um doce realizado no sertão sergipano

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1494 Junho/2014 '' A terra é um suplemento da minha família. A terra hoje é o meu professor''. Pela forte frase entoada por um dos protagonistas da história a ser contada a seguir, logo notamos o amor deste agricultor pela terra, pela natureza. Seu Maximiano Maia Rios é um agricultor, experimentador, observador e multiplicador. Casado há 38 anos com dona Maria Inácia Rios, juntos eles constroem uma história de preservação e de lutas pela natureza. ''Morava em uma fazenda, na minha cidade onde nasci em Ipirá. Tinha 13 anos quando meu pai comprou esta fazenda para mim e minha irmã. Casei com 19 anos e vim morar aqui com Maria, onde tivemos Moises, que é o mais velho, Marta e Manuela. Aqui tomei amor pela natureza. As pessoas queimavam muito os bichinhos, os animais. Acabavam com o roçado. Botavam fogo. Eu fiquei assim comovido com aquilo e decidi nunca destruir a natureza. Amo a natureza e não desisto por nada. A natureza para mim é tudo. Penso nos meus filhos, nos meus netos, nos meus bisnetos, na futura geração''. Hoje o casal vive na comunidade de Campo Alegre, município de Capela do Alto Alegre. A fazenda que ganhou do pai, que seu Maximiano fala, hoje fica a 900 metros da atual residência do casal. Lá a diversidade e as alternativas para driblar a seca são muitas. ''Aqui planto muito coisa - milho, feijão, abóbora, quiabo, alface, melancia, caxixe e mamão. E não ponho nada de agrotóxico. Tudo que comemos em casa é sem produto químico. Para adubo, uso esterco de gado, compostagem de capim. Para combater a praga, uso o nim. Quando vejo uma lagartinha pulverizo com o composto do nim. Inclusive o pé de nim que temos aqui foi o primeiro da comunidade. ‘’Amo a natureza e não desisto por nada. A natureza para mim é tudo” Capela do Alto Alegre Cerca viva feita de palmas D.Maria tecendo com palha de pindoba Casal exibe com orgulho o fruto da lavoura

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A casa do mel, é uma iniciativa de organização coletiva de apicultores/as da região do alto sertão sergipano. Durantes anos de articulação e capacatação, a AMAS e a COOAPISE vem garantindo geração de renda com a comercialização do mel e seus derivados.

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Page 1: Um doce realizado no sertão sergipano

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1494

Junho/2014

'' A terra é um suplemento da minha família. A terra hoje é o meu professor''. Pela forte frase entoada por um dos protagonistas da história a ser contada a seguir, logo notamos o amor deste agricultor pela terra, pela natureza. Seu Maximiano Maia Rios é um agricultor, experimentador, observador e multiplicador. Casado há 38 anos com dona Maria Inácia Rios, juntos eles constroem uma história de preservação e de lutas pela natureza.''Morava em uma fazenda, na minha cidade onde nasci em Ipirá. Tinha 13 anos quando meu pai comprou esta fazenda para mim e minha irmã. Casei com 19 anos e vim morar

aqui com Maria, onde tivemos Moises, que é o mais velho, Marta e Manuela. Aqui tomei amor pela natureza. As pessoas queimavam muito os bichinhos, os animais. Acabavam com o roçado. Botavam fogo. Eu fiquei assim comovido com aquilo e decidi nunca destruir a natureza. Amo a natureza e não desisto por nada. A natureza para mim é tudo. Penso nos meus filhos, nos meus netos, nos meus bisnetos, na futura geração''.Hoje o casal vive na comunidade de Campo Alegre, município de Capela do Alto Alegre. A

fazenda que ganhou do pai, que seu Maximiano fala, hoje fica a 900 metros da atual residência do casal. Lá a diversidade e as alternativas para driblar a seca são muitas. ''Aqui planto muito coisa - milho, feijão, abóbora, quiabo, alface, melancia, caxixe e mamão. E não ponho nada de agrotóxico. Tudo que comemos em casa é sem produto químico. Para adubo, uso esterco de gado, compostagem de capim. Para combater a praga, uso o nim. Quando vejo uma lagartinha pulverizo com o composto do nim. Inclusive o pé de nim que temos aqui foi o primeiro da comunidade.

‘’Amo a natureza e não desisto por nada. A natureza para mim é tudo”

Capela do Alto

Alegre

Cerca viva feita de palmas

D.Maria tecendo com palha de pindoba

Casal exibe com orgulho o fruto da lavoura

Page 2: Um doce realizado no sertão sergipano

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

No período da seca, a gente planta menos e eu tenho umas estratégias que aprendi na Escola Família Agrícola de Pintadas. A maioria dos meus conhecimentos aprendi nessa escola, e experimentei muita coisa sozinho também, como as garrafas que uso com água e coloco nos pés das plantas, (batata-salvação), essa fiz sozinho. Agora, graças a Deus, temos água encanada, ai dá pra fazer algumas irrigações, mas meu sonho é uma cisterna''.O sonho do seu Maximiano, esta próximo a se realizar, pois de acordo com ele ainda este ano ele e sua esposa vão conquistar uma cisterna do Programa Uma Terra e Duas Águas(P1+2) da Articulação no Semiárido Brasileiro - ASA.''Já tá tudo certo. Eu sonho 24h com essa cisterna. Quando ela chegar vou produzir o dobro do que eu produzo. Porque tendo água, eu produzo. A dificuldade é só água. Chuva não falta, mas é pouquinho, não é o bastante para produzir muito''.Seu Maximiano e dona Maria possuem uma área de aproximadamente 42 tarefas de caatinga nativa, a qual preservam cada pedaço da área com muito carinho. ''São 42 tarefas de caatinga nativa. E tem uma parte que fazemos recaatingamento. Plantamos mais de 05 espécies de plantas, como umbuzeiro, umburanas, leucena, a qual faço ração tenho mais de 286 tambores só para armazenar ração. A leucena tem 32% de proteína e se você criar confinado e der 5 kg por dia a cada vaca, se ela produzia 10 litros de leite, ela passará a produzir 15 litros por dia. Além do sisal, que uso como cerca viva, e para fazer ração também. Tenho cerca viva também de outras plantas como palmas e mandacaru''.

A caatinga de seu Maximiano e dona Maria não é apenas rica em extensão, por lá é possível encontrar também espécies de aves e animais tipicamente deste bioma. De acordo com o seu ele são mais de 40 espécies de aves e dezenas de animais que lutam bravamente contra predadores humanos. As cercas vivas, usadas por seu Max, são uma das alternativas encontradas por ele para evitar que invasores cassem em sua caatinga, que ele e dona Maria tanto preservam. Além de agricultor, seu Maximiano é agente de saúde num município vizinho e ainda um dos líderes da igreja Católica da comunidade, e desenvolve também a função de cantor e compositor. O casal não é apenas referência de agricultores/as, experimentadores/as, multiplicadores/as e preservadores da natureza como também são exemplos na comunidade e nas regiões

vizinhas, pois juntos incentivam a comunidade a viver em prol um dos outros, a viver de fato em comunidade, a prova viva é a venda dos CDs, que parte das vendas é revertida para doações. Sem falar na luta constante pela preservação da natureza.Abaixo um trecho do poema – Seca no Nordeste- escrito por seu Maximiano Rios sobre o desmatamento por parte dos grandes fazendeiros da sua região. ''Quando se mata uma árvore falta chuva no nordeste. Falta água para o gado, o povo entristece, o gado vai passar fome, os fazendeiros perdem o nome, viram o assassino do nordeste’’.

Realização Apoio

Seu Maximiano apresentando a caatinga