tudo está bem quando termina bem

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http://www.teatronaescola.com 1 BEM ESTÁ O QUE BEM TERMINA (William Shakespeare) Personagens: 3 masculinos (Bertran, Lafeu, Rei da França); 4 femininos (Helena, Condessa, Viúva, Diana). Cena 1 (No Palácio dos Roussilon, Lafeu e Bertran) Lafeu – Meu caro Bertran, agora conde de Roussilon, parabéns! Bertran – Obrigado pelos parabéns, mas ainda sinto a morte de meu pai, o Conde. Lafeu – Nem me fale, sua mãe anda triste pela casa desde a morte do marido. Bertran – E onde está Helena que não a conforta? Lafeu – Não sejas mau! Helena está sempre perto de sua mãe. Mas Helena sente a falta de seu pai, o curandeiro Gerar, e também anda triste. Este castelo está que é uma choradeira só. Bertran – Pois é! Mas o que trazes em sua mão? É uma carta? Lafeu – Ah, estava me esquecendo! É para o Condessa de Roussilon. Bertran – E o que está esperando que não a chamas? Deixe a carta comigo. Lafeu – Já voltarei, senhor. (Sai e volta com a Condessa chorando e Helena que olha apaixonadamente para Bertran). Cena 2 (Palácio, os da cena anterior, Helena e Condessa) Condessa – Bertran, meu filhinho querido, o que queres de tua mãe. Bertran – Chegou esta carta do Rei da França. Condessa – Leia você, Helena, estou com os olhos cheios de lágrimas. Helena – Olá, Bertran, como vais? Bertran – Estou bem, leia! Paga-se a criadagem para ler Helena – Nossa, que bruto! Está bem. (Lê a carta e começa a chorar). Lafeu – O que diz a carta? Helena – Diz uma coisa terrível. O Rei quer que o conde vá a Paris para agraciar o jovem com o seu especial louvor e proteção. Lafeu – É uma ordem real. Condessa – (chorando) Nãooo! Primeiro meu marido, depois vai o meu filho... Helena – Aqui também diz que o rei está muito doente. Bertran – Então irei, mamãe. Lafeu, prepare os cavalos, você irá comigo. Helena – Também quero ir. Bertran – Não, você cuidará de minha mãe. Helena – Mas posso ser útil, conheço muitos remédios que meu pai usava, posso ajudar o Rei. Bertran – Cala-te, mulher. Adeus, mamãe. Condessa – Adeus, meu filho, use agasalhos e não esqueça a espada de seu pai. Sinto partir mais um. O caminho até Paris é minado de assaltantes. Prometa que irá cuidar de meu filho, Lafeu. Lafeu – Sim, senhora. (Todos choram na despedida. Saem Lafeu e Bertran). Cena 3 (Condessa e Helena) Condessa – Por que choras, Helena? Helena – É por meu pai. Condessa – Tens certeza? Helena – Na verdade, devo confessar uma coisa a Condessa. Estou... apaixonada por Bertran. Condessa – Sabes que és apenas uma serva neste palácio. Helena – Sei disso. Mas o amo tanto que irei atrás dele. Condessa – Puxa vida! Teu amor é grande. Mas deves achar uma desculpa para segui-lo. Helena – Não tenho uma desculpa, tenho uma missão. Condessa – Perseguir o meu filho? Helena – Não, salvar o Rei. Condessa – Mas como farás isso? Helena – O livro de receitas de meu pai. Posso achar a cura do Rei.

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Page 1: Tudo Está Bem Quando Termina Bem

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BEM ESTÁ O QUE BEM TERMINA (William Shakespeare)

Personagens: 3 masculinos (Bertran, Lafeu, Rei da França); 4 femininos (Helena, Condessa, Viúva, Diana). Cena 1 (No Palácio dos Roussilon, Lafeu e Bertran) Lafeu – Meu caro Bertran, agora conde de Roussilon, parabéns! Bertran – Obrigado pelos parabéns, mas ainda sinto a morte de meu pai, o Conde. Lafeu – Nem me fale, sua mãe anda triste pela casa desde a morte do marido. Bertran – E onde está Helena que não a conforta? Lafeu – Não sejas mau! Helena está sempre perto de sua mãe. Mas Helena sente a falta de seu pai, o curandeiro Gerar, e também anda triste. Este castelo está que é uma choradeira só. Bertran – Pois é! Mas o que trazes em sua mão? É uma carta? Lafeu – Ah, estava me esquecendo! É para o Condessa de Roussilon. Bertran – E o que está esperando que não a chamas? Deixe a carta comigo. Lafeu – Já voltarei, senhor. (Sai e volta com a Condessa chorando e Helena que olha apaixonadamente para Bertran). Cena 2 (Palácio, os da cena anterior, Helena e Condessa) Condessa – Bertran, meu filhinho querido, o que queres de tua mãe. Bertran – Chegou esta carta do Rei da França. Condessa – Leia você, Helena, estou com os olhos cheios de lágrimas. Helena – Olá, Bertran, como vais? Bertran – Estou bem, leia! Paga-se a criadagem para ler Helena – Nossa, que bruto! Está bem. (Lê a carta e começa a chorar). Lafeu – O que diz a carta? Helena – Diz uma coisa terrível. O Rei quer que o conde vá a Paris para agraciar o jovem com o seu especial louvor e proteção. Lafeu – É uma ordem real. Condessa – (chorando) Nãooo! Primeiro meu marido, depois vai o meu filho... Helena – Aqui também diz que o rei está muito doente. Bertran – Então irei, mamãe. Lafeu, prepare os cavalos, você irá comigo. Helena – Também quero ir. Bertran – Não, você cuidará de minha mãe. Helena – Mas posso ser útil, conheço muitos remédios que meu pai usava, posso ajudar o Rei. Bertran – Cala-te, mulher. Adeus, mamãe. Condessa – Adeus, meu filho, use agasalhos e não esqueça a espada de seu pai. Sinto partir mais um. O caminho até Paris é minado de assaltantes. Prometa que irá cuidar de meu filho, Lafeu. Lafeu – Sim, senhora. (Todos choram na despedida. Saem Lafeu e Bertran). Cena 3 (Condessa e Helena) Condessa – Por que choras, Helena? Helena – É por meu pai. Condessa – Tens certeza? Helena – Na verdade, devo confessar uma coisa a Condessa. Estou... apaixonada por Bertran. Condessa – Sabes que és apenas uma serva neste palácio. Helena – Sei disso. Mas o amo tanto que irei atrás dele. Condessa – Puxa vida! Teu amor é grande. Mas deves achar uma desculpa para segui-lo. Helena – Não tenho uma desculpa, tenho uma missão. Condessa – Perseguir o meu filho? Helena – Não, salvar o Rei. Condessa – Mas como farás isso? Helena – O livro de receitas de meu pai. Posso achar a cura do Rei.

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Condessa – Acho que podes conseguir as duas coisas, venha comigo. Helena – Diga o seu plano, Condessa. (As duas saem conversando). Cena 4 (Palácio de Paris, Rei, Lafeu e Bertran, depois Helena) Rei – Lafeu, que bom que trouxeste Bertran. Lafeu – Vossa majestade está se sentindo mal. Rei – Esta dor de barriga está a me matar. Bertran – Estou feliz em estar em vossa presença. Rei – Eu o agracio com minhas honras, estas medalhas e agora... com licença. (sai). Lafeu – Coitado, as tripas reais devem estar se retorcendo. Bertran – Nenhum médico conseguiu curá-lo? Lafeu – Dizem que já tomou de tudo. Rei – (voltando com Helena) Desculpem, senhores, mas quero saber se conhecem esta moça? Lafeu – Pois conhecemos, é Helena, criada do palácio do Conde. Bertran – É filha do famoso curandeiro Gerar, que, como meu pai, morreu há pouco. (Todos choram, o rei de dor de barriga). Helena – Estou aqui senhor para curá-lo e sei como. Mas tenho um preço. Lafeu – Que afronta! Vendo o Rei com tanta dor, ousa fazer uma proposta? Helena – Sim. Se salvar vossa majestade deste mal, quero escolher um homem da corte para ser meu marido. Rei – Está bem, cara Helena. Mas se não me salvar em dois dias, serás morta por fazeres uma proposta ao rei e tudo deve ser pago na mesma moeda. Bertran – Boa, rei! Lafeu – Então, dentro de dois dias saberemos sobre o futuro de Helena. Será que conseguirá salvar o rei ou vai... (música de suspense, luz apaga e reaparecem todos no mesmo lugar que estavam, como que congelados). Cena 5 (Mesmos da cena anterior, cura do Rei) Helena – Então, vossa majestade ainda sente dores? Rei – Incrível, seu remédio me curou! Lafeu – Isto é um milagre! Bertran – Te salvaste por pouco. Agora resta saber quem você escolhe para marido. Helena – Bertran é o meu escolhido, sempre te amei, mas nunca pude declarar o meu amor. Bertran – O quê?!!!? Rei – Ousas desobedecer a um mandato real? Bertran – Alegro-me que vossa majestade está bem de saúde, mas... Rei – Nem mais, nem meio mais. Estão casados. É um decreto real. Helena, toma este anel, não deves te desfazer dele a não ser que estejas em perigo. Com licença que preciso providenciar um grande banquete, venha comigo Lafeu. (Saem os dois). Bertran – E agora? O que faço da minha vida? Sou tão moço e nem posso escolher com quem casar... Helena – Sou tua serva, vem cá, querido. (Saem de cena meio que discutindo). Cena 6 (Fuga de Bertran, Helena e Lafeu) Helena – Uma carta de meu marido! Oh, deixe-me ler: “Helena, fui embora. Não quero ficar contigo, sou jovem, outras mulheres me esperam. Para não contrariar o Rei, pois é poderoso, fui me alistar em Florença. Só voltarei para ti quando conseguires tirar o meu anel de meu dedo. PS -Ele nunca sai, não tiro nem para tomar banho”. (Helena chora) Lafeu – O que foi, Helena? Helena – Teu patrão fugiu para Florença. Lafeu – E o que queres que eu faça? Helena – Bom, agora que eu sou tua patroa, quero que me leve ao meu castelo, digo, à presença da Condessa. Lafeu – Está bem, senhora. (Saem os dois).

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Cena 7 (No Palácio de Roussilon, Helena e Condessa) Condessa – Que bom que vieste, Helena. Conte-me as novas. Helena – Salvei o Rei, casei com seu filho, mas o ingrato fugiu. Condessa – Hã? Helena – Isso: salvei o Rei, casei com seu filho, mas o ingrato fugiu. Condessa – Mas, meu filho deve ser louco para não querer ficar com você. Helena – Ele não me ama, nunca me olhou nos olhos, nunca me tratou como gente. Condessa – Vamos rezar para São João, o Grande. Ele tudo resolve. Helena – Espera aí, a grande igreja de São João, o Grande, não fica em Florença? Condessa – Sim, minha filha. Helena – Então, farei uma peregrinação até Florença. Sinto que devo fazer isso para recuperar o meu casamento. Condessa – Irei contigo. Helena – Não é preciso, o problema é meu e eu resolvo. (As duas saem conversando). Cena 8 (Hospedagem em Florença, Viúva, Helena e Diana) Helena – Bondosa senhora, estou vindo de longe e posso me abrigar em vossa pousada? Viúva – Pagando bem, que mal tem. Diana, minha filha, venha me ajudar aqui. Diana – (de trás da cortina) Já vou mãe. Deixa eu me despedir meu namorado. Viúva – Este moço tem que vir falar comigo Diana – Sim, mãe. Volte logo, Bebê. Helena – Quem era? Viúva – Um dos tantos mercenários que o Duque de Florença contratou. Dizem que é conde, mas nunca se sabe. Falam também que é casado e que abandonou a mullher. Diana –(entrando) Sabe, mãe, estou apaixonada por Bertran. Ele é um conde francês! Helena – Por favor, as minhas malas estão lá fora. Viúva – Num instante, senhora... Helena – Helena. Viúva – Engraçado, a moça que o conde abandonou chamava-se Helena. Diana – Você não é ela? Helena – Sim, sou ela mesma. Preciso de sua ajuda, mocinha. Viúva – Não quero que minha filha entre em confusões. Diana – Mas que homenzinho sem-vergonha! Diga o seu plano. Helena – Amanhã à noite ele vem te ver, não? Diana – Sim, marcamos para as sete horas. Helena – Então eu fico no seu lugar e o resto deixe comigo. Cuide deste anel, não quero dormir com ele. Viúva – Muito bem, senhora Helena, vamos ajudá-la. Diana – Isso mesmo, ele merece uma lição. Agora deixe-me levá-la ao seu quarto. (Saem conversando). Cena 9 (No quarto, Helena está com um véu e entra Bertran). Bertran – Que bom que sua mãe me deixou vê-la, cara Diana. Helena – Nunca me viste da janela? Bertran – Sim, mas era de longe...Sua voz parece mudada! Helena – É que... estamos em casa, muda o lugar, muda a voz. Bertran –E por que este véu? Helena – Ora, uma moça precisa se preservar para o casamento. Bertran – Estou louco por você. Não posso mais esperar... Helena – Aguarda um pouco. Aquieta-te. Mas, você me ama mesmo? Bertran – Claro. Agora, quanto mais perto chego, mais sinto te amar. Helena – Duvido! Todos os homens são iguais. Bertran – E o que tenho que fazer para provar o meu amor?

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Helena – Deixe-me ver... me dá este anel. Bertran – Este anel? Helena – Sim, estás surdo? Se me amas mesmo, então me darás o anel. Se não me deres o anel, adeus casamento. Bertran – Está bem, toma-o como um anel de noivado. Helena – Obrigado, querido. Agora, vai-te daqui, senão o Duque de Florença não me deixará casar contigo. Sabes, a história de que só as moças virgens podem casar, Bertran – Adeus, querida Diana. Espero-te amanhã para combinarmos o casamento. (Sai Bertran e Helena sai após). Cena 10 (Viúva e Filha) Viúva – Filha, algo terrível aconteceu. Diana – O que houve, mamãe? Viúva – A nossa hóspede, a Condessa Helena... me avisaram que ela morreu. Diana – Coitada. Mas ela te pagou, não? Viúva – Pois é, só me deixou este anel. Veja: tem a insígnia do Rei, deve valer uma fortuna! Diana – Se entregarmos à sua sogra, seremos bem recompensadas. Viúva –Então, vamos até o castelo dos Roussilon. Diana – Isto, precisamos de umas férias. (Saem as duas). Cena 11 (Palácio dos Roussilon, todos os personagens) Lafeu – Condessa, o Rei está aí para falar com a senhora. Condessa – Mande-o entrar. Rei – Sei que é hora ruim, mas vim consolá-la. Condessa – Consolar-me? Rei – Sim, sua nora morreu. Já lhe mostrarei. (Traz a Viúva e sua filha). Rei – Aqui está o anel que dei a Helena. Ela só se livraria dele se estivesse em perigo de vida. Então, morreu! (Todos choram. Chega Bertran). Bertran – Helena morreu? Era uma moça tão boa. Eu a desprezei... (Todos choram de novo. Chega Helena e todos se surpreendem). Helena – Eu estou viva, sim. (Todos festejam, menos Bertran) Rei – Mas, e o seu anel? Helena – Eu troquei por este. Bertran – Meu anel! Lafeu – Você prometeu ficar com Helena se ela conseguisse lhe tirar o anel. Viúva – E tirou mesmo. Diana – E o que vossa majestade acha disso? Rei – Eu digo o seguinte: vocês têm que ficar juntos. É o destino. Condessa – Enquanto os dois conversam, vamos passar lá para dentro para jantarmos. (Helena e Bertran ficam juntos, olham-se com carinho enquanto a cortina fecha com uma música romântica). FIM

Obs – Esta adaptação é livre, mas a improvisação sobre o texto é necessária para se criar agilidade em cena. Shakespeare se importaria?

Prof. Jarbas Griebeler São Leopoldo, 24 de julho de 2004