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UM ESTUDO SOBRE BULLYING ENTRE ESCOLARES DE UM CENTRO EDUCACIONAL DO SESI Blessa, C. (Mestre em Psicologia Social, Psicóloga da Divisão de Saúde do SESI-SP), Duval, M. (Psicóloga da Divisão de Saúde do SESI-SP), Mattiello, C. (Psicóloga da Divisão de Saúde do SESI-SP), Kaneko, Y. (Médica, Coordenadora de Serviços Médicos do SESI-SP). [email protected] I. Introdução O presente trabalho refere-se a uma intervenção interdisciplinar sobre a qual se fez uma análise qualitativa e quantitativa das ações propostas. Este foi um projeto piloto, desenvolvido com escolares da 5ª a 8ª séries e do 1º ano do Ensino Médio, pais e educadores de uma escola do Centro de Atividades (CAT) do Serviço Social da Indústria (SESI) da Vila Leopoldina, São Paulo. O SESI é uma empresa presente em âmbito nacional. Foi fundada na década de 40 e tem como missão promover a qualidade de vida do trabalhador da indústria e seus dependentes, com foco em educação, saúde e lazer. No Estado de São Paulo, a atuação do SESI se dá principalmente em seus Centros de Atividades, onde existem recursos e profissionais para o desenvolvimento dos programas em todas as suas áreas de atuação. O projeto “Promoção da Diversidade Cultural: Prevenindo o Bullying na Escola”, foi desenvolvido no “CAT Gastão Vidigal”, localizado na Vila Leopoldina, zona oeste da cidade de São Paulo. Neste CAT funciona o Centro Educacional 414 (CE 414), com 1603 alunos distribuídos entre ensino regular de 1º ao 9º anos e ensino médio. Os escolares do 1º ao 5º anos permanecem em período integral na escola. Os alunos são incentivados a diversas atividades como, prática de esportes, matriculando-se nos cursos do Centro de Esporte e Lazer; participam de programas elaborados pelas Nutricionistas da Divisão de Alimentação, além de terem à disposição as instalações e atividades do Centro Cultural, tais como, biblioteca, gibiteca, exibição de filmes, contação de histórias e exposição fotográfica; configurando um cenário interdisciplinar.

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UM ESTUDO SOBRE BULLYING ENTRE ESCOLARES DE UM CENTRO

EDUCACIONAL DO SESI

Blessa, C. (Mestre em Psicologia Social, Psicóloga da Divisão de Saúde do SESI-SP),

Duval, M. (Psicóloga da Divisão de Saúde do SESI-SP), Mattiello, C. (Psicóloga da

Divisão de Saúde do SESI-SP), Kaneko, Y. (Médica, Coordenadora de Serviços

Médicos do SESI-SP). [email protected]

I. Introdução

O presente trabalho refere-se a uma intervenção interdisciplinar sobre a qual se

fez uma análise qualitativa e quantitativa das ações propostas. Este foi um projeto

piloto, desenvolvido com escolares da 5ª a 8ª séries e do 1º ano do Ensino Médio, pais e

educadores de uma escola do Centro de Atividades (CAT) do Serviço Social da

Indústria (SESI) da Vila Leopoldina, São Paulo.

O SESI é uma empresa presente em âmbito nacional. Foi fundada na década de

40 e tem como missão promover a qualidade de vida do trabalhador da indústria e seus

dependentes, com foco em educação, saúde e lazer. No Estado de São Paulo, a atuação

do SESI se dá principalmente em seus Centros de Atividades, onde existem recursos e

profissionais para o desenvolvimento dos programas em todas as suas áreas de atuação.

O projeto “Promoção da Diversidade Cultural: Prevenindo o Bullying na

Escola”, foi desenvolvido no “CAT Gastão Vidigal”, localizado na Vila Leopoldina,

zona oeste da cidade de São Paulo. Neste CAT funciona o Centro Educacional 414 (CE

414), com 1603 alunos distribuídos entre ensino regular de 1º ao 9º anos e ensino

médio. Os escolares do 1º ao 5º anos permanecem em período integral na escola.

Os alunos são incentivados a diversas atividades como, prática de esportes,

matriculando-se nos cursos do Centro de Esporte e Lazer; participam de programas

elaborados pelas Nutricionistas da Divisão de Alimentação, além de terem à disposição

as instalações e atividades do Centro Cultural, tais como, biblioteca, gibiteca, exibição

de filmes, contação de histórias e exposição fotográfica; configurando um cenário

interdisciplinar.

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O projeto começou a ser elaborado em julho de 2010, a partir da escuta da

equipe de psicologia nos atendimentos e orientações psicológicas realizadas com os

alunos e por solicitação da direção escolar.

Nas orientações psicológicas individuais percebeu-se que muitos alunos, embora

isoladamente, se queixavam de situações de maus-tratos entre os colegas, com

repercussões limitadoras em suas vidas, pois muitos se sentiam desanimados ou

desenvolveram fortes comportamentos evitativos, não querendo mais vir à escola. É

claro que estes comportamentos também possuíam outros elementos envolvidos, como

questões de dinâmica familiar, aspectos sócio-culturais e maneiras de cada jovem

enfrentar situações de dificuldades. Mas entre tantos universos diferentes, a questão do

bullying perpassava todos os discursos dos escolares atendidos.

A partir do início da elaboração e consecução do projeto, a equipe de Psicologia,

percebeu que outros setores do CAT também estavam preocupados com a ocorrência de

bullying, incluindo-se episódios de depredação de bens da instituição. Desse modo,

propôs-se um trabalho interdisciplinar com integração entre os setores. Foram

estabelecidas parcerias junto à Divisão de Educação, Divisão Sócio-cultural, Divisão de

Alimentação e Divisão de Esportes e Lazer.

Dados da literatura nacional apontam que bullying tem sido um fenômeno

recorrente no ambiente escolar; trazendo graves consequências para o desenvolvimento

saudável de crianças e jovens que estejam direta ou indiretamente envolvidos (Malta et

al., 2009; Francisco & Libório, 2009; Neme, Mello, Gazzola, & Justi, 2008).

O fenômeno bullying tem sido entendido como uma forma de violência. Alguns

autores descrevem-no como uma violência velada, que acaba por fomentar e

retroalimentar a violência explícita, desse modo trazendo consequências individuais e

sociais (Neme et al., 2008). Também tem sido descrito como maus-tratos entre os pares,

por meio de perseguição e intimidação repetitiva e intencional de um aluno por um ou

vários colegas, com a intenção clara de provocar-lhe sofrimentos (Francisco & Libório,

2009).

Pessoas que são alvo de bullying, na maioria das vezes podem apresentar

características tais como: pouca sociabilidade, insegurança, baixa auto-estima,

embotamento afetivo e falta de reação aos atos de agressividade sofridos. Sabe-se que

todos os participantes da situação de bullying, os que são alvo, os agressores e os que

assistem a tais situações, necessitam de ajuda. Aqueles que são alvo sofrem de

deterioração de sua auto-estima e do conceito que têm de si. Os agressores sofrem grave

3

deterioração de sua escala de valores e, portanto, de seu desenvolvimento afetivo e

moral. (Lopes Neto, Monteiro Filho, & Saavedra, 2010; Francisco & Libório, 2009).

A plateia, ou seja, aqueles que testemunham situações de bullying, tem uma

participação importante no fenômeno e sofre também suas consequências. Ao ser

conivente com quem pratica maus-tratos entre pares, reforça as atitudes agressivas

destes. Ao achar engraçado um ato de humilhação, torna-se cúmplice. Há os que se

sentem acuados ao presenciarem tal cena e também podem se inibir, temendo tornarem-

se os próximos a ser alvo de bullying. (Lopes Neto et al., 2009).

Estudos médicos internacionais apontam para a associação entre bullying,

desordens psiquiátricas e suicídio. Segundo Kim e Leventhal (2008), qualquer

participação na situação de maus-tratos entre pares aumenta o risco de comportamentos

ou de ideações suicidas. Para Kumpulainen (2008), o bullying é preditor de problemas

psiquiátricos tanto no momento que ocorre quanto na vida adulta. Para este autor, entre

os jovens essa vivência pode levar a déficit de hiperatividade e atenção, ansiedade e

depressão e, para os homens que praticam bullying, a desordens de personalidade e

ansiedade. Considera também que intervenções escolares baseadas no aumento de

habilidades sociais e que promovam o relacionamento entre pares são indicadas para os

envolvidos na situação de bullying e, recomenda que aqueles que estão expostos a

problemas psiquiátricos sejam indicados para consulta e tratamento.

Uma revisão bibliográfica da literatura psicológica nacional a respeito do

bullying apontou que houve um aumento nos estudos e pesquisas sobre a problemática,

mas ressalva que há falta de mais pesquisas sobre intervenções e suas avaliações para

que haja melhor contribuição para a erradicação e prevenção dessa forma de violência

(Neme et al., 2008).

Como uma forma de enfrentamento da violência e de construção de uma

sociedade mais harmoniosa, a garantia da expressão da diversidade cultural e o respeito

às diferenças tem sido uma das respostas propostas para o desenvolvimento de uma

cultura de paz e de tolerância, como aponta a Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em sua Declaração Universal sobre a

Diversidade Cultural (UNESCO, 2002, p.1):

“... o respeito à diversidade das culturas, à tolerância, ao

diálogo e à cooperação, em um clima de confiança e de

4

entendimento mútuos, estão entre as melhores garantias da paz

e da segurança internacionais”.

O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-Violência (Diskin & Roizman,

2008), elencou seis pontos centrais para a educação para a paz: respeitar a vida; rejeitar

a violência; ser generoso; ouvir para compreender; preservar o planeta e redescobrir a

solidariedade.

Cabe destacar que Diskin e Roizman (2008), consideram que é necessário

construir uma cultura e educação para a paz, principalmente para as gerações mais

jovens, tendo a Assembleia Geral das Nações Unidas, declarado:

“Uma pessoa saudável e autoconfiante permite a expressão e

incentiva a investigação do novo, do possível e desejável,

mantendo uma atitude aberta para o encontro com a

diversidade. Aprender a transitar pelo ‘universo das diferenças’

e levar os aprendizes conosco nessa viagem exige reconhecer a

existência dos preconceitos e abrir mão deles, pois persistem

arraigados, provocando injustiças sociais, econômicas e

guerras, apesar da diversidade ser a raiz da vida e da cultura”.

(Diskin & Roizman, 2008, p. 20).

II. Objetivos

Descrever e refletir sobre situações de bullying ocorridas no universo escolar,

buscando ampliar o repertório de enfrentamento da comunidade escolar envolvida na

situação, para o desenvolvimento de uma cultura de paz e de valorização à diversidade

humana.

Os objetivos específicos foram:

Refletir sobre diversidade cultural, filosófica, étnica, religiosa, dentre outras, dos

seres humanos.

Levantar os recursos que os alunos têm para melhor agir perante as situações de

violência ocorridas na escola.

Integrar as ações sobre bullying na instituição, ampliando a efetividade das

ações junto aos alunos.

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Sensibilizar os professores para perceber situações diretas e indiretas de

bullying, no cotidiano escolar.

Refletir com os pais sobre a importância do papel da família na educação à

diversidade cultural e no enfrentamento da situação de violência.

III. Metodologia

Este projeto teve como público alvo a comunidade escolar: alunos, pais e

educadores.

Neste artigo apresentaremos os dados do corpo discente, embora tenha sido

contemplada uma parcela dos pais e educadores, que será analisada posteriormente.

Os alunos participantes do projeto pertenciam ao Ensino Fundamental e ao

Ensino Médio, envolvendo cinco salas de aula da 5ª série, cinco salas de aula da 6ª

série, seis salas de aula da 7ª série, cinco salas correspondente à 8ª série e três salas do

1º ano do Ensino Médio; totalizando 24 salas de aula trabalhadas.

Abaixo citaremos as atividades desenvolvidas em todo o Projeto Bullying, para o

conhecimento de todas as ações desenvolvidas, embora os dados que envolvam os pais

e/ou responsáveis e os educadores ainda encontram-se em fase de análise.

O quadro abaixo informa sobre todas as atividades desenvolvidas, a população

atingida e o correspondente número de participantes atingidos.

Quadro 1: Número de participantes por atividade desenvolvida e público alvo no Projeto Bullying

Atividades desenvolvidas Público alvo Nº de participantes

Escolares 678 Pais/Responsáveis 301

Aplicação de questionário

Educadores 37

Oficinas temáticas Escolares 867

Exibição e Discussão de Filme Escolares 867

Encontro com lideranças positivas Escolares 24

Bate papo com atletas Escolares 186

Aulas de Educação Nutricional Escolares 44

Reunião de pais Pais/Responsáveis *

Encontro com pais – A família e a

prevenção do bullying

Pais/Responsáveis 23

Reunião Pedagógica Educadores 37

6

* Esta atividade foi dirigida para os pais de todas as séries contempladas pelo Projeto Bullying e que

compareceram à reunião de pais prevista no calendário escolar, não sendo possível computar o número

total de pais presentes em todas as salas de aula.

Quanto aos procedimentos éticos, os pais e/ou responsáveis dos alunos das séries

envolvidas, foram informados a respeito do Projeto em duas ocasiões: primeiramente na

reunião de pais realizada pelo CE, onde o projeto foi divulgado, obtendo concordância

de todos os pais e/ou responsáveis presentes. E um segundo momento houve a

distribuição de um comunicado escrito sobre o Projeto, via alunos a ser entregue aos

seus pais e/ou responsáveis. Esta é uma forma utilizada pelo CE para comunicar

atividades realizadas junto ao seu corpo discente. Os pais que não concordassem com

qualquer atividade, deveriam comunicar à escola a não participação de seu filho.

Aplicação de questionário

Foi utilizado um questionário auto-aplicado, com o objetivo de colher dados e

informações que os alunos possuíam a respeito de bullying. O seu preenchimento fez

parte das oficinas com os alunos e a sua aplicação foi acompanhada pelas

coordenadoras. Foi utilizado em todas as oficinas, exceto em duas salas de aula da 5ª

série, devido a dificuldades operacionais.

As questões abertas, que exigiam respostas livres, foram compiladas e agrupadas

em categorias de respostas semelhantes, segundo a técnica de análise de conteúdo

desenvolvida por Bardin (1977).

Os dados tratados neste artigo referem-se às respostas ao questionário de 678

alunos participantes do projeto. Deste total 330 são do sexo feminino e 348 são do sexo

masculino. A idade dos alunos variou de 10 a 16 anos, sendo a maioria na faixa de 12 a

14 anos. Dados correspondentes aos questionários de duas salas de aula do 1º ano do

ensino médio (58 questionários) ainda não foram compilados, encontrando-se de fora

deste artigo.

Oficinas Temáticas

As oficinas foram realizadas com cada série, em suas salas de aula, durante o

horário escolar, com a duração de três horas cada. Cada encontro foi acompanhado por

duas psicólogas, sendo que uma ocupou o papel de coordenadora da atividade e a outra

como ego-auxiliar. As oficinas foram intervenções grupais face a face, com utilização

de jogos cooperativos e ações psicodramáticas. O objetivo destas era levantar e refletir

7

sobre as situações vividas de bullying, compartilhando afetos e buscando construir

respostas saudáveis para situações de maus-tratos entre pares. A sala de aula foi

reorganizada para a formação de um círculo central, configurando o espaço como de

uma roda de conversa.

Encontro com Lideranças Positivas

Com o objetivo de fomentar o protagonismo juvenil, foi solicitado à

coordenação pedagógica da escola que convidasse um aluno de cada série, que se

destacasse como liderança positiva em sua respectiva turma. O objetivo consistiu em

discutir sobre o tema com os líderes, ressaltando de que maneira os alunos poderiam

contribuir para a prevenção do bullying na escola; levantando-se sugestões de possíveis

intervenções a serem realizadas. Este encontro contou com a participação de uma

psicóloga e de um agente do centro cultural, como mediadores do debate.

Exibição e Discussão de Filme

Foram realizadas várias sessões de exibição do filme “Nunca fui beijada”1, no

Centro Cultural do CAT Vila Leopoldina. Cada sessão contou com a junção de duas

turmas. Foram levantadas e discutidas sobre as situações de bullying sofridas pela

personagem, bem como as consequências para sua vida. As exibições foram

acompanhadas pelos professores de cada turma.

A equipe de Psicologia contou com o apoio da equipe do centro cultural.

Aulas de Educação Nutricional

A partir da sugestão dos alunos no “Encontro com Lideranças Positivas”, foi

estabelecida uma parceria com a Divisão de Alimentação, para a orientação alimentar,

direcionada aos jovens que poderiam procurar as aulas espontaneamente. Além de

questões nutricionais também foram abordadas noções sobre regras de convivência nos

diferentes espaços sociais.

Bate papo com atletas

Esta atividade contou com a colaboração da Divisão de Esportes e Lazer.

Considerando-se os jovens atletas como exemplos de identificação para crianças e

1 O filme apresentado aos alunos respeitou a classificação etária estabelecida.

8

adolescentes, a equipe de Psicologia achou interessante propor uma parceria. O técnico

da equipe de base do voleibol disponibilizou três jovens atletas, com os quais foram

realizadas reuniões, para apresentação e elaboração da proposta de trabalho.

Esta atividade consistiu em um bate papo em sala de aula, onde os atletas

abordavam temas e valores do esporte como: dedicação, disciplina, responsabilidade,

respeito aos colegas, cooperação, trabalho em equipe. Após o bate papo foram sorteados

alguns alunos para assinar uma bola de vôlei que seria utilizada nos treinos esportivos.

A equipe de psicologia esteve presente em todos os encontros.

IV. Resultados

Análise do Questionário

A aplicação do questionário foi a primeira atividade realizada nas oficinas com os alunos.

Foram analisadas as seguintes questões:

Promoção da Diversidade Cultural – Prevenindo o Bullying na Escola. Questionário para alunos(as). Sexo: ( ) Masculino ( )Feminino Idade: ______ Série: ______ Data: ___/___/_____ 1. Você já ouviu falar sobre bullying?

( ) Sim (continue a responder o questionário) ( ) Não (por favor, devolva o questionário) 2. O que você sabe sobre bullying?

3. Em qual local você obteve essas informações?

( ) Televisão ( ) Revista ( ) Jornal ( ) Palestra ( )Escola ( ) Outro. Qual? __________

4. Você conhece alguém que tenha sofrido bullying na escola? O que aconteceu com ele(a)?

5. O que você acha que os(as) alunos(as) podem fazer para reduzir ou evitar as situações de bullying na escola?

Quadro 2: Questionário utilizado pelos escolares no Projeto Bullying.

Você já ouviu falar sobre bullying?

9

A grande maioria dos alunos, 98,2% já ouviu falar sobre bullying. Apenas 1,8%

referiu nunca ter ouvido falar.

O que você sabe sobre bullying?

Verificou-se que os alunos compreendiam bullying como um tipo de agressão,

distinguindo entre agressão em geral (zoar, violência, 31,6%), agressão verbal (xingar,

falar mal, 34,5%), agressão física (bater, apanhar, 30,0%) e agressão psicológica

(agressão moral, mental, 8,1%). Reconheciam bullying como uma prática que gera

intimidação (amedrontar, humilhar, 15,2%) e sofrimento psíquico no outro (frustração,

depressão, mágoa, 22,2%). O uso da Internet como meio de exposição do outro,

cyberbullying, também foi citado por 2,2%.

Entendiam também como bullying, entre outras coisas, a manifestação de

preconceito (12,9%), de apelidos de mau gosto (11,6%) e que ocorria principalmente no

espaço escolar (11,8%). Como algo repetitivo, acontece com alguém por muito tempo

(2,7%). Um aluno associou bullying à morte. Outras categorias levantadas encontram-

se no quadro abaixo,

Quadro 3: Porcentagem de respostas múltiplas categorizadas, para a

questão: O que você sabe sobre bullying?

É uma coisa ruim, algo feio de se fazer 3,9%

Ação de um grupo contra uma pessoa 5,2%

Zoar por características físicas ou psicológicas 9,0%

Ato que fere a lei (roubo, vandalismo) 2,7%

Produz exclusão 3,3%

Forma do agressor mostrar superioridade 1,9%

Destacamos algumas colocações dos alunos para exemplificar a maneira dos

jovens expressarem sua compreensão a respeito.

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“Bullying é quando uma pessoa sofre gozações todos os dias.

Mas gozações ‘pesadas’ que fazem a pessoa ficar depressiva e

também com medo dos outros”. (fem., 13a, 7ª série)

“O bullying fala sobre preconceito que as pessoas têm pelos

outros, apelidos que uns colocam nos outros que podem

machucar, outros até aceitam; bater sem motivos, etc”. (fem.,

12a, 6ª série)

“É uma coisa que mexe com o emocional da pessoa, deixando

ela triste, às vezes consigo mesma, pois ela pode ser gorda ou

ter uma orelha grande e com isso os ‘amigos’ ficam zuando

com ele, fazendo ele se sentir mal”.(masc., 13a, 7ª série)

“O bullying é um tipo de agressão tanto psicológica quanto

física. Quem sofre costuma se sentir sozinho e excluído da vida

social”. (fem., 13a, 7ª série)

“É uma forma dos alunos chamados de ‘populares’ oprimir os

chamados ‘nerds’”. (masc., 13a, 6ª série).

Em qual local você obteve essas informações?

Quanto ao local onde obtiveram informações sobre bullying, 74,9% obtiveram-

nas na escola; 70,5% por meio da televisão; 11,7% através da Internet; 3,7% pelo vídeo

game e apenas 3,3% através da família. Vale ressaltar que esta questão possibilitava a

ocorrência de respostas múltiplas.

11

Quadro 4: Porcentagem de respostas múltiplas, quanto ao local de

informação, em relação ao número de questionários respondidos

Escola 74,9%

TV 70,5%

Revistas 32,7%

Jornal 22,1%

Palestra 11,4%

Total: 21% 11,7% 3,7% 3,3%

0,4% 0,4% 0,3% 0,3% 0,1%

Outros:

Internet

Vídeo game

Casa e/ou Família

Amigo

Rua

Livro

Filme

Rádio

Experiência própria

0,1%

Você conhece alguém que tenha sofrido bullying na escola? O que aconteceu com

ele(a)?

Nesta questão, 74,8% relataram conhecer alguém que sofreu bullying, destes,

25,9% foram testemunha de situações que geraram sofrimento no outro. As respostas

dadas pelos alunos são: “Ele não aguentou de tanto zoarem com ele”; “Ele ficou muito

triste”; “Ficou com medo”; “Ficou bravo”; “Chorou muito”; “Ficou ofendido”; “Queria

parar de comer”.

Os educandos relataram que ser vítima de bullying faz com que este passe a se

retrair e a se silenciar diante a situação: “O problema é que ele não quer falar com os

pais, nem com ninguém, daí fica difícil ajudá-lo” (4,5%) e gera dificuldades alimentares

(1,2%).

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Quadro 5: Porcentagem de respostas múltiplas categorizadas, para a

questão: O que aconteceu com ele(a)?

Gerou sofrimento psíquico 25,9%

Foi xingado, falou-se mal da pessoa 22,0%

Humilhado por alguma característica física 17,0%

Foi apelidado 16,8%

Foi zoado 16,0%

Ficou desmotivado para a escola 12,7%

Sofreu agressão física 10,1%

A seguir destacamos algumas respostas dadas pelos alunos a esta questão.

“Ela saiu da escola, pois ficou muito depressiva e com

vergonha”. (fem., 13a, 7ª série)

“Sim, chamavam ele de gordinho, aí ele emagreceu, mas ficou

com anorexia”. (fem., 15a, 8ª série)

“Ele era muito agredido e sofria agressões verbais, acabou

ficando violento e excluindo-se da turma”. (masc., 15a, 1º ens.

médio)

“Ela sofre até hoje. Ela parece não estar feliz nunca”. (masc.,

12a, 6ª série)

“Sim, ele é muito fechado, não fala com ninguém e agora ele

se juntou com uma turma que ‘zoa’ os outros, para ele não ser

‘zoado’”. (masc., 13a, 7ª série)

O que você acha que os(as) alunos(as) podem fazer para reduzir ou evitar as

situações de bullying na escola?

Nesta questão foram categorizadas as colocações dos escolares para o

enfrentamento da violência entre pares, como vemos no quadro a seguir:

13

Quadro 6: Porcentagem de respostas múltiplas categorizadas, para a

questão: O que você acha que os alunos(as) podem fazer para reduzir ou

evitar as situações de bullying na escola??

Respeitar o outro 22,2%

Não provocar os outros; não zoar 14,5%

Aceitar as diferenças 9,4%

Não agredir 8,4%

Não xingar 8,1%

Buscar figura de autoridade 6,3%

Fomentar companheirismo 4,8%

Outras sugestões dadas pelos alunos são: não se envolver com quem pratica

(4,2%); ensinar a vítima a se defender (1,3%); colocar-se no lugar do outro (3,7%);

buscar uma mudança em si mesmo, como não se irritar facilmente, perceber os seus

próprios defeitos e ter cuidado com o que fala (4,3%). Acham que não é possível fazer

nada 0,7%, e um aluno respondeu suicídio como a forma de evitar as situações de

bullying.

A seguir destacamos algumas respostas dadas pelos alunos a este questão.

“Todos devem ter consciência de que tem que ter respeito um

pelo outro”. (fem., 13a, 7ª série)

“Devemos evitar o preconceito e ser mais calmos, pois aí

evitaremos a violência”. (masc., 13a, 7ª série)

“Em vez de brigar, resolva na conversa, se alguém te perturbar,

vá para longe, se continuar a encher, fale ao professor”. (fem.,

13a, 7ª série)

“Ver que ninguém é igual a ninguém e as diferenças deixam

mais cheia de vida a sociedade”. (fem.,10a, 5ª série)

14

“Acho que as brigas devem parar, esse negócio de colocar

apelidos nos outros e não julgar antes de conhecer”. (fem., 12a,

6ª série)

“Deveriam se colocar na posição de

quem está sofrendo bullying”.

(masc., 14a, 8ª série)

Resultados da abordagem qualitativa

Durante a divulgação deste trabalho na reunião de pais e/ou responsáveis, estes

ressaltaram a importância desta atividade, apoiando a iniciativa. Houve boa

receptividade em relação à proposta, e nenhum deles discordou do projeto.

Oficinas Temáticas

A proposta das oficinas com alunos foi a de permitir que entrassem em contato

com os sentimentos despertados pela vivência de bullying, possibilitando a elaboração

destes. Percebeu-se que estas são situações onde há dificuldades para se falar sobre, o

que pode gerar prejuízo na vida emocional dos educandos.

De forma geral, esta atividade possibilitou a promoção de uma reflexão e

expressão do sentir na maioria dos alunos. Porém, em alguns momentos, os alunos

pareciam mais envolvidos na culpabilização do outro, do que em refletir sobre sua co-

responsabilidade nas ações de maus-tratos. Nestas salas, as discussões circulavam entre

alguns alunos específicos, sugerindo o papel de bode-expiatório, que recebiam uma

forte carga projetiva de emoções não simbolizadas pelos demais. Isto gerava um clima

de disputa, intolerância e de ataque e defesa, o que prejudicava a reflexão sobre a

opinião do outro que, muitas vezes, era rechaçada.

Na maioria das classes, em que não havia uma liderança negativa dominante, os

alunos falaram espontaneamente sobre seu sofrimento e manifestaram, com auxílio das

dinâmicas de grupo realizadas, o desejo de reparação, por exemplo, através de um

pedido de desculpas aos colegas agredidos e à sua classe. Constatamos, todavia, que

alguns educandos, que se identificaram ou foram identificados como agressores,

pareciam distantes dessa possibilidade de reparação, sentindo-se, inclusive, fortalecidos

por esta posição. Nestes casos verificou-se a necessidade de uma maior compreensão

15

sobre a dinâmica das relações de violência, um acompanhamento mais próximo deste

aluno e também o estabelecimento de limites a favor de um convívio mais harmonioso

entre os pares.

Outro importante elemento na dinâmica do bullying foi o grupo de alunos que se

constituiu como espectador dos atos de maus-tratos (plateia). Este grupo reforçava o

comportamento do agressor, através de risadas, gestos e palavras que compactuavam

com a ação violenta. Foi interessante notar que na execução de algumas dramatizações,

este grupo de espectadores se expressava fortemente, por meio de caretas e murmúrios,

porém quando as coordenadoras solicitavam que expusessem sua opinião

individualmente, estes pareciam acuados e não se responsabilizavam pelo fato de

participar da situação de zombar e minimizar o outro.

É necessário investigar melhor como se inscreve essa “força” somente

constituída no fenômeno grupal, pois pareceu-nos que o indivíduo, quando constituinte

da plateia, se escondia atrás desta, protegendo-se e diluindo-se na identidade grupal.

Pudemos perceber de uma maneira geral que os alunos mais novos (5ª e 6ª

séries), apresentavam uma mobilização de sentimentos expressa por choros e desabafos

na forma de falas mais desorganizadas, enquanto que alunos mais velhos (a partir da 7ª

série) argumentavam e discorriam a respeito de seus sentimentos, de forma mais

elaborada.

Pudemos perceber que as oficinas foram encontros permeados por reflexão e

que, a partir dessa compreensão mais alargada das relações estabelecidas entre eles, foi

possível transformar seus sentimentos, onde muitos expressaram o desejo de ser aceitos

pelo grupo, e, emocionalmente implicados, pediram desculpas, possibilitando assim

reconstruir vínculos e reparar afetos.

Encontro com Lideranças Positivas

Neste encontro os educandos discutiram sobre como os jovens poderiam

contribuir para a prevenção do bullying e a construção de uma cultura de paz na escola.

Foi um encontro bastante rico, onde alunos de diversas faixas etárias encontraram um

espaço para expor seus pensamentos e sentimentos, percebendo que o fenômeno

bullying perpassava todas as séries envolvidas. Os educandos também colocaram sobre

a importância deste encontro, sentindo-se valorizados e respeitados em suas

considerações sobre a temática.

16

Destacamos algumas considerações e sugestões dadas, como a importância em

fomentar uma maior interação entre os alunos para que eles passem a se conhecer

melhor, desfazendo “panelinhas”, percebidas por eles como contraproducentes para a

integração de toda sala de aula. Alguns colocaram que a realização de gincanas entre os

alunos possibilitaria maior entrosamento entre todos. Também sugeriram que houvesse

um pic-nic entre os alunos e entre estes e os professores, para maior conhecimento e

integração. Esta sugestão inspirou a realização da atividade “Aulas de Educação

Nutricional”, descrita logo abaixo.

Consideraram que, os agressores (aqueles que praticam bullying) precisavam,

como estratégia para que não repitam mais esse comportamento, “ser levados para o

outro lado da vida, ter música, artes, leitura. A escola dar oportunidades para as

pessoas” (sic). Acreditavam que é importante que os jovens sejam ajudados a descobrir

quais os seus interesses, de maneira a estimular a construção de projetos positivos de

futuro.

Também pontuaram sobre a valorização do bom aluno, que estuda e ajuda os

demais, por exemplo, parecendo-lhes que os “bagunceiros” obtinham mais espaço,

atenção e dedicação dos atores escolares. Alguns colocaram que, muitas vezes, sentiam-

se sem escuta junto aos educadores, pedindo que suas falas fossem levadas em

consideração: “Às vezes a gente tem razão, mas é assim: é criança, e não liga para o que

(ela) diz (sic)”.

Relataram sobre a importância da alegria e do divertimento, de um modo

saudável (sem ridicularizar o outro, por exemplo) que, como crianças e jovens que são,

lhes é muito prazeroso e que, muitas vezes, sentem falta de momentos e atividades mais

lúdicas. Destacaram, assim, a necessidade de se resgatar o sonhar e o brincar, como

modos de se cultivar o encantamento de viver.

Exibição e Discussão de Filme

Foi exibido o filme “Nunca fui beijada”2, que tratou do tema de forma leve e

envolvente. Os alunos mostraram-se interessados, discutindo suas percepções após a

2 Este é um filme norte-americano, do gênero comédia romântica, produzido pela Flower Films, cuja sinopse é: Aos 25 anos, Josie é uma redatora de um grande jornal. Ela inventa uma reportagem que pode ser sua grande chance para tornar-se repórter: disfarça-se como aluna de sua própria escola de segundo grau e tenta descobrir alguma grande história sobre a vida dos adolescentes. A reportagem acaba tornando-se uma espécie de chance de reviver sua própria adolescência. O que ninguém sabe é que ela nunca viveu um romance. Mas em sua volta à escola, tudo pode mudar.

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exibição. Foram levantadas com eles as situações de bullying sofridas pela personagem,

bem como as consequências para sua vida.

As salas de 5ª série foram mais agitadas, que podemos consideramos ser devido

à mudança de ambiente (da sala de aula para a sala de cinema do centro cultural) e de

atividade (disciplinas em sala de aula para sessão de filme), por exemplo.

Percebemos também que alguns professores ao acompanhar os alunos no Cine

Clube, revelaram maior interesse pela proposta, participando da discussão com os

educandos, já outros não se mostraram tão envolvidos; indicando a necessidade de

maior sensibilização junto ao corpo docente.

Aulas de Educação Nutricional

Quanto a esta atividade, a nutricionista parceira do trabalho, retomou o assunto

bullying com as turmas, estabelecendo regras de convivência entre os educandos e

ministrando aulas de culinária em grupo. Os alunos fizeram receitas culinárias, que ao

final, todos saborearam, permitindo que dividissem e compartilhassem o produto de seu

próprio trabalho. Foram transmitidos conhecimentos sobre nutrição, hábitos alimentares

saudáveis, e receitas apropriadas à idade dos participantes.

Ao final das oficinas, entregou-se o livro “Guia de Alimentação: missão possível

alimente-se bem infanto-juvenil”, editado pela Divisão de Alimentação do SESI de São

Paulo (2009). Esta cartilha é destinada ao público jovem, contendo informações sobre

os grupos alimentares, a importância da boa alimentação na adolescência (o papel da

alimentação no crescimento, a alimentação como fator de aceitação pelo grupo, a

influência dos padrões estéticos corporais e o fácil acesso ao consumo de fast food),

bem como receitas voltadas para o público jovem. Estas aulas canalizaram a energia dos

participantes para a descoberta de um novo saber: a Culinária.

Bate papo com atletas

Os jovens atletas apresentaram-se aos alunos e foi possível notar a admiração

dos escolares por eles. O bate papo transcorreu sobre os valores associados ao esporte

como responsabilidade, cooperação, respeito, disciplina e trabalho em equipe;

estabelecendo-se um paralelo entre esses valores tanto para o time de vôlei como para a

turma de alunos, visando o estabelecimento de uma convivência harmoniosa.

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Foram encontros descontraídos, onde os atletas contaram um pouco de suas

histórias escolares, o que os marcou e lhes fez bem. Os alunos estavam animados e

participavam contando situações cotidianas da classe, onde mostravam que também

conheciam os colegas. Em uma das salas era aniversário da professora e todos cantamos

parabéns. O auge dos encontros, sem dúvida, era o sorteio para assinarem a bola de

vôlei.

Os atletas também colocaram que para se conquistar sonhos, implica em

aprender a superar dificuldades e que o apoio de seus colegas é fundamental para

enfrentar desafios.

Alguns alunos colocaram que o clima de bagunça e desrespeito em sala de aula

interfere na concentração e no aprendizado, também dificultando o professor em

ministrar sua aula. Os atletas comentaram sobre situações de bullying e de

discriminação que vivenciaram, aproximando-se das situações discutidas com os alunos

durante as oficinas.

Foram momentos de troca e consideramos que propiciou uma reflexão sobre

modos mais positivos de se relacionarem.

V. Discussão

Percebemos que as situações de bullying estão presentes no universo escolar,

entendidos pelos escolares como intimidar, apelidar, agredir, excluir, “zoar” e causar

sofrimento, entre outros. A grande maioria conhecia alguém que já sofreu bullying e

muitas vezes diziam espontaneamente terem sofrido. Podemos dizer que a maioria dos

jovens convive com situações de agressão, de intimidação e preconceito.

Verificamos que os alunos têm percepção das consequências negativas

resultantes das situações de bullying, principalmente para as pessoas que sofrem

agressão. Puderam perceber que vivenciavam algum tipo de sofrimento psicológico, que

se tornaram desmotivadas para ir à escola, manifestavam depressão, isolamento social e

dificuldades alimentares.

Sobre o enfrentamento do bullying, consideraram que o exercício do respeito ao

outro é um modo de se reduzir ou evitar os maus-tratos entre pares na escola,

destacando a importância de se aprender a lidar com as diferenças e combater o

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preconceito. A possibilidade de se ter atividades que favoreçam a integração e o

conhecimento dos jovens foi destacada como um modo de se lidar com o bullying.

Pudemos constatar que, após a atuação com cada sala de aula, havia um maior

comprometimento dos alunos no sentido de cuidarem melhor das relações com os

semelhantes. Também obtivemos um feedback dos parceiros do Centro Cultural, de que

houve melhora na disciplina e no cuidado com o patrimônio da instituição.

Chamou atenção que os educandos apontaram a escola como meio de obtenção

de informação sobre bullying e poucos referiram à família, denotando o quanto a família

pode não estar atenta ao fenômeno e às suas consequências. Levanta-se a questão em

relação ao modo como os pais abrem espaço para o diálogo, a negociação de regras com

os filhos e a resolução dos conflitos em casa, e qual o papel da escola enquanto agente

de proteção do aluno no contexto onde a violência esteja presente. Acreditamos que isto

possa ser melhor investigado quando forem analisados os dados coletados dos

questionários e das atividades desenvolvidas com os familiares e educadores.

Cabe aqui ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente considera as

crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos e dispõe claramente em seu Artigo

4º, das disposições preliminares, que:

“É dever da família, da comunidade, da sociedade geral e do

Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação

dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária”.

A família e a escola devem ser espaços continentes e promotores do

desenvolvimento saudável das futuras gerações. Cabe a essas instâncias, e a toda

sociedade, coibir a violência, explícita ou simbólica, protegendo e ajudando a todos,

quem pratica, quem sofre e quem testemunha.

Para ser possível a construção de estratégias de prevenção e intervenção, é

essencial a conscientização de todos os elementos envolvidos no contexto escolar. A

metodologia empregada no presente trabalho, ao adotar uma intervenção

interdisciplinar, abriu caminho no sentido de um questionamento amplo a respeito do

tema e propôs algumas formas de se lidar com esta realidade.

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Tendo em vista o compromisso da ação educativa para o desenvolvimento de

uma sociedade que preserva valores tais como respeito à diversidade, tolerância,

diálogo, cooperação, solidariedade, há que se avaliar a ocorrência de situações de

violência entre escolares e propor formas de intervenções no sentido de difundir uma

cultura de paz e não-violência.

VI. Considerações finais

Este trabalho visou uma sensibilização sobre o tema bullying, trabalhando-se o

conceito e as consequências desses comportamentos entre todos os envolvidos. Propôs-

se atuar principalmente junto aos alunos, não deixando de envolver os pais e

educadores. A expectativa não foi de que este tipo de comportamento fosse extinto,

dada a complexidade que permeia as relações humanas. Faz-se necessário ampliar a

investigação sobre causas e consequências do bullying para ser possível a construção de

novas formas de enfrentar a situação e potencializar as ações de pais e educadores na

prevenção da violência no âmbito escolar.

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