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Um gênero em dois veículos de
mídia digital: a análise do gênero
“crítica” sob a perspectiva
sistêmico-funcional
V SIGET – Univ. Caxias do Sul - 2009
sistêmico-funcional
Gisele de Carvalho UERJ
1. Pontos de partida
� A circulação dos gêneros do discurso em meio digital: portais, sítios, blogues; de leitores a usuários �interatividade
� O evento motivador� O objetivo deste trabalho: destacar as contribuições da
análise de gêneros sob a perspectiva sistêmico-
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análise de gêneros sob a perspectiva sistêmico-funcional, tomando como exemplo os resultados de um estudo do gênero crítica/resenha, disseminado em meio digital nos sítios de duas revistas de atualidades e em quatro blogues de cinema
� A pergunta de pesquisa: A publicação de resenhas em suportes diferentes mantém ou altera a estrutura genérica e o padrão prosódico avaliativo do gênero?
2. Uma breve descrição do corpus
� 20 críticas de cinema: 10 publicadas nos sítios das revistas Veja e Época; 10 postadas em 4 blogues de cinema, a saber: Cinema e Argumento, Diário de Dois Cinéfilos,
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Argumento, Diário de Dois Cinéfilos, Hollywoodiano e Museu do Cinema.
� Os 10 filmes são avaliados 2 vezes: uma na revista e outra no blogue
� coleta realizada entre janeiro e abril de 2008
3. As contribuições da análise de gênero sob a
perspectiva sistêmico-funcional
� Gênero – definições:Eggins e Slade (1997, p. 56): “atividade com
propósito e estágios reconhecidos, na qual
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propósito e estágios reconhecidos, na qual os participantes se engajam como membros de uma cultura”
Martin e White (2005, p. 32): “processo social com estágios e propósitos reconhecidos”
Consequentemente...
� 1. gêneros são produzidos por atores sociais em seus contextos e são analisáveis em seus aspectos macro-discursivos e micro-textuais;
� 2. o estudo de gêneros assim definidos
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� 2. o estudo de gêneros assim definidos precisa de ferramentas analíticas que possam dar conta das ações realizadas por meio da linguagem em nossas interações sociais.
Contexto de Cultura, gênero e EGP
� EGP das críticas de filmes: 1) classificação do filme segundo o gênero a que
pertence;2) resumo do enredo do filme;
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2) resumo do enredo do filme; 3) avaliação (de diferentes aspectos) do filme;
4) recomendação para o leitor
Contexto de situação & registro
� “Todo uso de linguagem tem um contexto. As características ‘textuais’ permitem que o discurso seja coerente não só com ele mesmo, mas também com seu contexto desituação” (HALLIDAY; HASAN, 1985, p. 45)
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situação” (HALLIDAY; HASAN, 1985, p. 45)� Registro e suas variáveis: campo, relações e
modo� descrição da linguagem que prioriza a
correlação sistemática, mas probabilística, entre texto e contexto
As variáveis do contexto
� Campo - o quê? A atividade social e seu propósito:cotidiana ◄▬▬▬▬▬►especializada
� Relações – quem? Os participantes e seus papéis sociais:relações de poder: igual ◄▬▬▬▬▬► desigualcontato: frequente ◄▬▬▬▬▬►ocasionalenvolvimento afetivo: alto ◄▬▬▬▬▬►baixo
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envolvimento afetivo: alto ◄▬▬▬▬▬►baixo
� Modo – como? A linguagem e seus usos:ação ◄▬▬▬▬▬► reflexãomais espontânea ◄▬▬▬▬▬► mais preparadamais dialógica ◄▬▬▬▬▬►mais monológica
Prevendo o texto...
� os textos dos blogues: o blogueiro se coloca como um generalista ou diletante �linguagem menos especializada
� a menor discrepância nas relações de poder
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� a menor discrepância nas relações de poder entre os interagentes no blogue � mais marcas de interação; uso de linguagem mais propício à troca.
Atitude - recursos semânticos usados para
negociar emoções...
� Afeto (que emoção o filme provoca em você?�Alegria/tristeza�Segurança/insegurança�Satisfação/Insatisfação
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�Satisfação/Insatisfação
Martin & Rose (2003) e Martin & White (2005)
...avaliar a qualidade estética de processos
semióticos ou fenômenos naturais...
� Apreciação - O que você acha do filme? �Reação (qualidade & impacto)�Composição (proporção & complexidade)�Valor (relevância & originalidade)
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�Valor (relevância & originalidade)
Martin & Rose (2003) e Martin & White (2005)
... e o comportamento humano.
� Julgamento – como você julga (a atuação profissional de) X?
�Capacidade�Tenacidade
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�Tenacidade�Normalidade
Martin & Rose (2003) e Martin & White (2005)
Exemplo do sítio da revista
Doce sem ser adocicadoJuno, uma das criações mais originais do cinema independente, merece mais do que suas quatro indicações ao Oscar: merece ser vistoAlgumas adolescentes se expressam por meio das roupas que vestem, outras montam blogs, outras ainda fazem álbuns de colagem. Já a personagem-título de Juno (Estados Unidos/Canadá, 2007) dirige toda a sua criatividade para o que diz, e como o diz. Juno é incapaz de deixar uma palavra quieta no seu canto: todas elas têm de ser modificadas ou arranjadas em combinações inovadoras e improváveis. É condizente então que os diálogos do
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inovadoras e improváveis. É condizente então que os diálogos do filme (já em exibição em esquema de pré-estréias, e com entrada em circuito prevista para o dia 22) fervilhem de imaginação – e que, na interpretação da notável Ellen Page e dos atores igualmente inteligentes que lhe fazem companhia, eles ricocheteiem para lá e para cá como balas num tiroteio. Oportunidade para essa fuzilaria não é o que falta na história. [...]
� Revista Veja, edição 2046, de 6 de fevereiro de 2008, por Isabela Boscov
Análise – exemplos do sítio da revista
� Apreciação - “o filme dirigido por Jason Reitman é uma das criações mais originais do cinema americano nos últimos anos” (valor +)
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(valor +)� Julgamento - Reitman [...] é seguro no
controle do ritmo e do tom (capacidade +)
Exemplo do blogue
Juno Quem me conhece, sabe o quanto eu ando cético e decepcionado em relação ao cinema atual. Quem me conhece, também sabe o quanto eu me encanto com filmes grandiosos, épicos... Justamente numa hora em que Hollywood e a maioria da crítica especializada tentam fabricar falsas obras-primas, o ótimo (e ainda novo) diretor Jason Reitman vem com esse Juno (Juno, 2007) e me deixa sem palavras. Minha fé no bom cinema está de volta.Alguns filmes estão além de qualquer elogio ou palavra. Por mais
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Alguns filmes estão além de qualquer elogio ou palavra. Por mais que eu tente decifrar e explicar aqui os encantos proporcionados por Juno, isso significaria horas e horas de enrolação e não chegaríamos a lugar algum. Acho que basta dizer que o filme de Jason Reitman atingiu em cheio o meu coração. É isso. Estou apaixonado por Juno. Alguns filmes têm esse poder. Um endereço certo. [...]
� Hollywoodiano (http://www.hollywoodiano.com/), de 27 de janeiro de 2008, por Otávio Almeida
Análise – exemplos do blogue
� Afeto – (eu) Estou apaixonado por Juno. (satisfação +)
� Apreciação – [...] o filme representa originalidade dentro de um tema tão batido
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originalidade dentro de um tema tão batido (valor +)
� Julgamento - O diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody ainda são capazes de encher o filme de referências pop que não deixam nenhum leigo perdido (capacidade +)
A prosódia atitudinal de críticas
� tendência ao elogio� avalia-se mais o produto do que o
comportamento humano � ao não avaliar por meio de Afeto, o crítico
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� ao não avaliar por meio de Afeto, o crítico constrói uma imagem discursiva de quem privilegia a análise objetiva, buscando conferir credibilidade à avaliação
Carvalho, 2006
Explicando as diferenças
� Na revista (Scalzo, 2003):
� público � busca credibilidade nas fontes à disposição
� jornalista como mediador � analisa, seleciona, recorta e oferece informações qualificadas ao público
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� jornalista e seu público � fala para ele; não divide seu espaço com o leitor
� jornalista e seu posicionamento � subjetividade marcada indiretamente; avalia por meio de Apreciação e Julgamento somente e assim mantém distância social adequada
Explicando as diferenças
� No blogue:� blogueiro e seu público � o espaço
interacional é compartilhado � blogueiro como mediador � estimula a
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� blogueiro como mediador � estimula a interação entre os diferentes participantes
� blogueiro e seu posicionamento �subjetividade marcada diretamente por meio da primeira pessoa do singular, mas também por meio de avaliação de Afeto, a mais pessoal e interpessoal das três categorias
4. Voltando ao ponto de partida
� Linguística Sistêmico-Funcional e da Teoria de Gênero e Registro oferecem pressupostos teóricos e metodológicos que permitem:
� analisar os recursos usados em interações sociais segundo as convenções de uma determinada atividade social e seus propósitos comunicativos.
� identificar características léxico-gramaticais de um exemplar de um gênero e relacioná-las tanto aos estágios que o realizam, quanto
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gênero e relacioná-las tanto aos estágios que o realizam, quanto aos diferentes aspectos de sua configuração contextual, assim cumprindo a tarefa de correlacionar texto e contexto da cultura e da situação.
� O modelo sistêmico-funcional põe à disposição dos pesquisadores de gênero uma multiplicidade de possibilidades analíticas que têm como fundamento a interrelação entre linguagem e vida social. É abrangente e detalhado ao mesmo tempo, pois procura descrever os recursos léxico-gramaticais e discursivos em sua relação com o contexto sociocultural.
4. Voltando ao ponto de partida
� os textos disponibilizados no sítio das revistas e nos blogues são exemplares do gênero resenha/crítica � semelhanças tanto na estrutura genérica quanto na prosódia avaliativa; as diferenças identificadas se explicam pela relativa estabilidade dos gêneros
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se explicam pela relativa estabilidade dos gêneros (BAKHTIN, 1979/1992).
� a tecnologia de nossos dias, de certo modo, tanto permite o surgimento de novas formas dos velhos gêneros, como acentua a nossa percepção da sua instabilidade.
Referências
� BAKHTIN, M. (1979) Os gêneros do discurso. In Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina G. G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 277-287
� BERBARE, A.P. Crítica de cinema: caracterização do gênero para projetos de produção escrita na escola. In: LOPES-ROSSI, M. A. (org.) Gêneros discursivos no ensino de leitura e produção de textos. Taubaté-SP: Cabral Ed. e Livraria Universitária, 2002, p.41-58.
� CARVALHO, G. Críticas de livros: um breve estudo da linguagem da avaliação. Linguagem em (Dis)curso. Tubarão, v.6, n.2, p. 179-198, mai/ago 2006.
� CARVALHO, G. Atitudes diferentes: quando o blogueiro e o jornalista escrevem sobre cinema. In: ALSFAL - Congresso da Associação de Lingüística Sistêmico-Funcional da América Latina, 4, 2008, Florianópolis - SC. Anais do 4o Congresso da Associação de Lingüística Sistêmico-Funcional da América Latina. No prelo.
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Sage, 1996, p 232-256.
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Sage, 1996, p 232-256.� HALLIDAY, M.A.K. Introduction to Functional Grammar. London: Edward Arnold, 1985.� HALLIDAY, M.A.K.; HASAN, R. Language, Context and Text: Aspects of Language in a Social-semiotic perspective. Oxford:
Oxford University Press, 1985.� HYLAND, K. Disciplinary Discourses – social interactions in academic writing. Harlow, UK: Pearson Education Limited, 2000.� MACHADO, A.R. (org.); LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L. S. Resenha. São Paulo: Parábola, 2004.� MARTIN, J.R. Beyond Exchange: APPRAISAL Systems in English. In: HUNSTON, S.; THOMPSON, G. (eds). Evaluation in Text:
Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000, p. 142-175. � MARTIN, J.R.; WHITE, P. R. R. The Language of Evaluation. New York: Palgrave Macmillan, 2005.� MARTIN, J.R.; ROSE, D. Working with Discourse: meaning beyond the clause. New York: Continuun International
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www.bocc.ubi.pt. Acesso em 26/05/2008.� RECUERO, R. O interdiscurso construtivo como característica fundamental dos webrings. Texto. Porto Alegre, v.10, 2004. Disponível
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Linguagem & significados
� HALLIDAY (1985, p. 3): Linguagem é “um dentre os sistemas por meio dos quais construímos significados”; “esse sistema se organiza na forma de rede de escolhas léxico-gramaticais”
� A linguagem é vista como um recurso social para
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� A linguagem é vista como um recurso social para expressar esses significados ideacionais, interpessoais e textuais ao mesmo tempo, significados esses que “podem ser identificados em unidades linguísticas de todos os tamanhos: no léxico, no sintagma, na oração, na frase e no texto” (EGGINS; SLADE, 1997, p. 48)