriu para vás., coríntios,

hê kardia hêmõn peplatuntai0 coração nosso se alargou

l ________ . . . _ .

Traduções ao português:A. Para vós outros, ó coríntios, abrem-se os nossos lábios, e alarga-se o nossocoração. (ARA)B. ó coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado.(ARC)C. Faiamos abertamente a vocês, coríntios, e ihes abrimos rodo o nosso coração!(NVI)D. Nós vos falamos com toda liberdade, ó coríntios; o nosso coração se dilatou.(BJ)E. Queridos amigos de Corinto, temos falado francamente e temos aberto com­pletamente o nosso coração para vocês. (NTLH)

Da “Introdução” à Nova Bíblia Inglesa:Entendemos nossa tarefa como sendo a mais plena e exata com­preensão do original (utilizando todos os recursos disponíveis), e a articulação na nossa língua materna daquilo que entendemos que o autor está dizendo na língua materna dele.

Da ‘Introdução" à tradução da Bíblia feita por J. B. Phillips:Pois. segundo me parece, a função do tradutor é de entender, da forma mais plena e profunda possível, aquilo que os autores do Novo Testamento esrão dizendo e, depois, após um processo de reflexão, escrever isso na linguagem normativa de nossos contem­porâneos.

Capítulo 3

Algumas traduções da Bíblia ao português

Existem várias traduções da Bíblia ao português. As versões que são mencionadas abaixo são algumas das mais bem conhecidas.

A lg u m a s tra d u çõ es que seg u em m a is de p e r to a e s tru tu ra o u a fo r m a ãos o r ig in a is em hebra ico . a ra m a ico s grego:

Almeida Revista s A tualizsds (ARA)Esta edição, como o próprio nome diz, é uma revisão e atualização da tradução de

Almeida, feita, originalmente, no final do século 17 e começo do sécuio 18. Essa revisão ou atualização foi feita no Brasil, num projeto de 13 anos de duração (1946-1959),

Na Apresentação da Edição Revista e Atualizada no Brasil se lê que esta atualiza­ção foi “calcada sobre a tradicional e quase tricentenária versão de João Ferreira de Almeida. Esta versão, já de sabor clássico, tão estimada nos meios evangélicos, foi inteiramente repassada à luz dos textos originais. Onde se fazia necessário, a pas­sagem era posta cm linguagem de acordo com o mais escolhido uso corrente, mas que tanto se evitasse o demasiado vulgar como o demasiado académico e literário. Timbrou-se em se manter assim uma faixa linguística viva, acessível, clara e nobre como convém à Palavra de Deus, E provável que, aqui e ali, se poderia ter atualizado mais o texto vertido, se não se tratasse, na base, de uma revisão do Almeida-antígo e que a Comissão Revisora deveria seguir tanto quanto possível”.

Em 1993, foi publicada a segunda edição de Almeida Revista e Atualizada. Nesta edição, fez-se uma acurada revisão da pontuação, foram corrigidas algumas falhas de revisão e consertados uns poucos erros de concordância.

Por ser uma tradução fluente, e porque, nela, foram substituídas muitas das pala­vras arcaicas que se encontram em edições anteriores do texto de Almeida, tradutores deveriam dar preferência à Almeida Revista e Atualizada, deixando em segundo pla­no as edições mais antigas, como, por exemplo, a Almeida Revista e Corrigida (ARC).

A Bíblia de Jerusalém (BJ)Esta tradução tem este nome porque foi produzida, originalmente, por um grupo

de eruditos franceses da "Escola Bíblica de Jerusalém”. No Brasil, foi publicada em 1981, sendo que uma segunda edição revista e ampliada foi lançada em 2002.

Na Introdução, se indica que “A tradução foi feita a partir dos textos originais hebraicos, aramaicos e gregos. Para o Antigo Testamento utilizou-se o texto masso- rético, isto é, o texto hebraico estabelecido entre os séculos VII e IX d.C. por sábios ;udeus, que fixaram a sua grafia e vocalização. (...) Quando esse texto apresenta dificuldades insuperáveis, recorre-se a outros manuscritos hebraicos ou a versões anusas, principalmente a grega, a siríaca e a latina. (...) Para o Novo Testamento

20 ALGUMAS TRADUÇÕES DA BÍBUAAO PORTUGUÊS

utilizou-se o texto estabelecido na época moderna por um trabalho crítico sobre os principais testemunhos manuscritos da tradição, também com o auxílio das versões antigas”.

Ainda segundo a Introdução, “houve um esforço para reduzir a diversidade das traduções que termos ou expressões idênticas do original recebem às vezes em ou­tras edições. Todavia, levou-se em conta a ampliação do sentido de certos termos, para os quais nem sempre é possível encontrar um único equivalente em português. Respeitaram-se também as exigências do contexto, sem esquecer que uma tradu­ção servil e por demais literal pode às vezes não reproduzir senão imperfeitamente o sentido real dc uma frase ou expressão. Mas os termos técnicos cujo sentido é unívoco são sempre traduzidos pelo mesmo equivalente em português. Quando ne­cessário, preferiu-se a fidelidade ao texto a uma qualidade literária que não seria a do original”.

A Tradução Ecuménica da BíbNa (TEB)Esta tradução reproduz o modelo da edição original em francês, mas, por ter sido

cuidadosamente revista à luz dos originais hebraicos, aramaicos e gregos, pode ser considerada uma “tradução dos originais”.

Conforme se ié na Apresentação desta tradução, ela “não persegue a literal idade absoluta, que induz o leitor ao erro, pois a relação entre os vocábulos e a realidade está em contínua mudança, razão pela qual sempre se precisa de novas traduções. Tampouco procura a simplificação de uma tradução popular. Procura, antes de mais nada. cuidadosa fidelidade semântica, ou seja, expressar, em língua moderna e le­vando em consideração a cultura arual, a realidade comunicada pelas palavras an­tigas”.

“O objetivo desta tradução não é a íiíeraiidade servil, mas a familiarização do leitor com os campos semânticos nos quais o texto se move. Muitas vezes, a tradu­ção gramatical e lexicalmente fiel foi suficiente para alcançar este objetivo. Outras, porém, foi preciso recorrer a expressões equivalentes ou, conservando a expressão originai por causa de seu uso consagrado ou intima conexão com o contexto, expli­cá-la em nota”.

Por ser uma tradução ecuménica, inclui também os assim chamados livros apó­crifos ou deuterocanônicos, e os livros do Antigo Testamento aparecem na mesma ordem em que se encontram na Bíblia Hebraica.

Traduções m o d e rn o s em lin g u a g em m a is a tu a iix a d a , que se p re o cu p am m a is em re p ro d u z ir o s ig n ifica d o do te x to :

A Nova Tradução na Linguagem ds Hoje (NTLH)Lançada inicialmente em 1973 (o Novo Testamento) c 1988 (a Bíblia completa),

esta tradução passou a se chamar Nova Tradução na Linguagem de Hoje a partir da

ALGUMAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA AO PORTUGUÊS 21

segunda edição, publicada no ano dc 2000. Esta é uma tradução em “linguagem comum”, o que significa que emprega uma linguagem acessível às pessoas menos instruídas e que, ao mesmo tempo, é aceitável às pessoas mais eruditas. Na prática, isto quer dizer que ela faz uso de um vocabulário mais reduzido, que não vai muito além de quatro mil palavras diferentes.

Quanto aos princípios de tradução, a NTLH se orienta peia equivalência fun­cional ou dinâmica. Isto significa que não se tentou traduzir cada palavra do original sempre pela mesma, palavra em português. Os tradutores também não procuraram seguir a ordem das palavras no originai, nem se esforçaram paia usar palavras que pertençam à mesma classe gramatical do original. Nesse sentido, a NTLH é diferente de quase todas as outras traduções bíblicas conhecidas e usadas no Brasil.

à Bíblia Sagrada — Tradução em Português Corrente (TPCiEsta tradução foi preparada sob a orientação das Sociedades Bíblicas Unidas e

lançada pela Sociedade Bíblica de Portugal em 1993. Nela colaboraram, ao longo de vinte anos, bibiistas portugueses, na sua quase totalidade professores universi­tários. A linguagem utilizada nessa tradução é a que a maioria dos portugueses uti­liza, o que explica a designação de “tradução em português corrente”. É, por assim dizer, a equivalente à NTLH, só que feira em Portugal.

Na Introdução, os editores explicam que tentaram evitar arcaísmos e expres­sões próprias da língua original, cais como semitismos, que pudessem constituir obstáculos à compreensão. E prosseguem: “Esses aspectos formais podem ter al­gum interesse para estudiosos, mas não tanto para o leitor comum. Afastando-se do ideal literalista, esta tradução pretendeu ser totalmente rigorosa e fiel, evitando paráfrases ou a utilização de vocabulário que, sendo atual, não corresponderia com rigor à situação histórica do originai. Ns escolha do vocabulário e da sintaxe procuramos situar-nos a um nível médio do português atualmente falado”.

Nova Versão ístem aeíonaf {NV'0Publicada pela Sociedade Bíblica Internacional em 2001, a NVI segue o mesmo

ponto de partida da New International Version (NIV), versão em língua inglesa co­nhecida em todo o mundo. Define-se como tradução evangélica, fiel e contemporâ­nea. Assim corno a NTLH, quer comunicar a mensagem da Bíblia ac leitor moderno com tanta clarez.5 e impacto quanto os exercidos pelo texto bíblico original entre os primeiros leitores. Por essa razão, alguns trechos foram traduzidos com maior ou menor grau de literalidade, levando em conta a compreensão do leitor.

Quanto à relação da NVI com a versão inglesa que a inspirou (NIV), pode-se dizer que, embora muito da contribuição exegética da versão inglesa tenha sido incorporada aversão portuguesa, houve momentos em que os tradutores brasileiros optaram por uma solução que diverge daquilo que sc encontra na versão inglesa.

22 ALGUMAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA AO PORTUGUÊS

Que tradução deveria ser usada como bsse?O tradutor não deveria se basear numa única tradução, mas usar, pelo menos,

três traduções diferentes. Recomenda-se o uso conjunto das seguintes: s Almeida Revista e Atualizada (ARA).« Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTT,H)•• Nova Versão Internacional (NVI).

É bom que o tradutor tenha, também, em mãos outras traduções para fins de referência e comparação. O estudo de diferentes traduções ajuda a melhor entender o sentido do texto original. Especialmente quando se írata de uma passagem mais difíc ii, é importance comparar as diferentes traduções, pois is lo ajuda a clarear o significado do texto.

Ao traduzir, recomenda-se o uso de, pelo menos, três versões de refe­rência. Uma destas deveria ser um pouco mais literal, como, por exem­plo, a Almeida Revista e Atualizada. Outra deveria scr uma tradução que procura reproduzir o significado do texto, sem se prender em demasia à forma do testo original. Um exemplo assim é a Nova Tradução na Lingua­gem de Hoje.

C ap ítu lo 4

Como traduzir expressões idiomáticas1. 0 que é u m a expressão id iom ática?

Expressão idiomática ou idicmatismo é uma expressão em que o conjunto das r aiavras tem um significado diferente do significado das palavras tomadas uma por uma. Em geral, são expressões específicas de determinada língua, ou seja, eias só acorrem daquela forma naquele idioma. Em outras palavras, a “expressão idiomáti­ca" é algo natural de uma língua, apenas com um significado especial, por mais que não faça sentido em outras línguas. Eis alguns exemplos do português:

s quebrar o galho bater as botas

e ficar de mãos abanando• pôr a mão na massa* dar com a língua nos dentes

Em Marcos 2.19, a locução “os filhos das bodas” (ARC) é um exemplo de expres­são idiomática que vem da língua hebraica. Não é algo natural e de uso comum e diário no português.

Exercício 13 Sublinhe todos os exemplos de expressões idiomáticas do português que apare­

cem no parágrafo seguinte:“Não vale à pena esquentar por causa disso”, respondeu ele. “Não se pode fazer caso de pessoas que têm duas caras. O que essa gente diz não tem pé nem cabeça. Ninguém deve arrancar os cabeios por causa disso. Pode não parecer verdade, mas cedo ou tarde eles vão dar com os burros n’agua”.

2. C om o se tradusssm a s expressões id io m á tica s?Em geral, as expressões idiomáticas não podem ser traduzidas literalmente de

uma língua para outra. O s ig n ificad o da expressão precisa ser expresso de maneira natural na iíngua para a quaí se traduz.

1. Às vezes o significado de uma expressão idiomática no texto que se traduz pode ser expresso, no texto da tradução, com palavras que comunicam o significado correto de forma direta:

L ucas 2.51Sua mãe, porém, guardava rodas estas coisas no coração. (ARA)

Na língua kiiba, falada na Nigéria, “guardar algo no coração” significa “guar­dar rancor ou ressentimento D o r algo”. Para traduzir este versículo a o kiiba,

24 COMO TRADUZIR EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

o tradutor teve de expressar o real significado de uma forms direta: “sua mãe continuava meditando sobre estas coisas”.

I s s ía s 13.18Eles não se compadecerão do fruto do ventre... (ARA)

Almeida Revista e Atualizada (ARA) mantêm a expressão idiomática do ori­ginal hebraico. Entretanto, o significado pode não estar claro para leitores de outras línguas. O significado é que não se terá compaixão dos recém-nasci- dos. A Mova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) comunica este signifi­cado de forma mais direta: “matarão crianças e bebês sem dó nem piedade",

2. Às vezes, uma expressão idiomática da língua-fonte (o texto bíblico) pode ser traduzida por uma expressão equivalente, embora bem diferente, na língua re­ceptora (a língua para a qual se traduz):

G én esis 3 5 .29... velho e farto de dias, expirou ísaque... (ARA)... morreu em idade bem avançada... (NVI)... quando já era muito velho, Isaque morreu... (NTLH)... kk’ottama,.. maworiji fiíngua mbembe, da Nigéria). .. eie-veiho bastante (tradução literal da lingua mbembe)

No exemplo de Génesis 35.29, a Almeida Revista e Atualizada (ARA) repro­duz a expressão idiomática do hebraico, ao passo que a NVI e a NTLH comu­nicam o significado dessa expressão idiomática de uma forma mais natural. A língua mbembe emprega uma expressão bem diferente. Todas as traduções comunicam o mesmo significado,

A tes 18.6

Sobre a vossa cabeça, o vosso sangue' Eu dele estou limpo... (ARA)Se vocês se perderem, os culpados serão vocês mesmos. A responsabilidade não será minha. (NTLH)A cabeça de vocês não está nas minhas mãos! Minha mão e meu pé não estão lá! (língua igede, da Nigéria)

3. As sxpresse-es id io m á tica s to r n a m a tra d u çã o v iva e n a tu ra lEm muitos casos, é bom usar expressões idiomáticas na tradução, mesmo não

havendo uma na língua original ou língua-fonte:

M arcos 5 .43Jesus ordenou-lhes expressamente... (ARA)Ele deu ordens expressas... (NVI)Jesus ordenou cue de ieito nenhum... (NTLH)

COMO TRADUZ!R EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS 25

Jesus lhes devorou, as orelhas (expressão idiomática na língua mbembe, da Nigéria)

Lucas 22 ,56Uma das empregadas... olhou bem para ele... (NTLH)... olhou fixamente para ele... (NVI)... uma criada... encarando-o, disse (BJ)... ela o mordeu com seu olho... (expressão idiomática na língua igede, da Nigéria)

Exercício 2* Muitos idiomas expressam emoções ou sentimentos por meio de expressões idio­

máticas. Escreva a tradução das seguintes frases na sisa língua materna.

(a) Ela está com muita fome. (p. ex: Fia está morrendo de fome.)(b) Ela está muito contente, (p. ex.: Eia está pulando dc alegria.)(c) Ela está zangada.(d) Ela está assustada.(e) Eia está surpresa.

I.am bre-se:1. O tradutor deve fazer um esforço para reconhecer as expressões idio­

máticas que aparecem no texto que está traduzindo.2. Deve traduzir as expressões idiomáticas de uma maneira que comuni­

que o seu verdadeiro significado. Tanto pode empregar uma expressão idiomática da sua língua que tem o mesmo significado, como pode traduzir o significado diretamente.

3. As expressões idiomáticas que se encaixam com naturalidade no texto da tradução tomam o estilo vivo e interessante.

Exercício 3® Examine as duas passagens que aparecem abaixo. Para cada um desses textos,

e sublinhe todas as expressões idiomáticas que encontrar;■ traduza o texto para a sua língua ma tema ou para a língua falada em seu

país;B localize as partes de sua tradução cm que (a) as expressões idiomáticas ou (b)

a sintaxe (o arranjo das palavras) da língua para a qual está traduzindo dife­rem das expressões e da sintaxe da língua original (a língua-fonte).

P assag a m As *"0 menino estava estirado no chão, chorando amargamente. Tinha quebrado o pote de vidro e, ao cair. tinha feito um corte na mão. Sabia que a mãe não ia fazer vista grossa e eie teria Oe descascar aquele abacaxi.”

26 COMO TRADUZIR EXPRESSÕES IDIOMATtCAS

P assagem B: “Nossa!”, exclamou o motorista, “Vamos bater nesse caminhão se ele não sair dai!” Sentou o pé no freio e virou a dire cão bruscamente para a direita. Por um triz não bateram no caminhão.”

Exercício 4* Para cada uma das passagens abaixo:

■ Sublinhe todas as expressões idiomáticas que encontrar.* Expresse novamente em português o significado da expressão, de maneira que

fique claro o que ela significa,■ Traduza cada passagem, expressando o seu significado de forma idiomática em

sua própria língua.

(a) Lucas 16.20: Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de cha­gas, que jazia à porta daquele. (ARA)

(b) Lucas 17.13: [os dez leprososj levantaram a voz, dizendo... (ARA)(c) Lucas 19.3: pois [Zaqueu] era de pequena estatura. (ARA)(d) Atos 2.37: quando ouviram isso, ficaram aflitos em seu coração. (NVI)(e) Atos 11.21: A mão do Senhor estava com cies... (ARA)(f) Atos 11.22: A notícia a respeito deles chegou aos ouvidos da igreja... (ARA)(g) Atos 13.22: Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração... (ARA)(h) Atos 17.8: E alvoroçaram a multidão... (ARA)(i) Atos 18.6: Sobre a vossa cabeça, o vosso sangue! Eu dele estou limpo...!"

(ARA)(j) Aros 18.28: Apoio, homem eloquente e poderoso nas Escrituras... (ARA)(k) Atos 19.28: encheram-se de furor (ARA)

Exercício 59 Para este exercício, siga as mesmas instruções dadas no exercício 4 (acima).

(a) Mateus 2.20: já estão mortos os que procuravam a morte do menino. (ARA)(b) Mateus 3.8: Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento. (ARA)(c) Mateus 5.2: e, abrindo a boca, os ensinava... (ARA)(d) Mateus 26.63: Jesus, porém, guardou silêncio. (ARA)(e) Marcos 6.52: o seu coração estava endurecido. (ARA)(f) Marcos 9.1: des que aqui estão, alguns há que não provarão a morte... (ARA)(g) Marcos 12.3: o despacharam vazio... (ARA)

C ap ítu lo 5

í~ h -g § g ~ = 1 i S ~ i í r s r í ã 2 & s 's á S h s ^ á ^ # © « # ¥^ w M - S M « . » « . W « « . S . S u y i * » /

L em bre-se:Uma boa tradução deve ser:E x a ta - O tradutor deve expressar o significado da mensagem origi­

nal da maneira mais exata possível na língua para a qual está traduzindo, C lara - A tradução deve ser clara e compreensível. O tradutor quer

comunicar a mensagem de uma forma que os leitores a possam compreen­der com facilidade.

N a tu ra l - A tradução não deve soar “estrangeira”. Nem deve pare­cer uma tradução, mas a fala normal, cotidiana de um falante nativo da língua.

Assim, as três qualidades mais importantes de uma boa tradução são: exatidão, clareza e naturalidade.

Quando se avalia uma tradução como sendo boa ou má, é preciso fazer três perguntas:

1. A tra d u çã o é exa ta?Comunica o s ig n ificad o e x a to da mensagem original? A mensagem foi modi­

ficada de alguma forma?Repare-se que uma tradução exata n ã o é a que segue fielmente a fo rm a da

mensagem original, mas a que expressa da maneira mais exata o mesmo s ig n ifi­cado.

Uma tradução n ã o é e x a ta se de alguma forma seu significado for distinto da mensagem original. Isto pode incluir:

s O m issõ es: A tradução não é exata, se falta uma parte da mensagem, s A créscim os: A tradução não é exata, caso se tiver acrescentado algo

ao significado da mensagem, s M o d ificaçõ es : A tradução não é exata, caso se tiver de alguma for­

ma modificado o significado da mensagem.

2. A tra d u çã o é clara?A tradução c o m u n ica bem o significado do original? Entende-se o que quer

dizer? A mensagem que se entende é a que o autor quis expressar originalmente?Entretanto, deve-se reconhecer que alguns trechos da Bíblia são difíceis de com­

preender devido ao conteúdo da mensagem. Nesses casos se necessita o discerni­mento do Espírito Santo. Para algumas partes se precisa também de um estudo detalhado e de um conhecimento do fundo histórico, do contrário não se conseguirá entender plenamente a mensagem.

Para o tradutor, o mais importante é que as palavras usadas na tradução não difi­cultem a compreensão da mensagem. O tipo de linguagem que se utiliza deve tornar a mensagem a mais clara possível.

3. A tra d u çã o é n a tu ra l?A linguagem usada na tradução é aquela que os falantes da língua usam? É agra­

dável? E viva e interessante?Caso não se tomar cuidado, facilmente serão introduzidas expressões da língua-

-fonte ou original. É preciso analisar e verificar muito bem o termo a ser usado para expressar da maneira mais natural e idiomática possível a ideia original na língua para a qual se está traduzindo.

Exercício 1• Para cada par de frases, assinale se as duas frases:

■ têm o mesmo significado (são duas maneiras distintas de dizer o mesmo) ou■ têm significados distintos.1. (a) Choveu a noite toda.

(b) A chuva durou a noite inteira.______ __________2. (a) Há um livro na mesa.

(b) Há um livro na escrivaninha._______________3. (a) João ficou muito surpreso ao ouvir a notícia.

(b) A notícia surpreendeu muito a João quando ele a ouviu.___________4. (a) Foi um dia calorento.

(b) O dia estava quente._______________5. (a) A casa do Pedro.

(b) A casa que pertence ao Pedro._______________6. (a) O vestido da Maria fica muito curto.

(b) O vestido da Maria não lhe fica bem ._______________7. (a) Comprei tecido para fazer um vestido novo para Maria.

(b) Comprei um vestido novo para a M aria.________________8. (a) Comprei verduras no mercado.

(b) Comprei tomates e cebola no mercado.________________9. (a) Os meus pais estão bem.

(b) Papai e mamãe estão bem ._______________10. (a) João está mal, com um paludismo bem forte.

(b) João está muito doente.________________11. (a) A casa tem quatro dependências.

(b) A casa tem quatro dependências, e uma cozinha lá atrás.___________12. (a) Em minha opinião, o governo está funcionando bem e realizando muitos

melhoramentos no país. Mas há muitas pessoas que não concordam com essa opinião.

28 QUALIDADES DE UMA BOA TRADUÇAO

(b) Há diversas opiniões sobre o governo. Alguns dizem que funciona bem e que está melhorando muito o país. Outros não estão de acordo.

Exercício 2• Neste exercício, compare o texto bíblico da Nova Tradução na Linguagem de

Hoje (NTLH) com o texto da tradução chamada de NOVA. Faça isto em duas etapas: (1) Determine se a tradução chamada de NOVA é exata ou não, se com­parada com a NTLH; (2) se houver uma diferença, explique se é uma omissão (alguma coisa que ficou faltando), um acréscimo (alguma coisa que foi colocada a mais), ou uma modificação (alguma coisa que ficou diferente).

1.Atos 5.1■ (NTLH) Mas um homem chamado Ananias, casado com uma mulher que se

chamava Safira, vendeu um terreno.■ (NOVA) Mas um homem chamado Ananias e uma mulher chamada Safira ven­

deram um terreno.

2. Atos 5.2■ (NTLH) E só entregou uma parte do dinheiro aos apóstolos, ficando com o

resto. E Safira sabia disso.■ (NOVA) Ele guardou uma parte do dinheiro recebido da venda do terreno, e

sua esposa sabia disso.

3. Atos 5.3» (NTLH) Então Pedro disse a Ananias: — Por que você deixou Satanás dominar

o seu coração? Por que mentiu para o Espírito Santo? Por que você ficou com uma parte do dinheiro que recebeu pela venda daquele terreno?

■ (NOVA) Mas Pedro disse: — Ananias, por que Satanás obrigou você a contar essa mentira?

4. Atos 5.5• (NTLH) Assim que ouviu isso, Ananias caiu morto.■ (NOVA) Quando Ananias ouviu o que Pedro tinha dito, caiu morto.

5. Atos 5.5■ (NTLH) E todos os que souberam do que havia acontecido ficaram com muito

medo.■ (NOVA) Todos os que ouviram o que tinha acontecido tiveram muito medo.

6. Atos 5.6■ (NTLH) Então vieram alguns moços, cobriram o corpo de Ananias, levaram

para fora e o sepultaram.

QUALIDADES DE UMA BOA TRADUÇAO 29

■ (NOVA) Algumas pessoas embrulharam o corpo dele numa manta, levaram para fora e o enterraram no cemitério.

Exercício 3• Em qualquer idioma pode haver mais de uma maneira de expressar a mesma

ideia. Uma forma pode ser mais fácil de compreender que outra; e o propósito do tradutor é expressar o significado da maneira mais clara possível para transmitir a mensagem de uma forma eficaz. Para este exercício, escolhemos uma série de textos bíblicos (Mateus 1.1, Mateus 2.1-2, etc.) e mostramos como foram tra­duzidos em diversas versões da Bíblia. Compare essas traduções e coloque uma marca ao lado daquela que lhe parecer a mais clara de todas. Para as versões que lhe parecerem menos claras, indique por escrito o que, em sua opinião, torna di­fícil a compreensão do texto.

1. Mateus 1.1■ (ARA) Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.■ (TPC) Estes são os antepassados de Jesus Cristo, descendente de Davi e de

Abraão.■ (NTLH) Esta é a lista dos antepassados de Jesus Cristo, descendente de Davi,

que era descendente de Abraão.■ (NOVA) Eis aqui os antepassados de Jesus Cristo, que foi descendente de Davi,

que foi descendente de Abraão.

2 .Mateus 2.1-2■ (NVI) Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes,

magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus”?

■ (ARA) Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntaram: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?

■ (NTLH) Jesus nasceu na cidade de Belém, na região da Judeia, quando Hero­des era rei da terra de Israel. Nesse tempo alguns homens que estudavam as estrelas vieram do Oriente e chegaram a Jerusalém. Eles perguntaram: “Onde está o menino que nasceu para ser o rei dos judeus”?

3.Mateus 3.15■ (ARC) Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. En­

tão, ele o permitiu.■ (NTLH) — Deixe que seja assim agora, pois é dessa maneira que faremos tudo

o que Deus quer. — E João concordou.

30 QUALIDADES DE UMA BOA TRADUÇAO

QUALIDADES DE UMA BOA TRADUÇAO 31

4. Mateus 4.4a (ARA) Está escrito: Nâo só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que

procede da boca de Deus.■ (NTLH) — As Escrituras Sagradas afirmam: “O ser humano não vive só de pão,

mas vive de tudo o que Deus diz.”

5. Mateus 4.6■ (ARC) Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para

que nunca tropeces em alguma pedra.■ (NVI) “Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segu­

rarão, para que você não tropece em alguma pedra”.

6. Mateus 6.7■ (ARA) E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios: porque presu­

mem que pelo seu muito falar serão ouvidos.■ (A Bíblia Viva) Não fiquem recitando sempre a mesma oração, como os perdi­

dos fazem, pois pensam que as orações só são respondidas pela sua repetição constante.

7. Mateus 12.9-10' (NVI) Saindo daquele lugar, dirigiu-se à sinagoga deles, e estava ali um homem

com uma das mãos atrofiada. Procurando um motivo para acusar Jesus, eles lhe perguntaram: “E permitido curar no sábado”?

■ (NOVA) Jesus saiu daquele lugar e entrou na sinagoga judaica. Havia ali um homem com uma mão atrofiada. Algumas pessoas que estavam por perto e que desejavam acusar Jesus de cometer pecados perguntaram a ele: “Segundo as nossas leis, é permitido que se cure alguém no Dia de descanso?”

8. Marcos 10.46H (NVI) Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos, juntamente

com uma grande multidão, estavam saindo da cidade, o filho de Timeu, Barti- meu, que era cego, estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas.

■ (A Bíblia Viva) E assim eles chegaram a Jericó. Mais tarde, quando deixavam a cidade, uma grande multidão ia atrás. E aconteceu que um mendigo cego cha­mado Bartimeu (filho de Timeu) estava sentado ao lado da estrada enquanto Jesus ia passando.

9. Marcos 15.7■ (ARA) Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores, os quais em um

tumulto haviam cometido homicídio.■ (NTLH) Naquela ocasião um homem chamado Barrabás estava preso na cadeia

junto com alguns homens que tinham matado algumas pessoas numa revolta.

10.João 15.265 (NVI) Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês de parte do Pai, o

Espírito da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito.= (A Bíblia Viva) Porém eu enviarei o Consolador a vocês — o Espírito Santo,

a fonte de toda a verdade. Ele virá do Pai para vocês e lhes dirá tudo a meu respeito.

Exercício 4 « Siga as mesmas instruções do exercício 3.

1. ISamuel 2.12= (ARA) Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com

o SENHOR.s (NTLH) Os filhos do sacerdote Eli não prestavam e não se importavam com

Deus, o SENHOR.

2. ISamuel 2.18= (ARA) Samuel ministrava perante o SENHOR, sendo ainda menino, vestido de

uma estola sacerdotal de linho.= (NTLH) Samuel continuava no serviço de Deus, o SENHOR. Embora ainda

fosse menino, vestia um manto sacerdotal de linho.

3. ISamuel 2.20- (ARA) O SENHOR te dê filhos desta mulher, em lugar do filho que devolveu

ao SENHOR.- (NTLH) — Que o SENHOR Deus dê a você e a Ana, a sua mulher, outros filhos

para tomarem o lugar do que foi dedicado a eleí

4. ISamuel 2.21= (ARA) Abençoou, pois o SENHOR a Ana, e ela concebeu e teve três filhos e

duas filhas.= (NTLH) E o SENHOR abençoou Ana, e ela teve mais três filhos e duas filhas.

5. Salmo 45.6E (ARA) O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro

do teu reino.= (NTLH) O reino que Deus lhe deu vai durar para sempre. O rei, o senhor go­

verna o seu povo com justiça...

Exercício 5a Abaixo, você encontra o texto de Génesis 3.8-10 em três traduções diferentes:

Almeida Revista e Atualizada (AjRA), Nova Tradução na Linguagem de Hoje(NTLH), e uma tradução original chamada de NOVA. Compare esta tradução

32 QUALIDADES DE UMA BOA TRADUÇAO

QUALIDADES DE UMA BOA TRADUÇAO 33

NOVA com o texto de ARA e NTLH. Depois,■ Dê três exemplos de partes da tradução NOVA que não são exatas.■ Dê três exemplos de partes da tradução NOVA que não são claras.■ Dê três exemplos de partes da tradução NOVA em que a linguagem não é na­

tural.• (ARA) 8 Quando ouviram a voz do S en h o r Deus, que andava no jar­

dim pela viração do dia, esconderam-se da presença do S en h o r Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. 9E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? 10Ele respon­deu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.

• (NTLH) 8 Naquele dia, quando soprava o vento suave da tarde, o ho­mem e a sua mulher ouviram a voz do S en h o r Deus, que estava pas­seando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores. 9Mas o S en h o r Deus chamou o homem e perguntou: — Onde é que você está? 100 homem respondeu: — Eu ouvi a tua voz, quando esta­vas passeando pelo jardim, e fiquei com medo porque estava nu. Por isso me escondi.

• (NOVA) 8 O homem e sua esposa escutavam o SENHOR Deus que an­dava no jardim de tardinha, e o homem e sua esposa se esconderam para que Deus não pudesse vê-los. 9E o SENHOR Deus chamou o ho­mem, dizendo: ‘Você está onde?” 10O homem disse: Ouvi o SENHOR Deus no jardim e me escondi de você e eu estava nu”.

Capítulo à

Os dois passos da tradução

1. Termos a serem lem brados

Língua-fonte: É o idioma do qual se traduz. Quando se traduz do português ao guarani, a língua-fonte é o português.

Língua receptora: É o idioma ao qual se traduz. Quando se traduz do português para o guarani, a língua receptora é o guarani.

Se uma pessoa traduz do grego ao português, qual é a língua-fonte e qual a re­ceptora?

Língua-fonte:_______________________________Língua receptora: _______________________________Se uma pessoa traduz do português ao árabe, qual é a língua-fonte e qual a re­

ceptora?Língua-fonte:______________________________ _Língua receptora: _______________________________

Lembre-se:1. Os termos língua-fonte e língua receptora podem ser abreviados a LFe LR.2. 0 texto ou passagem que se traduz se chama texto-fonte.3. A língua-fonte não é necessariamente idêntica à língua original. Por

exemplo, se um tradutor traduz o Novo Testamento do português para sua própria língua, a língua-fonte é o português. Mas a língua original do Novo Testamento é o grego. A língua original da maior parte do Antigo Testamento é o hebraico.

4. Outro nome empregado, às vezes, para a língua receptora é língua- -alvo. Os dois termos têm o mesmo significado.

2. De um sign ificado a ou troO objetivo do tradutor é comunicar a mensagem do texto-fonte. A gramática e

as expressões diferem de uma língua para a outra, o que significa que não se pode fazer uma tradução “palavra por palavra” da língua-fonte para a língua-alvo. É pre­ciso pensar no significado da mensagem que se está traduzindo.

O processo de tradução pode ser ilustrado da seguinte forma:

36 OS DOIS PASSOS DA TRADUÇAO

TEXTO NA LINGUA-FONTE TRADUÇAO NA LINGUA RECEPTORA

Descobrir Expressar oo significado significado em

outra língua

PASSO 1 PASSO 2

Assim, a tradução consiste em dois passos:

PASSO 1 Estudar o texto-fonte e descobrir o significado que expressam as palavras e as estruturas gramaticais da língua-fonte.PASSO 2 Tornar a expressar esse mesmo significado, empregando palavras e estruturas gramaticais diferentes. E preciso expressar o significado de uma ma­neira clara e natural na língua receptora.

A form a será distinta, mas o sign ificado continuará sendo o mesmo.Não deixe de levar a sério o PASSO 1! Não traduza sem antes ter estudado o

significado do texto-fonte. Sem este estudo, o resultado será uma tradução de pés­sima qualidade.

3. M ais a respe ito d o d escobrim en to do sign ificado

1. Leia a passagem inteira antes de traduzi-la. Descubra a ideia central da passagem antes de começar. Em se tratando de uma passagem narrativa, como, por exem­plo, o relato de um dos milagres de Jesus, imagine a situação original. Faça de conta que você estava ali, e imagine o que as pessoas sentiram naquela situação.

2. Ao traduzir a Bíblia, consulte e confira sempre p elo m en os duas versõ es da B íblia como texto-fonte. A comparação de ambas ajudará a compreender o significado, para evitar a tradução literal de uma só versão. As versões mais recomendadas são:

- Uma que seja relativamente literal, como, por exemplo, a Almeida Re­vista e Atualizada (ARA) ou a Almeida Revista e Corrigida (ARC); e

= Outra versão baseada no significado, como, por exemplo, a Nova Tra­dução na Linguagem de Hoje (NTLH).

3. Procure num dicionário da língua portuguesa as palavras que, para você, não têm um significado bem claro. Como as palavras de qualquer língua, também as do português têm, em geral, mais de um significado. O tradutor deve ter plena certeza de ter captado o significado correto das palavras que aparecem no texto que vai traduzir.

4. Consulte também outros livros de referência, tais como outras versões da Bíblia, um dicionário bíblico e comentários bíblicos.

Mais adiante neste curso, iremos considerar outras maneiras de descobrir o signi­ficado exato do texto.

O passo inicial consiste em estudar o texto-fonte e descobrir seu significado exato.

Quando o significado da passagem estiver claro, ele poderá ser expresso de ma­neira clara e natural na língua receptora.

L em bre-se:Antes de traduzir, o primeiro passo é estudar sempre o significado do

texto-fonte.Quando o significado do texto-fonte estiver claro, o segundo passo é

expressar esse significado de maneira clara e natural na língua receptora.

Exercício 1• Escolha qualquer narrativa ou texto breve escrito em sua língua materna. Pode

ser uma história que você mesmo tenha escrito em aulas de redação, ou qualquer outro conto. Traduza o relato ou texto para o português.

s Em seguida, sublinhe aquelas partes da tradução ao português em que a gramá­tica ou as expressões idiomáticas forem diferentes da gramática e das expressões do texto escrito em sua língua materna. Fale sobre essas diferenças com o pro­fessor ou consultor.

Exercício 2e Escolha uma narrativa breve de qualquer língua falada em seu país e traduza

essa narrativa ao português. Como no exercício anterior, sublinhe as estruturas gramaticais ou as expressões idiomáticas que forem diferentes daquelas que apa­recem na narração na língua-fonte. Fale sobre essas diferenças com o professor ou consultor.

OS DOIS PASSOS DA TRADUÇAO 37

Exercício 3• Traduza a seguinte narrativa para a sua própria língua. Como nos exercícios an­

teriores, sublinhe as partes da tradução nas quais alguma expressão ou estrutura gramatical for diferente das que aparecem na língua-fonte. Fale sobre elas com o professor ou consultor. Se possível, discuta a sua tradução com outros falantes da língua.

Um dia, uma mulher estava levando uma vasilha de leite para ven­der no mercado. “Vou ganhar um bom dinheiro com este leite,” pensou. “Com esse dinheiro, vou comprar alguns ovos. Uma das galinhas vai chocá-los e assim terei uma dúzia de pintinhos. De­pois os pintinhos vão crescer e se tornarão galinhas. Todas elas vão pôr mais ovos, e então com o dinheiro da venda vou comprar uma novilha. A novilha vai crescer e se tornará vaca. A vaca terá uma novilha. Essa novilha vai crescer e se tornará vaca também. Terei logo uma dúzia de vacas e serei uma mulher rica”.A mulher ficou muito contente e começou a bater palmas de ale­gria. A vasilha de leite lhe caiu da cabeça, e assim se desmancha­ram todos os sonhos dela.

Exercício 4• Siga as mesmas instruções do exercício 3. As duas narrativas abaixo nos vêm da

África.CD Ao entardecer, quando chegava em casa, Fátima quase sempre pegava uma vasilha e descia ao riacho onde se banhava e tirava água. Algumas vezes Leibe ia com ela e outras vezes Shaitu, mas ela nunca andava sozinha. Uma tarde... Hodio foi cautelosamente atrás dela até o riacho e lhe disse que ela devia se preparar para fugir com ele porque ele a amava e queria que fosse sua esposa, mas Fátima, com muita ênfase, recusou a proposta. Ela devia ter sabido que, como escrava, jamais poderia esperar casar-se com um cidadão Fulani livre e orgulhoso como Hodio. Este também o sabia, mas não quis aceitar a recusa de Fátima.(2) Mai Sunsaye estava sentado do lado de fora de sua cabana, len­do o Alcorão debaixo de uma árvore. Era bem versado no Alcorão, e lia e escrevia a língua árabe com uma facilidade bastante comum entre os xamãs daquele povo. Fazia feitiços e amuletos, cuidava dos doentes, era um sábio muito respeitado naquela aldeia. De to­das as partes chegavam seus clientes com suas feridas do corpo e da alma.

38 OS DOIS PASSOS DA TRADUÇAO

Exercício 5* Siga as mesmas instruções do exercício 3.

Uma vez há muito tempo, muito tempo mesmo, a Tartaruga quis ser o animal mais sábio do mundo. Um dia ela juntou todos seus conhecimentos e os colocou numa cabaça, pensando amarrá-la no topo de uma árvore bem alta e guardar todos os conhecimentos para si.Depois de colocar todos os seus conhecimentos na cabaça, amar­rou-a à cintura e começou a subir na árvore. Fez várias tentativas, mas tinha as pernas tão curtas que elas não conseguiam dar a volta na árvore, por causa da cabaça amarrada à cintura.Nisto chegou seu amigo, o Coelho. “O que você está tentando fazer, amiga Tartaruga?” — perguntou ele. A Tartaruga respondeu: “Es­tou tentando subir até o topo desta árvore para amarrar ali todo o meu conhecimento e guardá-lo só para mim. Assim serei o animal mais sábio do mundo”.“Por que você não o amarra às costas? Assim poderia subir na ár­vore” — sugeriu o Coelho.Então a Tartaruga amarrou a cabaça às costas e começou a subir na árvore. Mas, depois de subir um pouco, ela parou. “Eu achei que eu tinha juntado todo o conhecimento do mundo em minha cabaça”, disse ela, “mas vejo que deixei algo para trás. Vou descer e colocá­-lo em minha cabaça. E talvez existam mais conhecimentos que não coloquei na cabaça”.E por isso, hoje em dia, a Tartaruga leva a cabaça amarrada nas costas. Ela está ajuntando todo o conhecimento que ficou do lado de fora, para ser um dia o animal mais sábio do mundo.

L em bre-se:Ao revisar uma tradução, faça as seguintes perguntas:É e x a ta ? 0 significado da tradução é o mais próximo possível do signi­

ficado que o autor do texto original transmitiu?É c la ra ? As pessoas vão entender a mensagem?E n a tu ra l? A tradução faz uso da linguagem que as pessoas empre­

gam em seu dia a dia?

OS DOIS PASSOS DA TRADUÇAO 39

Capitulo 7

Como traduzir ideias desconhecidasP rim eira p a r te

Pense nas diferenças entre a vida na época em que se escreveu a Bíblia e a vida em íDssos dias. Há uma diferença no tem po — até as partes mais recentes da Bíblia foram icritas há quase dois mil anos. Há também diferenças de geografia e de cultura.

Por causa destas diferenças, algumas das coisas mencionadas na Bíblia não são onhecidas nos lugares onde se fala a língua receptora. Por exemplo:

• Para muitos habitantes de regiões tropicais, inclusive no Brasil e na África, neve e geada são “ideias desconhecidas”.

• Para quem mora em região de florestas, camelos e desertos são ideias desconhecidas.

• Para os habitantes do Alasca, ovelhas e gafanhotos são objetos desco­nhecidos.

• Em geral, anjos, centuriões, sinagogas, etc. são “ideias desconhecidas”.Haverá também muitos costu m es d escon h ecid os, p.ex., o costume de des-

ansar sobre o teto de uma casa (o “eirado”), ou de lavar os pés de um visitante omo gesto de cortesia.

As classes mais comuns de ideias desconhecidas são:• n om es de anim ais: p.ex., urso, camelo• n om es de p lantas: p.ex., videira, figueira, sicômoro, carvalho, his-

sopo, cominho, endro• acidentes geográficos: p.ex., deserto, mar• d iferenças de clim a: p.ex., neve, gelo, verão, inverno• m oed as e m edidas: p.ex., denário, libra, alqueire, milha• a cessó r io s para o vestuário: p.ex., coroa, capacete, couraça• d iv isõ es da casa e ob jetos d om ésticos: p.ex., pedra angular,

cenáculo, pedra de moinho, balançaOutros tipos muito importantes de ideias desconhecidas são:

• n om es d esco n h ecid o s de lugares e pessoas: Um nome desco­nhecido (por exemplo, Amom), pode ser o nome de um povo ou de um país, ou até mesmo de uma pessoa. Tais termos serão analisados no Apêndice 1, ao final deste capítulo.

• p eso s, m ed id as e s is tem a s m onetários: por exemplo, cúbito, denário, talento. Tais termos serão analisados no Apêndice 2, ao final deste capítulo.

• term os b íb licos e sp ec ífico s referentes à religião judaica: por exemplo, templo, sinagoga, sacerdote. Tais termos serão analisados no capítulo 9.

42 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

Nem todas as ideias acima mencionadas são desconhecidas em todas as par­tes do mundo; o relativo grau de conhecimento varia de uma região a outra. Por exemplo, os camelos são muito conhecidos no norte da Nigéria, mas desconhecidos em Papua-Nova Guiné e no interior da Amazónia. Em contrapartida, o mar é bem conhecido para os que vivem nas Ilhas Salomão e na costa do Brasil, mas desco­nhecido para os que moram no norte da Nigéria e no Alto Xingu. Cabe destacar também que muitos dos costumes e ideias desconhecidos no Brasil e na Europa são bem conhecidos na África, onde a cultura apresenta mais semelhanças com a de Israel. Quando uma ideia já é con h ecid a pelos habitantes da região, o tradutor deve escolher o termo correto ou a expressão exata para referir-se a essa ideia. Mas quando os habitantes locais d esco n h ecem a ideia, a tarefa do tradutor é mais di­fícil, pois é preciso encontrar uma forma de comunicar uma ideia totalmente nova. Neste caso, o tradutor tem a obrigação de ajudar as pessoas a formarem uma ideia ou compreenderem algo a respeito de coisas ou assuntos que são totalmente estra­nhos para elas.

Mais adiante neste curso, mencionamos outras maneiras de dar ao leitor a in­formação necessária para que compreenda a mensagem corretamente. Uma parte da informação pode ser apresentada fora do texto, quer dizer, mediante o uso de ilustrações, glossários ou notas de rodapé. (Veja o capítulo 16 para outras sugestões a esse respeito.)

Recomenda-se que esses recursos sejam incluídos na Bíblia traduzida, mas eles não podem substituir uma tradução coerente do próprio texto. O tradutor deve ter como objetivo principal tornar a tradução a mais clara e significativa possível.

Como se pode, então, comunicar o significado das ideias desconhecidas? Importa seguir os dois passos da tradução. Primeiro, d escobrir o sign ificado exato da id e ia que se quer traduzir. Depois, encontrar a m aneira de tornar a ex­pressá-lo na língua receptora. Existem três m étod os principais p e lo s quais se pode com unicar o sign ificado de um a id e ia descon h ecid a . Eles são analisados a seguir. Cada um dos métodos tem vantagens e desvantagens.

Lembre-se:Passo 1: Descobrir o significado.Não se pode começar a traduzir se não se conhece bem o significado da

palavra ou frase original.Use um dicionário ou dicionário b íb lico e outros livros para pro­

curar o significado exato da ideia original.Passo 2: Tornar a expressar o significado na língua receptora.Existem pelo menos três maneiras de traduzir ideias desconhecidas.

Considere cada uma em separado para encontrar a solução mais adequa­da para cada ideia e contexto em particular.

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 43

As três so lu çõ es sã o as segu in tes:1. Empregar uma oração descritiva.2. Substituir a ideia por algo semelhante, já conhecido dos falantes da

língua receptora.3. Empregar uma palavra emprestada de outro idioma.

1. Usar uma frase descritivaEm lugar de uma só palavra, talvez seja preciso empregar uma frase para descre­

ver o objeto de que se fala. Por exemplo:(O símbolo —> significa “pode ser expresso ou dito de outra forma como”.)

• láp is — * “um objeto com que se escreve”• re lóg io —> “um objeto para medir o curso do sol”• avião —> “uma canoa que viaja pelo céu”• Mateus 5.23: a lta r —> “lugar/mesa onde as pessoas oferecem sacrifí­

cios a Deus”• Mateus 13.33: leved u ra /fe rm en to —>“o que faz a massa do pão

crescer”• João 20.15: ja rd in e iro —> “pessoa que cuida do jardim ou da granja”

NOTA: Não será p o ssív e l n em acon selh ável dar um a d escrição com­pleta do sign ificado da palavra. Descreva a parte do significado que mais importa para a passagem específica que se traduz.

• João 10.12: lobo —> “animal selvagem e feroz”. Podem-se dar muitas características do lobo, mas o elemento mais importante neste con­texto é que o lobo é um animal feroz que assusta as ovelhas e também o pastor.

• Atos 27.13: leva n ta ra m ân cora —► “levantaram os ferros pesados que não deixam que o navio saia do lugar onde se encontra no mar”. Neste caso não importa a forma da âncora, mas seu uso.

• Apocalipse 17.4: p ed ra s p rec io sa s e p éro la s —► “diversos tipos de pedras bonitas que são usadas para enfeitar as coisas”. Uma desvan­tagem desta solução é que às vezes a tradução fica longa e um tanto confusa. O tradutor deve ter cuidado de enquadrar bem a frase dentro do contexto para que não destrua o equilíbrio da mensagem nem des­vie a atenção do tema principal.

Se a palavra for mencionada várias vezes em determinada passagem, talvez não seja preciso repetir sempre a frase descritiva inteira. Por exemplo, a palavra “sina­goga” pode ser traduzida inicialmente como “a casa onde os judeus se reuniam para adorar a Deus”, e depois, se mencionada novamente no mesmo trecho, apenas se -recisa dizer “aquela casa de reunião”.

44 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

Palavras compostasA palavra composta é um tipo específico de frase descritiva. Em alguns idiomas

é possível unir duas ou mais palavras para expressar uma determinada mensagem:• Mateus 5.34: trono —> “assento do chefe”• Lucas 19.23: banco —> “casa do dinheiro”• João 10.2: pastor —► “guardador de ovelhas”

As palavras compostas devem seguir as normas naturais da língua receptora.

Exercício 1• Nas passagens que seguem abaixo:

■ sublinhe todas as palavras que expressam uma ideia desconhecida para os ha­bitantes da sua região.

■ expresse essa palavra novamente em português, usando uma frase descritiva.• Sempre que necessário, use um dicionário ou um dicionário bíblico para verificar

o significado das palavras. Além disso, sempre que preciso, verifique o contexto completo da passagem em sua Bíblia. Descreva a parte do significado que achar mais importante para o contexto traduzido.(a) Lucas 1.63: Então, pedindo ele [Zacarias] uma tabuinha, escreveu,...(b) Lucas 7.2: E o servo de um centurião, a quem este muito estimava,(c) Lucas 7.14: Chegando-se, [Jesus] tocou o esquife...(d) Atos 8.27: A rainha dos etíopes* (Nota: A palavra “rainha” tem dois sentidos em português: “mulher que go­

verna um país” [como a Rainha Elisabeth, da Inglaterra], ou “esposa do rei”. A tradução deve estar de acordo com o sentido correto em cada contexto.)

(e) Ester 8.7: Então, disse o rei Assuero à rainha Ester...(0 Atos 10.6: Ele está hospedado com Simão, curtidor, cuja residência está situa­

da à beira-mar.(g) Atos 19.11-12: E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários,

a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal...(h) Mateus 6.7: Nas suas orações, não fiquem repetindo o que vocês já disseram,

como fazem os pagãos. (NTLH)(i) Apocalipse 6.5: ... e o seu cavaleiro com uma balança na mão.(j) Apocalipse 9.17: ... e os seus cavaleiros tinham couraças cor de fogo...

2. Substituir por algo parecidoÀs vezes, as pessoas que falam determinada língua não conhecem aquilo que é

mencionado no texto. Entretanto, é possível que conheçam alguma coisa parecida que poderá, então, ser colocada no lugar daquilo que aparece no texto.

É muito importante considerar o contexto com muita atenção e tentar comunicar a ideia mais importante nesse contexto.

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 45

e IPedro 5.8: O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.

Nesta passagem, a ideia mais importante é que o leão é um animal perigoso que anda à espreita, procurando outro animal para devorar. Nas regiões em que os leões são desconhecidos, mas onde existem leopardos, pode-se usar esse termo em lugar de leão. Ao exemplo do leão, o leopardo é um animal selvagem que ataca e devora outros animais. Substituir o leão pelo leopardo não altera a mensagem do texto.

• Apocalipse 1.14: brancos... como neve.

Em uma das línguas africanas, isto foi traduzido por “branco como a plumagem da garça”. Esta tradução comunica o ponto central, ou seja, a brancura da neve.

Lembre-se:Para decidir se é possível e aconselhável, ou não, colocar algo da cul­

tura da língua receptora em lugar do que se encontra no original, é pre­ciso levar em conta o seguinte:1. Deve-se escolher algo que tenha a forma mais parecida possível com a

ideia original, lembrando que o importante é comunicar a ideia mais importante naquele contexto. Por exemplo, em IPedro 5.8, o termo “leopardo” é um bom substituto para “leão”, pois se trata de dois ani­mais perigosos que ficam à espreita de outros animais. Além disso, o leopardo é parecido com o leão. Não seria uma boa ideia colocar algo como um “falcão” em lugar de leão, porque, embora essa ave se ali­mente de outros animais, sua forma é muito distinta daquela do leão.

2. O substituto deve ser algo que se encaixe bem na cultura da Bíblia, algo que tenha existido na época em que se passaram os fatos que são relatados.

3. Uma substituição é apropriada quando se tem uma ilustração ou quan­do se usa uma figura literária, como, por exemplo, uma comparação. Mas não se deve fazer a substituição quando se trata de um aconte­cimento histórico. Por exemplo, em Marcos 11.13, Jesus amaldiçoou uma árvore, e essa árvore era uma figueira. Substituí-la por qualquer outra árvore seria falsificar um fato histórico.

4. Alguns temas aparecem em toda a Bíblia e têm um significado simbó­lico no Novo Testamento, devido a referências que são feitas no Antigo Testamento. Por exemplo, as referências feitas ao vinho e à videira em alguns contextos simbolizam Israel (Isaías 5.7). As referências a.figuei­ra e ao pastor e suas ovelhas também têm associações com o Antigo Testamento. Portanto, é importante traduzir todas essas referências da mesma maneira, para que não se perca o significado do símbolo.

46 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

Exercício 2• Nos textos que seguem, observe aquilo que foi sublinhado e diga se isto se refere

a coisas que aconteceram num momento histórico específico ou se é uma simples ilustração ou comparação didática.(a) João 12.3: Então Maria pegou um frasco cheio de um perfume muito caro,

feito de nardo puro. Ela derramou o perfume nos pés de Jesus... (NTLH)(b) João 12.13: ... pegaram ramos de palmeira e saíram para se encontrar com

ele. (NTLH)(c) Lucas 6.44: Não é possível colher figos de espinheiros, nem colher uvas de

pés de urtiga. (NTLH)(d) Marcos 13.28: Aprendam a lição que a figueira ensina: Quando seus ramos

ficam verdes, e as folhas começam a brotar, vocês sabem que está chegandoo verão. (NTLH)

(e) Marcos 15.17: ... puseram na cabeça dele uma coroa feita de ramos cheios de espinhos. (NTLH)

(0 Marcos 4.31: Ele é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes. (NTLH)

(g) Salmo 127.4: Os filhos que um homem tem na sua mocidade são como fie; chas nas mãos de um soldado. (NTLH)

(h) Salmo 150.3: Louvem a Deus com trombetas. Louvem com harpas e liras. (NTLH)

Exercício 3• Nas passagens seguintes, sublinhe primeiro todas as palavras que se refiram as

ideias desconhecidas na sua região. Depois, tente encontrar uma maneira de traduzir cada uma das ideias sublinhadas. Sempre que necessário, confira o con­texto da passagem na sua Bíblia.(a) Mateus 3.7: Raça de víboras! (ARA)(b) Mateus 5.15: ... nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do al­

queire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. (ARA)(c) Mateus 5.40: ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe

também a capa. (ARA)(d) Mateus 7.16: Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos.

(NTLH)(e) Marcos 9.42: ... melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma

grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar. (ARA)(0 Lucas 10.19: ... vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões...

(ARA)(g) Apocalipse 18.22: E voz de harpistas, de músicos, de tocadores de flautas e

clarins jamais em ti se ouvirá. (ARA)

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 47

Exercício 4• Nas passagens seguintes:

* Sublinhe primeiro todas as palavras que expressam ideias possivelmente des­conhecidas para a gente da sua região.

■ Tome nota de como traduziria cada uma das ideias, usando uma palavra da sua língua materna que expresse algo semelhante.

(a) Cântico dos Cânticos 2.2: Como um lírio entre os espinhos, assim é a minha amada entre as outras mulheres. (NTLH)

(b) Cântico dos Cânticos 2.3: Como a macieira entre as árvores da floresta, assim é o meu amado entre os outros homens. (NTLH)

(c) Cântico dos Cânticos 2.15: Peguem as raposas, apanhem as raposinhas, antes que elas estraguem a nossa plantação de uvas, que está em flor. (NTLH)

(d) Habacuque 3.17-18 Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as par­reiras não deem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gados nos currais, mesmo assim eu darei graças ao S en h o r . .. (NTLH)

3. Usar um empréstimo, ou seja, uma palavra emprestada de outro idioma

Um em préstim o é um termo tirado de outra língua; não faz parte do vocabulário dos falantes de determinada língua.

Um em préstim o não é a mesma coisa que uma palavra a ssim ila ­da ou adotada.

Uma palavra a ssim ila d a ou ad otad a é um termo que, original­mente, pertencia a outro idioma, mas que já passou a fazer parte da língua que falamos. Todos os idiomas humanos costumam adotar, ou assimilar, palavras de outras línguas; em geral, elas são tiradas das lín­guas majoritárias faladas na área para expressar ideias novas ou recém- -conhecidas. O português, por exemplo, assimilou muitas palavras do latim, do grego, do inglês, do francês, e também do tupi.

As palavras são assimiladas, ou adotadas, ao longo dos anos e dos séculos, e seu uso se intensifica aos poucos, até que todos os falantes chegam a conhecer seu significado. São usadas, mesmo que não se saiba a língua de origem. Uma palavra adotada, ou assimilada, é pro­nunciada como qualquer outra palavra da língua. As palavras assim adotadas ou assimiladas por um idioma deixam de ser palavras “em­prestadas”.

Aqui, não nos interessam as palavras que já foram adotadas ou assimiladas, mas os termos que ainda são “estrangeiros” e desconhecidos para os falantes da língua receptora.

48 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

Exercício 5• No texto que segue:

- Sublinhe três exemplos de palavras assimiladas ou adotadas pelo português.■ Faça um círculo ao redor de três exemplos de palavras estrangeiras.

João entrou no restaurante e se assentou. Pegou o menu e começou a escolher o que iria comer. Podia escolher entre um hambúrguer e salada, laksa, gado-gado ou algo chamado “escargots”. Tinha deci­dido pedir laksa com uma xícara de café, quando viu Joana entrar no restaurante. Ela vestia um song-sam e tinha um wok na mão.

• É possível que neste exercício você tenha dificuldade em reconhecer as palavras assimiladas ou adotadas pelo português, pois já se tornaram termos comuns na língua. Se você não souber algo da história da língua, será quase impossível saber que palavras foram tiradas de outros idiomas.

Exercício 6• Faça uma lista de cinco palavras assimiladas em:

* Sua própria língua.■ Qualquer outra língua que você entende (preferivelmente um idioma que não

seja o português).

ExemploApresentamos a seguir uma tradução de Marcos 1.1-4 em uma das primeiras

versões feitas em uma língua falada na Nigéria. (A ortografia sofreu pequenas alte­rações.) Sublinhe as palavras estrangeiras ou emprestadas que você reconhece no texto da tradução. Quais os problemas que tais palavras apresentam para o leitor?

1 Eritono evangelho Jesus Cristo Eyen Abasi. 2 Kpa nte ewetde ke nwed profeta Isaías,

ete,Sese, mmodon isunutom mi ebem Ei iso,Emi edinamde usun Fo;

3 Uyo andifiori ke deserto, ete, Mbufo edion usun Jeová,Eneng ere okpousung Esie;

4 João oto edinim owo batismo ke deserto, edinyun okworo ba-tismo erikabare esit, homem efen mme idiok-knpo.

A d esvan tagem de empregar palavras emprestadas em uma tradução é que muita gente desconhece seu significado. As palavras não são conhecidas e, portanto, não significam nada. Portanto, deve-se evitar tanto quanto possível o emprego delas em uma tradução.

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 49

Entretanto, em alguns casos, usar uma palavra emprestada parece a melhor so­lução. Nesses casos, a palavra emprestada deve ser introduzida de tal forma que o leitor tenha uma ideia geral de seu significado.

= Empregue a palavra emprestada junto com uma frase descritiva (solu­ção 1) que esclareça seu significado, ou

e Empregue a palavra emprestada junto com uma palavra ou frase mais geral que possa dar ao leitor uma ideia daquilo que a palavra empres­tada expressa.

Os exemplos seguintes ilustram possíveis traduções:

= Marcos 1.6: Usava uma roupa feita de pelos de u m a n im a l ch a m a d o “cam elo". Neste exemplo, o termo genérico “animal” informa que o camelo é um animal,

e Marcos 14.1: Faltavam dois dias para a fe s ta ch a m a d a “P áscoa”. A palavra mais geral, “festa”, indica que a palavra emprestada, “Pás­coa”, é o nome de uma festa especial. Dessa maneira, comunica-se pelo menos uma parte do significado.

É essencial considerar com atenção qual aspecto do significado é mais relevante e apropriado para cada contexto. Por exemplo, compare os três textos seguintes em que aparece a mirra.

No primeiro texto, o mais importante é a qualidade medicinal da mirra; no se­gundo, é seu preço elevado, pois só os reis ou as pessoas bem ricas podiam enviá-la ou recebê-la como presente (pode haver também outro simbolismo); e no terceiro texto, o elemento mais relevante é o aroma agradável da mirra.

= Marcos 15.23: Queriam dar a ele vinho misturado com u m ca lm a n te ch a m a d o m irra .

s Mateus 2.11: E lhe ofereceram presentes caros: ouro, incenso e mirra.

« Cântico dos Cânticos 1.13: Meu amado tem cheiro de m irra quando descansa sobre os meus seios.

Exercício 7• Nas passagens seguintes:

■ Sublinhe as ideias possivelmente desconhecidas para os habitantes de sua re­gião.

■ Pense na maneira em que poderia traduzir cada uma dessas ideias, empre­gando (1) uma palavra emprestada acompanhada de uma frase descritiva, ou(2) uma palavra mais geral que possa comunicar a parte mais importante do significado do termo.

50 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

(a) Números 11.5-6: No Egito comíamos quanto peixe queríamos, e era de gra­ça. E que saudades dos pepinos, dos melões, das verduras, das cebolas e dos alhos! Mas agora acabaram-se as nossas forças. Não há mais nada para comer, e a única coisa que vemos é esse maná!

(b) Números 11.31: De repente, o S en h o r mandou um vento que trouxe do mar bandos de codornas. Elas caíram no acampamento e em volta,...

(c) Números 13.23: Depois chegaram ao vale de Escol e ali cortaram um galho de uma parreira, com um cacho de uvas, que dois homens carregaram pen­durado numa vara. Eles pegaram também romãs e figos.

(d) Isaías 41.19: Plantarei árvores no deserto: cedros, acácias, murtas e oliveiras; nas terras secas, farei crescer pinheiros, junto com os zimbros e ciprestes.

(e) Mateus 23.23: Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, do endro e do cominho, mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da Lei...

RESUMO:Três formas de traduzir uma ideia desconhecida são:

1. Usar uma frase descritiva.2. Substituir o termo por uma palavra semelhante que os falantes da lín­

gua receptora já conheçam.3. Empregar uma palavra emprestada de outra língua, junto com uma

frase descritiva ou uma palavra mais geral.

ALGUMAS DICAS PARA A ESCOLHA DA MELHOR SOLUÇÃO Para determinar a melhor solução, c o n s id e re s e m p re o s ig n ifi­

ca d o d o te rm o em se u co n tex to .

L em bre-se:1. Se for possível, evite o emprego de palavras emprestadas de outras

línguas.2. Quando tiver de usar uma palavra estrangeira emprestada, apresente­

-a junto com um termo geral ou com uma frase descritiva que possa dar uma ideia de seu significado.

3. Pense no aspecto mais importante do significado dentro do contexto. O ponto principal está claro?

4. Evite descrições muito compridas que desviem a atenção do leitor do ponto principal da passagem.

5. Não modifique os fatos históricos.6. Não introduza ideias alheias à cultura bíblica.

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 51

7. Devem considerar-se outras passagens onde se menciona a mesma ideia, em especial quando se tratar de um “tema” bíblico.

8. Utilize outros recursos, tais como desenhos ou quadros, para fornecer informação complementar.

Exercício 8• Em cada uma das passagens seguintes se encontra pelo menos uma ideia que

pode ser desconhecida na região da língua receptora (ou que não se expressa facilmente em uma só palavra da referida língua).* Sublinhe todas as ideias desconhecidas.a Escreva o significado da(s) palavra(s) ou frase(s) sublinhada(s) de uma forma

que possa ser traduzida em sua própria língua. Para cada exemplo, especifique qual das soluções escolheu.

(a) Mateus 10.29: Não se vendem dois pardais por algumas moedinhas?(b) Mateus 13.44: ... como um tesouro escondido num campo(c) Mateus 13.45: ... como um comerciante que anda procurando pérolas finas...(d) Mateus 19.24: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha...(e) Mateus 21.33: Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha.

Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores.

(f) Marcos 1.12-13: ... o impeliu para o deserto. Ali esteve quarenta dias...(g) Marcos 11.13: Vendo de longe uma figueira com folhas...(h) Marcos 13.18: Orem a Deus para que isso não aconteça no inverno.(i) Marcos 14.44: Aquele a quem eu beijar, é esse.(j) Marcos 15.17: ... puseram na cabeça dele uma coroa feita de ramos cheios

de espinhos.

S eg u n d a p a r teAlém das três formas de traduzir ideias desconhecidas descritas na primeira par­

te deste capítulo, existem duas outras possibilidades:

4. User uma palavra qus tsm um significado mais amploO que quer dizer que uma palavra tem um sentido mais amplo do que outra?

Vejamos alguns exemplos:Comparemos as palavras “gato” e “animal”. O gato é um tipo de animal, mas há

também outros animais, como “cachorro”, “cavalo”, etc. Quer dizer que a palavra "animal” é mais ampla do que a palavra “gato”, porque se refere a outras classes de animais além dos gatos.

Do mesmo modo, a palavra “móvel” é mais ampla do que a palavra “mesa”, pois esta última é um tipo de móvel. Além da mesa, existem ainda outros tipos de móveis como “cadeira”, “poltrona”, “cama”.

52 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

A palavra “construção” é mais geral ou ampla que a palavra “casa”, pois a casa é um tipo de construção. Há outros tipos de construção, tais como “igreja”, “escola”, etc.

A palavra “matar” é mais ampla que “estrangular”, porque estrangular é apenas uma forma de matar alguém.

Exercício 9• Para cada uma das seguintes palavras abaixo, dê (em português) um exemplo de

uma palavra mais ampla:(a) camisa(b) pardal(c) automóvel(d) revólver(e) devorar(f) despedaçarEm algumas passagens que trazem uma ideia desconhecida, pode-se usar um termo mais amplo ou genérico, sem que se perca o significado da mensagem:

(a) Mateus 6.28Vejam como crescem os lír io s d o cam p o ...—> Vejam as flores dos arbustos, como crescem...“Flores” é um termo mais amplo do que “lírios”. Nesta passagem não importa a espécie exata ou o tipo de flor.

(b) Lucas 12.18Lá hei de recolher todo o meu tr ig o ... (BJ)Numa região em que o principal produto agrícola não é o trigo, pode-se em­pregar uma palavra ou frase mais ampla, como “produto” (ARA), “safra” (NVI), “colheita” (NTLH).

(c) Atos 3.6Não possuo nem prata nem ouro...—> Não tenho dinheiro.

Lembre-se:Leve em conta a passagem inteira. Uma palavra deve ser traduzida

segundo seu significado e importância na passagem específica em que aparece.

Exercício 10= Nos seguintes exemplos, expresse o significado em português, colocando uma

palavra mais ampla ou genérica em lugar da palavra em negrito. Leve em conta o significado do termo dentro do contexto.

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 53

(a) Mateus 20.1: ... um dono de casa que saiu de madrugada para contratar tra­balhadores para a sua v inha .

(b) Lucas 11.3: O p ã o nosso cotidiano dá-nos de dia em dia.(c) ISamuel 2.13-14: ... oferecendo alguém sacrifício, vinha o moço do sacer­

dote ... com u m g a rfo d e trê s d e n te s na mão; e metia-o na ca ld e ira , ou na panela, ou no tach o , ou na marmita, e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para s i ...

(d) Provérbios 15.17: Melhor é um prato d e h o r ta liç a s onde há amor do que o b o i cev ad o e, com ele, o ódio.

5. Usar uma palavra ou frase com significado mass específicoÀs vezes, quando não existe uma palavra na língua receptora que expresse uma

ideia específica, esta pode ser traduzida por ex em p lo s específicos da coisa referida.

= Génesis 1.16: Fez Deus o.s dois grandes luzeiros...

Se não existir nenhum termo equivalente a “luzeiro”, pode-se dizer simplesmente “o sol e a lua”, usando os termos específicos.

= Atos 5.1: Ananias... vendeu uma p ro p ried a d e

O contexto que segue (versículo 3) esclarece que se tratava de um terreno. Por­tanto, se não existir na língua um termo amplo ou genérico para referir-se a “pro­priedade” (ou se a palavra mais ampla não é usada em referência a terras), a palavra pode ser traduzida de uma forma mais específica por “vendeu um terreno” ou “ven­deu umas terras”. A tradução continua sendo exata.

e Marcos 4.26: é como um homem que joga a sem e n te na terra ...

Nesta passagem, não se especifica o tipo de semente que o homem jogou na terra, mas nosso conhecimento cultural esclarece que provavelmente se tratava de trigo. Em alguns idiomas é possível usar uma palavra geral equivalente a “semente”, mas em outras línguas tal uso seria confuso. Nesse caso, o tradutor deve usar uma palavra mais específica, ou seja, o nome do grão ou cereal mais conhecido na região onde se fala a língua receptora. Na África Ocidental, poderia ser “semente de milho da gui­né” (o equivalente mais próximo do trigo). Nas Américas, poderia ser simplesmente “milho”, embora “trigo”, desde que conhecido, seria a melhor opção, pois o trigo é semeado aos punhados, enquanto que o milho é, em geral, plantado de grão em grão.

Exercício 11- Faça de conta que está traduzindo a um idioma que não tem nenhum termo para

as ideias sublinhadas nas seguintes passagens. Expresse cada uma delas com palavras mais específicas, sem modificar o significado da passagem. Leia a passa­gem no seu contexto bíblico.

(a) Atos 10.12: [um grande lençol]... contendo toda sorte de quadrúpedes, rép­teis da terra e aves do céu...

(b) Lucas 10.34: O samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão.

(c) Mateus 5.29: ... te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno.

Exercício 12® As passagens seguintes incluem uma ou mais ideias que poderiam ser desconhe­

cidas para os falantes da língua receptora. Pode haver também algumas ideias que, embora conhecidas, não podem ser expressas facilmente com uma só pala­vra na língua receptora.5 Sublinhe todas as ideias desconhecidas ou palavras problemáticas. a Escreva o significado de cada termo ou frase sublinhado de uma forma com­

preensível na sua língua. Para cada exemplo, diga qual dos cinco métodos possíveis preferiu empregar para traduzir uma ideia desconhecida.

(a) Lucas 1.27: ... uma virgem que tinha casamento contratado com um homem chamado José...

(b) Lucas 9.58: As raposas têm as suas covas, e os pássaros, os seus ninhos.(c) Lucas 9.62: Quem começa a arar e olha para trás não setve para o Reino de Deus.(d) Lucas 12.33: ... lá os ladrões não podem roubá-las, e as traças não podem

destruí-las.(e) Lucas 19.4: Então [Zaqueu], correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de

vê-lo...(f) Atos 2.1: Quando chegou o dia de Pentecostes....(g) Atos 3.1: E nós somos testemunhas disso.(h) Atos 16.24: Ele [o carcereiro] levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu

os pés no tronco.(i) Atos 19.29: A multidão ... os arrastou até o teatro.(j) Atos 27.5: Atravessamos o mar...

Exercício 73 = Siga as mesmas instruções do exercício 12.

(a) Génesis 6.14: Pegue madeira boa e construa uma grande barca. Faça divisões nela e tape todos os buracos com piche, por dentro e por fora.

(b) Génesis 8.8-11: Depois [Noé] soltou uma pomba... Ela voltou à tardinha, trazendo no bico uma folha verde de oliveira.

(c) Génesis 37.7: Sonhei que estávamos no campo amarrando os feixes de trigo. De repente, o meu feixe ficou de pé, e os feixes de vocês se colocaram em volta do meu e se curvaram diante dele.

54 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

(d) Génesis 37.25: E sentaram-se para comer. De repente, viram que ia passando uma caravana de ismaelitas que vinha de Gileade e ia para o Egito. Os seus camelos estavam carregados de perfumes e de especiarias.

(e) Génesis 43.11: Então o pai [Jacó] disse: — Já que não existe outro jeito, façam o seguinte: ponham nos sacos alguns presentes para aquele homem. Levem os melhores produtos desta terra: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, especiarias, nozes, amêndoas.

(f) Génesis 50.2: Ele deu ordem aos médicos ... para embalsamarem o corpo do seu pai.

(g) Êxodo 2.3: Como não podia escondê-lo por mais tempo, ela pegou uma cesta de junco, tapou os buracos com betume e piche, pôs nela o menino e deixou a cesta entre os juncos, na beira do rio.

(h) Êxodo 8.16: O S en h o r Deus disse a Moisés: — Diga a Arão que bata na terra com o bastão para que em todo o Egito o pó vire piolhos.

(i) Êxodo 9.8: Então o S en h o r Deus disse a Moisés e a Arão: — Peguem punha­dos de cinza de um forno, e que Moisés jogue essa cinza para o ar diante do rei do Egito.

(j) Êxodo 12.22: Peguem um galho de hissopo e o molhem no sangue que estiver na bacia e passem nos batentes dos lados e de cima da porta das suas casas.

(k) Êxodo 16.13-14: À tarde apareceu um grande bando de codornas; eram tan­tas, que cobriram o acampamento. E no dia seguinte, de manhã, havia or­valho em volta de todo o acampamento. 14 Quando o orvalho secou, por cima da areia do deserto ficou uma coisa parecida com escamas, fina como a geada no chão.

Exercício 14 (para tradutores mais experimentados)* Siga as mesmas instruções do exercício 12.

(a) Mateus 3.12: A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.

(b) Mateus 9.17: Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se alguém fizer isso, os odres rebentam, o vinho se perde, e os odres ficam estragados. Pelo con­trário, o vinho novo é posto em odres novos, e assim não se perdem nem os odres nem o vinho.

(c) Mateus 11.21: E, para mostrarem que estavam arrependidos, teriam vestido roupa feita de pano grosseiro e teriam jogado cinzas na cabeça!

(d) Mateus 11.29: Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração; e vocês acharão descanso para as suas almas.

(e) João 15.1: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador,(f) Tiago 3.3: Até na boca dos cavalos colocamos um freio para que nos obede­

çam e assim fazemos com que vão aonde queremos.

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 55

56 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

(g) Tiago 3.4: Pensem no navio: grande como é, empurrado por ventos fortes, ele é guiado por um pequeno leme e vai aonde o piloto quer.

(h) Apocalipse 1.12: Vi sete candelabros de ouro...(i) Apocalipse 4.7: O primeiro desses seres parecia um leão. O segundo parecia

um touro. O terceiro tinha a cara parecida com a de um ser humano. E oquarto parecia uma águia voando.

(j) Apocalipse 8.3,6: Outro anjo veio com um vaso de ouro no qual se queima incenso e ficou de pé ao lado do altar. Ele recebeu muito incenso para juntar com as orações de todo o povo de Deus e oferecê-lo no altar de ouro que está diante do trono... Em seguida os sete anjos que tinham as sete trombetas se prepararam para tocar.

Exercício 15® Traduza Atos 8.26-28 para sua própria língua. Dê atenção especial à tradução de

ideias que possam ser desconhecidas para sua comunidade linguística.* Faça uma retroversão dessa tradução para o português, ou seja, traduza de sua

língua para o português. Comente com seu professor ou consultor as vantagens e desvantagens da maneira em que traduziu as ideias desconhecidas.

Exercício 16® Ester 1.5-7. Siga as mesmas instruções do exercício 15.

Terceira p a r te

Apêndice 1: Como traduzir nomes desconhecidos

Os nomes desconhecidos pelos falantes da língua receptora podem criar proble­mas pelas seguintes razões:

1 .0 nome pode ser difícil de pronunciar. Em geral, os nomes próprios (quer dizer, nomes de pessoas ou lugares) se adaptam a uma forma fácil de pro­nunciar na língua receptora. São escritos segundo o sistema ortográfico dessa língua.

2. As pessoas não sabem a que se refere o nome. Por exemplo, pode ser o nome de uma região, uma aldeia ou povoação, um rio ou uma montanha. Em alguns contextos, nem fica claro se a referência é a um lugar ou a uma pessoa.

Portanto, quando preciso, o tradutor deve acrescentar a informação que o leitor ou ouvinte necessita para compreender corretamente a passagem. Isto se faz, em geral, acrescentando uma palavra que especifica o tipo de lugar referido, como se ilustra nos exemplos seguintes. (O tradutor deve ficar atento, de modo especial, para os nomes de lugares desconhecidos. Deve localizá-los em um mapa para ter certeza de que ele mesmo sabe a que se referem.)

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 57

(a) Números 25.1® (ARA) Habitando Israel em S itim , começou o povo a prostituir-se com

as filhas dos moabitas.s (NTLH) Quando os israelitas estavam acampados na reg ião de S itim ,

os homens começaram a ter relações com as mulheres moabitas.

(b) Amós 1.2s (ARA) O S e n h o r mgirá de S ião e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; os

prados dos pastores estarão de luto, e secar-se-á o c im o -do Carm elo.® (NTLH) Do m o n te Sião, em Jerusalém, o S e n h o r Deus fala alto, e a

sua voz parece o trovão. Os pastos murcham, e tudo seca no m o n te Carm elo.

(c) Mateus 4.25• (ARA) E da G alileia, D ecápolis, Jeru sa lém , J u d e ia e dalém do

Jo rd ã o numerosas multidões o seguiam.e (NTLH) Grandes multidões o seguiam; era gente das regiões d a Gali­

leia, d a s D ez Cidades, da c id a d e de Jeru sa lém , de toda a região d a J u d e ia e das regiões que ficam no lado leste do rio Jordão .

(d) Atos 27.7© (ARA) Navegando vagarosamente muitos dias e tendo chegado com dificul­

dade defronte de Cnido, não nos sendo permitido prosseguir, por causa do vento contrário, navegamos sob aproteção de Creta, na altura de Salmona.

9 (NTLH) Navegamos bem devagar vários dias e com grande dificuldade chegamos em frente da cidade de Cnido. Como o vento não nos deixava continuar naquela direção, passamos pelo cabo S a lm o n a da ilha de Creta e seguimos pelo lado sul daquela ilha, o qual é protegido dos ventos.

Exercício 17• Para todos os nomes de lugares nas passagens seguintes, coloque o termo geral

mais apropriado. Use um dicionário bíblico ou um mapa para verificar a exatidão da sua informação.(a) Atos 28.12-13: Desembarcamos n a _________ de Siracusa para uma escala

de três dias. De lá, costeando o litoral, fomos à __________de Régio. Nodia seguinte o vento começou a soprar do sul, e em dois dias chegamos à _________ de Pozuoli.

(b) Génesis 13.1,3: Saiu, pois, Abrão d a __________do Egito para o __________de Neguebe, ele e sua mulher e tudo o que tinham, e Ló com ele.... Fez as suas jornadas do Neguebe a té __________de Betei, até ao lugar onde pri­meiro estivera a sua tenda, en tre__________de Betei e __________ de Ai,...

58 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

(c) Números 13.21-22: Assim, subiram e espiaram a terra desde o deserto doZim a té _________ Reobe, à entrada__________ de Hamate. E subiram pelo_________ de Neguebe e vieram até a __________ de Hebrom; estavam ali_________ Aimã, Sesai e Talmai, filhos de Anaque. (Hebrom foi edificadasete anos antes q u e_________ de Zoã n o __________ do Egito).

Apêndice 2: Como traduzir pesos, m edidas e moedasUma tabela muito útil de pesos e medidas se encontra ao final de várias edições

da Bíblia. Apresentamos aqui alguns exemplos de pesos, medidas e moedas que apa­recem na Bíblia, com sua tradução em várias traduções ao português:

(1) Medidas

(a) Génesis 6.15* (ARA) Deste modo afarás: de trezentos côvados será o cumprimento;

de cinquenta, a largura; e a altura, de trinta.= (NTLH) As medidas serão as seguintes: cento e trinta e três metros de

comprimento por vinte e dois de largura por treze de altura.

(b) João 11.18® (ARA) Ora, Betânia estava cerca de quinze estádios perto de Jerusalém. = (Grego) stadiõn dekapente (estádios quinze)= (ARC) Ora, Betânia distava de Jerusalém quase quinze estádios. s (NVI) Betânia distava cerca de três quilómetros de Jerusalém. s (NTLH) Betânia ficava a menos de três quilómetros de Jerusalém.

(c) João 2.6- (ARA) Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as

purificações, e cada uma levava duas ou t r ê s m eíretas. s (NTLH) Ali perto estavam seis potes de pedra; em cada uma cabiam

entre o i te n ta e c e n to e v in te litros de água. Os judeus usavam a água que guardavam nesses potes nas suas cerimónias de purificação.

(d) Atos 1.12* (ARA) ... que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado. = (NTLH) ... o monte fica mais ou menos a um quilómetro da cidade.

(2) Pesos

(a) João 19.39« (ARA) Nicodemos...foi, levando cerca de cem lib ra s de um composto

de mirra e aloés.e (NTLH) Nicodemos...levando u n s t r in ta e c in co q u ilo s de uma

mistura...

COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS 59

(3) Moedas

(a) Mateus 20.9* (ARA) Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um d en á rio .= (Grego) ... dênarions (NTLH) ...um a m oed a de p ra ta

(b) Marcos 14.5* (ARA) Porque este perfume poderia ser vendido por m ais de trezen ­

to s denários.* (NTLH) ... mais de trezentas moedas de prata...* (A Bíblia Viva) ... por um a fortuna...* (Em algumas línguas africanas) três b o lsa s de d inheiro ...s Em muitas áreas da Africa Ocidental, este termo significa cem libras,

sendo um termo de uso geral hoje em dia, especialmente com referência geral a uma volumosa quantia de dinheiro.

(c) Marcos 12.42e (ARA) Vindo, porém, uma viúva pobre, depositou duas peq uenas

m oed as correspondentes a um quadrante.a (NTLH) Então chegou uma viúva pobre e pôs na caixa duas m oedi-

nhas de p ouco valor.

(d) Mateus 18.24-28- (ARA) ...trouxeram-lhe um que lhe devia d ez m il ta len to s ...encon­

trou um dos seus conservos que lhe devia cem d en ários;...* (NTLH) ... trouxeram um que lhe devia m ilh õ es de m oed as de

p rata ...encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem m oedas de p ra ta .

Resumc-Dos exemplos apresentados acima, pode-se deduzir que existem três formas bá­

sicas de traduzir pesos, medidas e moedas:1. Manter a palavra do original ou traduzi-lo literalmente. Por exemplo, de­

nário, côvado, etc. A desvantagem deste método é que os que leem a tra­dução não sabem qual é a quantidade ou o tamanho referido no original. A tradução não faz sentido. Mas, algumas línguas podem ter, em seu sistema tradicional, equivalentes bem próximos da ideia original. Um côvado equiva­le a uns 45 centímetros, o comprimento médio do braço de um homem, do cotovelo até a ponta dos dedos. Se na língua receptora existe uma medida equivalente — como de fato existe em muitos idiomas — esta será uma boa solução.

60 COMO TRADUZIR IDEIAS DESCONHECIDAS

2. Expressar a quantidade de dinheiro em moedas modernas ou em um sistema de medidas contemporâneo. Por exemplo, “vinte dólares”, “um centavo”. Em­bora este método possa ajudar as pessoas a compreender o valor das somas em dinheiro, existe o grande problema de que os sistemas e valores monetários mudam com frequência (sem falar da inflação).

3. Dar o valor equivalente, mas evitar termos específicos de nossos dias. Por exemplo, “o salário de um dia” é o valor real de um denário. Comunica a quan­tia real de uma forma exata e compreensível.

Estude cada passagem até encontrar a solução mais adequada. Lembre-se que uma tradução deve ser:

s E xata : Deve comunicar o significado correto.= C lara: Deve ser compreensível para o ouvinte ou leitor.• N a tu ra l: Deve soar natural na língua e deve ser apropriada para a

situação.

Exercício 18» Indique como seria possível traduzir os exemplos dados acima para a língua que

você fala.

Capítulo 3

Como estudar o mmtmcado de um termo1. Significados que não correspondem exatamente ao significado originai

Exemplo 1:Apresentamos aqui três frases na língua mbembe da Nigéria, com tradução ao

português.

(a) ochi eten “ele come carne”ele-come “eten”

(b) owa eten “ele apanha um p eixe”ele-apanha “eten”

(c) eten ndo kk’erobha z’egba“esse anim al correu/ fugiu para o mato”

“eten”correu/ fugiu

ao-bosque

O que significa a palavra e íen (em tradução ao português)?

« Na frase (a), significa “carne”, s Na frase (b), significa “peixe”.» Na frase (c), significa “animal”.

O significado da palavra eten na língua mbembe abrange três termos em portu­guês: carne, p eixe, anim al. Quem traduzir do mbembe ao português vai precisar de três palavras diferentes para traduzir o termo eten , segundo o contexto em que o termo é usado.

Isto serve para ilustrar que as palavras de um a língu a não têm corres­p ond ên cia exata com as palavras de outra língua.

Outros exemplosEm português existem os termos tecid o e pano, e na língua hausa há três vo­

cábulos correspondentes:

9 zan e (pano que se ata à cintura) e yadi (tecido que se compra por metro)» kyalle

Na língua mundu (Sudão) existe a palavra go, e em português há três termos que abrangem o mesmo significado:

s capim/relva » flores ® plantas

52 COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO

Todas estas três palavras se traduzem por go na língua mundu.No árabe do Sudão existe a palavra m a ra , e no grego o termo gunê, e para este

termo há duas palavras em português:

= esposa 3 mulher

No árabe sudanês (e muitas outras línguas africanas) existe uma palavra, a sm a , que tem dois equivalentes em português:

s ouvir5 compreender

O termo a s m a poderia ser traduzido em português como “ouvir”, “compreen­der” ou até “obedecer”, dependendo do contexto.

Na língua mbembe existe a palavra o k o ra s para a qual há três nomes de cores em português:

s vermelho laranja

s amarelo

Semelhantemente, há na língua mbembe uma palavra, o b in a , para a quai exis­tem três palavras em português:

5 verde ® azul = preto

Algumas línguas têm mais termos que outras para designar as cores.

L em bre-se;Já que não existe correspondência exata entre as palavras de diferentes

línguas, uma determinada palavra da língua-fonte pode, às vezes, ter vá­rias traduções na língua receptora.

Uma palavra deve ser traduzida sempre de acordo com o significado que tem no contexto específico.

2. Palavras com sentidos distintosNa mesma língua, uma palavra pode ter diversos significados.

Exemplos dc- português;1. A fc-oca é a abertura do tubo digestivo dos seres humanos e outros animais.

Mas o termo significa também um lugar em formato circular que permite a entrada e saída de algo (como, p.ex., a boca de um túnel). E, num fogão, é a abertura por onde a chama sai e entra em contato com a panela.

COMO ESTUDAR O SiGNiF CADO DE UM TERMO 63

2. O o s é um membro do corpo, mas pode ser também a parte de baixo de um objeto, a parte sobre a qual esse objeto de apoia (p.ex., o pé da mesa). E. tam­bém, uma medida usada em alguns países, equivalente a pouco mais de 30 centímetros.

3 , p a ta é a fêmea do pato, mas pode ser também o pé de um animal (p.ex., a pata do boi).

Observe que é o co n te x to que dá a determinada palavra este ou aquele sentido.

LsiTibrs=ssAo traduzir de uma língua a outra, é provável que os diversos significa­

dos de determinado termo tenham de ser traduzidos por várias palavras distintas na língua receptora.

Exercício 7s Escreva uma tradução na sua língua para cada uma das palavras dos exemplos

anteriores:

(a) boca_______________________________________ ___________ __________boca (de um fogão)______________________________ __________________

(b) p é___________________________________ ___________________________pé (da m esa)_____________________________________________________pé (m edida)_________ _______ ___________________________ _______ _

(c) pata ______ _____________________________________ _________________pata (de um anim al)____________________________________ __________

e É provável que algumas destas palavras tenham de ser traduzidas por termos di­ferentes na língua que você fala, dependendo do significado que têm no contexto da língua-fonte.

Lem bre-se;Na sua tradução, sempre leve em conta o sentido da paiavra no con­

texto específico em que aparece.

Exercício 2= Dê írês exemplos de palavras em sua própria língua que tenham vários sentidos

diferentes. Por exemplo, em uma determinada língua:

(a) o g b a íig b an g pode significar:1. “teto de zinco de uma casa”2. “uma bacia esmaltada”

64 COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO

(b) fc=hnc= pode significar:1. “limpar/passar um pano” como em o ío n n o o k p o k o ro . “ele limpou a mesa”2. “passar a ferro" como em o fo h n o íb a ra , “passou a roupa”3. “sacrificar” como em o fo n n o e ja , “ele ofereceu um sacrifício"

NOTA: Em muitas línguas não-europeias, o to m que se dá a uma palavra ao pronunciá-la pode alterar seu significado. Por exemplo, em uma língua, èfá (com tom baixo-alto) significa “cachorro”, ao passo que éfà (tom alto-baixo) significa “poder”. Nestes exemplos, n ã o se tem sentidos diferentes da mesma palavra, mas palavras completamente distintas.

L em bre-se:As vezes o tradutor, quando traduz de um idioma que não seja sua

língua materna, não se dá conta dos muitos sentidos que determinada palavra tem na língua-fonte. E provável que só pense no significado mais comum, e que traduza esse significado sem se dar conta de que a palavra pode significar coisas totalmente distintas em outros contextos.

CUIDADO: Procure reconhecer o sentido correto de cada palavra em seu contexto específico.

Exercício 3= Nos exemplos seguintes, verifique cuidadosamente o significado real de cada

palavra sublinhada. Consulte um bom dicionário em português. Como você tra­duziria as palavras sublinhadas para a sua própria língua?

(a) Gálatas 4.27: Alegra-te... exulta e clama... (ARA)(b) Atos 7.35: ... o anjo que apareceu [a Moisés] no espinheiro. (NTLH)(c) Lucas 6.44: Não é possível... colher uvas de pés de urtiga. (NTLH)(d) Hebreus 11.7: Noé... aparelhou uma arca... (ARA)(e) Hebreus 9.4: ... a arca da aliança... (ARA)(f) Hebreus 9.4: ... as tábuas da aliança... (ARA)(g) Hebreus 3.9: ... me desafiaram e me puseram à prova. .. (NTLH)(h) Atos 9.18: ... lhe caíram dos oihos algo como escamas... (ARA)(i) Atos 19.24: ... Demétrio fazia pequenos modelos de prata do templo da deu­

sa Diana... (NTLH)(j) Atos 27.33: ... Paulo insistia com todos para que tomassem alimento. (BJ)

Exercício 4: Um estudo da palavra grega oikoç ("casa”)= Procure os seguintes versículos nas traduções ARC, ARA e NTLH.= Escreva (em uma folha separada) como foi traduzida a palavra “casa” em cada

uma dessas traduções da Bfblia.

COMO ESTUDAR O SIGNiFICADO DE UM TERMO 65

* Pense no significado que tem esse termo em cada uma das passagens, e depoisescreva a palavra que você usaria ao traduzir o texto para a sua própria língua.

(a) Marcos 2.11(b) Lucas 1.27(c) Atos 16.31(d) Atos 2.36(e) Mateus 23.38

3. Como se expressa o significado ds um tsrmo?Uma maneira de expressar o significado de uma palavra é dividir esse significado

em seus vários componentes (fazendo o que, tecnicamente, se chama de “análise componencial”) :

Exemplos:s touro: “adulto macho da espécie bovina”® vadiar: “andar à toa ou ficar sem trabalhar”« cheiroso: “que tem aroma agradável”* feder: “ter mau cheiro”

Uma palavra se define pela indicação dos vários componentes de seu significado. A definição do dicionário dá as diferentes partes do significado das palavras. O nome técnico para cada uma dessas partes é "componente de significado”.

Apresentamos a seguir alguns exemplos de definições tiradas de um dicionário da língua portuguesa. Verifique estes exemplos em seu próprio dicionário e compare as definições:

* cardigã: casaco ou suéter tricotado sem gola, com decote redondo ou em V que se abotoa até o pescoço ou é aberto de alto a baixo na frente

s favela: Conjunto de habitações populares que utilizam materiais im­provisados em sua construção tosca ou simples

* queimar: destruir pelo fogo* víbora: serpente venenosa, dotada de cabeça moderadamente grande,

mais larga que o pescoço* dançar: executar movimentos corporais de maneira ritmada, em geral

ao som de música

Um dos métodos sugeridos no capítulo anterior para a tradução de id e ia s d e s ­co n h e c id as é usar uma “frase descritiva”. Uma frase descritiva é um desdobra­mento, ou subdivisão, da palavra nos componentes de significado que sejam mais importantes no contexto. Este método também pode ser empregado para traduzir iermos que expressam ideias conhecidas, mas que não possuem equivalentes exatos na língua receptora.

66 COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO

Exercício 5s Subdivida as palavras sublinhadas e dê seus componentes de significado. (Con­

sulte um dicionário para verificar o significado das palavras):(a) Lucas 2.27: pais(b) Lucas 1.27: virgem(c) 2Coríntios 4.11: nossa canis mortal(d) 2Coríntios 4-17: essa pequena e passageira aflição (NTLH)(e) 2Timóteo 1.5: tua avó(í) Hebreus 6.14: certamente, te abençoarei e te multiplicarei.(g) Hebreus 11.9: peregrinou como estrangeiro na terra prometida(h) 3 João 7: nada recebendo dos gentios(i) Marcos 6.56: nas aldeias, cidades...(j) Mateus 10.15: no Dia do Juízo

Palavras que contêm um componente equivalente a "dizer.

Existem muitas palavras que trazem implícita a ideia de dizer ou pensar. Em algumas línguas, essas palavras devem ser expressas por meio de citações diretas.

Exempios

(a) Eu me perguntava se isso era ceito.—>■ Dizia-me a mim mesmo: "isso é certo?”

(b) Ele perguntou se o homem tinha vindo.—*• Ele disse: “O homem já veio?”

(c) Ela exclamou, admirada.—> Ela disse: “Puxa vida!”

(d) Jacó abençoou cada um dos filhos de José (Hebreus 11.21).—> Jaco disse a cada um dos filhos de José: “Que Deus te abençoe!”

Esta forma de expressão não se emprega, porém, em todas as línguas. Mas, em muitas delas, é às vezes mais natural e idiomático empregar uma citação direta para expressar esse tipo de ideia, em certos contextos. Procure descobrir se existem exem­plos deste uso em sua própria língua materna.

Exercício 65 Quais dos seguintes verbos traz implícito o componente “dizer”?

(a) caminhar(b) elogiar algo(c) perguntar-se se algo é certo

COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO 67

(d) seguir(e) queixar-se(f) cair(g) aconselhar alguém a fazer determinada coisa

Exercício 19 Nas seguintes passagens:

■ Sublinhe as palavras que trazem implícito o componente “dizer”.■ Faça de conta que está traduzindo para uma língua que usa citações diretas

para expressar tais palavras. Expresse em português as palavras que sublinhou, usando uma citação direta. Não se esqueça de verificar o contexto.

(a) Atos 10.48a: Então [Pedro] mandou que aquelas pessoas fossem batizadas em nome de Jesus Cristo.

(b) Atos 10.48b: E elas pediram a Pedro que ficasse ali alguns dias.(c) Atos 16.39: E [as autoridades] foram lhes pedir desculpas. Então os tiraram

da prisão e pediram que fossem embora da cidade.(d) Atos 18.20: Eles lhe pediram que ficasse com eles mais tempo, porém ele não

quis.

Exercíeis 8• Siga as mesmas instruções do exercício 7.

(a) Mateus 15.31: E todo o povo louvou ao Deus de Israel.(b) Marcos 5.10: E [o homem possesso de espírito imundo] pedia com muita insis­

tência a Jesus que não expulsasse os espíritos maus para fora daquela região.(c) Marcos 5.13: Ele [Jesus] deixou (ou: Jesus o permitiu.) (Compare Mateus

8.31-32.)(d) Marcos 14.5: Eles criticavam a mulher com dureza.(e) Marcos 14.31: De nenhum modo te negarei.(f) Marcos 14.70: Mas ele negou outra vez.(g) João 8.11: Jesus disse: “Pois eu também não condeno você”.(h) João 10.36: Vocês dizem que blasfemo contra Deus.(i) ICoríntios 11.22: O que é que vocês esperam que eu lhes diga? Querem que

os elogie?(í) IJoão 1.9: mas se confessarmos os nossos pecados a Deus.

4. Um método para comparar o significado das palavrasMuitas vezes, um procedimento útil é comparar e estudar diversas palavras de

uma língua que têm significados parecidos. Ao comparar tais palavras, pode-se ver o significado exato de cada uma delas e as diferenças que existem entre elas. No que segue, há uma explicação sobre como se faz isio:

68 COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO

1. Faça uma lista de palavras com significado parecido. Escreva-as na margem esquerda de uma folha de papel, deixando um espaço de duas ou três linhas para cada palavra.

2. Escreva uma definição para cada palavra, subdividindo os componentes de significado. Compare as palavras para certificar-se de que definiu com exati- dão em que sentido as palavras são diferentes entre si.

3. Verifique se foram anotadas todas as características importantes que mostram as diferenças de significado entre as palavras. (Se não se encontrarem diferen­ças entre duas palavras, isto significa que elas são sinónimas e podem ser tradu­zidas como um só termo na língua receptora, pelo menos em alguns contextos.)

Exemplo 1:Em português se empregam diversas palavras para descrever os lugares onde

existe água. Por exemplo:

= rio = córrego s lago = lagoa = poço = mar

Um ria é um curso de água doce em que se tem uma grande quantidade de água. Um có rreg o ou riacho é um rio pequeno.Um lag o é uma extensão de água doce cercada de terra.Uma la g o a é uma extensão de água doce de tamanho menor que um lago.Um p o ço é um grande buraco cavado na terra para tirar água.Um m a r é uma grande extensão de água salgada.Ao comparar as palavras, pode-se constatar a diferença exata de significado en­

tre elas. É importante que o tradutor conheça essas diferenças na língua-fonte para traduzir corretamente o significado.

Na língua receptora é possível fazer um estudo semelhante das palavras que têm a mesma área de significado.

Por exemplo, na língua mbembe há três palavras relacionadas aos termos acima referidos:

= epe abrange o significado dos termos “lago”, “lagoa” e “poço” em por­tuguês. De fato. emprega-se com referência a qualquer extensão de água parada;

s ekeka significa, grosso modo, o mesmo que “córrego" em português, ou seja, um rio pequeno:

COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO 69

® oraanga significa uma grande extensão de água, seja ela salgada ou doce. O termo “mar” se expressa em mbembe como oraanga kwiden: “rio grande”.

Este estudo revela que não há uma exata correspondência entre as palavras do mbembe e as do português. O tradutor deve ter muito cuidado, portanto, na escolha do termo apropriado em cada contexto.

Exempio 2:Em português há diversos termos para expressar distintas formas de cozinhar

algo. Alguns desses termos são:

s assar = cozinhar e fritar 9 ferver 9 torrar

A ssar significa “preparar o alimento ao calor do fogo (geralmente num forno)”. Cozinhar significa “preparar alimentos pela ação do fogo (geralmente numa

panela)”.Fritar significa “cozinhar algo em azeite, óleo ou manteiga”.Ferver significa “cozinhar algo em líquido fervente”.Torrar significa “queimar algo levemente ao fogo direto sem usar óleo nem

outro líquido”.

Exercício 99 Faça uma lista de todas as palavras de sua língua que expressem maneiras dis­

tintas de cozinhar algo. Mostre as diferenças entre esses termos e compare seu significado com o dos termos em português acima mencionados.

Exercício 109 Faça uma lista de todas as palavras de sua língua que comuniquem a ideia de

surpresa ou espanto. Mostre como esses termos se diferenciam entre si.

Exercício 11e Compare o significado das seguintes expressões em português:

■ ele ficou surpreso■ ele ficou maravilhado■ ele ficou chocado• ele ficou confuso

70 COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO

Exercício 12* Faça uma análise semelhante dos seguintes grupos de palavras em português.

Consulte seu dicionário.

(a) engano, erro, falha, falta, delito, crime, pecado(b) provérbio, parábola, conto, história, adivinhação, alegoria, fábula(c) falar, gritar, berrar, chorar

5. Palavras que combinam ou vão juntas

Exemplo 1:Em português, é idiomático ou bem comum dizer algo como “ele está sofrendo”

ou “ele está passando por muitos sofrimentos”. Em muitas outras línguas, é natural dizer “ele vé o sofrimento” ou “ele b e b e o sofrimento”.

Muitas palavras têm um “sócio natural”, uma palavra que as acompanha. Dize­mos que elas vão juntas ou combinam bem.

Em todas as línguas, a co lo cação ou ec=m binação natural de determinado vocábulo é formada pela palavra, ou palavras, com as quais ele comumente aparece. Por exemplo, as palavras “pão com manteiga” em geral vão juntas, e aparecem nesta ordem, em português. Outras combinações naturais são:

* “cantar uma canção”» “guardar a lei”= “dirigir um carro”

Muitas vezes, o significado da palavra muda, se a colocação/combinação dela for outra.

Exsmoio 2i

Na língua mbembe, a palavra chi, “comer”, pode aparecer em diferentes combi­nações:

s chi odaang = “comer ‘fufu’” (comer fufu)- chi akpuka - “desviar dinheiro” (comer dinheiro)* chi eden = “ir primeiro” (comer caminho)= chi ngwo = “deixar-se subornar” (comer suborno)= chi apken = “levar uma vida de fartura” (comer vida)* chi onong = “enganar alguém” (comer pessoa)

Exercício 13= Como se diz “comer” em sua língua materna?- Faça uma lista das palavras com as quais se combina naturalmente o verbo “comer”.

- Dê uma equivalência palavra por palavra em português.

* Dê, em português, uma tradução idiomática ou natural que mostre o seu signi­ficado.

COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO 71

L em bre-se:Um erro muito comum dos tradutores é fazer uma tradução excessiva­

mente literal, dando uma equivalência “palavra por palavra” para cada grupo de palavras da língua-fonte. O resultado é uma tradução confusa e pouco natural.

Evite o equívoco de traduzir literalmente grupos ou combinações de palavras da língua-fonte, se a ordem das palavras não soar natural na língua receptora. Pelo contrário, procure o agrupamento ou a ordem de palavras que seja mais natural na língua receptora.

Mais exemplos de palavras que não vão juntas em outras línguas:

(a) Marcos 1.6• português: E com ia gafanhotos e mel silvestre.s jukum (Nigéria): E com ia gafanhotos e beb ia mel silvestre, e Em algumas línguas se diz chupar ou lam ber mel.

(b) Marcos 1.19■ português: consertavam as redes e jukum: atavam as redes

(c) Lucas 5.9s português: apanhar peixes *> muitas línguas: m a ta r peixes

(d) Marcos 6.2= português: E que sabedoria é esta que lhe foi d a d a .. .?• ezaa (Nigéria): E quem lhe en sin ou esta sabedoria?

(e) Marcos 3.6s (NTLH) começaram a fa*er p lan os- achuar (Peru): começaram a fazer palavras

Exercício 14• Traduza as seguintes frases para a sua língua. Observe os casos em que o agrupa­

mento ou a combinação natural das palavras não é igual ao português.

(a) Comeu uma laranja.(b) Chupou cana de açúcar.(c) Abriu o guarda-chuva.(d) Construiu uma barraca.

72 COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO

(e) Fumou um cigarro.(f) Carregou sua espingarda,(g) Ele está resfriado.(h) Está com frio.(i) Está com fome.(j) Fez um sacrifício.(k) Fez um ídolo.(1) Deu conselhos aos seus filhos.(m)Deu início à cerimónia.(n) Ela deu à luz um filho.

Exercício 15e Traduza as seguintes frases para sua própria língua, usando sempre a ordem/

combinação natural das palavras em sua língua. Dê uma tradução literal da sua versão em português.

(a) Mateus 3.4: ... mel silvestre...(b) João 2.10: ... o bom vinho... o (vinho) inferior(c) Mateus 26.75: ... chorou amargamente(d) Atos 15.39: tiveram uma discussão tão forte... (NTLH)(e) Tito 1.13: ... repreende-os severamente...(f) Judas 13: ... a negridão das trevas...(g) Apocalipse 11.19: ... uma forte chuva de pedra. (NTLH)

Exercício 16 = Siga as mesmas instruções do exercício 15.

(a) Mateus 27.48: ... um deles correu a buscar uma esponja e, tendo-a embebido de vinagre e colocado na ponta de um caniço, deu-lhe a beber.

(b) Mateus 27.54: ... eles ficaram com muito medo... (NTLH)(c) Mateus 28.8: [As mulheres] estavam com medo, mas muito alegres. (NTLH)(d) Marcos 14.24: Isto é o meu sangue..., derramado em favor de muitos.(e) Lucas 3.4: Preparai o caminho do Senhor;...(f) João 3.8: O vento sopra onde quer,...(g) Hebreus 8.5: ... como foi Moisés divinamente instruído, quando estava para

construir o tabernáculo...(h) Hebreus 8.8: ... firmarei nova aliança com a casa de Israel...

Lembre-se:Verifique se cada palavra está “encaixada” de uma forma natural no

seu contexto.

COMO ESTUDAR O SIGNIFICADO DE UM TERMO 73

Evite traduzir literalmente as combinações de palavras da língua-fonte, se tais agrupamentos não forem naturais na língua receptora.

6. Procurar a ordem natural das palavrasEm quase todas as línguas existem palavras que se combinam frequentemente

com outras para formar o que podemos chamar de “frases feitas”. Nesses casos, uma ordem costuma parecer mais natural de que a outra.

Por exemplo, em português a ordem natural é:

s s e n h o ra s e s e n h o re s : raramente, "senhores e senhoras”. Mas em algumas línguas seria esta a ordem natural. (Em algumas línguas de África oriental se diz “homens e mães”) .

= p ã o co m m anteiga: nunca “manteiga com pão”, s p re to no branco: nunca “branco no preto”® o s céus e a terra: nunca “a terra e os céus”

A ordem natural pode ser diferente em outras línguas.

Exercício 17« Qual é a ordem natural dos seguintes grupos de palavras na sua língua?

(a) Génesis 2.24: Por isso, deixa o homem p a i e m ãe ...(b) Atos 7.2: I rm ã o s e p a is , escutem! (NTLH)(c) 2Timóteo 1.3: ... me lembro de ti nas minhas orações, n o ite e dia . (ARA;

veja também a NTLH)(d) 2Reis 9.25: ... lembra-te de que, indo eu e tu , juntos, montados...

Lembre-se:Verifique se as palavras estão na ordem natural.A ordem natural na língua receptora pode ser diferente daquela que

aparece na língua-fonte.

Lembre-se:Quando se estuda o significado de um termo, seja na língua-fonte ou na

língua receptora, é preciso pensar nos seguintes aspectos:1. Os diversos sentidos da palavra. É preciso perguntar: a palavra tem

significados distintos em diferentes contextos?2. Palavras de significado parecido. Aqui, é preciso perguntar: em que

elas se diferenciam, no que diz respeito ao seu significado?3. As demais palavras com as quais a referida palavra ocorre. Neste caso,

a pergunta é: qual é a ordem ou combinação natural para essa palavra?

Como traduzir termos bíblicos especiais1. Exemplo: Marcos, capítulo 1

Os versículos que seguem foram tirados do primeiro capítulo do Evangelho se­gundo São Marcos (tradução ARA). Sublinhe todos os exemplos de IDEIAS prova­velmente DESCONHECIDAS por muitas pessoas da sua região. (Pense especialmente nos não-crentes que não receberam uma formação cristã.)

1 Princípio do evangelho do Jesus Cristo, Filho de Deus.2 Conforme está escrito na profecia de Isaías: Eis que envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho;3 voz do que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas; 4 apareceu João Batista no deserto, pre­gando batismo do arrependimento para remissão de pecados...”9 Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia, e por João foi batizado no rio Jordão. 10 Logo ao sair da água, viu os céus ras­garem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele. 11 Então foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo.

E logo o Espírito o impeliu para o deserto, *3 onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam.21 Depois, entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, foi ele en­sinar na sinagoga. 22 Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

É bem provável que muitas das palavras que você sublinhou têm uma relação com as crenças e a religião de judeus e cristãos. É provável que essas ideias fossem desconhecidas na língua receptora até a chegada do cristianismo. (Isto depende de cada situação. Em algumas regiões islâmicas já se conhecem algumas destas ideias.)

É possível que na lista de palavras sublinhadas estejam as seguintes:

Versículos 1-4: s evangelho = Cristo s profecia ® Senhor e batizar ® pregar e pecados e perdoar

76 COMO TRADUZÍR TERMOS BÍBLICOS ESPECIAIS

Versículos 9-12:• céus s Espírito ® Satanás s anjos

Versículos 21-22:® sábado ® sinagoga

Todas estas palavras são term os bíblicos especiais e formam uma classe específica de ideias desconhecidas. Para se alcançar a comunicação plena da mensagem cristã, é muito importante traduzir corretamente estes term os bíblicos especiais. Uma esco­lha errada de termos resultará em falta de compreensão e distorção da mensagem.

Nota importante:Para cada tradução existe uma situação própria ou específica que não será idên­

tica à de outra tradução.

1. É provável que em algumas regiões ainda não existam crentes, ou que os cren­tes sejam muito poucos, faltando, portanto, termos que expressem essas ideias bíblicas especiais.

2. Em outras regiões o cristianismo pode ter-se estabelecido há bastante tempo, e já se conhecem alguns termos bíblicos. Entretanto, será necessário estudar esses termos e avaliá-los com cuidado para verificar se realmente são os me­lhores para comunicar com exatidão a mensagem original.

Se alguns desses termos já são usados na comunidade linguística, os problemas mais comuns podem ser:

® O uso de várias palavras para referir-se a uma mesma ideia. As vezes os habitantes de uma cidade ou região empregam u m termo, ao passo que os moradores de outros lugares ou os falantes de um dialeto usam outro termo. As vezes, as diferentes denominações ou igrejas empre­gam palavras diferentes. O tradutor terá de decidir qual desses termos vai usar na tradução.

® O fato de uma palavra de uso geral na igreja não ser a mais apropriada para a tradução, por ter algum significado erróneo.

Cabe destacar que muitas pessoas têm uma preferência acentuada pelo uso de determinados term os b íb lico s e sp e c ia is em vez de outros. Portanto, as decisões do tradutor devem ser tomadas depois de cuidadosa consulta com líderes da igreja e outras pessoas.

COMO TRADUZIR TERMOS BÍBUCOS ESPECIAIS 77

2. Duas classes ds termos bíblicos especiaisExistem dois tipos de te rm o s b íb lico s e sp ec ia is :

1. Palavras que (com raríssimas exceções) têm o mesmo significado em todos os contextos em que aparecem. Por exemplo: sábado, sinagoga, Espírito Santo, apóstolo.

2.?a\avras que mudam àe sigmívcaào seguivào o contexto em que ocorrem. ?or exemplo, crer, carne, espírito, graça, lei. E provável que essas palavras tenham de ser traduzidas de maneiras distintas em diferentes contextos, para que co­muniquem o sentido correto em cada contexto.

3. Termos bíblicos especiais com um só sentidoEm primeiro lugar, vejamos as palavras que têm o mesmo significado em todos os

contextos. As palavras com vários significados serão estudadas mais adiante.O estudo se limitará a te rm o s b íb lico s e sp e c ia is que aparecem nos quatro

Evangelhos. Os que aparecem nas Cartas do Novo Testamento e em outros livros serão estudados mais adiante.

4. Como traduzir termos bíblicos especiaisNo processo de traduzir te rm o s b íb lico s e sp e c ia is , o tradutor deve seguir

q u a tro p asso s :

Passo 1: £m primeiro lugar, estuas o significado do termo originai.O primeiro passo é d e s c o b r ir o sig n ificad o . Procure o termo em:

e seu DICIONÁRIO BÍBLICO, MANUAL BÍBLICO, DICIONÁRIO TEOLÓ­GICO, ou BÍBLIA DE ESTUDO

= sua CONCORDÂNCIA. O propósito de consultar uma concordância é descobrir os diversos contextos em que determinado termo pode ocorrer.

Se você descobrir que o termo tem mais de um sentido, é provável que tenha de seguir os três passos seguintes para cada um dos sentidos individualmente.

Passo 2: Compare o term o com outros termos bíb-Hoos que têm um significado parecido.Nas listas que são fornecidas mais adiante, nos Exemplos 1 e 2, aparecem termos

com significado semelhante. Ao comparar os termos que têm significado parecido, o tradutor poderá ver com mais clareza as diferenças de significado (ou seja, os “com­ponentes contrastivos”) que existem entre eles, e isso o ajudará a compreender mais facilmente o significado exato de cada um.

78 COMO TRADUZIR TERMOS BÍBLICOS ESPECIAIS

Passo 3: Pense em possíveis formas de expressar a ideia s escolha

provisoriamente a mais apropriada.Lembre-se das cinco formas de traduzir as IDEIAS DESCONHECIDAS. Faça

uma lista de possíveis traduções da referida ideia, considerando soluções alter­nativas.

Estude a sua lista de possíveis traduções. Procure avaliar as respectivas alterna­tivas. A seguir há uma lista de pontos que você deve considerar para encontrar a tradução mais adequada:

1.A palavra ou frase p ro p o s ta faz se n tid o ? Em particular, como será entendida pelas pessoas não-crentes e por aquelas que não tiveram formação cristã?

2. O te rm o p ro p o s to d e s ta c a o c o m p o n e n te o u a p a r te m a is im p o r­ta n te d o s ig n ificad o d o te rm o o rig in a l? Provavelmente será impossível comunicar todo o significado do termo original, mas será necessário comuni­car a parte principal do significado.

3. O te rm o p ro p o s to p a r a a s u a t r a d u ç ã o te m u m s ig n if ic a d o q u e c o n tra d iz o s ig n if ic a d o d o te rm o o rig in a i? Embora o termo não abranja todo o significado do termo original, é provável que, por meio do ensino nas igrejas, esse significado seja ampliado aos poucos. M as é im p o r ta n te n ã o e s c o lh e r u m a p a la v ra co m s e n t id o c o n tr á r io ao s ig n if ic a d o d o te rm o o r ig in a i, o u in c o m p a tív e l co m e s te . E pos­sível desenvolver e ampliar o significado de uma palavra, mas é impossível eliminar os significados que os falantes da língua já considerem parte da referida palavra. O tradutor deve estudar atentamente certas palavras da língua receptora.

4. Outros fatores que devem ser levados em consideração:- As traduções da palavra em questão que aparecem em outras versões da

Bíblia conhecidas da região, como, por exemplo, o português.= C rité rio s d e n o m ln ac io n a is . O tradutor deve traduzir de forma

correta, mas, quando existem opiniões contrárias ou o assunto for con­trovertido, ele deve evitar termos que possam ofender as diferentes de- n.ominações da região.

e Deve-se levar em conta as opiniões dos líderes das igrejas e de outras pessoas, bem como outros critérios ou sentimentos predominantes na região.

- Deve-se apresentar uma lista das possíveis traduções dos termos-chavepara aprovação da equipe de tradução e, quando apropriado, a decisão final deve ser tomada por esta equipe.

COMO TRADUZIR TERMOS BÍBLICOS ESPECIAIS 79

Passo 4: Depois de escolher uma alternativa provisória, teste-a em sua tradução. Assim descobrirá se ela realmente comunica o significado

correto nos diferentes contextos em que ocorre o termo.Ao testar o termo escolhido, o tradutor deve perguntar: Como os não-crentes

entenderão o termo? O termo é aceitável aos líderes da igreja e a outras pessoas?Quando houver desacordo, não apresse a decisão. Deixe que as pessoas expres­

sem suas opiniões. A oração e a troca de ideias permitirão chegar a um acordo amis­toso e a tomar a decisão correta.

É muito útil preparar uma lista de termos bíblicos especiais para que os líderes da igreja e os que revisam a tradução possam estudá-los. Assim, as pessoas terão opor­tunidade de oferecer sugestões. Uma vez obtido um acordo, pode-se divulgar a lista entre os pastores e professores, para que todos possam começar a usar os termos de forma simultânea e definitiva.

Advertência:A lista deve conter apenas termos com um único sentido. Não deve

conter termos que possam ter traduções diferentes segundo o contexto em que aparecerem.

Lembre-se:Para decidir como traduzir termos bíblicos especiais, o tradutor deve

fazer o seguinte:1. Primeiro, estud ar bem o significado do termo original.2. C o m p a ra r o termo com outros termos bíblicos de significado seme­

lhante. Na lista que se apresenta mais adiante, aparecem juntas as palavras com significado parecido.

3. Pensar nas possíveis traduções para a língua receptora e escolher provisoriamente a que achar mais apropriada. Também deve conside­rar as diversas formas possíveis de traduzir ideias desconhecidas.

4. T es ta r o termo escolhido na tradução de algumas passagens.

Exercício 1s Para cada palavra que aparece na lista que segue, faça uma análise do seu signi­

ficado no Novo Testamento. Para esse fim, consulte:■ um dicionário bíblico;» uma concordância bíblica,

e Para cada palavra abaixo, faça uma breve lista dos componentes de significado que lhe parecerem mais importantes:■ profeta■ sacerdote

80 COMO TRADUZIR TERMOS BÍBLICOS ESPECIAIS

= cruz 3 evangelho = sábado = anjo B Satanás

5. Comparação de palavras com significado semeíhsnteAs palavras de significado semelhante devem ser estudadas juntas. A compara­

ção entre as palavras ajudará o tradutor a compreender melhor:

1. em que aspectos os significados das diferentes palavras são os mesmos; e2. em que aspectos os significados das palavras são diferentes.

Exemplo 1:As palavras s in ag o g a , te m p lo e ta b e rn á c u lo são semelhantes, pois todas

elas se referem a um prédio ou estrutura usada para atividades religiosas. As dife­renças de significado entre as três palavras podem ser expressas da seguinte forma:

Tabernáculo Templo Sinagoga

lugar ou espaço que os judeus utilizavam vara fins religiosos

lugar onde Deus es­tava presente de uma maneira especial

lugar onde Deus estava presente de uma ma­neira especial

lugar onde as pessoas se reuniam para adorar a Deus

abrigo provisório edifício permanente edifício permanente

havia só umhavia um só (em Jeru­salém)

havia muitas; todas as ci­dades e povoados tinham a sua própria sinagoga

as pessoas iam ao tabernáculo para sacrificar animais

as pessoas iam ao tem­plo para sacrificar animais, orar, ensinar e aprender, e para quei­mar incenso

as pessoas iam as sinago­gas para ouvir a leitura da Lei de Moisés e para orar (mas não se ofere­ciam sacrifícios)

(a)

(b)

(c)

(d)

(e)

Levando em conta este estudo comparativo, enumere três maneiras possíveis de traduzir estes três termos na sua própria língua. Coloque-os na ordem de preferência.

Exemplo 2:Os termos an jo , e s p ír i to m a lig n o , d e m ó n io e S a ta n á s se referem a seres

espirituais. Todos estes são entes pessoais; podem falar e agir. O quadro seguinte mostra algumas das diferenças entre estes termos.

COMO TRADUZIR TERMOS BÍBLICOS ESPECIAIS 81

(a)

(b)

(c)

(d)

(e)

(f)

Anjo e s p ír i to m a lig n o / im u n d o ,

o u dem ôxiio

jâ tâ llaS

mensageiro de Deus, serve a Deus no céu e na terra

serve a Satanás Satanás foi um anjo que se rebelou contra Deus e agora é o líder dos espíri­tos que se rebelaram jun­to com ele.

traz mensagens de Deus

atua em oposição a Deus

tenta levar as pessoas a desobedecer a Deus

não pode entrar em uma pessoa

pode entrar em uma pessoa e controlá-la

bom mau mau, feroz, perigoso, as­tuto

pode assumir forma visível

em geral não é visível pode tornar-se visível

são muitos; têm di­versas categorias e são de diferentes tipos

são muitos; têm diver­sas categorias e são de diferentes tipos (pro­duzem loucura, perda da fala, etc.)

e um so

Uma comparação entre estes termos mostra que não existem diferenças impor­tantes entre “espírito maligno/imundo” e “demónio”. Ambos são nomes distintos para os mesmos seres. Na língua receptora pode-se usar o mesmo termo para tradu­zir as duas palavras.

Exercício 2©Aplique os passos 1, 2 e 3 às palavras da seguinte lista:

(a) levita, sacerdote, sumo sacerdote, escriba.(b) apóstolo, discípulo, crente.(c) profeta, anjo, apóstolo, mensageiro(d) evangelho, Escritura, epístola/carta(e) (só para tradutores experimentados) Cristo, Messias, Senhor, Filho do Homem

6. Termos bíblicos especiais que íêm mais de um sentidoJá sabemos que as palavras podem ter vários sentidos diferentes, segundo o con­

texto no qual aparecem. Uma vez que o significado das palavras em uma língua não corresponde necessariamente com o dos vocábulos de outra língua, não raras vezes é preciso traduzir os vários sentidos de um mesmo termo da língua fonte por pala­vras distintas da língua receptora.

Examples 3:O termo grego pneuma tem vários sentidos distintos. A maioria deles pode ser

traduzida por “espírito”.

5 “demónio, espírito maligno”: Marcos 5.13: saindo os e sp ír ito s imun­dos ...

* “anjo, espírito benigno”: Hebreus 1.14: Todos eles são e s p ír i to s que servem a Deus

= “Espírito de Deus, Espírito Santo”: Atos 2.4: E todos ficaram cheios do E sp írito Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Es­p ír i to lhes concedia que falassem.

e “uma parte da personalidade humana”: Mateus 26.41: O e sp ír ito , na verdade está pronto; mas a came é fraca.

* “fantasma, espírito de um morto”: Lucas 24.37,39: Eles, porém, sur­presos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um e sp ír ito ... um e s p ír i to não tem came nem ossos...

Mas outros sentidos do termo grego pneuma não podem ser traduzidos por “es­pírito”; precisa-se, neste caso, de outros termos:

s “vento”: João 3.8: O v e n to sopra de onde quer,...e “sopro/hálito”: 2Tessaionicenses 2.8: ... a quem o Senhor Jesus ma­

tará com o s o p ro de sua boca...

A palavra carne tem diversos sentidos na Bíblia. Três dos mais comuns aparecem a seguir:

1. A substância física do corpo (músculos) que cobre os ossos= Lucas 24.39: ... um espírito não tem carne nem ossos...= João 6.52: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne?

2. Os seres humanos ou as pessoas em geral, em especial quando se usa a expressão “carne e sangue”« Lucas 3.6: ... e toda carne verá a salvação de Deus.= Gálatas 1.16: ... não consultei carne e sangue...

3. Natureza humana corrompida e afastada de Deuss João 8.15: Vós julgais segundo a carne;...* Romanos 7.18: Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita

bem nenhum.

Como você traduziria para a sua própria língua o termo “carne” nestes contextos?Seria possível usar a mesma palavra para todos os sentidos?

82 COMO TRADUZIR TERMOS BÍBLICOS ESPECIAiS

Outros exemplos:Procure as seguintes palavras numa Concordância ou Chave Bíblica. Cada uma

delas tem diversos sentidos, de acordo com o contexto.

s crer* graça « glória

Exercíc-io 3= Faça um estudo das palavras abençoar e bendizer,e Segue uma lista de passagens que contêm os termos ABENÇOAR ou BENDIZER.

Elas exemplificam pelo menos três ou quatro sentidos diferentes. A luz do estudo que você acaba de fazer, escreva o termo que empregaria para traduzir a palavra “abençoar” ou “bendizer” em cada um dos versículos na sua própria língua. Seria possível empregar a mesma palavra em cada contexto?

(a) Génesis 49.28: ... e isto é o que lhes falou seu pai quando os abençoou;... (ARA)

(b) Marcos 10.16: Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, [Je­sus] as abençoava. (ARA)

(c) Lucas 1.64: ... e [Zacarias] falava, louvando [bendizendo] a Deus.(d) Lucas 2.28: ... Simeão o tomou nos braços e louvou [bendisse] a Deus, di­

zendo:...(e) Atos 3.25: “Por meio dos seus descendentes, eu abençoarei todas as nações

do mundo.” (NTLH)(f) Efésios 1.3b: [Deus]... nos tem abençoado por estarmos unidos com Cristo,

dando-nos todos os dons espirituais [toda sorte de bênção espiritual, ARA] do mundo celestial. (NTLH)

(g) Lucas 2.34: Simeão os abençoou, e disse a Maria a mãe de Jesus ...(h) Lucas 24.50: Então os levou para Betânia, e, erguendo as mãos, os abençoou.

(ARA)(i) Lucas 1.68: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel,...(j) Génesis 17.16: [Deus disse a Abraão]: “Eu a abençoarei [a Sara] e darei a

você um filho”. (NTLH)

Exercício 4 (Para tradutoras mais experientes)• Siga as mesmas instruções do exercício 3 (acima) para o termo igreja nos con­

textos que seguem.

(a) Atos 8.1: Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a ig='ejc= em Jerusalém: e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos... (ARA)

COMO TRADUZIR TERMOS BÍBLiCOS ESPECIAIS 83

Como estudar a sua própria culturaPara poder comunicar de forma exata e eficaz o significado do texto na língua

receptora, é preciso estudar a cultura do grupo que fala essa língua. E necessário es­tudar, antes de mais nada, o significado das palavras e expressões que se referem a crenças tradicionais e ao mundo sobrenatural.

1. Por que estudar a cultura da língua receptara?1. Os tradutores da Bíblia, em geral, são pessoas de boa formação académica.

Costumam ter um conhecimento de outras línguas e culturas, além da língua e da cultura em que eles foram criados. Mas seu grau de educação pode pro­vocar, de certa forma, um afastamento da própria cultura materna. E provável que tenham estado muito tempo longe da terra de origem e por isso é preciso que voltem para seu próprio povo para estudar suas crenças e atividades. É provável que precisem redescobrir a forma de pensar dos membros da comu­nidade e sua maneira de usar as palavras. E possível que tenham de descobrir os diferentes significados e as conotações de determinadas palavras. É prová­vel que tenham de redescobrir os pressupostos e os valores dos membros da comunidade, elementos que afetam sua maneira de compreender e interpretar a mensagem que lhes é transmitida.

2. Às vezes o tradutor pensa ter encontrado uma boa forma de traduzir determi­nado termo-chave da Bíblia, mas quando vai testar a tradução descobre que as pessoas entendem algo totalmente distinto do que ele queria comunicar. Por exemplo, para traduzir o termo Cristo para uma das línguas da Nigéria, o tradutor estudou minuciosamente o significado da palavra original e descobriu que significava literalmente “pessoa ungida”. Nessa língua existe uma expres­são equivalente a “alguém que foi ungido” e o tradutor decidiu empregá-la para referir-se a Cristo. Mas quando estudou o termo com mais atenção, desco­briu que, nessa cultura, a palavra “ungido/a” se refere às noivas ungidas com azeite antes das bodas. Portanto, o tradutor se deu conta de que esse termo era totalmente inadequado para referir-se a Ciisto. Se ele não tivesse estudado a sua própria cultura, teria cometido um grave erro.

Lembre-se?Embora você seja falante nativo da língua para a qual está traduzindo,

é preciso que estude a sua própria cultura.

2. Como estudar a cultura de sua própris língua1. Passe algum tempo com os anciões da comunidade. Peça que eles expliquem

o significado das palavras e frases que têm relação com as crenças e costumes tradicionais. Escute atentamente as discussões desses idosos, pois assim você

Capítulo 10

86 COMO ESTUDAR A SUA PRÓPRIA CULTURA

aprenderá sobre os pontos em que concordam e aqueles sobre os quais dis­cordam. Muitas vezes, uma boa opção será gravar partes dessa conversa para poder estudá-las mais atentamente.

2. Também pode ser de muita ajuda o estudo das palavras importantes. Para des­cobrir o significado exato de uma palavra na língua receptora, compare-a com outras palavras de significado semelhante. Siga as explicações da seção 4 do capítulo 8.

Lem bre-se:Esteja disposto a ouvir e aprender.

3. Qus tipo tís palayras será prseiso estudar?As palavras relacionadas com o mundo espiritual têm importância especial. Aqui­

lo que os falantes da língua receptora acreditam com respeito ao mundo sobrenatu­ral pode ser bem diferente da fé que tinham os falantes da língua-fonte (no caso, os homens e as mulheres que aparecem na Bíblia).

Por exemplo, para a palavra e sp ír ito , é preciso que o tradutor estude, na língua receptora:

todas as palavras que se referem a seres ou entes espirituais, e* todas as palavras que se referem à parte não-física dos seres humanos.

Muitas vezes, no passado, o termo e s p ír i to m a lig n o era traduzido por uma expressão que significava algo como “mau gênio”. Esta tradução dá ao termo um significado erróneo, pois não expressa o fato de que, no mundo bíblico, os espíritos malignos são entes espirituais independentes que podem tomar posse de um ser hu­mano. A ver essa tradução por “mau gênio”, o leitor não compreende que Cristo tem poder sobre esses espíritos. Não seria, talvez, esta a razão pela qual alguns “cristãos” em muitas regiões do mundo ainda temem os poderes malignos e levam amuletos para se protegerem contra esses espíritos?

Outro termo que se deve estudar bem é D eus, especialmente em lugares onde o cristianismo chegou apenas recentemente.

Escolha com cuidado as palavras corretas para traduzir termos que se referem a seres espirituais. Isto é essencial para comunicar a plena ver­dade da mensagem da Bíblia.

Preste atenção também a todas as ideias, costumes e termos que possam servir de ponte para ajudar as pessoas a compreender as verdades bíblicas. Por exemplo, é provável que a cultura tenha aspectos que reflitam verdades sobre o perdão, o can­celamento do pecado, ou a redenção. Faça uso daquilo que as pessoas já conhecem e creem para ajudá-las a compreender a verdade revelada na Bíblia.

COMO ESTUDAR A SUA PROPRIA CULTURA 87

4. Outras áreas -de significado que devem ser estudadas

1. Estude as palavras da língua receptora que se refiram a p e sso a s q u e tê m u m afu n ção re lig io sa n a q u e la cu ltu ra . Verifique se existem termos para:

® as pessoas que falam em nome do chefe principal. (Isto pode ajudá-lo a encontrar uma boa maneira de expressar “profeta”),

e as pessoas que transmitem mensagens do chefe principal. (Isto pode ajudá-lo a encontrar uma boa tradução para “anjo”).

* as pessoas que representam o chefe principal. (Isto pode ajudá-lo a encontrar uma boa tradução para “apóstolo”).

= as pessoas que têm a tarefa de sacrificar animais. (Isto pode ajudá-lo a encontrar uma boa maneira de expressar “sacerdote”),

e os adivinhos. (Quem lhes dá o poder de predizer o futuro)?

Ao escolher termos já conhecidos em determinada cultura para traduzir ter­mos bíblicos especiais, o tradutor deve testar cuidadosamente as palavras escolhidas para verificar se são adequadas ou não. As vezes esses termos estão tão vinculados à feitiçaria que não podem ser usados para expressar ideias judaicas e cristãs. Mas às vezes é possível adaptar ou modificar esses termos. A comunicação é muito mais fácil se se tomar como base uma ideia já conhecida.

2. Em várias passagens do Novo Testamento são enumerados d iv e rso s tip o sd e p ec ad o s ; um desses trechos é Romanos 1.29-31. Como preparação para traduzir passagens como esta, será útil fazer uma lista de todas as pa­lavras da língua receptora que designem diferentes pecados ou ações que não podem ser aceitas, para depois compará-las. Provavelmente não haverá palavras que correspondam exatamente com as do português. O propósito principal de traduzir estas passagens é transmitir o s ig n ificad o to ta l da mensagem, mesmo que as palavras usadas não correspondam exatamente com as do português.

Faça, em especial, uma lista das palavras que definem diversos tipos de pecados de natureza sexual e compare-as entre si. No português, as pala­vras mais usadas são “imoralidade”, “adultério”, “fornicação”. Compare os termos da língua receptora com os do português. Há entre eles uma corres­pondência exata? Como o seu significado difere das palavras em português?

5. Forma idêntica, mas significado distintoE provável que na cultura da língua receptora exista algo que, embora se asse­

melhe a determinado elemento da cultura bíblica, tenha significado e importância bem diversos do significado e importância do referido elemento na cultura bfblica.

88 COMO ESTUDAR A SUA PRÓPRIA CULTURA

Por exemplo, é provável que na cultura da língua receptora existam cobradores de impostos, mas que eles não sejam considerados traidores pelas outras pessoas. Isto será, então, algo diferente do que ocorria no tempo do Novo Testamento, quando os cobradores de impostos dos judeus era odiados por estarem a serviço dos odiados conquistadores romanos. A lepra (ou outra enfermidade parecida) pode ser conhe­cida na cultura da língua receptora, mas é provável que os leprosos não sejam ex­pulsos ou marginalizados pela sociedade, como foram os da época bíblica, quando não só precisavam de cura mas também de purificação de sua impureza aos olhos de Deus. É possível que existam na cultura receptora costumes como, por exemplo, a circuncisão, mas cuja função na cultura da língua receptora é bem diferente daquela que a circuncisão tinha na cultura bíblica. Por isso, os tradutores devem estudar não só as semelhanças superficiais no que se refere às ideias e aos costumes, mas tam­bém a sua importância e o seu significado mais profundo naquela cultura.

6. Estude- contínuoEstudos deste tipo devem ser realizados aos poucos, sem pressa. Talvez seja ne­

cessário esperar que apareça uma oportunidade apropriada para falar dos termos difíceis com as pessoas que melhor possam ajudar o tradutor. E importante buscar a ajuda de pessoas que falem bem a língua e conheçam bem a cultura.

Lembre-se que é melhor não apressar a decisão final quanto à tradução de ter­mos bíblicos de maior importância. Dê tempo ao tempo, para que você possa testar bem as decisões tomadas e para que possam surgir novas ideias.

com significado?Um tradutor da BfDlia deve conhecer as Escrituras e a cultura dos tempos que a

Bíblia descreve, e sem este conhecimento básico não deveria se pôr a traduzir esse texto. Entretanto, às vezes os tradutores esquecem que outros falantes da língua não têm os mesmos conhecimentos.

O exercício que segue trata de colocar o tradutor na posição de alguém que, ao ler a Bíblia, lê a respeito de acontecimentos que ocorreram numa cultura que lhe é estranha.

1. Exemplo 1 (conforme o relato de um consultor de tradução nas Filipinas).A narração seguinte é uma tradução quase literal de um relato na língua ibaloi,

falada nas Filipinas.

... um dos que encontrou (parte do dinheiro enterrado) era João Béjar... Eles chegaram com ele de noite à casa dele, e ele fez “kapi” por aquilo na mesma noite em sua casa, em Salakoban. Sim, foi em sua casa que ele fez “kapi” por aquilo.Na manhã seguinte, enquanto comiam a cabeça, a nova mandíbula caiu. E não estava inclinada ao cair, mas estava reta e apontava para o este. Quando as anciãs o viram, disseram: “Faz isso uma vez mais. Possivelmente eles o consideraram insuficiente”. E assim,João fez “kapi” por aquilo uma segunda vez.

As perguntas que seguem permitem verificar se esta tradução faz sentido ou não. Responda as perguntas da melhor maneira possível.

1.0 que é “kapi”?2. Por que fizeram “kapi”?3. Quem comia a cabeça?4. A cabeça do quê?5 .0 que caiu?6. A mandíbula do quê?7. De onde caiu?8. Qual a importância do fato de o osso estar reto e apontando para o este?9. Como as anciãs reagiram diante do ocorrido?

10. Por que reagiram assim?11.0 que entende por: “Possivelmente eles o consideraram insuficiente”?

É provável que muitas coisas não estejam claras para você, e isto se deve ao fato de esse texto ter sido escrito para falantes do idioma ibaloi. O autor supõe que muitas coisas sejam conhecidas pelos leitores/ouvintes, e por isso não se dá ao trabalho de explicá-las.

90 COMO FAZER UMA TRADUÇAO COM SIGNIFICADO?

Leia outra tradução da mesma história:

... um dos que encontrou (parte do dinheiro enterrado) era João Béjar... Eles o levaram a sua casa de noite e ele celebrou a festa do “kapi” com um porco como pagamento aos espíritos ancestrais.Sim, foi em sua casa do Salakoban que ele celebrou a festa do “kapi” por aquilo (o dinheiro).Na manhã seguinte, enquanto tomavam o tradicional café da ma­nhã comunitário que se seguia a uma festa, a queixada do porco que tinha sido sacrificado na noite anterior caiu dos beirais da casa onde costumeiramente é pendurada. E não se inclinou ao cair, mas caiu de pé e apontava para o este, onde se supunha que viviam os espíritos ancestrais. Quando as anciãs viram aquilo, entende­ram que era sinal de má sorte e disseram: “Celebra o “kapi” uma vez mais. Possivelmente os espíritos ancestrais consideraram que o porco que sacrificaste não é pagamento suficiente”. Assim João celebrou o “kapi” por aquilo uma segunda vez.

Para as pessoas que não conhecem a cultura ibaloi, esta versão da história faz mais sentido. Por quê? Porque fornece ao leitor informação importante que lhe permite compreender o significado do relato. (Esta informação está sublinhada na segunda versão.) Os leitores/ouvintes do conto original eram pessoas que falavam ibaloi, e já conheciam estes fatos, mas os leitores/ouvintes de outra cultura necessitam a informa­ção adicional. Observe que, quanto ao significado, o conto não foi alterado na segunda versão. É o mesmo conto, mas foi expresso de uma forma que faz mais sentido aos "leitores/ouvintes que não conhecem aquela cultura.

2. O problema -do tradutorTodas as mensagens surgem numa situação específica. O falante (ou escritor)

tem em mente um determinado público como destinatário de sua mensagem. Isto afeta a forma da mensagem, afeta o que acredita que deve dizer e o que deve deixar de lado.

Os que recebem uma tradução das Escrituras se encontram numa situação di­ferente da situação dos ouvintes da mensagem original. Não conhecem a situação específica para a qual foi dirigida a mensagem. Os costumes e o estilo de vida são diferentes, e muitas das coisas mencionadas são desconhecidas. Frequentemente os leitores modernos interpretam as coisas à luz de sua própria cultura e chegam a conclusões incorretas.

3. Fidelidade históricaA Bíblia é um documento histórico. Os livros da Bíblia foram escritos em deter­

minadas épocas da história oara pessoas de culturas específicas. Seria um equívoco

COMO FAZER UMA TRADUÇAO COM SIGNIFICADO? 91

reescrever a Bíblia como se fosse dirigida a outras pessoas de uma época dife­rente.

Ao estudar o significado de um texto, o tradutor deve observar cuidadosamente a situação histórica em que foi escrito. O significado da mensagem original do autor só pode ser compreendido à luz da referida situação original.

A pergunta mais importante que o tradutor precisa fazer é esta: “Qual foi a in­tenção original do autor? O que foi que ele disse aos leitores/ouvintes originais?” O propósito do tradutor é fazer que os novos leitores compreendam a mensagem, sem deixar de ser fiel aos fatos históricos.

4. Q propósito do tradutorPortanto, o tradutor deve manter em equilíbrio dois fatores:

1. F idelidade ao te x to histórico: não deve trocar a mensagem por outra, não deve alterar a situação histórica, não deve modificar o contexto cultural. Por exemplo, não deve trocar a mensagem como se os acontecimentos tivessem ocorrido em outro país que não seja Israel (ou o mundo bíblico como um todo).

2. C om unicação eficaz: a intenção do tradutor é, além disso, expressar a mensagem de tal maneira que os falantes da língua receptora possam com­preender corretamente o significado que o autor original quis comunicar, em­bora sua cultura seja diferente.

Como vimos no exemplo da língua ibaloi, os ouvintes precisam de certa infor­mação que lhes ajude a interpretar a mensagem com vistas à correta compreensão. Não é necessário conhecer toda a cultura ibaloi, mas apenas o que é necessário para compreender corretamente a mensagem do autor.

5. informação explícita s implícitaA comunicação de uma mensagem envolve:

1. informação ex p líc ita , ou seja, informação que é expressa em palavras; e2. informação im p líc ita , isto é, informação que, embora não esteja expressa

em palavras, precisa ser conhecida pelo ouvinte para que este compreenda corretamente a mensagem. Pode ser informação que o autor supõe seja do conhecimento dos leitores, levando-o, assim, a não torná-la explícita ou a não colocá-la no papel.

A mensagem do autor somente poderá ser compreendida se o ouvinte tiver aces­so à informação explícita e à informação implícita necessárias para interpretar cor­retamente o significado que o autor se propôs a comunicar.

O falante (ou escritor) terá sucesso na comunicação da mensagem somente se o ouvinte ou leitor dessa mensagem puder compreendê-la de forma correta e na sua íntegra, envolvendo tanto os aspectos explícitos como os implícitos da mensagem.

92 COMO FAZER UMA TRADUÇÃO COM SIGNIFICADO?

No exemplo da língua ibaloi, a informação sublinhada na segunda versão está implícita na primeira, mas foi tornada explícita na segunda versão da história.

5. Por que o autor não fornece uma parte da Informação?Se certa informação é necessária para a correta compreensão da mensagem, por

que o autor não a inclui na mensagem? Há várias explicações possíveis:

(a) Porque faz parte de um contexto cultural comum.Esta é uma das razões mais importantes. Se o leitor/ouvinte estiver inserido no

mesmo contexto cultural do autor (ou falante), o autor supõe que seus ouvintes já conhecem alguns fatos e, em razão disto, opta por não mencioná-los em sua men­sagem.

Exemplo 2:Numa localidade do Sudão, uma pessoa disse: “Não fui à igreja pelos pássa­

ros”. Seus ouvintes compreenderam bem a razão de não ir à igreja. Sabiam que, ao aproximar-se a época da colheita, os agricultores precisam espantar os pássaros constantemente, para não perderem a sua colheita.

Os ouvintes entenderam a razão pela qual o falante não foi à igreja, pois perten­ciam à mesma cultura do falante. Os ouvintes de uma cultura não agrícola provavel­mente não a entenderiam.

Esta mensagem pode ser traduzida assim para pessoas de outra cultura: “Não fui à igreja porque tive de espantar os pássaros de minha lavoura”. Observe que, nesta tradução, a mensagem não foi alterada, mas o significado que os ouvintes originais captaram será, agora, entendida também pelos novos ouvintes ou leitores. A mensagem é a mesma; é o que o falante quis dizer, e é o que os ouvintes originais entenderam.

Exemplo 3:Um francês, falando em francês, fez o seguinte relato: “Ele vinha dirigindo pelo

lado esquerdo da estrada”. Na França, como em muitos países, todos os veículos circulam pela direita. Portanto, o ponto central do relato do francês era que aquele homem vinha pelo lado contrário, isto é, na contramão. Entretanto, na Inglaterra, o correto é a circulação pela esquerda (chamada, no Brasil, de mão inglesa). Portanto, os ingleses não entenderiam uma tradução literal ao inglês. Assim, uma boa tradu­ção ao inglês seria: “Ele vinha dirigindo pelo lado oposto da via”.

Observe que a tradução é:

® historicamente exata;* o que o falante quis dizer, e = compreensível para os ouvintes.

COMO FAZER UMA TRADUÇÃO COM SÍGNÍFÍCADO? 93

Muitas vezes, é possível dar ao leitor alguma ajuda na tradução. Isto é aceitável sempre e quando for feito a) sem violar a exatidão histórica do texto fonte, e b) sem distorcer o ponto central da mensagem.

Existem mais razões que podem levar um autor a deixar certa informação implí­cita. Entre elas, as seguintes:

(b) Essa Informação é evidente a partir do contexto.

Exemplo 4:Falante A: “Quantos livros precisa?”Falante B: “Sete”.O falante B diz apenas “sete”, mas o ouvinte compreende que a mensagem é,

na verdade: “Preciso de sete livros”. 0 resto da mensagem se entende pelo con­texto.

Na mensagem do falante B, só uma ideia é ex p líc ita , quer dizer, está expressa mediante palavras: “sete”. O resto da mensagem, “Preciso de ... livros”, está Im p lí­c ito no contexto.

O tradutor pode tornar explícita essa informação implícita, caso isto for necessá­rio para se obter uma tradução clara, natural e exata.

(c) Porque a gramática nos obriga a deixar alguma informaçãosem rsisncionar.A gramática de uma língua é diferente da gramática das demais línguas, e es­

tabelece diferenças de significado em lugares distintos. Por exemplo, a maioria das línguas tem um pronome específico para a segunda pessoa (tu ou você) e uma forma de plural para esses pronomes (vós ou vocês). Algumas línguas distinguem o género na terceira pessoa: “ele”, “ela”, “isso”, enquanto outras não fazem esta distinção. Em tais casos, o autor segue o patrão gramatical de sua língua e estabelece a diferença somente quando deseja expressar um contraste. Do mesmo modo, o tradutor deve seguir o padrão gramatical natural da língua receptora.

(d)Porque a assim o requer.

Exsmpfo 5:Uma mãe que percebe que seu filho está a ponto de pôr a mão no fogo grita:

“Não!”. A mensagem é: “Não ponha a mão no fogo!” (Em outras circunstâncias, “Não!” significaria algo totalmente diferente.)

Nesta mensagem só uma ideia está ex p líc ita , mas existe informação im p líc ita que se entende a partir da situação em que as palavras são faladas. A mensagem tem força e impacto, em parte, porque é breve.

(e) Porque o autor quer enfatizar outra ponto ou aspecto.No Evangelho de João há várias referências ao discípulo “a quem Jesus amava”

(João 13.23, 21.7, 20). Quase todos os comentaristas concordam que este “discípulo amado” era o próprio João. Por que João não disse que estava falando de si mesmo? Provavelmente porque, como autor, não quis chamar a atenção para a sua pessoa.

O tradutor deve ser capaz de reconhecer essas passagens nas quais a informação foi deliberadamente omitida. Nos casos em que a mensagem é mantida oculta de forma intencional (como em algumas das parábolas), o mesmo deve ocorrer na tra­dução, ou seja, essa informação não deve ser explicitada.

Lembre-se:O propósito do tradutor é permitir que seus leitores/ouvintes, na me­

dida do possível, captem a mesma mensagem que os leitores/ouvintes da mensagem original entenderam.

Lembre-se:Todas as mensagens têm informação e x p líc ita e im p líc ita . A mensa­

gem só será compreendida pelo ouvinte se ele entende tanto o significado explícito quanto a informação implícita de que necessita para interpretá­-la corretamente.

A informação pode ficar implícita por várias razões:1. Porque o falante/autor e o ouvinte/leitor têm em comum o conheci­

mento da mesma cultura em que se acham inseridos, como nos exem­plos 1, 2 e 3.

2. Porque essa informação é suprida pelo contexto, como no exemplo4. Não é necessário dizer “Preciso de ... livros”, porque é muito fácil deduzir isto do restante da mensagem.

3. Porque a situação dá conta disso, como no exemplo 5. O ouvinte co­nhece a situação em que a mensagem é proferida e, em razão disto, pode interpretá-la de maneira adequada.

7. Numa tradução, é possível explicitar a informação ímpiícita?Uma tradução que deixa o leitor sem compreender a mensagem original ou com

uma compreensão incorreta da mensagem original é uma tradução de péssima qua­lidade, pois n ão é exata e tampouco é c la ra .

A meta do tradutor é comunicar a mensagem originai de tal maneira que os lei­tores/ouvintes da tradução compreendam o que o autor quis expressar.

Isto não quer dizer que toda a mensagem precisa ser explicitada na tradução. Caso se fizesse isto, teríamos traduções extensas, não naturais, confusas e chatas. Também significaria que a verdadeira mensagem do autor ficaria obscurecida por detalhes desnecessários e sem importância.

94 COMO FAZER UMA TRADUÇÃO COM SIGNIFICADO?

COMO FAZER UMA TRADUÇÃO COM SIGNIFICADO? 95

M as, à s vezes, d e te rm in a d a in fo rm a ç ã o q u e e s íá im p líc ita n a m e n ­sag e m o r ig in a l d ev e s e r to m a d a e x p líc ita ou e x p re s s a co m to d a s as le t ra s n o te x to d a tra d u ç ã o , s e m p re e q u a n d o se p u d e r f a s e r is to de u m a m a n e ira a d e q u a d a . Ao fazê-lo, evita-se que a tradução fique sem sentido ou que comunique um significado diferente do original.

No capítulo 16, aparecem sugestões de outras maneiras de se dar informação complementar, por meio de vocabulários, introduções, ilustrações e notas adicionais ao pé de página. Através destes recursos, é possível fornecer importantes informa­ções sobre a cultura e a situação histórica da Bíblia.

L em bre-se:É necessário que o tradutor pense o tempo todo nas pessoas para as

quais está fazendo a tradução. É necessário que procure descobrir tudo o que poderia dificultar a comunicação eficaz da mensagem, em especial a parte do significado que está implícita na mensagem original.

Ao traduzir, às vezes é necessário tornar e x p líc ita alguma informação que está im p líc ita .

S u g estõ es;1. Somente pode ser explicitada a informação que está implícita no texto

original. Não se deve adicionar novas informações.2. A informação implícita pode ser expressa de forma explícita sob as

seguintes condições:

(a) Se for essencial para comunicar o ponto principal da mensagem.(b) Se de outro modo a tradução não faz sentido ou expressa um signi­

ficado equivocado.(c) Se isto pode ser feito sem que se altere o enfoque central ou tema

da mensagem.(d) Se for apropriado à situação originai em que a mensagem foi dada.

Avalie a tradução que você fez, perguntando a você mesmo:E sta tra d u ç ã o c o m u n ica so m e x a tid ã o o q u e o a u to r o rig i­

n a l d isse?

3. Quanta informação implícita deve ser tornada explícita?Esta pergunta deve ser examinada separadamente para cada nova tradução.Em lugares onde já existe uma igreja e se ensina o conteúdo da Bíblia, e onde

há muitas pessoas alfabetizadas, pode-se proporcionar a informação cultural im­plícita que o ouvinte necessita através de recursos adicionais, como vocabulários

96 COMO FAZER UIV1A TRADUÇÃO COM SIGNIFICADO?

e ilustrações. No e n ta n to , o © bjeiivo p r in c ip a l d ev e s e r q u e o te x to d a t r a d u ç ã o s e ja o m a is s ig n if ic a tiv o p o ss ív e l.

Em lugares onde não houve contato com o cristianismo e onde há pouquíssimas pessoas que sabem ler, é preferível seguir outro procedimento: o tradutor pode de­cidir tornar explícito, na tradução, um volume maior de informação do que aquele que está implícito na mensagem original.

Até em alguns lugares onde já existe uma igreja, talvez a melhor opção seja tra­duzir um Evangelho (ou outras partes da Escritura) de maneira mais explícita, em especial para a evangelização. Esta poderia ser uma segunda tradução, diferente daquela descrita no parágrafo anterior. Os princípios seguidos nessa tradução teriam de ser explicados num prefácio ou palavra introdutória, para que as pessoas que já estão familiarizadas com a Bíblia em outra língua compreendam que esta é uma tradução especial.

Se existir uma igreja na região onde se prepara a tradução, os líderes devem tomar parte na decisão sobre o tipo de tradução que se considera adequada. An­te s d e tc-m ar a d ec isão , s e r á n e c e s sá r io o r ie n ta r o s l íd e re s d a ig re ja e d a r- lh e s a o p o r tu n id a d e d e co m p re e n d e ? o s p r in c íp io s d e tra d u ç ã o a d o ta d o s , p a r a q u e p o ssa m fc m a r su a s d ec isõ e s co m b a s e n e s ta s in ­fo rm a çõ es .

9. Fidelidade às EscriturasAs vezes, as pessoas pensam que uma tradução “baseada no significado” não con­

diz com a doutrina da inspiração das Escrituras. Este temor nasce de um profundo respeito pelas Escrituras. No entanto, é preciso lembrar que a forma de uma men­sagem (as palavras e a gramática) é somente o meio de expressar esta mensagem em determinada língua. A quilo q u e é u n iv e rsa l e in s p ira d o p o r D eus é o s ig n ificad o d e s ta m en sag em .

Com c e rte z a , é m u ito im p o r ta n te q u e o t r a d u to r te n h a o m esm o re s p e ito p ro fu n d o p e la s E sc ritu ra s , e q u e fa ç a to d o o p o ss ív e l, co m a a ju d a d e D eus, p a r a e x p re s s a r o v e rd a d e iro s ig n ificad o d a s E sc r itu ra s d e ta l m a n e ir a -que a m e n sa g e m p o s s a s e r c o m p re e n d id a e q u e n ã o fiq u e e s e o n d id a a t r á s d e u m a tra d u ç ã o m a l fe ita .

É im p o r ta n te ta m b é m q u e o t r a d u to r c o n s id e rs eo m a te n ç ã o o s d e ­ta lh e s d a m e n sa g e m o rig in a i e o s ig n ificad o ex a to d a g ra m á tic a e a s p a lav ra s . A gramática e as palavras expressam importantes diferenças de signi­ficado. Embora o tradutor não vá empregar as mesmas formas gramaticais, deve expressar com exatidão as mesmas diferenças de significado.

10. Como tornar implícita informação qus é explícita?Às vezes é necessário deixar implícita na tradução informação que está explícita

no texto fonte. Em geral, isto se faz para evitar redundâncias ou repetições que não

COMO FAZER UMA TRADUÇAO COM SIGNIFICADO? 97

são naturais na língua receptora. O importante é que, na tradução, não se perca nada da informação, e que o grau de ênfase e de impacto emocional seja o mesmo.

Algo para pansarÉ claro que seria maravilhoso se, no trabalho de tradução, a gente pudesse al­

cançar bons resultados simplesmente ensinando princípios válidos de tradução e determinando o que deve ser feito em cada estágio do projeto. Os princípios e pro­cedimentos são muito importantes, mas serão um fracasso total se faltarem outras características intangíveis ou não-materiais que são ainda mais importantes do que as normas. Esses aspectos adicionais e mais importantes em um projeto de tradução da Bíblia são:

e humildade (a qualidade essencial do verdadeiro saber),= disposição para ouvir sugestões,- sensibilidade espiritual,® profundo respeito pela mensagem, e* mentalidade evangelizadora, que é necessária para que o tradutor se

identifique com o leitor potencial e produza uma tradução criativa e com significado.

Os verdadeiros problemas de uma tradução não são teóricos, mas humanos; a solução desses problemas tem a ver com a transformação do espírito humano.

Há muitos fatores que podem impedir a compreensão de uma mensagem:

s Diferenças entre as línguas;s O fato de a mensagem original ser composta para uma situação bem

específica, que os novos ouvintes não entendem plenamente; s Diferenças entre a cultura e o estilo de vida dos tempos bíblicos e a

cultura da língua receptora;* Fatores espirituais.

1. Diíieuidades relacionadas com diferenças entre as línguasUma mensagem se expressa por meio da gramática e das palavras de uma deter­

minada língua. Como já foi dito, a gramática e as palavras de uma língua diferem da gramática e das palavras de outras línguas.

Entre os fatores que dificultam a compreensão de uma tradução, um dos mais comuns é o fato de a linguagem da tradução não ser natural. Em outras palavras, o texto soa estranho, forçado.

a. Muitas vezes os tradutores não conseguem transferir os “traços distintivos do discurso” para a outra língua. Estes traços, ou “dicas”, mostram ao leitor como se estrutura o texto, pois dão destaque ao tema central da passagem e indicam a ênfase e relativa importância das diferentes partes do signifi­cado.

b. Às vezes as informações da língua fonte são transmitidas de maneira con­fusa na língua receptora. Por exemplo, se essa informação for apresentada em orações longas, pouco naturais ou muito complexas, o leitor terá difi­culdade em compreendê-la. Tampouco será fácil entender a mensagem, se as palavras não estiverem colocadas em sua ordem normal.

Como se pode evitar o uso de linguagem pouco natural numa tradu­ção? Resposta: Estudando a língua receptora, empregando bons métodos de tradução, e revisando a tradução.

a. E s tu d e a lín g u a re c e p to ra . Mesmo que você seja falante nativo da língua receptora, deve estudar textos em sua própria língua para dar-se conta das re­gras especiais da língua. Assim poderá notar as diferenças entre a língua-fonte e a língua receptora. Se você estiver consciente dessas diferenças, poderá evi­tar o emprego de formas gramaticais típicas da língua-fonte na tradução para a língua receptora. Além disso, poderá aprender a usar todos os recursos de sua própria língua para traduzir a mensagem.

b. E m p reg u e b o n s m é to d o s d e tra d u ç ã o . Lembre-se dos dois passos da tradução:

s PASSO 1% Estudar o texto-fonte para descobrir seu significado cor­reto.

s PASSO 2; Expressar o significado de uma forma clara e natural na língua receptora.

Se você não entender bem o significado da mensagem, não poderá de maneira nenhuma expressá-lo de uma forma clara e natural na língua receptora.

c. R evise a tr a d u ç ã o co m v á r io s otifcros fa la n te s d a lín g tia para desco­brir eventuais detalhes que não estejam claros para os leitores.

Todos estes pontos serão retomados mais adiante no curso.

2, Dificuldades causadas peio fato de não se ter mais a situação originalE bem provável que os falantes da língua receptora desconheçam dados históri­

cos a respeito da situação em que foi comunicada a mensagem original. Isto se aplica especialmente a mensagens pessoais, tais como algumas das cartas do apóstolo Pau­lo. A Segunda Carta aos Coríntios, por exemplo, faz referência ao que ocorreu du­rante uma visita anterior de Paulo a Corinto, a certas coisas que Paulo tinha escrito em cartas anteriores dirigidas àquela igreja, e a críticas dos cristãos de Corinto em relação a Paulo. Os leitores originais, isto é, os cristãos de Corinto sabiam exata- mente a que Paulo estava se referindo; mas os novos leitores de hoje não conhecem aquela situação e têm que deduzi-la do texto.

Outras cartas bem pessoais são ICoríntios, Filipenses, 2Tessalonicenses e File- mom. Esta última carta é muito interessante, pois, embora fosse dirigida a uma só pessoa, parece que Paulo, ao escrevê-la, tinha também outras pessoas em mente. Possivelmente quis que outros também compreendessem a situação e estivessem dispostos a receber Onésimo, o escravo fugitivo. Mas até neste caso há uma dife­rença entre o grupo mais amplo de leitores da carta original e as pessoas que vão ler a tradução da carta. Os que receberam a mensagem original já conheciam a história do escravo Onésimo, que íinha fugido de seu patrão, e estavam familiarizados com o sistema de escravidão daquela época.

Como evitar as dificuldades causadas peia alteração da situação originai?a. Procurando ter sempre em mente as pessoas que vão receber a mensagem tra­

duzida.b. Dando ao leitor as informações mais importantes a respeito da situação origi­

nal. Em geral, isto pode ser feito

10C FATORES QUE IMPEDEM A COMPREENSÃO DA MENSAGEM

FATORES QUE IMPEDEM A COMPREENSÃO DA MENSAGEM 101

3 através de uma introdução breve e objetiva ao livro bíblico que dê a informação essencial, isto é, aquela informação absolutamente neces­sária para que os novos leitores possam compreender a mensagem;

= com notas de rodapé ao longo do texto da tradução; e com títulos e subtítulos claros e precisos.

Estas sugestões também serão tratadas em maiores detalhes mais adiante.

3. Dificuldades causadas por diferenças de cuituraO exemplo da narrativa na língua ibaloi no capítulo 11 mostra que, se a cultura

dos falantes da língua receptora for muito diferente da cultura da língua-fonte, será muito mais difícil de compreender a mensagem.

A dificuldade pode resultar de:

e referências a coisas e ideias desconhecidas na cultura da língua recep­tora;

® não fornecimento de informações que o falante pressupõe sejam co­nhecidas dos ouvintes;

* referências a fatos históricos conhecidos dos ouvintes originais, sobre­tudo acontecimentos mencionados no Antigo Testamento;

9 referências a ações simbólicas que não fazem sentido para os falantes da língua receptora ou que têm um significado diferente.

Estes três últimos pontos serão analisados mais detalhadamente no capítulo 13.

Como evitar as dificuldades causadas por diferenças culturais?

a. Tendo sempre em mente a maneira como os novos ouvintes compreenderão a mensagem, e expressando esta mensagem da forma mais clara possível para eles (veja os exemplos apresentados a seguir).

b. Fornecendo informações essenciais e básicas a respeito da cultura e do modo de vida nos tempos bíblicos. Isto pode ser feito por meio de:

e ilustrações, notas de rodapé ao longo do texto, e subtítulos;» outros materiais suplementares, tais como livros sobre os costumes e

a cultura dos tempos bíblicos. Isto será tratado em maiores detalhes no capítulo 16.

c. Dando, na medida do possível, algumas informações adicionais no próprio texto da tradução. Veja os exemplos apresentados mais adiante.

4. Probiemas espirituaisA parábola do semeador ilustra o fato de que, às vezes, por mais compreensível

que seja a mensagem, ela pode não ser compreendida porque:

102 FATORES QUE IMPEDEM A COMPREENSÃO DA MENSAGEM

= as pessoas não se interessam por ela;= as pessoas estão muito ocupadas com outras coisas e carecem de tem­

po para escutar; ou s as pessoas já têm uma opinião formada e não querem aceitar novas

ideias.

E pela ação do Espírito Santo que as pessoas chegam a compreender o significado pessoal da mensagem e são levadas a crer nela. Os obstáculos espirituais só podem ser removidos por meio da oração.

Mas o tradutor tem a grande responsabilidade de expressar a mensagem da ma­neira mais clara possível. Se as pessoas não entenderem a mensagem porque a tradu­ção foi mal feita, o tradutor terá fracassado na sua tarefa. E p re c iso ce rtifica r-se d e q u e n ã o h á n a d a n a tra d u ç ã o q u e p o s s a im p e d ir a co m u n icação e c o m p re e n sã o d a m en sag e m .

Lem bre-se:Uma linguagem que não soa natural dificulta a comunicação da men­

sagem.A falta de informação básica a respeito da situação original pode difi­

cultar a comunicação da mensagem. É preciso que o leitor receba as infor­mações de que necessita sobre a situação original em que a mensagem foi transmitida e sobre a cultura dos tempos bíblicos.

C ap ítu lo 13

Na seção 3 do capítulo 12, foram apresentados quatro tipos de problemas rela­cionados com a diferença de culturas:

« Referência a coisas ou ideias que não existem na cultura da língua receptora.

s o não fornecimento de informações que o autor original presume que seus leitores já possuem, porque ele e os leitores originais fazem parte da mesma cultura.

® Referências a fatos históricos que o autor supõe que seus leitores co­nheçam, em especial referências a acontecimentos do Antigo Testa­mento.

® Referências a ações simbólicas e de importância especial para a refe­rida cultura.

A tradução de id e ia s d e sc o n h e c id a s foi abordada no capítulo 7. Os três tópi­cos restantes serão tratados mais detalhadamente neste capítulo.

1. Informação que o autor supõe que seus leitores já tenhamComo já vimos, se o autor e os leitores da mensagem pertencerem à mesma

cultura, o autor fará referência a muitas coisas que ele supõe que seus leitores já conheçam. Diante disto, ele não se dá ao trabalho de dar maiores explicações. Mas os leitores da tradução não têm acesso a essas informações. Não raras vezes isto cria confusão para os leitores e pode desviar sua atenção do ponto principal da mensagem. Os e x e m p lo s a s e g u ir m o s tra m q u e é p o ss ív e l t r a d u z ir d e ta l m a n e ir a q u e o le i to r e n c o n tre a lg u m a a ju d a n o p ró p r io te x to d a tra d u ç ã o .

Lucas 7.44: não me deste água para os pés (ARA)O escritor original pressupõe que o ouvinte esteja familiarizado com o costume oriental de oferecer água a um visitante para que se lave os pés. Esta era uma prática comum na terra de Israel. No entanto, para o novo leitor, este costume pode ser desconhecido. Se o tradutor estiver pensando nos novos leitores, pode traduzir assim:

e ... você não me ofereceu água para lavar os pés. (NTLH)

Repare que a mensagem não foi modificada. A ideia de lavar, originalmente im­plícita, agora se torna explícita, sem necessidade de comentários nem explica­ções adicionais.

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAÍS

Colossenses 4.11: os quais são os únicos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo (ARA)A circuncisão é conhecida em muitas culturas, mas a sua função não é a mesma em todas elas. Em algumas culturas (por exemplo, nos Estados Unidos), a prá­tica não tem nenhum significado religioso, sendo feita simplesmente por razões médicas e higiénicas. Em algumas culturas, a circuncisão dos adolescentes do sexo masculino faz parte dos ritos de passagem na puberdade. Em outras cul­turas, essa prática pode simbolizar a incorporação de alguém em determinada religião ou o seu reconhecimento como membro de um determinado grupo. Mas a compreensão correta das referências bíblicas depende do conhecimento do fato de que a circuncisão significava ser judeu ou converter-se ao judaísmo. Por esta razão, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) traduz Colossenses 4.11 da seguinte forma: “Esses três são os únicos ju d e u s co n v e rtid o s que traba­lham comigo... .”

rmpenses -5.0: GircunGsGSGO so oítéivo (ARA)Por conhecerem os costumes judaicos, os leitores originais teriam entendido que “ao oitavo dia” significava o o ita v o d ia d e p o is d o n a s c im e n to . Numa tradução para leitores de outra cultura, pode ser necessário explicitar a informação de que a contagem era feita a partir do nascimento. A NTLH, por­tanto, traduziu o texto por “fui circuncidado quando tinha oito dias de vida”. Repare que também neste caso o significado original da mensagem não foi modificado.

Marcos 12.14: É lícito pagar tributo a César ou não? (ARA)O termo “César” não é nome próprio, e sim um título para o imperador de Roma. O significado desta passagem é que as pessoas perguntam a Jesus se, de acordo com a lei judaica, era permitido pagar impostos à autoridade suprema dos ro­manos, que eram inimigos e opressores de Israel. Assim, uma tradução mais apropriada poderia ser:

e É ou não é contra a nossa Lei pagar impostos ao Imperador romano? (NTLH)

Embora esta tradução não expresse todas as implicações da situação original, dá ao leitor a informação correta sobre a identidade de “César”. Os leitores originais já conheciam bem o significado ào título “César” . Para ter plena compreensão do texto, o leitor moderno também deveria saber algo da situação política daquela época. Deveria saber que os romanos dominavam Israel, e que os judeus não es­tavam nada satisfeitos com esta situação. Este tipo de informação adicional pode ser dada de outras maneiras (veia o capítulo 16).

O u tro s a sp e c to s d a s d ife re n ç a s tr a n s c iã tu r a is

Na seção 3 do capítulo 12, foram apresentados quatro tipos de problemas rela­cionados com a diferença de culturas:

s Referência a coisas ou ideias que não existem na cultura da língua receptora.

= O não fornecimento de informações que o autor original presume que seus leitores já possuem, porque ele e os leitores originais fazem parte da mesma cultura.

= Referências a fatos históricos que o autor supõe que seus leitores co­nheçam, em especial referências a acontecimentos do Antigo Testa­mento.

® Referências a ações simbólicas e de importância especial para a refe­rida cultura.

A tradução de id e ia s d e sc o n h e c id a s foi abordada no capítulo 7. Os três tópi­cos restantes serão tratados mais detalhadamente neste capítulo.

1. Informação qua o autor supõe que seus ialíores já tenhamComo já vimos, se o autor e os leitores da mensagem pertencerem à mesma

cultura, o autor fará referência a muitas coisas que ele supõe que seus leitores já conheçam. Diante disto, ele não se dá ao trabalho de dar maiores explicações. Mas os leitores da tradução não têm acesso a essas informações. Não raras vezes isto cria confusão para os leitores e pode desviar sua atenção do ponto principal da mensagem. Os e x e m p lo s a s e g u ir m o s tra m q u e é p o ss ív e l t r a d u z i r d e ta l m a n e ira q u e o le i to r e n c o n tre a lg u m a a ju d a n o p ró p r io te x to d a tra d u ç ã o .

Lucas 7.44: não me deste água para os pés (ARA)0 escritor original pressupõe que o ouvinte esteja familiarizado com o costume oriental de oferecer água a um visitante para que se lave os pés. Esta era uma prática comum na terra de Israel. No entanto, para o novo leitor, este costume pode ser desconhecido. Se o tradutor estiver pensando nos novos leitores, pode traduzir assim:

~ ... você não me ofereceu água para lavar os pés. (NTLH)

Repare que a mensagem não foi modificada. A ideia de lavar, originalmente im­plícita, agora se torna explícita, sem necessidade de comentários nem explica­ções adicionais.

C ap ítu lo 13

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURA S

I : os quais são os unlcos da circuncisão que cooperam pessoalmente comigo (ARÁ)A circuncisão é conhecida em muitas culturas, mas a sua função não é a mesma em todas elas. Em algumas culturas (por exemplo, nos Estados Unidos), a prá­tica não tem nenhum significado religioso, sendo feita simplesmente por razões médicas e higiénicas. Em algumas culturas, a circuncisão dos adolescentes do sexo masculino faz parte dos ritos de passagem na puberdade. Em outras cul­turas, essa prática pode simbolizar a incorporação de alguém em determinada religião ou o seu reconhecimento como membro de um determinado grupo. Mas a compreensão correta das referências bíblicas depende do conhecimento do fato de que a circuncisão significava ser judeu ou converter-se ao judaísmo. Por esta razão, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) traduz Colossenses 4.11 da seguinte forma: “Esses três são os únicos ju d e u s co n v e rtid o s que traba­lham comigo...

FHipenses 3.5: circuncidado ao oitavo dia (ARA)Por conhecerem os costumes judaicos, os leitores originais teriam entendido que “ao oitavo dia” significava o o ita v o d ia d e p o is d o n a sc im e n to . Numa tradução para leitores de outra cultura, pode ser necessário explicitar a informação de que a contagem era feita a partir do nascimento. A NTLH, por­tanto, traduziu o texto por “fui circuncidado quando tinha oito dias de vida”. Repare que também neste caso o significado original da mensagem não foi modificado.

Marcos 12.14: E lícito pagar tributo a César ou não? (ARA)O termo “César” não é nome próprio, e sim um título para o imperador de Roma. O significado desta passagem é que as pessoas perguntam a Jesus se, de acordo com a lei judaica, era permitido pagar impostos à autoridade suprema dos ro­manos, que eram inimigos e opressores de Israel. Assim, uma tradução mais apropriada poderia ser:

s É ou não é contra a nossa Lei pagar impostos ao Imperador romano? (NTLH)

Embora esta tradução não expresse todas as implicações da situação original, dá ao leitor a informação correta sobre a identidade de “César”. Os leitores originais já conheciam bem o significado do título “César”. Para ter plena compreensão do texto, o leitor moderno também deveria saber algo da situação política daquela época. Deveria saber que os romanos dominavam Israel, e que os judeus não es­tavam nada satisfeitos com esta situação. Este tipo de informação adicional pode ser dada de outras maneiras (veja o capítulo 16).

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS 105

Marcos 7.26; Esta muiher era grega (ARA)Na tradução de Almeida, a palavra “grego (a)” é usada também para referir-se a um “gentio”, um “não judeu”. Neste contexto de Marcos 7, o assunto mais importante é que a mulher pede socorro a Jesus, mesmo não sendo ela uma mulher israelita. A versão NTLH optou por uma tradução mais clara: “Era e s tra n g e ira , de nacio­nalidade siro-fenícia”. Isto expressa o significado verdadeiro do termo no contexto. Repare que, em todos estes exemplos, o leitor não recebe to d a a informação de que necessita para compreender tudo que está implícito na passagem. Mas pelo menos recebe alguma ajuda, que pode ser complementada de outras formas, como através do ensino, etc.

Exsrcfcio 1= Nas passagens bíblicas que seguem, há informação implícita que será necessário

expressar de forma explícita em uma tradução. Escreva uma versão mais explíci­ta de cada trecho a seguir:

(a) Mateus 12.2: ... os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado. (ARA)

(b) Mateus 18.17: ... considera-o como gentio e publicano. (ARA)(c) Marcos 4.35: Passemos para a outra margem. (ARA)(d) Hebreus 11.30: ... ruíram as muralhas de Jericó... (ARA)

2. Referências históricasNo Novo Testamento são mencionados muitos acontecimentos históricos narra­

dos no Antigo Testamento. Estas referências devem ser traduzidas de tal maneira que seu significado seja o mais claro possível para os novos leitores, mas isto deve ser feito de uma forma breve, sem entrar em detalhes, para evitar que o leitor passe por cima ou entenda de forma errónea o ponto principal da mensagem original.

(a) lCoríntios 10.1© (ARA) Ora. irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram

todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar.* (NTLH) Irmãos, eu quero que vocês lembrem do que aconteceu com os

nossos antepassados aue seguiram Moisés. Todos foram protegidos vela nuvem e passaram pelo mar Vermelho.

(b) Hebreus 11.22s (ARA) Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos

de Israel, bem como deu ordens quanto aos seus próprios ossos. s (NTLH) Foi pela fé que José, quando estava para morrer, falou da saída

dos israelitas do F.gito e deu ordens sobre o que deveria ser feito com o seu corpo.

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAS

(c) Hebreus 11.23- (ARA) Pela fé, Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, du­

rante três meses, porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei.

= (Margi) (retroversão da tradução para a língua margi, da Nigéria): Quando Moisés nasceu, foi porque os seus pais crerem em Deus que eles o esconderam durante três meses... e não tiveram medo de re­sistir à ordem do rei de que todos os filhos do sexo masculino fossem mortos.

(d) Mateus 22.32e (ARA) “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. Ele

não é Deus de mortos, e sim de vivos.

Devido à falta de conhecimento sobre Abraão, Isaque e Jacó, e sobre a aliança que Deus fez com eles, os leitores podem facilmente entender mal o significado dessa afirmação. Podem pensar que Deus é o Deus de pessoas que ainda estão vivas neste mundo, e que ele não é o Deus daqueles que já morreram. Mas, na verdade, o que esta citação bíblica ensina é que os mortos ressuscitam. A seguinte tradução tenta evitar estes equívocos:

“Sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. Se Deus é o Deus daqueles antepassados nossos, significa que eles não são ape­nas corpos mortos, mas que continuam vivos.

Na passagem paralela de Marcos 12.27, o versículo continua: “E Deus não é Deus dos mortos e sim dos vivos. Vocês estão completamente erra­dos”! (NTLH)

“Completamente errados” a respeito de quê? Completamente errados no fato de não acreditarem na ressurreição. Mas este detalhe não cons­ta no contexto imediato nem na conclusão da passagem, devendo ser deduzido a partir do relato como um todo. Portanto, talvez o tradutor tenha de acrescentar isto: “vocês estão completamente errados quando dizem que não existe ressurreição”.

(e) Marcos 1.2® (ARA) Conforme está escrito na profecia de Isaías: “Eis aí envio diante da

tua face o meu mensageiro...”s (NTLH) A boa notícia... começou a ser dada como o profeta Isaías tinha

escrito. Ele escreveu o seguinte: “Deus disse: ‘Eu enviarei o meu mensa­geiro adiante de você.

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS 107

Isaías fala como porta-voz de Deus, anunciando a vinda do Messias. Os leitores que não conhecem o Antigo Testamento não se darão conta de que o “eu” nesta passagem é Deus. e não Isaías. A NTLH, que adiciona as palavras “Deus disse”, evita esta confusão, deixando claro que foi o próprio Deus quem falou essas palavras.

3. Ações simbóiicasTodas as culturas têm ações “simbólicas”, ou seja, ações que têm um significado

especial. Só aqueles que conhecem a cultura entendem o significado da ação.

Exemplo 1:Na cultura mbembe, se uma pessoa disser: “Ele quebrou a vasilha d’água de sua

esposa”, alguém de fora vai pensar que se refere a um acidente. Mas uma pessoa da cultura mbembe saberá que essa ação simboliza o fato de esse homem ter se divor­ciado de sua mulher. Note que não se trata de uma metáfora; o homem realmente quebrou a vasilha, mas essa ação tem um significado especial na referida cultura.

Exemplo 2;

L ucas 18 .13; O publicano... batia nopeito...

Na cultura judaica, “bater no peito” expressava um sentimento de dor ou culpa. No caso do publicano, refletia seu pesar e seu arrependimento dos pecados. Mas em algumas culturas a ação de “bater no peito” simboliza orgulho e desafio. A ação pode ser a mesma, mas seu significado é bem diferente. O tradutor deve ter cuidado, por­tanto, ao traduzir este conceito. Qual era o significado exato do gesto original? Que gestos parecidos existem na língua receptora?

Exemplo 3:

M ateu s 2 1 .8 : ... outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela es­trada.

Em Israel, como também em alguns lugares da Africa, espalham-se ramos de palmeira na estrada por onde vai passar um chefe ou alguma pessoa importante. Mas em certo lugar, onde não se conhecia esse costume, as pessoas achavam que os israelitas estavam colocando os ramos na estrada para impedir a passagem de Jesus. Teria sido bom especificar que aquelas pessoas espalhavam ramos de palmeira para honrar Jesus.

Às vezes, o propósito da ação simbólica fica claro no texto-fonte:

* Génesis 17.11: Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal da aliança entre mim e vós.

108 OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAiS

Aqui se estabelece pela primeira vez um costume simbólico e, em razão disto, ele é explicado.

e Êxodo 3.5: Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.

O costume de tirar o calçado em um lugar santo não é conhecido em certas cul­turas, mas aqui Deus explica o motivo da ordem.

5 Rute 4.7: Antigamente, em Israel, para fechar um negócio de compra ou troca de propriedades, uma pessoa entregava à outra a sua sandália. (NTLH)

Neste caso, parece que o costume mencionado já não era mais praticado em Israel quando o livro de Rute foi escrito. Portanto, o público original desconhecia o costume e o autor trata de explicá-lo.

s Marcos 7.3: Pois os fariseus e todos os judeus, obsemando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos.

Esta informação é muito importante para se compreender o incidente que é des­crito. Marcos escreveu não só para os judeus (que já conheciam este costume), mas também para os não-judeus, o que o levou a explicar o costume.

Ao traduzir referências a ações simbólicas, é preciso considerar duas coisas:

1. A forma da ação como tal, e2. O simbolismo ou o significado da ação.

Podem surgir quatro situações diferentes:

(a) Pode ser que a ação seja conhecida na cultura da língua receptora, e que tenha o mesmo significado ou simbolismo como na língua-fonte. Neste caso, não há nenhum problema.

(b) Pode ser que a ação seja conhecida na cultura da língua receptora, mas que não tenha nenhum significado ou simbolismo especial. Neste caso, corre-se o risco de perder o significado especial da ação.

(c) Pode ser que a ação seja conhecida na cultura da língua receptora, mas que signifique ou simbolize algo diferente do significado ou simbolismo que tem na língua-fonte. Neste caso, existe o perigo de comunicar-se um significado errado.

(d) Pode ser que a ação seja desconhecida na cultura da língua receptora.

Para evitar que se comunique um significado erróneo, ou que não se comunique significado nenhum, talvez se tenha de explicitar ou colocar na tradução o signi­ficado simbólico da ação. Por exemplo, na situação descrita no exemplo 3 acima

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURA S 109

(Mateus 21.8), poderia traduzir-se assim: “e outros cortavam ramos (de palmeira) e os espalhavam no caminho para dar-lhe as b oas-v ind as”.

Também se pode recorrer a uma ação semelhante, já conhecida na língua recep­tora e que tenha um significado simbólico adequado. Por exemplo, em determinada cultura, em que “bater no peito” simboliza desafio, cruzar os braços à altura do peito e dar-se pequenos golpes é um gesto que expressa culpa. Portanto, esta ação foi usada para descrever a atitude do cobrador de impostos mencionado em Lucas 18.13. (De fato, esta ação pode ser mais parecida com o gesto judaico do que a ação sugerida pela tradução costumeira por “bater” no peito).

Lembre-se:Ao traduzir ações simbólicas, certifique-se de que o significado correto

da ação está sendo comunicado com clareza.Para evitar interpretações erróneas ou uma tradução que não tenha

significado algum, talvez seja necessário tom ar explícito o significado de uma ação simbólica.

Exercício 2• Em cada uma das passagens abaixo, existe uma ação simbólica. Para cada pas­

sagem, escreva:* qual é a ação simbólica,* o que significa ou simboliza esta ação simbólica na Bíblia, e= se esta ação teria o mesmo significado na sua própria cultura.

• Procure essas passagens na Almeida Revista e Atualizada (ARA) e compare-as com o texto da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Em alguns casos, a NTLH torna explícito o significado simbólico. Nos casos em que o significado da ação não é igual ao significado dessa ação na sua própria cultura, como você traduziria esta ideia para a sua própria língua?

(a) Mateus 10.14(b) Mateus 27.24(c) Marcos 1.7(d) Marcos 10.16(e) Marcos 15.17

Exercício 3• Siga as mesmas instruções do exercício 2.

110 OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

(d) Atos 22.23(e) Atos 26.1(f) lCoríntios 16.20(g) ITimóteo 5.10(h) Apocalipse 11.3

Exercício 4 = Siga as mesmas instruções do exercício 2.

(a) Génesis 46.4(b) Josué 10.24(c) Rute 1.14(d) ISamuel 16.13(e) IReis 20.31(f) Salmo 44.20

Lembre=seiAo traduzir, às vezes é preciso tom ar explícita a informação implícita.

Isto deve ser feito:

(a) Se for essencial para comunicar o significado principal da mensagem.

(b) Se de outra maneira a tradução comunicaria um significado erró­neo ou não teria significado algum.

4. Pontos para ísmbrar

Ponto 1: Não p en se que, só p o rq u e voeê com preende a trad u ção , ou tro s n ecessa riam en te p o d erão com preenõê-Ia íam oém .

Lembre-se que você já estudou a passagem em outra língua, e que também co­nhece a Bíblia melhor do que a maioria dos leitores da nova tradução.

Ponto 2° Faça o possível p a ra tra n sm itir o significado p leno do o ri­g inai no tex to da trad u ção , p a ra fac ilita r a com preensão to ta l da m ensagem e ev ita r confusões ou in te rp re ta ç õ e s e rró n eas . M as não a c rs se sn ts à m ensagem longas explicações ou in fo rm ações novas. T raduza de ta l m an e ira que a in tenção o rig inal do a u to r se ja tra n s ­m itida c la ram en te .

Existem diversas opiniões sobre o volume de informações de fundo histórico e cultural que deve ser colocado diretamente no texto da tradução. Algumas versões optam por deixar tudo bastante explícito, ao passo que outras seguem rigorosa­mente o que está escrito no original, deixando implícito o que estiver implícito neste.

OUTROS ASPECTOS DAS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS 111

Traduções deste tipo serão de difícil compreensão para o leitor moderno, a menos que tenha a ajuda de um professor ou leia um comentário bíblico. Outras versões optam por um meio-termo.

Ponto 3: R esista a qua lquer ten tação de om itir algo, ou de m odificar o significado p a ra to rn a r a m ensagem orig inal m ais com preensível, paio con trá rio , te n te e x p ressa r todo o significado de um a form a que todos possam com preender.

Um exemplo do que ocorreu num país africano chamado Gana ajuda a ilustrar isto. Numa das primeiras traduções para a língua fante, um dos tradutores ficou com medo de incluir as palavras “nem o teu servo” na tradução de Deuteronômio 5.14. Achava que, se os escravos chegassem a ler que também eles não deveriam fazer ne­nhum trabalho no dia de descanso, usariam esse texto como uma arma contra seus senhores e se negariam a trabalhar. Esse tradutor acreditava que a escravidão era um fato social que não podia ser alterado! Felizmente, outros tradutores insistiram que a frase fosse incluída na tradução antes de sua publicação.

Para dar um exemplo mais recente, ao traduzir Romanos 1.27, um tradutor quis omitir a referência à homossexualidade, porque esse costume era desconhecido na cultura da língua receptora. Entendia esse tradutor que seria lamentável pôr essa ideia na cabeça dos leitores. Mas finalmente, e com razão, resolveu incluir isso na tradução. Omiti-la equivaleria a modificar as Escrituras. 0 tradutor não tem auto­ridade de introduzir mudanças no texto; seu dever e responsabilidade são simples­mente de comunicar sem nenhuma alteração o significado exato do original.

Lem bre-se iNão modifique NUNCA aquilo que a Bíblia diz.

Capítulo L4

E xercidos relacionados com a tra d u çã o b a sea d a no sm nUlcaiio

Exercício 1® As passagens citadas a seguir são retroversões ao português da tradução dessas

passagens bíblicas a outros idiomas. Em outras palavras, fez-se uma tradução ao português da tradução dessas passagens para outras línguas,

e Em cada caso o tradutor tratou de apresentar de forma explícita algumas informa­ções. Em alguns casos, o acréscimo se justifica, mas, em outros casos, o tradutor pode ter acrescentado informações que não estavam implícitas na mensagem original,

s Para cada exemplo:= Compare a tradução abaixo com o texto da Bíblia Almeida Revista e Atualizada

no Brasil (ARA), para identificar a informação que se tomou explícita.- Tente descobrir por que o tradutor decidiu explicitar essa informação.- Segundo seu critério pessoal, diga se o tradutor tinha razão, ou não, ao tornar

explícita essa informação. Defenda a sua opinião.

(a) Mateus 26.5: Mas eles disseram: “Não devemos prendê-lo agora que se cele­bra a festa, porque, se o fizermos, o povo ficará alvoroçado contra nós”.

(b) Mateus 26.6-7: Certa vez, Jesus estava em Betánia na casa do Simão, aquele que antes sofria de lepra. Jesus estava sentado, comendo. Uma mulher chamada Ma­ria chegou. Trazia um perfume de nardo numa vasilha de alabastro. Esse perfume era muito caro. Maria pegou esse perfume e o derramou sobre a cabeça de Jesus.

(c) Atos 21.26: Quando os anciãos da igreja terminaram de pronunciar estas pa­lavras, Paulo concordou. No dia seguinte, levou-os consigo, para purificar-se segundo o seu costume. Então ele entrou na casa de Deus para que as pessoas soubessem que quando tivessem passado sete dias eles completariam esse cos­tume de purificar-se, e então alguém ofereceria um sacrifício a Deus em favor deles.

(d) Lucas 14.22: Esse servo foi e fez assim, então retomou e disse ao seu patrão: "Senhor, fiz tudo o que o senhor me disse que fizesse, mas ainda há espaço”.

(e) João 4.20: “... os nossos antepassados do povo de Samaria adoravam a Deus aqui neste monte que se chama Gerizim, mas vocês judeus dizem que é na casa de Deus em Jerusalém que a gente deve adorar a Deus”.

N o ta s o b re o ex e rc íc io 1 (Leia esta nota após completar o exercício.)

No caso do Mateus 26.6-7, no exemplo (b), foi feita uma referência explícita a Maria. O texto original diz “uma mulher”. O tradutor não tem motivo para mencio­nar o nome da mulher. E verdade que em João 12.3 aparece o nome Maria, mas isto

não quer dizer que essa informação tenha de ser dada no relato de Mateus. Não é essencial para a compreensão da passagem.

Da mesma forma, não há dúvida de que os relatos de Marcos e João especifi­cam que o perfume era de nardo. Mas este detalhe não aparece no relato de Ma­teus. Portanto, o tradutor comete um erro ao mencioná-lo na tradução de Mateus.

No caso do João 4.20, no exemplo (e), o tradutor dá o nome do monte: “Geri- zim”. Isto está certo, em termos históricos, mas não há nenhuma necessidade de que o tradutor o mencione. A informação não está implícita no texto original e não é essencial para a compreensão da passagem.

Por outro lado, na mesma passagem, o tradutor faz bem ao dizer explici­tamente que o pronome “nós” se refere ao povo da Samaria e que o pronome “vocês” se refere aos judeus. Esta informação está implícita no texto original, como mostra um estudo detalhado do contexto. Os leitores da mensagem ori­ginal teriam compreendido a informação porque conheciam as relações entre samaritanos e judeus. Além disso, a informação é essencial para se compreender corretamente a passagem. Portanto, o tradutor procedeu bem ao tornar explícita essa informação.

= A seguir, citamos algumas passagens da ARA e de outras traduções (OT). Emtodos os casos se poderá notar que, na segunda tradução, alguma informação foitornada explícita.5 Sublinhe a informação que se tornou explícita.■ Diga por que você acredita que o tradutor tomou explícita essa informação.- Diga se, em cada um destes exemplos, o tradutor fez bem (ou não) ao tornar

explícita a referida informação.

(a) Mateus 12.2= (ARA) Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de

sábado.s (OT) Teus discípulos estão trabalhando e isso não é lícito no dia de des­

canso.

(b) Marcos 1.34s (ARA) ... expeliu muitos demónios, não Lhes permitindo que falassem,

porque sabiam, quem ele era.= (OT) E ele não deixava que os espíritos malignos falassem, pois eles sa­

biam quem ele era/que ele era o Cristo.

(c) Marcos 4.355 (ARA) “Passemos para a outra margem”.» (OT) “Passemos ao outro lado do lago”.

EXERCÍCIOS RELACIONADOS COM A TRADUÇÃO. 115

(d) Marcos 9.11 (ARA) “Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro”?

s (OT) “Por que os mestres da Lei dizem que é preciso que Elias, o profeta, retome primeiro, antes que Deus envie o Cristo”?

(e) Lucas 1.263 (ARA) No sexto mês...3 (OT) No sexto mês da gravidez de Isabel...

(f) Lucas 10.135 (ARA) Porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres

que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assenta­das em pano de saco e cinza.

• (OT) Se as pessoas que viviam antigamente nas cidades de Tiro e Sidom tivessem visto meus milagres, mesmo que fossem muito maus, acredito que se teriam arrependido rapidamente; e teriam se comportado de uma forma que mostrasse que eles realmente se arrependeram.

(g) Lucas 17.37= (ARA) “Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão também os abutres”.s (OT) “Onde houver um corpo sem vida, lá se ajuntarão os umbus!”

(h) Atos 11.3s (ARA) “Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles”.3 (OT) “Você, que é judeu, foi convidado a ir à casa de gentios incircunci­

sos, e até comeu com eles!”

(i) Atos 21.8• (ARA) ... e, entrando na casa de Filipe o evangelista, que era um dos

sete,...» (OT) ... e entramos na casa de Filipe o evangelista, um dos primeiros

sete diáconos...

(j) João 3.14• (ARA) E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim

importa que o Filho do Homem seja levantado.- (OT) E como Moisés no deserto levantou a imagem de bronze de uma ser­

pente sobre um pau, assim épreciso que o Filho do Homem seja levantado...

Exercício 3• A seguir, se apresenta uma tradução de Atos 16.11-15 para a língua mbembe (Ni­

géria), com uma retroversão ao português. Esta retroversão ou segunda traduçãodá uma ideia de como se traduziu a passagem.

= Compare cuidadosamente a segunda versao com o texto aesta passagem na ARA ou em qualquer outra versão confiável que você tenha. Assinale a informação implícita na ARA. mas que se tornou explícita na tradução. Para cada detalhe que se tornou explícito, escreva uma nota para explicar:= POR. QUE (em sua opinião) a informação se tornou explícita, e2 SE você acha que o tradutor teve razão, OU NÃO, ao torná-la explícita.

Atos 16 .11-15

l i moyika k’okpaar, mobina nyTroas, motta makpaar mojeka,Entramos no-barco, subimos de-Trôade, fomos direto atravessamos

oraanga kwiden pira mokwu opyire z’Samothrace.rio grande, então chegamos alcançamos até-Samotrácia. (Quando)

- • - Ewu esobn za, mobira oyaar mokwudia amanheceu ali nós-outra-vez viajamos/navegamos chegamos

osaka z’Neapolis. 12 Mobina ny’Neavlois, mozenga ogbin-ogbin,atracamos em-Neápolis. S.ubimos até-Neápolis, caminhamos na-terra-terra, ['

- - rmokwu opyire nv'Philippi, kw’ode ochedenmon z’ebhaake

chegamos alcançamos até-Filipos, que-é primeira-cidade em-região

ch’Masedonia. Obira ode ibvi s’anong p’Rome masi orukda-Macedônia. Também é lugar onde-pessoas de-Roma fazem povo.

Moninga ny’obhon nwo k’iwu iphaang-iphaang. 13 Okwu opyire Ficamos em-cidade essa por-dias vários. Chegou alcançou

k’Ewohngkwokawu ch’abiJu, mochina z’obhon iyaan-iyaan,o-dia-de-repouso de-judeus, fomos à-cidade lá-fora (isto é, fora da cidade)

mozenga ny’araangakonga okuro chmobene bé, abiJu, mad-akwu caminhamos em-margem-do-rio porque pensamos que judeus, eles-vinham

attonga nyibvi nyo, maze. njom Mopyire za o, jeles-se-reuniam em-lugar que, oravam oração. (Quando) alcançamos ali k

moninga ewor nya, mogbaak odik omaana ipanong banenos-sentamos assento ali, conversamos palavra com mulheres algumas \

p’nkk’attonga nya. 14 Nyetaanga kw’ipanong mbo p’mabhaang que-se-haviam-reunido ali. Em-meio de-mulheres aquelas que ouviram

Idik samina, onong wane oninga nya kw’okpen Lidia, kw’ode Palavras nossas, pessoa uma estava ali que-se-chama Lídia, que-é

onong kw’od-okpe obarakora. Ikwanong nwo ofonpessoa que-habiiuahnente-vende pano-vermelho. Mulher esta é-de

Tiatira, od-okpobha ibinokpaabyi. Ibinokpaabyi ogwonga etem |Tiatira, ela-habitualmente-adora a-Deus. Deus abriu coração

che, ofha odo itohng oyonga k’idik s’Paul. 15 Ke omana |dela, para-que ela-preparasse ouvido escutou palavras de-Paulo. Ela com |

____________ ......... ......... . ■ M B ..

EXERCÍCIOS RELACIONADOS COM A TRADUÇÃO... 117

among pe maphyir, makwu abyenga asi. Pira oyeregente sua toda, eles-vieram foram-batizados água. Então ela-chamou

mina z’osohm kwe, oben bé “Ode mabene bé, ngbaknos à-sua casa, ela disse: “Se vocês-acham que eu-comprometo

ifor comaana Ovaar Jisus k’odik okkokka, makwu saka k’ikaama rrdm com Chefe Jesus em verdade venham ficar em-minha

k’osohm”. Odaabha mina bé. mota za. em-casa”. Ela-convenceu nos que fôssemos lá.

(ABA) 11 Tendo, pois, navegado de Trôade, seguimos em direitura a Samotrácia, no dia seguinte, a Neápolis e Hali; a Filipos, cidade da Macedonia, primeira do distrito e colónia. Nesta cidade, permanecemos alguns dias. 13 No sábado, saí­mos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinha concorrido. Certa mu­lher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia. 15 Depois de ser barizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso.

Exercício 4 (para tradutores experimentados)® Compare as seguintes versões de Gálatas 4.24-26. Qual das traduções expressa mais

clara e exatamente o significado da mensagem, em sua opinião? Você acha que algu­ma destas traduções acrescentou informação não implícita na mensagem original?

=3rego (com tradução literal em português):

24 hatina estin ailegoroumena hatai gar eisin duo As quais (coisas) são ditas alegoricamente; estas pois são duas

diathêkai, mia men apc- orous Sina eis douleian gennõsaalianças uma por um lado de monte Sinai para Escravidão gerando

hêtis estin hagar 25 to de hagar Sina oros estin en tê Arabia.a qual é Agar. — E Agar Sinai monte é em a Arábia,

sustoichei de tê nun Ierousalem, douleuei gar metacorresponded] e[l] à atual Jerusalém, serse (como escrava) pois com

tõn teknõn autês. - - hê de anõ Ierousalem eleuthera estin, os filhos dela. a[2] Mas[l] do alto Jerusalém livre é,

hêtis estin mêtêr hêmõn.a qual é mãe nossa.

(ARC) ^ ... o que se entende por alegoria; porque estes são os dois concer­tos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. 25 Qra, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre, a qual é mãe de todos nós.

(ARA) ^ Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar.

Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos. 26 Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe.

(NVI) 24 isto é usado aqui como uma ilustração; estas mulheres representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravi­dão; esta é Hagar, 25 Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. 20 Mas a Jerusalém do alto é livre, e é a nossa mãe.

(NTLH) 24 Tsto serve como um símbolo: as duas mulheres representam as duas alianças. Uma aliança é a do Monte Sinai e está representada por Agar. Os que são dessa aliança nascem escravos. Pois Agar representa o monte Sinai, na Arábia, e Agar é o símbolo da Jerusalém atual, que é escrava com todo o seu povo. 26 Mas a Jerusalém celestial é livre e ela é a nossa mãe.

(A Bíblia Viva) 24-25 n ra. esta história verdadeira é uma ilustração das duas maneiras de Deus ajudar o povo. Um modo foi dar-íhes suas leis, para que as obedecessem. Ele fez isso no Monte Sinai, quando entregou os Dez Mandamen­tos a Moisés. Aliás, o Monte Sinai é chamado “Monte Agar” pelos árabes e, em minha ilustração, Agar, a mulher escrava de Abraão, representa Jerusalém, a cidade-mãe dos judeus, o centro daquele sistema de procurar agradar a Deus pela tentativa de obedecer aos Mandamentos; e os judeus, que procuram seguir aquele sistema, são seus filhos escravos. Mas a nossa cidade-mãe é a Jerusa­lém celestial, e eia não é escrava das leis iudaicas.

Descobrindo o real significadoNos capítulos anteriores, analisamos o fato de, às vezes, ser preciso que o

ouvinte receba certa informação implícita para compreender o significado da mensagem. Há momentos em que esta informação implícita pode ser explicitada na tradução. E muito importante que o tradutor se certifique de que toda a in­formação explicitada realmente faz parte do significado do texto, e não se trata simplesmente da opinião do tradutor ou de algum comentarista bíblico.

Às vezes o tradutor também é obrigado a escolher entre dois significados possíveis, e é difícil saber qual deles o autor original desejava comunicar. A quem devemos recorrer para ter certeza de que o significado que traduzimos é real­mente o significado que o autor quis comunicar?

1. Ao contexto im ediato da passagemEsta é a fonte de informação mais confiável e deve ser preferida a qualquer

outra. É provável que uma afirmação ou frase isolada não faça muito sentido, mas, quando ela é lida dentro de seu contexto, não raras vezes a intenção do autor fica bem clara.

Faça o possível para evitar o perigo de separar uma frase ou oração de seu contexto. O significado de uma palavra ou frase só pode ser compreendido den­tro do próprio contexto. O tradutor deve tentar compreender a sequência de ideias em toda a passagem. Muitas vezes uma frase explica ou desenvolve outra.

2. A outros trechos das EscriturasÀs vezes determinado autor emprega a mesma palavra ou frase em outros

trechos do texto. Estude essas passagens. A maneira como o autor emprega a palavra em outra parte pode ajudar a compreender seu significado em contextos específicos.

Ao traduzir para uma língua que não tem a voz passiva dos verbos, um tradu­tor teve de expressar João 7.39 (‘Jesus não havia sido ainda glorificado”) na voz ativa. Na voz ativa, é preciso tom ar explícito quem realiza a ação. Isto nos obriga a perguntar: Quem glorificou Jesus? A resposta se encontra em João 17.5: “glorifica­-me, ó Pai”. Apoiando-se em João 17.5, o tradutor pôde transformar João 7.39 numa oração ativa: “Deus ainda não tinha glorificado Jesus”. (Este é um exemplo em que a informação se tornou explícita porque a língua receptora assim o exigia.)

As passagens paralelas dos outros Evangelhos também podem ser de ajuda. Por exemplo, o significado de Marcos 2.15 parece inicialmente ambíguo: “Acon­teceu que estando Jesus à mesa em sua casa ...” A palavra “sua” refere-se a Levi ou a Jesus? Ambas as interpretações são possíveis, segundo o contexto de Mar­cos. Mas no relato de Lucas 5.29 se fala da casa de Levi. Para evitar conclusões erróneas, talvez se tenha de explicitar isto em algumas traduções da passagem

C a p itu lo i 5

de Marcos (e é o que fazem, em geral, as traduções ao português). Isto não quer dizer que todas as passagens paralelas devem ser traduzidas da mesma forma, ou que a informação deve ser transferida sem uma razão que justifique isto. Mas a informação extraída do relato paralelo pode ajudar a evitar que se comunique um significado erróneo.

s M arco s 1 3 ,1 0 : Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pre­gado a todas as nações.

Em determinada língua, foi preciso especificar o ponto de referência da palavra “primeiro”. Em outras palavras, primeiro ou antes do quê? Isto porque, naque­la língua, a única maneira de traduzir o conceito de “antes” era dizer “antes de a lg o ”. A passagem paralela deste relato, Mateus 24.14, dá a seguinte informação: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim”. Diante disso, traduziu-se por “antes do fim”.

E provável que outras passagens das Escrituras deem a chave para interpretar corretamente uma passagem específica.

= IC o r ín t lo s 7 .2 3 ; Por preço fostes comprados...

Um tradutor teve dificuldade em traduzir isto porque a língua receptora não tinha orações na voz passiva, e porque parecia não só se podia falar sobre um “preço” se este fosse um preço e sp e c ífico . Ele resolveu traduzir a passagem assim: “Cristo mesmo os comprou com sua própria morte.” Trata-se de uma boa tradução, por dois motivos: (a) se apoia no contexto imediato; e (b) é consis­tente com outras passagens das Escrituras como IPedro 1.18-19: “fostes resga­tados... pelo precioso sangue... de Cristo”. Com esta informação, sabemos que quem nos comprou foi Cristo, e o preço foi sua própria morte.

= A tos 2 8 .2 3 : ... procurando persuadi-los a respeito de Jesus...

Em certa tradução, devido à estrutura da língua, o tradutor foi obrigado a dizer a respeito de q u e especificamente Paulo tentava convencer as pessoas com respeito a Jesus. O versículo foi traduzido assim: “... tentando convencê-los de que Jesus era o Messias”, apoiando-se no contexto bíblico mais amplo.

Na língua dghwede, falada na região montanhosa da Nigéria, há expressões para “ir-para-cima”, “ir-em-terreno-plano” e “ir-para-baixo”, mas não há um ter­mo que expresse o significado de “ir”em termos gerais. Ao traduzir para esta lín­gua, é necessário especificar em todos os casos se o movimento é para cima, em terreno plano ou para baixo. Para decidir que termo empregar em cada caso, os tradutores foram obrigados a e o n s u l ta r u m m a p a q u e m o s tr a v a o re le v o (v a le s , m o n ie s , e tc ,) d a P a le s tin a !

120 DESCOBRINDO O REAL SIGNIFICADO

DESCOBRINDO O REAL SIGNIFICADO 121

Lem bre-se:As informações derivadas de fontes que não sejam o contexto ime­

diato da passagem em questão devem ser explicitadas somente se a estrutura da língua receptora assim o exigir, ou para evitar a comuni­cação de um significado errado.

Já vimos que há coisas que o leitor de uma tradução deve saber para compreen­der a mensagem que o autor original quis comunicar. Deve conhecer a forma de vida das pessoas dos tempos bíblicos e a situação histórica em que foram escritos os livros da Bíblia. Apresentamos a seguir algumas ideias sobre maneiras de repassar tal informação ao leitor,

1. Recursos visuaisDesenhos bem escolhidos, historicamente corretos e colocados em lugares apro­

priados, podem ser de grande ajuda para o leitor. Não somente devem ser bonitos como também devem ajudar o leitor a compreender o assunto do texto. Estes dese­nhos podem ser de:

® animais e plantas mencionados na Bíblia, mas talvez desconhecidos para os leitores; por exemplo: camelo, urso, hissopo, figueira, videira com uvas, etc.;

= atividades desconhecidas na cultura da língua receptora; por exem­plo: um pastor com suas ovelhas, agricultores arando a terra com bois, uma torre de vigia no centro de um vinhedo, uma tempestade no mar, a pesca com redes, um semeador espalhando sementes com a mão;

= assuntos relacionados ao sistema religioso dos judeus; por exemplo: o tabernáculo, os levitas e sacerdotes com suas vestes oficiais, o altar e os sacrifícios.

Tais desenhos e ilustrações aparecem em algumas traduções contemporâneas da Bíblia. Para usar ilustrações como estas na sua própria tradução, é preciso pedir li­cença às respectivas entidades responsáveis.

As ilustrações que você escolher devem ser:

= corretas e verídicas, de acordo com a cultura bíblica;= claras e fáceis de compreender. (Mostre-as aos falantes da língua re­

ceptora para ver se as compreendem).

Às vezes se pode acrescentar uma nota explicativa (chamada “legenda”) debaixo da ilustração.

2. VocabulárioAlgumas traduções da Bíblia têm, nas páginas finais, um vocabulário que ex­

plica uma série de coisas que pode ser desconhecida para os falantes da língua receptora.

Um vocabulário pode ser muito útil para explicar termos como “fariseu”, “sadu- ceu”, “Filho do Homem” e muitos outros. Em uma edição contendo somente o Novo Testamento, pode-se usar o vocabulário para dar informações sobre personagens do Antigo Testamento que são mencionados no Novo Testamento.

As palavras que aparecem no vocabulário podem ser indicadas com asterisco (*) no texto. Mas é preciso lembrar-se que muitos leitores não consultam o vocabulário quando leem o texto. Por isso, o próprio texto deve ser traduzido da maneira mais clara possível.

3. Notss de rodapéAs notas de rodapé ou “ao pé da página” podem oferecer mais detalhes sobre o

tema ou dar explicações que não podem ser incluídas no texto como tal. Também podem ser úteis quando, para obter uma tradução com significado mais claro, deve­-se alterar a forma do texto. Se conveniente, a forma mais literal do texto-fonte pode aparecer em uma nota de rodapé, acompanhada de uma explicação.

Mas o número de notas de rodapé não deve ser muito grande. A presença de muitas notas distrai a atenção do leitor, e essas notas muitas vezes mais confundem do que ajudam.

O tradutor também deve cuidar para as notas se destaquem claramente do texto. Para esse fim, pode usar-se um tipo diferente de letra, em geral uma letra ou fonte menor. Também se costuma inserir uma linha gráfica entre o texto (acima) e as notas (abaixo). Caso não se fizer isto, os leitores, em especial os que recém aprenderam a ler, poderiam pensar que as notas fazem parte do texto.

Os novos leitores que não estão familiarizados com notas de rodapé devem ser orientados no uso delas.

4. introduçõesAlgumas traduções da Bíblia contêm uma breve introdução para cada livro. As

introduções devem limitar-se aos fatos reais e devem oferecer somente os dados que são importantes e úteis para a compreensão do livro.

Às vezes, há certa informação cultural que o leitor deve ter para compreender a mensagem do livro. Por exemplo, para compreender a carta aos Gálatas, é preciso entender o papel da circuncisão na cultura judaica.

5. Folhetos s outros materiais sobre a BíbliaE possível fornecer, em um folheto separado, informação detalhada a respeito da

maneira de viver das pessoas dos tempos bíblicos. Existem hoje, também, recursos adicionais, como um Atlas Bíblico e o Manual Bíblico.

6. Subtítulos de seçõesÀs vezes, é possível dar informação importante em um subtítulo de seção. O ca­

pítulo 32 (ponto 5) deste livro trata deste assunto.

124 COMO TRANSMITIR INFORMAÇOES..

COMO TRANSMITIR ÍNFORMAÇOES. 125

Lembre-se:Todos os recursos adicionais e complementares são úteis para dar ao

leitor a informação de que necessita, mas nada pode substituir uma boa tradução do texto.

Uma tradução naturalUma boa tradução deve ser EXATA, CLARA E NATURAL. O que se pode fazer

para que uma tradução seja n a tu ra l? Aqui apresentamos três sugestões que podem ajudar o tradutor. Sugerimos que ele:

s Escreva relatos e composições em sua própria língua.s Estude a sua língua materna e aprenda a gramática e o estilo dela.* Faça exercícios com narrações orais livres.

A seguir explicaremos cada um destes métodos.

1. Escreve em sua própria línguaSe sua língua materna só ganhou recentemente uma forma escrita, é provável

que você não tenha tido oportunidade de escrever composições nessa língua. Faça um esforço para escrever alguns relatos em sua língua. Não devem ser traduções, mas composições originais. Esta prática lhe ajudará a escrever com mais facilidade.

Ao traduzir, a gente sempre tem a tendência de seguir a forma da mensagem na língua-fonte. Mas quando a gente escreve em sua própria língua, pensa unicamente nesta língua, e o que se escreve é mais natural e expressivo. Fazendo este exercício, você melhora o seu estilo de escrever, e isso irá melhorar também a sua tradução.

É bom começar com uma coleção de contos tradicionais de sua cultura. Depois, você pode escrever poemas e relatos históricos, discursos e outros tipos de compo­sições. Na Bíblia aparecem contos, relatos históricos, poemas, profecias, exortações, discursos, diálogos e cartas. É bom ensaiar todos estes tipos de composições. Também se deve observar o estilo e as características próprias de cada tipo de composição.

2. Estude a iíngua materna s aprenda a gramática e estilo delaTodas as línguas têm sua gramática própria e estruturas características. Embora

você tenha falado a língua materna durante quase toda sua vida, é provável que não tenha estudado a gramática dela. Comece a estudar textos escritos em sua própria língua. Procure especialmente as diferenças entre a gramática de sua língua e a do português. Existem métodos para fazer este estudo; peça maiores informações a respeito disto a seu professor ou consultor de traduções.

O estudo de textos escritos em sua língua materna lhe ajudará a descobrir que há muitas diferenças entre a gramática e o estilo de sua língua e a gramática e o estilo do português.

O estilo da tradução deve ser natural.ESTUDE SUA PRÓPRIA LÍNGUA, e faça um esforço para não seguir

inconscientemente a gramática da língua-fonte, produzindo assim uma tradução forçada e pouco natural.

128 UMA TRADUÇAG NATURAL

Mais adiante serão dados exemplos dos tipos de ajustes e modificações que po­dem ser necessários em uma tradução. E evidente que estes ajustes variam muito de uma língua a outra, segundo a gramática e o estilo de cada idioma.

1. O português permite incluir, em uma só oração, várias locuções preposicionais (para expressar tempo, local, etc.).Em muitas línguas é preciso expressar todos os verbos implícitos em forma ex­plícita, e subdividir os períodos longos em várias orações menores, cada uma com seu próprio verbo. Em muitas línguas, as noções de direção (como “para”) e posição (como “sobre”) são expressas mediante verbos e não por meio de pre­posições.

(a) Lucas 2.4* José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judeia,...

(ARA)s José s s le v a n to u /su b iu da cidade de Nazaré, na Galileia, efoi à Ju­

deia.

(b) Atos 21.1e ... navegando diretamente para a ilha de Cós. No dia seguinte paramos

no porto de Rodes e dali continuamos até a cidade de Pátara. (NTLH)= Fomos de frente, e v iem o s chegam os a Cós. No dia seguinte v ia ja ­

m o s s chegam os a Rodes. Depois s a ím o s -de Rodes, v ia jam os o u ­tra ves, e chegam os a Pátara.

(c) Atos 18.5e Silas e Timóteo chegaram da província da Macedonia..., (NTLH)= Silas e Timóteo v ie ra m da Macedonia e chegaram aqui,...

(d) João 2.7s “Encham de água estes potes”. (NTLH)= "T ragam água, e u se m essa á g u a para encher os potes”.

(e) 2Coríntios 11.33• Mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo,

e assim me livrei das suas mãos. (ARA)s Então as p esso a s m e p e g a ra m e me co lo ca ra m em um cesto, que

a ta r a m a u m a s cordas; eles a b r ira m u m buraco no m u ro q ue cercava a cidade, -depois m e b a ix a ra m a té o chão; então fui correndo e escapei dele.

Lem bre-se:Muitas línguas empregam mais verbos que o português.

2. Em muitas línguas, o bom estilo exige que o escritor expresse explicitamente alguns dos fatos ou acontecimentos que estão apenas implícitos no texto em português.

(a) Marcos 9.2£ ... tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um

alto monte. Foi transfigurado diante deles... (NTLH)» Jesus os guiava. Subiram sozinhos a um monte alto. Q uando chega­

r a m lá. ele se transfigurou diante deles.

(b) Atos 11.13-15s ... “Mande alguém a Jope, para buscar Simão, que também é chamado

de Pedro. Ele vai dizer como você e toda a sua família podem ser salvos” ... Quando comecei a falar... (NTLH)

• “Envie umas pessoas a Jope, e traga Simão, também chamado de Pedro; ele vai lhe dar uma mensagem” ... Q uando lá cheguei, comecei a falar...

(c) Marcos 1.9s Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia, e por João foi batizado

no rio Jordão. (ARA)» Naqueles dias Jesus sa iu de Nazaré, que fica na Galileia, e veio a té

o n d e e s ta va Jo eo . João o batizou no rio Jordão.

3. Dê atenção especial à maneira como se ligam as frases e as orações.Ao estudar a gramática de sua própria língua, você se dará conta das diferenças entre a maneira como essa língua faz a ligação entre as frases e a maneira como isto é feito em português. Evite traduzir literalmente, sem pensar no significado. Este aspecto será analisado mais detalhadamente nas sessões sobre Como desco­brir a gramática da sua língua materna.

4. Em muitas línguas, o bom estilo exige que se use orações principais para apre­sentar as informações desconhecidas pelo leitor. Raramente se usam orações su­bordinadas para este fim.Por exemplo, em Marcos 11.27, o leitor precisa ser informado de que Jesus foi ao templo e andou pelo pátio dele. Nas referidas línguas, esta informação deve ser apresentada numa oração principal. Em geral, o bom estilo exige a repetição de uma frase curta no começo da oração maior que segue.

Marcos 11.27= Depois voltaram para Jerusalém. Quando Jesus estava andando pelo pá­

tio do Templo, chegaram perto dele os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes dos judeus... (NTLH)

UMA TRADUÇAO NATURAL 129

* Voltaram então para Jerusalém. Jasus &utrou no LS-npio e ca m i­n h o u p o r ali. E quando ele estava caminhando ali, os principais sacer­dotes, os escribas e os anciões se aproximaram dele.

Muitas línguas usam expressões onomatopeicas.Esta forma gramatical é pouco usada em português — nossa língua emprega mais advérbios, adjetivos e locuções preposicionais. Para obter um estilo mais dinâmico e natural na tradução, o tradutor deve sentir-se à vontade para usar palavras onomatopéicas sempre que expressarem bem o significado do texto ori­ginal, contanto que seu uso seja apropriado ao estilo da passagem. Talvez não seja adequado seu uso em certos contextos, já que às vezes tais palavras produ­zem um efeito cômico.

(a) Lucas 6.49* ... (a casa) caiu logo e ficou completamente destruída. (NTLH)= A casa caiu begmm. (mbembe, Nigéria)

(b) Lucas 9.293 ... e a sua roupa ficou muito branca e brilhante. (NTLH) s ... a roupa dele brilhava, estava branca benw angggg. (mbembe)

(c) Génesis 7.12= ... e caiu chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.

(NTLH)= E choveu quarenta dias chij. (achuar, Peru)

Muitas línguas empregam interjeições que podem servir na tradução de citações de conversas, para expressar fielmente os sentimentos do falante.

s Atos 23.4: Os homens que estavam perto de Paulo perguntaram: “Você está insultando o Grande Sacerdote, o servo de Deus”? (NTLH)

Repare que, em português, temos uma pergunta retórica. Não se pede informação, mas se expressa surpresa e indignação. Em algumas lín­guas, pode ser necessária uma interjeição para expressar tais senti­mentos:

Aqueles que estavam ali disseram: “Mej! Ofendes assim o sumo sacer­dote que faz o trabalho de Deus”!

Alguns exemplos de interjeições na língua hausa são “Haba”!, “Ashe”!, “To”! Quais são as exclamações mais usadas na s u a língua? Ouais são as emoções que expressam? Você se recorda de algum texto bíblico em que poderiam ser usadas?

UMA TRADUÇAO NATURAL 131

Lem bre-se:Procure traduzir de uma maneira que inspire as pessoas a sentirem e

reagirem.

1. Tenha como objetivo que os seus leitores possam sentir o que os leito­res originais sentiram.

2. Quando a mensagem tiver um profundo sentido emocional, expresse isto na tradução, pois faz parte da mensagem.

3. Quando a mensagem tiver uma ênfase bem forte, procure mantê-la na tradução.

3. Faça exercícios com narrações orais livres, visando aumentar a naturalidade da narrativa

Uma versão oral, narrada livremente, é uma criação espontânea da imaginação daquele que fala. Não é uma tradução; é a fala natural do narrador. Não é uma ver­são escrita nem lida.

As versões orais livres podem ajudar a melhorar o estilo natural da tradução, porque quando alguém fala livremente, sem consultar o texto na língua-fonte, é bem provável que não siga em sua tradução a estrutura gramatical dessa língua-fonte.

Pode ser que uma versão oral não traga exatamente todos os detalhes. E provável que se perca uma parte do significado. Mas tais versões podem servir de base para revisar e melhorar a tradução escrita.

Algumas maneiras de empregar as versões orais livres:

1. Alguns tradutores acham que é útil preparar da seguinte maneira o primeiro rascunho da tradução: Estudam primeiro o texto-fonte para captar com clareza o significado. Depois, expressam o significado em palavras próprias, sem consultar o texto-fonte. Gravam esta versão oral em fita ou outro meio. Por fim, podem transcrever a gravação e trabalhar com este rascunho para melhorá-lo.

2. Outros preferem um método diferente. Eles preparam o primeiro rascunho por escrito e o deixam de lado; depois gravam em fita ou outro meio uma versão oral da mesma passagem. Comparam a versão falada com a escrita. Muitas vezes a versão falada contém ideias que podem ser usadas para melhorar a versão escrita. A versão falada é, quase sempre, muito mais natural na sua maneira de arranjaro material e na maneira de fazer a conexão entre as frases. As vezes, o tradutor emprega expressões naturais e expressões idiomáticas de que nem se lembrava ao fazer a versão escrita. Estas ideias ajudam a melhorar a naturalidade da tradução.

3. Outra forma de empregar versões orais livres é pedir que outras pessoas narrem determinada história ou passagem em suas próprias palavras. Ao ouvir essas

narrativas, o tradutor pode captar expressões que ajudam a melhorar o estilo da sua tradução. A melhor opção é gravar a versão oral, para que se possa escutá-la mais de uma vez e fazer anotações.Este método surtiu bom efeito na tradução ao idioma twi, em Gana. O tradutor ensi­nou a dois falantes nativos da língua twi a arte de traduzir. Costumava explicar-lhes uma passagem bíblica que eles, depois, traduziam por escrito. Depois, contava a mes­ma história a outro homem que, por sua vez, a contava aos alunos da escola. Estes, a partir do que lembravam, escreviam o relato em twi. Finalmente, o tradutor elabo­rava a versão definitiva, aproveitando as diversas versões preparadas pelos outros.A respeito desta tradução se disse o seguinte:

“A Bíblia em twi é uma obra-prima, e foi durante muito tempo a melhor tradução das Escrituras para uma língua africana; logo se tornou popular e continua popular até hoje”. (Hans W. Debrunner.A History of Christianity in Ghana, 1967, p. 143-144).

Experimente vários métodos. Utilize diferentes formas de versões orais, acs cncontrar um m étodo que lhe dê os melhores resultados na si­tuação em que você se encontra.

Exercício 1* Escreva, em sua língua, uma versão livre da história do bom samaritano (Lucas

10.30-37). NÃO deve ser uma tradução. Conte a história em suas próprias pala­vras, como se a estivesse contando a um amigo que nunca a tinha ouvido antes. Se possível, faça uma gravação de seu relato e depois coloque-o por escrito.

a Você pode consultar o texto na Bíblia, para fixar a história, mas feche a Bíblia an­tes de começar a escrever. Pense em sua própria língua, imaginando a situação e esquecendo como a história foi narrada em português. (Não se esqueça de deixar linhas em branco para escrever depois uma retroversão ao português).

* Quando acabar de escrever o relato, coloque debaixo do texto na língua materna uma retroversão em português.

Exercício 2* Escolha uma narrativa breve ou algum outro texto escrito em sua própria lín­

gua, mas não algo contado ou escrito por você mesmo. Peça ao professor ou ao consultor (ou, ainda, a outra pessoa) que o ajude a traduzir a narrativa para o português. A tradução deve ser a mais livre e natural possível.

= Tome essa tradução e, usando-a como texto-fonte, traduza-a para a sua própria língua. Enquanto estiver traduzindo, não consulte a versão original da narrativa. Quando terminar, compare sua tradução com a versão original. Fale com seu pro­fessor ou consultor sobre as diferenças entre as versões.

132 UMA TRADUÇ-0 NATURAL

1 - A co n tec im en to s

Exempios:* Tiago 4.9: Converta-se o vosso riso em p r a n to (ARA)

Poderia ser expresso como: “Não riam mais; pelo contrário, comecem a chorar”.

s Atc-s 4.12: E não há sa lva çã o em nenhum outro... (ARA)Poderia ser expresso como: “Não há nenhum outro que possa (nos) salvar”.

* Atos 26.18: afim de que recebam o p e rd ã o dos pecados... (NVI) Poderia ser expresso como: “para que (Deus) perdoe os pecados de vocês”

s ITessalonicenses 4.15: até à v in d a do Senhor... (ARA)Poderia ser expresso como: “até que o Senhor venha...”

Repare que, em cada um dos exemplos, aquilo que na primeira versão se expressava por meio de um su b s tan tiv o se expressa na segunda versão por meio de um verbo.

Em cada caso, o substantivo em negrito expressa uma AÇÃO ou ACONTECI­MENTO, ou seja. algo que alguém faz. Em muitas línguas, os ACONTECIMENTOS são expressos, normalmente, por meio de VERBOS. Muitas línguas utilizam verbos onde o português emprega substantivos.

Ao começar a traduzir, é muito útil procurar os ACONTECIMENTOS do texto, es­pecialmente os que n ã o foram expressos por meio de um verbo. Procure expressar por meio de um verbo o significado do referido ACONTECIMENTO. Isto é útil por duas razões:

1. Revela com mais exatidão o significado do texto-fonte. O significado, especial­mente as relações entre as ideias, aparece, muitas vezes, com maior clareza quando os ACONTECIMENTOS são expressos por meio de verbos.

2. Ajuda o tradutor a encontrar uma forma mais fácil de expressar o significado na língua receptora.

Lembre-se:Ao estudar uma passagem para traduzi-la:

1. Procure todos os conceitos de ACONTECIMENTO ou AÇÃO e sublinhe-os.2. Modifique a estrutura, expressando por meio de verbos todos os con­

ceitos de ACONTECIMENTO ou AÇÃO.

Capítulo 18

Descobrindo o significado

ercícic 1Cada um dos substantivos seguintes expressa uma ideia de ACONTECIMENTO ou AÇÃO. Expresse cada uma dessas ideias por meio de um verbo:Por exemplo: morte —> morrer

(a) castigo —>_________________(b) canção —»_________________(c) conhecimento —>__________________(d) estudante — * _ ________________(e) sugestão —>_________________(f) libertação —*__________________(g) saída —>_________________(h) alegria —►__________________(i) ignorância (cuidado!) —>_________________

(j) f é ^ _________________

ercícic 2Nos exemplos seguintes, a palavra sublinhada expressa um ACONTECIMENTO ou AÇÃO. Reescreva as passagens em português, usando um verbo para expres­sar a AÇÃO ou ACONTECIMENTO.

(a) Mateus 26.66: É réu de morte! (ARA)(b) Mateus 24.31: ... reunirão os seus escolhidos...(c) Lucas 8.48: ... a tua fé te salvou...(d) Lucas 12.47: Aquele servo... será punido com muitos açoites.(e) Lucas 12.58: Quando fores com o teu adversário ao magistrado...(f) João 4.10: Se você conhecesse o dom de Deus... (NVI)(g) Colossenses 1.8: Foi ele quem nos contou do amor... (NTLH)(h) Filemom 21: Certo, como estou, da tua obediência... (ARA)(i) Romanos 6.5: ... Se fomos unidos com ele na m orte..., o seremos também na

semelhança da sua ressurreição.0) Hebreus 13.1: Seja constante o amor fraternal.

arcíais 3Nos exemplos seguintes,= Sublinhe todos os substantivos que expressam um ACONTECIMENTO ou

AÇÃO.= Reescreva as orações em português, usando verbos para expressar os ACON­

TECIMENTOS ou AÇÕES. a Verifique o contexto da passagem, se for preciso.

34 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

DESCOBRINDO O SIGNIFICADO 135

(a) Lucas 2.26: ... que não passaria pela morte...(b) Lucas 2.47: E todos os que o ouviam, muito se admiravam da sua inteligência

e das suas respostas.(c) Lucas 4.18: ... para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista

aos cegos;...(d) Atos 16.26: De repente sobreveio tamanho terremoto,...(e) Atos 13.36: Porque... Davi... viu corrupção.(f) Romanos 1.16: ... para a salvação de todo aquele que crê,...(g) Hebreus 4.6: ... por causa da desobediência, não entraram aqueles aos quais

anteriormente foram anunciadas as boas-novas.(h) Mateus 3.15: ... porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça.

Exercício 4» As passagens seguintes são do capítulo 1 do Evangelho de Lucas. Siga as mesmas

instruções do exercício anterior.

(a) 1.21: O povo estava esperando Zacarias, e todos estavam admirados com a demora dele no Templo. (NTLH)

(b) 1.42: ... e exclamou em alta voz... (ARA)(c) 1.44: ... logo que me chegou aos ouvidos a voz de tua saudação,...(d) 1.74: ... conceder-nos que... o adorássemos sem temor,...

• Atente para as diferenças de enfoque no texto-fonte. Procure reproduzir estas diferenças na sua tradução. A estrutura gramatical pode ser distinta, mas o signi­ficado deve ser o mesmo.

Particlparstes ds uma açãoOs PARTICIPANTES de um acontecimento ou ação são as pessoas ou coisas que

tomam parte nele ou nela. Quando se expressa uma ideia de ACONTECIMENTO ou AÇÃO por meio de um verbo, muitas vezes é preciso especificar q u em ou o q u e parti­cipa do referido acontecimento. Geralmente este detalhe fica claro a partir do contexto.

Exemplos* O cachorro comeu a carne.e ACONTECIMENTO/AÇÃO: comer 9 PARTICIPANTES: o cachorro, a came* seus eleitos — o povo que (Deus) escolheu* ACONTECIMENTO/AÇÃO: eleger/escolher* PARTICIPANTES: Deus, o povo

Neste último exemplo, o participante “Deus” não aparece de forma explícita na forma original “seus eleitos”, mas, pelo contexto, fica claro que se refere a Deus. Na

frase alternativa, a palavra “Deus” aparece entre parênteses, para indicar que a in­formação foi explicitada.

Lemb-re-se:As pessoas ou coisas que tomam parte em determinado ACONTECI­

MENTO ou AÇÃO se chamam PARTICIPANTES.

136 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

S X & fC iC iO s

5 Nos exemplos que seguem:= Sublinhe todos os ACONTECIMENTOS ou AÇÕES.= Faça uma lista dos participantes do referido acontecimento ou ação.= Se algum desses participantes estiver implícito na forma original, torne-o ex­

plícito, colocando a palavra entre parênteses.

(a) A morte de João.(b) O amor da Maria pelos filhos.(c) Houve muita alegria.

Exercida 6 = Em cada um dos exemplos do exercício 3:

= Mencione os participantes de cada ACONTECIMENTO ou AÇÃO.= Se algum desses participantes estiver implícito na forma original, torne-o ex­

plícito, colocando-o entre parênteses.

2 - A p rep o siçã o “d e ”

1. Exemplos da frases com "de" em portuguêsUma frase com a preposição “de” une dois substantivos:

= a casa d e meu pai s o pescoço d o meu cachorro• um balde d e água• a canção d e Míriam

O nome técnico deste tipo de frase é “construção genitiva”.A mesma relação pode ser expressa por meio de um “pronome possessivo” como

“seu(s)”, “minha (s)”, “nosso(s)”. Estas também são construções genitivas, embora sem a palavra “de”.

s sua casa e seu pescoço e sua canção

Em português, a preposição “de” e outras frases genitivas são muito comuns,mas em grego, a língua original do Novo Testamento, a construção genitiva é maiscomum ainda que em português.

2. Relações diferentesComo se verá nos exemplos seguintes, a preposição “de” expressa muitas rela­

ções diferentes, especialmente quando um dos substantivos expressa um ACONTE­CIMENTO ou uma AÇÃO.

Aqui nos interessa principalmente descobrir a relação entre as duas partes da fra­se ou locução com “de”. A maneira de expressar as ideias na tradução é um assunto que trataremos mais adiante.

Repare que, na reformulação do significado, na segunda linha, alguns participan­tes da ação foram explicitados. A informação que se tornou explícita aparece entre parênteses.

Exemplos:

(a) Mateus 1.18• O nascimento de Jesus Cristo...• (Maria) deu à luz a Jesus Cristo

(b) Mateus 13.35• ... desde a criação do mundo.• ... desde que (Deus) criou o mundo

C ap ítu lo 19

Descobrindo o significado

138 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

(c) Mateus 21.25e ... o batismo de João s ... João batiza (as pessoas)

(d) Romanos 5.10s ... pela morte do seu Filho5 ... porque seu Filho morreu

(e) Efésios 1.1e ... pela vontade de Deus= ... porque Deus assim o quis

(f) Efésios 1.13= ... a palavra da verdade e ... a palavra/a mensagem que é verdadeira

(g) Efésios 1.13s ... o evangelho da vossa salvação ® o evangelho/a boa noticia de que (Deus) salva

(h) Efésios 1.13= ... o Santo Espírito da promessa (ARA)= ... o Espírito Santo que (Deus) prometeu (enviar)

(Alguns destes exemplos são tirados do capítulo 3 do volume The Theory and Pratice of Translation, por Nida e Taber.)

Lembre-se:A preposição “de” expressa muitas relações diferentes. Estude sempre

a frase ou locução completa para descobrir a relação entre as partes. Para facilitar este processo, expresse os ACONTECIMENTOS ou as AÇÕES por meio de VERBOS.

Exercício 1• As passagens que seguem foram tiradas do capítulo 1 do Evangelho de Lucas.

Para cada passagem:- Sublinhe todas as frases ou locuções com “de”.- Torne a expressar o significado de cada frase de tal maneira que se veja clara­

mente a relação entre as suas partes.s Expresse todos os ACONTECIMENTOS ou AÇÕES por meio de verbos. Quando

for preciso, tome explícita a informação e coloque-a entre parênteses. Veja cada um dos exemplos em seu contexto.

(a) 1.5: ... nos dias deHerodes, rei daJudeia,... (ARA)

DESCOBRINDO O SIGNIFICADO 139

(b) 1.6: ... obedecendo fielmente a todas as leis e mandamentos do Senhor. (NTLH) (.c) í .iú : ... toda a multidão do povo... (ARA)(d) 1.11: ... um anjo do Senhor... (ARA, NTLH)(e) 1.11: ... o altar do incenso (ARA)(f) 1.14: Ele será motivo de prazer e de alegna para você... (NVI)Cg! 1.41: Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,... (NTLH)

Exercício 2s Siga as instruções do exercício 1.

(a) Lucas 1.3: ... uma cidade deJudá...(b) Lucas 2.4: ... da cidade de Nazaré,...(c) Lucas 2.4: ... a cidade de Davi,...(d) Lucas 4.31: ... cidade da Galileia...(e) João 1.44: ... a cidade de André e de Pedro.(f) Atos 8.1: ... as regiões da Judeia. ..(g) Atos 11.5:... na cidade de Jope

= Em qual destes exemplos a preposição de significa “chamado de” ou “que se chama”?

5 Em quais exemplos a preposição de significa “na região de”?0 Em quais exemplos a preposição de significa “onde alguém vivia” ou “onde

alguém nasceu”?

3. A importância do contestoMuitas vezes, ao se analisar uma frase isoladamente, é impossível compreendê­

-la fora de seu contexto. Poderia ser entendida de várias maneiras. Mas quando se estuda o contexto em que ela aparece, seu significado fica claro.

Exemplo 1:Um estudo do contexto de cada uma das passagens seguintes demonstra que:

1. em Romanos 8.39: o a m o r de D eus significas “o amor de Deus por nós” ou s “a maneira como Deus nos ama”

2. em lJoão 5.3: o a m o r de D eus significas “nosso amor a Deus” ou s “a maneira como amamos a Deus”

Exemplo 2:

1. Atos 2.38: “o dom do Espírito Santo”.® Neste caso, o Espírito Santo é o dom referido: e (Deus) dá o Espírito Santo (às pessoas)

2. Efésios 2.8: “dom de Deus”.» Neste caso, é Deus quem dá:» (Deus) dá a salvação (às pessoas).

Em Efésios 2.8, no começo da sentença se fala sobre a salvação (“pela graça de Deus vocês são salvos,r). Isto significa que, no contexto de Efésios 2.8, o dom de Deus é a salvação. Mas, em Atos 2.38, não é o Espírito Santo quem dá o dom; ele é o dom concedido. Portanto, o significado das duas frases é totalmente diferente, embora sua estrutura em português (ou grego) seja semelhante.

Exercida 3e Procure as seguintes frases em sua Bíblia e estude o contexto em que aparecem.

Reescreva cada passagem em português, para deixar bem claro o seu significado.

(a) Atos 13.12: ... a doutrina do Senhor. (ARA)Apocalipse 2.15: ... a doutrina dos nicolaítas... (ARA)

(b) João 12.31: ... o juízo deste mundo... (ARC)Romanos 2.2: ... o juízo de Deus... (ARA)

(c) Gálatas 1.12: ... revelação de Jesus Cristo. (ARA)ICoríntios 1.7: ... a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. (ARA)

(d) Lucas 3.6: ... a salvação de Deus. (ARA)Efésios 1.13: ... o evangelho de vossa salvação... (ARA)

Lembre-se:E muito importante estudar o significado de uma palavra ou frase no

contexto em que aparece.

4. Com o traduzir a preposição "de"Em muitas línguas, as locuções com a preposição “de” não aparecem com tanta

frequência como em português e grego. E bem possível que as relações que, notexto-fonte, são expressas com “de” possam ser expressas de outra maneira, mais natural, na língua que você fala.

E s tu d e a s c o n s tru ç õ e s eo m “d e ” n a s u a p ró p r ia lín g u a . Note que tais frases também são chamadas de “genitivas” ou do tipo “substantivo-substantivo”. Conhecer bem o emprego dessas formas em sua língua materna pode alertá-lo para os pontos em que talvez tenha de reformular a sua tradução.

1. Procure reconhecer as frases ou locuções com “de” no texto-fonte.2. Estude cada frase ou locução com “de” para descobrir a relação entre

as palavras e o significado básico.3. Expresse o significado da maneira mais clara e natural na sua língua.

140 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

Exercício 4© Os exemplos abaixo são tirados dos capítulos 3 e 4 do Evangelho de Mateus, na

Almeida Revista e Atualizada (ARA). Siga as instruções do exercício 1.

(a) 3 .1:o deserto da Judeia.(b) 3.3: o caminho do Senhor(c) 3.4: vestes de pelos de camelo(d) 3.7: Raça de víboras!(e) 4.4: ... da boca de Deus.(f) 4.8: ... todos os reinos do mundo...(g) 4.18: ... mar da Galileia,...

Exercício 5» Os exemplos que seguem foram tirados de Atos 5. Siga as instruções do exercício 1.

(a) 5.2: ... umaparte do dinheiro... (NTLH)(b) 5.12: ... no Pórtico de Salomão (ARA)(c) 5.19: ... um anjo do Senhor,... (ARA, NTLH)(d) 5.20: ... todas as palavras desta Vida. (ARA)(e) 5.34: ... mestre da Lei... (NTLH)(f) 5.37: ... nos dias do recenseamento... (ARA)

Exercício Se Os exemplos seguintes foram tirados de Atos 8. Siga as instruções do exercício 1.

DESCOBRINDO 0 SIGNIFICADO 141

(a) 8.5: .. à cidade de Samaria...(b) 8.14 ... a palavra de Deus,...(c) 8.18 ... com a imposição das mãos dos apóstolos... (NVI)(d) 8.20 ... o dom de Deus... (ARA)(e) 8.25 ... muitas aldeias dos samaritanos...(f) 8.27 ... alto oficial de Candace...(g) 8.27 ... rainha dos etíopes,...(h) 8.32 ... a passagem da Escritura...

Exercício 7© Os seguintes exemplos foram tirados de Hebreus. Siga as mesmas instruções do

exercício 1.

(a) 1.3: ... pela palavra do seu poder. (ARA)(b) 2.14: ... aquele que tem o poder da morte... (ARA)(c) 2.15: ... pelo pavor da morte... (ARA)(d) 2.17: ... os pecados do povo. (NTLH)(e) 3.3: ... o construtor de uma casa... (NVI)

(f) 3.8: ... no dia da tentação... (ARA)(g) 3.13: ... velo engano do pecado. (ARA)(h) 4.1: ... a.promessa de entrar no descanso de Deus...

Exercício 8 a Siga as mesmas instruções do exercício 1.

(a) lSamue!2.3: ... o Deus da sabedoria...(b) ISamuel 2.17: ... a oferta do S e n h o r .

(c) Salmo 3.3: ... me fazes andar de cabeça erguida... (NVI)

Exercício 9 (para tradutores mais experientes)= Siga as mesmas instruções do exercício 1.

(a) Atos 13.15: Depois da leitura da lei... (ARA)(b) ICorfníios 2.4: A minha palavra e a minha pregação não consistiram em lin­

guagem ...d e sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder. (ARA)(d) ICoríntios 3.9: ... de Deus somos cooper adores... (ARA) [Há d u a s interpreta­

ções possíveis desta frase. Procure expressar as d u a s . i(e) ICoríntios 10.14: ... fujam da adoração de ídolos. (NTLH)(f) Filipenses 1.3: ...por tudo que recordo de vós... (ARA)(g) Apocalipse 11.6: ... nos dias de sua profecia... (ARC)(h) Apocalipse 12.10:... o acusador de nossos irmãos... (ARA)

* Para este exercício, utilize uma tradução formal da Bíblia (por exemplo, uma das edições de Almeida).

= Estude os primeiros dois capítulos do Evangelho de Mateus, começando em Mt 1.18. Localize todos os exemplos de frases com “de” e trate de reescrevê-las para que seu significado fique claro. Expresse os ACONTECIMENTOS/AÇÕES por meio de verbos e, quando preciso, torne explícitas as ideias implícitas.

3 - Voz a tiv a e vo z passiva.

1. Qua! á a diferença sn írs a forma "ativa" e a forms "passiva"?

Em português é possível dizer:

s João construiu a casa. (forma ativa)OU

e A casa foi construída por João. (forma passiva)

Na forma ou voz ATIVA, o sujeito da oração é a p e s s o a q u e e x e c u ta a açao.

Na forma ou voz PASSIVA, o sujeito da oração é a p esso a o u c o isa que so fre a a ç ã o o u s o b re a q u a l a aeãe= re e a i. Outro indivíduo, nem sempre mencionado, executa a ação sobre a referida pessoa ou coisa.

Exercício 7® Nas orações seguintes, diga se a voz é ativa ou passiva.

(a) O cachorro mordeu o João.(b) João foi mordido pelo cachorro.(c) O corpo dele foi sepultado no cemitério.(d) João está cavando um poço profundo.(e) Ontem, João pegou dez peixes.(f) A verdade é sabida de todos.(g) O papel foi rasgado em pedaços.(h) A bandeira foi levada pelo soldado.(i) Os meninos tinham comido todas as bananas.

Exemplo 1:Marcos 1.13: sendo (Jesus) tentado [voz passiva] por Satanás...

Pode ser preciso expressar este versículo como: Satanás tentou Jesus.Como você traduziria esta frase para a sua língua?Em muitas línguas não existe a voz passiva, mas apenas a forma ativa. Portanto,

ao traduzir do português, talvez você tenha de substituir as orações na voz passiva por orações na voz ativa.

Exercido 2® As seguintes orações aparecem na voz passiva em português. Como você as tra­

duziria para a sua língua?

Descobrindo o significado

(a) Atos 4.11: ... épedra rejeitada por vós, os construtores...(b) Atos 12.23: E ele morreu, comido por vermes.(c) Atos 22.11: ... (fui) guiado pela mão dos que estavam comigo...

2, Participantes im piícítosNa voz p ass iv a , nem sempre se menciona aquele que executa a ação.Na v o s a tiv a , pelo contrário, sempre se menciona aquele que realiza a ação.

Exsmpios:

(a) Mateus 3.16= Logo que (Jesus) foi batizado... (voz passiva) s E logo que João batizou Jesus (voz ativa correspondente)

(b) Lucas 8.5= ... uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada... e ... caiu à beira do caminho, e as pessoas a pisaram. ..

Quando é necessário especificar quem executa determinada ação, como se pode saber quem é? Em geral, esta informação se encontra:

s no contexto da passagem, e em outras passagens da Bíblia, ou e no conhecimento geral.

Exercício 3= Faça de conta que você está traduzindo para uma língua que não conhece a voz

passiva. Reescreva as seguintes passagens de uma forma condizente com essa língua. Estude com cuidado o contexto de cada passagem.

(a) Marcos 1.14: Depois que João foi preso... (NTLH)(b) Marcos 13.9: ... (vocês) serão chicoteados nas sinagogas. (NTLH)(c) Marcos 14.4: Para que este desperdício de bálsamo? (ARA)(d) Marcos 14.5: ... poderia ser vendido por mais de trezentos denários... (ARA)(e) Atos 10.29: Uma vez chamado, vim sem vacilar.

Muitas vezes, o tradutor terá de acrescentar o sujeito gramatical “Deus”. Por exemplo:

Colossenses 1.11= ... sendo fortalecidos com todo o poder, ...* (Deus) os fortalece com todo o poder...

144 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

DESCOBRINDO O SIGNIFICADO 145

Exercício 4= Siga as mesmas instruções do exercício 3.

(a) Atos 10.31: “Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus”. (ARA)

(b) ICoríntios 11.15: pois o cabelo lhe foi dado em lugar de mantilha. (ARA)(c) Efésios 2.5: Pela graça sois salvos. (ARA)(d) 2Tessalonicenses 3.2: para que sejamos livres dos homens perversos e maus;

(ARA)

Exercício S® Siga as instruções do exercício 3.

(a) Mateus 4.1: A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito...(b) Mateus 4.12: Quando Jesus soube que João tinha sido preso... (NTLH)(c) Mateus 7.1: Não julgueis, para que não sejais julgados. (ARA)(d) Mateus 28.18: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. (ARA)(e) Marcos 6.14: ... éJoão Batista, que foi ressuscitado! (NTLH)(0 Marcos 10.45: Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas

para servir... (ARA)(g) João 19.20: ... o lugar em que Jesus foi crucificado... (NTLH)(h) Atos 1.5: ... daqui a poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo.

(NTLH) [Compare com Atos 1.4 e Atos 2.17]

3. A voz passiva em portuguêsEm português se emprega tanto a voz passiva como a ativa. Portanto, compete­

-nos fazer a seguinte pergunta: P o r -que, em a lg u n s co n te x to s , p re fe re -se a voz p a s s iv a à voz a tiv a? Há várias razões pelas quais se utiliza a voz passiva em português. E importante reconhecer essas razões para poder descobrir a intenção do autor do texto-fonte e ser fiel a esta intenção na sua tradução.

1. O autor pode optar pelo emprego da voz passiva para que a ênfase recaia sobre a pessoa ou coisa que sofre a ação, e não sobre quem executa a ação. Por exemplo:

- Marcos 10.33: ... e o Filho do Homem será entregue aos principais sacer­dotes e aos escribas... (ARA) (Neste caso, não interessa quem entrega o Filho do Homem.)

= Marcos 14.4-5: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este per­fume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. (ARA) (A ênfase recai sobre o perfume, e não sobre quem o “desperdiçou” e quem o poderia vender.)

146 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

2. O autor pode empregar a voz passiva porque o agente da ação é desconhecido. Por exemplo: “Meu carro foi roubado ontem à noite”.

3. O autor pode optar pelo uso da forma passiva porque prefere n ã o dizer quem realiza a ação. Por exemplo:

= Mateus 24.2: “Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derru­b a d a (ARA)

4. O autor pode optar pelo uso da voz passiva para dar uma declaração breve e me­morável que se concentra em uma ideia específica, deixando em segundo plano as ideias menos importantes. ITimóteo 3.16 é um bom exemplo disto. Veja o exercício 6 abaixo.

Ao se traduzir uma forma passiva que aparece no texto-fonte, é pre­ciso tentar entender por que se usou a voz passiva nesse contexto. Haverá maneiras de obter o mesmo efeito na tradução. Talvez isto possa ser al­cançado peio emprego de uma construção gramatical bem diferente na língua receptora.

4. Como esp rsssa r o significado "passivo"

1. Algumas línguas têm uma forma pronominal “não específica” semelhante a “eles fizeram algo” ou “alguém fez algo”. Neste caso, “eles” e “alguém” não se referem a ninguém em particular. O sujeito permanece, portanto, indefinido. As vezes, é possível usar esta forma para traduzir a voz passiva que existe em português, es­pecialmente quando parece haver uma razão para não especificar quem praticou a ação.Existe uma forma deste tipo em sua língua? Se for assim, estude alguns textos de sua língua para descobrir (a) a frequência do seu uso e (b) em que situações essa forma é empregada.Depois de descobrir o padrão natural de emprego desta forma na sua língua, procure empregá-la da mesma maneira natural na sua tradução. Se não for uma forma de uso frequente, tenha cuidado de não empregá-la excessivamente na tradução. Utilize-a só nos casos em que soaria natural na língua receptora.

2. Algumas línguas têm voz passiva e ativa, mas pode ser que as duas formas não se empreguem da mesma maneira que em português. Analise textos de sua língua para descobrir como se usa a voz passiva, e utilize-a da mesma maneira. Não coloque a forma passiva cada vez que houver voz passiva no texto em português, sem estudar o caso com cuidado.

Exercício 6o Estude ITimóteo 3.16. Sem modificar o significado, transforme a voz passiva em

voz ativa em português.« Depois, traduza o versículo para a sua própria língua, usando a forma que me­

lhor expresse o significado correto.

Exercício 7 (para tradutores mais experientes) a Estude Hebreus 11.1-7. Em português, e sem modificar o significado, transforme

a voz passiva em voz ativa.

DESCOBRINDO 0 SIGNIFICADO 147

4 - Elipse

Todas as línguas têm maneiras de “encurtar” orações. Na gramática, isto se cha­ma de elipse. Por exemplo:

— Aonde vai?— Ao mercado.

Todos sabem que a resposta significa: “Vou ao mercado”. Em português, a palavra “vou” pode ser omitida; fica subentendida a partir da pergunta. Isto quer dizer que, devido à for­ma gramatical, parte da informação está implícita, mas os ouvintes a entendem muito bem.

Exemplos:Nos seguintes exemplos, a informação que estava implícita na Almeida Revista e

Atualizada foi tornada explícita e aparece entre parênteses.

e Marcos 14.17: Ao entardecer foi com os doze (discípulos).* João 1.21: Então, lhe perguntaram: Quem és, pois? Es tu Elias? Ele

disse: Não sou (Elias).e João 2.10: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando (os con­

vidados) já beberam fartamente, (trazem) e servem o (vinho) inferior.

E m b o ra to d a s a s lín g u a s fa çam u so d e e lip se , n ã o to d a s a u s a m n o s m esm o s easo s . Portanto, ao traduzir, pode ser necessário tomar explícito o signi­ficado implícito para que significado correto seja comunicado de maneira natural.

Ao fazê-lo, não se adiciona nada ao significado, apenas se torna explícito o que estava implícito e era subentendido para os ouvintes originais.

Capítulo 21

Descobrindo o significado

Exercício l# As passagens seguintes contêm uma elipse. Reescreva os textos, tomando explí­

cito o que está implícito.

(a) João 4.12: És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado?

(b) João 7.46: Jamais alguém falou como este homem.(c) 1 Coríntios 2.8: ... sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século co­

nheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória;

(d) 1 Coríntios 7.19: A circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus. (ARC)

(e) ICoríntios 11.25: Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou tam­bém o cálice, dizendo...

Capítulo 22

Descobrindo o significado5 - Passagens complexas

O método que segue ajudará você a:

= descobrir o significado de uma passagem difícil, e5 expressar a passagem de maneira que seja fácil de traduzir a algumas

línguas.

Lembre-se:ETAPA 1: Localize todos os acontecimentos na passagem. Faça uma lis­

ta e expresse todos esses acontecimentos como verbos.ETAPA 2: Identifique e acrescente os participantes do acontecimento;

quer dizer, escreva q u e m fez o quê.Nesta etapa, observe também as frases ou locuções com a preposição

“de” e estude a relação entre as partes.Torne explícitos todos os participantes ou qualquer outra informação

implícita na mensagem que seja essencial para compreender bem a passa­gem. Expresse todas as formas de voz passiva na voz ativa.

ETAPA 3: Estude a forma como os acontecimentos se relacionam. Ex­presse a passagem de maneira que não se perca essa relação. Ao fazê-lo, comece a pensar como poderia expressar essas ideias na tradução.

Estas três etapas são parte do processo de d e s c o b r ir o s ig n ificad o , que, por sua vez, é o Passo 1 do processo de tradução. Veja o diagrama que é fornecido no ca­pítulo 6. As passagens são reescritas em p o r tu g u ê s . Mais adiante falaremos sobre o Passo 2, sobre como expressar o significado na língua receptora.

Exempio 1: Atos S.1-2 {NTLH)1 E Saulo aprovou a morte do Estêvão. Naquele mesmo dia a igreja de Jerusalém começou a sofrer uma grande perseguição. E todos os cristãos, menos os apóstolos, foram espalhados pelas regiões da Judeia e da Samaria.2 Alguns homens religiosos sepultaram Estêvão e choraram muito por causa da sua morte.

Etapa 1:Faça uma lista dos ACONTECIMENTOS ou das AÇÕES.

= aprovar s morrer

e perseguir e espalhar = adorar/honrar* sepultar* chorar

Note que esses homens “religiosos” eram os que adoravam a Deus.

Etapa 2:Identifique e acrescente os PARTICIPANTES.

= Saulo: aprovava s (Estêvão): devia morrer* as pessoas: adoravam/honravam (a Deus) e as pessoas: enterraram (Estêvão)e as pessoas: choraram muito por ele « (as pessoas): perseguiram a igreja (os crentes/cristãos)= (os cristãos): se espalharam pelas regiões da Judeia e da Samaria = os apóstolos: (ficaram em Jerusalém)

Note que a ação de “ficar” não está na lista de ações ou acontecimentos. Trata-se de uma ideia implícita. Note também que, na Etapa 2, algumas das ações aparecem numa ordem diferente daquela da lista da Etapa 1. Acontece que, na Etapa 2, já se está seguindo a ordem em que os fatos aconteceram.

Etapa 3:Reescreva a passagem, mostrando as relações.

s Saulo: aprovava* que (Estêvão): morreu* pessoas que: adoravam/honravam (a Deus)= enterraram (o corpo de) Estêvãos e: choraram muito por (sua ausência)

Nesses dias (houve gente que) co m eço u a p e r s e g u ir a igreja (os cristãos/ os crentes) de Jerusalém; (isto fez com que) todos (os cristãos) se e s p a lh a s s e m pelas regiões da Judeia e da Samaria. Só os apóstolos (ficaram ) em Jerusalém.

Exemplo 2: Lucas 1.76=77 (ARA)

7feTu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque pre­cederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos, 77 para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pe­cados...

1 52 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

DESCOBRINDO O SIGNIFICADO 1 53

Etapa 1:Faça uma lista das AÇÕES.

e chamar s profetizars preceder/ir adiante de- preparar* dar conhecimento ® salvar= remire pecar/praticar o mal

Etapa 2:Identifique e acrescente os PARTICIPANTES.

= (as pessoas): c h a m a rã o a ti, menino, (de algo) e (tu): p ro f e t iz a rá s (quer dizer, proclamarás uma mensagem de

Deus)® (Deus): ( r e m a /e s tá sobre) todos = tu: i r á s a d ia n te de Deus e tu: p re p a ra rá s o caminho para o Senhor e (tu): darás a conhecer ao povo do Senhor (algo)» (Deus): sa lv a a seu povo « (o Senhor): p e rd o a (a seu povo)• (seu povo): p e c o u /p ra t ic o u o mal

Etapa 3:Reescreva a passagem, mostrando as relações.

E tu, menino, as pessoas te c h a m a rã o ,“a pessoa que p ro fe tiz a em nome de Deus [ou: p ro c la m a umamensagem de Deus]que re in a [ou: está] sobre todos”porque irá s a d ia n te d e Deuspara preparar o caminho para o Senhor [quer dizer, preparar o povo de Deus para quando ele vier/aparecer].Também darás a conhecer ao povo que (Deus) salva (o seu povo) e perdoa os seus pecados.

Leia o texto de Lucas 1.76-77 na Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Quais são as diferenças de forma que você pode notar nesta versão?

76 E você, menino, será chamado de profeta do Deus Altíssimo e irá adiante do Senhor a fim de preparar o caminho para ele.77 Você anunciará ao povo de Deus a salvação que virá por meio do perdão dos pecados deles.

llxempio 3; Marcos 1.4 (ARA)... apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrepen­dimento para remissão [perdão] de pecados.

Etapa 1:Faça uma lista das AÇÕES.

e pregar « batizar s arrepender-se = perdoar e pecar

tta p a 2:Identifique e acrescente os PARTICIPANTES.

= João: p re g a v a (uma mensagem) e (João): b a tiz a v a (as pessoas) s (as pessoas): se a r re p e n d ia m s (Deus): p e rd o a (as pessoas)« (as pessoas): p e c a m

Etapa 3:Reescreva a passagem, mostrando as relações.

« Alternativa A:João p reg av a :

(vocês) p e c a ra mportanto (vocês) (devem) a r re p e n d e r-s ee (eu) (os) ba tizare lpara que (Deus) (os) p e rd o e

Note que esta versão segue a ordem em que ocorreram os acontecimentos. Note também que a forma do texto original indica uma relação estreita entre “arrepen­dimento” e “batismo”. O perdão não depende de uma única ação, mas sim das duas ações juntas. Isto se confirma em Atos 2.37-38:

Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes

154 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

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Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados... (ARA)

s Alternativa B:João p reg av a :

(as pessoas) (devem) a r re p e n d e r-s e e (as pessoas) (devem) s e r b a t is a d a s para que (Deus) p e rd o e (as pessoas) que p e c a ra m

Estas versões A e B são parte da primeira etapa do processo de tradução, que trata de como descobrir o significado. A maneira como se expressa o significado na língua receptora (o segundo passo da tradução) será muito diferente porque depende da gramática de referida língua. Vejamos duas traduções literais ao portu­guês. Compare-as com a tradução da NTLH.

= (A) João pregava às pessoas: “Vocês pecaram. Arrependam-se e eu os balizarei para que Deus lhes perdoe”.

s (B) João pregava que as pessoas deviam se arrepender e vir para serem batizadas, para que Deus lhes perdoasse seus pecados.

= (NTLH) E foi assim que João Batista apareceu no deserto, batizando o povo e anunciando esta mensagem: — Arrependam-se dos seus pecados e sejam batizados, que Deus perdoará vocês.

L em bre-se:Quando estudar o significado de uma passagem difícil, as três etapas

para descobri-lo são:1. Fazer uma lista das ações ou dos acontecimentos, expressando-os

como verbos.2. Identificar e acrescentar os participantes.3. Reescrever a passagem mostrando as relações entre os termos.

Exercíciose Nas seguintes passagens, siga as três etapas mencionadas.

(a) Apocalipse 21.4(b) Lucas 5.14(c) Atos 4.34-35(d) Lucas 24.46-47(e) Efésios 1.7 (para tradutores experientes)(f) Efésios 2.8 (para tradutores experientes)

DESCOBRINDO O SIGNIFICADO 155

6 - A o rd em d o s a co n tec im en to s

Em português, nem sempre se mencionam os acontecimentos na ordem em que eles ocorreram. Às vezes, o escritor íépula para trás” na sua narrativa, mencionando algo que aconteceu bem antes. Para indicar tal mudança de tempo, pode-se:

(a) empregar um tempo verbal diferente; ou(b) utilizar advérbios ou locuções temporais, como “ontem”, “no ano passado”,

“antes disso”.

Em muitas línguas, os acontecimentos não narrados na ordem em que realmente ocorreram. Caso não se fizer assim, o relato fica confuso.

Exemplo 1: Lucas 10.34

E chegando-se. [o samaritano] pensou-lhe os ferimentos, aplican­do-lhes óleo e vinho, (ARA)Repare que o óleo e o vinho deveriam ser aplicados nas feridas a n te s de enfaixá-las, não d e p o is . Portanto, talvez seja necessário alterar a ordem das palavras, como segue:—> Então [o samaritano] chegou perto dele, limpou os seus feri­mentos com azeite e vinho, e em seguida os enfaixou. (NTLH)

C ap ítu lo 23

Descobrindo o significado

Lem bre-se;Quando os acontecimentos relatados no texto-fonte não aparecem na

ordem em que ocorreram, proceda com cuidado, E possível:1. seguir a ordem em que os fatos realmente ocorreram, ou2. verificar, na narrativa, a presença de outros sinais que possam esclare­

cer a ordem temporal, sem que o leitor fique confuso.

Exercício• Em cada uma das passagens abaixo, existe a possibilidade de confusão para o

leitor. Que mudanças você sugere para evitar tal confusão?

(a) Marcos 1.43-44 (compare com Lucas 5.12-15)(b) Lucas 8.37-88 (compare com Marcos 5.18)(c) Lucas 19.12-13 (compare o texto de ARA com a NTLH)(d) Atos 28.14-16

Está certo trocar a ordem dos versículos?Em algumas traduções da Bíblia, dois versículos são por vezes combinados em

um só, havendo uma reorganização do seu conteúdo. Esta prática é bastante comum

1 DESCOBRINDO O SIGNIFICADO

na Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Como exemplo, veja Números 14.36-37 e Atos 13.38-39 nesta tradução. Comparar esses textos com Almeida Re­vista e Atualizada (ARA) permite que se note as diferenças.

Está certo, sim, combinar versículos desta maneira, contanto que n ã o se aítere q s ig n ificad o , e a nova maneira de expressar a passagem re s u lte n u m a t r a d u ­ção m ais c la ra a precisa .

Siga as seguintes sugestões:

1. Faça isto raramente, só quando preciso para evitar confusão ou algum signifi­cado erróneo.

2. Normalmente não se deve combinar mais de dois versículos. Qualquer novo arranjo de passagens mais longas deve ser feito com muito cuidado, com a assessoria do consultor de traduções.

Exemplo 2: Marcos 6.17-18Estude Marcos 6.17-18 em seu contexto. Repare que, nesta passagem, o autor

retrocede ou volta atrás várias vezes, para mencionar acontecimentos anteriores. O tradutor pode compreender melhor o que ocorreu se fizer uma lista dos acon­tecimentos na ordem em que eles ocorreram. Na NTLH, os fatos são relatados na seguinte ordem:

1. Herodes enviou (soldados)2. (os soldados) prenderam João3. (os soldados) amarraram as mãos de João4. (os soldados) jogaram (João) na cadeia5.Herodias incitou (Herodes) [“por causa da Herodias”]6. Herodes havia casado com Herodias7. Herodias era, na verdade, a esposa de Filipe8. Filipe era o irmão de Herodes9. João tinha falado muitas vezes com Herodes

10. João tinha dito a Herodes: “Pela nossa Lei você é proibido de11. casar com a esposa do seu irmão”.

Na seguinte reordenação dos versículos, aparece em primeiro lugar a informa­ção contextuai. Em seguida, são apresentados os acontecimentos na ordem em que ocorreram. Os números se referem à ordem original acima mencionada.

8. Filipe era irmão de Herodes7. A esposa de (Filipe) era (Herodias)

DEPOIS DISTO

6. (Herodes) casou com (Herodias)

9. João falou muitas vezes com Herodes:11. “Você casou com a esposa do seu irmão”.10. “Isso é proibido pela nossa Lei”.

PORTANTO

5. Herodias incitou (Herodes)

E COMO RESULTADO

1. Herodes enviou (soldados)2. (os soldados) prenderam João4. (os soldados) jogaram (João) na cadeia3. (os soldados) amarraram as mãos de João

Note a ordem dos dois últimos acontecimentos. O texto significa provavelmente que, depois de jogar João na cadeia, eles prenderam as mãos dele com uma cor­rente afixada à parede, como era o costume daquela época.

DESCOBRINDO O SIGNIFICADO 15 !i

POR ISSO

7 - Orações breves ou com pridas

Na língua grega, empregam-se com frequência orações compridas e gramatical­mente complexas. A tradução ARA segue fielmente a estrutura do grego, empregan­do na tradução sentenças e orações compridas.

Durante os preparativos para sua própria tradução, pode ser útil reescrever essas passagens bíblicas, dividindo as sentenças e orações mais compridas em outras mais breves. Isto ajuda o tradutor a ver melhor o significado delas.

Em muitas línguas, o bom estilo exige orações breves ou, no caso de orações relativamente compridas, que elas não sejam complicadas. Portanto, ao expressar o significado na língua receptora, às vezes pode ser preciso subdividir as sentenças e orações compridas do original em várias orações mais breves.

Algumas traduções modernas em português, como a NTLH, dividem algumas das orações mais compridas em orações mais breves, como se vê nos exemplos a seguir.

Exercício® Compare as traduções das seguintes passagens nas versões ARA e NTLH. Para

cada passagem, diga o que você observa sobre■ o número de orações ou frases.■ o tamanho das orações ou frases.= a construção gramatical das orações em ambas as traduções.

(a) Lucas 1.1-4(b) Lucas 15.3-4(c) Romanos 1.1-7 (para tradutores mais experientes)(d) 2Reis 23.16; 25.18-19(e) Jeremias 40.7-8

Para estudo futuro= Estude a construção natural das orações em textos de sua própria língua materna.

C ap ítu lo 24

Descobrindo o significado

1. M e tá fo ra s e s ím ilesUm SÍMILE é uma figura que implica um tipo de co m p araçã o :

= Você é doce como o mel.= “V ocê” é c o m p a ra d o co m í5o m e l” , e O rapaz tinha a fome de um leão.= O " ra p a z ” é eom paradc* ec=m --'um le ã o ” , s Correu como o vento.= "A c o r r id a (d e le )” é c o m p a ra d a co m “o v e n to ” ,

Uma METÁFORA também é uma c o m p a ra ç ã o . A única diferença entre metá­foras e símiles é que nos símiles se indica explicitamente que se trata de uma compa ração, geralmente pelo uso da palavra “como” ou “assim como”, enquanto que, nas metáforas, a comparação está implícita.

« METÁFORA: Benjamim é lobo que despedaça. (Génesis 49.27, ARA)= SÍMILE: Benjamim é corns um lobo feroz. (Génesis 49.27, NTLH)

Mais exemplos de metáforas:

5 Aquele atleta é um leão.- Esse menino é um anjoi s vermezmho de Jacó...” (Isaías 41.14, ARA)» “Raça de víboras! Quem vos induz-iu a fugir da ira vindoura?” (Mateus

3.7, ARA)

Exercido 1* Sublinhe todos os exemplos de comparação — tanto os símiles como as metáfo­

ras — no texto que segue:

João andava sem rumo pelo caminho. O sol queimava como fogo, e as pedras pontudas pareciam furar a sola de seus sapatos como se fossem facas. Ele tinha a garganta seca como o pó que cobria tudo e ansiava por um copo de água fresca. De repente, viu que Atamba vinha em sua direção, aquele a quem todos chamavam de “leão do deserto”.

Exercido 2• Em sua língua materna, dê exemplos de

■ três símiles;■ três metáforas.

C ap itu lo i-5

Linguagem figuradas Comparação

2. Para que se em pregam comparações?As comparações são usadas:

£ como ilustrações, para esclarecer ou explicar uma ideia,® para chamar a atenção do ouvinte e tornar a passagem mais marcante

e memorável para ele, e/ou,= para provocar uma reação nos ouvintes.

As metáforas aparecem especialmente na poesia. Elas chamam a atenção das pessoas. Quanto mais apropriada e original for a metáfora, mais forte será o seu impacto.

3. Com o descobrir o significado de um a m etáfora ou de um sím ile Toda metáfora e todo símile contém três partes:

1. O TEMA (aquilo de que se fala),2. A ILUSTRAÇÃO (aquilo com o qual se compara o tema),3. O(S) PONTO(S) DE COMPARAÇÃO (o que o tema e a ilustração têm em co­

mum).

Por exemplo, no símile “Benjamim é como um lobo feroz”,

* o tema é Benjamim, porque é dele que se fala;® a ilustração é o lobo, porque Benjamim é comparado com um lobo

feroz;s o ponto de comparação é que tanto Benjamim como o lobo feroz são

fortes e destrutivos.

Exemplos:

(a) No símile “o sol queimava como fogo”,= o TEMA é o sol;= a ILUSTRAÇÃO é o fogo; e= o PONTO DE COMPARAÇÃO é o calor (o sol e o fogo esquentam).

(b) Na metáfora “esse menino é um anjo”,= o TEMA é o menino;= a ILUSTRAÇÃO é o anjo; e= o PONTO DE COMPARAÇÃO é a bondade e inocência.

(c) No símile “rápido como uma flecha, o menino entrou em casa”,- o TEMA é a maneira como o menino se movimentou;= a ILUSTRAÇÃO é a forma como voa uma flecha; e s o PONTO DE COMPARACÃO é a rapidez ou velocidade.

LINGUAGEM FIGURADA: CGMPARAÇAO 165

As três partes de uma metáfora ou símile podem ser expressas na seguinte for­mulação:

= “O TEMA é como a ILUSTRAÇÃO, pois ambos compartilham uma qua­lidade chamada PONTO DE COMPARAÇÃO”.

= O sol é como fogo, porque ambos são quentes.= Esse menino é como um anjo, porque ambos são inocentes.® A forma como o menino se moveu é como uma flecha, pois ambos se

deslocam rapidamente.

Lembre-se que não estamos falando ainda sobre como traduzir uma metáfora ou um símile, mas sobre co m o d esc o b ri? seu v e rd a d e iro s ig n ificad o . Da tradu­ção falaremos mais adiante.

Exercício 3s Em cada um dos seguintes símiles, identifique as três partes (TEMA, ILUSTRA­

ÇÃO e PONTO DE COMPARAÇÃO) e expresse novamente o significado da com­paração em português por meio de sentenças como as do exemplo acima:

(a) Aquele homem é astuto como uma raposa.

______________é como______________ , porque ambos são______________.(b) Rápido como um raio, o trem cruzou a cidade.(c) A água refletiu o sol como um espelho.(d) A bebida era amarga como fel.

Exsraício 4 = Siga as instruções do exercício 3.

(a) Génesis 49.4: (Ruben é) violento como a correnteza. (NTLH)______________é com o______________ , porque______________.

(b) IReis 4.20 O povo de Judá e de Israel era tão numeroso como os grãos de areia da praia do mar. (NTLH)

(c) Salmo 18.2: O S en h o r é a minha rocha... em que me refugio. (ARA)(d) Isaías 51.6: ... os céus desaparecerão como a fumaça... (ARA)(e) Isaías 53.6: Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas... (ARA)(f) Hebreus 11.12: ... nasceram tantos descendentes como as estrelas do céu ...

(NTLH)(g) Tiago 4.14: ... vocês são como uma neblina passageira ... (NTLH)(h) Ap 1.14: Os seus cabelos eram brancos como a lã ou como a neve... (NTLH)

155 LINGUAGEM FIGURADA COMPARAÇÃO

L am bre-se:As metáforas e os símiles têm três partes:

1. O TEMA — aquilo de que se fala;2. A ILUSTRAÇÃO — aquilo com o qual se compara o tema;3. O PONTO DE COMPARAÇÃO — o que o tema e a ilustração têm em

comum.

4, U m a d a s três p a r te s p o d e f ic a r im p líc ita

IPedro 1.24s Todos os seres humanos são como a erva do campo... (NTLH) s Todos os seres humanos são como en>a porque ambos (morrem logo).

O ponto de comparação entre “os seres humanos” e “a erva” é que ambos morrem logo. Este ponto de comparação não aparece de forma explícita, mas se subentende claramente a partir do contexto e do que se sabe a respeito da erva ou relva.

Às vezes, as três partes aparecem explicitamente no texto, mas muitas vezes uma parte (ou duas) fica(m) implícita (s). Não raras vezes, o que fica implícito é o PONTO DE COMPARAÇÃO.

Quando uma parte está implícita no texto original, isto se indica pela colocação da respectiva parte entre parênteses.

Exercício 5 s Siga as instruções do exercício 3.= Se uma das três partes estiver implícita no texto-fonte, tome-a explícita ao rees­

crever o texto, colocando esta parte entre parênteses. Sempre que preciso, veri­fique o contexto em sua Bíblia.

(a) Salmo 119.105: A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que ilumina o meu caminho. (NTLH)

(b) Provérbios 11.22: A beleza na mulher sem juízo é como uma joia de ouro no focinho de um porco. (NTLH)

(c) Provérbios 25.11: Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo. (ARA)

(d) Isaías 44.22: Desfaço as tuas transgressões como a névoa... (ARA)(e) Mateus 17.20: ... se tiverdes fé como um grão de mostarda... (ARA)(f) Marcos 1.17: ... eu vos farei pescadores de homens. (ARA)(g) João 6.35: Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida. (ARA)(h) Tiago 3.6: A língua é um fogo. (NTLH)

5. C om o id e n tific a r o p o n to de co m p a ra çã oA compreensão de uma metáfora ou símile depende da identificação do PONTO

DE COMPARAÇÃO entre o TEMA e a ILUSTRAÇÃO. O tema e a ilustração são iguais ou semelhantes, não em todos os aspectos de seu significado, mas apenas em u m aspecto ou componente. Também é possível que a semelhança se estenda a um con­junto de aspectos ou componentes de significado.

É provável que, em contextos diferentes, um símile focalize diferentes compo­nentes de significado. Por exemplo, nas passagens citadas a seguir, a ILUSTRAÇÃO é “ovelha” ou “rebanho”, mas o aspecto específico do significado de “ovelha” ao qual se refere o PONTO DE COMPARAÇÃO difere com cada TEMA. Os respectivos pontos de comparação aparecem sublinhados nos exemplos que seguem.

9 Isaías 53.6: Toáos nós andávamos d esporrados como ove lhas... (ARA) ® Isaías 53.7: ... e, como o ve lh a muda perante os seus tosquiadores, ele

não abriu a boca. (ARA)= Jeremias 12.3: Arranca-os como as ove lh a s vara o matadouro e desti­

na-os para o dia, da matança. (ARA)= Miqueias 2.12: Eu os ajuntarei como ove lh a s num aprisco, como um

rebanho numa pastagem; haverá ruído de zrande multidão. (NVI) s Mateus 10.16: Eu estou mandando vocês como ove lhas (indefesas)

para o meio de lobos. (NTLH)

É evidente que existe o perigo de interpretar mal e. às vezes, até de interpretar de forma totalmente errónea determinada passagem, se o ouvinte ou leitor concentrar a sua atenção no componente de significado incorreto.

» Apocalipse 3.3: Virei como ladrão (ARA) — Isto quer dizer que Jesus virá deforma inesperada ou de surpresa. Esta é o ponto de comparação. Sua vinda não se assemelha de forma nenhuma a outros aspectos da vinda de um ladrão,

e Mateus 28.3: Seu aspecto era como um relâmpago. (ARA) — Em portu­guês, faz-se conexão entre o “relâmpago” ou o “raio” e a velocidade, como na expressão “rápido como um raio”. Entretanto, no contexto de Mateus 28.3, o ponto em destaque é o brilho do relâmpago. O contexto esclarece isto e a passagem paralela de Lucas 24.4 o confirma,

e João 1.29: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (ARA) — Muitas vezes não se entende o significado desta afirmação, porque não se percebe o ponto de comparação. O p o n to d e co m p aração entre Jesus e o cordeiro é que, na religião judaica, o cordeiro era o animal sacrificado para expiar os pecados, e esse cordeiro não devia ter nenhum defeito. Compare IPedro 1.18-19: “Vocês foram libertados peio precioso sangue de Cristo, que era como um cordeiro sem defeito nem mancha.” (NTLH)

LINGUAGEM FIGURADA: COMPARAÇÃO 167

Um autor pode usar a mesma metáfora de diferentes maneiras, para ensinar coisas distintas. Por exemplo, em várias passagens Paulo faz uso da metáfora da ca­beça. Em Colossenses 1.18 e 2.19, a “cabeça” é Cristo, e o corpo é a igreja. Mas em ICoríntios 12.21, a cabeça é mencionada como sendo apenas uma parte do corpo. Isto mostra que o autor emprega cada ilustração de acordo com o ponto específico que deseja ensinar na referida passagem.

6= M a is in fo rm a çã o so b re o p o n to d s co m p a ra çã oÀs vezes é difícil de localizar o PONTO DE COMPARAÇAO, pois ele é expresso

como metáfora. Neste caso, pode-se usar uma afirmação dupla para descrever o PONTO DE COMPARAÇÃO, como se mostra nos exemplos que seguem:

« H e b reu s 4.12= Pois a palavra de Deus ... corta mais do que qualquer espada afiada dos dois lados... (NTLH)

A palavra de Deus é como uma espada afiada dos dois lados porque assim como uma espada afiada dos dois lados é penetrante e corta bem, a palavra de Deus penetra na vida das pessoas.

5 M arcos 1-17; ... eu vos farei pescadores de homens. (ARA)

Vocês serão (como) pescadores porque assim como um pescador pro­cura e apanha os peixes, assim vocês procurarão pessoas para conven­cê-las a me seguir (isto é, a seguir Jesus Cristo).

7. C om o tr a ã u s ir m e tá fo ra s s s ím ilesAté aqui tratamos da questão de descobrir o significado correto das metáforas e

dos símiles. Chegou a hora de refletir sobre a tradução dessas figuras.Ao traduzir as metáforas e os símiles, siga as seguintes orientações:

1. A ilustração deve aparecer na tradução, se for possível.2. Não deixe de verificar se o leitor realmente entende que se trata de uma com­

paração. No caso de uma metáfora, talvez seja necessário transformá-la num símile (introduzindo a palavra “como”), para que fique claro para o leitor que se trata de uma comparação.

G én esis 49=17 = Dã será serpente junto ao caminho... (ARA) [metáfora]5 Dã será como uma cobra na beira da estrada ... (NTLH) [símile]

3. Verifique se o significado das três partes está claro. Para os leitores originais era fácil compreender (1) que se tratava de um símile e (2) qual era o ponto de comparação. Compreendiam isto até quando uma das três partes estava implícita. Na tradução, a mesma informação precisa ser comunicada ao ouvin-

168 LINGUAGEM FIGURADA: COMPARAÇÃO

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te/leitor da língua receptora. Se for necessário, para a comunicação ficar mais ciara e precisa, pode-se tomar explícita na tradução a informação que estava implícita no texto original.

4. Procure reconhecer as IDEIAS DESCONHECIDAS.

8 . P ro b lem a s tra n sc u liu ra is n a tra d u çã o de com paraçõesJá vimos que, às vezes, o PONTO DE COMPARAÇAO fica implícito entre o TEMA

e a ILUSTRAÇÃO. A chave para a interpretação correta se encontra

= no contexto imediato, e/ou= no conhecimento e nas experiências prévias que o falante e o ouvinte

têm em comum.

Com certeza, ao se traduzir um texto, a mensagem é recebida por pessoas de uma cultura diferente da cultura do autor que originalmente comunicou a mensa­gem. Há certos aspectos culturais do texto-fonte que as pessoas que recebem a men­sagem traduzida desconhecem. Isto acontece especialmente quando a ILUSTRAÇÃO é uma IDEIA DESCONHECIDA para os falantes da língua receptora. Se a ILUSTRA­ÇÃO for desconhecida, deve-se ter cuidado para que o PONTO DE COMPARAÇÃO fique claro.

Exempic=s:Os exemplos (a), (b) e (c) são passagens em que a ILUSTRAÇÃO pode ser uma

ideia desconhecida na cultura da língua receptora.

(a) Mateus 18.17:... ese (o teu irmão) recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. (ARA)

O ponto aqui é que os judeus não se relacionavam com os gentios (pagãos) nem com os publicanos. Evitavam os gentios, porque estes não pertenciam ao povo escolhido de Deus, e evitavam os publicanos, porque, embora ju­deus, ajudavam os odiados romanos que tinham invadido a terra de Israel. E provável que, na tradução, se tenha que tom ar explícito este PONTO DE COMPARAÇÃO:

... eseo seu irmão recusar ouvir também a igreja, evite-o como evita­ria um pagão ou um cobrador de impostos.

(b) Atos 26.14: Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões. (ARA)

Na Palestina, para tocar os bois, se usava uma vara comprida com ferrão na ponta. Se o animal não andava, a ponta da vara o feria com mais intensidade. Em lugares onde não se conhece este costume, é preciso tornar explícita a informação. Uma possibilidade é a seguinte:

LINGUAGEM FIGURADA: COMPARAÇAO 169

Você só está se ferindo, ao resistir como um boi que dá coices contra o aguilhão.

(c) IPedro 2.6: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa... (ARA)

A noção de uma “pedra angular” pode ser desconhecida em culturas onde se constroem casas com outros materiais. Em Efésios 2.20-21 se explica algo sobre a função de uma pedra angular: “... sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor. A pedra angular era a pedra mais importante do edifício, na qual as demais pedras se apoiavam. Era a pedra que sustentava a todo o edifício. Ao traduzir este versículo, você terá de levar em conta a maneira como se constroem casas na cultura da língua receptora. Entre as alternativas de tradução estão as seguintes: (1) empregar uma parte da estrutura de uma casa que tenha a mesma função e importância da pedra angular; por exemplo, o poste central de uma maloca ou construção cir­cular. (Esta solução poderia criar alguns problemas por causa de outras passagens onde Cristo é a “pedra”, como, por exemplo, em Efésios 2.20-21 e os versículos seguintes); (2) tornar explícita a função da pedra angular; por exemplo, a pedra mais importante, ou uma pedra em que se apoiam todas as demais.

Os exemplos que seguem são passagens nas quais é provável que o tradutor te­nha de explicar o fato de se tratar de um símile:

(d) 2Coríntios 11.8: Despojei outras igrejas... (ARA)Comparar com: Enquanto estive trabalhando entre vocês, fui pago por outras igrejas. (NTLH)

(e) Romanos 3.13: ... veneno de víbora está nos seus lábios... (ARA)Comparar com: ... e dos seus lábios saem palavras de morte, como se fossem veneno de cobra. (NTLH)

Repare que, em Romanos 3.13, a NTLH preserva a linguagem figurada.

Outra alternativa seria:

As palavras que eles dizem são como veneno de cobra, que mata.

Os exemplos abaixo são de passagens em que pode ser necessário tornar explícita certa informação para que a mensagem seja transmitida com clareza:

(f) Atos 2.20: ... ea lua, em sangue... (ARA)Comparar com: ... e a lua se tomará cor de sangue... (NTLH)

170 LINGUAGEM FIGURADA: COMPARAÇÃO

Compare com Apocalipse 6.12

(g) lCoríntios 15.54: Tragada foi a morte pela vitória! (ARA)Comparar com: “A morte está destruída! A vitória é completa”! (NTLH)(As pessoas não morrerão mais; viverão para sempre.)

(h) Colossenses 1.18: Ele é a cabeça do corpo, da igreja. (ARA)A relação entre Cristo e sua igreja é como a que existe entre a cabeça e o corpo.

Apresentam-se a seguir exemplos de passagens nas quais, em algumas traduções, se omitiu a ILUSTRAÇÃO, tornando explícito o PONTO DE COMPARAÇÃO. Ao se fazer isto, em geral a tradução chama menos a atenção do leitor e não tem o mesmo impacto do texto original. Considere as seguintes traduções:

(i) Mateus 5.6: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça... (ARA) NTLH: Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus. Língua X: Felizes os que têm um desejo ardente de fazer o que agrada a Deus. [Esta versão emprega uma metáfora diferente para expressar o mesmo signi­ficado.]

(j) Mateus 12.39: Uma geração má e adúltera... (ARA)NTLH: Como as pessoas de hoje são más e sem fé!

Para os leitores originais, o termo “adúltera” teria lembrado a comparação que é feita, no Antigo Testamento, entre o povo de Deus e a esposa que comete adultério. Assim como a esposa adultera, o povo havia abandonando o Deus verdadeiro para seguir outros deuses.

(k) Hebreus 1.9: ... o teu Deus te ungiu com óleo de alegiia como a nenhum dos teus companheiros. (ARA)NTLH: ... Deus, o teu Deus. te escolheu e te deu a alegria de receber uma honra muito maior do que a dos teus companheiros...

(1) Hebreus 6.19:... a qual (esperança) temos por âncora da alma, segura e firme... (ARA)NTLH: Essa esperança mantém firme e segura nossa vida, assim como a âncora mantém seguro o barco.Língua X: Nossa esperança (de que Deus cumprirá a sua promessa) nos faz permanecer firmes e fortes.

Repare que os dois últimos exemplos (Hebreus 1.9 e 6.19) são passagens em que a ILUSTRAÇÃO pode ser uma ideia desconhecida para os falantes da língua receptora; portanto, o tradutor optou por explicar o significado em vez de conservar a ilustração.

LINGUAGEM FIGURADA: COMPARAÇAO 171

9. A d vertên c ia

1. N em s e m p re é recomendável tornar explícito o PONTO DE COMPARAÇÃO. As vezes, fazer isto diminui o impacto e a força daquilo que se diz. Também pode limitar o significado; muitas vezes há vários pontos de comparação, e tom ar explícito apenas u m deles significaria comunicar só uma parte do signi­ficado total.

2. Em algumas passagens se emprega a metáfora para obter um efeito emocional específico. Tenha cuidado para não diminuir ou destruir esse efeito com uma tra­dução mal feita.

João 21.15-17s Tome conta das minhas ovelhas. (NTLH)* Apascenta os meus cordeiros. (ARA), s Pastoreia as minhas ovelhas. (ARA)

Hebreus 1.7« Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo;

(ARA)

De nada ajudaria ao leitor explicar-lhe em que sentido um anjo se assemelha ao vento e à labareda de fogo.

Faça o possível para conservar o impacto estilístico e imaginativo da figura origi­nal. Procure captar e recriar o que é apropriado em cada passagem.

3. Em alguns contextos, não se deve esclarecer o significado da metáfora original, pois nem mesmo os ouvintes originais a entenderam:

Marcos 8.15s ... tomem cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Hero-

des! (NTLH)

O debate que se segue a este versículo mostra que os discípulos não entenderam o que Jesus quis dizer.

Veja também João 11.11, onde se menciona uma confusão semelhante a esta.

Exercício 6 = Para cada uma das seguintes comparações:

■ Indique o TEMA, a ILUSTRAÇÃO e o PONTO DE COMPARAÇÃO. Procure as passagens em sua Bíblia, lendo-as em seu contexto.

a Traduza a passagem (só a parte citada abaixo) para a sua própria língua de maneira que seu significado seja claro e seu estilo natural. Faça uma retrover­são da sua tradução ao português.

172 LINGUAGEM FIGURADA: COMPARAÇAO

LINGUAGEM FIGURADA: COMRARAÇAO 173

(a) Salmo 3.3: Porém tu, S e n h o r , és o meu escudo... (ARA)(b) Salmo 7.1-2: ... salva-me de todos os que me perseguem e livra-me; para que

ninguém, como leão, me arrebate,... (ARA)(c) Salmo 118.12: Eles se juntaram, como abelhas, em volta de mim... (NTLH)(d) Provérbios 27.15: A esposa briguer.ta é como um dia triste em que a chuva não

para de cair. (NTLH)(e) João 5.35: (João) era a lâmpada que ardia e alumiava... (ARA)(f) João 10.9: (Jesus disse): Eu sou aporta. (ARA)(g) João 10.11: (Jesus lhes disse uma vez mais:) Eu sou o bom pastor; o bom pastor

dá a vida pelas ovelhas. (NTLH)(h) Atos 2.2:... de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso... (ARA)(i) Atos 20.29: Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos

vorazes, que não pouparão o rebanho. (ARA)

As metáforas mortas são metáforas antigas que já não expressam uma compa­ração. Em outras palavras, “morreram” por causa do uso excessivo, convertendo-se numa espécie de expressão idiomática. Por exemplo:

= a perna da mesa = a chave do problema e uma pessoa com coração de pedra e caráter tempestuoso

A metáfora morta não tem ponto de comparação e deve ser traduzida como uma expressão idiomática. O tradutor não deve tentar manter a comparação.

Às vezes, as metáforas são desenvolvidas e ampliadas. Considere, por exemplo, uma passagem como Efésios 6.13-17. Aqui se pode aplicar o mesmo princípio de analisar as três partes:

TEMA iLv -7-1 - - Cj /\ PONTO DE COMPARAÇÃO0 que Deus nos dá para nos protegermos e oara lutar

armaaura (para proteção e combate)

Verdade pôr um cinturão (a pessoa se prepara para a acão)Justiça vestir a couraça (protege a alma e o espírito)Evangelho (que traz) paz

calçar os pés (a pessoa se prepara para levar uma mensagem)

Fé escudo (protege a alma e o espírito)Àtaaues de Satanás dardos de fogo (são D6iÍ20S0S)Salvação capacete (protege a vida espiritual de uma

pessoa)Palavra de Deus espada (para atacar o inimigo espiritual)

As p a rá b o la s também são metáforas ampliadas. Estude, por exemplo, a para­bola do semeador em Marcos 4.3-8, com a explicação de seu significado em 4.13-30.

Outros exemplos de metáforas ampliadas se encontram no exercício 7 (a seguir).

Exsrcísia 7 (Para tradutores mais experientes)= Identifique as três partes — TEMA, ILUSTRAÇÃO e PONTO DE COMPARAÇÃO

— nas seguintes metaroras. í?iga o mesmo modelo adotado para nfésios 6.Í.3-17.

(a) João 15,1-8(b) ICoríntios 3 (este capítulo consiste em uma série de metáforas ampliadas)(c) ICoríntios 12.12-27(d) 2Timóteo 2.3-6(e) Jeremias 50.6-7

Ao traduzir comparações:1. Procure primeiro as três partes: TEMA, ILUSTRAÇAO e PONTO DE

COMPARAÇÃO.

(a) TEMA — aquilo de que se faia;

(b) ILUSTRAÇÃO — aquilo com o qual se compara o tema;

(c) PONTO DE COMPARAÇÃO — o que o tema e a ilustração têm em comum.

2. Traduza de tal forma que comunique com clareza a verdadeira men-

O que é u m a fig u ra de linguagem ?Uma f ig u ra d e lin g u a g e m é uma forma especial de dizer algo para captar a

atenção ou para produzir determinada emoção. Muitas vezes, o verdadeiro signifi­cado da figura de linguagem difere do significado literal das palavras. Isto quer dizer que a figura de linguagem não deve ser entendida ao pé da letra ou literalmente. Alguns exemplos deste uso são:

= Fiquei destroçada!= Fechou os ouvidos ao que eu dizia.* Ouço o rugido do mar.s Todo mundo veio à reunião.

Cada língua possui suas próprias figuras de linguagem. Mais abaixo aparecem algumas que se encontram na Bíblia, nos originais hebraico e grego ou em tradução portuguesa.

É provável que na língua receptora não haja o mesmo tipo de figuras de lingua­gem. Por isso é muito importante:

1. Reconhecer as figuras de linguagem.2. Reconhecer por que determinada figura foi usada, ou seja, qual o propósito da

figura de iinguagem.

Entre os motivos que levam um autor a fazer uso de figuras de linguagem estão os seguintes:

e Dar ênfase;e Indicar determinada atitude do falante ou escritor;e Captar a atenção do ouvinte;* Provocar uma reação emocional no ouvinte: por exemplo: surpresa,

discordância, tristeza.= Variar o estilo.

No que segue, dá-se o nome técnico de cada uma das figuras de linguagem. Entretanto, não importa se o tradutor consegue ou não lembrar cada um desses di­ferentes nomes. O mais importante é que ele (1) reconheça que se está usando uma figura de linguagem; (2) entenda o propósito da figura; e (3) saiba o seu verdadeiro significado.

176 OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM

1. E u fem ism o

Exemplo:

Atos 13.36:= D avi... adormeceu, foi para junto de seus pais... (ARA)= ‘Adormeceu” é uma forma indireta de dizer “morreu”.

Um eu fem ism o é uma expressão que tem um significado bastante diferente do significado que a expressão à primeira vista parece ter.

O p ro p ó s ito do eufemismo é evitar o uso de linguagem ofensiva ou desrespeitosa.Todas as línguas têm seus próprios eufemismos, com significado claro para os falan­

tes nativos da referida língua. Mas aquele que está aprendendo a língua pode confun­dir-se. especialmente se não se der conta de que se trata de uma figura de linguagem. Se um eufemismo for traduzido literalmente, isto é, palavra por palavra para outra lín­gua, pode perder totalmente seu significado ou pode comunicar um significado errado.

Cada cultura tem suas próprias normas sobre aquilo que pode ser mencionado abertamente sem ofender e aquilo que só pode ser mencionado indiretamente. E pos­sível que numa cultura se empregue eufemismos para referir-se a algo que em outra cultura se diz abertamente.

Exemplos:Na s u í tu ra ju d a ic a , para mostrar respeito a Deus, usavam-se vários títulos que

representavam diferentes aspectos de seu caráter.

* Mateus 26.64: ... vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo- -P oderoso ...

- Marcos 14.61: És tu o Cristo, o Filho do B endito?e Lucas 15.18: Pai, pequei contra o céu e diante de ti.

Na cultura judaica, e em muitas outras culturas, fala-se sobre relações sexuais por meio de eufemismos. Os exemplos que seguem foram tirados da tradução de Almeida, que segue de perto a forma do texto original:

e Génesis 4.1: £ conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e teve a Caim... (ARC)

s Mateus 1.24-25: José... recebeu sua mulher. Contudo, n ã o s co n h e­ceu, enquanto ela não deu à luz filho... (ARA)

e ICoríntios 7.1: ... é bom seria que o homem n ã o to q u e em mulher. (ARA)

Na c u ltu ra la tin a , como em muitas outras, empregam-se eufemismos para referir-se à morte. Alguns exemplos deste uso são: “falecer”, “passar desta para me­lhor”, “fechar os olhos”, “dar o ultimo suspiro”, “dar a alma a Deus”, etc.

Outros exemplos de eufemismos para a morte:

e Twi (Gana): Nina ko a kuraa

(literalmente: o avô [quer dizer, o chefe] foi para a aldeia)

Em algumas c u ltu ra s a fr ic a n a s , usam-se eufemismos para referir-se às açõesum chefe. Por exemplo, em alguns lugares, nunca se diz “o chefe morreu”, maschefe adormeceu”.Os eufemismos podem ser:

= POSITIVOS: para algo que se considera santo ou respeitável demais para ser mencionado abertamente; ou

* NEGATIVOS: para algo que não se menciona abertamente por medo ou por vergonha.

ercícic- 1Cite ou liste cinco eufemismos usados na língua que você fala.

Como traduzir eufemismos

1. Procure reconhecer os eufemismos usados no texto-fonte. Examine se você compreendeu o verdadeiro significado deles.

2. Procure descobrir o que se considera aceitável e natural na cultura da língua receptora. Lembre-se de que:

= As vezes, é possível traduzir um eufemismo do texto-fonte diretamente à língua receptora.

* Outras vezes um eufemismo do texto-fonte deve ser traduzido por um eufemismo diferente na língua receptora; ou seja, o eufemismo terá uma forma diferente, mas seu significado, na cultura-receptora, será idêntico ao significado no texto-fonte.

2 As vezes, algo referido abertamente no texto-fonte deve ser traduzido por um eufemismo na língua receptora, para não ofender os leitores e ouvintes da cultura-receptora.

-rcísio 2Em cada uma das seguintes passagens há um eufemismo.= Sublinhe o eufemismo.= Escreva a expressão que usaria para traduzir o eufemismo para a sua própria

língua materna. Leia cada passagem no seu contexto. Faça uma retroversão ao português de cada uma das expressões usadas.

(a) Lucas 1.76: Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo... (ARA)

(b) Lucas 7.37: ... uma mulher da cidade, pecadora, ... (ARA)(c) Génesis 31.35: Não te agastes, meu senhor, por não poder eu levantar-me na

tua presença; pois me acho com as regras das mulheres. (ARA)(d) Génesis 16.4: Ele [Abrão] a possuiu, e ela concebeu... (ARA)(d) Lucas 23.46: E, dito isto, expirou.

2. L ito tes

Exemplo:

Atos 20.12s ... e ficaram não pouco consolados. (ARC) s Quer dizer: “E sentiram-se grandemente confortados”. (ARA)

A LÍTOTES é uma afirmação enfática, feita por meio da declaração de que a id e ia c o n trá r ia n ã o é c o rre ta .

Em geral, seu propósito é dar ênfase.Em algumas línguas, pode ser preciso expressar a ênfase usando uma afirmação

enfática em lugar de uma negação. A tradução de Atos 20.12 em ARA e na NTLH (“e isso os deixou muito animados”) é um exemplo disso.

Exercida 3= Cada uma das passagens seguintes contém um exemplo de litotes.

= Sublinhe os exemplos de litotes.= Faça de conta que vai traduzir o trecho para uma língua que não emprega a

litotes. Expresse o significado de uma forma direta. Tenha cuidado de conser­var a ênfase.

(a) Jeremias 30.19: Multiplicá-los-ei, e não serão diminuídos; glorificá-los-ei, e não serão apoucados... (ARA)

(b) Marcos 12.34: “Não estás longe do reino de Deus”. (ARA)(c) Lucas 1.37: ... para Deus não haverá impossíveis. (ARA)(d) Atos 14.28: Epermaneceram não pouco tempo com os discípulos. (ARA)(e) Atos 19.23: Naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do

Caminho. (ARC)(f) Atos 21.39: Eu sou... natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilicia.

(ARA)(g) Atos 26.19: ... não fu i desobediente à visão celestial. (ARA)(h) Romanos 1.16: Eu não me envergonho do evangelho... (NTLH)(i) Gálatas 4.17: ... mostram grande interesse por vocês, mas a intenção deles não

é boa. (NTLH)

3. H ipérbole

Exemplos:5 “Estou morto de fome” significa, em geral, “Tenho muita fome”.* “Estou morrendo de frio” significa “Estou com muito frio”.- Mateus 11.18: Pois veio João, que não comia nem bebia ... (ARA)

É claro que João comia e bebia. Marcos 1.6 diz que ele se alimentava de gafanhotos e mel silvestre. O que importa é que João tomava refei­ções bem simples, jejuava com frequência, e não bebia vinho.

A HIPÉRBOLE é um e x a g e ro co n sc ie n te . Empi'ega-se para dar ênfase e ob­ter um efeito dramático.

Algumas línguas não usam hipérboles. Se uma hipérbole for traduzida literal­mente para uma dessas línguas, é bem possível que seja entendida literalmente. O tradutor deve ter a sensibilidade de transmitir o que a hipérbole de fato significa, conservando também, na medida do possível, a ênfase do original.

Exercício 49 Sublinhe todas as hipérboles nas seguintes passagens.= Reescreva cada passagem em português sem usar hipérbole, mas conservando a

ênfase do original.

(a) Números 13.27: Fomos à terra ... e, verdadeiramente, mana leite e mel...(b) ISamuel 18.7: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares.(c) Mateus 25.29: ... mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.(d) Lucas 15.24: ... porque este meu filho estava morto e reviveu...(e) João 12.19: Eis aí vai o mundo após ele.(f) Atos 19.27: ... Diana... que toda a Asia e o mundo adoram.

4. S a rca sm o e iro n iaO s a rc a s m o é a e x p re s s ã o d e u m s e n t im e n to p ro fu n d o da parte do

falante, muitas vezes de forma zombeteira e mordaz. As vezes pode dizer uma coisa, mas significar o contrário. Esta figura é empregada para ridicularizar e re­preender.

ExempÊo:= Marcos 7.9: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a

vossa própria tradição. (ARA)

Na iro n ia , finge-se adotar o ponto de vista de outra pessoa, quando de fato se pensa o contrário. O propósito é o de ridicularizar a outra pessoa. Muitas vezes, a ironia envolve o uso de palavras que um grupo de pessoas que conhece a intenção do

OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM 179

180 OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM

falante entendem de uma forma, ao passo que outros as entendem de uma maneira totalmente distinta.

Aqui, não faremos distinção entre ironia e sarcasmo, partindo do pressuposto de que são uma única figura. O que importa é que o tradutor descubra o que o autor quer dizer em determinado contexto, e que comunique esse significado na tradução, sobretudo a atitude do falante e o impacto emocional daquilo que diz.

O SARCASMO e a IRONIA são maneiras de falar de forma zombeteira ou mordaz, às vezes dizendo uma coisa, mas significando outra.

O propósito dessas figuras é, em geral, ridicularizar ou repreender.

Em todas as línguas se encontram indicações lexicais ou gramaticais do em­prego do sarcasmo ou da ironia. Por exemplo, em Marcos 7.9 (acima citado), a palavra “jeitosamente” neste contexto leva os falantes do português a perceberem que aquilo que o texto díz é irónico. Mas estes sinais não são iguais em todas as línguas. E preciso empregar as indicações equivalentes na tradução para a língua receptora.

Em algumas línguas talvez se tenha de usar uma forma diferente. O significado pode ser expresso de forma direta, mas de uma maneira que tenha o mesmo impacto do original. Marcos 7.9 poderia ser expresso assim: “Sem dúvida é algo terrível o que vocês fazem quando rejeitam o mandamento de Deus para guardar a sua tradição!” Ou pode ser apropriado o uso de uma pergunta retórica: “É bom rejeitar o manda­mento de Deus para guardar a tradição?” (As perguntas retóricas serão estudadas no capítulo seguinte.)

Outros exemplos de ironia e sarcasmo que se encontram na Bíblia são:

« IReis 22.15-16: Quando Micaías chegou ao lugar onde estava o rei Aca­be, este perguntou: —Micaías, o rei Josafá e eu devemos atacar a cidade de Ramote ou não?— Micaías respondeu: —A taque, p o is o senhor, ó rei, vencerá, O S e n h o r Deus lhe dará a vitória ... Mas Acabe disse: — Quando você falar comigo em nome do S e n h o r Deus, diga a verdade! Quantas vezes preciso dizer isso? (NTLH)

* Marcos 15.18: E começaram a saudá-lo, dizendo: —Viva o Rei dos judeus! (NTLH)

= Marcos 15.31-32: Ele salvou outros, mas não pode salvar a si mesmo! Vamos ver o Messias, o Rei de Israel, descer a g o ra da. cruz e então crerem os nele! (NTLH)

Exercício 5= Compare as traduções das passagens citadas a seguir. Sublinhe e comente as for­

mas lexicais e gramaticais que indicam a atitude do falante.

MÊaÊ

ÊKÊK

ÊÊÊÊ

ÊÊÊÊ

ÊÊÊÊ

ÊKÊÊ

ÊÊÊÊ

ÊÊÊH

ÊÊÊiÊ

ÊÊÊÊ

IIIÊÊH

ÊKÊÊ

ÊÍÊÊÊ

ÊÊKÊ

IÊÊKK

ÊÊÊÊ

ÊÊÊÊ

ÊlÊKÊ

Ê

(a) Jó 26.2-4* ÃRA: Como sabes ajudar ao que não tem força e prestar socorro ao bra­

ço que não tem vigor! Como sabes aconselhar ao que não tem sabedoria e revelar plenitude de verdadeiro conhecimento! Com a ajuda de quem proferes tais palavras? E de quem é o espírito que fala em ti?

s NTLH: Eu estou fraco, sem forças; como você me ajuda e me consola!... Como você é bom para dar conselhos e gastar a sua sabedoria com um ignorante como eu! Quem foi que o ajudou a dizer essas palavras? Quem o inspirou a falar assim?

(b) ICoríntios 1.21,25- ÃRA: Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por

sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação... Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

* NTLH: Pois Deus, na sua sabedoria, não deixou que os seres humanos o conhecessem por meio da sabedoria deles. Pelo contrário, resolveu salvar aqueles que creem e fez isso por meio da mensagem que anunciamos, a qual é chamada de “louca”. ... Pois aquilo que parece ser a loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana.

Compare também, nas traduções que tenha à mão, ICoríntios 4.8-14 e 2Coríntios 12.11-13.

5. M etoním ia e sinédoqus

Exsmpíos:= A e h a le ira está fervendo. (A “chaleira” representa a ág u a .)= A p e n a é mais afiada que a e sp a d a . (A “pena” representa o que se

esc rev e ; a “espada” representa o verbo lu ta r .)e Atos 2.26: e a m in h a lín g u a exultou. (ARA) (As palavras “a minha

língua” representam a primeira pessoa singular, eu).

A METONÍMIA e a SINÉDOQUE são figuras de linguagem nas quais se utiliza uma palavra para se referir a uma ideia relacionada.

Estas figuras são um traço natural de algumas línguas, uma maneira idiomática e natural de dizer algo. As vezes, seu uso tem em vista conseguir um efeito poético, mas frequentemente são apenas a expressão idiomática da língua. São uma caracte­rística comum do hebraico bíblico.

A diferença entre a m e to n ím ia e a sínédc=que, de pouca importância para os tradutores, é a seguinte:

OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM 181

182 OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM

* Na s in éd o q u e , a palavra empregada costuma ser uma parte da coi­sa à qual se refere. Por exemplo, em Atos 2.26, a língua representa a pessoa a quem pertence; a língua é parte da pessoa. Às vezes se dá o contrário, ou seja, a coisa à qual se refere é uma parte daquilo que se menciona na sinédoque. Por exemplo, na oraçao “O Brasil ganhou a partida”, o nome Brasil significa a equipe que representa o país cha­mado Brasil.

= Na m e to n ím ia , por outro lado, a palavra empregada pode ser qual­quer ideia que de algum jeito se relacione com a coisa à qual se refere.

Mas esta diferença não é de grande importância para os tradutores.Veja como a metonímia e a sinédoque diferem da metáfora. Na metonímia e na

sinédoque, não se faz NENHUMA COMPARAÇÃO, e não há NENHUM PONTO DE COMPARAÇÃO entre as ideias; na metáfora, sempre há uma comparação.

Em muitos casos, a tradução literal destas figuras de linguagem não teria sentido na língua receptora. É preciso comunicar o real significado de uma maneira clara e natural.

Nas seguintes passagens:3 Sublinhe todos os exemplos de metonímia e sinédoque.= Explique o real significado da palavra sublinhada no contexto em que se en­

contra.

(a) Mateus 10.34: Não vim trazer paz, mas espada. (ARA)(b) Lucas 1.32: ... Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu oai.(c) Lucas 10.4: Não levem bolsa, nem sacola... (NTLH)(d) Lucas 11.20: Se, porém, eu expulso os demónios pelo dedo de Deus,... (ARA)(e) Lucas 11.27: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste!

(ARC)(f) Atos 11.21: A mão do Senhor estava com eles,... (ARA)(g) Atos 13.11: Eis a í ... contra ti a mão do Senhor ... (ARC)(h) Atos 13.44: ... afluiu quase toda a cidade... (ARA)(i) Romanos 3.15: São os seus pés velozes para derramar sangue... (ARA)(j) Romanos 16.4:... os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça...

(ARA)(k) Hebreus 3.17: ... cujos cadáveres caíram no deserto... (ARA)

s r a c i Q

s Cada uma das passagens seguintes contém exemplos de metonímia ou de siné­doque. Em cada exemplo:

OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM 183

- Sublinhe a palavra empregada de maneira figurada.» Em cada exemplo, reescreva o que for necessário para mostrar o real signifi­

cado de uma forma direta. s Leia o contexto bíblico, quando for preciso, mas não escreva novamente as partes

que não aparecem no exercício. Veja o exemplo:

Lucas 1.32• ... Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai. (ARA)= —► Deus, o Senhor, vai fazê-lo rei, como foi o antepassado dele, o rei Davi.

(NTLH)

(a) Habacuque 2.12: Ai daquele que edifica a cidade com sangue,... (ARA)(b) Mateus 3.5-6: Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a

circunvizinhança do Jordão... (ARA)(c) Mateus 15.8: Este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade

o seu coração está longe de mim. (NTLH)(d) Mateus 27.4: Eu pequei, traindo sangue inocente. (ARA)(e) Lucas 1.27: ... certo homem da casa de Davi, cujo nome era José... (ARA)(f) Lucas 3.6: E toda carne verá a salvação de Deus. (ARA)(g) Lucas 21.15: ... porque eu vos darei boca e sabedoria... (ARA)(h) Atos 5.9: Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles tam­

bém te levarão. (ARA)(i) Atos 15.21: Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos os que

o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados. (ARA)(j) Romanos 3.19: ... para que se cale toda boca... (ARA)(k) 1 Coríntios 11.26: ... cada vez que vocês comem deste pão e bebem deste

cálice... (NTLH)(1) Hebreus 1.8a: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre... (ARA) (m)Hebreus 1.8b: Cetro de equidade é o cetro do seu reino... (ARA)(n) Hebreus 13.4: ... bem como o leito sem mácula... (ARA)

6. Personificação

Exempíe=s:

Marcos 5.34 9 “. . .a tua fé te salvou”. (ARA)

Pode-se traduzir esta frase por: “Você sarou porque teve fé ”. (NTLH)* Lucas 7.35: “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos”. (ARA)

Compare com: “Mas aqueles que aceitam a sabedoria de Deus mostram que ela é verdadeira”. (NTLH)

184 OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM

3 Lucas 11.49: “Por isso, também disse a sabedoria de Deus... ” (ARA)

Pode-se traduzir esta oração por: “Por isso, Deus disse em sua sabedo­ria...” (NVI)

A PERSONIFICAÇÃO é uma figura de linguagem na qual se fala de uma ideia abstrata ou de algo que não tem vida como se fosse uma pessoa.

Em geral, esta figura é usada para dar um efeito dramático.A personificação não é uma figura natural em todas as línguas, nem em todos os

contextos; portanto, pode ser preciso, às vezes, modificar a forma.

Exercício 8? Faça de conta que está traduzindo para uma língua que não emprega a perso­

nificação. Expresse as seguintes passagens novamente, evitando o emprego da personificação.

(a) Números 13.32: ... é terra que devora os seus moradores... (ARA)(b) Salmo 23.6: Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da

minha vida. (ARA)(c) Isaías 24.23: A lua se envergonhará, e o sol se confundirá ... (ARA)

Compare com :... vai parecer que o sole a lua perderam o seu brilho. (A Bíblia Viva)

(d) Isaías 55.12: Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas. (ARA)

(e) João 1.17: ... a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. (ARA)(f) Atos 20.32: ... e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar ...

(ARA)(g) Tiago 1.20: Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. (ARA)(h) Apocalipse 16.20: Todas as ilhas fugiram... (ARA)

7. ApóstrofeA APOSTROFE é uma figura de linguagem em que uma pessoa interrompe o que

diz para dirigir-se diretamente a alguma pessoa ou coisa. Se se dirigir a uma coisa, também há personificação, pois o falante se dirige a essa coisa como se fosse uma pessoa.

A apóstrofe é empregada para obter efeitos poéticos e dramáticos.

Exsmplos:

Salmo 24.7: Levantai, o portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos... (ARA)

3 Jeremias 46.9: Avançai, ó cavalos, e estrondeai, ó carros ... (ARC) s Lucas 13.34: Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os

OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM 185

mensageiros que Deus lhe manda! Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! (NTLH)

- ICoríntios 15.55: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (ARA)

Repare que, neste último versículo, combina-se o uso da apóstrofe com o de perguntas retóricas.

Come- traduzir as figuras de linguagemImporta que o tradutor saiba reconhecer uma figura de linguagem, pois se não

reconhecer tal figura, e se traduzir de uma forma literal, o significado da passagem provavelmente será incompreensível ou totalmente equivocado.

1. Em primeiro lugar, identifique o s ig n ificad o da figura de linguagem. Lem­bre-se que o seu “significado” abrange:

o propósito da figura de linguagem (por exemplo, ênfase); s a atitude do falante e a reação do ouvinte;e a importância que pode dar a determinada ideia contida na passagem.

2. Em segundo lugar, pense na melhor maneira de comunicar estes aspectos do significado na língua receptora. Ao traduzir, procure obter o mesmo efeito que a mensagem original teve sobre seus ouvintes.

Estude textos narrados em estilo natural e escute conversações na língua recep­tora para descobrir as figuras de linguagem que são naturais nessa língua e que são usadas com frequência. A lgum as d e s s a s f ig u ra s p o ss iv e lm e n te n ã o a p a re ­cem n o p o r tu g u ê s n e m n a s lín g u a s h e b ra ic a o u g re g a , m a s p o d e r ia m s e r e m p re g a d a s n a tra d u ç ã o p a r a o b te r u m e s ti lo n a tu ra l , v a r ia d o e in te re s s a n te . Uma figura pode ser adequada em certo contexto da tradução, mes­mo que não exista no texto original. Pense sempre na maneira como se usam as figuras na língua receptora.

Exercício 9 (Exercício de revisão de diversas figuras de linguagem)eCada uma das passagens seguintes contém algum tipo de figura de linguagem.

s Localize e sublinhe cada figura.= Escreva cada passagem novamente, sem usar linguagem figurada.

(a) Mateus 5.14: Vocês são a luz para o mundo. (NTLH)(b) Mateus 8.8: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado.

(ARC)(c) Marcos 11.30: O batismo de João era do céu ou dos homens? (ARA)(d) Lucas 1.12: ... e apoderou-se dele o temor. (ARA)

(e) Lucas 1.42: ... e bendito o fruto do teu ventre! (ARA)(f) Atos 5.28: ... e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem! (ARA)(g) Atos 8.28: ... vinha lendo o profeta Isaías. (ARA)(h) Atos 17.6: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui...(i) Atos 22.4: Persegui este Caminho até à morte,... (ARA)

sxe ra c io / 0s Siga as mesmas instruções do exercício 9- Note que algumas passagens contêm

mais de uma figura de linguagem.

(a) Jeremias 46.10: A sua espada os devorará até não querer mais, e beberá o san­gue deles até ficar satisfeita. (NTLH)

(b) Mateus 2.6: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá... (ARA)

(c) Marcos 9.41: Quem der um copo de água a vocês, porque vocês são de Cristo, com toda a certeza receberá a sua recompensa. (NTLH)

(d) João 4.34: A minha comida — disse Jesus — é fazer a vontade daquele que meenviou e terminar o trabalho que ele me deu para fazer. (NTLH)

(e) João 8.57: — Você não tem nem cinquenta anos e viu Abraão? — perguntaram eles.

(f) João 12.15: Não temas, filha de Sião;... (ARA)(g) ITessalonicenses 4.13: Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes

com respeito aos que dormem... (ARA)(h) Hebreus 6.10: Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho...

Exercício 11= Identifique todas as figuras de linguagem existentes nas seguintes passagens

(a) Salmo 23(b) Salmo 42(c) Salmo 120.1-4(d) Provérbios 31.10-13(e) Isaías 44.23

186 OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM

RESUMO DAS FIGURAS DE LINGUAGEMMETÁFORA E SÍMILE: Cada uma destas figuras envolve uma compara­

ção entre um tema e uma ilustração. E importante reconhecer o ponto de comparação entre eles.

A diferença entre a metáfora e o símile é que, no caso do símile, se ex­pressa aberta e claramente que se faz uma comparação entre duas coisas, ao passo que, na metáfora, a comparação não é expressa abertamente.

OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM 187

EUFEMISMO: É uma maneira indireta de referir-se a algo, porque a maneira direta pode ser ofensiva na cultura em questão.

LÍTOTES: É uma declaração em que se suaviza ou se nega uma coisa para comunicar a ideia contrária; é usada para dar ênfase.

HIPÉRBOLE: É um exagero com vistas a ênfase e efeito dramático.SARCASMO e IRONIA: Aqui, se diz o contrário do que se quer dizer, ge­

ralmente com um efeito marcante e ofensivo; emprega-se para repreender ou ridicularizar alguém.

METONÍMIA e SINÉDOQUE: Uma palavra representa outra ideia estrei­tamente relacionada, para variar o estilo ou para obter um efeito dramáti­co. As vezes, são simples expressões idiomáticas, sem nenhum significado especial.

PERSONIFICAÇÃO: Fala-se de uma ideia abstrata ou de algo inanima­do como se fosse uma pessoa; pode ser utilizada para variar o estilo ou para chamar a atenção do ouvinte.

APÓSTROFE: É uma frase que interrompe o texto principal. Em geral, esta é uma frase dirigida a uma coisa (e não a uma pessoa); emprega-se para chamar a atenção e para aumentar o impacto emocional.

Em todas as línguas existem perguntas, mas estas se empregam com propósitos diferentes.

1. O objetivo mais comum é o de pedir informação. A pessoa que faz a pergunta espera uma resposta:

= Marcos 6.38; Jesus perguntou: — Quantos pães vocês têm? (NTLH)

Resposta: Temos cinco pães e dois peixes.

Este é um exemplo de uma pergunta VERDADEIRA ou GENUÍNA, em que se espera uma resposta (embora nem sempre se receba).

2. Mas às vezes a pergunta tem outro objetivo:

s Marcos 8.36: O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas per­der a vida verdadeira? (NTLH)

Aqui não se espera uma resposta. O falante não pede informação, mas quer en­fatizar um ponto: De nada adianta alguém possuir o mundo inteiro, se perder a vida verdadeira. Esta é uma pergunta RETC=RICA.

Há outro exemplo em Marcos 5.35:

s ... chegaram alguns empregados da casa do chefe da sinagoga, a quem disseram: Tua filha já morreu; por que ainda incomodas o Mestre? (ARA)

Neste caso, a “pergunta” é na realidade uma opinião: “E inútil seguir incomo­dando o Mestre”.

Uma pergunta VERDADEIRA pede informação, e em geral vai seguida por uma resposta.

Uma pergunta RETÓRICA não pede informação. Tem outro propósito.

Diga em suas próprias palavras qual a diferença entre perguntas VERDADEIRAS e perguntas RETÓRICAS.

Exercício 1= Diga quais das seguintes perguntas são verdadeiras e quais são retóricas. Exa­

mine o contexto, sempre que necessário.

(a) Hebreus 12.7: E para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? (ARA)

b) Marcos 5.30: Quem me tocou nas vestes? (ARA)

(c) ITimóteo 3.5: Pois, se alguém não sabe governar a sua própria família, como poderá cuidar da Igreja de Deus? (NTLH)

(d) Atos 2.7: Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? (ARA)(e) Mateus 13.10: Por que lhes falas por parábolas? (ARA)(f) Mateus 13.27: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem,

pois, o joio? (ARA)

2. Perguntas na conversa -diáriaAs PERGUNTAS RETÓRICAS são usadas com frequência nas conversas em por­

tuguês. Por exemplo:

(a) Você acha que não sei disso?

Esta pergunta expressa indignação por parte do falante.

(b) Poderia abrir a janela?

Esta pergunta não exige resposta, pois é uma forma gentil de pedir que alguém abra a janela.

(c) Vamos passar à mesa?

Este é um convite. Em algumas culturas, normalmente se empregaria uma ordem neste contexto: “Vamos jantar!” Em tais culturas, ao ouvir a pergunta acima referida, o ouvinte pode não entender que está sendo convidado a jantar, pois pode pensar que estão apenas fazendo uma pergunta.

(d) Lindo dia, não é?

(e) E não é que me senti um perfeito idiota...?

Embora colocada em forma interrogativa, é realmente uma exclamação.

Exercício 2s Dê três exemplos de perguntas retóricas que escutou em sua língua materna ou

em português. Explique qual é o propósito de cada uma delas.

3. O propósito ou a função das perguntas retóricasAo traduzir perguntas, é preciso decidir inicialmente se são VERDADEIRAS ou

RETÓRICAS.Caso se tratar de uma pergunta RETÓRICA, o tradutor deve tentar descobrir o

significado ou propósito exato da pergunta naquele contexto. Isto é necessário para comunicar o significado e as implicações da pergunta na tradução.

As perguntas retóricas podem ter vários significados ou propósitos. Vejamos seis dos mais comuns.

190 PERGUNTAS RETÓRICAS

1.Dar ênfase a um fato tido por certo,e Mateus 7.22: Senhor, Senhor! Porventura não temos profetizado em teu

nome, e em teu nome não expelimos demónios, e em teu nome não fize­mos muitos milagres? (ARA.)

s Marcos 3.23: Como pode Satanás expelir a Satanás? (ARA)e ISamuel 4.8: Ai de nós! Quem nos livrará das mãos destes grandiosos

deuses? (ARA)= ISamuel 17.8: Não sou eu filisteu, e vós, servos de Saul? (ARA)

Repare que em português uma pergunta negativa sugere uma afirmação, ao passo que uma pergunta afirmativa sugere uma negação. Por exemplo:

s ISamuel 17.8: Não sou eu filisteu... ? [forma negativa] Quer dizer: Não há dúvida que sou filisteu, [afirmação]

9 João 18.35: Por acaso eu sou judeu? — disse Pilatos. (NTLH) [forma afirmativa] Quer dizer: Com certeza não sou judeu, [negação]

2.Enfatlsar determinada condição., especialmente se se enumeram sucessivamente duas ou três condições possíveis.

s Tiago 5.13-14: Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está al­guém alegre? Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja ... (ARA)

= Romanos 13.3: Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela... (ARA)

Este tipo de pergunta retórica pode facilmente ser transformado em ora­ção condicional sem alterar o significado.

= Se algum de vocês está sofrendo, ore. Se alguém está contente, cante hi­nos de agradecimento. Se algum de vocês estiver doente, que chame os presbíteros da igreja... (NTLH)

3. Apresentar um tema novo, ou um aspecto diferente de um tema, e chamar a atenção do otivinte/leitor,

- Salmo 15.1-2: Ó S e n h o r Deus, quem tem o direito de morar no teu Tem­plo? Quem pode viver no teu monte santo? S ó tem esse direito aquele que vive uma vida correta, que faz o que é certo... (NTLH)

As duas perguntas apresentam o tema do salmo, e dão lugar a uma res­posta.

s Marcos 13.1-2: ... um discípulo disse: — Mestre, veja que pedras e edifí­cios impressionantes! Jesus respondeu: — Você está vendo estes enormes edifícios? Pois não ficará uma pedra em cima da outra...! (NTLH)

PERGUNTAS RETÓRICAS 191

Aqui, Jesus emprega uma pergunta para dar ênfase à destruição de Jeru­salém e do Templo.

s Lucas 7.44: Então virou-se para a mulher e disse a Simão: — Você está vendo esta mulher? (NTLH)

Se estudar todo o contexto desta passagem (Lc 7.36-50), notará que a per­gunta serve para chamar novamente a atenção para a mulher, que havia sido mencionada anteriormente no texto.

® Romanos 9.30: O que vamos dizer, então? ... Os não-judeus, que não procuravam ser aceitos por Deus, foram aceitos por meio da fé. (NTLH)

Note que a expressão “O que vamos dizer, então?” serve para indicar o fim de uma parte da argumentação e o começo de um tema novo. Procure outras passagens da carta aos Romanos em que esta expressão, ou uma formulação parecida, é usada da mesma maneira.

4. E xpressar surpresa.= Marcos 6.2: Muitos que o estavam escutando ficaram admirados e per­

guntaram: — De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? (NTLH)

5 .R epreender ou exc=rta? alguém .® Marcos 4.40: Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda

não têm fé? (NTLH)* Marcos 5.35: Tua filha já morreu; por que ainda incomodas o Mestre?

(ARA)

6. E xpressar incerteza .

Com este tipo de pergunta retórica, o falante em geral se dirige a si mes­mo. Esta pode ser considerada uma pergunta verdadeira, que o falante dirige a si mesmo.

« Lucas 12.17: E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? (ARA)

s Lucas 16.3: Disse o administrador consigo mesmo: Que farei, pois o meu senhor me tira a administração? (ARA)

PERGUNTAS RETÓRICAS

Lembre-se:Os seis propósitos ou funções mais comuns das PERGUNTAS RETÓRI­

CAS são:1. Dar ênfase a um fato tido por certo;2. Enfatizar determinada condição;3. Apresentar um tema novo ou um aspecto diferente de um tema, e cha­

mar a atenção;4. Expressar surpresa;5. Repreender ou exortar alguém;6. Expressar incerteza.

Uma pergunta retórica pode ter mais de uma função. As perguntas re­tóricas podem ser usadas também com outros propósitos.

Exsrsíaio 3s Qual é a função de cada uma das PERGUNTAS RETÓRICAS listadas a seguir?

Leia o contexto, sempre que necessário.

(a) Hebreus 1.5: Porque a qual dos anjos disse [Deus] jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei... ? (ARA)

(b) Hebreus 1.14: Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para ser­viço. .. ? (ARA)

(c) Tiago 5.13-14: Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém ale­gre? Cante louvores. (ARA)

(d) Lucas 13.20-21.- Jesus continuou: — Que comparação poderei usar para o Rei­no de Deus? Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura em três medidas de farinha, até que ele se espalhe por ioda a massa. (NTLH)

(e) Romanos 8.35: Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (ARA)

(f) ICoríntios 7.27: Estás casado? Não procures separar-te. Estás livre de mulher? Não procures casamento. (ARA)

(g) Romanos 4.1-2: Então o que é que podemos dizer de Abraão, o antepassado de nossa raça? O que foi que ele conseguiu? Se foi por causa das coisas que ele fez que Deus o aceitou, então ele teria motivo para se orgulhar... (NTLH)

(h) Mateus 3.14: Mas João tentou convencê-lo a mudar de ideia, dizendo assim:— Eu é que preciso ser batizado por você, e você está querendo que eu o batize? (NTLH)

(i) Marcos 14.6: Mas Jesus disse: — Deixem esta mulher em paz! Por que é que vocês a estão aborrecendo? (NTLH)

(j) Marcos 4.38: Então os discípulos o acordaram e disseram: — Mestre! Nós va­mos morrer! O senhor não se importa com isso? (NTLH)

PERGUNTAS RETÓRICAS 193

(k) Romanos 14.10: Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? (ARA)

(1) João 1.46: Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa?Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê. (ARA)

(m)João 4.29: Venham ver o homem que disse tudo o que eu tenho feito. Será que ele é o Messias? (NTLH)

(n) Mateus 6.31: Portanto, não fiquem preocupados, perguntando: “Onde é que vamos arranjar comida?” ou “Onde é que vamos arranjar bebida?” ou “Onde é que vamos arranjar roupas?" (NTLH)

(o) Mateus 13.54-57: ... se maravilharam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. (ARA)

4. Ã.Igumas implicações p a ra a traãuçãoDepois de descobrir o real significado de cada pergunta retórica em seu contexto,

pense na melhor maneira de expressar esse significado na língua receptora.

1.Nem todas as línguas empregam perguntas retóricas de forma idêntica. A maioria das línguas conhece o uso de perguntas retóricas, mas nem sempre elas têm a mesma função que vimos nos exemplos acima referidos. E bem pro­vável que determinada língua tenha algumas das funções mencionadas, mas não outras. Algumas línguas empregam perguntas retóricas com muito mais frequência que outras.

2. Portanto, não se pode pressupor que uma pergunta retórica do texto-fonte tenha de ser traduzida por uma pergunta retórica na língua receptora. Pode ser que a forma afirmativa seja a mais apropriada. Repare como a NTLH, que é uma tradução da Bíblia baseada no significado, frequentemente expressa as perguntas retóricas de outra maneira, para dar o verdadeiro significado delas no contexto em que ocorrem.

ISamuel 6.63 BJ: (seguindo a forma do texto hebraico): Porventura, depois de os ha­

ver Deus tratado tão mal, não os deixaram, partir?• NTLH: E não esqueçam que Deus zombou deles até que eles deixaram os

israelitas saírem do Egito.

3. Outra situação comum é empregar, na língua receptora, uma construção inter­rogativa para traduzir uma pergunta retórica específica, mas fazer uso de uma forma interrogativa distinta para expressar o significado exato.

194 PERGUNTAS RETÓRICAS

Lucas 22.71® Clamaram, pois: — Que necessidade mais temos de testemunho? Porque

nós mesmos o ouvimos da sua própria boca. (ARA) s Na língua mampruli, de Gana, isto foi traduzido assim: Eles disseram:

“Já que acabamos de ouvi-lo da sua própria boca, por que ainda precisa­mos de testemunhas?”

Emprega-se uma pergunta retórica, mas a forma foi totalmente modifi­cada.

Lucas 24.26* Powentura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua gló­

ria? (ARA)e Na língua mampruli, se emprega uma pergunta retórica, mas sua for­

ma é diferente: “Por acaso não sabiam que os profetas disseram que o Messias devia sofrer dessa forma e depois alcançar seu lugar de honra como chefe?”

Caso a pergunta não for feita da forma correta, haverá alteração do signi­ficado.

Em certa língua, L ucas 15.4 foi traduzido da seguinte forma:« “Vocês acham que um homem que tem cem ovelhas e perder uma delas

deixará as noventa e nove e irá em busca daquela que se extraviou?”

A forma da pergunta sugeria uma resposta incorreta, qual seja, que nin­guém cometeria tal estupidez. Isto, logicamente, tira todo o sentido do relato que segue.

As vezes o tradutor terá que tornar explícita, na tradução, a resposta im­plícita do texto-fonte, se isto for necessário segundo as normas naturais da língua receptora.

e L ucas 5 .21 : Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Ninguém.

4. Pode ser que a língua receptora empregue perguntas retóricas para algumas funções para as quais a língua-fonte não as usa. Portanto, às vezes pode ser apropriado usar uma pergunta retórica na tradução, mesmo que no texto-fon­te não apareça tal pergunta.

O principal é perguntar-se: “Qual é a forma que, neste contexto, melhor comunica o significado correto na língua receptora?”

Na língua doohyayo, falada em Camarões, a ironia pode ser expressa me­diante uma pergunta retórica. A retroversão literal em português de Mar­cos 7.9 nessa língua diz o seguinte:

• “Vocês, vocês sabem jogar fora terrivelmente a lei de Deus para seguir suas próprias tradições, não é verdade?”

Na língua ebira, falada na Nigéria, emprega-se uma pergunta retórica em Marcos 10.25, para evitar uma construção estranha e pouco comum. A tradução literal desta versão ao português é:

e “Vocês acham que um camelo pode entrar no fundo de uma agulha e pas­sar por ele? É ainda mais difícil do que isto que um homem rico consiga entrar no reino de Deus.”

5, Como descobrir a função das perguntas retóricas na língua recep­tora?

Para descobrir como se usam as perguntas retóricas na língua receptora, o tra­dutor terá de ficar atento à maneira como as pessoas conversam, e também estudar textos originais na língua receptora. Ele deve investigar:

1. Se essa língua emprega perguntas retóricas (como a maioria das línguas), e2. Se for assim:

e Que funções têm as perguntas retóricas nessa língua;» Em que situações se empregam as perguntas retóricas.* Por exemplo, essas perguntas são usadas na língua falada e escrita?= São usadas em conversas formais e informais?s Em que tipos de discurso aparecem com mais frequência? Na con­

versa? ou em sermões ou exortações?3. Que palavras ou formas gramaticais especiais (p.ex., determinadas partículas)

são usadas para assinalar as perguntas retóricas.

Quando tiver descoberto as funções das perguntas retóricas na língua receptora, deve compará-las com as funções que têm na língua-fonte.

Os falantes nativos da língua receptora também devem fazer este estudo. Se en­tenderem as diferenças entre a língua-fonte e sua própria língua materna, saberão identificar os casos em que será preciso fazer ajustes.

196 PERGUNTAS RETÓRICAS

PERGUNTAS RETOR CAS 197

L em bre-se;Todo tradutor deve estudar as perguntas na língua receptora.Observe quando e como se usam as perguntas retóricas nas diferentes

línguas, e com que propósitos.Você precisa saber que palavras ou formas gramaticais são usadas para

assinalar o emprego de uma pergunta retórica.

RESUMO SOBRE A TRADUÇÃO DE PERGUNTAS RETÓRICASP ro c u re re c o n h e c e r se uma forma interrogativa no texto-fonte é

retórica, ou não.Para cada pergunta retórica, pense no provável s ig n ificad o o u p ro ­

p ó s ito da pergunta no contexto em que ela ocorre no texto-fonte.Depois, pense na maneira em que esse significado poderia ser e x p re s ­

so d e fo rm a ex a ta , c la ra e « a tu ra i na língua receptora.

6. Nota sobre a tradução de perguntas verdadeiras1. Assim como no caso das perguntas retóricas, nas PERGUNTAS VERDADEIRAS

frequentemente há implicações que se revelam na forma da pergunta. Por exemplo:

® Onde foi que você se meteu?

Esta pode ser a pergunta que um pai dirige ao filho que chega muito tarde em casa. É uma pergunta verdadeira, espera uma resposta, mas a forma da pergunta também indica surpresa e irritação por parte do falante.

e Você não virá na terça-feira, correto?

Esta também é uma pergunta verdadeira, mas a forma indica que o falante não espera que a pessoa a quem ele se dirige venha na terça­-feira. Ele apenas aguarda uma confirmação desse fato.

A atitude da pessoa que faz a pergunta faz parte do significado dela. Uma boa tradução expressa esta atitude. Portanto, o tradutor deve tentar reconhecer a atitude por trás da pergunta, e qualquer outra implicação que ela possa ter.

2. Também é preciso ter cuidado ao traduzir as respostas às perguntas. Muitas línguas têm diferentes maneiras de dar uma resposta, dependendo da forma da pergunta. Isto é assim especialmente no caso das perguntas “negativas”.

Compare as respostas à pergunta negativa, “Você não vem?”

5 S ea pessoa a quem se faz a pergunta nãc= pretende vir, a res;

“Não” (ou seja: “Não, não vou”.)

e Mas, em muitas línguas, a resposta seria:

“Sim” (ou seja: “Está correto: não vou”.)

= Se a pessoa a quem se fala pretende vir, a resposta é:

“Sim” (ou seja: “Sim, eu vou”.)

® Mas, em muitas línguas, se diria:

“Não” (ou seja: “Isto não é verdade, pois eu vou”.)

Está claro que o tradutor deve ter muito cuidado para evitarsão.

Também há maneiras diferentes de formular uma resposta, r rentes línguas do mundo:

e Génesis 18.15: E Sara negou, dizendo: Não me ri, porque tem disse: Não, porque te riste.

A tradução acima é uma tradução bem literal do texto hebraico. Em pc moderno, seria mais natural dizer, ao final: “Você riu, sim senhora”.

Exercida 4- Parte 1: Diga o propósito ou função de cada uma das perguntas que segu

o contexto, sempre que necessário.

(a) Lucas 12.6: Por acaso não é verdade que cinco passarinhos são vend algumas moedinhas? (NTLH)

(b) Lucas 12.42: O Senhor respondeu: — Quem é, então, o empregado fiel gente? É aquele que o patrão encarrega de tomar conta da casa e de dai na hora certa aos outros empregados. (NTLH)

(c) Lucas 10.40: Marta... chegou perto de Jesus e perguntou: — O senho importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mr- ela venha me ajudar... (NTLH)

(d) Lucas 6.39: Pode, poi'ventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão no barranco? (ARA)

(e) Mateus 21.20: Ao verem isso, os discípulos ficaram espantados epergu — Como a figueira secou tão depressa? (NVI)

(f) Romanos 6.1-2: Portanto, o que vamos dizer? Será que devemos conn vendo no pecado para que a graça de Deus aumente ainda mais? Ê

198 PERGUNTAS RETÓRICAS

não! Nós já moiremos para o pecado; então como podemos continuar vivendo nele? (NTLH)

(g) João 13.12-13: Depois de lavar os pés dos seus discípulos, ... [Jesus] perguntou: Entenderam o que eu fiz? Vocês me chamam de “Mestre” e de “Senhor” e têm razão... (NTLH)

(h) Atos 5.3-4: Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendid.o, não estaria em teu po­der? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. (ARA)

(i) João 4.9: Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana... ? (ARA)

(j) João 18.35: — Por acaso eu sou judeu? — disse Pilatos. — A sua própria gente e os chefes dos sacerdotes é que o entregaram a mim. 0 que foi que você fez? (NTLH)

s Parte 2: Faça de conta que está traduzindo para uma ííngua em que não se faz uso de perguntas retóricas. Reescreva (em português) todos os exemplos que aparecem na Parte 1, assim que a nova versão transmita o significado implícito correto, mas sem usar a forma interrogativa. Procure conservar a ênfase e o efeito emocional do texto original.

ÍZXQl’QSÚtQ òs Para cada uma das passagens seguintes:

= Determine a função da pergunta retórica. Se entender que há mais de uma função, diga quais são elas.

5 Escreva a passagem novamente (em português) para expressar o significado implícito correto, mas sem usar a forma interrogativa.

« Exemplo: Hebreus 2.3: Como é que nós escaparemos do castigo se desprezarmos uma salvação tão grande? (NTLH)3 A função é dar ênfase a um fato.E Certamente não escaparemos de jeito nenhum, se desprezarmos uma salvação

tão grande assim.® Leia o contexto de cada passagem, mas escreva de novo somente as partes cita­

das a seguir.

(a) Mateus 11.16: Mas com quem posso comparar as pessoas de hoje? São como crianças sentadas na praça... (NTLH)

(b) João 7.19: Foi Moisés quem deu a Lei a vocês, não foi? No entanto nenhum de vocês obedece à Lei. (NTLH)

(c) João 8.53: Será que você é mais importante do que Abraão, o nosso pai...? (NTLH)

PERGUNTAS RETÓRICAS 199

■jnnZuU PERGUNTAS RETÓRICAS

(d) João 13.6: [Pedro]... lhe perguntou: — Vai lavar os meus pés, Senhor? (NTLH)(e) Lucas 9.41: Jesus respondeu: — Gente má e sem fé! Até quando ficarei com

vocês? Até quando terei que aguentá-los? (NTLH)(f) Romanos 13.3-4: Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor

dela... (ARA)(g) Romanos 8.31: Se Deus está do nosso lado, quem poderá nos vencer? (NTLH)(h) 1 Coríntios 7.18: Foi alguém chamado, estando circunciso? Não desfaça a cir­

cuncisão. (ARA)(i) ICoríntios 12.17: Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? (ARA)(j) Gálatas 5.7: Vocês estavam indo tão bem! Quem convenceu vocês a deixarem de

seguir a verdade? (NTLH)

Ex&fQlQlG "

s Para cada uma das passagens listadas abaixo:5 Identifique todas as perguntas.= Para cada pergunta, diga se é VERDADEIRA ou RETÓRICA.= Para cada uma das PERGUNTAS RETÓRICAS, escreva o propósito ou função

que tem e explique como você a traduziria para a sua língua materna.

(a) Génesis, capítulo 3(b) Rute 1.11-14(c) ISamuel 9.15-21(d) Jó 38—39(e) Lucas 15.4(f) João 7.40-52(g) Atos 21.37-39(h) Hebreus 3.16-19(i) ICoríntios 6.1-6 (j) ICoríntios 9.1-12 (k) ICoríntios 15.29-34

k'xsrcscio 7

® Estude Lucas 11.5-7. Observe a complexidade estrutural destes versículos na ARA. Em português, ou em qualquer outra língua, procure escrever a passagem de uma maneira mais clara e natural,

s Examine como esta passagem foi traduzida na NVI e na NTLH.

um rascunho da traduçãoRecapitulemos os dois passos da tradução apresentados no capítulo 6:

« O primeiro passo é descobrir o significado. Às vezes, isto é chamado de “exegese”. A seção a. (abaixo) e os passos 1 e 2 da seção b. se relacio­nam com a exegese,

s O segundo passo é expressar o significado na língua receptora. Os pas­sos 3, 4 e 5 da seção b. se relacionam com este passo.

a. A ntes âe com eçar a tra d u z ir um livro, leia-o a té o fin a l.1. Leia uma tradução recente do texto para ter uma ideia geral do conteúdo do

livro, de seus temas principais e de sua estrutura.2. Leia a introdução desse livro apresentada na NTLH ou em algum comentário.3. Estude um resumo de conteúdo do livro. Leia também os subtítulos para ter

uma ideia das divisões principais do livro.4. Reflita sobre as razões pelas quais o autor escreveu o livro. Qual foi a situação

em que o escreveu? Qual foi seu propósito principal ao escrever?

b. Ao com eçar a tra d u z ir u m a seção do livro , siga os cinco p a sso s se­gu in tes:

1. LEIA A SEÇÃO INTEIRA que você vai traduzir. Leia-a duas ou três vezes na NTLH e em outras traduções, como a NVI ou a ARA.

2. ESTUDE O SIGNIFICADO DA PASSAGEM.s Identifique o tema principal da seção. Responda a pergunta: “De que

trata esta seção?” Isto lhe ajudará a escolher um possível subtítulo. O subtítulo deve refletir o tema da seção.

s Pense na relação entre esta seção e a anterior. Pergunte-se: Segue cro­nologicamente à seção anterior? Trata de algo que aconteceu imedia­tamente depois? Ou é uma explicação da seção anterior? Seria algo que se contrapõe ao que aparece na seção anterior? Apresenta o mo­tivo ou o resultado daquilo que aconteceu?

s Faça cuidadosa comparação entre o texto da NTLH e de ARA, anotando quaisquer diferenças entre elas. Veja também se tais diferenças são ape­nas formas diferentes de dizer a mesma coisa, ou se há de fato alguma diferença de significado (ou seja, se são interpretações alternativas),

e Sublinhe ou anote todos os trechos em que o significado não lhe pare­cer claro, ou as partes que você considera potencialmente difíceis de traduzir.

* Revise os problemas que assinalou ou anotou, e procure resolvê-los, empregando o seguinte método:

s Se o significado de um versículo não estiver claro, leia outras tradu­ções da Bíblia. Leia outras passagens bíblicas relacionadas com esse versículo. Faça uso das referências cruzadas anotadas à margem,

s Se o significado de uma palavra não estiver claro, procure o signifi­cado num dicionário da língua portuguesa ou num dicionário bíblico.

* Se o problema estiver relacionado com a cultura ou a religião dos ju ­deus, consulte seu dicionário bíblico.

® Procure escrever o versículo novamente em português simples. Faça uso dos métodos de descoberta do significado que você já aprendeu. Por exemplo, pode ser muito útil expressar os “acontecimentos” ou as “ações” como verbos. Subdivida as orações compridas ou complexas em orações mais breves,

e Procure informação em um comentário bíblico. Se houver um manual de tradução ou outro livro de consulta referente a esse livro, faça bom uso desse material.

9 Se for difícil encontrar uma solução, fale com outras pessoas, incluindo o consultor de traduções ou alguém que tenha um bom conhecimento da Bíblia.

* Depois de ter feito um estudo detalhado da passagem, você estará pre­parado para expressar seu significado na língua receptora.

3. PENSE EM COMO TRADUZIR toda a passagem para a língua receptora. Tenha sempre presente o significado da passagem inteira; não traduza frase por fra­se, nem mesmo oração por oração. Alguns tradutores aconselham fazer uma gravação oral da tradução a partir de uma leitura em voz alta.

4. ESCREVA A TRADUÇÃO. Reescreva o texto várias vezes, pensando em dife­rentes maneiras de expressar o significado. Deixe suficiente espaço na página para possíveis revisões e mudanças. Depois, compare a sua tradução com o texto-fonte para ver se a tradução é correta.

5. Por fim, LEIA A SUA TRADUÇÃO da passagem. Leia-a em voz alta. Escute bem para ver se soa natural e está bem estruturada,

O rascunho está pronto agora para que outros falantes da língua o leiam e ava-

COMO PREPARAR UM RASCUNHO DA TRADUÇAO

Como revisar a traduçãoQue diferença há entre “testar ou avaliar a tradução” e “revisar a tradução”?

“Testar” é o processo de apresentar a tradução a outros falantes da língua para ver se ela comunica bem a mensagem, e se a mensagem que transmite é correta. “Revisar” é o trabalho que os membros da equipe de tradução realizam. Consiste em um exa­me cuidadoso de todos os aspectos da tradução para que se tenha a certeza de que é a mais correta possível em todos os sentidos. O processo de revisão é uma tarefa difícil, porém essencial.

1. A prim eira revisãoA primeira revisão é o passo final na preparação do primeiro rascunho da tradu­

ção. Deve-se fazer esta revisão poucos dias depois de completar a tradução. Ao ler a tradução depois de um breve intervalo, o tradutor verá coisas no texto-fonte que não notou antes, ou que possivelmente omitiu na tradução. Revise especialmente os seguintes aspectos da sua tradução:

(Is Que seja natural.Leia a tradução em voz alta. Procure notar eventuais detalhes que não soam na­

turais. Atente para a conexão entre as várias partes do texto. O texto pode ser lido com facilidade?

(2) Q U 8 S ê j â G is rs .

« Há alguma confusão?= Há algo na tradução que possa ser interpretado de forma errónea?= Está claro quem fez o quê?e Há alguma expressão idiomática ou figura de linguagem que foi tra­

duzida literalmente, em vez de ser traduzida segundo seu verdadeiro significado?

® Os pensamentos expressos no texto estão claramente interligados?

{3} Que seja exata.Compare, trecho por trecho, a tradução com o texto-fonte. Omitiu-se alguma

parte do significado? Existe na tradução algum acréscimo ao significado original? O significado foi modificado de alguma maneira na tradução?

(4 ) Revise o formato.Antes de entregar a tradução para ser datilografada ou digitada, o tradutor deve

revisar cuidadosamente a ortografia e a pontuação. E melhor fazer as correções an­tes de datilografar o manuscrito.

(a) Revise a ortografia, sobretudo os casos problemáticos: Por exemplo, se a língua utiliza sinais especiais para distinguir certas letras (tais como pontos sobre

C ap ítu lo 29

algumas vogais), revise esses sinais, verificando se todos se encontram onde deveriam estar. Revise também todos os sinais que indicam qualidade de tom.

(b) Revise a ortografia dos nomes próprios. Estão todos corretamente escritos segundo o sistema convencional? E muito útil manter uma lista de todos os nomes próprios, corretamente grafados segundo a ortografia da língua recep­tora. Isto lhe ajudará a ser consistente e vai resultar em economia de tempo.

(c) As maiúsculas foram usadas de forma consistente? E bom decidir, desde o co­meço, quais as palavras e frases que devem ser escritas com maiúscula (tais como Filho do Homem, Livro de Deus, Casa de Deus). Faça uma lista dessas frases. Isto lhe ajudará a escrevê-las sempre da mesma forma e resultará em economia de tempo.

(d) Revise a pontuação.

s Estão todos os pontos e todas as vírgulas onde deveriam estar?e E os pontos de interrogação?s Quanto às aspas (“ ”): aparecem em seu devido lugar (no começo e ao

final das citações)?« Se houver parênteses ou colchetes no texto, verifique se estão no início

e no final do segmento em questão.

(e) Revise os números dos capítulos e versículos. Se faltar algum, tenha cuidado de inseri-lo no lugar certo.

(f) Assinale claramente quaisquer mudanças introduzidas. De outra forma, a pessoa que for datilografar ou digitar o texto poderá não entender as corre- ções e, assim, introduzir mais erros.

2. Revisão em. equipsAlguns dos comentários e sugestões mais úteis virão dos outros membros da equi­

pe de tradução. Se houver dois tradutores, com certeza vão querer revisar mutuamen­te a tradução feita pelo colega. Se tiverem a assessoria de um consultor de traduções, também este terá sugestões a fazer. Experimentem vários métodos até encontrarem o método de trabalho mais adequado para a sua equipe. Para muitas equipes, é melhor trocar primeiro comentários escritos, e só depois sentar-se para, em conjunto, ler a tradução em voz alta e debater os pontos que ainda não estiverem claros.

Faça logo as revisões que resultem do trabalho em equipe, antes de entregar o manuscrito à pessoa que vai datilografar ou digitá-lo no computador.

3. Revisão á s provasUma vez datilografado ou digitado o manuscrito, o tradutor deve revisá-lo no­

vamente. Isto é muito importante. Até os melhores datilógrafos ou digitadores podem saltar uma parte do texto ou copiar duas vezes uma mesma coisa. Portanto,

204 COMO REVISAR A TRADUÇAO

é essencial revisar a primeira cópia; de outra maneira, os erros podem ficar des­percebidos, criando confusão para futuros leitores.

Eis aqui um método de revisão de provas que funciona bem:

® Duas pessoas podem fazer essa leitura em conjunto, e Uma das pessoas tem o manuscrito antigo, do qual se fez a cópia dati­

lografada ou digitada, e A outra pessoa tem a cópia datilografada ou impressa, s A pessoa com o manuscrito antigo faz a leitura em voz alta. A pessoa

com a cópia impressa acompanha com atenção o seu texto. Desta for­ma, a dupla de revisores descobrirá rapidamente quaisquer omissões ou mudanças. Se a pessoa que tem a cópia impressa notar algum erro, solicitará que seja feita a correção.

= Todas as correções devem ser escritas claramente em tinta verme­lha para que possam ser vistas com facilidade. Entrega-se a cópia re­vista ao datilografo para que faça as correções necessárias. Se estiver usando computador, após fazer as correções imprimirá uma nova có­pia do texto. Esta também deve ser relida para verificar se foram feitas todas as correções necessárias.

Este é um trabalho desgastante, mas essencial. Do contrário, os erros podem permanecer no texto traduzido. A cuidadosa revisão, em cada etapa do processo, facilita o trabalho final.

4. Revisão do consultor ou assessorA função do consultor ou assessor é ajudar a equipe de tradução a certificar-se de

que o texto que foi produzido é claro e fiel ao texto original. Toda tradução das Escri­turas destinada à publicação deve ser revisada por um assessor ou consultor de tra­dução. Ele trabalha com a equipe e sugere questões que devem ser levadas em conta.

Se, durante o processo de tradução, surgir alguma dúvida com respeito ao signi­ficado do original, ou qualquer outra pergunta, anote-a. Durante a sessão de con­sulta, você pode expor suas dúvidas ao consultor, que estará disposto a lhe ajudar nesses casos.

Sempre que possível, os primeiros livros traduzidos devem passar pela revisão do consultor antes de serem testados junto a outros falantes da língua. Quando a equipe de tradução tiver mais prática, a revisão com o consultor pode ser adiada para uma etapa posterior.

5. Outras revisõesAs revisões para verificar a clareza, a naturalidade e a exatidão, descritas na se­

ção 1 (acima), devem ser feitas depois de cada revisão maior.

COMO REVISAR A TRADUÇAO 205

Também é preciso verificar a consistência da tradução antes de publicar o ma­nuscrito, ou seja, verificar se os termos bíblicos mais importantes são os mesmos em todo o manuscrito e se a tradução das passagens paralelas dos Evangelhos é consistente.

6, L eitu ra f in a lUma vez finalizados os testes e as revisões, é bom que a equipe de tradução se

reúna para ler a tradução inteira. Se todos concordarem que a tradução está pronta, ela pode ser publicada.

206 COMO REVISAR A TRADUÇAO

De% maneiras de testar a qualidadeda tradução

Por que é necessário testar u m a tradução?1. Para verificar se é exata e se comunica de forma clara e natural. A tradução

comunica bem ao público em gerai o verdadeiro significado do texto?2. Para descobrir possíveis maneiras de m elhorar a tradução.

1. Ler a tradução em voz aftaMuitas vezes, ao ler a tradução em voz alta, o tradutor se dá conta de coisas que

não tinha notado ao revisar a tradução visualmente. Pode dar-se conta de algo que soa estranho.

A leitura em voz alta deve ser feita em várias etapas:

(a) Quando tiver terminado uma parte da tradução, você deve lê-la em voz alta para si mesmo, para ouvir como soa.

(b) Também deve ler a tradução em voz alta para outra pessoa, quem sabe um amigo ou alguém de sua família. Peça que esta pessoa lhe indique as partes que não ficaram claras ou que não soam naturais.

(c) Além de ler toda a tradução logo depois de completá-la, leia-a outra vez em voz alta para si mesmo alguns dias depois. Provavelmente notará algumas coisas que não tinha notado durante a primeira lei­tura.

(d) Grave a leitura em um CD ou outro meio eletrônico. As vezes, o tradu­tor (ou outra pessoa) faz a gravação para que as pessoas possam ler o texto e ouvi-lo ao mesmo tempo. Alguns tradutores afirmam que, ao ensaiarem a leitura do texto para a gravação, notaram erros que não tinham visto antes. A gravação é também uma maneira de comunicar a tradução a outras pessoas, especialmente aquelas que não sabem ler.

2. Escutar outros leitoresO propósito desse teste é descobrir que partes da tradução são difíceis de ler.

Se uma passagem é difícil de ler, o problema se deve, geralmente, ao fato de que:

(a) o significado não está claro; ou que(b) a linguagem usada não é natural.

Para fazer esse teste, é preciso pedir a ajuda de pessoas que saibam ler bem a sua língua. Ao fazer o teste, deixe claro às pessoas convidadas que você não está testando sua habilidade de ler (isto é, para ver se elas sabem ler bem ou não), mas está testando a própria tradução, para ver se é boa ou não.

C ap ítu lo 30

208 DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇAO

Método:

(a) Selecione algumas passagens para a fazer o teste. Comece com passagens fáceis. Depois pode fazer o mesmo teste com passagens mais difíceis. Es­colha seções completas. Por exemplo, algum incidente da vida de Jesus, ou uma parábola.

(b) Dê ao leitor uma cópia bem legível do trecho a ser avaliado. Peça-lhe que leia o texto em voz alta sem antes repassá-lo.

(c) O tradutor que aplica o teste tem na mão uma cópia do texto e escuta a pessoa que lê. Anota na sua cópia qualquer hesitação ou erro por parte do leitor.

(d) Repita o teste com diferentes leitores. (Certifique-se de que nenhum deles tenha escutado antes a leitura de outro.)

A pessoa que aplica o teste anota todas as observações em sua cópia do texto. Deste modo, todas as anotações estão na mesma cópia desde o começo, evitando, assim, a possível perda de alguma(s) das observações.

Como utilizar os resuitados:Várias anotações num mesmo lugar do texto indicam que vários leitores comete­

ram algum erro no mesmo ponto da leitura. Isto mostra que há um problema nesse ponto da tradução:

» talvez o significado não esteja claro;* talvez foi empregada uma expressão pouco natural; e talvez foi usada uma palavra desconhecida.

Estude a tradução para descobrir a causa dos erros e corrigir a tradução. Revise também o resto da tradução para ver se não foram cometidos erros semelhantes em outros contextos.

Para observar:

(a) As vezes, enquanto lê, o leitor pode trocar uma ou duas palavras sem se dar conta. As vezes isto ocorre porque o leitor está cansado ou distraído. Mas frequentemente se deve ao fato de haver algo estranho na tradução, que o leitor automaticamente troca por algo que lhe soa melhor. Anote tais pontos, pois é bem possível que se tenha de melhorar a tradução nes­sas partes do texto.

(b) Pode ser que, em alguma parte do texto, o leitor leia algo totalmente di­ferente do que o tradutor quis dizer. Pode ser que leia alguma palavra com o “tom” errado, mudando o significado. Ou, ainda, o leitor pode fazer

DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇÃO 209

alguma outra mudança. Se o leitor pronunciar mal uma palavra, alterando assim o significado, isto indica que a tradução não está bem clara. Por­tanto, o tradutor deve melhorá-la nesse ponto.

Este teste é útil somente se o leitor sabe ler bem.Sempre que tiver oportunidade, ouça atentamente a leitura da tradução. Assim

poderá saber se a tradução está clara, ou não, para aqueles que a leem.

Lemfare-se:

Deixe sempre bem claro ao leitor que você não está testando a habili­dade dele. Explique cuidadosamente ao leitor que você está procurando maneiras de melhorar a tradução que você fez.

3. O teste da repeíiçãoEste teste ajuda a descobrir as partes da tradução que não estão claras quanto a

seu significado, ou que comunicam aos leitores um significado erróneo.Também pode ser um bom recurso para melhorar a tradução.

Método:

(a) Escolha uma passagem breve (de três ou quatro versículos).(b) Leia o trecho a alguém que não conheça a história. Se essa pessoa sabe ler,

peça-lhe que ela mesma faça a leitura.(c) Peça à pessoa que lhe conte o que leu, mas em suas próprias palavras. Se

possível, faça uma gravação daquilo que a pessoa diz.

Detalhes a serem observados:

» Se a pessoa omitiu alguma parte do significado, é possível que a tra­dução não esteja clara,

s Se o leitor compreendeu algo diferente do que o tradutor quis comu­nicar, também isto pode indicar que a tradução não está bem clara,

e Se por acaso o leitor fizer uso de uma ou outra expressão que comu­nica bem o significado, anote essas expressões, porque é possível que algumas delas possam ser usadas na tradução para tomá-la mais clara e natural.

(d) Repita o teste com várias pessoas (mas não peça a ninguém que repita a mesma passagem que já ouviu outro leitor recontar).

Se mais de uma pessoa interpretar mal a mesma passagem, é sinal de que não está clara e precisa de alguma modificação.

Este teste também pode ser feito com um grupo de pessoas. Muitas vezes as opi­niões do grupo revelam aspectos muito interessantes.

E muito útil gravar esses relatos orais. A vantagem disto é que se pode voltar aos relatos num momento posterior. Assim, a pessoa que aplica o teste tem mais uma oportunidade para anotar qualquer expressão que não pôde anotar durante a sessão de teste.

4. P e ro u n ía s s rs so o s ts s

Este teste serve para descobrir se o significado da tradução está claro e correto.

Método;

(a) Escolha uma passagem e faça uma lista de perguntas breves que possam ser respondidas de forma breve e direta.

® Perguntas para Marcos 2.1-12:* Onde Jesus estava enquanto pregava?= Quem estava escutando o que ele dizia? s Quem veio e quis aproximar-se dele?= Por que não puderam chegar até Jesus?= O que eles fizeram?= O que disse Jesus ao paralítico?

As perguntas devem ser claras. Se a pessoa convidada a fazer o teste não compreende a pergunta, a resposta não será de nenhuma ajuda. Pode in­clusive levar a conclusões incorretas.

(b) Leia a passagem a alguém (ou a um grupo de pessoas) e peça que esta(s) pessoa(s) responda(m) as perguntas. A pessoa que aplica o teste deve anotar as respostas dadas.

Se a pessoa convidada sabe escrever, peça-lhe que escreva as suas res­postas.

(c) F^epita o teste com várias pessoas.

Como empregar os resultados:Se várias pessoas derem respostas incorretas a uma mesma pergunta, isto quer

dizer que o texto não está claro nesse ponto.

O que se deve gvitar ao fazer perguntas:

(a) Não pergunte, “Compreendeu a passagem?”(b) Não faça perguntas que exijam como resposta um simples “sim” ou “não”.(c) Não peça opiniões. Só faça perguntas que possam ser respondidas com

base na passagem.

210 DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇÃO

(d) A pessoa entrevistada não deve consultar outra versão da Bíblia, com ex- ceção da tradução que está sendo testada.

Lem bre-se;Como no caso de outros testes, explique à pessoa que responde às per­

guntas que não se trata de uma avaliação da pessoa (para ver se ela é inteligente ou se sabe as respostas), mas de um teste da tradução, para ver se é boa ou não.

DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇôO

Exercício 1» Logo abaixo está um trecho do primeiro rascunho de uma tradução de Marcos

1.16-20. Faça de conta que está testando a tradução e que já pediu a um aju­dante que respondesse às perguntas que estão listadas depois da passagem e que acaba de receber as respostas ali registradas. Com base nas respostas que rece­beu, diga que partes da tradução parecem não estar claros, precisando talvez de melhoramento.

Rascunho pars o tests:Um dia Jesus estava andando junto ao lago da Galileia. Enquan­

to caminhava, viu Simão e o irmão de André, que estavam jogando as redes no mar. Faziam isso por serem halieis. 17 Jesus lhes dis­se: —Venham e me sigam, e vou ajudar vocês a pescar homens,

Eles se levantaram logo e deixaram as redes e seguiram após Jesus. Então foram um pouco mais adiante e depararam com Tiago e João, que estavam consertando as redes. 20 Jesus os cha­mou também e eles se levantaram logo e o seguiram, deixando seu pai com os empregados no barco.

® Pergunta: Por onde andava Jesus?» Resposta: Pela beira de um lago.» Pergunta: E quem viu ali?® Resposta: Viu Simão e o irmão de André.» Pergunta: Quem era o irmão de Simão?= Resposta: Não sei.® Pergunta: O que estavam fazendo?• Resposta: Jogando redes ao mar.® Pergunta: Por que faziam isto?• Resposta: Porque eram halieis.» Pergunta: O que são halieis?■ Resposta: Não sei.■ Pergunta: Por que uma pessoa joga redes ao mar?

212 DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇAO

= Resposta: Possivelmente as redes já estavam gastas e não serviam mais.

e Pergunta: Por que Jesus disse que deviam seguir após ele? e Resposta: Porque queria que o ajudassem a prender alguns homens, s Pergunta: Por que queria prender esses homens?3 Resposta: Talvez tivessem feito algo de ruim para ele.= Pergunta: O que Simão e André fizeram? e Resposta: Foram com Jesus, e Pergunta: A quem mais Jesus viu? e Resposta: A Tiago e João. s Pergunta: Quem era o pai de Tiago e João? s Resposta: Não sei.

5. Traduções alternativasAs vezes, você pode não ter certeza se determinada expressão usada na tradução

é boa ou não; ou tem duas possibilidades de tradução, sem saber qual delas é a me­lhor. Este teste serve para verificar qual de duas ou mais traduções é mais fácil de compreender para os que ouvem a tradução. Pergunte: “Qual destas traduções você acha que as outras pessoas vão compreender melhor?”

M étodo:

(a) Nunca entregue à pessoa entrevistada apenas uma tradução, perguntando se é boa, porque essa pessoa quase sempre dirá que “sim”, seja qual for a real qualidade da tradução. Se possível, dê duas traduções alternativas e pergunte: “Qual destas é melhor?”

(b) As traduções alternativas podem ser apresentadas a diferentes pessoas para saber se todos os leitores preferem a mesma versão, ou não.

Este método também pode ser usado com um grupo de pessoas e pode resultar numa boa discussão. Às vezes, as pessoas que participam apresentam uma tradução alternativa, superior às que o tradutor lhes forneceu. Essas sugestões devem ser cui­dadosamente anotadas.

6. l ssts ds adivinhação

Este teste serve para ver se a tradução é natural e fácil de compreender. (Não se destina a comprovar o grau de exatidão da tradução.)

(a) Escolha qualquer trecho da tradução. (Para começar, escolha algo fácil, cujo tema esteja contido na passagem.)

DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇAO 213

(b) Escreva com um traço suave, isto é, de forma quase apagada u m a em cada s e te palavras da tradução. Ou seja, cada sétima palavra deve ficar como que apagada no texto (como se fosse impressa em modo rascunho).

(c) Leia a tradução a outras pessoas, omitindo as palavras que ficaram mais apagadas. Peça aos ouvintes que adivinhem as palavras que faltam.

Se seus ajudantes souberem ler, você pode preparar uma cópia do texto para cada um, deixando um espaço em branco para cada sétima palavra. (O espaço em branco deve ser sempre do mesmo tamanho.) Você pode dar uma cópia a várias pes­soas para que façam o teste ao mesmo tempo.

Como usar os resultados:Se, no caso da tradução, as pessoas conseguirem adivinhar o mesmo número de

palavras que conseguem adivinhar ao se fazer o teste com um texto semelhante es­crito na língua materna delas (só que, neste caso, não pode ser um texto traduzido), isto será indicação de que a tradução é bastante natural.

7. RevisoresEm geral, os revisores são pessoas com certo nível de formação académica, líde­

res da igreja, e outros que foram nomeados pelas igrejas da região para ajudarem na revisão da tradução.

Enviam-se cópias da tradução aos revisores, geralmente em remessas de uns pou­cos capítulos de cada vez. Os revisores anotam seus comentários e sugestões na cópia e a devolvem ao tradutor.

Às vezes, os revisores se reúnem em pequenos grupos, para realizarem em con­junto a tarefa de revisão.

Também será de ajuda que o tradutor fale com os revisores sobre algumas pas­sagens da tradução.

8. RetroversãoEste teste serve para descobrir se a tradução comunica realmente o significado

que o tradutor deseja transmitir.

Método:Os detalhes sobre a retroversão aparecem mais adiante, no capítulo 31 deste

livro. Peça a um falante nativo da língua, que também fale português, que faça a retroversão.

Esta retroversão mostrará como a pessoa que a fez entendeu aquele texto. E essa retroversão pode ser comparada com o texto-fonte, para ver se é correta quanto a seu significado.

214 DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇAO

Advertência:A pessoa que faz a retroversão:

(a) Não deve ser a mesma pessoa que traduziu a passagem.(b) Deve ser, de preferência, alguém que não esteja muito familiarizado com a

Bíblia (do contrário, poderá escrever a partir do seu conhecimento prévio da passagem, em vez de fazê-lo à base da tradução).

(c) Deve fazer a retroversão sem consultar nenhuma versão portuguesa da Bíblia.

Elaborar uma retroversão tem dois propósitos: (1) É uma maneira de revisar a tradução para a língua receptora; (2) É um texto que pode ser usado pelo consultor ou assessor nas sessões de revisão.

9. Versão prelim inar de testeEm geral, esta versão é preparada depois da realização dos testes descritos aci­

ma. Nessa altura, o tradutor já terá recolhido os comentários e as sugestões que foram apresentadas durante a realização dos testes, selecionado aquilo que for mais útil, e elaborado um rascunho revisado.

Este rascunho deve ser impresso, fazendo-se várias cópias do mesmo. Esta versão deve ser chamada de ‘Versão de teste” (ou “versão preliminar”) e deve vir acompa­nhada de uma nota em que se pede mais comentários e sugestões.

A versão de teste será enviada aos líderes da igreja e a outras pessoas. Na ver­dade, deve ser enviada a todos os que estiverem dispostos a ler e usar a tradução.

A forma como se utiliza esta versão, e a reação que provoca entre os leitores/ ouvintes, ajudarão o tradutor a discernir se a tradução está quase pronta para ser publicada, ou se ainda precisa de alguma modificação.

Os pastores e professores devem ser incentivados a fazer uso frequente destas versões de teste.

Antes de publicar o Novo Testamento ou a Bíblia inteira, é aconselhável imprimir um ou dois livros bíblicos para distribuição entre as pessoas. Muito pode ser apren­dido dos comentários e das sugestões que surgirem do uso dessas versões prelimina­res, resultando em um sensível melhoramento da versão final.

10. Uso da tradução em estudos bíblicosÀs vezes, pode-se usar o(s) livro(s) traduzido(s) em estudos bíblicos, assim como

em reuniões devocionais com a família e em reuniões da igreja. Esta pode ser uma maneira muito boa de descobrir se as pessoas realmente entendem o texto, ou não.

Método:O tradutor pode dirigir ou participar de uma série de estudos bíblicos sobre o li­

vro que acaba de traduzir. Este deve ser um grupo informal de estudo para que todos possam fazer livremente perguntas e comentários.

DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇAO 215

Escute com atenção para ver se os que participam do estudo compreendem a tra­dução, ou não. Tome nota daquilo que eles parecem não entender.

IMotas gerais sobre como testar a tradução

1. Comece a fazer testes tão logo der início à tradução. As lições aprendidas dos testes feitos com os primeiros trechos traduzidos poderão ajudá-lo a fazer uma tradução mais adequada das passagens seguintes.

2. Faça testes com vários grupos de pessoas:s com cristãos e não-cristãos, s com jovens e adultos, e com homens e mulheres,* com os que sabem ler e com os analfabetos.

3. Mantenha um quadro detalhado das passagens que já testou, e dos métodos usa­dos. Todas as passagens devem ser testadas com os seguintes métodos:

s método 1 (leitura em voz alta), s método 7 (com os revisores) e s método 9 (uso).

Além disso, todas as passagens devem ser testadas pela aplicação de outros dois ou três métodos. E provável que os trechos mais difíceis tenham de ser testados, revisados e reexaminados várias vezes.

4. Procure manter um arquivo bem organizado de todos os comentários e suges­tões oferecidos pelos leitores. Uma vez alcançado um consenso, registre todas as mudanças aprovadas numa CÓPIA-PADRÀO do livro. Guarde esta cópia em um lugar bem seguro.Mantenha também um arquivo para cada um dos livros da Bíblia, com todas as notas e relatórios da revisão desse livro. Isto é importante, para evitar que essas informações se percam. Caso se arquivar imediatamente todas as notas sobre determinado livro, será mais fácil localizá-las quando da revisão do rascunho.

Lembre-se:Os testes são parte essencial do trabalho de tradução.

Lembre-se:As dez maneiras de testar a tradução são:

1. Ler em voz alta2. Escutar outros leitores3. Escutar uma repetição do relato4. Perguntas e respostas

DEZ MANEIRAS DE TESTAR A QUALIDADE DA TRADUÇAO

5. Traduções alternativas6. Teste de adivinhação7. Revisores8. Retroversão9. Versão de preliminar de teste

10. Uso da tradução em estudos bíblicos

C ap itu lo 31

1. Exemplo de um a retroversão

Anong p’akkere nnwer nwoma, ode kaam Paul, kw’nyimPessoas que-escrevem este papel, sou eu Paulo, que-estou

Ngbakkohbho okuro k’eso ch’Jisusna-prisão (lit. deitado [em] cadeias) por causa (lit. por cabeça)) de Jesus

Kraist, omaana Timoti, agbaanakka kwamina. Mokker onangCristo e/com Timóteo nosso irmão. escrevemos dar

Philemon oyodikkobh kwamina kv/mosoko ettem, Wmotono Filemom nosso amigo o-qual- colocamos coração quem nós-juntos

osi otohm. Mobira ozima Aphiya,fazemos trabalho. Nós-também saudamos Afia,

agbaanakka kwamina k’epanong, ottara Akipus, kw’odenossa irmã, e Arquipo, que-é

mach’oyok-osojanong kwamina kw’motonocomo-companheiro-soldado nosso quem-nós-juntos

osi erima ch’otohm mva. Mobira ozimafazemos combate deste trabalho. Nós-também saudamos

ekkobazikan maphyir ch’ettong ny’osohm kwo.grupo-igreja todos que-se-reúnem em-tua casa.

Ite Ibinokpaabyi, kw’ode Ttatta kwamina, omaana ovaar JisusQue Deus que-é Pai nosso, com Chefe Jesus

Kraist, Mado bonga, mabira Anang bonga odaam.Cristo, abençoe vocês, também dar a-vocês p a z/ contentamento.

2 . Em que consiste um a retroversão?A retroversão consiste em retraduzir para a língua original um texto traduzido.

Trata-se de uma tradução bem literal de um texto que se encontra em determinado idioma, e nessa tradução se usam palavras do português ou da língua nacional ou comercial. O exemplo acima mencionado pode ser descrito como uma versão feita “frase-por-frase”.

Repare que uma retroversão não constitui uma tradução propriamente dita. Não soará natural em português, pois não segue a gramática da língua portuguesa, senão a da língua-fonte.

Uma retroversão reflete intimamente o conteúdo e a estrutura gramatical de um texto de tal forma que alguém que não fala essa língua possa entender.

218 COMO FAZER UMA RETROVERSÃO

3. G propósito de um a retroversãoEste tipo de retroversão ajuda o consultor ou assessor, ou qualquer outra pessoa

sem conhecimento da língua, a revisar a tradução com o tradutor. Embora não per­mita ao consultor compreender totalmente o significado (como se soubesse falar a língua em questão), proporciona-lhe uma base e lhe serve como ponto de partida para maiores comentários e explicações.

E importante que a retroversão seja bem feita, para não confundir o consultor ou assessor.

As retroversões também são uma maneira de testar a tradução. Muitas vezes, as partes da tradução que não estão corretas ou claras podem ser identificadas na retroversão.

4- Diferentes tipos do retroversõesA tradução “palavra-por-palavra” é um tipo de retroversão bem literal; embora

possa ser feita uma que outra mudança na ordem das palavras (ver mais adiante), tal versão segue fielmente a ordem do texto original.

Outro tipo de retroversão é a tradução “frase-por-frase”, que é o tipo mais útil e prático na maioria das situações.

Um terceiro tipo é a “retroversão livre”. Neste tipo de retroversão, segue-se muito de perto o conteúdo da versão original, mas se permitem mais mudanças gramati­cais, que facilitam a leitura.

É provável que, para o consultor, seja bem difícil entender os dois primeiros tipos de retroversão. Isto ocorre geralmente:

(a) quando a estrutura gramatical da língua receptora é muito diferente da do português, especialmente na ordem das palavras; e

(b) quando o consultor não está familiarizado com as línguas dessa família linguística.

Quando isto ocorre, é provável que o consultor tenha de pedir ao tradutor que faça uma retroversão livre, junto com (ou em lugar de) uma tradução feita “frase- -por-frase”.

5. Como fa zer um a retroversão

1. Quem faz a retroversão não deve consultar nenhuma outra tradução, a não ser a que foi feita para a língua receptora. Todas as demais Bíblias devem estar fecha­das. Em hipótese alguma deve conferir o que dizem outras traduções. A retrover­são deve refletir somente o que diz a tradução na língua receptora.

2. Se o tradutor da retroversão não tiver certeza do significado de determinado tre­cho da tradução na língua receptora, ou se lhe parecer ambíguo, é sinal de que esse

COMO FAZER UMA RETROVERSÃO 219

trecho não está claro. Nesse caso, o tradutor deve deixar um espaço em branco ou assinalar com um ponto de interrogação o suposto significado da passagem.

3. A retroversão deve ser feita, sempre que possível, por um falante nativo da lín­gua, porque o consultor precisa saber o que a tradução significa para os falantes dessa língua.

4. A retroversão deve ser feita, sempre que possível, por alguém que não tenha sido o tradutor do texto que agora é o texto-fonte da retroversão. Isto é importante, porque:

(a) o tradutor já conhece a passagem, pois a estudou bem na língua-fonte;(b) o tradutor sabe o que a tradução quer dizer. Está sinceramente convencido

de que ela comunica o significado correto (pois de outro modo não a teria formulado dessa maneira). Mas isto não significa necessariamente que outra pessoa possa entender o significado correto.

Se não for possível contar com outra pessoa para fazer a retroversão, o autor da tradução para aquela língua terá de fazê-la. Neste caso, convém que o tradutor deixe passar bastante tempo antes de fazer essa retroversão.

5. Pela mesma razão, a retroversão deve ser feita, sempre que possível, por alguém que não conheça bem a Bíblia, e que não tenha lido a referida passagem em tra­dução para outra língua. Assim, é mais provável que a retroversão reflita o que consta na tradução para a língua receptora, sem influência do conhecimento an­terior da passagem pelo autor da retroversão,

6. A pessoa que irá fazer a retroversão deve ser bem treinada a fazê-lo.

6. Formato da retroversãoA tradução deve ser feita linha por linha, ou seja, a retroversão deve ser colocada

na linha abaixo do texto que está sendo retrovertido. Isto é de grande ajuda para o consultor, que poderá ver tanto a tradução como a retroversão.

Recomenda-se escrever (ou imprimir) a retroversão com uma cor de tinta ou lápis diferente da usada na própria tradução.

Algumas partes da retroversão serão incompreensíveis para quem não conhece a língua.

Nesses casos, o tradutor deve acrescentar notas contendo versões um pouco mais livres que expliquem o verdadeiro significado. Veja o exemplo de retroversão no iní­cio deste capítulo. Se não houver espaço entre as linhas, as notas podem ser escritas na margem do texto.

As vezes, é necessário escrever uma nota explicativa mais extensa numa folha em separado. Numere suas notas para que o consultor veja com facilidade a que parte do texto se refere cada uma delas.

8. Princípios básicos p a ra fa ze r um a retroversão

1. Na retroversão, o significado das palavras deve ser traduzido o mais diretamente possível. Veja os seguintes pontos:

(a) Cada palavra ou frase deve ser traduzida de acordo com o sentido que tem no contexto em que aparece. Não dê somente o significado básico da palavra, mas registre o sentido que a palavra ou frase tem para um falante nativo naquele contexto específico.

* O significado literal pode ser incluído numa nota:© mbembe: Kaam anong kinchi... — eu não-engano as pessoas (lit.: eu

não como gente)* mbembe: otor be otohng — ele os advertiu severamente (lit.: ele lhes

puxou as orelhas)

Se a expressão idiomática aparecer muitas vezes, não é preciso repetir a nota.

(b) Quando o significado de uma palavra em determinado contexto não pu­der ser traduzido por uma única palavra, use duas ou mais palavras, sepa­radas por uma barra (/), para mostrar o sentido completo da palavra. Por exemplo: comportamento/caráter.

(c) Deve-se dar uma retroversão completa das palavras empregadas para tra­duzir termos-chave da Bíblia, como “anjo”, “discípulo”, “sacerdote”, etc. Por exemplo: anjo “mensageiro que veio de Deus”.

Será muito útil para o consultor preparar uma lista desses termos-chave.

(d) Deve-se fazer uma retroversão literal de todos os substantivos abstratos, adjetivos descritivos e equivalências culturais. Faça a retroversão de ma­neira que o consultor possa compreender como foram traduzidas as ideias.

Por exemplo, se a palavra que você empregou para traduzir “glória” num contexto bem específico significa realmente “luz/ brilho/claridade/es­plendor”, registre isso em sua retroversão. Em outras palavras, não a subs­titua pela palavra “glória” em sua retroversão.

Se a palavra “âncora” foi traduzida por uma frase descritiva como “peso de ferro que não permite que um navio se mova”, conserve esta forma na retroversão.

220 COMO FAZER UMA RETROVERSÃO

COMO FAZER UMA RETROVERSÃO 221

(e) As palavras estrangeiras introduzidas na tradução devem aparecer subli­nhadas na retroversão. Se for preciso, acrescente uma nota explicativa.

2. A retroversão pode ser gramaticalmente livre.De fato, seria bem difícil compreender uma retroversão feita palavra por palavra. Não é preciso escrever na retroversão todos os detalhes da estrutura gramatical. Mas a retroversão deve refletir o estilo da língua.

(a) Dentro da oração, a ordem das palavras deve ser a ordem normal do por­tuguês:

mbembe: m’Atte kwam kazongliteral: pl.-Pai meu neg.-vocês-conhecem marcador de sujeito

----- ■ ■■■ — ------------ -------- . ■■ I II ■ Wm ■ I

Na retroversão isto ficaria como “Vocês não conhecem meu Pai”.

A forma mais livre, em termos gramaticais, é mais fácil de compreender e contém toda a informação que o consultor necessita.

Repare que, no exemplo acima, a ordem das palavras na oração ne­gativa da língua mbembe é complemento/objeto antes do verbo. Esta ordem foi invertida na retroversão, ficando o verbo antes do comple­m ento/objeto, como é comum em português. Note também que a or­dem substantivo + pronome possessivo (“Pai meu”) foi alterada para “meu Pai”.

Tais mudanças tornam a retroversão mais compreensível e permitem ao consultor concentrar-se nos pontos realmente importantes da tradução.

No entanto, às vezes o uso de uma palavra tem implicações estilísticas. Pode, por exemplo, indicar ênfase. Neste caso, a ordem das palavras na tradução deve ser mantida na retroversão, ou, então, deve-se adicionar uma nota explicativa.

(b) Sempre que possível, conserve na retroversão as mesmas classes gra­maticais usadas na própria tradução. Por exemplo, se na tradução há um substantivo, use um substantivo na retroversão; se na tradução se emprega um verbo, utilize um verbo na retroversão.

(c) Conserve na retroversão a mesma divisão entre frases e orações (vírgu­las, etc.) que aparece na tradução.

(d) Não modifique os tipos de sentenças e orações. Por exemplo, traduza uma pergunta como pergunta, uma ordem como ordem, etc.

(e) Como regra geral, use a mesma pontuação que aparece na tradução. Isto é especialmente importante quando se emprega uma pausa (marcada por uma virgula) para assinalar ênfase ou enfoque. Por exemplo: “Pedro, vol­tou-se disse.

(f) Procure reproduzir outras formas que foram usadas na tradução para in­dicar ênfase.

222 COMO FAZER UMA RETROVERSÃO

mbembe: Kraist wo kw/iko adeliteral: Crista é quem-você você-é

Retroversão: “Ê Cristo de quem você é’

ou;- “Cristo é de auem você é”

mbembe: Bonga. Mailing minna asi...literal: Você. você-nm-deve assim você-fazer

i

Retroversão: “Você não deve fazer isso”.

i,emDFe-se:A retroversão deve ajudar uma pessoa que não conhece determinada

língua a entender esmo o significado foi expresso nessa língua.

SubtítulosNa maioria das traduções modernas da Bíblia, incluindo, por exemplo, a Nova

Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e a Nova Versão Internacional (NVI), o texto está organizado em parágrafos e seções. Cada seção descreve um acontecimento ou fala de um tema, que é indicado no subtítulo. Nota-se que:

(a) O texto está organizado em unidades completas e coerentes. Estas divi­sões são úteis para o estudo pessoal da Bíblia e para a leitura em voz alta. Indicam o tema da passagem.

(b) Os subtítulos, ou títulos de seções, ajudam o leitor a encontrar com mais facilidade um ponto específico ou uma referência no texto.

(c) Os subtítulos evitam uma sequência interminável de páginas e páginas de texto sem qualquer divisão, que poderia levar um leitor principiante ao desânimo ou até mesmo a nem iniciar a leitura.

(d) Em cada Evangelho são indicadas as passagens paralelas nos outros Evan­gelhos, ou seja, as passagens que descrevem o mesmo acontecimento ou tratam do mesmo assunto.

1. Alguns pon tos prá ticos sobre como tradu zir subtítulos

a. Os subtítulos devem ser traduzidos e depois revisados junto com o restante do texto. Não é bom traduzir o livro inteiro antes de colocar os subtítulos. O me­lhor momento para traduzir o subtítulo é quando se traduz a respectiva seção, pois nesse momento o tradutor tem bem fresco em sua memória o conteúdo dela.Contudo, ao terminar a tradução do livro inteiro, o tradutor deve reler todos os subtítulos do livro para ver se eles concordam entre si. Os subtítulos devem refletir o tema do livro inteiro e mostrar o desenvolvimento da narrativa ou da argumentação.

b. Cada subtítulo deve expressar o te m a da seção correspondente. Deve dar ao lei­tor uma ideia do conteúdo da seção, sem lhe dizer necessariamente tudo o que há nela.Os subtítulos devem refletir o teor e o ponto principal do livro. Por exemplo, no Evangelho segundo Mateus, um tema importante é o fato de que Jesus veio não só para os judeus, mas também para as pessoas de outras nações. Os subtítulos poderiam ser:

® Mateus 2.1-12: A visita dos sábios estrangeiros do Oriente s Mateus 8.5-13: Jesus cura o empregado de um oficial romano• Mateus 15.21-28: Jesus cura a filha de uma mulher estrangeira

C ap ítiiío 32

c. Os subtítulos devem ter a forma mais breve e ordenada possível. Não devem ser confusos nem obscuros. E melhor ter um título mais comprido e fácil de com­preender que um título breve e confuso.

d. Nos títulos, não se devem introduzir ideias ou interpretações novas. Devem refle­tir o que está no texto.

e. Às vezes, pode ser apropriado dar no subtítulo uma chave que possa ajudar o leitor a compreender corretamente o texto. Por exemplo, certa tradução tinha o seguinte subtítulo para João 1.1-18: A Palavra de Deus que se fez homem.Às vezes, pode-se dar no subtítulo certa informação que não está presente no texto. Por exemplo, em Marcos 15.1-5 se descreve como Jesus foi levado a Pilatos. Mas em nenhuma parte do evangelho de Marcos se diz quem era Pilatos, embora se explique isso nas passagens paralelas de Mateus e João. Portanto, um subtítulo adequado para Marcos 15.1 poderia ser: Jesus diante do governador romano Pilatos. Na história do bom samaritano (Lucas 10.25-37), parte da importância do relato está no fato de que os samaritanos não eram judeus verdadeiros, sendo despre­zados por estes. Algo disso poderia ser indicado no subtítulo: A história de um estrangeiro da Samaria.Em 2Coríntios, a atuação de Tito (2Coríntios 2.13; 7.6, 7) pode parecer algo misterioso a quem não conhece a situação e não sabe que Paulo tinha encarre­gado Tito de visitar Corinto como seu representante. Um subtítulo adequado para 2Coríntios 2.12 poderia ser: Paulo está ansioso, pois Tito ainda não voltou de Corinto.

2. A form a dos subtítulosNa Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), podemos notar que foram em­

pregadas diversas formas para os subtítulos. Entre estas se destacam:

(a) Orae-ões com pletas9 Afirmativas: Marcos 4.13: Jesus explica a parábola do semeador /

Marcos 6.30: Jesus alimenta uma multidão « Interrogativas: Jó 4.12: Alguém pode ser correto diante de Deus?* Imperativas: Romanos 14.1: Não julgue os seus irmãos na fé.

(b) O rações in com p letase Lucas 12.8: Confessar e negar a Cristo 9 Lucas 12.35: Os empregados alertas

(c) Frases nom inais• Lucas 13.22: A porta estreitas Lucas 11.27: A verdadeira felicidade 9 Lucas 15.1: A ovelha perdida

224 SUBTÍTULOS

(d) L ocuções p rep osic ion a iss Atos 13.4: Em Chipre s Atos 13.13: Em Antioquia da Pisídia s Atos 14.1: Em Icônio

Muitas línguas preferem sentenças completas em vez de locuções pre­posicionais. Por exemplo:

® Paulo visita Chipre, s Surgem problemas em Icônio.

Há diversas possibilidades de formular subtítulos. Utilize as formas mais naturais e aceitáveis na língua receptora. Algumas línguas preferem usar frases nominais em vez de sentenças completas.

Algumas línguas preferem formas como as seguintes:

5 Marcos 1.14: Como Jesus chamou quatro pescadores, convidando-os a segui-lo

« Marcos 6.30: Como Jesus alimentou cinco mil homens* Mateus 3.13: Como João batizou Jesus= Marcos 1.29: Palavra a respeito de como Jesus curou muitas pes­

soas= Mateus 6.5: Palavra que Jesus ensinou às pessoas sobre como orar* Lucas 15.1: A história da ovelha que se perdeu

A ordem natural pode ser diferente:= Como Jesus curou muitas pessoas, sua palavra = A ovelha perdida, sua história

É preciso ter cuidado com o uso apropriado do tempo verbal. Em português se emprega geralmente o tempo presente nos subtítulos. Em outras línguas pode-se preferir o futuro ou o passado.

Procure identificar o tempo verbal que seja mais aceito.

3. Notas importantes

(a) Consulte textos escritos na língua para ver se neles aparecem subtítulos ou algo parecido. Algumas línguas empregam uma frase de “topicaliza- ção”, em que se menciona o tema da seção seguinte. Isto poderia propor­cionar um bom modelo para os subtítulos.

(b) Os subtítulos devem distinguir-se claramente do resto do texto. Do contrá­rio, os leitores poderiam ficar confusos e lê-los como se fossem parte do texto. Recomenda-se centralizar os subtítulos e sublinhá-los ou imprimi­-los em negrito.

SUBTÍTULOS 225

(c) É preciso ensinar os leitores principiantes a lerem corretamente os subtí­tulos. Se possível, alguns títulos devem ser colocados nos livros de leitura utilizados na alfabetização. Assim os novos leitores se acostumarão a ler subtítulos.

(d) Em algumas línguas, os autores de textos “naturais” costumam inserir uma oração-resumo ao final do texto. Sendo este o caso, possivelmente se deveria colocar o “título” ao final da seção e não no começo dela. Não se recomenda isso em todos os casos, mas, se você achar que isso é apro­priado em sua língua, faça uma experiência e fale sobre esta possibilidade com o seu consultor de traduções.

4. Pronom es nos subtítu losLembre-se que os subtítulos interrompem o texto. Revise com cuidado o começo

de cada seção para ver se fica claro a quem se refere cada um dos pronomes.É bom mencionar o nome das pessoas ao começo de cada nova seção para que o

leitor que por acaso esteja começando a ler nesse ponto do texto saiba com certeza de quem se está falando.

5. AdvertênciaNão exagere no uso de subtítulos. Eles só devem ser inseridos nas divisões na­

turais do texto. Evite usá-los se vierem a interromper a sequência natural do texto ou da argumentação. Em algumas línguas, prefere-se usar menos subtítulos que na NTLH. Algumas das seções desta tradução podem ser reunidas numa só seção. Se você decidir fazer isso, tenha cuidado de escolher um subtítulo adequado para essa nova seção mais extensa.

Tenha cuidado de não seguir literalmente a forma dos subtítulos da NTLH. Verifi­que, também, se os subtítulos de outras traduções (ARA, NVI, etc.) não apresentam, talvez, alternativas interessantes.

6. A pontuação dos subtítu losOs subtítulos não levam ponto ao final.Há diferentes formas de usar maiúsculas nos subtítulos:

a. Algumas traduções usam maiúsculas em todas as palavras dos títulos.b. Algumas traduções usam maiúsculas só na primeira palavra do título e nas pala­

vras que normalmente são escritas com inicial maiúscula (como nomes próprios).

Esta última alternativa é a mais recomendada e mais fácil de usar. Em geral, os leitores novos também têm dificuldade em ler as letras maiúsculas, especialmente no caso de palavras que normalmente não são escritas com inicial maiúscula. Por esta razão, recomenda-se não escrever com maiúsculas todas as palavras dos subtítulos.

226 SUBTÍTULOS

7. Referências rem issivasEm muitas traduções, aparecem, nos Evangelhos, referências remissivas às passa­

gens paralelas. Este uso se vê também em outras partes da Bíblia, quando o mesmo acontecimento é relatado em mais de um livro. Por exemplo, 2Samuel e 1 Crónicas; 2Crônicas e l e 2Reis.

Essas referências são colocadas logo abaixo dos subtítulos. São muito úteis para quem quer estudar a Bíblia mais a fundo.

Lembre-se;Os subtítulos dão ao leitor o tema de uma passagem e o ajudam a en­

contrar facilmente a parte do texto que ele procura.Procure expressar os títulos da maneira mais natural, apropriada e útil

na língua receptora.

SUBTÍTULOS 227

Pronomes e seus referentes1. Nos pronom es, deve ficar ciara a quem ou a que se referem

Os pronomes são colocados em lugar de substantivos ou frases nominais. Refe­rem-se a algo, ou alguém, que foi mencionado anteriormente.

O leitor pode ficar confuso se não souber a quem, ou a que, se refere um prono­me. Compare as seguintes traduções de Marcos 9.20 e 21. Leia também as traduções desta passagem na ARA e na NTLH.

í r« 0 u ç s o XE trouxeram-no a ele; e, quando ele o viu, logo o espírito o agitou com violência; e, caindo por terra, revolvia-se, espumando. E per­guntou ao pai dele: Quanto tempo faz que lhe sucede isto? E ele disse-lhe: Desde a infância.

Tradução YEntão trouxeram o menino. E o demónio, tão logo viu Jesus, agitou violentamente o menino que, caindo por terra, se revolvia e espu­mava pela boca. Então Jesus perguntou ao pai do menino: “Quanto tempo faz que isso acontece com ele?” Ele respondeu: “Desde que era bem pequeno”.

Lembre-se:Revise a tradução com cuidado para ver se está claro a quem ou a que

se refere cada um dos pronomes.

Cada língua tem seu próprio sistema de referência pronominal. Para evitar con­fusões, às vezes é melhor, na tradução, colocar um substantivo em lugar do pronome que aparece no texto-fonte.

Mas evite o outro extremo, ou seja, o uso de substantivos e frases nominais nos casos onde seria mais natural empregar um pronome. Um exemplo disto é o texto que segue:

* 2Samuel 5.17-19: Ouvindo, pois, os filisteus que Davi fora ungido rei sobre Israel, subiram todos os filisteus para prender a Davi; quando Davi soube disso, desceu à fortaleza. Os filisteus vieram e se estenderam pelo vale dos Refains. Então Davi consultou ao S e n h o r , dizendo: Subirei con­tra os filisteus?

Que substantivos poderiam ser substituídos por pronomes para tornar mais na­tural a tradução?

230 PRONOMES E SEUS REFERENTES

Lem bre-se:O uso excessivo de substantivos em lugar de pronomes pode tomar o

estilo pesado e pouco natural.

2, Recomendações

a. Em português, empregam-se vários pronomes de terceira pessoa, de acordo com o género da pessoa ou a coisa a que se refere: “ele/o” para o género masculino; “ela/a” para o feminino; e “ele/o” para o neutro. Ao traduzir os pronomes de textos em português, o tradutor deve ter cuidado para não criar confusão.

5 João 11.36: Então, disseram os judeus: Vede quanto o amava. (ARA)

Em uma língua que, por exemplo, não registra a diferença entre “ele/o” e “ela/a”, o contexto poderia dar a entender que o pronome (que, em por­tuguês, é “o”) se refere a Maria, ao invés de Lázaro. Em tal caso teria sido melhor uma tradução mais ejqjandida: ‘Vejam como ele amava Lázaro.”

= Marcos 6.17: Porquanto o mesmo Herodes mandara prender a João e encerrá-lo manietado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Fi­lipe, seu irmão, porquanto tinha casado com ela. (ARC)

Que ajustes se recomendariam na tradução deste versículo?

b. Pode haver confusão nas citações diretas.

s Marcos 13.6: [Jesus disse:j Muitos virão em meu nome, dizendo: “Sou eu”, e enganarão a muitos.

Em determinada língua houve uma grande confusão porque este versículo foi traduzido literalmente. Os leitores entenderam que o “eu” se referia ao falante, quer dizer, ao próprio Jesus. Não podiam entender por que o Senhor Jesus dizia que essas pessoas não deviam dizer que ele (Jesus) era o Cristo. Portanto, foi preciso traduzir o versículo da seguinte maneira:

= Jesus disse: ‘Muitos virão dizendo que falam em m.eu nome e afirmando que são o Cristo. ”

Em algumas línguas, uma citação direta embutida em outra citação sempre precisa ser transformada em discurso indiretc-, como no exem­plo acima.

c. As vezes, pode ser preciso dizer quem fala, ou a quem se fala, para evitar confusão.

s Marcos 1.2: Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro ...

PRONOMES e s e u s r e f e r e n t e s 231

Um leitor poderia supor que aquele “eu” se refere a Isaías, A NTLH esclarece a referência pronominal: A boa notícia ... começou a ser dada como o profeta Isaías tinha escrito. Eie escreveu o seguinte: “Deus disse: Eu enviarei o meu mensageiro ... "

Hebreus 10=5= ARC: Peio que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste,... s NTLH: Por isso Cristo, ao entrar no mundo, disse: “Tu, ó Deus, não que­

res animais oferecidos em sacrifícios nem ofertas de cereais...

d. No início de cada seção, deve-se explicitar de quem ou de que se está falando. Se alguém começar a ler em determinada seção e encontrar só um pronome, não saberá a quem ou a que se refere.

Mareos 6=14 = (ARA) Chegou isto aos ouvidos do rei Herodes ...= Mas quando Herodes ouviu faiar das coisas maravilhosas que os discípu­

los de Jesus faziam ...

Exara/aio J= Estude com cuidado, em seu contexto, as passagens abaixo. Em cada uma delas

há um possível problema na área da referência pronominal. Compare com a NTLH. Reescreva as passagens em português de maneira que seu significado fique claro.

(a) Marcos 14.27 (ARA): Então, Lhes Jesus disse: Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas.

(b) Lucas 8.22-23 (ARA): ... e partiram. Enquanto navegavam, ele adormeceu. E sobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo eles o perigo de soçobrar.

(c) João 8.9 (ARA): Mas, ouvindo eles esta resposta,... foram-se retirando um por um,...

(d) Gálatas 5.8 (ARA): Esta persuasão não vem daquele que vos chama.(e) Hebreus 11.27 (ARA): ... permaneceu firme corno quem vê aquele que é invisí­

vel.(í) Lucas 12.5 (ARA): Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele

que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno.

Outros exsmpios:= Exodo 19.21-22 (ARA): E o S e n h o r disse a Moisés: Desce, adverte ao

povo que não traspasse o limite até ao S e n h o r posa vê-lo, a fim de muitos deles não perecerem. Também os sacerdotes, que se chegam ao S e n h o r , se hõ-0 de consagrar, para que o S e n h o r nc.o os fira..

* IReis 3.24-25 (ARA): Disse mais o rei: Trazei-me uma espada. Trouxe­ram um.a espada diante do rei. Disse o rei: Dividi em duas partes o me­nino vivo e dai metad.e a uma e metade a outra.

Exercício 2* Abaixo, foram transcritos trechos de Marcos 2 segundo as traduções ARA e NTLH.

Compare cuidadosamente as duas traduções. Sublinhe, no texto da NTLH, os substantivos e as frases nominais que aparecem no mesmo lugar em que, na ARA (que segue mais de perto a forma do original grego), foram empregados pronomes.

= Anote os seus pensamentos, explicando por que você acha que os tradutores da NTLH empregaram uma frase nominal ou um substantivo em vez de um pronome.

= ARA: 1 Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafamaum, e logo cor­reu que ele estava em casa. 2 Muitos afluíram, para ali, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar; e anunciava-lhes a palavra. --- Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens. 4 E; não pod.end.o aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente o.o em que ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito sm que jazia o doente.

= NTLH: 1 Alguns dias depois, Jesus voltou para a cidade de Cafarnaum, e logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. 2 Muitas pessoas foram até lá, e ajuntou-se tanta gente, que não havia lugar nem mesmo do lado de fora, perto da porta. Enquanto Jesus estava anunciando a mensagem, 3 trowceram um paralítico. Ele estava sendo carregado por quatro homens, 4 mas, por causa de toda aquela gente, eles não puderam levá-lo até perto de Jesus. Então fizeram um buraco no telhado da casa, em cima do lugar onde Jesus estava, e pela abertura dxsceram o doente deitado na sua cama.

s ARA; !3 De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava. Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.

= NTLH: 1 & Jesus saiu outra vez e foi para o lago da Galileia. Muita gente ia procurá-lo, e ele ensinava a todos. Enquanto estava caminhando, Jesus viu Levi, filho de Alfeu, sentado no lugar onde os impostos eram pagos. Então disse a Levi: —Venha comigo. Levi se levantou efoi com ele.

= ARA: 13 Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam.

232 PRONOMES E SEUS REFERENTES

PRONOMES E SEUS REFERENTES 233

= NTLH: Mais tarde, Jesus estava jantando na casa de Levi. Junto comJesus e os seus discípulos estavam muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama que o seguiam.

= ASA: 18 Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vie­ram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?

s NTLH: ' S qs discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Algumas pessoas chegaram perto de Jesus e disseram a ele: — Os discípu­los de João e os discípulos dos fariseus jejuam. Por que é que os discípulos do senhor não jejuam?

« ARA: 23 Qra> aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas. 2 4 Advertiram-no os fari­seus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados? 2fc-Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros?

= NTLH: 23 Num sábado, Jesus e os seus discípulos estavam atravessando uma plantação de trigo. Enquanto caminhavam, os discípulos iam co­lhendo espigas. 2 4 Então alguns fariseus perguntaram a Jesus: — Por que é que os seus discípulos estão fazendo uma coisa que a nossa Lei proíbe fazer no sábado? 25 Jesus respondeu: — Vocês não leram o que Davi fez, quando ele e os seus companheiros não tinham comida e fica­ram com fome?

3. Diferentes sistem as pronom inaisAlgumas línguas têm duas formas do pronome “nós”. Uma delas se usa quando

o falante se refere exclusivamente a si mesmo e aos seus ouvintes. Esta é a forma chamada “inclusiva”. A outra forma é usada quando o falante se refere a si mesmo e a outras pessoas, mas não aos seus ouvintes. Esta é a forma chamada “exclusiva”.

Outras línguas têm pronomes do singular, do plural, e do dual (referente a um par de pessoas ou coisas).

4. Referências à terceira pessoaEm algumas línguas, uma pessoa pode referir-se a si mesma como se estivesse

falando de outra pessoa.

= Génesis 19.2 (ARA): E disse-lhes [Ló]: Eis agora, meus senhores, vinde para a casa do vosso servo ...

Ló está convidando os homens a virem para a casa dele, e isto deve ficar claro na tradução. Caso o texto desse a entender que o convite era para irem à casa de outra pessoa, a tradução teria de ser reformulada. Neste contexto, as palavras de

Ló expressam respeito pelos homens com quem ele fala. A tradução deve ser clara e deve expressar o mesmo grau de respeito. Em algumas línguas, nas quais não é na­tural que o falante se refira a si mesmo como se fosse uma terceira pessoa, o convite poderia ser traduzido assim: “Meus senhores, rogo-lhes que venham a minha casa, pois sou seu servo”. As línguas têm diferentes padrões de referência pronominal ou maneiras de empregar os pronomes.

Exercício 3s Explique os possíveis problemas de referência pronominal nos seguintes exem­

plos:

(a) Lucas 9.26 (ARA): Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se en­vergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos.

(b) Mateus 4-7 (ARA): Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.

(c) Lucas 1.41-43 (ARA): Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta vos: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?

(d) Efésios 1.1-2 (ARA): Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Efeso e fiéis em Cristo Jesus\, graça a vós outros e paz, da parte de Deusnosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

C om o descobrir a g r a m á tic a d a Língua r e c e p to r a

Cada língua tem características próprias. E fascinante descobrir a riqueza e a complexidade da gramática de um idioma, bem como as muitas e diferentes ma­neiras de expressar as mais sutis diferenças de significado.

Pelo estudo da língua que fala, um tradutor chega a valorizar a riqueza e o po­tencial dessa língua, e aprende a fazer uso de toda essa riqueza em sua tradução.

O tradutor nota também as diferenças que existem entre sua língua materna e o português (ou a língua-fonte da qual esteja traduzindo). Isto o ajuda a evitar que a tradução reflita a forma da língua-fonte.

Neste capítulo só se pode sugerir de forma sucinta o tipo de estudo que será útil para o tradutor. Converse sobre isto com seu consultor ou assessor de tradução, que poderá dar-lhe mais materiais para o estudo de sua língua materna.

D iferenças d s estiloA língua é usada para diferentes propósitos, e para cada propósito há um estilo

diferente. Alguns estilos são:

s contos/histórias tradicionais = história — narrativas de fatos do passado* relatos de experiências pessoais e conversas ou diálogos= discursos formais (como os do chefe ou seu representante) e exorta­

ções= ensino e explicação (como o de um pai que ensina ou aconselha seu filho) s orações e preces s cartass provérbios e adivinhações- canções e poemas (de louvor ou lamentação)

Cada um destes estilos possui características próprias. Por exemplo, os contos tradicionais têm uma forma especial de iniciar e terminar a narrativa, e apresentam um modelo típico de desenvolvimento do relato. Estas características não seriam apropriadas para a narração de um fato histórico.

Na Bíblia também se encontram diferentes estilos. Ela contém contos (chamados de parábolas), relatos históricos, conversas ou diálogos, cartas, provérbios, canções e poemas.

Assim sendo, é importante conhecer as características de cada estilo na língua receptora.

C ap ítu lo 34

236 COMO DESCOBRIR A GRAMÁTICA DA LÍNGUA RECEPTORA

Como estudar su a língua

1. Recolha uma boa quantidade ds tsstos escritos em sua língua.

Os textos podem consistir em qualquer relato que tenha sido narrado de uma forma livre e natural na língua. Podem ser:

(a) escritos originais (não traduzidos) de um falante nativo da língua, ou(b) gravações de relatos de um falante nativo (em fita ou CD), que logo são

passados para o papel, num processo chamado de “transcrição”.

De nada servem textos traduzidos de outra língua, nem narrações gravadas por pessoas que não sejam falantes nativos da respectiva língua.

A coleta dos textos pode levar meses. Aproveite todas as oportunidades para obter bons textos. Faça o possível para conseguir textos de pessoas conhecidas como bons falantes da língua.

Recolha uma variedade de textos, ou seja, textos que representam todos os esti­los acima mencionados: contos tradicionais, relatos históricos, experiências pessoais, conversas, discursos, enunciados de ensino ou exortação, debates e explicações, pro­vérbios, cartas, canções e poemas.

2. Escreva e edite os textos orais.

Escreva os textos, seguindo a ortografia normativa da língua em questão. Subdi­vida as orações e parágrafos nos pontos que você achar apropriados. Se for preciso, faça mínimas mudanças para corrigir quaisquer erros cometidos pelo falante, mas não faça mudanças maiores. Se julgar que existem erros muito graves, deixe esse texto de lado e escolha outro para seu estudo.

3. Escolha um tsma ds estudo.

Resolva o que vai estudar primeiro. Comece a estudar o tema escolhido em ape­nas u m dos estilos discursivos, p.ex., nos contos tradicionais. Depois pode continuar o estudo desse tema em outros estilos discursivos.

Escolha um ou dois bons textos nesse estilo. Revise-os com cuidado e, com um lápis de cor, assinale todos os exemplos do tema que está estudando. Por exemplo, se o tema for “perguntas retóricas”, assinale todos os exemplos de perguntas retóricas que encontrar no texto.

4. Faça uma lista ds psrguntas e observações.Seu objetivo é descobrir as características do tema que está estudando. No caso

das perguntas retóricas, suas perguntas podem ser:

«■ Para que são usadas?= São usadas poucas ou muitas vezes? s Há algo que indique que a pergunta é retórica?

* Essas perguntas têm alguma forma típica ou característica especial?3 Elas costumam ocorrer em que estilos discursivos?

Seu assessor ou o consultor poderá sugerir alguns pontos que deveriam ser in­vestigados.

Empregue este mesmo método para estudar outros temas.

5. Anote o que você aprendeu ou conssgulu descobrir

Para isto, já serve um caderno ou um fichário. Um registro escrito do que se aprendeu é útil pelos seguintes motivos:

(a) Para revisar as conclusões. As vezes, as conclusões iniciais terão de ser modificadas à medida que o estudo prossegue.

(b) Para consultar de vez em quando e recordar os modelos observados. E bom revisar partes da tradução para ver se de fato foram seguidos os mo­delos naturais da língua.

(c) Serve como recurso para outras pessoas interessadas em estudar essa lín­gua ou outras línguas afins.

(d) Sen/e também para estudar, em cada tema, as diferenças entre os modelos de sua língua e os do português, especialmente do português da Bíblia.

Antes de começar a traduzir a POESIA na Bíblia, p.ex., os Salmos, ou trechos poéticos de outros livros, estude as canções e poemas em sua pró­pria língua. Procure descobrir as características da poesia em sua língua.

Antes de começar a traduzir TRECHOS DIDÁTICOS ou EXPLICATIVOS, como por exemplo as cartas de Paulo ou outras cartas do Novo Testa­mento, estude textos de sua língua em que que se ensina ou explica algo. Procure descobrir as características naturais deste tipo de discurso. Estude também o estilo natural das cartas em sua língua.

Problemas de tradução — RevisãoEste capítulo apresenta um resumo dos problemas de tradução mencionados nes­

te manual. Leia-o, para se lembrar dos pontos que sempre deve ter em mente ao traduzir.

1. Ide ias desco n h ecid a sAs vezes uma coisa ou costume é desconhecido na cultura da língua receptora. Possíveis soluções:

* Usar uma frase descritiva* Substituir por algo parecido® Usar uma palavra estrangeira, emprestada de outro idioma = Empregar uma palavra mais ampla ou geral e Utilizar uma palavra ou frase com significado mais específico

2. S ig n ificados q u e n ã o co rresp o n d emMuitas vezes, o significado de algumas palavras da língua receptora não corres­

ponde com o significado da língua-fonte.

Solução: Traduza as palavras segundo seu significado no contexto específico. Uma palavra na língua-fonte pode ser traduzida pelo emprego de diferentes termos na língua receptora, dependendo do contexto.

3. P alavras co m se n tid o s d iferen tesUma palavra pode ter vários significados, dependendo do contexto.

Solução: Traduza a palavra de acordo com o significado que tem naquele contexto específico.

4. P alavras que c o m b in a m o u vão ju n ta sEm todas as línguas há muitas palavras que têm um “parceiro natural”. Em ou­

tras línguas, o ‘‘parceiro natural” pode ser outro.

Solução: Ao traduzir, use as palavras com seu “parceiro natural” na língua receptora.

5= Term os b íb licos especia isUm tipo de “ideia desconhecida” são as palavras que se referem aos costumes e

crenças religiosas dos cristãos e judeus.

C ap ítu lo 35

240 PROBLEMAS DE TRADUÇAO — REVISÃO

Solução: Para traduzir termos bíblicos especiais, siga quatro passos:® Estude bem o significado do termo original.= Compare o termo com outros termos bíblicos de significado similar, s Pense em possíveis formas de traduzir o termo e escolha uma tradução

apropriada.= Teste o termo escolhido.

6. Traãuç&o com. significadoO autor original dirigiu a sua mensagem a um público específico, Os que leem

a tradução hoje em dia vivem num contexto linguístico e cultural diferente, e não conhecem a situação original.

Solução: Seja fiel à situação histórica, mas procure traduzir de maneira que os ouvintes/leitores compreendam o significado que o autor original pro­curou transmitir,

7. Ações s im b ó lica sUma ação que tem significado especial dentro da cultura bíblica pode não ter o

mesmo significado na cultura da língua receptora.

Solução: Traduza de maneira que se comunique o significado da ação simbólica.

S. D iferenças c u ltu ra isExistem muitas diferenças entre a cultura bíblica e a cultura da língua receptora.

Isto pode dificultar a comunicação.

Solução: Seja fiel aos fatos históricos; não os modifique. Mas traduza de m a­neira que se compreenda o significado que o autor original quis transmitir.

9. F orm as d s d a r in fo rm a çõ es sobre o fu n d o h is tó rico e cu ltu ra l Muitas vezes, para entender a mensagem original, o leitor precisa de informa­

ções de fundo histórico e cultural.

Solução: Essas informações adicionais pode ser fornecidas ao leitor de uma das seguintes maneiras:

= Ilustrações, vocabulários, nota de rodapé (não muitas)= Introduções aos livros da Bíblia= Folhetos sobre a cultura bíblica

10, N a tu ra lid a d eÀs vezes, o tradutor, sem se dar conta, segue em parte a forma gramatical do

texto-fonte e, em razão disto, a tradução resultante não soa natural.

Solução: Estude a gramática da língua receptora para descobrir seus padrões especiais, e a maneira em que ela difere da gramática da língua-fonte. Faça versões orais para melhorar a naturalidade da tradução.

11. A contecim entos ou açõesÀs vezes, os acontecimentos (ações) são expressos, em português, por meio de

substantivos abstratos. Nem sempre fica claro qual é a relação entre o acontecimento (a ação) e os que dele participam.

Solução: Para descobrir o significado, expresse os acontecimentos através de verbos. Procure descobrir como em sua língua se expressam normalmente os acontecimentos e trate de seguir este padrão em sua tradução.

12. A preposição ‘‘úe"A preposição “de” que aparece no texto-fonte pode expressar várias ideias e re­

lações.

Solução: Procure reconhecer seu uso no texto-fonte. Estude com cuidado o verdadeiro significado. Expresse todos os acontecimentos como verbos, para descobrir a verdadeira relação existente.

13. Voz passivaMuitas línguas não têm voz passiva, mas expressam as mesmas diferenças de

significado mediante outras formas.

Solução: Estude textos da língua receptora para descobrir as formas naturais equivalentes que expressam o mesmo significado. Muitas vezes é necessário transformar a voz passiva do texto-fonte em voz ativa, na tradução.

14. E lipseÉ provável que na língua-fonte se faça uso da elipse, ou seja, que se omitam al­

gumas palavras que estão subentendidas.

Solução: Pode ser preciso explicitar ou inserir a parte que falta. O importante é que fique claro todo o significado.

15. Passagens complexasÀs vezes, o significado de uma passagem não está claro.

Solução: E bom analisar a passagem, seguindo três passos:* Localizar os acontecimentos e expressá-los como verbos, s Identificar e acrescentar os participantes nesses acontecimentos, s Reescrever a passagem, mostrando claramente as relações existentes.

PROBLEMAS DE TRADUÇÃO — REVISÃO 241

242 PROBLEMAS DE TRADUÇÃO — REVISÃO

16, A ordem, dos acontecimentosÀs vezes, os acontecimentos não são narrados na ordem em que ocorreram, e isto

pode causar confusão.

Soiução: O tradutor deve dar claros indícios gramaticais (como, por exem­plo, o uso de advérbios) que esclareçam a ordem dos acontecimentos. Caso necessário, pode reordenar as informações, para que os acontecimentos apareçam em ordem cronológica, isto é, na ordem em que realmente ocor­reram.

17, Oraçc-ss breves e longasE provável que no texto-fonte haja orações bem longas e complexas.

Solução: Estude a estrutura gramatical das orações na língua receptora. Se for preciso, divida as orações longas e complexas em orações mais breves.

18, Comparação e m etáforaÉ provável que se faça comparação entre duas coisas e que o ponto de compara­

ção nem sempre fique claro.

Solução: Antes de traduzir, procure descobrir:= Qual é o tema — aquilo de que se fala;- Qual é a ilustração — aquilo com que se compara o tema;= Qual é o ponto de comparação.5 Traduza de tal forma que todo o significado fique ciaro.

19, Outras figuras de linguagemÀs vezes, o real significado de uma frase difere do significado superficial das pa­

lavras. Há um significado oculto.

Solução: Primeiro, descubra o real significado. Depois, expresse esse signifi­cado de uma maneira fácil de entender, mas sem perder o impacto e o efeito da frase.

20- Perguntas retóricasAlgumas perguntas não pedem informação, sendo empregadas com outro pro­

pósito.

Solução: Para iodas as perguntas que aparecem no texto-fonte, faça a seguin­te indagação: E uma pergunta verdadeira ou uma pergunta retórica? Se for retórica, pergunte: Qual é seu propósito ou objetivo no contexto? Traduza de maneira que se atinja o mesmo objetivo.

Sociedade Bíblica do Brasil

Semeando a Palavra ifue transforma vidas

ISBN