tratamento endodÔntico em incisivo inferior com dois...
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UNICESUMAR – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM INCISIVO INFERIOR COM DOIS
CANAIS RADICULARES: RELATO DE CASO
MURILO OLIVEIRA BENTO
ANA BEATRIZ GALLO JARDIM
MARINGÁ – PR
2019
MURILO OLIVEIRA BENTO
ANA BEATRIZ GALLO JARDIM
TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM INCISIVO INFERIOR COM DOIS
CANAIS RADICULARES: RELATO DE CASO
MARINGÁ – PR
2019
Projeto de Pesquisa apresentado ao Centro Universitário de Maringá, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação em Odontologia. Orientadora: Prof.ª Renata Fernandes. Maringá, 2019.
TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM INCISIVO INFERIOR COM DOIS CANAIS RADICULARES: RELATO DE CASO
RESUMO A anatomia do sistema de canais radiculares influencia diretamente no diagnóstico, prognóstico, resultado e sucesso da terapia endodôntica. Cada dente apresenta características semelhantes entre si, porém em determinadas situações podem ocorrer variações complexas, capazes de interferir no trabalho do cirurgião dentista. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de tratamento endodôntico em um incisivo lateral inferior, com dois canais radiculares e lesão periapical. Paciente do gênero feminino, 48 anos de idade, compareceu à clínica de odontologia da UNICESUMAR com indicação de tratamento endodôntico para o dente 32. Durante a exploração inicial do canal radicular, suspeitou-se da presença de outro conduto ou trepanação radicular apical. Uma tomografia computadorizada por feixe cônico (Cone Beam) foi solicitada para confirmar o diagnóstico. A odontometria eletrônica obteve comprimentos de trabalhos distintos para os canais vestibular e palatino. Após o preparo químico-mecânico e ação da medicação intracanal de contato por 21 dias, procedeu-se com a obturação dos canais radiculares utilizando o cimento biocerâmico Bio-C Sealer (Angelus). Acompanhamentos clínicos e radiográficos serão realizados pelo período de dois anos. Conclui-se, que o sucesso do tratamento endodôntico está relacionado ao conhecimento da anatomia interna dos dentes, já que essa algumas vezes não coincide com a sua anatomia externa, podendo ter algumas variações. Assim, a tomografia computadorizada por feixe cônico (Cone Beam) é um importante recurso auxiliar, no diagnóstico e planejamento da terapia endodôntica, em casos de variações anatômicas. Descritores: Tomografia Computadorizada, Variação anatômica, Endodontia.
ENDODONTIC TREATMENT IN THE LOWER INCISOR WITH TWO ROOT
CANALS: CASE REPORT ABSTRACT Root canal system anatomy directly influences the diagnosis, prognosis, outcome and success of endodontic therapy. Each tooth has similar characteristics, but in certain situations complex variations may occur, which may interfere with the work of the dentist. This work aims to report a case of endodontic treatment in a lower lateral incisor, with two root canals and periapical lesion. . A 48-year-old female patient attended the UNICESUMAR dental clinic with an indication for endodontic treatment for the tooth 32. During the initial exploration of the root canal, another conduit or apical root trepanation was suspected. A cone beam computed tomography (Cone Beam) was ordered to confirm the diagnosis. Electronic dentistry obtained different working lengths for the buccal and palatal canals. After chemical-mechanical preparation and action of intracanal contact medication for 21 days, root canal filling was performed using Bio-CSealer (Angelus) bioceramic cement. Clinical and radiographic follow-ups will be performed for a period of two years. In conclusion, the success of endodontic treatment is related to the knowledge of the internal anatomy of the teeth, since this sometimes does not coincide with their external anatomy, and may have some variations. So, cone beam computed tomography (Cone Beam) is an important aid in the diagnosis and planning of endodontic therapy in cases of anatomical variations. Keywords: Computed Tomography, Anatomical variation, Endodontics.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6
2. RELATO DE CASO .............................................................................................. 8
(Imagem 1: Tomografia por feixe cônico.) ............................................................... 8
(Imagem 2: Tomografia em corte Axial e Coronal.) ................................................. 9
(Imagem 3: Odontometria.) ...................................................................................... 9
(Imagem 4: Odontometria em imagem térmica.) ..................................................... 9
(Imagens 5; 6 e 7: Obturação dos canais.) ............................................................ 10
(Imagem 8: Radiografia final da obturação) ........................................................... 10
(Imagem 9: Radiografia final da obturação em imagem térmica.) ......................... 10
(Imagens 10 e 11: Radiografias de controle.) ........................................................ 11
3. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 12
4. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 14
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 15
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1. INTRODUÇÃO
O conhecimento da morfologia da cavidade pulpar e de suas possíveis e
constantes variações é necessário para se alcançar o sucesso do tratamento
endodôntico, visto que a terapia, além de complexa, exige o acesso aos canais
radiculares não realizada de forma macroscópica e direta em sua totalidade,
dificultando sua completa sanificação e modelagem, variando de acordo com a
complexidade e singularidade das alterações morfológicas de cada caso. É
indispensável compreender que a anatomia dental interna, ocasionalmente, não se
reproduz exatamente à simplicidade da anatomia externa dos mesmos.
(DUQUE,2011; BUENO, 2018).
A falha na terapêutica pode estar relacionada com a manutenção ou uma nova
infecção bacteriana intra-radicular, decorrente de erros nos procedimentos do
preparo dos canais, obturação ou restauração e, consequentemente, gerar o
surgimento ou permanência de sintomas clínicos. Sendo assim, o sucesso do
tratamento endodôntico está correlacionado à remoção completa do tecido necrótico
durante o preparo químico mecânico e a obturação do conduto de forma
tridimensional com material hermético, impedindo a percolação apical.
(LUKMANN,2013).
Os incisivos inferiores, que apresentam coroa em forma trapezoidal, são
considerados dentes usualmente unirradiculares, apresentando apenas um canal,
que é largo no sentido linguo-vestibular e achatado no sentido mésio-distal. Por
vezes, é observável uma concavidade que percorre o longo eixo da raiz, propiciando
o acentuado achatamento mésio-distal, o que ocasiona a bifurcação de seu canal,
em um vestibular e outro lingual (este segundo frequentemente localizado abaixo do
cíngulo), que se unem antes do ápice e terminam em um forame único.
Esporadicamente a bifurcação é completa, terminando em dois forames apicais
distintos. (DUQUE, 2011).
A incorreta realização da terapia endodôntica, bem como qualquer resposta
inflamatória do organismo contra uma agressão local de longo prazo (devido a uma
infecção endodôntica) pode originar um cisto periapical, que ocorre com o
predomínio de microrganismos gram-negativos anaeróbios no canal radicular
principal e disseminado ao longo do delta apical. Esses microrganismos possuem
endotoxinas em sua parede celular. As endotoxinas geram produtos tóxicos e
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subprodutos para os tecidos apicais, gerando uma reação inflamatória. Defende-se o
princípio que, se a infecção endodôntica for eliminada, ou seja, na ausência dos
agentes agressores, o sistema imune é capaz de promover o reparo da lesão.
(VALOIS e COSTA-JÚNIOR, 2005; HERRERA, et al., 2011).
A tomografia computadorizada Cone Beam proporciona alta precisão de imagens
com uma dose de radiação de 1/6 da convencional. Essa técnica é utilizada mais
amplamente nas áreas de cirurgia, implantodontia, endodontia, ortodontia, pois
disponibilizam maior amplitude de informações necessárias para fazer avaliação,
diagnóstico e tratamento do paciente (MARDER, 2012). Este trabalho tem como
objetivo relatar um caso de tratamento endodôntico em um incisivo lateral inferior,
com dois canais radiculares e lesão periapical.
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2. RELATO DE CASO
Paciente do gênero feminino, 48 anos de idade, compareceu à clínica de
odontologia da UNICESUMAR com indicação de tratamento endodôntico para o
dente 32. Durante a exploração inicial do canal radicular, suspeitou-se da presença
de outro conduto ou trepanação radicular apical. Uma tomografia computadorizada
por feixe cônico (Cone Beam) foi solicitada para confirmar o diagnóstico (conforme
imagens 1 e 2).
A odontometria eletrônica obteve comprimentos de trabalhos distintos para os
canais vestibular e palatino. O canal vestibular apresentou o comprimento de
20,5mm com a lima tipo K de calibre #20, já o canal palatino o comprimento foi de
21mm, com lima tipo K de calibre #15 (conforme imagens 3 e 4).
Após o preparo químico-mecânico e ação da medicação intracanal de contato
(hidróxido de cálcio pró-analise com propilenoglicol) por 21 dias, procedeu-se com a
obturação dos canais radiculares (conforme imagens 5,6 e 7). Selecionou-se cones
de guta-percha calibre #30 (Dentsply Sirona – Estados Unidos da América), para
ambos os canais, e cones acessórios calibre B8 (Dentsply Sirona – Estados Unidos
da América). O cimento endodôntico de escolha foi o BIO C SEALER (Angelus –
Brasil), utilizando a técnica Hibrida de Tagger. Acompanhamentos clínicos e
radiográficos serão realizados pelo período de dois anos (conforme imagens 10 e
11).
(Imagem 1: Tomografia por feixe cônico.)
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(Imagem 2: Tomografia em corte Axial e Coronal.)
(Imagem 3: Odontometria.)
(Imagem 4: Odontometria em imagem térmica.)
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(Imagens 5; 6 e 7: Obturação dos canais.)
(Imagem 8: Radiografia final da obturação)
(Imagem 9: Radiografia final da obturação em imagem térmica.)
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(Imagens 10 e 11: Radiografias de controle.)
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3. DISCUSSÃO
De acordo com a literatura, a prevalência de dois canais em incisivos
inferiores é de 11,5 a 44,1% (41,4% (Benjamin e Dowson,1974) , 45% Kartal e
Yanikoglu (1992), 11,5% (Madeira e Hetem,1973), 25,7% (Vertucci,1984) e 20%
(Green,1956), sendo que há maior incidência de bifurcação do canal radicular no
terço médio da raiz em relação aos terços cervical e apical e a possibilidade de
haver dois condutos nesse grupo de dentes é maior no terço apical do que no terço
cervical. O preparo biomecânico tem o intuito de limpar, sanear e modelar todos os
canais radiculares presentes, mesmo quando estes forem canais complementares,
favorecendo a obturação. (DUQUE, 2011).
Conforme Herrera (2011) e Nery (2012), para eliminar os microrganismos no
sistema de canais radiculares, o dentista deve utilizar limas endodônticas
associadas à solução irrigadora eficiente e medicação intracanal, neutralizando e a
removendo todo o conteúdo necrótico-tóxico do sistema de canais radiculares.
Tendo isto em vista, o hidróxido de cálcio se destaca entre os medicamentos de uso
intracanal em função das suas propriedades antimicrobiana (potencializa a
desinfecção do sistema de canais radiculares), indutora de reparo (processo de
reparo periapical; induz a mineralização), penetra nos túbulos da dentina e aumenta
o ph nas áreas de reabsorção do cemento e impede a reabsorção radicular externa.
A odontologia dispõe de vários métodos para realização do estudo da
anatomia interna, tais como secções macroscópicas, diafanização, radiografias,
radiografia digital, tomografia computadorizada, radiologia de subtração digital,
tomografia computadorizada de abertura sintonizada, ultrassom e ressonância
magnética. Tratando-se nomeadamente da tomografia computadorizada de feixe
cônico, técnica de imagem específica, esta suplanta algumas limitações da
radiografia convencional, pois permite enxergar todas as estruturas em camadas
(principalmente os tecidos mineralizados) com maior sensibilidade e especifidade,
mais nítidas e ricas em detalhes, permitindo a delimitação de irregularidades
tridimensionalmente. O desenvolvimento da Cone Beam proporciona à odontologia
imagens com mínima distorção e dose de radiação significantemente reduzida em
comparação à TC tradicional. (GARIB,2007).
A tomografia computadorizada por feixe cônico (Cone Beam) tem sido
considerada um aparato consciencioso para avaliar o grau de curvatura das raízes
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dos dentes com aparências anatômicas externas "normais". A viabilização dessas
informações antes do tratamento endodôntico diminui as chances de percalços
operatórios, como não instrumentação de um dos canais, transporte de canal ou
mesmo perfuração, o que poderia comprometer o tratamento. Ademais, a TCFC
demonstrou ser um meio confiável de avaliação e planejamento de tratamento para
dentes com anomalias anatômicas e morfológicas que precisam de tratamento
endodôntico. (COSTA, 2009; BUENO, et al., 2018).
Essa tecnologia dispõe da possibilidade de utilizar a radiação X para
vizualizar as estruturas do corpo humano em três dimensões, dispondo as imagens
em “fatias”, que permitem a diferenciação e quantificação dos tecidos moles e duros.
Na endodontia, as radiografias intrabucais (como é o caso da periapical) apresentam
limitações de informações, pois as estruturas tridimensionais são projetadas
bidimensionalmente no filme radiográfico, ocasionando sobreposição de imagens.
(MARDER, 2011).
Já a tomografia computadorizada de feixe cônico possibilita avaliar a forma,
extensão e localização das lesões periapicais precisamente, bem como fazer o
correto diagnóstico de fraturas radiculares, reabsorções radiculares (análise e
diferenciação de reabsorções internas e externas), elimina sobreposições em
estrutura adjacentes e possibilita melhor visualização da anatomia interna radicular,
anulando a possibilidade de não localizar um dos canais. (MARDER, 2011).
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4. CONCLUSÃO
Conclui-se, que o sucesso do tratamento endodôntico está relacionado ao
conhecimento da anatomia interna dos dentes, já que essa algumas vezes não
coincide com a sua anatomia externa, podendo ter algumas variações. Assim, a
tomografia computadorizada por feixe cônico (Cone Beam) é um importante recurso
auxiliar, no diagnóstico e planejamento da terapia endodôntica, em casos de
variações anatômicas.
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REFERÊNCIAS
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