tribo indígena tem maior número de bactérias no corpo
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Tribo Indígena Tem Maior Número de Bactérias No CorpoTRANSCRIPT
Tribo indígena tem maior número de bactérias no corpo Descoberta pode ajudar a entender como se forma a resistência a antibióticos http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/04/23/interna_tecnologia,640272/tribo-indigena-tem-maior-numero-de-bacterias-
no-corpo.shtml - postado em 23/04/2015 07:26 Uma tribo de ianomâmis que viveu até o século 21 sem
contato com civilizações ocidentais, no interior da
Amazônia venezuelana, é o grupo humano com o
microbioma mais diverso observado até hoje. Ou seja, em
nenhuma outra comunidade, as pessoas têm um número tão
diferente de bactérias no corpo. A descoberta, relatada por
pesquisadores dos Estados Unidos e da Venezuela na
revista Science Advances traz pistas sobre porque o ser
humano desenvolve resistência a antibióticos e mostra a
importância de estudar o organismo de comunidades
isoladas, o que pode levar à descoberta de remédios.
O grupo indígena estudado – cuja localização não foi
revelada para preservá-lo – permaneceu sem contato com
ocidentais até 2008, quando foi visualizada por militares
que sobrevoavam a floresta. No ano seguinte, técnicos do
Ministério da Saúde do país sul-americano visitou a tribo, e
um dos autores da pesquisa recebeu autorização para
acompanhá-los. “Nós já estávamos estudando o
microbioma dos ameríndios quando surgiu a oportunidade
de uma expedição para essa comunidade sem contato com
outros povos”, conta Maria Gloria Dominguez-Bello,
professora associada da Faculdade de Medicina da
Universidade de Nova York e coautora do estudo.
Foram colhidas amostras epiteliais, orais e fecais de 34 dos
54 moradores integrantes da tribo. Os cientistas
compararam, então, o DNA bacteriano desses indivíduos
com o de populações dos Estados Unidos e de duas
comunidades tribais que sofreram grande exposição à
cultura ocidental: os Guahibo, da Venezuela, e moradores
de zonas rurais do Malawi, no Sudeste da África.
Estilo de vida - As análises mostraram que o microbioma
de pessoas que vivem em países industrializados é cerca de
40% menos diversificado do que o dos ianomâmis isolados.
“Nós encontramos uma diversidade sem precedentes nas
amostras”, destaca Dominguez-Bello. Os cientistas
acreditam que isso se deve ao fato de a tribo não ter sofrido
a influência de antibióticos modernos e dietas
industrializadas. “Não temos certeza de por que isso
acontece, mas presumimos que o estilo de vida moderno,
que inclui antibióticos, cesarianas e produtos
antimicrobianos, leva à perda da diversidade”, destaca a
autora.
Para Michele Migliavacca, geneticista do Laboratório
Exame, de Brasília, também acredita que a falta de contato
da tribo com outras culturas possa ser a causa do alto índice
de diversidade microbiana dos ianomâmis. “Faz muito
sentido isso ocorrer, já que essa população não foi exposta
a nenhum tipo de medicamento”, explica a especialista, que
não participou da pesquisa.
Outro ponto que chamou muito a atenção dos
pesquisadores foi o fato de os índios venezuelanos, mesmo
sem nunca terem sido expostos a medicamentos, terem
bactérias com genes resistentes a antibióticos naturais e
sintéticos. A constatação deve levar a novos estudos sobre
como se forma a resistência a esses remédios. “Isso mostra
que você não precisa de exposição aos antibióticos para
possuir genes que lutam contra eles”, afirma Dominguez-
Bello.
QUESTÕES ÉTICAS Pesquisas realizadas em
comunidades indígenas exigem cuidados especiais para que
não haja ações danosas à população ou firam a ética. Um
caso emblemático ocorreu na década de 1960, quando
pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados
Unidos, coletaram amostras de sangue de ianomâmis da
Venezuela e do Brasil sem autorização dos líderes das
tribos. O caso repercutiu mundialmente e gerou discussões
sobre os procedimentos adequados em pesquisas com
indígenas. O episódio só teve fim este ano, com a
devolução das amostras às comunidades após uma ação
conjunta de órgãos do governo brasileiro.
Débora Diniz, antropóloga e pesquisadora do Anis –
Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, explica
que a pesquisa de 50 anos atrás e a publicada agora têm
importantes diferenças. “Temos dois pontos nos quais os
trabalhos são distintos. Primeiro, os pesquisadores do
estudo da Science Advances entraram em contato com os
órgãos reguladores da Venezuela, e os americanos da
pesquisa anterior, ao que tudo indica, não tomaram essa
atitude. Outra diferença é que o trabalho anterior não tinha
uma finalidade definida. Os cientistas apenas guardaram as
amostras de sangue recolhidas para manter um banco de
dados. Nesse trabalho recente, os pesquisadores buscaram
estudar o microbioma, eles tinham um objetivo claro”,
destaca a especialista.
Diniz acredita que pesquisas como a publicada esta
semana, quando realizadas com o respaldo ético, podem
contribuir para novas descobertas científicas. “Estudar uma
população com padrões tão específicos pode trazer um
grande ganho para a área científica”, opina.
De fato, os autores têm esperança de que o trabalho ajude,
por exemplo, no combate a doenças autoimunes. “As
sociedades modernas têm controlado doenças infecciosas,
mas as doenças autoimunes e a obesidade estão subindo
rapidamente nos países industrializados. Nós pensamos que
a má educação do nosso sistema imunológico está
relacionada a esse fenômeno. Isso pode estar ligado às
influências sofridas no microbioma”, diz Dominguez-
Bello. Os pesquisadores pretendem dar continuidade ao
estudo, investigando a recente influência médica ocidental
na aldeia ianomâmi venezuelana. “Gostaríamos muito de
voltar agora que antibióticos foram introduzidos.”