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1
Túmulo de Huya (TA 1)
A fig. 1 representa a planta e a secção longitudinal do túmulo de Huya, estando igualmente
indicada a distribuição das várias cenas e sua correspondência com a planta de Davies.
Entrada
1 − Espessura.
Huya e Hino a Aton. Pl. III, XXXVII dir.
2 − Espessura. Mesmo motivo.
Pl. II, XXXVII esq.
Vestíbulo
3 − Região superior. Banquete na companhia da
rainha-mãe, Tié. Pls. IV, V.
4 − Região superior. Tié e a família real bebendo
vinho. Pls. VI, VII.
5, 6 − O casal régio, no seu palanquim, dirige-se
para a cerimónia de entrega dos tributos.
Pl. XIII – XV.
7−Parte superior. A recompensa de Huya. Pl. XVI
8 − Parte superior. Huya diante do rei para receber
a recompensa.
Pl. XVII, XVIII.
9, 10 − Parte superior. O rei e Tié visitando o
templo. Pls. VIII, IX – XII.
Passagem interior
11, 12 − A família real de Amen-hotep III e a de
Akhenaton.Pl. XVIII (superior), XXI (médio),
XXVII (médio).
Tecto
Pl. XXV.
Entrada da capela
13, 14 − Entrada. Pl. XIX, XXVI dir.
15, 16 − Espessuras. Huya em oração. Pl. XX
Capela
17, 18 − A esposa e a mãe (?) de Huya. Pl. XXI
esq. e dir.
19 – Procissão funerária. Pl. XXIII.
20, 21 − Enxoval funerário. Pl. XXIV.
22 − Ritos funerários diante da múmia. Pl. XXII.
Fig. 1 − Distribuição das cenas ao longo do túmulo. Equivalência entre a classificação usada, Porter e Moss,
TBAE, p. 210 e a classificação de Davies, RTEA, vol. III, Pl. I.
2. Cargos desempenhados por Huya
imy-r iptnsw
Superintendente do harém real
imy-r pr (m) m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy
Mordomo da casa da mãe do rei, a grande esposa real Tié
imy-r pr- HD
Superintendente da Casa da
Prata (tesouro),
TA(t)y sryt n pA sAw nma(w) Xrdw xaai. n.f Itn
Porta-estandarte do regimento de jovens guerreiros (recrutas, denominado) “Aton
ergueu-se para ele”.
2
3. Breves notas sobre a arquitectura
A fachada está muito deteriorada e não sobreviveram quaisquer inscrições. A entrada
conduz a um pequeno átrio. Não tem cercadura mas a passagem para as salas interiores é provida
com o habitual portal gravado1. A cornija acima do lintel está pintada com nove bandas horizontais:
vermelho, azul, verde, azul, por esta ordem e o frontão superior, decorado com bandas de um
motivo floral (fig. 2).
Fig. 2 − Motivo floral da decoração do frontão. Davies, RTEA, vol. II, Pl. XXV C.
As arquitraves não são gravadas. O chão do átrio é muito irregular mas estava
primitivamente coberto por gesso vermelho2. O tecto era suportado por duas colunas através de
arquitraves de rocha e isto ocasiona uma tripartição do átrio em duas naves laterais3. Actualmente,
só existe uma coluna, cuja base se perdeu (fig.3). É do tipo lotiforme fechada, com um revestimento
de folhas, formando um cálice na base.
Fig. 3 − Coluna lotiforme. Davies, RTEA, vol. III, Pls. XXXVI, I.
1 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. III, p. 1. 2 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 1. 3 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 1.
3
Os tectos conservam restos de pinturas que estão parcialmente visíveis nos intradorsos4 das
arquitraves. Os motivos decorativos estão representados na fig. 4.
K
Fig. 4 − Padrões decorativos usados no intradorso (A), no tecto da nave oriental (F) e no tecto da capela
interior (K). Davies, RTEA, vol. III, Pl. XXV.
O padrão da nave central é dividido ao meio por uma coluna de hieróglifos e colunas
semelhantes descem do centro das três espessuras de parede. São pouco legíveis.5 A segunda
câmara está provida de arquitraves baixas mas sem colunas. Na extremidade Este, a boca de uma
câmara funerária abre num rebordo de rocha que foi feito como um parapeito de protecção. O poço,
quase vazio, tem uma profundidade de cerca de 11 m6.
Capela (Pls. I, XIX, XXVI)
A entrada para a câmara terminal está completamente gravada.
Fig. 5 − Entrada da capela. Davies, vol. III, Pl. XIX.
4 Superfície interior de uma abóbada ou arcada. 5 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 2. 6 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 2.
4
Os painéis foram deixados abertos ou preenchidos com padrões em forma de grega. Os
desenhos usados com reste propósito são diversos: papiros, cartelas e colunas7.
Os umbrais estão decorados com hieróglifos azuis numa base cor de vinho mas foram
mutilados em tempos recentes. A capela contém uma estátua sentada do morto que, com o seu
pedestal ocupa quase a totalidade do espaço em altura e comprimento. Está muito mutilada e o rosto
foi cortado8.
Os três portais, a espessura das paredes transversas e a totalidade da superfície da parede da
câmara principal e da capela estão decorados com cenas e inscrições. As cenas cobrem as paredes
até uma curta distância do chão e, onde o espaço permite, estão emolduradas em bordos de linhas
paralelas azuis e vermelhas. O espaço vazio em torno do altar na parede E foi utilizado por
visitantes gregos para fazerem grafitos a tinta preta9.
Fig. 6 – Grafitos pintados por viajantes gregos. Davies, vol. III, Pl. XXV, H.
4. Iconotextualidade
A fig. 7 mostra d distribuição dos principais temas iconográficos.
7 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 3. 8 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 3. 9 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 3.
5
Fig. 7 – O túmulo de Huya em Amarna. Repartição dos principais temas, segundo LABOURY,
Dimitri, Akhenaton.
A – Huya servindo Akhenaton e Tié.
B – Huya acompanha Akhenaton e Tié, numa visita ao templo de Aton, em Amarna.
C – Huya é recompensado, diante da janela das aparições.
D – Parte do cortejo funerário de Huya
E – Ritos funerários realizados diante do corpo de Huya.
Orações de Huya. Pls. II, III texto: lns. 1-21. Pls. XX, XXI, texto lns. 116-126
Neste túmulo, as figuras na entrada da capela estão viradas para dentro. Podemos admitir
que pretendam mostrar o regresso de Huya ao conforto da sua casa de eternidade, depois da oração.
Veste-se de forma idêntica nas quatro vezes em que sai para rezar: um longo traje apertado
nas ancas por uma faixa, cinto que tem uma orla decorativa na bainha superior e é franjado nas duas
extremidades. A sua toilette completa-se com sandálias, uma longa cabeleira e um cone de cera
perfumada. Em volta do pescoço usa um colar de quatro voltas de contas de ouro e uma bracelete de
ouro em cada pulso10. Quando não está a rezar e é representado, por exemplo, no acto de entrar na
sua sala privada, (Pl. XX), Huya exibe uma veste pregueada e uma túnica por baixo dela. Usa um
bordão e ostenta quatro argolas de ouro no antebraço direito em vez de uma (Pl. XVII) e parece
segurar um lótus na outra mão11.
10 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 4. 11 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 4.
6
Fig. 8 − Huya, em traje de cerimónia, faz as suas orações. Entrada, lado oriental e capela, lado ocidental,
Davies, RTEA, vol. III, Pls. I, XX.
Oração ao Sol nascente.
Esta oração encontra-se também no túmulo de Pentu, (TA 5). Segue-se uma versão conjunta:
1
dwA anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn
Adoração. «Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de
“ A luz que vem do disco solar”»12,
2
Di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre.
12 Túmulo de Pentu:
iAw n.k anx Ra-@r-Axty Hay m Axt m rn.f (m) Sw nty m Itn
Louvores a ti, ó vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte, no seu nome de “A luz que está no disco
solar”
Isto mostra que este túmulo é anterior ao de Huya.
7
3
i HD Hr.k wbn m Hr pt psd dwAtw m Axt
Salve a ti, que brilhas quando nasces no céu e alumias, matinal, o horizonte
4
m pt ii ti m http nb Htpw
do céu. Sê bem-vindo, em paz, (ó) senhor da paz!
5
tA r-Dr twt.f n Haai.k awy.sn
A terra inteira está reunida (para assistir) à tua aparição e as suas mãos
6
m iAw n wbn.k sn.sn tA
(erguem-se) em louvor da tua aurora, beijam a terra
psd.k n.sn
quando brilhas para eles.
7
nhm.sn r qAA n pt Ssp.sn
Eles rejubilam até à altura do céu e recebem
8
8
rSwt THHwt
alegria e exultação.
9
Haai.sn mAA.sn Hm.k
Eles rejubilam ao ver a tua Majestade
10
di.k stwt.k n Hr-nb rmT di.sn r HA
Pois tu concedes os teus raios a toda a gente que está fora de casa,
11
m Xnm Ssp n.k tp mrt nfrt
quando entras no céu para tomar parte num bom início (de dia).
12
di.k. wy r nHH m st Hsyw m Hwt.i nt mAat
Concede-me a continuidade entre os favoritos, no meu túmulo de maet,
13
bA.i pri.f r mAA stwt.k
e possa o meu ba sair para contemplar os teus raios
14
9
rs nm HAm m Htpt.f
e comer, tomando das suas oferendas13,
15
nis tw Hr rn ii tw Hr xrw
que sejamos chamado pelo nome e acudamos à voz14.
16
smA.i xt pri m-bHA wnm.i
Possa eu partilhar das coisas que vêm da presença (do deus) e coma
17
Sns bit pri sn(w) dswy ASrt m tA
pães chenés, bolos bit que vêm das oferendas15, dois vasos de cerveja, carne assada, quente,
18
qbH irp irtt
e uma libação de vinho e leite
13 Intervenção de dois verbos nm (m), « apoderar-se de» e HAm,
«capturar, pescar». Ambos traduzem em palavras o acto de uma ave apanhar um peixe. Isto justifica-se, se
atendermos a que o ba do defunto é uma ave, embora mantenha a cabeça humana. Não parece, contudo, que
um egípcio (atonista) pensasse que o seu ba iria roubar as oferendas do deus. Daí uma tradução mais suave. 14 Lit. «que sejamos chamados e idos à voz», o que é fraco Português.
15 De snw, «oferendas de alimentos». Note-se que Huya e Pentu solicitam uma oferenda de
carne assada e tA, «quente» isto é, acabada de cozinhar.
10
19
pri m tA Hwt pA Itn m Axt-Itn
(oferendas) que vêm da casa de Aton, em Akhetaton.
Dedicatórias finais
Túmulo de Huya
20
n kA n Hsy n nb tAwy imy-r ipt nsw imy-r pr- HD imy-r pr m tA pr
Hmt-nsw wrt
Pelo ka do favorito do senhor das Duas Terras, do intendente do harém real, do intendente da Casa da Prata
(tesouro), do mordomo da casa da grande esposa real
21
[Tiy anx ti Dt (n)HH] @wyA mAa-xrw
(Tié, que ela viva eternamente e para sempre)16, Huya, justificado.
Túmulo de Pentu
22
sS-nsw Xr(y)-tp nsw bAk tpy n Itn m tA Hwt pA Itn m Axt-Itn
O chefe dos escribas reais, o chefe dos servidores de Aton, na casa de Aton em Akhetaton,
23
wr swnw PnTw mAa-xrw Dd.f
O chefe dos médicos, Pentu, justificado. Ele disse.
16 De acordo com Davies. Ver DAVIES, op. cit., III, Pl. IV.
11
Na parede Sul da capela, de cada lado da entrada, encontramos uma figura feminina
ajoelhada que parece saudar Huya, quando ele entra nos seus apartamentos privados. Uma é a sua
esposa, a dona de casa Uneher «justificada» e outra a sua mãe, a dona de casa Tuy, «justificada»17.
Fig. 9 − A esposa e a mãe de Huya, respectivamente Uenher e Tuy. Parede sul da capela, lado
oriental. Davies, RTEA, vol. III, Pl. XXI.
A rainha-mãe, Tié, em Akhetaton
A ausência de qualquer representação anterior da rainha Tié sugere que ela não habitava em
Akhetaton, pelo menos nos primeiros anos da sua construção. O respeito de que é cercada e a
concessão de um túmulo amarniano ao oficial principal da sua casa mostra que, para além de ter
efectuado uma visita à nova capital, aí terá habitado até ao fim da vida ou, pelo menos aí passou
algum tempo. Sabe-se que possuía um palácio de cuja administração Huya terá sido encarregado. A
visita da rainha-mãe teve um alto significado político: o seu apoio, mais ou menos discreto, ao novo
credo religioso.
1.2.2.1. Um banquete real, Pls. IV, V, texto: lns.24-40.
Como os prazeres da mesa formam a representação mais proeminente na decoração dos
túmulos privados em todo o tempo, não é de surpreender que este aspecto da vida no palácio tenha
lugar nas representações da família real. Encontramo-las igualmente noutros túmulos, como o de
Ahmés, Pl. XXXIV. O banquete deve ter feito parte das festividades ligadas à visita de Tié. A fig.
10 mostra-a do lado direito, sentada numa bela cadeira, face ao filho e à nora. Ao lado de cada uma
destas personagens está uma mesa coberta de pano verde a abarrotar das mais variadas comidas18.
17 Considerando que o termo «irmã» é também utilizado como referindo-se à «esposa». 18 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 5.
12
Contrastando com a aparente sobriedade da rainha-mãe, Akhenaton, dá mostras de um saudável
apetite: empunha e devora um enorme entrecosto enquanto Nefertiti se limita a uma ave assada, mas
de bom tamanho. A bebida é amplamente fornecida por grandes jarros colocados sobre suportes.
Fig. 10 − A família real, tomando uma refeição na companhia da rainha-mãe, Tié, e da princesa Baketaton.
Parede sul, lado oriental. Davies, RTEA, vol. III, Pls. IV, V.
O casal régio usa perucas simples, deixando Tié resplandecer no esplendor do seu toucado
hatórico, onde o disco solar brilha entre os longos cornos da deusa. Aton estende os raios sobre
todas estas reais pessoas e as crianças que, ajuizadamente, participam na festa e que o artista não se
esqueceu de representar. As princesas estão ao lado de Nefertiti: Meritaton e provavelmente
Maketaton. Junto da rainha-mãe, senta-se uma sAt nsw n Xt.f mrit.f BAkt-Itn,
«filha do rei, do seu corpo, sua amada Baketaton», cujos pais não são explicitados19. Tié recebe os
pratos das mãos do mordomo Huya que, por sua vez, os houve do oficial do palácio. No registo
inferior esquerdo (fig. 10) é-nos mostrada a despensa cheia de jarros de vinho e de cerveja, caixas
com bolos e mesas cheias de carne onde os oficiais vão buscar a comida e não se esquecem de
provar os alimentos. Huya executa ainda uma prova suplementar antes de eles serem servidos20.
Ao prazer da comida vem adicionar-se a fruição da música fornecida por duas orquestras. A
região inferior esquerda da PL. V mostra dois executantes de instrumentos de corda, um egípcio,
acompanhado de uma lira vertical da sua altura, e outros estrangeiros, levando em conta os
19 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 5. 20 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 5.
13
respectivos trajes e a lira que um deles segura. Estão colocados ao lado de Tié face aos músicos
reais e talvez pertencessem à sua casa. A orquestra da corte é constituída por quatro executantes
femininas: uma harpista, duas tocadoras de alaúde e uma tocadora de lira21.
A base desta parede, bem como a das paredes sul e oeste, são ocupadas por uma cena que
aparentemente nada tem a ver com a anterior ou a da Pl. VI. Mostra a vida no campo durante o
Verão. Os camponeses construíram um abrigo de palha debaixo de uma árvore, lá guardando cestos
de fruta e vasos para os proteger de visitantes indesejáveis e a vigilância é necessária porque vemos
uma raposa ou outro canídeo selvagem que é rapidamente afugentada. As mulheres estão lá fora
joeirando o cereal e outras mais longe respigam o restolho. Os seus homens ocupam-se da ceifa22.
4. Texto.
À esquerda do signo de Aton,
24
Itn anx wr nb Hb-sd nb Snw nb Itn nb pt nb tA
Aton vivo e poderoso, senhor de todo o circuito de Aton, senhor do céu, senhor da terra
25
m pr-Itn m Axt-Itn
na casa de Aton em Akhetaton23.
26
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de “ A luz que
vem do disco solar”», dotado de vida eternamente e para sempre24,
21 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 6. 22 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 7. 23 No original, está apenas nb pt nb tA m Axt-Itn. Pareceu-nos erro do copista, pelo que se usou o
protocolo habitual.
14
27
nb-tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx nb Xaw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
o senhor das Duas Terras Neferkheperuré Uaenré, dotado de vida, senhor das coroas, Akhenaton,
grande no seu tempo de vida
28
Hmt-nsw wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx Dt (n)HH
e a grande esposa real, viva eternamente e para sempre25
Protocolo das princesas
29
sAt nsw n Xt.f mrit.f Mrit-Itn msi(t) n Hmt-nsw wr(t ) mrit.f
nbt-tAwy
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Meritaton, nascida da grande esposa real, sua amada, a
senhora das Duas Terras
30
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre.
Há ainda uma princesa X-Aton26.
31
24 Segunda fórmula do nome de Aton. Sentido de leitura: esquerda para a direita. 25 Sentido de leitura: direita para a esquerda. 26 O protocolo desta princesa desapareceu. Admitimos que se trate da mesma que aparece na Pl. VI
ans-n-pA Itn, «Ankhsenpaaton».
15
sAt nsw n Xt.f mrit.f BAkt-Itn
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Baketaton27,
Protocolo da rainha-mãe
Tomando como referência o eixo que passa pelo centro de , o protocolo de Tié está escrito
em lugar de honra, numa posição simétrica ao de Nefertiti.
32
m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy anx ti Dt (n)HH
A mãe do rei28, a grande esposa real Tié, que ela viva eternamente e para sempre.
Em baixo, pisando o chão, Huya e um oficial do palácio provam a comida que é destinada à
família real. A legenda, praticamente desapareceu, mas foi reconstruída por Lepsius. É a seguinte29:
33
Hsy n Wa-n-Ra rdwy n nb tAwy m st nb mr(t).f
(Pelo ka do?) favorito de Uaenré, (o que segue) os pés (= os passos) do senhor das Duas Terras em
todos os lugares que ele ama,
34
imy-r iptnsw imy-r pr- HD imy-r pr (m) m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy
anx ti Dt (n)HH
do superintendente do harém real, do superintendente da Casa da Prata (tesouro), do mordomo
da casa da mãe do rei, a grande esposa real Tié, que ela viva eternamente e para sempre.
27 A paternidade real está certificada mas não nomeada. A mãe da princesa não é referida. 28 Repare-se a maneira tipicamente atonista de evitar o signo que representa a deusa Mut. 29 Esta legenda só faz sentido se se referir a algo, material ou espiritual, que é oferecido por intenção de
alguém que já faleceu. Ora a figura mostra Huya no exercício da sua função de provador real.
16
wyA mAa-xrw
Huya, justificado.
1.2.2.2. Saboreando o vinho, Pls. VI, VII, texto: lns. 35-40.
Fig. 11 − Tié e Bakhetaton, tomando uma refeição com Akhenaton e Nefertiti.
Parede sul, lado ocidental. Davies, vol. III, Pls. VI-VII.
O casal régio, a rainha-mãe e as três princesas, já representadas na fig. 11, aparecem agora a
saborear vinho que lhes é servido por oficial munido de um guardanapo. Sobre suportes baixos há
cestos de fruta e o que parecem ser pastéis. Huya está presente e dirige o serviço com a sua
varinha30. Esta cena decorre à noite e a luz é fornecida por seis lâmpadas (Pl. VIII) e, ao lado de
cada uma, dois jarros estão prontos para as abastecer as taças dos convivas31.
A base da parede sul está muito deteriorada mas podemos distinguir, da esquerda para a
direita, uma latada, ao lado da qual viceja uma árvore, num dos ramos da qual pousou um grande
pássaro. Um camponês lavra a terra com uma junta de bois, acompanhado da sua mulher,
envolvidos por cabras saltitando. Tudo parece passar-se à beira d’água, onde está amarrado um
barco com a vela inchada pelo vento32.
30 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 7. 31 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 7. 32 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 7, Pl. VII..
17
Protocolo das rainhas
Tié mantém o seu protocolo habitual.
Protocolo de Nefertiti
35
rt-pat aA rt Hsyw nbt iAmt nDmt mr(w)t Hnt nsw- TA-mHw Hmt nsw
wrt mrit.f
A princesa hereditária, grande em favor, senhora de encanto, doce no amor, senhora do Alto e do
Baixo Egipto, a grande esposa real, sua amada
36
nbt tAwy Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
a senhora das Duas Terras, Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre.
Protocolos das princesas
37
sAt nsw n Xt.f mrit.f Mrt-Itn msi(t) n Hmt-nsw
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Meritaton, nascida da esposa real,
38
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
39
sAt nsw n Xt.f mrit.f anxs-n- pA Itn, Itn msi(t) n Hmt-nsw
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Ankhesenpaaton nascida da esposa real,
18
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
40
sAt nsw n Xt.f mrit.f BAkt-Itn
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Baketaton.
1.2.2.3. Tié visitando o pavilhão Chut-Ré. Pls. Pls. VIII-XII, texto: lns. 41-42, 43- 56.
Fig. 12 − Akhenaton e Tié visitam o pavilhão Chut-Ré em Akhetaton. Bakhetaton seguida pelas
suas damas de honor parece transportar uma alface, (Pl IX).
O significado está devidamente explicado no texto:
sA(H)t Hmt-nsw wrt m(w)t n nsw Tiy r- rt-a ptry.s tA.s Swt-
Ra
19
É conduzida a grande esposa real, a mãe do rei, Tié, ao lado (do rei) para ver o seu
pavilhão, «Sombra de Ré»33.
A totalidade desta cena tumular está dividida em quatro partes34.
− Sub-cena principal (fig. 12).
− Escolta militar
− Recompensa de Huya
− Continuação da «Cena à beira d’água»
Na sub-cena principal, o rei e sua mãe caminham em direcção à entrada do templo cujas
portas estão abertas para os receber. Akhenaton conduz Tié pela mão, enquanto Bakhetaton segue
com uma oferenda vegetal para o altar. Duas aias acompanham-na e toda uma sucessão de
carregadores, flabelíferos e oficiais militares e civis. São precedidos de Huya e um outro oficial não
nomeado, que abrem caminho. O templo é constituído por um pátio hipostilo e uma série de outros
pátios e câmaras para além dele35. Aton brilha sobre os visitantes.
O registo abaixo da cena principal mostra a continuação da escolta de oficiais e porta
estandartes, conduzidos por um trombeteiro. Os três carros reais não foram esquecidos pelo artista.
Huya não deixou de se fazer representar num momento tão importante. Ei-lo, dividindo o
pessoal doméstico da rainha-mãe em oito classes e tratando das nomeações de cada um, como
pertencia ao seu cargo36. Vestido de cerimónia conduz os seus subordinados que, de mãos erguidas
num gesto de homenagem o acompanham num momento particularmente feliz para ele, a sua
promoção:
Dhn imy-r ipt Hmt-nsw wrt Tiy HwyA
Promovendo o intendente dos aposentos privados da grande esposa real Tié, Huya37
Na zona inferior da Pl. XII, a aclamação dos acompanhantes, de braços erguidos,
Grita-se:
pA HqA n Itn iw.f nHH Dt sxpr.f m DAmw m DAmw
Ó soberano de Aton, tu existirás para sempre e eternamente, de geração em geração38
33 Huya, TA 1, lns 41-42. 34 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 7.
35 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 8. 36 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 8. 37 Huya, TA 1, ln. 43.
20
Entre os acompanhantes contam-se TA(t)y sryt n pA sAw nma(w) Xrdw
xaai. n.f Itn, «o porta-estandarte do regimento de jovens guerreiros (denominado) “Aton
ergueu-se para ele”, (ln. 51), tA kAtyw imy-r ipt nsw imy-r pr- HD HwyA, «os
trabalhadores do intendente do harém real, do intendente da Casa da Prata (tesouro), Huya, (ln. 53)
e ainda um grupo de homens e adolescentes designados por, tA kAwty(w) pr Itn n Axt-
Itn, «Os trabalhadores da Casa de Aton em Akhetaton, (ln. 54).
Na região inferior da parede, assiste-se à continuação da já referida «cena à beira d’água».
À esquerda, um matagal de papiro onde se desenvolve uma caça aos pássaros, alguns dos quais já
foram apanhados numa armadilha de rede. Segue-se o que parece ser um rio ou um canal em cujas
margens o gado pasta. Ali perto, numa zona arborizada, estes pastores ou passarinheiros ergueram
uma cabana, aparentemente para guardar provisões. Enquanto as mulheres se ocupam na recolha de
frutos (?), os homens, abordo de canoas, com redes e arpões, pescam nas águas generosas39.
Texto
Os protocolos de Aton, Akhenaton, Tié e Baketaton são os habituais. Diante de Akhenaton :
41
sA(H)t Hmt-nsw wrt m(w)t n nsw Tiy
É conduzida a grande esposa real, a mãe do rei, Tié,
42
r- rt-a ptry.s tA.s Swt-Ra
ao lado (do rei) para ver o seu pavilhão «Sombra de Ré».
No quarto e último registo, Huya, ostentando cone de cera e traje de cerimónia, aparece em
oito momentos, acompanhado pelos seus subordinados. Segue-se cada um desses momentos, lidos
da esquerda para a direita.
38 Huya, TA 1, ln. 45. 39 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 9.
21
43
Dhn imy-r ipt Hmt-nsw wrt Tiy HwyA
Promovendo o intendente dos aposentos privados da grande esposa real Tié, Huya,
44
Dhn
Promovendo … …
Cena IV. Aclamação dos acompanhantes, de braços erguidos, como Huya
45
pA HqA n Itn iw.f nHH Dt sxpr.f m DAmw m DAmw
Ó soberano de Aton, tu existes para sempre e eternamente, de geração em geração40
Cena V – Promoção de Huya (Pls. VII, XII)
46
Dhn imy-r ipt nsw n Hmt-nsw wrt Tiy HwyA
Promovendo o intendente dos aposentos privados da grande esposa real Tié, Huya,
47
xAit.s m nfrw
ela (Tié) é a erguida em beleza!
40 No original, a frase começa por , com os signos G40 e A40 praticamente sobrepostos. Este
«soberano de Aton» é, evidentemente, Akhenaton.
A palavra DAmw, «gerações, tropas, jovens» aparece escrita de modo muito sintético.
22
Cena VI
48
Dhn imy-r ipt nsw Hmt-nsw wrt Tiy HwyA
Promovendo o intendente dos reais aposentos privados da grande esposa real Tié, Huya,
49
n xAi m.h Itn
Aton ergue-se para ele (o rei?)
Cena VII
50
Dhn imy-r ipt nsw Hmt-nsw wrt Tiy HwyA
Promovendo o intendente dos reais aposentos privados da grande esposa real Tié, Huya,
51
TA(t)y sryt n pA sAw nma(w) Xrdw xaai. n.f Itn
o porta-estandarte do regimento de jovens guerreiros (denominado) “Aton ergueu-se para ele”
Os acompanhantes repetem:
52
xa(i).n.(f) Itn
Aton ergueu-se para ele!
23
Cena VIII
53
tA kAtyw imy-r ipt nsw imy-r pr- HD HwyA
… os trabalhadores do intendente do harém real, do intendente da Casa da Prata (tesouro), Huya.
Sobre um grupo de homens e adolescentes:
54
tA kAwty(w) pr Itn n Axt-Itn
Os trabalhadores da Casa de Aton em Akhetaton
Protocolo de Aton sobre o pavilhão da rainha
55
Itn anx wr nb Hbw-sd nb Snn(y) nb Itn
Aton vivo e poderoso, senhor dos jubileus, senhor (de tudo o que está no se) circuito de Aton
56
Nb pt nb tA n tA Swt-Ra n m(w)t nsw Hmt-nsw wrt
Senhor do céu, senhor da terra neste pavilhão (chamado) “ A sombra de Ré” pertencente à mãe do rei, a grande
esposa real
Tyi anx ti
Tié, que viva!
1.2.3. Recepção dos tributos do ano 12. Pls. XIII-XV, texto: lns. 57-67
24
Fig. 13 − Recepção dos tributos. O casal régio é transportado em ombros num trono até ao local da cerimónia,
acompanhado pelas princesas Meritaton e Maketaton, Davies, RTEA, vol. III, Pls. XIII-XV.
Trata-se de uma cena histórica e está convenientemente datada:
HAt-sp 12 Abd 2 (-nw n) prt sw 8 anx it nTrwy
Ano 12, mês 2, (estação de) Peret, (dia) 8. Viva o pai duplamente divino
(Huya, TA 1, ln. 57)
A acção desenvolve-se da esquerda para a direita. Suas majestades abandonam o palácio,41
num belíssimo palanquim, aos ombros de doze portadores e com numerosa comitiva. O casal régio
está sentado lado a lado e a sua pose rígida contrasta com o abandono característico de tantas outras
representações. Akhenaton ostenta o ceptro hekhat e o ceptro nekhakha. As princesas caminham
atrás seguidas pelas suas aias. Só as duas mais velhas estão aqui representadas.
Os oficiais, civis e militares, acompanham a cadeira real As tropas estão armadas com
bastões curvos. Uma longa fila destes homens é conduzida por cinco dos seus oficiais, fila superior,
à esquerda, (Pl. XV). Diante deles, novamente Huya e um outro oficial precedidos por seis
soldados. Estes pertencem a dois corpos mas é impossível dar uma ideia precisa das suas armas42.
Um destacamento adicional e um outro grupo de soldados, usando túnica curta e armados
de machados de guerra, estão igualmente colocados do outro lado do rei, uma posição de
responsabilidade. São mercenários ao serviço do Egipto43. Um sacerdote com duas penas na cabeça
precede o palanquim, queimando incenso e outros dos seus companheiros vão adiante e assistem-
enquanto quatro indivíduos, talvez mimos profissionais, se empenham na execução de uma dança
41 Sobre o Palácio, ver Capítulo II, § 4.1.1. 42 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11. 43 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11.
25
pantomímica44. Da procissão fazem ainda parte as três bigas reais que talvez transportem os
soberanos de regresso a casa.
A exaltação desta cena deve-se ainda à quantidade dos inw xArw K(A)S Imntt
iAbtt xAst nb dmd m sp wa, «os tributos de Kharu (Palestina) de Kuch (Etiópia), das
terras estrangeiras do Ocidente e do Oriente, todas unidas a um tempo»45. Todos estes bens, sob o
olhar atento de um guarda, são levados à cabeça da procissão46.
O tributo do Norte compreende dois carros, quatro sacos e um certo número de vasos
elaborados e cheios provavelmente de especiarias e unguentos. Outros vasos com tampa e pegas
decoradas com cabeças de animais são colocados em suportes para a inspecção real juntamente com
algumas tigelas abertas, de forma simples mas talvez com valiosos conteúdos47.
O tributo do Sul representa um tipo de civilização muito diferente. Consiste de escravos
negros acorrentados que avançam sozinhos ou em casais, mulher e filhos à retaguarda. Seguem-se (
fig. 13) peles de animais selvagens, anéis de ouro e dois conjuntos de metal trabalhado
representando a típica vegetação do sul, dentes de elefante, cadeiras de madeiras preciosas,
especiarias, sacos de ouro, macacos, leopardos e antílopes. Os representantes da Síria estão
distribuídos por nove grupos de quatro a seis cada um, conduzido por um militar e um guarda48.No
topo superior vêem-se algumas mulheres de Retenu e talvez outras estejam representadas nas filas
inferiores, aliás muito deterioradas49.
A procissão real dirige-se para um pequeno grupo de edifícios, o maior dos quais é um
pavilhão aberto, erguido sobre uma plataforma e com um conjunto de degraus em cada um dos seus
quatro lados. O telhado é suportado por doze colunas, quatro de cada lado e paredes baixas,
encimadas por uraei, ligam as três colunas em cada canto50. Em direcção oposta ao pavilhão está
uma plataforma mais pequena com um acesso no qual foi construída uma capela, contendo uma
mesa de altar, com pilhas de oferendas. Entre as duas plataformas estão dois pequenos altares do
mesmo modelo do grande altar do pátio do templo. À esquerda e à direita há armazéns para o
serviço desses altares e a representação de vítimas sacrificiais mostra que tinha em mente uma
cerimónia religiosa de alguma grandeza51.
44 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11, Pl.XIV. 45 Huya, TA 1, lns. 62-63. 46 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11.
47 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11. 48 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11. 49 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11. 50 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 11. 51 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 12.
26
No registo inferior da Pl. XV vemos Huya e um outros oficial, junto de militares e
carregadores, como sempre profundamente inclinados e ainda mais abaixo o mordomo de Tié
parece gozar dos aplausos dos subalternos e a alegria das mulheres que agitam tamborins e adufes.
Texto
57
HAt-sp 12 Abd 2 (-nw n) prt sw 8 anx it nTrwy
Ano 12, mês 2, (estação de) Peret, (dia) 8. Viva o pai duplamente divino
58
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de “A luz que vem
do disco solar”» e dotado de vida eternamente e para sempre.
59
Xa(w) nsw-bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra
Aparição do rei do Alto e do Baixo Egipto, Neferkheperuré-Uaenré.
60
Hmt-nsw aAt mrt.f Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx tiDt (n)HH
(e da) grande esposa real, Neferneferuaton Nefertiti − que ela viva eternamente e para sempre
61
Hr qAyt st aAt n(t) dam
sobre a alta e grande cadeira de electrum.
27
62
r Ssp inw xArw K(A)S
para receber os tributos de Kharu (Palestina) de Kuch (Etiópia),
63
Imntt iAbtt xAst nb dmd m sp wa
das terras estrangeiras do Ocidente e do Oriente, todas unidas a um tempo,
64
iw Hry-Hr n wAD-wry
e das ilhas que estão no oceano.
65
Hr m-a sby inw n nsw Hr tw isbt aAt n Axt-Itn
Elas estão a apresentar tributos ao rei que está sobre o grande trono de Akhetaton,
66
n Ssp bAkw n xAst nbt
(o trono que é utilizado para) receber os produtos de todas as terras estrangeiras,
67
Hr irt n.sn TAw anx
enquanto lhes é concedido o sopro da vida.
28
Investidura e recompensa de Huya. Pls. XVI, XVII, texto: lns. 68-81
A parede norte está ocupada por duas cenas cuja parte superior é quase idêntica e representa
a concessão de benesses reais a Huya. O texto é reduzido e o registo iconográfico está demasiado
mutilado.
Na fig. 14 (Pl. XVI) o que está em destaque é a investidura no seu cargo de superintendente
do tesouro da rainha Tié. O texto diz-nos que, na cerimónia se está Dhn HwyA imy-r ipt nsw
imy-r pr- HD imy-r pr (m) m pr m(w)t nsw, «promovendo Huya, (como)
intendente do harém real e intendente da Casa da Prata, o mordomo da mãe do rei»52.
Fig. 14 – A investidura de Huya como mordomo da rainha-mãe. Túmulo de Huya, TA 1, parede
norte, lado ocidental, Pl. XVII.
A parte superior da cena em ambas as figuras mostram Akhenaton e Nefertiti debruçados na
janela das aparições e dirigindo a palavra ao funcionário. Mais atrás, duas princesas, não
identificadas, e na companhia das respectivas aias contemplam a cena. Huya em registo inferior
ergue as mãos num acto de saudação, enquanto um servo completa o seu traje com uma faixa,
talvez a insígnia de um cargo53.
52 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 12. 53 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 12.
29
Os presentes não primam pela quantidade: uma bracelete e um cofre de cujo conteúdo nada
sabemos. Huya profere a grata eulogia que é parte integrante desta cerimónia.
No registo inferior da fig. 14, estamos num edifício com seis câmaras de cada lado. Um
pórtico contínuo corre em volta do pátio com uma coluna oposta a cada parede divisória. Os
conteúdos das câmaras laterais são mostrados mas o estado das paredes só permite ver que são
muito variados, destacando-se, entre eles, uma balança de braços desiguais. Talvez se trate de um
modelo da actualmente designada por «balança romana».
Huya passa revista ao pessoal e ao conteúdo deste armazém54.
A fig. 15 é quase a contrapartida exacta da cena anterior. Os reis, seus nomes e títulos
foram obliterados mas os das duas princesas mais velhas podem ainda ser lidos. A elaborada
decoração do balcão, destruída na parede vizinha, está aqui bem preservada e consiste em
semicírculos concêntricos, de várias cores, com três lótus abertos no centro.
Fig. 15 – Recompensa de Huya. Túmulo de Huya, TA 1, Parede norte, lado oriental,
(Pl. XVII).
O título honorífico de Hsy n nb tAwy , «favorito do senhor das Duas Terras» que foi
adicionado ao nome de Huya parece provar que ele terá subido nas boas graças do rei, pelo menos
levando em conta os colares de ouro que ostenta ao pescoço.
54 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 13.
30
Numa sub-cena inferior (fig. 16) Huya está num armazém, provavelmente no palácio da
rainha-mãe, na companhia de um subalterno que transporta um côvado debaixo do braço, e um
empregado de categoria inferior tal como é patente nas respectivas alturas.
Fig. 16 − Huya acompanhado por um escriba (?), um funcionário subalterno e trabalhadores.
Ainda mais abaixo estão representados uma série de grupos ilustrando os vários ofícios de
Akhetaton em pleno trabalho. Entre eles avulta, na região mais à direita, uma pequena pintura (fig.
17) que representa o Imy-r sanx Hmt-nsw wrt Tiy Iwti-Iwti, «chefe dos escultores
da grande esposa real Tié, Iuti-Iuti»55.
Fig. 17 − O escultor Iuti-Iuti, no acto de pintar uma estátua de Baketaton.
55 Huya, TA 1, ln. 81.
31
Dá os últimos retoques numa estátua de Baketaton. Está no seu estúdio com dois
compartimentos e sustentado por colunas. Sentado num banco, tem uma paleta na mão e trabalha
com um fino pincel. Junto do mestre, um aprendiz mostra sinais de uma respeitosa atenção e os
restos de pintura sugerem que uma outra figura ocuparia um lugar atrás de Iuti. Mais longe outros
escultores ocupam-se de diferentes trabalhos: um dá forma à perna de uma cadeira com a enxó,
outro esculpe uma cabeça e, atrás dele, outros dois ocupam-se com outras actividades que o estado
da pintura não nos deixa perceber.
À esquerda estão representadas várias oficinas onde trabalham marceneiros, decoradores de
vasos, joalheiros, metalúrgicos, cujos produtos estão expostos. Isto evidencia até que ponto
Akhetaton e, no caso, o palácio que Tié ali detinha, eram sítios de acolhimento das artes e dos
artistas, que estariam sob a direcção de Huya56.
Texto
68
Dhn HwyA imy-r ipt nsw imy-r pr- HD imy-r pr (m) m pr m(w)t nsw
Promovendo Huya, (no cargo de) intendente do harém real e intendente da Casa da Prata, o mordomo
da mãe do rei.
Discurso de Huya
69
iAw n kA.k pA Wa-n-Ra HqA nfr iri srw
Louvores ao teu ka, ó Uaenré, bom soberano que fazes os oficiais!
70
pA Hapy aA n tA r Dr.f
Ó grande Hapy da sua terra inteira
56 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 14.
32
71
pA kA n nbw sxpr.k
Ó ka de toda a gente, tu crias e
72
m DAmw m DAmw r wbn pA Itn
fazes transformar as gerações em gerações, durante à marcha de Aton57,
73
Iw.k r (n)HH pA … … … iw (n)HH Dt
tu existes para sempre, ó … … … existes para sempre e eternamente
Parede norte, lado oriental.
Huya é recompensado pelo rei (fig. 15). Discurso de agradecimento:
74
pA HqA nfr qn m sxpr(w) wbn.f Itn
Ó soberano completo em transformações, Aton nasce para ele!
75
aSAw xt rx di.sn pA Itn Hr iai ib.f
Muitas são as coisas que Aton é capaz de dar-lhes58 para lavar o seu coração.
57 Isto é, durante o dia. Neste período, Akhenaton pode transformar a posição social de uma geração. 58 Estranho este plural. Se estiver correcto, refere-se aos egípcios a quem Aton dá a existência e faz
sobreviver, facto que alegra necessariamente o coração do rei.
33
76
pA pr aA anx wDA snb pA Sri (n pA Itn) anx.i n ptry.f
Ó faraó − vida, prosperidade, saúde − ó filho (de Aton), eu vivo da sua visão!
77
Hsy n nb tAwy imy-r ipt nsw imy-r pr- HD imy-r pr (m) Hmt-nsw wrt Tiy HwyA
O favorito do senhor das Duas Terras, o intendente do harém real, o intendente da Casa da Prata, o
mordomo da grande esposa real Tié, Huya
Huya acompanhado por um escriba (?), um funcionário subalterno e trabalhadores (fig. 16).
78
Dhn Hmty Hsy n nb tAwy imy-r ipt nsw imy-r pr- HD imy-r pr (m)
Nomeando os artesãos, pelo favorito do senhor das Duas Terras, o intendente do harém real, o
intendente da Casa da Prata, o mordomo
79
Hmt-nsw wrt Tiy HwyA mAa-xrw
da grande esposa real Tié, Huya, justificado.
Sobre a figura do escriba:
80
… … … n Hmt-nsw wrt Tiy sS pr iAm(t) Nxtiw
… … … da grande esposa real Tié, o escriba da «Casa do Encanto» Nakhtiu59.
59 O nome dentro da cartela foi apagado. Não foram encontradas referências à «Casa do Encanto».
34
O escultor Iuti-Iuti, no acto de pintar uma estátua de Baketaton (fig. 17).
81
Imy-r sanx Hmt-nsw wrt Tiy Iwti-Iwti
O chefe dos escultores da grande esposa real Tié, Iuti-Iuti
A presença de Amen-hotep III em Akhetaton, acompanhando a esposa.
(fig. 18, texto: lns. 82-88).
Fig. 18 − Amen-hotep III, Tié e Baketaton em Amarna. Lintel, (Pl. XVIII).
As ombreiras da porta que conduz às salas interiores estão cobertas com quatro colunas de
inscrições (lns. 89-121) e na sua base encontra-se uma figura de Huya em oração. O lintel está
dividido ao meio e em cada lado um casal real, Akhenaton e sua família, à esquerda, Amen-hotep
III, Tié e Baketaton, à direita (fig. 18)60.
Akhenaton põe amorosamente o seu braço sobre os ombros da rainha. Está sentado numa
cadeira e tem os pés num escabelo, tal como Nefertiti a seu lado. Esta parece chamar a atenção do
esposo para as quatro filhas que agitam leques diante dos pais, a quem os raios de Aton vêm beijar.
Na outra metade, igualmente sob os benfazejos raios do deus, Amen-hotep III está sentado
numa cadeira mas separado da esposa e de Baketaton, às quais parece dirigir-se. Três flabelíferos
acompanham a cena. Uma vez mais aparece a princesa Baketaton, designada por: sAt nsw n
Xt.f mrit.f BAkt-Itn , «Filha do rei, do seu corpo, sua amada Baketaton»61. Não existe
menção do nome do rei. Seria uma irmã mais nova do faraó Akhenaton, tal como é afirmado em
60 DAVIES, Norman de G., op. cit., p. 15. 61 Huya, TA 1, ln. 88. Tal como Tié, a princesa ergue a mão saudando Amen-hotep III que, por esta altura já
teria falecido. O gesto parece prova bastante de que se trata de uma sua filha tardia, cuja mãe não é nomeada.
35
Dodson e Hilton62? De facto, na figura não há outro rei a não ser Amen-hotep III mas não existe
qualquer referência a Tié como sua mãe. Poderia ser filha dele e de uma esposa secundária ou de
qualquer esposa de Akhenaton, e ter sido adoptada pela rainha-mãe. Este última hipótese que
explicaria o seu nome teóforo, aludindo a Aton, de cujo colégio sacerdotal ela poderia fazer parte.
Não há qualquer prova de que Amen-hotep III estivesse vivo ao tempo da visita de Tié mas,
vivo ou morto, ele tinha de figurar nas festividades, na sua qualidade de «Aton resplandecente».
Texto
Protocolo de Aton
82
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de “A luz que vem
do disco solar”» dotado de vida eternamente e para sempre.
83
Itn anx wr nb Hb-sd nb Sn(y) n Snw nb Itn nb pt nb ta m Axt-Itn
Aton vivo e poderoso, senhor do(s) jubileu(s), senhor do que está no circuito de Aton,
senhor do céu, senhor da terra em Akhetaton.
Protocolo de Amen-hotep III
84
Nsw-bit(y) Nb-mAat-Ra di anx
Rei do Alto e do Baixo Egipto, Nebmaetré, dotado de vida63
Protocolo de Tié
62 Ver DODSON e HILTON, The complete royal families of Ancient Egypt, p. 154; cf. GABOLDE et al.,
Akhenaton et l’époque amarnienne, pp. 28-29.
63 Compare-se com o protocolo habitual de Amen-hotep III, .
O nome de filho de Ré foi eliminado pela sua referência directa a Amon e Maet deixa de ter o determinativo
da deusa do mesmo nome.
36
85
Hmt-nsw wrt Tiy anx ti rt-pat wr Hsw
A grande esposa real Tié, que ela viva, a patrícia64, grande em favor,
86
nbt iAm nDmtt mr(w)t mH.s aHt m nfrw.s Hnt SmAw tA-mHw
senhora do encanto, doce no amor que enche o palácio com a sua beleza,
senhora do Alto e do Baixo Egipto
87
Hmt-nsw wrt mrt.f nbt tAwy Tiy
A grande esposa real, sua amada, a senhora das Duas Terras, Tié65.
Protocolo de Baketaton
88
sAt nsw n Xt.f mrit.f BAkt-Itn
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Baketaton66.
64 Isto é, membro da classe dos pat, a elite que exercia os altos cargos. Traduziu-se, guardando
as respectivas distâncias, por «patrícios». 65 O mesmo protocolo é usado por Nefertiti. 66 Tal como Tié, a princesa ergue a mão saudando Amen-hotep III que, por esta altura já teria falecido. O
gesto parece prova bastante de que se trata de uma sua filha tardia, cuja mãe não é nomeada.
37
Fig. 19 − Porta da capela, (Pl. XIX)
Umbral exterior. Esquerda
89
(iAw n kA.k pA Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra) di anx HqA nfr iri srw
Louvores ao teu ka, Neferkheperuré Uaenré, o bom soberano que faz os oficiais67
90
mH tAwy m nfrw.f HHw Hfnw m xt-nbt mAat Htp nw kA.k
e enche as Duas Terras com a sua beleza. Milhões e centenas de milhar de todas
as coisas puras são oferecidas ao teu ka68
91
67 É uma reconstituição possível, de acordo com Huya, ln.71. Sandman admite tratar-se de Tié, mas não
parece que ela tivesse suficiente poder para fazer oficiais. Ver SANDMAN, op. cit., p. 38.
68 A frase original é de difícil compreensão. Poderia ler-se também como Htp n kAw.k,
«oferecem os teus alimentos».
38
Hw r st nb
e (são enviados) alimentos para todos os lugares.
92
pAy nb.i sxpr pA wAD n
Ó meu régio senhor que crias o sucesso de …
93
… … m Hsw… … n kA n imy-r ipt imy-r pr- HD
… … em favor … pelo ka do intendente do harém real, do intendente da Casa da Prata
94
imy-r pr m pr m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy ¡wyA mAa-xrw
do mordomo da casa da mãe do rei, a grande esposa real Tié, Huya, justificado.
Umbral exterior. Direita
95
iAw n kA tAtt nbt tAwy sHD tAwy m nfrw.s
Louvores ao ka da senhora das Duas Terras, que ilumina as Duas Terras com a sua beleza69
96
Imy-r pr m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy nbt Hw aSty akw
(pelo) mordomo da casa da mãe do rei, a grande esposa real Tié, senhora de numerosos
69 Repare-se na peculiar grafia de iAw.
39
alimentos e provisões
97
wAD.sn n kA n … … .i
que prosperam pelo ka de … … … me
98
m anx nfr m Xmn.s m rSwt n H(H)… rat nb n
com uma boa vida, ao reunir-me a ela com alegria (para sempre?) como todos em
99
…… … n kA n imy-r ipt nsw imy-r pr- HD
… … … pelo ka do intendente do harém real, do intendente da Casa da Prata,
100
imy-r pr m pr m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy ¡wyA mAa-xrw
do mordomo da casa da mãe do rei, a grande esposa real Tié, Huya, justificado.
Umbral interior esquerdo – A
101
iAw n kA.k Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra dwA tw ra-nb pA Ra
Louvores ao teu ka, Neferkheperuré Uaenré, possa eu adorar-te todos os dias, ó Ré
102
40
Haai.f m Itn mH tAwy m nfrw.f
que aparece em glória como Aton e enche as Duas Terras com a sua beleza!
103
pAy.i nb … … … … … … … … … r (n)HH … … … … … … nfrw.k
Ó meu régio senhor … … para sempre … … (contemplar?) a tua beleza
104
Smswt ra-nb n kA n imy-r ipt nsw n Hmt-nsw wrt
e ser teu acompanhante todos os dias. Pelo ka do intendente dos reais aposentos
privados da grande esposa real,
¡wyA mAa-xrw
Huya, justificado.
Umbral interior esquerdo – B
105
iAw n kA.k Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra ii kA.k m Htp
Louvores ao teu ka, Neferkheperuré Uaenré, que o teu ka venha em paz!
106
pA Hapy … … … … … … … … .f … … … … anx. … … … … di.f (n)HH Dt
Ó Nilo … … … … … … … … lhe … … … … vida … … … dá-lhe a continuidade
e a eternidade,
41
107
Iw.i Hr Sms.k m wsxt hb-sd
enquanto eu te acompanho (até) ao pátio do jubileu
108
n kA n imy-r prwy- HD n Hmt-nsw wrt ¡wyA mAa-xrw
Pelo ka do intendente da Dupla Casa da Prata da grande esposa real, Huya, justificado.
Umbral interior direito – A
109
iAw (n) kA.k Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra pAy.i nb di.k n.i Hsw
Louvores ao teu ka, Neferkheperuré Uaenré, meu senhor! Concede-me o (teu) favor
110
pA mer mi Itn pA wAD
ó amado como Aton, ó (tu que és) afortunado em
111
… … … … iw bn iri Abi … … …
… … … … sem fazer cessar 70 … … …
70 Poderá tratar-se de uma forma de escrever Abi , «desejar», tal como é referido por Bonnamy e
Sadek. Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., p.12. É igualmente provável que se trate do verbo Ab,
«cessar» com um determinativo diferente.
42
112
n kA n imy-r ipt nsw n Hmt-nsw wrt ¡wyA mAa-xrw
Pelo ka do intendente dos reais aposentos privados da grande esposa real: Huya, justificado.
Umbral interior direito – B
113
iAw (n) kA.k Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra pA Sw anx tw m ptr.f
Louvores ao teu ka, Neferkheperuré Uaenré, esta luz da qual se vive ao vê-la,
114
pA kA n tA r-Dr.f … … … … … … … … .sn n.k (n)HH
este ka da terra na sua inteireza … … … eles (pertencem?)-te para sempre
115
n kA n imy-r prwy- HD n Hmt-nsw wrt ¡wyA mAa-xrw
Pelo ka do intendente da Dupla Casa da Prata da grande esposa real: Huya, justificado.
Lintel superior – Esquerda
116
iAw n kA.k pA Itn nb (n)HH
Louvores ao teu ka, ó Aton vivo, senhor da continuidade,
117
nb SAy sxpr rnn(w)t sHD tAwy m nfrw.f
43
senhor do destino, que faz nascer a alegria e ilumina as Duas Terras com a sua beleza.
Lintel superior – Direita
118
iAw n kA.k Ra HqA Axty iw.k xa(w) THnT anti wbxT
Louvores ao teu ka, ó Ré, soberano dos dois horizontes, quando te manifestas, brilhante, belo e resplandecente
n rn(.k n)hh DT
no teu nome de continuidade e eternidade.
Lintel inferior – A
119
Htp di nsw pA Wa-n-Ra HqA nfr iri srw mH tAwy n kA.k
Uma oferenda que o rei faz, Uaenré, o bom soberano que faz os oficiais e enche as Duas Terras
com o seu ka,
nsw-bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra
o rei do Alto e do Baixo Egipto, Neferkheperuré Uaenré
Lintel inferior – B
120
Htp di nsw pA aA m aHaw.f di.i iAw n Hr.k nfr sHtp kA.k ra-nb HqA nfr
Uma oferenda que o rei faz ao que é grande no seu tempo de vida. Eu presto louvores
à tua bela face
121
44
nfr sHtp kA.k ra-nb HqA nfr Ax-n-Itn aA m aHaw.f
e propicio o teu ka todos os dias, ó soberano perfeito, Akhenaton, grande no seu
tempo de vida
Fig. 20 − Capela. Huya em traje de cerimónia. Largura, lado ocidental, (Pl. XX).
122
… … … … imy-r ipt nsw imy-r pr- HD imy-r pr (m) m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy
… … … … o intendente do harém real, o intendente da Casa da Prata, o mordomo
da mãe do rei, a grande esposa real Tié,
¡wyA …
Huya …
123
45
… … … … Hiiw Hapy r Sa(y) w(A)Dbw pA … … …. …. … …
… … … … (como) as inundações do Nilo (batendo) contra as areias das margens, este …
124
Itn … … … … w Axt w … … … … … wbn.f HHw … … …
Aton … … … … horizonte … … … ele se ergue por milhões (de anos?) … …
125
… … … ib … … … … xwit it.i … … …
… … … coração … … protegido por meu pai … … …
126
iw.k r nHH m-xt nxt(w)
tu existirás para sempre, depois de (ter alcançado) a vitoria
Altar - Vão oriental71
127
Ssp Htpt di nsw n t Hnqt Hw r st.k nb rwd rn.i
Recebendo as oferendas reais de pão e cerveja
128
Hw r st.k nb rwd rn.k H ris.k
71 O mesmo texto aparece nas inscrições do tecto da entrada e do átrio. Ocorre igualmente no túmulo de Ani,
embora com algumas alterações. Altar, parede esquerda. Ver. DAVIES, op. cit, V, Pl. IV.
46
e (outros) alimentos em todos os teus lugares. Que o teu nome perdure no teu túmulo
129
n ii tw wAD rmT nb xpr.f anxw nb
e seja transmitido a todas as novas gerações que se tornam vivas (que nascem)
130
… xrty.k nn HHy rn.k m Hwt.k
… no teu túmulo72 sem (ser necessário) procurar o teu nome na tua propriedade
131
ir tw n Htp di nsw m t n pr.k Hnqt n pr.k
(nem) fazer uma oferenda que o rei dá, consistindo de pão da tua casa e cerveja da tua casa.
132
n kA n Hsy Wa-n-Ra mri n nb.f imy-r ipt imy-r pr- HD imy-r pr
pelo ka do favorito de Uaenré, amado pelo seu senhor, o intendente do harém real,
o intendente da Casa da Prata, o mordomo
133
(m) m(w)t nsw Hmt-nsw wrt Tiy ¡wyA
da mãe do rei, a grande esposa real Tié, Huya.
Parede sul da capela, lado oriental (Pl XXI). Esposa e mãe de Huya (fig. 9)
72 De xr, «túmulo, necrópole». Ver FAULKNER, op. cit., p. 196..
47
Lado oriental
134
snt.f nbt-pr WnHr mAat-xrw
Sua esposa a dona de casa Uenher, justificada.
Lado ocidenta
135
m(w)t.f nbt-pr Twy mAat-xrw
Sua mãe, a dona de casa Tuy, justificada.
Câmara. Parede norte, umbral da porta direita, (Pl. XXI)
Protocolos
136
Anx it
Viva o pai duplamente divino,
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de “A luz que
vem do disco solar”»,
Di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre
137
48
nsw-bit(y) anx m mAat nb-tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx
e o rei do Alto e do Baixo Egipto, que vive em maet, o senhor das Duas Terras, Neferkheperuré
Uaenré, dotado de vida,
138
nsw-bit(y) anx m mAat nb-tAwy Nb-mAat-Ra
o rei do Alto e do Baixo Egipto, o senhor das Duas Terras, Nebmaetré
139
Hmt-nsw wrt m(w)t nswTiy anx ti Dt (n)HH
e a grande esposa real, a mãe do rei, Tié, que ela viva eternamente e para sempre
Rituais fúnebres de Huya. Fig. 21, texto: lns. 140-146.
Fig. 21 − Altar de Huya. Parede oriental. Davies, vol. III, Pl. XXII.
Recitativo do sacerdote diante da múmia
140
ir. tw n.k htp-di-nsw m t.k Hnqt n pr.k
49
É feita para ti uma «oferenda que o rei faz», do teu pão e da cerveja da tua casa
141
qbHw tw n.k (m) mw m mr.k ini n tw n.k
(É feita para ti) uma libação da água do teu lago e fo(ram) trazido(s) para ti
142
Dqrw m Snw.k nis tw n k
os frutos (?) das tuas árvores. Que seja feita uma invocação para ti
143
m-xt Itn wAH tw n.k pAt Hr wDHw n kA.k ra-nb
de acordo com (o ritual?) de Aton e, para ti, sejam colocados, todos os dias, bolos pat
sobre a mesa das oferendas, por intenção do teu ka
144
sxA tw rn.k imy-r ipt nsw imy-r pr- HDwy ¡way mAa-xrw
Que seja lembrado o teu nome. O intendente do harém real, o intendente da Dupla Casa da Prata,
Huya, justificado
Na parede da capela, está representado o cortejo fúnebre a caminho do túmulo, carregando
as oferendas e o enxoval funerário (fig. 22).
50
Fig. 22 − O cortejo funerário de Huya.
Há duas mesas postas com pão, jarros selados e oito pequenos cofres que talvez contenham
as vísceras ou os chauábtis. São transportados aos ombros, suspensos de um jugo. Carpidores e
carpideiras seguem estes portadores, levando as mãos à cabeça e cobrindo o rosto em sinal de luto.
Na terceira fila, igualmente compungidas, seguem a mãe e a irmã ou esposa do defunto. Na última
fila, um ramo de palmeira mostra-se entre dois cestos contendo o que parece ser dois enormes pães
cónicos. No meio das carpideiras é possível distinguir snt.f xpw, «a sua irmã
(esposa) Hepu»73. A legenda, muito deteriorada é, talvez, idêntica a lns. 136-137. No registo
inferior direito, homens conduzem bois para serem sacrificados. O que se segue é uma possível
tradução parcial.
145
… … … imnty nmiw qAi aA tw (iAS)y
… … … os (pastores?) ocidentais gritam muito alto para chamar (o gado?)
146
73 Encontrámos já, na ln. 134, referência a uma snt, Uenher. De acordo com o costume, traduzimos por
«esposa». Se isto for correcto, Hepu seria uma outra esposa de Huya. Dada a ambiguidade do termo snt
não podemos afirmar se era este o caso ou se o funcionário tinha uma irmã e uma esposa.
51
… .k im wr … … … … ra-nb … … … …in n sDm iri n … … …
…
… te no grande … … … todos os dias … … para escutar (?) o que é feito (?) …
Comparando esta cena, única na necrópole amarniana, com as do túmulo do vizir Ramose,
TT 55, apercebemo-nos de que, exceptuando a omissão do tekenu, não existe, aparentemente,
qualquer outra mudança nos costumes fúnebres. A fig. 21 representa os últimos ritos prestados a
Huya e a homenagem de familiares e amigos, antes de o seu corpo encerrado na câmara funerária.
No primeiro plano destaca-se, não o sarcófago, mas a múmia, devidamente enfaixada, exibindo um
cone de cera e dotada da barba recurvada de Osíris. Diante do morto estão empilhadas numerosas
oferendas e um boi recentemente abatido. Sobre tudo isto, o sacerdote verte uma libação enquanto
recita uma prece. Na retaguarda, um grupo de seguidores fazem o gesto de atirar poeira sobre as
cabeças, tal como as carpideiras.
A figura 23 mostra um momento particularmente doloroso das cerimónias, o corte da pata
do bezerro.
Fig. 23 − O ritual do corte de uma pata ao bezerro e da lamentação da mãe do animal sacrificado
Sobre esta cerimónia dizem Assmann que «il s’agit d’une scène d’une cruauté singulière,
représentée dans les tombes et les papyrus du Livre des Morts à partir de l’époque post-
amarnienne74» e el-Shahawy «This scene never ocurred in funerals oh the 18th Dinasty»75. Não é
verdade. Ela está representada nos túmulos de Huya, cerca do ano 12 do reinado de Akhenaton, e no
de Djehut que, como dissemos, ainda é anterior, embora o túmulo tenha sido reutilizado por
Djehutemheb, provavelmente no tempo de Ramsés II76.
Os objectos que acompanharão o morto na câmara funerária estão representados de cada
lado da estátua sentada de Huya. À esquerda, uma biga completamente equipada, um banco, quatro
cofres, dois vasos de vísceras. À direita, um leito sob o qual estão colocados vasos e um escabelo,
74 ASSMANN, Jan, Mort et au-delá, p. 475. 75 EL-SHAHAWY, Abeer, The funerary art of Ancient Egypt, p. 63. 76 PORTER, Bertha, and MOSS, Rosalind, TBAE, I, pp. 85.
52
duas cadeiras sobre as quais se dispuseram dois bordões e dois pares de sandálias. Dois armários,
dois bancos articulados e outros objectos difíceis de identificar completam este luxuoso
equipamento, digno de um dos mais poderosos oficiais do seu tempo.
O seu túmulo é o único que foi completado e, de acordo com as cerimónias fúnebres já
descritas, Huya deve ter falecido em Akhetaton e aí foi sepultado.