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  • 8/11/2019 Ulian UmaSistematizaodaPrticadoTerapeutaAnalticoComportamental

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA

    ANA LCIA ALCNTARA DE OLIVEIRA ULIAN

    Uma sistematizao da prtica do terapeuta analtico-comportamental: subsdios para a formao

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    ANA LCIA ALCNTARA DE OLIVEIRA ULIAN

    Uma sistematizao da prtica do terapeuta analtico-comportamental: subsdios para a formao

    Tese apresentada ao Instituto de Psicologia daUniversidade de So Paulo para obteno do ttulode Doutor em Psicologia.

    rea de concentrao: Psicologia ClnicaOrientadora: Profa. Titular Edwiges F. M.

    Silvares

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    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIALDESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OUELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUECITADA A FONTE.

    Catalogao na publicaoServio de Biblioteca e Documentao

    Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo

    Ulian, Ana Lcia Alcntara de Oliveira.Uma sistematizao da prtica do terapeuta analtico-

    comportamental: subsdios para a formao / Ana Lcia Alcntara deOliveira Ulian; orientadora Edwiges Ferreira de Matos Silvares. -- SoPaulo, 2007.

    240 p.Tese (Doutorado Programa de Ps-Graduao em Psicologia.

    rea de Concentrao: Psicologia Clnica) Instituto de Psicologia da

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    FOLHA DE APROVAO

    Ana Lcia Alcntara de Oliveira UlianUma sistematizao da prtica do terapeuta analtico-comportamental: subsdios paraa formao

    Tese apresentada ao Instituto de Psicologia daUniversidade de So Paulo para obteno do ttulode Doutor em Psicologia.rea de concentrao: Psicologia ClnicaOrientadora: Profa. Titular Edwiges F. M. Silvares

    Aprovada em: _____/_____/_____

    Banca Examinadora

    Profa. Titular Edwiges Ferreira de Mattos Silvares__________________________Universidade de So Paulo

    Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer__________________________________________

    Universidade de So Paulo

    Profa. Dra. Maria Martha Costa Hbner____________________________________

    Universidade de So Paulo

    Profa. Dra. Maria Luiza Marinho_________________________________________

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    DEDICATRIA

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    AGRADECIMENTOS

    minha orientadora, Profa. Titular Edwiges Silvares, minha prozinha Vivi,modelo de dinamismo e responsabilidade, que um dia me aceitou como alunaespecial, mudando totalmente meu estilo de vida. Agradeo por ter confiado emmim, por ter lutado pelo meu doutorado direto e incentivado minha autonomia na

    elaborao deste trabalho. Profa. Sonia Meyer, minha co-orientadora, no oficial, mas de fato,

    agradeo as muitas horas de discusso na sua sala, no Sweden, no exame dequalificao e at mesmo em suas frias na praia de Itapoan e no mar de Piatan.

    Profa. Zilda Del Prette, minha amiga Ci a quem admiro desde a nossagraduao na UEL, agradeo pelas orientaes, sugestes, revises e acima de tudo pelo incentivo, carinho e amor demonstrados. E ao meu eterno professor Prette, queum dia me disse: Ana, voc est sonegando informaes.

    Ao Prof. Ildenor Cerqueira, meu companheiro de trabalho na UFBA, a quemdevo minha compreenso sobre muitos aspectos da vida e da Psicologia, agradeo assugestes e incentivos, especialmente no incio deste trabalho, e as muitas horas dediscusses edificantes.

    Ao Prof. Antonio Marcos Chaves, chefe do departamento de Psicologia daUFBA, que sempre se interessou em oferecer condies para que eu pudesse realizar

    este trabalho.Ao meu querido irmo Elmo, quase pai, e a sua maravilhosa famlia que me

    receberam em sua casa com todo amor e carinho me oferecendo todo conforto eaconchego durante esses tantos anos de vindas a So Paulo. A vocs, Mari, D.

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    Aos meus queridos estagirios participantes deste trabalho, hoje meus colegasde profisso, agradeo terem sido to dceis no aprendizado. Eu me orgulho devocs.

    Roberta da Mata, aluna dedicada, que se prontificou a colaborar naelaborao inicial das figuras deste trabalho. Quanto trabalho!

    Profa., recm-doutora, Cynthia Moura, querida amiga de Londrina, que se

    disps a ler trechos deste trabalho, mesmo que incompletos, agradeo as dicas preciosas.

    Aos colegas que freqentaram e que freqentam as salas da Vivi e da Soniana USP, agradeo a diviso do espao e a ateno dada, especialmente Mrcia e Rebeca no incio desta jornada e ao Rodrigo, Marina e Esther agora no final,sempre me socorrendo nos meus apertos com o computador.

    s secretrias do PSC Arlete, Cludia e Ccera e tambm Clarice quesempre me atenderam com toda delicadeza, me informando e facilitando minhaestada nas dependncias do Departamento de Psicologia Clnica da USP.

    Aos meus pais, Elza (em memria) e Moiss por terem me educado sob os princpios cristos que enfatizam o amor.

    Nara e Val que cuidaram to bem da minha casa nos muitos perodos emquem estive fora.

    Aos meus queridos filhos Rafa e Leo, que souberam compreender minhaausncia assumindo responsabilidades e me tranqilizando quando eu me preocupava. Foram anos de muita aprendizagem para todos ns. Obrigada pela forae pelo carinho.

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    RESUMO

    ULIAN, A. L. A. O. Uma sistematizao da prtica do terapeuta analtico-comportamental: subsdios para a formao. 2007. 240 f. Tese (Doutorado) -Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007.

    A anlise funcional tem sido considerada o instrumento bsico do analista decomportamento. Entretanto, a literatura denuncia a escassez de pesquisas sobre o

    processo de desenvolver e usar a anlise funcional em clnica dificultando a tarefados supervisores de estgio ao ensinar seus alunos a se tornarem terapeutas, justamente por no terem disponveis os mtodos que eles usam e como determinamem que ordem us-los. Com o objetivo de preencher essa lacuna foi feito umlevantamento dos relatos de casos publicados pelos terapeutas analtico-comportamentais para identificar o que fazem quando atendem seus clientes. Pareceque o consenso entre eles que sua atividade bsica a anlise funcional, emborahaja muitas controvrsias sobre tal termo, que discutido neste trabalho concluindo-se por sua substituio pelo termo anlise de contingncias. Com base nolevantamento feito, elaborou-se um programa de ensino dessa prtica, do qual participaram oito estagirios que foram treinados a elaborar anlises decontingncias. O programa foi constitudo de trs mdulos: reviso de princpios bsicos do Behaviorismo Radical, elaborao de anlises por escrito de casosrelatados na literatura, de acordo com critrios elaborados por Sturmey (1996) eanlise de pelo menos um caso atendido pelo terapeuta estagirio que foi gravado em

    vdeo e assistido pela supervisora e pelos colegas. Os procedimentos utilizados forammodelagem (reforamento diferencial logo aps a elaborao das anlises por escritoe das sesses de atendimento) e modelao (observao das sesses de atendimentosdos colegas e da supervisora, observao do prprio comportamento de atender ocliente pela fita de vdeo e vivncia da prpria anlise do seu comportamento deanalista durante as sesses de superviso). Os resultados demonstraram a eficcia do programa pela diferena significativa das notas dadas s anlises por escrito antes edepois do treino. Para avaliar a efetividade do programa, as sesses de quatro dosoito participantes foram novamente observadas e as aes ao vivo durante o processoda anlise de contingncias puderam ser categorizadas. Foi possvel definir trezecategorias de falas dos terapeutas e analisar as porcentagens de freqncias delas,descrevendo os comportamentos dos terapeutas quando atendiam seus clientes,culminando numa proposta de sistematizao da tarefa do terapeuta analtico-comportamental que poder ser usada como um dos critrios orientadores para a

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    ABSTRACT

    ULIAN, A. L. A. O.An analytical-behavioral therapist practice systematization:subsidies for formation. 2007. 240 f . Thesis (Doctoral) - Instituto de Psicologia,Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007.

    Functional analysis has been considered the behavioral analysts basic instrument.However, the literature denounces the shortage of researches on the process ofdeveloping and using functional analysis in clinics, which makes the task of professional training supervisors more difficult as they teach their students to becometherapists, exactly because the methods which they use are not available, neither howthey determine in what order these methods are used. To fulfilling this gap a searchin literature was performed to identify by case reports what the analytical-behavioraltherapist does when he is in attendance of his clients. It seems that there is aconsensus among them considering functional analysis their basic activity, althoughthere are many controversies about such terminology, which is discussed in this

    paper, leading to its substitution to contingency analysis term. Based on this research,a program for the teaching of this practice was conceived, in which eight traineeswere taught to elaborate contingency analysis. The program had three modules:revision of basic principles of Radical Behaviorism, written analysis of cases foundin the literature according to Sturmeys criteria (1966), and analysis of at least onecase treated by the trainee therapist, which was recorded in video and observed bythe professional supervisor and other trainees. The teaching used procedures wereshaping (differential reinforcement right after written analysis as well astherapeutical sessions), and modelling (observation of therapeutical sessions performed by his peers and his supervisor, observation of his own behavior insession by watching the videotape, and his own experience in analyzing his own behavior as an analyst during supervision sessions). The results show the efficacy ofthe program by the significant difference of the grades given for the written analysis before and after training. To assess the effectiveness of the program, the sessions offour out of the eight participants were again observed and their actual actions during

    the process of contingency analysis could be categorized. It was possible to definethirteen therapists talk categories, whose frequency percentages demonstratedtrainees behavior when attended their clients, what led to a proposal for thesystematization of the analytical-behavioral therapists task, which could be used asone of the orientation criteria for professional formation.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Distribuio das notas individuais e de suas medianas entre a1 e a 2 avaliao.

    100

    Figura 2 Distribuio das notas individuais e de suas medianas entre a1 e a 3 avaliao.

    101

    Figura 3 Curvas de aprendizagem dos terapeutas-estagirios 1 e 2quanto elaborao de anlises funcionais por escrito nas trsavaliaes do curso.

    102

    Figura 4. Mdia das notas atribudas s anlises elaboradas pelos trsgrupos de terapeutas-estagirios da mesma clnica-escola.

    104

    Figura 5 Porcentagens de categorias de falas de cada terapeuta-estagirio (AS1, YS1, CS2 e RC2) nas oito sesses deatendimento e a mediana das porcentagens de categorias defalas dos quatro terapeutas-estagirios.

    119

    Figura 6 Porcentagens de categorias de falas de cada terapeuta-

    estagirio por etapas do atendimento e a mediana das porcentagens de categorias de falas dos quatro terapeutas-estagirios nas mesmas etapas.

    133

    Figura 7 Porcentagens de categorias de falas da subcategoria 13 paracada terapeuta-estagirio e a mediana das porcentagens dessascategorias de falas para os quatro terapeutas-estagirios.

    135

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Distribuio dos estagirios por grupo e nvel a que pertencem92

    Tabela 2 Notas atribudas s anlises dos terapeutas-estagirios nas trsavaliaes realizadas

    99

    Tabela 3 Notas atribudas s anlises dos casos atendidos porterapeutas-estagirios de grupos diferentes de superviso.Grupo AC (Anlise de Contingncias), Grupo CC (ClnicaComportamental) e Grupo CP (Clnica Psicanaltica).

    103

    Tabela 4 As duas categorias mais freqentes em cada sesso para cadaterapeuta- estagirio

    130

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro I Quadro I. Objetivos que definem o processo de atendimentoclnico analtico-comportamental.

    62

    Quadro II Lista das categorias para sistematizao da prtica do terapeutaanaltico-comportamental

    106

    Quadro III Comparao dos objetivos comportamentais do Quadro I com ascategorias definidas para sistematizao da prtica do terapeutaanaltico-comportamental.

    117

    Quadro IV Trecho da 5 sesso do terapeuta estagirio RC2 para ilustrar a

    categoria 7 (induzir o cliente a relacionar eventos). Os nmerosentre parntesis, em negrito, correspondem categoria indicada para aquela fala.

    123

    Quadro V Trecho da 7 sesso do terapeuta-estagirio CS2 para ilustrar acategoria 6 (induzir o cliente a relacionar eventos). Os nmerosentre parntesis, em negrito, correspondem categoria indicada

    para aquela fala.

    124

    Quadro VI Trecho da 5 sesso do terapeuta estagirio RC2 para ilustrar acategoria 7 (induzir o cliente a relacionar eventos). Os nmerosentre parntesis, em negrito, correspondem categoria indicada para aquela fala.

    125

    Quadro VII Trecho da 8 sesso do terapeuta estagirio CS2 para ilustrar acategoria 9 (propor ou induzir o cliente a alternativas de ao).Os nmeros entre parntesis, em negrito, correspondem categoria indicada para aquela fala.

    127

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    LISTA DE ANEXOS

    Anexo 1 Resumo das definies, comentrios e pontuao para cada um dos10 critrios para escrever uma anlise funcional propostos porSturmey (1996)

    162

    Anexo 2 Relato de caso adaptado (parte 1 e parte 2) para treino no MduloII

    164

    Anexo 3 Termo de consentimento livre e esclarecido do terapeuta estagirio171

    Anexo 4 Termo de consentimento livre e esclarecido do cliente 173

    Anexo 5 Ficha semestral de acompanhamento clnico 175

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    LISTA DE APNDICES

    Apndice 1 Programa da disciplina 178

    Apndice 2 Critrios de Sturmey (1996) redefinidos e pontuados 185

    Apndice 3 Relato de caso teste para as trs avaliaes 189

    Apndice 4 Instrues para elaborar relato cursivo e anlise aps a sessoteraputica

    194

    Apndice 5 Protocolos de registro das categorias de falas de cada terapeuta196

    Apndice 6 Avaliao do Mdulo I e exemplo de resposta 201

    Apndice 7 Exemplos de anlises de contingncias elaboradas para as trsavaliaes da disciplina (a maior e a menor nota de cada umadas avaliaes)

    206

    Apndice 8 Exemplos de anlises elaboradas pelos estagirios dos gruposAC, CC e CP (a maior e a menor nota de cada grupo)

    213

    Apndice 9 Exemplo de microanlise de contingncias elaborada durante otreinamento

    221

    Apndice 10 Resumo das treze categorias de falas que definem a prtica doterapeuta analtico-comportamental

    225

    227

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    SUMRIO

    APRESENTAO .................................................................................171 INTRODUO ...................................................................................... 211.1 Anlise funcional: conceito e evoluo do termo ................................. 21

    Origem: relao com as cincias naturais..........................................21 A anlise funcional deve ser experimental?.......................................25 A diversidade de termos em anlise funcional...................................35 Alguns modelos: o que fazem os analistas de comportamento

    quando dizem que fazem anlise funcional? ........................................44

    Anlise funcional ou anlise de contingncias? ...............................63

    Anlise de contingncias molar ou molecular? .................................651.2. A formao do terapeuta analtico-comportamental .......................... 71

    Habilidades necessrias.......................................................................74 Formao terico-filosfica................................................................76 Formao prtica.................................................................................77

    Superviso............................................................................................791.3. Problema e objetivos da pesquisa ......................................................... 822. MTODO ................................................................................................842.1 A elaborao do programa de ensino de anlise de contingncias ..... 84

    Adaptao dos casos clnicos analisados pelos alunos.......................84

    2.2 Interveno ..............................................................................................85 Participantes ........................................................................................85Situao................................................................................................86 Procedimento........................................................................................87

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    3 RESULTADOS .......................................................................................963.1 Avaliao de princpios bsicos e pressupostos filosficos ................. 963.2 Avaliao da eficcia do programa .......................................................973.3 Avaliao da efetividade do programa .................................................1043.4 Categorias para sistematizao da prtica do terapeuta analtico-

    comportamental ..................................................................................... 1053.5 Meta-anlises: anlises dos comportamentos dos terapeutas-

    estagirios enquanto fazem as anlises dos comportamentos dosclientes ..................................................................................................... 1183.6 Etapas do atendimento teraputico analtico-comportamental: a

    metfora do quebra-cabea ...................................................................1304 DISCUSSO ...........................................................................................1385 CONCLUSO .........................................................................................151

    REFERNCIAS ..................................................................................... 153ANEXOS ................................................................................................. 161APNDICES ...........................................................................................177

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    APRESENTAO

    A proposta de ensino da anlise de contingncias na formao do terapeuta

    analtico-comportamental apresentada neste trabalho reflete minha preocupao com

    o tema h mais de 10 anos quando comecei a supervisionar estagirios na

    Universidade Federal da Bahia. Ns, supervisores, enfrentamos uma grande

    dificuldade ao ensinar os estagirios a se tornarem terapeutas. Para o sucesso de tal

    tarefa seriam de grande contribuio, esforos prvios no sentido de se elaborar e

    disponibilizar critrios orientadores da prtica de ensino, desde sua programao, que

    inclussem indicadores do que significa ser um terapeuta; isto , quais so de fato

    suas tarefas, o que deve saber teoricamente, para o que deve atentar, como tomar

    decises, enfim, uma descrio dos comportamentos essenciais para se considerar

    um psiclogo clnico como um terapeuta analtico-comportamental.

    Embora existam, na literatura, muitas opinies de como deve ser esseterapeuta, no h consenso sobre tal atividade (Guilhardi, 1987; Rang, Guilhardi,

    Kerbauy, Falcone & Ingberman, 1995)1. Supostamente, uma soluo para tal

    dificuldade poderia ser obtida pela observao direta do que fazem os terapeutas

    analtico-comportamentais, tidos como bem sucedidos, isto , aqueles cujos clientes

    ficam satisfeitos por atingir seus objetivos teraputicos desenvolvendo mudanas de

    comportamento que produzem seu bem estar. Dessa forma, possivelmente, seriam

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    bastante freqentes na literatura. Embora existam muitas idias e ideais

    diversificados a respeito de como deve ser um terapeuta comportamental (Zaro,Barach, Nedelman & Dreibatt, 1977/1980; Rang et al., 1995; Silvares & Gongora,

    1998; Meyer & Vermes, 2001) parece que h um ponto de convergncia: todos

    concordam que, basicamente, ele deve fazer a anlise funcional do comportamento

    do cliente (Meyer, 1998; Banaco, 1999).

    Mas, o que fazer anlise funcional? H muitas controvrsias a respeito de

    como deve ser feita e de sua utilidade (Sturmey, 1996). Seria um instrumento de

    avaliao e tambm de interveno? Em que nvel deveria ser feita, molar ou

    molecular? Seria possvel defender que tais caractersticas no so excludentes, mas

    ao contrrio, so complementares e acontecem de forma dinmica durante o processo

    teraputico, sem dicotomias?

    Alm dessas questes, preocupa-me a formao cientfica do terapeuta, a

    maneira como v o mundo, como investiga os acontecimentos, como, enfim, explica

    o comportamento. Recorri ento minha prpria formao, na Universidade

    Estadual de Londrina, onde conheci o chamado Mtodo Terico Informal (Bachrach,

    1965/1972), uma forma de investigar que comea pela observao de um

    acontecimento, considerando o contexto em que ocorre, levanta micro-hipteses

    (palpites provisrios) que podem ser testadas de forma experimental ou quase

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    foi, justamente, o de fazer uma descrio dessa atividade, medida que ela ia sendo

    cumprida pelo terapeuta-estagirio, no processo de atendimento clnico, segundominha orientao como supervisora, sempre baseada na literatura pertinente.

    Dessa forma, os comportamentos do terapeuta-estagirio inevitavelmente

    apareceram possibilitando a observao da anlise de contingncias que ele fazia do

    comportamento do seu cliente e a realizao da anlise do seu prprio

    comportamento pela supervisora, culminando em uma proposta de sistematizao da

    prtica do terapeuta analtico-comportamental.

    Esta pesquisa abordou, ento, a descrio do procedimento e do processo de

    anlise funcional, isto , o treinamento dessa habilidade baseado em aes descritas

    por analistas de comportamento na literatura constituiu o procedimento, enquanto a

    observao do desenvolvimento dessa habilidade identificando aes ao vivo

    constituiu o processo. Investigar se uma seqncia de passos proposta para realizao

    de uma anlise funcional seria eficaz para a aprendizagem desta tcnica parecia

    bastante prprio rea, e isto que estou denominando como procedimento de

    anlise funcional. Por outro lado, no encontrei na literatura um trabalho semelhante

    no sentido de se proceder uma anlise funcional justamente da tarefa de se analisar

    funcionalmente o comportamento do cliente, o que estou chamando de processo de

    anlise funcional.

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    como de avaliao, mas tambm como de interveno, uma vez que o cliente pode

    ser ensinado a realizar uma anlise funcional do seu prprio comportamento como parte de seu tratamento, facilitando sua autonomia na resoluo de seus problemas;

    (2) aprofundando o entendimento da questo controversa a respeito da molaridade ou

    molecularidade da anlise, e suas implicaes para a atuao prtica do terapeuta.

    Os recursos para definio de anlise funcional e procedimentos utilizados

    nesta investigao, foram aqueles disponveis na literatura. A metodologia de

    interveno, no programa de ensino, envolveu procedimentos derivados da Anlise

    do Comportamento como reforamento diferencial, modelagem, treino

    discriminativo, modelao e ensaios comportamentais para o treinamento da

    habilidade proposta formao dos terapeutas, em situaes de observao direta

    dos comportamentos dos terapeutas-estagirios e dos clientes.

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    A prtica do terapeuta analtico-comportamental est baseada no Behaviorismo

    Radical (Neno, 2003; Costa, 2002; Cavalcante, 1999) que adota a anlise funcionalcomo a forma para explicar a razo pela qual os organismos se comportam (Skinner,

    1953/1978). A primeira parte desta introduo pretende conceituar anlise funcional,

    descrever a evoluo do termo, substituindo-o por anlise de contingncias como mais

    adequado tarefa do analista de comportamento, especialmente o terapeuta analtico-

    comportamental. A segunda parte faz um levantamento das sugestes encontradas na

    literatura para a formao desse terapeuta. Com base nesse referencial terico e nas

    propostas j disponveis na literatura, a seo seguinte situa o problema de pesquisa e os

    objetivos do presente trabalho, voltados para uma proposta de sistematizao do

    trabalho do supervisor na preparao de terapeutas analtico-comportamentais.

    1.1 Anlise funcional: conceito e evoluo do termo

    Origem: relao com as cincias naturais

    Skinner (1990), na sua ltima publicao, apresenta uma espcie de resumo de

    sua proposta de uma grande linha de pesquisa, cujo objetivo descobrir leis gerais do

    comportamento. Ele prope que a tarefa do conhecimento sobre o comportamento

    humano seja dividida entre quatro cincias. Uma delas, a Fisiologia, seria responsvel

    por explicarcomofuncionam os organismos. As outras trs se responsabilizariam pela

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    processos do condicionamento operante, pela seleo das conseqncias do

    comportamento no meio ambiente (aspectos ontogenticos).Skinner (1990) continua sua argumentao dizendo que essas trs ltimas

    cincias dariam conta da explicao do comportamento como um todo, pois o mesmo

    produto desses trs tipos de seleo. Mas, apenas a Anlise do Comportamento poderia

    ser usada com objetivos prticos para a vida diria, pois estuda o comportamento do

    indivduo cujo perodo de vida pode ser acompanhado do comeo ao fim. A Etologia,

    por sua vez, precisaria, para tanto, reconstruir a evoluo da espcie, a partir de

    evidncias que sobreviveram com o tempo. J a Antropologia precisaria, nesse mesmo

    sentido, esperar pela evoluo de uma cultura - o que demandaria muitas geraes de

    vidas humanas.

    A Anlise do Comportamento teve sua origem por volta de 1940, a partir de uma

    postura em filosofia da cincia chamada Behaviorismo Radical (Skinner, 1974/1982),

    adotando os pressupostos das Cincias Naturais e buscando atingir os mesmos

    objetivos: descrio, explicao, predio e controle do seu objeto de estudo. A tarefa

    bsica dessa disciplina descobrir leis gerais sobre os processos comportamentais que

    operam no organismo individual. Isso possvel por meio de pesquisas que envolvem

    tanto a investigao experimental dos processos bsicos quanto a pesquisa emprica

    aplicada, chamada Anlise Aplicada do Comportamento. De acordo com Poling, Methot

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    A primeira caracterstica, citada acima, corresponde ao chamado Mtodo

    Terico-Informal, descrito por Bachrach (1965/1972), que defende serem os dados eno as hipteses que constituem o contedo de uma cincia, conceito este baseado em

    Skinner, 1953/1978: Os fatos permanecem, mas as expectativas perecem. Os dados,

    no os cientistas, falam mais alto (p. 25). Procura-se evitar, assim, o perigo do mtodo

    terico formal, isto , que a teoria se cristalize e comece a determinar a pesquisa em vez

    de integrar seus dados.

    A segunda e a terceira caractersticas, citadas por Poling et al. (1995),

    evidenciam que a proposta desse tipo de pesquisa o entendimento do organismo

    individual, e no testar resultados de grandes amostras onde a estatstica til e

    necessria. O programa de trabalho da Anlise do Comportamento consiste numa srie

    de descries qualitativas e quantitativas que analisam a interdependncia dos conjuntos

    de variveis do ambiente e do organismo, reconhecendo-se que estes conjuntos de

    variveis se apresentam diferentemente de indivduo para indivduo - a Anlise do

    Comportamento estuda, portanto, organismos individuais (Matos, 1995).

    Por fim, a quarta caracterstica diz respeito s causas do comportamento,

    defendendo que o comportamento no reflexo de nenhum processo subjacente. Nesse

    sentido escreve Skinner (1953/1978, p.25): Requer um considervel treino, evitar

    concluses prematuras, deixar de fazer afirmaes onde as provas sejam insuficientes e

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    semelhante, quando ocasies semelhantes quelas que acompanharam tais

    conseqncias voltarem a ocorrer. Verificar empiricamente estas relaes, entreantecedentes e conseqentes s respostas de um organismo, fazer Anlise Funcional,

    em termos de contingncias. (Skinner, 1953/1978; Skinner, 1969).

    Conclui-se, ento, que uma relao funcional aquela que descreve a

    dependncia entre eventos diferentes ocorrendo ao mesmo tempo e em uma certa

    ordem. Buscar as relaes funcionais entre os eventos da natureza uma atitude prpria

    do cientista, mas que toda pessoa poderia desenvolver. Considerar as causas dos eventos

    como variveis ambientais passveis de manipulao e identificar a funo que uns

    exercem sobre outros fazer anlise funcional (Skinner, 1953/1978). Atravs dela,

    possvel identificar as causas mais provveis dos comportamentos, explicando porque

    ocorrem e porque se mantm.

    O grau de conhecimento das bases filosficas, tericas, metodolgicas e

    tecnolgicas dessa cincia (Meyer, 1995) certamente influencia a ao do profissional.

    Segundo Skinner (1953/1978, p. 23), as prticas devem representar uma posio

    terica bem definida..., as teorias afetam a prtica. Confuso na teoria significa

    confuso na prtica. A importncia de uma formao terica slida do analista de

    comportamento defendida por muitos autores da rea que julgam ser esta tambm uma

    forma de preencher o hiato, to difundido na literatura, entre o pesquisador e o prtico.

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    A anlise funcional deve ser experimental?

    Em decorrncia do que foi considerado acima, a identificao da funo de umcomportamento exigiria, a rigor, um teste experimental. Em uma anlise funcional, uma

    causa substituda por uma mudana na varivel independente (algum aspecto do

    ambiente) e um efeito deve ser substitudo por uma mudana na varivel dependente

    (resposta de um indivduo). Nessa anlise, a pergunta que se faz : um organismo est

    respondendo a qu (varivel independente - VI), quando se comporta de determinada

    maneira (varivel dependente - VD)? (Matos, 1999). A melhor resposta para esta

    questo, do ponto de vista da Anlise do Comportamento, no pode ser uma

    especulao. necessrio que se teste a influncia da VI sobre a VD para que um

    procedimento seja proposto com segurana.

    A Psicologia como cincia, usando o mtodo experimental, originou-se no final

    do sculo XIX com estudos de sujeito nico ou de poucos sujeitos, como relata Kazdin

    (1982) numa breve histria sobre esse tema reportando-se a Wundt, Ebbinghaus, Pavlov

    e Thorndike, o que permitiu que a psicologia entrasse para o rol das cincias naturais.

    Entretanto, por volta de 1930, os mtodos de pesquisa com grandes amostras, grupos de

    controle e anlise estatstica apresentavam regras bsicas que tornavam os resultados

    das pesquisas mais claros, e dessa forma o delineamento de comparao de grupos

    tornou-se o paradigma para a pesquisa psicolgica. Mas essa orientao nomottica

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    indivduo, o que ele chamava de abordagem idiogrfica, como um suplemento para o

    estudo de grupo, dando origem preocupao do controle experimental no estudo decaso nico.

    Nesse sentido, o delineamento experimental de caso nico (A-B-A),

    desenvolvido por Skinner para um programa de pesquisa em laboratrio animal, tendo

    sido estendido ao comportamento humano pela Anlise Aplicada do Comportamento,

    parecia ser um mtodo que poderia ajudar na avaliao dos resultados dos tratamentos

    utilizados, j que se fazia necessrio sistematizar uma prtica que no tinha um

    delineamento de controle definido, sem possibilidade de demonstrao de sua eficcia,

    nem de sua efetividade.

    A propsito, Chorpita (2003) comenta que a Associao Americana de

    Psicologia realizou um importante trabalho em 1995 com o objetivo de desenvolver

    recomendaes para um guia de prtica baseada em evidncia. Esse guia dava nfase a

    duas dimenses:eficcia (isto , como um tratamento produz mudanas numa

    sndrome-alvo, em pesquisa) eefetividade (isto , como se espera que uma interveno

    seja executada numa situao do mundo real). Mas como o termo prtica baseada em

    evidncia ainda no tinha sido bem compreendido, Chorpita (2003) sugeriu que a base

    da evidncia deveria advir de quatro tipos de pesquisa, sendo uma de eficcia e trs de

    efetividade, de acordo com o grau de controle sobre as variveis envolvidas:

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    final do experimento possa se dizer algo como: estudos mostram que o treinamento de

    pais eficaz para jovens opositores.Tipo II Pesquisa de Transportabilidade a que perde um pouco de controle sobre as

    variveis, pois considerando o exemplo acima, no se exigiria, por exemplo, que a

    classe social das famlias fosse a mesma, ou alguma outra varivel que pudesse

    influenciar o procedimento, transportando o trabalho para mais perto do mundo real,mas continuaria o controle sobre os terapeutas e supervisores e ao final desse tipo de

    pesquisa se poderia dizer: o treinamento de pais um procedimento promissor para

    jovens opositores no mundo real.

    Tipo III Pesquisa de Disseminao aquela em que o controle se mantm sobre uma

    ou poucas variveis. No exemplo dado, o controle permaneceria apenas sobre os

    supervisores aproximando a pesquisa mais ainda do mundo real. E nesse caso se diria:

    o treinamento de pais feito por terapeutas da prpria escola um procedimento

    promissor para jovens opositores no mundo real.

    Tipo IV Pesquisa de Avaliao Sistmica aquela em que o investigador observa o

    que acontece no mundo real sem qualquer controle ou interferncia, isto , no exemplo

    acima, observa se o procedimento de treinamento de pais tem efeito sem o controle

    sobre as famlias, terapeutas e supervisores. Se nesse nvel, ainda se puder dizer que o

    procedimento promissor para o controle de comportamento de jovens opositores,

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    experimental, obedecendo aos critrios de controle e manipulao de variveis, o que

    traria para a Psicologia Clnica segurana em relao aos procedimentos utilizados.Dessa forma, especialmente em Terapia Comportamental, a anlise funcional

    passou a ser amplamente aceita, em substituio a sistemas tradicionais de diagnstico

    mdico-psiquitrico, meramente descritivos (Garceln & Hidalgo, 1996). Mas foram

    poucos os pesquisadores que de fato apresentavam uma verificao dos fatores causaisantes do tratamento, conforme demonstrou Haynes (como citado em Nelson, 1988)

    numa reviso de 41 estudos de caso publicados em revistas comportamentais no ano de

    1981, onde apenas 35% eram de anlise funcional experimental. Mesmo assim, vrios

    autores continuaram defendendo que o termo anlise funcional deveria se restringir

    manipulao experimental de variveis para demonstrao de relaes causais entre elas

    (Iwata, Vollmer & Zarrone, 1990; Carr, Langdon & Yarbrough, 2000).

    Essa insistncia podia continuar demonstrando a eficcia da anlise funcional,

    mas podia tambm demonstrar sua pouca eficincia2, pois, segundo Godoy (1991), seu

    custo acabava sendo muito alto para o benefcio alcanado, j que muitas vezes as

    causas constatadas por uma anlise funcional experimental eram as mesmas

    hipotetizadas anteriormente manipulao. Esta razo, somada falta de regras precisas

    para as diversas etapas da interveno, no havendo consenso sobre o que levar em

    conta para a avaliao, pode ter motivado os terapeutas comportamentais a voltarem a

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    Alm disso, o delineamento A-B-A tambm no foi a soluo para a pesquisa

    em Psicologia Clnica, porque consideraes ticas importantes vieram tona. Em taldelineamento, tambm conhecido como do tipo sujeito como seu prprio controle

    toma-se uma linha de base do comportamento-problema apresentado, aplica-se um

    procedimento (tratamento) e, depois, retira-se esse tratamento, voltando-se, assim, s

    condies da linha de base. Se o efeito sobre o comportamento desaparece e este retornaaos nveis da condio de linha de base, ento, conclui-se que no h interferncia de

    nenhuma varivel estranha no processo. O controle sobre a varivel independente (VI)

    indicado justamente por esse procedimento de reverso. Mas, como retirar um

    procedimento (um tratamento que foi aplicado a um cliente, por exemplo) para garantir

    que a manipulao envolvida foi deveras responsvel por uma melhora observada? As

    limitaes ticas de tal conduta investigativa so evidentes, pois, na prtica, mais

    importante que a pesquisa o prprio bem-estar do cliente.

    Apesar das habilidades do cientista serem essenciais para a formao do

    terapeuta, que deve estar sempre preocupado com a validao de seus procedimentos,

    necessrio estar alerta, no sentido de que a Cincia deve servir ao homem e no

    subjug-lo. Ainda que, eventualmente, a reverso pudesse ser realizada em situao

    clnica, permaneceria uma dificuldade: as condies que determinaram o

    comportamento muitas vezes so irreversveis. Por exemplo, uma vez tendo aprendido a

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    caso nico e considerados quase-experimentais (Campbell & Stanley, 1973), pois

    tomam uma medida do comportamento em questo, antes do tratamento, outra (ou

    outras) depois, mas no fazem reverso.

    No delineamento de linha de base mltipla, por exemplo, algumas respostas

    (pessoas ou situaes comparveis) so identificadas e as medidas adequadas so

    tomadas por um determinado tempo, produzindo-se linhas de base. Introduz-se, ento,uma varivel independente sobre uma das respostas (pessoas ou situaes) e se observa

    qual e quanto de mudana foi produzida nela e nas demais. Quando esta resposta

    (pessoa ou situao) apresentar estabilidade, introduz-se a VI prxima resposta

    (pessoa ou situao) e observa-se a respectiva mudana, mantendo-se o procedimento

    em seqncia, at que a VI tenha sido aplicada a todos os eventos selecionados (Hersen

    & Barlow, 1984).

    Outro exemplo o delineamento de critrio mvel, onde uma medida do

    comportamento em questo tomada como uma linha de base e, a partir dela,

    observam-se as mudanas do comportamento, com a introduo de exigncias

    (mudana de critrio de desempenho) cada vez mais prximas de um comportamento

    final desejado (Poling et al., 1995).

    H ainda o delineamento conhecido como estudo de caso tipo A-B, que ficou

    sendo o mais usado em clnica, conforme pode ser constatado por um estudo percentual

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    Nos estudos de caso tipo A-B, A representa a fase de observao e medida do

    comportamento, sem nenhuma interveno, e B a fase de tratamento. Tem-se, assim,

    um ponto de referncia (fase A), a partir do qual o efeito da varivel tratamento pode ser

    avaliado (fase B), o que permite alguma possibilidade de relacionar o procedimento

    utilizado com as mudanas comportamentais.

    Entretanto, como o controle sobre a VI (tratamento utilizado) no estudo de casotipo A-B precrio, possvel que se levantem suspeitas sobre variveis estranhas que

    podem interferir no processo, ameaando assim a validade interna do estudo. Validade

    interna, segundo Kazdin (1993), resume-se pela pergunta: at onde a interveno (e no

    influncias estranhas) pode ser considerada explicativa dos resultados? Kazdin (1982 e

    1993) fez um levantamento de tais variveis que poderiam influenciar os resultados de

    um procedimento s quais ele chamou de ameaas validade interna, das quais esto

    reproduzidas abaixo apenas as que dizem respeito a delineamentos de caso nico:

    1. Histria: a varivel histria refere-se a qualquer evento (diferente da

    interveno) que ocorra ao mesmo tempo em que ela, e que possa influenciar os

    resultados ou possa justificar o padro de dados que, de outro modo, seria

    atribudo interveno. Eventos histricos podem incluir: crise em famlia,

    mudana de emprego, de professor ou de companheiro, perda de poder ou

    qualquer outro evento.

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    4. Instrumentao: qualquer mudana que ocorra no instrumento de medida ou no

    procedimento de avaliao ao longo do tempo. Tais mudanas podem resultar do

    uso de observadores humanos cujos julgamentos acerca do cliente ou critrio

    para computar um comportamento podem mudar ao longo do tempo;

    5. Regresso estatstica: qualquer mudana de uma ocasio de avaliao para outra

    que possa ser devida reverso dos escores em direo mdia. Se os clientesobtm escores muito elevados em uma ocasio, seus escores podem mudar em

    direo mdia numa segunda testagem.

    Com o objetivo de avaliar a influncia dessas ameaas validade interna num

    estudo de caso, Kazdin (1982 e 1993) elaborou um processo decisrio pelo qual

    classifica os estudos de caso em tipos I, II ou III, de acordo com as possibilidades que

    apresentam de eliminao dessas cinco ameaas.

    As caractersticas presentes ou ausentes nos casos apresentadas por Kazdin

    (1982 e 1993) podem ser transformadas em perguntas que o clnico deve fazer ao

    examinar os dados que foram produzidos com sua prtica. As perguntas seriam as

    seguintes: (1) Os dados so objetivos? (2) Houve avaliao contnua das respostas, isto

    , h medidas repetidas? (3) Os efeitos da interveno so imediatos e acentuados? (4)

    possvel observar estabilidade do problema apresentado? (5) H mltiplos casos?

    Se apenas a primeira questo for respondida positivamente, o estudo de caso

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    caso poder ser classificado como Tipo II e as variveis estranhas relativas testagem,

    aos instrumentos usados e regresso estatstica podero ser afastadas, pois tendo

    avaliao contnua, medidas repetidas foram tomadas antes da interveno, e qualquer

    mudana devida forma de avaliao j seria observada antes da introduo do

    tratamento. E observando-se efeitos imediatos e acentuados quando a interveno

    iniciada, pode-se dizer com bastante segurana que tais efeitos foram devidos aotratamento.

    Entretanto, ainda podem restar dvidas sobre a validade interna do tratamento,

    pois efeitos da histria do cliente e da sua maturao s sero afastados se as questes

    sobre a estabilidade do problema e a ocorrncia de mais casos semelhantes puderem ser

    respondidas, mesmo que a questo sobre efeitos imediatos e acentuados no o for. Ento

    o caso ser classificado como do tipo III, se o clnico responder, neste exemplo, pelo

    menos s questes 1, 2, 4 e 5.

    Observar efeitos imediatos e acentuados permite afastar as variveis relativas

    histria e maturao, mas no completamente, pois alguns problemas mudam por si s

    (por exemplo, a instabilidade de humor no adolescente ou um caso de depresso

    bipolar) e assim, uma mudana drstica pode no ser devida ao tratamento. Outro

    argumento que algo inusitado e inesperado pode acontecer na vida do cliente (ganhar

    na loteria ou conseguir um emprego muito desejado) e ocasionar uma mudana abrupta

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    Se a pergunta sobre efeitos marcantes e imediatos no puder ser respondida, as

    variveis Histria e Maturao s sero totalmente afastadas se houver mltiplos casos,

    pois seria muito pouco provvel que em vrios casos houvesse um mesmo evento

    histrico relevante ou um processo de maturao comum a todos eles.

    Conclui-se ento, que os estudos de caso do tipo III so mais confiveis do que

    os do tipo II e estes mais confiveis que os do tipo I. Isto porque o nmero das ameaasque so possveis de se afastar est na dependncia de quais perguntas o clnico pode

    responder. Resumindo, se apenas a questo sobre dados objetivos antes e depois do

    procedimento puder ser respondida o caso do Tipo I, pois no afasta nenhuma das

    ameaas validade externa. Se pelo menos mais duas questes, alm da primeira,

    puderem ser respondidas, o caso do tipo II, pois algumas ameaas sero afastadas. E

    se, alm da primeira, pelo menos mais trs perguntas puderem ser respondidas, o caso

    do Tipo III, pois todas as ameaas sero afastadas.

    Considerando os argumentos apresentados nesta seo conclui-se ento, que o

    delineamento experimental, mesmo o desenho de sujeito nico tipo A-B-A e a anlise

    funcional experimental que ele pressupe, no se aplicam clinica, especialmente ao

    atendimento individualizado. Assim, o delineamento de estudo de caso tipo A-B com os

    cuidados apresentados por Kazdin (1982) o que ser adotado neste trabalho, pois ele

    parece ser a soluo para auxiliar o clnico, analista de comportamento, a ter algum

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    A diversidade de termos em anlise funcional

    Sturmey (1996) fez uma reviso seletiva de pesquisas desenvolvidas de 1981 a

    1996, sobre o uso da anlise funcional, em diversas reas da Psicologia, constatando

    que os termos usados nesse assunto no so uniformes. H definies totalmente

    diferentes para um mesmo termo e diferentes termos para um mesmo conceito. Ele

    identifica, pelo menos, sete conotaes para o termoanlise funcional, queapareceram ao longo do tempo, tendo como ponto de partida a proposta original de

    Skinner descrita acima.

    Segundo Sturmey (1996), alm da Anlise Funcional Experimental, j

    comentada na seo anterior, existe tambm a Anlise Funcional Comportamental, que

    descreve contingncias que esto em operao, sem nenhum teste experimental que

    indique quais variveis envolvidas sejam realmente aquelas cuja resposta descrita

    parece ser funo. A validade deste tipo de anlise , em geral, estabelecida

    indiretamente, atravs dos resultados do tratamento. Estes dois tipos de anlise

    funcional so tambm considerados por Nelson (1988) e identificados, respectivamente,

    como Anlise Funcional Verificada e Anlise Funcional Hipotetizada.

    Outros dois tipos de anlise funcional, citados por Sturmey (1996), dizem

    respeito a diferentes atividades desenvolvidas por analistas de comportamento. Um

    deles pode ser apenas um mtodo genrico de formulao de caso que busca variveis

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    portanto, seria mais probabilista do que determinista. Tambm seria no-exclusiva, isto

    , a relao entre duas variveis no exclui a relao entre essas e outras variveis.

    Sobre essa relao entre variveis, Skinner (1953/1978), j levantava a

    importncia dessa interao descrevendo as vrias formas de combinao de variveis

    na determinao mltipla de comportamentos o que corrobora a natureza dinmica

    desse tipo descritivo de anlise funcional que pode variar com o tempo. Por exemplo, asvariveis relacionadas com o aparecimento de um problema podem no ser as mesmas

    do seu desenvolvimento ou manuteno (Haynes & OBrien, 1990). Evidncias

    empricas para um comportamento podem ser observadas num momento e, algum

    tempo depois, com a mudana das contingncias, tudo pode mudar. Neste caso, a

    anlise funcional no procura descrever todas as relaes entre as variveis relevantes.

    Aquelas sem maior importncia e que no podem ser modificadas so excludas, para

    simplificar o quadro e para identificar as variveis que podem ser modificadas durante o

    tratamento. Portanto, a anlise funcional pode ser considerada como uma forma

    idiogrfica de avaliao orientada para desenvolver um tratamento individual sob

    medida (Gresswell & Hollin, 1992).

    Mais dois outros tipos de anlise funcional, identificados por Sturmey (1996),

    esto relacionados a diferentes concepes tericas. A Anlise Funcional Ecltica

    explica o comportamento como funo de variveis cognitivo-comportamentais,

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    Por fim, o ltimo tipo de anlise funcional identificado por Sturmey (1996)

    aquele que pode ser considerado o prprio tratamento. Durante o processo teraputico,

    ensina-se o cliente a identificar e modificar os antecedentes do seu comportamento e

    praticar estratgias alternativas. Assim, trabalha-se com o cliente, no sentido de

    desenvolver uma anlise funcional de seu prprio comportamento e de ajud-lo a usar a

    anlise funcional para modificar esse comportamento. Segundo Sturmey (1996), esteuso da anlise funcional, como parte do tratamento, tem sido negligenciado e no se

    sabe quo importante pode ser esse tipo de viso na determinao do resultado do

    tratamento.

    Ideologicamente, parece desejvel que o cliente participe tanto quanto possvel

    do seu prprio tratamento e se torne independente o mais rpido possvel. J em

    1953/1978 Skinner comentava que A terapia consiste, no em levar o paciente a

    descobrir a soluo para o seu problema, mas em mudar o seu paciente, de tal modo,

    que seja capaz de descobri-la (p. 361). Goldiamond (1975) recomendava que os

    clientes deveriam ser incentivados a descobrir sua prpria anlise funcional em vez de

    receb-la pronta do terapeuta. Corroborando esse tipo de anlise funcional, de ser ela o

    prprio tratamento, h na literatura a descrio da Psicoterapia Analtica Funcional

    (FAP) desenvolvida por Kohlenberg e Tsai (1991/2001), na qual se enfatiza que o

    cliente deve observar o prprio comportamento e identificar os estmulos reforadores e

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    comportamento-problema com suas variveis antecedentes e conseqentes

    (hipotetizadas), apresentao da proposta de interveno, sua execuo com

    monitoramento dos progressos obtidos, at a avaliao da eficcia da interveno

    (Follette, Naugle & Linnerooth, 2000). Tal descrio corresponde aos tipos chamados

    Anlise Funcional Comportamental (Sturmey, 1996) e Anlise Funcional Hipotetizada

    (Nelson, 1988), j citados anteriormente, e, ainda, ao tipo Avaliao Comportamental(Lettner, 1995, pp.27 e 29).

    Esta ltima se caracteriza pela identificao das variveis controladoras (causas)

    dos comportamentos problemticos (anlise funcional com testagem), pelo

    entendimento de sua interao funcional (formulao) e pela previso de

    comportamento futuro, sob condies iguais ou diferentes, conforme o plano de

    tratamento, num processo contnuo de testagem de hiptese, desde o contato inicial com

    o paciente, durante o tratamento at o seguimento.

    H ainda a Avaliao Diagnstica Comportamental que, apesar de no diferir

    das demais desse ltimo grupo, as quais tm como caracterstica a avaliao contnua

    (desde a identificao do problema, passando pela interveno at o trmino do

    tratamento, medindo sempre a sua efetividade), usa o termo diagnstico para dar

    maior especificidade de significado ao processo, por ser um termo com tradio na rea

    de avaliao e porque permite incluir a classificao do DSM-IV (Silvares, 2000,

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    p. 194), que enfatizam a contextualizao da anlise, indicando a importncia do

    aspecto molar da Anlise Funcional.

    Portanto, s vezes, o termo anlise funcional significa avaliao, no sentido de

    identificar as variveis das quais o comportamento funo e, diante disto, propor uma

    interveno adequada, considerando-se que a anlise estaria feita at o ponto em que se

    prope o tratamento. Seria uma fase de diagnstico, claramente diferenciada da fase detratamento, isto , fatores causais hipotetizados so independentemente verificados,

    antes de sua manipulao no tratamento (Turkat e Maisto, como citado por Nelson,

    1988). Outras vezes, o termo anlise funcional implica em avaliao e tratamento, isto

    , ao mesmo tempo em que se identificam os comportamentos-alvo (respostas, seus

    antecedentes e conseqentes), a interveno j feita, ensinando-se o cliente a fazer a

    anlise funcional do seu prprio comportamento e/ou aplicando alguma outra tcnica

    especfica para o caso em questo. Dessa forma o diagnstico contnuo, isto , no h

    delimitao entre diagnstico e tratamento (Follette et al., 2000).

    A vantagem da primeira forma (anlise funcional com o significado de

    avaliao) que o raciocnio funcional fica garantido pela manipulao cuidadosa das

    variveis, testando-se as hipteses causais levantadas e gerando informaes que

    possibilitam a escolha de comportamentos funcionalmente equivalentes aos

    problemticos, mas que so mais eficientes que estes. Entretanto, como j foi enfatizado

    40

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    tratamento (Nelson, 1988). Basicamente, a aplicao dos princpios skinnerianos no

    fluxo de interaes complexas que constituem o processo psicoterpico. Este

    entendido em termos de uma interdependncia de eventos, pois a interao das variveis

    envolvidas (ambientais e comportamentais, enquanto aspectos de um todo abrangente)

    impossibilita a experimentao propriamente dita, j que no possvel manipular uma

    varivel independente mantendo as outras estveis, visto que todas so interligadas,inclusive as variveis do terapeuta na relao do mesmo com o cliente (Segura et al,

    1991).

    A identificao desses muitos tipos de anlise funcional sugere haver, portanto,

    um uso indiscriminado do termo. Quanto a isto, Andery, Micheletto e Srio (2001),

    analisaram algumas condies que poderiam controlar o uso desse termo e concluram

    que so muitas as variveis que controlam a emisso de tal expresso sugerindo que a

    prpria resposta verbal do analista de comportamento pode variar amplamente - o que

    indica que as variveis que controlam esta resposta devem ser distintas e, assim, as

    atividades que esto sendo descritas pelo termo anlise funcional so de fato

    diferentes. Dessa forma, a afirmao de que fazer anlise funcional a caracterstica

    distintiva da prtica do analista do comportamento no seria muito esclarecedora, a

    menos que houvesse um consenso a respeito do que, de fato, o analista de

    comportamento faz.

    41

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    Guilhardi (1987) afirma no haver consenso sobre o que o analista de

    comportamento faz, por exemplo, quando atende um cliente em terapia. Esse mesmo,

    autor em 2004, afirma que tambm no h unanimidade, mesmo entre os que se

    denominam terapeutas comportamentais, quanto definio de Terapia

    Comportamental, quanto s prticas clnicas empregadas com o cliente, quanto ao

    referencial conceitual adotado, quanto aos dados de pesquisa utilizados, quanto ametodologia de pesquisa adotada, quanto ao objeto fundamental de estudo, isso somente

    para citar as divergncias mais relevantes (p. 07).

    possvel observar certa semelhana entre essa lista de divergncias citada por

    Guilhardi (2004) e a variabilidade de usos do termo anlise funcional descrita mais

    acima, levando a conjecturar que a mesma constatao feita por Andery, Micheletto e

    Srio (2001) sobre o uso indiscriminado do termo anlise funcional, pode ser feita em

    relao ao termo Terapia Comportamental.

    De fato, desde sua origem a Terapia Comportamental tem passado por muitas

    modificaes que podem ser acompanhadas no breve histrico que faz Costa (2002),

    sugerindo que os modelos de behaviorismos surgidos a partir de Watson sejam os

    precursores de algumas terapias denominadas comportamentais. De acordo com esse

    histrico, o termo Terapia Comportamental estaria mais relacionado com o paradigma

    do condicionamento reflexo de Watson (behaviorismo metodolgico). As intervenes

    42

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    Modificao de Comportamento com o paradigma operante pode ser um modo

    impreciso de tratar as mudanas dos modelos clnicos comportamentais (p. 10).

    De fato, o movimento conhecido como Modificao de Comportamento foi uma

    proposta de interveno baseada no behaviorismo Radical, bastante difundida nos anos

    1960 e 1970, e que produziu tcnicas especficas para problemas especficos, muitas

    delas usadas at hoje. Entretanto esse movimento tendeu a terminar, justamente por seafastar da proposta do Behaviorismo Radical que sempre foi de anlise funcional, isto ,

    de considerar o comportamento como resultado de contingncias. Depois de muitas

    crticas modificao de comportamento, sendo uma das mais conhecidas, a de Holland

    (1978), os analistas de comportamento se voltaram para sua tarefa de compreenso do

    comportamento do indivduo como um todo, isto , a compreenso de suas respostas no

    contexto que as origina e mantm. A aplicao desse conhecimento rea clnica tem

    sido denominada Terapia analtico-comportamental, que ser o termo adotado neste

    trabalho.

    Entretanto outras denominaes tm sido empregadas entre os terapeutas que se

    denominam behavioristas radicais e que sero apresentadas mais adiante como modelos

    de uso da anlise funcional em terapia comportamental, demonstrando que os termos

    anlise funcional e terapia comportamental embora sejam usados de forma

    indiscriminada esto certamente relacionados.

    43

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    (Rang et al., 1995, p. 336, 342 e 343). O modelo de anlise de contingncias muito

    favorvel...; O profissional precisa fazer a anlise funcional do caso...; O sucesso do

    procedimento... depende de... adequada anlise funcional... (Amaral, 2001, p. 280, 283

    e 290). Ao realizar esse trabalho o terapeuta deve fazer anlises funcionais... (Ribeiro,

    2001, p. 100). Escrever a anlise funcional uma habilidade que facilita a formulao

    do problema... (Kerbauy, 2002, p. 150), Fazer anlise funcional enriquece muito otratamento... ... a anlise funcional d acesso ao sentido do sofrimento do cliente.

    (Vandenberg, 2003, p. 110), Segundo a anlise funcional, verificou-se que...

    (Marmentine & Novaki, 2005, p. 147).

    Ferster, Curbertson e Boren (1968/1982) j ressaltavam que o psiclogo

    comportamentalista tem como enfoque principal o que se denomina a anlise funcional

    do comportamento. o que constitui a relao entre estmulos, comportamento e as

    conseqncias do comportamento no ambiente. (p. 17).

    Meyer (1998) e Banaco (1999) concordam que o instrumento bsico de trabalho

    do analista de comportamento em qualquer rea de atuao e, portanto, tambm na

    clnica, a anlise funcional.

    Costa e Marinho (2002) corroboram essa afirmao quando comentam que o

    termo anlise funcional empregado inmeras vezes por analistas de comportamento

    durante atividades cientficas, didticas e de prtica clnica (p. 44) e que para os

    44

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    que essa sua tarefa primordial, embora raramente os analistas digam como faz-la ou

    descrevam o procedimento da anlise funcional realizada.

    Mesmo entre os terapeutas analtico-comportamentais que apresentam suas

    propostas e que certamente concordariam que fazer anlise funcional , basicamente,

    identificar variveis ambientais que controlam as respostas dos indivduos, h muitas

    formulaes diferentes. Parece que o problema est em no existir ainda modelossatisfatrios de como conduzir uma anlise funcional em situaes no experimentais

    como a prtica clnica. (Meyer, 1997, p. 32).

    Alguns modelos: o que fazem os analistas de comportamento quando dizemque fazem anlise funcional?

    Muitos modelos de anlise funcional foram propostos a partir do modelo original

    de Skinner, acrescentando elementos conceituais novos tradicional trplice

    contingncia, muitas vezes sem uma adequada anlise de sua coerncia interna com

    pressupostos comportamentais tradicionais e sua relao com dados vindos da pesquisa

    bsica. Pelo menos dois trabalhos de reviso, Segura et al. (1991) e Garceln &

    Hidalgo, 1996) listam tais modelos identificando as variaes feitas e indicando o

    carter ecltico que o procedimento adquiriu, mesclando elementos tericos do

    behaviorismo radical com os do behaviorismo mediacional e algumas verses do

    cognitivismo3.

    45

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    comportamentais, isto , com o comportar-se dentro de contextos (Matos, 1997, p. 46).

    Comportar-se dentro de contextos agir sobre ou em interao com o mundo externo...

    o movimento de um organismo, ou de suas partes num quadro de referncia fornecido

    pelo organismo ele prprio, ou por vrios objetos ou campos de fora externos

    (Skinner, 1938, como citado por Matos, 1997, p.46).

    Matos (1997) faz uma anlise minuciosa desse trecho de Skinner que aqui, em parte, reproduzida: mundo externo ou ambiente o conjunto de condies ou

    circunstncias que afetam o comportar-se, no importando se estas condies esto

    dentro ou fora da pele. Movimento de um organismo, ou de suas partes, num quadro de

    referncia, deixa clara a noo de funcionalidade e no de topografia. Movimento de

    um organismo, se refere a uma srie de atividades organizadas em relao a um

    objetivo; atividades que levam a um efeito comum (classe de resposta). O quadro de

    referncia, o mesmo que contexto ou ambiente, deve ser fornecido pelo organismo,

    ele prprio, isto , pelo repertrio comportamental do indivduo (toda sua histria de

    aprendizagem) ou por objetos ou campos de fora externos (outros organismos e

    outros eventos ambientais).

    Portanto, o objeto de estudo do behaviorismo radical, uma contingncia, isto ,

    uma relao. As respostas (aes) dependem do ambiente e esse entendido como tudo

    o que externo ao, mas no ao organismo (Matos, 1997). Em outras palavras, o

    46

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    behaviorismo radical, uma funo causal. Quando a resposta ocorre dentro do

    organismo, ainda assim ela devida ao ambiente externo. Em alguma instncia da

    anlise respostas encobertas podem ter a funo de estmulo discriminativo ou

    reforador (Tourinho, 1997), mas devem funcionar como pistas para obteno de

    informaes que levam a uma anlise funcional (Banaco, 1999b, p. 137). A anlise do

    comportamento emprica, isto , observacional (ainda que o prprio indivduo seja oobservador de si mesmo). Observa-se e analisa-se a funo dos elementos entre si de

    forma dinmica e probabilista. uma anlise de contingncia trplice porque considera

    sempre, no mnimo, trs elementos.

    Um modelo bsico para a realizao de uma anlise funcional do

    comportamento apresentado em forma de cinco passos por Matos (1999):

    1. Definir precisamente o comportamento de interesse. Identificar e descrever o

    efeito comportamental.

    2. Identificar relaes ordenadas entre variveis ambientais e o comportamento

    de interesse.

    3. Identificar relaes entre o comportamento de interesse e outros

    comportamentos existentes.

    4. Formular predies sobre os efeitos de manipulaes dessas variveis e desses

    outros comportamentos sobre o comportamento de interesse.

    47

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    dificuldade diz respeito identificao da unidade de anlise ou definio de classes

    de respostas devido natureza dinmica e variabilidade do comportamento,

    especialmente na prtica clnica onde as queixas dos clientes no indicam os

    comportamentos que devem ser alterados. Faltam instrumentos que identifiquem as

    unidades de anlises mais abrangentes e relevantes. A soluo, no momento, seria a

    busca de uma classe de respostas com a qual lidar durante a terapia. Tal classe deve serconstruda durante o processo teraputico, quando se identificam as regularidades das

    respostas tanto das caractersticas fsicas quanto das funes comuns, atravs da

    observao direta e dos relatos do cliente.

    A segunda dificuldade estaria na identificao de classes de eventos

    antecedentes e conseqentes, devido possibilidade desses estmulos controlarem o

    comportamento, tanto por caractersticas fsicas, como por caractersticas funcionais,

    alm dos efeitos que vrias conseqncias diferentes podem trazer para as respostas

    analisadas. A soluo seria o terapeuta estar atento aos achados da pesquisa bsica,

    especialmente sobre os efeitos de esquemas de reforamento (mltiplos e concorrentes).

    A terceira dificuldade se refere representao de onde colocar os outros fatores

    alm dos contidos na trplice contingncia (ainda que considerando classes de estmulos

    antecedentes, classes de respostas e classes de estmulos conseqentes) que so

    necessrios para a compreenso, controle e previso do comportamento. A soluo seria

    48

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    fazem parte das relaes funcionais e que no so dificuldades com a base terica do

    behaviorismo, fornecida por Skinner (p. 36). Assim, Meyer (1997) tambm enfatiza a

    necessidade de se fazer anlise funcional e menciona Skinner (1953/1978, p.50) que

    comenta: A objeo mais comum a uma anlise funcional completa , simplesmente,

    que no pode ser levada a efeito, mas o nico indcio que se tem disso queainda no

    foi levada a efeito.Considerando essas dificuldades, os modelos mais recentes de anlise funcional,

    que guardam coerncia interna com os pressupostos do behaviorismo radical, tm sido

    modelos descritivos que especificam cada vez melhor os elementos envolvidos com a

    contingncia trplice, identificando mais eventos antecedentes do que os estmulos

    discriminativos imediatamente anteriores s respostas. So os estmulos condicionais e

    contextuais (Sidman, 1986), que esto envolvidos com os conceitos de operaes

    estabelecedoras (Michael, 1993) e de regras e auto-regras (Zettle, 1990). Esses modelos

    identificam tambm outros eventos como resposta alm da resposta motora expressa,

    como, por exemplo, os eventos privados, como sentimentos e pensamentos (Tourinho,

    1997). E ainda identificam melhor os eventos conseqentes, com base nos estudos sobre

    as diversas combinaes de esquemas de reforamento (Catania, 1999).

    Dessa forma, o conhecimento produzido na pesquisa bsica tem sido aplicado

    para o desenvolvimento de novos modelos de anlise funcional, que na clnica se

    49

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    Commitment Therapy (ACT) de Hayes e Wilson (1994), ou a Terapia por

    Contingncias de Reforamento de Guilhardi (2004).

    Como esses modelos apresentam vrios pontos em comum, Vandenberg (2002)

    faz uma lista de recomendaes sugeridas por terapeutas analtico-comportamentais

    para fazer anlise funcional. Segundo Vandenberg (2002, p.39), trata-se de aplicar as

    noes skinnerianas na leitura que o terapeuta faz do fluxo de interaes complexas queconstituem o processo psicoterpico. A tendncia geral dessas novas terapias a de

    desistir de medidas de freqncia de comportamentos topograficamente definidos e

    privilegiar uma anlise discursiva de seqncias funcionais recorrentes:

    1. A anlise funcional precisa incluir relaes entre relaes para se adequar complexidade da realidade clnica, isto , precisa examinar como as interaes entre

    terceiros influenciam o comportamento do cliente e como o seu comportamento

    influencia os dos outros. Portanto importante questionar sistematicamente a respeito

    das interaes mais amplas dentro da rede social envolvida.

    2. interessante que se tome uma linha de base, isto , uma medida do que o

    cliente faz e com que freqncia. Mas, no medidas de freqncia de comportamentos

    topograficamente definidos e sim um relato cursivo de seqncias funcionais

    recorrentes.

    3. O comportamento-problema deve ser descrito em termos do que observvel

    50

    5 C id l d d d i

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    5. Considerar as alteraes que um novo padro de comportamento produzir no

    ambiente interpessoal do cliente e como estas alteraes afetaro o seu comportamento.

    6. A anlise funcional deve incluir o levantamento dos contextos scio-verbais,

    que mantm o comportamento-queixa do cliente, e outros padres culturais que

    modelaram o comportamento da pessoa, pois queixas so socialmente construdas e

    precisam ser compreendidas como comportamento no contexto da relao teraputica.7. A anlise funcional deve incluir o levantamento da histria de aprendizagem

    que levou o cliente a produzir a queixa.

    8. A anlise funcional deve identificar a funo que o pedido de ajuda adquire na

    interao com o terapeuta.9. A anlise funcional deve ser feita a qualquer elemento do sistema sujeito-

    ambiente, em qualquer momento possvel durante o processo teraputico, pois um

    processo dinmico e contnuo entre diagnstico e tratamento, prprio realidade

    clnica, instvel e em contnuo movimento.

    10. interessante identificar quando a resposta comeou a ser emitida, mas

    mais importante identificar quando entrou em contato funcional com algum aspecto do

    ambiente.

    11. A anlise funcional deve incluir o comportamento do terapeuta que afetado

    pelo comportamento do cliente, da mesma forma que os repertrios das pessoas que

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    l i l t t ti d l b d d l i t ti d d li

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    cronolgica algumas tentativas de elaborao de um modelo sistematizado de anlise

    funcional em clnica.

    Segura et al. (1991) apresentam um modelo de anlise funcional que inclui o

    levantamento de variveis, que elas chamam de disposicionais (seriam aquelas que no

    fazem parte da trplice contingncia, mas que a afetam), tanto do contexto ambiental

    onde se insere a pessoa cujo comportamento est sendo analisado como variveisdisposicionais da prpria pessoa; e a identificao das respostas (operantes e

    respondentes) e dos estmulos (antecedentes e conseqentes), que seriam a trplice

    contingncia. Elas sugerem ento quatro passos para o processo de uma anlise

    funcional:1. coletar dados de forma exaustiva, neutra e pertinente (fase morfolgica).

    2. definir e selecionar unidades de anlise, identificando a funcionalidade

    recproca da resposta junto com a situao de estmulo (interao).

    3. levantar hipteses, identificando valores funcionais e disposicionais dos

    dados (fase funcional).

    4. estabelecer um plano de interveno identificando em que aspectos do todo

    se deve intervir para mudar a probabilidade de ocorrncia da interao no

    futuro (fase de por prova as hipteses e predies).

    Esse modelo de Segura et al. (1991) mostra como a anlise funcional em clnica

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    h regras de como faz la sugerem que ela pode obedecer a uma metodologia de

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    h regras de como faz-la, sugerem que ela pode obedecer a uma metodologia de

    avaliar-formular-intervir-avaliar, constituda dos seguintes passos:

    1. identificar caractersticas potencialmente relevantes do cliente individual,seu

    comportamento e o contexto no qual ocorre, atravs de uma avaliao ampla.

    2. organizar a informao coletada no passo 1 em uma anlise preliminar das

    dificuldades do cliente em termos de princpios comportamentais, de modo a

    identificar relaes causais importantes que podem ser mudadas.

    3. juntar informao adicional com base no passo 2 e finalizar a anlise

    conceitual.

    4. planejar uma interveno com base no passo 3.5. implementar o tratamento e avaliar a mudana.

    6. se o resultado no for aceitvel, retornar aos passos 2 e 3.

    Em 1998, Meyer admitia que um modelo de anlise funcional tornaria mais claro

    os elementos principais da anlise e facilitaria o processo de mudana, mas como um

    modelo satisfatrio ainda no teria sido desenvolvido, ela sugeria tambm, a prpria

    seqncia do atendimento teraputico como uma forma de apresentao da anlise do

    comportamento do cliente:

    1. Caracterizao do cliente.

    2. Motivo da procura (buscar classes amplas de estmulos e respostas e no s

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    5 Algumas intervenes

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    5. Algumas intervenes.

    6. Alguns resultados.

    Uma proposta mais sistematizada foi apresentada por Follette et al., (2000),

    numa seqncia de passos para se conduzir uma anlise funcional, lembrando que uma

    anlise funcional bem feita rende um bom resultado no tratamento:

    1. Identificar caractersticas do cliente (descrio do repertrio inicial, atributos

    positivos, dficits, definio de objetivos).

    2. Organizar essas caractersticas numa anlise dos problemas do cliente em

    termos de princpios comportamentais.

    3. Planejar uma interveno baseada na avaliao.4. Introduzir a interveno.

    5. Avaliar os resultados (o que ocorre continuamente durante todo o processo de

    tratamento).

    6. Considerar a avaliao e interveno como completas, caso os resultados

    sejam os esperados, ou reformular a anlise funcional do caso, se os resultados no

    foram os esperados.

    Costa e Marinho (2002) propem um modelo de como apresentar anlises

    funcionais em clnica mantendo a conciso das formas esquemticas de apresentao de

    dados, de modo a possibilitar a compreenso da anlise elaborada, sob a forma de

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    Costa (2002) ao definir Terapia analtico-comportamental como a aplicao dos

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    Costa (2002) ao definir Terapia analtico comportamental como a aplicao dos

    princpios da Anlise do Comportamento no contexto clnico, objetivando identificar e

    analisar funcionalmente as variveis externas que esto controlando os comportamentos

    do cliente, a fim de modific-los quando desejado (p. 11), tambm lista etapas do

    processo teraputico que so semelhantes aos passos indicados por Segura et al. (1991)

    e Hayes e Follette (citado por Neno, 2003) para conduo de uma anlise funcional:

    1. Avaliao: identificar a queixa, coletar dados da histria de vida, identificar

    comportamento-problema e tambm comportamentos saudveis, pessoas e

    situaes potencialmente reforadoras, enfatizando os determinantes atuais

    dos comportamentos. Estabelecer relao teraputica.2. Devoluo: formular hipteses para comportamentos isolados (microanlise)

    e hipteses mais amplas para explicar a situao atual do cliente a partir de

    inter-relaes entre seus diversos comportamentos (macroanlise), a partir de

    anlises funcionais.

    3. Interveno: modificar os comportamentos que esto trazendo conseqncias

    aversivas para o cliente e aumentar a freqncia de comportamentos que

    produzam conseqncias reforadoras. Avaliar a efetividade da interveno.

    4. Acompanhamento: proceder a alta do cliente, estabelecendo espao de tempo

    entre as sesses at que os contatos sejam feitos apenas por telefone,

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    Em trabalho mais recente, Meyer (2003) apresenta um procedimento ainda mais

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    Em trabalho mais recente, Meyer (2003) apresenta um procedimento ainda mais

    sistematizado para a realizao de uma anlise funcional em clnica. Alguns passos so

    listados para elaborao da mesma:

    1. Identificao do comportamento de interesse, enunciado tanto em termos de

    ao ou omisso de ao, como em termos de classe de aes, atravs da observao do

    comportamento e/ou da obteno de relatos de outras pessoas.

    2. Descrio do comportamento-alvo quanto freqncia, durao e

    intensidade com que ocorre.

    3. Identificao de relaes ordenadas entre o comportamento de interesse

    identificado e as variveis ambientais, assim como entre o comportamento de interesse eoutros comportamentos existentes:

    Descrio da situao conseqente verificando se : a) uma condio

    reforadora ou aversiva, b) por apresentao, remoo ou impedimento de

    algum estmulo, c) grande, provvel, imediato ou demorado, d) natural ou

    arbitrria, ou mediada por algum (quem?).

    Descrio da situao antecedente verificando a existncia de: a) estmulos

    eliciadores; b) estmulos discriminativos; c) operaes estabelecedoras; d)

    regras e auto-regras; e) eventos encobertos (tomando o cuidado para se

    identificar se a ocorrncia de pensamentos e sentimentos podem ser mesmo

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    Descrio das relaes entre respostas verificando se existem outros

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    p

    comportamentos que ocorrem antes do comportamento de interesse, ou se a

    relao de outros comportamentos com o de interesse de pr-requisito,

    facilitao ou alguma ocorrncia acidental.

    4. Introduo de um tratamento com base na identificao das relaes

    ordenadas do item anterior, propondo-se novas contingncias ou ensinando o cliente a

    conduzir a prpria anlise funcional.

    Essas tentativas demonstram uma evoluo no sentido de sistematizar a tarefa de

    elaborao de anlises funcionais em clnica, sendo uma contribuio para descrever o

    procedimento desenvolvido pelo terapeuta analtico comportamental quando faz anlisefuncional, pois segundo Sturmey (1996), essa uma rea que tem sido negligenciada

    nas pesquisas clnicas. Esse autor comenta que pesquisas futuras deveriam investigar a

    maneira como os clnicos se comportam quando fazem anlise funcional, que mtodos

    eles usam e como determinam em que ordem usar esses mtodos, dentre outras

    decises que o clnico precisa tomar (p. 202).

    Com o objetivo de contribuir para essa sistematizao, Sturmey (1996)

    recomenda que se escreva a anlise funcional no decorrer da terapia. Essa prtica pode

    auxiliar a compreenso do problema do cliente, pois ao escrever, ficam claras as

    variveis envolvidas, alm de treinar o terapeuta a ser conciso na formulao do caso

    57

    2. Uma breve descrio demogrfica e psiquitrica do problema, p.e., uma

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    g p q p p

    criana de quatro anos de idade com incontinncia fecal. A famlia era

    composta da me (divorciada) e de duas outras crianas.

    3. Pelo menos um comportamento-alvo operacionalizado que pode ser um

    comportamento aberto (p.e., chorar), cognitivo (p.e., pensamentos

    recorrentes de desvalorizao), ou fisiolgico (p.e., sentimentos de tenso).

    4. Pelo menos um antecedente operacionalizado com exemplos, p.e., sentimentos

    de desvalorizao mais freqentes quando sozinho (de manh cedo ou tarde

    da noite) e depois de inassertividade (ceder ao marido), ou declarar

    antecedentes desconhecidos.5. Pelo menos uma conseqncia operacionalizada com exemplos, p.e., a dor era

    mantida tanto por reforadores positivos de natureza primariamente social

    (p.e., visitas freqentes ao psiclogo, ateno da famlia), como por

    reforadores negativos (p.e., uso excessivo de ansiolticos como

    tranqilizantes fracos, lcool e analgsicos; evitar dirigir em determinadas

    situaes; e evitar determinadas situaes tidas como estressantes), ou

    declarar conseqncias desconhecidas.

    6. Uma clara distino entre o incio e a manuteno do comportamento que pode

    ou no exigir anlises funcionais separadas, p.e., O estabelecimento do

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    controle de sua raiva nunca foi bom, mas piorou consideravelmente depois

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    que perdeu o emprego e se mudou de casa.

    8. Uma descrio dos ganhos secundrios relevantes para o delineamento do

    tratamento, p.e., Assumir o papel de uma pessoa com uma doena misteriosa

    e incurvel d a ela umstatus considervel entre os familiares e a vizinhana.

    9. Uma descrio das funes dos comportamentos em termos dos propsitos do

    paciente, p.e., Os sintomas de agorafobia apareceram para manter seu marido

    em casa mais tempo do que se ela se comportasse de outra forma.

    10. Indicao de um tratamento criado ou um j desenvolvido que seja

    explicitamente ligado aos itens (3), (4) ou (5), p.e., A terapia racional emotivafoi selecionada para modificar as cognies funcionais que mantm a

    depresso, ou Um programa de modificao de comportamento baseado em

    Patterson foi usado para mudar os padres de instruo dados criana e

    tambm para aumentar o uso de elogios pelos pais.

    Esta lista foi desenvolvida com o objetivo de treinar terapeutas iniciantes a fazer

    anlise funcional. Pode funcionar como um guia para lembrar o terapeuta de pontos

    importantes na determinao das contingncias responsveis pelos comportamentos ou

    pelas mudanas nos comportamentos.

    O primeiro item da lista diz respeito ao nmero de palavras que o texto da

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    (sexo, idade, queixa) e do contexto em que ser conduzida a anlise (famlia, escola,

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    orfanato, priso).

    Um aspecto comum a todos os tipos e propostas de anlise funcional

    apresentados neste trabalho pode ser considerado como o mnimo exigido para se

    conduzir uma anlise funcional, que relacionar a resposta aos eventos antecedentes e

    conseqentes imediatos. Tal aspecto fica contemplado nos itens 3, 4 e 5, com o cuidado

    de que tais eventos sejam definidos operacionalmente e exemplificados. Tais itens

    podem representar uma microanlise de contingncias (ver definio desse termo na

    seo 1.4 deste trabalho mais adiante).

    Observa-se que nos itens 4 e 5, Sturmey (1996) sugere declarar que antecedentesou conseqentes podem ser desconhecidos. Tal recomendao pode fortalecer a

    crtica de que os analistas de comportamento muitas vezes no identificam estmulos

    imediatamente antecedentes ou conseqentes s respostas e por isso inventam sua

    existncia (em referncia crtica feita por Baum, 2003).

    Os aspectos levantados nos itens 6 e 7 chamam ateno para a natureza

    dinmica do comportamento e, portanto, da anlise, em que se identificam variveis

    relacionadas com o aparecimento do problema pelo relato da histria de vida que podem

    ser (e em geral so) diferentes das relacionadas com o desenvolvimento da resposta em

    questo. Esses itens demonstram a preocupao com aspectos mais gerais, quando

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    item 8 (ganhos secundrios) pode ser tal, que o indivduo no tenha conscincia dela por

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    no verbaliz-la, mas que um outro observador, o terapeuta, por exemplo, pode

    identificar. J no item 9, a preocupao que o analista fique atento a outras

    conseqncias que o indivduo j aprendeu e que ocorrem aps um determinado

    comportamento, e, ento, emite tal comportamento consciente de qual ser

    provavelmente a conseqncia. Estes ltimos quatro itens podem se referir a uma

    macroanlise de contingncias (ver definio desse termo na seo 1.4 deste trabalho

    mais adiante).

    Os termos ganhos secundrios e propsito utilizados por Sturmey (1996), so

    tratados, do ponto de vista do Behaviorismo Radical, com o conceito de operante. Ooperante uma categoria que sofreu um processo de diferenciao, que lhe confere uma

    relao especial com o meio (De Rose, 1982). Reforadores primrios (imprescindveis

    sobrevivncia) pareados a outros estmulos do ambiente tornam esses estmulos

    tambm reforadores, sendo denominados reforadores secundrios (Skinner,

    1953/1978), embora esse termo no tenha a mesma conotao dos chamados ganhos

    secundrios.

    O que Sturmey (1996) chama de ganhos secundrios so, do ponto de vista do

    Behaviorismo Radical, estmulos que mantm os comportamentos, sejam eles,

    reforadores primrios ou secundrios, positivos ou negativ