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# 3 A o longo dos anos, o cinema passou a utilizar técnicas, como a dublagem, para que todos pudessem apreciar os filmes, mesmo sem falar inglês ou outro idioma. Usada desde 1930 em fil- mes, séries, desenhos animados, reality shows, vídeo games, nove- las, entre outros, o ato de dublar se define como a substituição da voz original de produções audiovisuais com o idioma do público destinado. O trabalho é feito em estúdios, onde a empresa assiste ao filme original, escreve as falas no seu idioma e cal- cula o tempo que o dublador tem para falar. A partir disto, o dublador estuda e ensaia as frases, para então, gravá-las. Até 1927 os filmes eram mudos e os personagens geralmente eram acompanhados de um piano, mas não se ouviam os diálogos. Quando surgiu nas telas o filme “O Cantor de Jazz”, o telespectador passou a ouvir os atores. Então, os filmes começaram a perder pú- blico, já que nem todas as pessoas falavam inglês. Para contornar a si- tuação, estúdios como a MGM e a Paramount, chegaram a filmar em Paris, versões francesas de longas- metragens americanos. No entanto o custo para fazer duas versões dos filmes era muito caro e ainda assim, não atingia o mesmo número de pessoas do cinema mudo. A solução apareceu em 1930, quan- do foi lançado o filme “e Flyer”, o primeiro filme a usar um sistema de sonorização que permitia subs- tituir as vozes originais por outras gravadas em estúdio. No Brasil, a novidade chegou em 1937, e teve como marco a estreia do desenho animado “A Branca de Neve e os Sete Anões”. Após a chegada da dublagem no Brasil, pode-se destacar alguns im- portantes dubladores: Garcia Junior (Simba), Carlos Campanile (Su- perman), Marcio Araújo (Ashton Kutcher e Bradd Pitt), Caio Cezar (Harry Potter), Marcelo Gastaldi (Chaves e Chapolin) e Luiz Feier Motta, de Caxias do Sul. Para Luiz, o personagem mais co- nhecido, dublado por ele desde 1992 é o Stallo- ne. “Quem dublava antes se chama- va André Filho, que faleceu e aí eu substituí ele, mas eu dublei a gran- de maioria dos filmes do Stallone. O Steven Seagal, o Pierce Brosnan, do 007, e o Super Homem também me marcaram.” Segundo Luiz Mot- ta, o mercado de trabalho no Rio Grande do Sul “é zero, não existe. O máximo que um dublador pode conseguir é locução de comercial, mas mesmo assim é muito difícil. Os melhores lugares para traba- lhar com dublagem no Brasil, são São Paulo e Rio de Janeiro”. O du- blador gaúcho comenta que para começar na profissão “tem que ter muita paciência. Tem que se pre- parar financeiramente primeiro. Ir até Rio ou São Paulo fazer um curso lá. Sempre indico o curso do Mar- cio Seixas que é o cara que dubla o Clint Eastwood, da Marlene Costa que dublava a Mulher Maravilha e da Ângela Bonatti também. É uma diretora fantástica de dublagem”. Hoje, já existem cursos e a Univer- sidade de Dublagem em São Paulo. A instituição oferece três modalida- des de curso: o básico, que ocorre uma vez por semana, o intensivo, que tem duração de cinco dias e um para crianças, que oferece aulas duas vezes por semana. No entanto, Luiz também salienta que apesar da importância dos cursos, é necessá- rio ter talento, pois o mercado de trabalho nesta área é muito con- corrido e leva tempo até aprender a dublar. “Tem que ter o dom pra isso. Não é uma coisa que você aprende, A arte da dublagem O surgimento e os destaques das vozes que povoam as telas Texto: Júlia Klein e Rodrigo Barajas [email protected] [email protected] talento não se aprende, se nasce com ele. Então, quando a pessoa tem talento, vai à luta. Se tiver alguma dúvida, como profissão e como carreira, eu não aconselharia”. Sylvester Stallone como Rocky Balboa Pierce Brosnan como o Agente 007 (James Bond) “Os melhores lugares para trabalhar com dublagem no Brasil, são São Paulo e Rio de Janeiro”. Fotos: Divulgação Christopher Reeve como Clark Kent/ Superman

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# 3

Ao longo dos anos, o cinema passou a utilizar técnicas, como a dublagem, para que

todos pudessem apreciar os filmes, mesmo sem falar inglês ou outro idioma. Usada desde 1930 em fil-mes, séries, desenhos animados, reality shows, vídeo games, nove-las, entre outros, o ato de dublar se define como a substituição da voz original de produções audiovisuais com o idioma do público destinado. O trabalho é feito em estúdios, onde a empresa assiste ao filme original, escreve as falas no seu idioma e cal-cula o tempo que o dublador tem para falar. A partir disto, o dublador estuda e ensaia as frases, para então, gravá-las. Até 1927 os filmes eram mudos e os personagens geralmente eram acompanhados de um piano, mas não se ouviam os diálogos. Quando surgiu nas telas o filme “O Cantor de Jazz”, o telespectador passou a ouvir os atores. Então, os filmes começaram a perder pú-blico, já que nem todas as pessoas falavam inglês. Para contornar a si-tuação, estúdios como a MGM e a Paramount, chegaram a filmar em Paris, versões francesas de longas-metragens americanos. No entanto o custo para fazer duas versões dos filmes era muito caro e ainda assim, não atingia o mesmo número de pessoas do cinema mudo.

A solução apareceu em 1930, quan-do foi lançado o filme “The Flyer”, o primeiro filme a usar um sistema de sonorização que permitia subs-tituir as vozes originais por outras gravadas em estúdio. No Brasil, a novidade chegou em 1937, e teve como marco a estreia do desenho animado “A Branca de Neve e os Sete Anões”.Após a chegada da dublagem no Brasil, pode-se destacar alguns im-portantes dubladores: Garcia Junior (Simba), Carlos Campanile (Su-perman), Marcio Araújo (Ashton Kutcher e Bradd Pitt), Caio Cezar (Harry Potter), Marcelo Gastaldi (Chaves e Chapolin) e Luiz Feier Motta, de Caxias do Sul. Para Luiz, o personagem mais co-nhecido, dublado por ele desde

1992 é o Stallo-ne. “Quem dublava antes se chama-va André Filho, que faleceu e aí eu substituí ele, mas eu dublei a gran-de maioria dos filmes do Stallone. O Steven Seagal, o Pierce Brosnan, do 007, e o Super Homem também me marcaram.” Segundo Luiz Mot-ta, o mercado de trabalho no Rio Grande do Sul “é zero, não existe. O máximo que um dublador pode conseguir é locução de comercial, mas mesmo assim é muito difícil. Os melhores lugares para traba-lhar com dublagem no Brasil, são São Paulo e Rio de Janeiro”. O du-blador gaúcho comenta que para começar na profissão “tem que ter muita paciência. Tem que se pre-parar financeiramente primeiro. Ir até Rio ou São Paulo fazer um curso lá. Sempre indico o curso do Mar-cio Seixas que é o cara que dubla o Clint Eastwood, da Marlene Costa

que dublava a Mulher Maravilha e da Ângela Bonatti também. É uma diretora fantástica de dublagem”. Hoje, já existem cursos e a Univer-sidade de Dublagem em São Paulo. A instituição oferece três modalida-des de curso: o básico, que ocorre uma vez por semana, o intensivo, que tem duração de cinco dias e um para crianças, que oferece aulas duas vezes por semana. No entanto, Luiz também salienta que apesar da importância dos cursos, é necessá-rio ter talento, pois o mercado de trabalho nesta área é muito con-corrido e leva tempo até aprender a dublar. “Tem que ter o dom pra isso. Não é uma coisa que você aprende,

A arte da dublagemO surgimento e os destaques das vozes que povoam as telas

Texto: Júlia Klein e Rodrigo [email protected] [email protected]

talento não se aprende, se nasce com ele. Então, quando a pessoa tem talento, vai à luta. Se tiver alguma dúvida, como profissão e como carreira, eu não aconselharia”.

Sylvester Stallone como Rocky Balboa

Pierce Brosnan como o Agente 007 (James Bond)

“Os melhores lugares para trabalhar com dublagem no Brasil, são São Paulo e Rio de Janeiro”.

Fotos: Divulgação

Christopher Reeve como Clark Kent/ Superman