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ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE (ETENE)
TURISMO NO NORDESTE DO BRASIL
Superintendente José Narciso Sobrinho
Ambiente de Estudos, Pesquisas e Avaliação Gerente: Wellington Santos Damasceno
Célula de Avaliação de Políticas e Programas Gerente: Marcos Falcão Gonçalves Célula de Estudos e Pesquisas Macroeconômicas, Industriais e de Serviços Gerente: Laura Lúcia Ramos Freire Autores: Elizabeth Castelo Branco, Jane Mary Gondim de Souza, José Varela Donato
Janeiro / 2012
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TURISMO NO NORDESTE DO BRASIL
Elizabeth Castelo Branco. Coordenadora de Estudos e Pesquisas do ETENE. Doutoranda em
Conservação do Meio Natural pela Universidade Internacional de Andalucía.
Jane Mary Gondim de Souza. Coordenadora de Estudos e Pesquisas do ETENE. Doutora em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional.
José Varela Donato. Coordenador de Estudos e Pesquisas do ETENE. Doutor em Administração.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 PANORAMA INTERNACIONAL
3 PANORAMA NACIONAL
4 PANORAMA REGIONAL
4.1 Fluxo turístico
4.2 Infraestrutura
4.2.1 Rede de hospedagem
4.2.2 Transporte
4.3 Investimentos
5 FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES
6 PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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SUMÁRIO EXECUTIVO
1. Desenvolvimento pode ser definido como um “um processo de superação de problemas sociais em cujo âmbito uma sociedade se torna mais justa e legítima para seus membros” (SOUZA, 2002).
2. A atividade turística apresenta funções sociais, educativas, políticas, econômicas e de meio ambiente, justificando‐se a intervenção do Estado (GOMEZ, 2003).
3. O produto turístico é complexo e composto por distintos fatores como recursos naturais (clima e paisagem), alimentação, segurança, transporte, lazer e produtos culturais (patrimônio histórico e cultural, qualidade dos serviços, comportamento).
4. A importância que o turismo tem para determinado país vai determinar o grau de intervenção do Estado na atividade. Além dos investimentos da iniciativa privada, há funções próprias do Estado como, por exemplo, regulamentação dos serviços turísticos, promoção no exterior, gastos de infraestrutura e proteção dos recursos naturais e socioculturais.
5. Os Pilares de sustentabilidade do turismo reforçam a regulamentação e as políticas governamentais, a segurança, a saúde e higiene, a priorização das viagens e do turismo e a sustentabilidade socioecológica (WEF, 2011).
6. Para 2011 há uma tendência de crescimento do turismo mundial, em ritmo mais lento do que vinha ocorrendo antes de crise de 2008. Esse crescimento revela‐se importante para os países em desenvolvimento, considerando que o setor representa importante fonte de emprego.
7. No Brasil, o aumento da renda média e do consumo das famílias constitui uma oportunidade ímpar de reconhecimento do Turismo como importante fator de desenvolvimento econômico e social.
8. O produto mais comercializado no Nordeste é o “Sol e Praia” que engloba, também, os cruzeiros marítimos. Os principais destinos são as capitais dos estados e outras cidades litorâneas, tais como: Natal, Salvador, Fortaleza, Recife e Porto Seguro (MTUR/FIPE, 2006).
9. Os principais destinos nacionais concorrentes da Região Nordeste são as praias do Rio de Janeiro, o litoral norte do Estado de São Paulo e na Região Sul, o litoral de Santa Catarina. Os concorrentes internacionais são o Caribe, notadamente Aruba, Jamaica, República Dominicana e Porto Rico, Cancun, Taiti e Indonésia, além das cidades de Buenos Aires e Santiago.
10. Na Região Nordeste destaca‐se o turismo receptivo. Esta região é responsável por 12,5% do fluxo emissivo de turistas no país e por 20,1% do fluxo receptivo de turistas brasileiros, sendo 10,2% intrarregional (MTUR/FIPE, 2006).
11. A região Nordeste constitui‐se o destino mais desejado de 60% dos brasileiros (MTUR/FIPE, 2007).
12. O crescimento da capacidade instalada da rede hoteleira nas capitais do Nordeste, em termos de unidades habitacionais (UHs), foi de 78,0%, num período de dez anos (Unidade Habitacional é o espaço, atingível a partir das áreas principais de circulação comuns do estabelecimento, destinado à utilização, pelo hóspede, para seu bem estar, higiene e repouso).
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13. Em 1996, a oferta era de 30.942 UHs, e em 2006 a oferta registrada era de 55.085 UHs, o que corresponde a uma taxa anual de crescimento da ordem de 5,9% (FREIRE, 2008).
14. O número de passageiros por quilômetro transportados (voos regulares e não regulares) cresceu 7,9% ao ano no período 2001/2010. No mercado doméstico, a demanda cresceu 11,4% ao ano, superior ao incremento de 2,5% registrado no mercado internacional operado por empresas brasileiras.
15. São necessários grandes investimentos em infraestrutura para atender o crescimento da demanda, a ser mais impulsionada pela realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Brasil.
16. De 1998 a 2008, foram aplicados pelo BNB, R$678,0 milhões no âmbito do FNE ‐ Proatur (95,2% dos recursos em empreendimentos para alojamento de turistas; 82,0% dos recursos em empreendimentos de médio e grande portes; 81,0% dos contratos com empreendedores de micro e pequenos negócios e 70,0% dos recursos foram alocados na Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe).
17. Em 2008, os empreendimentos financiados pelo Proatur permitiram a geração e manutenção de 33.345 empregos diretos, o que equivale a 7,9% dos empregos formais existentes à época, na região Nordeste, nas atividades relacionadas ao turismo (SOUSA et all., 2010).
18. Os recursos do FNE ‐ Proatur alocados no semiárido localizam‐se notadamente nos estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, atraídos pelo turismo de motivação religiosa da região do Cariri, especialmente a cidade de Juazeiro do Norte, pelo Polo Comercial de Caruaru, em Pernambuco, com a tradicional Feira da Sulanca e pelas atividades de exploração de petróleo, extração de sal e produção de frutas irrigadas de Mossoró.
19. As fragilidades do turismo regional nordestino residem notadamente em: deficiência na maioria dos aeroportos e do transporte aéreo, condições das estradas e da malha urbana, carência de equipamentos para o desenvolvimento de outras segmentações turísticas, falta de uma base de dados relacionados à demanda turística na Região, concentração dos atrativos turísticos, necessidade de participação da comunidade local no acolhimento ao turista, insuficiente formação da mão de obra e consequente baixa qualidade dos serviços prestados, prática de preços que se relevam incompatíveis com o nível médio de satisfação requerido pelos turistas, problemas socioeconômicos como, por exemplo, a desigualdade na distribuição de renda, a prostituição infantil, a exclusão da comunidade local, o aumento da violência urbana e do número de pessoas morando nas ruas, principalmente nas capitais (MTUR/FIPE, 2006).
20. As potencialidades do turismo no Nordeste residem notadamente em: clima estável e atrativos paisagísticos de sol, mar e serras, cultura e costumes diversificados, mercado em expansão, potencial de geração de emprego (menor investimento para geração de posto de trabalho em comparação com outras atividades, como por exemplo, construção civil, têxtil e siderurgia), infraestrutura hoteleira e terras de baixo custo, e mão de obra abundante e barata.
21. A instituição de políticas públicas, de caráter geral, de apoio ao Turismo Nordestino contemplam principalmente: erradicação da prostituição infantil; investimentos nas áreas de infraestrutura urbana; melhoria da educação básica e da profissionalização da mão de obra; inserção da comunidade nas ações de desenvolvimento sustentável do turismo local para
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valorização do patrimônio histórico e cultural; criação, recuperação e manutenção de atrativos turísticos; divulgação do patrimônio histórico e cultural; desenvolvimento de alternativas para utilização dos equipamentos turísticos durante todo o ano, como por exemplo as ações relacionadas ao turismo de eventos.
22. Identificam‐se, no âmbito do Turismo Cultural, a necessidade de políticas públicas de apoio a: divulgação do Nordeste como destino cultural; valorização dos monumentos e espaços públicos, por meio da estruturação de circuitos de visitação e da divulgação da programação dos espaços culturais; organização e divulgação do Calendário Cultural do Nordeste, criando‐se eventos de grande porte com inspiração nas principais festas populares; incentivo à realização de eventos de divulgação da cultura nordestina.
23. Para a melhoria da aviação aérea regional, a instituição das seguintes políticas pode contribuir: implantação do PREMIA (Programa de Estímulo à Malha de Integração Aérea Nacional), redução do ICMS sobre o querosene da aviação regional; controle da concorrência predatória, mediante adoção de critérios de redistribuição de rotas entre as companhias regionais e nacionais, e criação de barreiras à saída de rotas de tráfego de baixa densidade; tarifas mais baixas, especialmente as cobradas pela Infraero, por utilização de aeroportos menores; estímulo à formação de alianças estratégicas entre Mercados de Linhas Tronco (MLT) com as empresas de aviação regional; criação de linha de crédito no BNDES para suprir e renovar a frota da aviação regional.
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1 Introdução
O termo desenvolvimento, segundo Souza (2002), não pode ser entendido como
sinônimo de desenvolvimento econômico, mas sim como “um processo de superação de
problemas sociais em cujo âmbito uma sociedade se torna mais justa e legítima para seus
membros”. O desenvolvimento é considerado, então, pelo ângulo socioespacial e exige a
consideração concomitante das várias dimensões que constituem as relações sociais como a
economia, política e cultura, entre outros.
A intervenção do Estado na atividade turística se justifica, segundo Gomez (2003), em
razão de suas funções sociais, educativas, políticas, econômicas e de meio ambiente, ainda
que muitas vezes essas funções sejam limitadas.
Como política setorial, a política turística é necessária, segundo os autores, porque é
considerado que “as forças de mercado não são suficientes para assegurar um
desenvolvimento turístico de acordo com os objetivos da economia e da sociedade em geral“.
No entanto, na opinião de Fluviá y Mena (1998), a existência de “falhas de mercado” não é
condição suficiente para justificar uma política turística pública porque as falhas da iniciativa
privada e seus efeitos negativos não excluem as falhas da intervenção pública.
O relevante da questão não é se o desenvolvimento turístico deve ser articulado
exclusivamente por mecanismos de mercado ou de planejamento público, mas sim que deve
constituir uma combinação de iniciativas públicas e privadas definindo em que aspectos
devem uma ou outra atuar.
O grau de intervenção do Estado na atividade turística depende muito da
importância que o turismo tem para o país. Ainda que no desenvolvimento turístico haja
muito dos esforços da iniciativa privada, há algumas funções mais próprias do Estado como
regulamentação dos serviços turísticos, promoção no exterior, gastos de infraestrutura e
proteção dos recursos naturais e socioculturais. Assim, a política turística se constitui em um
instrumento para a prática, necessitando de definições, de objetivos, instrumentos e
medidas de ação.
Isto não é uma tarefa fácil porque há uma singularidade e complexidade muito
grande na política turística. Em primeiro lugar devido a que nesta atividade há um grupo de
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setores que, ainda que se complementem, são heterogêneos tornando difícil a coordenação.
Em segundo lugar, há o papel desempenhado pela administração pública com respeito à
qualidade e competitividade do produto turístico, incluindo serviços não comerciais como a
paisagem, a infraestrutura, a segurança, dentre outros.
Além disso, há grande diversidade de agentes que interferem na política turística. A
nova era do turismo se caracteriza pela supersegmentação da demanda e exige um
conhecimento profundo do mercado e a identificação das necessidades do consumidor.
2 Panorama Internacional
A crise financeira internacional ocorrida nos últimos anos tem gerado transformações
e instabilidade na economia mundial provocada principalmente pela quebra de bancos,
aumento da taxa de desemprego e contração da liquidez nas economias mais desenvolvidas.
O terremoto ocorrido no Japão e o agravamento da crise fiscal na Grécia,
combinados com o impasse político sobre a definição de um novo teto para a dívida nos
EUA, levaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a reduzir ligeiramente, de 4,4% para
4,3%, sua projeção para o crescimento da economia mundial em 2011, de acordo com a
nova versão do estudo "Perspectivas Econômicas Mundiais”.
Essa revisão decorre de uma expectativa menor de crescimento das economias
desenvolvidas, que passou de 2,4%, nas projeções de abril, para 2,2% em junho de 2011,
enquanto, em sentido contrário, as economias emergentes e em desenvolvimento devem
crescer um pouco mais, 6,6% contra 6,5% da projeção anterior.
Segundo o FMI, alguns fatores ameaçam a reativação da economia mundial. Entre
eles podem ser citados o enfraquecimento maior do que o previsto da atividade nos Estados
Unidos, cuja previsão de crescimento é de 2,5% para o ano de 2011, contra a estimativa de
3,0% em janeiro, a renovada volatilidade financeira, decorrente de preocupações com a
profundidade dos desafios fiscais na periferia da zona do euro, e a previsão de retração
econômica de 0,7% em 2011 no Japão.
O Fundo, em seu estudo, ressalta, ainda, que a região da América Latina e Caribe se
recuperou "rápida e solidamente" da crise mundial e cresceu 6% em 2010, com principal
impulso registrado na América do Sul, "onde os preços das matérias primas, as condições
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favoráveis ao financiamento externo e as políticas macroeconômicas flexíveis estimularam a
demanda doméstica". Vale ressaltar, entretanto, que essa grande demanda interna já dá
sinais de alerta devido ao aumento da inflação e a apresentação de maiores déficits em
conta corrente. A China continuará sendo a campeã do crescimento, com previsão de 9,6%
em 2011.
O ambiente econômico tem uma forte correlação com a expansão da atividade turís‐
tica, pois a receita disponível para gastos com turismo varia diretamente com a dinâmica da
atividade econômica.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT) apud (FREIRE e ARAUJO, 2010), o
fluxo internacional de turistas vem aumentando continuamente – de 25 milhões em 1950;
277 milhões em 1980; 438 milhões em 1990; 682 milhões em 2000, 920 milhões em 2008.
Em 2009, esse fluxo reduziu‐se a 880 milhões, resultado do desaquecimento da economia
mundial ocasionada pela crise financeira. Em 2010 o turismo internacional se recuperou,
gerando um incremento de 7% em relação a 2009, com circulação de 935 milhões de turistas
no mundo (Gráfico 1). A recuperação, em 2010, foi impulsionada, principalmente, pelas
economias emergentes que cresceram 8%, enquanto as desenvolvidas cresceram 5%.
Gráfico 1 ‐ Chegadas de Turistas Estrangeiros ‐ 1995‐2010 Fonte: Organização Mundial do Turismo (OMT, 2011) Nota: Dados sujeitos a retificação
O Oriente Médio foi o destino com o maior crescimento no número de turistas (14%)
ainda que o seu total de 60 milhões fique muito aquém da Ásia, que liderou o crescimento
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em termos de valor, totalizando 204 milhões de turistas, com acréscimo de 13% em 2010,
quando comparado a 2009.
O fluxo turístico nas Américas cresceu 8%, chegando a 151 milhões, enquanto a
África teve acréscimo de 6%, favorecida pela realização da Copa do Mundo de Futebol na
África do Sul. Por seu turno, o desempenho do setor turístico na Europa foi influenciado
pela crise econômica e pelo vulcão na Islândia, apresentando crescimento de apenas 3% no
número de turistas (FREIRE, 2008).
De acordo com o Barômetro Mundial do Turismo da Organização Mundial do
Turismo (OMT, 2011), a China, que se encontra entre os maiores destinos mundiais,
apresentou 55,7 milhões de chegadas internacionais, 9,4% a mais que em 2009. Esse
resultado levou a China a superar a Espanha, que está em terceiro lugar entre os países mais
visitados em termos de turistas a pernoitar no local.
A Europa concentrou, em 2010, mais da metade das viagens internacionais com 471
milhões de desembarques, a região da Ásia e do Pacífico recebeu 22% dos turistas
internacionais, enquanto nas Américas a fatia atingiu 16% dos turistas. O Oriente Médio e a
África concentram, respectivamente, 6% e 5% do turismo mundial (Tabela 1).
Tabela 1 ‐ Chegada de Turistas Estrangeiros por Regiões
Regiões Chegadas (milhões) Participação
(%) Variação (%)
2008 2009 2010* 2010* 2009/2008 2010*/2009
Mundo 913,0 877,0 935,0 100,0 ‐4,0 6,7
Países Desenvolvidos 489,0 468,0 493,0 52,7 ‐4,3 5,3
Países em Desenvolvimento 424,0 409,0 442,0 47,3 ‐3,5 8,2
Por Regiões da OMT
Europa 480,8 456,9 471,5 50,4 ‐5,0 3,2
Europa Setentrional 56,4 53,4 53,3 5,7 ‐5,5 ‐0,1
Europa Ocidental 153,2 148,6 156,1 16,7 ‐3,0 5,1
Europa Central/Oriental 100,0 89,9 93,7 10,0 ‐10,1 4,2
Europa Meridional 171,2 165,1 168,4 18,0 ‐3,5 2,0
Ásia e Pacífico 184,1 181,0 203,8 21,8 ‐1,7 12,6
Nordeste Asiático 101,0 98,1 111,7 11,9 ‐2,9 13,9
Sudeste Asiático 61,8 62,1 69,6 7,4 0,5 12,1
Oceania 11,1 10,9 11,6 1,2 ‐1,6 6,0
Ásia Meridional 10,3 9,9 10,9 1,2 ‐3,4 10,1
Américas 147,8 140,5 151,2 16,2 ‐4,9 7,7
América do Norte 97,7 92,1 99,2 10,6 ‐5,8 7,8
10
Caribe 20,1 19,5 20,3 2,2 ‐2,8 3,9
América Central 8,2 7,6 8,3 0,9 ‐7,4 8,3
América do Sul 21,8 21,3 23,5 2,5 ‐2,3 10,4
África 44,4 45,8 48,7 5,2 3,2 6,4
Norte da África 17,1 17,6 18,6 2,0 2,5 5,8
África Subsaariana 27,2 28,2 30,1 3,2 3,6 6,9
Oriente Médio 55,9 52,7 60,0 6,4 ‐5,7 13,9
Fonte: Organização Mundial do Turismo‐OMT (2011).
Quanto à finalidade da viagem, em 2010, as viagens de lazer, recreio e férias
representaram pouco mais da metade de todos os motivos de deslocamento de turistas
internacionais (51% ou 480 milhões de chegadas). Cerca de 15% dos turistas internacionais
informaram estar viajando a negócios e fins profissionais e outros 27% viajaram para outros
fins, tais como visitar amigos e parentes (VFR), razões religiosas e romarias e tratamento de
saúde. O propósito da visita para os restantes 7% dos recém‐chegados não foi especificado
(Gráfico 2).
Pouco mais da metade dos viajantes chegaram ao seu destino através de transporte
aéreo (51%) em 2010, enquanto o restante viajou por via rodoviária (41%), ferroviária (2%),
ou marítima (6%). A tendência tem sido um crescimento do transporte aéreo a um ritmo
mais rápido do que o transporte de superfície.
Não especificado
7%
visitar amigos e
parentes, religião,
saúde
27%
negócios e fins
profissionais
15%
lazer, recreio e
férias
51%
Gráfico 2 – Finalidade da viagem (2010) Fonte: Organização Mundial do Turismo (OMT, 2011).
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Os dez principais destinos turísticos mundiais em 2010, em ordem decrescente de
fluxo turístico receptivo foram França, EUA, China, Espanha, Itália, Inglaterra, Turquia,
Alemanha, Malásia e México (Tabela 2).
Tabela 2 – Classificação dos países por número de chegadas
Ranking Milhões (US$) Variação (%)
2009 2010 09/08 10/09
1 França 76,8 76,8 ‐3,0 0,0 2 Estados Unidos 55,0 59,7 ‐5,1 8,7 3 China 50,9 55,7 ‐4,1 9,4 4 Espanha 52,2 52,7 ‐8,8 1,0 5 Itália 43,2 43,6 1,2 0,9 6 Reino unido 28,2 28,1 ‐6,4 ‐0,2 7 Turquia 25,5 27,0 2,0 5,9 8 Alemanha 24,2 26,9 ‐2,7 10,9 9 Malásia 23,6 24,6 7,2 3,9 10 México 21,5 22,4 ‐5,2 4,4
Fonte: World Tourism Organization (UNWTO), 2011.
É interessante notar que oito dos dez principais destinos aparecem tanto na
classificação dos países por número de chegadas como na classificação por receitas de
turismo internacional (Tabela 3). Uma análise do período 2009‐2010 mostra que a mudança
mais significativa entre os dez melhores por chegadas internacionais em 2010 foi a ascensão
da China à terceira posição, expulsando a Espanha, após ter ultrapassado o Reino Unido e a
Itália, há mais de cinco anos.
No que se refere a receitas, a China ultrapassou a Itália movendo‐se para a quarta
posição e Hong Kong (China) entrou no rol das dez principais subindo da 12ª, para a nona
posição (Tabela 3).
Tabela 3 – Classificação dos países por valor da receita gerada Ranking Bilhões (US$) Variação (%)
2009 2010 09/08 10/09
1 Estados Unidos 94,2 103,5 ‐14,7 9.9 2 Espanha 53,2 52,5 ‐13,7 ‐1,2 3 França 49,4 46,3 ‐12,7 ‐6,2 4 China 39,7 45,8 ‐2,9 15,5 5 Itália 40,2 38,8 ‐12,0 ‐3,6 6 Alemanha 34,6 34,7 ‐13,2 0,1 7 Reino unido 30,1 30,4 ‐16,3 0,8
12
8 Austrália 25,4 30,1 2,5 18,6 9 Hong Kong 16,4 23,0 7,5 39,5 10 Turquia 21,3 20,8 ‐3,2 ‐2,1
Fonte: World Tourism Organization (UNWTO), 2011.
Entre os demais destinos, a França com um fluxo de 77 milhões de turistas, continua
a liderar o ranking em termos de chegadas ocupando a terceira posição na arrecadação,
enquanto os EUA ocupam o primeiro lugar nas receitas (US$ 104 bilhões) e o segundo em
chegadas.
Outra forma de classificação que se configura interessante foi elaborada pelo Fórum
Econômico Global, com sede na Suíça, valorizando três grupos de 14 variáveis denominadas
pilares de sustentabilidade do turismo, descritas no Quadro 1.
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Quadro 1: Pilares de sustentabilidade do turismo Grupo I: Estrutura regulatória para o setor
Grupo II: Ambiente empresarial e infraestrutura
Grupo III: Recursos humanos, culturais e naturais
‐ Regras e regulamentações
‐ Sustentabilidade ambiental
‐ Segurança e bem‐estar
‐ Saúde e higiene
‐ Prioridade dada ao setor de viagens e turismo
‐ Infraestrutura de transporte aéreo
‐ Infraestrutura de transporte terrestre
‐ Infraestrutura para o turismo
‐ Infraestrutura de tecnologia de informações e comunicações
‐ Competitividade de preços
‐ Capital humano
‐ Afinidade com viagens e turismo
‐ Recursos naturais
‐ Recursos culturais
Fonte: World Economic Forum. The Travel & Tourism Competitiveness Report 2011. Disponível em: http://www.weforum.org/reports/travel‐tourism‐competitiveness‐report‐2011. Acesso em: 29 de julho de 2011.
Esse índice reforça a regulamentação e as políticas governamentais, a segurança, a
saúde e higiene, a priorização das viagens e do turismo e a sustentabilidade socioecológica.
Outros critérios que mais frequentemente são considerados relevantes para o turista, como
por exemplo, as infraestruturas turísticas, competitividade de preços, recursos naturais e
culturais têm um peso muito reduzido no ranking. E o clima não é sequer considerado (WEF,
2011).
Este ranking, tal como em 2009, continua a ser liderado pela Suíça, seguindo‐se a
Alemanha, a França, a Áustria e a Suécia. Os Estados Unidos, primeiro país não europeu
classificado, ocupa a sexta posição do ranking, seguidos do Reino Unido. A Itália é a 27ª
colocada e Angola alcança, pela primeira vez classificação neste ranking, situando‐se em
penúltimo lugar, à frente do Chade (ALMEIDA, 2011).
Para 2011 há uma tendência de crescimento do turismo, embora em ritmo mais
lento do que vinha ocorrendo antes de crise de 2008. Esse crescimento configura‐se
importante principalmente para os países em desenvolvimento que têm no setor uma
importante fonte de emprego
3 Panorama Nacional
O aumento da renda média e do consumo das famílias e o surgimento de uma nova
classe média emergente no mercado brasileiro constituem uma oportunidade ímpar de
fortalecimento deste mercado e de reconhecimento do Turismo como importante fator de
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desenvolvimento econômico e social. No cenário atual, as viagens podem e devem ser
incluídas no rol de consumo dos brasileiros, potencializando o consumo de produtos
turísticos e aquecendo a economia.
Segundo Freire & Araújo (2010), os desembarques de passageiros de voos nacionais e
internacionais nos aeroportos do Brasil (administrados pela INFRAERO) registraram aumento
recorde em 2010. Os desembarques internacionais totalizaram 7.871.802 passageiros em
2010, com acréscimo de 20,9%, comparativamente ao ano anterior (Tabela 4), sendo a maior
taxa de crescimento apresentada pelos voos não regulares (charters) perfazendo 29,7%, com
265.195 desembarques em 2010. Em relação aos voos nacionais 67.688.090 turistas
desembarcaram nos aeroportos brasileiros em 2010, registrando incremento de 20,8%,
relativamente a 2009.
Tabela 4 ‐ Desembarque de Passageiros em Voos Internacionais Variação Mensal 2009/2010
Mês
2009 2010 Variação
% 2009/2010
Voos Regulares
Voos Não Regulares
Total Voos
RegularesVoos Não Regulares
Total
Jan 615.909 38.647 654.556 701.404 44.974 746.378 14,03
Fev 478.883 28.781 507.664 605.283 30.620 635.903 25,26
Mar 513.690 16.263 529.953 576.068 16.957 593.025 11,90
Abr 476.577 8.965 485.542 508.248 12.233 520.481 7,20
Mai 452.242 8.153 460.395 554.708 10.082 564.790 22,68
Jun 483.557 13.194 496.751 566.592 15.059 581.651 17,09
Jul 546.322 20.066 566.388 713.562 39.601 753.163 32,98
Ago 528.029 17.036 545.065 696.831 25.473 722.304 32,52
Set 503.799 10.373 514.172 658.078 15.233 673.311 30,95
Out 581.265 10.046 591.311 707.465 13.029 720.494 21,85
Nov 553.199 12.436 565.635 653.975 16.448 670.423 18,53
Dez 572.994 20.527 593.521 664.393 25.486 689.879 16,23
Total 6.306.466 204.487 6.510.953 7.606.607 265.195 7.871.802 20,90
Fonte: INFRAERO ‐ Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária.
Com relação ao mercado internacional, o resultado da receita cambial turística no
Brasil (Tabela 5) nos últimos anos aponta para o fortalecimento da atividade. De acordo com
os dados do Banco Central, em 2010 o Brasil registrou uma receita cambial turística de US$
5,9 bilhões, 11,6% maior do que a receita obtida no ano anterior (US$ 5,3 bilhões). Ao
15
mesmo tempo, a despesa cambial turística (gastos dos brasileiros em viagens internacionais)
somou, em 2010, US$ 16,4 bilhões apresentando crescimento de 50,7% em relação a 2009
(US$ 10,9 bilhões), aumentando o saldo já deficitário na balança do turismo. Em 2010, o
déficit de US$ 10,5 bilhões, foi 80% superior ao apresentado em 2009 (US$ 5,6 bilhões).
O crescimento do déficit na balança de turismo brasileira é consequência,
principalmente, da forte valorização da moeda nacional ocorrida nos últimos anos,
ocasionada, entre outras coisas, pelo grande volume de investimentos estrangeiros no país.
Tal fato tem sido fomentado pelas altas taxas de juros praticadas no Brasil
comparativamente ao mercado internacional ‐ em torno de 5,5% ao ano, a mais elevada taxa
real do mundo.
A desvalorização do dólar em relação ao Real nos últimos anos, conforme se observa
no Gráfico 3, tem tornado as viagens de brasileiros ao exterior bastante atrativas. Após subir
3,7% do último trimestre de 2009 para o 1º trimestre de 2010, passando de R$ 1,74 para R$
1,80, a média trimestral do dólar iniciou uma queda que chegou a R$ 1,75 no 3º trimestre de
2010, R$ 1,70 no último trimestre de 2010, e por fim R$ 1,63 no primeiro trimestre de 2011,
que obteve os menores índices médios mensais.
1,63
1,70
1,75
1,791,80
1,74
1,50
1,55
1,60
1,65
1,70
1,75
1,80
1,85
4o. TRIM/2009 1o. TRIM/2010 2o. TRIM/2010 3o. TRIM/2010 4o. TRIM/2010 1o. TRIM/2011
Gráfico 3 ‐ Média Trimestral Dólar (Em R$) Comparação trimestres imediatamente anteriores Fonte: IBGE, 2011.
16
Tabela 5 ‐ Receitas e Despesas Cambiais – Variação Mensal 2010/2009 (US$ Milhões)
Mês 2009 2010 Variação %
Receita Despesa Receita Despesa Receita Despesa
Jan 495 746 566 1.216 14,22 63,07
Fev 433 553 511 1.002 18,00 81,11
Mar 494 618 578 1.121 17,07 81,47
Abr 388 770 461 1.229 18,86 59,58
Mai 354 779 408 1.156 15,42 48,31
Jun 403 987 416 1.325 3,29 34,22
Jul 445 1.045 438 1.536 ‐1,54 47,09
Ago 456 916 489 1.302 7,30 42,18
Set 401 1.053 454 1.580 13,34 50,03
Out 451 1.236 436 1.692 ‐3,53 36,86
Nov 469 983 560 1.515 19,52 54,18
Dez 516 1.212 607 1.726 17,64 42,41
Total 5.305 10.898 5.924 16.400 11,58 50,68
Fontes: Banco Central do Brasil‐BACEN e Ministério do Turismo‐Mtur.
Os dez principais mercados emissores de turistas para o Brasil, dados de 2009,
representam 70,6% do total, com a Argentina e os Estados Unidos nos primeiros lugares do
ranking (Tabela 6).
Tabela 6 ‐ Chegadas de Turistas ao Brasil, segundo os Principais Países Emissores – 2009
Principais Países Emissores Número de Turistas % Ranking
Argentina 1.211.159 25,55 1º. EUA 603.674 12,57 2º. Itália 253.546 5,28 3º.
Alemanha 215.595 4,49 4º. França 205.860 4,29 5º. Uruguai 189.412 3,94 6º. Portugal 183.697 3,83 7º. Paraguai 180.373 3,76 8º. Espanha 174.526 3,63 9º. Inglaterra 172.643 3,60 10º. Outros 1.411.732 29,40 ‐ Total 4.802.217 100,00 ‐
Fonte: Estatística Básica do Turismo. Ministério do Turismo‐MTur, Outubro 2010.
Deve‐se ressaltar que a realização de eventos internacionais no País tem se
apresentado como um fator de influência positivo contribuindo para a expansão do mercado
internacional do Turismo no Brasil. Nos últimos anos, o Brasil galgou posições no ranking da
International Congress and Convention Association (ICCA) relativo aos maiores captadores
17
de eventos no mundo, passando da 19ª posição em 2003 para a 7ª posição em 2009, ano em
que foram realizados 293 eventos internacionais (Tabela 7).
Tabela 7 ‐ Ranking ICCA 2009 / Número de Eventos Internacionais Ranking País No de Eventos
1º. EUA 595 2º. Alemanha 458 3º. Espanha 360 4º. Itália 350 5º. Reino unido 345 6º. França 341 7º. Brasil 293 8º. Japão 257 9º. China 245 10º. Áustria 236
Fonte: ICCA, Relatório Estatístico 2009.
A oferta de destinos qualificados para o turismo de negócios no Brasil tem se
expandido e se desconcentrado, com um número cada vez maior de cidades brasileiras
hospedando eventos internacionais. A Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, além
de eventos conexos, colocam o País em destaque no cenário mundial e abrem grandes
perspectivas para o desenvolvimento do Turismo brasileiro.
4 Panorama Regional
4.1 Fluxo turístico
Historicamente, as cidades mais procuradas pelos turistas internacionais que chegam
ao Brasil são: Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis e Foz do Iguaçu. Duas capitais do
Nordeste vêm conquistando posicionamento nesse ranking: (1) Salvador passou a figurar
entre as quatro mais visitadas e (2) Fortaleza entre as nove mais procuradas (EMBRATUR,
2008).
O produto mais comercializado no Nordeste é o “Sol e Praia” que engloba, também,
os cruzeiros marítimos. Os principais destinos são as capitais dos estados e outras cidades
litorâneas, tais como: Natal, Salvador, Fortaleza, Recife e Porto Seguro (MTUR/FIPE, 2006).
Uma das peculiaridades do fluxo turístico, inerente a qualquer destino, diz respeito à
sazonalidade, ou seja, a variações de intensidade da demanda turística que caracterizam
18
determinadas épocas do ano, refletindo na ocorrência da alta e da baixa estação turística.
Percebe‐se a concentração desse fluxo entre os meses de dezembro a fevereiro e em julho,
conforme Gráfico 4.
Gráfico 4: Sazonalidade do fluxo turístico no Nordeste Fonte: MTUR/FIPE, 2006.
Os principais destinos nacionais concorrentes da Região Nordeste são o litoral do
Sudeste compreendendo as praias da cidade do Rio de Janeiro, de Búzios e o litoral norte do
Estado de São Paulo; e a Região Sul, notadamente o litoral de Santa Catarina.
Os concorrentes internacionais são o Caribe, notadamente Aruba, Jamaica, República
Dominicana e Porto Rico, Cancun, Taiti e Indonésia, além das cidades de Buenos Aires e
Santiago, na América do Sul.
De acordo com as operadoras e agências de viagens, dos cinco pacotes mais vendidos
para o turismo interno, quatro pertencem à Região Nordeste: Fortaleza (74,8%), Natal
(53,8%), Serras Gaúchas (52,9%), Porto Seguro (44,5%) e Maceió (31,1%) (FGV, 2005).
A Região é responsável por 12,5% do fluxo emissivo de turistas no país e por 20,1%
do fluxo receptivo de turistas brasileiros, sendo 10,2% intrarregional. A relação
emissivo/receptivo do Nordeste é de 0,6 (12,5/20,1) sinalizando que o turismo receptivo é o
destaque dessa região (MTUR/FIPE, 2006).
Dentre as cinco cidades do país mais visitadas pelos turistas brasileiros estão
Salvador e Fortaleza em terceiro e quarto lugar, respectivamente. Os estados da Bahia,
Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, são os que mais recebem turistas domésticos do
19
Nordeste (SOUSA et all., 2010). Destaca‐se que ainda em 1997, a região Nordeste, liderada
pelo Estado da Bahia, ocupou o segundo lugar na composição do fluxo turístico interno, o
que comprova a persistência de seu poder de atratividade quanto ao turismo de lazer e
entretenimento (SAAB, 1999).
No período de dez anos, de 1998 a 2008, o fluxo turístico para as capitais e os
estados do Nordeste registrou variação positiva da ordem de 69,0 e 79,0%, respectivamente.
Em conjunto as nove capitais nordestinas receberam, em 2008, 12,1 milhões de turistas; e os
estados receberam 20,5 milhões de turistas (SOUSA et all., 2010).
A região Nordeste, no âmbito do turismo interno, representa o destino turístico mais
desejado de cerca de 66% dos habitantes das regiões Sudeste e Centro‐Oeste, de 58% da
região Sul, e de 52% da região Norte, constituindo‐se o destino mais desejado de 60% dos
brasileiros (MTUR/FIPE, 2007).
4.2 Infraestrutura
4.2.1 Rede de hospedagem
Sabe‐se que o produto turístico é complexo e composto por distintos fatores como
recursos naturais (clima e paisagem), alimentação, segurança, transporte, lazer e produtos
culturais (patrimônio histórico e cultural, qualidade dos serviços, comportamento), no
entanto a rede de hospedagem constituiu‐se um indicador relevante para avaliar o
dinamismo da atividade.
Nas viagens domésticas são utilizados diferentes tipos de meios de hospedagem
(hotéis, pousadas, resorts, campings, casas de parentes e amigos). A maioria dos turistas,
cerca de 56%, se utiliza de casas de parentes e amigos nos locais visitados, e a utilização dos
serviços turísticos (hotéis, pousadas, campings e resorts) corresponde a 30,8% do total de
viagens realizadas (MTUR, 2010).
O alojamento de turistas gera receitas de diferentes tipos de empreendimentos tais
como a hospedagem propriamente dita, alimentação e bebidas, serviços de telefonia,
serviços de lavanderia, aluguel de salas para eventos, aluguel de lojas, dentre outros. A
receita operacional líquida dos serviços de alojamento corresponde a cerca de 6,0% do total
da receita operacional líquida do Turismo (IBGE, 2003 apud MTUR, 2006a).
20
Um dos principais aspectos que caracteriza o segmento de alojamento no Brasil
refere‐se à grande predominância de pequenas e médias empresas, no qual cerca de 90% do
total das empresas possuem menos do que 20 pessoas ocupadas cada (FIPE/EMBRATUR,
2006).
O crescimento da capacidade instalada da rede hoteleira nas capitais do Nordeste,
em termos de unidades habitacionais (UHs1), foi de 78,0%, num período de dez anos. Em
1996, a oferta era de 30.942 UHs, e em 2006 a oferta registrada era de 55.085 UHs, ou seja,
24.143 novas unidades, o que corresponde a uma taxa anual de crescimento da ordem de
5,9% (FREIRE, 2008).
As capitais nordestinas com as maiores taxas de crescimento foram: Maceió
(241,3%), Natal (87,5%), Fortaleza (74,8%), Recife (73,9%), e Salvador (72,8%). Em termos de
quantidade de UHs, Salvador (6.129), Fortaleza (4.449), Natal (4.282) e Maceió (3.759) foram
as capitais que mais contribuíram com o aumento da oferta da rede hoteleira (CTI‐NE, 2006).
As cidades de Salvador (26,4%), Fortaleza (18,9%), Natal (16,7%), Recife (12,2%) e
Maceió (9,7%), juntas, responderam por 83,6% da capacidade instalada em 2006 nas capitais
nordestinas, quando em 1996 a participação dessas capitais era de 79,5% (CTI‐NE, 2006).
Neste mesmo período, de 1996 a 2006, a taxa de ocupação passou de 47,7% para
57,2%, confirmando a melhoria de desempenho dos meios de hospedagem pela ampliação
da utilização da capacidade instalada da rede hoteleira das capitais do Nordeste (CTI‐NE,
2006).
4.2.2 Transporte
Um sistema de transporte de qualidade contribui para a competitividade de
empresas e nações, ao permitir que empreendedores, com rapidez e menor custo,
obtenham insumos de produção e façam chegar seus produtos e serviços a consumidores
nacionais e estrangeiros (SCHWAB, 2010).
O transporte aéreo assume importância estratégica para o Brasil, em virtude da
extensão imensa de seu território e das desigualdades econômicas entre suas regiões, que
1 Unidade Habitacional é o espaço, atingível a partir das áreas principais de circulação comuns do estabelecimento, destinado à utilização, pelo hóspede, para seu bem estar, higiene e repouso.
21
precisam ser conectadas entre si e com a economia mundial. A aviação regional,
especificamente, contribui para ocupação sustentável dos territórios, integração entre
regiões e incentivo à indústria do turismo, porquanto facilita o fluxo de bens, serviços e
pessoas em regiões remotas e de fronteira, amplia as oportunidades de trabalho,
universaliza o acesso ao transporte aéreo e, enfim, propicia melhores condições de
acessibilidade aos turistas.
4.2.2.1 Infraestrutura do transporte aéreo no Brasil
A infraestrutura relacionada ao transporte aéreo é composta de duas partes
principais, a infraestrutura aeroportuária e a infraestrutura aeronáutica, sendo esta última
formada pelas instalações de controle e segurança do espaço aéreo e de proteção ao voo.
No Brasil, à medida que houve a retomada do crescimento econômico, os problemas de
infraestrutura de transportes tornaram‐se mais intensos.
O número de passageiros por quilômetro transportados (voos regulares e não
regulares) cresceu 7,9% ao ano no período 2001/2010. No mercado doméstico, a demanda
cresceu 11,4% ao ano, superior ao incremento de 2,5% registrado no mercado internacional
operado por empresas brasileiras. Observa‐se que são necessários grandes investimentos
em infraestrutura para atender o crescimento da demanda, a ser mais impulsionada pela
realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Brasil.
De acordo com Campos Neto e Souza (2011), o forte crescimento da demanda por
transporte aéreo, sem o respectivo aumento da capacidade operacional dos aeroportos,
reflete‐se no fato de que 14 dos 20 maiores terminais aeroportuários de passageiros do
Brasil, três localizadas no Nordeste (Fortaleza, Natal e Maceió) operaram, em 2010, acima
dos seus limites de capacidade.
O Brasil possui 2.520 aeroportos e aeródromos públicos ou privados homologados,
descontados dessa quantidade os helipontos (ANAC, 2011). Desse total, 310 estão
localizados no Nordeste, 165 públicos e 145 privados; destacam‐se os 67 aeroportos
administrados pela Infraero, 16 localizados na Região Nordeste.
22
A Tabela 8 mostra os aeroportos administrados pela Infraero na Região, com suas
respectivas capacidades operacionais (disponíveis) e movimentação de passageiros em 2010.
Tabela 8 – Capacidade operacional e movimentação (passageiros/ano) dos aeroportos administrados pela Infraero na Região Nordeste (dados de 2010)
Aeroporto Localidade Capacidade Operacional
(Passageiros/Ano) Movimentação de Passageiros 2010
Zumbi dos Palmares Maceió‐AL 1.200.000 1.431.781
Jorge Amado Ilhéus‐BA N/D 412.572
Dep. Luís Eduardo Magalhães
Salvador‐BA 10.500.000 7.696.307
De Paulo Afonso Paulo Afonso‐BA N/D 3.718
Pinto Martins Fortaleza‐CE 3.000.000 5.072.721
Orlando Bezerra de Menezes
Juazeiro do Norte‐CE N/D. 244.780
Prefeito Renato Moreira Imperatriz‐MA N/D 234.295
Marechal Cunha Machado São Luís‐MA N/D 1.379.146
Presidente Castro Pinto João Pessoa‐PB N/D 926.043
Presidente João Suassuna Campina Grande‐PB N/D 114.258
Senador Nilo Coelho Petrolina‐PE N/D 254.161
Guararapes‐Gilberto Freyre Recife‐PE 8.000.000 5.958.982
Prefeito Dr. João Silva Filho Parnaíba‐PI 150.000 2.619
Senador Petrônio Portela Teresina‐PI N/D 797.979
Augusto Severo Natal‐RN 1.900.000 2.415.833
Santa Maria Aracaju‐SE 1.000.000 940.389
Fonte: Infraero (2011) e Campos Neto e Souza (2011).
Dos aeródromos homologados pela ANAC, muitos possuem pistas pavimentadas com
terra, cascalho ou grama, sem permissão de uso por aeronaves tipicamente utilizadas em
voos regulares de empresas regionais. Excluindo aeroportos administrados pela Infraero,
abordados na Tabela 8, o Quadro 2 mostra os aeródromos públicos homologados pela ANAC
que possuem pistas pavimentadas com asfalto ou concreto e comprimento de pista igual ou
superior a 1.200 metros, os quais estão assim distribuídos: 36 na Bahia, cinco no Maranhão,
cinco em Pernambuco, quatro no Ceará, três no Piauí, dois no Rio Grande do Norte, dois na
Paraíba e um em Alagoas.
23
Quadro 2 – Aeródromos da Região Nordeste homologados pela ANAC com comprimento de pista igual ou superior a 1.200m e pavimento de asfalto ou concreto
Estado Localidade Aeroporto Estado Localidade Aeroporto
AL Penedo Freitas Melro BA Porto Seguro Porto Seguro
BA Barra Barra BA Prado Prado
BA Barreiras Barreiras BA Remanso Remanso
BA Belmonte Belmonte BA Souto Soares Souto Soares
BA Bom Jesus da Lapa
Bom Jesus da Lapa BA Teixeira de Freitas Teixeira de Freitas
BA Canavieiras Sócrates Rezende BA Utinga Utinga
BA Caravelas Caravelas BA Valença Valença
BA Carinhanha Carinhanha BA Vitória da Conquista
Vitória da Conquista
BA Carolina Brigadeiro Lysias Augusto Rodrigues
CE Campos Sales Campos Sales
BA Cipó Cipó CE Crateús Doutor Lúcio Lima
BA Encruzilhada Divisa CE Iguatu Iguatu
BA Esplanada Esplanada CE Tauá Pedro Teixeira de Castro
BA Euclides da Cunha
Cocorobó MA Alcântara Centro de Lançamento de Alcântara
BA Feira de Santana João Durval Carneiro MA Bacabal Bacabal
BA Gentio do Ouro Gentio do Ouro MA Balsas Balsas
BA Guanambi Guanambi MA Pinheiro Pinheiro
BA Ibotirama Ibotirama MA Santa Inês João Silva
BA Ipiaú Ipiaú PB Patos Peregrino Filho
BA Irecê Irecê PB Sousa Sousa
BA Itaberaba Itaberaba PE Caruaru Oscar Laranjeiras
BA Ituaçu Ituaçu PE Fernando de Noronha
Fernando de Noronha
BA Jacobina Jacobina PE Garanhuns Garanhuns
BA Jequié Jequié PE Salgueiro Salgueiro
BA Lençóis Horácio de Mattos PE Serra Talhada Santa Magalhães
BA Macaúbas Macaúbas PI Bom Jesus Gurguéia
BA Maracás Maracás PI Floriano Cangapara
BA Mucugê Mucugê PI Picos Picos
BA Paramirim Paramirim RN Açu Açu
BA Piritiba Piritiba RN Mossoró Dix‐Sept Rosado
Fonte: Elaboração da CEIS/ETENE a partir de dados da ANAC.
O Quadro 1 sugere que há disponibilidade de infraestrutura aeroportuária para
ligação entre cidades do Nordeste através de linhas aéreas regulares, embora insuficiente e
24
nem sempre adequada, diante das dimensões territoriais da Região. Além disso, a operação
dessas linhas se concentra em aeroportos administrados pela Infraero, exceto no Estado da
Bahia. O Quadro 3 apresenta as empresas regionais que ofertam linhas regulares para
algumas cidades nordestinas.
Quadro 3 – Cidades do Nordeste atendidas por empresas de transporte aéreo regional
Empresas Cidades atendidas
Abaeté Bom Jesus da Lapa‐BA, Guanambi‐BA, Salvador‐BA
Noar Maceió‐AL, João Pessoa‐PB, Mossoró‐RN, Natal‐RN, Recife‐PE, Aracaju‐SE
Passaredo Salvador‐BA, Vitória da Conquista‐BA, Barreiras‐PE
Pantanal Ilhéus‐BA, Salvador‐BA, Fortaleza‐CE, João Pessoa‐PB, Recife‐PE, Teresina‐PI
Trip Maceió‐AL, Ilhéus‐BA, Porto Seguro‐BA, Salvador‐BA, Vitória da Conquista‐BA, São Luís‐MA, Petrolina‐PE, Recife‐PE, Fernando de Noronha‐PE, Natal‐RN, Aracaju‐SE
Fonte: Elaboração da CEIS/ETENE, a partir de dados das empresas aéreas (Aviação Brasil, 2011).
É importante mencionar que, a partir da mudança de regulamentação ocorrida no
final dos anos 1990, em que ocorreu o fim das restrições territoriais de operação das
companhias aéreas, muitas cidades médias, anteriormente atendidas apenas por
companhias regionais, passaram a ser atendidas por companhias que operam
nacionalmente. Da mesma forma, muitas empresas com operações restritas às linhas
regionais passaram a operar a pautar suas estratégias de crescimento nacionalmente.
A Figura 1 expõe as cidades do Nordeste atualmente atendidas por voos regulares,
por companhias regionais e nacionais. Apesar de as cidades de Parnaíba‐PI e Paulo Afonso‐
BA não receberem voos de linhas regulares, foram incluídas na Figura por possuírem
aeroportos administrados pela Infraero, com condições de receber voos de empresas
nacionais e regionais.
25
Figura 1 – Cidades do Nordeste atendidas com linhas aéreas regulares e empresas aéreas regionais com atuação na Região Nordeste Fonte: Elaboração da CIEST/ETENE, a partir de dados de Panrotas (2011).
Considerando‐se apenas as obras nos aeroportos localizados nas cidades que serão
sedes da Copa do Mundo de 2014, os investimentos previstos pela Infraero chegam a R$ 5,5
bilhões.
Os investimentos realizados nas infraestruturas aeroportuária e aeronáutica
apresentaram oscilações no período 2003‐2010, conforme mostra a Tabela 9, que indica a
predominância dos investimentos oriundos do orçamento fiscal e seguridade social em
relação àqueles executados com dinheiro originado do caixa da Infraero. Segundo Campos
26
Neto e Souza (2011), do total de inversões previstas no programa de investimentos da
Infraero, apenas 44% foram executados naquele período, o que requer mais eficiência da
gestão da empresa, de modo que todos os recursos previstos e autorizados para os próximos
quatro anos (R$ 5,6 bilhões) possam ser aplicados de modo eficaz.
Tabela 9 – Investimentos em Infraestrutura Aeroportuária e Aeronáutica no Brasil no
Período de 2003 a 2010 (valores em R$ milhões, constantes de 2010)
Ano Orçamento Fiscal e Seguridade Social
Orçamento INFRAERO Total
2003 417,95 84,72 502,67
2004 524,44 60,65 585,38
2005 999,65 373,68 1.373,33
2006 740,23 766,90 1.507,12
2007 576,31 629,89 1.206,20
2008 676,59 411,60 1.088,18
2009 759,45 469,00 1.228,45
2010 661,40 645,60 1.307,00
Total 5.356,01 3.422,23 8.798,34
Média Anual 669,50 430,29 1.099,79
Fonte: Adaptado de Campos Neto e Souza (2011).
Para a Região Nordeste, estão previstos vários investimentos em infraestrutura
aeroportuária, não somente nas cidades supracitadas, com recursos dos governos estaduais.
O Quadro 4 mostra as obras previstas para a Região em infraestrutura aeroportuária.
A análise do Quadro 4 permite inferir que estão previstos investimentos de R$ 816,0
milhões em aeroportos do Nordeste nos próximos anos, sendo os maiores valores
destinados aos aeroportos de Fortaleza (cidade que receberá jogos da Copa do Mundo de
2014), Aracaju e de São Gonçalo de Amarante‐RN, este com recursos do setor privado, tendo
em vista que a construção do terminal de passageiros será executada no regime de
concessão.
No que diz respeito à aviação regional, vale destacar os investimentos previstos para
os aeroportos de Maragogi (AL), Penedo (AL), Aracati (CE), Camocim (CE) e Parnaíba (PI),
destinos com grande potencial de indução de demanda turística que podem atrair o
interesse de empresas, especialmente daquelas com atuação restrita ao âmbito regional,
para a alocação de linhas regulares. Além disso, uma infraestrutura aeroportuária
27
minimamente adequada pode possibilitar a essas cidades a atração de voos charters
internacionais.
Quadro 4 – Obras de Infraestrutura Aeroportuária Previstas na Região Nordeste
Aeroportos Descrição do Projeto R$
(Milhões) Estágio Atual
Ano de Conclusão
Aracati‐CE Ampliação do aeroporto de Aracati. Pista de pouso de 1800 m
12 Iniciada 2010
Camocim‐CE Pavimentação do aeroporto. Pista de pouso de 1.200 m
4 Iniciada 2010
Guararapes – Recife‐PE
Conclusão do conector do atual terminal com mais quatro pontes de embarque (52.000 m2)
10 Iniciada 2010
Parnaíba‐PI Ampliação e reforço de pátio de aeronaves e da pista de pouso e decolagem
28 Iniciada 2011
São Gonçalo do Amarante‐RN
Desmatamento, terraplanagem, pavimentação, drenagem, proteção vegetal e outras obras
169 Iniciada 2011
Aracaju‐SE Construção do novo terminal de passageiros, pátio de aeronaves, sistema viário e estacionamento
190 Em projeto 2011
Internacional de Salvador‐BA
Construção da torre de controle 15 Em licitação 2011
Guararapes – Recife‐PE
Construção da nova torre de controle 20 Iniciada 2012
Fortaleza‐CE Reforma e ampliação do terminal de passageiros
279 Iniciada 2013
Internacional de Salvador‐BA
Reforma e adequação do terminal de passageiros e ampliação do pátio de aeronaves
30 Em licitação 2013
Costa Dourada – Maragogi‐AL
Construção do aeroporto no município de Maragogi, para 132.000 passageiros/ano
52 Em projeto Indefinido
Freitas Melro – Penedo‐AL
Ampliação da pista de pouso e decolagem e reforma da pista de táxi
4 Em projeto Indefinido
Ilhéus‐BA Projeto de construção do novo aeroporto 3 Em licitação Indefinido
Fonte: Anuário Exame de Infraestrutura 2010‐2011.
O crescimento da demanda pelo transporte aéreo está diretamente correlacionado
com crescimento do PIB, preço das passagens, renda pessoal disponível, população urbana,
difusão do consumo de bens e serviços selecionados, eficiência dos atores envolvidos no
sistema de aviação civil e existência ou não de gargalos nas infraestruturas (IPEA, 2010).
Estudo realizado pelo IPEA (2010) estimou, para o período 2011/2014, crescimento total de
46,4% na demanda por transporte aéreo.
4.3 Investimentos
28
No Nordeste, o período de maior crescimento do fluxo turístico, que se deu entre
1998 e 2001, coincide com os investimentos do PRODETUR‐NE I, aplicados
predominantemente na infraestrutura de transportes, com destaque para a ampliação e
modernização dos aeroportos das capitais nordestinas (SOUSA et all., 2010). Isso sinaliza que
os investimentos podem consolidar destinos já desenvolvidos, como também, fazer surgir
novos destinos turísticos, podendo‐se citar: Porto Seguro e Morro de São Paulo na Bahia;
Porto de Galinhas em Pernambuco; Praia da Pipa no Rio Grande do Norte; Jericoacoara e
Mundaú no Ceará e os Lençóis Maranhenses.
De 1998 a 2008, foram aplicados pelo BNB, R$678,0 milhões no âmbito do Programa
de Apoio ao Turismo Regional (Proatur), um dos programas do FNE (Fundo Constitucional de
Financiamento do Nordeste) cujo objetivo é integrar e fortalecer, de forma competitiva, a
cadeia produtiva do turismo regionalmente, a partir do reconhecimento das especificidades
locais, ensejando o aumento da oferta de empregos, a melhoria do perfil de distribuição de
renda e a indução ao uso racional e sustentável das potencialidades turísticas da região
Nordeste (SOUSA et all., 2010).
Neste mesmo período, os empreendimentos para alojamento de turistas absorveram
95,2% dos recursos alocados pelo Proatur e 82,0% dos recursos foram destinados a
empreendimentos de médio e grande portes, embora 81,0% dos contratos de financiamento
tenham sido realizados com empreendedores de micro e pequenos negócios.
Os estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe absorveram, aproximadamente,
70% dos recursos alocados pelo FNE‐Proatur, neste mesmo período. Em empreendimentos
localizados fora da região do semiárido, nos principais destinos de sol e mar, foram
investidos 92,7% dos recursos em 75,8% dos contratos de financiamento (SOUSA et all.,
2010).
Os recursos alocados no semiárido localizam‐se notadamente nos estados do Ceará,
Pernambuco e Rio Grande do Norte, atraídos pelo turismo de motivação religiosa da região
do Cariri, especialmente a cidade de Juazeiro do Norte; do Polo Comercial de Caruaru, em
Pernambuco, com a tradicional Feira da Sulanca e pela atratividade econômica de Mossoró
(RN) movida pelas atividades de exploração de petróleo, extração de sal e produção de
frutas irrigadas.
29
Em 2008, os empreendimentos financiados pelo Proatur permitiram a geração e
manutenção de 33.345 empregos diretos, o que equivale a 7,9% dos empregos formais
existentes à época, na região Nordeste, nas atividades relacionadas ao turismo (SOUSA et
all., 2010).
Em 2011, o BNB aplicou R$412,0 milhões na atividade turística da região nordeste,
por meio do Proatur, concentrando‐se esse investimento em construções de meios de
hospedagem e de instalações esportivas e recreativas.
5 Fragilidades e potencialidades
5.1 Fragilidades
O fluxo turístico no Nordeste tem crescido a taxas muito superiores à capacidade da
região de estruturar e qualificar o receptivo, gerando, por exemplo, deficiência na maioria
dos aeroportos, incapazes de atender à demanda em alta estação.
Registra‐se a necessidade de melhoria das condições das estradas, das cidades, em
geral, com a implantação de equipamentos urbanos básicos como calçadas, rampas,
semáforos para pedestres, sinalizadores sonoros e táteis para pessoas com deficiência visual,
sistemática eficaz de limpeza urbana e a disponibilidade de transporte coletivo seguro,
pontual e confortável, além de placas indicativas de direção dos principais bairros e pontos
de interesse das cidades.
O transporte aéreo tem acompanhado avanços tecnológicos, gerenciais e
institucionais significativos dos últimos 50 anos, no entanto é apontado como um dos
componentes da infraestrutura turística que apresenta importantes deficiências e
fragilidades (SCHWAB, 2010) que dificultam o desenvolvimento da atividade turística no
Brasil (IPEA, 2010).
Em síntese, relacionam‐se a seguir as principais fragilidades que o setor aéreo precisa
superar (IPEA, 2010):
margens de rentabilidade reduzidas;
carga tributária elevada, próxima de 39%;
30
deficiências nas infraestruturas aeroportuária e aeronáutica;
ICMS com alíquotas diferenciadas nos estados;
frota cargueira antiga;
elevação de custos, especialmente os de combustíveis;
ausência de planejamento de longo prazo e de políticas e regras favoráveis ao
desenvolvimento da aviação regional.
Adicionalmente, a rede hoteleira nordestina requer melhorias para proporcionar
mais conforto, recursos atualizados de informação e comunicação, e segurança aos turistas.
A Região é, também, carente de equipamentos para o desenvolvimento de outras
segmentações turísticas além do turismo de sol e praia, como, por exemplo, o turismo de
eventos que, para se consolidar, requer espaços adequados para a realização de
conferências, de exposições e de feiras de relevante importância nacional e internacional.
Outros problemas para o desenvolvimento do turismo na região Nordeste residem na
falta de uma base de dados relacionados à demanda turística na Região, o que permitiria
melhor planejamento dos investimentos públicos e privados além de promover um
tratamento diferenciado da relação receita por turista, considerando‐se também o gasto
médio em detrimento da visão focalizada somente no aumento do fluxo total de turistas.
Além disso, os atrativos turísticos encontram‐se concentrados em poucos locais,
revelando uma necessidade de ampliação das ações associativas entre os agentes o que
permitiria a descentralização do fluxo de turistas.
Observa‐se, ainda, a necessidade de participação da comunidade local no
acolhimento ao turista, a insuficiente formação da mão de obra e a consequente baixa
qualidade dos serviços prestados, além da prática de preços que se relevam incompatíveis
com o nível médio de satisfação requerido pelos turistas.
Além das carências de infraestrutura básica para o turismo e de profissionais
qualificados, problemas socioeconômicos como, por exemplo, a desigualdade na distribuição
de renda acentua a ocorrência do turismo motivado por orgias e sexo, e da prostituição
infantil; bem como a exclusão da comunidade local, o aumento da violência urbana e do
número de pessoas morando nas ruas, principalmente nas capitais (MTUR/FIPE, 2006).
31
5.2 Potencialidades
O Nordeste, uma vez considerado subdesenvolvido em função de sua desvantagem
industrial com relação às regiões Sul e Sudeste do país e dos elevados índices de pobreza e
desigualdade social, pode valorizar suas potencialidades naturais e culturais e encontrar na
atividade turística uma opção para dinamizar sua economia e gerar emprego e renda,
contribuindo para fixação populacional.
Economicamente a região mais pobre do país, o Nordeste possui clima estável e
atrativos paisagísticos de sol, mar e serras que apresentam vantagens comparativas em
relação a destinos turísticos que foram fortalecidos pela propaganda institucional e pelo
investimento em infraestrutura de suporte a esta atividade.
O transporte aéreo, apesar das fragilidades elencadas, apresenta boas perspectivas
de evolução (IPEA, 2010), no que se refere: à dimensão continental do território brasileiro; à
alta mobilidade geográfica e social; ao deslocamento das fronteiras econômicas; à
estabilidade monetária e consequente aumento do poder aquisitivo da população; e ao
crescimento do setor em todos os níveis.
Nessa perspectiva, o desenvolvimento integrado da cadeia turística do Nordeste, de
maneira social e ambientalmente sustentável, atentando‐se, também, para a valorização da
cultura e dos costumes, apresenta‐se como uma alternativa importante para dinamizar a
economia local pelas características do setor turístico em agregar um conjunto diversificado
de atividades e pela atração de novos investimentos públicos, privados e de capital
estrangeiro, proporcionando emprego e renda para a Região.
Além disso, alguns fatores favorecem a expansão da atividade turística no Nordeste a
exemplo dos atrativos naturais, do mercado em expansão, do clima estável e ensolarado o
ano todo, das terras de baixo custo e, ainda, da diversidade e riqueza cultural.
Dentre as possibilidades que estão favorecendo a expansão da atividade está a
interiorização do turismo, ressaltando aspectos rurais e culturais do Nordeste, com roteiros
integrados, tais como: Roteiro Turístico Cultural – Civilização do Açúcar, nos estados de
Pernambuco, Paraíba e Alagoas, valorizando a arquitetura e a gastronomia; Roteiro da
Moda, em Pernambuco, mais especificamente nas cidades de Caruaru, Toritama e Santa
32
Cruz do Capibaribe; Roteiro Integrado dos estados do Ceará, Piauí e Maranhão; Roteiro do
Vinho, no vale do Rio São Francisco, dentre outros.
O turismo cultural representa um potencial importante para transformar a riqueza e
a diversidade cultural da Região em ativo relevante para a elevação do nível de bem estar da
população local. O turismo cultural apresenta no Nordeste grande potencial de atração, uma
vez que todos os estados do Nordeste têm seus próprios folguedos e tradições, e cidades
como São Luis (MA), Olinda (PE) e o bairro do Pelourinho, em Salvador (BA) são
considerados, pela UNESCO, patrimônio cultural da humanidade.
A diversidade cultural nordestina é um ativo importante da Região, com perspectiva
de crescimento, que requer atenção direcionada para a valorização das manifestações
populares por meio da divulgação dos eventos culturais da Região, bem como de seus
monumentos e equipamentos culturais, transformando‐os em fonte de agregação de renda
que possa ser apropriada pela população nordestina (PRDNE, 2011).
A atividade turística é responsável pela geração de 6% a 8% do total de empregos no
mundo (OMT, 2000 apud MTUR, 2010) e representa uma das atividades econômicas que
demanda um dos menores investimentos para a geração de trabalho. Para exemplificar, a
hotelaria, um segmento intensivo em mão de obra e com grande participação na atividade
turística, demanda cerca de R$16.198,60 do valor de produção da atividade para a geração
de uma unidade de emprego. Esse valor é inferior ao exigido por outros setores econômicos,
tais como a indústria têxtil, a da construção civil e a siderurgia cujos valores são da ordem de
R$27.435,20, R$28.033,00 e R$68.205,90, respectivamente (FIPE/EMBRATUR, 2006).
Os empreendimentos turísticos ocupam, em média, seis pessoas por empresa,
resultado determinado principalmente pelo segmento de alimentação. As atividades
características do turismo ocuparam 5,4 milhões de pessoas e em empresas de pequeno
porte o percentual de trabalhadores é de 60,6%, também com destaque para o segmento de
alimentação (49,1%). As médias e grandes empresas ligadas ao turismo também tiveram
participação relevante na geração de emprego, sendo responsáveis pela ocupação de
824.062 pessoas, 39,4% do total (IBGE/EMBRATUR, 2006).
33
A receita turística gerada nas capitais, no período de 2002 a 2008, passou de R$4,9
milhões para R$9,6 milhões, revelando um crescimento de 97,1% no período e de 11,9% ao
ano, o que demonstra o potencial da atividade na Região (CTI‐NE, 2011).
6 Proposição de políticas para o turismo nordestino
De uma maneira geral, sem significativas diferenças, as potencialidades e fragilidades
da cadeia turística nos estados do Nordeste são bastante semelhantes e dessa forma
apresentam‐se como prioritárias as seguintes ações de incentivo à atividade turística em
toda a região:
erradicação da prostituição infantil;
investimentos nas áreas de infraestrutura urbana, de transportes, de energia, de
saneamento, de gestão de resíduos e de conservação ambiental;
melhoria da educação básica e da profissionalização da mão de obra;
inserção da comunidade nas ações de desenvolvimento sustentável do turismo
local para valorização do patrimônio histórico e cultural;
criação, recuperação e manutenção de atrativos turísticos;
divulgação do patrimônio histórico e cultural, e
desenvolvimento de alternativas para utilização dos equipamentos turísticos
durante todo o ano, como por exemplo as ações relacionadas ao turismo de
eventos.
Especificamente no que se refere à aviação regional, para superar as fragilidades e
aproveitar as oportunidades de desenvolvimento, propõem‐se as seguintes iniciativas:
implantar o PREMIA – Programa de Estímulo à Malha de Integração Aérea
Nacional, transformando o Adicional Tarifário numa CIDE: tarifas sobre bilhetes
em linhas não suplementadas;
reduzir o ICMS sobre o querosene da aviação regional;
34
inibir a concorrência predatória, mediante adoção de critérios de redistribuição
de rotas entre as companhias regionais e nacionais, e criação de barreiras à saída
de rotas de tráfego de baixa densidade;
estabelecer tarifas mais baixas, especialmente as cobradas pela Infraero, por
utilização de aeroportos menores;
estimular alianças estratégicas entre Mercados de Linhas Tronco (MLT) com as
empresas de aviação regional (governança, code‐share, terceirização, integração
vertical);
estimular a eficiência do setor e entrada de novas empresas, mediante revisão
das regras da Resolução nº 2 da ANAC, acerca da distribuição e manutenção de
slots;
criar linhas de crédito nos bancos oficiais com taxas de juros mais baixas para
regiões com menor densidade de tráfego, para suprir e renovar a frota da aviação
regional.
No âmbito do turismo cultural identificam‐se as seguintes ações:
divulgação do Nordeste como destino cultural, por meio do fortalecimento dos
roteiros turísticos integrados, da implantação do Circuito do Turismo Cultural do
Nordeste e da criação do Portal de Turismo da região;
desenvolvimento de uma política de valorização dos monumentos e espaços
públicos, por meio da estruturação de circuitos de visitação e da divulgação da
programação dos espaços culturais;
organização e divulgação do Calendário Cultural do Nordeste, criando‐se eventos
de grande porte com inspiração nas principais festas populares, e
incentivo à realização de eventos de divulgação da cultura nordestina.
Percebe‐se que esses conjuntos de ações são complexos e implicam na necessidade
de investimentos em diferentes setores, o que exige um planejamento abrangente,
integrado e de médio e longo prazo da atividade turística para reforçar as potencialidades e
possibilitar a superação duradoura das fragilidades.
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7 Considerações finais
O apoio ao desenvolvimento do turismo no Nordeste deve embasar‐se na
sustentabilidade social, ambiental e econômica, estimulando a inclusão protagonista da
população nordestina e a sua mobilização para um processo que promova a justiça social e,
ao mesmo tempo, valorize o patrimônio histórico e cultural e preserve os ativos ambientais
da região (PRDNE, 2011).
Nesse processo, o semiárido nordestino requer atenção específica para possibilitar o
aproveitamento de seu potencial por meio de mudanças em sua estrutura econômica,
fundiária e urbana, formando uma rede de cidades que componham um circuito turístico
representativo desse bioma, ampliando‐se o conhecimento sobre a caatinga e incentivando
sua valorização e preservação ambiental.
A cultura, compreendida de forma ampla, assume um papel central no
desenvolvimento da atividade turística por se constituir elemento de diversidade que
propicia a geração de novos roteiros cuja diferenciação é elemento de competitividade
como, por exemplo, na gastronomia, no artesanato, na música e na dança.
A cultura se constitui elemento de coesão social, de mobilização e de identidade,
fatores fundamentais para o desenvolvimento da atividade turística. A valorização das
tradições populares por meio da instalação de museus, da realização de exposições e
eventos culturais pode contribuir para qualificar o turismo no Nordeste, ampliando a
atratividade da Região para um público que expressa o destino turístico destacando as
belezas naturais e os aspectos característicos da culinária, do artesanato, da música, da
dança, das manifestações artísticas e culturais, de uma maneira geral.
36
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