um dia de golfe - s3-sa-east-1.amazonaws.com · d omingo, sete e meia da manhã. enquanto a...

5
UM DIA DE GOLFE Natureza e clima familiar são as nuances de um torneio de golfe TEXTO E FOTOS: JADERSON SOUZA

Upload: ngotram

Post on 19-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UM DIA DE GOLFE - s3-sa-east-1.amazonaws.com · D omingo, sete e meia da manhã. Enquanto a maio-ria das pessoas está des-cansando da labuta da semana, outros se dedicam à prática

UM DIA DE GOLFENatureza e clima familiar são as nuances

de um torneio de golfe

TEXTO E FOTOS: JADERSON SOUZA

Page 2: UM DIA DE GOLFE - s3-sa-east-1.amazonaws.com · D omingo, sete e meia da manhã. Enquanto a maio-ria das pessoas está des-cansando da labuta da semana, outros se dedicam à prática

Domingo, sete e meia da manhã. Enquanto a maio-ria das pessoas está des-

cansando da labuta da semana, outros se dedicam à prática do golfe. Uma vez por mês, eles se reúnem para disputar torneios no Bauru Golfe Clube. Talvez você, bauruense, jamais tenha ouvido falar da existência de um clube de golfe na sua cida-de. Não tem problema. A nossa reportagem foi mostrar o que acontece durante um torneio da modalidade.

Normalmente, os certames disputados no campo bauruen-se são da modalidade shot gun (um grupo de 3 ou 4 golfistas começa a volta em buracos di-ferentes, para que completem o campo em tempo semelhan-te). O campo do Bauru Golf Club tem nove buracos; como o torneio obriga que os joga-

dores completem 18 buracos, eles precisam percorre o cam-po por duas vezes.

Um desses grupos é forma-do por quatro jogadores (Mário Sérgio, Neil, Luis e Fernando) e dois assistentes (Marcio e Ro-drigo), também chamados de caddies. Mário Sérgio explica que o público em geral consi-dera o esporte elitizado, mas isso não é totalmente verda-deiro. “Um jogo de tacos leva, pelo menos, dez anos para ser trocado enquanto uma raque-te de tênis, às vezes, não dura nem por um jogo”. O grosso maior de gastos mensais cor-responde a mensalidades do clube e da federação, algo em torno de 250 reais ao todo.

A escolha dos caddies obe-dece a algumas condições. Eles estudam durante a sema-na e moram em bairros caren-

tes próximos ao clube. Márcio, apelidado de “Ganso”, é um dos ajudantes. Ele está no 9° ano do ensino fundamental e ganha 25 reais mais um vale-caddie (algo correpondente ao vale-refeição) por cada dia que ele é recrutado para auxiliar os jogadores. O caddie conhece o campo e todos os tipos de taco usados no jogo, com suas de-vidas distâncias e alturas que podem ser alcançadas – Marcio sabe, por exemplo, que o bu-raco 9 é o mais difícil de alcan-çar em virtude de haver uma curva antes de chegar à área que envolve o buraco (o gre-en). O conhecimento adquirido faz Marcio ter a intenção de se tornar um jogador profissional no futuro.

Mas antes disso, ele tem que fazer as vezes de garçom du-rante a confraternização dos

Page 3: UM DIA DE GOLFE - s3-sa-east-1.amazonaws.com · D omingo, sete e meia da manhã. Enquanto a maio-ria das pessoas está des-cansando da labuta da semana, outros se dedicam à prática

Sofia Pinheiro, menina de 10 anos aspirante a golfista, ensaia suas primeiras tacadas

golfistas com seus familiares. Todos os jogadores se juntam ao final do jogo para a premia-ção regada a comes e bebes. Profissionais de diversas áreas se encontram: médicos, publi-citários, advogados, entre ou-tros.

Às vezes, o amor pelo espor-te passa de pai para filho. Sofia, garota de dez anos, dava algu-mas tacadas no driving range (área de treinamento onde os iniciantes dão suas primeiras tacadas). Enquanto ela treina, muitos elogiam seus movimen-tos (chamado de swing); ela já tem uma certa técnica para bater na bola. Quem recebe os elogios é o pai da menina, Mauro Pinheiro. Todo orgulho-so, ele também dá algumas di-cas para a menina aprimorar o swing. Ela começou a praticar golfe há nove meses e gostou muito da nova brincadeira.

No final do dia, as impres-sões: o golfe é um esporte de amizade que requer paciência

e tranquilidade ao jogador. Afi-nal, o adversário do jogador é o campo e não o golfista que está ao seu lado. Ah! Outra coisa: é preciso muito preparo físico (e muita água) para suportar o calor e a longa caminhada pelo campo afora. Sabendo de tudo isso, você se dar bem no jogo.

Page 4: UM DIA DE GOLFE - s3-sa-east-1.amazonaws.com · D omingo, sete e meia da manhã. Enquanto a maio-ria das pessoas está des-cansando da labuta da semana, outros se dedicam à prática

Nas Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro, uma mo-

dalidade está de volta: o golfe. Há muitas versões a respeito da invenção desse esporte; a mais conhecida é de que ele tenha surgido na Escócia no sé-culo XV.

O objetivo do golfe é embo-car a bola nos 18 buracos do campo – alguns campos pos-suem nove buracos fazendo com que os competidores te-nham que completar o percur-so por duas vezes. Como obs-táculos para os golfistas chegar em até a área próxima do bu-raco (chamada de green), es-tão bancos de areia, pequenos lagos, locais com relva mais alta, árvores e, eventualmen-te, o vento e a chuva.

Um campo que leva nor-malmente 72 tacadas para ser completado recebe um índi-ce númerico chamado de par. Nesse caso, tem-se um campo de par 72. O competidor que realizar a volta em menos ta-cadas é o vencedor.

O mesmo raciocínio é apli-

cado em relação a cada bura-co: um buraco de par 4 neces-sita de 4 tacadas para que se embocar a bola. Se um jogador acerta este buraco em 2 taca-das, diz-se que ele fez um eagle (duas tacadas abaixo do par); se completar em 3, ele fez um birdie (uma abaixo do par); em 4, ele completou o par; se embocar a bola em 5 tacadas, ele fez um bogey (uma tacada

acima do par); se a bola cair após 6 tacadas, o jogador fez um double bogey (duas acima do par) e assim por diante.

Por isso, se você olhar o mar-cador de três jogadores (+2, 0 e -4), o golfista que está com a numeração negativa é quem está mais perto da vitória.

Para diminuir as tacadas, os golfistas usam vários tipos de tacos: madeira, para longas distâncias; ferro (pelo ângulo da face do taco, pode-se al-

cançar altura maior e distância menor e vice-versa); os híbri-dos (junção de madeira e fer-ro); os wedges, tacos usados para retirar a bola de bancos de areia, áreas próximas de la-gos ou na região de relva mais alta ao redor do green e os putters, tacos utilizados para rolar a bola em direção ao bu-raco. Para escolher qual tipo de taco utilizar, geralmente o jogador recorre ao auxílio de um caddie, pessoa que carre-ga os equipamentos do golfis-ta e dá instruções ao jogador a respeito das dificuldades do campo de golfe. É comum ca-ddies mais jovens se tornarem futuros golfistas.

A inclusão do golfe nas Olim-píadas gera expectativa de crescimento do esporte. A úl-tima vez que a modalidade fez parte dos Jogos foi em Saint--Louis (EUA) em 1904. O golfe também vai estar nos Jogos de 2020. Em 2017, o Comitê Olím-pico Internacional (COI) de-cidirá se o golfe continua nos eventos olímpicos depois de 2024. (JS)

TACOS, BOLAS E

MEDALHAS

Golfe volta aos Jogos

Olímpicos e gera expectativa

de crescimento no Brasil

Para percorrer o campo de golfe é preciso muito preparo físico

A última vez que o golfe esteve nas Olímpiadas foi em

Saint-Louis (EUA) em 1904

Page 5: UM DIA DE GOLFE - s3-sa-east-1.amazonaws.com · D omingo, sete e meia da manhã. Enquanto a maio-ria das pessoas está des-cansando da labuta da semana, outros se dedicam à prática

GOLFE PARA TODOSProjetos sociais incentivam prática do esporte que ainda é considerado elitista

No Brasil, o golfe é considerado um esporte de elite. Aulas, equipamentos, mensalida-de de clubes e uso de caddies estão entre

os gastos do jogador. Carlos Garcia, secretário do Bauru Golf Club, confirma a existência des-se paradigma, mas diz que o esporte está mais acessível. “Você pode comprar tacos de 300, 500 reais. O meu jogo de tacos custou 1000 re-ais”. Um jogo geralmente tem 11 tacos.

Um golfista que compete no circuito paulista arca com um valor médio de 30 mil reais por mês. Garcia admite que “isso é caro”. Para in-centivar a prática do esporte, existem progra-mas como o “Golfe Nota 10”, projeto da Fe-deração Paulista de Golfe em parceria com o Governo Federal. Com o objetivo de desenvol-ver golfistas na faixa etária de 6 a 10 anos, o Golfe Nota 10 também mostra que o golfe pode ser divertido para o público infanto-juvenil. O Bauru Golf Club é um dos clubes que participa do projeto. Funciona desde 1970 e têm 80 as-sociados. Com uma área correspondente a 12

alqueires (quase 300 mil metros quadrados), ele tem uma das mensalidades mais baixas do mundo. Ele também abre seu espaço para pra-ticantes que não sejam associados (paga-se o green fee, uma taxa para jogar no campo) e dá aulas para iniciantes. Por mês, são gastos 15 mil reais para manutenção do campo. No Brasil, não existem campos públicos de golfe; o sujei-to precisa pagar uma taxa para fazer a volta. Existe a chance de abertura de dois campos: um em Japeri (RJ) e o campo que será utilizado nas Olímpiadas.

Garcia acredita que a visão elitista feita do golfe espantou pessoas que poderiam se inte-ressar pelo esporte. Para que o esporte possa popularizar, ele acredita que a ascensão de al-gum brasileiro no cenário internacional pode trazer visibilidade ao golfe. Algo semelhante ao que Gustavo Kuerten representou para o tênis.

Um dos candidatos pode ser Alexandre Ro-cha, primeiro brasileiro a competir no PGA Tour, o principal circuito de golfe mundial, em 2011. Outros nomes importantes são Guilherme Oda, bauruense que treina em São Carlos, e Luiz An-tônio Jacintho, competidor da categoria juve-nil. (JS)

Rodrigo (do lado direito da foto acima) e Marcio (na foto abaixo) estudam e, nos finais de semana,

trabalham de caddies no Bauru Golf Club