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UM MOVIMENTO, UMA ESCOLA, UMA DOUTRINA...
Karina de FátimaVisentin Bochnia1
Nádia Maria Guariza2
Programa de pós-graduação em história (PPGH) Unicentro.
Resumo: Este texto procurou perceber em que patamar ideológico se deu a
construção do Movimento das Mulheres da Primavera (MMP) em Guarapuava.
Sendo que as primeiras formações que elas tiveram sobre organizações
políticas, foram na Escola Diocesana de Fé e Política (EDFP). Dessa forma,
tornou-se imprescindível compreender a trajetória da EDFP. As fontes
analisadas foram: atas do movimento, encíclicas, cartas e constituições
apostólicas do vaticano. Conclui-se com esta pesquisa que a trajetória da
EDFP amparou-se nos princípios da DSI, possibilitando a formação inicial
política de algumas das integrantes MMP.
Palavras - chave: Movimento das Mulheres da Primavera - Escola Diocesana de Fé e Política – Doutrina Social da Igreja.
Financiamento: Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES)
Ao pensarmos sobre a trajetória da EDFP em Guarapuava/PR, e suas
influencias para o Movimento de Mulheres da Primavera. È necessário
primeiramente respondermos a seguintes questões: O que é o MMP, qual é a
sua relação com a Escola Diocesana de Fé e Política (EDFP)? E em que bases
deram-se a formação da EDFP em Guarapuava?
1 Bolsista da Capes, tem experiência na área de Gênero, história das mulheres e movimentos sociais. Mestranda do Programa de pós-graduação em história/PPGH – Unicentro. E-mail: [email protected] 2 Doutora pela Universidade Federal do Paraná (2009). Atualmente é Revisor de periódico da História. Questões e Debates e Adjunto 1 da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Tem experiência na área de Ciência Política. Atuando principalmente nos seguintes temas: Gênero, Catolicismo, Movimento leigo. E-mail: [email protected]
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O MMP surgiu no ano de 2003, no Bairro Primavera na cidade de
Guarapuava/PR, através de um questionamento em uma roda de chimarrão
por mulheres que atuavam dentro da Igreja católica Nossa Senhora de Fátima,
sobre o porquê o mercado acabava com o significado do dia oito de março.
Sendo questionadas na época pelo padre Sércio Ribeiro Catafesta3, sobre o
que elas faziam para modificar tal situação, uma das mulheres teve a ideia de
realizar a romaria da mulher, para chamar a atenção da comunidade. A romaria
da mulher deveria seguir o modelo da romaria da terra: uma manifestação
religiosa que ocorre periodicamente no Brasil e é organizada pela Comissão
Pastoral da Terra4 (BOCHNIA, 2015. p.6)
Foram então atrás de outras mulheres para auxiliá-las na organização e
partir daí começaram a reunir-se para discutir problemas vivenciados
cotidianamente. Legalmente o movimento existe desde 2009, com registo em
ata, mas foi a partir da primeira romaria no ano de 2004, que elas começaram a
reunir-se para encontrar-se quinzenalmente. (Idem, p.7)
Importante, destacar que o padre Sércio, lançou na paróquia Nossa
Senhora de Fátima, no ano de 2002 o chamado Projeto do Bem Comum, com
base na CNBB esse projeto visava eleger um representante da comunidade
para atuar como representante político do bairro. Este padre atuou no ano de
2005 como assessor diocesano na EDFP e incentivou uma das participantes
do MMP a participar como aluna da EDFP entre 2007 e 2009. Esta mesma
representante foi escolhida pelo Projeto a atuar como uma das representantes
como vereadora da cidade de Guarapuava/PR no ano de 2008. Posteriormente
3 Padre da paróquia Nossa Senhora de Fátima na época (2003) 4 A Comissão Pastoral da Terra (CPT) nasceu em junho de 1975, durante o Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizado em Goiânia (GO). Foi fundada em plena ditadura militar, como resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições análogas ao trabalho escravo e expulsos das terras que ocupavam.<http://www.cptnacional.org.br/index.php/sobre-nos/historico> Acesso em 29/06/2016
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mais duas integrantes do MMP, frequentaram a EDFP entre os anos de 2011 e
2012. (Idem, p.8)
Desta maneira, faz-se necessário compreender em que princípios
deram-se a formação da EDFP, para nos orientar em outra análise sobre o
caminho trilhado pelo MMP.
Ao analisar a da tese do padre Antônio Aparecido Alves, procuramos
compreender que olhar a Igreja lançou sobre a dimensão política das Escolas
de fé e Política na Igreja Católica. Ao mencionar as escolas de formação de fé
e política, Antônio Aparecido Alves apontou que essas escolas tornaram-se
parte realidade recente na igreja, sendo que a primeira experiência iniciou em
1991, na diocese de Ji- Paraná (RO). Em seguida, outras escolas foram
motivadas a partir da campanha da fraternidade, lançada pela igreja em 1996.
(ALVES, 2010. p. 06)
O ano de 1996 foi o ano de eleições municipais tendo a inserção das
primeiras urnas eletrônicas5 no Brasil, ano em que a Igreja Católica lançou a
campanha da fraternidade, tendo como objetivo: “Contribuir para a formação
política dos cristãos para que exerçam sua cidadania sendo sujeitos da
construção de uma sociedade justa e solidária.”6
A campanha teve como como lema o tema: “Paz e justiça se
abraçarão”, sobre o princípio do que a igreja chamou de fraternidade política,
frases expressas nos manuais de formação e livros de cânticos da campanha.
Na página da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – (CNBB), a
justificativa para a campanha foi a de que o momento pelo qual se passava era
um momento de crise nas instituições, dessa maneira a igreja estava reagindo
através de uma dedicação ao bem estar da comunidade.
5 http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2014/Junho/conheca-a-historia-da-urna-eletronica-
brasileira-que-completa-18-anos> Acesso em 15/05/2016 6 http://campanhas.cnbb.org.br/campanha/fraternidade1996> Acesso em 15/05/2016
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A partir do surgimento dessas escolas motivadas pela campanha da
fraternidade, a CNBB contatou-as organizando um Seminário Nacional de Fé e
Política em abril de 2004, o qual lançou um projeto sobre o Centro Nacional de
Fé e Política, que foi aprovado pela Presidência da CNBB em 21 de fevereiro
de 2005, por sua vez, em Sessão Solene no auditório da CNBB, foi fundado o
“Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara.” (ALVES, 2010. p.13)
Na tese do padre Antônio aparecido, percebemos como a igreja parte da
tradição para explicar mudanças e o envolvimento com as causas sociais, as
quais não são recentes. Dessa maneira, o autor enfatiza o papel da Igreja,
mostrando que: “Desde 1891, com a encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, a
Igreja vem construindo uma Doutrina Social(...) (ALVES, 2010. p.15).Essa
encíclica é considerada o marco do ensino social da Igreja Católica. (COSTA,
2006. p.23)
Assim, observamos na encíclica Rerum Novarum o modo como esta
instituição buscou elaborar uma forma de pensar seu próprio processo, frente
às modificações que a sociedade vivenciara. A instituição precisou modificar-
se frente às transformações dessa sociedade, por isso a necessidade e uma
tentativa de compreender como se deu este processo através de óticas que
possibilitem um olhar para além do singular. Nesse contexto, para que
possamos compreender sob que bases deram-se a elaboração da Escola
Diocesana de Formação Política em Guarapuava/PR, faz-se necessário
analisar como os posicionamentos políticos desta instituição, foram
modificando-se perante as mudanças sociais que foram ocorrendo, até o final
da década de 1990.
A primeira vez que a Igreja abordou a questão social, como já
mencionado foi no documento Rerum Novarum, sendo esse documento o
responsável pelo o que se passou a chamar de Doutrina Social da Igreja (DSI).
Termo que passou a ser utilizado pelos posteriores documentos do vaticano II
e que balizou os passos pelos quais esta instituição foi tomando rumos
5
politicamente7. O documento faz críticas às consequências advindas da
revolução industrial, ao capitalismo e a ideologia liberal. (CNBB, 2004 p.12)
Além disso, é preciso lembrar que além da crítica ao liberalismo, inserido
no princípio capitalista, outra situação que ocorria eram as organizações
socialistas, que ganhavam terreno e se consolidavam em termos
internacionais. Pois, “Temendo perder os fiéis para a “religião do comunismo”,
a Rerum Novarum adota do começo ao fim um tom conciliatório entre patrões e
operários e combativo frente à “onda vermelha” (CNBB, 2004 p. 14)
Sobre a influência da DSI, Alves, relata sobre as primeiras experiências
das escolas de fé e política a partir da década de noventa, observando que:
O tema “Fé e Política” teve espaço significativo na história recente da Igreja do Brasil. Desde a Ação Católica nas décadas de 50 a 70, especialmente com seus ramos especializados, tem-se buscado uma incidência da fé cristã na vida políticosocial. (ALVES, 2010. p.13)
É sobre essa perspectiva que o autor relaciona o envolvimento político-
social da igreja, tentando demostrar como desde a década de cinquenta a
igreja esteve preocupada com as questões sociais. Sobre este período faz-se
necessário compreendermos que a Ação Católica não foi homogênea e que
houve distinções em relação à política no Brasil neste período.
A Ação Católica e seus desdobramentos.
Primeiramente, será contextualizado brevemente o surgimento do
movimento da ação católica para posteriormente compreendermos seus
7 http://marista.edu.br/evangelizacao/files/2012/08/Temas-da-Doutrina-Social-da-Igreja-
Caderno-1.pdf p. 10> Acesso em 13/06/2016.
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desdobramentos. O movimento da “ação católica” assumiu-se como expressão
universal dentro do pontificado de Pio XI, em um quadro de mudanças sociais e
políticas que reconheceu esse movimento como uma alternativa para os
desafios que a igreja enfrentava na época, assim como os ideais do
pensamento iluminista e da sociedade burguesa que ameaçava a ordem
clerical. (SOUZA, 2006. p.48).
No pontificado de Pio XI(1922-1939), ocorreu uma reorganização, com o
objetivo de “defender os católicos em suas vidas individuais, familiar e social”.
Mas, segundo Souza, uma organização distinta da política partidária: “pois a
atividade dos católicos organizados não é uma ação política, mas religiosa.”
(Idem, p. 48) È fundamental perceber a maneira como a Igreja Católica
organizou-se para combater o anticlericalismo, esta não assume que
desempenhava um papel político. Era uma igreja em defesa do “social e do
religioso”.
Nesse cenário é sobre a importância de lideranças leigas que ocorre o
surgimento da chamada ação católica em 1935, tendo a frente o intelectual
Alceu Amoroso Lima8, que teve como fundamento incentivar os ensinamentos
da igreja aos operários. Práticas que deveriam ser efetivadas por colegas da
mesma profissão e que fossem previamente formados sobre a autoridade e
orientação da hierarquia eclesiástica. (SOUZA, 2006. p.48)
Souza comenta que após 1960 denúncias contra o movimento em 1960,
e que segundo ele estaria sofrendo influencias socialistas, serviram de alerta
ao papa Pio XII que manifestou preocupação em relação a essas influencias
negativas na ação católica. A qual recebeu também fortes críticas dos
conservadores na época. “Posteriormente Hélder Câmara assumiu o
8 Como crítico de “O Jornal” em 1919, adota o pseudônimo Tristão de Ataíde. Publicou seu primeiro livro em 1922,Afonso Arinos, um estudo crítico sobre a obra do escritor mineiro. Influenciado por Jackson de Figueiredo, Alceu converte-se ao catolicismo em 1928 tornando-se um dos maiores líderes católicos do país.> http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_a_l/alceu/index.php?p=79 Acesso em 29/06/2016.
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protagonismo do movimento tendendo-o a uma forte inclinação para atividades
políticas e sociais.” Nesse sentido, observa-se a preocupação dos
conservadores em leigos trazer para dentro da igreja ideias que não
compactuasse com aquelas que seguiam. (Souza, 2006. p.50).
Nessa perspectiva é necessário compreendermos que a ação católica
teve dois momentos diversos no Brasil: “O primeiro, com a chamada Ação
Católica Geral (de 1932 a 1950), e o segundo momento, a Ação Católica
Especializada (de 1950 a 1960) ” (Idem, p.50). Dessa maneira, percebe-se que
o primeiro momento da ação católica, foi caracterizado como um movimento
relacionado ao peso de intelectuais conservadores, enquanto o segundo
momento, teve predomínio de intelectuais que se voltaram à linhagem de ideias
relacionadas à esquerda.
Em 1962 a convocação do Concílio Vaticano II pelo então Papa João
XXIII, demostrou o esforço da Igreja Católica em se adaptar a novas exigências
que surgiam no seio da sociedade. João XXII anunciou a convocação de um
concílio, tendo o propósito de abrir um diálogo com as demais igrejas
empreendendo renovações sem propósito de condenação. Nesse sentido a
igreja saia da posição dominante que teve desde o Concílio de Trento.
(PEREIRA, 2013. p.59)
Esse foi o acontecimento mais importante para o pensamento católico
do século passado, no qual parte dos clérigos e leigos viram a oportunidade de
trabalhar em uma Igreja que estava se demonstrando aberta ao diálogo em um
cenário de certa democratização para os teólogos. Dessa forma, a politização á
esquerda e a abertura da igreja para políticas sociais, propiciaram um clima
político que resultou no engajamento de diversos setores religiosos voltados
para políticas de esquerda. (NETO, 2007.p.4)
Em 1964 em Petrópolis (RJ) e na cidade de Montevidéu no Uruguai,
teólogos unem-se para discutir uma proposta de teologia vinculada à prática
8
social, com o teólogo Gustavo Gutiérrez 9 o qual lançou em uma série de
conferências, as bases teóricas mais elaboradas da Teologia da Libertação10.
A partir de 1970 os representantes dessa teologia no Brasil, serão: Leonardo
Boff, Clodovis Boff, Frei Betto, João Batista Libânio e Carlos Mesters. (NETO,
2007. p.5)
No cenário da América Latina, outra importante conferência para a
causa dos defensores da chamada teologia da libertação realizada pelo
Conselho Episcopal da América Latina (CELAM) aconteceu em agosto de 1968
na cidade de Medellín (Colômbia), sendo convocado pelo Papa Paulo VI, esta
conferencia anunciou injustiças sociais e a dependência econômica, deixando
claro o objetivo de lutar contra as injustiças e as diferenças sociais.
Defendendo o direito de greve, o documento foi sistematizado por D. Hélder
Câmara, Gustavo Gutierrez e José Grimillion. (Idem, p. 5)
Esta conferência foi um estímulo para elaboração de uma perspectiva de
realização de trabalhos com as classes comunitárias, nesse sentido no Brasil, a
CNBB promoveu a participação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Comissão de Justiça e Paz (CJP).
Assim, desponta-se entre o clero de esquerda e entre os novos militantes
9 Nasceu em 08 de junho de 1928 em Lima (Peru). Descendente matrilinear da etnia kechua. Ele sofreu osteomielite, então eu tinha que manter a cama com frequência e 12 a 18, teve que usar uma cadeira de rodas. Ele cursou o ensino médio no Colégio do distrito Marista de Barranco e mais tarde na Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de San Marcos, onde permaneceu de 1947-1950. Ordenado em 1959, ele completou seus estudos teológicos nas universidades de Lyon (França) e Leuven (Bélgica) antes de ensinar este assunto na Universidade Católica de Lima. Ele argumentou que o principal papel da Igreja Católica é para ajudar os pobres e tentou para unir a prática da teologia e ministério pastoral, em seguida, surgiu como um dos fundadores da Teologia da Libertação(...) https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-
BR&sl=es&u=http://www.buscabiografias.com/biografia/verDetalle/7481/Gustavo%2520Gutierrez&prev
=search. Acesso em 17/06/2016 10 Para Gustavo Gutiérrez, assim, tornava-se necessário conhecer a realidade temporal. E, para essa compreensão, a referência filosófica seria buscada no marxismo, que apresentava a possibilidade da crítica à economia política e aos conflitos de classe. Gutiérrez defendia através da teologia da libertação que o povo deve construir a sua própria história, e não esperar pela intervenção divina. Busca exemplos na Bíblia, para demonstrar a luta concreta dos povos por sua libertação, e no exemplo de Cristo para se opor aos poderosos. (NETO, 2007. p.5)
9
políticos, uma relação entre ideais cristãos e marxistas, mesmo sem a
aprovação da hierarquia do Vaticano. (Idem, p.5) Nos anos 1980 as Cebs e os
movimentos que estiveram relacionados também às propostas da Teologia da
Libertação tiveram fortes influência no Brasil, período em que se vivenciava a
fase da redemocratização e a reorganização política da sociedade civil.
Na política externa, na década de 1980 ocorreu que um novo movimento
conservador começava a se impor. O neoliberalismo e a queda do chamado
"socialismo real" repercutem no Vaticano. As alas mais conservadoras da
Igreja Católica questionam as ações motivadas pela Teologia da Libertação. A
queda do muro de Berlim é apresentada como paradigmática do fim da ideia
socialista. Os movimentos sociais começam a ser transformados em
Organizações Não Governamentais (ONGs), e políticas mais fragmentadas,
localizadas e pós-modernas, passam a ser a referência de alguns setores
"progressistas” (Idem, p.10)
Portanto, em 1978 assume o pontificado o polonês Karol Wojtyla (João
Paulo II), representando esse momento. (Idem, p.10) A partir de então a
preocupação do vaticano com as questões políticas na América- Latina
começam a modificarem-se, partes do documento da conferência de Puebla
em 1979, sobre os passos que deverão ser seguidos pela evangelização na
América Latina destacam orientações para o caminho da política. No artigo 523
o documento direciona católicos em grupos para participação política referindo-
se a ideologias que devem estar atreladas a política de partido e que devem
basear-se na doutrina cristã, mas não podem representar todos os fiéis.
No artigo 524 a orientação é para que os leigos assumam esse papel
inspirados pela Doutrina Social da Igreja. Ao mesmo tempo em que o
documento faz essa orientação aos leigos, faz também críticas às ideologias
10
vigentes. Nos artigos 542 e 54311 o documento propõe orientações para
participação política dos leigos e para que esses, não venham a utilizar as
ideologias liberal ou marxista, pois, estão longe de alcançar os princípios pelos
quais a Igreja pretende seguir politicamente.
Em 1984 o Cardeal Ratzinger, redigiu instruções em caráter de denuncia
a teologia da libertação, (NETO, 2007. p.10) no qual: “Estamos, pois diante de
um verdadeiro sistema, mesmo quando alguns hesitam em seguir a sua lógica
até o fim. Como tal, este sistema é uma perversão da mensagem cristã (...)”12.
O documento faz denúncia em relação as prática da teologia da libertação, que
ameaçava aos padrões da igreja, era uma ameaça à ordem, pois, ousavam
quebrar com o ritual da eucaristia transformando-o em luta, segundo o
documento, havia pessoas que seguiam esses teólogos inocentemente, seriam
essas que a igreja deveria “salvar” da perversão contra a mensagem cristã.
No Brasil nos anos 1990 os movimentos sociais e políticos que
balizaram sua luta na construção de sociedades mais igualitárias, vivenciaram
momentos difíceis. Com a crise da ideia socialista e a hegemonia do
pensamento neoliberal, os movimentos sociais e políticos assumem um caráter
integrado ao capitalismo.Nesse sentido, a proposta de participação dos
católicos que iniciaram com o Movimento da Ação católica a partir dos anos
cinquenta e tiveram como resultado os vários movimentos populares, perderam
força no contexto econômico - político a partir dos anos 90. Assim, como a
teologia da libertação perde força nas instituições religiosas e em suas bases, a
igreja católica popular viveu nesse período momentos de retratação frente a
uma política centralizadora e conservador do vaticano II. (NETO, 2007.p. 11)
11 http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/family/documents/rc_pc_family_doc_20040212_trujillo-puebla_po.html> Acesso em 17/06/2016 12 http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19840806_theolo
gy-liberation_po.html> Acesso em 17/06/2016.
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Assim como o movimento da ação católica não foi homogêneo, a
comunidade católica sofreu suas divisões, assim foi com documentos da igreja
que utilizaram princípios políticos baseados na DSI assumindo posições
diferenciadas de acordo com o contexto social em que esteve inserida. Será
com base nesse viés conservador que a igreja impulsionará os leigos para a
participação política, como apontamos no documento de Puebla em 1979 e
posteriormente nos documentos da CNBB sobre as campanhas da fraternidade
a partir doa anos 90, como elencamos inicialmente.
A Escola Diocesana de Formação Política em Guarapuava: Por uma
formação politica na igreja católica.
Ao abordar o contexto, ainda sobre a fase de idealização da EDFP em
Guarapuava, Lemos procurou-se explicar que o surgimento da escola acontece
a partir da causa de fragmentações em diversas comunidades pertencentes à
diocese de Guarapuava, que ocorrem a partir das eleições para prefeitos e
vereadores no ano dois mil. Essa fragmentação ocorreu segundo ele, através
da falta de tolerância com opções políticas divergentes. Dessa maneira, alguns
leigos e o bispo da comunidade na época, decidem refletir sobre o que poderia
ser feito para mudar a situação, passando a reunir-se uma vez por mês, em
uma tentativa de ser coerentes na vida social e na fé. (LEMOS, 2002. p.40)
Compreende-se que os atores envolvidos no processo de eleições, eram
sujeitos provenientes da igreja católica, portanto já havia um projeto das
hierarquias eclesiais em lançar candidatos leigos que representassem o
seguimento religioso, como citado anteriormente a partir do documento de
Puebla de 1979 e posteriormente na campanha da fraternidade nos anos 90.
Diante a fragmentação da comunidade segundo a visão do autor,
enquanto grupo houve uma decisão coletiva para transformação da realidade.
Ou seja, o que esse grupo pretendia seria a manutenção de católicos atuando
no cenário político. A partir do momento em que o grupo está interessando e
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atuar politicamente, serão necessárias estratégias para união e não divisão do
grupo. Nessa perspectiva, Lemos aborda os momentos iniciais da escola,
relatando a heterogeneidade e as diferentes visões de participação na vida
política, bem como a relação desses participantes com a vivencia católica. Por
consequência a necessidade dos organizadores em estabelecer critérios de
participação como a necessidade dos participantes serem ligados ás
comunidades e frequentadores dos sacramentos, ou seja, inicialmente
subentende-se que a escola é voltada para o público católico.
Sobre a necessidade de formar católicos para atuar politicamente em
suas comunidades, lemos destaca que: “Além disso, seria preciso formar, ou
educar lideranças pertencentes a estas comunidades, que pudessem fazer isso
aonde vivem e convivem. Tornando-se também elas (as lideranças)(...)”
Destarte, no que se compreende, inicialmente não seria qualquer pessoa que
poderia frequentar a escola, primeiramente teriam que ser católicos atuantes,
como a segunda citação desse tópico em destaque, pois, teriam de ser
“frequentadores dos sacramentos”. Além disso, essas pessoas teriam de fazer
parte dos grupos de liderança dessas comunidades. (Idem, p. 42)
Fato que podemos refletir sobre o papel das mulheres do MMP, que ao
buscar formação na EDFP indicadas pelo pároco, provavelmente teriam para
este, o perfil de lideranças que a EDPF visava formar: lideranças católicas
pertencentes à comunidade. Outro fato interessante a se destacar sobre o
histórico da EDFP descrito por Lemos e meritório de encaminhar a análise para
a documentação elencada é sobre a metodologia utilizada na EDFP a qual
enfatiza que, a metodologia escolhida pela EDFP foi o método VER-JULGAR-
AGIR-AVALIAR-CELEBRAR. (Idem, p.45)
Este método está diretamente relacionado aos critérios da DSI, foi
proposto por Joseph Cardijn cardeal que em uma audiência que teve com o
papa em março de 1960, propôs uma encíclica ao papa João XXIII para
lembrar os 70 anos da encíclica Rerum Novarum, o papa propôs então que
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Cardijn elaborasse sugestões para a encíclica de comemoração, foi aí que o
cardeal elaborou um dossiê e 20 páginas com ideias e sugestões. No dia 15 de
março de 1961, o papa publicou a encíclica Mater et Magistra adotando o
método VER-JULGAR-AGIR, proposto pelo cardeal no dossiê.
Considerações finais:
Essa análise nos permitiu observar que a EDFP em Guarapuava/PR não
surgiu como um fato isolado das decisões da igreja católica.
Observamos que a DSI orientou os percursos políticos pelos quais a
igreja buscou desempenhar. Através das encíclicas iniciando pela Rerum
Novarum com o papa Leão XIII, buscou elaborar a DSI tendo um caráter
conciliatório entre liberalismo e comunismo em um período pós-revolução
industrial, setenta anos depois a incíclica Mater et Magistra sobre o pontificado
do papa João XXIII, tende a demonstrar um posicionamento mais aberto
através da DSI, implementando o método VER,JULGAR E AGIR, abrindo
espaços á movimentos de caráter popular e mostrando-se uma igreja mais
democrática. A partir de 1979 após o documento de Puebla essa mesma igreja
retoma o seu caratê conservador, demostrando os caminhos que os católicos
deveriam seguir frente à política e a DSI, bem o posicionamento do Cardeal
Ratzinger frente à teologia da libertação em 1984.
Assim, será nesse contexto que a EDFP está inserida, em um contexto
marcado por diversos posicionamentos na igreja católica e a tentativa de
orientar os fiéis para seguir um posicionamento político com viés mais
conservador a partir dos anos noventa. Princípios que serão orientados pela
CNBB a partir das campanhas da fraternidade com base no documento de
Puebla e na DSI.
Será essa trajetória marca o surgimento da EDFP em Guarapuava/PR,
a qual fornecerá as bases iniciais para formação política de três integrantes do
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MMP, que terá em 2008 uma das representantes como vereadora e em 2012 e
essa mesma representante é eleita vice-prefeita da cidade de Guarapuava.
Referências:
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